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F 008 – Notas de Aula

Notas de Aula

Fundamentos Básicos das Ciências da Natureza


Uma introdução aos conceitos básicos e à linguagem da ciência

Prof. Rickson C. Mesquita∗

March 9, 2023

Instituto de Física Gleb Wataghin – IFGW


Universidade Estadual de Campinas – Unicamp

∗ rmesquit@unicamp.br
A ciência e o método científico 1
A ciência é uma forma de compreender como as coisas funcionam. Mas 1.1 O começo da ciência . . . . 2
o que queremos dizer por “compreender” algo? Richard Feynman, um 1.2 O método científico . . . . 4
dos físicos mais famosos do século XX, descreveu a ciência da seguinte 1.3 Medidas e grandezas
forma: “Podemos imaginar que esse conjunto complicado de coisas em físicas . . . . . . . . . . . . . 6
movimento que constitui ‘o mundo’ seja algo parecido com uma grande 1.3.1 Conversão de unidades . . 8
partida de xadrez jogada pelos deuses, e nós somos observadores do 1.4 Notação científica . . . . . . 10
jogo. Não conhecemos as regras do jogo; tudo que nos é permitido fazer 1.4.1 Denotando múltiplos de
é observar. Claro que se observarmos por um tempo longo o suficiente, grandezas físicas com
poderemos eventualmente aprender algumas regras. As regras do jogo prefixos . . . . . . . . . . . . 11
são o que queremos dizer por física fundamental. Entretanto, mesmo 1.5 Algarismos significativos . 12
que conheçamos todas as regras, poderemos não entender por que uma 1.5.1 Operações com algarismos
jogada específica foi feita, meramente porque isso pode ser muito com- significativos . . . . . . . . . 13
plicado e nossas mentes são limitadas. Se você joga xadrez, deve saber 1.6 Determinando o valor e a
que é fácil aprender todas as regras, porém frequentemente é muito incerteza de uma medida . 14
difícil selecionar a melhor jogada ou entender por que um jogador fez 1.7 Estimativa e Ordem de
aquela jogada. Assim também é a natureza, só que muito mais ainda; Grandeza . . . . . . . . . . . 16
porém podemos ser capazes, pelo menos, de descobrir todas as regras. 1.8 Problemas . . . . . . . . . . 18
Na verdade, ainda não temos todas as regras. (...) Além de não con-
hecermos todas as regras, o que realmente podemos explicar em termos
dessas regras é muito limitado, porque quase todas as situações são tão
complicadas que não conseguimos seguir os lances do jogo usando as
regras e muito menos prever o que irá ocorrer em seguida. Devemos,
portanto, nos limitar à questão mais básica das regras do jogo. Se con-
hecermos as regras, consideraremos que ‘entendemos’ o mundo.”1 1: R.P. Feynman, R.B. Leighton, M.
Sands, Lições de Física, volume 1, cap.
2.

1.1 O começo da ciência

A história da ciência tem suas raízes na Mesopotâmia. O advento da agri-


cultura e escrita permitiu que as pessoas tivessem tempo para estudar
e registrar seus resultados. A ciência primitiva foi motivada pela fasci-
nação pelo céu noturno. Desde o século IV a.C., sacerdotes sumérios
estudavam as estrelas e registravam os resultados em tabuletas de barro.
Embora não tenhamos registros de seus métodos, uma tabuleta de 1800
a.C. mostra conhecimento de propriedades de triângulos retângulos.
Na Grécia antiga, a ciência não era vista como uma área distinta da
filosofia. No entanto, Tales de Mileto é reconhecido como a primeira
figura científica notável. Platão relata que Tales passava muito tempo ol-
hando as estrelas e sonhando, tendo chegado a cair em um poço em uma
ocasião. Em 585 a.C., utilizando dados dos primeiros babilônicos, Tales
previu um eclipse solar, mostrando a força da abordagem científica.
A Grécia antiga era composta por várias cidades-estado, com Mileto
sendo o local de nascimento de muitos filósofos notáveis. Muitos ou-
tros filósofos estudaram em Atenas, onde Aristóteles era um observador
perspicaz, mas não realizava experimentos. Ele acreditava que, se re-
unisse um número suficiente de pessoas inteligentes, a verdade surgiria.
1 A ciência e o método científico 3

Archimedes, que viveu em Siracusa, na Sicília, pesquisou as propriedades


dos fluidos. Um novo centro de aprendizado surgiu em Alexandria,
fundado por Alexandre, o Grande, em 331 a.C. Lá, Erastótenes mediu
o tamanho da Terra, Ctesíbio desenvolveu relógios precisos, e Hero in-
ventou o motor a vapor. Na época, os bibliotecários de Alexandria cole-
cionavam os melhores livros que encontravam para montar a melhor bi-
blioteca do mundo, que foi destruída quando romanos e cristãos tomaram
a cidade.
A ciência florescia de forma independente na China. Os chineses inven-
taram a pólvora, fogos de artifício, foguetes e armas, e também criaram
os foles para trabalhar metais. Eles inventaram o primeiro sismógrafo e a
primeira bússola. Em 1054, astrônomos chineses observaram uma super-
nova que, em 1731, foi identificada como a Nebulosa do Caranguejo.
Muita da tecnologia avançada do primeiro milênio a.C., incluindo a roda,
foi desenvolvida na Índia, e missões chinesas foram enviadas para es-
tudar as técnicas agrícolas indianas. Os matemáticos indianos desen-
volveram o sistema numérico de algarismos Indo-Arábicos, incluindo
números negativos e zero, e instituíram definições para as funções trigo-
nométricas de seno e cosseno.
No meio do século VIII, o Califado Islâmico Abbasíd transferiu sua cap-
ital do Império de Damasco para Bagdá. Guiado pelo princípio do Al-
corão que afirma ”a tinta de uma pena de um sábio é mais sagrada que
o sangue de um mártir”, o califa Harun al-Rashid fundou a Casa da
Sabedoria na sua nova capital com o objetivo de funcionar como uma
biblioteca e centro de pesquisa. Estudiosos coletavam livros de anti-
gas cidades-estado gregas e da Índia e os traduziam para o árabe, per-
mitindo assim a chegada de muitos textos antigos ao Ocidente, onde
eram desconhecidos durante a Idade Média. Até o meio do século IX,
a biblioteca de Bagdá havia crescido e se transformou em uma digna
sucessora da Biblioteca de Alexandria.
Vários astrônomos foram inspirados pela Casa da Sabedoria, destacando-
se Al-Sufi, que prosseguiu enriquecendo o trabalho de Hiparco e Ptolo-
meu. A astronomia era uma prática comum entre os nômades árabes
para a navegação no deserto durante as travessias noturnas. Alhazen,
nascido em Basra e educado em Bagdá, foi um dos primeiros cientis-
tas experimentais e seu livro sobre ótica é considerado de importân-
cia semelhante ao trabalho de Isaac Newton. Alquimistas árabes inven-
taram a destilação e outras técnicas inovadoras, além de ter cunhado
termos como alcalemia, aldeído e álcool. O físico Al-Razi apresentou o
sabão (sal de ácido graxo) e distingueu pela primeira vez a varíola do
sarampo. Ele escreveu em um de seus inúmeros livros: ”O objetivo de
um médico é fazer o bem até mesmo para seus inimigos”. Al-Khwarizmi
e outros matemáticos inventaram a álgebra e algoritmos, e o engenheiro
Al-Jarazi inventou o sistema de biela corrente que ainda é utilizado em
bicicletas e carros. Somente após vários séculos é que os cientistas eu-
ropeus se atualizariam sobre esses avanços.
A Era de Ouro Islâmica foi um período de florescimento científico e artís-
tico que teve início na capital do Califado Abássida, Bagdá, no século
VIII e durou cerca de cinco séculos. Esta era preparou o terreno para
a experimentação e o método científico, mas na Europa, o pensamento
científico demorou a superar as restrições do dogma religioso.
1 A ciência e o método científico 4

