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Resumo:

Muitos estudiosos das obras de Karl Heinrich Marx dividiram seus escritos em três períodos:
a primeira é usualmente referida como a do "jovem Marx", a segunda, um período de
transição onde predominam artigos e panfletos, e a terceira, um período dominado por
estudos econômicos, referida como a do "Marx maduro". Partindo dessa premissa
analisemos a questão do dinheiro em algumas obras de Karl Marx no período do “jovem
Marx” nos anos de 1844 a 1847.

palavras-chave: Carência; Economia Nacional; Dinheiro; Relações Sociais.

ABSTRACT:

Many scholars of the works of Karl Heinrich Marx shared his writings into three periods: the
first is usually referred to as the "young Marx," the second, a transition period of
predominance articles and pamphlets and third, a period dominated by economic studies,
referred to as the "mature Marx". Based on that deal with the matter of money on some
works of Karl Marx during the "young Marx" in the years 1844 to 1847.

Key-words: Grace, National Economy, Money, Social Relations.

1.INTRODUÇÂO

São muitos os escritos de Karl Heinrich Marx no período intitulado “jovem Marx” (1841-
1850). Restrinjo este artigo a duas obras do autor: Manuscritos econômico-filosóficos o que
na verdade não se trata de um livro e sim anotações escritas no ano de 1844, onde o autor
descreve de maneira filosófica, econômica e poética a problemática do dinheiro. A outra
obra é A miséria da Filosofia, escrita no inverno de 1846 e 1847, em resposta às idéias de
Pierre-joseph Proudhon, expostas no livro Filosofia da Miséria. Nesta o autor descreve não
o dinheiro mais a moeda o que serve como base para escritos futuros sobre a questão do
dinheiro.

A estrutura social percorre os trilhos do capitalismo, com uma valorização e importância


enorme do dinheiro. Em qualquer área da vida social que peguemos como referência, o fim
vai ser sempre o dinheiro, a questão relevante é sempre se há suficiente dinheiro e, se não
houver, onde conseguir mais. As relações sociais e instituições como a família e a igreja,
são alimentadas pelo dinheiro como um trem a vapor pela lenha que queima em seu forno.

Nada mais parece ser como verdadeiramente é, somos capazes de sofrer, viver e lutar por
algo que poderíamos resumir como um pedaço de papel ou metal. Tentar entender o
desmembramento do homem nesta corrida pelo dinheiro é o eixo principal deste estudo,
tendo como suporte e bases os escritos do “Jovem Marx”.

Assim, fazem-se necessárias reflexões sobre o que é o dinheiro, e de como ele está ligado
ao modo específico de socialização inerente a uma sociedade produtora e consumidora de
mercadorias.

2. Desenvolvimento
Karl Marx descreve todo um sistema, composto pela alienação, propriedade privada,
ganância, separação entre trabalho, capital e terra, troca e competição do homem,
monopólio e o dinheiro, que conduz o indivíduo e a sociedade. Todo esse sistema
transforma a carência[1] humana em um novo modo de produção, gera-se aqui um novo
motor de força para a essência humana. Ao vasculharmos o núcleo da propriedade privada
encontramos um significado inverso.

O homem torna a criação de uma nova carência no outro, como sendo sua meta primordial,
a fim de colocá-lo em um novo sacrifício, para assim tentar satisfazer a sua própria
carência. O homem edifica o império de objetos que o afastam de si mesmo, império este
que acaba o corroendo, e o tornando cada vez mais, um ser estranho. A humanidade se
torna refém de suas necessidades, e a cada necessidade alcançada, nasce uma nova, o
que afasta o homem do seu ser. A nova carência criada o faz correr cada vez mais atrás de
dinheiro, para assim tentar dominar o ser hostil, e quanto mais ele produz, mais pobre ele
se torna. Afastado de seu ser, o indivíduo tem aquilo que lhe é realmente necessário
deturpado na mesma proporção em que aumenta o poder do dinheiro.

“A quantidade de dinheiro se torna cada vez mais seu único atributo poderoso; assim como
ele reduz todo o ser à sua abstração, reduz-se ele em seu próprio movimento a ser
quantitativo. A imoderação e o descomedimento tornam-se a sua verdadeira medida...”

(MARX, 2010, p. 139)

Devemos isto em parte à gama de produtos e das carências que tornam o ser refém
inventivo e calculista de desejos não humanos, que aparecem requintados, longe do
humano e vaidoso. A idéia de propriedade privada transformou a carência humana mais
bruta e natural do ser em uma coisa que condiciona e determina o homem. O prazer é a
mensagem da vez. Cada objeto lançado no mercado é o queijo da ratoeira, com a qual se
pretende capturar para junto de si a essência do outro, o seu dinheiro, cada carência efetiva
quando apresentada revela a armadilha para o rato. Abre-se uma ferida onde o outro
explora esperando algo em troca, cada falta é um pretexto para, sob a mais doce e gentil
aparência, ir à direção do vizinho e lhe dizer: entrego-lhe o que você está precisando, mas
você conhece a condição colocada para que isto ocorra, jogando assim, como intermediário
entre ele e sua carência.

