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PAPO DE BOLEIR0 (*) Luiz Alves Lopes

COTIDIANO ESPECIAL.

Em tempos normais, por COTIDIANO “entende-se o que acontece diariamente, que é comum a
todos os dias; o que é diário. O que é habitual ao ser humano”.

Entretanto, a pandemia do vírus invisível acabou por mudar, em percentual altíssimo, o nosso
costumeiro cotidiano. Restou-nos a sujeição de um procedimento diferente, especial mesmo.

Novos hábitos ou volta de velhos hábitos? Acabamos por nos curvar à parafernália de
informações disponibilizadas pela TV, não importando se fechada ou aberta.

Assim, sem alternativas, manhã sim, outra também, vislumbramos nosso dirigente maior,
quase sempre sem máscara, participando de manifestações em carro aberto, fazendo uma
pequena cavalgada, ou mesmo dando uma voltinha de helicóptero. Afinal, ninguém é de ferro.
Para concluir, antes de adentrar para a parte interna do Alvorada, algumas palavras “amáveis”
aos simpatizantes, em especial aos integrantes da mídia. E viva a pátria amada.

Ao término de cada dia, normalmente com atraso, os frios e sombrios números do Ministério
da Saúde. O Brasil está fazendo história...escrevendo uma triste história no enfrentamento da
pandemia da Covid l9.

VALADARES anoitece. Sombrio quadro de suas esquinas. Uma esquina qualquer. Pode ser a
esquina da rua Afonso Pena com Francisco Sales, proximidades da Padaria Guanabara , ou
mesmo do Hospital São Vicente.

0 sinal de trânsito funciona. Num instante abre; instantes seguintes fecha. De forma
concatenada, milimetricamente planejada, ao fechar do sinal se “apresenta” a figura de um
esguio ser humano mau vestido, isalando odor nada recomendável, sem máscara, estendendo
uma das mãos e implorando qualquer vintém. Rotina? Sim. Em quantas ruas, praças e
avenidas? Em quantas cidades? “NÃO TEMOS DOIS BRASÍS? “(Leandro Karnal).

Quantos dirão que mesmo antes da pandemia tal já ocorria com frequência. Verdade
verdadeira. Só que agora temos tempo para observar e pensar. Para refletir. Aliás, não temos
inclusive tempo para “inventar” alguma coisa? Se não o fizermos, ficaremos pirados ou
birutas.

República Federativa do Brasil. País de dimensão continental. Mais de 200 milhões de


habitantes. País do futebol e do carnaval. Pode ser. País das desigualdades? Sim senhor.

Em 5 de outubro de l988, decorrido período iniciado em 31 de março de 1964 sob rótulos que
aqui não cabem discussões, iniciou-se período outro que alguns denominaram de período da
redemocratização da terra descoberta por Cabral. E escreveram coisas maravilhosas em uma
Constituição batizada de CIDADÃ. Registraram que todos são iguais perante alei; que a
segurança é dever do Estado e de todos nós; que a pena não deve passar da pessoa do
condenado; que a SAÚDE, a educação, o trabalho, a MORADIA, o lazer, a segurança, a
previdência social, a assistência aos desamparados, a proteção à maternidade e a Infância, são
direitos sociais. Êta Constituição porreta. Pensaram em tudo. Pensaram... e dormem em
berços esplêndidos.
Política à parte – devemos discernir e entender o que é política e politicagem, eis que o
homem é um ser político. Lembremo-nos todos das advertências, esclarecimentos, pregações,
orientações e ensinamentos do então ministro Mandeta e sua equipe técnica(Wanderson,
Gabardi e Denizardi) no momento apropriado para elaboração do plano de trabalho em vias de
ser observado pelos entes federados - leia-se União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
objetivando o enfrentamento da pandemia que estava por vir(e veio). Sobravam
conhecimentos. Faltavam e faltaram visões de políticas públicas. Politizaram a saúde.

Em oportunidades que não foram poucas, Mandeta disse que após a pandemia, alternativa
não restaria e não restará ao mundo que não seja a de contemplar reflexão profunda sobre
determinados valores.

0 Brasil, em especial – dizia, deverá se debruçar sobre a valorização do sistema de saúde


pública, atacar o desafio da falta de moradia, tirando a “máscara” de que nossas favelas são
atrações turísticas. E nossa infraestrutura é de fazer dó, completava.

Nossa população, nossa extensão territorial, nossas desigualdades sociais (aglomerados


habitacionais, os informais, desempregados em geral), eram e foram obstáculos para
conscientização para o isolamento social ou afastamento social recomendado por especialistas
do mundo todo, porém contestado de forma veemente por nosso mandatário maior. O
resultado aí está...

Voltemos ao nosso “pedinte” da esquina rua Afonso Penal – parte central da outrora Princesa
do Vale. Ele sintetiza milhões de brasileiros sem opções, sem alternativas, sem esperanças. Ele
coloca a descoberto nossa maior dívida social. Sim, somos todos devedores. Sim, ele
representa todos os párias de nossa sociedade que se diz pura e infalível. Negamos-lhes
qualquer tipo de escolha. Sequer podem sonhar.

A pandemia vai passar. Certamente. Continuaremos com DOIS BRASÍS? 0xalá se aflore e
fortaleça o Brasil jovem e dinâmico que debata um futuro mais transparente e com vida.
Integrado por pessoas que ouvem, pensam, perguntam, aplaudem, criticam, refletem,
ensinam pelo silêncio, ensinam pelos olhos vivos. Composto de jovens, alguns com 70 anos,
outros com l6(Leandro Karnal).É pedir muito papai do Céu?

(*)Ex-atleta

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