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Observando a Qualidade do Lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação

Book · May 2009

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Paulo Rheingantz
Federal University of Rio de Janeiro
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Paulo Afonso Rheingantz
Giselle Arteiro Azevedo
Alice Brasileiro
Denise de Alcantara
Mônica Queiroz

Observando a qualidade do lugar


Procedimentos para a avaliação pós-ocupação

Coleção

Rio de Janeiro
Proarq/FAU/UFRJ
O
PÓS - GRADUAÇÃO
EM ARQUITETURA FAU UFRJ
Observando a Qualidade do Lugar:
procedimentos para a avaliação pós-ocupação
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reitor: Prof. Dr. Aloísio Teixeira

Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa


Pró-reitor: Prof. Dr. Ângela Uller

Decano do Centro de Letras e Artes


Decano: Prof. Léo Affonso de Moraes Soares

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Diretor: Prof. Dr. Gustavo da Rocha-Peixoto

Programa de Pós-graduação em Arquitetura


Coordenador: Prof. Dr. Cessa Guimaraens

Coleção Proarq
Coordenação Editorial:
Prof. Dr. Luiz Manoel Gazzaneo
Títulos publicados:
DEL RIO, Vicente.(Org.) Arquitetura-Pesquisa e projeto. São Paulo: ProEditores: PROARQ/FAU-UFRJ, 1998.
MARTINS, Ângela; CARVALHO, Miriam de. Novas Visões: Fundamentando o Espaço Arquitetônico e Urbano. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ,
2001.
GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A Monarquia no Brasil. Vol. I - As Artes. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ , 1ª
edição: 2001 e 2ª edição: 2003.
GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A Monarquia no Brasil. Vols. II - As Ciências. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ ,
1ª edição: 2001 e 2ª edição: 2003.
DEL RIO, Vicente; DUARTE; Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso. (Org.). Projeto do Lugar . Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ , 2002.
GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A República no Brasil, Vol. I - A Arquitetura. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ,
2003.
GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A República no Brasil, Vol. II – Urbanismo. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ,
2003.
GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A República no Brasil, Vol. III – Artes, Ciências e Tecnologias. Rio de Janeiro:
PROARQ/FAU-UFRJ, 2003.
GUIMARAENS, Ceça (Org.). Arquitetura e Movimento Moderno. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2006.
GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). 200 Anos: da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil; da abertura dos portos às nações amigas e seus
reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro. Vol. I – Arquitetura. Rio de Janeiro: Four Print e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007.
GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). 200 Anos: da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil; da abertura dos portos às nações amigas e seus
reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro. Vol. II – Urbanismo. Rio de Janeiro: Four Print e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007.
GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). 200 Anos: da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil; da abertura dos portos às nações amigas e seus
reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro. Vol. III – Espacialização, Patrimônio e Sociedade. Rio de Janeiro: Four Print e PROARQ/FAU-UFRJ,
2007.
DUARTE, Cristiane R.; RHEINGANTZ, Paulo A.; AZEVEDO, Giselle A. N.; BRONSTEIN, Lais. (Org.). O Lugar do Projeto no ensino e na pesquisa
em arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro: Contra Capa e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007.
TÂNGARI, Vera R.; SCHLEE, Mônica Bahia; ANDRADE, Rubens de; DIAS, Maria Ângela. (Org.). Águas urbanas: uma contribuição para a
regeneração ambiental como campo disciplinar integrado. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2007.
OLIVEIRA, Beatriz S. de O.; LASSANCE, Guilherme; ROCHA-PEIXOTO, Gustavo; BRONSTEIN, Lais (Org.) Leituras em Teoria da Arquitetura: 1 -
Conceitos. Rio de Janeiro: Ed. Viana & Mosley, 2009
RHEINGANTZ, Paulo A.; AZEVEDO, Giselle; BRASILEIRO, Alice; ALCANTARA, Denise de; QUEIROZ, Mônica. Observando a Qualidade do Lugar:
procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2009 [livro eletrônico]
TÂNGARI, Vera R.; SCHLEE, Mônica Bahia; ANDRADE, Rubens de (Org.). Sistemas de espaços livres: o cotidiano, apropriações e ausências. Rio de
Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2009.
GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). Ordem, Desordem, Ordenamento: Arquitetura; Urbanismo; Paisagismo; Patrimônio e Cidade. Rio de Janeiro:
PROARQ/FAU-UFRJ, 2009.

Proarq
Programa de Pós-graduação em Arquitetura
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Av. Pedro Calmon, 550
Prédio da FAU/Reitoria - sala 433
Cidade Universitária, Ilha do Fundão
CEP 21941-590 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
+ 55 + 21 2598-1661/1662 - proarq@ufrj.br
www.fau.ufrj.br/proarq
Observando a Qualidade do Lugar:
procedimentos para a avaliação pós-ocupação

Paulo Afonso Rheingantz


Giselle Arteiro Azevedo
Alice Brasileiro
Denise de Alcantara
Mônica Queiroz

Universidade Federal do Rio de Janeiro / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Coleção

Rio de Janeiro/RJ
2009
Observando a Qualidade do Lugar © 2009, dos autores
Revisado em novembro de 2009

Capa e projeto gráfico:


Mônica Q. Araújo

www.fau.ufrj.br/prolugar

O14 Observando a qualidade do lugar : procedimentos para a


avaliação pós-ocupação / Paulo Afonso Rheingantz ...
[et al.]. -- Rio de Janeiro : Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Pós-
Graduação em Arquitetura, 2009.
117 p. : il. color. ; 21 cm. – (Coleção PROARQ)

Bibliografia: p. 111-117.
ISBN 978-85-88341-17-3

1. Avaliação pós-ocupação. I. Rheingantz, Paulo Afonso.


II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-Graduação
em Arquitetura. III. Série.

CDD: 721

Apoio

UFRJ
Dados dos autores

Paulo Afonso Rheingantz


Arquiteto, Doutor, Professor Associado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ.

Giselle Arteiro Nielsen Azevedo


Arquiteto, Doutor, Professor Adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ

Alice Brasileiro
Arquiteto, Doutor, Professor Adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ

Denise de Alcantara
Arquiteto, Doutor, Pesquisador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ, Professor Visitante (2009-2010)
Center for Iberian and Latin American Studies, University of California, San Diego

Mônica Queiroz
Arquiteto, Doutor, Professor da Faculdade SENAI/CETIQT do Rio de Janeiro,
Pesquisador Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ
(Página intencionalmente deixada em branco)
SUMÁRIO

Agradecimentos 09

Apresentação 11

Glossário 15

1. Walkthrough 23

2. Mapa Comportamental 35

3. Poema dos Desejos 43

4. Mapeamento Visual 50

5. Mapa Mental 56

6. Seleção Visual 63

7. Entrevista 71

8. Questionário 79

9. Matriz de Descobertas 91

10. Observação Incorporada 103

11. Referências 111


(Página intencionalmente deixada em branco)
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e à Capes pelo apoio através de bolsas e de recursos


concedidos aos seguintes projetos de pesquisa:

CNPq:
Bolsa de produtividade nos projetos Projeto do Lugar para o Trabalho: Cognição e
Comportamento Ambiental na Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritório;
Qualidade do Lugar e Cultura Contemporânea: uma proposta de revisão conceitual na
perspectiva das redes de fluxos. Edital Universal 19/2004, Projeto e Qualidade do Lugar:
Cognição, ergonomia e Avaliação Pós-ocupação do Ambiente Construído.

Capes:
Bolsa de Doutorado e de Estágio ao Doutorado na San Diego State University, que
resultaram na tese Abordagem Experiencial e Revitalização de Centros Históricos: os casos
do Corredor Cultural no Rio de Janeiro e do gaslamp Quarter em San Diego, Tese de
Doutorado, de Denise de Alcantara.

9
(Página intencionalmente deixada em branco)
APRESENTAÇÃO

Com a publicação deste livro, pretendemos contribuir para a consolidação das pesquisas e estudos
sobre as relações pessoa-ambiente e sobre a avaliação de desempenho do ambiente construído, ou
avaliação pós-ocupação (APO). Nosso principal objetivo é disponibilizar uma publicação de cunho
didático contendo a revisão de um conjunto de oito instrumentos e ferramentas de avaliação
consagrados - walkthrough, mapa comportamental, poema dos desejos, mapeamento visual, mapa
mental, seleção visual, entrevista e questionário – complementados por outros dois, produzidos pelos
pesquisadores envolvidos com a avaliação pós-ocupação (APO) do grupo Qualidade do Lugar e
Paisagem (ProLUGAR) do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da FAU/UFRJ1 - a matriz de
descobertas e a observação incorporada – e relacionados com três projetos de pesquisa:
• Projeto do Lugar de Trabalho: cognição e comportamento ambiental na avaliação de
desempenho de edifícios de escritório2,
• Projeto e Qualidade do Lugar: Cognição, Ergonomia e Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente
Construído3, e
• Cognição, comportamento ambiental e identidade do lugar: avaliação de desempenho ambiental
do Centro Histórico da cidade do Rio de Janeiro.4
Seguindo a recomendação de Hazel Henderson (apud Capra 1991)5, ao disponibilizar o conjunto de
procedimentos utilizados em nossos trabalhos de campo, estamos colocando nossa fala para andar.
Além dos instrumentos e ferramentas, o livro apresenta os fundamentos da abordagem experiencial
(AE), que se baseia no entendimento de que a percepção é um conjunto de “ações perceptivamente
guiadas” (Varela 1992: 22) e focaliza a experiência vivenciada por um observador em um
determinado ambiente em uso – que muda de significado conforme mudam as circunstâncias6; e um
glossário de termos e conceitos-chave.
Na abordagem experiencial, o observador se transforma em sujeito ou protagonista de uma
experiência produzida no processo de interação com o ambiente e com seus usuários, a ser explicada
com base na subjetividade7. Sua atenção ou percepção consciente (Vygotsky) se volta,
principalmente, para o entendimento das razões, nuanças e significados da experiência vivenciada no
cotidiano de um determinado ambiente em uso. A observação incorporada se configura como uma

                                                            
1
Além dos autores, o grupo de APO do ProLUGAR contou com a parceria dos professores Rosa Pedro, Vera Vasconcellos,
Ligia Leão de Aquino, Vera Tângari, Cristiane Duarte e Mario Vidal; dos doutorandos Fabiana dos Santos Souza, Iara
Castro, Luiz Carlos Toledo; dos mestrandos Monique Abrantes, Ana Claudia Penna, Ana Paula Simões, José Ricardo Flores
Faria, Helena da Silva Rodrigues, Michael Dezan Alvarenga, Heitor Derbli, Marcelo Hamilton Sbarra e Hélide Steenhagen
Blower; dos estudantes de graduação e bolsistas de iniciação cioentífica Aldrey Cavalcante, Henrique Houayek, Tatiana
Ferreira, Lina Correa, Gilmar Guterres, Alexandre Melcíades, Aline Fayer e Aline Rita Laureano.
2
Contemplado com bolsa de produtividade do CNPq.
3
Contemplado com recursos do Edital Universal 19/2004 do CNPq.
4
Contemplado com uma bolsa de doutorado da Capes e uma de iniciação científica do CNPq.
5
Economista autodidata, autora dos livros Creating alternative futures (1978) e The politics of the Solar Age (1988) e titular
da página Hazel Henderson - Celebrating cultural and biodiversity - and a new "earth ethics" beyond "economism."
<http://www.hazelhenderson.com/ >.
6
Esta natureza dinâmica da atividade humana, caracterizada por Newman e Holzman (2002: 61) como algo, “que está
sempre mudando o que está mudando, que está mudando o que está mudando.”
7
Subjetividade – segundo Guattari, a subjetividade é o efeito das conexões de uma rede, e é preciso ter cuidado para não
confundi-la com “individualidade” (Castro 2008: 49).

