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Luzes pequenas.

Um ambiente escuro, um verdadeiro nada existencial em uma fina lâmina


de água e os pontinhos de luzes. Se aproximam. O chamam. Seu inconsciente não podia mais
existir, muito menos seu consciente. O que lhe aconteceu foi muito brutal. Algo mudou em seu
interior.
A vermelha se aproxima do que parece ser um corpo mutilado flutuante, sem um braço e
com o ombro esquerdo deformado.-como fui parar aqui dentro dessa coisa imunda!- Ecoou a voz da
luz vermelha apontando para o corpo.- Que ódio! Não bastava estar faminto, agora estou preso aqui.
Uma luz azul acinzentada chega perto da vermelha.-Ninguém mandou vir aonde não é
chamado, agora estamos os dois aqui nessa forma limitada.-Ecoou um tom calmo e ameno.
-Tudo culpa sua! Você o avisou! Ele estava com uma espécie de amuleto… esperá-la… isso
tudo é coisa daquele samurai maldito e… se eu não me engano eu já matei você uma vez.-Indagou a
luz vermelha ligando pontos em sua cabeça.-Ah! Sim! Só podia ser você! Um aluno daquele
maldito.
-Não fale assim do Toguchi, você deve procurar paz em seu espírito.-Ecoou de forma calma,
mas agora séria.- O que ele fez com agente foi necessário Kai.
-Não ouse me chamar assim! Eu não o permito, e te condeno a me aturar pra sempre agora
que falou meu nome! Seu imundo!
-Tudo bem agente já está aqui mesmo, presos, nem faz muita diferença.-Soltou uma rizada
abafada que ecoava macabramente.
-Maldito seja Hayato Togushi! Eu o matarei e me alimentarei de você! Aquela peste
abominável.-resmungou de forma ranzinza e estridente.
-Humm… acho q vai demorar tal vingança… por causa das Presilhas de Ishii ficaremos
aqui anos talvez… ou uma verdadeira eternidade… -falou em tom soturno e irônico a luz azul.- mas
veja pelo lado bom pelo menos não morreremos de fome nem nos dissiparemos como você tentou
fazer comigo a alguns dias atrás.
-Isso é pior! Eu prefiro morrer, sumir, dissipar, ficar preso num vaso, urna, pote…
-Está exagerando.- interrompendo-o em tom sereno.-uma urna é bem apertada e não
conseguimos ver, nem…
Qualquer! Qualquer coisa é melhor do ficar dentro de um humano de cabelo fedido e de inútil
existência! Ainda mais um aluno daquele falso mestre desleal!- não ligando para as positividades da
luz a azul.

Uma grande casa de madeira. Em suas portas estavam escritas em kanji pintados a
mão.“dojo samurai, A arte das duas espadas”. Dentro se ouvia apenas brados em ritmo e batidas
secas no chão.
O que parecia um barulho de 10 homens adultos, eram apenas 5 crianças mirradas em kimonos.
Em mãos possuíam um bastão longo e um curto.

-Senhor mestre Toguchi!- bradou em sentido uma pequena criança careca.


-Sim?- um jovem com um quimono branco e calças pretas o respondeu com um sorriso
impassível.- o que foi Yuto? Sem formalidades por favor.
-O senhor vai mandar nós para a guerra… como seus alunos antigos?
-Não! Vocês são apenas crianças, não deveriam pensar na guerra ainda… mas se o Yuto
deseja guerra pode começá-la com o oponente a sua frente! Vamos 200 golpes! Agora!
Sem reclamar! Se não vão ficar até a noite na ponte! Ajeite os pés Naoki! Melhore esse rosto de
derrotas Kenzo! Você também Saori! Kaori ensine um pouco de leveza para sua irmã! Mais firmeza
Yuto!

