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Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço

de indivíduos com tuberculose pulmonar


Effects of a physical exercise program in the effort tolerance by
patients with pulmonary tuberculosis
Viviane Viegas Rech1, Daisy Bervig2, Lenice Ferreira Rodrigues2, Cristiano Sanches2, Roberto Frota2

1
Fisioterapeuta; Espec. em RESUMO: A tuberculose (TB) pulmonar é uma doença infecto-contagiosa que
Ciências do Esporte e em apresenta sintomas respiratórios como tosse, expectoração purulenta,
Fisioterapia
Pneumofuncional; Profa. hemoptise, dispnéia e dor torácica. Poucos estudos têm considerado a
do Curso de Fisioterapia da limitação da capacidade de realizar exercícios na presença de doença
Universidade Luterana do pulmonar não-obstrutiva. Este estudo visou comparar a sensação de dispnéia,
Brasil (ULBRA) a saturação de oxigênio e a distância percorrida durante o teste de
2
Graduandos em caminhada de seis minutos em indivíduos com TB pulmonar hospitalizados.
Fisioterapia na ULBRA, Participaram 50 indivíduos, 27 no grupo controle e 23 no grupo tratamento.
vinculados ao Serviço de
Fisioterapia do Hospital A avaliação foi realizada pelo teste de caminhada dos 6 minutos quanto à
Sanatório Partenon, da distância percorrida, a freqüência respiratória e cardíaca, a saturação de
Secretaria Estadual de oxigênio e a percepção de dispnéia. O grupo tratamento foi submetido a
Saúde, Porto Alegre (RS) um programa de exercícios físicos (de 22 a 24 atendimentos), após o que
foi realizada a reavaliação de ambos os grupos. Quanto à distância
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA percorrida, o grupo tratamento apresentou diferença estatisticamente
Viviane Viegas Rech
Av. João Wallig, 857/301 significativa entre as duas avaliações, utilizando-se o teste t de Student,
Bairro Passo da Areia com uma média de 347,7m na avaliação para 414,2m na reavaliação,
91340-000 Porto Alegre RS enquanto no grupo controle não houve diferença estatisticamente
e-mail: significativa. Quanto à dispnéia percebida, o grupo tratamento também
vvrech@terra.com.br
daisy.bervig@hotmail.com.br; apresentou diferença significativa. Conclui-se que indivíduos hospitalizados
lenicerf@bol.com.br; com TB pulmonar ativa melhoram seu condicionamento físico, quanto à
cristianofisio@ig.com.br; distância percorrida na caminhada e à sensação de esforço percebido.
r.frota@ig.com.br
DESCRITORES: Tuberculose pulmonar/reabilitação; Dispnéia; Teste de esforço;
Terapia por exercício
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jul. 2005
ABSTRACT: Pulmonary tuberculosis (TB) is an infectious, contagious disease
with respiratory symptoms such as cough, purulent expectoration, hemoptysis,
dyspnea, and thoracic pain. Few studies have considered the limitation of
capacity to make exercises in the presence of non-obstructive pulmonary
disease. The aim of this study was to compare dyspnea index, oxygen saturation
and walked distance by pulmonary TB inpatients. Fifty patients were
distributed into two groups, 27 in the control group and 23 in the treatment
group. The evaluation was made by the 6-minute walking test as to walked
distance, respiratory and cardiac frequency, oxygen saturation and dyspnea
index. The treatment group was submitted to a physical exercise program
(from 22 to 24 days), after which patients of both groups were again submitted
to evaluation. Following comparative statistical analysis (by means of the t-
Student test) between the two evaluations for both groups, the treatment group
showed significant difference in the walked distance (mean 347,7m at the
first evaluation and 414,2m at the second one), whereas the control group
showed no significant difference. As to dyspnea, the treatment group also
presented statistically significant difference. Thus it may be said that
pulmonary TB inpatients improved their physical condition, having increased
walk distance and perceived less dyspnea after the exercise program.
KEY WORDS: Pulmonary tuberculosis/rehabilitation; Dyspnea; Exercise test;
Exercise therapy

