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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ALLYSON JOSÉ DE SOUSA GOMES

PROTEÇÃO CONTRA RAIOS E SURTOS EM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

Palhoça
2018
ALLYSON JOSÉ DE SOUSA GOMES

PROTEÇÃO CONTRA RAIOS E SURTOS EM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Engenharia Elétrica da Universidade do
Sul de Santa Catarina, como requisito
parcial à obtenção do título de Engenheiro
Eletricista.

Orientador: Prof. Fabiano Max da Costa, Esp.

Palhoça
2018
Dedico este trabalho a minha mãe
Francisca das Chagas de Sousa Gomes
(in memoriam).
AGRADECIMENTOS

Inicialmente gostaria de agradecer a todas as pessoas e instituições que


de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
Ao professor Fabiano Max da Costa pela confiança em mim depositada,
pela amizade, incentivo e orientação.
A minha mãe Francisca por primar por minha educação me apoiando
incondicionalmente.
Ao meu pai Antônio, que me ensinou que o caráter, as ideias e a nobreza
dos ideais são os verdadeiros valores de um homem.
Aos meus irmãos Apollyanne, Apolo e Admys pela amizade e
cumplicidade.
Ao professor Djan de Almeida do Rosário e ao Marcos Willian Rodrigues,
membros da banca examinadora pelas valiosas contribuições.
Aos meus companheiros de graduação, meu profundo agradecimento a
todos vocês.
Aos professores e funcionários do curso de graduação em engenharia
elétrica da Universidade do Sul de Santa Catarina.
A todos meus familiares e amigos que, nos momentos bons e ruins, me
ajudaram e torceram por mim.
“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” (ISAAC
NEWTON, 1676).
RESUMO

Atualmente, devido ao aumento das fontes de energia renováveis, a energia solar


fotovoltaica assumiu um papel importante dentro deste crescimento. No entanto, é
inerente aos sistemas que os mesmos sejam instalados de forma exposta, de modo
a permitir a incidência direta da luz solar. Devido a esta exposição, os sistemas se
tornam bastantes vulneráveis aos efeitos das descargas atmosféricas. Os danos
provocados por descargas atmosféricas sobre os sistemas resultam na redução da
vida útil ou até mesmo na destruição de componentes, como módulos, inversores e
sistemas de monitoramento, situações que certamente terão impacto nos custos de
manutenção e consequente aumento do tempo de amortização do investimento.
Este trabalho apresenta as atuais especificações técnicas, bem como as normas e
regulamentos que abordam esse tema. Especifica os principais requisitos e métodos
adotados para o dimensionamento de dispositivos de proteção contra surtos e
sistemas de proteção contra descargas atmosféricas em matrizes fotovoltaicas. No
que tange a uma das metodologias, o presente trabalho desenvolve três estudos de
casos já implantados nas cidades de Florianópolis e Palhoça. Os dados foram
coletados através de visitas técnicas, e a abordagem utilizada na análise dos dados
foi qualitativa.

Palavras-chave: Energia solar fotovoltaica. Descarga atmosférica. Proteção.


Sistemas conectados à rede. Sistemas isolados.
ABSTRACT

Currently, due to the increase in renewable energy sources, photovoltaic solar


energy has played an important role in this growth. However, it is inherent in systems
that they are installed in an exposed manner, so as to allow the direct incidence of
sunlight. Due to this exposure, the systems become quite vulnerable to the effects of
atmospheric discharges. The damage caused by atmospheric discharges to the
systems results in a reduction in the useful life or even the destruction of components
such as modules, inverters and monitoring systems, situations that will certainly have
an impact on maintenance costs and consequently increase the amortization time of
the investment . This paper presents the current technical specifications, as well as
the norms and regulations that approach this theme. It specifies the main
requirements and methods adopted for the design of surge protection devices and
lightning protection systems in photovoltaic arrays. With regard to one of the
methodologies, the present work develops three case studies already implemented in
the cities of Florianópolis and Palhoça. Data were collected through technical visits,
and the approach used in data analysis was qualitative.

Key words: Photovoltaic solar energy. Atmospheric discharge. Protection. Systems


connected to the network. Isolated systems.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Sistema isolado (off-grid) .......................................................................... 19


Figura 2 - Sistema conectado à rede (on-grid) .......................................................... 20
Figura 3 - Tipos de descargas atmosféricas.............................................................. 23
Figura 4 - Atividade global de descargas atmosféricas de 1995 a 2013 ................... 24
Figura 5 - Fases de comutação do DPS com conexão paralela de varistor + fusível
.................................................................................................................................. 37
Figura 6 - Conexão dos DPSs na topologia Y ........................................................... 37
Figura 7 - Diagrama de instalação FV com DPSs regidos pelas determinadas normas
.................................................................................................................................. 37
Figura 8 - Situação A - proteção contra surtos para gerador FV em uma edificação
sem SPDA externo .................................................................................................... 40
Figura 9 - Método do ângulo de proteção versus método da esfera rolante ............. 41
Figura 10 - Situação B - proteção contra surtos para gerador FV em uma edificação
com SPDA externo. A distância de segurança é atendida ........................................ 43
Figura 11 - Situação C - proteção contra surtos para gerador FV em uma edificação
com SPDA externo. A distância de segurança não é atendida ................................. 44
Figura 12 - Diagrama de fluxo para seleção das medidas de proteção de um sistema
FV .............................................................................................................................. 45
Fotografia 1 - Sistema FV implantado nos blocos F e H da UNISUL - Pedra Branca
.................................................................................................................................. 47
Fotografia 2 - Inversores de frequência do sistema FV instalado nas coberturas dos
blocos F e H .............................................................................................................. 48
Fotografia 3 - String box para a proteção dos inversores .......................................... 49
Fotografia 4 - Quadro de distribuição de circuitos CD5 ............................................. 50
Fotografia 5 - Distância de segurança não atendida entre as estruturas FV e o
subsistema de captação do SPDA ............................................................................ 51
Figura 13 - Layout traseiro: método da esfera rolante utilizado para determinar o
volume de proteção dos captores do SPDA .............................................................. 52
Figura 14 - Layout lateral: método da esfera rolante utilizado para determinar o
volume de proteção dos captores do SPDA .............................................................. 52
Figura 15 - Laboratório Fotovoltaica UFSC ............................................................... 53
Fotografia 6 - Inversores de frequência dos sistemas FV dos blocos A, B e
estacionamento ......................................................................................................... 54
Figura 16 - Diagrama inversor + String box modelo TRIO-20.0-TL-OUTD-S2X-400
.................................................................................................................................. 55
Figura 17 - String box do inversor TRIO-20.0-TL-OUTD-S2X-400 ............................ 55
Fotografia 7 - Inversor de frequência dos sistemas FV de solo................................. 56
Figura 18 - Diagrama inversor modelo UNO-2.0-I-OUTD-S ...................................... 57
Fotografia 8 - String box para a proteção do inversor UNO-2.0-I-OUTD-S ............... 57
Fotografia 9 - Sistema FV do bloco A com ausência de terminais aéreos ................ 59
Fotografia 10 - Sistema FV da Clemar - UIP ............................................................. 60
Fotografia 11 - Características do sistema FV da Clemar - UIP ................................ 60
Fotografia 12 - Inversores de frequência do sistema FV instalado no telhado da
Clemar - UIP.............................................................................................................. 61
Fotografia 13 - String box com monitoramento por string ......................................... 62
Figura 19 - Sistema supervisório da Clemar - UIP .................................................... 63
Fotografia 14 - Distância de segurança atendida entre as estruturas FV e os
componentes do SPDA ............................................................................................. 64
Fotografia 15 - Condutores/tubos de ligação equipotencial instalados na estrutura FV
.................................................................................................................................. 64
Fotografia 16 - Condutores/cabos de ligação equipotencial instalados na parte
metálica de cada módulo FV ..................................................................................... 65
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Curvas (I versus V e P versus V) características de um módulo


fotovoltaico submetido a uma determinada irradiação e temperatura ....................... 35
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Ranking dos 10 municípios brasileiros com maiores densidades de raios


por km²/ano .............................................................................................................. 24
Tabela 2 - Ranking dos 10 municípios catarinenses com maiores densidades de
raios por km²/ano ..................................................................................................... 25
Tabela 3 - Descargas atmosféricas ........................................................................... 32
Tabela 4 - Características dos sistemas FV da UNISUL - Pedra Branca .................. 47
Tabela 5 - Características dos sistemas FV do Laboratório Fotovoltaica UFSC ....... 53
LISTAS DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


