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TRANSFERÊNCIA DE MASSA

Conceitos de transferência de
massa
O QUE É A TRANSFERÊNCIA DE MASSA ?

 A transferência de massa em sentido lato


poderá ser entendida como o movimento
espacial da matéria.
 “transferência de massa” é geralmente
entendida no seu sentido mais estrito,
como movimento de um componente
específico (A, B…) num sistema de vários
componentes.
SENTIDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA?

 Existindo regiões com diferentes


concentrações, ocorrerá transferência de
massa no sentido das zonas onde a
concentração desse componente é mais
baixa.
 Essa transferência pode ocorrer pelo
mecanismo da difusão molecular ou da
convecção
COMO SE DEFINE A CONCENTRAÇÃO?

 A concentração é a quantidade de
substância (em moles ou massa) por
unidade de volume
 ([CA]=mol.m-3;
 [ρA]=kg.m-3
 sendo ρA=CA.MA
 Em que MA é a massa molar de A).
COMO SE DEFINE A CONCENTRAÇÃO?

 Em gases perfeitos, a concentração de


cada gás individual pode ser calculada a
partir da sua pressão parcial, pA:
 CA=pA/(R.T),
 Onde T- é a temperatura absoluta (K)
 R - a constante dos gases perfeitos
(8,314 J.mol-1.K-1).
COMO SE DEFINE A CONCENTRAÇÃO?

 Da mesma forma, a concentração total de todas as


espécies (C) está relacionada com a pressão total,
P na forma:
 C=P/(R.T)
 Por sua vez, a fracção molar de um componente A
numa mistura é o quociente entre o número de
moles de A, nA, e o número total de moles, ntotal,
 isto é, xA=nA/ntotal num líquido
 e yA=nA/ntotal num gás
COMO SE DEFINE A CONCENTRAÇÃO?

 Num gás a fracção molar pode ser


relacionada com a pressão parcial
através da lei de Dalton yA=pA/P
 e é também igual à percentagem
volumétrica (%V/V).
 Por exemplo, existindo 20% (V/V) de NH3
no ar, então yNH3=0,2.
ESQUEMA DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA
EXEMPLOS DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA

 Muitas ocorrências do dia-a-dia envolvem


transferência de massa:
 Processo de solubilização de açúcar no
chá favorecido pela agitação de uma
colher;
EXEMPLOS DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA

 Solubilização de sal em água;


 Evaporação de água na superfície de
uma piscina e transporte através do ar
envolvente;
 Solubilização de oxigénio em água num
aquário para consumo dos peixes;
 Arejamento de reservatórios de água;
EXEMPLOS DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA

 Secagem de um tronco de madeira após


o corte e correspondente transporte da
humidade através dos poros da madeira
até à sua superfície
EXEMPLOS DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA

 Solubilização de oxigénio num meio


nutriente para consumo de
microrganismos num processo de
fermentação aeróbia;
 Transferência de reagentes para a
superfície de um catalisador, onde ocorre
uma reacção
DIFUSÃO E CONVECÇÃO

EXEMPLO : PREPARAÇÃO DE CHÁ POR INFUSÃO

 Extracção sólido - líquido seguido de


difusão.
 O processo de transferência de massa é
favorecido pela agitação da colher -
convecção
PREPARAÇÃO DE CHÁ POR INFUSÃO
LEIS DE EQUILÍBRIO ENTRE FASES

 A transferência de massa através de


uma fase ou entre duas fases passando
a fronteira entre elas (líquida - líquida,
líquida - sólida, gás - líquida ou gás -
sólida) requer um afastamento das
condições de equilíbrio.
LEIS DE EQUILÍBRIO ENTRE FASES

 Por exemplo, poder-se-á dissolver sal


numa panela com água até a
concentração de sal na água atingir o
valor máximo, designado por
solubilidade, a qual depende da
temperatura da água.
LEIS DE EQUILÍBRIO ENTRE FASES

 Outro exemplo, é a secagem da roupa,


que ocorrerá mais rapidamente se o ar
estiver mais seco (isto é, quando a
pressão parcial de vapor de água no ar
estiver mais afastada do seu valor
máximo, sendo este dado pela pressão
de vapor correspondente à temperatura
considerada).
LEIS DE EQUILÍBRIO ENTRE FASES

Em alguns casos é possível obter uma


expressão analítica simples como os
equilíbrios líquido - gás descritos pela Lei de
Henry, válida para misturas diluídas (eq. 1);
 pA =H. CA (1)
 (lei de Henry, com [H]=Pa.m3/mol ou J/mol)
LEIS DE EQUILÍBRIO ENTRE FASES

 Ou os descritos pela lei de Raoult (eq. 2)


onde pA é a pressão parcial do
componente A na mistura gasosa em
equilíbrio com o líquido cuja
concentração em A é CA:

(lei de Raoult com xA=CA/C;


sendo p*A,σ -a pressão de vapor de A puro;
C -a concentração total - válida para
misturas ideais)
EXEMPLOS DE CALCULO DA
CONCENTRAÇÃO

 As figuras 2 a 3 ilustram situações onde


ocorre transferência de massa,
mostrando a forma de calcular o valor da
concentração do componente A na
fronteira entre fases (dado pelo valor de
equilíbrio).
FIGURA 2: SOLUBILIZAÇÃO DE A (SÓLIDO) NUM LÍQUIDO B OU SUBLIMAÇÃO DE
A NUM GÁS B.
.

