Você está na página 1de 13

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO AÇO

INOXIDÁVEL SUPER DUPLEX ASTM A 890 GRAU 6A.1

(2)
Marcelo Martins
(3)
Luiz Carlos Casteletti

Resumo.

O objetivo principal deste trabalho foi verificar a influência da temperatura de


tratamento térmico, na microestrutura e na energia absorvida no ensaio de impacto
Charpy, a temperatura ambiente e a temperatura criogênica de -46ºC, para o aço
inoxidável super duplex ASTM A890 Grau 6A.
O material foi primeiramente solubilizado a 1130ºC, seguido por resfriamento em
água e posteriormente foi mantido em temperaturas diferentes por duas horas, a
partir de 520ºC até 1180ºC, variando-se de 20ºC em 20ºC.
Foram realizados ensaios metalográficos através de microscopia eletrônica de
varredura, bem como microanálises com microssonda eletrônica, além de análises
quantitativas de fases por meio de contagens por rede de pontos.
Observou-se que a fase sigma começa a precipitar na microestrutura a partir de
720ºC e sua solubilização ocorreu a partir de 1060ºC. A presença desse
intermetálico, proporciona uma diminuição drástica da energia absorvida no ensaio
de impacto.
Esses materiais, no estado solubilizado, constituem sistemas termodinamicamente
metaestáveis e são muito sensíveis às variações de temperaturas.

Palavras-chave: sigma, super duplex e impacto.

(1)
12º CONAF – Congresso de Fundição, de 27 a 30 de Setembro de 2005 – São
Paulo – SP.

(2) Gerente Industrial da SULZER BRASIL S/A – DIVISÃO FUNDINOX e Professor do Centro
Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) – Divisão de Americana – SP.
(3) Professor Associado do Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronáutica e Automobilística
da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo - USP.
Introdução.

Os aços inoxidáveis duplex são ligas Fe-Cr-Ni-Mo, contendo até 0,30% em


peso de nitrogênio na forma atômica, com microestrutura composta por uma matriz
ferrítica e a fase austenítica precipitada na forma de ilhas.
A concentração volumétrica de cada fase é da ordem de 50% ± 5% e essas
proporções são obtidas através do balanceamento composicional dos elementos
químicos constituintes da liga, bem como da temperatura de tratamento térmico de
solubilização.
O efeito da composição química na microestrutura é controlado pelas
concentrações de elementos estabilizadores da fase ferrítica (Crequivalente) e da fase
austenítica (Niequivalente). As expressões matemáticas que descrevem a influência
dos elementos químicos no balanço microestrutural são descritas pelas equações 01
e 02 [1].

Creq.= (%) Cr + [(1,5).(%)Si] + [(1,4).(%)Mo] + (%)Nb – 4,99 (01)

Nieq. = (%)Ni + [30.(%)C] + [(0,5).(%)Mn] + {26[(%) N - 0,02]} + 2,77 (02)

Os aços inoxidáveis super duplex também possuem estrutura composta por


duas fases cristalinas, da mesma forma que os aços inox duplex, porém com
resistência equivalente à corrosão por pite (PRE) acima de 40, onde a maneira de
obtenção desse número é dada pela equação 03 [2].

PRE = %Cr + (3,3)%Mo + (16)%N (03)

