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DOENÇA DA MEMBRANA HIALINA: ASPECTOS CLÍNICOS E


ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA

HYALINE MEMBRANE DISEASE: CLINICAL ASPECTS AND APPROACH


PHYSIOTHERAPEUTIC
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LAGE, Clara Bretas , NASCIMENTO JÙNIOR, Edson Francisco , CARLOS, Sheila Santa Bárbara
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Coelho , NICO, Patrícia Barreto Costa
1. Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, Governador
Valadares, MG. clara_bretaslaage@hotmail.com
2. Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, Governador
Valadares, MG. edsonfjr@hotmail.com
3. Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, Governador
Valadares, MG. shielasbc@hotmail.com
4. Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, Governador
Valadares, MG. patbcn@superig.com.br

RESUMO: A Doença da Membrana Hialina (DMH) ou Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) é


uma patologia causada por imaturidade pulmonar e está relacionada à deficiência primaria de
surfactante. Acomete frequentemente recém-nascidos pré-termo (RNPT), de peso inferior a 1500g,
normalmente do sexo masculino e se manifesta nas primeiras semanas de vida. A SDR representa séria
complicação da prematuridade, causando significativa morbidade e mortalidade de neonatos no Brasil. O
tratamento clínico é realizado pela administração de surfactante exógeno ao neonato. A fisioterapia na
DMH tem como objetivos melhorar o mecanismo de purificação mucociliar, prevenir e corrigir
complicações decorrentes do acúmulo de secreções. O objetivo do presente estudo é revisar bibliografias
que abordem os aspectos clínicos e tratamento fisioterapêutico da DMH em neonatos. Foi realizada
revisão sistemática da literatura, com utilização de artigos científicos publicados em sites de busca
cientifica, livros e teses. Foram selecionados os textos publicados no período de 1998 a 2009. Conclui-se
com essa revisão que a fisioterapia tem efeitos benéficos no tratamento da DMH, contribuindo para a
diminuição da incidência de complicações respiratórias em RNPT. No entanto faz-se necessário a
realização de novos estudos que abordem o tratamento fisioterapêutico na DMH.

Palavras-chave: Fisioterapia. Recém-nascido pré-termo. Surfactante. Doença da membrana hialina e


Síndrome do desconforto respiratório.

ABSTRACT: The Hyaline Membrane Disease (HMD) or Respiratory Distress Syndrome (RDS) is a
disease caused by lung immaturity and is related to the primary deficiency of surfactant. Often affects
preterm infants (PN), weighing less than 1500g, males and manifests itself in the first weeks of life. The
SDR represents a serious complication of prematurity, causing significant morbidity and mortality of
newborns in Brazil. The clinical treatment of HMD is made by the administration of exogenous surfactant
for the newborn. Physical therapy proves increasingly widespread in the care of respiratory disorders of
neonates and aims to improve the mechanism of purification clearance, assisting the process of
mucociliary clearance, prevent and correct complications resulting from the accumulation of secretions.
The aim of this study is to review bibliographies that address the physical therapy for HMD in newborns.
This study was a systematic review of the literature, using scientific papers published in scientific search
engines, books and theses. Were selected texts published between 1998 to 2009. We conclude from this
review that the therapy has beneficial effects in the treatment of HMD, contributing to reducing the
incidence of respiratory complications in RNPT. However it is necessary to carry out further studies to
address the DMH and its associated physiotherapy treatment.