A concentração de A à superfície é dada pela solubilidade (sL)


e pressão de vapor (p*A,σ), respectivamente
 Figura 3: solubilização de A (gás) num
sólido B. A concentração de A no sólido,
junto da superfície é dada pela solubilidade
[S]=mol/(m3 sólido.Pa); [CAS]=mol/(m3
sólido).
FIGURA 4: ABSORÇÃO DE UM GÁS SOLUTO A
NUM LÍQUIDO B.

 Se A for pouco solúvel em B (solução


diluída) é, em geral, aplicável a Lei de Henry
e CAS(líquido) =CAiL=ρAiG/H,
 [H]=Pa.m3/mol ou J/mol.
DIFUSÃO MOLECULAR

 A transferência de massa por difusão


molecular em consequência de uma
diferença de concentrações é análoga à
transferência de calor por condução
embora seja um fenómeno mais
complexo pois ocorre numa mistura com
pelo menos duas espécies químicas.
DIFUSÃO MOLECULAR

 Na Fig. 2.5 está representado um recipiente dividido por uma


placa de área A;

 Uma das partes contém moléculas A e B enquanto a outra


divisão só contém moléculas B, sendo CA=0 mol/m3.

 Se a placa que divide o recipiente for retirada, o movimento


molecular aleatório permite que moléculas A e B possam
frequentar o espaço anteriormente definido por V2. (ver fig.)
FIGURA 2.5: DIFUSÃO DO COMPONENTE A NUM RECIPIENTE
APÓS A REMOÇÃO DE UMA PLACA QUE O DIVIDE EM DUAS
SECÇÕES.
DIFUSÃO MOLECULAR

 Contudo, a probabilidade de uma


molécula A entrar nesse espaço é maior
do que a de sair do mesmo, uma vez que
aí a sua concentração inicial era 0.
 Ao fim de algum tempo, todo o espaço
conterá moléculas A e a concentração
será uniforme.
1ª LEI DE FICK
 A velocidade de transferência de massa do componente A (mol de
A/s) num meio em repouso contendo uma mistura binária A e B é
proporcional à área de transferência perpendicular ao movimento (A)
e ao gradiente de fracções molares (dxA/dz), sendo conhecida pela
1ª lei de Fick.

 A constante de proporcionalidade é designada por difusividade


mássica ou coeficiente de difusão de A no meio B (DAB, m2/s) que
tem as mesmas unidades da difusividade térmica α apresentada na
secção de transferência de calor.
SE A CONCENTRAÇÃO TOTAL (C, MOLES DE (A+B)/M3) FOR
CONSTANTE, OU APROXIMADAMENTE CONSTANTE COMO EM
SOLUÇÕES DILUÍDAS,
CUJA INTEGRAÇÃO, NO CASO DE GASES,
RESULTA EM:

 Onde

 pA1 e pA2 são, respectivamente, as pressões parciais de A mantidas


constantes nas fronteiras z1 e z2 (isto é, nos extremos do percurso
de difusão), considerando o gás como perfeito (CA=pA/(RT)).

 No caso de difusão em líquidos e sólidos é comum usar, por


analogia, equações idênticas à anterior (usando, obviamente,
concentrações em vez de pressões parciais).
 Numa mistura gasosa binária, o coeficiente de difusão
DAB = DBA ~10-5 m2/s e depende da temperatura e da
pressão .

 Em líquidos, a velocidade de difusão molecular é


menor pois as moléculas estão mais próximas,
aumentando as colisões e a resistência à difusão.

 Assim, DAB depende da concentração de A em B e toma


valores ~ 10-9 m2/s;

 Globalmente, Dsólidos ≤ Dlíquidos « Dgases.


 Se a área de transferência de massa for
constante é comum associá-la à
velocidade molar, obtendo-se o fluxo
molar ( , em mol.m-2.s-1):
TRANSFERÊNCIA DE MASSA POR CONVECÇÃO

 O mecanismo de transferência de massa através


de um fluido em movimento é designado por
convecção ;
 sendo esta convecção natural (se o movimento for
provocado por diferenças de densidades)
 ou convecção forçada (se o movimento for
provocado por acção de agentes externos, como
uma ventoinha, bomba centrifuga, ou outros).
CONSIDERE-SE UMA MISTURA BINÁRIA (A+B) A DESLOCAR-SE DEVIDO A
DIFERENÇAS DE PRESSÃO, COMO UM FLUIDO A ESCOAR NO INTERIOR DE UMA
CONDUTA (VER FIGURA).

