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n. 723, 04 de julho de 2023. Ano XVII.

no tempo da estultice influencer e que tais


A estultice sempre se supera. E dá grana, muita grana. O web-psi-pedagogo-influencer-produtor-de-
conteúdo-da-vez, do alto da sua enorme legião de seguidores que baba, declara, babando, em uma
entrevista, para um jornal da grande mídia que é necessário ‘controlar com um olhar por cima o tamanho dos
vídeos que as crianças assistem’. ‘Nada de vídeos curtos para as crianças’. ‘Vídeos curtos viciam’. ‘A ciência
também fala isso, parece que libera dopamina e a criança fica viciada nesses vídeos curtos’. Segundo ele,
‘num filme longo a gente consegue passar valores para as crianças’. Por isso, há algum tempo, ele passou a
investir na produção e comercialização de longas-metragens infantis. E agora, em parceria com a Warner
Bros. Em suas palavras, ‘para o bem dessas crianças hoje em dia’. Como ele é bom! E como ostenta o
tamanho de seu membro empreendedor. Para ele, como se fala na linguagem popular, ‘tamanho é
documento’. Não é não. A estultice habita no mensurável dessa baba-gosma-toda que paramenta esse
mundinho medíocre, tão curto e tão interminável. E que começa nos gestos ínfimos e monumentais da
educação moral que se dirige às crianças.
em tempo
Seria inútil remeter os medíocres, de toda cepa, a um longa de Herzog, intitulado Os anões também
começaram pequenos. Em meio a uma rebelião em um presídio só para anões, eis que uma anãzinha
consegue invadir o quarto do carcereiro e encontra várias revistas de sacanagem. Ela sobe em cima da
cama e convida um outro anãozinho para olhar também. Em uma determinada página, ao verem a foto de
um carcereiro mostrando o seu pau enorme para um anãozinho e uma anãzinha, eles exclamam: “olha o
pedagogo!”.

apropriações verdes
No Brasil, economistas, empresários e políticos enfatizam que o hidrogênio verde deve ser visto como nova
fonte capaz de promover a reindustrialização “sustentável” do país. Seria, de acordo com os “especialistas”
de plantão, uma oportunidade para dissolver a dependência dos transportes e da indústria às fontes
baseadas em combustíveis fósseis e gerar novos investimentos nacionais e internacionais. A economia
verde e, ao mesmo tempo, lucrativa é uma das aspirações do momento, tornando-se objeto de slogans de
ONGs, de partidos políticos, de companhias empresariais etc. Afinal, as chamadas inovações oriundas da
sustentabilidade são criações do próprio capitalismo e “eficazes” ao efetivar a apropriação de riquezas e
multiplicação de miséria.

empreendedores familiares
O governo do estado do Ceará, encabeçado por um partido de esquerda, tornou-se um dos principais
propulsores de projetos voltados à adoção do hidrogênio “verde”. Para além dos pré-contratos bilionários
assinados com companhias nacionais e estrangeiras, o governo pretende utilizar a agricultura familiar como
alvo das inovações capitalistas por meio da introdução de pequenos geradores de fornecimento de energia
solar nos assentamentos rurais. Ainda assim, há quem diga que os promotores dessa “economia familiar” e
comerciantes de armazéns de produtos orgânicos cultivam resistências. Falação de ativistas para boi dormir.
As parcerias com o Estado, a busca pela importação de tratores chineses, a abertura de ações na bolsa de
valores e outras iniciativas são constitutivas das condutas resilientes levadas adiante pelos empreendedores
familiares.

os que lucram e contaminam


Muitos celebram o anúncio do novo Plano Safra. A iniciativa, entre outras coisas, prevê a injeção de bilhões
de reais nas linhas de crédito destinadas ao agronegócio e à agricultura familiar. A maior parte dos recursos,
como não poderia ser diferente, será dirigida aos médios e grandes proprietários vinculados à agropecuária.
Todos, cada qual ao seu modo, serão beneficiados com reduções na taxa de juros, sobretudo os negócios
capazes de aderir a formas de produção consideradas sustentáveis. Os médios e grandes proprietários, no
entanto, são e continuarão os responsáveis pela exportação de soja, milho etc., contaminando vidas,
humanas ou não, e garantindo o “equilíbrio” da balança comercial do país.

os que aplaudem
Com base no Plano Safra, os negócios vinculados à agricultura familiar serão abastecidos com a finalidade
de atenuar as insatisfações dos famélicos. Esta é a sua função: atenuar a fome em meio à contínua
produção de famintos. Tudo para lucrar, atenuar, contaminar e, sobretudo, pacificar pequenos “choques” de
interesses que, pelo visto, são facilmente pacificados. Não à toa os “representantes” dos empreendedores
da agricultura familiar não hesitaram em comparecer ao Palácio do Planalto e enaltecer o plano anunciado
pelo pastor de turno. Dias atrás, erguiam os punhos e convocavam os ativistas para uma suposta luta; hoje,
abaixam os braços e aplaudem. E os sons oriundos das palmas ecoam nos salões palacianos...

tomada pela rebelião


Desde terça-feira, 27 de junho, seguem eclodindo diversos protestos na França após o assassinato de
Nahel, jovem de 17 anos que foi executado por um policial na cidade de Nanterre. Em diversas partes do
território francês, manifestantes tomaram as ruas em ebulição. Na primeira noite de protestos, em Nanterre,
dezenas de carros e latas de lixo foram incendiados. Nas fachadas de edifícios, paredes pichadas
explicitavam o óbvio: “a polícia mata”. O som calmo da madrugada deu lugar ao barulho incessante de
explosões e fogos de artifício, enquanto luzes quentes das barricadas em chamas iluminavam as ruas. Os
agentes da ordem recuaram frente aos ativistas e rebelados não sendo mais visíveis na parte da cidade
tomada pela rebelião.

reações
Novos confrontos eclodiram nos dias seguintes. Segundo o Ministério do Interior, até domingo (01/07), 10 mil
incêndios de rua, 5.000 incêndios de veículos e 998 danos a prédios foram relatados, enquanto 737 policiais
ficaram feridos. No último dia de protestos, foi divulgado um relatório que estima, desde o início, mais de 2
mil pessoas foram presas pelos agentes da ordem. Além das prisões, o Estado francês mobilizou cerca de
45 mil policiais e gendarmes em todo território francês para reprimir os protestos.

sacralizações que persistem


Junto à onda de protestos, vieram os discursos de autoridades públicas com a finalidade de evitar demais
conflagrações, endossados pela avó do jovem executado. Sobre o assassinato de Nathel pela polícia, o
presidente, Emmanuel Macron, declarou que tal ato é "inexplicável" e "inescusável", mas que permanece
firme ao lado das forças de segurança que tentam restaurar a ordem. Declarou, ainda, que as famílias de
bem são fundamentais para a manutenção da ordem vigente, pois evitam que os jovens deixem suas casas
e se juntem aos protestos. A sacralização da família persiste...

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