AC - Alternating Current
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A
DC - Direct Current
DIN - Deutsches Institut für Normung
DPS - Dispositivo de Proteção contra Surtos
ELAT - Grupo de Eletricidade Atmosférica
EN - European Norms
FV - Fotovoltaico (a)
IEC - International Electrotechnical Commission
IN - Instrução Normativa
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
LEMP - Lightning Electromagnetic Pulse
MPS - Medidas de Proteção contra Surtos
NBR - Norma Brasileira
PEE - Programa de Eficiência Energética
PEM - Pulso Eletromagnético
SPDA - Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas
UIP - Unidade Industrial de Palhoça
USF - Usina Solar Fotovoltaica
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15
1.1. TEMA ................................................................................................................. 15
1.2. PROBLEMA ....................................................................................................... 15
1.3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 16
1.4. OBJETIVOS ....................................................................................................... 16
1.4.1. Objetivo geral ................................................................................................ 16
1.4.2. Objetivos específicos.................................................................................... 17
1.5. DELIMITAÇÕES ................................................................................................. 17
1.6. METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................... 17
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 18
2.1. SISTEMAS FOTOVOLTAICOS .......................................................................... 18
2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS.................................... 18
2.2.1. Sistemas isolados (off-grid) ......................................................................... 19
2.2.1.1. Vantagens e desvantagens dos sistemas off-grid ........................................ 19
2.2.2. Sistemas conectados à rede (on-grid)......................................................... 20
2.2.2.1. Vantagens e desvantagens dos sistemas on-grid ........................................ 21
2.3. DESCARGAS ATMOSFÉRICAS ........................................................................ 22
2.4. MÉTODOS DE PROTEÇÃO PARA SISTEMAS FOTOVOLTAICOS ................. 26
2.4.1. Sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) .................. 27
2.4.2. Dispositivo de proteção contra surtos (DPS) ............................................. 29
2.4.3. Proteção contra raios e surtos em sistemas FV em edificações .............. 30
2.4.3.1. String boxes distintas para os lados AC e DC .............................................. 33
2.4.3.2. DPS no lado DC do sistema FV ................................................................... 34
2.4.3.3. Seleção de DPSs para a proteção em sistemas FV em edificações ............ 38
3. ESTUDOS DE CASOS JÁ IMPLANTADOS ......................................................... 46
3.1. UNISUL - PEDRA BRANCA ............................................................................... 46
3.1.1. Equipamentos ................................................................................................ 47
3.2. LABORATÓRIO FOTOVOLTAICA UFSC .......................................................... 53
3.2.1. Equipamentos ................................................................................................ 54
3.3. CLEMAR ENGENHARIA .................................................................................... 59
3.3.1. Equipamentos ................................................................................................ 60
4. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ........................................................ 66
4.1. CONCLUSÕES .................................................................................................. 66
4.2. TRABALHOS FUTUROS ................................................................................... 68
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 69
15

1. INTRODUÇÃO

1.1. TEMA

Com um grande potencial para o desenvolvimento do setor de energia


solar fotovoltaica (FV), o Brasil recebe diariamente uma quantidade considerável de
níveis de radiação e, durante boa parte do ano, possui uma grande quantidade de
dias ensolarados. Porém, o território brasileiro é muito exposto a eventos com
descargas atmosféricas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), com média de aproximadamente 77,8 milhões de descargas atmosféricas
anual.
Levando em consideração o elevado índice de incidência de descargas
atmosféricas que se verifica no país, a proteção contra raios e surtos de tensão é
essencial para salvaguardar a integridade dos componentes FV e a continuidade de
serviços das instalações geradoras. Os fabricantes de módulos FV garantem que em
20 a 25 anos, os módulos ainda possuem cerca de 80% da sua capacidade inicial de
geração. Portanto, neste período, o sistema deve operar sem problemas.
O índice de risco de descargas atmosféricas diretas e indiretas sobre um
sistema FV aumenta devido à localização exposta e a área ocupada, podendo
originar fenômenos de sobretensão tanto na entrada de corrente continua (DC)
como na saída de corrente alternada (AC) da instalação, reduzindo sua vida útil ou
causar danos irrecuperáveis.
Uma matriz geradora de energia elétrica desta natureza possui um valor
econômico bastante considerável e sua vida útil deve ser medida em décadas para
se obter um retorno sobre o investimento. A fim de fornecer um sistema FV com
operação livre de problemas durante toda a sua vida útil, deve ser implementada
uma proteção abrangente e eficaz contra impactos diretos de descargas
atmosféricas, sobretensões atmosféricas e induzidas ainda na fase de projeto.

1.2. PROBLEMA

As descargas atmosféricas que atingem os módulos FV acarretam danos


pelos efeitos destrutivos de uma incidência direta e devido ao acoplamento indutivo
ou capacitivo de tensão causado pelo campo eletromagnético. Além disso, os picos
16

de tensão resultantes de operações de comutação no sistema de corrente alternada


pode causar danos aos módulos FV, inversores de frequência, controladores de
carga e aos seus sistemas de monitoramento e de comunicação.
Para uma correta análise de risco é essencial levar em consideração o
índice cerâunico (parâmetro que indica o número de dias de trovoadas por ano em
uma determinada localidade) da zona de instalação e o risco de sobretensões:

 Quanto maior for a extensão da área ocupada por módulos FV, maior será o
risco de um impacto direto de descargas atmosféricas;
 São graves os danos no inversor causados diretamente por um raio ou
indiretamente por sobretensões;
 Acoplamento e desacoplamento de cargas da rede, e descargas
eletroestáticas também podem causar sobretensões.

1.3. JUSTIFICATIVA

Os prejuízos econômicos causados por descargas atmosféricas em um


sistema FV levam a custos de substituição, manutenção e perda de rendimento.
Também causa envelhecimento prematuro de componentes eletrônicos dos circuitos
de entrada e de saída de sistemas de dados, o que leva a um aumento dos custos
de manutenção.
Como solução, faz-se necessário proteger os sistemas FV e seus
componentes eletrônicos (inversor, sistema de diagnóstico remoto, linha principal
geradora) tanto de danos causados por um impacto direto de um raio, quanto contra
os efeitos dos impulsos eletromagnéticos da descarga atmosférica. Desta forma,
utilizando os protetores apropriados é possível mitigar os riscos de queima e danos,
protegendo, assim, o investimento realizado no sistema FV.

1.4. OBJETIVOS

1.4.1. Objetivo geral

O objetivo geral proposto neste trabalho é apresentar os problemas


relacionados aos impactos das descargas atmosféricas diretas e indiretas sobre
17

sistemas FV, bem como as várias possibilidades de ações para proteção destes
sistemas contra estes efeitos.

1.4.2. Objetivos específicos

Os objetivos específicos propostos neste trabalho são:

 Fornecer informações dos efeitos das descargas atmosféricas sobre a


instalação de uma matriz FV;
 Apresentar as atuais especificações técnicas, bem como as normas e
regulamentos que abordam esse tema;
 Fornecer referências e diretrizes para a instalação de sistemas de proteção
contra descargas atmosféricas em matrizes FV;
 Especificar os principais requisitos e métodos adotados para o
dimensionamento de dispositivos de proteção contra surtos (DPS) e sistemas
de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA).

1.5. DELIMITAÇÕES

Não será desenvolvido um projeto com especificações de equipamentos


para proteção de sistema FV.
Os estudos são restritos a sistemas FV em edificações e não serão
realizados estudos em relação às instalações de Usinas Solares Fotovoltaicas
(USF).

1.6. METODOLOGIA DA PESQUISA

Este trabalho consiste em pesquisas bibliográficas, pois busca


conhecimentos em livros, artigos ou fontes confiáveis, procurando obter o conteúdo
necessário para fundamentação teórica.
Serão realizados estudos e comparativos de casos já implantados.
18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta a base teórica dos temas abordados no campo de


expectativa do objetivo do trabalho, bem como os principais conceitos e elementos
utilizados para subsidiar esse estudo.

2.1. SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

Conforme Pinto e Galdino (2014), os sistemas de energia solar FV


convertem a energia proveniente da radiação solar que atinge as células de um
módulo FV em energia elétrica.
Segundo Souza (2016, p. 14) “Um sistema fotovoltaico é uma fonte de
potência elétrica, na qual as células fotovoltaicas transformam a Radiação Solar
diretamente em energia elétrica.”.

Os sistemas fotovoltaicos podem ser implantados em qualquer localidade


que tenha radiação solar suficiente. Sistemas fotovoltaicos não utilizam
combustíveis, não possuem partes móveis, e por serem dispositivos de
estado sólido, requerem menor manutenção. Durante o seu funcionamento
não produzem ruído acústico ou eletromagnético, e tampouco emitem gases
tóxicos ou outro tipo de poluição ambiental. (SOUZA, 2016, p. 14).

A energia solar FV tem um caráter seguro, limpo e renovável. Seguro


porque não utiliza meios que ponham em perigo a vida, limpo porque não polui o
ambiente, isto é, não emite gases poluentes para a atmosfera durante processo de
geração de energia elétrica e renovável porque a sua fonte de matéria-prima é o sol,
uma fonte inesgotável de energia.

2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

De acordo com Pinto e Galdino (2014), os sistemas FV podem ser


classificados em duas categorias principais: isolados e conectados à rede.
Estes dois tipos de sistemas de energia diferem quanto aos requisitos a
satisfazer e, em consequência, quanto ao tipo de componentes que os integram.
19

2.2.1. Sistemas isolados (off-grid)

Segundo Souza (2016), são aqueles sistemas autônomos, não


conectados à rede de distribuição de energia elétrica que, em geral, necessitam de
algum de tipo de armazenamento. Este armazenamento pode ser através de
baterias. As baterias também têm a funcionalidade de servir de referência de tensão
(DC) para os inversores formadores da rede do sistema isolado.
Normalmente, esse tipo de sistema apresenta um bom funcionamento
operacional, desde que haja radiação solar suficiente durante o dia para recarregar
as baterias para uso durante a noite, dias nublados ou em dias úmidos e chuvosos.
Geralmente são usados em áreas remotas e/ou rurais, justificado pelo
fato das cargas elétricas estarem longe das redes de distribuição das
concessionárias, tornando muito alto o custo de estender uma linha de energia
exclusiva para atendimento destas cargas.

Figura 1 - Sistema isolado (off-grid)

Fonte: International Energy Solutions, 2018.

2.2.1.1. Vantagens e desvantagens dos sistemas off-grid

A principal vantagem dos sistemas FV off-grid é que podem fornecer


eletricidade a lugares remotos onde a rede da concessionária não está disponível ou
distante.
20

As principais desvantagens dos sistemas off-grid são:

 Custo elevado: esses sistemas são bastante caros. Os módulos FV


contribuem com uma boa porcentagem do custo total. Além disso, necessitam
de baterias específicas que também acabam encarecendo o sistema.
 Manutenção frequente: as baterias precisam funcionar adequadamente, o que
envolve principalmente a adição de água destilada caso sejam do tipo
chumbo-ácido, as quais são aplicadas em muitos casos. Embora as baterias
de chumbo-ácido tenham sofrido processos de avanço tecnológicos e não
necessitem de recarga frequente, ainda se faz necessário realizar esta
manutenção. Além disso, as baterias também emitem gases tóxicos.