 Representação do processo de transferência de massa de A na ausência de


variações espaciais de concentração (escoamento global de um fluido) ou na
presença destas
 Se não houver gradientes de concentração, a
velocidade média de deslocamento do
componente A é igual à velocidade média
molar do fluido e a velocidade de difusão
molecular prevista pela 1ª lei de Fick é nula.
 Assim, a velocidade de transferência de A
(mol A/s) é o resultado da contribuição do
movimento convectivo (devido ao movimento
global do fluido) e do movimento difusivo
(devido ao gradiente de concentrações, dado pela
1ª lei de Fick)
 Sendo a velocidade total de transferência de
massa , retirando o valor da velocidade
média molar u, substituindo na eq. Anterior
e rearranjando obtém-se:

 conhecida como a equação geral da difusão


Existem casos em que o fluxo de B é nulo,
como, por exemplo, se um gás B for muito
pouco solúvel num líquido A, e o vapor A se
difundir através de B
 Nestes casos, a integração da eq. anterior
dá origem à eq. :
 No entanto, quando o fluxo de A é igual mas
em sentido contrário ao de B como em
alguns processos de destilação (NA = -NB,
denominada contradifusão molecular) a eq.
Anterior resume-se à equação de Fick.
 Em muitos casos, o escoamento é
turbulento sendo caracterizado pela
formação de turbilhões que se movimentam
rápida e aleatoriamente.
 Por exemplo um sólido que se dissolve num
líquido, em maior quantidade e rapidez do
que a difusão molecular.
 Assim, poder-se-á escrever a penúltima eq.
na forma:
 Em que EM é a difusividade turbilhonar sendo esta
dependente do padrão de escoamento do fluido e
variável com a posição (toma o valor zero junto à
superfície e aumenta com a distância à parede).
 Como geralmente EM não é conhecido, bem como a
profundidade z , é comum definir um coeficiente de
transferência de massa, kG,L, à semelhança da definição
de coeficiente de transferência de calor.
 Este coeficiente leva o índice G quando a transferência é
efectuada no seio de um gás e o índice L quando se trata
de um líquido, e depende da geometria da superfície,
das propriedades do fluido e das condições de
escoamento do fluido.
 Assim, a velocidade de transferência de massa
será obtida através da eq. Anterior
 sendo A, a área de transferência de massa
perpendicular ao fluxo de massa,
 e ΔCA a driving-force, isto é, a causa para ocorrer a
transferência de massa (CAS-CA∞)
 em que CAS é a concentração de A junto à
superfície;
 e CA∞ é a concentração de A no fluido que a
envolve ( Fig. ver).
 Consoante se trate de um gás ou de um
líquido, poder-se-á definir outros
coeficientes de transferências de acordo
com as driving-forces consideradas:
COMPARANDO AS EQ. E REARRANJANDO, CONCLUI-SE QUE

NO CASO DE CONTRADIFUSÃO MOLECULAR OU MISTURAS DILUÍDAS


TRANSFERÊNCIA DE MASSA ATRAVÉS DE
INTERFACES
 multiplicando a Eq. Do fluxo por m, ter-se-á:

 Definindo agora KG pela Eq.

e comparando as equações, tem-se, finalmente:

 onde KG (m/s) representa o coeficiente global de transferência de


massa baseado na diferença de concentrações entre duas fases
gasosas, uma real, de concentração CAG e outra fictícia cuja
concentração é m.CAL.
 Em vez de multiplicar a Eq. por m, poder-se-ia multiplicar a Eq.
por 1/m, obtendo-se:

 definindo KL pela Eq.

e comparando as equações, obtém-se:

 Sendo KL (m/s) o coeficiente global de transferência de


massa baseado na diferença de concentrações entre duas
fases líquidas, uma fictícia de concentração CAG/m e outra
real de concentração CAL.
 Comparando as Equações que definem
os coeficiente globais nas duas fase,
conclui-se que:
CORRELAÇÕES EMPÍRICAS

 Os coeficientes de transferência de
massa dependem das propriedades
físicas do fluido (viscosidade μ, massa
volúmica ρ, coeficiente de difusão DAB),
da sua velocidade, u, e das dimensões
da superfície por onde este se escoa,
sendo L a sua dimensão característica:
 kG,L=f(μ, ρ, DAB, u, L).
 Usando uma técnica de análise das
dimensões das várias variáveis, é
possível obter os números adimensionais
característicos de um processo de
transferência de massa por convecção
forçada:
 O número de Reynolds, Re=ρ.u.L/μ que
caracteriza o escoamento do fluido
 - O número de Schmidt, Sc=μ./(ρ.DAB) que
relaciona propriedades físicas do fluido
 - O número de Sherwood, Sh=kG,L.L/DAB que
representa o aumento da transferência de
massa como resultado do movimento do
fluido (“convecção”) relativamente à
transferência de massa apenas ao nível
molecular (difusão)
EXISTEM AINDA OUTROS NÚMEROS ADIMENSIONAIS POSSÍVEIS
QUE RESULTAM DA COMBINAÇÃO DESTES:

 O número de Stanton para transferência


de massa, Stm = Sh/(Re.Sc)= kG,L./u
 - O número de Peclet para transferência
de massa, Pem = Re.Sc = u.L/DAB
 - O factor de Colburn, jD=Stm. Sc2/3 =
(kG,L./u).Sc2/3

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