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1- DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA E GEOCRONOLOGIA

Isótopos radioativos são utilizados na datação radiométrica de minerais e rochas. Esta datação se
baseia na desintegração radioativa, que é o processo pelo qual o núcleo de um átomo sofre
transformação espontânea pela emissão de partículas e de energia radiante ocasionando:

mudança no número atômico - Z


mudança no número de nêutrons - N

Assim, o átomo de um elemento químico (PAI) se transforma no átomo de um outro elemento


químico (FILHO) através da emissão de partículas  (alfa), - (beta), + (pósitron), e
raios(gama), ou ainda pela captura de elétrons.

Decaimento beta (-):


Transformação de um nêutron em um próton + um elétron + um neutrino
Átomo # Atômico # Nêutrons # Massa
PAI Z N Z+N=A
FILHO Z+1 N-1 (Z+1)+(N-1)=A

87Rb - 87
37 ––>  + Sr38 +  + Q

Decaimento pósitron (+):


Transformação de um próton no núcleo em um nêutron + pósitron + um neutrino
Átomo # Atômico # Nêutrons # Massa
PAI Z N Z+N=A
FILHO Z-1 N+1 (Z-1)+(N+1)=A

18F ––> 18O + + +  + Q


9 8

Captura de elétrons:
Reação entre um elétron extra nuclear e um próton para formar um nêutron e um neutrino
Átomo # Atômico # Nêutrons # Massa
PAI Z N Z+N=A
FILHO Z-1 N+1 (Z-1)+(N+1)=A

125I - 125Te + + +  + Q
53 + e ––> 52
Decaimento alfa (42):
O núcleo do átomo emite uma partícula com dois prótons e dois nêutrons. Ocorre em átomos
com número atômico (Z) acima de 58. As exceções são 5He2, 5Li3 e 6Be4

Átomo # Atômico # Nêutrons # Massa


PAI Z N Z+N=A
FILHO Z-2 N-2 (Z-2)+(N-2)=A-4

147Sm 4 143Nd + Q
62 ––> 2 + 60

A taxa de decaimento de um nuclídeo instável PAI é proporcional ao número de átomos “P”


remanescente em um tempo “t”.

P  -(dP/dt)

A proporcionalidade é eliminada pela utilização de uma constante que é a constante de


decaimento radioativo (), e a equação pode ser escrita na forma:

P = - (dP/dt) ou

(dP/P) =  dt

Integrando de Po (número de átomos iniciais) até P (número de átomos remanescentes) e


resolvendo essa integral obtém-se a equação:

P = Po e-t

O número de átomos (PAI) inicial é desconhecido mas o número de átomos filho (F*) produzido
pelo decaimento do átomo pai é dada pela relação:

F* = Po - P

Substituindo Po na equação anterior tem-se:

F* = P (et - 1)
Esta equação permite o cálculo da idade de uma rocha ou mineral utilizando um sistema
isotópico envolvendo um átomo radioativo (PAI) e um radiogênico (FILHO). F* e P podem ser
medidos, e é uma constante determinada experimentalmente.

Para que um sistema isotópico possa ser utilizado na datação de uma rocha ou mineral é
necessário preencher os seguintes requisitos:
1) A constante de decaimento ( deve ser conhecida com razoável exatidão.
2) O mineral ou rocha se formou em um sistema geoquímico fechado, ou seja nem
átomos do elemento pai nem átomos do elemento filho foram adicionados e/ou retirados do
sistema desde o tempo t = 0 ( tempo de formação do mineral ou rocha que é o ponto inicial do
relógio radiométrico)
3) Não havia elemento filho no mineral ou rocha no tempo “t = 0”, ou a composição
isotópica inicial do elemento filho pode ser determinada com confiança e corrigida.

A Meia Vida (T1/2) é o tempo necessário para que a metade de um determinado número de um
rádionuclídeo radioativo decaia a metade de sua quantidade inicial. O valor da meia vida é
determinada por meio da seguinte relação:

P/Po = e-t t = T1/2 P = 1/2Po

½ Po = Po (e-)

ln (1/2) = -T1/2

ln 2 = T1/2

T1/2 = ln2/ 

T1/2 = 0,693 /  a-1


2 – OS MÉTODOS DE DATAÇÃO K-Ar e 40Ar/39Ar
2.1 – O MÉTODO K-Ar

Potássio – K (Z=19)
- metal alcalino do grupo 1A da tabela periódica.
- um dos oito elementos químicos mais abundantes da crosta Terra
- um dos principais constituintes de muitos minerais formadores de rocha (micas, feldspato,
feldspatóides, argilominerais e certos minerais de evaporitos.