  11
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 
 
atividade “ao mesmo tempo processo e produto, instrumento-e-resultado” (Newman; Holzman 2002:
79).
Ao procurar integrar a bagagem sócio-histórica do observador e dos usuários, as observações
realizadas tanto em ambientes internos quanto urbanos, a abordagem experiencial modifica o
significado e a compreensão da qualidade do lugar.
A abordagem experiencial implica em (1) uma visão crítica não dualista, mas somativa; em uma
postura aberta e atenta ao ambiente ou “coletivo” (Latour 2001) composto de homens, coisas e
técnicas cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (Pedro 1998); (2) aceitar a
indissociável e interdependente relação pessoa-ambiente; (3) reconhecer a impossibilidade de
representação de um ambiente que é independente e pré-existente e do entendimento de “uma mente
lá dentro” observar “um mundo lá fora” (Latour 2001: 338); (4) atentar para a inadequação do
distanciamento crítico e sua pretensa neutralidade.
Ela também baseia-se no pressuposto da cognição atuacionista de que a “cognição não é formada
por representações, mas por ações incorporadas. [E que] ... o conhecimento é sempre um saber-fazer
modelado sobre as bases do concreto” (Varela 1992: 27)8. Não é possível ter acesso a uma
realidade independente do observador, uma vez que ela não é algo pré-determinado, estático e
imutável, mas o resultado de uma explicação que também não é independente do observador. A
“realidade é uma proposição explicativa.” (Maturana 2001: 37)9 “Explicar é uma operação distinta
da experiência que se quer explicar ... O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se
explica. [...] mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma
reformulação da experiência aceita por um observador” (Maturana 2001: 28-29). Assim, um relato
de APO é uma tradução10, termo mais adequado para caracterizar a negociação ou a comunicação
entre o observador e o usuário, que também pressupõe a possibilidade dela vir a ser recusada,
negociada ou até mesmo ser novamente traduzida.
Por fim, a abordagem experiencial caracteriza a experiência do homem no lugar, ou o modo como a
um só tempo cada lugar influencia a ação humana; como a presença humana dá sentido e
significado a cada lugar. Dessa forma, faz emergir descobertas e significados da interação que é
produzida nos lugares e “se configura como uma transformação qualitativa ... do conjunto de
técnicas e instrumentos para a Avaliação do Ambiente Construído” (Alcantara, 2008: 05).11
Em relação ao conjunto de instrumentos elencados neste o livro, inicialmente se apresenta a
walkthrough. Originária da Psicologia Ambiental, pode ser definida como um percurso dialogado
complementado por fotografias, croquis gerais e gravação de áudio e de vídeo, abrangendo todos os
ambientes, no qual os aspectos físicos servem para articular as reações dos participantes em relação
ao ambiente. Criado por Kevin Lynch, é um instrumento de grande utilidade tanto na APO quanto na
programação arquitetônica, uma vez que possibilita que os observadores se familiarizem com a
edificação em uso, bem como que façam uma identificação descritiva dos aspectos negativos e
positivos dos ambientes analisados.

                                                            
8
Segundo Maturana e Varela (1995), homem e meio são faces de um mesmo processo vital, onde o homem cria uma
relação de circularidade na forma como vê o mundo e age nele num processo contínuo de produção de si mesmo.
9
Segundo Latour (2001), este processo contínuo de produção não se restringe ao homem, uma vez que o ambiente
também se produz continuamente na relação com o homem.
10
Traduzir, segundo Law (2008), é fazer conexão, é “se ligar a”, e também supõe percepção, interpretação e apropriação.
Cf. Law (2008), “a tradução também supõe percepção, interpretação e apropriação [...] estão envolvidas nesta dinâmica
tanto a ‘possibilidade de equivalência’ quanto a ‘transformação’ ”.
11
O grifo é nosso.

  12
Apresentação
 
A seguir é apresentado o mapa comportamental, também originário da Psicologia Ambiental,
concebido para o registro gráfico das observações relacionadas com as atividades dos usuários em
um determinado ambiente, este instrumento possibilita: (a) identificar os usos, os arranjos espaciais,
os fluxos e as relações espaciais observados; (b) indicar as interações, os movimentos e a distribuição
das pessoas em um determinado ambiente.
Desenvolvido por Henry Sanoff, o poema dos desejos ou wish poem permite que os usuários de um
determinado ambiente declarem, por meio de um conjunto de sentenças escritas ou de desenhos,
suas necessidades, sentimentos e desejos relativos ao edifício ou ambiente analisado. É um
instrumento que se baseia na espontaneidade das respostas de fácil elaboração e aplicação que, de
um modo geral, produz resultados ricos e representativos das demandas e expectativas dos usuários.
Por sua vez, o mapeamento visual, concebido por Ross Thorne e J. A. Turnbull, possibilita identificar a
percepção dos usuários em relação a um determinado ambiente, com foco na localização, na
apropriação, na demarcação de territórios, nas inadequações a situações existentes, no mobiliário
excedente ou inadequado e nas barreiras, entre outras características. Apesar de concebido para ser
utilizado em ambientes internos, o mapeamento visual pode ser aplicado com facilidade em
ambientes urbanos.
Formulado nos anos 50 por Kevin Lynch, o mapa mental ou mapeamento cognitivo consiste na
elaboração de desenhos ou relatos de memória representativas das idéias ou da imageabilidade que
uma pessoa ou um grupo de pessoas têm de um determinado ambiente. Os desenhos tanto podem
incorporar a experiência pessoal como outras informações, quanto experiências relatadas por outras
pessoas, pela imprensa falada e escrita, ou pela literatura.
Valendo-se de um conjunto de imagens referenciais pré-selecionadas, a seleção visual ou visual
preferences é um instrumento concebido por Henry Sanoff adequado para identificar os valores e os
significados agregados pelos usuários aos ambientes analisados. Ele possibilita fazer emergir o
imaginário, os símbolos e aspectos culturais de um determinado grupo de usuários, bem como
avaliar o impacto causado por determinadas tipologias arquitetônicas, organizações espaciais, cores
e texturas sobre a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.
Muito utilizada no campo das ciências sociais, a entrevista pode ser definida como um relato verbal
ou uma conversação voltada para atender a um determinado objetivo, que resulta em um conjunto
de informações sobre os sentimentos, crenças, pensamentos e expectativas das pessoas. O sucesso
de sua aplicação depende tanto da qualificação e da competência dos pesquisadores – que precisam
ter agilidade para informar sua avaliação e reconhecer a contribuição daqueles que colaboraram
com o trabalho – quanto da sua sensibilidade e capacidade de interação com o respondente.
Largamente utilizado nas avaliações de desempenho, o questionário, por sua vez, é um instrumento
de grande utilidade quando se necessita descobrir regularidades entre grupos de pessoas por meio
da comparação de respostas relativas a um conjunto de questões (Zeisel 1981), que contém um
conjunto de perguntas relacionadas a um determinado assunto ou problema. As perguntas devem ser
respondidas por escrito sem a presença do pesquisador e os questionários podem ser entregues
pessoalmente, enviados por correio, por e-mail, ou ainda disponibilizados em páginas de internet.
A matriz de descobertas é um instrumento de análise que permite identificar e comunicar
graficamente as descobertas, especialmente aquelas relacionadas com: (a) as adaptações e
improvisações decorrentes de falhas de projeto ou de execução; (b) a incompreensão e o
desconhecimento dos seus diversos grupos de usuários, que dificultam a operacionalidade necessária
no dia-a-dia de um ambiente. Concebido por Helena Rodrigues e Isabelle Soares (Rodrigues, Castro,
Rheingantz 2004) e aperfeiçoada pela equipe técnica do Programa de APO da Dirac/Fiocruz (Castro,
Lacerda, Penna 2004). Por reunir e apresentar graficamente um resumo das principais descobertas

  13
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 
 
de uma avaliação de desempenho, facilita a leitura e a compreensão dos resultados por parte dos
clientes e usuários. Seu sucesso depende da hierarquização das informações e descobertas
produzidas em uma avaliação de desempenho.
Desdobramento prático da abordagem experiencial , a observação incorporada, procura lidar com
os aspectos subjetivos das observações, ao incorporar as emoções e reações dos lugares, entendidos
como “coletivos” (Latour 2001) que são configurados pela mistura de homens, ambiente contruído e
técnicas, cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (Pedro 1996)12 presentes em
qualquer experiência vivenciada da realidade. Além de uma mudança de atitude do observador em
relação ao ambiente observado, incorpora a experiência humana aos instrumentos e procedimentos
tradicionalmente utilizados em uma APO. Ao assumir uma postura menos distanciada e neutra, o
observador passa a ter consciência da subjetividade das emoções e reações que são vivenciadas com
os usuários no ambiente, que também devem ser considerados como sujeitos ou protagonistas da
experiência.
* * *

Cabe observar que, por mais bem elaborados e aplicados que sejam, os instrumentos não garantem
o sucesso de uma avaliação de desempenho, uma vez que são incapazes de, por si só, apreender a
experiência que é produzida em um mundo que não é pré-definido e que não depende do
observador. Acreditamos que a realidade de uma experiência no mundo relevante ou percebido é o
produto inseparável do entrelaçamento do observador imerso na situação ou experiência que ele se
propõe a relatar ou traduzir. Assim, os resultados da aplicação de um conjunto de instrumentos
devem ser vistos como complementos capazes de corroborar a experiência reflexiva e intuitiva
vivenciada durante a observação. Conforme lembra Francisco Varela (1992: 95), “a reflexão [o
relato de uma APO] não é apenas sobre a experiência, mas que ela própria é uma forma de
experiência e que é possível realizar semelhante forma reflexiva de experiência graças à consciência
intuitiva.”

                                                            
12
Cf. Latour (2001: 29), “em lugar de três pólos – uma realidade “fora”, uma mente “dentro” e uma multidão “embaixo” –,
chegamos por fim a um senso que chamo de coletivo”. 

  14
GLOSSÁRIO DE TERMOS E CONCEITOS CHAVE

Abordagem Atuacionista – abordagem proposta por Francisco Varela, Evan Thompson e Eleanor
Rosch (2003), que entende a cognição como ação incorporada e que conjuga a percepção e suas
capacidades sensório-motoras embutidas num amplo contexto biológico, psicológico e cultural, com
a ação perceptivamente orientada. Esta proposta recupera a consciência como um problema da
ciência cognitiva, questionando a idéia de representação objetiva e puramente mental, supondo-se
que tem a ver com algo externo e independente da experiência. Enfatiza ainda que a cognição
emerge das interações indissociáveis e intersubjetivas do cérebro, do corpo e do ambiente, ou seja, a
mente e o mundo atuam um sobre o outro, interferindo e influenciando-se mútua e reciprocamente.
“O ponto de partida da abordagem atuacionista é o estudo de como o observador pode orientar
suas ações em sua situação local.” (Varela; Thompson; Rosch 2003: 177).
Abordagem Experiencial – designação adotada a partir de 2004 pelo ProLUGAR, por sugestão de
Rosa Pedro para caracterizar as observações que incorporam as interações homem-ambiente –
alinhada com a abordagem atuacionista – em sua experiência de viver (habitar, trabalhar, consumir,
lazer, etc.), enriquecendo e conferindo novo significado ao entendimento do lugar.
Ação Incorporada – cf. Varela, Thompson e Rosch (2003: 177), “Usando o termo incorporada
queremos chamar a atenção para dois pontos: primeiro, que a cognição depende dos tipos de
experiência decorrentes de se ter um corpo com várias capacidades sensório-motoras, e segundo,
que essas capacidades sensório-motoras individuais estão, elas mesmas, embutidas em um contexto
biológico, psicológico e cultural mais abrangente. Utilizando o termo ação queremos enfatizar
novamente que os processos sensoriais e motores – a percepção e a ação – são fundamentalmente
inseparáveis na cognição vivida. De fato, os dois não estão apenas ligados contingencialmente nos
indivíduos: eles também evoluíram juntos.” Os autores também observam que “o mundo e a pessoa
que o percebe, especificam-se mutuamente.”(Varela; Thompson; Rosch 2003: 176)
Acoplamento estrutural – v. Entrelaçamento Estrutural
Ambiente – cf. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (2001-2002), palavra derivada
do Latim ambìenséntis particípio presente de ambíre 'andar ao redor, cercar, rodear'; ver ambie, meio
em que se vive, que rodeia ou envolve os seres vivos e as coisas; meio ambiente; recinto, espaço,
âmbito em que se está ou vive. Palavra mais abrangente e adequada do que espaço, “atualmente
mais utilizada, para fazer referência ao espaço sideral interplanetário” (Santos 1997), pois traduz
com maior propriedade o meio no qual todos os coletivos compostos por seres humanos e não-
humanos estão imersos. Como seu significado inclui o conjunto de condições materiais, históricas,
sociais e culturais, o ProLUGAR utiliza a palavra ambiente em lugar de espaço – cuja conotação
abstrata ajusta-se perfeitamente para a afirmação dos propósitos e ideais modernistas cuja
concepção de futuro separa humanos e não-humanos (Latour 2001) – para traduzir com maior
propriedade o espaço significante ou meio no qual todos os coletivos compostos por seres humanos
e não-humanos estão imersos.
Ambiente construído – cf. Ornstein et al (1995: 7), “todo o ambiente erigido, moldado ou adaptado
pelo homem. São artefatos humanos ou estruturas físicas realizadas ou modificadas pelo homem.”
Ambiente natural – é o meio pré-existente envolvente dos homens, artefatos e objetos, ou que ainda
não sofreu as conseqüências da ação humana.
Análise de Conteúdo – cf. Bardin (1995: 31), “conjunto de técnicas de análise de comunicações”
cujos princípios se originam na lingüística e na psicologia social. Visam obter indicadores
quantitativos ou qualitativos, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

