Você está na página 1de 45

COMPARTILHE ESTE EBOOK!

INTRODUÇÃO
O objetivo deste E-book é apresentar a você, de
forma rápida e prática, o perfil e a história de
vida dos seis candidatos ao Governo de Goiás.

Esperamos que a leitura deste conteúdo seja


prazerosa e contribua de maneira positiva para
você fazer a melhor escolha nas Eleições 2018.

Boa leitura!

2
SUMÁRIO

História 1 – Ronaldo Caiado ......................................4

História 2 – José Eliton..............................................12

História 3 – Daniel Vilela ..........................................19

História 4 – Kátia Maria ............................................26

História 5 – Marcelo Lira ..........................................33

História 6 – Wesley Garcia ......................................38


COMPARTILHE ESTE EBOOK!

HISTÓRIA 1

RONALDO
CAIADO

4
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

QUEM TEM MEDO DE e histórias bem-humoradas, revelando a


insuspeita capacidade de rir até de si mesmo.
RONALDO CAIADO? Coisa de campanha? A esposa Maria das Graças
Caiado, conhecida como Gracinha, garante
Liderando as pesquisas em uma eleição que que não. “Ele não é bravo como parece. Ele é
pode reconduzir seu conhecido sobrenome ao corajoso”, elogia. “Eu sou firme”, emenda o
poder no Estado, o senador refuta a fama de senador, com o tom assertivo que aliados e
esquentado, defende seus antepassados e revela adversários conhecem tão bem.
detalhes surpreendentes de sua trajetória e de
seu cotidiano A fama de esquentado, alimentada por embates
públicos de grande repercussão, choca-se
Com 1,91m de altura, voz tonitruante e olhar que com histórias de uma trajetória que começa
se fixa no interlocutor, verdade seja dita, a figura com o medo de uma grande perda. “Quando
de Ronaldo Caiado tem algo de intimidador. eu era criança, minha mãe teve meningite.
Talvez por isso seja tão surpreendente quando É uma doença muito grave. Eu e minha irmã
ele abre um largo sorriso e conta piadas saímos de casa enquanto ela se recuperava.

5
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

Fui morar com meu avô, na cidade de Goiás”. E Era um goiano na Cidade Maravilhosa. “Eu fiz
o avô era ninguém menos que Antônio Ramos questão de conservar esse meu sotaque, essa
Caiado, conhecido como Totó Caiado, um dos goianidade que é muito forte em mim. E sofria
mais poderosos líderes políticos da Primeira bullying por isso. Mas daí eu pensava: deixa
República no Estado. O gosto pela política estar, daqui a pouco eu vou dar aula para esses
seria devidamente repassado ao neto. cariocas”. Objetivo traçado, objetivo alcançado.
Logo se destacou pelo número de cirurgias
“Meu avô nunca foi que realizava. Foi nessa época que aconteceu
algo que definiria seu destino profissional. No
governador, mas foi pronto-socorro do Hospital Miguel Couto, no
Rio, conversando com um rapaz que acabara de
senador. Ele contava
ficar tetraplégico, após se acidentar nas ondas
que ia para Araguari, cariocas, ele foi desafiado.

onde pegava o trem “Era um domingo de manhã e o rapaz nem


era meu paciente. Passei fazendo as visitas
para o Rio de Janeiro,
do plantão. Perguntei a ele: ‘como você
então capital da está?’. E ele me respondeu: ´É só isso o que
o senhor tem pra me dizer, doutor? O senhor,
República, em lombo como médico, não tem nada para me propor
nessa situação?’ Aquilo me marcou demais e
de mula. Eram 35 dias
dali em diante eu coloquei na minha cabeça
de viagem.” que me especializaria em cirurgias de
coluna vertebral.” E assim foi. Caiado buscou
Com tios e primos ocupando cargos públicos, na França, no prestigiado hospital Pitiè-
Caiado participou de várias campanhas e Salpêtrière, em Paris, o conhecimento sobre o
adorava oratória. “Sempre gostei de discursos”, assunto e trouxe de lá uma técnica inovadora.
confessa. Mas o momento de ser protagonista
em um palanque ainda teria de esperar. “A “Eu e Edmond Barras [hoje chefe do serviço de
vontade de ser médico surgiu em mim muito traumatologia da Beneficência Portuguesa, em
cedo. Eu não podia ver uma pessoa, um bicho São Paulo] fomos os primeiros a fazer um tipo de
machucado que queria ir ali suturar, remendar.” cirurgia de descompressão da medula e fixação
Para isso, foi estudar em Belo Horizonte, em um da coluna, que, quando realizada em até 6
prestigiado colégio preparatório para a futura horas após o trauma, possibilita que o paciente
carreira. Chegou a passar uma breve temporada fique em outras posições, não o condenando
em São Paulo – “mas não aguentei a solidão” – a ficar na tração, recuperando movimentos.”
e rumou para o Rio de Janeiro. Caiado fala com orgulho do que chama de

6
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

“trabalho artesanal da medicina”, em que passa


“Eu tenho um pé de
até 6 horas envolvido em um procedimento pequi que todo mundo
delicado. “Ali, eu saio do mundo. Fico
totalmente concentrado.” já sabe que é meu.

Terapia para o paciente e para o médico,


Ninguém mexe. Só eu
que precisou deixar um pouco os hospitais posso ir lá pegar os
para se dedicar à sua outra paixão. Em
1989, tornou-se candidato à Presidência da frutos no chão.”
República depois de se firmar como líder da
União Democrática Ruralista (UDR). Em 1994, Caiado sabe que sempre será questionado
disputou pela primeira vez o governo do sobre a história de sua família. Tetravô, bisavô,
Estado e foi derrotado por Maguito Vilela. tios e primos foram governadores, senadores,
Vieram as decepções e as dívidas. “Ali eu deputados desde os tempos do Império. E
pensei em desistir. Tive uma conversa franca ele não se nega a debater o tema, citando
com meu pai sobre isso. Ele me ouviu e disse espontaneamente uma frase, incluída no best-
que enquanto ele estivesse vivo, eu continuaria seller 1808, de Laurentino Gomes: “Vocês fizeram
na política. Se tivesse saído, teria sido uma a República que não serviu para nada. Aqui
frustração definitiva.” agora, como antes, continuam mandando os
Caiado”. A frase está em um telegrama enviado
A MÍSTICA por Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso,
DE UM ex-senador do Império e Capitão da Guarda
SOBRENOME Nacional em Goiás no final do século 19.

“Meu avô nunca foi governador, mas foi Felicíssimo viria a ser o bisavô do ex-presidente
senador. Ele contava que ia para Araguari, Fernando Henrique Cardoso e sua queixa é
onde pegava o trem para o Rio de Janeiro, enviada a seu filho, o capitão Joaquim Inácio
então capital da República, em lombo de Cardoso (avô de FHC), que participou da
mula. Eram 35 dias de viagem.” As recordações Proclamação da República em 1889. “Atribuíram
de Ronaldo Caiado remetem à sua infância e muitas inverdades aos Caiado”, refuta o senador
o avô em questão é Totó Caiado, um homem Ronaldo. Rupturas e arranjos políticos entre clãs
que por muito tempo foi ligado ao imaginário poderosos eram comuns em Goiás e os Caiados
de coronelismo de tempos passados. “Isso é eram protagonistas, mas ele faz ressalvas,
injusto. Falam muito sobre isso, mas nunca citando a biografia de sua família, escrita pela
mostram fatos concretos”, defende o senador. historiadora Lena Castelo Branco, para mostrar
“Hoje, sou o único representante da família na que construíram muitos estereótipos em torno
política. Todos os outros saíram.” de seu sobrenome.

7
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

A trajetória de seus parentes desperta a dirigir frequentes críticas. O senador reconhece


atenção do candidato, mas não apenas ela. “Eu que fez desafetos, mas nega que seja turrão.
gosto muito de História e prefiro as biografias”, “Estou sempre pronto a ouvir, desde que o
assinala. Ele destaca homens e mulheres que argumento seja honesto. Não sou intransigente
lideraram países em momentos cruciais. “O e nem radical.”
ex-presidente francês Jacques Chirac fazia
uma política interessante na época em que eu O HOMEM
morava na França. Vi seu estilo de debater mais QUE AMAVA
de perto. Também penso que o ex-primeiro OS CACHORROS
ministro inglês Winston Churchill foi um grande
estadista, apesar das críticas contra ele. O Balu, um golden retriever, e Nikki, uma
mesmo para o ex-presidente John Kennedy. pequena e atenta cavalier, já estão na porta
Já a América Latina é carente desse tipo de do amplo apartamento duplex no Setor Oeste
liderança.” quando o dono chega. “Tem vezes que tenho de
sair escondido de casa para eles não ficarem
Caiado diz que está sempre pronto a aprender. muito tristes.” Sim, é Ronaldo Caiado quem
“Gosto de conversar com mentes iluminadas. fala, longe da arena pública onde muitas
Há algumas pessoas que paro para ouvir. vezes entra em discussões acirradas. “Eu amo
Isso inclui as pessoas lá da roça, os peões da cachorros. Meu primeiro cachorro era um fox
fazenda. Sou capaz de conversar com eles paulistinha chamado Jipe. Depois tive o Leão.
por horas seguidas. Eles têm muita sabedoria, Hoje, tenho 41 cachorros.” Oi? Quantos? “Sim,
ensinam muitas coisas.” A conversa, uma das 41 cachorros. E adoro ficar lá no meio deles.”
artes da política, de vez em quando é deixada
de lado para embates mais duros. “Não admito O amor por animais não se resume aos cães.
posturas desrespeitosas. Por isso, eu às vezes Caiado fala com orgulho de sua tropa de mulas
me exalto. Quando o Anthony Garotinho chegou – uma delas andou lhe pregando uma peça,
no Congresso achando que todos eram iguais a causando-lhe uma queda feia que o levou
ele, tive que enquadrá-lo.” para a mesa de cirurgia por conta do ombro
fraturado. Nem isso o fez perder o gosto pelos
Entre aqueles que já conheceram sua fúria
estão, além do ex-governador fluminense, o ex-
ministro das Minas e Energia Eduardo Braga –
com quem teve um bate-boca durante discussão
relacionada à antiga Celg – e o senador petista
Lindberg Farias, que ocupa o campo político
oposto ao seu. Caiado rompeu ainda com o ex-
governador Marconi Perillo, a quem costuma