Argônio – Ar (Z=18)
- gás inerte do grupo 8 da tabela periódica (gases nobres)
- presente em pequenas quantidades na atmosfera terrestre
- não forma minerais nem participa da estrutura cristalina de minerais

Devido ao comportamento geoquímico distinto do K e do Ar, esse sistema geocronológico é


utilizado na datação de minerais de K ou minerais com K e, mais raramente, na datação de
rochas ígneas afaníticas.

Tanto o K como o Ar possuem três e isótopos:


39 40
K = 93,2581% Ar = 99,60%
40 38
K = 0,01167% Ar = 0,063%
41 36
K = 6,7302% Ar = 0,337%

O 40K decai tanto para o 40Ar como para o 40Ca. No primeiro caso o decaimento se dá pela
captura de elétrons (e = 0.581 x 10-10), enquanto que no segundo o decaimento ocorre pela
emissão de pósitron (= 4,92 x 10-10).

40 40
K19 + e- –––> Ar19 (11,2%)

40
K19 –––> + + 40Ca20 (88,8%)

 = e +   = 0.581 x 10-10 + 4,92 x 10-10 = 5,543 x 10-10

T1/2 = 0,693 /  a-1 T1/2 = 0,693 / 5,543 x 10-10 a-1 T1/2 = 1,250 x 109 a

T1/2 = 1,250 giga anos (Ga)


Aplicando-se a equação:

F* = P (et - 1)

40
Ar* = e/ 40K (et - 1)
onde  = e + 

A fração de átomos de 40K que decai para 40Ar é dado por e/

Resolvendo para “t”:

t = 1/ ln [ (40Ar*/40K) . (/e) + 1]

K - determinado por análise química


Ar - determinado por espectrometria de massa

A idade obtida é função do tempo que o mineral ficou fechado para o Ar e K desde a sua
formação.

Complicação – comportamento geoquímico do K é diferente da geoquímica do Ar

Conceito importante: Temperatura de Fechamento ou Temperatura de Bloqueio


Temperatura na qual a perda de 40Ar* por difusão num dado mineral se torna negligível quando
comparado com sua velocidade de acumulação.

Temperatura de fechamento (bloqueio) para:


Hornblenda 500 - 700°C
Muscovita 400 - 470°C
Biotita 350 ± 50°C
Feldspato cerca de 230°C

Portanto, o que se está datando é a temperatura de fechamento do mineral, isto é: o tempo


decorrido desde o fechamento do sistema para o 40Ar*. Consequentemente, a datação com o
sistema K-Ar se obtém a idade de RESFRIAMENTO de:
- um evento metamórfico
- uma intrusão ígnea
- epirogênese
Causas da perda de argônio
- Incapacidade do retículo cristalino;
- Fusão parcial ou total;
- Metamorfismo de altas T e P;
- Aumento de T devido a metamorfismo de contato ou de soterramento;
- Intemperismo e outras alterações químicas;
- Dissolução e reprecipitação (evaporitos);
- Quebras mecânicas, danos radioativos, choques de ondas etc.

2.2 – O MÉTODO 40Ar/39Ar

O número de 39Ar formado em uma amostra por irradiação de nêutrons é calculado pela equação:

39Ar = 39K T  () () d



T = duração de irradiação
() = densidade do fluxo de nêutrons com energia 
() = captura de 39K por nêutrons com energia 

40Ar* = e/ 40K (et - 1)

Após a radiação por neutros de uma amostra o valor da razão 40Ar*/39Ar é dada pela equação:

40Ar*/39Ar = (e/ (40K/39K) (1/T) [(et - 1)/(  () () d)]

Pode ser definido o parâmetro J que é:

J= (e (39K/40K) (T) [  () () d)]

Dessa forma, a equação fica reduzida a:

40Ar*/39Ar = (et - 1) / J

Neste caso, o valor de “J” pode ser determinado irradiando uma amostra de idade conhecida
junto com as amostras que se quer determinar as idades. Depois do valor da razão 40Ar*/39Ar da
amostra de referencia ser determinado o valor de “J” pode ser calculado pela equação:
J = (etm - 1) / 40Ar*/39Ar

onde tm é a idade da amostra de referencia.