Keywords: Physiotherapy. Newborn preterm. Surfactant. Hyaline membrane disease. Pre-term


newborns and Respiratory distress.
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1.0 – INTRODUÇÃO edema de extremidades (ARAÚJO, 2007;


MULLER et al., 2000; RIBEIRO et al., 2003).
A Doença da Membrana Hialina (DMH) No Brasil, observa-se um alto índice de
ou Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) RNPT, com idade gestacional inferior a 37
é uma patologia causada por imaturidade semanas, fato este que eleva a mortalidade
pulmonar e está relacionada à deficiência infantil. (RIBEIRO et al., 2007; CASTRO, 2005).
primária de surfactante. Acomete Cerca de 50% dos óbitos que ocorrem no
freqüentemente recém nascidos pré-termos período neonatal estão relacionados a distúrbios
(RNPT) de peso inferior a 1500g, normalmente respiratórios, participando a DMH em cerca de
do sexo masculino e se manifesta nas primeiras 80 a 90% dos casos. (RIBEIRO et al., 2003).
semanas de vida. (ARAÚJO, 2007; CONSOLO et A propedêutica da DMH ocorre em três
al., 2002; ABREU et al., 2005; MULLER et al., níveis, onde o primeiro nível de prevenção é o
2000; RIBEIRO et al., 2003; CASTRO, 2005; acompanhamento pré-natal; o segundo inclui o
OLIVEIRA et al., 2005; KOPELMAN et al., 1998; uso de corticosteróides nas gestantes com alto
SARMENTO, 2007). risco de ter um parto pré-maturo; e o terceiro
O surfactante é uma substância que e nível é o uso preventivo de surfactante em
tem como propriedade diminuir a tensão recém-nascidos prematuros nos primeiros
superficial do alvéolo pulmonar e evitar o minutos de vida (ARAÚJO, 2007).
colabamento dos mesmos no momento da O tratamento clínico é realizado por meio
expiração. (ABREU et al., 2006; RIBEIRO et al., da administração de surfactante exógeno, o que
2003; OLIVEIRA et al., 2005; FREDDI et al., diminui a necessidade de suporte ventilatório
2003; ARAÚJO, 2007; ALBUQUERQUE et al., para manter uma adequada troca gasosa,
2002). reduzindo assim o risco de volutrauma e de
O diagnóstico da DMH baseia-se na toxidade do oxigênio (ARAÚJO, 2007; RIBEIRO
análise de dados maternos, do parto e do recém- et al., 2003).
nascido, nos exames complementares e na A assistência fisioterapêutica tem se
exclusão de outras causas de dificuldades mostrado cada vez mais abrangente nesse
respiratórias (RIBEIRO et al., 2003). campo de atuação e caminha lado a lado com a
Observa-se logo após o nascimento os medicina nos cuidados dos distúrbios motores e
sinais típicos de angústia respiratória neonatal respiratórios de neonatos (OLIVEIRA et al.,
(ARAÚJO, 2007), com um trabalho respiratório 2005).
que pode ser seis vezes maior que o normal, As técnicas fisioterapêuticas utilizadas
exigindo altas concentrações de oxigênio (O2) no em neonatos com DMH têm por objetivos
ar inspirado (hipoxemia geralmente irreversível), melhorar o mecanismo de purificação mucociliar,
o que aumenta a produção de gás carbônico detectando e corrigindo fatores que interferem
(CO2), gerando cansaço rápido e apnéias nesse processo; auxiliar no processo de
bruscas (EGER, 2003). depuração mucociliar, prevenindo o acúmulo de
Os sintomas são: taquipnéia ou secreções, minimizando as obstruções do trato
bradipnéia, gemido expiratório, batimento da asa respiratório e da cânula traqueal; prevenir e
do nariz, retração da caixa torácica, cianose e corrigir complicações decorrentes do acúmulo de
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secreção pulmonar, como atelectasias, infecções seguintes palavras-chaves: fisioterapia, recém


