Metaverso e A Necessária Proteção Dos Dados - P&B Compliance

10/05/2022 17:41 Metaverso e a necessária Proteção dos Dados – P&B Compliance
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METAVERSO E A NECESSÁRIA PROTEÇÃO

DOS DADOS
LUCAS PAGLIA, ALAN NOVAES
 30/03/2022
O nosso sócio Lucas Paglia (https://www.linkedin.com/in/lucaspaglia/) e o especialista Alan Novaes

(https://www.linkedin.com/in/alan-novaes-022166126/) prepararam um artigo sobre o Metaverso o novo assunto do
momento. O texto aborda, de forma prática e direta, possíveis conflitos e oportunidades que o assunto traz à tona,
como as eventuais violações à privacidade e proteção de dados, bem como a ausência de regulamentação e
transparência sobre o tema.
Vale a reflexão para entrar nesse novo mundo chamado Metaverso.
Em outubro de 2021, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, anunciou a mudança do nome da empresa para “Meta””,
sendo, para muitos, uma clara alusão ao metaverso. A princípio, acreditou-se não passar de uma mera jogada de
marketing com o intuito de desvincular a empresa das recentes polêmicas envolvendo o seu nome, tais como o
escândalo da Cambridge Analítica em 2016 e o Facebook Papers em 2021. Entretanto, à medida que mais
https://compliancepb.com.br/pb_explica/metaverso-e-a-necessaria-protecao-dos-dados/ 1/6
informações foram veiculadas e as apresentações feitas pelo próprio Zuckerberg rodaram a internet, descobriu-se
que a companhia possuía planos bem mais ambiciosos do que apenas um re-branding ou reposicionamento de
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marca.
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Mas, afinal, no que consiste o metaverso? Como a sua criação poderá impactar(HTTPS://COMPLIANCEPB.COM.BR/EN/MAIN-PA
as formas de relações interpessoais,
de consumo, de trabalho, bem como os governos, as moedas e, principalmente, a privacidade e a proteção dos
dados dos usuários?
A palavra “meta” vem do grego e significa “além de” ou “em seguida”, enquanto “verso” faz referência ao universo.
Logo, analisando apenas a etimologia da palavra, é possível inferir que se trata de um ambiente para além daquele
que já conhecemos. Embora aparente ser novidade, o termo e a ideia de metaverso foram utilizados pela primeira
vez no livro “Snow Crash”, do autor Neal Stephenson, lançado em 1992. Assim como na obra de ficção de
Stephenson, na prática, o conceito de metaverso consiste em um ambiente virtual, no qual os usuários utilizam seus
avatares para interagir entre si e viver experiências realistas.
Diversos jogos seguem essa linha, sendo o Second Life, lançado em 2003, um dos exemplos de maior sucesso. No
entanto, a grande diferença entre os jogos já existentes e o metaverso de Zuckerberg é o fato de que todas as
atividades cotidianas poderão ser praticadas dentro da rede virtual tendo implicações na vida real, ou seja, o usuário
fará compras, trabalhará, estudará, assistirá a shows e realizará diversas outras atividades por meio da plataforma. O
metaverso também irá impulsionar a utilização de moedas extraoficiais, como as chamadas criptomoedas, para
efetuar quaisquer transações financeiras.
Muito se especula sobre a possibilidade de fracasso da nova tecnologia, entretanto, ao analisar o cenário atual, que
conta com a chegada da internet 5G, a utilização e o aprimoramento da realidade aumentada, a popularização do VR
(óculos de realidade virtual), o poder de processamento dos algoritmos e a internet das coisas, torna-se cada vez
mais difícil argumentar contra a concretização do metaverso. Outro motivo para acreditar no sucesso da nova
realidade virtual é o crescente desinteresse das novas gerações pela realidade, gastando cada vez mais tempo
dentro das redes sociais – que se mostram como precursoras de um ambiente totalmente virtual de interações -,
como as próprias conversas ‘online’ e os ‘likes’ em publicações. Um estudo[1] realizado pelo Hootsuite em conjunto
com a We are Social, em abril de 2021, apontou que cerca de 4,7 bilhões de pessoas possuem acesso à internet,
tendo um crescimento de 7,6% em um ano, enquanto o número de habitantes no planeta cresceu apenas 1%. Esse
crescimento também foi percebido na utilização das redes sociais que, à época da pesquisa, contavam com 4,33
bilhões de usuários, atingindo pela primeira vez mais da metade da população mundial.