Assim, a idade a ser determinada de uma amostra é calculada pela equação:

t = 1/40Ar*/39Ar) J + 1]

As idades obtidas pelo método 40Ar*/39Ar estão sujeitas as mesmas limitações da técnica
convencional K-Ar, porque elas dependem da premissa de que não houve perda de 40Ar e de que
não existe excesso de 40Ar (contaminação da atmosfera).
3 – O MÉTODO Rb-Sr
3.1 – GENERALIDADES
O rubídio é uma metal do grupo dos alcalinos terrosos (Grupo 1A) que inclui ainda lítio, sódio,
potássio, césio e frâncio. O raio iônico do rubídio (1,48 Å) é suficientemente similar ao do
potássio (1,33 Å) para permitir a substituição do potássio pelo rubídio nos minerais de potássio)
Assim, apesar de não existirem minerais de rubídio, esse elemento ocorre de forma dispersa
substituindo o potássio (K) em minerais como micas (muscovita, biotita, flogopita e lepidolita),
feldspato potássico (ortoclásio e microclina), minerais de argila e evaporitos (silvita e carnalita).

O estrôncio pertence ao grupo dos metais alcalino terrosos (Grupo IIA), que inclui também
berílio, magnésio, cálcio, bário e radio. O seu raio iônico (1,13Å) é levemente maior do que o do
cálcio (0,99Å), que substitui em muitos minerais. Assim, o estrôncio ocorre como constituinte
traço em vários minerais de cálcio, como apatita, plagioclásio, carbonato de cálcio
(especialmente aragonita). Além disso, íons de estrôncio (Sr2+) podem ser capturados no lugar de
íons de potássio (K+), desde que seja preservado o balanço de carga (substituição acoplada –
Sr+2, Al+3 <-> K+ + Si+4).

Rubídio – Rb (Z = 37)

Estrôncio – Sr (Z = 38)

O Rb possui dois isótopos e o Sr quatro:


87Rb = 27,8346% 84Sr = 0,56%
85Rb = 72,1654% 86Sr = 9,86%
87Sr = 7,00%

88Sr = 82,58%

O 87Rb decai para o 87Sr por meio da equação:

87Rb
37 –––> - + 87Sr38 +  + Q

A constante de decaimento é:

     = 1,42 x 10-11 a-1

As abundâncias dos isótopos do Sr são variáveis devido à formação do 87Sr (radiogênico) pela
desintegração radioativa do 87Rb.
3.2 – OBTENÇÃO DA IDADE PELO MÉTODO Rb-Sr

Aplicando-se a equação: F* = P (et - 1)

tem-se então que

87Sr* = 87Rb (et – 1)

Entretanto, como existe 87Sr inicial (87Sr0), portanto:

87Sr 87 87 87
total = Srt = Sr0 + Sr*

ou seja:
87Sr
t = 87Sr0 + 87Rb (et - 1)

Dividindo essa equação por 86Sr ( em um espectrômetro de massa são medidas razões
isotópicas), temos:

(87Sr/ 86Sr) t = (87Sr/86Sr) 0 + 87Rb/86Sr (et - 1)

Esta equação representa a equação de uma reta:

Y = b + mX

b = (87Sr /86Sr) 0 e

m = et - 1
3.3 – DATANDO ROCHAS ÍGNEAS
A cristalização fracionada de um magma e a separação dos cristais do líquido remanescente
resultam na formação de suítes de rochas ígneas comagmáticas, de diferentes composições
químicas. Se o estrôncio neste magma for isotopicamente homogêneo ao longo do período de
resfriamento do magma, podemos pressupor que todas as rochas que se formaram a partir desse
magma possuem o mesmo valor da razão (inicial) 87Sr/86Sr. Além disso, como o tempo de
cristalização de um magma é relativamente curto, considera-se que as rochas geradas neste
processo têm aproximadamente a mesma idade. Dessa forma, as rochas ígneas pertencentes a
uma suíte comagmática irão plotar ao longo de uma linha reta, no diagrama 87Sr/86Sr (Y)
87Rb/86Sr (X). Esta linha é denominada de isócrona porque todos os pontos nela representam

sistemas com a mesma idade (t) e o mesmo valor para a razão inicial 87Sr/86Sr. No entanto, é
importante ressaltar que uma suíte de rochas comagmáticas de idade “t” definirá uma isócrona
somente se cada membro desta suíte tiver o mesmo valor para a razão inicial 87Sr/86Sr, e quando
as rochas se mantiveram como um sistema fechado para o rubídio e estrôncio desde o início da
cristalização (nem Rb, nem Sr de fora do sistema foi adicionado ao sistema desde o tempo t = 0).

Para datar uma suíte de rochas ígneas comagmáticas pelo método isocrônico, as amostras de
rochas coletadas dessa suíte devem ter a maior variação possível no valor da razão Rb/Sr, para
que a inclinação da reta (isócrona) seja bem definida. A idade resultante indica o período de
tempo decorrido desde que todas as rochas da suíte tenham o mesmo valor para a razão inicial
87Sr/86Sr. Esta idade então se refere de cristalização das rochas a partir deste magma. Portanto,

idades isocrônicas Rb-Sr são consideradas como representativas da idade de cristalização das
rochas ígneas.