8
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

muares. Ele também cria gado registrado em A CARNE


sua propriedade de Americano do Brasil e É O FRACO
gado de corte em outra fazenda. Lidar com as
criações é um de seus prazeres. “Quando estou Ronaldo Caiado é uma negação na cozinha –
muito cansado, quando acaba uma campanha, “não frito nem ovo” –, mas é bom de garfo. “O
por exemplo, vou para lá. É a melhor coisa que eu mais gosto é carne moída, temperadinha,
do mundo.” com caldo. Que delícia.” Uma fixação que o leva
a encarar um sanduíche de… carne moída?
Companhia não lhe falta. “Eu também adoro. “Sim, eu pego um pão, tiro o miolo, pego um
Tenho meu jardim lá”, diz a esposa Gracinha. papel-alumínio para não vazar o recheio por
“O jardim dela dá quase um hectare”, brinca o baixo e encho o pão com carne moída. Não tem
marido. Quem gosta de plantar, porém, é ele. nada mais gostoso.” Ele costuma levar uma
Andar o dia inteiro a cavalo para averiguar marmita em suas viagens pelo interior e não é
pastos, lavouras e rebanhos é uma de suas raro lanchar esse seu sanduíche meio inusitado.
atividades prediletas. E ameaça. “Vou levar Mas, com carne moída fria? “Sim, o que é que
você um dia lá. Quero ver aguentar. Antes tem? É gostoso do mesmo jeito.”
do almoço vai pedir para parar.” Bom, o
desafio fica para depois, senador. “Mas tem Outras companhias constantes são pedaços de
que ser a fazenda do norte”, complementa. rapadura. “Elas são ótimas para dar energia. Onde
Já a que fica a cerca de 100 km de Goiânia eu estiver, tem rapadura. Sou louco por rapadura.”
é um local onde a família inteira gosta de No dia a dia, prefere a comida caseira de Madalena,
se reunir. funcionária que está na casa há mais de duas
décadas e ajudou a cuidar de suas filhas caçulas.
“Minhas filhas gostam de lá, levar amigos. “Ela cozinha maravilhosamente”, comemora.
Quando vejo, tem 50 pessoas”, relata Caiado, Gracinha, a esposa, concorda, confessando que
pai de três mulheres e um rapaz. A esposa não leva muito jeito para a coisa. “Quando fui me
Gracinha acha ótimo. “Sou animada, me casar, meu pai me disse: filho, sua mulher recebe
integro mais.” O senador, porém, está sempre muito bem, arruma a mesa lindamente, mas no
por perto. Até hoje. E com ciúmes. “Ah, meu fogão é meio fraca, né?”
Deus, a gente sabe que elas vão namorar,
mas é complicado...” Caiado ri, desconfiado,
“Vou levar você um
para depois admitir. “Sou ciumento e quero dia lá. Quero ver
conhecer quem convive com meus filhos,
saber quem são. Acho natural.” Já houve aguentar. Antes do
pretendentes que desistiram ao descobrir
quem é o futuro sogro? A pergunta é
almoço vai pedir para
respondida com um sorriso. parar.”

9
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

Gracinha nunca foi uma dona de casa nos moldes


tradicionais. Quando se conheceram, nos idos
de 1987, ela já militava no setor rural no interior
da Bahia. Natural de Feira de Santana, foi em
uma visita de Caiado à cidade para falar de
direito à propriedade em tempos de mudanças
constitucionais que eles se viram pela primeira
vez. “Era um auditório cheio de homens e lá no
meio estava aquela morena. Eu pensei: nossa! Mas
ela estava com um rapaz. Achei que fosse um “Fazemos trilhas
noivo, sei lá. Depois fomos apresentados e o rapaz
era o irmão dela. Ainda bem”, recorda o senador.
em vários lugares,
sobretudo na fazenda.
Eles preferem não falar como foi todo o
processo de aproximação. Caiado diz uma coisa Lá, a gente pedala
brincando, ela afirma que não foi bem assim.
Fato é que estão juntos desde então. Gracinha
40 km em estrada de
não confessa que Caiado tenha lhe chamado terra, nada de asfalto.”
tanto a atenção logo de cara, no que ele provoca:
“Preta, naquela época eu fazia um sucesso
por esse País...” Uma união que não apagou imagem de Nossa Senhora das Graças”, mostra
as diferenças de temperamentos e gostos que o candidato. “Ela está comigo há quase 58
têm. Caiado é mais circunspecto, Gracinha mais anos. Todos os dias.” A figura religiosa está
festeira; ele é “cadeira dura”, ela sabe dançar; impressa em uma espécie de papelão em
Gracinha ama viajar, Caiado é mais caseiro. forma de cartão, toda embalada por durex e
“Mas eu consigo levá-lo comigo”, afirma. plástico, o que explica sua durabilidade.

A SANTA Ela acompanha Caiado desde que, aos 11


E A BICICLETA anos de idade, ele teve febre reumática.
Além de tomar medicamentos pesados, ficou
Certa vez, Ronaldo Caiado embarcou num três meses de cama, em repouso. Para pedir
voo de Porto Alegre para São Paulo e, logo pela recuperação do filho, sua mãe colocou
após decolar, apalpou o bolso da calça. Seu a imagem na cabeceira da cama. Depois que
sangue gelou. Ele estava vazio. O senador ficou bom, ele a retirou de seu suporte original
não teve dúvidas. Ao chegar ao destino, ele e passou a andar com ela a tiracolo. “Sou
voltou imediatamente para a capital gaúcha devoto. Ela é inseparável de mim. Já parei um
atrás do que havia esquecido. E achou. “É essa baile de Carnaval para procurá-la porque ela

10
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

caiu do meu bolso”, conta. Por coincidência – no chão.” E ensina: “o pequi ideal é aquele que
ou não – casou-se com alguém que se chama a gente pega no chão. O que se pega na vara,
Graça por conta da mesma devoção. de cima do pé, esse não é tão bom”. Quando
estudava na França, a mãe de Caiado, ao visitá-
Essa imagem testemunhou os tempos de lo, levou lascas da polpa de pequi para fazer
moleque de Caiado, quando ele ia para o um prato tipicamente goiano em Paris. O cheiro
Colégio São Francisco, em Anápolis, onde forte incomodou vizinhos. “Mandei todo mundo
não pôde integrar o coro sinfônico porque as embora. Onde já se viu?”
freiras achavam sua voz destoante demais das
dos outros alunos. “A gente ia de bicicleta, FICHA
apostando corrida.” E esse amor pelo ciclismo
foi reativado há cerca de 5 anos, quando o Cidade natal: Anápolis
parlamentar se tornou mais um adepto da bike, Idade: Faz 69 anos neste mês
junto com a esposa e amigos. “Fazemos trilhas Livro: Biografias de vultos históricos
em vários lugares, sobretudo na fazenda. Lá, a Filme: Prefere DVDs de música
gente pedala 40 km em estrada de terra, nada Música: Concertos de música clássica
de asfalto.” Prato: Carne moída, rapadura
e pequi
Esse lado ciclístico de Caiado já o levou a Ídolo: Estadistas, como Jacques Chirac ou
fazer trilhas em diversas partes do País, como Winston Churchill
as serras catarinenses, e também no exterior, Times do coração: Flamengo
participando de passeios pela Argentina, e Anápolis
Portugal e França. “O ciclismo é ideal para
conhecer os lugares. Você não está nem rápido
demais, como se estivesse num carro e nem
devagar demais, como se estivesse a pé. É
perfeito. Além do que, queima barriga, essa
gordura visceral, que é a que mais mata, e ainda
movimenta as articulações. É um esporte muito
bom”, opina o candidato, que também é médico
e sabe do que está falando.

Outro exercício que Caiado faz, ao menos uma


vez por ano, é ir até certa árvore de sua fazenda
para recolher algo valioso. “Eu tenho um pé
de pequi que todo mundo já sabe que é meu.
Ninguém mexe. Só eu posso ir lá pegar os frutos

11
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

HISTÓRIA 2

JOSÉ
ELITON

12
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

ELE NASCEU DE NOVO E ir a Itumbiara participar de uma carreata


do candidato a prefeito, José Gomes. “Era o
AGORA QUER MAIS único evento de campanha que ele ia fazer,
estava disparado na frente. E eu era muito
O jeito formal do governador que tenta a amigo dele. Tinha de ir.” O governador, que
reeleição esconde um José Eliton que adora tenta a reeleição, nos jardins do Palácio das
ouvir rock nacional, jura que não faz feio Esmeraldas, olha para o lado e divaga. “Eu
na cozinha, gosta de pescar e que admite ter achei que ia morrer. Peguei no braço de um
mudado a forma como passou a encarar a vida segurança e disse: peçam para cuidar da
após quase morrer baleado em um atentado minha família.”
ocorrido há dois anos
Quase dois anos depois do atentado que
Muita coisa passou pela cabeça de José Eliton provocou a morte do ex-prefeito de Itumbiara
na tarde daquela quarta-feira, 28 de setembro José Gomes, de um segurança e do atirador que
de 2016. Era seu aniversário de casamento desferiu diversos disparos – um deles atingiu
com Fabrina Müller e ela pedira para ele não a região abdominal do então vice-governador

13
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

José Eliton –, o homem que tenta permanecer


liderando o governo goiano atesta que aquele “Eu achei que ia morrer.
foi o momento mais dramático de sua vida
e que aprendeu com ele. “A gente começa a
Peguei no braço de
valorizar mais as pequenas coisas. A vida é
um segurança e disse:
corrida, mas agora não saio de casa sem ao
menos dar uma passadinha no quarto dos peçam para cuidar da
meus filhos, mesmo muito cedo, para dar um
beijo neles.”
minha família.”

Ao mostrar a região onde a bala o acertou, No dia da entrevista, José Eliton havia
próxima ao rim esquerdo, e por onde ela saiu, participado do primeiro debate entre os
nas costas, José Eliton afirma que também candidatos a governador, realizado na Rádio
tem se dado mais o direito de demonstrar com Interativa. Era a estreia em uma arena que exige
palavras e gestos o que sente pelas pessoas sangue-frio, raciocínio rápido e resistência para
que integram sua vida. “A gente, às vezes, não suportar as pancadas dos adversários. “Eu acho
fala o quanto gosta das pessoas, o quanto elas tudo isso normal”, assegura, em tom calmo.
são importantes. Tenho procurado fazer isso “Acho que as pessoas têm que discordar de
mais.” A esposa Fabrina chega onde estamos, mim, sim. A crítica é salutar. Só não pode passar
mas fica pouco. Não gosta muito de holofotes e para o campo pessoal, confundir dureza com
prefere ser discreta. “Vou deixá-los conversar”, agressão.” E quando isso acontece, governador?
avisa, mas antes faz um comentário: “O Zé é “Aí eu ajuízo as ações pertinentes, vou buscar
virginiano, perfeccionista.” reparações na Justiça”.