FISIOTERAPIA
FISIOTERAPIA
E PESQUISA
E PESQUISA
2005; 122005;
(3): 35-40
12(3) 35
INTRODUÇÃO pacientes, o que afeta sua capa-
cidade de exercício. Sabe-se que
de oxigênio durante o teste de ca-
minhada de seis minutos nos perío-
A prevalência mundial de in- na TB é importante que o sistema dos pré e pós-programa.
fecção por tuberculose (TB) é de de transporte de oxigênio seja es-
32%. Estima-se que ela cause 7% timulado com exercício para evi-
de todas as mortes e 26% das tar os efeitos deletérios do des- METODOLOGIA
mortes preveníveis no mundo, a condicionamento e um maior
Esta investigação caracterizou-
maioria ocorrendo em indivíduos comprometimento de todo o sis-
se como prospectiva com grupo
jovens. O Brasil ocupa o primeiro tema. Isso se evidencia em pacien-
controle. A composição da amos-
lugar em número de casos de TB tes pós-tuberculose, que podem
tra foi realizada de forma aleató-
na América Latina1. Atualmente, apresentar limitada tolerância ao
ria, com pacientes hospitalizados
em todo o mundo, é a principal exercício e incapacidades signi-
com diagnóstico de tuberculose pul-
causa de morte entre as mulheres ficativas que afetam as atividades
monar ativa (verificado pela pre-
e, entre os homens, é a segunda de vida diária, tal como em pacien-
sença de bacilo-álcool-ácido-resis-
maior causa, seguindo-se a aci- tes com DPOC 5,6 . Porém, ao
tente - BAAR - positivo no exame
dentes de trânsito. Em países em contrário do que tem acontecido
de escarro), no Hospital Sanatório
desenvolvimento, a TB mata mais com a utilização de exercícios em
Partenon, em Porto Alegre, com ida-
que todas as demais doenças indivíduos com DPOC, poucos
des entre 20 e 50 anos, de ambos
infecto-contagiosas juntas, incluin- estudos têm sido feitos nesse sen-
os sexos, no período de maio de
do a AIDS2. tido considerando especificamen-
2003 até abril de 2004.
Como alteração da função pul- te a TB. No entanto, já foram de-
monstradas incapacidades simila- Pela verificação do prontuário,
monar, a TB pode ser classificada
como distúrbio ventilatório misto res entre pacientes com DPOC e foram excluídos do estudo pacien-
ou combinado (DVC), tanto como seqüela de tuberculose pulmonar, tes que apresentavam alterações
doença granulomatosa única quando a idade e o volume neurológicas, psiquiátricas ou
quanto associada com doença pul- expiratório forçado em 1 segundo ortopédicas, que impediam a rea-
monar obstrutiva crônica, ou seja, (VEF1) foi corrigido6. lização do teste de caminhada dos
associação de seqüela de TB e doen- 6 minutos ou o programa de exer-
Dessa forma, este estudo se jus-
ça pulmonar obstrutiva crônica3. cício proposto. Também foram
tifica para verificar se, por meio
excluídos os que se recusaram a
Com esse distúrbio ventilatório do condicionamento físico de in-
participar do trabalho.
caracterizado, os indivíduos com divíduos hospitalizados com tuber-
TB podem apresentar manifes- culose pulmonar, haveria aumen- Quanto aos procedimentos de
tações clínicas variadas, haven- to de sua tolerância ao esforço. O coleta de dados, após a inclusão
do inclusive pacientes completa- aumento da capacidade de tole- dos pacientes a avaliadora entra-
mente assintomáticos, em que a rar exercícios ocorre quando o trei- va em contato com eles para
doença é diagnosticada por aca- namento possibilita menor consu- explicação do trabalho e autori-
so. A maioria apresenta sintomas mo de oxigênio para uma mesma zação, tendo eles assinado o ter-
moderados, que lhes permitem atividade. Caso isso ocorra na TB mo de consentimento livre e es-
prosseguir desempenhando suas pulmonar, os pacientes diminuirão clarecido. O teste de caminhada
atividades usuais, sendo tratados os sinais e sintomas respiratórios, de 6 minutos era realizado se o
em regime ambulatorial. Uma mi- adquirindo maiores possibilidades paciente estivesse em condições
noria apresenta más condições clí- de realizar atividades de vida diá- de fazer exercício, bem como tra-
nicas, eventualmente necessitan- ria e também diminuirão a limita- jado adequadamente; se estivesse
do internação hospitalar. Os sinto- ção ao esforço, devido à dispnéia, em uso de O2 contínuo, deveriam
mas respiratórios que esses pacien- durante a hospitalização, com a ser anotados os dados referentes
tes apresentam são tosse, expecto- melhora da qualidade de vida (fluxo e maneira de transporte).
ração purulenta, hemoptise, nesse período. Além disso, nos
Imediatamente antes de iniciar
dispnéia e dor torácica, e os sin- casos em que a alta do paciente
o exercício eram coletados os
tomas gerais são astenia, ano- depende do alívio dos sinais e sin-
dados basais com o indivíduo em
rexia, emagrecimento, febre e su- tomas respiratórios, poderá ocorrer
pé: freqüência cardíaca (FC), fre-
dorese noturna4. redução no período de internação.
qüência respiratória (FR), escore
Embora a capacidade de reali- O objetivo deste trabalho foi de dispnéia7 pela escala de Borg
zar exercícios em pacientes com verificar os efeitos de um progra- (category-ratio 10 – CR10), satu-
doença pulmonar obstrutiva crô- ma de exercícios físicos na tole- ração de oxigênio (SatO 2) por
nica (DPOC) seja limitada prima- rância ao esforço em indivíduos meio do oxímetro de dedo da
riamente pela condição venti- hospitalizados com tuberculose marca Onyx – 2001, e avaliação
latória e descondicionamento fí- pulmonar, por meio da compara- de dor em membros inferiores tam-
sico, também estão associados ao ção da sensação de dispnéia, da bém pela escala de Borg. Inicia-
estilo de vida sedentário desses distância percorrida e da saturação va-se a caminhada de esforço