15
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

conteúdo das mensagens, para a inferência dos conhecimentos relativos às condições de sua
produção e/ou recepção.
APO – avaliação pós-ocupação; é um processo interativo, sistematizado e rigoroso de avaliação de
desempenho do ambiente construído, passado algum tempo de sua construção e ocupação. Focaliza
os ocupantes e suas necessidades para avaliar a influência e as conseqüências das decisões
projetuais no desempenho do ambiente considerado, especialmente aqueles relacionados com a
percepção e o uso por parte dos diferentes grupos de atores ou agentes envolvidos.
APP – avaliação pré-projeto; é um processo sistematizado de simulação do desempenho do ambiente
construído realizado ao longo do processo decisório do projeto (Ornstein et al, 1995) ou após a sua
conclusão, com o objetivo de identificar, com a ajuda dos futuros ocupantes, possíveis falhas ou
problemas, tanto para a vida dos ocupantes como para o desempenho do ambiente considerado.
Muito utilizada pelos ergonomistas, a APP ainda carece de reconhecimento por parte dos arquitetos.
Atenção ou Consciência – método proposto por Varela, Thompson e Rosch para examinar a
experiência humana inspirado na meditação atenta da filosofia budista Abhidharma, que reconhece
a tendência da mente em divagar quando as pessoas estão tentando desempenhar alguma tarefa –
inclusive durante a observação em uma APO. “As pessoas que meditam descobrem que a mente e o
corpo não são coordenados. O corpo está parado, mas a mente é com freqüência surpreendida por
pensamentos, sentimentos, conversas internas, sonhos diurnos, fantasias, sonolência, opiniões,
teorias, julgamentos sobre pensamentos e sentimentos, julgamentos sobre julgamentos – uma torrente
interminável de eventos mentais desconectados que aqueles que meditam nem mesmo percebem que
está ocorrendo, exceto naqueles breves instantes quando se lembram do que estão fazendo.” (Varela;
Thompson; Rosch 2003: 41) Integrando corpo, mente e ambiente, o observador deve esvaziar a
mente dos pensamentos e se deixar levar com atenção e naturalidade pelo fluxo das sensações e
emoções que são experienciadas durante a observação. A experiência do observador que
experiencia seu corpo, sua mente, os objetos e artefatos e suas relações no ambiente deve ser
destituída (esvaziada) de qualquer influência da existência real, independente ou permanente, e a sua
“descrição também funciona como uma recomendação e uma ajuda para a contemplação” (Varela;
Thompson; Rosch 2003: 231). As técnicas de atenção são projetadas para deslocar a mente das
amaras da atitude abstrata relacionada com suas teorias e preocupações, para uma situação de
consciência ou atenção para a própria experiência vivenciada por uma determinada pessoa.
Atuação – termo proposto por Varela, Thompson e Rosch para caracterizar uma nova abordagem
para as ciências cognitivas que questiona “explicitamente a pressuposição, prevalente nas ciências
cognitivas como um todo, de que a cognição consiste na representação de um mundo que é
independente de nossas capacidades perceptivas, por um sistema cognitivo que existe independente
desse mundo. Ao invés disto delineamos uma visão de cognição como ação incorporada... “;
(Varela; Thompson; Rosch 2003: 17).
Autopoiético – aquilo que nós produzimos, de criação contínua, sendo feito o tempo todo na relação
com o mundo (Maturana; Varela 1995).
Cognição – “campo que trata do sujeito cognoscente e da possibilidade de conhecer o/no mundo"
(Pedro 1996: 5); o termo é usado num sentido amplo como a ação de conhecer ou conhecimento,
porém seu sentido varia conforme diferentes perspectivas e contextos (neurologia, filosofia,
psicologia, inteligência artificial) sendo também tradicionalmente aceito como processamento de
informações sob a forma de computação simbólica ou manipulação de símbolos baseada em regras.
A evolução dos estudos da mente, ou das ciências cognitivas, a partir dos anos 1950, apresenta três
principais abordagens que, apesar de terem se desenvolvido em diferentes momentos e de forma
seqüencial, permanecem coexistindo na pesquisa contemporânea:

16
Glossário de termos e conceitos chave

• Cognitivismo – o modelo da mente computacional considera o cérebro como um computador,


um sistema físico de símbolos, no qual processos mentais ocorrem pela manipulação de
representações simbólicas no cérebro. O cognitivismo funcionalista, em seu lado mais extremo,
sustenta que a incorporação é essencialmente irrelevante na natureza da mente.
• Conexionismo – surge nos anos 1970 como um desafio à abordagem cognitivista, e tem como
ferramenta principal a auto-organização da rede neural – não mais símbolos no sentido
tradicional da computação, mas sistemas dinâmicos não lineares, nos quais ocorrem os
processos mentais através da emergência de padrões globais de atividades. Como herança do
cognitivismo, a mente ainda é a região das rotinas inconscientes e sub-pessoais, e a experiência
humana continua não tendo lugar nesta abordagem.
• Emergência – o mesmo que conexionismo.
• Cognição atuacionista – ver abordagem enativa ou atuacionista da cognição.
Comunicação – cf. Maturana e Varela “como observadores, designamos como comunicativas as
13
condutas que ocorrem num acoplamento social, e como comunicação a coordenação
comportamental que observamos como resultado dela” (1995: 217) ... “da perspectiva do
observador, sempre há ambigüidade numa interação comunicativa. O fenômeno da comunicação
não depende do que se fornece, e sim do que acontece com o receptor. E isso é muito diferente de
‘transmitir informação’.”(1995: 219).
Conduta – cf. Maturana e Varela (1995: 167) denominam “as mudanças de postura ou posição de
um ser vivo que um observador descreve como movimentos ou ações em relação a um determinado
meio.”
Deriva Natural – proposição de Maturana e Varela (1995: 147) que se contrapõem à “visão
popularizada da evolução como um processo em que seres vivos se adaptam progressivamente a um
mundo ambiental, otimizando sua exploração.” Os autores propõem “que a evolução ocorre como
um fenômeno de deriva estrutural sob contínua seleção filogênica, em que não há progresso nem
otimização do uso do meio. Há apenas conservação da adaptação e da autopoiese, num processo
em que o organismo e meio permanecem em contínuo acoplamento estrutural.” (Maturana; Varela
1995: 147).
Ecosofia – frente à sensação de crise ecológica mencionada na introdução, Félix Guattari (2004)
propõe uma revolução eco-lógica – política, social e cultural – e uma reorientação dos objetivos da
produção material e imaterial e sugere o conceito de ecosofia, que congrega três ecologias – a
social, a mental e a ambiental. Segundo Guattari, não é só o planeta que está doente: as relações
sociais em todos os âmbitos – familiar, trabalho, contexto urbano, etc. – e as do sujeito com sua
mente e do corpo, com sua identidade e subjetividade, também estão doentes. Para fazer frente à
uniformização e a banalização promovidas pelas mídias e modismos junto com as manipulações da
opinião pela publicidade amplificam os efeitos deste contexto globalizante e criam um paradoxo:
enquanto o desenvolvimento produz novos meios técnico-científicos potencialmente capazes de
resolver as problemáticas ecológicas dominantes e de re-equilibrar das atividades socialmente úteis,
aumenta a incapacidade das forças sociais organizadas se apropriarem desses meios para torná-los
operativos. Em contrapartida, as culturas particulares e outros contatos de cidadania devem ser
desenvolvidos. A singularidade, a exceção e a diversidade devem agir em uníssono com uma ordem
estatal menos opressiva e limitante, pois, é “na articulação da subjetividade em estado nascente, do

13
Apesar de considerarmos a palavra entrelaçamento (ver verbete) mais adequada para expressar o significado pretendido
pelos autores, nesta citação foi mantida a palavra acoplamento, utilizada pelo tradutor da edição brasileira.

17
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

socius em estado mutante, do meio ambiente no ponto em que pode ser reinventado, que estará em
jogo a saída das crises maiores de nossa época” (Guattari 2004: 55).
EDRA – Environment Design Research Association - Associação profissional multidisciplinar criada
com o propósito de “avançar a pesquisa na arte e na ciência do desenho ambiental, melhorar o
entendimento dos relacionamentos entre as pessoas e os ambientes construído e natural, ajudando a
produzir ambientes responsivos para as necessidades do homem.” Informação disponível na página
da EDRA, em <http://www.telepath.com/edra/>.
Empatia cognitiva – relação dinâmica indissociável do ser no mundo integrado ao ambiente natural e
ao mundo humano social. Tipo singular de experiência direta, na qual os indivíduos se relacionam e
entendem suas experiências e sua compreensão por meio da linguagem (verbal ou não verbal). Na
empatia entendemos as experiências do outro intersubjetivamente – não uma representação delas –
sem, entretanto, passarmos pela experiência diretamente.
Entrelaçamento estrutural – reconhecendo a crítica de Vicente del Rio sobre a inadequação da
designação acoplamento estrutural utilizada na edição brasileira de A Mente Incorporada (Varela;
Thompson; Rosch 2003) para traduzir a palavra inglesa coupling – que também significa
acoplamento, acasalamento – tem um forte caráter funcionalista, o ProLUGAR passou a utilizar a
palavra entrelaçamento estrutural. Enquanto sistemas estruturais complexos, o cérebro se entrelaça
estruturalmente ao corpo que, por sua vez, se entrelaça estruturalmente ao ambiente, produzindo
interações que desencadeiam mudanças determinadas em cada sistema estrutural em si. Maturana
(2001:75) propõe a seguinte analogia para seu melhor entendimento: “a cada um de nós acontece
algo nas interações que diz respeito a nós mesmos, e não com o outro. E o que vocês escutam do
que digo tem a ver com vocês e não comigo. Eu sou maravilhosamente irresponsável sobre o que
vocês escutam, mas sou totalmente responsável sobre o que eu digo”.
Espaço – cf. Corona e Lemos (1972: 198), “em arquitetura, expressa antes de tudo sua condição
tridimensional ou seja, a possibilidade do homem participar de seu interior.” Os autores reportam a
Bruno Zevi, que considerava espaço como o verdadeiro campo da arquitetura que possibilitou à
arquitetura moderna afastar a preponderância decorativa, escultórica, etc. Cf. Dicionário Houaiss
Eletrônico, “extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos os corpos ou
objetos existentes ou possíveis”. Palavra de uso generalizado (e impreciso) entre os arquitetos para
caracterizar o meio envolvente dos homens, artefatos e objetos. Em nossos trabalhos, utilizamos a
palavra ambiente, mais apropriada para caracterizar o meio envolvente das relações entre homens,
artefatos e objetos, inclusive sua espacialidade.
Explicação – cf. Maturana (2001: 29), “nem toda reformulação da experiência é uma explicação.
Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador.”
Explicar – cf. Maturana (2001: 28-29) “O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se
explica, mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma
reformulação da experiência aceita por um observador.”
Imagem Ambiental – cf. Lynch (1982: 149) “a imagem ambiental é um processo bilateral entre
observador e observado. O que ele vê é baseado na forma exterior, mas o modo como ele interpreta
e organiza isso, e como dirige sua atenção, afeta por sua vez aquilo que ele vê. O organismo
humano é extremamente adaptável e flexível, e grupos diferentes podem ter imagens muitíssimo
diferentes da mesma realidade exterior.”
Imageabilidade – cf. Lynch (1980), qualidade ou força evocativa da imagem de um edifício ou
ambiente e de seu entorno, em termos de aparência, legibilidade e visibilidade.

18
Glossário de termos e conceitos chave

Impregnação – cf. Cosnier (2001), período inicial da pesquisa de campo, quando o pesquisador
permanece no ambiente apenas observando, se familiarizando e permitindo que o ambiente também
se “familiarize” com a sua presença, a exemplo do que foi utilizado por Brasileiro (2007), no âmbito
das pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas Arquitetura, Subjetividade e Cultura (ASC ),
<http://www.asc.fau.ufrj.br>.
Intencionalidade – ou direcionamento da ação, é fundamental para compreender a cognição como
ação incorporada. Cf. Varela, Thompson e Rosch (2003: 209), “a intencionalidade tem dois lados:
primeiro, ... inclui como o sistema produz o mundo que vem a ser (especificado em termos de
conteúdo semântico dos estados intencionais); segundo, ... inclui como o mundo satisfaz ou deixa de
satisfazer esse constructo (especificado em termos das condições de satisfação dos estados
intencionais).”
Intersubjetividade – relação indissociável e subjetiva que ocorre nas interações homem-ambiente
(Thompson 1999).
Interação – cf. Morin (1996), conjunto de relações, ações e retroações que se efetuam e se realizam
em um sistema; Cf. Damásio (1996: 255), “o organismo inteiro, e não apenas o corpo ou o cérebro,
interage com o meio ambiente ... quando vemos, ouvimos, tocamos, saboreamos ou cheiramos, o
corpo e o cérebro participam na interação com o meio ambiente.”
Interpretação – em lugar de representação, a abordagem experiencial trabalha com a idéia de
interpretação, atividade de configuração em que alguns aspectos se tornam relevantes porque nós os
fazemos emergir de nossa experiência que, para ter validade, deve ser confrontada com o senso
comum (Pedro 1996).
Linguagem – cf. Maturana e Varela (1995: 235), ”operamos na linguagem quando um observador
vê que os objetos de nossas distinções são elementos de nosso domínio lingüístico.”
Lugar – ambiente ou espaço físico ocupado pelo homem e por objetos que adquire significado a
partir da experiência, da memória, da história, das inter-relações sociais e humanas; base existencial
humana, também considerado lugar fenomenológico.
Meio – cf. Milton Santos, vocábulo relativamente abandonado pela geografia que, com “os
progressos no conhecimento das galáxias, a palavra ‘espaço’ passou a ser utilizada com maior
ênfase para o espaço sideral interplanetário. Também nesta fase da pós-modernidade, a mesma
palavra ‘espaço’ ganhou um uso crescentemente metafórico em diversas disciplinas.” (Santos
1997:1) “O meio resulta de uma adaptação sucessiva da face da Terra às necessidades dos homens.
Nos primórdios da história registravam-se alterações isoladas, ao sabor das civilizações emergentes,
até que o processo de internacionalização cria em diversos lugares feições semelhantes. Agora,
conhecemos uma tendência à generalização à escala do mundo dos mesmos objetos geográficos e
das mesmas paisagens.” (Santos 1997:1).
Método dialético – proposto por Sandra Corazza, o método considera que “o processo de construção
do conhecimento é um processo de transformação da realidade que se dá em três diferentes etapas:
(1) parte do conhecimento prático ou empírico (síncrese), (2) teoriza sobre esta prática (análise), e (3)
volta à prática para transformá-la (síntese)” (Rheingantz 2003).
Narrativa imagética – narrativa da experiência através de imagens, desenhos ou modelos
tridimensionais.
Objetividade entre parênteses – no caminho da objetividade entre parênteses, o observador não
pode fazer referência a entidades independentes de si na construção do seu explicar, pois "a
explicação é uma reformulação da experiência com elementos da experiência" (Maturana 2001: 36).

