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FENÔMENOS DE TRANSFERÊNCIA I

AULA 2

TEMA 1: Fundamentos dos Fenômenos de Transporte. Balanço de


quantidade de movimento e calor. Equações de mudança.
(Características gerais da disciplina. Eq. geral de transporte molecular.
Propriedades de transporte).

SUMÁRIO:
1.1 Transporte molecular. Equação geral que descreve-lo
1.2 Propriedades de Transporte. Métodos para sua estimação, de gases,
líquidos e sólidos.

1.1 Transporte molecular. Equação geral que descreve-lo


A equação geral de transporte molecular pode ser obtida partindo de um
modelo gasoso simples. Este modelo gasoso é postulado pela teoria cinética
simplificada dos gases ideais.
A equação resultante, derivada deste modelo gasoso, aplica-se também para
descrever o transporte molecular em líquidos e sólidos.
Essa equação se expressa como uma relação matemática linear da forma
FLUXO – GRADIENTE:

1  d
 líquido   l  c     (1.1.1)
6  d y 

onde:
 líquido- é a densidade de fluxo líquido da propriedade (em uma direção
dada).
d
- é a gradiente da concentração da propriedade na direção y.
dy
1
l  c - é uma constante de proporcionalidade, sendo l o percurso livre
6
médio das moléculas do modelo gasoso entre duas colisões, e c a
velocidade média das moléculas.
Do ponto de vista físico,
 líquido é a velocidade de transferência da propriedade, e
d
é a intensidade da força motriz (força impulsora)
dy

De acordo com a equação (1.1.1), a propriedadese transporta de um estado


inicial (ponto de maior concentração da propriedade) para um estado
final (ponto de menor concentração).
O sinal (-) é para que a magnitude da densidade de fluxo,  líquido , seja
d
positiva, já que por definição matemática o gradiente é negativo.
dy

Na Engenharia Química, no campo das operações unitárias, a propriedade


que se transporta pode ser: quantidade de movimento, energia calorífica,
e massa.
Assim, a equação (1.1.1) pode dar lugar a três expressões básicas (Fig.4
Aula 1):

Lei do Newton da viscosidade(Transporte molecular de quantidade de


movimento: regime laminar de fluxo):

 d vZ 
 yz      (1.1.2)
 dy 

Lei do Fourier(Transporte molecular de calor: Condução)

 dT 
q  k    (1.1.3)
 d y 
1
Nestas equações, a constante de proporcionalidade  l  c dá lugar às
6
propriedades de transporte:
m2
 - difusividade térmica, s

m2
 - viscosidade cinemática, s

1
 l.c     m2
<> s (1.1.4)
6
Para o transporte de quantidade de movimento:
   v (concentração de quantidade de movimento),
kg m Pa  s
. 
m3 s m

   yz (densidade de fluxo de quantidade de movimento),


m 2 kg m kg
  Pa
s m s.m m.s 2
3

para sistemas de  constante:


    (1.1.5)
onde:  - viscosidade dinâmica, Pa  s

Para el transporte de calor:


    C p  T (Concentração de calor), J
m3
 q (Densidade de fluxo de calor), W
m2
Para sistemas de  e Cp constantes,
    Cp  k (1.1.6)

onde: k – conductividade térmica,


W
mº C

1.2 Propriedades de Transporte. Métodos para sua estimação, de


gases, líquidos e sólidos.
Já se viu na Aula anterior que, de acordo com a lei básica de transporte de
uma propriedade, as propriedades de transporte são: a viscosidade
dinâmica e condutibilidade térmica, em processos de transporte de
movimento e calor respectivamente.
O cálculo ou estimativa das propriedades de transporte depende do estado
de agregación da substância.
Os métodos utilizados podem resumir-se da forma que se expõe na Figura
No.1. Estes se podem agrupar em 4 grupos principais:
1. Equações semiempíricas, derivadas da teoria cinética dos gases (para
gases e mesclas refrigerantes) ou da teoria da velocidade do Eyring
(para líquidos).
2. Equações e gráficos derivados do princípio dos estados
correspondentes.
3. Equações empíricas, nomogramas, pranchas e correlações gráficas.
4. Via experimental.
Fig. 1.2.1 Métodos de estimação de propriedades de transporte
1.2.1 Equações semi-empíricas derivadas da teoria cinética dos gases.
Correção pelos parâmetros do Lennard – Jones:
Tendo em conta a igualdade exposta na equação (7) da Aula 1
1
D AB       l  c
6
Assim como as expressões do percurso livre l e a velocidade média das
moléculas c segundo a teoria cinética dos gases ideais, obtêm-se
expressões para o cálculo de propriedades de transporte, as quais se
corrigem com os parâmetros do Lennard – Jones, em gases reais:
 - diâmetro de colisão, e
1 - função integral de colisão.

