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Fisioterapeuta; pós-graduanda RESUMO : A reabilitação pulmonar (RP) tem recebido grande atenção no
em Fisioterapia na Ulbra tratamento dos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC),
(Universidade Luterana do visando a minimização dos sintomas, o aumento da tolerância física e a melhora
Brasil, RS)
da qualidade de vida. À medida que um maior número de programas vêm
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Fisioterapeuta, educadora sendo criados, surge a preocupação de padronizar e melhor estudar as técnicas
física; Especialista em e métodos dos protocolos utilizados. O objetivo deste trabalho foi revisar o
Fisioterapia Pneumofuncional; que a literatura determina em relação ao treinamento de membros superiores
Profa. Ms da Ulbra
em pacientes com DPOC. Em um programa de RP, o treinamento de membros
superiores (MMSS) visa melhorar a performance ao exercício pela diminuição
ENDEREÇO PARA da demanda ventilatória durante o trabalho de MMSS e pela melhora da
CORRESPONDÊNCIA resistência ao exercício. Com base no levantamento bibliográfico, foram
Vanessa Girard Severo analisados artigos comparativos e de revisão. Inexiste consenso sobre o melhor
R. Heitor Villa Lobos 995-E modo de treinar os MMSS; entretanto, o método mais utilizado é o treinamento
89806-155 Chapecó SC
e-mail: girards@bol.com.br sem apoio, pois oferece mais vantagens, por assemelhar-se a muitas atividades
da vida diária. Permanece a necessidade de mais pesquisas para se estabelecerem
melhores critérios de seleção dos pacientes que mais se beneficiarão com o
Trabalho realizado por Vanessa treinamento; e do empenho de fisioterapeutas, na equipe multidisciplinar, em
Severo para conclusão da avaliar diferentes programas de treinamento de MMSS, o que inclui explorar o
Especialização em
Fisioterapia: Reeducação das efeito do tipo, da duração, da freqüência e da intensidade do programa.
Funções Cardiorrespiratórias na DESCRITORES : Doença pulmonar obstrutiva crônica; Extremidade superior/
Ulbra treinamento; Reabilitação; Revisão
44 2006; 13(1):
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3) 44-52
Severo & Rech Reabilitação pulmonar para DPOC: revisão
Ries et al.13 realizaram um estudo 11 pacientes com OCVA, no repouso aumentou significativamente a capa-
piloto para designar e avaliar dois pro- e durante o exercício de membros cidade ventilatória em todos os volun-
gramas de treinamento de membros superiores sem suporte e com suporte, tários, mas a magnitude dessa altera-
superiores, aplicáveis, simples e prá- sendo estes limitados por sintomas. O ção foi pequena; essa alteração foi
ticos, em 45 pacientes com DPOC, ciclo de MMSS foi considerado exer- atribuída à melhora da função dos
participando simultaneamente em um cício de MMSS com suporte, onde o músculos da cintura escapular, fazendo
amplo programa de reabilitação pul- paciente estava sentado, usando um com que agissem mais efetivamente
monar multidisciplinar. Os pacientes ergômetro de MMSS sem carga, como músculos acessórios da respi-
foram divididos em três grupos: mantinha um nível constante de ciclos ração. Como esse estudo foi realizado
treinamento de membros superiores e mantinha os MMSS ao nível dos em homens normais, os autores suge-
com resistência da gravidade (RG), ombros. O exercício de MMSS sem rem que tal aumento da capacidade
treinamento de membros superiores pela suporte era realizado pelo levanta- ventilatória assuma maior importância
facilitação neuromuscular propriocepti- mento de pesos leves até uma distância em pacientes com DPOC, nos quais o
va modificada (FNP) e nenhum exer- vertical de 10 cm em uma tábua ajus- músculo diafragma está mais aplaina-
cício de membros superiores. O grupo tada ao nível do ombro, com o pacien- do e ineficaz – por isso tais pacientes
que treinou com RG efetuou cinco te na posição sentado. Durante cada dependem mais dos músculos inspira-
exercícios de baixa resistência e alta período do exercício foram registradas tórios da caixa torácica. Isso pode
repetição, uma a duas vezes de dez as pressões endoesofágica, gástrica e explicar por que pacientes com obstru-
repetições cada, com peso na mão. O transdiafragmática, além da fre- ção crônica do fluxo aéreo apóiam seus
treinamento com FNP modificada qüência cardíaca (Fc), freqüência res- braços após a realização de exercício
incluiu quatro exercícios de baixa piratória (Fr) e tempo de resistência. de alta intensidade, pois essa manobra
freqüência com peso na mão, reali- Gases expirados foram coletados para permite que os músculos acessórios
zado três vezes de quatro a dez repe- determinar a oferta de oxigênio (VO2) aumentem sua contribuição para a
tições cada. Em ambos os grupos o e a ventilação por minuto (VE). A resis- ventilação6,15.
