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FENÔMENOS DE TRANSFERÊNCIA I

AULA 3 (Prática)

TEMA 1: Fundamentos dos Fenômenos de Transporte. Balanço de


quantidade de movimento e calor. Equações de mudança.

SUMÁRIO:
1. Cálculo de propriedades de transporte:
 Viscosidade e condutibilidade térmica de gases puros e de suas
misturas

DESENVOLVIMENTO
Introdução
Para a estimativa e/ou determinação de viscosidades e condutibilidade térmica
em gases, seguem-se os seguintes passos fundamentais:
1- Identificação do sistema: gasoso (puro ou mistura).
2- Método de estimativa a utilizar:
a) Teoria cinética dos gases,
b) Princípio dos estados correspondentes,
c) Equações empíricas, tabelas, nomogramas, correlações gráficas,
d) Via experimental.
 Seleção da equação, gráfico, tabela ou outro meio objetivo ou da técnica
experimental.
 Determinação de parâmetros ou procedimentos inerentes ao método de
estimativa, por exemplo: parâmetros do Lennard – Jones; volumes
molares; propriedades críticas ou pseudocríticas; tratamento dos dados e
leitura; corridas experimentais; etc.
3- Obtenção do resultado final.
4- Análise dos resultados.

No caso dos gases pode ser utilizado qualquer dos métodos de estimativa,
dependendo das características especifica do sistema gasoso (se for polar ou
não polar; se está submetido a alta pressão; etc.) ou da disponibilidade da
informação.
Por exemplo, a aplicação de equações apropriadas no método (a), requer da
possibilidade de conhecer ou calcular os parâmetros do Lennard – Jones, ou
dos volumeis molares.
De igual forma, o método (b) requer do conhecimento de temperaturas e
pressões críticas dos componentes individuais.
No caso de líquidos o esquema está restringido ao uso dos métodos (c) e (d),
também dependendo da informação disponível sobre o sistema ou substância.

Problema 1: Cálculo de viscosidades de gases puros.


Calcular a viscosidade de:
a) SO2 à pressão atmosférica e 40 oC;
b) CO2 à pressão de 91,1.105 Pa e a 50 oC.

Solução:
a) Para o SO2
1- Identificar o objetivo: Determinar (µ).
2- Identificação do sistema: gasoso puro a temperatura e pressão baixa.
3- Seleção do método de estimativa: (1) Teoria cinética dos gases, (2)
Princípio dos estados correspondentes.
-Seleciona-se o método (1) e a equação (1.2.1 Aula 2):

M T
  2,6693  10 6 
 2  1 … (1)
Dados:
M = 64,1 kg/kmol
T = 40 + 273 = 313 K
4-Determinação de parâmetros ou procedimentos inerentes ao método de
estimativa.
Parâmetros de Lennard – Jones:
Para o SO2, pelas tabelas A.2 do Texto e da literatura, em geral:
 = 4,29 Å
T = 313 K
K 'T 313
(ɛ/ K' ) = 252 K   1,242
 252
De acordo ao valor de K ' T  , seleciona-se a expressão (ver AULA No 2):

 0 , 474
  K '.T     K '.T  
1  1,6016.  . , para 0,3       2,0 ... (1.2.3)
      
  K'.T     K'.T  
1  1,306  0 ,085   , para 2 ,0       4,2 ... (1.2.4)
     
 0 ,1525
  K'.T     K'.T  
1  1,1809   , para 4,2       100 ... (1.2.5)
     
Para o valor calculado da temperatura adimensional, se utiliza a expressão
(1.2.3)
-0,474
 K 'T 
1  1,6016.    1,6016. 1,242- 0,474  .....(2)
  

1  1,445
5- Obtenção do resultado final.
(64,1).(313)
 SO2 , 40ºC  2,6693 10 6 
4,29 21,445
SO , 40ºC  14,2 106 Pa.s
2

6- Análise dos resultados.


O valor calculado apresenta uma diferença de – 5,2 % com respeito ao
experimental de 13,5.10-6 Pa.s, apresentado na tabela 1.1 do texto. Este é um
resultado satisfatório.

b) Para o CO2
1- Identificar o objetivo: determinar (µ).
2- Identificação do sistema: gás puro a temperatura baixa e pressão alta.
3- Seleção do método de estimativa: Neste caso, como o gás se encontra a
alta pressão, é necessário utilizar o método das variáveis reduzidas de
Watson – Uyehara (Fig. 1).
Dados:
µC = 343.10-7 Pa.s; Tc = 304,2 K e Pc = 73,8 atm
Em caso de não dispor de c, esta poderia estimar-se pela equação (1.54) do
Texto, pág.19:

M  Tc
 c  61,6  10 7 
~2
Vc 3

Fig. 1 Gráfico de viscosidade reduzida em função da temperatura e


pressão reduzida.
4- Determinação de parâmetros ou procedimentos inerentes ao método
de estimativa.
Os valores da temperatura e da pressão reduzidas são:
273  50 91,1.105
Tr   1,062 e Pr   1,234
304,2 73,8.105
5- Obtenção do resultado final.
Na figura 1,2, para Tr = 1,062 e Pr = 1,235, lê-se o valor µr = 0,74. Por tanto o
valor estimado da viscosidade é:

r 
C é a viscosidade reduzida

µ = µc(µr) = (343.10-7).(0,74) = 25,4.10-6 Pa.s

6- Análise dos resultados.