Durante séculos, a visão da Igreja Católica sobre o universo era baseada


na teoria de Aristóteles, que afirmava que a Terra estava no centro da
órbita de todos os corpos celestes. Em 1532, após anos de debate, o
físico polonês Nicolau Copérnico concluiu seu modelo heterodoxo do
universo, que colocava o Sol como centro. Embora consciente da here-
sia, Copérnico foi cauteloso e afirmou que seu modelo era apenas mate-
mático. No entanto, sua teoria rapidamente ganhou muitos seguidores.
O astrônomo alemão Johannes Kepler refinou a teoria de Copérnico us-
ando as observações de seu mentor dinamarquês Tycho Brahe e calculou
que as órbitas de Marte e, consequentemente, dos outros planetas eram
elípticas. Telescópios mais avançados permitiram ao polímata Galileu
Galilei identificar as quatro luas de Júpiter em 1610. O novo poder ex-
plicativo da cosmologia tornou-se inegável.
Galileu também demonstrou o poder da experimentação científica ao in-
vestigar a física de objetos em queda e projetar o pêndulo como um me-
didor de tempo. O holandês Christiaan Huygens usou essa descoberta
para construir o primeiro relógio com pêndulo em 1657. O inglês Fran-
cis Bacon escreveu dois livros expondo suas ideias sobre um método
científico e o princípio teórico fundamental da ciência moderna foi de-
senvolvido com base em experimentos, observações e medições.

1.2 O método científico

O filósofo inglês Francis Bacon apresentou o primeiro sistema lógico


para o processo científico no início do século 17. Baseado no trabalho do
cientista árabe Alhazen 600 anos antes, e reforçado pelo filósofo francês
René Descartes, o método científico de Bacon exige que os cientistas
façam observações, formem uma teoria para explicá-las e realizem testes
para verificar se a teoria é válida. Se a teoria parecer verdadeira, os re-
sultados são enviados para revisão por colegas da mesma ou área afim
para encontrar falhas ou repetir a experimentação para garantir a pre-
cisão dos resultados.
O método científico proposto por Bacon segue algumas etapas (Figure
1.1). A primeira etapa envolve a formulação de um problema ou uma

Figure 1.1: Representação esquemática


do método científico moderno. A cu-
riosidade e/ou neces- sidade nos levam
a observações experimentais, que nos
permite identificar um padrão e que nos
motiva a desenvolver uma hipótese cien-
tífica. Na ciência, qualquer explicação
ou hipótese precisa ser verificável. Isso
significa que nossos modelos devem ser
capazes de prever resultados de novos
experimentos em laboratório ou de ob-
servações da natureza.
1 A ciência e o método científico 5

questão, que tipicamente surge a partir de uma observação específica.


As observações podem ser utilizadas para determinar um padrão; na
tentativa de explicar esse padrão, fazemos conjecturas (isto é, hipóteses).
As hipóteses são baseadas em suposições e, frequentemente, podem ser
descritas por meio de um modelo científico. Modelos nada mais são
do que representações conceituais (e, muitas vezes abstratas) de algum
fenômeno que observamos. Os modelos podem evoluir para uma teoria,
que é uma explicação bem testada de um fenômeno natural em termos
de processos e relações mais básicas. Ao longo desse processo também
podemos elaborar leis, que descrevem relações entre coisas que pode-
mos observar e medir.
Mas qualquer hipótese ou modelo, para ser científico, precisa ser testável.
O elemento onipresente do método científico é o empirismo. As ciências
naturais não se baseiam unicamente na razão para resolver problemas.
É o fator empírico que diferencia o método científico de outras formas
filosóficas, como as formas baseadas no racionalismo proposto por René
Descartes. Fazendo o experimento podemos medir coisas, e comparar
com a previsão do modelo existente. Essa é uma das grandes caracterís-
ticas de qualquer explicação científica: ela precisa ser testada, analisada
e validada. Por exemplo, o astrônomo inglês Edmond Halley observou
o cometa de 1682, notou sua semelhança com cometas relatados em 1531
e 1607 e afirmou que eram o mesmo objeto em órbita ao redor do sol.
Halley previu seu retorno em 1758 e estava correto – foi avistado em 25
de dezembro. Hoje, o cometa é conhecido como Halley.
Para os astrônomos, a prova só pode vir da observação, pois são rara-
mente capazes de realizar experimentos. Em outras áreas das ciências da
natureza, experimentos podem acontecer para testar uma teoria ou sim-
plesmente especulativos. Quando o físico neozelandês Ernest Ruther-
ford observou seus alunos disparando partículas alfa em ouro em folha
em busca de deflexão, sugeriu que colocassem o detector ao lado da
fonte. Para surpresa deles, algumas das partículas alfa ricochetearam
na folha laminada. Rutherford comparou isso a uma bala ressaltando
de um lenço de papel, o que levou a uma nova ideia sobre a estrutura
do átomo.
A validação de uma hipótese científica passa pela sua capacidade de
prever e explicar novas observações. Se a experimentação resultar no
previsto, o cientista tem prova para apoiar sua teoria. Se em algum mo-
mento nossa hipótese não é capaz de explicar algum fenômeno, descar-
tamos a hipótese e procuramos outra melhor. A ciência não assume ver-
dades absolutas, não tem dogmas. Ela tem hipóteses e modelos. E en-
quanto nosso modelo for capaz de prever os fenômenos que observamos
ou criamos, continuamos o utilizando. Mas sempre que algum experi-
mento contradiz o modelo científico, os cientistas não têm vergonha nen-
huma em assumir que o modelo está errado (ou pelo menos incompleto),
e a partir daí buscam aprimorar seus modelos.
1 A ciência e o método científico 6

Em outras palavras, a ciência nunca pode provar que uma teoria está
correta. Como frisou o filósofo Karl Popper no século XX, a ciência pode
apenas refutar coisas. Cada experimento que resulta na resposta pre-
vista é uma prova de embasamento, mas um teste fracassado pode in-
validar uma teoria.
Ao longo dos séculos, conceitos antigos, como a simplicidade do uni-
verso, os quatro líquidos orgânicos, a noção de flogisto e o meio miste-
rioso conhecido como éter, foram descartados e substituídos por novas
teorias. Embora essas teorias sejam consideradas atuais, elas ainda po-
dem ser refutadas, embora seja improvável que isso aconteça com base
nas evidências atualmente disponíveis. Essas teorias são continuamente
avaliadas e aprimoradas por meio de novas descobertas e experimen-
tações. O processo científico é dinâmico e evolui constantemente, re-
sultando em um entendimento mais preciso da natureza e do universo.
Embora a ciência nunca possa fornecer certezas absolutas, ela é uma fer-
ramenta poderosa para explicar fenômenos e fazer previsões precisas.
Por meio do método científico, a humanidade tem sido capaz de fazer
avanços incríveis e resolver muitos dos seus maiores desafios.