Tendo em vista as iminentes mudanças, a inovação trazida pelo Meta, embora impressionante e para muitos
futurológica, desperta uma grande preocupação nas nações ao redor do planeta e seus órgãos reguladores: a
utilização das moedas extraoficiais pode levar ao enfraquecimento da soberania dos governos, que também será
ameaçada pelo crescimento significativo do poder das corporações. Entende-se que, apesar de (ainda)
extraordinário, o metaverso poderá trazer sérias consequências em escala individual e global, considerando que, a
partir do controle dos dados pessoais e comportamentos, a empresa, que atualmente já possui grande influência
sobre a população, passaria a ter ainda mais poder, manipulando condutas, descentralizando a moeda e alterando,
por completo, o modo de viver ocidental.
O metaverso, nesse sentido, pode apresentar também algumas vantagens, como a criação de novos empregos,
sobretudo no ramo da tecnologia, tendo em vista a demanda por serviços relacionados à plataforma virtual. Segundo
reportagem do Uol[2], o Facebook pretende criar 10 mil empregos na Europa para o desenvolvimento do metaverso
nos próximos cinco anos. No mais, a nova tecnologia ainda promete aquecer a economia mundial; prova disso foi a
compra de um terreno virtual por valor recorde[3], que ocorreu logo após o anúncio da mudança de nome para Meta.
Recentemente, a ZHA (Zaha Hadid Architects) exibiu a construção de uma pequena cidade virtual que poderá
oferecer aos usuários a interação com as construções como espaços de trabalho colaborativos, lojas e até galerias
para exposições de arte NFT[4]. Por fim, a realidade virtual, em uma proporção ainda maior do que a Internet, será
capaz de reduzir distâncias físicas. Imagine que, após a instauração do metaverso, será possível deslocar-se
virtualmente para qualquer localidade do planeta, o que ocasionará uma intensificação das trocas globais e declínio
dos limites fronteiriços, viabilizando o encontro de pessoas que habitam diferentes países por meio de seus
avatares.
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Apesar das prováveis vantagens trazidas pela plataforma, o metaverso permitirá que a inteligência artificial trace o
perfil de comportamento de todos os usuários, em uma escala muito maior do que as redes sociais são capazes de
fazê-lo atualmente. Isso decorre do impressionante volume de dados e informações que o ambiente virtual será
capaz de coletar, a partir do acompanhamento de cada uma das ações realizadas pelos avatares, observando e
analisando suas ações. O crescimento da geração de informações é uma tendência que já se concretizou nos
últimos dois anos, período em que, segundo matéria da Forbes[5], o volume de dados criado foi maior do que a
quantidade produzida em toda a história da humanidade. Se hoje na Internet já é possível mapear as preferências e
hábitos de consumo dos usuários apenas com base nos cliques, curtidas e instantes despendidos nas publicações,
pode-se esperar uma capacidade infinita de coleta e processamento de dados no metaverso. Provavelmente, haverá
muitos mais elementos para serem analisados na nova plataforma, como frequência cardíaca, expressões e reações
a produtos e publicidades, que vão além das interações presentes nas redes sociais atuais.
