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ELETRÔNICA II

Arthur Neves de Paula


Outros circuitos não
lineares baseados
em amplificadores
operacionais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar retificadores de precisão.


„„ Examinar grampeadores de precisão.
„„ Explicar circuitos conversores e geradores de formas de onda.

Introdução
Atualmente, a maioria dos dispositivos eletrônicos contam com acessó-
rios que trazem mais conforto para os usuários. Pode-se citar: celulares,
tablets e microcomputadores com alta capacidade de processamento e
memória, relógios de pulso com telas LCD, contadores de passos e GPS
e até aparelhos domésticos inteligentes e capazes de se conectar com
a internet. Todos esses aparelhos contam com circuitos conversores e
geradores de formas de onda padronizadas. Tais circuitos podem utilizar
os retificadores e grampeadores de precisão para que operem de forma
precisa e rápida e atendam aos requisitos dos usuários. Há diversas formas
de onda padronizadas: senoidal, retangular, triangular, pulso, rampa e
outras. Diferentes formas de onda apresentam vantagens para operar
em diferentes aplicações, como circuitos temporizadores, sistemas de
comunicação e sistemas de teste e medição.
2 Outros circuitos não lineares baseados em amplificadores operacionais

Os controladores também utilizam esses circuitos e formas de onda


para operarem de forma segura em processos físico-químicos industriais,
principalmente com o crescente uso de redes de comunicação e inteli-
gência artificial aos meios de produção. Os circuitos a serem estudados
aqui são a base para que todos os mecanismos de produção operem
de forma coordenada.
Neste capítulo, você vai estudar os circuitos retificadores e grampe-
adores de precisão e os circuitos conversores e geradores de formas de
onda, todos pertencentes à classe de circuitos não lineares baseados
em amplificadores operacionais. Dessa forma, você vai aprender novas
funcionalidades para os amplificadores operacionais, que vão além do
seu uso em circuitos lineares.

Circuito retificador de precisão


Conforme Boylestad e Nashelsky (2013), os circuitos retificadores são aqueles
que transformam sinais em corrente alternada (CA) para sinais em corrente
contínua (CC). O retificador de meia-onda a diodo mais simples é apresentado
na Figura 1. Este é composto apenas por um diodo conectado entre a fonte
CA e a carga alimentada em CC.

Figura 1. Circuito retificador de meia-onda a diodo.


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No entanto, como todo diodo não ideal, os diodos retificadores apresen-


tam quedas de tensão quando conduzem corrente. A Figura 2 apresenta um
sinal senoidal com amplitude de 1 V retificado pelo circuito retificador da
Figura 1 anterior, considerando uma queda de tensão de 0,7 V no diodo em
condução. As distorções no sinal retificado apresentado na Figura 2 podem
ser significativas para o desempenho de um projeto.

Figura 2. Formas de onda de entrada e saída do circuito retificador de meia-onda a diodo


para sinais de baixa amplitude.

A fim de contornar os problemas anteriormente mencionados, é utilizado


o circuito retificador de precisão, também conhecido como superdiodo. Além
de não apresentar a queda de tensão em condução direta do diodo não ideal,
o superdiodo apresenta uma característica de transferência de alta precisão,
conforme a Figura 3, a qual indica que o circuito retificador de precisão
transfere, com qualidade, apenas a parte positiva de um sinal, mesmo que esse
sinal seja muito pequeno. Essas vantagens tornam os retificadores de precisão
adequados para aplicações em projetos de sistemas de instrumentação.
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Figura 3. Característica de transferência do circuito retificador a diodo de precisão.

O circuito de um retificador de precisão, o superdiodo, é apresentado na


Figura 4, onde: Vi é a tensão do sinal a ser retificado; Va é a tensão na saída do
amplificador operacional; Vo é a tensão na saída do retificador de precisão (sinal
retificado); e R é a resistência de carga. O funcionamento do “superdiodo” é
explicado em dois estágios:

„„ Para Vi > 0. Quando a tensão do sinal é positiva, a tensão Va também é


positiva e o diodo entra em condução. Dessa maneira, o circuito cria
caminho na realimentação negativa e passa a ter as características de
um seguidor de tensão, resultando em Vo = Vi, graças ao curto-circuito
virtual entre as entradas inversora e não inversora. É importante ficar
claro que para que o amplificador dê início ao seu funcionamento como
seguidor de tensão, basta que Vi assuma um valor positivo muito pequeno
igual à queda de tensão do diodo em condução dividido pelo ganho
em malha aberta do amplificador operacional. Isso garante a operação
adequada do superdiodo mesmo quando sinais muito pequenos são
aplicados na entrada do retificador.
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„„ Para Vi ≤ 0. Quando a tensão for negativa ou nula, o diodo estará em corte


e o amplificador operacional irá operar como um circuito comparador.
Dessa maneira, Vo passa a apresentar 0 V graças ao terra do circuito, e
a tensão Va passa a ser o valor negativo de saturação. Ou seja, a saída
será nula para qualquer sinal não positivo.

Figura 4. Circuito retificador a diodo de precisão, o superdiodo.

Quando a tensão do sinal a ser retificado no circuito retificador a diodo de precisão


for negativa, o amplificador operacional estará operando em saturação. A operação
em saturação não danifica o amplificador operacional, porém, há um tempo para
que a operação em saturação passe para a operação linear, ou seja, há um pequeno
atraso para que o sinal de entrada apareça na saída quando este deixa de ser negativo.
Essa não idealidade limitará a frequência de trabalho do superdiodo, a depender do
amplificador operacional a ser utilizado.
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Suponha que, no circuito da Figura 4 anterior, Vi seja um sinal de onda retangular de


1 Hz com média nula e 1 V pico a pico que deve ser retificado pelo superdiodo. Desenhe
a forma de onda do sinal de entrada e do sinal retificado durante 7 segundos.
Pela Figura 3 anterior, observa-se que o circuito permite a passagem apenas de
sinais superiores a 0 V, logo, toda a parte não positiva do sinal será bloqueada pelo
amplificador operacional quando este opera em malha aberta. Sendo assim, o gráfico
apresentado na Figura 5 a seguir apresenta as características dos sinais solicitados.

Figura 5. Gráfico das características dos sinais apresentados.

Circuito grampeador de precisão


Os circuitos grampeadores adicionam uma componente CC aos sinais (SEDRA;
SMITH, 2007), de modo que sinais CA mantenham suas características,
porém passem a operar como um sinal sempre positivo ou sempre negativo.
Esses circuitos são utilizados em dispositivos de instrumentação que preci-
sam mensurar sinais em CA, mas seus circuitos internos não permitem, por
exemplo, tensões negativas. Essa é uma limitação muito comum a conversores
analógico-digital de microcontroladores.
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Os circuitos grampeadores passivos a diodo são apresentados na Figura 6.


Estes operam em duas etapas definidas pelos semiciclos de operação da forma
de onda Vi. Tomando como exemplo o grampeador positivo com sinal de en-
trada senoidal de 5 V de amplitude da Figura 6a, durante o primeiro semiciclo
negativo da fonte, o diodo conduzirá e armazenará no capacitor a tensão Vc.
Após o pico de tensão no semiciclo negativo da fonte, Vc assumirá o valor pico
de tensão descontado da queda de tensão em condução do diodo e manterá
esse valor de tensão durante toda a operação do circuito, uma vez que não
há resistência no circuito para dissipar qualquer energia já armazenada no
capacitor. Assim, durante a operação do circuito, o diodo se manterá em corte
e o sinal de saída será calculado por Vo = Vi + Vc.

Figura 6. Circuitos grampeadores passivos a diodo. (a) Grampeador positivo e (b) gram-
peador negativo.

Os diodos apresentam uma queda de tensão em condução, assim, os cir-


cuitos grampeadores passivos a diodo não operam adequadamente, ou seja,
não transformam o sinal CA em sinal CC. Para exemplificar essa situação, a
Figura 7 apresenta a forma de onda do sinal de saída do circuito grampeador
positivo da Figura 6a anterior considerando um diodo que apresenta uma
queda de tensão de 0,7 V em condução. É possível notar que uma parcela do
sinal se manteve negativa, e essa não idealidade pode invalidar análises e até
causar a queima de componentes eletrônicos.
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Figura 7. Formas de onda de entrada e saída do circuito grampeador passivo a diodo.