Problema 1.2.1 Quais das seguintes sentenças podem ser considera-


das hipóteses científicas? (a) Mexer com sapos causa verrugas; (b) Ob-
jetos mais pesados caem mais rápido do que objetos mais leves na
Terra; (c) Planetas distantes abrigam outras formas de vida; (d) O plan-
eta Marte é habitado por seres invisíveis que são capazes de fugir e se
esconder de qualquer tipo de observação.

1.3 Medidas e grandezas físicas

Realizar experimentos é, no fim das contas, realizar uma medida de uma


grandeza física. De forma geral, medir significa associar um número
a uma grandeza física. Por exemplo, ao medir o comprimento de um
objeto, estamos associando um número (que representa a distância en-
tre dois pontos no espaço) com uma grandeza física (no caso, o compri-
mento do objeto).
Podemos medir diferentes características de um objeto. Ou seja, pode-
mos medir diferentes grandezas físicas, que podem ser associadas às
diferentes características de um objeto. Além do comprimento, já citado,
podemos querer medir o intervalo de tempo que este objeto demora para
ir de um lugar até outro; ou podemos querer saber quanto este objeto
pesa. Talvez o nosso interesse seja na temperatura do objeto. E, se esse
objeto for um fio por onde passa eletricidade, seria útil sabermos a cor-
rente elétrica que passa no fio.
Se quisermos reportar os resultados de um experimento para qualquer
outra pessoa, precisamos então definir um padrão. Não teria sentido eu
dizer para você que uma parede tem 8 glitches de altura se você não
souber o significado de um glitch. Por outro lado, quando eu digo que
uma parede tem 2 metros de altura, você tem uma boa noção de qual
é o tamanho da parede. Isto ocorre porque nós dois estamos usando o
mesmo padrão, o metro. Na Física, chamamos estes padrões que usa-
mos para medir coisas de unidades.
1 A ciência e o método científico 7

Qualquer que seja a escolha do padrão, ela deve ser acessível para várias
pessoas e deve possuir algumas propriedades que podem ser facilmente
medidas. Ao longo do tempo, cada civilização desenvolveu os seus pró-
prios padrões, baseados em unidades arbitrárias. Tipicamente, estas
unidades eram associadas com partes do corpo humano, como o pé e
o polegar. Frequentemente, usava-se as mãos e os pés dos reis como
referência. Por exemplo, em 1120 o rei da Inglaterra nomeou o padrão
para medir o comprimento como jarda, que deveria ser igual à distân-
cia da ponta do seu nariz ao final de seu braço estendido. Na França, o
padrão original para o pé foi o comprimento do pé do rei Luís XIV.
À medida que o comércio foi se expandindo para diferentes reinos, a
escolha de diferentes medidas passou a criar muitos problemas. Afinal,
as pessoas de uma certa região não estavam familiarizadas com o sis-
tema de medidas de outras regiões. Mas, para poderem interagir uns
com os outros, um princípio básico é que os padrões de medida usa-
dos em diferentes lugares devem fornecer o mesmo resultado. Imagine
a dificuldade em comprar ou vender produtos cujas quantidades eram
expressas em unidades de medidas totalmente diferentes, e que nem tin-
ham correspondência entre si. Para que qualquer medição seja precisa, é
importante padronizarmos a unidade da grandeza que queremos medir.
Só desta forma diferentes pessoas em diferentes lugares ao redor do Uni-
verso são capazes de produzir o mesmo resultado numa medida.
Para tentar resolver esse problema, em 1799 a Academia de Ciências da
França apresentou a proposta de um sistema métrico decimal unificado,
cujas grandezas eram medidas em unidades padronizadas. O sistema
métrico francês adotou inicialmente três unidades básicas de medida:
o metro (para medir distâncias), o quilograma (para medir massas) e o
segundo (para medir tempos). Naquela época, um metro foi definido
como um décimo de milésimo da distância do Equador ao polo Norte,
medido através de uma linha imaginária que passava por Paris.
Já o tempo sempre foi uma grandeza associada com uma medida en-
tre dois eventos que se repetem. As civilizações mais antigas usavam a
posição do sol no céu para medir o tempo. Não a toa o nosso calendário
tem 365 dias, correspondendo a diferentes posições do sol no céu. Out-
ras civilizações usavam a posição da lua, e com isso criaram um outro
calendário. Até 1967, o segundo era definido com base no dia solar mé-
dio. Um dia solar é um intervalo de tempo entre sucessivas aparições de
sol no ponto mais alto em que ele atinge no céu a cada dia. Um segundo
foi definido como 1/86.400 de um dia solar médio.
Em 1960 um comitê internacional estabeleceu sete grandezas físicas como
fundamentais, e definiu um conjunto de padrões para cada uma destas
grandezas. Hoje, as sete grandezas físicas fundamentais são o compri-
mento, o tempo, a massa, a corrente elétrica, a temperatura, a quan-
tidade de uma substância e a intensidade luminosa. Qualquer outra
grandeza física pode ser obtida a partir da combinação destas grandezas
fundamentais.
O padrão estabelecido para cada grandeza física é conhecido como Sis-
tema Internacional ou SI. No SI, o comprimento é medido em metros; o
tempo, em segundos; a massa, em quilogramas; a corrente elétrica, em
amperes; a temperatura, em kelvin; a quantidade de uma substância,
1 A ciência e o método científico 8

Figure 1.2: As grandezas físicas funda-


mentais e suas principais unidades, de
acordo com o sistema internacional de
unidades (SI).

em mols; e a intensidade luminosa é medida numa unidade chamada


candela. Cada uma destas unidades tem uma abreviação (Figure 1.2).

1.3.1 Conversão de unidades

O Sistema Internacional de unidades é usado em quase todos os países


do mundo, mas não é o único sistema em vigor. Os EUA, por exemplo,
usam o sistema britânico até hoje. Lá, o leite é vendido em galões, não
em litros; as velocidades dos carros são medidas em milhas por hora.
Mas, se soubermos a relação entre dois padrões, podemos facilmente
converter uma unidade de um sistema de medida para outra unidade de
outro sistema de medida. No caso de distância, por exemplo, sabemos
que 1 milha é igual a 1.609 metros. A partir desta informação, podemos
converter qualquer distância entre estas duas unidades.

Utilizando fatores de conversão como o citado acima podemos multi-


plicar ou dividir distâncias, tempos ou qualquer outra grandeza para
passar de uma unidade de medida para outra. Por exemplo, se quiser-
mos saber quantos centímetros tem 15 polegadas precisamos saber que
o fator de conversão é que 1 polegada = 2,54 centímetros. Assim,

2, 54 cm
15!!·
pol = 38, 1 cm.
1! !
pol

Exemplo 1.3.1 Muitas pessoas gostam de usar regras de três para


fazer conversão de unidades. Na verdade, o procedimento mais
direto e simples é utilizar os princípios de multiplicação da álgebra.
Dada uma certa grandeza física com uma determinada unidade,
basta multiplicar esta grandeza pelo fator de conversão, de forma
que as unidades similares se cancelem. Afinal, como o numerador e
o denominador são equivalentes, apenas em unidades diferentes, a
multiplicação de qualquer valor por uma fração deste tipo não altera
o valor, só muda as unidades.

