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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Faculdade de Educação
Conselhos e Controle Social da Educação
Ana Fernanda Freire Lopes

Resenha Crítica: Democracia em Vertigem

O documentário relata o nascimento da democracia junto com os primeiros passos de


Petra, a produtora do mesmo. Fruto de uma esperança pós ditadura, a democracia foi um
devaneio onde o cidadão brasileiro poderia viver em paz, com seu direito de liberdade,
direitos de vida e permanência. A democracia é o único regime que surgiu onde a mudança
pode estar aberta. (CHAUÍ, 2019)

Sendo uma democracia, vivemos em um país onde há pluralidade e a democracia trabalha


com diferentes polarizações e lutas, sendo elas, uma luta de classes. Petra nasceu em uma
família privilegiada, branca, e os mais velhos fundaram uma empreiteira.

Convidando para reflexões, o longa além de passar pelos primeiros passos, mostra a
realidade de uma grande fraqueza dentro desse sonho. Esse, onde os pobres não têm vez
e as grandes oligarquias ainda falam muito.O documentário nos mostra que o Brasil nunca
teve grandes revoluções. Para pavimentar um caminho onde todos pudessem ter o direito a
qualquer coisa, líderes precisam andar lado a lado com as vontades de grandes empresas,
fora isso, nada feito.

Antes da Ditadura Militar, o distrito federal foi projetado no interior para evitar o real
significado da voz do povo, sua construção no interior contribui com o afastamento de
pressões populares, em uma cidade planejada e livre das periferias. Relatando a história de
Lula, um grande líder político que ajudou em muitas greves metalúrgicas, só conseguiu
suas vitórias aliando-se a partidos que tinham apoio de grandes empresários.

A conciliação de classes foi um ponto estratégico para que pudesse governar, e por oito
anos assim seguiu. Pessoas saíram da miséria, faculdades foram criadas, famílias
conseguiram o direito de bolsas, alunos hipossuficientes conseguiram viajar em
intercâmbios… Sua conciliação trouxe bons resultados ao povo.

Em 2010, o povo elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, uma mulher que passou por
torturas na ditadura e sempre floresceu em seu engajamento político, de secretária a
ministra e por fim, presidenta da república. Mas, para ganhar as eleições, novamente
tocamos a tecla da conciliação de governos com o mais conservador do PMDB. Em seu
segundo mandato, perdeu as forças de seu governo quando decidiu ir contra a conciliação e
perdeu todo “respaldo” de partidos como o PMDB,

Marilena Chauí percorre em seu texto “Breve História da Democracia” com essas linhas de
pensamento, a democracia é uma pluralidade de opiniões e nesse espaço todos nós
podemos nos expressar, mas aqui no Brasil, desde o seu nascimento, o povo não possui
acesso a mesma. Os trabalhadores foram silenciados com reformas trabalhistas após o
golpe da direita tirando Dilma do poder. Esse embate faz parte da democracia, mas a
vertigem começa quando nós não temos acesso à luta para que a reforma seja cessada.
Michel Temer entrou com reformas terríveis que tiraram toda a dignidade de um trabalhador,
dando voz aos empresários para que nunca mais pudéssemos viver os nossos direitos
como cidadãos. Se a democracia fala com isonomia, após o golpe, todas essas leis foram
quebradas, reformadas, para que tudo dificultasse. Nos primeiros passos de Lula, filhos de
trabalhadores conheceram países, fizeram intercâmbio e tudo isso foi destruído.

O perigo desses governos foi alinhar com uma classe distinta da classe operária, nosso
país não foi projetado para que nossa voz fosse executada, para que pudéssemos fazer
pressões populares livres. Tudo tem um preço, e por muitos anos este preço custava em
viver dentro de um campo minado, a qualquer sinal de contramão, tudo pode voltar à
maneira que oligarquias sonham. A democracia, para eles, precisa ser liberal. Sem
resquícios de trabalhadores.

Resenha Crítica: “Sementes Podres”.

Em situação de vulnerabilidade social, Wael perde sua família para uma guerra e precisa
viver nas ruas. Para sobreviver, sem acesso à escola, roubava carteiras, passando-se por
deficiente visual. Até o dia em que conheceu Monique, uma freira que trabalhava em um
abrigo cristão. Nesse abrigo, Wael passou por outra perda, seu colega fora vítima de séries
de abusos sexuais e o filme não retrata a causa de sua morte, se foi um suicídio ou se o
padre matou a criança. Enojado e triste, Wael volta para as ruas sem rumo, até que se
encontra em uma emboscada.

Monique ajuda a criança e vai morar na França com ela, o filme começa com uma frase da
obra francesa Os Miseráveis: “Não existem ervas daninhas, nem homens maus. Existem
fazendeiros ruins”

O personagem principal está desempregado e para ter o que comer em casa, precisa
roubar compras de mercado com um golpe planejado na companhia de Monique, até a
mesma reencontrar Victor, que descobre o golpe e para poupar Wael da prisão, obriga-o a
trabalhar como conselheiro de “crianças problemáticas”. Com a leitura do texto Cidadania e
Democracia, de Maria Victoria Benevides, é possível analisar que pessoas em
vulnerabilidade social como Wael e seus aconselhados estão propensos a se afastarem do
direito de exercer as suas respectivas cidadanias por diversos motivos e um deles é não ter
o amparo de políticas públicas.

O filme traz consigo diversas narrativas de evasão escolar, envolvimento com tráfico de
drogas, estado que não acolhe imigrantes e casos de abuso sexual não resolvidos. Nenhum
desses personagens tiveram suas vidas protegidas por leis, foi fácil da escola expulsar sem
amparar os problemas. Esses casos são comuns e se multiplicam, possuem sua cidadania
roubada, a democracia que prioriza leis para todos em liberdade não chega nesse
problema, e sim rotulam como problemáticos.

Wael, sem formação mas aprendendo com as situações que passou, propõe um diálogo
aberto e amplo com todos, livre de rótulos, para que possam se libertar de opressões que
sofreram. O fracasso escolar e não somente este, deve ser visto com políticas públicas que
acolhem pessoas oprimidas com direitos violados. França não seria então um país
democrático, se essas crianças não puderem exercer sua cidadania com direitos, não é
possível construir a democracia. Quanto mais afastam esses problemas da solução,
silenciam ainda mais uma classe que precisa de cuidados e amparos por lei. Como o caso
de todos nesse filme, principalmente de Wael.

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