19
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Objetividade sem parênteses – no caminho da objetividade sem parênteses as coisas e os fenômenos


ocorrem independentemente do observador – ou seja, a existência precede à distinção. Nele só há
uma realidade que é objetiva, independente e requer obediência e aceitação. (Maturana 2001: 36).
Observação incorporada – modo de operacionalização e aplicação da Cognição Experiencial; pode
ser definida como um encadeamento de associações dependentes do contexto que, em conjunto,
configuram um ponto-de-vista aproximado e particular da experiência vivenciada por um observador
ou grupo de observadores em um determinado ambiente ou conjunto de ambientes. O observador
no ambiente "torna-se" um mundo que não pode ser “representado” a priori. O sucesso de uma
experiência vivencial e local não deve ser entendido como uma verdade que possa vir a ser estendida
a contextos diferentes e mais amplos. Como o observador está sempre imerso no ambiente, sua
compreensão será sempre local ou situada. A atividade dos homens no mundo possibilita que eles
criem padrões que são comparados aos já existentes (senso comum). Esta operação modifica tanto
os padrões iniciais, quanto as próprias operações de comparação que acontecem durante a
observação e, assim, indefinidamente. Nesse sentido, a observação, por ser um ato cognitivo, é
sempre criadora (Pedro 1996).
Olhar Compartilhado - conjunto de concepções, valores, percepções e práticas compartilhadas por
um determinado grupo que dá forma a uma visão particular da realidade; configuração
multidimensional do paradigma pós-moderno de Boaventura Santos (1995), de modo a assegurar
maior coerência e racionalidade na definição dos atributos e do seu grau de importância.
Percepção – diferentemente do que sugerem autores alinhados com o pensamento de Gibson (1979)
– que o ambiente é independente e que a percepção é detecção direta, as abordagens atuacionista
da cognição e experiencial consideram que o ambiente é atuado por histórias de entrelaçamento, e
que “a percepção é atuação sensório-motora” (Varela; Thompson; Rosch 2003), ou seja, é uma
ação orientada perceptivamente. Modo como o observador orienta suas ações em situações locais,
por meio de sua estrutura sensório motora; princípios comuns ou conexões lícitas entre os sistemas
sensorial e motor que explicam como a ação pode ser orientada perceptivamente em um mundo
dependente de um sujeito percipiente. (in Cadernos de Subjetividade: O reencantamento do
concreto).
Percepção ambiental – processo recursivo de interação homem-ambiente que permite ao homem
influenciar ou atuar sobre o ambiente como ser por ele influenciado ou atuado. Os homens, os
artefatos e os ambientes são sujeitos que se co-produzem cotidianamente.
PROARQ-FAU-UFRJ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
ProLUGAR – sigla do grupo de pesquisas certificado pelo CNPq Qualidade do Lugar e Paisagem;
vinculado à linha de pesquisa Cultura, Paisagem e Ambiente Construído do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PROARQ-FAU-UFRJ), que
desenvolve pesquisas relacionadas com a percepção e a cognição ambiental, a qualidade do lugar e
com seus reflexos na arquitetura e no urbanismo.
Psicogeografia do lugar – na Teoria da Deriva, a psicogeografia do lugar é constituída pelo relevo
das cidades com correntes, pontos fixos e turbilhões e que relata as emoções do observador de um
percurso qualquer.
Qualidade do lugar – cf. del Rio (2001), principal atributo ou conjunto de atributos de um ambiente
construído que atrai as pessoas, sejam elas moradores, usuários ou visitantes. Numa cidade, a
qualidade do lugar determina preferências e expectativas, atratibilidades variadas, inserções em guias
turísticos, valorizações fundiárias e comerciais. O autor também observa que o ser humano sempre

20
Glossário de termos e conceitos chave

atentou para a qualidade dos lugares e, desde a antiguidade, busca explicações mágicas ou
científicas. Segundo Norberg-Schulz (1980), os antigos romanos acreditavam que todo lugar era
possuído por um genius loci – espírito próprio que o animava e protegia – que representava a
energia, o princípio de unidade e a continuidade do lugar. A dificuldade de explicar a qualidade do
lugar em toda a sua plenitude levou Christopher Alexander (1979) a designá-lo qualidade sem nome.
Representação - a idéia de representação presente nos estudos das relações homem-ambiente
implica no entendimento de um mundo pré-determinado e incompleto, uma vez que deixa de fora
justamente a possibilidade de formular questões relacionadas com a experiência que é produzida
nestas relações. A noção de representação, entendida como constructo pelos cognitivistas – que
subentende a possibilidade de construir ou representar o mundo de determinada forma, como um
padrão ou sistema que age com base em imagens mentais internas, independentes do mundo vivido
– é questionada pela proposta atuacionista da cognição (Varela et al 2003). Em lugar da
representação, a abordagem experiencial trabalha com a interpretação.
Representação mental – cf. Damásio (1996: 259), resposta construída pelo cérebro humano para
descrever uma determinada situação e os movimentos formulados como resposta a esta situação,
que dependem de interações mútuas cérebro-corpo. Segundo as abordagens atuacionista da
cognição e experiencial, esta resposta ou idéia é imperfeita e incompleta para caracterizar as
relações homem-ambiente, uma vez que o corpo e o ambiente passam a ser tratados como simples
coadjuvantes. Ambos são, na verdade, sujeitos que se co-produzem cotidianamente.
Requalificação – atribuição de uma nova qualidade ao ambiente ou “rosário de intervenções de
diferentes naturezas que conferem uma nova qualidade urbana.” (Yázigi 2006: 19).
Subjetividade – cf. Guattari (apud Castro 2008: 49) efeito das conexões de uma rede. É importante
frisar que a “subjetividade” aqui não se confunde com “individualidade”.
Topofilia – palavra cunhada por Tuan (1980) para traduzir o sentimento ou o grau de familiaridade
que faz com que as pessoas se afeiçoem e sejam atraídas por um determinado lugar , diretamente
relacionado com seus afetos, valores, emoções e com a sua condição sócio-histórica-cultural.
Traduzir – cf. Law (2008) é fazer conexão, é “se ligar a”, e também supõe percepção, interpretação e
apropriação. Estão envolvidas nesta dinâmica tanto a ‘possibilidade de equivalência’ quanto a
‘transformação’(Castro 2008). Foi utilizada neste livro por ser mais adequada para caracterizar a
negociação ou a comunicação entre o observador e o usuário, uma vez que ela também pressupõe a
possibilidade de vir a ser recusada, negociada ou até mesmo ser novamente traduzida.
Walkthrough - palavra da língua Inglesa que pode ser traduzida como passeio ou entrevista
acompanhado. Em função do reconhecimento mundial, inclusive por parte dos pesquisadores
brasileiros, foi mantida a sua designação original em Inglês. Alguns autores acrescentam a palavra
Entrevista – Walkthrough-Interview (Brill et al, 1985), Avaliação – Walkthrough-Evaluation (Preiser et
al 1988), Análise (Rheingantz 2000), ou ainda Passeio (del Rio 1991).

21
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

(Página intencionalmente deixada em branco)

22
WALKTHROUGH14
Introdução
Método de análise que combina simultaneamente uma observação com uma entrevista, a
walkthrough tem sido muito utilizada na avaliação de desempenho do ambiente construído e na
programação arquitetônica. Possibilita a identificação descritiva dos aspectos negativos e positivos
dos ambientes analisados. Segundo Preiser (in Baird et al 1995), em uma walkthrough os aspectos
físicos servem para articular as reações dos participantes em relação ao ambiente. O percurso
dialogado abrangendo todos os ambientes, complementado por fotografias, croquis gerais e
gravação de áudio e de vídeo, possibilita que os observadores se familiarizem com a edificação, com
sua construção, com seu estado de conservação e com seus usos.

Fundamentos
Segundo Zeisel (1981), a primeira Walkthrough foi realizada por Kevin Lynch (1960) em Boston,
quando convidou os grupos de respondentes voluntários para um passeio-entrevista pela área central
da cidade.
Esses mesmos voluntários foram levados a campo para fazerem um dos primeiros trajetos imaginários:
aquele que vai do Hospital Geral de Massachusetts à Estação Sul. Estavam acompanhados pelo
entrevistador, que usava um gravador portátil. Pedia-se ao entrevistado que seguisse à frente, discutisse
por que escolhera determinado caminho, relatasse o que via ao longo do trajeto e indicasse os pontos
onde se sentia seguro ou perdido (Lynch 1997: 164).
Durante os anos 60 seguiram-se algumas experiências acadêmicas com grupos de alunos, em sua
maioria não publicadas (Bechtel 1997), mas seu reconhecimento científico ocorreu nos anos 60 e 70
com o advento da Psicologia Ambiental e com a organização, em 1968, da EDRA – Environment
Design Research Association15 – acompanhando a consolidação conceitual e de procedimentos da
APO.

Aplicações e limitações
Por ser relativamente fácil e rápida de aplicar, a walkthrough tem sido muito utilizada em APOs. Em
geral, ela precede a todos os estudos e levantamentos, sendo bastante útil para identificar as
principais qualidades e defeitos de um determinado ambiente construído e de seu uso. Sua realização
permite identificar, descrever e hierarquizar quais aspectos deste ambiente ou de seu uso merecem
estudos mais aprofundados e quais técnicas e instrumentos devem ser utilizados. Além disso, ela
também permite identificar as falhas, os problemas e os aspectos positivos do ambiente analisado.
Inicialmente deve-se formar uma equipe composta por especialistas e por representantes dos diversos
grupos de usuários do ambiente construído. Munidos de plantas e fichas de registro (Figs. 1 e 2), os
observadores realizam uma entrevista-percurso de reconhecimento ou ambientação, abrangendo
todos os ambientes considerados no estudo. Para registrar as descobertas, podem ser utilizadas
diversas técnicas de registro, como por exemplo, mapas, plantas, check-lists, gravações de áudio e de
vídeo, fotografias, desenhos, diários, fichas, etc.

14
Palavra da língua Inglesa que pode ser traduzida como passeio ou entrevista acompanhado. Em função do
reconhecimento mundial, inclusive por parte dos pesquisadores brasileiros, foi mantida a sua designação original em Inglês.
Alguns autores acrescentam a palavra Entrevista – Walkthrough-Interview (Brill et al 1985), Avaliação – Walkthrough-
Evaluation (Preiser et al 1988), Análise Walkthrough, (Rheingantz 2000), ou ainda Passeio Walkthrough (del Rio 1991).
15
Associação profissional multidisciplinar criada com o propósito de “avançar a pesquisa na arte e na ciência do desenho
ambiental, melhorar o entendimento dos relacionamentos entre as pessoas e os ambientes construído e natural, ajudando a
produzir ambientes responsivos para as necessidades do homem.” Informação disponível na página da EDRA, em
<http://www.telepath.com/edra/ >, consulta realizada em 20 abr. 2000.