Por exemplo, se a distância entre 2 cidades nos EUA é de 32 milhas,


para determinar quantos quilômetros as duas cidades estão uma da
outra é necessário saber que 1 milha equivale a 1.609 m. Daí,

!· 1.609!
m 1 km
!
32!
mi ! · = 51 km.
1!
mi 1000!
!
m
1 A ciência e o método científico 9

Esse procedimento é especialmente útil quando temos que fazer suces-


sivas conversões, Por exemplo, se precisarmos converter a densidade
da água, de 997 kg/m3 , em g/cm3 , simplesmente fazemos:
3
" 10 g 1!
kg !
m 1!!
m 1!!
m g
997 " · · 2 · 2 · 2 = 997·10−3 = 0, 997 g/cm3 .
#m#
3 1#kg
# 10 cm 10 cm 10 cm cm 3

Definindo unidades a partir de fenômenos da natureza

Com o tempo, os cientistas aprenderam que os padrões usados para


medidas não deveriam mudar com o tempo, pois isso poderia con-
fundir medidas feitas em períodos completamente diferentes. Um
metro deveria ser representar a mesma coisa sempre, independente
de fazermos a medida hoje ou daqui a mil anos.

Por este motivo, com o passar dos anos os cientistas buscaram definir
cada uma das principais unidades do SI em padrões reprodutíveis
da natureza que não mudam. Hoje, o metro é definido a partir da
distância que a luz percorre no vácuo num intervalo muito curto de
tempo: 1/299.792.458 segundos.

Já o segundo, que usamos para medir o intervalo de tempo, atual-


mente é definido a partir de oscilações de um elétron entre dois
estados específicos do átomo de Césio. Hoje, 1 segundo corresponde
a 9.192.631.770 oscilações entre dois estados específicos do átomo de
césio.

Até 2019, o quilograma era definido a partir de um cilindro de liga de


platina, apelidado de “Le Grand K,” e mantido em Paris. Qualquer
medida de massa deveria ser comparada a este cilindro, que era
utilizado como referência. O problema, como você já deve imaginar,
é que o próprio peso do cilindro muda com o tempo por causa de
variações na temperatura e pressão. Por isso, a partir de 2019 o
quilograma passou a ser definido em termos da constante de Planck,
uma constante muito utilizada na Física e cujo valor foi medido com
extraordinária precisão nos últimos anos.

Desta forma, hoje podemos medir coisas de forma muito mais


precisa do que há 100 anos atrás, o que nos permite desenvolver
tecnologias cada vez mais precisas. Se hoje você consegue navegar
numa cidade desconhecida usando um GPS, agradeça ao esforço
que vários cientistas fizeram para melhorar a precisão de medidas
a ponto do seu aplicativo conseguir te dar uma precisão de poucos
metros em intervalos de tempo muito curtos.

O campo da metrologia busca aprimorar a precisão dessas medidas,


com órgãos responsáveis como o NIST nos EUA e o INMETRO no
Brasil. O INMETRO define os padrões de medida no Brasil e tem
sua sede em Brasília e laboratórios em Duque de Caxias, no Rio de
Janeiro. Aprimorar a precisão dessas medidas permite tecnologias
mais precisas, como GPS.
1 A ciência e o método científico 10

1.4 Notação científica

Um dos fatos mais relevantes na ciência é que ela é capaz de estudar to-
dos os objetos, desde a partícula mais minúscula que há no universo até
o próprio universo em si ( Figure 1.3). A generalidade de estudar compri-
mentos, tempos e massas tão diferentes faz com que seja necessária uma
notação mais compacta para escrever números relacionados com várias
escalas diferentes. Em outras palavras, precisamos achar uma forma de
escrever números muito grandes e muito pequenos ao mesmo tempo.
Afinal, nem todas as coisas são práticas para escrevermos em termos de
segundo, metro e quilograma.
Por exemplo, se você quisesse escrever a idade do universo − que é de
13,8 bilhões de anos − você teria que escrever nove zeros depois do 13,8.
E se você tivesse que fazer algum cálculo que envolvesse essa grandeza,
como, por exemplo, calcular a velocidade de expansão do Universo, você
teria que escrever todos esses zeros o tempo inteiro... Da mesma forma,
já pensou você ter que calcular o volume de uma célula, cujo tamanho
é da ordem de 0,000005 metros? Certamente a forma tradicional de es-
crevermos números na matemática não é nada prática quando lidamos
com números muito grandes ou muito pequenos...
Seria muito mais fácil se achássemos uma notação mais compacta para
escrever qualquer número. E, de fato, os cientistas criaram uma notação
própria, chamada de notação científica. Na notação científica, escreve-
mos os números em múltiplos de potências de 10. Ou seja, escrevemos
um determinado número como o produto de um número maior que 1 e
menor que 10, e uma potência de 10:

𝑛 = 𝑎 · 10𝑏 . (1.1)

Figure 1.3: Diferentes escalas de espaço


(esquerda) e tempo (direita) comumente
estudados nos diferentes ramos da ciên-
cia.
1 A ciência e o método científico 11

O número antes da potência de 10 é chamado de mantissa. E o número


que elevamos na potência é chamado de expoente. Nessa notação, a idade
do Universo seria escrita como 1, 38 · 1010 anos. E o tamanho da célula,
como 5 · 10−6 m. Muito mais simples, não?
Outra vantagem da notação cientifica é que os cálculos entre dois ou
mais números ficam muito mais fáceis de serem feitos. Afinal, precisa-
mos fazer contas com números entre 1 e 10, e depois somar ou subtrair
expoentes seguindo as regras da álgebra. Por exemplo, para multiplicar
dois números na notação cientifica, multiplicamos as mantissas dos nú-
meros e adicionamos os seus expoentes.

Exemplo 1.4.1 (Calculando o número de átomos em todos os seres hu-


manos) O corpo humano tem aproximadamente 7 · 1027 átomos, e a
Terra tem mais ou menos 7 bilhões de pessoas – ou 7 · 109 pessoas,
na notação científica. Assumindo estes valores como corretos, pode-
mos calcular quantos átomos existem nos corpos de todos os seres
humanos na Terra:

7 · 1027 átomos
𝑁 = 7·109$ $$$×
pessoas $ = 49·1027+9 = 49·1036 = 4, 9·1037 ,
1$ $$
pessoa

pois na notação científica o número antes da potência de 10 precisa


estar entre 1 e 10. Logo, reescrevemos o 49 como 4, 9 × 10 = 4, 9 × 101 .
Com isso, o número de átomos em todos os corpos das pessoas na
Terra é 4, 9 · 1037 .

1.4.1 Denotando múltiplos de grandezas físicas com


prefixos

Embora a notação científica simplifique muito o trabalho de escrever


números muito grandes ou muito pequenos, muitas vezes estudamos
sistemas físicos onde uma determinada escala de tamanho, tempo ou
massa é muito frequente. Por exemplo, não faz sentido um astrônomo
descrever distâncias entre galáxias em metros, pois todas as distâncias
que ele lida estão em escalas muito maiores do que um metro. Ao mesmo
tempo, um metro para um biólogo que estuda células é uma escala igual-
mente inútil, pois ele precisa trabalhar com comprimentos numa escala
um milhão de vezes menor do que o metro.
Por este motivo, é conveniente definir múltiplos para cada unidade básica
do SI, e atribuir prefixos a determinados múltiplos de 10. Estes prefixos
têm abreviações com letras universalmente aceitas na ciência (Figure 1.4).
Desta forma fica fácil saber que toda unidade precedida pelo prefixo
’quilo’ representa 1000 vezes aquela unidade, ou 103 . De forma simi-
lar, 1 milisegundo equivale a 0,001 segundos, ou 10−3 segundos, pois o
prefixo mili geralmente está associado ao expoente 3 na potência de 10.
E a memória de 8 Gb (gigabytes) de RAM de um computador significa
8 bilhões de bytes, ou 109 bytes.
1 A ciência e o método científico 12

Figure 1.4: Prefixos mais utilizados para


representar diferentes fatores de 10 que
podem multiplicar uma determinada
unidade.