treinamento era diário e as sessões tência ao exercício foi menor para o
Lake et al.16 realizaram um estudo
eram supervisionadas. Os pacientes exercício de MMSS sem suporte, em-
controlado randomizado para avaliar
foram avaliados antes e após pelo bora a Fc no pico de exercício, o VO2
o benefício do treinamento de MMSS,
menos seis semanas de treinamento e a VE tenham sido menores para o exer-
sozinho ou em combinação com
ininterrupto. Como resultado, 28 cício sem suporte. Os valores médios
treinamento de MMII, em pacientes
pacientes completaram o estudo; com- para alterações nas pressões gástrica
com OCVA severa. O estudo foi
parados ao grupo controle, tanto os e pleural durante cada tipo de exer-
realizado ambulatorialmente, super-
pacientes que treinaram com RG e cício foram significativamente maiores
visionado por um fisioterapeuta, onde
quanto os FNP demonstraram melhora que no repouso. Esses dados mostraram
avaliaram 28 pacientes com obstrução
na performance do teste específico que muitos pacientes com OCVA alte-
crônica severa de vias aéreas (VEF1
para o treinamento realizado (teste de ram seu padrão quando realizam
32% do previsto). Os pacientes foram
performance de membros superiores, exercício de MMSS sem suporte, por
divididos em grupos: oito pacientes do
nível máximo e resistência no ciclo mudarem uma porção da sobrecarga
grupo controle, seis que treinaram
de membros superiores isocinético). ventilatória dos músculos inspiratórios
MMSS, sete que treinaram MMII e sete
Nenhuma diferença significativa ocor- da caixa torácica para o diafragma e
do grupo combinado. Cada sessão do
reu nos testes no ciclo isotônico de para os músculos expiratórios.
grupo de MMSS foi composta de 10
membros superiores, na resistência dos
Banzett et al. 6, sabendo que os min de aquecimento, 20 min de treina-
músculos ventilatórios ou na simulação
pacientes com DPOC severa freqüen- mento em circuito de MMSS (cicloer-
das AVDs. A dispnéia e a fadiga di-
temente se apóiam para a frente, gômetro de MMSS com resistência,
minuíram significativamente em ambos
suportando seus MMSS, resolveram lançamento de bola, passar uma bolsa
os grupos. Os autores concluíram que
testar se o suporte da cintura escapular sobre a cabeça, jogo de argolas, man-
o treinamento específico de membros
melhora a função da bomba ventila- tendo MMSS acima da horizontal) e
superiores pode ser benéfico na
tória. O estudo foi realizado em quatro 10 min de desaquecimento; cada
reabilitação de pacientes com DPOC.
homens normais, pela medida da exercício era realizado por 40 seg,
Criner e Celli14 propuseram que o ventilação máxima que poderiam seguido de 20 seg de repouso, sendo
exercício de membros superiores sem sustentar voluntariamente por 4 minu- repetido três vezes em 3 min. O grupo
suporte altera o recrutamento muscular tos (min), enquanto permaneciam sen- de MMII realizou 10 min de aqueci-
ventilatório e precipita a dispnéia em tados com seus cotovelos apoiados mento, 20 min de treinamento de ca-
pacientes com severa obstrução crô- firmemente na mesa e enquanto sen- minhada e 10 min de desaquecimen-
nica de vias aéreas (OCVA). Para tes- tados com seus cotovelos mantidos to. O grupo que realizou a combinação
tar essa hipótese, os autores estudaram acima da mesa. O apoio dos MMSS dos treinamentos realizou 10 min de
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