e alterações da relação ventilação-perfusão nascido pré-termo, surfactante, doença da
(ARAÚJO, 2007; EGER, 2003; OLIVEIRA et al., membrana hialina e síndrome do desconforto
2005; SARMENTO, 2007). respiratório.
Dentro do tratamento fisioterapêutico
utilizado para a DMH, pode-se destacar os 3.0 – REVISÂO DA LITERATURA
seguintes procedimentos: posicionamento do
bebê (EGER, 2003; SARMENTO, 2007); Segundo Parker & Prasat (2002) apud
oxigenoterapia (ARAUJO, 2007; EGER, 2003; ARAÚJO (2007), os pulmões dos recém
NICOLAU, FALCÃO, 2007; RIBEIRO et al., 2003; nascidos são menos elásticos em relação aos
SARMENTO, 2007), pressão positiva contínua das crianças de mais idade e de adultos. Nos
nas vias aéreas (CPAP) (ARAÚJO, 2007; pulmões dos RNPT além da diminuição da
RIBEIRO et al., 2003), ventilação mecânica capacidade elástica pode haver falta de
(ARAÚJO, 2007; RIBEIRO et al, 2003; surfactante. Pouca complacência significa que
BRUNHEROTTI et al., 2003), vibração torácica são necessárias maiores pressões de insuflação
(OLIVEIRA et al., 2005; ABREU et al., 2007; para manter o volume pulmonar e os neonatos
SARMENTO, 2007); estímulo diafragmático precisam trabalhar mais para ventilar seus
(OLIVEIRA et al., 2005; SARMENTO, 2007); pulmões.
aspiração das vias aéreas (ARAÚJO, 2007; Conforme Araújo (2007), nos pulmões
OLIVEIRA et al., 2005; SARMENTO, 2007); dos recém-nascidos existe um número menor de
aceleração do fluxo expiratório (AFE) (OLIVEIRA alvéolos, e, portanto, uma área de superfície
et al., 2005; ABREU et al., 2007), entre outros. menor para as trocas gasosas.
Portanto, o objetivo do presente trabalho Conforme a Malinowisk (2000) apud
é revisar bibliografias que abordem os aspectos ARAÚJO (2007), o recém nascido, apresenta
clínicos e o tratamento fisioterapêutico da uma capacidade residual funcional (CRF) menor
Doença da Membrana Hialina em neonatos. por causa da complacência da parede torácica,
que oferece menor resistência às forças de
2.0 – METODOLOGIA retração dos pulmões, acarretando um menor
volume no final da expiração. Com uma CRF
O presente estudo apresenta uma menor, o fechamento das vias aéreas e
revisão sistemática da literatura, descritiva e atelectasia podem ocorrer mais facilmente,
qualitativa por meio de fonte indireta, com resultando uma relação ventilação/ perfusão
utilização de artigos científicos publicados em (V/Q) mais baixa e aumento do shunt. Uma CRF
sites de busca científica como Bireme, Lilacs, pequena significa que a alteração da ventilação
SciELO e MedLine, livros e teses. Foram causa alteração mais rápida dos valores dos
selecionados os textos publicados no período gases sanguíneos. A combinação de uma CRF
1998 a 2009, com informações relevantes para a pequena e de um consumo elevado de oxigênio
discussão sobre a DMH, aspectos clínicos e priva o lactente de oxigênio, que pode,
abordagem fisioterapêutica. rapidamente torna-se gravemente, hipoxêmico.
O levantamento foi realizado com as
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3.1 A DOENÇA DA MEMENBRANA HIALINA regras da SDR (OLIVEIRA et al., 2005; ARAÚJO,
A Doença da Membrana Hialina (DMH) 2007; MULLER et al., 2000; ALBUQUERQUE et
ou Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) al, 2002).
é uma patologia associada à deficiência primária Na SDR, a complacência pulmonar é
de surfactante, que afeta particularmente o baixa e múltiplas áreas de atelectasia se
RNPT, sendo sua incidência inversamente desenvolvem, de acordo com Kopelman (1998).
proporcional à idade gestacional (SARMENTO, Segundo Sarmento (2007) e Ribeiro et
2007; ARAÚJO, 2007; RIBEIRO et al., 2003; al. (2003), os fatores predisponentes para o
EGER, 2003; ABREU et al., 2006; OLIVEIRA et desenvolvimento da SDR envolvem a
al., 2005; CONSOLO et al., 2002; FREDDI et al., prematuridade, sexo masculino, anóxia perinatal,
2003; MULLER et al., 2000). hemorragia e diabetes materna, deslocamento
O surfactante é uma substância da placenta, eritroblastose fetal, asfixia perinatal,
fosfolipídea produzida pelos pneumócitos tipo II, parto traumático, cesariana, uso de anestésico
que recobrem os espaços alveolares e tem como e/ou analgésicos, gemelaridade. Os neonatos
propriedade diminuir a tensão superficial negros têm menor risco de virem a apresentar a
alveolar, prevenir atelectasias e edemas, SDR e, quando ocorre, é menos grave.
melhorar as trocas gasosas, diminuir o esforço O diagnóstico da SDR, além do quadro
respiratório, aumentar a complacência pulmonar, clínico, é realizado por meio da análise
facilitar o transporte mucociliar e manter a radiográfica, que evidencia um aspecto retículo-
estabilidade alveolar (SARMENTO, 2007; granular ou de “vidro moído” representado pelas
OLIVEIRA et al., 2005; MULLER et al., 2000; áreas atelectasiadas. Esse quadro varia em
FREDDI et al., 2003; RIBEIRO et al., 2003; quatro graus: grau I – leve (granulações finas);
ARAÚJO, 2007; EGER, 2003; CONSOLO et al., grau II – moderada (granulação bem evidente em
2002; ABREU et al., 2006). “vidro moído”); grau III – grave (broncograma
O surfactante começa a ser produzido na aéreo alcançando a periferias dos campos
24ª a 28ª semana de gestação, mostra-se em pulmonares, discreto borramento cardíaco) e
um nível quimicamente maduro grau IV (opacidade total dos campos
aproximadamente na 34ª semana e indica a pulmonares, área cardíaca imperceptível)
maturidade do pulmão ao permitir a manutenção (SARMENTO, 2007; ARAÚJO, 2007; EGER,
da respiração contínua. (SARMENTO, 2007; 2003; RIBEIRO et al., 2003; OLIVEIRA et al.,
ARAÚJO, 2007; RIBEIRO et al., 2003; OLIVEIRA 2005). Na gasometria nota-se acidose mista,
et al., 2005). hipóxia e hipercapnia (ARAÚJO, 2007; EGER,
As manifestações clínicas da DMH 2003; RIBEIRO et al., 2003). A ausculta pode
caracterizam-se por dispnéia, taquipnéia ou revelar ventilação pulmonar deficiente com
bradipnéia em casos graves, gemido expiratório, murmúrio vesicular diminuído (ARAÚJO, 2007;
cianose, batimentos de asas nasais, retração OLIVEIRA et al., 2005; BRUNHEROTTI et al.,
esternal, dificuldade em iniciar a respiração 2003; ALBUQUERQUE et al., 2002).
normal, edema de extremidades, tiragem Freddi (2003) relata que existe um
intercostal e subcostal e crises de apnéia. A intervalo de tempo para que o diagnóstico se
hipotensão, hipotonia e a hipoatividade são torne evidente, uma vez que nessa síndrome
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ocorre atelectasias progressivas. Com grande necessário a administração do surfactante