Outro fator de preocupação encontra-se no monopólio da empresa Meta sobre o metaverso. Primeiramente, é
preciso compreender que dominar essa nova tecnologia significa, consequentemente, controlar inúmeras
informações pessoais sobre cidadãos do mundo todo e, portanto, o domínio de uma única companhia sobre tais
dados propicia um uso arbitrário e indevido. Ainda, há um agravante: o Facebook, nome dado anteriormente à Meta,
envolveu-se, ao longo dos anos de sua existência, em grandes polêmicas, sobretudo relacionadas à utilização
inadequada dos dados pessoais de seus usuários, para fins publicitários e, até mesmo, eleitorais. Assim,
diferentemente da Internet, que pertence a uma sociedade sem fins lucrativos e que viabiliza a coexistência de
diversas redes, no caso em questão, teríamos um cenário em que uma única empresa, cuja credibilidade e reputação
encontram-se abaladas, comandaria a plataforma acessada por grande parte população mundial.
Nesse sentido, nota-se que teremos não só consequências globais decorrentes da utilização do metaverso, mas
também impactos em escala individual, afetando os cidadãos em suas vidas privadas. Em primeiro lugar, o
metaverso agravará uma questão trazida pelas redes sociais: a renegação da realidade. Como já feito com os filtros
estéticos do Instagram, o metaverso permitirá que os indivíduos criem versões irreais de si próprios, levando-os a
uma distorção de autoimagem. Além disso, o que se entende como privacidade, na ausência de regulamentação
específica, possivelmente, passará a ser inviável com a nova tecnologia, tendo em vista o aumento exponencial do
acesso da empresa a diversas informações pessoais. Assim, a plataforma poderá ameaçar a privacidade e as
liberdades individuais, considerando o eventual uso não consentido de um volume de dados nunca visto.
Diante disso, imagina-se, a princípio, que as leis nacionais de proteção de dados incidirão na manipulação de
informações pessoais realizada pelo metaverso, sendo cada vez mais necessário que os agentes de tratamento
sejam transparentes, empregando estratégias e garantindo a adequação a esses dispositivos legais, como a LGPD,
no caso do Brasil. Assim, é essencial que as empresas e companhias, ao tratarem os dados de inúmeros usuários,
assumam a responsabilidade, prestem contas e cumpram os princípios trazidos pelas normas, assegurando um
tratamento transparente, que possua finalidade legítima, não seja excessivo e não viole os direitos dos titulares,
previstos legalmente.
Muito embora as referidas leis tenham sido fundamentais para o combate à utilização imprópria e excessiva de
dados pessoais, além de terem estabelecido garantias aos titulares enquanto sujeitos de direito, é preciso
compreender que a intensificação desse uso no mundo virtual do Meta demandará adaptações e regulamentações
específicas. Para tanto, será de extrema importância o fortalecimento das autoridades de proteção de dados,
posicionando-se de forma ativa e preventiva frente à tendência da nova tecnologia, bem como fiscalizando as
atividades sobretudo das empresas que se beneficiam da produção de dados no metaverso. No mais, a cooperação
internacional entre essas entidades para elaboração de diretrizes, procedimentos e parâmetros para aplicação de
sanções terá um papel importante na padronização das boas práticas de privacidade e proteção de dados no cenário
mundial.
Em síntese, é possível afirmar que o metaverso irá revolucionar a tecnologia e(https://www.instagram.com/pbcompliance/)

alterar a realidade, gerando efeitos
colaterais positivos e negativos, que poderão ser neutralizados pela atuação conjunta das autoridades competentes
para fiscalizar e impor o cumprimento das leis que dispõem sobre privacidade
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proteção de dados.
[1]https://www.tudocelular.com/mercado/noticias/n173586/4-bilhoes-pessoas-conectadas-internet-rede-social.html
[2]https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2021/10/18/facebook-quer-criar-10-mil-empregos-na-europa-para-
desenvolver-metaverso-mundo-digital-paralelo.htm
[3]https://exame.com/future-of-money/terreno-em-mundo-virtual-e-vendido-por-recorde-de-us24-milhoes/
[4] https://www.cnnbrasil.com.br/estilo/escritorio-cria-cidade-no-metaverso-inspirada-em-micronacao-da-vida-real/
[5] https://forbes.com.br/fotos/2015/10/20-fatos-sobre-a-internet-que-voce-provavelmente-nao-sabe/
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