3.4 – DATANDO ROCHAS METAMÓRFICAS


O metamorfismo exerce uma grande influencia na relação pai-filho de todos os isótopos
radioativos que ocorrem nas rochas. A aparente sensibilidade dos sistemas isotópicos nas rochas
aumenta com a temperatura e, provavelmente, está relacionado com o fato de que a taxa de
difusão dos íons através do retículo cristalino e dos limites dos grãos é função da temperatura.
Além disso, os átomos FILHO (radiogênicos), produzidos em um mineral pelo decaimento
radioativo de um elemento PAI, são isótopos de elementos diferentes e tem cargas e raio iônicos
distintas dos átomos PAI. Adicionalmente, a energia liberada durante o decaimento pode
produzir deslocamentos e até mesmo destruir, localmente, o retículo cristalino, tornando mais
fácil o escape dos átomos FILHO. Por estas razões, o sistema Rb-Sr em minerais é
profundamente afetado mesmo por aumentos pequenos de temperatura. A figura 8.4 (Faure
1986) é um diagrama que mostra a evolução da razão 87Sr/86Sr de uma rocha e dos minerais que
a constituem e registra a homogeneização isotópica dos minerais como resultado do
metamorfismo termal. Assim, a datação de rochas metamórficas utilizando um diagrama
isocrônico construído com os minerais (isócrona interna) a idade obtida indica o tempo de
fechamento dos minerais para o sistema Rb-Sr, a similaridade do sistema K-Ar.

3.5 – CÁLCULO ESTATISTICO DA IDADE Rb-Sr


Método dos Mínimos Quadrados

m – inclinação da reta
b – intercepto com o eixo da ordenada (razão inicial)

 X.Y - (X) .  (Y)


N
m = ___________________
 X2 - (X)2
N

b = (X) . (XY) – Y (X2)


(X)2 – N(X2)

3.7 – EVOLUÇÃO ISOTÓPICA DO Sr NA TERRA

Qual o valor da razão primordial 87Sr/86Sr na Terra ? Como medi-la?

As rochas antigas foram destruídas, alteradas ou submetidas a eventos metamórficos. Portanto,


onde buscar a informação do valor da razão primordial 87Sr/86Sr ?

Meteoritos – fragmentos de grandes corpos planetesimais que se formaram no sistema


solar na mesma época que os planetas e seus satélites.

Meteoritos – representam matéria do sistema solar e preservam o registro da razão


isotópica do Sr e de seus corpos PAI na época em que aqueles ficaram inativos devido a rápida
perda de calor.

Condritos 4,49 ± 0,07 Ga (Rb-Sr)


Acondritos 4,36 ± 0,1 (Rb-Sr)

Qual o valor da razão 87Sr/86Sr primordial ?


Acondritos basálticos dariam a melhor informação, pois mostram evidências de terem se
cristalizados a partir de líquidos silicáticos, lembrando rochas ígneas terrestres. Além disso,
como apresentam razões Rb/Sr muito baixas (< 0,002), a razão 87Sr/86Sr sofreu pouca variação
ao longo do tempo.

BABI – Basaltic Achondrite Best Inicial - Papanastassion & Wasserburg (1969)


87Sr/86Sr = 0,698999 ± 0,000047 -> calculado a partir da média de 7 acondritos basálticos

JUSI – acondrito JUvinas + acondrito SIoux county – Allégre et al. (1975)


87Sr/86Sr = 0,698976 ± 0,000055

Valor aceito hoje (calibração interlaboratorial)


87Sr/86Sr = 0,69897 ± 0,00003

para uma idade da Terra de 4,5 ± 0,1 Ga

A diferenciação geoquímica que levou ao enriquecimento em metais alcalinos, sílica e alumina


na superfície da Terra ocorreu a poucas centenas de milhões de anos depois da formação da
Terra.

As rochas “graníticas” mais antigas tem aproximadamente 4,0 Ga. Essas rochas que se formaram
cedo na história da Terra desempenharam um papel importante na evolução isotópica do Sr:
- enriquecimento de 87Sr (radiogênico) na crosta
- razão 87Sr/86Sr elevada nas rochas da crosta
- crescimento lento da razão 87Sr/86Sr no manto superior

Com isso pode-se fazer considerações sobre a fonte das rochas ígneas. De onde elas derivaram.
A razão isotópica 87Sr/86Sr hoje no manto é de 0,704 ± 0,002. Ela foi calculada a partir de rochas
basálticas e intrusões gabróicas que acredita-se terem se originado do manto sem significante
contaminação crustal.

