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Reabilitação pulmonar: treinamento de membros superiores

em pacientes com DPOC; uma revisão


Pulmonary rehabilitation: upper-limb exercise training in patients
with COPD; a literature review
Vanessa Girard Severo1, Viviane Viegas Rech2

1
Fisioterapeuta; pós-graduanda RESUMO : A reabilitação pulmonar (RP) tem recebido grande atenção no
em Fisioterapia na Ulbra tratamento dos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC),
(Universidade Luterana do visando a minimização dos sintomas, o aumento da tolerância física e a melhora
Brasil, RS)
da qualidade de vida. À medida que um maior número de programas vêm
2
Fisioterapeuta, educadora sendo criados, surge a preocupação de padronizar e melhor estudar as técnicas
física; Especialista em e métodos dos protocolos utilizados. O objetivo deste trabalho foi revisar o
Fisioterapia Pneumofuncional; que a literatura determina em relação ao treinamento de membros superiores
Profa. Ms da Ulbra
em pacientes com DPOC. Em um programa de RP, o treinamento de membros
superiores (MMSS) visa melhorar a performance ao exercício pela diminuição
ENDEREÇO PARA da demanda ventilatória durante o trabalho de MMSS e pela melhora da
CORRESPONDÊNCIA resistência ao exercício. Com base no levantamento bibliográfico, foram
Vanessa Girard Severo analisados artigos comparativos e de revisão. Inexiste consenso sobre o melhor
R. Heitor Villa Lobos 995-E modo de treinar os MMSS; entretanto, o método mais utilizado é o treinamento
89806-155 Chapecó SC
e-mail: girards@bol.com.br sem apoio, pois oferece mais vantagens, por assemelhar-se a muitas atividades
da vida diária. Permanece a necessidade de mais pesquisas para se estabelecerem
melhores critérios de seleção dos pacientes que mais se beneficiarão com o
Trabalho realizado por Vanessa treinamento; e do empenho de fisioterapeutas, na equipe multidisciplinar, em
Severo para conclusão da avaliar diferentes programas de treinamento de MMSS, o que inclui explorar o
Especialização em
Fisioterapia: Reeducação das efeito do tipo, da duração, da freqüência e da intensidade do programa.
Funções Cardiorrespiratórias na DESCRITORES : Doença pulmonar obstrutiva crônica; Extremidade superior/
Ulbra treinamento; Reabilitação; Revisão

ABSTRACT: Pulmonary rehabilitation (PR) has received large attention in the


treatment of patients with chronic obstructive pulmonary diseases (COPD),
with the aim of minimizing symptoms, improving physical tolerance and
increasing quality of life. As a huge number of programs are created, concern
in standardizing them arises, as well as the need to better understanding
the techniques and methods of protocols used. The aim of the present study
is to sum up literature guidelines in upper-limb training in COPD patients.
Following the bibliography survey, review and comparative articles on the
subject were analyzed. In a PR program, the upper-limb training aims at
increasing exercise performance, reducing ventilatory demand during upper-
limb work and increasing endurance to the exercise. There is no common
consensus on the best way to train upper-limbs. The most commonly used
method is upper-limb training without support, as it offers more advantages
for it resembles daily-life activities. The need to further research remains,
in order to establish a better selection criteria of patients who may potentially
benefit from the training, as well as to obtain physical therapists
commitment, in a multidisciplinary staff, to assess diverse upper-limb training
programs, including the assessment of effects onto the type, duration,
frequency, and intensity of the program.
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO KEY WORDS: Pulmonary disease, chronic obstructive; Rehabilitation; Review; Upper
jun. 2005 extremity/ training

44 2006; 13(1):
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3) 44-52
Severo & Rech Reabilitação pulmonar para DPOC: revisão