Esses materiais são amplamente utilizados em aplicações marítimas,


principalmente no processo de extração de petróleo nas plataformas “offshore” fixas
ou flutuantes. Além da aplicação como parte estrutural dessas plataformas, eles
constituem os componentes fundidos tais como: bombas de injeção, bombas
“boosters” e bombas de incêndio.
Devido o processo de extração ser realizado em águas profundas – 1500
metros de lâmina d’água – e além disso, pelo fato do lençol petrolífero localizar-se a
aproximadamente 1200 metros abaixo do solo marinho, as bombas de injeção
trabalham, como o próprio nome já diz, injetando água salgada no subsolo marinho
com o objetivo de aumentar a pressão local e expulsar simultaneamente o gás e o
óleo contidos nessas regiões. Esse equipamento opera com uma pressão muito
alta, atingindo valores da ordem de 350 Bar, com água produzida, contendo íons da
família dos halogênios, dentre eles destaca-se os íons cloreto (Cl-), íons HS-, S-2,
além de gases dissolvidos, tais como oxigênio (O2) e gás carbônico (CO2), dentre
outros. As concentrações de íons cloreto chegam a atingir valores da ordem de
80000ppm, em temperaturas acima de 80ºC, constituindo uma condição de bombeio
muito agressiva.
O processo de fabricação desses componentes em aços inox super duplex,
conformação mecânica por meio de fundição, é muito complicado pelo fato de
apresentarem regiões com grande concentração de massa (até 10 polegadas de
espessura), onde o processo de resfriamento é relativamente lento, fazendo com
que haja de forma inevitável a precipitação de fase sigma, que fragiliza
demasiadamente o material.
A precipitação desse intermetálico pode ser minimizada, controlando-se a
composição química e a velocidade de resfriamento, durante o processo de
solidificação.
O efeito da presença de fase sigma na microestrutura é tão problemático, que
acima de 12% em volume, pode causar a fragmentação do componente fundido
durante a desmoldagem do mesmo, ou durante o processo de aquecimento no
tratamento térmico, visto que, esse intermetálico possui coeficiente de dilatação
linear diferente das outras fases presentes na microestrutura.
Esses materiais constituem sistemas termodinamicamente metaestáveis no
estado solubilizado e qualquer "input" de calor que eles recebem, faz com que
busquem uma condição energética mais estável, que é conseguida através da
precipitação de fases carbônicas e intermetálicas.
Outro fator complicador é adicionar a quantidade correta de nitrogênio, em
função dos outros elementos de liga, tais como Cr, Ni, Mo, Mn, etc, de tal forma que
esse elemento fique na forma atômica no metal líquido e não na forma molecular
(N2), e em solução sólida intersticial no metal sólido e não na forma combinada como
nitretos de cromo (Cr2N, ou CrN) e nitreto de ferro (Fe4N).
ANSON, D.R.; POMFRET, R.J. e HENDRY, A. [3], propuseram duas
equações para descreverem a solubilidade do nitrogênio em ligas de ferro no estado
líquido:
liga 1 − 322 m
j 1 m j
log(%) N T , P = log P N + − 1,182 − e N Fe
x (% j ) + r N Fe
x(% j ) 2 (04),
N2
2 2
T j =2 2 j =2 T ,P N2

onde o estado de referência é o ferro puro no estado líquido, e

( ) = 12 log P 1467,6 n
liga
log (%) N T , P N2
+ − 1,28 − e
Cr
x(%Cr − 20) + e
j
x% j (05),
N Fe 20 Cr N Fe 20 Cr
N2
T j =1, j ≠Cr T , PN 2

onde o estado de referência é a liga Fe20%Cr.

Segundo os mesmos autores, a solubilidade do nitrogênio varia à medida que


se adicionam elementos de liga no ferro puro. A partir de dados experimentais,
obtiveram os valores dos parâmetros de interação de primeira e segunda ordens,
que se encontram exibidos na Tabela 01.

Tabela 01: Parâmetros de interação obtidos a 1600oC e a uma faixa de temperaturas


entre 1550oC e 1650oC, usando-se ambos: ferro puro e uma liga de Fe-(20%)Cr
como estados de referências.

j j j

j
e
(Ferro puro r N
N
(Ferro puro eN (Liga Fe-20%Cr
como estado de como estado de como estado de
referência) referência) referência)
Cr a 1600º C 0,04523 0,000568 -0,02961
Ni a 1600º C 0,00895 0,00912
Mn a 1600º C -0,0248 -1,7x10-5 -0,0130
Mo a 1600º C -0,00985 -0,00015 -0,00776
C a 1600º C 0,119
Cr - (361,924/T)+0,148 (9,71/T)-0,0049 -(185,45/T)+0,0694
Ni (110,23/T)-0,0499 (86,569/T)-0,0371
Mn -(279,46/T)+0,1244 -(2,3463/T)+0,0011 -(155,68/T)+0,0701
Mo -(298,28/T)+0,1494 (21,507/T)-0,0115 (49,89/T)-0,0344
C (358,87/T)-0,0724