23
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

SETORES
(Ambiente único)
ATRIBUTOS
ÁREAS ÁREAS DE TRABALHO ÁREAS DE APOIO
1. GERAL [g]
1.1 SINALIZAÇÃO - - - - - - - - - - - B - B -
1.2 CONFORTO TÉRMICO B B B AB B C A A A A D B D D
1.3 CONFORTO AERÓBICO A A A AA B A A A B A B B B B
1.4 ILUMINAÇÃO NATURAL C B B AA B A B A D A - C - -
1.5 ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL A A A AA A A A A C A B A B B
1.6 ACÚSTICA AMBIENTE D D D DD C D D D C A C C C B
1.7 APARÊNCIA B B B AA A C B B B A C A B A
2. PAREDES / DIVISÓRIAS 1-Inexist. 2-Divisória 3-Madeira 4-Lamin. 5-Papel 6-Pintura 7-Azulejo
2/ 6/ 2/ 6/
2.1 MAT. REVESTIMENTO 2 6 6 2 2 2 1 8 1 6 7
6 8 6 7
2.2 APARENC. / CONSERV.[g] A A A A A A A - A - A A A B A
2.3 ADEQUAÇÃO [g] A A A A A A A - A - A A A C A
3. TETOS 2-Gesso 3-Pacote 4-Colméia 5-Pintura
2/
3.1 MAT. REVESTIMENTO 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
4
3.2 APARÊNC. / CONSERV.[g] A A A A A A A B A C A A A A A
3.3 ADEQUAÇÃO [g] A A A A A A A A A C A A A A A
4. PISOS ACABADOS 1-Taco 2-Vinílico 3-Cerâmico 5-Carpete 9-Fórmica
4.1 MAT. REVESTIMENTO 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
4.2 APARÊNC./ CONSERV. [g] A A A A A A A A A A A A A A A
4.3 ADEQUAÇÃO A A A A A A A A A A A A A A A
5. INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
1=Embutida 2=Aparente 3=Mista 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
5.1 TOMADA/INTERRUP. [g] B B B B B B B B B B A A B A A
5.2 LUMINÁRIAS [g] A A A A A A A A A A A A A A A
6. INSTALAÇÕES TELEFÔNICAS
1=Embutida 2=Aparente 3=Mista 2 2 2 2 2 - 2 2 2 2 2 1 - - -
6.1 APARÊNC./CONSERV. [g] A A A A A - A A A A A A - - -
7. REDE DE COMPUTADOR
1=Embutida 2=Aparente 2 2 2 2 2 - 2 2 2 2 2 - - - -
8 . ESQUADRIAS
8.1 PORTAS - APARÊNC. [g] A - - - - B - A A A A A B B A
8.2 JANELAS - APARÊNC. [g] A A - A A - A A A A A - - - -
9. EQUIPAMENTOS (QUANTIDADE)
9.1 TELEFONE 2 4 2 1 3 - 2 1 1 2 1 1 - - -
9.2 FAX - - - - - - - - - 1 - - - - -
9.3 COMPUTADOR 2 4 2 1 3 1 3 1 1 2 1 - - - -
9.4 IMPRESSORA - 1 - - - 1 - - - 1 1 - - - -
9.5 COPIADORA - 1 - - - 1 - - - - 1 - - - -
9.6 TELEVISÃO - 1 - - - - - - - - - - - - -
9.7 GELADEIRA - - - - - - - - - - - 1 - - -
9.8 APARELHO AR COND. - 1 - - - - - X - X X - - - -
9.9 MÁQUINA DE ESCREVER - - - - - - - - - - - - - 1 -
9.10 SCANNER - - - - - - - - - - - - - - -
Grau de Avaliação [g]: A = Muoito Bom B = Telativ. Bom C = Relativ. Ruim D = MUitp Ruim X = não se aplica
OBS: X → saída do ar condicionado central
Usuários por área:
Administrativo → V.T., V.M. e F.A Área V. → V., M.F., A.L. e S. Jurídico → F.C. (adv.), C. e T.
Cobrança (sala de reunião) → C.N. e H. Financeiro → N. e A.R. Copa → G

Figura 1 - Ficha de Avaliação Fatores Técnicos. Fonte: Abrantes (2004: 185)

24
Walkthrough

Figura 2 – Ficha de Inventário Ambiental preenchida – APO Colégio Aplicação da UFRJ. Fonte: del Rio et al (1999)

Por ser um instrumento flexível, a walkthrough possibilita o emprego de diversas abordagens ou


procedimentos. Em sua forma mais estruturada (Brill et al 1985), são utilizados dois tipos de grupos:
grupos de tarefas e grupos de participantes.
Os grupos de tarefas são compostos pelos líderes de grupo que planejam, conduzem e relatam o
processo da walkthrough. Estes grupos têm como objetivos motivar os participantes a discutirem
questões que forem surgindo durante a walkthrough, bem como propor recomendações e ações para
resolvê-los. Durante a walkthrough, um membro conduz o trajeto pelo edifício e faz perguntas
geradoras de comentários sobre o edifício e as suas características, sobre sua operação e uso. Um
segundo membro registra os comentários e notas, bem como onde cada problema se localiza (Fig.
3). O terceiro fica responsável pelas fotografias e pela ordenação e registro dos comentários.

25
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 3 - Ficha de Observação Walkthrough preenchida. Fonte: Souza (2003: Anexo)

26
Walkthrough

Já nos grupos de participantes, cada grupo tem funções e interesses diversos com relação ao edifício,
à sua operação e uso. Os grupos de participantes mais comuns são formados por gerentes,
funcionários, visitantes, pessoal de manutenção e de reparo, pessoal de segurança, projetistas, de
proprietários e administradores do edifício. Se o número de participantes for pequeno (seis ou
menos), um grupo walkthrough único pode incluir todos eles. Se for muito maior, pode ser
conveniente formar outros grupos mais representativos do total de participantes.
Uma segunda abordagem (Baird et al 1985) subdivide a tarefa em quatro procedimentos que, tanto
podem ser aplicados em conjunto, como isoladamente: Walkthrough Geral, Walkthrough de
Auditoria de Energia, Walkthrough de Especialistas e Passeio Walkthrough.
Em uma Walkthrough Geral são utilizados grupos de técnicas da Walkthrough de edifícios ou
ambientes. Esta técnica pode ser utilizada de diversos modos, tanto na avaliação de edifícios como
de lugares urbanos e, a exemplo do grupo de participantes, pode envolver os usuários ou outros
grupos de interesses mais específicos, como especialistas, ou administradores. Eles utilizam o próprio
ambiente físico como estímulo para auxiliar os respondentes a articularem suas reações a este
ambiente. Sua finalidade típica inclui a escolha de informações dos participantes da Walkthrough e
de outros usuários, bem como levar a efeito avaliações técnicas do referido ambiente. Walkthroughs
gerais podem servir de base para a construção de questionários ou outros tipos de observações mais
específicas.
Já uma Walkthrough de Auditoria de Energia, de um edifício, por exemplo, tem como propósito
específico avaliar seu desempenho energético e de identificar oportunidades para o gerenciamento e
a conservação de energia.16
Já em uma Walkthrough de Especialistas, conforme o próprio nome sugere, organiza-se um grupo de
especialistas cuja composição tanto pode ficar em aberto como ser previamente definida para
examinar um conjunto determinado de aspectos de um ambiente ou edifício, tais como condições
físicas, utilidade de algum aspecto, fator ou atributo específico. Em geral, nestas walkthroughs são
utilizadas check-lists (Fig. 4), bem como entrevistas formais ou informais com os usuários no próprio
local.

16
Baird et al (1995) indicam um documento do Ministério de Energia da Nova Zelândia: Ministry of Energy, Energy
Management Group. Public Organization Energy Audit Manual. Wellington, Nova Zelândia: Ministtry of Energy, 1988.

27
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

2 DIVISÕES INTERNAS A B C D
ALVENARIA DIVISÓRIA ALTA DIVISÓRIA BAIXA NENHUMA
2.1 JUNTAS E FIXAÇÕES
2.2 APARÊNCIA
2.2.1. DESGASTE / ARRANHÕES / MANCHAS
2.2.2. ESTADO DE CONSERVAÇÃO
2.3 FACILIDADE DE MANUTENÇÃO
3. TETOS A B C D
3.1 NIVELAMENTO
3.2 APARÊNCIA
3.2.1. ARRANHÕES / MANCHAS
3.2.2. PARTÍCULAS/PELÍCULAS DESCASCANDO
3.2.3 ESTADO DE CONSERVAÇÃO
3.3 FACILIDADE DE MANUTENÇÃO
3.4 ACESSO AO VÃO INTERNO
4. PISOS A B C D
MADEIRA CARPETE VINÍLICO CERÂMICO PEDRA
4.1 NIVELAMENTO
4.2 APARÊNCIA
4.2.1. ARRANHÕES / MANCHAS
4.2.2. PARTES SOLTAS
4.2.3 ESTADO DE CONSERVAÇÃO
4.3 RESISTÊNCIA A CIGARRO
4.4 DESGASTE
4.5 ADERÊNCIA
4.6 FACILIDADE DE MANUTENÇÃO
4.7 SEGURANÇA CONTRA ESCORREGÕES
Avaliação: A = MUITO BOM B = BOM C = RUIM D = MUITO RUIM
Figura 4 - Checklist de fatores funcionais – divisões internas, tetos e pisos) Fonte: Adaptado de Preiser et al (1988)

Por fim, o Passeio Walkthrough – modalidade mais utilizada nas APOs realizadas pelos integrantes do
grupo APO/ProLUGAR – baseia-se no uso do ambiente físico como elemento capaz de ajudar os
respondentes – tanto pesquisadores e/ou técnicos, quanto os usuários – na articulação de suas
reações e sensações em relação ao edifício ou ambiente a ser analisado.
Inspirados em del Rio (1991), os Passeios Walkthroughs realizados pelos integrantes do
APO/ProLUGAR (Rheingantz et al 1998) têm adotado a abordagem de Zube (1980), que considera
as experiências e emoções vivenciadas pelos usuários e pesquisadores como “instrumentos de
medição” e de “identificação da qualidade” dos ambientes. Este procedimento simplifica e agiliza as
walkthroughs em relação às recomendações de Brill et al (1985) e Baird et al (1995). De um modo
geral, estas walkthroughs são realizadas por duplas de pesquisadores. Antes de ir a campo, são
preparadas plantas baixas em escala 1/50 impressas em papel sulfite formato A3 ou A4, para
facilitar seu manuseio em campo – em edificações com plantas muito extensas, as plantas são
seccionadas em setores; eventualmente podem ser necessários cortes esquemáticos. Durante os
percursos, enquanto os dois observam e analisam entre si os ambientes, um deles tira fotografias
e/ou grava em áudio os comentários; o outro anota nas plantas baixas as observações e visadas das
fotografias. Quando o percurso é realizado por um único pesquisador, recomenda-se a realização de
dois percursos em sequência, um para anotar os resultados das observações e/ou gravar em áudio
os comentários, outro para fazer as fotografias. Depois do trabalho de campo, as observações são
lançadas em uma matriz composta de plantas baixas, fotografias e comentários (Fig 5).

Esta simplificação de procedimentos torna-se particularmente importante nos trabalhos acadêmicos,


cujos interesses e demandas emergem dos próprios pesquisadores, e não de uma demanda real e

28
Walkthrough

concreta dos usuários dos ambientes observados. Como resultado, surge uma espécie de
“consentimento tolerante” por parte dos usuários, que disponibilizam seus ambientes para as
avaliações de desempenho, mas que dificilmente se envolvem eles próprios com os trabalhos de
campo, se caracterizando numa das primeiras limitações da walkthrough.
Outra limitação muito comum em uma walkthrough se deve a eventuais restrições de acesso dos
pesquisadores aos ambientes, seja por riscos de contaminação – tanto do ambiente (centros
cirúrgicos, laboratórios, centros de pesquisa das áreas biomédicas) quanto dos próprios
pesquisadores (laboratórios e alas de doenças infecto-contagiosas em hospitais) – seja por receio de
espionagem industrial.
De mesma origem é a dificuldade, nestes trabalhos acadêmicos, de se formar equipes
multidisciplinares ou de especialistas, uma vez que, em geral, são os próprios pesquisadores –
estudantes de mestrado, de doutorado e/ou bolsistas de iniciação científica – que realizam as
observações. Apesar destas limitações, deve ser mencionado que os resultados das observações
realizadas pelo APO/ProLUGAR têm sido ricos e significantes em informações.
Com relação à postura dos observadores, existem duas vertentes distintas: a primeira, alinhada com
a abordagem clássica, que recomenda distanciamento crítico do observador com relação ao
ambiente, e a segunda, alinhada com a abordagem experiencial, se baseia na impossibilidade do
distanciamento crítico e recomenda que os observadores atentem e anotem as próprias emoções e
reações experienciadas durante suas interações com o ambiente.

Para melhor ilustrar a diferença entre as duas posturas e seus reflexos nos resultados, a seguir são
apresentados dois relatos, respectivamente alinhados com a primeira abordagem,
Condicionada pela aparência e pelo estado geral de aparente abandono, e apesar do evidente afeto
expressado pelos funcionários com relação ao edifício – especialmente por seu reconhecido valor
histórico, sua solidez e sua localização – a imagem percebida, por parte dos funcionários, é negativa e
pouco condizente com a natureza e a importância estratégica do INPI; outro aspecto evidenciado foi o
ceticismo dos funcionários com relação à quantidade de projetos de modernização e de reforma
contratados e não implementados – a esperança de melhorias mistura-se com a descrença e a reserva
e/ou o receio com a possibilidade de mudança para um outro local (Rheingantz 2000: 09).17
e com a segunda abordagem:
Levando em consideração que o setor de Informática ainda não está funcionando, e portanto, não há
um fluxo grande para lá, fui pesquisar como seria o visual do canto entre a porta e a janela; tenho
visão parcial de [A] e total de [B], mas pelas suas costas, fato que o incomodou bastante, eu noto. Só
de eu me deslocar para lá sem nada, sem material, só eu, e ter ficado lá perto de um minuto, já foi
suficiente para ele olhar para trás para ver o que eu estava fazendo. Logo depois, [A] reclamou da
organização das pastas sobre o arquivo metálico, falou com [C] que não podia ficar desse modo; [A]
fala de forma ríspida, causa um ‘clima’. [C], embora tenha se mantido respeitoso todo o tempo, foi
incisivo também, ajudando a intensificar o clima. [B], lá de trás, faz ssshhh com os lábios, e eu
lamento, sei que minha presença ainda os inibe, fato que não gostaria que acontecesse... ai, estou
com dor nas costas, hoje tomei cataflan mas não adiantou muito, vou comprar um dorflex mesmo,
assim também serve para a dor muscular (Brasileiro, 2006: não paginado).