freqüência, o raio-X torna-se característico exógeno, o atendimento só deve ser realizado
quando o quadro já é bastante avançado. após as primeiras 24 horas de vida, ou 12 horas
De acordo com Araújo (2007), Sarmento após a administração dos corticosteróides.
(2007) e Ribeiro et al. (2003), uma vez A fisioterapia respiratória tem por
estabelecido o diagnóstico, as medidas objetivo manter as vias aéreas permeáveis
terapêuticas visam fundamentalmente conservar utilizando técnicas específicas que irão promover
a oxigenação, ventilação e pH adequados, além a mobilização de secreções, manter a mobilidade
de medidas gerais de manutenção térmica, muscular, melhorar a função dos músculos
calórica e hídrica do RN. respiratórios e prevenir complicações (OLIVEIRA
O tratamento clínico se dá pelo uso de et al., 2005)
surfactante exógeno, o que diminui a O fisioterapeuta pode intervir por meio de
necessidade de suporte ventilatório para manter técnicas específicas no progresso clínico do RN,
uma adequada troca gasosa e pela que são:
oxigenoterapia, que deve ser atentamente  Vibração torácica: O efeito positivo dessa
vigiada a fim de evitar os efeitos tóxicos do O2 técnica baseia-se na propriedade tixotrópica do
sobre a retina e o pulmão do RN. (RIBEIRO et muco, que se liquefaz quando submetido a
al., 2003). constante agitação. Também causa um
Logo após a administração do relaxamento da parede torácica e melhora a
surfactante exógeno, sintético ou natural, há perfusão alveolar (OLIVEIRA et al., 2005). É uma
alteração no curso da DMH com uma rápida manobra de higiene brônquica que auxilia na
melhora das trocas gasosas, o que é fluidificação do muco, facilitando sua mobilização
comprovado pela redução das necessidades de para as vias aéreas mais proximais. É mais
oxigênio e pelo aumento da pressão parcial de eficiente quando associada à drenagem postural.
oxigênio arterial (PaO2) (ABREU et al., 2006) (ARAÚJO, 2007; SARMENTO, 2007).
Segundo Ribeiro et al. (2003) e  Drenagem postural, utiliza o efeito da
Sarmento (2007), outra medida importante é a gravidade, por meio da verticalização do
administração de corticosteróides às gestantes brônquio lobar, removendo secreções brônquicas
entre 26 e 34 semanas quando houver risco de das regiões mais periféricas para centrais
parto prematuro. Procedimento de utilidade (OLIVEIRA et al., 2005; SARMENTO, 2007).
comprovada, no sentido de induzir à síntese de Segundo Araújo (2007) o tempo pra cada
surfactante pelo feto, promovendo a aceleração postura varia de 2 a 5 minutos quando associada
da maturidade pulmonar fetal. a outra manobra. É uma manobra que favorece a
expansão de regiões atelectasiadas quando o
3.2 ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA pulmão comprometido é colocado no lado não
Segundo Eger (2003) e Sarmento dependente. (SARMENTO, 2007).
(2007), a atuação da fisioterapia está relacionada  Aceleração do fluxo expiratório (AFE)
à prevenção e tratamento de possíveis modifica o tipo de fluxo aéreo brônquico,
complicações decorrentes da doença e da formando turbulências, modificando as
própria terapêutica empregada. Quando propriedades do muco, facilitando a eliminação
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das secreções da periferia para vias aéreas muscular respiratória. (EGER, 2003).
centrais (OLIVEIRA et al., 2005).  Aspiração: técnica utilizada para
 Terapia expiratória manual passiva remoção das secreções, uma vez que o reflexo
(TEMP) promove a aceleração do fluxo aéreo de tosse pode encontrar-se imaturo e ineficiente,
expiratório, com isso, um maior deslocamento principalmente em RNPT. Previne a obstrução
das secreções traqueobrônquicas, facilitando a no tubo endotraqueal, evitando o aparecimento
limpeza das vias aéreas e aumentando a de atelectasias e infecções pulmonares
ventilação pulmonar (EGER, 2003). (OLIVEIRA et al., 2005). Por se tratar de um
 Posicionamento: utilização de coxins procedimento estressante e desconfortável, a
para conter os movimentos de extensão aspiração pelas narinas deve ser feita somente