Com essas duas equações e os dados da Tabela 1 é possível calcular a


solubilidade do nitrogênio em ligas contendo Cr, Ni, Mo, Mn e até carbono. Isso
constitui uma importante ferramenta para prever a solubilidade do nitrogênio nos
aços inoxidáveis duplex e super duplex, variando-se os teores dos elementos
tabulados de acordo com as composições de interesse.

Material e Métodos.

O metal foi elaborado em forno de indução a vácuo, com freqüência de rede


(60 Hz) e potência máxima de 400KW.
A primeira etapa constituiu do projeto de fundição dos corpos de prova, de
25mm de diâmetro por 300mm de comprimento, em AUTOCAD 2000, equipado com
o software MECHANICAL DESKTOP, seguido da simulação do processo de
solidificação em um software específico denominado SOLSTAR.
A composição química do material foi obtida por meio de análise via
espectrometria de emissão óptica.
Os tratamentos térmicos de solubilização recomendados para estes materiais
foram realizados em um forno elétrico, com capacidade para atingir até 1300ºC.
O tratamento térmico de solubilização a 1130oC, foi realizado com o intuito de
obter-se a dissolução completa de todos os precipitados presentes na matriz ferrítica
e nas interfaces ferrita/austenita, formando-se uma solução sólida saturada.
Após o tratamento térmico de solubilização, seguido por resfriamento em
água, as amostras foram mantidas em diversos patamares de temperaturas, desde
520oC até 1180oC, variando-se de 20ºC em 20ºC, com a finalidade de verificar a
influência dessas temperaturas na dureza e na energia absorvida no ensaio de
impacto Charpy, a temperatura ambiente e a -46ºC.
Foi utilizado um microscópio eletrônico de varredura e as micrografias obtidas
por intermédio de elétrons secundários, foram tomadas de forma digital. Esse
equipamento dispunha de um detector EDS (Energy Dispersive Spectrometer) para
realização de microanálises.
Após tratamento térmico, as amostras foram submetidas a ensaios de dureza,
que tiveram como objetivo a verificação da influência das quantidades de fases
nessa propriedade do material.

Resultados e Discussões.
A composição química do material, obtida via espectrometria de emissão
óptica por amostragem sólida, é mostrada na Tabela 02.

Tabela 02: Valores relativos à análise química do material.


ELEMENTO Si(%) Nb(%) W(%) C(%) Mo(%) Al(%) Pb(%)
AMOSTRA 0,74 0,014 0,736 0,016 3,8 0,016 0,0018

N ORMA 1,00 NÃO 0,50 A 0,03 3,00 A NÃO NÃO


MÁX.
MÁX. ESPEC. 1,00 4,00 ESPEC. ESPEC.
ELEMENTO Cr(%) S(%) Co(%) Sn(%) Ni(%) P(%) V(%)
AMOSTRA 25,69 0,008 0,055 0,0069 7,18 0,027 0,049

N ORMA 24,00 0,03 NÃO NÃO 6,50 A 0,030 NÃO


26,00 MÁX. ESPEC. ESPEC 8,50 MÁX. ESPEC.
.
ELEMENTO Mn(%) Cu(%) Ti(%) N(%) Zr(%) Fe(%)
AMOSTRA 0,52 0,716 0,005 0,22 0,065 60,37

NORMA 1,00 0,50 A NÃO 0,20 A NÃO REST.


MÁX. 1,00 ESPEC. 0,30 ESPEC.

