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ESTRATÉGIA DE MÉDIO E LONGO PRAZO DA POLÍTICA MONETÁRIA

1. ENQUADRAMENTO

1.1 A Lei nº 1/92, de 3 de Janeiro, que define a natureza, os objectivos e funções do Banco de
Moçambique, confere ao Banco, entre outras, as funções de orientador e controlador da política
monetária e de autoridade cambial da República de Moçambique, e o mandato para accionar os
mecanismos de política ao seu dispor para garantir o alcance dos objectivos que lhe são adstritos.

1.2 Num contexto de permanentes mudanças do ambiente macroeconómico interno e externo, o


Banco de Moçambique tem procurado adequar os mecanismos de política ao seu dispor às
diversas realidades. O papel central dos agregados monetários na condução da política monetária
tem estado implícito nos diferentes contextos, desde a fase da fixação administrativa dos limites
de crédito e dos activos internos líquidos do sistema bancário, que vigorou até Dezembro de
1999, passando pela de livre flutuação das taxas de câmbio e de juros que vigora desde 1992 e
1994, respectivamente, até à actual fase de controlo indirecto da oferta monetária.

1.3 Volvidos estes anos após a adopção do controlo indirecto, impõe-se a definição de uma
Estratégia de Política de Médio e Longo Prazo.

1.4 A Estratégia de Médio e Longo Prazo da Política Monetária do Banco de Moçambique,


doravante abreviada como Estratégia de Política Monetária (EPM), faz a descrição genérica do
quadro de objectivos, instrumentos e procedimentos do Banco de Moçambique no
cumprimento da sua missão.

1.5 A Estratégia de Política Monetária é um documento que resume a visão do Banco de


Moçambique, definida no seu plano estratégico de médio prazo, de modo a dotar a politica
monetária de maior transparência e previsibilidade para assegurar maior credibilidade.

1.6 Importa mencionar que a presente EPM tem por base não somente o que são as funções do
Banco de Moçambique constantes da Lei nº 1/92 – Lei orgânica, de 3 de Janeiro, como também
os objectivos programáticos do Governo inscritos no PARPA e as grandes linhas de orientação
adoptadas pelos países membros da SADC e que constam no seu Plano Estratégico e Indicativo
de Desenvolvimento Regional.

1.7 O presente documento obedece a seguinte estrutura: na segunda secção é abordado o objectivo
final da política monetária; a terceira secção é reservada à especificação da meta de inflação, na
quarta apresenta o quadro operacional da política monetária onde se destaca o regime de metas
monetárias; e na última secção, o destaque são os procedimentos operacionais da política
monetária, identificando os principais instrumentos de política que serão manuseados para o
efeito.

2. OBJECTIVO FINAL DA POLÍTICA MONETÁRIA


2.1 A Lei Orgânica do Banco de Moçambique define como objectivo primário a preservação do
valor da moeda nacional. Para tanto, é importante que a política monetária seja correctamente
executada tendo em conta a estabilidade do sistema financeiro.

2.2 A combinação dos elementos referidos em 2.1. com a tendência mundial das últimas duas
décadas, resulta na interpretação de que o objectivo primário da Política Monetária implementada
pelo Banco de Moçambique é a estabilidade de preços.

2.3 A estabilidade de Preços deve ser entendida como o ponto em que variações no nível médio de
preços não afectam materialmente o processo de tomada de decisão económica. Há consenso de que
tal cenário ocorre quando a inflação é baixa e previsível.

2.3 Destaca-se, de entre outras, as seguintes desvantagens que uma inflação elevada e instável traz
para a economia:

(i) distorce a afectação de recursos e faz com que os investidores sacrifiquem a actividade
produtiva a favor das operações de hedging ;

(ii) desincentiva a poupança: se o valor esperado for menor que o actual, o público prefere
gastar mais dinheiro agora que poupá-lo para o investimento e consumo futuros;

(iii) descrimina os trabalhadores com salários fixos, pensionistas e trabalhadores com


rendimentos baixos que não se conseguem proteger contra o impacto da inflação;

(iv) resulta frequentemente numa distribuição irregular dos rendimentos e riqueza; e

(v) a discriminação dos grupos sociais com rendimentos baixos é socialmente inaceitável
num contexto em que o objectivo da política económica do Governo é reduzir a pobreza
absoluta.

3. ESPECIFICAÇÃO DA META DE INFLAÇÃO

3.1. Tal como acima referido a manutenção da estabilidade de preços é o objectivo principal da
política monetária do Banco de Moçambique. O indicador de inflação é a variação anual do Índice
de Preços no Consumidor da Cidade de Maputo, que segundo o Plano de Acção Para a Redução da
Pobreza Absoluta (PARPA II) não deverá exceder um dígito.

3.2. A inflação de um dígito é também coerente com os objectivos definidos para todos os países da
região da SADC, no Plano Indicativo de Desenvolvimento Regional (RISDP).