a) Para gases monoatômicos:


M T
  2,6693 106  , ( Pa  s) (1.2.1)
 2  1

 
T
k  8,3225 10  2 M ,W
m K (1.2.2)
  1
2

onde:
M- massa molecular, (kg/kmol)
T- temperatura, K.
- diâmetro de colisão, Å
1 - função integral de colisão para  e k, (adimensional), que se
determina por lãs seguintes equações:

 0, 474
  K '.T     K '.T  
1  1,6016  . , para 0,3       2,0 ... (1.2.3)
      

  K '.T     K '.T  
1  1,306  0,085   , para 2,0       4,2 ... (1.2.4)
     

 0,1525
  K '.T     K '.T  
1  1,1809   , para 4,2       100 ...(1.2.5)
     
Onde:
: é a energia de atração máxima entre duas moléculas e
K’ : é aconstante do Boltzman(1,38 . 10-23), (J/K).

b) Para Gases poliatômicos:


A viscosidade pode ser calculada pela expressão (1.2.1). Em troca, para a
condutibilidade térmica se obtém maior precisão introduzindo um término de
correcção à equação (1.2.6)
T
2
k  8,3225 10  M   4   Cv  M   3 
 
  1 15  R  5 
2 (1.2.6)

Onde:
CV : é a capacidade calorífica a volume constante em J/kg.K
R : é a constante dos gases ideais em J/kmol.K.

De acordo com as equações (1.2.1) e (1.2.2):

Em gases: a viscosidade (µ) e a condutividade térmica (k)


aumenta com a temperatura, e é independente da pressão para
valores de pressão inferiores aos das condições críticas.

Para magnitudes de pressão iguais ou superiores às das condições


críticas, a viscosidade pode diminuir ou aumentar com a pressão, a
uma mesma temperatura, como se observa na Fig. (1.2.1).

Os parâmetros do Lennard – Jones  e



K ' se obtêm na Tabela A-2 do
~
apêndice do Texto (p.333), e V na Tabela A-3 (p.334).
Também mediante equações que se apresentam nas páginas 12 e 13 do
texto, incluindo a 1 e 2 que são funções de 
K' T 
e 
K 'T 
  ,
      AB
respectivamente. Nas relações expostas,  é a energia de atracção máxima
entre duas moléculas e K’ é a constante do Boltzman.
Exemplo Ilustrativo (para um gás puro):
1. Determinar a viscosidade do cloro (Cl2) a 30ºC (gás monoatômico).
Os parâmetros do Lennard – Jones são:
Pela Tabela A.2 do Anexo do livro de Garcell, para o Cl2:
M = 70,91 kg/kmol
 = 4,115 Å (diâmetro de colisão)
 
   357,0 K
 K' 

A temperatura adimensional é:
T = 30ºC = 303 K (temperatura de trabalho)
 K ' T  303
   0,8487 (temperatura adimensional)
   357

Dado este valor, 1 se calcula pela equação (4.1.2), Pág. 12 do Texto de


Garcell, ou se obtêm da Tabela E.2 do Texto de Bird, pag. 821:
0, 474
 K 'T   K 'T 
Para 0,3     2,0   1  1,6016 
     

1  1,60160,8487  1,60161,08086
0, 474

1  1,7404 (adimensional); pelo Texto de Bird, 1 = 1,734

M T
  2,6693  10 6  , ( Pa  s ) (1.2.1)
 2  1

70,91  303
  2,6693 106   1,328.10 5 ( Pa  s)
(4,115) 1,74
2
Problema Ilustrativo 2:
Cálculo da condutividade térmica de um gás puro.
 Calcular a condutividade térmica do Metano (CH4) á pressão
atmosférica e a 27 oC
Solução:
1. Identificar o objetivo: Determinar (k).
2. Identificação do sistema: gás puro a temperatura e pressão baixas.
3. Seleção do método de estimativa:
(1) Teoria cinética dos gases,
(2) Princípio dos estados correspondentes.
-Seleciona-se o método (1), mediante a equação obtida do modelo
da teoria cinética dos gases:

T /M
k  8,3225.10  2  , (W / m.K )
 2  1 (1.2.2)

Dados:
M = 16 kg/kmol
T = 27+ 273 = 300 K
4-Determinação dos parâmetros do procedimento inerente ao método
de estimativa.
Parâmetros de Lennard – Jones:
Para o CH4, pela tabela E-1 do livro do Bird, pág.819:
 = 3,78 Å T = 300 K
K 'T 300
(Ɛ/ K' ) = 154 K →   1,95
 154