Como pode ser observado, todos os elementos químicos estão dentro dos
limites tolerados pela norma ASTM A890. O controle da composição química é de
extrema importância para proporcionar um balanço microestrutural adequado.
Por intermédio de microscopia eletrônica de varredura, utilizando-se elétrons
secundários e retro-espalhados, pôde-se examinar com maiores detalhes a
microestrutura do material em diversas condições de tratamento térmico, conforme
ilustrado nas figuras seguintes:

γ
γ

δ+σ

Figura 01: Amostra Tratada a 520oC. Figura 02: Amostra Tratada a 820o C.
Elétron Secundário. Elétron Secundário.
δ+σ
γ+σ γ

Figura 03: Amostra Tratada a 920oC. Figura 04: Amostra Tratada a 940o C.
Elétron Secundário. Elétron Secundário.

Figura 05: Amostra tratada a 1060ºC. Elétron secundário.

A amostra solubilizada a 1130oC, resfriada em água e tratada posteriormente a


520oC por duas horas, apresenta uma microestrutura composta apenas por duas
fases: a matriz ferrítica e a austenita precipitada na forma de “ilhas”, conforme
ilustrado na Figura 01. Não existem fases intermetálicas precipitadas nas interfaces
δ/γ e nem nos contornos de grãos da ferrita.
Para a amostra solubilizada a 1130oC e tratada a 820oC por 2H, verifica-se a
presença de austenita, fase sigma e ferrita dispersa entre a fase sigma. A ferrita é
de difícil identificação, porque nessa temperatura sua concentração volumétrica foi
muito pequena, cerca de 3,0%.
Para o caso da amostra tratada a 920oC, a fase sigma aparece bem delineada
e em relevo, pelo fato de ser mais dura que a austenita. Fica evidente, que nessa
temperatura, a precipitação dessa fase dá-se na forma de rede contínua. Essa
morfologia favorece a propagação de trincas nas interfaces entre as fases.
O tratamento a 940oC promoveu dois tipos de morfologias para a fase sigma:
uma alongada, em relevo e com contornos bem definidos e a outra rendilhada
englobando a ferrita delta, que forneceu cromo e molibdênio para sua precipitação.
Quando os aços inoxidáveis super duplex são expostos a temperaturas
inferiores as de solubilização, o equilíbrio termodinâmico meta estável é rompido e o
sistema (material) busca uma condição termodinâmica mais estável, através da
precipitação de fases intermetálicas, fases carbônicas e do desbalanceamento
microestrutural entre ferrita e austenita. Dentre essas fases intermetálicas destaca-
se a fase sigma, que é muito rica em cromo e molibdênio.
Análise por intermédio de microscopia eletrônica de varrredura, utilizando-se
elétrons retro-espalhados, da amostra tratada a 980oC, mostra as diferenças entre
as fases através das tonalidades de cinza (Figura 06).

Figura 06 Micrografia Eletrônica de Varredura utilizando-se elétrons retro-


espalhados da amostra tratada a 980oC.

Por outro lado, as microanálises através de microscopia eletrônica de


varredura, utilizando-se elétrons retro-espalhados e microssonda eletrônica
equipada com um detector tipo WDS, realizadas em amostras solubilizadas a
1130oC, seguidas de tratamentos a 520oC e 980oC, mostraram a existência de
apenas duas fases (ferrita e austenita) no material tratado a 520oC e três fases
(ferrita, austenita e fase sigma) na amostra tratada a 980oC, conforme mostrado nas
tabelas 02 e 03 respectivamente.

Tabela 02: Composições químicas das fases presentes na amostra tratada a 520oC.
FASE Cr (%) Ni (%) Mo (%) Mn (%) W (%) Cu (%)
γ 24,23±0,14 8,57±0,13 2,95±0,30 0,59±0,03 0,40±0,11 0,94±0,02
δ 27,38±0,28 5,53±0,13 4,78±0,28 0,54±0,05 0,75±0,03 0,76±0,04