A evolução isotópica do Sr no manto (87Sr/86Sr) pode ser plotada em uma curva unindo a razão
inicial das rochas basálticas e gabróicas vs. suas idades isocrônicas Rb-Sr. No entanto, na crosta,
a evolução isotópica do Sr é complicada pelas idades e razões heterogeneas Rb/Sr.

3.7 – EVOLUÇÃO ISOTÓPICA DO Sr NOS OCEANOS


A atual composição isotópica do estrôncio na água do mar parece ser constante em todo os
oceanos, e é caracterizada por um valor da razão 87Sr/86Sr entre 0,70906 ± 0.00003 e 0,70910 ±
0,00004. A razão 87Sr/86Sr da água do mar é controlada pela mistura de três fontes distintas de
estrôncio que são: a) rochas vulcânicas jovens; b) rochas silicáticas antigas da crosta continental;
c) carbonatos marinhos de idade fanerozóica. Portanto, o valor da razão 87Sr/86Sr da água do mar
é um indicador indireto dos tipos de rochas que estão expostas ao intemperismo químico na
superfície do continente ou nas bacias oceânicas. Os valores da razão 87Sr/86Sr dos carbonatos
marinhos são considerados como representativos dos valores dessa razão na água do mar na
época de deposição dos carbonatos desde que os carbonatos não tenham sido alterados por
diagênese, dolomitização ou metamorfismo. O estudo da razão 87Sr/86Sr de carbonatos do
fanerozóico mostra que há uma variação dessa razão ao longo do tempo (Figura 11.2 – Faure
1986).

A composição isotópica do Sr é homogênea ao longo do fanerozóico,. As razões para essa


homogeneidade isotópica são: i) O longo tempo de residência do Sr nos oceanos de cerca de 5 x
106 anos comparada com o tempo de mistura das águas oceânica de aproximadamente 103 anos;
ii) A alta concentração do Sr nos oceanos (~ 7.7 µg/g) comparada a média da água dos rios (~
0,068 µg/g). Assim, a homogeneidade isotópica do Sr no oceano pode ser usada para datar
carbonatos marinhos, sobretudo para os carbonatos do Jurássico Médio até o Pleistoceno porque
o valor da razão 87Sr/86Sr aumenta neste intervalo de tempo.

A composição isotópica dos carbonatos no Pré-cambriano é pouco conhecida pois essas rochas
são mais raras nos Proterozóico e no Arqueno, e a composição química, mineralógica e isotópica
de muitos carbonatos pré-cambrianos foi alterada. Além disso, a determinação da idade desses
carbonatos é mais difícil pois são afossilíferos ou não possuem fosseis índices, e os métodos de
datação existentes são inadequados para carbonatos. Os poucos dados disponíveis indicam que
os valores da razão 87Sr/86Sr de carbonatos do final do Arqueano é similar a do manto (~ 0,702).
Isso implica em afirmar que a composição isotópica do Sr no oceano arqueano era bem distinta
daquela observada no Fanerozóico e no Proterozóico (Figura 11.4 – Faure, 1986). Certamente a
atividade vulcânica era mais intensa e as rochas exposta na superfície eram geralmente jovens e
com baixo valor da razão Rb/Sr. Como resultado o valor da razão 87Sr/86Sr é da água de
superfície era igual àquela do manto da Terra. No Proterozóico, entre 2,5 e 2,0 Ga o valor da
razão 87Sr/86Sr cresceu significativamente gerando valores muito superiores aos do manto. Isso
deve refletir a contribuição de rochas erodidas das regiões cratônicas e de uma notável e
coincidente diminuição da atividade vulcânica e do espalhamento do assoalho oceânico.
4 - MÉTODO Sm-Nd
4.1- GENERALIDADES
O desenvolvimento deste método foi conseqüência direta das pesquisas cosmoquímicas e dos
estudos da Lua e Meteoritos.

Os grupo dos elementos terras raras (ETR) é constituído por 15 elementos químicos com carga
iônica +3 (Eu = +3 e +2, Ce +3 e +4).

La = raio iônico 1,06 A Lu = raio iônico 0,86 A

Os ETR como elemento traço (em geral < 100 ppm): 1) nas fraturas de minerais silicatados; 2)
substituindo íons de elementos maiores (Al, Ca, ...); 3) minerais ricos em ETR como Monazita
(CePO4), Cerita (Ca,Mg)2 Ce5 (SiO4)7.3H2O.