2.2.2. Sistemas conectados à rede (on-grid)

De acordo com Souza (2016), a potência gerada pelo sistema é entregue


diretamente à rede elétrica. É indispensável que se utilize um inversor que satisfaça
as exigências de qualidade e segurança, para que não degrade a qualidade do
sistema elétrico ao qual se interliga o gerador FV. Ou seja, os inversores terão, além
da função básica de converter a corrente DC em corrente AC, a função de
sincronizar o sistema com a rede pública.

Figura 2 - Sistema conectado à rede (on-grid)

Fonte: International Energy Solutions, 2018.


21

2.2.2.1. Vantagens e desvantagens dos sistemas on-grid

As principais vantagens dos sistemas on-grid são:

 Se o sistema gerar mais energia do que a consumida, o excesso é injetado à


rede elétrica da concessionária. Isso irá gerar créditos, que podem resultar
em redução na conta mensal de energia;
 Instalação mais simples que os sistemas off-grid, pois não possuem baterias;
 Custos operacionais e de manutenção relativamente baixos, pois não
possuem baterias;
 Por não ter que carregar e manter baterias, esses sistemas são mais
eficientes do que os sistemas off-grid.

A desvantagem, em comparação com os sistemas off-grid, é que


necessita de acesso à rede da concessionária. Também requer um inversor
apropriado.

Pode-se também utilizar baterias para sistemas fotovoltaicos conectados à


rede para operação ilhada do sistema de geração no caso de falta da
energia da rede elétrica. Sistemas assim são encontrados na Europa e nos
EUA. No Brasil, para o caso de micro e minigeração, regulamentado pela
RN Aneel Nº 482/2012 (ANEEL, 212b) não há regulamentação prevendo
este tipo de operação e as distribuidoras de energia não aceitam, exigindo,
inclusive, proteção para desligamento da geração em casos de ilhamento.
(PINTO; GALDINO, 2014, p. 163).

De acordo com Marchesan (2016), o fenômeno do ilhamento é uma


situação em que numa determinada seção da rede elétrica a demanda de potência é
igual à geração FV e um (ou mais) sistemas on-grid permanecem em operação e
alimentando a carga quando há a falta de energia elétrica na rede da
concessionária, proporcionando a deterioração da qualidade de energia, risco de
vida às equipes de manutenção, bem como problemas na proteção do sistema de
distribuição ilhado.
22

2.3. DESCARGAS ATMOSFÉRICAS

Segundo Kindermann (2009), descargas atmosféricas são descargas


elétricas de grande extensão e de grande intensidade que ocorrem devido ao
acúmulo de cargas elétricas em regiões localizadas da atmosfera, em geral dentro
de tempestades.
Descarga atmosférica, de acordo com Filho (2005, p. 18) “trata-se de um
fenômeno complexo, que se expressa através do fluxo de uma corrente impulsiva de
alta intensidade e curta duração, cujo percurso de alguns quilômetros parte da
nuvem e, em alguns casos, atinge a superfície da Terra”.
Conforme o ELAT (2018), o raio (descarga atmosférica) geralmente é
associado a nuvens cumulonimbus (nuvens com grande extensão vertical), mas
também ocorre em nuvens estratiformes (nuvens em camadas com grande extensão
horizontal), em tempestades de neve, tempestades de areia, a partir de nuvens
provenientes de grandes incêndios e às vezes em poeira e gases emitidos por
vulcões em erupção. Durante uma tempestade, o raio pode ocorrer dentro da
nuvem, entre as nuvens, entre a nuvem e o ar, ou entre a nuvem e o solo.
Quando regiões de excesso de cargas positivas e negativas se
desenvolvem dentro da nuvem, origina-se o raio. Normalmente, em nuvens
cumulonimbus, há um grande volume de cargas positivas nas regiões superiores,
uma grande quantidade de cargas negativas no centro e um pequeno volume de
cargas positivas nas regiões inferiores.
23

Figura 3 - Tipos de descargas atmosféricas

Fonte: Encyclopaedia Britannica, 1999.

Ainda de acordo com o ELAT (2018), os raios se originam da quebra de


rigidez dielétrica do ar. Ocorre quando o campo elétrico é suficiente para ionizar os
átomos do ar e acelerar os elétrons a ponto de produzir uma descarga.
O raio nuvem-solo transporta carga elétrica média de 10 C e tensão ao
longo do canal em torno de 1 108 V, sendo assim a energia elétrica total é de 1 10
J, ou seja, aproximadamente 300 kWh. Máximo valor registrado para o pico de
corrente de raio solo-nuvem é em torno de 30 kA.
Mais de 95% da energia do raio é gasta na expansão do ar nos primeiros
metros ao redor do canal. Do restante, 1% é convertido em energia térmica, 1% em
energia acústica e cerca de 2% em energia eletromagnética. Portanto, cerca de 1%
da energia total do raio atinge o solo.
24

Figura 4 - Atividade global de descargas atmosféricas de 1995 a 2013

Fonte: NASA Earth Observatory, 2015.

Tabela 1 - Ranking dos 10 municípios brasileiros com maiores densidades de raios


por km²/ano
Densidade
Ranking Município UF
por km²/ano
1º Porto Real RJ 19,66
2º Barra do Piraí RJ 18,09
3º Valença RJ 17,31
4º Rio das Flores RJ 17,11
5º Juiz de Fora MG 17,03
6º Belmiro Braga MG 16,74
7º Matias Barbosa MG 16,63
8º Rio Preto MG 16,60
9º Piau MG 16,34
10º Forquetinha RS 16,13
Fonte: Grupo de Eletricidade Atmosférica, 2016.
25

Tabela 2 - Ranking dos 10 municípios catarinenses com maiores densidades de


raios por km²/ano
Densidade
Ranking Município UF
por km²/ano
1º Itapiranga SC 13,74
2º Guarujá do Sul SC 13,45
3º Palma Sola SC 13,15
4º Barra Bonita SC 13,13
5º Tunápolis SC 12,94
6º Nova Erechim SC 12,93
7º São João do Oeste SC 12,83
8º Flor do Sertão SC 12,48
9º União do Oeste SC 12,33
10º Belmonte SC 11,96
Fonte: Grupo de Eletricidade Atmosférica, 2016.

Segundo Shinkai (2017), as descargas atmosféricas são fenômenos


naturais na maioria das vezes imprevisíveis e aleatórios. Devido sua magnitude e
características elétricas, tem o poder de efeitos destruidores sobre estruturas,
edificações e equipamentos, além de poderem causar sérias lesões e até a morte de
pessoas e animais caso sejam submetidos aos efeitos das descargas atmosféricas,
como:

 Parada cardíaca: provocada pela passagem de corrente no tronco, que causa


fibrilação ventricular;
 Tensão de passo: é a tensão entre os pés do ser vivo, ou seja, um passo do
mesmo (com os pés separados), num bípede isto raramente provoca a morte,
pois a parcela de corrente é pequena (linhas equipotenciais próximas), já nos
quadrúpedes geralmente é fatal (linhas equipotenciais distantes);
 Tensão de toque: é a tensão provocada pelo toque no condutor durante uma
descarga eletromagnética e geralmente é provocada pela alta impedância do
condutor, provocando passagem de corrente pelo ser vivo que possui uma
impedância menor que o condutor;
 Descarga lateral: é provocado pela descarga do condutor ao ser vivo próximo
pelo rompimento da resistência do ar provocada pela alta tensão na hora da
descarga atmosférica;
26

 Descarga direta: é o caso onde uma pessoa andando em campo aberto


recebe diretamente o raio, neste caso ocorre queimaduras e passagem de
corrente pelo coração e cérebro geralmente levando o ser vivo a morte.

Não existem meios práticos que impeçam a queda de descargas


atmosféricas, no entanto podem ser utilizadas soluções de proteção para amenizar
os efeitos maléficos dessas descargas.

2.4. MÉTODOS DE PROTEÇÃO PARA SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

De acordo com a empresa DEHN (2018), os sistemas FV são


considerados uma das melhores fontes de energia renovável em termos de custo de
instalação, retorno do investimento, incentivo e benefício para os usuários finais.
Devido às características particulares de um sistema FV a possibilidade de ser
atingido por descargas atmosféricas é alta, pois normalmente o sistema é instalado
ao ar livre.
Os impactos diretos de descargas atmosféricas nas redes de distribuição
de energia não representam a maioria dos danos elétricos e eletrônicos causados
nas instalações. A maior parte dos danos ocorre devido aos impactos próximos,
geralmente dentro de algumas centenas de metros. De fato, por causa do Pulso
Eletromagnético (PEM) associado à magnitude do impacto, os campos estáticos e
elétricos que ocorrem, causam a maior parte dos danos em equipamentos elétricos
e eletrônicos desprotegidos.
Assim, ao contrário do que se possa imaginar, os módulos FV em si não
são os mais afetados, mas sim os inversores e controladores. Os bancos de baterias
na maioria dos sistemas FV off-grid atuam de forma razoável como um supressor de
surto, mas isso pode danificar o controlador de cargas.
A fim de evitar falhas e danos aos equipamentos que levem a efeitos
severos, é fortemente recomendado o uso de proteção contra raios em instalações
FV. Assim sendo, devem ser avaliados em projeto os riscos e eventual necessidade
de proteção contra descargas atmosféricas, pois são os meios essenciais de evitar
danos aos sistemas.
O dimensionamento correto e a utilização adequada de dispositivos de
proteção contribuem para a minimização ou até mesmo a eliminação de falhas. Além
27

dos dispositivos de proteção integrados aos equipamentos, a instalação de outros


dispositivos de proteção externos deve ser prevista, como DPS e SPDA.