1.5 Algarismos significativos

Uma outra característica importante quando escrevemos números na


ciência é que estes números refletem o resultado de uma grandeza física,
que é no final das contas obtido por uma medida experimental. Logo,
o valor de uma medida está sempre associado a um instrumento. Para
medirmos algo precisamos de um instrumento de medida. Um relógio
ou um cronômetro pode medir o intervalo de tempo entre dois eventos;
uma balança é utilizada para medir a massa de um objeto; uma régua,
uma trena e um paquímetro são instrumentos capazes de medir distân-
cias entre dois ou mais pontos.
No entanto, qualquer que seja o instrumento que usarmos para medir
uma grandeza física, o resultado da medida nunca será exato. Todo in-
strumento tem uma certeza dentro de um certo intervalo no qual ele é
capaz de medir. Por exemplo, se medirmos o tamanho de um livro com
Figure 1.5: Uma régua milimetrada
uma régua, o nosso instrumento de medida (no caso, a régua) é divi- pode ser utilizada com instrumento
dido em centímetros, e no intervalo de 1 centímetro há 10 riscos (Figure para medir comprimentos na escala de
1.5). Portanto, o intervalo entre dois riscos corresponde a 0,1 cm. Logo, cm. No intervalo de 1 cm há 10 traços,
indicando que a menor medida corre-
a maior certeza que podemos ter ao medir um livro com uma régua é de sponde a 1 cm/10 = 0,1 cm = 1 mm.
0,1 cm.
Então, se o livro tem um tamanho de 27,8 cm medido com a régua, não
podemos ter certeza se o resultado final é 27,81 ou 27,89 cm – a régua
não tem essa precisão. O último algarismo que temos certeza é o 8. Este
é o último número que tem algum significado no valor associado ao
tamanho do livro que medimos. Dizemos, portanto, que o número que
medimos tem 3 algarismos significativos: o 2, o 7 e o 8.
Na notação científica, escrevemos o tamanho do livro como 2, 78 × 101
cm. Essa é a maior precisão que temos nesta medida. Não podemos
escrever o tamanho do livro como 2, 783 × 101 cm ou 2, 785 × 101 cm
pois, apesar de ser um número mais preciso do que 2, 78 × 101 , nossa
medida não teve essa precisão toda.
A única maneira de contar o número de algarismos significativos de
forma não ambígua é escrevendo o número que queremos em notação
científica. Neste formato, podemos verificar com certeza qual é a pre-
cisão do número que estamos lidando.
1 A ciência e o método científico 13

Quando o número que estamos medindo é muito pequeno, os zeros à es-


querda do número não contam como algarismos significativos, pois não
dá pra medir zero com nenhuma precisão - zero é sempre zero... (Você já
deve ter ouvido falar na expressão “zero à esquerda”, né? Pois é, quando
alguém diz que algo é um zero à esquerda, a pessoa quer dizer que este
algo não serve pra nada... essa expressão vem da ciência!) Assim, se um
número medido é escrito como 0,00162 segundos, há apenas 3 números
que tem algum significado: 1, 6 e 2 – os zeros à esquerda não servem pra
nada. Dizemos, portanto, que este número também tem 3 algarismos
significativos. Em notação científica, temos 1, 62 × 10−3 . Agora ficou
claro os 3 algarismos significativos, não é mesmo?
Por outro lado, os zeros à direita contam como algarismos significativos,
pois ao escrevermos os zeros à direita estamos passando a mensagem de
que podemos ter certeza destas casas decimais, independente do número
ser zero ou não. Então, o número 1,620 tem quatro algarismos signi-
ficativos. E ao escrevermos o número desta forma estamos dizendo que
temos precisão até o terceiro dígito após a vírgula - ou seja, temos certeza
do número medido até o zero.

1.5.1 Operações com algarismos significativos

Frequentemente precisamos combinar diferentes medidas através das


operações matemáticas. Ao fazer isso você deve se certificar que o resul-
tado tenha um número apropriado de algarismos significativos. Afinal,
não faz sentido eu medir duas coisas com uma precisão de 0,1 cm e dar
a resposta com a precisão de 0,000005 cm. Claramente eu não tenho
precisão suficiente para dar essa resposta.
Por exemplo, se dividirmos 1,23 por 3,4461, o resultado não é igual a
0,3569252! Sua calculadora até pode dar esta resposta, porque matem-
aticamente este é o resultado. Mas calculadoras não pensam como nós,
e não entendem o que significa a imprecisão ou a incerteza de uma me-
dida. Você é quem precisa fazer este trabalho! E, considerando a pre-
cisão dos dois números, vemos que a menor precisão está no 1,23 – que
tem 3 algarismos significativos. Portanto, não faz sentido minha resposta
ter mais do que 3 algarismos significativos, que é a menor precisão que
temos nos números que usamos para fazer a conta. A resposta correta da
divisão de 1,23 por 3,4461 é 0,357. Precisamos arredondar o resultado
para o número adequado de algarismos significativos.
Da mesma forma, quando somamos ou subtraímos os valores de duas
medidas, o número de casas decimais do resultado deve ser ajustado
pensando na imprecisão que temos. Assim, 1,23 + 3,4461 é igual a 4,68,
e não 4,6761 como você poderia pensar. Afinal, a medida mais imprecisa
era 1,23, que tem 3 algarismos significativos. Logo, a resposta também
terá que ter, no máximo, 3 algarismos significativos. Eu não tenho como
ter maior precisão do que isto.
E toda vez que o número de algarismos significativos no resultado tiver
que ser reduzido, há uma regra geral para arredondar os números. Se
o último dígito abandonado for maior do que 5 aumentamos em uma
unidade o último dígito retido. Por exemplo 1,346 se torna 1,35.
1 A ciência e o método científico 14

Bom, agora você pode entender qual a diferença entre 1,62 e 1,620, né!?
Matematicamente, eles são a mesma coisa. Mas cientificamente, eles
representam coisas diferentes. Afinal, quantos mais dígitos forem es-
pecificados mais precisão está implicada. Neste caso, 1,620 significa um
número que tem maior precisão do que 1,62.