Tabela 03: Composições químicas das fases presentes na amostra tratada a 980oC.
FASE Cr (%) Ni (%) Mo (%) Mn (%) W (%) Cu (%)
γ 25,66±0,14 8,02±0,13 2,83±0,48 0,61±0,04 0,52±0,07 0,83±0,06
δ 27,02±0,28 4,66±0,09 3,75±0,19 0,49±0,03 0,56±0,04 0,78±0,04
σ 30,44±0,40 4,63±0,10 8,55±0,34 0,52±0,04 1,23±0,17 0,31±0,04

Na amostra solubilizada a 1130oC e envelhecida a 520oC, verifica-se que os


elementos: cromo, molibdênio e tungstênio apresentam maiores concentrações na
fase ferrítica, pois são elementos estabilizadores dessa fase.
Contrariamente, elementos como: níquel, manganês e cobre aparecem em
maiores proporções na fase austenítica, pois estabilizam a mesma.
Como o tratamento térmico a 520oC por duas horas, não mudou as
proporções volumétricas entre as fases, isto é, a percentagem volumétrica de ferrita
permaneceu em 43% e a de austenita em 57%, o balanço geral da composição
química pode ser expresso conforme as expressões seguintes:

[(%Crγ ).(%γ ) + (%Crδ ).(%δ )] {[(24,23).(57)] + [(27,38).(43)]}


% Cr = %Cr =
100 100

% Cr = 25,58%

[(% Niγ ).(%γ ) + (% Niδ ).(%δ )] {[(8,57).(57)] + [(5,53).(43)]}


% Ni = % Ni =
100 100

% Ni = 7,26%

[(%Moγ ).(%γ ) + (% Moδ ).(%δ )] {[(2,95).(57)] + [(4,78).(43)]}


%Mo= % Mo =
100 100

% Mo = 3,74%

[(%Mnγ ).(%γ ) + (% Mnδ ).(%δ )] {[(0,59) x(57)] + [(0,54) x(43)]}


%Mn= % Mn =
100 100

% Mn = 0,569%

[(%Wγ ).(%γ ) + (%Wδ ).(%δ )] {[(0,40).(57)] + [(0,75).(43)]}


% W= %W=
100 100

% W = 0,551%

[(%Cuγ ).(%γ ) + (%Cu δ ).(%δ )] {[(0,94).(57)] + [(0,76).(43)]}


%Cu= % Cu =
100 100
% Cu = 0,863%

A tabela 04 mostra os valores das composições químicas, obtidas por


intermédio de espectrometria de emissão óptica e a obtida por meio de microanálise,
considerando-se as respectivas proporções das fases, somente para a amostra
envelhecida a 520oC.

Tabela 04: Comparação entre os principais elementos de liga, detectados por duas
técnicas diferentes na amostra tratada a 520°C.
MÉTODO/ELEMENTO Cr(%) Ni(%) Mo(%) Mn(%) W(%) Cu(%)
ESPECTROMETRIA 25,58 7,26 3,74 0,569 0,551 0,863
MICROANÁLISE 25,69 7,18 3,80 0,520 0,736 0,716

Pode-se constatar que os valores são bem próximos, exceto para os casos do
tungstênio e do cobre, que apresentaram diferenças maiores entre as duas técnicas.
A Figura 07, mostra o comportamento entre as proporções das fases
presentes e as diversas temperaturas de tratamentos térmicos.
Verifica-se que a fase sigma começa a precipitar a 720oC e aumenta sua
concentração abruptamente até 800oC, atingindo cerca de 45% em volume nessa
temperatura. O pico de concentração dessa fase ocorre próximo a 880oC, com
concentração volumétrica de 50%. Entre 880oC e 900oC a percentagem de fase
sigma reduz 10% em volume. De 900oC até 1000oC a concentração volumétrica de
fase sigma diminui suavemente e entre 1000oC e 1020oC a queda é acentuada.
A fase sigma começa a desaparecer da microestrutura do material, em
temperaturas de solubilização acima de 1060oC.