2.4.1. Sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA)

Segundo a DEHN (2018), o propósito do SPDA é direcionar e dissipar as


descargas atmosféricas para a terra, salvaguardando a integridade de uma estrutura
e protegendo as pessoas em relação aos efeitos térmicos, mecânicos e elétricos
associados a essas descargas.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou no dia
22/05/2015 as mais atualizadas Normas Técnicas de Proteção contra Descargas
Atmosféricas, ABNT NBR 5419:2015 em 4 partes:

 ABNT NBR 5419-1:2015 - Proteção contra descargas atmosféricas - Parte 1:


Princípios gerais.

Esta Parte da ABNT NBR 5419 estabelece os requisitos para a


determinação de proteção contra descargas atmosféricas.
Esta Parte da ABNT NBR 5419 fornece subsídios para o uso em projetos de
proteção contra descargas atmosféricas. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 1).

 ABNT NBR 5419-2:2015 - Proteção contra descargas atmosféricas - Parte 2:


Gerenciamento de risco.

Esta Parte da ABNT NBR 5419 estabelece os requisitos para análise de


risco em uma estrutura devido às descargas atmosféricas para a terra.
Esta Parte da ABNT NBR 5419 tem o propósito de fornecer um
procedimento para a avaliação de tais riscos. Uma vez que um limite
superior tolerável para o risco foi escolhido, este procedimento permite a
escolha das medidas de proteção apropriadas a serem adotadas para
reduzir o risco ao limite ou abaixo do limite tolerável. (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 1).

 ABNT NBR 5419-3:2015 - Proteção contra descargas atmosféricas - Parte 3:


Danos físicos a estruturas e perigos à vida.
28

Esta Parte da ABNT NBR 5419 estabelece os requisitos para proteção de


uma estrutura contra danos físicos por meio de um SPDA - Sistema de
Proteção contra Descargas Atmosféricas - e para proteção de seres vivos
contra lesões causadas pelas tensões de toque e passo nas vizinhanças de
um SPDA. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015, p.
1).

 ABNT NBR 5419-4:2015 - Proteção contra descargas atmosféricas - Parte 4:


Sistemas elétricos e eletrônicos internos na estrutura.

Esta Parte da ABNT NBR 5419 fornece informações para o projeto,


instalação, inspeção, manutenção e ensaio de sistemas de proteção
elétricos e eletrônicos (Medidas de Proteção contra Surtos - MPS) para
reduzir o risco de danos permanentes internos à estrutura devido aos
impulsos eletromagnéticos de descargas atmosféricas (LEMP).
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 1).

As normas da ABNT NBR 5419:2015 - Partes de 1 a 4, buscam fixar os


requisitos de análise de risco além das condições de projeto, instalação e
manutenção de SPDA, para proteção de edificações e estruturas contra a incidência
direta de raios sobre os equipamentos e pessoas no interior dessas edificações e
estruturas, ou no interior da proteção imposta pelo SPDA instalado.
De acordo com o ELAT (2018), os principais componentes de um SPDA,
são:

 Sistema de captação;
 Condutores de descida;
 Terminais de aterramento;
 Condutores de ligação equipotencial.

Ainda segundo o ELAT (2018), para-raios são definidos como terminais


aéreos metálicos. São hastes condutoras rígidas montadas em uma base com o
objetivo de capturar as descargas atmosféricas. As instalações devem ser feitas nos
pontos mais altos das estruturas. Geralmente, estas hastes são interligadas através
29

de condutores horizontais. Os condutores de descida são cabos que conectam os


terminais aéreos aos terminais de aterramento.
O sistema de aterramento, ou a conexão intencional de estruturas ou
instalações com a terra, tem o propósito de estabelecer um caminho preferencial
para o fluxo de correntes elétricas de surto, falta ou fuga, desta forma preservando a
integridade do sistema e evitando riscos para as pessoas. Normalmente são
condutores de cobre ou revestidos com cobre enterrados no solo. As características
do solo estão entre os fatores que determinam o nível de aterramento.

2.4.2. Dispositivo de proteção contra surtos (DPS)

Segundo a empresa Schneider Electric (2018), o DPS destina-se a limitar


as sobretensões transitórias e/ou a desviar a corrente de surto. Contém pelo menos
um componente não-linear. Nos termos mais simples, os DPSs destinam-se a limitar
as sobretensões transitórias com o objetivo de evitar danos aos equipamentos e
tempo de inatividade destes quando atingidos por picos de voltagem transitórios.
Conforme a norma ABNT NBR IEC 61643-1:2007, abaixo estão
especificadas as três classes de DPSs conectados a sistemas de energia de baixa
tensão:

 Classe I: permitem reduzir os efeitos diretos causados pelas descargas


atmosféricas.
O DPS classe I é instalado obrigatoriamente quando a edificação está
protegida por um SPDA. Os ensaios do DPS classe I são realizados com uma
corrente de choque impulsional (limp) de forma de onda 10/350 μs. Ele deve
ser instalado com um dispositivo de desconexão a montante (tipo disjuntor),
cuja capacidade de interrupção deve ser no mínimo igual à corrente máxima
de curto-circuito presumida no ponto da instalação;

 Classe II: são destinados a proteger os equipamentos elétricos contra


sobretensões induzidas ou conduzidas (efeitos indiretos) causados pelas
descargas atmosféricas. Os ensaios do DPS classe II são efetuados com
corrente máxima de descarga (Imáx) de forma de onda 8/20 μs. Ele pode ser
instalado sozinho ou em cascata com um DPS classe I ou com outro DPS
30

classe II, também deve ser instalado com um dispositivo de desconexão a


montante (tipo disjuntor), cuja capacidade de interrupção deve ser no mínimo
igual à corrente máxima de curto-circuito presumida no local da instalação;

 Classe III: são destinados à proteção fina de equipamentos situados a mais


de 30 m do DPS de cabeceira (normalmente instalado no quadro de
distribuição de circuitos). O DPS classe III é testado com uma forma de onda
de corrente combinada 1,2/50 μs e 8/20 μs.

A revista FotoVolt apresenta um breve resumo (2018, p. 12) referente a


utilização de DPSs para proteção de sistemas FV:

Dispositivos de proteção contra surtos (DPS) protegem componentes


valiosos contra eventos imprevisíveis. Para cada tipo de gerador FV -
instalado no telhado, isolado da rede, ou usina solar fotovoltaica (USF) -
deve ser elaborado um projeto especifico de proteção contra raios e surtos.
Essa proteção abrange as instalações de corrente continua e alternada,
além das redes de sinal.

2.4.3. Proteção contra raios e surtos em sistemas FV em edificações

Em conformidade com a revista FotoVolt (2016), os métodos de proteção


para sistemas FV, em função de suas características, necessitam de requisitos
complementares ou particulares, os quais não estão detalhados em normas técnicas
brasileiras. Devido ao aumento da participação da geração solar na matriz
energética brasileira, são grandes os esforços realizados no âmbito do comitê
brasileiro de eletricidade da ABNT para suprir o mercado com uma normalização
adequada.
Em março de 2018, foi elaborado pela Comissão de Estudo de
Instalações Elétricas de Baixa Tensão do Comitê Brasileiro de Eletricidade o Projeto
ABNT NBR 16690: Instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos - Requisitos de
projeto. Este projeto está sob consulta nacional, ou seja, ainda não é um documento
normativo e tem apenas a incumbência de permitir uma consulta prévia ao assunto
tratado.
31

Esta Norma estabelece os requisitos de projeto das instalações elétricas de


arranjos fotovoltaicos, incluindo disposições sobre os condutores,
dispositivos de proteção elétrica, dispositivos de manobra, aterramento e
equipotencialização do arranjo fotovoltaico. [...]. (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2018, p. 1).

Enquanto o projeto que contém requisitos particulares para proteção de


sistemas FV estiver sob consulta nacional, a solução é utilizar normas
internacionais, que são as bases da futura norma brasileira. Assim, os métodos de
proteção que são apresentados neste trabalho tiveram como base as normas
internacionais em paralelo com análises comparativas com as correspondentes
normas brasileiras.
De acordo com a DEHN (2018), módulos FV não aumentam o risco da
edificação ser atingida por raios o que significa que a necessidade de proteção não
pode ser definida em função dos mesmos. Os riscos de danos causados por raios
devem ser avaliados em conformidade com a norma IEC 62305-2:2010 (no âmbito
da ABNT, vale a NBR 5419-2:2015). O escopo desta norma (2010, p. 10) diz o
seguinte:

This part of IEC 62305 is applicable to risk assessment for a structure due to
lightning flashes to earth.
Its purpose is to provide a procedure for the evaluation of such a risk. Once
an upper tolerable limit for the risk has been selected, this procedure allows
the selection of appropriate protection measures to be adopted to reduce the
risk to or below the tolerable limit.

A DEHN (2018) sugere, que as medidas de proteções externas e internas,


contra raios, em estruturas com sistemas FV, devem ser regidas de acordo com
norma IEC 62305-3:2010 (no âmbito da ABNT, vale a NBR 5419-3:2015). O escopo
desta norma (2010, p. 11) diz o seguinte:

This part of IEC 62305 provides the requirements for protection of a


structure against physical damage by means of a lightning protection system
(LPS), and for protection against injury to living beings due to touch and step
voltages in the vicinity of an LPS [...].
32

A norma internacional IEC 60364-7-712:2017 fornece informações sobre


os requisitos de segurança de projeto decorrentes das características particulares
das instalações FV.

This part of IEC 60364 applies to the electrical installation of PV systems


intended to supply all or part of an installation.
The equipment of a PV installation, like any other item of equipment, is dealt
with only so far as its selection and application in the installation is
concerned. (INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION,
2017, p. 8).

O atendimento da norma ABNT NBR 5410:2004 é de grande valia para a


segurança de um projeto e instalação de sistemas FV, tanto nos circuitos do gerador
quanto nos circuitos de aplicação.
A subseção 4.2.6 da NBR 5410 (2004, p.19) “estabelece uma
classificação e uma codificação das influências externas que devem ser
consideradas na concepção e na execução das instalações elétricas. [...]”.