INTRODUÇÃO orgânicos, são achados freqüentes em


doenças inflamatórias crônicas como
essas alterações fisiopatológicas con-
tribuem para o aumento do espaço
A Doença Pulmonar Obstrutiva a DPOC. Essas alterações podem morto anatômico e da capacidade
Crônica (DPOC) é um grande proble- indicar pior prognóstico em função do pulmonar total; a hiperinsuflação pul-
ma de saúde pública. Afeta cerca de comprometimento da função muscular monar e da parede torácica causam
sete milhões de brasileiros e chega a periférica e diminuição da capacidade rebaixamento das hemicúpulas
matar 30 mil pessoas por ano no país, ao exercício2,3. diafragmáticas, o que contribui para
superando os óbitos por acidente de maior ineficiência respiratória e
A intolerância ao exercício é uma
trânsito e por pneumonia; em 2001, o aumento do custo metabólico4. A dis-
característica e uma manifestação
governo gastou R$ 100 milhões com função muscular esquelética é outro
problemática da DPOC. Os pacientes
pacientes internados pela doença, o fator importante que pode contribuir
com DPOC moderada a grave são
dobro dos gastos com internações por para a intolerância ao exercício. Esta
comumente limitados em suas habili-
pneumonia1. Milhões de pessoas, ao é caracterizada pela redução na massa
dades de realizar tarefas usuais, tais
redor do mundo, sofrem com essa e na força muscular, atrofia de fibras
como atividades de trabalho, exercício
moléstia por anos e morrem prematu- musculares tipos I e IIa, redução na ca-
recreacional e seus hobbies. Quando
ramente por suas complicações. pilarização das fibras e na capacidade
submetidos a testes de laboratório, os
Atualmente a DPOC é a décima se- das enzimas oxidativas e redução na
pacientes com DPOC tipicamente têm
gunda enfermidade mais prevalente resistência muscular. O metabolismo
um maior consumo de oxigênio (VO2)
no mundo e a Organização Mundial muscular é prejudicado tanto no re-
no repouso; isso pode ser explicado
de Saúde estima que no ano de 2020 pouso quanto no exercício; além disso,
pelo aumento do trabalho mecânico res-
será a quinta; e passará de sexta causa fatores circulatórios, nutricionais e
de morte para a terceira no mesmo piratório ou pela redução da eficiência
muscular ventilatória, ou ambas, psicológicos podem afetar a performan-
período2. ce ao exercício. A dispnéia é a queixa
quando comparados a pessoas saudá-
A definição mais recente de DPOC, veis de mesma idade4. Na presença precoce universal e é a causa mais
endossada pela American Thoracic de doença avançada, os pacientes ex- comum de limitação ao exercício5.
Society, define DPOC como uma perimentam maior dificuldade para Embora a DPOC seja caracterizada
“doença caracterizada por limitação realizar atividades de vida diária por alterações estruturais irreversíveis
ao fluxo aéreo que não é totalmente (AVDs), como o cuidado próprio e na arquitetura pulmonar, a tolerância
reversível. A limitação ao fluxo aéreo cuidados domésticos. A inatividade ao exercício dos pacientes com DPOC
é usualmente progressiva e está resultante leva a um descondiciona- pode ser melhorada. Terapia medica-
associada com uma resposta inflama- mento progressivo que aumenta mais mentosa e estratégias respiratórias,
tória anormal dos pulmões a partículas a sensação de esforço respiratório como respiração com freno labial po-
ou gases nocivos”3. relacionado a alguma tarefa. Como, dem melhorar as limitações ventila-
O tabagismo é a principal causa de com o tempo, a tolerância ao exercício tórias. Oxigênio e intervenção nu-
DPOC, mas somente 15% dos fuman- piora, os pacientes muitas vezes se tricional podem melhorar a performan-
tes apresentam fenótipo da moléstia, tornam mais isolados dos colegas, ce ao exercício. Suporte psicológico
sugerindo que, somados à suscetibili- amigos e familiares. Essa seqüência e respirações lentas e profundas podem
dade individual, fatores adicionais de eventos freqüentemente piora sua reduzir a ansiedade e minimizar a hi-
estão envolvidos, como poluição am- qualidade de vida. Concomitantemen- perinsuflação pulmonar. E finalmente,
biental, exposição a químicos, fumaça te, alguns indivíduos desenvolvem o treinamento de exercício tem se
inalada, tabagismo passivo, infecções depressão e ansiedade, podendo mostrado altamente benéfico para os
virais e bacterianas, deficiência de α1- afastar-se progressivamente de suas pacientes com DPOC5.
antitripsina e outras moléstias rotinas5.
O treinamento de exercício tem
associadas (pulmonares ou não)2. O mecanismo fisiológico da into- sido usado no tratamento dos pacientes
O diagnóstico de DPOC parece ser lerância ao exercício na DPOC envol- com DPOC desde o início da década
mais comum em homens do que em ve os seguintes achados: perda alveolar de 19605. Atualmente, tem sido inse-
mulheres, mas estudos mais recentes e do recolhimento elástico, que con- rido no contexto de um amplo progra-
em países em desenvolvimento mos- tribui para o aumento da compla- ma de reabilitação pulmonar (RP). A
tram que a prevalência da doença é cência pulmonar e para o prejuízo da estratégia usada pela RP é integrar-se
semelhante, o que provavelmente perfusão pulmonar. Tipicamente, essas ao manejo clínico e à manutenção da
reflete padrões variáveis de tabagismo alterações resultam de prolongada estabilidade dos portadores de DPOC,
e ainda sugere que as mulheres sejam inalação de fumaça de cigarro que principalmente em pacientes que,
mais suscetíveis aos efeitos do taba- irrita as vias aéreas, aumentando, mesmo com tratamento otimizado, con-
gismo3. Perda de peso e de massa mus- assim, a produção de muco e a resis- tinuam sintomáticos e com diminuição
cular, bem como depleção de tecidos tência das vias aéreas. Com o tempo, de sua funcionalidade6,7.

FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3) 45


Os objetivos da RP são: redução dos
sintomas, redução da perda funcional
treinamento de membros superiores,
treinamento específico da musculatu-
EXERCÍCIOS PARA
causada pela doença pulmonar e ra respiratória, melhora da qualidade OS MEMBROS
otimização das atividades físicas e
sociais, traduzidas pela melhora da
de vida e redução no número de dias
de hospitalização; em relação à sobre-
SUPERIORES:
qualidade de vida. A RP incorpora um vida, suporte psicossocial e edu- FUNDAMENTOS
programa de treinamento físico, cacional, encontraram o nível “C” de
educação do paciente e seus familiares, evidência6,10. O treinamento de mem- TEÓRICOS
intervenção nutricional, psicossocial e bros superiores tem por finalidade a A maior parte do conhecimento
contextual. A intervenção pela RP visa melhora da performance ao exercício, sobre condicionamento por exercícios
atender os problemas e as necessida- facilitando aos pacientes seu desem- de reabilitação deriva-se de programas
des individuais dos pacientes e é im- penho nas AVDs, podendo ser realiza- que enfatizam os exercícios para
plementada por uma equipe multidis- dos com apoio dos membros su- membros inferiores (MMII), pois estes
ciplinar de profissionais de saúde. Os periores, onde o paciente faz o exer- já têm evidência “A”, ou seja, são
benefícios incluem melhora na qua- cício em cadeia cinética fechada, ensaios aleatorizados e controlados,
lidade de vida, redução da ansiedade usando o cicloergômetro de braço, ou constituindo uma rica base de dados3.
e depressão, melhoria na tolerância ao exercício sem apoio, efetuado em
exercício, redução da dispnéia e outros cadeia cinética aberta, com os mem- O desempenho em muitas tarefas
sintomas associados e habilidade bros superiores livres. O objetivo do de vida diária requer não apenas as
melhorada para realização de ativi- presente trabalho é descrever o que a mãos, mas também a ação coordenada
dades de vida diária6,8,9. literatura determina em relação ao de outros grupos musculares que con-
Com base nesses conceitos, a treinamento de membros superiores trolam o tórax superior e o posiciona-
Sociedade Torácica Americana (ATS), em pacientes com DPOC, uma vez mento dos braços. Alguns músculos do
em 1999, adotou a seguinte definição: que os estudos não parecem apresentar tórax superior e da cintura escapular
“reabilitação pulmonar é um programa consenso acerca desse método. servem a funções respiratórias e pos-
multidisciplinar de assistência ao turais, têm pontos de fixação torácicos
paciente portador de doença respiratória e extratorácicos, como os trapézios su-
crônica, moldado individualmente para METODOLOGIA perior e inferior, grande dorsal, serrátil
otimizar seu rendimento físico, social anterior, subclávio e peitorais maior e
Este trabalho foi realizado como menor. Nos pacientes com DPOC, à
e sua autonomia”7. A RP busca auxiliar
conclusão do Curso de Pós-Graduação medida que ela se agrava, o diafragma
o paciente, diminuindo as deficiências
em Fisioterapia com ênfase em perde sua capacidade de gerar força,
e disfunções conseqüentes dos pro-
Reeducação das Funções Cardiorres- e os músculos da caixa torácica tor-
cessos secundários da doença pulmo-
piratórias, na Universidade Luterana nam-se mais importantes na geração
nar, como disfunções musculares pe-
riféricas e respiratórias, anormalidades do Brasil, campus de Canoas, RS. de pressões inspiratórias11. Quando os
nutricionais, deficiências cardíacas e pacientes realizam exercícios de
Os critérios para a seleção dos
distúrbios esqueléticos, sensoriais e membros superiores (MMSS) sem
artigos a serem revisados foram a
psicossociais6. apoio, alguns dos músculos da cintura
publicação em revistas que constam
escapular diminuem sua participação
Em 1997, o American College of no index medicus, trazendo revisão
na ventilação e ocorre um aumento
Chest Physicians (ACCP) e a American sobre o tema específico ou contri-
na captação de O2 (VO2) e na pro-
Association of Cardiovascular and buição original, ou seja, conhecimento
dução de CO2 (VCO2)10,12. Assim, o
Pulmonary Rehabilitation (AACVPR) novo; no caso de livros, a especificida-
treinamento de MMSS é útil, pois tem
apresentaram uma revisão sistemática de sobre o tema. Foram revisadas as
o potencial de melhorar a performance
baseada em evidências científicas (de referências encontradas nas bases de
ao exercício de MMSS, pela di-
níveis “A”, “B” e “C”) sobre os dados Medline, Lilacs, Bireme e sites
minuição da demanda ventilatória
componentes individuais e as rotinas de revistas, usando as palavras-chave:
durante o trabalho de MMSS e por
relevantes de um programa de RP. O “COPD”, “pulmonary rehabilitation”,
melhorar a resistência dos mesmos10.
estudo considerou a metodologia “upper extremity training” e “DPOC”,
empregada, a qualidade dos trabalhos “reabilitação pulmonar”, “treinamento Os estudos sobre exercícios de
e a consistência dos resultados. Clas- de membros superiores”. A pesquisa MMSS têm nível de evidência “B”,
sificou-os em grau de evidência “A”, resultou em 177 artigos, livros e sites sustentada por estudos observacionais
treinamento de membros inferiores da internet, dos quais foram seleciona- ou controlados com menos resultados
para melhorar a tolerância ao exer- dos 26 artigos, 4 livros e 2 sites, nos consistentes para suportarem uma
cício e a utilização da RP para melho- idiomas inglês e português, compreen- recomendação, daí não haver um pa-
rar a dispnéia; grau de evidência “B”, dendo os anos de 1989 a 2003. drão ideal de treinamento de MMSS12.