O governador admite que a esposa mostrou Agora falou o advogado! José Eliton ri do
certa resistência inicial quando ele começou comentário. “O que eu posso fazer? Eu sou
sua carreira política. “Acho que se dependesse assim. Não vou ficar em embates, bate-bocas
dela ou da minha mãe, eu não teria entrado públicos com ninguém. Sei que isso não é muito
nesse campo. Mas agora que entrei, ninguém o perfil do político, mas é desse jeito que eu ajo.”
me apoia mais que as duas. A Fabrina vai em E foi pela porta do Direito que ele ingressou no
carreata, participa de reuniões, faz campanha.” Palácio das Esmeraldas. “Eu me formei em 1996
Filho de outro José Eliton, que foi prefeito de pela, então, UCG. Meu pai estava na política
Posse, cidade do nordeste goiano, o candidato desde 1982, quando foi eleito prefeito de Posse.
do PSDB não tinha a política no sangue, como Então, ele tinha muitos amigos nesse meio e um
se poderia imaginar. “A primeira eleição que deles, que era candidato a prefeito da cidade
disputei foi para vice-governador”, informa, de Iaciara, precisava de uma assessoria jurídica
referindo-se à campanha de 2010. para a campanha.”

14
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

“Meu pai era gerente MINHA VIDA


É ANDAR
do Banco do Brasil e POR ESTE PAÍS
as transferências eram O fato de ter nascido, em 27 de agosto de 1972,

frequentes.” em Rio Verde foi, digamos, quase um acaso.


José Eliton veio ao mundo no Sudeste goiano,
mas isso poderia ter acontecido em qualquer
O jovem advogado tomou gosto pela coisa e em outro lugar, ao sabor das alterações de endereço
pouco tempo já assinava os pareceres jurídicos de sua família. “Meu pai era gerente do Banco
de candidatos e prefeito de diversas cidades do Brasil e as transferências eram frequentes.”
do norte e nordeste goiano. “Certa vez, fiz a Isso possibilitou que seus pais se encontrassem.
sustentação de uma causa e o ex-presidente “Meu pai é de Posse e foi alocado na agência
da OAB, Felicíssimo Sena, viu e gostou. Ele me de Rio Verde. Lá, ele conheceu minha mãe e se
chamou para atuar em um caso do então prefeito casaram. Depois, quando eu tinha pouco mais
de Niquelândia. Em seguida, defendi uma causa de um ano, a família inteira foi para Posse de
do ex-prefeito de Goiânia, Pedro Wilson.” De novo.”
advogado de uma liderança do PT, acabou
sendo requisitado pelo outro espectro político, Esta seria apenas a primeira etapa de uma
firmando-se como defensor das causas do infância itinerante. “Dessa vez, não ficamos
partido Democratas. muito tempo em Posse. Meu pai foi transferido
para Macapá, capital do Amapá. Morei lá entre
Nessa nova função, em 2008, respondeu pela 1975 e 1977.” Mesmo sendo uma criança muito
parte jurídica da campanha do ex-senador pequena nessa época, José Eliton guarda
Demóstenes Torres e dali foi indicado pelo algumas lembranças daquele tempo. “É um
partido para ser vice na chapa de Marconi mundo diferente. O sotaque é diferente, a
Perillo ao governo, em 2010. “Eu acho que valeu comida é diferente, chove todos os dias”, cita.
a pena essa mudança. Eu amo a advocacia, mas Depois desse período, nova mudança, desta vez
acho que na política temos mais oportunidades para Belo Horizonte, onde ficaram por um ano. O
de contribuir, promovendo ações que de fato retorno a Goiás se deu pela cidade de Formosa,
provocam mudanças na vida das pessoas.” E na onde permaneceram mais um ano.
própria, também. “Eu tenho um apartamento no
Jardim Goiás e sempre ia ao parque, encontrava “Quando voltamos a Posse, eu estava na pré-
com os amigos em um barzinho próximo. Isso já adolescência. É nessa fase que você começa
não dá para fazer”, resigna-se. a criar vínculos mais fortes com amigos.
Então, minhas referências da juventude estão
em Posse. Ainda tenho muitos amigos dessa

15
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

época por lá e mantemos contato.” Alguns meu filho caçula, lembra de quando a gente
deles testemunharam as tentativas de José foi pescar perto da ponte do Cocalinho, no
Eliton de se transformar em um esportista de Araguaia. Ele era bem novinho, mas lembra. E
alto nível. “Não no futebol, pelo menos não gosta de pescar também.”
como jogador, né? Sou muito grande. Tenho
1 metro e 89 centímetros. Não dava muito E como bom pescador, o senhor gosta de
certo”, reconhece. A alternativa, então, foi exagerar um pouquinho, governador? “Viiiixe...”
buscar uma modalidade mais adequada à É, lá vem! “Eu tenho histórias de pescador demais
sua estatura. para contar, mas não aqui, agora”, despista.
Gestos contidos, fala articulada, tom baixo na
“Eu entrei na equipe de vôlei. Era um meio de voz, ele mostra-se tranquilo apesar de estar
rede razoável. Quando vim para Goiânia fazer em uma campanha em que precisa alcançar o
faculdade, cheguei a integrar a Seleção de Vôlei adversário que está bem à frente nas pesquisas.
da UCG.” Hoje, o governador não pratica com Em suas aparições públicas, ele não parece bom
regularidade um esporte específico – ele tenta de prosa, mas é. “E sou bom no truco também”,
se disciplinar a fazer caminhadas para cuidar da avisa. Estaria blefando? Bom, nesse jogo, só
saúde –, mas mantém a paixão por eles. E nesse pagando pra ver. Teria ele um zap na manga?
quesito, o futebol volta a ganhar terreno. “Eu sou
torcedor do Vila Nova, de ficar debaixo do bandeirão VERSÃO GOURMET
no estádio”, enfatiza. “Quando eu era adolescente,
fui cartola do time do Dom Prudêncio, o colégio “Modéstia à parte, acredito que sei fazer um
em que estudava em Posse.” bom churrasco.” Bom, enquanto o governador
não nos faz um convite para averiguarmos essa
“Prefiro ir para o afirmação para valer, vamos acreditar em suas
habilidades culinárias. “Também faço macarrão,
Araguaia a ir para a lasanha, preparo uma boa moqueca. Não passo
vergonha na cozinha, não. ” E olha que o nível
praia”
de exigência em casa é alto. Sua esposa, a
Mas há uma atividade, mistura de esporte e primeira-dama Fabrina Müller, está nos últimos
lazer, que o candidato adora. “Ah, eu amo fazer períodos do curso de Gastronomia. “Não tenho
pesca esportiva.” Foi o pai de um amigo seu de todo esse refinamento, claro, mas gosto, por
Posse, seu Anselmo, quem lhe deu as primeiras exemplo, de fazer compras no supermercado. E
lições. Nunca mais parou. “Prefiro ir para o faço isso bem.”
Araguaia a ir para a praia”, admite. “Eu pesco
e solto o peixe. Dentro dos limites permitidos O gosto comum pela boa mesa é um elemento
por lei, às vezes, pescamos para consumo. ” Ele de afinidade do casal, que se conheceu em
passou para os filhos esse gosto. “O Zé Netto, uma festa de peão. “Era um rodeio na cidade

16
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

de Simolândia”, recorda o governador. “A Renato Russo não impera sozinho nesse panteão.
Fabrina é irmã de um amigo de infância meu, “Adoro Ira!, Camisa de Vênus, Engenheiros do
de Posse, mas a gente não se conhecia. Ela Havaí.”
havia morado um tempo no Rio Grande do Sul.
Naquela festa, nos encontramos e começamos O candidato tucano recorda-se com mais
a namorar.” Dessa união, nasceu José Netto, vivacidade, porém, de um disco emblemático.
hoje com 15 anos. O governador tem outro “Uma vez, ganhei o LP Thriller, do Michael
filho, Fernando, que tem 19 anos, fruto de um Jackson. Para nós, lá em Posse, era um
relacionamento que teve antes de conhecer a acontecimento, uma novidade total, mesmo
atual esposa. que o disco tivesse sido lançado dois anos antes.
Esse disco tocou demais, em todas as festas, até
O casamento entre José Eliton e Fabrina foi estragar.” E o mais surpreendente vem agora…
realizado em setembro de 1999 e selou a união “Sim, eu tentava imitar o Michael Jackson no seu
de duas pessoas com vivências, até certo passo MoonWalk. Todo mundo da minha idade
ponto, semelhantes. Ela também é formada tentava. É claro que quase ninguém conseguia.”
em Direito e seu pai, assim como ocorria na Não se pode criticar o governador por não ter
família do marido, não ficava em um mesmo todo esse talento coreográfico.
lugar por muito tempo em razão do trabalho.
Representante comercial de máquinas Muito formal na maior parte do tempo, José
agrícolas, Ivo Müller chegou a Posse quando a Eliton abre um largo sorriso quando se lembra
filha era adolescente. Natural de Patos de Minas, desses momentos da juventude, quando não podia
Fabrina mudou-se para Goiânia para cursar o imaginar que governaria o Estado, um dia. “Isso
ensino superior. nunca passou pela minha cabeça”, confirma. Na
verdade, quando pensou em uma profissão, de
FÃ DE ROCK início outra paixão o levou por caminho distinto. “Eu
E HISTÓRIA cheguei a cursar História, mas, apesar de todo meu
interesse pela área, que conservo até hoje, acabei
Conseguir ouvir as bandas nacionais de rock desistindo diante das dificuldades da profissão.” O
que marcaram época nos anos 1980 não era gosto por este campo de conhecimento permanece
uma tarefa fácil para o adolescente José Eliton. nas leituras que ainda faz.
“Rapaz, Posse não tinha nem estação de rádio
naquele tempo. Quando alguém vinha a Goiânia, “Dia desses estava no
levava para lá aqueles discos de vinil e a gente
carro e ouvi uma música
os ouvia e tocava nas festas até arranharem.”
Ainda hoje, o governador é fã do estilo. “Dia da Legião Urbana. Que
desses estava no carro e ouvi uma música da
Legião Urbana. Que coisa fantástica, atual.”
coisa fantástica, atual.”