Tabela 3 - Descargas atmosféricas


Classificação Características exigidas para
Código (Influências Características Aplicações e exemplos seleção e instalação dos
externas) componentes
AQ1 Desprezíveis ≤ 25 dias por ano ─ Normal
> 25 dias por ano
Instalações alimentadas
AQ2 Indiretas Riscos provenientes da Ver 5.4.2 e 6.3.5
por redes aéreas
rede de alimentação

Ver 5.4.2 e 6.3.5


Riscos provenientes da
Partes da instalação Quando aplicável, a proteção
exposição dos
AQ3 Diretas situadas no exterior das contra descargas atmosféricas
componentes da
edificações deve ser conforme
instalação
ABNT NBR 5419

Nota: a palavra “normal” que aparece na quarta coluna significa que um componente que atenda aos requisitos das
normas técnicas aplicáveis, dentro das condições de funcionamento por elas definidas como normais, reúne as
características necessárias para operar satisfatoriamente sob as influências externas descritas.

Fonte: Adaptado de (ABNT NBR 5410, 2004).

A subseção 5.4.2 da NBR 5410 (2004) apresenta medidas de proteção


contra sobretensões transitórias que devem ser consideradas no projeto e operação
das instalações. A origem das sobretensões transitórias se dá por meio das
33

descargas atmosféricas, descargas oriundas do acúmulo de eletricidade estática


entre pontos diferentes da instalação e ocorrências de comutação1.
A subseção 6.3.5 da NBR 5410 (2004) para prover a proteção contra
sobretensões transitórias nas instalações de edificações, trata da seleção e
instalação de DPS, cobrindo tanto as linhas de energia quanto as linhas de sinal.

2.4.3.1. String boxes distintas para os lados AC e DC

Alguns itens são imprescindíveis nos sistemas FV. A string box (caixa de
junção onde são alojados os dispositivos de proteção e/ou de seccionamento) é um
deles e algumas empresas fabricam string boxes AC+DC com o provável objetivo de
reduzir custos. No entanto, o uso de string boxes AC+DC não é aconselhável, pois
na concepção de instalações elétricas uma das características que deve ser
determinada é a exigência quanto à divisão da instalação. Essa exigência fica
evidente na subseção 4.2.5.7 da NBR 5410.

Quando a instalação comportar mais de uma alimentação (rede pública,


geração local, etc.), a distribuição associada especificamente a cada uma
delas deve ser disposta separadamente e de forma claramente diferenciada
das demais. Em particular, não se admite que componentes vinculados
especificamente a uma determinada alimentação compartilhem, com
elementos de outra alimentação, quadros de distribuição e linhas, incluindo
as caixas dessas linhas, salvo as seguintes exceções:

a) circuitos de sinalização e comando, no interior de quadros;

b) conjuntos de manobra especialmente projetados para efetuar o


intercâmbio das fontes de alimentação;

c) linhas abertas e nas quais os condutores de uma e de outra alimentação


sejam adequadamente identificados. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2004, p. 18-19).

1
Neste contexto, entende-se por ocorrências de comutação a execução de manobras (ex.: abertura
de seccionadoras, chaves, disjuntores, elos fusíveis, etc.).
34

Pode-se ressaltar que há imprevisibilidade da NBR 5410 em relação aos


sistemas FV no Brasil. No entanto, é necessário fazer uma análise de risco
qualitativa.
A tensão em AC, para sistemas FV em uma residência, será normalmente
127/220 V ou 220/380 V. A tensão em DC, para um sistema conectado à rede pode
chegar a 1.000 V.
É necessário observar que o hábito dos profissionais de instalações é
desligar o disjuntor da fonte e trabalhar. Mas, desligar o disjuntor AC em um sistema
FV conectado à rede não será desenergizado o lado DC. Ou seja, ao ser usado a
string box AC+DC originou-se mais um ponto propício de acidentes.

2.4.3.2. DPS no lado DC do sistema FV

No Brasil, as especificações dos DPSs para o lado AC devem estar


conforme recomendações da NBR IEC 61643-1:2007. Esta é a norma geral de
DPSs comercializados por quase todas as lojas de materiais elétricos. O escopo
desta norma (2007, p. 1) diz o seguinte:

Esta parte da ABNT NBR IEC 61643 é aplicável aos dispositivos para
proteção de surto contra efeitos diretos e indiretos de descargas
atmosféricas ou outras sobretensões transitórias. Estes dispositivos são
montados para serem conectados a circuitos de 50/60 Hz c.a. ou c.c., e
equipamentos de tensão nominal eficaz (r.m.s.) até 1000 V ou 1500 V c.c
[...].

De acordo com a citação acima, os DPSs ensaiados também funcionam


para circuitos de corrente contínua. Porém, há uma particularidade no sistema FV
que o diferencia de uma fonte contínua convencional, num módulo FV a corrente de
curto-circuito sc é muito baixa, aproximadamente 5% maior que a corrente de
máxima potência mp .
35

Gráfico 1 - Curvas (I versus V e P versus V) características


de um módulo fotovoltaico submetido a uma determinada
irradiação e temperatura

Fonte: SolarPro, 2011.

sc = Corrente de curto-circuito
mp = Máxima corrente de potência

oc = Tensão de circuito aberto


mp = Máxima tensão de potência

mp = Ponto de máxima potência

Segundo a revista Lumière Electric (2017), a baixa corrente de curto-


circuito sc pode não ser suficiente para causar a atuação da proteção de retaguarda
para o DPS (disjuntor ou fusível) regido pela NBR IEC 61643-1, o que poderia
causar incêndios na instalação elétrica. Após uma série de incêndios na Europa,
principalmente na Alemanha, foram realizadas investigações e em meados de 2006
e 2007 concluíram que o DPS, fabricado conforme a norma IEC 61643-1 de 2005,
era um possível foco de incêndio ao fim de sua vida útil.
Como já mencionado, a NBR IEC 61643-1 baseia-se na revisão de 2005
da IEC 61643-1. Isto gera um ponto preocupante, pois essa norma IEC foi
substituída pela IEC 61643-11 em 09/03/2011, e a norma ABNT se baseia ainda na
revisão de 2005. O escopo da norma IEC 61643-11 (2011, p. 10) diz o seguinte:
36

This part of IEC 61643 is applicable to devices for surge protection against
indirect and direct effects of lightning or other transient overvoltages. These
devices are packaged to be connected to 50/60 Hz a.c. power circuits, and
equipment rated up to 1000 V r.m.s. Performance characteristics, standard
methods for testing and ratings are established. These devices contain at
least one nonlinear component and are intended to limit surge voltages and
divert surge currents.

Em 2013, foi publicada pelo European Committee for Electrotechnical


Standardization a norma europeia EN 50539-11 voltada especificamente para
corrente DC em sistemas FV, após se chegar ao consenso de que a IEC 61643-11
(e por consequência a IEC 61643-1), não oferece as condições de segurança
necessárias. O escopo da norma EN 50539-11 diz o seguinte:

This European Standard defines the requirements and tests for SPDs
intended to be installed on the d.c. side of photovoltaic installations to
protect against induced and direct lightning effects. These devices are
connected to d.c. power circuits of photovoltaic generators, rated up to 1500
V. (EUROPEAN COMMITTEE FOR ELECTROTECHNICAL
STANDARDIZATION, 2013, p. 6).

Uma das exigências da EN 50539-11 (2013) é a realização de


desconexão do DPS através de um fusível interno, dentro do mesmo dispositivo,
conectado em paralelo com o varistor, isolando o varistor do circuito através de uma
comutação automática em caso de falha.
37

Figura 5 - Fases de comutação do DPS com conexão


paralela de varistor + fusível

Fonte: DEHN, 2015.

Outra exigência é a conexão dos DPSs na topologia Y, pois esta conexão


coloca dois DPSs em série, aumentando a impedância do sistema e a resistência
contra eventual falha de isolação de um dos polos do sistema FV. Ou seja, a ligação
dos DPSs em série permite que a corrente de fuga da ordem de μA seja menor.

Figura 6 - Conexão dos DPSs na topologia Y

Fonte: DEHN, 2015.


38

Figura 7 - Diagrama de instalação FV com DPSs regidos pelas determinadas


normas

Fonte: Adaptado de (Verband Deutscher Blitzschutzfirmen e.V., 2014).

1 - DPS AC, conforme IEC 61643-11


2 - DPS AC, conforme IEC 61643-11
3 - DPS DC, conforme EN 50539-11
4 - DPS DC, conforme EN 50539-11
* Neste caso, se a distância entre o DPS na entrada DC do inversor e o sistema FV
for superior a 10 m, é necessário um DPS adicional instalado próximo aos módulos.
O mesmo critério vale para o lado CA, se a distância entre o DPS na saída AC do
inversor e a entrada de energia da rede for superior a 10 m, é necessário um DPS
adicional próximo a saída AC do inversor.

2.4.3.3. Seleção de DPSs para a proteção em sistemas FV em edificações

A norma do European Committee for Electrotechnical Standardization


CLC/TS 50539-12 de 2013, promove os princípios para seleção, localização,
coordenação e operação de DPSs a serem conectados nas instalações FV. No
entanto, deve-se observar que esta norma só se aplica para o lado DC dos sistemas
FV no Brasil, pois a frequência da rede de alimentação padrão é de 60 Hz.

This Technical Specification describes the principles for selection, location,


coordination and operation of SPDs to be connected to PV installations. The
39

d.c. side is rated up to 1500 Vd.c. and the a.c. side, if any, is rated up to
1000 Vrms 50 Hz. (EUROPEAN COMMITTEE FOR ELECTROTECHNICAL
STANDARDIZATION, 2013, p. 6).

Neste trabalho, o suplemento 5 da norma alemã DIN EN 62305-3:2014 é


apresentado como a norma/subsídio de informações adicionais para proteção contra
raios em edifícios com sistemas de fornecimento de energia FV. Este suplemento
descreve três aplicações diferentes para instalações FV em edificações:

 Edificações com sistemas FV, sem proteção externa contra raios;


 Edificações com sistemas FV, com proteção externa contra raios e distância
de segurança (isolação elétrica) atendida;
 Edificações com sistemas FV, com proteção externa contra raios e distância
de segurança não atendida.
40

a) Edificações com sistemas FV, sem proteção externa contra raios.