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Severo & Rech Reabilitação pulmonar para DPOC: revisão

Ries et al.13 realizaram um estudo 11 pacientes com OCVA, no repouso aumentou significativamente a capa-
piloto para designar e avaliar dois pro- e durante o exercício de membros cidade ventilatória em todos os volun-
gramas de treinamento de membros superiores sem suporte e com suporte, tários, mas a magnitude dessa altera-
superiores, aplicáveis, simples e prá- sendo estes limitados por sintomas. O ção foi pequena; essa alteração foi
ticos, em 45 pacientes com DPOC, ciclo de MMSS foi considerado exer- atribuída à melhora da função dos
participando simultaneamente em um cício de MMSS com suporte, onde o músculos da cintura escapular, fazendo
amplo programa de reabilitação pul- paciente estava sentado, usando um com que agissem mais efetivamente
monar multidisciplinar. Os pacientes ergômetro de MMSS sem carga, como músculos acessórios da respi-
foram divididos em três grupos: mantinha um nível constante de ciclos ração. Como esse estudo foi realizado
treinamento de membros superiores e mantinha os MMSS ao nível dos em homens normais, os autores suge-
com resistência da gravidade (RG), ombros. O exercício de MMSS sem rem que tal aumento da capacidade
treinamento de membros superiores pela suporte era realizado pelo levanta- ventilatória assuma maior importância
facilitação neuromuscular propriocepti- mento de pesos leves até uma distância em pacientes com DPOC, nos quais o
va modificada (FNP) e nenhum exer- vertical de 10 cm em uma tábua ajus- músculo diafragma está mais aplaina-
cício de membros superiores. O grupo tada ao nível do ombro, com o pacien- do e ineficaz – por isso tais pacientes
que treinou com RG efetuou cinco te na posição sentado. Durante cada dependem mais dos músculos inspira-
exercícios de baixa resistência e alta período do exercício foram registradas tórios da caixa torácica. Isso pode
repetição, uma a duas vezes de dez as pressões endoesofágica, gástrica e explicar por que pacientes com obstru-
repetições cada, com peso na mão. O transdiafragmática, além da fre- ção crônica do fluxo aéreo apóiam seus
treinamento com FNP modificada qüência cardíaca (Fc), freqüência res- braços após a realização de exercício
incluiu quatro exercícios de baixa piratória (Fr) e tempo de resistência. de alta intensidade, pois essa manobra
freqüência com peso na mão, reali- Gases expirados foram coletados para permite que os músculos acessórios
zado três vezes de quatro a dez repe- determinar a oferta de oxigênio (VO2) aumentem sua contribuição para a
tições cada. Em ambos os grupos o e a ventilação por minuto (VE). A resis- ventilação6,15.
treinamento era diário e as sessões tência ao exercício foi menor para o
Lake et al.16 realizaram um estudo
eram supervisionadas. Os pacientes exercício de MMSS sem suporte, em-
controlado randomizado para avaliar
foram avaliados antes e após pelo bora a Fc no pico de exercício, o VO2
o benefício do treinamento de MMSS,
menos seis semanas de treinamento e a VE tenham sido menores para o exer-
sozinho ou em combinação com
ininterrupto. Como resultado, 28 cício sem suporte. Os valores médios
treinamento de MMII, em pacientes
pacientes completaram o estudo; com- para alterações nas pressões gástrica
com OCVA severa. O estudo foi
parados ao grupo controle, tanto os e pleural durante cada tipo de exer-
realizado ambulatorialmente, super-
pacientes que treinaram com RG e cício foram significativamente maiores
visionado por um fisioterapeuta, onde
quanto os FNP demonstraram melhora que no repouso. Esses dados mostraram
avaliaram 28 pacientes com obstrução
na performance do teste específico que muitos pacientes com OCVA alte-
crônica severa de vias aéreas (VEF1
para o treinamento realizado (teste de ram seu padrão quando realizam
32% do previsto). Os pacientes foram
performance de membros superiores, exercício de MMSS sem suporte, por
divididos em grupos: oito pacientes do
nível máximo e resistência no ciclo mudarem uma porção da sobrecarga
grupo controle, seis que treinaram
de membros superiores isocinético). ventilatória dos músculos inspiratórios
MMSS, sete que treinaram MMII e sete
Nenhuma diferença significativa ocor- da caixa torácica para o diafragma e
do grupo combinado. Cada sessão do
reu nos testes no ciclo isotônico de para os músculos expiratórios.
grupo de MMSS foi composta de 10
membros superiores, na resistência dos
Banzett et al. 6, sabendo que os min de aquecimento, 20 min de treina-
músculos ventilatórios ou na simulação
pacientes com DPOC severa freqüen- mento em circuito de MMSS (cicloer-
das AVDs. A dispnéia e a fadiga di-
temente se apóiam para a frente, gômetro de MMSS com resistência,
minuíram significativamente em ambos
suportando seus MMSS, resolveram lançamento de bola, passar uma bolsa
os grupos. Os autores concluíram que
testar se o suporte da cintura escapular sobre a cabeça, jogo de argolas, man-
o treinamento específico de membros
melhora a função da bomba ventila- tendo MMSS acima da horizontal) e
superiores pode ser benéfico na
tória. O estudo foi realizado em quatro 10 min de desaquecimento; cada
reabilitação de pacientes com DPOC.
homens normais, pela medida da exercício era realizado por 40 seg,
Criner e Celli14 propuseram que o ventilação máxima que poderiam seguido de 20 seg de repouso, sendo
exercício de membros superiores sem sustentar voluntariamente por 4 minu- repetido três vezes em 3 min. O grupo
suporte altera o recrutamento muscular tos (min), enquanto permaneciam sen- de MMII realizou 10 min de aqueci-
ventilatório e precipita a dispnéia em tados com seus cotovelos apoiados mento, 20 min de treinamento de ca-
pacientes com severa obstrução crô- firmemente na mesa e enquanto sen- minhada e 10 min de desaquecimen-
nica de vias aéreas (OCVA). Para tes- tados com seus cotovelos mantidos to. O grupo que realizou a combinação
tar essa hipótese, os autores estudaram acima da mesa. O apoio dos MMSS dos treinamentos realizou 10 min de