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Rech et al. Exercícios e tuberculose pulmonar

máximo, com estimuação pelo halteres de 250 gramas, evoluin- de freqüência e porcentagens na
responsável em tom constante e, do a cada cinco atendimentos amostra e os dados contínuos apre-
a cada minuto frases prontas, con- conforme tolerado10,11. Seguia-se sentados em tabelas e em gráficos17.
forme critérios estabelecidos pela um período de resfriamento de 5
Este estudo, bem como o ter-
American Thoracic Society8. O a 10 minutos com exercícios de
mo de consentimento livre e es-
teste era encerrado quando o pa- auto-alongamentos bilaterais, com
clarecido, integram o projeto de
ciente completava os 6 minutos manutenção de 30 segundos12.
pesquisa “Efeitos de um programa
propostos, ou caso necessitasse ser Para os membros inferiores utili- de condicionamento físico em in-
interrompido pelos critérios dor no zou-se a bicicleta ergométrica ini- divíduos com TB pulmonar hospi-
peito, dispnéia intolerável, câim- cialmente com carga igual a zero talizados”, que foi aprovado pe-
bras nas pernas, tontura, diaforese, e evoluindo em watts até alcançar los comitês de Ética em Pesquisa
palidez. o índice-alvo de trabalho, progre- da ULBRA e da Escola de Saúde
O paciente deveria classificar dindo até alcançar 20 minutos de Pública, da Secretaria Estadual de
sua dispnéia basal e fadiga geral exercício10,13. A linearidade entre a Saúde, do Rio Grande do Sul (sob
pela escala de Borg CR10, após o freqüência cardíaca e CR10 facili- os protocolos de número 098-2002
término do teste, e deveria perma- tou a escolha de um bom nível alto e 046-03, respectivamente).
necer em repouso até normaliza- de CR10, sem a necessidade de
ção da SatO2. basear-se na freqüência cardíaca
em todos os momentos: no início RESULTADOS
No segundo momento, os pacien- dos exercícios a intensidade deve-
tes eram sorteados para saber em No período de estudo, com-
ria ser mantida baixa (entre 1,0 e
qual grupo seriam incluídos. Este preendido entre maio de 2003 e
3,5) e, à medida que o indivíduo se
sorteio era realizado pelo abril de 2004, participaram 50
acostumava com a atividade, ia
pesquisador responsável pelos pacientes, divididos em 27 no gru-
sendo aumentada a intensidade
atendimentos. Aqueles sorteados po controle (18 homens e 9 mu-
para algo entre 2,0 e 5,57,14. O perío-
para o grupo tratamento realiza- lheres) e 23 pacientes no grupo
do de resfriamento era de 5 a 10
vam o programa de exercícios, tratamento (15 homens e 8 mulhe-
minutos com exercícios de auto-
que era de 22 a 24 atendimentos. res). A média e desvio padrão (DP)
alongamentos bilaterais, com ma-
E o grupo controle foi acompanha- de idade foi de 36,74 (±8,44) anos
nutenção de 30 segundos12. Oxigê-
do somente quanto aos sinais vi- no grupo tratamento e 37,04