Figura 8 - Situação A: proteção contra surtos para gerador FV em uma


edificação sem SPDA externo

Fonte: DEHN, 2015.

1 - DPS classe II (entrada DC do inversor)


2 - DPS classe II (saída AC do inversor)
3 - DPS classe II (entrada de baixa tensão)
4 - DPS classe I (interface de dados)
5 - Aterramento funcional

DPSs devem ser instalados mesmo se não houver um SPDA externo. O


suplemento 5 da EN 62305-3 recomenda a utilização de um DPS classe II no lado
DC e outro no lado AC do inversor.

It is necessary to protect both the electrical components on the AC and DC


side and any data interfaces. The protective devices should be installed as
closely as possible to the device to be protected, e.g., inverter. If the line
between the surge protective device and, e.g., the inverter is longer than 10
41

metres, an additional type 2 surge protective device is required. (DEHN


PROTECTS PHOTOVOLTAIC SYSTEMS, 2018, p. 8).

Segundo a citação acima é fundamental a proteção tanto na entrada de


corrente DC como na saída de corrente AC da instalação. Os DPSs devem ser
instalados o mais próximo possível do dispositivo a ser protegido, por exemplo, o
inversor.

b) Edificações com sistemas FV, com proteção externa contra raios e distância
de segurança atendida.

Geralmente uma instalação de sistema FV é executada em uma cobertura


de edificação provida de um SPDA externo já existente. Caso os módulos FV não
estejam localizados dentro do volume protegido pelo sistema de captação do SPDA,
se torna obrigatória a instalação de captores adicionais para proteger as instalações
FV contra descargas diretas.
A DEHN (2015) orienta que os métodos que devem ser utilizados para
determinar o volume de proteção dos captores de um SPDA em um sistema FV,
devem ser regidos de acordo com a IEC 62305-3 (no âmbito da ABNT, vale a NBR
5419-3). Os métodos aceitáveis são:

 Método do ângulo de proteção;


 Método da esfera rolante.

Figura 9 - Método do ângulo de proteção versus método da esfera


rolante

Fonte: DEHN, 2015.


42

Para promover a proteção contra centelhamento2 de um sistema FV


instalado na cobertura de uma edificação provida de um SPDA externo, uma
determinada distância de segurança “s” deve ser mantida entre o sistema FV e o
subsistema de captação que compõe o SPDA.
A norma IEC 62305-3 (no âmbito da ABNT, vale a NBR 5419-3) promove
para o cálculo da distância de segurança a seguinte equação:

c
s i ( ) l onde d s (1)
m

s = distância de segurança
d = distância entre o sistema FV e o subsistema de captação que compõe o SPDA
i = depende do nível de proteção escolhido para SPDA
c = depende da corrente de descarga atmosférica pelos condutores de descida
m = depende do material isolante
l = é o comprimento expresso em metros (m), ao longo do subsistema de captação
ou de descida, desde o ponto onde a distância de segurança deve ser considerada
até a equipotencialização mais próxima

O local onde houver a menor distância entre o subsistema de captação


que compõe o SPDA e a estrutura FV a ser protegida, é o ponto onde a distância de
segurança deve ser considerada.

2
Centelhamento é a descarga elétrica, que ocorre entre duas partes condutoras, devido a uma
descarga atmosférica que causa danos físicos à estrutura a ser protegida.
43

Figura 10 - Situação B: proteção contra surtos para gerador FV em uma


edificação com SPDA externo. A distância de segurança é atendida

Fonte: DEHN, 2015.

1 - DPS classe II (entrada DC do inversor)


2 - DPS classe II (saída AC do inversor)
3 - DPS classe I + II (entrada de baixa tensão)
4 - DPS classe I (interface de dados)
5 - Aterramento funcional
6 - Sistema externo de proteção contra raios

De acordo com o suplemento 5 da EN 62305-3, deve ser preferido um


SPDA que não tenha uma conexão direta com o sistema de alimentação FV,
mantendo as distâncias de segurança “s” necessárias. Os módulos devem estar
localizados no volume protegido pelo sistema de captação do SPDA.
A descarga atmosférica provocará uma parcela de corrente induzida e
conduzida via linhas de energia elétrica, isso ocorrerá mesmo que a distância de
segurança seja mantida entre os módulos do sistema FV e os componentes do
SPDA.
44

c) Edificações com sistemas FV, com proteção externa contra raios e distância
de segurança não atendida.

Figura 11 - Situação C: proteção contra surtos para gerador FV em uma


edificação com SPDA externo. A distância de segurança não é atendida

Fonte: DEHN, 2015.

1 - DPS classe I + II (entrada DC do inversor)


2 - DPS classe I + II (saída AC do inversor)
3 - DPS classe I + II (entrada de baixa tensão)
4 - DPS classe I (interface de dados)
5 - Aterramento funcional
6 - Sistema externo de proteção contra raios

Se a distância de segurança não puder ser mantida, recomenda-se


estabelecer uma ligação equipotencial conectando a estrutura FV diretamente ao
SPDA.
45

Nesta situação, os condutores de energia, tanto de corrente AC quanto de


corrente DC, estarão em paralelo com os condutores de aterramento, portanto,
sujeitos a receber uma parcela da corrente de descarga.

Figura 12 - Diagrama de fluxo para seleção das medidas de proteção de


um sistema FV

Instalação de SPDA

Análise de risco
conforme IEC 62305-2
(no âmbito da ABNT,
vale a NBR 5419-2)

Fonte: Adaptado de (revista FotoVolt, 2016).

A figura 12 corresponde à figura 1 da norma NBR 5419-2, com as


inovações definidas do suplemento 5 da norma EN 62305-3.
46

3. ESTUDOS DE CASOS JÁ IMPLANTADOS

Neste capítulo são especificadas todas as informações coletadas durante


as visitas técnicas realizadas para avaliação das proteções dos sistemas FV. Foram
vistoriados os sistemas FV da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL -
Pedra Branca), do Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da
Universidade Federal de Santa Catarina (Laboratório Fotovoltaica UFSC) e também
da empresa Clemar Engenharia Ltda (Clemar - UIP).

3.1. UNISUL - PEDRA BRANCA

A Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) é uma instituição


educacional multicampi orientada para a produção, desenvolvimento e difusão do
conhecimento por intermédio da pesquisa, do ensino e da extensão em todos os
níveis e áreas de conhecimento, nas modalidades presencial e a distância.
Conta com três campi: Tubarão, Grande Florianópolis e UNISUL Virtual, e
suas respectivas unidades universitárias: Imbituba, Içara, Araranguá, Braço do
Norte, Pedra Branca e Florianópolis, além de mais de 100 polos de educação a
distância.
Em junho de 2016 o Programa de Eficiência Energética das Centrais
Elétricas de Santa Catarina S/A (PEE CELESC) investiu mais de meio milhão de
reais na UNISUL - Pedra Branca. O recurso foi destinado ao projeto de redução da
demanda na ponta e do consumo de energia elétrica através da substituição de
lâmpadas fluorescentes tubulares por lâmpadas LED tubulares e da instalação de
um sistema FV. O projeto de eficientização foi implantado nos blocos F, G e H.
47

Fotografia 1 - Sistema FV implantado nos blocos F e H da UNISUL - Pedra


Branca
Bloco H
12,40 kWp
(p-Si) Bloco F
24,80 kWp
(p-Si)

Fonte: Anderson Soares André, 2017.

Tabela 4 - Características do sistema FV da UNISUL - Pedra Branca


Quantidade Potência
Bloco Tecnologia
de módulos instalada
F Silício policristalino (p-Si) 80 24,80 kWp
H Silício policristalino (p-Si) 40 12,40 kWp
Fonte: Elaboração do autor, 2018.

3.1.1. Equipamentos

a) Inversores Fronius modelo Symo 12.5-3-M e modelo Eco 27.0-3-S

Para a conversão da corrente DC em corrente AC do sistema FV da


UNISUL - Pedra Branca, são utilizados dois inversores de frequência. Os inversores
encontram-se no segundo pavimento na parte interna do bloco H e são responsáveis
pela conversão DC/AC dos módulos instalados em cada bloco, ou seja, o inversor
Fronius modelo Symo 12.5-3-M é responsável pelo bloco H e o inversor Fronius
modelo Eco 27.0-3-S é responsável pelo bloco F.
48

Fotografia 2 - Inversores de frequência e string box dos sistemas FV


instalados nas coberturas dos blocos F e H

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Instalada próxima aos dois inversores, encontra-se a string box para a


proteção do lado DC de cada inversor. Durante a visita técnica foi possível obter
acesso visual da parte interna da string box, com isso foi verificado que a mesma
não está em conformidade com a subseção 4.2.5.7 da NBR 5410, pois observa-se
existência de dispositivos de proteção para o lado AC no seu interior, junto dos
dispositivos DC.
49

Fotografia 3 - String box para a proteção dos inversores

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

A string box é composta por alguns dos principais componentes de


proteção. A proteção no lado DC contém um conjunto de oito fusíveis padrão do tipo
gPV (para aplicação em sistemas FV) que exercem a função de proteção de
retaguarda e no inversor já está instalada a chave DC para a realização de
seccionamento. Um ponto requer atenção, contém três DPSs monopolares classe II
de acordo com a norma IEC 61643-1 (norma IEC de 2005) e cinco DPSs
monopolares classe II de acordo com a norma IEC 61643-11 (norma IEC de 2011).
Para a proteção no lado AC é utilizado um conjunto de oito DPSs classe II
de acordo com a norma IEC 61643-11. Instalado próximo aos dois inversores e a
string box, encontra-se o quadro de distribuição de circuitos CD5 no qual estão
contidos dois disjuntores AC que exercem a função de seccionamento. Durante a
visita técnica foi possível obter acesso visual à parte interna do quadro de
distribuição de circuitos CD5.
Quanto à instalação, com exceção da string box para a proteção do lado
DC, está em conformidade com as normas NBR 5410 e IEC 60364-7-712.
50