Enquanto treinavam na ponte a noite, Toguchi parecia pensativo. Pressentiu que sua vida
anos depois mudaria. De novo. A segunda guerra que participara estava cada vez mais próxima de
estourar. Sabia que o imperador En’yu não cessaria apenas deixando os traidores de Koumari
saírem impunes. E também conhecia a sua honra que não deixaria esquecer esta penosa província.
Desde o fim da primeira guerra, a vida de Toguchi mudou muito. Passou a frequentar seu
antigo dojo até assumir este, virando o novo mestre da arte de duas espadas. Sentado em uma
pilastra de madeira estreita, o mestre samurai meditava ao som dos brados dos pequenos aprendizes.
-Yaa! Hou-ha! Shh…Ya!- todos rugiam de forma sincronizada.
Só de ouvi-los ficava calmo e feliz. Se sentia recompensado com os treinos pesados e os
excessivos puxões de orelha. Odiava ter de fazê-los mas compreendia que era necessário.
Ouviu que uma das rítmicas pisadas no chão estava atrasada, de repente outra adiantou-se.
-Parem! Naoki 50 flexões! Yuto também!- Bradou sem abrir os olhos.
Ouviu o ritmo voltar ao normal.
O vento sibilou, a noite estava clara, só ouvia sons de corujas e grilos. Calor na noite era
raro, o ar foi ficando pesado. Abriu os olhos estavam parados. Inertes em sangue. Todos seus
alunos. Uma luz vermelha flutuante e um aluno… careca.
-Yuto! Não! Solte ele!- em tom desesperador sem conseguir definir o que aconteceu.
Tarde demais. Sua cabeça já caía. Apavorado. Sentia-se paralisado.
-Você não conseguiu salvar ninguém seu maldito! Tirou minha vida e agora tiro de seus
alunos queridos.
Desespero. Ofegante. De joelhos. Só sentia morte ao seu redor.

Suor ocupava sua testa, acordou desesperado depois do pesadelo. “Meu Deus… que mer…”.
Virou para um lado da cama respirou. Se acalmou. Fechou os olhos… um zunido o incomodava
encima do criado-mudo.
Espiou o amuleto e estava a tremer.
-De novo não!- gritou e saiu correndo com seu amuleto. Colocou um kimono branco e
calças pretas com dragões dourados. Pegou suas lâminas e correu para seu alazão negro Shoyu.
Disparou seguindo para onde o tremido do amuleto o levava
-Depressa Shoyu! Você pode dormir depois! Vamos. Shoyu parecia estar com sono.
Passou por barrancos, como um risco negro, um caminho levava a um lago… ele sabe o que
é.“Vingança, sinto isso no ar”.
Respirou fundo.“Só pode ser um Kaen Vingativo”.

Hayato ouviu gemidos vindo do chão. Seu amuleto vibrava. Desacelerou a corrida para um
trote apressado. Olhou para o caminho a frente e viu… não era o que esperava. Estava jogado no
chão feito um trapo rasgado, sozinho.

-Meu deus! Hiroshi! Seu braço!- ficou espantado, apesar de já ter visto mutilações de
diversos companheiros, não suportava olhar para antigos alunos em um último suspiro.
-Uhuu…-uivou inconcientemente o jovem oficial.
Rasgou uma manga de seu kimono com as mãos e enfaixou com certa destreza o ferimento
exposto.
-Guarde o folego! vou te salvar dessa… na verdade ela vai.-Pegou o braço que estava
separado de Hiroshi, o levantou, ouviu algo cair na terra. Continuou. Era qualquer coisa, não podia
ser mais importante que seu aluno.
Hiroshi estava sofrendo muito, com um ar vazio e olhos semiabertos.

Uma luz incomodava, batia em seu rosto com o brilho, forte e alaranjado. A primeira coisa
que vê não eram nuvens brancas nem uma caverna com fogo ardente queimando suas pernas. Não
confiava muito nas literaturas antigas. Não sabia que o seu pós-vida era numa cama quentinha de
baixo de uma manta. Se ouve-se um como falado no livro antigo. Não tinha dúvidas de ter partido
para uma melhor, mas sentia algo estranho dentro de si. “Tum-tum, tum-tum, esse barulho me
lembra a alguma coisa que perdi em outra vida”-pensou.
-Vish acho que cometi um crime! Eu tenho de esquecer minha vida passada não está certo!-
agora tom elevado.- nada bate com aquele livro.
-Acho que você precisa de uma pancada na cabeça seu inútil e eu vou fazer isso quando sair
daqui!- Uma chama vermelha ranzinza aparece no seu campo de visão.
-Aaah…- o jovem levou um susto e desmaiou com uma voz desconhecida mas que algo
lembrava muito a suposta vida passada.

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