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Apresento esta contribuição sobre a discussão

envolvendo apreensão de ciclomotores por falta de


emplacamento. Ciclomotores, popularmente chamado de
cinquentinhas, são definidos pelo Código de Trânsito
Brasileiro como veículo de duas ou três rodas, provido de
um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda
a cinqüenta centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e
cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a
cinqüenta quilômetros por hora.
Devido esta limitação de velocidade, o Código de
Trânsito preocupado com a segurança do usuário deste tipo
de veículo, proíbe a circulação de ciclomotores, mesmo
emplacados, em vias de trânsito rápido e em rodovias,
vejamos o que diz o art 57: “Os ciclomotores devem ser
conduzidos pela direita da pista de rolamento,
preferencialmente no centro da faixa mais á direita ou no
bordo direita da pista sempre que não houver acostamento
ou faixa própria a eles destinada, PROIBIDA a sua
circulação em vias de trânsito rápido e sobre as calcadas
das vias urbanas” (CTB, art. 57).
Antes de falar sobre as apreensões de ciclomotores
por falta de placas, informo que no ano de 2012, o
Esquadrão de Motociclistas Águia, unidade da PMBA
especializada em legislação de trânsito urbano, removeu ao
Pátio da Transalvador e/ou Detran 5437 motocicletas por
motivos diversos, numa média mensal de mais de 450
motocicletas apreendidas, sendo que aproximadamente
1080 foram de ciclomotores, e destas, 90% dos condutores
não possuíam Carteira Nacional de Habilitação (CNH)
categoria A ou Autorização para Conduzir ciclomotores
(ACC). Como a necessidade da CNH ou ACC para o
condutor do ciclomotor não é objeto de questionamentos e
a realidade do interior do Estado é pior em relação aos
condutores inabilitados, basta a fiscalização focando a
cobrança da CNH ou ACC, para retirar quase todos os
ciclomotores de circulação, sem entrar na celeuma da
presença da placa de identificação do veículo.
Vale lembrar o que diz o Art 162, I e III, do Código de
Transito Brasileiro, que dirigir veículo sem possuir CNH ou
Permissão para Dirigir e com CNH ou Permissão para Dirigir
de categoria diferente da do veículo que esteja conduzindo,
é definida como infração gravíssima, com penalidade de
recolhimento da CNH, se for categoria diferente, multa e
apreensão imediata do veículo, não sendo facultado a
apresentação de outro condutor habilitado para liberar o
veículo no local da operação de fiscalização, mais conhecida
como “Blitz”.
Saliento que o Detran - Bahia já credenciou várias
auto escolas para emitir a Autorização para Conduzir
Ciclomotores (ACC), porém como os procedimentos e os
custos para retirar a ACC são os mesmos para retirar a
CNH, categoria A, todos os interessados estão optando por
retirar a CNH, já que possibilita o interessado a pilotar
motocicletas e também os ciclomotores.
Em relação ao uso do capacete por condutores de
ciclomotores, isto também não existe nenhuma duvida já
que o art 54, do CTB é de clareza solar quando diz que
nenhum condutor de ciclomotor deve circular em vias sem
o capacete de segurança (com selo do Inmetro) com viseira
ou óculos de proteção, sendo a sua inobservância
enquadrada no Art. 244 I e II, como infração gravíssima,
com penalidade de multa e suspensão do direito de dirigir
com medida administrativa o recolhimento da CNH. Em
relação ao uso de capacete, informo a publicação e vigência
da nova Resolução n 453, de 26/09/2013, do Contran, que
disciplina o uso de capacete para condutor e passageiro de
motocicletas, motonetas, ciclomotores, triciclos
motorizados e quadriciclos motorizados. É importante todos
os policiais tomarem conhecimento desta resolução.
Falando agora sobre emplacamento destes
ciclomotores, o Art. 120 do CTB, diz que todo veículo
automotor, elétrico, articulado, reboque ou semi-reboque,
deve ser registrado perante o órgão executivo de trânsito
do Estado no município de domicílio ou residência de seu
proprietário. O Art. 130 reza a mesma situação legal,
obrigado o licenciamento de todos os veículos.
Em relação ao registro e emplacamento dos
ciclomotores especificadamente, o Art 129 do CTB diz: "O
registro e o licenciamento dos veículos de propulsão
humana, dos ciclomotores e dos veículos de tração animal
obedecerão à regulamentação estabelecida em legislação
municipal do domicílio ou residência de seus
proprietários", desta forma, cabe a cada Prefeitura
Municipal realizar esta tarefa. Na cidade de Salvador, a
Prefeitura Municipal no mês de maio de 2012, através de
Legislação própria delegou esta competência para o Detran,
que de imediato passou a realizar o Registro e
licenciamento do referido veículo usando como base a Lei
Estadual de Licenciamento.

Houve grande pressão dos revendedores destes


ciclomotores que viram despencar suas vendas, e
aproveitando que o DETRAN-Ba passou a cobrar o
retroativo á data de aquisição do ciclomotor, o Ministério
Público recomendou que o DETRAN-Ba não mais
emplacasse os ciclomotores, recomendando que a Polícia
Militar não apreendesse os ciclomotores por FALTA DE
PLACA, não entrando no mérito sobre a cobrança dos
equipamentos obrigatórios e CNH ou ACC.