Fotografia 4 - Quadro de distribuição de circuitos CD5

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

b) SPDA

Verificou-se que já havia a existência do SPDA antes da instalação dos


módulos FV nas coberturas dos blocos F e H da UNISUL - Pedra Branca. Durante a
visita foi constatado que a distância de segurança entre as estruturas FV e o
subsistema de captação que compõe o SPDA não estava sendo atendida.
Sempre que possível, recomenda-se que um SPDA não tenha uma
conexão direta com o sistema de alimentação FV, mantendo as distâncias de
segurança necessárias. No caso do sistema FV da UNISUL - Pedra Branca, como
as distâncias de segurança não puderam ser mantidas, seria recomendado
estabelecer uma ligação equipotencial conectando a estrutura FV diretamente ao
SPDA. No entanto, tal ligação não foi executada.
51

Fotografia 5 - Distância de segurança não atendida entre as


estruturas FV e o subsistema de captação do SPDA

Subsistema
de captação

d<s

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Não foi necessária a instalação de captores adicionais para proteger o


sistema FV contra descargas diretas, pois os módulos FV estão localizados dentro
do volume protegido pelo sistema de captação do SPDA já existente. O método da
esfera rolante foi utilizado para determinar o volume de proteção dos captores do
SPDA já existente nos blocos F e H.
52

Figura 13 - Layout traseiro: método da esfera rolante utilizado para


determinar o volume de proteção dos captores do SPDA

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Figura 14 - Layout lateral: método da esfera rolante utilizado para


determinar o volume de proteção dos captores do SPDA

Fonte: Elaboração do autor, 2018.


53

3.2. LABORATÓRIO FOTOVOLTAICA UFSC

O Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da Universidade


Federal de Santa Catarina (Laboratório Fotovoltaica UFSC) desenvolve estudos nas
diversas áreas de aplicação da energia solar no Brasil, com foco principal em
sistemas FV integrados ao entorno construído e interligados à rede elétrica pública,
os chamados Edifícios Solares FV.
O Laboratório Fotovoltaica UFSC possui quatro sistemas FV
independentes: Sistema A (sobre a cobertura do bloco A), Sistema B (sobre a
cobertura do bloco B), Sistema C (sobre a cobertura do estacionamento) e Sistema
D (sobre o posto de recarga do ônibus elétrico). Também possui sistemas de solo
destinados para estudos, análises e treinamentos.

Figura 15 - Laboratório Fotovoltaica UFSC

Estacionamento Bloco A
13,44 kWp 66,15 kWp
(CIGS) (p-Si)
Bloco B
13,50 kWp
(a-Si/μc-Si)
Eletroposto
2,44 kWp
(CdTe)

Sistemas de solo
10 kWp

Fonte: Luz Solar, 2017.

Tabela 5 - Características dos sistemas FV do Laboratório Fotovoltaica UFSC


Quantidade Potência
Sistema Tecnologia
de módulos instalada
A Silício policristalino (p-Si) 270 66,15 kWp
B Silício microamorfo (μSi) 95 13,50 kWp
C Disseleneto de cobre, índio e gálio (CIGS) 112 13,44 kWp
D Telureto de cádmio (CdTe) 25 2,44 kWp
Fonte: Elaboração do autor, 2018.
54

3.2.1. Equipamentos

a) Inversor ABB modelo TRIO-20.0-TL-OUTD-S2X-400

Os inversores dos sistemas FV do bloco A, bloco B e do estacionamento


encontram-se centralizados na parte interna do bloco A. Durante a visita técnica não
foi possível obter acesso aos projetos elétricos das instalações dos sistemas FV,
também ficou restrita a visualização interna da string box de cada inversor. No
entanto, com os dados técnicos adquiridos referentes aos modelos dos inversores,
foi possível acessar o manual do equipamento via website do fornecedor e
consequentemente representar o diagrama ilustrativo da parte interna de cada string
box.

Fotografia 6 - Inversores de frequência dos sistemas FV dos blocos A, B e


estacionamento

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Instalada em conjunto a cada inversor, encontra-se a string box para a


proteção do lado DC. Após a análise do diagrama no manual do equipamento, foi
verificado que cada string box não está em conformidade com a subseção 4.2.5.7 da
55

NBR 5410, pois há a existência de dispositivos de proteção para o lado AC


internamente.

Figura 16 - Diagrama inversor + string box modelo TRIO-20.0-TL-OUTD-


S2X-400

Fonte: Adaptado de (ABB, 2015).

Figura 17 - String box do inversor


TRIO-20.0-TL-OUTD-S2X-400

Fonte: Adaptado de (ABB, 2015).


56

Composta pelos principais componentes de proteção, a string box contém


um conjunto de fusíveis padrões do tipo gPV que exerce a função de proteção de
retaguarda, contém dois DPSs classe II para a proteção no lado DC de acordo com
a norma EN 50539-11.
Para a proteção no lado AC, contém um DPS classe II de acordo com a
norma IEC 61643-11. Para exercer a função de seccionamento, possui uma chave
de desconexão AC+DC.
Com exceção da string box AC+DC, as demais instalações estão de
acordo com a norma NBR 5410 e a norma IEC 60364-7-712.

b) Inversor ABB modelo UNO-2.0-I-OUTD-S

Os inversores dos sistemas de solo encontram-se fixados nas estruturas


metálicas onde estão instalados os módulos FV.

Fotografia 7 - Inversor de frequência dos


sistemas FV de solo

Fonte: Elaboração do autor, 2018.


57

Figura 18 - Diagrama inversor modelo UNO-2.0-I-OUTD-S

Fonte: Adaptado de (ABB, 2015).

Instaladas próximo aos inversores, encontram-se string boxes AC+DC.


Internamente estão alojados os dispositivos de proteção tanto para o lado AC quanto
para o lado DC. As string boxes não estão em conformidade com a subseção 4.2.5.7
da NBR 5410.

Fotografia 8 - String box para a proteção do inversor UNO-2.0-I-OUTD-S

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

As string boxes dos sistemas de solo, também contêm os principais


componentes de proteção. Para cumprir a função de proteção de retaguarda é
58

composta por dois fusíveis gPV embutidos em porta-fusíveis apropriados, além de


possuir um DPS classe II para a proteção no lado DC de acordo com a norma EN
50539-11.
Para a proteção no lado AC, contém um DPS classe II de acordo com a
norma IEC 61643-1 (norma IEC de 2005). Na entrada DC e na saída AC do inversor,
estão conectados um disjuntor DC e um disjuntor AC respectivamente.
Em relação à instalação, está de acordo com a norma NBR 5410 e a
norma IEC 60364-7-712, com exceção da string box para a proteção do lado DC.

c) SPDA

Durante a coleta de dados, foi verificado visualmente que não havia


instalações de terminais aéreos (para-raios) em nenhuma das edificações ou
estruturas que compõem o Laboratório Fotovoltaica UFSC.
Na seção I, capítulo IX da instrução normativa IN 001 do corpo de
bombeiros militar de Santa Catarina, especifica que o SPDA deve ser exigido a
todas as edificações com altura igual ou superior a 20 metros ou área total
construída igual ou superior a 750 m². O motivo da ausência de terminais aéreos
provavelmente se deve pelo fato de que as áreas dos blocos A e B, que são as
maiores edificações, são 450,57 m² e 174,84 m² respectivamente.
Na fotografia 9 é possível verificar visualmente a ausência de terminais
aéreos na cobertura do bloco A.
59

Fotografia 9 - Sistema FV do bloco A com ausência


de terminais aéreos

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Após a realização da visita técnica, a informação obtida é que há


aterramento funcional das estruturas metálicas onde estão instalados os módulos
FV. Com isto o cenário está em conformidade com a situação A da subseção
2.4.3.3. deste trabalho. No entanto, não foram registrados, por meio de fotografias,
condutores de ligação equipotencial e condutores de descida para os terminais de
aterramento.

3.3. CLEMAR ENGENHARIA

A Clemar Engenharia Ltda tem sua unidade matriz localizada em


Florianópolis. A empresa possui uma unidade industrial em Palhoça e um escritório
técnico-comercial em Joinville, além de 11 filiais distribuídas nos principais estados
do Brasil. Atua na área de soluções de engenharia, como infraestrutura de
telecomunicações, infraestrutura em tecnologias de TI, climatização, energia e
manutenção.
Em dezembro de 2016 foi ativada a Usina de Micro-Geração FV na UIP
(Unidade Industrial de Palhoça).
60

Fotografia 10 - Sistema FV da Clemar - UIP

Fonte: Clemar, 2016.

Fotografia 11 - Características do sistema FV da


Clemar - UIP

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

3.3.1. Equipamentos

a) Inversor ABB modelo TRIO-27.6-TL-OUTD-S2X-400

Os inversores do sistema FV da Clemar - UIP encontram-se instalados


dentro de uma cabine gradeada no mezanino, que fica antes do acesso para o
61

telhado. Fisicamente, o modelo TRIO-27.6-TL-OUTD-S2X-400 é idêntico ao modelo


TRIO-20.0-TL-OUTD-S2X-400 (figura 15). No entanto, as características técnicas os
distinguem.

Fotografia 12 - Inversores de frequência do sistema FV instalado no


telhado da Clemar - UIP

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Além dos dois inversores de frequência instalados dentro da cabine


gradeada, encontra-se a string box para a proteção no lado DC dos mesmos. Ao
invés de utilizar as string boxes, que vêm de fábrica, em conjunto com os inversores,
foi desenvolvida pela própria Clemar uma string box com monitoramento por string3.
Desta forma a string box está em conformidade com a subseção 4.2.5.7 da NBR
5410.