17
Este exemplo foi intencionalmente transcrito da tese de Rheingantz (2000) para reforçar que os pesquisadores do
ProLUGAR, em diversas situações, e em função da natureza das demandas, como por exemplo as APOs com ênfase nos
aspectos funcionais e técnicos adotam em parte ou totalmente a abordagem clássica.

29
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 5 - Análise Walkthrough: Síntese das observações – Creche no Rio de Janeiro. Fonte: Santos et al (2005)

Recomendações e cuidados
Para que membros dos grupos de tarefa possam conduzir adequadamente uma walkthrough, é
preciso que se submetam a um treinamento com especialistas familiarizados com o método.
Inicialmente o treinamento deve cobrir duas áreas: (a) objetivos, contexto e assuntos ou tópicos
prováveis para o evento; (b) a natureza real da walkthrough e do treinamento, técnicas para fazer
perguntas e registrar respostas, e o desenvolvimento e uso das fichas e formulários necessários.
Os ministrantes devem simular a condução de um passeio tendo como participantes os membros dos
grupos de tarefas, para que eles possam praticar e testar suas habilidades. A primeira Walkthrough , por
sua vez, deve ser conduzida com a orientação de um pesquisador experiente, seguida de uma revisão,
para auxiliar os grupos de tarefas a melhor conduzirem os trabalhos subsequentes.

30
Walkthrough

Planejamento
No planejamento e na montagem de uma walkthrough, Brill et al (1985: 242) indicam alguns
procedimentos ou cuidados importantes:
• Definir o grupo de trabalho.
• No caso de mais de um edifício ou ambiente, selecionar os edifícios e ambientes a serem
percorridos, bem como definir a ordem sequencial dos percursos.
• Informar os departamentos ou setores envolvidos com a walkthrough, buscando a sua cooperação
e consentimento/permissão.
• Verificar a disponibilidade de recursos para realizar as melhorias e reformas necessárias para
implementar os benefícios de modo a que os usuários ou respondentes percebam e se beneficiem
desta experiência/participação. A concretização destes benefícios possibilita que os participantes
acreditem nas vantagens de participar do processo de avaliação.
• Treinar o grupo de trabalho na preparação e na programação da walkthrough.
• Propor os grupos de participantes; em geral, seis a dez grupos de até cinco pessoas cada são
suficientes. Quando a população envolvida for muito grande, são utilizados múltiplos grupos.
Neste caso, são constituídos dois a três grupos para cada 100 pessoas, tais como: pessoal de
suporte, funcionários de escritório, pessoal de segurança, etc.
• Explicar aos participantes o que se espera deles em termos de melhorias, de feedback ou
resultados, de oportunidade de comunicar-se e de serem ouvidos e, se necessário, a sua
remuneração durante o trabalho.
• Determinar/estimar o tempo de realização da própria walkthrough e quantos grupos vão realizar o
percurso – recomendável de 6 a 10 – e quanto tempo cada um deve durar. Para edifícios ou
ambientes maiores, mais complexos e/ou mais populosos, será necessário mais tempo.
• Prever e incluir o tempo necessário para fotografar e medir – entre 2 e 6 horas. Isto pode ser
realizado durante a própria walkthrough, ou por cada participante ou grupo, imediatamente após
a mesma.
• Prever e incluir o tempo necessário para preparar os arquivos e registros dos métodos, dos
participantes e dos resultados – em geral, em uma walkthrough de pequeno porte, a previsão é de
duas pessoas por dia.
• Verificar limitações e impedimentos (datas, tempo, acesso a ambientes, disponibilidade dos
usuários, etc.).
• Preparar um plano ou roteiro de trabalho que explicite: quem faz o que, quando e onde.

Organização dos participantes:


• O objetivo é poder contar com as pessoas certas no lugar certo e no momento oportuno. Também
é conveniente ter como exemplo um relatório já concluído, com o objetivo de orientar passo-a-
passo o processo da Walkthrough – esta medida é particularmente eficaz quando os grupos de
participantes são formados exclusivamente por usuários.
• Na composição dos grupos de participantes, é conveniente contar com a ajuda da instituição
contratante, para evitar a participação de pessoas com tendência a dominar ou a interromper

31
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

desnecessariamente os outros nos trabalhos de grupo, bem como para assegurar a variedade de
experiências, contextos e opiniões em cada grupo.
• Confirmar com alguns dias de antecedência a presença das pessoas nos encontros ou reuniões de
trabalho.
• Finalizar o programa e compartilhar as descobertas e resultados com a administração e com os
usuários dos edifícios/ambientes afetados.

Preparativos (Daish et al 1982 apud Brill et al 1985: 243):


• Conseguir plantas dos pavimentos e outros documentos significantes e/ou informativos que
possam auxiliar na análise e/ou diagnóstico.
• Os participantes de um Grupo de Tarefa devem saber os nomes de seus colegas, conhecer suas
tarefas e ter à mão os formulários e o equipamento necessário. É conveniente preparar uma
listagem do equipamento necessário para avaliar o exterior e/ou o interior do edifício ou
ambiente.

Conduzindo uma walkthrough


Nesta fase do trabalho, os resultados e as atividades e intenções dos participantes, suas avaliações e
as características dos ambientes, fotografias, medições e recomendações devem ser registrados e
devidamente arquivados. Torna-se importante:
• Verificar a organização dos planos e arranjos – se as salas de reunião são suficientemente grandes
e com um nível adequado de privacidade.
• Planejar os trajetos a serem percorridos, para otimizar o tempo e, quando possível, preparar uma
análise gráfica das informações que possa ser consultada durante o percurso com o objetivo de
alimentar os debates e discussões na reunião de avaliação.
• Durante a reunião introdutória (duração máxima de 30 minutos), os participantes dos grupos
devem ser esclarecidos sobre (a) os objetivos e benefícios da walkthrough; (b) os procedimentos
para registro de comentários, fotos e medições; (c) as atividades e responsabilidades de cada
participante, quais registros devem fazer, em que instrumentos, com que notação e simbologia
gráfica. O objetivo desta reunião é ressaltar a importância das suas atividades, sua
utilidade/importância para o trabalho, bem como esclarecer sobre o que se pretende realizar com
o edifício/lugar com que intenções.
• Conduzindo uma walkthrough (de 30 a 60 minutos), inicialmente é conveniente esquematizar o
percurso e estimular o grupo a acrescentar seus percursos paralelos. Enfatizar as questões mais
importantes relacionadas com a avaliação de cada ambiente ou lugar a ser visitado.
Durante a walkthrough, Brill et al (1985: 243) sugerem algumas perguntas para motivar a discussão
com vistas a explicitá-las com mais detalhes:
O que você considera importante neste ambiente ou lugar?
O que parece estar funcionando?
O que parece não estar funcionando?
O que acontece ali?
O que deve ser mantido como está?
O que deve ser modificado?

32
Walkthrough

Também deve ser perguntado: "Você pode dizer-me mais alguma coisa sobre...?" . Registre a
essência do que está sendo dito em folhas especialmente preparadas - e evite fazer interpretações.
Considere ainda:
• Fazer fotografias para ilustrar questões e recomendações, especialmente relacionadas com o
percurso. Se forem necessárias fotos adicionais, elas devem ser feitas posteriormente.
• Neste primeiro percurso, não são realizadas medições de qualquer natureza; em princípio,
considera-se que um avaliador experiente pode utilizar seu conhecimento e seus sentidos como
“instrumentos” de medição das condições de conforto e bem estar (Zube, apud del Rio 1991).
• Quando forem identificados ambientes ou lugares que necessitem medições complementares –
temperatura, umidade relativa do ar, índices de iluminamento, etc – eles devem ser precisamente
indicados; nestes casos, se realiza um ou mais percursos – é recomendável walkthrough de
especialistas – em geral restritos aos lugares e ambientes indicados. Se algo for registrado como
muito alto ou muito inclinado, esta medida deve ser claramente explicitada (em metros ou
declividade, por exemplo).

Revisão da walkthrough
• A reunião para revisão deve ser realizada imediatamente após o término do percurso (com
duração de até 60 minutos).
• Objetivos: propiciar que os participantes, com base em suas observações, façam suas
recomendações sobre a operação, a manutenção, o projeto e a construção. Deve ser ressaltado
que o procedimento implica na revisão dos seus comentários (com base nas anotações realizadas
durante o percurso) para, se possível, chegar a um consenso sobre a observação e sobre as
recomendações relativas às questões levantadas. Se possível, as descobertas devem ser
priorizadas.
• As questões e recomendações devem ser registradas em um quadro ou flip-chart de modo que
todos possam visualizá-las e comentá-las.
• Deve ser explicado o modo como os resultados vão ser comunicados, de modo que todos
possam, se necessário, solicitar feedbacks.
• Também deve ser definido o sistema de organização e arquivo dos dados e informações, que seja
fácil de manusear e de encontrar as informações desejadas. As fotos e medições devem ser
arquivadas nas fichas de registro das demais informações escritas.

Análise dos Resultados


Inicialmente é necessário assegurar-se de que todos os dados e informações estão devidamente
arquivados e disponíveis para manuseio. O arquivo deve facilitar a compreensão de todo o processo,
as informações sobre todos os respondentes, onde eles estão, o que eles observaram ou relataram,
bem como as suas recomendações.
Deve ser produzido e distribuído para todos os participantes um sumário de uma página e um
relatório contendo todas as recomendações e os procedimentos a serem seguidos para seu
gerenciamento. O sumário deve conter as recomendações mais importantes, sugestões sobre onde
podem ser obtidas mais informações, bem como alguns detalhes do próprio processo (quem, onde,
quando, por que, como). O relatório de recomendações deve incluir o conteúdo indicado no sumário
de uma página, bem como uma descrição detalhada em texto e fotos sobre o que foi observado, e
todas as recomendações devem ser listadas e classificadas durante o processo. Deve ser preparado

33
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

um relato verbal para incentivar os administradores e responsáveis a fazer perguntas e se inteirar


sobre o conteúdo do relatório.
Os grupos de tarefas devem revisar o processo da walkthrough, decidir o que deu certo e o que deu
errado, documentar tudo isto como base para implementar o processo na próxima rodada.
Recomendações de ações e procedimentos a serem adotados devem ser determinados na análise. O
uso de palavras-chave ou frases é útil na identificação das classes de recomendações e no
estabelecimento de políticas ou diretrizes de gerenciamento (preços); questões comportamentais
(usos); tipo ou localização de salas (salas de conferência); elementos construtivos (carpetes,
mobiliário, equipamento); sistemas construtivos (energia, ar condicionado). As recomendações devem
priorizar quais ações devem ser tomadas primeiro.
As recomendações devem incluir informações sobre por que as pessoas pensam os problemas
existentes ou informações que ajudem a determinar as causas de um determinado acontecimento ou
problema. Em alguns casos, não é tão importante saber por que uma situação acontece (p. ex., por
que as pessoas estão caminhando sobre a grama, ao invés de usarem a calçada). Isto pode ser
suficiente para "tratar" o sintoma (p.ex., para modificar a calçada, acrescentar outra calçada, recobrir
com grama as áreas pavimentadas, etc.).
Nas reuniões de revisão e durante a análise, sempre que possível, é conveniente desenvolver um
conjunto de recomendações de desempenho (focalizadas nas características de um resultado
desejado) e não de recomendações prescritivas (focalizadas em como alcançar os resultados
desejados).

34
MAPA COMPORTAMENTAL

Introdução
O mapa comportamental é um instrumento para registro das observações sobre o comportamento e
as atividades dos usuários em um determinado ambiente. É muito útil para identificar os usos, os
arranjos espaciais ou layouts, os fluxos e as relações espaciais observados, bem como indicar
graficamente as interações, os movimentos e a distribuição das pessoas, sejam elas relativas ao
espaço ou ao tempo que permanecem no ambiente considerado.
O Mapa Comportamental foi concebido para atender aos seguintes objetivos:
ƒ Sistematizar o registro das atividades e da localização das pessoas num determinado ambiente.
por meio de mapas esquemáticos e por gráficos
ƒ Ilustrar empiricamente o espaço e o tempo de permanência ou percurso dos indivíduos, seu
comportamento e suas atitudes.
ƒ Verificar a adequação e congruência do ambiente planejado construído ao efetivamente existente.