17
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

“Gosto muito de História Antiga. É minha parte informatizaram tudo e o barulho parou. Ele
preferida. Com isso, também tive contato com diz que acha que o fantasma não sabia usar o
os clássicos, como Odisseia, de Homero. Mas computador”, diverte-se. Não tem medo não,
também aprecio outros autores, como Balzac governador? “Eu não!” Talvez a racionalidade
e Zola. Deste último, sobretudo, Germinal. do Direito, tão calcado no tangível, o proteja de
Na verdade, comecei a ler com uma coleção tais medos.
do Monteiro Lobato. Minha mãe sempre nos
incentivou a ler.” Os livros não reinam soberanos FICHA
entre suas preferências, porém. “Adoro cinema,
filmes de ficção científica e a trilogia O Poderoso Cidade natal: Rio Verde (mas criado em
Chefão. Ela nos traz muitas mensagens sobre a Posse)
sociedade em que vivemos”, divaga. Idade: 46 anos
Livros: Clássicos e Germinal, de Émile Zola
INQUILINO DA CASA Filme: Ficção científica e O Poderoso Chefão
VERDE Música: Rock Anos 80
Prato: Churrasco e massas
“Ser governador não é um fardo. Ouço as pessoas Times do coração: Vila Nova
dizendo isso e não concordo. Na verdade, as
dificuldades são inerentes à função. Estamos
aqui para isso. O que mais me fascina é poder
ter contato com as mais diferentes realidades,
conversar e conviver com pessoas das mais
variadas naturezas. A gente aprende muito com
isso”, diz o candidato à reeleição José Eliton. O
seu gabinete tem quase exatamente a mesma
aparência de quando era ocupado por seu
antecessor e padrinho político, Marconi Perillo.
E torce para que continue assim.

Para não fugir à tradição dos governadores


que já ocuparam o histórico prédio verde,
no coração da Praça Cívica, ele tem algumas
histórias de assombração na manga. “Tem
um funcionário aqui que conta que na época
da máquina de escrever, ouvia-se o som
de uma delas batendo lá no terceiro andar.
Chegavam lá e não havia ninguém. Depois

18
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

HISTÓRIA 3

DANIEL
VILELA

19
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

RETRATO DE UM acostumar com essa rotina, como o pai, que


agora tenta ser governador pelo PMDB, se
POLÍTICO QUANDO acostumou quando tinha a idade deles. “Eu
JOVEM gostaria de ficar mais em casa, mas nesse
momento é impossível”, diz Daniel Vilela, agora
Daniel Vilela deixou o futebol para trás em nome do outro lado dessa história. Ele passou pela
da política e agora vive com o pai as dores e os mesma experiência quando lamentava que
benefícios de uma carreira que vivenciou como seu pai, o ex-governador Maguito Vilela, ficava
filho de governador. Para superar os desafios, ele pouco tempo com os filhos.
busca apoio na disciplina ensinada pelo esporte
e no pique que só temos na flor da idade Naquele tempo, Maguito também tinha um casal
de filhos: a menina mais velha, Vanessa, que
Os filhos Maria Laura, de 9 anos, e Frederico, hoje é terapeuta de família, e o caçula Daniel,
de 7, reclamam da ausência do pai, que quase que logo manifestou sua paixão, não pela
não para em casa por conta da correria da política, mas pelo futebol. “Quando eu tinha a
vida pública. Eles sabem que vão precisar se idade do Frederico, e até um pouco mais velho,

20
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

A carreira de Daniel Vilela descendia nos campos


na mesma proporção que outros interesses iam
surgindo, naturalmente. Ele ainda defendeu as
camisas do Atlético Goianiense e do Gama, mas
a diferença de estrutura em relação ao Goiás
o desestimulou um pouco. “Quando eu entrei
no Goiás, havia dois campos de terra ali onde
hoje é o Estádio da Serrinha. A gente treinava
“Eu nunca 6 meses na terra e 6 meses na grama. Depois
o clube foi melhorando muito e eu peguei esse
fui um craque. impulso do Goiás. Por isso estranhei quando fui

Era um jogador para outros clubes.”

mediano” Quando uma transferência para o futebol de


Portugal deu errado, Daniel Vilela percebeu
nem passava pela minha cabeça ser político. que talvez fosse bom vislumbrar outro futuro.
Eu queria era jogar bola.” E jogou, primeiro na “Comecei a acompanhar mais meu pai, a ajudá-
Jataiense, a equipe de sua terra natal e base lo em suas campanhas.” A virada ocorreu
eleitoral de seu pai, depois no Goiás Esporte em 2006, quando participou ativamente da
Clube, onde entrou com 7 anos e lá permaneceu campanha de Maguito para o governo de Goiás,
por uma década e meia, indo das divisões de perdida para Alcides Rodrigues. Dois anos
base à equipe profissional. depois, ele já era candidato a vereador por
Goiânia, ganhando sua primeira eleição, com
“Eu nunca fui um craque. Era um jogador apenas 25 anos de idade. Dois anos depois,
mediano”, reconhece Daniel, que como ganhou novo pleito, para deputado estadual. E
profissional marcou apenas um gol com a em 2014, elegeu-se deputado federal.
camisa esmeraldina. “Mas foi numa semifinal do “Em duas dessas três campanhas, eu estava
Goianão”, completa. “Meu gol está lá, na história grávida”, informa a esposa de Daniel, Iara Alves
do Goiás. Foi de cabeça, o meu forte.” O feito Vilela. Eles estão juntos há 10 anos. “Quando
ocorreu no dia 4 de abril de 2004 e a vítima foi ele se candidatou a vereador, eu estava no final
o Crac, de Catalão. “Eu não era titular no Goiás, da gravidez da Maria Laura. E estava no início
mas entrava em partidas importantes, como da gestação do Frederico quando o Daniel
em jogos da Sul-Americana. Eu era escalado foi candidato a deputado estadual”, relata.
como meia-atacante, mas acredito que hoje eu Iara também integra o grupo daqueles que
preferiria jogar como volante. Acho que teria gostariam que o marido ficasse mais tempo com
sido a melhor posição para mim.” a família. “Em toda campanha, eu penso que já

21
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

me acostumei, mas depois vejo que não. Mas eu juntos, combinam entre eles.” Primeiro o
compreendo que é preciso, em nome dos objetivos futebol, depois a política… Maguito sabe como
que ele tem.” conquistar seus descendentes, não é mesmo,
Daniel? “E nem podem dizer que eu (não???)
Os dois concordam que é importante afastar sabia onde eu estava me metendo”, brinca Iara.
as crianças dos problemas e ataques que todo “O Daniel entrou na política depois que a gente
embate eleitoral traz para o cotidiano dos se conheceu”, informa a esposa. Agora, ela
candidatos. “A minha mãe conseguiu fazer isso também entrou.
comigo e com minha irmã”, garante Daniel,
referindo-se à ex-primeira-dama Sandra CASOS DE FAMÍLIA
Vilela. E ele sabe melhor do que ninguém que
esse cuidado é necessário. “Meus filhos não “E eu fico indignada com determinadas
precisam estar expostos a isso. Não que eles questões da política, com ataques. As pessoas
não saibam das minhas atividades e que a gente querem imprimir ao Daniel características que
não converse com eles sobre o que faço, mas são as de quem está atacando. Acho que sou
não quero que sejam envolvidos em disputas até mais sensível quanto a isso que ele.” Iara
eleitorais de forma alguma.” Alves, mulher de Daniel Vilela, convive com
esse ambiente há uma década e ainda não se
Logo após a votação da Reforma Trabalhista, habitou. Mas tem trabalhado nisso, sobretudo
outdoors foram espalhados por Goiânia com quando leva em conta a possibilidade de o
o rosto dos deputados goianos que aprovaram marido tornar-se governador. “Tenho projetos
o projeto e severas críticas a todos eles. Um na área social que vou tentar implementar, se
desses cartazes estava no caminho que Iara tiver a oportunidade”, anuncia.
sempre faz com os filhos para casa. “O Frederico
viu e comentou: ‘olha, é a foto do papai’. Ele não Ela já planeja visitar alguns locais de referência,
entendeu o contexto, mas já faz comentários atrás de modelos de assistência social, e
sobre o trabalho do pai. Dias desses, ele pegou afirma que vai focar na profissionalização das
um vídeo que eu estava vendo que explicava mulheres, para que elas possam sustentar a si e
o funcionamento da democracia e pediu para às suas famílias. “Precisamos socorrer os mais
voltar, mostrando qual o novo lugar que o pai necessitados e dar a eles a chance de encontrar
ocupará se ganhar a eleição”, conta Iara. caminhos próprios.” Daniel Vilela observa
atento a esposa explicar suas ideias e confirma
Daniel ouve o relato do episódio e prefere
não pensar agora na possibilidade de mais “Foi a melhor coisa
um futuro político na família estar nascendo.
que ele fez para nós,
“Não fala isso, não”, pede ele. “Ele é muito
grudado com meu pai. Gostam de ir ao estádio seus filhos”

22
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

que ela cuidará dessa parte em seu governo, beleza, deputado? “Não, as pessoas falam para
como sua mãe, Sandra, se incumbiu nos seus as outras, mas não falam para mim. Não tem
tempos de primeira-dama. Uma rotina que Iara isso não, não me preocupo com essa questão
sabe que será pesada e exigirá mais adaptações estética”, despista. Iara confirma que vez ou
no âmbito familiar. outra precisa lançar olhares mais fortes para
eleitoras, digamos, mais empolgadas, ou menos
Daniel tem experiência no assunto. Quando foi avisadas. É melhor não suspirar pelo candidato
governador, seu pai, Maguito Vilela, preferiu não do MDB.
misturar tanto assim as estações. Uma de suas
decisões foi não se mudar para o Palácio das UM PÃO COM OVO, POR
Esmeraldas, residência oficial dos ocupantes FAVOR
do cargo. “Foi a melhor coisa que ele fez para
nós, seus filhos”, elogia Daniel. “Aquilo não é Espaço. É disso que Daniel Vilela precisa, é isso
ambiente para crianças. É tudo muito impessoal, o que ele sempre procura. Na política também,
não há amigos próximos para brincar, vizinhos mas sobretudo na vida cotidiana. “Eu gostaria
com quem possam interagir. Se eu for eleito, mesmo é de morar em uma chácara. Adoro
farei a mesma coisa”, antecipa. “Quero dar a estar no meio do verde.” A confortável casa em
vida mais normal possível para meus filhos.” um condomínio fechado de Goiânia, mesmo
Daniel, em sua infância e adolescência, até pelo com sua arquitetura arrojada e sua decoração
envolvimento que tinha com o esporte, não caprichada, está sendo posta à venda. Nem
sentiu o peso que o cargo do pai representava. mesmo a piscina ao fundo e um pequeno
“A gente contava com um motorista, que era recanto dedicado à natureza convenceram o
também segurança, que nos levava para os casal a permanecer ali. “Eu morava em outro
lugares. Só isso. Nada mais. Num determinado condomínio que era mais amplo, as crianças
momento, ele determinou que a família podiam se integrar mais. Quero voltar para lá.”
almoçasse junta no Palácio, mas aí os horários
dele nunca batiam e isso nos atrasava ou nos Daniel pauta suas escolhas pessoais em relação
fazia ficar esperando demais até ele desocupar. à família pela qualidade de vida que elas
Daí a gente deixou de fazer isso.” Daniel recorda- podem oferecer ao casal e aos filhos. Também
se de ter dormido três vezes no Palácio durante
todo o mandato do pai.