1.6 Determinando o valor e a incerteza de uma


medida

Se medir é associar um valor a uma grandeza, como mencionamos ante-


riormente, como fazemos para encontrar este valor? E que certeza pode-
mos ter deste valor que eventualmente encontramos?
Como vimos, qualquer que seja o instrumento que usarmos para medir
uma grandeza física, o resultado da medida nunca será exato. Todo in-
strumento tem uma certeza dentro de um certo intervalo no qual ele é
capaz de medir. Ou seja, o próprio instrumento de medida introduz
uma incerteza na medida.
O observador da medida também pode limita a precisão de uma medição.
A grande maioria destes erros está associado ao fenômeno de paralaxe.
Dependendo do ângulo que o observador está em relação à régua, ele
pode medir o comprimento do livro como 23,7 cm ou como 23,8 cm.
Como tanto as incertezas associadas ao ato de medir quanto as incertezas
associadas ao instrumento de medida em si são fontes de incertezas que
não podemos retirar da medida em nenhum momento, chamamos es-
tas incertezas de incertezas sistemáticas. Precisamos sempre considera-las
ao fazer uma medida, mas não podemos diminuir estas incertezas; elas
sempre estarão lá.
Mas há um outro tipo de incerteza que geralmente é a maior fonte de
erro numa medida. Muitas vezes, se você repetir o mesmo experimento,
tentando considerar as mesmas condições, você vai obter um resultado
diferente nas duas medidas. Toda medida está sujeita a flutuações alea-
tórias nas condições experimentais que fazem com que a grandeza física
medida oscile em torno do valor mais provável desta grandeza.
Ao contrário das incertezas sistemáticas, a incerteza estatística devido às
flutuações aleatórias pode ser minimizada ao repetir o experimento várias
vezes. Podemos ver como isto ocorre a partir de um exemplo simples.
A Figure 1.6 mostra os resultados obtidos por um experimento proje-
tado para medir a aceleração da gravidade, 𝑔 . Ao realizarmos o exper-
imento uma única vez, poderíamos ter encontrado qualquer valor para
a medida. E, de fato, o valor encontrado na primeira tentativa foi de
𝑔 = 10, 7𝑚/𝑠 2 . Se repetirmos o experimento várias vezes, podemos
quantificar quantas vezes um determinado valor foi medido. Um gráfico
que mostra o número de tentativas (ou a proporção de tentativas) que
cada valor foi obtido, como os gráficos da figura Figure 1.6, é chamado de
histograma. Podemos ver que quanto maior for o número de tentativas,
𝑁 , o histograma da figura se aproxima de uma distribuição simétrica,
centrada num valor médio (representado por uma linha tracejada na
Figura Figure 1.6). Isso significa que embora se possa obter diferentes va-
lores, na maioria das vezes o valor medido está no meio do intervalo.
1 A ciência e o método científico 15

Figure 1.6: A influência do número


de repetições de um experimento para
diminuir a incerteza estatística, devido
às flutuações aleatórias.

Para o experimento em questão, quando realizamos o mesmo experi-


mento 1000 vezes e calculamos a média dos valores obtidos, encontramos
𝑔1000 = 9, 81𝑚/𝑠 2 para a aceleração da gravidade. Este é um valor bem
próximo do valor conhecido, de 9, 78𝑚/𝑠 2 . Quando realizamos o experi-
mento apenas 10 vezes, o valor médio é 𝑔10 = 10, 3𝑚/𝑠 2 , um pouco mais
distante do valor conhecido. Isso não significa que o valor medido está
errado; ele apenas tem uma incerteza maior do que quando realizamos
o experimento 1000 vezes.
Podemos quantificar a incerteza de uma medida experimental usando
conceitos de estatística. Primeiramente, podemos calcular a dispersão
dos resultados, isto é, podemos ver quão distante as medidas obtidas nas
diferentes tentativas estão umas das outras. A variância (var) é uma me-
dida de dispersão que mostra o quão distante cada valor medido está do
valor central (médio). Podemos calcular este valor somando a diferença
entre cada medida e o valor médio ao quadrado. Matematicamente,

1 ! 𝑁
𝑣𝑎𝑟 ≡ 𝑠 2 = ¯ 2,
(𝑥 𝑖 − 𝑥)
𝑁 − 1 𝑖=1

onde 𝑁 é o número total de medidas, 𝑥¯ é o valor médio, 𝑥 𝑖 é o valor da


"
i-ésima tentativa e representa a soma sobre as diferentes tentativas,
começando da tentativa 1 e indo até a tentativa 𝑁 .
Do ponto de vista de Física, a variância é uma grandeza que representa
o quadrado da grandeza física medida. Por exemplo, se medirmos a
massa de um objeto com uma balança em kg, o valor médio calculado
também fornecerá o resultado em kg. Mas a variância destes valores terá
uma unidade de 𝑘 𝑔 2 . Desta forma, podemos tirar a raiz quadrada da var-
iância. Esta grandeza é conhecida como desvio padrão (d.p.), e representa
uma estimativa da incerteza de uma medida experimental. Matematica-
mente, √ √
𝑑.𝑝. ≡ 𝑠 = 𝑣𝑎𝑟 = 𝑠 2 .
1 A ciência e o método científico 16

Podemos ver pela Figura Figure 1.6 que a incerteza diminui à medida
que o número de repetições do mesmo experimento aumenta. Para N =
1000, obtemos o valor médio de g igual a 9,81 m/s2 , com desvio padrão
de 0,31 m/s2 ; para N = 10, o valor médio não só é mais distante do valor
conhecido como a incerteza das medidas é maior: 𝑔¯10 = 10, 3𝑚/𝑠 2 e
𝑠10 = 3, 3𝑚/𝑠 2 . De forma compacta, e considerando o número cor-
reto de algarismos significativos, podemos escrever os valores medidos
como 𝑔10 = (1, 0 ± 0, 3) × 101 𝑚/𝑠 2 = (10 ± 3)𝑚/𝑠 2 e 𝑔1000 = (9, 8 ±
0, 3)𝑚/𝑠 2 .

Problema 1.6.1 Um estudante usou um cronômetro para medir o


tempo que um pêndulo leva para completar 20 oscilações. Ao repe-
tir o experimento 5 vezes, obteve os seguintes resultados: 25,2 s, 24,7
s, 25,1 s, 24,7 s e 24,9 s. (a) Escreva o intervalo de tempo medido pelo
estudante, incluindo também sua incerteza. (b) Suponha que alguém
repetisse o experimento uma sexta vez e obtivesse 25,3 s para o mesmo
intervalo de tempo. Esta medida seria possível? Justifique.

1.7 Estimativa e Ordem de Grandeza

Agora já sabemos escrever os números na notação científica, e também


sabemos determinar a precisão deste número contando a quantidade de
algarismos significativos. Esta notação é muito útil na ciência, particular-
mente na Física, para podermos determinar resultados de forma precisa
e única. Mas, embora os valores precisos de uma certa grandeza sejam
importantes, muitas vezes na ciência nos deparamos com perguntas que
não precisam de um valor exato. Nestes casos, se tivermos um valor
aproximado para a grandeza em questão, podemos aceitar este valor e
seguir em frente.
Por exemplo, suponha que você quisesse saber o número de vezes que
respiramos durante a vida, desde o momento que nascemos até o mo-
mento que morremos. Você já se daria por satisfeito se tivesse uma esti-
mativa do número de respirações, correto? Não faria muita diferença se
sua reposta tivesse 10 ou 15 respirações a mais que o valor exato. Este é
um caso onde uma estimativa da resposta já é suficiente. Fazer estima-
tivas faz parte do dia-a-dia na ciência, e é uma habilidade muito impor-
tante para podermos ter ao menos uma noção quantitativa de respostas
para problemas nos quais não fazemos ideia da resposta.
Uma estimativa não é um “chute”. Ao estimar uma grandeza fazemos
suposições sobre quantidades que parecem impossíveis de calcular dada
a informação disponível. Precisamos ter um certo bom senso para es-
colher as informações relevantes ao problema, e algum conhecimento
para a escolha dos parâmetros que fazem sentido. A principal caracterís-
tica de uma estimativa é a utilização de hipóteses simplificadas, mas ao
mesmo tempo pertinente ao problema.
Vamos voltar ao nosso problema. Pra responder o número de respi-
rações durante a vida de uma pessoa, precisamos primeiro estimar a
duração da vida de uma pessoa. Hoje, a expectativa de vida é da or-
dem de 70 anos. Talvez 68, talvez 75. Mas lembre-se, não estamos inter-
essados no valor exato; apenas num valor aproximado. Então, vamos
1 A ciência e o método científico 17