Nas rochas basálticas ocorre em clinopiroxênio, anfibólios e granadas

Nas rochas graníticas: feldspato, micas, acessórios

Os ETR possuem grande resistência a lixiviação, difícil difusão no estado sólido, e


insensibilidade às influências térmicas. Apresentam ainda alta razão carga/raio atômico

Número atômico: Nd = 60 e Sm = 62

Raio Iônico: Nd = 1,08 Å e Sm = 1,04 Å

Nas rochas e minerais terrestres o valor da razão 0,1< Sm/Nd > 0,5 devido a grande similaridade
química entre Sm e Nd.

O Sm62 tem 7 isótopos com as seguintes massas e suas respectivas abundancias relativas:
144Sm – 3,1%
147Sm – 15,0%
148Sm – 11,2%
149Sm – 13,8%
150Sm – 7,4%
152Sm – 26,7%
154Sm – 22,8%

O Nd60 tem, igualmente, 7 isótopos com as seguintes massas e suas respectivas abundancias
relativas:
142Nd – 27,1%
143Nd – 12,2%
144Nd – 23,9%
145Nd – 8,3%
146Nd – 17,2%
148Nd – 5,7%
150Nd – 5,6%

4.2- DETERMINAÇÃO DA IDADE Sm-Nd

147Sm ––> 4 + 147Nd62 + Q


62 = 6,54 x 10-12a-1
T1/2 = 106 Ga

Equação da Idade

F* = P (et - 1)

143Nd* = 147Sm (et - 1)

143Nd
t = 143Nd0 + 147Sm (et - 1)

(143Nd/144Nd)t = (143Nd/144Nd)0 + 147Sm/144Nd (et - 1)

Aplicações
1) Idade de rochas magmáticas cogenéticas principalmente rochas máficas e ultramáficas –
Diagrama isocrônico similar ao sistema Rb-Sr.

2) Idades Modelos

4.3- EVOLUÇÃO DA RAZÃO 143Nd/144Nd na Terra

A abundancia do isótopo radiogênico 143Nd, e portanto da razão 143Nd/144Nd da Terra, tem


crescido com o tempo devido ao decaimento radioativo do 147Sm para 143Nd.

A evolução da razão 143Nd/144Nd da Terra pode ser descrita por um modelo baseado na idade e
na razão Sm/Nd (147Sm/144Nd) da Terra e na razão 143Nd/144Nd primordial.
A idade da Terra e a razão primordial 143Nd/144Nd são conhecidos a partir de análises isotópicas
dos meteoritos

Meteorito Idade (Ga) (143Nd/144Nd) inicial


Juvunas 4,56 ± 0,08 0,50677
Angra dos Reis 4,562 ± 0,031 0,506664
Pasamonte 4,58 ± 0,12 0,50681
Moore County 4,60 ± 0,03 0,50676
Moama 4,58 ± 0,05 0,50684

A evolução isotópica do Nd da Terra é representada por um modelo que assume que a razão
Sm/Nd da Terra é igual àquela dos meteoritos condríticos ou seja: O nd da Terra evoluiu em um
Reservatório Uniforme cuja razão Sm/Nd é igual a dos meteoritos Condríticos

CHUR – CHondritic Uniforme Reservoir

Valores atuais do CHUR:

143Nd/144Nd = 0,512638

147Sm/144Nd = 0,1967

Pode-se calcular o valor da razão 143Nd/144Nd no CHUR a qualquer tempo “t” no passado

(143Nd/144Nd)h = (143Nd/144Nd)t + 147Sm/144Ndh (et - 1)

(143Nd/144Nd)t = (143Nd/144Nd)h - 147Sm/144Ndh (et - 1)

A fusão Parcial do CHUR origina magmas com razão Sm/Nd menor que no CHUR, portanto,
uma rocha ígnea formada a partir desse magma tem hoje um valor da razão 143Nd/144Nd mais
baixa que a do CHUR

O sólido residual que permaneceu após a retirada do magma possui uma razão Sm/Nd maior que
o reservatório condrítico, consequentemente, estas regiões empobrecidas deste reservatório tem
uma razão 143Nd/144Nd mais altas que a do CHUR.

É possível comparar a razão inicial 143Nd/144Nd de rochas ígneas (e metamórficas) na crosta da


Terra com a razão 143Nd/144Nd correspondente no CHUR na época em que estas rochas se
cristalizaram.
Com isso, pode-se saber se as razões iniciais 143Nd/144Nd de diferentes tipos de rocha são mais
altas ou mais baixas do que as razões 143Nd/144Nd do CHUR quando as rochas se formaram.

