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RONDAS PELA SEGURANÇA DO PACIENTE: COMPARTILHANDO A

NOSSA EXPERIENCIA

Aline Oliveira Bevilaqua1, Eduardo Cezário de Oliveira1, Rodrigo Heleno Luciano1,


Cassiana Gil Prates2.

Resumo: Essa publicação tem como objetivo compartilhar a experiência do Hospital Monte Sinai na
realização de rondas de segurança nas unidades assistenciais, contribuindo para o desenvolvimento
da cultura de segurança do paciente, buscando encorajar a comunicação aberta entre as equipes
multiprofissionais e o envolvimento da alta direção nas ações de segurança do paciente, estreitando a
distância dos profissionais com a Alta direção do Hospital.

Palavras-chave: Segurança do Paciente, Ronda de Segurança, Cultura de Segurança.

Abstract: This publication aims to share Monte Sinai Hospital's experience in conducting safety
rounds in the care units, contributing to the development of the patient safety culture, seeking to
encourage open communication between multidisciplinary teams and the involvement of senior
management in actions of patient safety, narrowing the distance of professionals with the Senior
Management of the Hospital.

Keywords: Patient Safety, Safety Round, Safety Culture.

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1 Juiz de Fora, Minas Gerais. E-mail: alinebevilaquame@gmail.com.


1 Juiz de Fora, Minas Gerais. E-mail: eduardocezario.adm@gmail.com.
1 Juiz de Fora, Minas Gerais. E-mail: rodrigo.hluciano@hotmail.com.
2 Porto Alegre, Rio Grande do Sul. E-mail: cassiprates@gmail.com
INTRODUÇÃO

Rondas pela Segurança do Paciente, também conhecidas como Walk Rounds ou Executive
Round são iniciativas propostas pelas organizações de saúde que buscam desenvolver a cultura de
segurança do paciente. Trata-se de uma intervenção que envolve a Alta Direção diretamente com os
(1)
profissionais assistenciais da linha de frente. Executivos ou líderes seniores visitam áreas de
atendimento de pacientes com o objetivo de observar e discutir incidentes ou potenciais riscos à
(2,3)
segurança do paciente, além de apoiar a equipe na abordagem de tais situações.
A segurança do paciente, como dimensão da qualidade do cuidado em saúde, é tema de
destaque em todo o mundo. Danos causados durante o processo assistencial têm implicações
significativas na morbimortalidade e qualidade de vida dos pacientes em todos os contextos de
assistência à saúde, além de afetar negativamente a imagem das instituições e dos profissionais de
(4)
saúde, constituindo-se assim um grave problema de saúde pública .
Na busca por estratégias que de fato garantam uma assistência segura aos pacientes,
partilhar de uma cultura de segurança positiva emerge como um requisito essencial a ser
desenvolvido e aprimorado nas instituições de saúde. Organizações consideradas de alta
confiabilidade, como a aviação e indústria petrolífera têm enfatizado a cultura de segurança como um
(5)
fator chave para a manutenção dos seus excelentes desempenhos .
(6)
Cultura de Segurança foi conceituada pela Health and Safety Comission , como o produto
de valores, atitudes, percepções, competências e padrões de comportamentos individuais e de grupo,
os quais determinam o compromisso, o estilo e a proficiência da administração de uma organização
com a gestão da segurança. Organizações com uma cultura de segurança positiva são
caracterizadas por boa comunicação entre os profissionais, confiança mútua e percepções comuns
sobre a importância da segurança e da efetividade das ações de prevenção.
Uma instituição com uma cultura de segurança fortalecida é reconhecida, quando todos os
trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no cuidado e gestores, assumem responsabilidade
pela sua própria segurança, pela segurança de seus colegas, pacientes e familiares, quando a
segurança é priorizada acima de metas financeiras e operacionais, quando os profissionais são
encorajados e recompensados a identificar, notificar e resolver problemas de segurança, quando
promove o aprendizado organizacional a partir da ocorrência de um incidente e quando proporciona
(7)
recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção efetiva da segurança .
(8)
A cultura punitiva ainda é muito presente nas instituições de saúde . A ideia de que o
profissional de saúde não pode errar, está disseminada na sociedade e entre os profissionais. O
movimento pela segurança do paciente aponta para as deficiências do sistema, em sua concepção,
organização e funcionamento como as principais responsáveis diante da ocorrência de um incidente,
ao contrário de culpar o profissional isoladamente, afinal, não se pode mudar a condição humana,
mas é possível modificar as condições de trabalho, criando defesas no sistema (9).
As Rondas pela Segurança do Paciente têm como objetivo desenvolver a cultura, criando um
ambiente acolhedor que proporcione segurança psicológica e busque encorajar a comunicação
aberta e transparente entre os profissionais de linha de frente com envolvimento da Alta Direção. A
alta direção possui o poder de decisão primordial para promover a melhoria da qualidade e o sucesso
(10)
da implementação das metas de segurança do paciente . Desse modo, faz-se necessário, que os
integrantes desta administração apoiem o desenvolvimento de ações e processos e se envolvam de
(11)
forma direta nas questões relacionadas ao cuidado seguro . O apoio da alta direção perpassa pelo
processo de reconhecimento e entendimento da importância da atuação do Núcleo de Segurança do
Paciente (NSP) nas instituições hospitalares, pois ela é a responsável pela nomeação e composição
do NSP, conferindo aos seus membros, autoridade, responsabilidade e poder para executar as ações
(12)
do Plano de Segurança do Paciente (PSP) .
Esta iniciativa ainda é incipiente no Brasil e estudos de relato, impacto e desafios de sua
implantação são restritos na literatura científica. Diante disto, este artigo tem como objetivo relatar a
experiência da implantação de Rondas pela Segurança do Paciente. Sua relevância está em
compartilhar este desafio, auxiliando os serviços de saúde no planejamento e execução desta
atividade.