O estranhamento[2] produz visão particular das carências e seus meios. Já as carências


clássicas do ser, contaminadas pela civilização, já não fazem parte da identidade do
trabalhador, colocando a como elemento vital o não natural. A destruição da essência torna-
se de extrema importância, torna-se essencial o abandono dos sentidos não apenas no
plano humano, mas também nos outros, se reintegram os instrumentos mais rudes de
trabalho humano. Existem ainda no ser carências animais, selvagens, rudimentares. A
facilidade, rapidez do trabalho sobre a simplificação da máquina, tem como fim torna a
criança ou o futuro ser em trabalhador é torna o trabalhador em criança perdida. O trabalho
aparecer como a desrealização do trabalhador. O objeto produzido pelo trabalhador
aparece como estranho e independente a ele. O sistema capitalista transforma o
trabalhador e o trabalho em mercadorias, ao privar o trabalhador dos objetos que produz.
Quanto mais ele produz, menos pode possuir. Essa apropriação do objeto pelo possuidor
da propriedade se realiza como alienação do trabalhador. O homem ao projetar sua vida na
produção de objetos que não lhe pertencem, perde a posse desta. “A máquina acomoda-se
à debilidade do ser humano para tornar o ser humano débil uma máquina.”

(MARX, 2010, p.141)

Ao reduzirmos à carência do trabalhador a necessidade e a simples continuidade e


permanência da vida física e sua atividade ao puro mecanismo mais abstrato. Gera-se
assim, um ser insensível e sem carências, além de reduzir sua atividade a pura abstração.
Isto permeia a vida como espécie de um parâmetro, para a existência humana, ditando uma
norma universal. Consumir algum produto que passe a mais abstrata de todas as carências
configura para o trabalhador um luxo.

Karl Marx trata a economia nacional como uma ciência da riqueza e da indústria. Tendo
como fim o trabalhador que deposita uma parte do seu dinheiro do fim do mês no cofre do
banco. Ocorrendo a autorenúncia do ser à vida e as carências. Quanto menos praticar atos
da convivência ou da subjetividade humana, como comer, beber, assistir filmes, ir ao teatro,
praticar esportes, amares, cantar, pintar. Quanto mais se negar a fazer tais coisas, na
mesma proporção maior se tornará seu baú que cresces no cofre do banco, como espécie
de algo indestrutível.

Tudo que é limite ao homem, não o é para o dinheiro: ele pode viajar, comer, sabe de
música, dança, ele entrega tudo isso ao homem. O dinheiro favorece a realização dessas
atividades, o dinheiro aparece como tudo o que foi colocado aqui, mas seu ideal é tornar-se
dinheiro, pois ele é a capacidade para obtenção de todas as outras, eu não preciso de tudo
que ele me proporciona, o que realmente eu busco é apenas dinheiro, pois ao conseguir
dinheiro terei todas as outras coisas. – é como se todas as coisas fossem escravos do
dinheiro – Logo, todas as sensações e as práticas têm que mergulharem na cobiça. Ao
trabalhador é limitado ter o tanto para se manter vivo, e só é permitido querer viver para ter.

Abre-se uma dicotomia na economia nacional. Um lado recomenda o luxo e o outro a


poupança. Apenas, se esquecem que desperdício e poupança, luxo e privação, riqueza e
pobreza são iguais. Quando dizem poupar não é somente seus sentidos imediatos, comer,
beber, etc., mas também questões de interesses coletivos e gerais como a solidariedade,
compaixão, confiança, a regra é para ser econômico, se não acabará arruinado com
ilusões.

É útil aquilo que pode se atribuir valor ou que o ser coloca valor. Ao se levantar
questionamentos sobre prostituição ou comercio de seres humanos, por exemplo. O
economista trabalha-as da seguinte forma: as minhas leis lavam as mãos sobre isso, mas
veja o que diz a moral e a religião. A única moral que a economia nacional conhece é o
ganho, o trabalho e a poupança. A ligação do economista nacional e a moral são impostas e
casuais, por isso, sem bases e ilógica. A relação economia nacional é moral e pura
aparência, simplesmente expressa ao seu modo as leis morais.

Até que ponto o dinheiro que aparece como meio é a real potência e único fim? Não sendo
as sensações e paixões, emoções, etc., do homem apenas determinações das ciências que
se ocupam do homem, mas sim da natureza ou inato ao homem. O seu objeto só o alcança
no momento que se apresenta sensivelmente para ele. Assim, o modo de caracterizá-lo é
múltiplo e distinto. O objeto se confirma, quando o homem se relaciona com ele (comendo,
bebendo, elaborando o mesmo) tendo-se o homem como humano, portanto suas
sensações também o são, a afirmação do objeto por outro é, igual ao uso que o sujeito faz
do objeto. Apenas ao se relacionar com a propriedade privada é que o homem alcança a
essência da paixão humana, tanto na sua universalidade como no seu eu, a ciência do
homem se torna um produto da sua atividade e prática. A propriedade privada se apresenta
como objeto da sua função, como atividade.

O dinheiro tem o poder de tudo comprar, coloca o objeto para o ser com mais proximidade
de obtenção, a grandeza de sua ação é o vasto poder do seu ser. O dinheiro é o elo entre a
necessidade e o objeto, entre a vida e o que é meio de vida do homem. O que é meio para
o viver do sujeito, também se faz o meio termo para a existência do outro para o sujeito, o
outro é para ele esse mediador.

Karl Marx muda um pouco sua perspectiva ao buscar a essência do dinheiro. Navegando
pelos escritos de Shakespeare e Goethe.

Que, diabo? Decerto mãos e pés

E cabeça e traseiro, são teus!

Então tudo aquilo que vigorosamente eu fruo,

É por isso menos meu?

Se posso pagar seis cavalos,

Não são minhas as suas forças?

Corro e sou um homem probo,

Como se tivesse vinte e quatro pernas.

Goethe, Fausto (Mefisto)[3].

Shakespeare, em “Timão de Atenas”:

Ouro? Amarelo, brilhante, precioso ouro?

Não, deuses, não sou homem que faça orações inconseqüentes!

Esta quantidade de ouro bastaria para transformar o preto em branco;

o feio em belo; o falso em verdadeiro; o vil em nobre;


o velho em jovem; o covarde em valente.

Isto vai subornar vossos sacerdotes

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