Entretanto como a diferença ente as razões isotópicas que se quer comparar são muito pequenas,
foi introduzido por dePaolo e Wasserburg (1976) 0 pariametro episilo ()

tCHUR expressa as diferenças entre a razão inicial 143Nd/144Nd de uma suíte de rochas e o valor
correspondente da razão 143Nd/144Nd no CHUR na época da cristalização da rocha.

tCHUR expressa = [(143Nd/144Nd) trocha – (143Nd/144Nd) tCHUR] / (143Nd/144Nd) tCHUR

esta comparação pode ser feita para os tempos atuais (hoje) e para qualquer tempo “t”

 > 0 (positivo) – indica que a rocha foi derivada de um sólido residual no reservatório depois de
já ter havido a retirada de magma em uma época anterior. O reservatório está empobrecido em
LILE que preferem a fase liquida durante a fusão parcial

 < 0 (negativo0 – indica que as rochas derivaram de fontes com razões Sm/Nd menores que a do
CHUR. Estas rochas foram derivadas de, ou assimilaram rochas crustais antigas cuja razão
Sm/Nd foi originalmente diminuída quando houve a separação do CHUR.

 ~ 0 – A composição isotópica do Nd na rocha é similar a do CHUR e a rocha pode ter sido


derivada diretamente deste reservatório.

4.4- IDADE MODELO Sm/Nd


CHUR pode também ser usado para calcular a idade na qual o Nd em uma rocha da crosta se
separou do reservatório condrítico.

As idade modelo determinam o tempo no passado onde a razão 143Nd/144Nd da rocha era igual a
razão 143Nd/144Nd do CHUR.

(143Nd/144Nd)trocha = (143Nd/144Nd)hrocha - 147Sm/144Ndhrocha (et - 1)

(143Nd/144Nd)tCHUR = (143Nd/144Nd)hCHUR - 147Sm/144NdhCHUR (et - 1)

(143Nd/144Nd)trocha = (143Nd/144Nd)tCHUR
TCHUR = 1/ ln {[(143Nd/144Nd)hrocha - (143Nd/144Nd)tCHUR / (147Sm/144Nd)hrocha - (147Sm/144Nd)tCHUR)] + 1}
O SISTEMA U-Pb

O U possui dois isótopos enquanto que o Pb tem quatro isótopos

238U = 99,27% 204Pb =


235U = 0,72 % 206Pb =
207Pb =
208Pb =
238U —> 8 + 6- + 206Pb + Q 238 = 1,55 x 10-10

237U —> 7 + 4- + 207Pb + Q 235 = 9,8485 x 10-10

O 204Pb é o único isótopo que não é radiogênico, ou seja não deriva de um PAI
radioativo. O 208Pb se forma pelo decaimento radioativo do 232Th.

A vantagem do sistema U-Pb é que dois isótopos do mesmo elemento PAI desintegram-
se em dois isótopos do mesmo elemento filho. Dessa forma, podem ser gerados dois sistemas
geocronológicos distintos para o calculo da idade, a partir da equação fundamental:

F* = N (et - 1)

206Pb* = 238U (et - 1)

207Pb* = 235U (et - 1)


Devem ser utilizados sistemas que não tenham Pb inicial, ou seja que todo o Pb presente
seja derivado do decaimento do U. Em função da geoquímica contrastante do U e Pb, diversos
sistemas minerais possuem essa característica:

uraninita e torianita (óxidos)


zircão, torita. alanita, titanita (silicatos)
monazita, apatita e xenotima (fosfatos)

sendo que o zircão, seguido da monazita e da titanita são os sistemas mais comumente utilizados
na datação pelo método U-Pb.

As duas equações são utilizadas para compor um diagrama binário para o cálculo da
idade. Esse diagrama é denominado de Diagrama Concórdia porque, nele é representada a linha
CONCÓRDIA, na qual as idades calculadas pelos sistemas isotópico 238U—>206Pb*, e
235U—>207Pb* são coincidentes ou concordantes.
No entanto, os minerais (ou frações de minerais) analisados não plotam exatamente em
cima da linha concórdia por uma série de razões, sobretudo pelo fato de que o sistema U-Pb não
seria totalmente fechado nos minerais utilizados na datação. Com isso dificilmente pode ser
obtida uma idade concordante. Todavia, as diversas frações de minerais se alinham ao longo de
uma reta denominada de discórdia, cuja intercessão com a concórdia indica a idade dos minerais.

A datação de zircão, monazita e titanita indica a idade de formação desses minerais. Nas
rochas ígneas, portanto, seria obtido a idade do magmatismo se os cristais desses minerais forem
magmáticos. No entanto, em rochas metaígneas (ortoderivadas) a idade da monazita e titanita,
via de regra, indica a idade do metamorfismo. A interpretação das idades U-Pb em zircão,
monazita e titanita, pode não ser tão simples assim, mas para efeito desse curso será adotada essa
interpretação simplificada.