De acordo ao valor de K' T  , seleciona-se a expressão para 1

 0 , 474
  K '.T     K '.T  
1  1,6016.  . , para 0,3       2,0 (1.2.3)
     

  K '.T     K '.T  
1  1,306  0,085   , para 2,0       4,2 (1.2.4)
     
 0,1525
  K '.T     K '.T  
1  1,1809    , para 4,2       100 (1.2.5)
     

Portanto, utilizando a expressão (1.2.3), obtém-se:


 0, 474
  K '.T  
1  1,6016.  .
   

1  1,6016.1,95
 0, 474
 1,174

5. Obtenção do resultado final:

300 / 16
k  8,3225.102  , (W / m.K )
3,782  1,174

k Me tan o(300.K )  0,0215.W / m.K

O valor calculado apresenta uma diferença de – 37 % respeito ao valor


experimental de 0,0342 W/m.K.

6. Análise dos resultados.


Em realidade, o metano é um gás poliatômico. Portanto, aplicando a eq.
(1.2.6) para gases poliatômicos, o resultado será:

k= 0,03204 W/m.K, com uma diferença -6,3 % respeito ao valor


experimental.

Nota
Não obstante, ainda que o primeiro resultado seja relativamente
afastado do valor obtido na literatura, de certa maneira, esse valor
pode, sempre, considerar-se satisfatório quando não se tem outra fonte
disponível.
C)Para misturas de gases não polares
Para mesclas de gases não polares, a viscosidade e a condutibilidade
térmica podem estimar-se mediante uma relação empírica conhecida como
equação do Wilke:
n
xi   i
 mes   n
(1.2.7)
i 1
 x j  ij
j 1

n
xi  k i
k mes   n

 x j  ij
i 1 (1.2.8)
j 1

onde:ij – é um parâmetro que se determina pela seguinte equação:


2
1 / 2
   1 / 2  M 1 / 4 
 1  M  1   i    j  
ij   1  i      M   (1.2.9)
 8  M j 
  j  i 
Onde:
n – número de componentes existentes na mescla
xi e xj– frações molares dos componentes i e j
i y j – viscosidades dos componentes à temperatura e pressão da
mescla
ki– condutibilidade térmica de cada componente puro
Mi e Mj – massas moleculares dos componentes
ij – número adimensional. Para o caso particular de i = j, ij = 1

O emprego das equações (1.2.7) e (1.2.8) requer conhecer os valores da


viscosidade e a condutibilidade térmica dos componentes puros que formam
a mescla, à temperatura e pressão desta.
1.2.2 Método apoiado no princípio dos estados correspondentes
A viscosidade de mesclas refrigerantes também pode ser estimada mediante
a correlação do Poong Yoon e Thodos, a qual se apóia no princípio dos
estados correspondentes (pag. 18 – 19 do Texto).
Também pelo gráfico de variáveis reduzidas (Figura 1.2, Pág. 20 do texto),
para gases puros ou mesclas refrigerantes.O gráfico dapag. 21 Figura 1.3
permite estimar condutibilidades térmicas de gases puros ou mesclas
refrigerantes.

Fig. 1.2.1 Viscosidade reduzida, () em função da temperatura reduzida,


Tr, e da pressão reduzida, Pr.
Fig. 1.2.2 Efeito da pressão sobre a condutividade térmica

Nas Fig. 1.2.1 e 1.2.2 se propõe uma correlação gráfica dá dependência da


viscosidade reduzida e a condutividade térmica reduzida de gases
monoatômicos (que pode utilizar-se também, com menor precisão, para
gases poliatômicos) com a pressão e a temperatura reduzidas.


r 
C é a viscosidade reduzida (1.2.10)
onde C - é a viscosidade crítica , expressa em micropoises.
A viscosidade crítica pode ser estimada com a seguinte expressão
empírica:

C = 61,6 * 10-7 (MTC)1/2 (V )


C
2 / 3
(1.2.11)

Onde:
3
VC é o volume molar crítico, em (cm /g-mol);

TC em K e M em (kg/kmol.)

kr = k/kc condutividade térmica reduzida

Na figura se observa que, para pressões relativamente baixas, menores que


a pressão critica, a condutividade térmica é praticamente independente da
pressão, aumentando com a temperatura; porem, para pressões maiores, a
condutividade varia com esta, diminuindo, inicialmente, e aumentando
depois, à medida que aumenta a temperatura.