3
String é uma certa quantidade de módulos FV conectados em série.
62

Fotografia 13 - String box com monitoramento


por string

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

O sistema FV da Clemar - UIP é dividido em dois arranjos de 126 módulos


cada, ou seja, são 126 módulos conectados ao inversor 01 e 126 módulos
conectados ao inversor 02. Consequentemente, a string box é dividida em duas
partes, e reúne os principais dispositivos de proteção no lado DC dos inversores.
Em cada parte da string box, para exercer o monitoramento por string,
consiste na entrada positiva DC conectada aos módulos FV um controle de
gerenciamento de energia (uma unidade central + seis unidades de medição/fusíveis
gPV) que também exerce a função de proteção de retaguarda juntamente com os
fusíveis gPV conectados na entrada DC negativa aos módulos FV.
Para atender uma das exigências da EN 50539-11, um artifício técnico foi
providenciado para que pudessem ser utilizados dois DPSs classe I + II para a
proteção no lado DC, pois os mesmos são de acordo com a norma IEC 61643-1
(norma IEC de 2005). Basicamente dentro de cada DPS existem dois varistores,
onde cada varistor foi conectado em paralelo com um fusível externo para a
63

realização de desconexão do DPS, a fim de isolar o varistor do circuito através de


uma comutação automática em caso de falha.
Na entrada DC de cada inversor, estão conectados 2
disjuntores/seccionadoras DC. Não foi registrado, por meio de fotografias, a string
box no lado AC de cada inversor.
Em conformidade com as normas NBR 5410 e IEC 60364-7-712, os
requisitos de instalação foram atendidos.

Figura 19 - Sistema supervisório da Clemar - UIP

Fonte: Clemar, 2018.

b) SPDA

Durante a coleta de dados, foi obtida a informação que o SPDA da


Clemar - UIP já era existente antes da instalação do sistema FV. As distâncias de
segurança puderam ser atendidas após a instalação do sistema FV. Entretanto,
foram estabelecidas ligações equipotenciais conectando as estruturas FV
diretamente ao SPDA já existente.
64

Fotografia 14 - Distância de segurança atendida entre as


estruturas FV e os componentes do SPDA

d>s

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Na fotografia 14 é especificado o local da menor distância entre o


subsistema de captação que compõe o SPDA e a estrutura FV a ser protegida. É o
ponto onde a distância de segurança deve ser considerada.

Fotografia 15 - Condutores/tubos de ligação equipotencial


instalados na estrutura FV

Fonte: Elaboração do autor, 2018.


65

Fotografia 16 - Condutores/cabos de ligação equipotencial


instalados na parte metálica de cada módulo FV

6 mm²

16 mm²

Fonte: Elaboração do autor, 2018.


66

4. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

4.1. CONCLUSÕES

Este trabalho procurou apresentar as mais recentes metodologias


aplicadas para proteções contra descargas atmosféricas e surtos em sistemas FV
on-grid. Para isso, além de pesquisas bibliográficas (livros, apostilas, artigos,
revistas, manuais e websites), baseou-se principalmente nas metodologias e
considerações apresentadas nas normas internacionais regidas pela International
Electrotechnical Commission e pelas normas europeias regidas pelo European
Committee for Electrotechnical Standardization, ambas estudadas em paralelo com
as normas brasileiras regidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Apesar de ainda haver indefinições e/ou má compreensão quanto às diretrizes
regulatórias relacionadas à proteção em sistema FV, inclusive devido à “ausência”
de normas técnicas unânimes e consolidadas ante um mercado com número
crescente de acessantes com capacidade de injetar potência da rede elétrica, é de
relevância para a sociedade e o setor elétrico o estabelecimento de diretrizes para
proteção de sistemas FV enquanto objeto de estudo.
Dentre as principais questões abordadas ao longo deste trabalho, três
merecem ênfase por ainda serem tópicos preocupantes, desconhecidos ou
negligenciados em relação à proteção em sistemas FV.
O primeiro tópico pondera que uma string box AC+DC é um modelo de
configuração obsoleta. Como a instalação FV não se enquadra em nenhuma das
exceções da subseção 4.2.5.7 da NBR 5410, conclui-se que as fontes de
alimentação AC e DC devem permanecer alojadas separadamente, ou seja, é
inconcebível uma string box AC+DC.
O segundo tópico aborda sobre a proteção do lado DC em um sistema
FV. A baixa corrente de curto-circuito pode não ser suficiente para causar a atuação
da proteção de retaguarda em um eventual curto-circuito permanente de um DPS
regido pela IEC 61643-1 ou IEC 61643-11, o que poderia causar incêndios na
instalação elétrica. Para solucionar esse problema, o DPS deve estar em
conformidade com a EN 50539-11, que exige a realização de desconexão do DPS
através de um fusível interno, dentro do mesmo dispositivo. Outra exigência é a
67

conexão dos DPSs na topologia Y para aumentar a impedância do sistema e a


resistência contra eventual falha de isolação.
E o terceiro tópico explana que uma determinada distância de segurança
“s” deve ser mantida entre o sistema F e o subsistema de captação que compõe o
SPDA externo, ambos instalados na cobertura de uma edificação, para que assim
possa ser evitado o centelhamento entre as partes condutoras.
Para concretizar a submissão deste trabalho, foram realizados três
estudos de casos nas cidades de Florianópolis e Palhoça, por meio de visitas
técnicas, em diferentes instalações providas por sistemas FV on-grid e suas
respectivas configurações de proteção.
No primeiro estudo de caso foi vistoriado o sistema fotovoltaico da
UNISUL - Pedra Branca. Durante a visita técnica foi verificado que a string box não
está em conformidade com a subseção 4.2.5.7 da NBR 5410, pois observa-se
existência de dispositivos de proteção para o lado AC no seu interior, junto dos
dispositivos DC.
Quanto à instalação, com exceção da string box para a proteção do lado
DC, está em conformidade com as normas NBR 5410 e IEC 60364-7-712.
Durante a visita foi constatado que a distância de segurança entre as
estruturas FV e o subsistema de captação que compõe o SPDA não estava sendo
atendida. Seria recomendado estabelecer uma ligação equipotencial conectando a
estrutura FV diretamente ao SPDA.
Não foi necessária a instalação de captores adicionais para proteger o
sistema FV contra descargas diretas, pois os módulos FV estão localizados dentro
do volume protegido pelo sistema de captação do SPDA já existente.
No segundo estudo de caso foram vistoriados os sistemas fotovoltaicos
do Laboratório Fotovoltaica UFSC. Ressaltando que o principal objetivo deste estudo
de caso em particular foi somente para fins acadêmicos, tendo a convicção que o
Laboratório Fotovoltaica UFSC é uma instituição com foco em pesquisas.
Foi verificado que cada string box não está em conformidade com a
subseção 4.2.5.7 da NBR 5410, pois há a existência de dispositivos de proteção
para o lado AC internamente.
Com exceção da string box AC+DC, as demais instalações estão de
acordo com a norma NBR 5410 e a norma IEC 60364-7-712.
68

Após a realização da visita técnica, foi obtida a informação que há


aterramento funcional das estruturas metálicas onde estão instalados os módulos
FV. Com isto o cenário está em conformidade com a situação A da subseção
2.4.3.3. deste trabalho.
No terceiro estudo de caso foi vistoriado o sistema fotovoltaico da Clemar
- UIP. Ao invés de utilizar as string boxes, que vêm de fábrica, em conjunto com os
inversores, foi desenvolvida pela própria Clemar uma string box com monitoramento
por string. Desta forma a string box está em conformidade com a subseção 4.2.5.7
da NBR 5410.
Em conformidade com as normas NBR 5410 e IEC 60364-7-712, os
requisitos de instalação foram atendidos.
As distâncias de segurança puderam ser atendidas após a instalação do
sistema FV. Entretanto, foram estabelecidas ligações equipotenciais conectando as
estruturas FV diretamente ao SPDA já existente.

4.2. TRABALHOS FUTUROS

A seguir são citados pontos que precisam ser investigados e/ou


melhorados por meio de novos estudos ao longo do desenvolvimento deste trabalho:

 Investigar as mais recentes metodologias aplicadas para proteções contra


descargas atmosféricas e surtos em sistemas FV off-grid;
 Realizar estudos de casos já implantados em USF;
 Investigar métodos relacionados à implementação de um subsistema de
captação do SPDA em USF utilizando tracker (dispositivo que posiciona os
painéis FV no melhor ângulo de inclinação a cada momento do dia em
relação à incidência de irradiação solar, fazendo com que o sistema obtenha
um ganho no rendimento);
 Desenvolvimento de projeto, aplicando os métodos estudados neste trabalho;
 Realização de estudos das metodologias e considerações apresentadas nas
normas internacionais e europeias em paralelo com a NBR 16690:
Instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos - Requisitos de projeto (após
consulta nacional).
69

REFERÊNCIAS

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<https://library.e.abb.com/public/7a8367ab70cae55e85257e1f006f4118/UNO-
2.0_2..5-I-OUTD-Product%20manual%20EN.pdf>. Acesso em: 02 set. 2018.

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elétricas de arranjos fotovoltaicos - Requisitos de projeto. Rio de Janeiro, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410: Instalações


elétricas de baixa tensão. Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419: Proteção contra


descargas atmosféricas - Parte 1: Princípios gerais. Rio de Janeiro, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419: Proteção contra


descargas atmosféricas - Parte 2: Gerenciamento de risco. Rio de Janeiro, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419: Proteção contra


descargas atmosféricas - Parte 3: Danos físicos a estruturas e perigos à vida. Rio de
Janeiro, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419: Proteção contra


descargas atmosféricas - Parte 4: Sistemas elétricos e eletrônicos internos na
estrutura. Rio de Janeiro, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR IEC 61643:


Dispositivos de proteção contra surtos em baixa tensão - Parte 1: Dispositivos de
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