nio suplementar podia ser providen-
tais diariamente, pelos componen- (±7,51) anos no grupo controle.
ciado se houvesse dessaturação
tes da equipe. Ao final desse perío- durante o treinamento15. No grupo tratamento, ao teste
do de atendimentos e verificações, de escarro 39,1% pacientes apre-
os pacientes de ambos os grupos As atividades foram divididas
sentavam BAAR+, 26,1% tinham
foram reavaliados. entre os dias da semana: segun-
BAAR++ e 34,8%, BAAR+++. E, no
das, quartas e sextas-feiras eram
O programa de exercícios in- grupo controle, 61,5% dos paci-
feitos exercícios e alongamentos
cluía inicialmente 5-10 minutos de entes apresentavam BAAR+,
específicos para membros inferio-
exercícios ativos para aquecimen- 19,3% BAAR++ e 19,2% BAAR+++.
res e terça e quinta-feira exercí-
to dos membros superiores e infe- cios e alongamentos específicos Quanto ao tabagismo, 78,3% do
riores, como dorsiflexão e planti- para os membros superiores. Fo- grupo experimental e 63% do grupo
flexão de tornozelos, flexão de ram completados 24 atendimen- controle eram tabagistas. Seis pacien-
quadris e joelhos, flexão e exten- tos, sendo que cada um desses tes (33,3%) do grupo tratamento e 12
são horizontal de ombros9. teve duração de no máximo 60 pacientes (66,75%) do grupo contro-
O treinamento dos membros minutos e o programa foi iniciado le eram HIV positivo.
superiores foi realizado sem supor- dentro do tolerado pelo paciente.
Na comparação feita pelo tes-
te, elevando as extremidades su- Além disso, nenhuma carga adicio-
te t Student da distância percorri-
periores por dois minutos (por nal foi colocada até que 30 minu-
da (Figura 1) no teste de caminha-
movimentos em diagonal), com tos pudessem ser completados16.
da de 6 minutos (TC6), observou-
uma repetição para cada respi- A análise estatística foi reali- se no grupo tratamento uma mé-
ração (realizando a expiração zada no Núcleo de Estatística da dia de 347,75m (±80,51m) na pri-
durante o esforço), dividido em Universidade Luterana do Brasil. meira avaliação e de 414,25m
duas séries e intercalando o mem- Foi utilizado o teste t de Student (±92,72m) na reavaliação após
bro superior direito e esquerdo. A para comparar as médias dos da- aplicação do programa de exer-
progressão foi realizada com au- dos contínuos dos grupos e foram cício físico (p=0,002), com dife-
mento de tempo de execução, considerados resultados com dife- rença estatisticamente significa-
com intervalos de repouso de dois rença estatisticamente significa- tiva no nível de 5%. Já no grupo
minutos (depois de dois minutos tiva aqueles que apresentaram controle, as médias de distância per-
de exercício), até alcançar 32 p<0,05. Além disso, os dados no- corrida na avaliação e reavaliação
minutos, utilizando inicialmente minais foram descritos em termos foram respectivamente 361,64m