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aquecimento, 15 min de treinamento MMSS para baixo e durante 2 min de pacientes o tempo real de VO2 (tempo
em circuito de MMSS, 15 min de ca- elevação dos MMSS. Antes da RP, a em que o paciente realizou o teste pré-
minhada e 10 min de desaquecimen- elevação dos MMSS levou a um treinamento e pós-treinamento) foi
to. Cada sessão tinha duração de uma aumento significativo no VO2, VCO2, medido durante o teste com bastão.
hora, três vezes por semana, por oito Fc e VE. Após a RP, a função pulmonar, Somente aqueles que treinaram com
semanas. A avaliação antes e após o Pdimax, os parâmetros metabólicos e exercício sem suporte mostraram
treinamento incluiu função pulmonar, ventilatórios com os MMSS para baixo diminuição no tempo real de VO2. Os
resistência muscular respiratória, teste não alteraram; no entanto durante a autores concluíram que o treinamento
de exercício máximo na bicicleta, er- elevação dos MMSS, o VO2, VCO2, e de MMSS melhora a atividade dos
gômetro de MMSS máximo e submá- VE estavam significativamente meno- MMSS com maior aumento na ativi-
ximo, distância caminhada em 6 min res que aqueles vistos antes da RP. Os dade de MMSS sem suporte, vista na-
e uma escala de bem-estar (Escala de autores concluíram que um amplo pro- queles que treinaram MMSS sem
Bandura). Vinte e seis pacientes com- grama de RP que inclua exercício de suporte. Como o exercício de MMSS
pletaram o programa. Houve uma extremidades superiores leva a uma re- é típico de AVDs, em pacientes com
significativa melhora nos seguintes dução na demanda ventilatória na OCVA as alterações verificadas com
parâmetros: distância caminhada em elevação simples de MMSS. Esse tipo o exercício de MMSS sem suporte
6 min no grupo de MMII e no grupo de programa pode permitir que pacien- podem ter maior significância clínica.
combinado; ergômetro de MMSS no tes com OCVA realizem atividades sus- O treinamento de MMSS deve ser
grupo de MMSS e no grupo combinado; tentadas de MMSS com menos dispnéia. incorporado no programa de RP e um
e a escala de bem-estar no grupo com- simples programa de exercícios de
Martinez et al.18 compararam o exer-
binado. Não houve nenhuma altera- MMSS usando o peso de um bastão
cício de MMSS com suporte versus
ção nos outros parâmetros. Os autores parece ser o formato ótimo, oferecen-
sem suporte no treinamento de pacien-
concluíram que o treinamento melhora do mais vantagens que os tradicionais
tes com OCVA severa. O estudo
a performance ao exercício em exercícios com suporte.
randomizado foi realizado junto com
pacientes com OCVA severa, que o
um programa ambulatorial de reabi- Para manter uma ventilação efetiva
treinamento é específico para o grupo
litação pulmonar de dez semanas, durante a elevação de MMSS, os indi-
muscular treinado, e que exercícios de
onde todos os pacientes passaram por víduos normais recrutam predominan-
MMSS devem ser incluídos no progra-
treinamento de MMII (bicicleta ergo- temente o diafragma, enquanto pacien-
ma de treinamento para esses pacientes.
métrica e esteira), treinamento mus- tes com DPOC usam mais os músculos
Couser et al. 17 , sabendo que a cular respiratório (usando treinador de acessórios da inspiração e os expira-
simples elevação dos MMSS resulta pressão inspiratória-threshold), re- tórios abdominais. Epstein et al. 19
em aumento na demanda metabólica treinamento respiratório, apoio psico- estudaram 34 pacientes durante 2 min
e ventilatória de pacientes com lógico e educação. O treinamento de de elevação dos MMSS, para testar se
OCVA, e que essa demanda contribui MMSS dividiu-se em exercício com a elevação dos MMSS é útil para
para a dispnéia, que é freqüentemente suporte (cicloergômetro de MMSS; a estudar a resposta ventilatória na
relatada quando esses pacientes carga de trabalho e a duração do exer- DPOC e para definir os fatores que
realizam atividades de vida diária cício foram aumentadas semanalmen- determinam essa resposta. Foram reali-
envolvendo os MMSS, trabalharam te como toleradas até 15 min) e exer- zadas medidas fisiológicas, metabóli-
com a hipótese de que um amplo cício sem suporte (cinco exercícios cas e análise da função muscular
programa de RP que inclua treinamen- realizados com um bastão de madeira: respiratória. Os autores concluíram que
to de MMSS diminuiria a demanda flexão de ombro, flexão/extensão de o padrão de recrutamento muscular res-
ventilatória para elevação de MMSS. ombro em conjunto com flexão/ piratório durante a elevação de MMSS
As respostas metabólicas e ventila- extensão de cotovelo, flexão/extensão depende primariamente do padrão
tórias para 2 min de elevação simples de cotovelo, abdução/adução hori- respiratório utilizado no repouso.
de MMSS foram estudadas em 14 zontal de ombro, circundução de Acima de 2 min, o grau de hiperinsu-
pacientes com OCVA antes e após a ombro; a duração de cada exercício flação e a reserva de força do diafragma
reabilitação pulmonar. A força mus- foi aumentada em 1/2 min, aumentan- aumentam o impacto na habilidade de
cular respiratória foi avaliada pela do até um tempo total de 3½ min). recrutar o diafragma. Medidas do
medida da pressão transdiafragmática Trinta e cinco pacientes completaram índice de respiração rápida e super-
máxima (Pdimax). A oferta de oxigênio o estudo. Ambos os grupos que treina- ficial, representado pelo índice de res-
(VO2), produção de dióxido de carbo- ram MMSS mostraram melhora similar piração (Fr/VC) durante elevação dos
no (CO2), freqüência cardíaca (Fc), no teste ergométrico de MMSS, MMSS, podem ser um teste simples,
ventilação minuto (VE), volume cor- enquanto aqueles que treinaram exer- prático e útil para avaliar a reserva
rente (VC) e freqüência respiratória (Fr) cício sem suporte mostraram maiores funcional do diafragma em pacientes
foram medidas no repouso e com os ganhos no teste com bastão. Em 17 com DPOC moderada a severa.

