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— Esses dois casos são conflitos diferentes, mas o que os liga é o formato
como foi realizado o desmantelamento da União Soviética, e o fato de o
sistema internacional ter reconhecido as fronteiras como elas foram
delimitadas pelos soviéticos, sem levar em consideração certos enclaves,
como no caso de Nagorno-Karabakh — afirmou ao GLOBO Heitor Loureiro,
pesquisador associado do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente
Médio (Gepom).
Ambições imperiais
Além de fronteiras mal traçadas, o desejo da Rússia de retomar o antigo posto
de “centro do império” contribuiu para a instabilidade nas antigas repúblicas
da URSS. Em 2008, um ano depois de Putin declarar, na Conferência de
Segurança de Munique, que o “mundo unipolar havia acabado”, a Rússia
invadiu a Geórgia, sob o pretexto de proteger a população russa em duas
áreas separatistas, a Ossétia do Norte e a Abkházia. O conflito durou alguns
dias, mas gerou duas entidades autônomas e reconhecidas por Moscou como
Estados independentes.
Dados dos últimos anos apontam que a China ganhou espaço dos russos na
disputa pelo posto de maior parceiro comercial da Ásia Central, e Pequim
vem despejando bilhões de dólares como parte da Iniciativa Cinturão e Rota
— entre os principais projetos está o chamado Corredor Transcaspiano, que
liga a China à Europa e ao Mediterrâneo através de Cazaquistão, Geórgia e
Azerbaijão.
Apesar dos acenos das ex-repúblicas à China e à Europa, Loureiro afirma que
ainda é cedo para cravar que a Rússia se tornará um parceiro dispensável:
afinal, não é tão simples se desfazer de décadas de parceria de uma hora para
outra.