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As ruínas de Erhad, já deteoradas pelos elementos,

foram ainda mais mal-tratadas pela chegada do destacamento


élfico. Localizadas no topo de um monte que supervisionava o
desaguar do rio Ponsul, eram constituidas por duas decadentes
torres, uma muralha que circulava o topo da elevação e três
edíficios desmoronados de usos variados. A arquitetura era
claramente élfica, evidenciada pelo uso de verticalidade e
pelos destaques angulosos nas suas estruturas.
O décimo-terceiro destacamento de lanceiros escolhera o
local para o reagrupamento pela sua posição estratégica, bem
como pela significância cultural que aquele local representava.
Não que aquele monte de pedras lhes disse-se alguma coisa,
visto que havia sido eregido por uma civilização e cultura
arcaica, cujo os elfos de Myth Drannor nada ou pouco tinham
a ver. No entanto era um local élfico, o que era mais do que se
podia dizer sobre o resto da terra que os rodeava.
Os primeiros dias em Erhad foram marcados por
pequenas escaramuças com batedores verconianos e por
reparações mais urgentes às muralhas. No quinto dia chegou
um mensageiro montado num garanhão cinzento, um rapaz de
sangue diluído por um pai humano, um meio-elfo, de casta
inferior, normalmente usado como servente fora instruído com
a importante tarefa de entregar uma mensagem ao
destacamento de Lariel Ehan.
O rapaz entrou pelo portão do rio sobre os atentos
olhares de cada soldado em guarda. De curtos cabelos
encaracolados negros, ao invés dos longos, lisos e claros
cabelos dos elfos, não passou despercebido na sua chegada.
Foi lhe tirado o cavalo e apontada a direção para um dos
edifícios no centro da fortificação. O mensageiro passou pelas
portas ovais de carvalho, apressado por um dos sargentos que
o acompanhou. O chão de granito apresentava algumas
irregularidades, propagando também o som de uma conversa
mais adiante, as paredes estavam repletas de estantes,
molduras e candelabros de parede, todos eles com algum nível
de dano; as estantes, inclusive, tinham ainda alguns pedaços
de papiro enrolados, no entanto, o mais pequeno toque
ameaçava desfazer o papel. Iluminados por uma brecha no
telhado, por onde entravam os raios de sol, estavam
empoleirados sobre a mesa três elfos, apontando para um
mapa amarelado, a discutir um qualquer plano estratégico,
cujo o rapaz não conseguiu perceber devido à fala rápida em
alto saaril, linguagem que o meio-elfo ainda não dominara.
A conversa cessou quando o ouviram a aproximar.
Encararam-no os três, tal como os outros no exterior. O que
estava com a parede nas suas costas aparentava ser Lariel,
trajado com uma armadura de couro azul e um manto negro,
tinha toda a aparência altiva e graciosa dos elfos que vira em
Myth Drannor, de cabelos dourados, olhos azuis e
características faciais esguias, era a norma de beleza élfica.
Dos dois que estavam com as costas para a porta, o da direita
era um comandante militar, vestido a rigor com um perponte
azul escuro por de baixo de um peitoral prateado; cabelos
ruços espreitavam junto à base de um capacete alado com
cores semelhantes à roupa do tronco. O ultímo participante era
de facto uma elfa de longos cabelos platinados presos,
parcialmente, por um pequeno rabo de cavalo na nuca; os seus
olhos safira, de formato amendoado, pareciam estudá-lo num
misto de intriga e julgamento, sobrancelhas angulosas
ofereciam à sua face um maior ar de desconfiança e, tal como
Lariel, o queixo afiado e boca e nariz pequenos, ofereciam-lhe
uma graça etéria. A elfa vestia um casaco azul escuro apertado
por fivelas de couro castanho; preso no cinto estava a bainha
negra de um sabre repleta de ondulações e retoques prateados.
– Quem é este? – perguntou Lariel, frustrado pela
interrupção.
O sargento apressou-se a executar uma vénia graciosa e
arrastou o rapaz pelo braço, pressionando-o a imitá-lo. O
mensageiro fez a sua vénia, algo mais desajeitada, mas sem
motivo de indignação.
– Lorde Lariel, este mensageiro chegou da hoste de sua
Majestade Imperial – os olhos da elfa brilharam à menção do
Imperador. – Traz consigo uma comunicação.
– Desde quando é que o Imperador usa mestiços como
mensageiros? – questionou a de cabelos brancos.
– Eu era o único disponível...
– Fala a nossa língua e tudo! – troçou o de capacete com
um sorriso nos lábios.
– Muito bem, acalmem-se... – pediu Lariel com um
suspiro cansado. – Que novas trazes rapaz?
O mensageiro aproximou-se a medo da mesa, flanqueado
de ambos os lados pela visão de águia da elfa e do
comandante, retirou do bolso uma tira de papel e entregou-a
ao general.
Após uma breve leitura entregou o papel à elfa, que
pouco depois o entregou ao comandante, todos eles
visivelmente irritados pelo que a mensagem dizia.
– Devemos fazer de amas também? – a elfa penteou uma
madeixa de cabelo para trás das orelhas pontiagudas. –
Divinos salvem os reis e as suas estúpidas filhas.
Lariel deu a volta à mesa, aproximando-se dos
conselheiros e pousando a mão sobre o ombro da elfa em
compreenção.
– Dúvido que se trate de um pedido Arazael, estamos ao
serviço deles.
– Apesar disso, para quão longe pode ter fugido a
míuda? – questionou o de capacete, ainda com o mesmo ar
gozão.
O meio-elfo sentia-se fora de lugar, ouvindo uma
conversa que claramente não se destinava aos seus ouvidos, no
entanto não fora dispensado por isso mantinha-se
desconfortavelmente a escutar a discussão.
– Ficarias espantado – retorquiu Arazael com um sorriso
venenoso.
– Tu rapaz, como te chamas? – perguntou Lariel, de
olhos fixos nos dele.
A pressão do olhar azulado do general e o seu tom
julgador fora quase demasiada para o meio-elfo que, a custo,
não desviou o olhar.
– Galen... senhor – respondeu-lhe atrapalhadamente.
Pelo canto do olho reparou que os outros dois elfos
trocaram olhares e pequenos sorrisos.
– Galen, irás servir de guia a Arazaell...
– Eu? – apanhado de surpresa não se apercebeu que
havia interrompido o general
– A carta diz que conheces a área, estou a ser enganado?
– Não senhor, apenas não esperei fizesse parte dos seus
planos.
– Nem eu – admitiu a elfa, alternando o olhar
desaprovador entre Lariel e Galen. – Partimos após a minha
meditação. Não me faças esperar, mestiço.
Arazael baixou a cabeça em sinal de respeito a Lariel e
ao comandante e retirou-se sem mais uma palavra.

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