Austenita Ferrita Sigma

70
Concentração Volumétrica das Fases

60

50

40
(%)

30

20

10

0
500 600 700 800 900 1000 1100 1200

Temperatura de Tratamento Térmico (°C)

Figura 07: Proporções entre as fases presentes versus temperatura de tratamento


térmico.
A curva que mostra a variação na concentração volumétrica de ferrita, exibe
um comportamento inverso àquela que representa a concentração de fase sigma.
Quando a concentração da fase sigma aumenta, a concentração de ferrita diminui,
porque os elementos formadores da fase intermetálica (Cr e Mo) são rejeitados da
ferrita, onde possuem maior solubilidade. Isso provoca o empobrecimento desses
elementos na ferrita e a relação Crequiv/Niequiv diminui muito, favorecendo a
transformação para austenita secundária. Assim, a reação eutetóide: δ σ + γ2 é
desequilibrada para o lado direito.
Quando a temperatura de tratamento térmico aumenta a partir de 1000oC
para 1020oC, a concentração volumétrica de ferrita aumenta abruptamente de 5%
para 38%, e entre 1140oC e 1180oC a concentração de ferrita estabilizou-se em
torno de 46%.
A Figura 08 ilustra o comportamento da energia absorvida a temperatura
ambiente, em função da temperatura de tratamento térmico.
Observa-se que a energia absorvida no ensaio, começa a decrescer
abruptamente a partir de 540oC, atinge o valor de 20J a 640oC, permanece em
valores extremamente baixos (menores que 10J) até 1040oC e “salta” rapidamente
para o patamar de 200J a partir de 1060oC, e mantém-se em torno desse valor para
temperaturas maiores.
Em temperaturas de tratamento térmico acima de 1120oC, a energia
absorvida no ensaio de impacto a temperatura ambiente, diminui sutilmente devido
ao fato da concentração volumétrica de ferrita na microestrutura aumentar
discretamente, conforme pode ser visto na Figura 07.

250

200
ENERGIA ABSORVIDA (J)

150

100

50

0
500 600 700 800 900 1000 1100 1200
TEMPERATURA DE TRATAMENTO TÉRMICO (°C)

Figura 08: Valores da Energia Absorvida versus Temperatura de Tratamento


Térmico. Ensaios realizados a temperatura ambiente.
Um comportamento semelhante foi observado para os ensaios realizados a
temperatura criogênica de -46oC, onde a energia absorvida foi plotada em função da
temperatura de tratamento térmico, conforme pode ser visto na Figura 09.
Nota-se que os formatos das curvas são muito parecidos e que as
temperaturas onde as energias começam a diminuir e aumentar são praticamente as
mesmas. Também, o patamar de energias onde os valores são extremamente
baixos, coincide com o da curva obtida à temperatura ambiente.
As únicas diferenças entre os valores de energia, referentes aos ensaios
realizados à temperatura ambiente e a -46ºC, estão nos valores absolutos das
grandezas, onde a temperatura criogênica na qual foram realizados os ensaios
reduziu-os consideravelmente.
A escolha da temperatura criogênica de -46ºC não foi aleatória, pois ela é
tomada como padrão nos países nórdicos, principalmente na Noruega através da
norma NORSOK, que regulariza condições de ensaios e requisitos de qualidade
para fornecimento de componentes para plataformas "offshore" no mar do norte.

Ensaios Realizados a - 46C


120,0
Energia Absorvida (J)

100,0

80,0

60,0

40,0

20,0

0,0
500 600 700 800 900 1000 1100 1200
Temperatura de Tratamento Térmico (ºC)

Figura 09: Energia absorvida no ensaio de impacto (Charpy), versus temperatura de


tratamento térmico, para ensaios realizados a – 46oC.

Conclusões.