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Severo & Rech Reabilitação pulmonar para DPOC: revisão

FORMAS PARA não necessitam de qualquer equipa-


mento sofisticado para sua execução
realizada duas vezes por dois min
cada, com intervalo de repouso de um
TREINAMENTO e mostram semelhança com os movi- min entre elas. Aos pacientes é solici-
DE MMSS mentos realizados com os MMSS na
execução das AVDs. Dentre os movi-
tado que realizem a expiração durante
o movimento, afim de que esses mús-
As formas de treinamento de MMSS, mentos que podem ser realizados, culos sejam utilizados apenas para a
segundo Rodrigues6, podem ser divi- encontram-se: elevação dos braços ao atividade motora, diminuindo, assim,
didas em duas modalidades: com ou nível do ombro com ou sem peso, a dispnéia. O treinamento é realizado
sem apoio dos membros superiores. exercícios com bastões, com faixas três vezes por semana, com a duração
elásticas, em diagonal (FNP). Não de 30 min cada20,21.
Exercício com existe consenso sobre qual a melhor
forma de exercício, porém o mais
Segundo Celli12, o exercício para
MMSS incluído no programa de RP
os MMSS apoiados usado parece ser o de elevação do bra-
consta de treinamento com suporte
ço ao nível do ombro. Esta forma de
Os exercícios com os MMSS apoiados realizado por ergometria de braços por
exercício consiste em elevação de
são realizados em cicloergômetro de 20 min em cada sessão, começando
pesos com os braços estendidos até a
braço, que deve ser ajustado para que com 60% da capacidade máxima de
altura do ombro, usando um peso
o exercício seja feito com os braços trabalho (como determinado por um
inicial de 500 a 750 gramas; os movi-
movimentando-se ao nível do ombro, teste de esforço), aumentando a carga
mentos são realizados por 2 min,
sendo que a intensidade dos movimen- a cada cinco sessões, como tolerado,
numa freqüência igual à da respiração,
tos deve ser baseada numa percenta- monitorizando a freqüência cardíaca
seguindo-se um período de 2 min de
gem da carga máxima de trabalho e a dispnéia e com uma duração de
repouso. A duração de cada sessão
obtida em teste anterior. Segundo até 30 min. No treinamento de braços
deve ser de 30 min, com incrementos
Celli6, a intensidade do exercício tem sem suporte, os pacientes realizam
de 250 gramas no peso a cada cinco
de ser de 60% do VO2 e o tempo de exercícios de elevar um halter de 750g
sessões, ou de acordo com a tolerância
exercício deve ser no máximo 30 min ao nível dos ombros por 2 min, uma
do paciente. É necessária também a
por sessão. Por aqueles pacientes que repetição para cada respiração, um
monitorização de parâmetros6.
não conseguem completar o tempo, o período de repouso de 2 min, repetindo
exercício deve ser mantido até a a seqüência como tolerado por até 32
exaustão, e a duração do tempo deve PROTOCOLOS min, monitorizando-se a dispnéia e a
freqüência cardíaca; o peso é aumen-
ser aumentada progressivamente nas
sessões seguintes. A carga deve ser UTILIZADOS tado em (250g) a cada cinco sessões,
aumentada a cada três ou cinco como tolerado. O objetivo é comple-
O Centro de Reabilitação Pulmonar
sessões, conforme a tolerância do indi- tar 24 sessões.
da Universidade Federal de São Paulo
víduo. Para pacientes com DPOC são (UNIFESP), no Lar da Escola São O programa de RP no Ambulatório
sugeridos estímulos pequenos, em Francisco, oferece um serviço de RP de Fisioterapia da Universidade Es-
torno de 5 a 10 watts. A freqüência com duração de 12 semanas, onde o tadual Paulista FCT/UNESP – campus
das sessões, na maioria dos estudos so- treinamento de MMSS é realizado de Presidente Prudente segue três
bre treinamento, é de três a cinco através de halter, com carga corres- protocolos de atividades, sendo des-
vezes por semana. O programa de pondente a 50% do peso máximo critas a seguir as atividades de mem-
treinamento deve ter no mínimo 12 alcançado no teste incremental para bros superiores de cada um22.
sessões para que se obtenha resultado MMSS. No treinamento são utilizados
satisfatório quanto ao aumento da
endurance. É necessário, durante o
os padrões básicos de membros su- Protocolo 1
periores do Método Kabat, abordagem
treinamento, monitoração da Fc, global de Facilitação Neuromuscular Os exercícios de membros su-
pressão arterial, Fr, saturação da oxi- Proprioceptiva (PNF), usando a pri- periores são compostos por: diagonais
hemoglobina, sensação de dispnéia e meira diagonal (flexão, abdução, rota- de Kabat modificado 1; diagonais de
cansaço nos MMSS por meio da escala ção externa e extensão, adução, Kabat modificado 2; circundução (com
de Borg6. rotação interna) e a segunda diagonal os MMSS à frente do corpo); rotação
(flexão, adução, rotação externa e ex- interna e externa (ombro 900 de abdu-
Exercício com os MMSS sem tensão, abdução, rotação interna), ção e cotovelo 900 de flexão); com
pela funcionalidade e por solicitar a duração de 15 min, sendo realizadas
apoio ação de vários grupos musculares que duas séries de dez repetições para cada
Os exercícios de MMSS sem apoio envolvam os MMSS, utilizados na exercício (em pé), com um peso nas
são mais fáceis de serem realizados, realização de AVDs. Cada diagonal é mãos.

FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3) 49


Protocolo 2 de hospitalizações. Lacasse et al.26,27
publicaram uma metanálise com o
quatro AVDs (varrer o chão, apagar o
quadro-negro, levantar potes com
Os exercícios de membros superiores objetivo de avaliar o efeito da RP na pesos, trocar lâmpadas) que requerem
são compostos por: diagonais de Kabat capacidade de exercício e na qualida- os MMSS em diferentes posições, com
modificado 1; diagonais de Kabat mo- de de vida de pacientes com DPOC. e sem suporte. Os autores concluíram
dificado 2; conscientização da costal Os achados dessa metanálise, segun- que, quando realizavam essas quatro
alta (MMSS unidos em cruz, junto ao do os autores, apóiam amplamente a atividades, os pacientes com DPOC
corpo, abdução 900 e retorno); cruzar RP como parte de programas de trata- moderada-severa apresentavam um
os braços anteriormente (com os mento para esses pacientes. Os autores alto consumo de oxigênio, justificando
MMSS estendidos 900 anteriormente); concluíram também que a RP melhora a a fadiga relatada por eles durante
com duração de 15 min, sendo realiza- dispnéia e o autocontrole dos pacientes, atividades simples que envolvem os
das duas séries de dez repetições para o que clinicamente é muito importante. MMSS; e, ainda, apresentavam uma
cada exercício (em pé), com um peso Existe evidência de que o treina- relação ventilação minuto/ventilação
nas mãos. mento com exercício é o componente voluntária máxima (VE/VVM) alta que
mais importante de um programa de explica o aumento na percepção de
Protocolo 3 RP25. O treinamento pode ser divido dispnéia, também relatada. Atividades
em dois tipos: aeróbico (ou endurance) de MMSS tendem a produzir dispnéia
Os exercícios de membros superiores e de força. O treinamento aeróbico e incoordenação dos músculos respira-
são compostos por: diagonais de Kabat melhora a resistência para sustentar tórios. Assim, o treinamento de extre-
modificado 1; diagonais de Kabat mo- uma dada tarefa de exercício. Em con- midades superiores pode ser especial-
dificado 2; conscientização da costal traste, o de força envolve a performan- mente vantajoso para esses pacientes28.
alta (MMSS unidos em cruz, junto ao ce de atividades com alta carga (como Entretanto, não existem dados de estu-
corpo, abdução 900 e retorno); exer- levantamento de peso) por um curto dos que sustentem a inclusão rotineira
cícios metabólicos com as mãos (sem período de tempo. Cada tipo de treina- desses exercícios; mas sabe-se que
peso); com duração de 15 min, sendo mento pode ser realizado em inten- podem ser úteis em pacientes com co-
realizadas duas séries de dez repeti- sidades diferentes, que são percen- morbidades que restringem outras
ções para cada exercício (em pé), com tagens selecionadas da capacidade de formas de exercício31.
um peso nas mãos. trabalho máxima individual do Conforme observado nos tópicos
paciente, para uma tarefa específica5. anteriores, ainda não existe um con-
DISCUSSÃO O treinamento físico em um progra- senso sobre o melhor modo de treinar
ma de RP engloba o treinamento de os MMSS. A ausência de uma termi-
A reabilitação pulmonar tem sido membros inferiores, membros su- nologia específica na descrição dos
considerada uma importante forma de periores e de músculos ventilatórios. exercícios, no número de repetições,
tratamento da DPOC, sendo recomen- O treinamento de MMSS pode ser um na quantidade de carga inicial e
dada, por exemplo, pela Sociedade objetivo importante, já que os mesmos incremento durante os exercícios, no
Americana de Tórax, para pacientes são usados para muitas atividades da número de atendimentos necessários
com DPOC que se mantêm sintomáti- vida diária, como pentear os cabelos, para um incremento na carga, na
cos apesar do tratamento medicamen- escovar os dentes, levantar-se, banhar- variabilidade dos exercícios aplicados