Iara compreende os argumentos do marido, mas


avisa: “Vou querer estar a par de tudo, bastante
presente”. Sim, ela marca em cima. “Ela tem
um nível normal de ciúmes”, disfarça Daniel,
o candidato-galã. Recebe muitos elogios pela

23
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

onde costuma estudar e corrigir discursos, ler


“Eu morava em outro documentos e conversar mais informalmente
com amigos e apoiadores. Quando dá tempo,
condomínio que era
uma leitura mais descompromissada, o que
mais amplo, as crianças anda cada vez mais raro, ultimamente. “Eu
lamento, porque gosto muito de ler, sobretudo
podiam se integrar mais. biografias. Já li de vários vultos políticos, como

Quero voltar para lá.” a de John Kennedy. E também do esporte, como


a do tenista Rafael Nadal.”
por isso gosta de praticar esportes ao ar livre,
como jogar futebol e correr. “Também malho Ele pega uma caixa fechada com a encomenda
na academia, mas nada muito exagerado.” que acaba de chegar de um clube do livro
O controle da alimentação fica por conta da de que faz parte. “Já chegaram vários, mas
espoa Iara, que chegou a frequentar o curso de não os estou lendo. Este aqui foi um dos que
Nutrição. Refeições mais balanceadas e a opção vieram”, diz, mostrando um livro da jornalista
por produtos mais saudáveis, como o açúcar bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, ganhadora
mascavo no lugar do refinado ou de adoçantes, do Prêmio Nobel de Literatura de 2015. “Eu
são detalhes que parecem fazer a diferença. tenho assistido mais séries. Há uma, chamada
Ambos estão em forma. Marseille, da Netflix, que é fantástica. Conta a
história do prefeito de Marselha, na França, e a
Mas ninguém é de ferro. “No café da manhã, eu gente percebe a interação dele com a cidade.
adoro comer pão com ovo”, assume Daniel. “Na É bem interessante.” A política está presente
verdade, eu gosto demais de comer. Aquelas também nesse momento de lazer.
comidas mais da roça, como frango caipira, o boi
ralado, que é a carne moída. Minha sorte é que “Gosto também da série Designated Survivor, a
nunca tive tendência para engordar.” Metabolismo história de um secretário que vira presidente dos
de atleta? “O esporte para mim é como EUA. Cada episódio é um momento decisivo.”
alimentação. Eu tenho tido, nos últimos tempos, Daniel faz um paralelo com momentos de tensão
um pouco de insônia. Isso não é por causa das vividos pelo pai quando era governador. “Eu me
eleições e, sim, porque não estou tendo tempo recordo da rebelião do Cepaigo, do Leonardo
para fazer minhas atividades físicas. Isso interfere Pareja, em que ele precisou tomar decisões
totalmente na qualidade do meu sono.” complicadas. Na época, eu era desligado, mas
me lembro. Eu ia correr de kart naquele dia da
O confortável sofá resolve um pouquinho desse saída dos presos e dos reféns e meu pai proibiu.
problema, às vezes. “Gosto de me jogar aqui.” Foi um tempo em que ele chegava nervoso
Outro canto preferido da casa é um espaço com em casa, mas eu não entendia bem. Hoje
poltronas, ao lado de uma máquina de café, eu compreendo.”

24
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

A MÍSTICA contrário, que a juventude representa a


DOS 35 ANOS mudança que desejam.” Na mesa da sala está
o livro Revolução: A Autobiografia de Um Líder,
“O esporte me trouxe algo muito importante, do presidente francês Emmanuel Macron,
que é a capacidade de me concentrar, de ter a que chegou ao Palácio do Eliseu com apenas
disciplina para chegar a um objetivo e na hora de 39 anos.
trabalhar.” O ex-jogador profissional de futebol
associa esses dois momentos de sua vida com Prestes a completar 35 anos, Daniel Vilela alude
frequência, tirando lições de uma atuação para a uma espécie de número mágico da política
a outra. “Quando eu jogava, nunca me envolvi goiana. “O Iris Rezende, quando foi prefeito de
em confusões, em polêmicas. Sempre procurei Goiânia pela primeira vez, tinha 31 anos e seria
transitar entre todos os espaços. Se havia eleito governador aos 35, se não tivesse sido
craques no time muito mais importantes, eu cassado. Em 1998, Marconi Perillo foi eleito
sabia reconhecer isso e aprender com eles. Por governador aos 35 anos. Quero ser o próximo a
isso fiz tantos amigos no esporte que conservo ser eleito governador com essa idade.” E ele faz
até hoje.” questão de não perder a condição de andar na
rua, de ir tomar café da manhã com os filhos nas
Um de seus ídolos é o jogador Ronaldo manhãs de domingo, hábito que quer retomar.
Fenômeno, pela performance esportiva e “Político que se esconde está perdido.”
também pelo carisma. “Era um atleta completo.”
Daniel participa de grupos de WhatsApp com FICHA
vários de seus ex-companheiros de trabalho.
Um deles era o atacante Fernandão, de quem Cidade natal: Jataí
foi contemporâneo no time do Goiás. “Nós Idade: 34 anos
conversávamos direto”, recorda, lamentando Livros: Biografias de políticos e esportistas
a morte precoce do amigo num acidente de Música: Jorge & Matheus, Leonardo
helicóptero em 2014. E fazendo as relações e jazz
possíveis entre essas duas áreas, Daniel se vê Prato: Pão com ovo e comida caipira
em uma posição, no mínimo, paradoxal. Ídolo: Ronaldo Fenômeno
Times do coração: Goiás
Para o futebol, mesmo que tivesse seguido
carreira, estaria na época de pendurar as
chuteiras. Na política, ao contrário, parece
jovem demais. “Às vezes, a minha juventude
assusta. Algumas pessoas têm receio de
confiar em alguém tão novo. Por outro lado,
há muita gente que pensa exatamente o

25
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

HISTÓRIA 4

KÁTIA
MARIA

26
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

COMPREENDER fazer minha própria horta”, diz, entre risos que


revelam uma simpatia à prova de desaforos.
A MARCHA E IR “Nem contei para minha filha, mas dias desses
TOCANDO EM FRENTE fui à feira, sempre pedindo voto para ela, e o
dono de uma banca me disse que não ia vender
Candidata do PT ao governo, a pedagoga Kátia a verdura pra mim porque eu era muito enjoada.
Maria usa a interação com a natureza e a energia Pode?” E solta mais uma gargalhada. “Ele é que
que une as pessoas para educar seus alunos e está perdendo. Daqui a pouco, quando tudo
elaborar propostas de sustentabilidade. Adepta estiver produzindo aqui no quintal, nem vou
da yoga, ela vive em uma casa onde a comida é precisar comprar nada lá.”
colhida no quintal e adora pegar a estrada com
seu Corsa 2008 Não vai mesmo e dona Zenaide vai poder
continuar a fazer o que faz bem e com
No imenso quintal de dona Zenaide Maria dos gosto, em qualquer circunstância, mesmo
Santos, 64 anos, há de um tudo. E sua dona nas mais difíceis: apoiar quem ama. “Ela
transita por ele como uma rainha. “Aprendi a sempre esteve do meu lado”, confirma a filha

27
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

Kátia Maria, candidata ao Governo de Goiás Dona Zenaide foi uma das fundadoras e primeira
pelo Partido dos Trabalhadores (PT). “Minha presidente de uma associação de mulheres em
mãe era merendeira de uma escola pública Senador Canedo que lutava por mais direitos
em Senador Canedo e desde muito cedo na educação. “Essa escola, que fica aqui no
eu tive contato com esse ambiente. Eu me bairro, só saiu porque a gente lutou por ela”,
transformei, ainda muito nova, na secretária relata a mãe de Kátia. Um exemplo que serviu de
de todas as professoras da escola. Minha inspiração para que a filha ingressasse nas lutas
vocação foi despertada assim.” sociais, primeiro no Sindicato dos Trabalhadores
da Educação de Senador Canedo e depois
Aos 42 anos de idade, a pedagoga que já na militância do Partido dos Trabalhadores,
trabalhou em diversas escolas atuando no onde ocupou funções relacionadas a políticas
ensino fundamental, na segunda fase e públicas para mulheres, entre outras.
na alfabetização de jovens e adultos está
estreando em uma campanha política como A casa onde mora mãe, filha e neta tem muito
candidata. E logo, a um cargo majoritário. desse espírito de comunhão. Incontáveis
Tudo é novidade e ela encara essa situação mensageiros de vento quebram o silêncio e
empregando a experiência adquirida em sala quadros pintados por Zezé, uma vizinha com
de aula. “A vida das pessoas, a realidade dos deficiência auditiva que está sempre por ali,
alunos sempre me interessou. É uma grande
troca de saberes, de aprendizados. Eu tenho
“Faço yoga há cinco
tentado levar isso para a campanha, ouvindo anos pelo menos duas
as pessoas, aprendendo com elas.”
vezes por semana.
Dona Zenaide é uma referência constante.
Isso faz uma grande
Em cada história que conta, lá está a
mãe. E lá também está a filha Carol, 24 diferença em nossa
anos, publicitária formada e professora
de yoga, que tem acompanhado Kátia em vida.”
todos os eventos, organizando sua agenda
e administrando um tempo escasso para
tantos compromissos. “Ela já é quase uma
raizeira”, brinca a candidata, falando do
interesse da filha pelos benefícios que as
plantas oferecem. “Sinta o cheiro disso”,
oferece Carol, com um pouco de orégano nas
mãos, retirado diretamente da eclética horta
da avó.