A temperatura de tratamento térmico de 520ºC não promoveu nenhuma


mudança microestrutural no material, isto é, as fases ferrítica e austenítica são as
únicas que constituem o material. Não há precipitação de intermetálicos nas
interfaces ferrita/austenita.
Para temperaturas de tratamento térmico acima de 720ºC e abaixo de 1060ºC
houve precipitação intensa de fase sigma, com diferentes morfologias. Acima da
temperatura de 1060ºC, toda fase sigma foi dissolvida e os elementos que a
constituíam foram colocados em solução sólida.
A fase sigma é rica em cromo (30,44%) e em molibdênio (8,55%), elementos
de extrema importância para proporcionar resistência à corrosão por pite.
As análises químicas feitas por intermédio de microssonda eletrônica e
espectrometria de emissão óptica, apresentaram valores bastante próximos exceto
para os elementos tungstênio e cobre.
A energia absorvida no ensaio de impacto Charpy, tanto a temperatura
ambiente quanto a -46ºC, é muito sensível à temperatura de tratamento térmico.
As formas das curvas de energia absorvida versus temperatura de tratamento
térmico são muito parecidas, tanto para os ensaios realizados à temperatura
ambiente quanto para os realizados a -46ºC.

Referências Bibliográficas.

[1] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1999). ASTM


A800/A800M – 91. Standards Practice for Steel Casting, Austenitic Alloy,
Estimating Ferrite Content Thereof. Annual book of ASTM standards. Easton.
V.01.02. Ferrous Castings; Ferroalloys. p. 458-463.
[2] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1999) ASTM
A890/A890M – 91. Standard Practice for Castings, Iron-Chromium-Nickel-
Molybdenum Corrosion Resistant, Duplex (Austenitic/ferritic) for General
Application. Annual book of ASTM standards. Easton. V.01.02. Ferrous
Castings; Ferroalloys. p. 556-569.
[3] ANSON, D. R.; POMFRET, R. J.; HENDRY, A. Prediction of the Solubility of
Nitrogen in Molten Duplex Stainless Steel, ISIJ International, Vol. 36, No. 7, p.
750 – 758, 1996.
[4] WAGNER, C.; Z. Electrochemie, vol. 65, p. 44 – 50, 1961. apud ANSON,
Solubility of Nitrogen in Molten Duplex Stainless Steel. ISIJ International, vol.
36, No. 7, pp.750 – 758.
[5] LUPIS,C.H.P. & ELLIOTT, J.F.; Acta Metallurgica, Vol.14, p.529, 1966, apud
ANSON, Solubility of Nitrogen in Molten Duplex Stainless Steel. ISIJ
International, vol. 36, No. 7, pp.750 – 758.
[6] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1999). ASTM
A800/A800M – 91. Standards Practice for Steel Casting, Austenitic Alloy,
Estimating Ferrite Content Thereof. Annual book of ASTM standards. Easton.
V.01.02. Ferrous Castings; Ferroalloys. p. 458-463.
[7] HARA, P.L.T.; Relatório de Estágio do Projeto de Integração Escola Empresa
Governo (PIEEG), realizado nas dependências da SULZER BRASIL S/A –
DIVISÃO FUNDINOX.
[8] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1991) ASTM D 1141 –
Standard Specification for Substitute Ocean Water, vol. 11.01, p.423-424.
Abstract.

The main objective of this work was to verify the heat treatment temperature in
the microstructure and at the absorbed energy on Charpy impact test at room
temperature and at cryogenic temperature (-46°C), for ASTM A 890 Grade 6A super
duplex stainless steel.
Firstly, the material was solution annealed at 1130°C and water quenched and
after that it was kept at different temperatures for two hours, from 520°C up to
1180°C in 20°C steps.
It was made metallographic tests using scanning electron microscopy, X-ray
microanalysis and quantitative microestrutural analysis by the grid point counting
method.
It could be observed the sigma phase started its precipitation in the
microstructure from 720°C and completely disappeared from the material' s
microstructure at temperatures above 1060°C. When this intermetalic is present in
the microstructure the energy absorbed on Charpy test drops abruptly.
These kinds of materials, super duplex stainless steels, at the solution
annealed condition become thermodynamically metastable systems and they are
very sensible at the temperature fluctuations.

Key-Words: Sigma, super duplex and impact.

Você também pode gostar