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(±117,22m) e 381,57m (±84,34m),
com p=0,451.
As variáveis de FC e FR, veri-
ficadas antes e após o teste de
DISCUSSÃO
Durante as avaliações e reava- caminhada, não apresentaram Na amostra estudada, 33,3% do
liações no período pós-teste, a diferença estatisticamente signifi- grupo experimental e 66,7% do
dispnéia foi mensurada pela esca- cativa na comparação entre os grupo controle eram HIV positivo.
la de esforço percebido de Borg. grupos pelo teste t Student. Nos De acordo com Ribeiro e Matsui1,
Na avaliação, a mensuração da Quadros 2 e 3 podem ser observadas relata-se que, no mundo, 8% dos
dispnéia antes e depois da cami- as médias e desvio padrão em cada casos de TB têm HIV positivo. O
nhada no TC6 não apresentou di- grupo da FC pré e pós-TC6, na ava- Brasil é considerado país de mé-
ferença significativa no nível de liação e na reavaliação. dio risco para infecção pelo HIV
e infecção pelo Mycobacterium
600 tuberculosis. Dentre o total de
* casos de AIDS notificados em pes-
500 soas com 13 ou mais anos de ida-
*
de, a TB representava 26,9% das
Distância (m)

400
infecções oportunistas, sendo em
Avaliação
300 1996 a segunda mais freqüente
Reavaliação
200
infecção oportunista notificada
após a candidíase oral. Assim, os
100 resultados encontrados superam o
que é relatado na bibliografia. Isso
0
pode ser reflexo das característi-
Grupo experimental Grupo controle
cas do Hospital Sanatório Partenon,
Figura 1 Comparação da média da distância percorrida no TC6 na avaliação inicial que tem como principal causa de
e na reavaliação de cada grupo internação tuberculose pulmonar
* p<0,05 teste t Student por problemas psicossociais.
Quadro 1 Comparação por grupo da variável média e desvio padrão (DP) da
5% em ambos os grupos. Quando
saturação de oxigênio (SatO2) nos períodos pré e pós-teste
foi realizada a comparação da
dispnéia referida antes e após o Grupo experimental Média (DP) Valor de p
TC6 em cada grupo no período de SatO2 pré-teste (AV) 95,52 (4,67) 0,949
reavaliação (ou seja, após o pro- SatO2 pós-teste (AV) 95,61 (4,32)
grama de exercícios ou controle), SatO2 pré-teste (RE) 95,17 (3,64) 0,890
observou-se que no grupo trata-
mento houve uma queda estatisti- SatO2 pós-teste (RE) 95,00 (3,91)
camente significativa na dispnéia Grupo controle Média (DP) Valor de p
referida (3,09 para 1,58; p=0,005), SatO2 pré-teste (AV) 94,63 (4,37)
enquanto no grupo controle não SatO2 pós-teste (AV) 93,63 (7,00) 0,202
se observou essa diferença esta-
SatO2 pré-teste (RE) 92,57 (7,50)
tística (3,78 para 3,36). Pode-se
verificar que a dispnéia percebida SatO2 pós-teste (RE) 89,43 (8,16) 0,098
no grupo controle após a cami- * Diferença estatisticamente significativa ao nível de 5% pelo teste de t Student
nhada foi maior que no grupo tra-
Quadro 2 Média e desvio padrão (DP) da freqüência cardíaca (FC) no TC6
tamento. em ambos os grupos, na avaliação (AV) e reavaliação (RE)
Durante o TC6 também foram Freqüência cardíaca Média (DP)
mensuradas a SatO2, FC e FR. Na (FC) Experimental Controle
avaliação e reavaliação da SatO2, FC pré-teste (AV) 100,26 (22,15) 110,11 (22,20)
antes e depois do teste, não ocor- FC pós-teste (AV) 112,39 (25,32) 119,22 (30,65)
reram diferenças estatísticas nos
FC pré-teste (RE) 115,08 (24,59) 124,43 (27,90)
grupos. A média de SatO2 (%) na
reavaliação pós-teste no grupo con- FC pós-teste (RE) 116,42 (21,41) 116,79 (26,92)
trole foi de 89,43% (±8,16) e, no Quadro 3 Média e desvio padrão (DP) da freqüência respiratória (FR) no TC6 em
grupo tratamento, de 95% (±5,91), ambos grupos, na avaliação (AV) e reavaliação (RE)
conforme apresentado no Quadro 1. Freqüência respiratória Média (DP)
Nenhum paciente necessitou do (FR) Experimental Controle
uso de oxigênio complementar FR pré-teste (AV) 23,00 (4,78) 23,13 (3,95)
durante a realização do programa FR pós-teste (AV) 26,61 (3,94) 27,15 (4,04)
de exercícios ou durante as avalia-
FR pré-teste (RE) 25,92 (6,68) 28,15 (6,54)
ções e reavaliações.
FR pós-teste (RE) 28,08 (6,01) 30,15 (5,93)
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Rech et al. Exercícios e tuberculose pulmonar

A média de idade era de 36,74 Em um programa de reabilita- ao exercício dinâmico, o qual se