28
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

enfeitam o ambiente. “É uma energia boa”, MENTE SÃ


orgulha-se Kátia. “É bom estar em um lugar
aconchegante, que tenham presentes dados A candidata Kátia Maria tem uma empresa
com amor, como esses quadros.” Isso conta que trabalha com projetos para o setor
ainda mais para quem adotou um estilo de vida público, levando capacitação profissional e
particular. “Sou uma pessoa quântica”, define- desenvolvimento sustentável, tendo como norte
se. “Acredito que há uma energia que nos une. conceitos como os de ecologia pessoal e social.
Não somos só essa matéria que vemos. Há Um leque de opções que inclui técnicas de
algo mais.” melhora da qualidade de vida dos funcionários,
com a adoção de novas posturas e práticas.
Nessa linha, Kátia afirma que busca um equilíbrio, Por estar em contato tão constante com esse
antes de tudo, consigo mesma. “Se eu não universo, a candidata passou a adotá-lo em seu
estiver bem, se não atingir a sustentabilidade cotidiano. “Faço yoga há cinco anos pelo menos
em minha vida particular em primeiro lugar, duas vezes por semana. Isso faz uma grande
não vou conseguir ajudar os outros, trabalhar diferença em nossa vida.”
em prol de ninguém.” A meditação diária é um
dos caminhos para alcançar essa paz interior, Seu interesse por essa área extrapola para
desanuviar os pensamentos, repor as energias e hábitos literários. “Eu costumo ler muitos livros
baixar a adrenalina em momentos mais tensos. com técnicas de autoconhecimento, que tragam
“Como professora, sou generosa, mas também informações que ajudem as pessoas a superar
mantenho o pulso firme. O desafio é equilibrar seus desafios. Tenho a mania de ler dois ou três
essas duas coisas, sobretudo para quem tem livros ao mesmo tempo.” Ela admite que tem
uma escuta sensível como eu.” lido pouca ficção ultimamente, voltando seu
tempo para estudos de questões que sejam
Nesta campanha, ela afirma estar se assustando mais afeitas às suas atividades profissionais.
com situações de extrema necessidade que Pedagoga formada pela UEG, ela fez Mestrado
tem encontrado. “Isso tem me impactado em Estudos Socioambientais pela Universidade
bastante. Ver uma pessoa passando fome, Federal de Goiás.
pedindo trabalho, mães desesperadas por
não terem nada em casa. Estamos vivendo Inquietações quanto a esses assuntos pautam
um período muito triste.” Ela recorda que sua os projetos dessa candidata que iniciou sua
infância também foi de privações, com os pais, carreira no serviço público quando tinha apenas
funcionários públicos, tendo que encontrar 15 anos de idade, por intermédio do programa
soluções para os problemas. “É nessas horas Pró-Jovem. Ao passar quatro anos na Secretaria
que você precisa ser criativo. Uma criatividade Municipal de Planejamento, adquiriu uma visão
que vou empregar no meu governo”, emenda. mais ampla de questões que ela menciona com
Afinal, estamos em campanha. recorrência no bate-papo, propondo soluções

29
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

que podem até parecer um tanto utópicas. Será? à sua residência em Senador Canedo. Nenhuma
“Tenho muitos amigos no Facebook que se barbeiragem, justiça seja feita. Em um dos viadutos
alfabetizaram já bem tarde. E os vejo até chegar da BR-153, um motorista mais apressado passa
a pós-graduações. Daí eu penso: que bom que rapidamente, cantando pneu ao lado do veículo
deu tempo. Eu sou uma otimista.” de Kátia. “Nossa, que nervoso ele”, comenta.

ÁS DO VOLANTE O pai de sua filha Carol morreu em um


acidente automobilístico e ela sabe o quão
Na garagem da casa de Kátia Maria há um importante é investir em educação de trânsito.
Corsa 2008. E se esse Corsa falasse... “Em dez “Para cada dólar que aplicamos na prevenção,
anos, eu rodei 450 mil km por Goiás”, revela economizamos outros 4 dólares em tratamentos
sua dona. “Eu visitei os 246 municípios de Goiás de vítimas”, pondera. Kátia dá todas as setas,
mais de uma vez nesse período. Sempre com o não ultrapassa os limites de velocidade, não
meu Corsinha”, orgulha-se. Bom, nem precisa solta um só palavrão. A gente até estranha
dizer que a pedagoga adora dirigir. “Eu amo uma pessoa assim nas ruas de Goiânia. Para
a estrada. É um momento em que me desligo ela, manter a calma é o segredo de tudo.
dos problemas e me concentro na viagem, nas “Essas práticas intempestivas, temos de evitar,
paisagens que vão passando. É um momento de sobretudo no trânsito. Você pode prejudicar
contemplação. Nele, estou sempre olhando para muito a si e a outras pessoas com um carro.”
o horizonte. A estrada me faz bem.”
Ao sair de casa, Kátia conta com a proteção das
Kátia possui ainda uma confortável SUV branca, orações da mãe. Dona Zenaide é ministra da
modelo Duster, que também conduz com gosto. Eucaristia e levou a filha para o catolicismo, apesar
“Você vem comigo. Pode entrar”, diz a candidata, de ela andar meio afastada das missas. “Eu sinto falta
dando a deixa para começar a entrevista. Atenta da Igreja, mas da que apoiava mais as comunidades
na direção, mesmo conversando com o repórter eclesiais de base, por exemplo. Confesso que não
no banco de carona, demora pouco mais de 40 tenho sido muito praticante neste momento.” Sua
minutos para cumprir o trajeto do Setor Bela Vista fé, porém, nunca esmoreceu. Sobretudo aquela que
deposita nas pessoas. “Amo trabalhar em escolas
justamente por isso. Quando a gente vê aqueles
alunos sendo alfabetizados, mudando sua vida, é
algo maravilhoso.”

TEMPERO DE FAMÍLIA
A cozinha da casa de Kátia Maria é o maior cômodo
da residência. E isso tem um motivo muito forte.

30
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

campanha, muitas vezes a gente é tentado


“Depois vocês têm que
a bebê-lo por ser mais prático.” No carro,
vir para almoçar com a algumas castanhas ajudam a enganar a fome
em determinadas horas, mas ela sabe que
gente” também não pode se esbaldar demais. “A única
“Eu adoro cozinhar e minha mãe também. Nem coisa que eu não como é quiabo. Não gosto.”
sempre eu tenho tempo, mas eu gosto de servir
as pessoas, preparar algo especial para meus Para ela, a melhor refeição, a comida perfeita é
amigos, minha família.” Isso acontece mais nos a mais simples possível. “Nada melhor que, num
finais de semana, quando ela se dá o direito de domingo livre, você comer um arrozinho feito na
curtir a companhia dos entes queridos. “Dá até hora, com um franguinho caipira e a mostarda
para ficar no sofá, descansando...” Ela fala isso que minha mãe colhe no fundo do quintal.” E o
com certo tom de nostalgia, já que depois que feijão? Kátia até aceita sua admissão nessa receita,
se lançou candidata ao governo, tais momentos mas apenas para “complementar a dose de ferro”.
são raros. Raríssimos, na verdade. E explica. “Quando eu era pequena, naquela crise
danada, meus pais não tinham dinheiro para
A agenda cheia não é motivo para esvaziar a comprar feijão. E aquilo ficou na minha cabeça.
cozinha, sempre em movimento. Chegamos lá Parece que tive um trauma com o tal do feijão.”
e uma galinhada acabara de ficar pronta. “Vão
ter que comer”, ordenou dona Zenaide, a mãe Tira o feijão, entra a salada. E ela é variada. Dona
de Kátia. O tempo escasso não permitiu, mesmo Zenaide vai mostrando a salsa, a cebolinha, a
com a dona da casa nos chamando com o prato couve. Quando se esquece do nome de alguma
já feito na mão. “Depois vocês têm que vir para planta, é prontamente socorrida pela neta Carol.
almoçar com a gente”, pede a anfitriã. Bom, a “É tudo orgânico, sem agrotóxico nenhum. Uma
propaganda foi bem feita. “Eu gosto de cozinhar beleza. Assim que deve ser”, vai dizendo Kátia.
risotos, por exemplo. Para agradar minha filha, Espaço não falta para o cultivo. O lote tem 675
que é vegetariana, eu faço um que leva todo metros quadrados. Há até um recanto para
tipo de verdura, sem carne. Fica uma delícia”, algumas galinhas no fundo do quintal. “Todos os
garante a candidata. ovos, nós pegamos direto daqui, da fonte.” Nem
vou perguntar se a galinhada servida para nós
Preocupada com a saúde, ela controla a vitimou alguma ave que estava ali até ontem.
alimentação. “Não é uma dieta rígida. Digamos
que é uma dieta da minha consciência”,
argumenta. Kátia evita pular refeições, por PARA VER E OUVIR
exemplo. “Só não almoço se acabar o mundo.
Faço questão de almoçar. Também prefiro não Há um estilo musical que, nos últimos tempos,
tomar refrigerante, apesar que em época de tem encantado a candidata do PT ao governo

31
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

estadual. “Você já foi a uma batalha de hip- FICHA


hop?”, pergunta ela. “Olha, é muito interessante.
Você dá um tema e os artistas vão improvisando Cidade natal: Senador Canedo
em cima dele. Com isso, eles mostram muitos Idade: 42 anos
dos problemas sociais que enfrentam, as Livros: Livros de autoconhecimento
violências que sofrem, revelam mais de sua Música: MPB
cultura.” É nas periferias que Kátia Maria Filme: Avatar
encontra essas expressões, quando realiza o Prato: Risoto
trabalho com movimentos sociais, sobretudo Times do coração: Canadense
aqueles ligados a mulheres, educação
e camponeses.

Isso não a impede de curtir o que sempre gostou


de ouvir. Na sua trilha sonora particular estão
Elis Regina, Chico Buarque, Maria Bethânia. “Eu
adoro MPB. É meu estilo musical número 1.” Mas
ela assinala que é democrática também nesse
campo. “Não tenho veto a nenhum ritmo. Acho
que nossa música expressa a pluralidade cultural
que é o Brasil e isso precisa ser valorizado em
todas as oportunidades. Desde que as músicas
não façam apologia a crimes, a machismo, a
comportamentos reprováveis, tudo bem.”

Kátia também é uma fã do escurinho do cinema.


“Prefiro ir na sala do que assistir em casa. Eu gosto
daquele clima, de comprar a pipoca, do fato de
estar naquele ambiente para ver o filme. É um
ritual que gosto de cumprir.” Mas essa diversão
tem ficado em segundo plano, como tantas
outras. “Não tenho tempo.” Ela tenta recordar
um filme, mas não consegue. “Vou lembrar.”
Não lembrou. Dois dias depois, ela envia uma
mensagem: “Avatar”. Faz sentido. No blockbuster
de James Cameron, questões relacionadas à
nossa interação com a natureza são tratadas.
É a cara dela.