excessiva que facilitam as clonias e o reflexo de quando necessária baseada na ausculta
Moro. A posição mais utilizada é a fowler (semi- pulmonar e no desconforto respiratório
sentada), que induz a respiração diafragmática (SARMENTO, 2007).
pelo abaixamento das vísceras por ação Deve-se evitar a manipulação intensa do
gravitacional, melhorando a expansibilidade neonato que pode levar a fadiga, à demanda
(OLIVEIRA et al., 2005). excessiva de O2, ao estresse e desconforto. O
 A posição prona oferece um apoio fisioterapeuta deve estar atento, procurar dosar
abdominal, otimiza o trabalho respiratório e as técnicas empregadas assim como o tempo de
melhora a saturação de O2. É a mais indicada realização da intervenção. (ARAÚJO, 2007;
para melhor estabilidade da caixa torácica e EGER, 2003).
movimento diafragmático, além de propiciar uma Segundo Araújo (2007), a vibração
melhor expansão e ventilação pulmonar. A associada à compressão deve ser evitada, em
posição supina é a mais utilizada para melhor razão da alta complacência torácica e maior risco
função pulmonar, estimulação sensorial e de deformidade. Eger (2003) afirma que a
prevenção de escaras. (OLIVEIRA et al., 2005; vibração deve ser associada com compressão
SARMENTO, 2007). vigorosa. E ambos relatam que a vibração
 Estímulo diafragmático tem como torácica deve ser associada à drenagem
objetivo coordenar os movimentos respiratórios e postural.
melhorar a atividade diafragmática, promovendo A análise do comportamento da
propriocepção da musculatura de respiratória saturação de O2 em dois recém-nascidos com
(OLIVEIRA et al., 2005; ARAÚJO, 2007). DMH submetidos ao tratamento fisioterapêutico
 Reequilíbrio toracoabdominal (RTA): evidenciou um aumento deste parâmetro,
técnica que trabalha o aumento do fluxo aéreo e favorecendo a ligação entre oxigênio e a
conseqüentemente a desobstrução brônquica. hemoglobina, através da melhora da ventilação
Nos bebês é realizada de forma passiva, através pulmonar. A fisioterapia mostrou ser um
de massagens musculares, alongamento e procedimento adequado para prematuros, não
fortalecimentos dos músculos respiratórios tem comprometendo sua estabilidade clínica e
como objetivo proporcionar um bom padrão de hemodinâmica, ao contrário, melhorando sua
respiração e desta forma, evitar situações de condição clínica (OLIVEIRA et al.; 2005)
desconforto respiratório intenso como a fadiga Ribeiro et al. (2007) em seu estudo
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comparou os RN’s com DMH atendidos pela hialina pós-reposição de surfactante exógeno.
fisioterapia e o grupo não atendido e constatou Arq Med ABC, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 5-11,
que os RN’s submetidos a fisioterapia 2006.
apresentaram um tempo maior de internação em
relação aos não atendidos, porém, a maioria dos ABREU, L. C.; PEREIRA, V. X.; VALENTINE, V.
RN’s encaminhados para o atendimento E.; et al. Uma visão prática da fisioterapia
fisioterapêutico apresentava muito baixo peso e respiratória: ausência de evidência não é
extrema prematuridade, comparados com o evidência de ausência. Arq Med ABC, São
grupo não encaminhado, justificando o maior Paulo, v. 32, n. 2, p. 76-78, 2007.
tempo de internação.
A fisioterapia demonstrou ser um ALBUQUERQUE, I. C. C.; AMORIM, M. M. R.;
procedimento terapêutico adequado para o MENESES, J.; et al. Avaliação do impacto da
tratamento dos RNPT com DMH. Abreu et al. corticoterapia antenatal para aceleração da
(2006) relataram em seu estudo o declínio da maturidade pulmonar fetal nos recém-nascidos
freqüência cardíaca dos RNPT pós- em maternidade-escola brasileira. RBGO,
procedimentos intervencionistas de fisioterapia Recife, v.24, n.10, p. 655-661, 2002.
com o aumento da fase diastólica do ciclo
cardíaco. Assim, recomendaram a realização da ARAÚJO, A. M. A importância da fisioterapia
fisioterapia como um dos recursos para o respiratória no neonato com doença da
tratamento dessa população neonatal. membrana hialina. 2007. 51 f Monografia –
Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade
4.0 – CONCLUSÃO Veiga de Almeida, Cabo Frio, 2007.