ISÓTOPOS ESTÁVEIS

A maioria dos elementos que ocorrem naturalmente consiste de mais de um isótopo


estável, por exemplo:

16O, 17O, 18O


32S, 33S, 34S, 36S
Nos elementos com massa atômica menor que 40, é possível fracionar os isótopos de um
dado elemento por processos físicos, em função da diferença de massa entre os isótopos. Mas,
nos elementos com massa atômica maior que 40 esse fracionamento é mínimo ou inexistente. O
fracionamento dos isótopos estáveis de elementos leves como H, C, N, O e S, é investigado na
geoquímica para tentar descobrir os processos que operaram em diversos fenômenos geológicos.

O fracionamento pode ocorrer basicamente em três situações:

1) reações de troca
2Si16O2 + Fe318O4 <——> 2 Si18O2 + Fe316O4

2) processos cinéticos
são importantes nos processos biológicos - redução do sulfato da água do mar por
bactérias é 2,2% mais rápida para o 32S do que para o 34S.
34SO —> H 34S
4 2
k1>k2
32SO —> H 32S
4 2

3) processos físico-químicos
difusão, destilação (evaporação e condensação), fusão e cristalização
difusão - o isótopo leve se enriquece em relação ao pesado na direção do transporte.
ex- efeito de microfiltragem dos isótopos por adsorção em argilo-minerais dos
sedimentos - os isótopos mais leves de H, O e S são adsorvidos
preferencialmente, nas argilas deixando as águas de formação
enriquecidas nos isótopos mais pesados.

destilação- o isótopo mais leve é enriquecido principalmene na fase vapor


ex- evaporação e condensação da água meteórica. Na evaporação o vapor d’água
se enriquece relativamente em 1H216O; na condesação, a chuva (neve) se enriquece
relativamente em D218O.

Oxigênio
16O = 99,763%
17O = 0,0375%
18O = 0,1995%
18O/16O = 0,001999 -> valor muito pequeno

Para comparação interlaboratorial é necessário um padrão de referência, ou seja, a razão


18O/16O é medida em um espectrômetro de massa em relação a um padrão internacional
originado a notação  (delta).

18O ‰ = {[(18O/16O)amostra - (18O/16O)padrão] / (18O/16O)padrão} x 1000

Para o oxigênio o padrão é o SMOW - Standard Mean Ocean Water

ex: 18O ‰ = + 10 -> a amostra é enriquecida 10 partes por 1000 na razão 18O/16O em
relação ao SMOW.
ex: 18O ‰ = - 10 -> a amostra é empobrecida 10 partes por 1000 na razão 18O/16O em
relação ao SMOW.

Hidrogênio
1H = 99,9844%
2H = D = 0,0156%
padrão -> SMOW
D ‰ = {[(1H/D)amostra - (1H/D)padrão] / (1H/D)padrão} x 1000
Isótopos do Oxigênio e Hidrogênio sâo importantes para o estudo do ciclo hidrológico.

Carbono
12C = 98,89%
13C = 1,11%

padrão -> PDB - belemnitella americana da Formação Peedee do Cretáceo na


Carolina do Sul (EUA).

13C ‰ = {[(13C/12C)amostra - (13C/12C)padrão] / (13C/12C)padrão} x 1000

Na Terra existem três reservatórios importantes de carbono:


13
1) Manto -  C ‰ = -6‰
2) Biológico - 13C ‰ = -20‰ a - 30‰
3) Água do Mar - 13C ‰ ~ 0‰
O carbono derivado biológicamente é empobrecido em 13C ‰, pois na fixação do carbono os
organismos preferem o isótopo mais leve (12C).
Enxofre
32S = 95,02%
33S = 0,75%
34S = 4,21%
36S = 0,02%
34S/32S
padrão - Troilita do Meteorito do Canion do Diabo (EUA) - CDT

34S ‰ = {[(34S/32S)amostra - (34S/32S)padrão] / (34S/32S)padrão} x 1000

Na Terra existem três importantes reservatórios de enxofre


1) Manto - 34S ‰ = 0 ± 3‰
2) Água do Mar - 34S ‰ = +20‰
3) Rochas sedimentares de ambiente fortemente redutor 34S ‰ = negativo

Nos depósitos de sulfetos de origem hidrotermal, se 34S ‰ ~0 o enxofre teve uma origem é
magmática, mas, se 34S ‰ ~ +20‰, o enxofre foi fornecido da água do mar. Valores
intermediários sugerem uma mistura.

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