MÉTODO

Trata-se de um relato de experiência da implantação da ronda pela segurança do paciente. O


cenário foi um hospital geral e privado, de grande porte (329 leitos) com selos de certificação Senes
Prize do Projeto SGQ:5s, ISO 9001:2015, Acreditado com Excelência pela Organização Nacional de
Acreditação (ONA) e Acreditado pela National Integrated Accreditation for Healthcare Organizations
(NIAHO), situado na região sudeste do país.
Anualmente, são admitidos 11.883 pacientes, realizado 10.994 procedimentos cirúrgicos nas
mais diversas especialidades, 805 partos, 54.596 atendimentos de urgência e emergência. O quadro
de pessoal é composto por 1.037 colaborados e o corpo clínico (aberto), por 1.406 médicos.
O hospital dispõe de uma Política de Segurança do Paciente, atendendo ao Programa
Nacional de Segurança do Paciente, com implementação de sete Estratégias: 1) Consolidar a Cultura
de Segurança do paciente; 2) Implementação dos protocolos de segurança do paciente; 3)
Credenciamento do hospital na Rede Sentinela/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA);
4) Gerenciamento dos incidentes de segurança do paciente; 5) Implementação de protocolos clínicos
e assistenciais; 6) Gerenciamento de indicadores de segurança do paciente; 7) Organização de
Grupos Técnicos para Segurança do Paciente (quedas, feridas e lesão por pressão, cateteres
vasculares, medicamento).
As ações de Segurança do Paciente são emanadas pelo Núcleo de Segurança do Paciente,
constituído por 12 profissionais que se reúnem mensalmente. As ações são operacionalizadas pela
enfermeira da qualidade que é responsável pelo NSP com o apoio do Setor que dispões de 4
profissionais.
A Ronda pela Segurança do Paciente, conhecida no hospital como Walk Round, foi
incorporada na estratégia Consolidar a Cultura de Segurança do Paciente a partir da reunião anual do
Planejamento Estratégico em novembro de 2017.Foi elaborado um plano de ação, pela Qualidade,
com cronograma anual, contemplando todas as áreas assistenciais, turnos, horário fixo e
periodicidade.
Em 16/02/2018 iniciamos o Walk Round com visitas realizas a cada 15 dias, in loco, nos
setores assistenciais, com duração aproximada de 30 minutos. O Round é realizado pelos
representantes da direção (Diretor Técnico e Diretor Clínico), pela Enfermeira do Núcleo de
Segurança do Paciente, representante do setor de Qualidade e Gerente de Enfermagem. A
participação da ronda de segurança é aberta e todos os profissionais do setor podem participar,
independente dele ser da área assistencial ou não, os membros encorajam a participação dos
presentes proporcionando um ambiente acolhedor e confortável para falar sobre segurança do
paciente.
A visita inicia com a apresentação dos membros e explanação relacionadas aos objetivos do Round,
após a apresentação são feitas as seguintes perguntas:
 "Alguém lembra de alguma falha assistencial que envolveu o paciente na última semana que
queiram relatar?".
 "Na opinião de vocês qual a principal barreira para segurança do paciente?".
 "O que a gente pode fazer para melhorar?".
Após cada uma das rondas de segurança é elaborado um plano de ação para trabalhar os
apontamentos pertinentes que vão contribuir para a segurança do paciente e que será acompanhado
pelo Núcleo de Segurança do paciente. Também ocorre a divulgação dos apontamentos para as
lideranças através de matérias elaboradas pelo setor de Qualidade.
Anuência do hospital foi obtida para este relato, sendo consultados e analisados documentos
institucionais e informações provenientes das situações vivenciadas pelos autores desta pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante os 08 meses (16/02/2018 a 25/09/2018) foram realizadas visitas em 14 setores