Conclui-se com essa revisão que a BRUNHEROTTI. M. A. A.; VIANNA, J. R. F.;


fisioterapia tem efeitos benéficos no tratamento SILVEIRA, C. S. T. Diminuição da ocorrência de
da DMH, possibilitando a diminuição da pneumotórax em recém-nascidos com síndrome
incidência de complicações respiratórias em de desconforto respiratório através de
RNPT, contribuindo com a diminuição da estratégias de redução de parâmetros
mortalidade de neonatos. No entanto, faz-se ventilatórios. Jornal de Pediatria, Franca, v.79,
necessário a realização de novos estudos que n. 1, 2003.
abordem o tratamento fisioterapêutico na DMH,
pois observamos escassez de estudos e CASTRO, G. G. Caracterização das crianças
pesquisas relacionadas a fisioterapia e a DMH. prematuras nascidas na cidade de
Patrocínio/MG, no ano de 2004: uma
5.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS contribuição da fisioterapia para o programa
saúde da criança. 2005. 65 f. Monografia –
ABREU, L. C.; ANGHEBEN, J. M. M.; BRAZ, P. Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade
F., et al. Efeitos da fisioterapia neonatal sobre a de Franca, Franca, 2005.
freqüência cardíaca em recém-nascidos pré-
termos com doença pulmonar das membranas CONSOLO, L. C. T.; PALHARES, D. B.;
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CONSOLO, L. Z. Z. Avaliação da função