toso adequado, sobretudo aqueles se e vestir-se. Tem sido demonstrado nos diferentes protocolos, entre outros,
funcionalmente mais graves23. Entre- que pacientes com DPOC toleram dificultam a implementação dos pro-
tanto, Berry et al.24 sugerem que todos pouco o exercício de MMSS pelo fato tocolos e uma melhor avaliação dos
os pacientes com DPOC, independen- de que seus músculos dos ombros e do resultados. As duas formas básicas de
te da severidade da doença, terão tórax participam tanto da respiração treinamento que têm recebido mais
algum benefício com a participação quanto do movimento dos membros atenção são o treinamento com ci-
em um programa de treinamento. superiores28. Celli et al.29 estudaram a cloergômetro de membros superiores,
Segundo Celli25, a reabilitação oferece resposta ventilatória e metabólica du- onde o trabalho é realizado com o
a melhor opção de tratamento para os rante o exercício de MMSS sem supor- suporte dos MMSS, e o treinamento
pacientes com obstrução de vias aéreas te em pacientes com DPOC e mostra- pelo levantamento de pesos, sendo
sintomáticos, tendo como resultado ram que esse exercício leva a um dis- neste o trabalho sem suporte10. Alguns
uma melhora na função bioquímica e sincronismo toracoabdominal e centros utilizam o exercício em diago-
fisiológica, efeitos benéficos na quali- dispnéia. Em um estudo mais recente, nais (FNP) associado ao uso de faixas
dade de vida, diminuição na percepção Velloso et al.30 avaliaram a demanda elásticas, pesos ou bastões, outros
de dispnéia e também uma redução metabólica e ventilatória dos pacien- usam aparelhos de remada ou esta-
no uso de cuidados de saúde e na taxa tes com DPOC, enquanto realizavam ções de vários exercícios. A FNP mo-

50 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3)


Severo & Rech Reabilitação pulmonar para DPOC: revisão

dificada é uma técnica que recruta o


maior número de músculos da cintura
CONCLUSÃO A resposta heterogênea à carga de
treinamento, em pacientes com DPOC,
escapular2,6. Em um estudo realizado O treinamento de MMSS é impor- sugere a necessidade de mais pesquisas
por Ries et al.13, onde os pacientes tante em um programa de reabilitação para melhor se estabelecerem critérios
treinavam com a resistência da gravi- pulmonar para pacientes com DPOC,
de seleção dos pacientes que se bene-
dade ou com a FNP, os autores con- embora a forma exata que traz me-
lhores resultados ainda permaneça des- ficiarão mais com o treinamento de
cluíram que ambos os treinamentos MMSS. Também existe a necessidade
conhecida. Os resultados de trabalhos
levaram a melhora na performance do
disponíveis indicam que os exercícios de os fisioterapeutas, dentro da equipe
teste de treinamento específico. Pelo
com levantamento de peso acima dos multidisciplinar, avaliarem diferentes
que foi descrito, o treinamento mais ombros são os que oferecem resultados formas de programas de treinamento
usado é o exercício com os MMSS sem mais satisfatórios.
apoio, que oferece mais vantagens, de MMSS; isso inclui explorar o efeito
A execução das AVDs, após um pro- do tipo, duração, freqüência e inten-
pois muitas atividades de vida diária, grama de RP que inclua treinamento de
em pacientes com obstrução crônica sidade do programa nas variáveis dos
MMSS, é realizada com menor esfor-
de vias aéreas, assemelham-se aos resultados e, por fim, para determinar
ço, traduzindo melhora na autonomia
exercícios de MMSS sem suporte e, social e física, no sentido de tornar o o efeito do treinamento de exercício
por isso, seus efeitos benéficos podem paciente mais independente, mais ativo de MMSS intenso na função muscular
ter maior relevância clínica18. fisicamente e, portanto, mais seguro. respiratória em pacientes com DPOC.

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