(unidades de internação, Transplante de Medula Óssea, UTI Adulto, UTI NEO, Unidade Coronariana,
Centro Cirúrgico, Emergência e Pronto Atendimento. Das 14 visitas tivemos a presença ou do Diretor
Técnico ou Diretor do Corpo Clínico em 86% dos Rounds. 136 colaboradores participaram dos
Rounds de segurança conhecido como Walk Round, esses participantes fizeram 72 apontamentos
entre circunstâncias de risco e sugestões de melhoria, desses classificados como processo (45
apontamentos), estrutura (25 apontamentos) e subdivididos em estrutura física, estrutura de material,
estrutura de equipamento, pessoas e processo de Recursos Humanos (RH), conforme a Figura 1.
Figura 1 – Status da classificação dos apontamentos do Walk Round
Classificação Apontamentos Resolvidos Em andamento
Processo 45 43 (95,6%) 2 (4,4%)
Estrutura - Física 12 6 (50%) 6 (50%)
Estrutura - Equipamento 10 7 (70,0%) 3 (30%)
Estrutura - Material 3 3 (100%) 0 (0%)
Pessoas 1 1 (100%) 0 (0%)
Processo - RH 1 1 (100%) 0 (0%)
Total 72 61 (84,7%) 11 (15,3%)
Fonte: Planilha plano de ação Walk Round 2018

Dos 72 apontamentos gerados no Walk Round foi gerado um plano de ação para ser discutido
na reunião do Núcleo de Segurança do Paciente – NSP, nesse plano foram propostas 68 ações de
melhoria, 82% dessas ações foram concluídas e 18% estão em andamento.

Grafico1 – Status do plano de ação do Walk Round

Fonte: Planilha plano de ação Walk Round 2018

Os resultados analisados mostram também que a maioria das ações propostas visando a
segurança do paciente foram implementadas, revelando o comprometimento da instituição com a
segurança do paciente. O envolvimento da Alta Direção, o comprometimento das lideranças e dos
membros do Núcleo de Segurança do Paciente foram fundamentais para a conclusão das ações
propostas e para disseminar a cultura de segurança do paciente no ambiente hospitalar.
Identificado que a implementação do round, apresenta implicações positivas para a
comunicação efetiva, reduzindo riscos e falhas nos processos de cuidado, podendo ser considerada
boa prática no que tange à segurança do paciente. Evidenciamos após análise e discussão dos
resultados, com base em planilhas gerenciais, referente ao ano de 2017 e 2018, redução no número
de notificações de incidentes, sendo essa em 18,2% e redução na incidência de eventos adversos
correspondendo a 27,7%. Tal evidência demonstra que os Rounds vêm contribuindo para o alcance
de um ambiente mais seguro.
Ações futuras para nossos Rounds, incluem feedback às áreas após tratativa dos
apontamentos, como forma de estimular a participação dos profissionais nas discussões durante os
rounds, realização do Round em plantão noturno, em áreas administrativas e apoio, como o
laboratório de análises clínicas, nutrição, lavanderia, para consolidar a cultura de segurança do
paciente.
O estudo tem como limitação ser um relato da área hospitalar, porém o mesmo poderá servir
de inspiração para atenção básica e clínicas diagnósticas trilharem o caminho da segurança do
paciente.

CONCLUSÃO

Compartilhamos nossa experiência com a intenção de encorajar serviços de saúde a trilhar o


caminho da segurança, proporcionando uma assistência mais segura tanto para pacientes quanto
para profissionais e a própria instituição
A realização do Walk Round nas unidades assistenciais promoveu um ambiente onde os
profissionais puderam estreitar a relação com a Alta Direção fazendo com que os funcionários
tivessem a possibilidade de apontar diversas questões que poderiam oferecer riscos para os
pacientes, essa escuta ativa da alta direção e demais profissionais envolvidos na promoção das
rondas de segurança foram fundamentais para consolidar a cultura de segurança no ambiente
hospitalar.

REFERÊNCIAS

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