pulmonar de recém-nascidos com síndrome do RIBEIRO, A. P.; BARROS, C. B.; BETTIN, D. C.;
desconforto respiratório em diferentes pressões et al. Atuação da fisioterapia sobre o tempo de
finais expiratórias positivas. Jornal de Pediatria, internação dos neonatos pré-termo acometidos
Rio de Janeiro, v. 78, n. 5, 2002. por distúrbios respiratórios na UTI neonatal do
Hospital Universitário São Francisco de Paula.
EGER, M. F.; Incidência de Complicações Rev. de Saúde da UCPEL, Pelotas, v.1. n. 1,
Respiratórias em Neonatos com Síndrome da jan/jun. 2007.
Membrana Hialina. 2003. 57f. TCC (pré-
requisito para obtenção do Título de graduado RIBEIRO, D. A. E.; BOARO, F.; ALENCAR, P. C.
em Fisioterapia) – Campus Cascavel, Abordagem Fisioterapêutica na Síndrome da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Membrana Hialina. 2003. 25f. TCC
Cascavel 2003. (Aprimoramento em Fisioterapia Respiratória e
Ventilação Mecânica em UTI) – Hospital Nossa
FREDDI, N. A.; JOSÉ FILHO, O. P.; FIORI, H. H. Senhora da Penha, São Paulo
Terapia com surfactante pulmonar exógeno em
pediatria. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. SARMENTO, G.V. Fisioterapia Respiratória em
79, n. 2, nov. 2003. Pediatria e Neonatologia, São Paulo, Manole,
2007. P. 239 à 244.
KOPELMAN, B.; MIYOSHI, M.; GUINSBURG, R.
Distúrbios Respiratórios no Período Neonatal,
Rio de Janeiro, Atheneu, 1998. P. 600

MULLER, R. W.; SENNA, D. C.; CHAZAN, D. T.;


et al. Manejo dos recém-nascidos com doença
da membrana hialina. Rev. Técnico-Científica
do Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre,
v. 13, n. 1/2, jan/dez, 2000.

NICOLAU, C. M.; FALCÃO, M. C. Efeitos da


fisioterapia respiratória em recém-nascidos:
análise crítica de literatura. Rev. Paulista de
Pediatria, São Paulo, v.25, n.1, p. 72-75, 2007.

OLIVEIRA, V. C.; BURKLE, A. B.; PAVAN, N.


Intervenção fisioterapêutica em dois recém-
nascidos prematuros com síndrome do
desconforto respiratório: estudo da variação da
saturação de oxigênio. Fisioterapia Brasil,
Maringá, v.6, n.6, nov/dez. 2005.

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