Você está na página 1de 4

\

I
t

AMBIVALf::NCIA, o ADOLESCENTE, A GRAFOLOGIA E O


PSICODIAGNÓSTICO MIOCINÉTICO

AGOSTINHO MINICUCCI

Vimos observando em nossas "Em psiquiatria significa: co-


pesquisas em adolescentes, em o exisjtência de tendências contra-
nosso mister de orientador educa- postas e equipotentes . Devido a
cional no Insltituto de Educação isso existe uma desorganizaçã<o da
"Cardoso de Almeida", da cidade condu!ta e uma perda da síntese
de Botucatu, através do P. M. K, ddeoafetiva. Bleuler a considera
o grande número de casos revela- como um dos sintomas primários
dores de falta de coerência perso- das esquizofrenias".
nal nos cinetogramas dos jovens Bl:euler, em seu Manual de Psi-
ginasianos, principalmente em se quiatria diz que estas acentuações
tratando dos !ineogramas. são mais freqüentes e particular-
Outrossim, êsse característico mente enérgicas na apresentação
coincide, na maioria das vêzes, com de pessoas que se odeiam e simul-
o sinal de ambivalência, na análise tâneamente se apreciam, e isto
da escrita. Sôbre essa coincidência mais ainda quando entra em jôgo
e o valor do estudo associado da a sexualidade (o grifo é nosso) na
Grafologia e o Miocinético no es- qual já há de per si um fator posi-
tudo da personalidade do adoles- tivo potente e outro negativo de
cente, é que queremos tecer alguns igual potência; o último encerra
comentários, fruto de nossas ob- entre si outros fatôres, o pudor: e
servações, bem ,como, o trato diário tôdas as inibições sexuais ·como pe-
e diuturno com o estudante de nos- cado e o aprêço da castidade como
so curso secundário. virtude sublime.
Deu Max púlver nova orienta- Adiante continua: "Os 'Clom-
ção à Grafologia, em Symbolik der plexos ambivalentes têm, sobretu-
Handschrif1t, em lhe dedicando um do, influência na patologia (e mui-
capítulo ao estudo da ambivalên- tos fenômenos da psiquê normal,
cia. Torna-se êsse estudo de impor- sonho, poesia, etc. - ainda o grifo
tância fundamental ao orientador é nosso).
de adolescentes, por ser êsse um Na esquizofrenia se manifes-
estado personal comum no jovem. tam com tôda a clareza; observa-
Béla Székely classifica como mos, com freqüência, diretamente,
ambivalência "a existência de emo- acentuações ambivalentes do sen-
ções contraditórias na mesma pes- timento; igualmente se escondem
soa, ou o sentimento com posto de na neurose, atrás dêstes sinltomas".
ódio e amor que inspiram a um Sabe-se que no adolescente há
menino o pai, a mãe, o mestre o aparecimento da sexualidade
(ambivalência emocionaL .. )". propriamente dita, com todos os
12 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA
------------------
seus problemas, que t.anto ? preo- 9) No traço filiforme combina-
cupam, bem como, os fenomenos do com o ângulo;
da psiquê normal, o sonho, a poesia 10) Na escritura inarmônica que
e leves sinais de personalidade es- dá a impressão de ter sido
quizóide que não podem ser leva- escrita por diversos autores;
dos à conta de esquizofrenia. 11) No chamado arco-duplo.
Esses característicos da perso-
nalidade do adolescente deixam-se Particularmente a ambivalên-
entrever através da falta de coerên- cia do ltipo A (sexual) pode ser des-
cia personal no P. M. K. e através coberta, por intermédio dos seguin-
de numerosos sinais gráficos. tes sinais:
Max Púlver apresenta três ti-
pos de ambivalência: 1) Oscilação na zona inferior;
2) Forma de enlace mesclada;
A - ambivalência debaixo do
aspeclto sexual; 3) Arco duplo;
4) Prolongações inferiores am:-
B - ambivalência, decorrente pIas.
de degenerações patológi-
cas na d i v i são do ser, A ambivalência do tipo A se en-
como ocorre na divisão do contra na ambigüidade da situa-
ser, nas neuroses e no es- ção de Édipo, e é ativo e passivo
tado final das esquizofre- ao mesmo tempo, não sabe decidir
nlas; entre o pai e a mãe.
Seus componentes hetero e ho-
c- ambivalência antropoló- mossexual se enco!litram juntos in-
gica-existencial, no pro- diferenciados. Em sua imperfeição
piem a religioso-espiritual primordial bissexual leva uma ori-
entação dupla e em si contradi-
Grafologicamente, a ambiva- tória.
lência pode ser observada, de um O adolescente ,com êsses sinais
modo geral : gráficos (e os temos em nosso ar-
quivo) apresenta um Complexo de
1) Nas oscilações de posição; Édipo ainda não vencido, com si-
2) Nas oscilações da altura "i", nais de ambivalência.
porque se subtrai ao auto- A ambivalência do tipo B se ca-
contrôle; (a zona "i" refe- racteriza, na grafia por :
re-se ao consciente)
3) Nas oscilações na zona in- 1) A posição oscilante, extre-
ferior; mamentecaprichosa;
4) No chamado dente de tu- 2) Traço filiforme interior;
barão; 3) Transição repentina.
5) Idem Sacré-Coeur;
6) Nas ruturas das ligações; Revela a ambivalência artísti-
ca, as contradições nas posições
7) No traço de pressão cres- psíquicas, tendência à divisão psí-
cente; quica, à indecisão, à dúvida de si
8) Na forma misturada de en- próprio.
laçe; São os traços que tão bem ca-
A:\IBIVALÊNCIA, o ADO!cES8ENTE 13
----------~------------
\
racterizam O artista e apresentam Em nosso Serviço começamos
o jovem dificilmente educável, a pela aplicação do Psicodiagnóstico f
in quietude criadora, a viveza da Miocionético para depois passar à !
vIda, O dialético engenhoso, o pe- análise grafológica, segundo a téc-
riodista desejoso de coisas novas. nica do Dr. Max Púlver. t
São dêsse tipo as letras de Bee-
thoven e GÕethe.
A ambivalência do ltipo C se
caracieriza por :
No aluno I. C., de 18 anos, do
curso ginasial dêste Instituto, a
par de uma escrita pastosa, encon-
I
tramos grandes oscilações de posi-
1) altura "i" rígida; ção na altura "i"; forma mistura-
da de enlace (guirlanda, arcada,
2) amplitude simultânea na ângulos); escrita inarmônica; ro-
zona superior ,e inferior; tura das ligações e oscilações na
3) pressão estancada; zona inferior.
4) prolongações com ro turas; No miocinético, além de acen-
5) traços finais levantados (si- tuada discrepância nos desvios, as- t
nal de religiosidade); sinalamos ainda a reversão nos
ângulos do zigue-zague, bem como,
I
6) formas apunhaladas.
A ambivalência espiritual-reli-
a asa do moinho nas paralelas ego-
cí petas da mão direita. I
giosa apresen!ta um sentimento de-
fidente de base da vida, a dúvida
Não temos ainda um número
de casos suficientemente grande
I
que se transforma em desespera-
ção. Tudo se torna duvidoso, não
para conclusões com base estatís-
tica, porém a técnica em aprêço I
só o homem em seu valor, resistên-
cia como o próprio Deus se lhe
apresenta sob êsse aspecto.
tem-nos auxiliado muitíssimo na
compreensão de muitos de nossos
orientandos. I
,