3.3. A meta de inflação é definida e anunciada anualmente pelo Governo, nos termos do Plano
Económico e Social e da proposta de Lei do Orçamento do Estado, dando-se ao Banco de
Moçambique a independência instrumental, ou seja, a autonomia de gerir os instrumentos de
política monetária para atingir os objectivos definidos.
3.4. Para se atingir a estabilidade de preços deverá ser adoptada uma política monetária orientada
para o futuro. Tal reflecte o facto de que a volatilidade dos preços no curto prazo não pode ser
controlada de forma fácil e sem custos pela política monetária.

3.5. Para efeitos de monitorização da política monetária, a variação anual do IPC será medida em
termos médios e acumulados.

4. QUADRO OPERACIONAL DA POLÍTICA MONETÁRIA

4.1 Para atingir o objectivo primário definido, o quadro operacional da política monetária do BM
assenta no regime de metas monetárias. As alternativas a esse regime são o regime de taxas de
câmbio administradas e o regime de metas explícitas de inflação. Os ensaios efectuados com base
nos dados disponíveis sobre os agregados monetários e o comportamento da inflação mostram que
para o caso da economia Moçambicana o regime de metas monetárias se afigura a opção mais viável.

4.2 O regime de metas monetárias é um quadro da política monetária caracterizado pela definição de
metas operacionais e/ ou intermédias monetárias, cuja prossecução conduz aos objectivos
estabelecidos. As metas intermédias são variáveis que afectam o objectivo final da política monetária
mas não estão sob o controlo directo do Banco Central. No caso do regime de metas monetárias, a
meta intermédia é o agregado monetário, cuja escolha depende da estabilidade da sua relação com o
objectivo final. A variável operacional deve ser influenciada directamente pelo Banco Central no
curto prazo, devendo ter uma relação previsível com a meta intermédia. Apesar do Banco Central
não poder influenciar directamente as metas intermédias, este procura fazê-lo através da gestão dos
instrumentos de política monetária para monitorar as metas operacionais tais como a base monetária
e as taxas de juro de curto prazo.

4.3 Nesta perspectiva, o Banco de Moçambique adopta como meta intermédia o agregado M3 e
como variável operacional a Base Monetária

4.4 A implementação do regime de metas monetárias tem em conta a possibilidade de ocorrência de


choques exógenos o que pressupõe que alguma discrição seja aplicada de modo a evitar perdas em
termos de produção e emprego, ou mesmo pressões inflacionárias em casos de choques da oferta. O
Banco de Moçambique continuará a acompanhar a conjuntura económica de modo a determinar a
origem e provável impacto deste tipo de choques da oferta. Nem sempre é possível prever
previamente os choques económicos que poderão afectar a política monetária. Tais choques poderão
incluir os factores que afectam os termos de troca, o fluxo de capitais externos, desastres naturais,
factores climatéricos, entre outros.

4.5 A política monetária num regime de metas monetárias requer que a relação funcional entre o
objectivo final da política monetária e a meta intermédia seja estável e previsível, e a relação entre a
meta intermédia e a variável operacional seja também estável.

4.6 Como estratégia de comunicação, a meta quantitativa de inflação será anunciada ao público de
modo a aumentar a confiança do público e a transparência em relação às acções do Banco Central.
O Banco de Moçambique dispõe de canais apropriados para comunicar-se com o público,
nomeadamente através (i) das intervenções do Governador, (ii) do comunicado de imprensa, e (iii)
outras publicações periódicas (Boletim Mensal de Conjuntura e Preços e Conjuntura Financeira).

4.7 O Banco Central manterá actualizadas as projecções da inflação numa perspectiva de curto prazo
(1 ano) usando para o efeito as metodologias mais adequadas.

5. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA POLÍTICA MONETÁRIA

5.1. Tal como referido anteriormente, de modo a alcançar os objectivos finais a política monetária
do BM será norteada nos seguintes termos:

 Adopção de um agregado monetário mais amplo como meta intermédia;


 Adopção do agregado monetário BaM como variável operacional;
 Análise profunda das perspectivas dos preços e sua sensibilidade em relação aos riscos
associados aos choques presentes e potenciais.

5.2. A definição das metas anuais e trimestrais dos agregados monetários baseia-se nos
postulados da equação das trocas no quadro da programação financeira, tomando como base a
meta de inflação definida pelo governo e a tendência futura do PIB real. O PIB potencial actual e
a sua evolução futura serão estimados com recursos às metodologias mais apropriadas.

5.3. O objectivo de Base Monetária será monitorizado fazendo uso das operações do mercado
aberto e o ajustamento do regime de reservas obrigatórias, para neutralizar flutuações temporárias na
liquidez dos bancos ou ajustar a liquidez estrutural, respectivamente, no contexto de taxas de juro
determinadas pelo mercado.

5.4. As intervenções no mercado aberto baseiam-se em leilões de quantidades dos seguintes


instrumentos de dívida: Bilhetes de Tesouro – que actualmente funciona tanto para financiamento
do Estado e fins de política monetária - operações Repo e Reverse Repo.

5.5. O Banco de Moçambique poderá ainda recorrer a intervenções no MCI para complementar as
operações de regulação de liquidez.

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