A fim de contornar os problemas mencionados, utiliza-se uma topologia


não linear composta por um amplificador operacional e um diodo, formando o
circuito do grampeador de precisão apresentado na Figura 8, conforme Malvino
e Bates (2011). Como o grampeador de precisão não apresenta a queda de
tensão do diodo em condução do circuito da Figura 6a anterior, o grampeador
de precisão torna o sinal grampeado seguro para trabalhar em uma gama de
aplicações, mesmo para sinais de tensão com amplitudes menores que 100 mV.

Figura 8. Circuito grampeador de precisão.


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O funcionamento do circuito grampeador de precisão deve ser analisado


considerando o capacitor inicialmente descarregado. Dessa forma, no período
entre o início do primeiro semiciclo negativo da fonte e o pico de tensão negativo
da fonte, o diodo conduz, dando caminho para a malha de realimentação do
amplificador operacional. Nesse intervalo, graças ao curto-circuito virtual
entre as entradas inversoras e não inversoras, o capacitor é carregado com a
tensão pico (Vp) no semiciclo negativo da fonte. Após o pico de tensão e durante
toda a operação do grampeador de precisão, o diodo se manterá em corte e
o amplificador operacional não influenciará no circuito, assim, a tensão de
saída será Vo = Vi + Vp.
Recapitulando, a principal diferença entre o grampeador de precisão e o
grampeador passivo a diodo está na redução de tensão no capacitor em razão
da queda de tensão no diodo em condução. Essa diferença pode parecer pouca,
mas se torna expressiva ao trabalhar com sinais de baixa amplitude.

Utilize o simulador MultisimLive para verificar o comportamento dos circuitos gram-


peadores. O simulador é gratuito e realiza as simulações pelo navegador da internet
sem a necessidade de realizar instalações:

https://qrgo.page.link/2J4ns

Circuitos conversores e geradores de


formas de onda
Circuitos conversores de formas de onda transformam uma onda padronizada
em outra. Uma das aplicações para os conversores é a geração do sinal de
pulso, também conhecido como modulação por largura de pulso, amplamente
utilizado em eletrônica de potência e circuitos digitais. No campo da eletrônica
de potência, controla a tensão de saída de retificadores controlados, inversores
de frequência e fontes de alimentação. Já nos circuitos digitais, os microcon-
troladores utilizam esse sinal para emularem tensões analógicas e enviarem
informações lógicas. Já os circuitos de geração de forma de onda permitem a
criação de sinais padronizados sem utilizar um sinal de entrada externo. Nesta
seção, citamos três circuitos básicos, na ordem: o circuito gerador de onda
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retangular, que não precisa de um sinal externo, conhecido como oscilador


de relaxação; um circuito que converte uma forma de onda retangular em
triangular; e um circuito que converte sinais triangulares em pulsos.

Circuito gerador de onda retangular


Os circuitos geradores de sinais, também conhecidos como geradores de
funções, têm a característica de apresentar formas de onda padrão na saída
sem a necessidade de uma forma de onda padrão na entrada. O princípio
básico de funcionamento dos geradores de sinais está nos circuitos oscilado-
res, geradores de onda retangular. A partir da onda retangular, basta utilizar
os circuitos conversores de sinais a fim de obter as demais formas de onda.
O circuito oscilador mais simples utilizado para gerar uma forma de onda
retangular utilizando um amplificador operacional é conhecido como oscilador
de relaxação, circuito apresentado na Figura 9.

Figura 9. Oscilador de relaxação.

O circuito é composto por um amplificador operacional operando com


duas redes de realimentação. A realimentação pela porta inversora é composta
pelo capacitor C e pelo resistor R1. A carga e a descarga desse capacitor
caracterizam a periodicidade do circuito. Já a realimentação pela porta não
inversora, composta pelos resistores R2 e R3, leva o amplificador a operar
sempre em sua tensão de saturação (Vsat), oscilando entre +Vsat e – Vsat, seguindo
a operação do circuito Schimitt Trigger. Essa operação é simples: quando a
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tensão na porta inversora, ou seja, sobre o capacitor, atinge o valor da tensão


de comutação superior (+β∙Vsat), a saída do amplificador operacional apre-
senta Vret = – Vsat. Essa tensão negativa passa a reduzir a tensão no capacitor
e, de maneira semelhante, quando a tensão no capacitor atingir a tensão de
comutação inferior (–β Vsat), a saída do amplificador operacional apresenta
Vret = + Vsat. Novamente, a tensão do capacitor crescerá até alcançar a tensão
de comutação superior e a oscilação acontecerá indefinidamente. As tensões
de comutação são definidas por β, que representa a fração de realimentação
calculada pela equação a seguir:

Como a saída Vret oscilará entre as tensões de saturação positiva e negativa,


a tensão no capacitor estará sempre variando com frequência definida pela
equação a seguir:

Suponha o circuito oscilador de relaxação da Figura 9 anterior com R1 = R2 = R3 = 10 kΩ,


C = 1 μF e Vsat = 10 V. Determine a frequência de operação do oscilador e trace as curvas
das tensões no capacitor e na saída do amplificador operacional.
Para calcular a frequência f, deve-se primeiramente calcular a fração de realimentação
β. Na sequência:

Para traçar as curvas apresentadas na Figura 10 a seguir, utilizou-se o simulador


MultisimLive. É possível observar que a tensão no capacitor (em azul) oscila entre
+ 5 V e – 5 V, exatamente igual à teoria, que diz que a tensão no capacitor oscilará
entre as tensões de comutação superior (+ β∙Vsat = + 5 V) e inferior (– β∙Vsat = – 5 V).
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Quando o capacitor atinge + 5 V, a saída do amplificador operacional é alterada para o


negativo da tensão de saturação (– 10 V) e o capacitor passa a descarregar sua energia.
Já quando o capacitor atinge – 5 V, a saída vai para + 10 V e o capacitor passa a carregar
sua energia. Esse processo oscilatório caracteriza a forma de onda retangular (Vret).

Figura 10. Curvas traçados pelo simulador MultisimLive.

Circuito conversor de sinal retangular em sinal


triangular
Basta utilizar um amplificador operacional como um circuito integrador para
transformar o sinal retangular em triangular. O circuito integrador é apresen-
tado na Figura 11. Neste, a resistência na rede de realimentação negativa deve
ser pelo menos 10 vezes maior que o resistor de entrada para que o circuito
gere uma onda triangular apropriada. A tensão pico a pico do sinal
triangular de saída será proporcional à tensão de pico da tensão do oscilador
, conforme a equação a seguir, onde f é a frequência de oscilação do
sinal de onda retangular. A Figura 12 apresenta a resposta do circuito.
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Figura 11. Circuito conversor de sinal retangular em sinal triangular.

Figura 12. Resposta do conversor de sinal retangular em sinal triangular.

A partir do oscilador de relaxação, é possível obter ondas triangulares em diferentes


topologias de circuitos. Para compreender melhor o funcionamento dos geradores de
ondas triangulares, leia: Eletrônica volume 2, 8. ed., de Albert Malvino e David J. Bates,
da editora Bookman (2016).
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Circuito conversor de sinal triangular em sinal de pulso


Um circuito capaz de converter um sinal triangular em pulso é mostrado na
Figura 13. Esse circuito utiliza um amplificador operacional operando como
comparador, assim, quando o sinal de tensão triangular V_tri for maior que
a tensão de referência Vref, o amplificador apresentará na saída a tensão de
saturação positiva. Caso contrário, a saída apresentará a tensão de saturação
negativa, caracterizando uma tensão pulsante. A largura do pulso em tensão
positiva é ajustada pelo divisor de tensão formado pelo resistor R1 e o poten-
ciômetro R2.

Figura 13. Circuito conversor de sinal triangular em sinal de pulso.

A Figura 14 apresenta a resposta do circuito da Figura 13 anterior, supondo


uma fonte de tensão triangular (V_tri) com tensão de pico a pico de 5 V, uma
tensão de referência Vref ajustada para 1 V e um amplificador operacional cuja
tensão de saturação está ajustada para 8 V. Nesse circuito, tensões de refe-
rência positivas apresentarão razões de trabalho menores que 50% e tensões
de referência negativas implicarão em razão de trabalho maiores que 50%.
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Figura 14. Resposta do conversor de sinal triangular em sinal de pulso.

BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São
Paulo: Pearson, 2013.
MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. v. 2.
SEDRA, A. S.; SMITH, K. C. Microeletrônica. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2007.

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