O valor experimental da tabela é 23,7.10-6 Pa.s., A aproximação é bastante
boa, já que a diferença do valor estimado com respeito ao valor
experimental é de – 7,17 %.

Problema 2: Calcular a viscosidade de uma mistura gasosa de hidrogênio,


néon e argônio, á pressão atmosférica e 100 oC. A composição da mistura em
frações molares, é:
Gás Fração molar
Hidrogênio 0,198
Néon 0,217
Argônio 0,585

Solução:
1- Identificar o objetivo: determinar (µmix).
2- Identificação do sistema: Mistura gasosa a baixa pressão e 100 oC.
3- Seleção do método de estimativa: Seleciona-se o método (2) e a
equação (1.2.7), (Aula 2, pág.17 do Texto):
Segundo as equações (1.2.7) e (1.2.9), para misturas gasosas não polares a
baixa pressão:
n
xi  i
.mist.   n
(1.2.7)
i 1
x
j 1
j  ij

2
 1  M 
1 / 2
  1/ 2
 Mj 
1/ 4 
1   i 
Sendo ij   1  i 
  


  
 (1.2.9)
 8  M j    j   Mi  

Os dados do sistema são os seguintes:


Gas Masa Pc (atm) Tc (K) Viscosidade a 100 oC,
Molecular (mPa.s)

Hidrogênio 2 12,8 33,3 0,0103


Néon 20,18 26,9 44,5 0,0363
Argônio 39,94 48,0 151,2 0,0265

4- Determinação de parâmetros ou procedimentos inerentes ao método


de estimativa.
A seguir se indica em forma de tabela o procedimento de cálculo para
aplicar a equação (1.2.9).
Substancias Mistura Mi/Mj µi/µj ij
principal i
H2 (i) 1,000 1,000 1,000
Ne (j) 0,099 0,284 0,569
H2
Ar (j) 0,05 0,388 0,579

H2 (j) 10,09 3,524 2,005


Ne (i) 1,000 1,000 1,000
Ne
Ar (j) 0,505 1,37 1,137

H2 (j) 19,97 2,572 1,488


Ar Ne (j) 1,979 0,73 0,830
Ar (i) 1,000 1,000 1,000
Realização dos cálculos
x1.1
 mescla  
x1.11  x2 .12  x3 .13
x2 . 2
 
x1.21  x2 .22  x3 .23
x3 .3
 
x1.31  x2 .32  x3 .33

Empregando a equação (1.2.7), e substituindo os valores numéricos, se obtém:


(0,198).(0,0103)
mescla  
(0,198).(1)  (0,217).(0,569)  (0,585).(0,579)
(0,217).(0,0363)
 
(0,198).( 2,005)  (0,217).(1)  (0,585).(1,137)
(0,585).(0,0265)
  0,02388mPa.s
(0,198).(1,488)  (0,217).(0,830)  (0,585).(1)

Problema 3 (no caso de troca de calor através de paredes sólidas)

Uma parede de tijolos refratários, em um forno, tem 20 cm de espessura e uma


condutividade térmica de 1,65 W . A superfície interior, no lado da
mº C
combustão, se encontra a 1000ºC, e a superfície exterior a 50ºC. Determinar o
fluxo de calor para o exterior, através da parede, se a área de transferência, A,
desta é de 10 m2.

Solução:
De acordo com a Lei de Fourier (Transporte molecular de calor: Condução):
 dT 
q  k 
 dy
 
W
sendo k  1,65 (condutividade térmica da parede)
mº C
 dT 
Para determinar o valor do gradiente de temperatura    , que é a força
 dy
impulsora do fluxo de calor através da parede:

 dT  T T final  Tinicial 50  1000


      
 d y y espessura 0,20

 dT 
    4750 º C
 d y m

Logo, pela expressão (1):


W
q  1,65  4750  7838  densidade de fluxo de calor
m2

A superfície transversal tem uma área de 10 m2, portanto, o fluxo de calor na


direção do gradiente de temperatura será:
Q
q
A

Isolando Q:
 Q  q  A  7838  10  78380 W  78,4.kW

Problema 4
Estimar a condutividade térmica de uma mistura gasosa de N2-CO2, a 50ºC e
pressão atmosférica, sendo a fração molar do N2 na mistura de 34,1 %.