32
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

HISTÓRIA 5

MARCELO
LIRA

33
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

COMUNISTA SEM colombiano Gabriel García Márquez é uma


leitura que ele recupera aos 36 anos de idade
ESTEREÓTIPOS e, agora, candidato ao governo de Goiás pelo
Partido Comunista Brasileiro (PCB). “Acho que
Candidato do Partido Comunista Brasileiro, essa obra tem muito a nos ensinar. Eu me
o professor paulista Marcelo Lira luta muay identifico bastante não só o com o autor e sua
thai para combater o stress, adora cozinhar e trajetória e opções políticas, como também
ainda não se acostumou com o calor goiano. com as histórias que escreve. Minha admiração
Mesmo sendo ateu, leva a mãe a missas por ele ocorre sob diversos ângulos.”
em Trindade a assiste as celebrações junto
com ela Marcelo Lira está em Goiás há 5 anos. Veio para
cá após ser aprovado em um concurso para
Na rede estendida na garagem, o professor professor do Instituto Federal Goiano (IFG). Antes,
paulista Marcelo Lira se deita confortavelmente lecionava no curso de Relações Internacionais
com um exemplar de Cem Anos de Solidão do campus de Marília da Universidade Estadual
nas mãos. O grande romance do escritor de São Paulo (UNESP). “Eu estou me adaptando

34
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

“Eu tenho procurado motivos que vão além das aparências mais
imediatas. “Vivemos uma sociedade doentia.
debater ideias e No Brasil, isso fica evidente quando temos 60
mil homicídios, milhares de suicídios por ano,
mostrar que há uma epidemia de depressão. As coisas não
alternativas possíveis podem estar no caminho certo. Temos que
pensar em uma alternativa, na possibilidade
ao poder meramente de novos modelos.”

econômico”
Candidato de um partido comunista, ele
muito bem aqui. As pessoas em Goiás têm um reconhece que experiências socialistas deram
contato pessoal mais próximo, de acolhimento errado no século passado, mas que esses
a quem vem de fora. Isso é bom porque você fracassos não devem impedir novas tentativas
se integra logo, mas também precisa abrir mão e até a correção de erros cometidos. “Minha
de um pouco de sua privacidade. O que eu mais contribuição, nesta eleição e para além dela, é
estranhei, na verdade, foi o calor”, admite. mostrar que precisamos continuar debatendo
isso. Não podemos achar que não tem jeito.” Ao
Há outra coisa, porém, que lhe tem causado perceber o avanço de radicalismos, ele reconhece
certa estranheza. “Nunca fui candidato a nada que se vê diante de uma série de sentimentos.
e percebo que uma campanha política tem “Quando vejo alguém com um discurso de ódio,
muita espetacularização. As pessoas trabalham tenho medo, susto e curiosidade. Por que essa
muito a imagem que vão apresentar ao público pessoa é assim?”
e falta sinceridade nesse processo. Isso, em
grande medida, é deseducador e estimula Em sua visão, o comunismo foi estigmatizado.
um sentimento egocêntrico muito forte para “Demonizaram o comunismo. Isso cria
os candidatos”, critica. “Eu tenho procurado um temor no inconsciente coletivo que é
debater ideias e mostrar que há alternativas complicado reverter. As pessoas desconhecem
possíveis ao poder meramente econômico”, que o comunismo deu valiosas contribuições
acrescenta, sem disfarçar certa timidez. De para a humanidade, na conquista de
fato, confirma, Marcelo Lira não é afeito a estar direitos, na cultura, na arte.” Alguma
sob holofotes. crença, candidato? “Acredito nas pessoas,
na humanidade.” Ele é ateu, mas é filho de
Com graduação em Ciências Sociais e uma mãe católica praticante. “Quando ela
Filosofia, Mestrado e Doutorado em Ciências vem me visitar, eu a levo para assistir missa
Sociais e pós-doutorado em História, Marcelo em Trindade. Eu assisto a missa junto com
busca uma visão mais ampla dos problemas ela. Não tenho problema algum com a fé
que debate, tentando encontrar razões e de ninguém.”

35
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

Com 3 irmãos enfermeiros, Marcelo, o único a onde morou, apesar de ele não ter essa marca
enveredar pelo campo das ciências humanas, em sua fala. Marcelo nasceu em Osasco, quase
anda em dúvidas se lhes dá um sobrinho ou não. na divisa com a capital paulista, e não possui o
“Sempre resisti à ideia de ter um filho. Como diz jeito interiorano de falar.
Machado de Assis, não queria ‘legar a miséria
deste mundo’ a ninguém. Mas acho que estou Com sua formação em Ciências Sociais, ele
mudando de ideia.” Por enquanto, se ocupa de consegue reconhecer e valorizar essas marcas
um casal de cachorros da raça Chow-Chow e culturais de identidade que unem as duas regiões.
de muitas, muitas plantas. Ao todo, no quintal “O grande mestre Antônio Cândido tem um livro,
de sua casa, são 14 vasos. “Tem uma praça aqui Os Parceiros do Rio Bonito, em que trata dessa
na frente de casa onde eu e alguns vizinhos já questão, mostrando o que une São Paulo, parte
plantamos várias árvores.” de Minas, norte do Paraná, Goiás, Mato Grosso.
É a cultura caipira, que não tem um significado
FAMÍLIA E HÁBITOS pejorativo, muito pelo contrário. Ele elogia esse
imaginário.” Marcelo vai pelo mesmo caminho e
Fala mansa e jeito despojado, Marcelo Lira revela gosta de se aprofundar em novas experiências, em
que sua família não é muito entusiasta desse novo novos lugares.
papel que acaba de assumir. “Eles não gostam
muito. Diria que é uma família neutra, nem “Desde que cheguei, tenho visitado várias
alinhada com a direita, nem com a esquerda.” Em partes de Goiás, para conhecer mesmo. Além
Goiás, o candidato do PCB conta apenas com a dos roteiros mais básicos, como Pirenópolis e
companhia da namorada Cássia, estudante de Cidade de Goiás, eu fui à Chapada dos Veadeiros
Biologia. Eles compartilham uma rotina tranquila e recentemente estive em Terra Ronca, nas
e caseira, já que Marcelo gosta de receber cavernas. Muito interessante lá”, elogia.
amigos e preparar pratos para curtir com os mais Passeios que faz de carro ou de moto. “Eu, na
chegados. “Eu gosto de cozinhar. Moro sozinho há verdade, gosto mesmo é de bicicleta. Em São
muito tempo. Tive que aprender.” Paulo, eu andava muito. Aqui em Goiânia é mais
complicado. Eu iria para o trabalho de bike, mas
Em Goiás, ele se surpreendeu pela onipresença acho perigoso por conta do trânsito e pela falta
de determinado ingrediente em nossa culinária. de estrutura para o ciclista.”
“Não sabia que o pequi ia em tantos pratos.”
O fruto do Cerrado não era uma novidade “Eu gosto de cozinhar.
para Marcelo quando ele chegou aqui. “Eu já
conhecia. No interior de São Paulo também
Moro sozinho há
tem e minha mãe preparava, mas não era tanto
muito tempo. Tive que
assim”, compara. O sotaque com o “r” puxado
também lhe era familiar do interior paulista, aprender.”

36
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

e João Guimarães Rosa. Cada um deles lhe diz


algo em determinado instante, sob uma visão
específica de mundo. Ele destaca, porém, outro
latino-americano. “Tenho muita admiração por
Pablo Neruda. É meu poeta preferido.” A música
A alternativa é pedalar, nos finais de semana, por também está entre suas preferências. “Gosto
parques e em avenidas mais vazias. O ciclismo, bastante de MPB, principalmente Chico Buarque
entretanto, não é sua única atividade física. e Caetano Veloso, além de Bossa Nova. Gosto do
Longe disso. O PCB tem um candidato lutador. Tom Jobim. Também aprecio Jacob do Bandolim
Em vários sentidos. “Eu faço muay thai há quatro e música argentina, como Astor Piazolla.”
anos. Antes, já havia feito judô e jiu-jitsu.” Para
ele, é uma forma de relaxamento e de conquista O neorrealismo italiano é uma escola de cinema
do equilíbrio. “Por meio das lutas, eu canalizo a que o candidato sempre recorre, lembrando o
minhas energias e evito ficar estressado.” Futebol quanto essa estética simbolizou um contraponto
e voleibol também integram seu cardápio de à ideologia fascista que levara a Itália à
práticas esportivas, mas elas não passam pelas guerra e à ruína. Ele aprecia ainda as obras do
modalidades ao ar livre. “Na natureza, prefiro cineasta norte-americano Stanley Kubrick, com
só passear.” destaque para o clássico Laranja Mecânica. “Ali
é mostrado até onde pode ir a banalização da
UM LIVRO violência. Há uma espetacularização de atos
SEMPRE À MÃO bárbaros. Infelizmente, o filme nos remete
à nossa realidade.” Como escreveu Anthony
Marcelo Lira devora livros e não se intimida em ler Burgess, autor do livro que origina o filme: “a
mais de um ao mesmo tempo, mesmo que sejam virtude vem de nós mesmos”.
obras densas. É o caso de agora. No momento em
que percorre a saga da família Buendía do épico
Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, FICHA
ele também mergulha em um dos romances mais Cidade natal: Osasco (SP)
bem construídos da história, o clássico Os Irmãos Idade: 36 anos
Karamazov, de Fiódor Dostoiévski. “Já era para eu Livros: Cem Anos de Solidão
ter lido esse livro antes, porque adoro literatura Filme: Laranja Mecânica
russa, o próprio Dostoiévski e Tolstói. Gosto Prato: Vários pratos preparados por ele
ainda da literatura alemã, francesa e a brasileira mesmo
também, claro.” Times do coração: São Paulo

Na mesa de cabeceira, nomes de peso, como


Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade

37
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

HISTÓRIA 6

WESLEI
GARCIA

38
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

SOCIALISTA, torce para o Flamengo. Pronto! Tudo resolvido!