BIBLIOGRAFIA I!
1) Mira y López - E. - Le Psichodiagnostic Myokinetique - Paris - 1951

I
2) Coronel, César G. - EI Psicodiagnóstico Miokinético - Buenos Aires - 1950
3) Székely, Bela - Dicionario Enciclopédico de la Psiquê - Buenos Aires - 1950
4) Púlver, Max - EJ simbolismo de la escritura - Madri - 1953
5) Marchesan, Marco - Tratado de Grafopsicología - Milão - 1950
6) Marchesan, Marco - Revista di Psicologia della Scrittura - Milão - Ano II - f
n.o 1 - 1916

SUMMARY

AMBIVALENCE, ADOLESCENCE, GRAPHOLOGY AND THE P. M. K.

In this article, the Author states that a lack 01 personal consistency ia shown in
a large number 01 P. M. K.'s 01 high-school adolescents. He also lounã out that this
I
characteristics usually coinciãe! with signs 01 ambivalence in hanãWTiting analysÍ8.
The technique 01 the stuày incluãeã: lirst, aãministration anã interpretation 01
the P. M. K.; seconã, hanãwriting analysis.
The Author linally points out that the ãata obtaineã up to now are not sullicient
lor him to ãraw any valiã general conclusion. However, this technique has been shown
to be highly uselul in psychoãiagno!tics anã counseling.
14 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

RESUM~

AMBIVALENCE, ADOLESCENCE, GRAPHOLOGIE ET DIAGNOSTIC MIOCINltTIQUE

Dans cet articZe l'auteur signale un manque de consistence (cohérence personnelle}


dans un grand nombre de PMK obtenu sur des étudiants de lycée. II signale également
que ce fait coincide avec l'existence rães signes d'ambivalence dans leur écriture.
La technique de cette recherche consista de l'application et de l'interpretation du
PMK, suivie de l'analyse graphologique.
L'auteur considere ces constatations comme de nature provisoire et pas suffisantes
pour établir des conclusions générales, quoique dans chaque cas cette technique a donné
des renseignements tres utiles pour le psychodiagnostic et le conseillement des éleves.

Você também pode gostar