Quando surgiu esta RECOMENDAÇÃO do Ministério


Público Estadual, fui designado pelo Comando da
Corporação para emitir um parecer sobre o assunto, a fim
de subsidiar a PMBA na resposta ao Ministério Público. Após
reunião com os oficiais especialistas em legislação de
trânsito, foi feito um documento assessorando o Comando
Geral explicando, detalhadamente, sobre a inviabilidade da
RECOMENDAÇÃO do Ministério Público, haja vista que
questões tributárias sobre emplacamento dos ciclomotores,
não deveria se sobrepor ao interesse maior da Segurança
Pública, direito de todo cidadão, haja vista que os
ciclomotores estavam (e continuam) transitando sem placa,
sendo usados para ações criminosas do tipo tráfico de
drogas, homicídios, saidinha bancária, roubos diversos etc.,
ajudados pela dificuldade de identificação dos ciclomotores
e condutores e garupeiros pelas ausências de placas de
identificação e usos dos capacetes.
Depois deste documento, fui designado pelo Comando
Geral para participar das reuniões que estavam
acontecendo no Ministério Público para tratar deste tema.
Já na primeira reunião com a senhora Drª Rita Tourinho,
Promotora Pública do GEPAM, foi mostrado a essa
autoridade as estatísticas que associavam os crimes
praticados com ciclomotores facilitados pela dificuldade de
identificação pela ausência de placas e os números dos
acidentes de trânsito envolvendo ciclomotores e condutores
inabilitados, além da influência negativa que aquela
RECOMENDAÇÃO estava contribuindo para estas
estatísticas negativas, sendo esta RECOMENDAÇÃO exposta
nas lojas de venda de Ciclomotores, foi imediatamente
REVOGADA pela própria senhora Drª Rita Tourinho..
Saliento que na última reunião realizada no Ministério
Público no dia 12/08/2013, ficou acordado por todos no
Termo de Audiência Simp n 003.0.177.939/2012, que a
PMBA deveria continuar fiscalizando a presença da placa,
além do uso do capacete, da CNH ou a ACC, autorizando o
DETRAN a fazer o emplacamento, dando um prazo ate o dia
30/12/2013, para a Prefeitura Municipal de Salvador,
através da Transalvador, resolver as questões tributárias
desta transferência definitiva do emplacamento destes
ciclomotores para o DETRAN - Bahia, por falta de estrutura
no município para fazer estes emplacamentos.
Após pesquisa na internet e viagens, verifiquei que em
quase todos os lugares, ciclomotores são emplacados,
justamente para facilitar a identificação do veículo e seu
condutor em caso de acidentes ou delitos praticados.
Vejamos alguns exemplos práticos da importância do
registro de um ciclomotor. Imaginem um condutor de um
carro parado em um engarrafamento, e um ciclomotor
arranca seu retrovisor na passagem, como ter seu bem
ressarcido se o ciclomotor foi embora sem placa? Você
testemunha um condutor de um ciclomotor cometendo um
crime, como exemplo, um homicídio ou um atropelo, como
responsabilizar o criminoso se não tem nenhum registro do
ciclomotor?
Particularmente, defendo que os DETRANS de todo
país, deveriam conjuntamente solicitar as autoridades
públicas e aos órgãos DENATRAN e CONTRAN, a mudança
do Art. 129 do CTB, tirando dos municípios a missão de
emplacar e registrar os ciclomotores por falta de estrutura,
prova pratica disto é que dos 5570 municípios atuais no
Brasil, apenas 1337 (24%) estão integrados ao Sistema
Nacional de Trânsito, e na Bahia dos 417 municípios,
apenas 40 municípios (menos de 10%), encontra-se com o
trânsito municipalizado. (Fonte: DENATRAN).
Para os municípios se integrarem ao Sistema Nacional
de Trânsito, exercendo plenamente suas competências,
precisam criar um órgão municipal executivo de trânsito
com estrutura para desenvolver atividades de engenharia
de tráfego, fiscalização de trânsito, educação de trânsito e
controle e análise de estatística. Conforme o porte do
município poderá ser reestruturada uma secretaria já
existente, criando uma divisão ou coordenação de trânsito,
um departamento, uma autarquia, de acordo com as
necessidades e interesse do prefeito.
Finalizo meu ponto de vista, lembrando que não
podemos esquecer que o foco principal destas discussões
deve ser a Segurança Pública da nossa sociedade e que
estes ciclomotores estão sendo usados sem placas de
identificação, para serviços de motoboy, mototaxistas e
cometimentos de vários crimes, sem seus autores serem
identificados.
Lembrando ainda, que cabe a Polícia Militar executar a
fiscalização da legislação de trânsito, e não tenho a menor
dúvida, que toda cidade ou bairro de Salvador que exista
uma fiscalização atuante no cumprimento das leis de
trânsito, acompanha uma redução em todos os índices de
avaliação da Segurança Pública, principalmente os que são
auditados pelo Programa Pacto pela Vida, como o Crime
Violento Letal e Intencional (CVLI) e o Crime Violento
contra o Patrimônio (CVP). O Esquadrão de Motociclistas
Águia, em apoio às demais Unidades da capital e interior
registram neste ano de 2013 até o mês de setembro,
15.226 motocicletas abordadas, sendo emitidas 4101
autuações de trânsito, com 447 CNHs recoclhidas e
apreensão de 3004 motocicletas, por vários desrespeitos ás
leis de trânsito.
Coloco-me a disposição para contribuir com ações e
projetos para um trânsito mais seguro na Bahia e no Brasil
ou dirimir quaisquer duvidas sobre este texto, através dos
e-mails esqd.mclaguia.cmd@pm.ba.gov.br ou
ricardo.passos@pm.ba.gov.br.

RICARDO PASSOS CONCEIÇÃO – Maj PM


Conselheiro Titular do CETRAN Bahia
Cmt do Esqd Mcl Águia

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