Ele vai dar um jeito. “Se o Flamengo ganhar
CRISTÃO E BOM amanhã, eu te atendo em qualquer horário
DE GARFO que você quiser”, responde ele, entre risadas.
O bom-humor é uma de suas marcas, assim
Candidato do PSOL ao Governo de Goiás, Weslei como a paixão pelo time carioca. “Se eu for
Garcia alia sua posição socialista de esquerda governador, vou transformar o Serra Dourada
com a fé cristã, torce fanaticamente pelo na casa do Flamengo. O que acha? Ganhei seu
Flamengo, combate manifestações racistas de voto?”
que sua família é alvo e avisa: “se existe alguma
comida que eu não goste, eu não conheço”. Brincadeiras à parte, Weslei Garcia, que é
pedagogo com especialização em Alfabetização
Tente agendar uma entrevista com o professor e Educação no Ensino Superior, leva muito
Weslei Garcia, candidato ao Governo de Goiás a sério as duas atividades a que se dedica:
pelo PSOL. Se a agenda dele estiver lotada e for lecionar e fazer política. Aliás, as duas ações
difícil encontrar um horário disponível, diga que sempre caminharam juntas em sua vida. “Eu

39
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

que minhas falas estão mais propositivas que


“Se eu for governador, antes. Depois do golpe contra a presidente
Dilma Rousseff, o PSOL também ganhou outro
vou transformar o
lugar de fala, sendo mais ouvido e exercendo
Serra Dourada na um papel mais importante. Isso conta”, avalia.
Ele também comemora o fato de obter mais
casa do Flamengo. O espaços agora do que em 2014. “Os veículos

que acha? Ganhei seu de comunicação estão nos procurando mais e


estamos participando dos debates.”
voto?”
Em sua opinião, essa visibilidade é importante
nasci em Taguatinga, no Distrito Federal, mas para distensionar o ambiente político atual.
na adolescência fui morar em Catalão. Lá, “Procuro ser respeitoso com quem diverge
ainda como secundarista, comecei a participar de mim, mas também busco esclarecer as
de protestos contra o então prefeito. Depois, pessoas sobre nossas ideias. Muitas pessoas
em 1998, minha família se mudou para Riacho votam na direita por desconhecerem o que
Fundo, também em Brasília, onde entrei no realmente a esquerda propõe.” Weslei não
movimento estudantil.” esconde sua admiração pelos ex-presidentes
Lula e Dilma, apesar de reconhecer erros por
Uma das bandeiras era a manutenção do parte deles. “O PT, em muitos momentos, traiu
magistério, que estava sob ataque naquele a classe trabalhadora, mas não podemos
momento. “Foi um tempo em que tive maior negar os avanços que proporcionou, sobretudo
aproximação com o PT, que em Brasília era para os mais pobres.”
muito forte.” Apesar de nunca ter se filiado ao
Partido dos Trabalhadores, ele era ligado a FAMÍLIA
uma ala da legenda, a Força Socialista. Foi
por meio dela que ingressou no movimento Weslei Garcia nasceu no seio de uma família
sindical e depois na Ação Popular Socialista. mais conservadora, mas isso nunca chegou
“Quando houve a expulsão de membros do PT, a ser um problema. “Meus parentes aceitam
em 2003, eu acabei me aliando a esse pessoal, minha posição política. Mesmo meu pai, que
que originou o PSOL.” Em 2014, Weslei se lançou sempre foi um eleitor da direita, pouco antes
pela primeira vez candidato ao governo. de morrer compreendeu minha posição.” Já a
mãe Márcia, também professora e que morreu
Ele avalia que o intervalo de dois anos entre com apenas 51 anos de idade há menos de
uma candidatura e outra lhe trouxe um pouco 3 anos, foi uma mulher de luta. “Acho que
mais de serenidade. “Estou mais ponderado e tomei esse meu caminho por influência
maduro, mas sem perder a essência. Acredito dela. Minha mãe defendia as causas da

40
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

educação.” Ela o apoiava em suas escolhas


“Há quem ache que
e nos mergulhos que dava na realidade dos
mais pobres. elas vivem naquela

“Pouca coisa me deixa chateado, mas se tem algo


situação porque
que me entristece é ver as pessoas morando em querem e gostam?”
barracas de lona, sem nenhum tipo de estrutura,
em acampamentos e assentamentos, por exemplo. E eu rebati: minha esposa tem a boca grande,
Você ver as crianças com a infância maculada, o nariz grande, o cabelo crespo e é exatamente
sem escola, sendo assediadas diariamente. Daí por isso e por muito mais que eu me apaixonei
penso em minha filha, que tem os confortos por ela.” É um exercício diário de resistência
que podemos dar a ela. E são crianças iguais à aos estereótipos e preconceitos, que passa por
minha filha.” Ele trabalha com movimentos que situações inusitadas, como defender o direito
apoiam essas pessoas e lamenta como elas são de sua filha de não querer alisar o cabelo.
vistas por parte da sociedade. “Há quem ache
que elas vivem naquela situação porque querem Weslei tem outra preocupação. “Valparaíso,
e gostam?”, pergunta. cidade onde eu moro, é muito violenta. E todos
os dias rezo para que nada aconteça com minha
Weslei é casado com Claudete Sousa Garcia, família”, admite. Sua filha Sofia é consciente
também professora e candidata a deputada federal do papel que o seu pai pode desempenhar.
pelo PSOL. O casal tem uma filha, Sofia, de 7 anos. “Meu pai vai ser eleito para mudar isso”, ela
Com eles também mora Junior, um rapaz de 17 diz. Enquanto não consegue cumprir essa
anos, filho de Claudete. “É meu enteado, mas é expectativa, Weslei tem em casa a referência
meu filho”, diz o candidato. Claudete é negra, assim para algumas soluções. “Minha filha faz balé há
como Júnior e Sofia, e Weslei lida o tempo todo com 3 anos e isso a fez ficar disciplinada, organizada,
situações de discriminação que atingem sua família. mas com pensamento autônomo. Não precisa
“Uma vez, pararam o Júnior com alguns amigos em militarizar escola. Precisa dar opções culturais
uma blitz e os policiais mandaram que os meninos e profissionalizantes para os alunos.”
brancos fossem embora e revistaram apenas os
negros”, conta. RUBRO-NEGRO,
GRAÇAS A DEUS
“Uma vez, uma aluna minha, ao ver a Claudete
e perceber que era minha esposa, comentou: O Flamengo é a paixão de Weslei Garcia – apesar
‘sua mulher é moreninha’. Eu a corrigi: não, de também torcer para o Crac, de Catalão, onde
ela é negra. A aluna disse que não havia dito chegou a jogar nas divisões de base. Mas o
que ela era negra, que não a ofendera, como manto sagrado da Gávea divide espaço em seu
se chamar uma pessoa de negra fosse ofensa. coração. “Como você pode perceber pela minha

41
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

“Como você pode também é um leitor assíduo do educador


ucraniano Anton Makarenko, autor do livro O
perceber pela minha Poema Pedagógico. Nele, há a defesa de um
aprendizado por meio de grupos, sobretudo para
forma física, eu gosto
menores infratores. “Estou fazendo um mestrado
de comer. Chegar em que estudo o modelo das escolas militares.
Percebo que a saída é a escola integral, por
a essa forma que meio das vivências das pessoas. É o que Paulo
Freire defendia. Uma democracia direta entre
eu tenho não é algo
os estudantes, dando responsabilidades a cada
fácil, não” um deles.”

forma física, eu gosto de comer. Chegar a essa Fã do ator norte-americano Denzel Washington,
forma que eu tenho não é algo fácil, não”, os gostos cinematográficos de Weslei Garcia vão
provoca o candidato com sobrepeso. “Eu como do biográfico O Jovem Karl Marx ao comovente A
de tudo. Deve haver alguma coisa que eu não Vida É Bela, de Roberto Benigni. “A forma como
gosto de comer, mas se existe, eu não conheço. o personagem principal protege seu filho dos
Adoro massa e sou carnívoro e isso tem me horrores do fascismo, mesmo já em um campo
causado problemas com a ala de defesa dos de concentração, é muito linda”, comenta.
animais do partido”, brinca. Sorriso sempre estampado no rosto, o candidato
do PSOL leva na brincadeira as provocações de
Outra curiosidade é que Weslei, mesmo com sua seus correligionários. “Você veja, vou ter que
ideologia bem à esquerda, é um cristão devoto. levar esse pessoal para o comitê de ética do
“Faço parte da Igreja Vida de Excelência, uma partido.” Principalmente os vascaínos, não é,
denominação cristã renovada. Pode parecer rubro-negro?
contraditório que eu esteja em um partido de
esquerda e seja cristão evangélico, mas na FICHA
verdade não é”, argumenta. “A igreja também Cidade natal: Taguatinga (DF)
pode ser um instrumento de transformação Idade: 35 anos
da sociedade por meio do povo. Jesus era um Livros: O Poema Pedagógico (Anton
transformador junto ao povo”. O candidato Makarenko)
mostra-se, porém, ecumênico. “Também admiro Filme: A Vida é Bela
muito Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Prato: Massas e carnes
Gandhi pelos exemplos que foram.” Times do coração: Flamengo, claro!

Entre seus livros preferidos está Veias Abertas


da América Latina, de Eduardo Galeano, mas

42
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

CONCLUSÃO
A entrevista é a alma do jornalismo. E é por
isso que o repórter do POPULAR, Rogério
Borges, abraçou a pauta e foi atrás das fon-
tes para descobrir a vida por trás da política
de Ronaldo Caiado, José Eliton, Daniel Vilela,
Kátia Maria, Marcelo Lira e Wesley Garcia, os
seis candidatos ao Governo de Goiás no ano
de 2018.

Um trabalho minucioso, rico em detalhes e cu-


riosidades, para entregar a você uma narrativa
agradável e de qualidade.

43
COMPARTILHE ESTE EBOOK!

SOBRE
ROGÉRIO
BORGES
Jornalista graduado em Comunicação
Social com habilitação em Jornalismo pela
Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia
da Universidade Federal de Goiás (UFG)
(1998), instituição pela qual também é
mestre em Estudos Literários e Linguística
pela Faculdade de Letras. É Doutor em
Comunicação e Sociedade pelo Programa de
Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação
da Universidade de Brasília (FAC-UnB) (2011)
com tese sobre Jornalismo Literário. Trabalha
há 20 anos como repórter, sobretudo na
área cultural, com ênfase da cobertura de
literatura. Atua ainda como professor em
cursos de Jornalismo, lecionando atualmente
na Pontifícia Universidade Católica de Goiás
(PUC Goiás). É autor dos livros Caminhos da
Reportagem: O Jornalismo e seus Bastidores,
com os colegas Deire Assis e Vinicius Sassine,
e Jornalismo Literário: Teoria e Análise.
É um dos fundadores e atual editor-executivo
do site Ermira Cultura (ermiracultura.com.br),
especializado em Jornalismo Cultural.

44
E-book produzido por:

O jornal O POPULAR está entre os veículos de comunicação mais tradicionais e influentes


de Goiás. Com mídia impressa e digital, no POPULAR você encontra as principais notícias
da região Centro-oeste, Brasil e Mundo!

Conheça nossas redes sociais:


Site | Facebook | Instagram

Você também pode gostar