anos no grupo experimental e ção pulmonar de pacientes com associa, entre outros, à diminui-
37,04 anos no grupo controle. Se- DPOC, considera-se que a mínima ção da dispnéia nas atividades co-
gundo o Ministério da Saúde2, a diferença, entre um teste de cami- tidianas, redução do nível de de-
TB é uma doença que atinge em nhada de 6 minutos em uma pri- pendência do paciente em re-
geral as pessoas na idade produ- meira avaliação e o teste de lação aos cuidados médicos e ati-
tiva, entre 15 e 59 anos. reavaliação, deve ser de 54 me- tude positiva frente à doença22.
tros para que o paciente perceba Quanto ao teste de caminhada
Trabalhos anteriores, como o de uma melhora clinicamente signi-
O’Donnell et al.18, comparam a de 6 minutos, utilizado no presente
ficante21. Neste estudo, os pacien- estudo para avaliar a tolerância
dispnéia, na distância percorrida tes portadores de TB que realiza-
no teste de caminhada dos 6 mi- ao esforço, tem sido proposto que
ram o tratamento tiveram uma di- ele consegue equilibrar reprodu-
nutos e no trabalho no cicloergô- ferença entre as médias da avalia- tibilidade e poder de discrimi-
metro, entre dois grupos combi- ção e da reavaliação de 66,5 nação. Além disso, correlaciona-
nados por idade de pacientes com metros, enquanto aqueles do gru- se bem com pico de consumo de
DPOC moderado. O grupo treina- po controle somente de 29,9 oxigênio e com saúde, relatada
do com exercícios de resistência metros. Dessa forma, provavel- em questionários de qualidade de
reduziu significativamente seu mente o programa de exercícios vida, sendo altamente sensível em
escore de dispnéia e aumentou a realizado trouxe benefícios clíni- detectar mudanças após tratamen-
distância percorrida e o trabalho cos perceptíveis a esses indivíduos. to como, por exemplo, treinamen-
ergométrico, quando comparado to físico 23 . Aproximadamente
O tratamento fisioterapêutico
ao grupo controle. Paralelamente, 80% dos programas de reabili-
tem sido integrado à reabilitação
no presente estudo, a dispnéia do tação pulmonar utilizam esse tes-
do paciente hospitalizado com TB
grupo tratamento diminuiu signi- te23, portanto, justifica-se sua uti-
pulmonar ativa recentemente,
ficativamente em relação ao gru- lização para avaliar programas de
apesar de as normas de biossegu-
po controle, enquanto que a dis- rança no atendimento a esses exercícios aplicados a outras do-
tância percorrida aumentou. pacientes, bem como a atuação enças respiratórias.
Sabe-se que mudanças na distân- dos tuberculostáticos, já serem Segundo Frontera et al.14, uma
cia percorrida no TC6 corre- bem conhecidas. vez que a cessação do exercício
lacionam-se bem com modifica-
Um estudo que considerou o resulta em perda do efeito de treina-
ções na percepção de dispnéia
exercício em indivíduos já cura- mento, o plano ideal deve envolver
em pacientes com DPOC19. É pos-
dos da tuberculose foi realizado uma fase de treinamento intenso e
sível que isso também possa ocor-
em duas etapas: a primeira con- uma fase de manutenção. Além dis-
rer em outros distúrbios respirató-
sistia em comparar o grau de so, acredita-se que esses pacientes
rios crônicos. obteriam maior aproveitamento se
incapacidade entre pacientes com
Pacientes com DPOC apresen- seqüela de TB pulmonar e pacien- o programa tivesse um tempo de
tam reduzida tolerância ao exer- te com DPOC – e os resultados duração de seis a oito semanas, con-
cício, associada à dispnéia, que mostraram que os graus de inca- forme preconizado em outros proto-
ocorre primariamente devido à pacidade foram semelhantes colos formais de treinamento com
obstrução das vias aéreas, mas quanto aos valores de VEF1 e tam- exercícios para doentes pulmona-
também pela combinação de ou- bém na distância percorrida no res13, ao invés de vinte e quatro
tros fatores20. Indivíduos com TB TC6. Na segunda etapa, foram atendimentos (5 vezes na sema-
ativa em muitos casos também comparados os efeitos da reabili- na, por 1 mês), como realizado
apresentam secreção brônquica, tação pulmonar entre os dois gru- neste trabalho.
além de outros fatores como pos, em um período de nove se-
disfunção muscular periférica manas; os resultados avaliados CONCLUSÃO
(pelo emagrecimento importante, pelo teste de caminhada de seis
minutos também se apresentaram De acordo com os resultados
quando não ocorre diagnóstico
semelhantes6. obtidos nesse estudo, pode-se afir-
precoce e tratamento adequado).
mar que o condicionamento físi-
Dessa forma, é provável que em Programas estruturados e multi- co pode ser efetivo em pacientes
indivíduos com TB os programas disciplinares de reabilitação pul- com tuberculose pulmonar ativa
de reabilitação que incluem trei- monar têm apresentado conside- por aumentar a distância percor-
namento com exercícios são ca- rável impacto na qualidade de rida no teste de caminhada de seis
pazes de reduzir dispnéia e me- vida de pacientes com diversas minutos e diminuir a dispnéia,
lhorar a tolerância ao exercício, doenças respiratórias. Entre os como relatado em trabalhos seme-
como tem sido proposto em alguns objetivos de tais programas, des- lhantes realizados com pacientes
estudos sobre a DPOC. taca-se o aumento da tolerância portadores de DPOC.

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