k N 2 50ºC  0,0274 W
mº C
 N 2 CO2  1,365
Dados:
 N 2 50ºC  0,0187 cP
 CO2 50ºC  0,0157 cP
Solução:
a) Seleção do método e da equação de cálculo
No caso da condutividade térmica de uma mistura gasosa, poderiam utilizar-
se os métodos (2) e (3).
Pelo método (2) pode utilizar-se o gráfico da Fig. 1. Para isso, é necessário
determinar as propriedades pseudocríticas e reduzidas.
Pelo método (3) se dispõe da equação de Wilke (1), para componentes não
polares.

n
xi  ki
k mezcla   n .....(1a)
i 1
 x j  ij
j1

1 2

 1   M 

   1 2  M 
14

 1   i    i 
2
ij     1  i   ... (1b)
 8  Mj    j   M j  
     

b) Tratamento dos dados:


Pelo método (3) se necessitam os valores das condutividades térmicas do
N2 e do CO2 puros a 50ºC e 1 atm, assim como os valores de ij.
-Pelos dados do problema se conhece:

kN  0,0274 W
2 50 º C
m K
N CO  1,365
2 2

1- Cálculo de k CO2 50ºC :

Pelos dados da literatura: k CO  0,0166 W


2 27 º C
m K
O valor de kCO2 50 0C se pode estimar mediante a relação seguinte:

k 50ºC T50ºC 1 27ºC


  .....(2)
k 27ºC T27ºC 1 50ºC
Para o cálculo de 1, pelas tabelas do texto obtém-se:

 K '  190 K 27+273=300K 50+273=323K


 0 , 474
  K '.T     K '.T  
1  1,6016.  . , para 0,3       2,0
       
Logo:

K .T 
1
323 Pela equação (1.23),
    1,7  1 ( 50ºC )  1,245
  50ºC 190

 K .T 
1
300
    1,579  1 ( 27ºC )  1,29 Pela equação (1.23),
   27ºC 190

323 1,29 W
Portanto: k CO  0,0166    0,01785
m K
50 º C
2
300 1,245

2- Cálculo de CO2  N2 :

M CO2  44 kg
kmol
M N 2  28 kg
kmol
 N2 50ºC  0,0187 cP
 CO2 50ºC  0,0157 cP

Pela equação (1b):


1 2

   1 2  M 1 4 
 1   M i 
 1   i     
2
ij    
j
 1
 8   M j     j   M i  
 
 
2
1  44 
1
2   0,0157 1 2  28 1 4 
 CO2  N 2   1    1      
8  28    0,0187   44  
 
1
  0,6236  1  0,9163  0,893
2

8
 0,3536  0,6236  3,306

CO2 N2  0,729

Substancias Mistura Mi/Mj ij


principal i
N2 (i) 1,000 1,000 1,000
N2 CO2 (j)

N2 (j)
CO2 CO2 (i) 1,000 1,000 1,000

c) Substitução dos valores na equação:


x N2  k N2 xCO2  k CO2
k mistura 50ºC  
x N 2   N 2  N 2  xCO2   N 2 CO2 x N 2  CO2  N 2  xCO2  CO2 CO2

onde: xN  0,341 e
2
xCO  0,659
2

k mistura 50ºC 
0,341  0,0274 
0,659  0,01785
0,341  1  0,659  1,365 0,341  0,729  0,659  1
0,00934 0,01176 0,00934 0,01176
   
0,341  0,9 0,249  0,659 1,241 0,908
 0,007526  0,01296

W
k mistura 50ºC  0,0205
m K
O valor experimental é k mist.50oC = 0,0209 W . Portanto, o erro do valor
mK
calculado respeito ao experimental é só de 1,91 %.

No caso de aplicar o método (2), se utilizaria a Fig. 1, e os resultados seriam


os seguintes:

Fig. 1. Dependência da condutividade térmica com a temperatura e a


pressão para gases e misturas gasosas
1- Determinção das propriedades pseudocríticas:

Pc  33,94 atm Pc  73,85 atm


N2 Tc  126,2 K CO2 Tc  304,2 K
k c  0,051 W
kc  0,0363 W mK
mK
As propriedades pseudocríticas se calculam pelas expressões
n
k 'c   x i  k ci  0,341  0,0363  0,659  0,051  0,046 W
i 1
mK
n
P'c   x i  Pci  0,341  33,94  0,659  73,85  60,24 atm
i 1
n
T'c   x i  Tci  0,341  126,2  0,659  304,2  243,5 K
i 1

2. Então, as variaveis reduzidas são:


T 323
Tr    1,33
T'c 243,5
P 1
Pr    0,02  0
P'c 60,24
3. Leitura no gráfico:

Pela figura (1) obtén-se:


kr = 0,43

Portanto: kmistura 50ºC  kr  k 'c  0,43  0,046

W
kmistura 50ºC  0,0198
m K

Pode observar-se que os valores da condutividade da mistura, obtidos por


ambos os métodos são muito próximos, com uma diferença de 5,26 %
respeito ao valor experimental.

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