ficar com 70 anos. Depois, podemos supor que uma pessoa, sentada e
parada, realiza 10 respirações por minuto. De novo, esse número varia
de acordo com a atividade e o estado de espírito da pessoa, se ela prat-
ica exercícios, se está dormindo ou acordada, com raiva ou serena, etc.
Mas, como tudo que precisamos é de uma estimativa, vamos pensar em
10 respirações por minuto. Logo, temos 10 respirações por minuto, por
70 anos. Como um ano tem 365 dias, e cada dia tem 24 horas, e cada hora
tem 60 minutos, e em cada minuto há 10 aspirações, o número de respi-
rações estimado é aproximadamente 4 × 108 , ou quatrocentos milhões
de respirações.
Mas perceba que não temos certeza alguma do valor 4 da resposta. Afi-
nal, se tivéssemos escolhido outros números próximos, o valor que terí-
amos obtido seria diferente de 4. Por exemplo, se tivéssemos estimado
que a vida média de uma pessoa é de 80 anos, ao invés de 70, a estimativa
final seria da ordem de 5 × 108 respirações. Como queremos apenas o
valor aproximado, podemos responder qualquer estimativa apenas pela
ordem de grandeza do número que estamos interessados.
Determinar a ordem degrandeza de uma medida consiste em fornecer,
como resultado, a potência de 10 mais próxima do valor encontrado para
a grandeza. Mas como estabelecer essa potência de 10 mais próxima?
Partindo da notação científica, 𝑎 · 10𝑏 , procede-se assim:
√ se o número 𝑎
que multiplica a potência de 10 for maior ou igual a 10, utiliza-se, como
ordem de grandeza, a potência √ de 10 de expoente um grau acima, isto
é, 10𝑏+1 ; se 𝑎 for menor que 10, usa-se a mesma potência da notação
científica, isto é, 10𝑏 .2 2: Se você
√ ficou curioso do porque uti-
lizamos 10 como referência, √ isto se
No caso do nosso problema, a ordem de grandeza é de 109 respirações. deve ao fato de que 101/2 = 10 ≈
E, de acordo com a nossa regra, tanto faz se tivéssemos escolhido 70 ou 3, 16, que corresponde ao ponto médio
do intervalo 100 e 101 , pois
80 anos como o tempo de vida de uma pessoa. Esta escolha mudaria a
mantissa, mas não a ordem de grandeza que obtivemos. Ah, para deno- 10
0+1
2 = 100,5 . (1.2)
tarmos que estamos nos referindo apenas a ordem de grandeza, e não
ao número exato de uma quantidade, trocamos o símbolo = da resposta
pelo ∼. Na ciência, ∼ significa “da ordem de”. Quando dizemos que
o número de respirações durante a vida de uma pessoa é da ordem de
109 (∼ 109 ), estamos implicitamente dizendo que nosso resultado é con-
fiável dentro de aproximadamente um fator de 10.
Resumindo, saber estimar valores para grandezas nos faz ter ao menos
uma noção da resposta para uma determinada pergunta. Com isso, pode-
mos tentar responder – mesmo que aproximadamente – qualquer per-
gunta que quisermos. É, de fato, uma ferramenta poderosa – que abre
nossa mente para a imaginação. Mas cuidado, porque também é vi-
ciante! Podemos estimar qualquer coisa, desde que tenhamos bom senso
em escolher variáveis úteis e fizermos hipóteses razoáveis.
1 A ciência e o método científico 18

1.8 Problemas

Método científico

Problema 1.8.1 Julgue as seguintes afirmações como verdadeiras ou


falsas: (a) A ciência não passa de uma mera curiosidade dos seres hu-
manos; (b) A ciência tem origem na curiosidade do ser humano; (c) A
ciência permite o desenvolvimento de tecnologias que todos nós usa-
mos, como o celular ou a eletricidade; (d) A ciência é uma ferramenta
que nos permite entender a natureza.

Problema 1.8.2 Quais das seguintes sentenças podem ser considera-


das hipóteses científicas? (a) Os átomos são as menores partículas de
matéria que existem; (b) O espaço é permeado por uma partícula in-
detectável; (c) Albert Einstein foi o maior físico do século 20;

Medidas e grandezas físicas

Problema 1.8.3 Aviões voam numa altitude de 35.000 pés acima do


nível do mar. Quanto vale esta distância em milhas? E em quilôme-
tros?

Problema 1.8.4 O atual recorde mundial para a corrida de 100 m rasos


é de Usain Bolt, que correu esta distância em 9,58 s. Qual foi a veloci-
dade de Bolt em km/h? Como isso se compara com velocidades de
carros?

Problema 1.8.5 A lei da gravitação universal de Newton é represen-


tada por
𝐺𝑀𝑚
𝐹= ,
𝑟2
onde 𝐹 é o módulo da força gravitacional exercida por um corpo so-
bre outro, 𝑀 e 𝑚 são as massas dos corpos, e 𝑟 a distância entre eles.
Sabendo que a força tem unidades de 𝑘 𝑔 · 𝑚/𝑠 2 no SI, qual é a unidade
da constante de proporcionalidade no SI?

Problema 1.8.6 A posição de uma partícula que se move com aceler-


ação uniforme é uma função do tempo e da aceleração. Suponha que
escrevemos esta posição como 𝑥 = 𝑘𝑎 𝑚 𝑡 𝑛 , onde 𝑘 é uma constante adi-
mensional. (a) Mostre que esta expressão é satisfeita se, e somente se,
𝑚 = 1 e 𝑛 = 2. (b) Esta análise pode fornecer o valor de 𝑘 ? Justifique.

Problema 1.8.7 Considere que a equação 𝑥 = 𝐴𝑡 3 + 𝐵𝑡 descreve o


movimento de um objeto, com 𝑥 tendo a dimensão de comprimento e
𝑡 , a dimensão de tempo. (a) Determine as dimensões das constantes,
A e B. (b) Qual é a unidade da taxa de variação média no tempo de 𝑥 ,
Δ𝑥/Δ𝑡 ?
1 A ciência e o método científico 19

Notação científica

Problema 1.8.8 Em setembro de 1999, a sonda espacial Mars Climate


Orbiter foi destruída ao tentar entrar na órbita de Marte. Aparente-
mente, o motivo do problema foi que, ao se aproximar do planeta, a
sonda recebeu duas informações conflitantes dos controladores na
Terra (veja esta reportagem para saber mais).

Para muita gente, as unidades em problemas de Física representam


um mero detalhe sem importância. No entanto, o descuido ou a
confusão com unidades pode ter conseqüências catastróficas, como
aconteceu no caso mencionado acima. A agência espacial americana
(NASA) admitiu que a provável causa da perda de uma sonda envi-
ada a Marte estaria relacionada com um problema de conversão de
unidades. Foi fornecido ao sistema de navegação da sonda o raio
de sua órbita em metros, quando, na verdade, este valor deveria es-
tar em pés. O raio de uma órbita circular segura para a sonda seria
de 2, 1 × 105 m, mas o sistema de navegação interpretou esse dado
como sendo em pés. Como o raio da órbita ficou menor, a sonda
desintegrou-se devido ao calor gerado pelo atrito com a atmosfera
marciana. (a) Calcule, para essa órbita fatídica, o raio em metros.
Considere 1 pé = 0,30 m. (b) Considerando que a velocidade linear
da sonda é inversamente proporcional ao raio da órbita, determine
a razão entre as velocidades lineares na órbita fatídica e na órbita se-
gura.