1.2.3 Tabelas de propriedades de transporte


Na Tabela 1.1, pp. 14 – 15 do Texto, dão-se dados de viscosidades de gases
puros e mesclas refrigerantes. Na Tabela 1.2, pp. 15 – 16 do Texto, têm-se
valores de condutibilidades térmicas de gases e mesclas refrigerantes.

d) Propriedades de transporte para líquidos


Para a estimativa das propriedades de transporte em líquidos, devem-se ter
em conta as seguintes situações:
 Para líquidos puros
Geralmente existem tabelas, correlaciones gráficas e nomogramas, que
permitem determinar valores de viscosidade (), condutibilidade térmica (k).
Mas estas fontes de informação são limitadas, e muitas vezes a informação
terá que obtê-la por via experimental.
Os dados experimentais, e os apresentados na literatura, podem descrever-
se mediante equações empíricas ou semiempíricas em função da
temperatura, onde aparecem constantes que se avaliam com os dados
experimentais.
 Mesclas binárias homogêneas
Os valores resultantes das misturas binárias homogêneas de líquidos podem
estimar-se mediante expressões que estão em função das propriedades dos
componentes puros e da concentração (expressa como fracção peso ou
fracção molar) fundamentalmente, para  e K, por exemplo:
Log mist = x1 log 1 + x2 log 2 + ...... ... (1.2.12)

Para misturas binarias de líquidos miscibles, Kendall-Monroe tem


proposto a expressão:
mist = (x111/3 + x221/3)3.. . (1.2.13)

Para as misturas homogêneas binárias de líquidos não polares os valores


resultantes de kmist podem estimar-se mediante expressões que estão em
função das propriedades dos componentes puros e da concentração
(expressa como frações em massa), por exemplo, segundo a correlação de
Filippov e Novoselova:

kmist = k1w1 + k2w2 – 0,72w1w2 (k2-k1) (1.2.14)

onde a fração em massa w2 refere-se ao componente puro que tem o maior


valor de condutividade térmica, k2.

 Suspensões sólido – líquido


Nas suspensões é frequente a necessidade de determinar a viscosidade,
fundamentalmente, e a condutibilidade térmica. As expressões que se
utilizam se expressam em função da fracção volume da fase sólida e a
propriedade do meio lhe dispersem. Estas expressões são válidas para
suspensões relativamente diluídas. Para suspensões concentradas, as
propriedades se determinam por via experimental.
Nas suspensões é freqüente a necessidade de determinar suas
viscosidades s. As expressões que se utilizam se expressam em função
da fração volume, s, da fase sólida, e das propriedades do meio
líquido:

s = 1 (1 + 2,5 s) ... (1.2.15)


Esta expressao (1.2.15) é válida para suspensões relativamente
diluídas(s 10 %).
Para valores maiores de s, se pode aplicar a eq. (1.2.16):

s = 1 0,59/(0,77 - s)2 (Para s até 30 %) ... (1.2.16)

e a equaçao de Hatschek (1.2.17) , para 0,5s  0,9:

s = 1 1/(1 - s1/3) ... (1.2.17)

onde: 1 é a viscosidade do meio líquido puro e s é a concentração volume


da fase sólida (adimensional).
Para suspensões mais concentradas, as viscosidades se determinam por
via experimental.

No caso das suspensões sólido-líquido, se podem calcular as condutividades


térmicas mediante a equação de Tareef:

2kl  k S  2.S .(kl  k S )


kmist = kl . .. (2.1.1.9)
2kl  k S  S .(kl  k S )

Onde le s indicam as fases líquida e sólida, respectivamente, e S é a fração


volume dos sólidos

Pelo general, a viscosidade e a condutibilidade


Dos líquidos diminuem com o incremento da temperatura.

Nas páginas 29 – 34 do Texto, apresentam-se as expressões parae k de


líquidos, assim como exemplos ilustrativos de cálculo. Também podem
encontrar valores de sortes propriedades nas Tabelas 1.1, 1.2 e 1.3 do
Texto, pag. 14 – 17.
Propriedades de transporte de sólidos
Para os sólidos, as propriedades de transporte se referem à condutibilidade e
a difusividad, já que os sólidos não fluem, e, portanto, não pode falar-se de
viscosidade em sólidos. A informação destas propriedades está restringida a
pranchas e correlações gráficas.
Nos sólidos, a condutibilidade térmica pode variar pouco, aumentar, ou
diminuir com o incremento da temperatura, podendo obter correlações que
relacionam estas variáveis (ver Tabela 1.4 p.36 do Texto). Algo similar ocorre
com as difusividades de gases e sólidos através de outros sólidos

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