Fundamentos
Empregado por pesquisadores da psicologia ambiental e do desenho urbano para registro de
informações relacionadas com o uso e a apropriação do ambiente pelos usuários, o mapa
comportamental é útil para identificar imagens, atributos reconhecidos, expectativas e condutas
potenciais dos indivíduos e dos grupos de indivíduos.
Segundo Sommer e Sommer (1997), equipes de psicólogos finlandeses e holandeses utilizaram os
mapas comportamentais na década de 70 e 80, para desenvolver programas de educação no
trânsito. William Whyte (1988; 2004) utilizou-se de mapas comportamentais e tabelas para sintetizar
registros de praças e parques na costa oeste americana, resultantes da observação direta, de filmes
super-8 ou fotografias com intervalos de tempo. Uma vez concluídos, os registros foram mapeados
para a análise gráfica e o gerenciamento dos ambientes urbanos, bem como para identificar a gama
de atividades cotidianas e a vida social que aconteceram nos ambientes observados, de modo a
propor algumas diretrizes básicas para o desenho de áreas públicas urbanas.
Sanoff (1991) e Sommer; Sommer (1997) utilizaram o mapa comportamental para registrar
comportamentos no ambiente construído. Na observação de visitantes de bibliotecas e escolas
americanas, Sanoff (1991:81-83) posicionou observadores em vários pontos de seus ambientes. Os
resultados expressos em mapas revelaram os padrões de circulação e a frequência de pessoas nos
momentos de maior movimento.

Aplicações e Limitações
A observação do ambiente físico, seja ele externo ou interno, natural ou construído, permite a
produção de informações sobre os usos e atividades esperados ou novos, além das relações nele
ocorridas; sobre as regularidades de conduta, bem como acerca da influência do ambiente sobre o
comportamento dos usuários.
Existem dois tipos de mapas comportamentais: centrados nos lugares e centrados nos indivíduos
(Sommer; Sommer 1997: 60-70).

35
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

• Mapas centrados nos lugares:


Nos mapas centrados nos lugares, os observadores ficam parados em um ou mais pontos
estratégicos: – com boa visibilidade geral e que interfira minimamente no movimento e no uso
normal do ambiente; – registrando em desenhos pré-elaborados do local (normalmente plantas-
baixas) todos os movimentos e ações que nele ocorrem.
Em lugares amplos e cheios de pessoas ou em áreas de trânsito pesado de pedestres torna-se
fácil para o observador se misturar com a multidão e não ser percebido, o que simplifica a
aplicação do instrumento, como em centros de compras ou em parques e praças, sendo este tipo
de mapeamento o mais indicado. O rastreamento à distância em lugares com muitas pessoas é
menos intrusivo e menos perceptível.
• Mapas centrados nos indivíduos
O mapeamento centrado no indivíduo visa registrar atividades e comportamentos de uma pessoa
ou grupo de pessoas. Neste caso, os observadores seguem o indivíduo ou o grupo durante um
período de tempo e por um determinado percurso. Por ser uma atividade dinâmica, exige do
observador maior habilidade no trato com as ferramentas enquanto se movimenta, de modo a,
sempre que possível, evitar a interação pessoal com os usuários do ambiente que observa.
A maior limitação deste procedimento é este caráter intrusivo, que, em ambientes internos ou de
pequenas dimensões, dificulta o anonimato do observador, que passa a ser facilmente percebido
pelos usuários e demais participantes indiretos do ambiente observado. Um exemplo desta
limitação é a observação e registro de atividades e comportamentos em um ambiente de
escritório com vários funcionários interagindo entre si.
Ao estar ciente de que está sendo observada, a pessoa pode inconscientemente alterar sua
conduta ou atitude, ainda que se proponha a cooperar com o procedimento. A presença intrusiva
do observador deve ser assumida, ainda que isto demande algumas ações para minimizar as
alterações nos comportamentos e ações dos usuários. Assim, é recomendável um período de
18
adaptação ou de impregnação que permita aos usuários se familiarizarem com a presença do
observador. Durante o período de adaptação deve ser evitado qualquer tipo de registro. Outra
garantia importante a ser negociada é a confidencialidade dos dados e informações fornecidos
pelos usuários. Na abordagem experiencial, que se baseia no pressuposto de que a realidade é
sempre um argumento explicativo (Marutana; Varela 1995) e no reconhecimento de que o
observador não pode pretender ter acesso a uma realidade independente dele próprio, ele deve
estar atento e consciente para a interferência que sua presença provoca no ambiente analisado,
bem como na influência da interação com o ambiente e seus usuários em suas emoções e
sentidos.

A escolha da aplicação de cada tipo de mapa depende dos objetivos da observação: para avaliar
um determinado local, como o uso de um ponto comercial ou uma praça, recomenda-se o
mapeamento centrado no lugar; para avaliar ou conhecer grupos ou indivíduos, como a vida social
de um grupo de pessoas idosas, deve ser utilizado o mapeamento centrado no indivíduo.

18
O termo impregnação (Cosnier 2001) refere-se ao período inicial da pesquisa de campo, quando o observador
permanece no ambiente apenas observando, se familiarizando e permitindo que o ambiente também se “familiarize” com a
sua presença, a exemplo do que foi utilizado por Brasileiro (2007), no âmbito das pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de
Pesquisas Arquitetura, Subjetividade e Cultura (ASC ) < www.asc.fau.ufrj.br>.

36
Mapa comportamental

Como a construção dos dois tipos de mapas demanda esforço e tempo e sua aplicação tende a ser
realizada sobre poucos indivíduos, sua testagem estatística pode se tornar inviável. A dificuldade de
interpretação de um grande número de mapas, quando estes são combinados com outros registros
de pessoas ou ambientes em diferentes momentos, é outra limitação ao uso deste instrumento.
Assim, é recomendável utilizar uma menor quantidade de mapas que apresentem maior qualidade e
profundidade nos dados obtidos individualmente, apresentando um registro-síntese das situações
observadas.
No processo do mapeamento devem ser indicados os estágios evolutivos de observação: uma hora
no primeiro dia, duas horas no segundo dia, e assim por diante. Este procedimento pode ser
realizado de forma continuada – a observação de uma pessoa ao longo de um dia de trabalho com
o registro de todas as atividades e locais percorridos ou utilizados – ou periódica – quando se
determinam horários específicos em um mesmo dia, ou em dias alternados, e o observador anota a
localização e a atividade naquele momento. É mais proveitoso um pequeno universo representativo
do que infindáveis observações em atividades regulares e previsíveis de grandes grupos que executam
a mesma tarefa.
Além de ser uma atividade cansativa, a observação por longos períodos de tempo pode estimular um
envolvimento excessivo do observador, a ponto de este não mais perceber atividades e fatos
significativos e importantes para a observação. Ao ressaltar a importância do equilíbrio no manuseio
dos aspectos racionais e emocionais na interação com o ambiente e seus usuários, a adoção de uma
atitude,com base na abordagem experiencial pode contribuir para que a observação seja conduzida
de forma mais equilibrada. A abordagem experiencial propõe a modificação da postura ou atitude
do observador, de abstrata e desincorporada, para uma atitude de observação aberta e atenta do
local que considere as relações pessoa-ambiente de forma indissociável e interdependente. Em
ambas há o reconhecimento de que cada observação é o resultado (ou o relato) de uma experiência
que é vivenciada pelo observador (Rheingantz 2004; Alcantara; Rheingantz 2004).
Por fim, deve ser observado que a utilização do mapeamento comportamental, de um lado,
possibilita revelar as escolhas ambientais dos indivíduos, mas de outro, não informa as razões destas
escolhas. Por esta razão, deve necessariamente ser complementado por entrevistas e outros
procedimentos, de modo a possibilitar descobrir as razões da escolha de certos ambientes em
detrimento de outros, que são evitados.

Recomendações e Cuidados
São diversas as possibilidades de registro das pessoas no ambiente, tais como:
• observação direta e registro em diagramas nos quais os observadores indicam o movimento e a
localização das pessoas no ambiente;
• fotografia com lapso de tempo (Whyte 1988);
• gravação em vídeo ou câmera digital.
Independentemente da forma de registro, para garantir a confiabilidade do instrumento é necessário
sistematizá-lo de modo a garantir sua confiabilidade. Os observadores devem definir previamente a
legenda e a simbologia a serem utilizadas nos registros de campo. Sempre que possível, é
recomendável realizar um pré-teste, de modo a garantir a aplicabilidade e confiabilidade dos
registros nas observações que envolvem vários observadores atuando em um mesmo ambiente.
De um modo geral, o mapeamento comportamental deve ser precedido de uma observação direta
do ambiente que possibilite ao observador graduar sua presença ou participação no ambiente de
acordo com os objetivos da observação. A realização de uma observação direta – por exemplo, uma

37
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

walkthrough de caráter exploratório – possibilita a identificação de atitudes, comportamentos e


relações que, de um modo geral, não são devidamente explicitadas nas entrevistas e questionários.
Por ser dinâmica, a observação direta também possibilita identificar e analisar as relações e os efeitos
provocados pelas diversas atividades e as cadeias de ações e reações delas resultantes. A
walkthrough exploratória também permite o conhecimento preliminar das rotinas e usos do ambiente
observado, revelando, por exemplo, os períodos do dia em que determinado ambiente é utilizado, a
identificação do grupo de usuários que o utiliza e a observação preliminar de alguns padrões de uso.
A questão do envolvimento dos observadores com os usuários e o ambiente analisado é controversa.
Zeisel (1981) argumenta que o envolvimento pode gerar uma avaliação subjetiva, falsamente positiva
ou, ainda, que pode interferir negativamente, omitindo detalhes e aspectos específicos sobre o lugar.
O autor observa ainda que, quanto mais padronizadas e teoricamente fundamentadas forem as
observações, tanto mais fácil será a avaliação e a comparação de resultados. A abordagem
experiencial, por sua vez, argumenta em favor da necessidade de incorporar a subjetividade. Por
considerá-la inerente ao ato de observar, assume a impossibilidade de negar o envolvimento dos
observadores com os usuários e ambientes observados.
A escolha do momento mais oportuno para a realização do mapeamento é outro aspecto importante
a considerar. Atividades e movimentos eventuais ou não regulares não devem mascarar as atividades
e movimentos mais comuns e frequentes. É importante abranger todos os horários de uso do
ambiente em um mapeamento comportamental, uma vez que as expectativas de usos e atividades
desenvolvidas no ambiente nos horários regulares podem diferir daqueles observados em outros
momentos. Convém evitar programar observações em intervalos de tempo muito curtos em um
mesmo dia, para evitar a ocorrência de repetição não representativa de atividades e/ou de pessoas.
Sommer; Sommer (1997) sugerem que os registros sejam realizados em dias e horas alternados e,
ainda, que eles focalizem a primeira atividade das pessoas; as atividades subsequentes devem ser
alvo de novos registros.
Em função da impossibilidade ou inadequação do uso de entrevistas e questionários com este grupo
de respondentes, o mapa comportamental é especialmente recomendado na observação de
ambientes utilizados por crianças,. Sanoff (1995) considera a observação das crianças em suas
atividades diárias a forma mais adequada para a compreensão do seu contexto ambiental.
A combinação de técnicas e recursos, como a fotografia com intervalo de tempo e a gravação em
vídeo, pode ser de grande utilidade para registro do comportamento de consumidores de uma
determinada loja, que envolve os padrões de fluxo de tráfego, as áreas de maior congestionamento,
as interrupções de fluxos e outras manifestações comportamentais.