Problema 1.8.9 Você vai a uma loja e encontra dois pacotes de pregos
com as seguintes medidas para o comprimento: o pacote A tem 50
mm e o pacote B tem 50,0 mm. Considerando que ambos têm o mesmo
preço, e que você quer comprar o melhor prego possível, qual dos dois
pacotes você compraria? Justifique sua resposta.

Problema 1.8.10 Determine o valor de 𝑔 , a aceleração da gravidade


na superfície da Terra, em anos-luz por ano, com 3 algarismos signi-
ficativos.

Problema 1.8.11 Três grandezas, os resultados de medições, devem


ser adicionadas. São elas: 2,0600, 3,163 e 1,12. Qual é a soma com o
número correto de algarismos significativos?

Problema 1.8.12 Duas forças diferentes, agindo sobre o mesmo ob-


jeto, são medidas. Uma força tem 2,0031 N, e a outra força, no mesmo
sentido, tem 3,12 N. Essas são as únicas forças que atuam sobre o ob-
jeto. Encontre a força total sobre o objeto com o número correto de
algarismos significativos.

Problema 1.8.13 Se uma grandeza física 𝑤 = 𝑥𝑦𝑧 , e 𝑥 = 1, 1 · 103 , 𝑦 =


2, 48 · 10−2 e 𝑧 = 6, 000, qual é o valor dessa grandeza, 𝑤 , em notação
científica e com o número correto de algarismos significativos?
1 A ciência e o método científico 20

Problema 1.8.14 Atualmente está cada vez mais difícil encontrarmos


um lugar para viver. Nosso planeta é bastante grande, mas são pe-
quenas as áreas onde podemos usufruir de todo o conforto da vida
moderna. Isso pode ser observado por causa da existência de regiões
bastante populosas e de outras praticamente inabitadas. Consider-
nado que o nosso planeta possui uma superfície de aproximadamente
5, 12 × 108 km2 e, atualmente, uma população de quase 7,9 bilhões de
habitantes (2021), calcule qual é a área disponível que cada pessoa tem
para viver.

Problema 1.8.15 O volume de uma esfera é dado pela fórmula 4/3𝜋𝑟 3 ,


onde 𝑟 é o raio da esfera. A densidade média de um objeto é simples-
mente a razão entre sua massa e seu volume. Usando dados numéri-
cos, expresse as respostas às seguintes perguntas em notação cientí-
fica, com unidades do SI e um número apropriado de algarismos sig-
nificativos. (a) o volume do Sol. (b) o volume da Terra. (c) a densidade
média do Sol. (d) a densidade média da Terra.

Problema 1.8.16 Um átomo de hidrogênio tem um diâmetro de 1, 06 ·


10−10 m. O núcleo do átomo de hidrogênio tem um diâmetro de aprox-
imadamente 2, 40 · 10−15 m. (a) Para um modelo em escala, represente
o diâmetro do átomo de hidrogênio pelo comprimento de jogo de um
campo de futebol e determine o diâmetro do núcleo em milímetros.
(b) Considerando tanto o átomo como o núcleo como esferas, cujo vol-
ume é dado por
4
𝑉 = 𝜋𝑅 3 ,
3
encontre a razão entre o volume do átomo de hidrogênio e o volume
de seu núcleo. O que esta razão significa?

Problema 1.8.17 As massas de quatro cubos de açúcar são de 25,3


g, 24,7 g, 26,0 g e 25,8 g. Expresse as respostas às seguintes pergun-
tas em notação científica, com unidades padrão do SI e um número
apropriado de algarismos significativos: (a) Se os quatro cubos fos-
sem esmagados e todo o açúcar coletado, qual seria a massa total, em
kg, do açúcar? (b) Qual é a massa média, em kg, desses quatro cubos
de açúcar?

Table 1.1: Problema 1.8.18.


Problema 1.8.18 Na natureza existem animais classificados como
Paciente Temperatura
homeotérmicos e pecilotérmicos. Os répteis, os peixes e os anfíbios
A 36,58𝑜 C
são pecilotérmicos, pois a temperatura de seu corpo varia em função
B 36,72𝑜 C
de fatores ambientais, como, por exemplo, a presença do Sol. Nós,
C 36,80𝑜 C
seres humanos, somos classificados como animais homeotérmicos,
D 37,98𝑜 C
pois conseguimos manter a temperatura corpórea aproximadamente
E 36,680𝑜 C
constante, apesar de existirem pequenas diferenças no metabolismo
F 36,22𝑜 C
e na circulação sanguínea de cada pessoa. A tabela ao lado mostra
a temperatura corpórea de alguns pacientes. (a) Qual paciente pos-
sivelmente está com febre? (b) Em qual paciente foi utilizado um ter-
mômetro de maior precisão? (c) Qual é a média das temperaturas dos
pacientes aparentemente saudáveis?
1 A ciência e o método científico 21

Ordens de grandeza e estimativas

Problema 1.8.19 O sino de uma igreja bate uma vez a cada meia-hora,
todos os dias. Qual é a ordem de grandeza do número de vezes que o
sino bate em um ano?

Problema 1.8.20 Uma partida normal de futebol é disputada em 90


minutos. O estádio do Morumbi,em São Paulo, já recebeu cerca de
50 milhões de torcedores desde sua abertura em 1960. A média de
torcedores por partida é (costumava ser) de aproximadamente 28.000.
Então, qual é a ordem de grandeza do total de minutos de futebol já
jogados no Morumbi?

Problema 1.8.21 A música Chega de saudade, composta por Tom Jobim


e Vinícius de Moraes, diz que “há menos peixinhos a nadar no mar /
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca”.
Supondo que o volume total de água nos oceanos seja de cerca de um
bilhão de quilômetros cúbicos e que haja em média um peixe em cada
cubo de água de 100 m de aresta, determine a ordem de grandeza
do número de beijos que o poeta beijoqueiro teria que dar em sua
namorada para não faltar com a verdade.

Problema 1.8.22 Aproximadamente 4% do que você expira é dióxido


de carbono. Suponha que 22,4 L é o volume de 1 mol (6, 02 × 1023
moléculas) de dióxido de carbono, e que você expira 0,5 L por respi-
ração. (a) Estime quantas moléculas de dióxido de carbono você ex-
pira por dia. (b) Se cada mol de dióxido de carbono tem massa de 44
g, quantos kg de dióxido de carbono você expira em um ano?

Problema 1.8.23 Estime quantas malas seriam necessárias para levar


um milhão de reais em moedas de ouro.

Problema 1.8.24 Encontre a ordem de grandeza do número de bolas


de tênis de mesa que caberiam em uma sala do tamanho normal.

Problema 1.8.25 Estime o número de células no corpo humano.

Problema 1.8.26 (a) Estime o número de grãos de areia da praia de


Copacabana.
(b) Estime o número de átomos contido num grão de areia.

Problema 1.8.27 Estime o número de fios de cabelo que você tem na


sua cabeça.

Problema 1.8.28 Estime o número de dentistas atuando na região de


Campinas.

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