Análise dos Resultados


Em formulários de dados previamente preparados – com previsão de campos para anotar o dia do
mês e da semana, o horário, as condições climáticas e os locais para cada cenário a ser observado
(Sanoff 1991) – as informações obtidas devem ser registradas com rapidez e clareza. Podem ser
providenciadas tantas cópias dos formulários de dados quantas forem as observações, de modo a
possibilitar que cada observação seja registrada em separado. Pode ser criado um mapa composto,
elaborado com base nas informações de cada registro. Este procedimento possibilita comparar, por
exemplo, o número de pessoas e atividades observadas em cada lugar em um determinado período
de tempo.
O uso combinado das duas modalidades de mapas – centrado no lugar e centrado no indivíduo –
além de enriquecer a observação, pode contribuir para aumentar a precisão e o aproveitamento das

38
Mapa comportamental

informações registradas, uma vez que elas demandam ações e procedimentos de análise
diferenciados em função de suas especificidades, a seguir descritas.
Para a sistematização do mapeamento centrado no indivíduo, o registro poderá ser feito por meio de
uma notação em código não identificado, onde nomes reais ou detalhes de conversas devem ser
omitidos. A sistematização das informações dos diversos mapas centrados nos indivíduos é realizada
por meio de sua conversão para a forma espacial – como, por exemplo, em mapas da cidade
indicando os fluxos da pessoa observada, plantas dos locais de observação com as notações pré-
estabelecidas, ou ainda em gráficos e tabelas que resumem as atividades realizadas e o tempo gasto
em cada uma delas.
No sistema de notação deve ser definido um código ou símbolo para cada atividade. Os
observadores devem estar de acordo sobre os critérios e procedimentos para definir a confiabilidade
de determinada contagem, podendo ocorrer um maior refinamento na medida em que a observação
evolui. Algumas possíveis categorias de atividades e seus códigos incluem:

Caminhar C Sentar sem fazer nada S


Permanecer P Ficar em pé sem fazer nada Pé

Ver TV TV Jogar cartas JC


Ouvir rádio RA Vender V
Conversando com outros Co

No mapeamento centrado no lugar, o primeiro procedimento deve ser a preparação de mapas ou


diagramas do local contendo, inclusive, os aspectos físicos, arquitetônicos e ambientais que possam
afetar o comportamento dos usuários (as medidas devem ser tomadas in loco). Mesmo que sejam
utilizadas plantas baixas, todos os elementos móveis não presentes nas plantas – mesas, cadeiras,
equipamentos, sinalização, quadros, etc – devem ser conferidos e registrados. Uma vez preparado o
mapa, deve ser elaborada uma lista de símbolos ou categorias para cada atividade a ser registrada
(a exemplo do mapeamento centrado no indivíduo) com base na observação. As categorias devem
cobrir 80 a 90 por cento das atividades observadas inicialmente.
Na observação de ambientes de grandes dimensões o mapeamento centrado no lugar é um
procedimento muito adequado, uma vez que possibilita a produção de resultados imediatos, obtidos
a partir do cruzamento dos comportamentos observados. Os mapas individuais, obtidos em
intervalos representativos que abarquem todas as possíveis atividades durante um dia, devem ser ao
final combinados em um único mapa-síntese contendo a localização, a densidade e o uso em todos
os períodos de tempo, além de indicar a diversidade de zoneamentos e setores existentes no
ambiente observado. A seguir são apresentados alguns exemplos de mapas comportamentais
(Figuras 6, 7, 8 e 9):

39
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 6 – Observação de atividades no pátio da Creche Paulo Niemeyer, Rio de Janeiro. Fonte: Ramires et al (2006: 11)

Figura 7 – Observação dos setores e padrões de ocupação do pátio da Escola de Educação Infantil da UFRJ,
Fonte: Silva & Quispe (2008)

40
Mapa comportamental

Figura 8 – Mapa comportamental de observações realizadas no Parque Guinle, Rio de Janeiro. Fonte: Alcantara (2002:126).

Estes exemplos são demonstrativos da variedade das escalas dos ambientes observados, bem como
da forma de representação e de apresentação dos mapas. O uso de fotografias (Figura 9) facilita a
visualização das categorias registradas e, consequentemente, do mapa propriamente dito. Da mesma
forma, também podem ser elaborados mapas parciais em escala ampliada, para mostrar
particularidades de áreas extensas (como, por exemplo, o canto de uma sala num grande escritório,
ou uma esquina ao longo de uma rua), de modo a detalhar as categorias que ali são registradas.
A adoção de uma postura mais interativa em relação ao ambiente e seus usuários, alinhada com a
abordagem experiencial (ProLUGAR), possibilita que os mapas comportamentais se tornem mais
representativos da experiência de interação vivenciada pelos observadores, usuários e ambientes.

41
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 9 - Mapa Comportamental – Sala de atividade 2 / Creche UFF. Fonte: Souza (2003, anexo 12)

42
POEMA DOS DESEJOS19

Introdução
O Wish Poem ou Poema dos Desejos é um instrumento de pesquisa desenvolvido por Henry Sanoff.
Na sua aplicação, os usuários de um determinado ambiente declaram, por meio de um conjunto de
sentenças escritas ou de desenhos, suas necessidades, sentimentos e desejos relativos ao edifício ou
ambiente analisado, tendo como ponto de partida a sentença previamente proposta “Eu gostaria que
o [edifício/ ambiente]...”. Trata-se de um instrumento não estruturado e de livre expressão, que
incentiva e se baseia na espontaneidade das respostas. Tanto a sua elaboração quanto a sua
aplicação são rápidas,e simples e de um modo geral, os resultados são ricos e representativos das
demandas e expectativas atuais e futuras dos usuários.

Fundamentos
Segundo Henry Sanoff20, o Poema dos Desejos é uma ferramenta consideravelmente mais eficaz do
que aquelas cujos objetivos sejam muito específicos e declarados, especialmente quando a intenção
é valorizar um caráter mais global e exploratório da observação. As declarações espontâneas
compõem um conjunto de informações ilustrativo e, quando combinadas com as respostas de
diversas categorias de usuários, possibilitam que se obtenha um perfil representativo dos desejos e
demandas do conjunto de usuários de um determinado ambiente. A análise dos “poemas”
possibilita a identificação do imaginário coletivo em relação àquele contexto experienciado pelos
usuários, contribuindo com a construção do que seria a imagem ideal do ambiente analisado ou
futuramente projetado (del Rio et al, 1999). Segundo Sanoff (2001) a atividade do desenho (uma das
formas de resposta) permite que os usuários expressem e narrem a sua visão sobre um determinado
ambiente ou organização, explicitem suas predileções e indiquem os elementos que consideram mais
significativos.
O Poema dos Desejos é um instrumento de grande utilidade na etapa de programação21 de um
projeto de arquitetura, especialmente nas abordagens participativas. Nestas abordagens o
reconhecimento dos saberes dos usuários, cujas experiências são compartilhadas e todo o elenco de
atores envolvidos é parte essencial no cumprimento de metas e objetivos consensualmente
identificados. Sanoff (1994) considera a participação como uma abordagem “includente e pluralista”
que, além de atender às necessidades humanas fundamentais, possibilita que os valores dos usuários
sejam explicitados. O autor ressalta o caráter social do projeto participativo, ao possibilitar que os
grupos de indivíduos explicitem e reivindiquem suas necessidades e expectativas, que de um modo
geral são ignoradas pelos projetistas e planejadores, ou sublimadas pela burocracia das grandes
organizações e instituições públicas.

Aplicações e limitações
Durante a realização de workshops em projetos participativos, nos quais os usuários discutem suas
idéias e finalmente chegam a uma decisão compartilhada, Sanoff (1991) recomenda que o processo
inicie com a construção de um “poema colaborativo”, para identificar os objetivos e as aspirações
dos participantes. O autor observa que essa atitude pode minimizar o esforço normalmente
dispensado na tentativa de estabelecer e definir as metas do projeto. Após completar a tarefa, “cada

19
Tradução do Inglês Wish Poems.
20
Disponível em < http://www.edfacilities.org/pubs/sanoffassess.pdf >, acesso em 10 jun 2007.
21
Programming.

43
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

participante lê seu poema para o grupo. Esta atividade estimula uma discussão mais rica, e possibilita
estabelecer um cenário positivo para a próxima etapa” (Sanoff 1991: 11).
Nas avaliações com abordagem multimétodos o Poema dos Desejos tem sido aplicado com o intuito
de conhecer o imaginário dos usuários. Por ser um instrumento não estruturado, quando aplicado
depois de ter sido realizada uma walktrhough, o Poema dos Desejos pode ser de grande utilidade
para subsidiar a construção dos demais instrumentos a serem utilizados.
Quando aplicado com crianças, é recomendável o uso do desenho. Além de mais atrativo, segundo
Gobbi, o desenho e a oralidade infantil podem ser “compreendidos como reveladores de olhares e
percepções das crianças sobre seu contexto social, histórico e cultural, pensados, vividos e desejados”
(2002 apud Souza 2007: 102).
A utilidade e a potencialidade dos desenhos na leitura do ambiente ou na concepção projetual é
perfeitamente caracterizada pelas atividades com crianças. Nas imagens a seguir, os desenhos
“falam” por si mesmos e dispensam comentários adicionais. O exemplo retrata a semelhança entre a
escola desejada ou imaginada por um aluno (Fig. 10) e o projeto de uma escola em Davidson,
Carolina do Norte, EUA (Fig. 11). Conforme o autor do projeto,
perguntamos aos alunos como deveria ser o edifício. Eles iam lá todos os dias, e certamente tinham um
feeling próprio de como deveria ser o prédio. Pedimos que fizessem desenhos e este é um deles: uma
bandeira, uma torre com relógio, paisagem [...] Nós nos apaixonamos por este desenho. Fizemos uma
simulação por computador de como seria e seguimos com o projeto. Importante dizer que Davidson é
uma cidade histórica da Carolina do Norte, cujo conselho de patrimônio histórico achava que o edifício
deveria ter as mesmas características arquitetônicas da cidade. [...] O projeto obteve a aprovação mais
rápida da história de Davidson. (Adams 2002: 54).

Figura 10 – Desenho de escola idealizado por um aluno. Figura 11 – Desenho do edifício da escola inspirado na idéia do aluno.
Fonte: Adams (2002: 54) Fonte: Adams (2002: 54)

Quando aplicado com adultos, alguns destes podem se sentir encorajados a se expressarem por
meio de desenhos, como no exemplo da Figura 12, que ilustra o desejo que o respondente possuía
de que o local pesquisado apresentasse maior integração, tanto física quanto social. No entanto, a
forma mais comum de expressão de respondentes desta categoria de usuários é ainda a escrita (Fig.
13).

44
Poema dos Desejos

Figura 12 – Desenho feito por respondente adulto. Fonte: Brasileiro e Dezan (2003: 06)

Figura 13 – Poema dos Desejos preenchido com texto, por respondente adulto. Fonte: Brasileiro (2006: não paginado)

Recomendações e cuidados
A construção do instrumento é simples. Em geral são preparadas fichas padronizadas, contendo um
cabeçalho para identificação, os objetivos da pesquisa, bem como as explicações e instruções para
seu preenchimento. A seguir, deve ser dado destaque à frase “Eu Gostaria que o meu ambiente....”.
Por fim, deve ser deixado um espaço em branco que seja suficiente para a livre expressão do
respondente.
Nas avaliações realizadas pelos observadores do APO/ProLUGAR, o Poema dos Desejos tem sido
utilizado como instrumento auxiliar nas interações observador-usuários-ambiente , e sua aplicação,
alinhada com a abordagem experiencial – que pressupõe que a observação é o resultado da
experiência vivenciada no ambiente pelos usuários e observadores. Por esta razão, e diferentemente
da abordagem proposta por Sanoff, o observador deve acompanhar o processo de elaboração dos
“poemas”, interagindo com os usuários, especialmente quando as respostas são traduzidas por
desenhos. Ele deve anotar e identificar com a maior fidelidade possível as observações e explicações
de cada respondente relacionadas com os desenhos e seus significados. No caso de usuários

45
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

infantis, Souza (2007) recomenda que o observador anote as descrições e relatos das crianças em
uma folha de registro à parte, a ser anexada posteriormente ao desenho.
A interação contribui para aproximar e estreitar a relação observador-usuário, possibilitando o
surgimento de uma empatia capaz de fortalecer a confiança necessária para o sucesso da pesquisa.
Além disso, facilita a compreensão das respostas e conseqüente análise dos resultados. Quando os
desenhos são analisados a posteriori, ou seja, sem a presença dos respondentes, o observador
deverá ter mais dificuldades ou até mesmo podendo incorrer em uma interpretação equivocada das
respostas.
Conforme mencionado, com usuários infantis – que devem ser divididos em grupos de 3 ou 4
crianças, para facilitar o acompanhamento por parte do observador – é recomendável que se dê
preferência aos desenhos. Para não prejudicar a espontaneidade das respostas, Sanoff recomenda
que o tempo de aplicação do instrumento não deve ultrapassar 20 minutos.
Todo o material necessário para a aplicação do instrumento – em geral, lápis preto, lápis de cor,
canetas, folhas de papel, etc – deve ser fornecido pelo pesquisador. Cada respondente deve ter a
liberdade de escolher o material de sua preferência. Normalmente as crianças utilizam lápis
coloridos que, além de mais atrativos, ampliam as possibilidades de expressão. Por sua vez, a análise
das cores utilizadas nos desenhos pode se transformar em uma nova e importante vertente na
interpretação dos desenhos e no entendimento do processo de percepção do ambiente. O
reconhecimento dos aspectos psicológicos e fisiológicos em relação à cor podem ser importantes
para a tradução e a validação dos resultados.
Da mesma forma, o uso da cor também pode ser didaticamente explorado nas disciplinas e
atividades de projeto de arquitetura. Os desenhos podem estimular o interesse dos alunos e
projetistas pelo uso e a importância da cor em seus projetos. A abordagem colorida trabalha
diretamente com a zona criativa que envolve a imaginação (Araújo 2007). Como exercício de
projeto, o Poema dos Desejos, ao explorar a imaginação a ser trabalhada na atividade projetual,
pode contribuir e enriquecer as experiências prévias nas soluções adotadas.
Segundo Sanoff (1994), uma vez aplicado o instrumento, é interessante que a interpretação e a
redação dos significados dos desenhos sejam incorporados ao cenário do ambiente analisado. No
caso de uma escola, por exemplo, os desenhos e frases devem ser afixados e ficar expostos nas
paredes das próprias salas ou dos ambientes de uso coletivo, possibilitando que toda a população
usuária – mesmo quem não teve possibilidade de participar – tenha acesso aos resultados. A
possibilidade de ver seus “poemas” exibidos faz com que os usuários reconheçam que a sua opinião
é importante no processo de avaliação.

Análise dos Resultados


A interpretação das respostas a um instrumento não estruturado deve ser cuidadosa e criteriosa,
especialmente na identificação de grupos ou classes de respostas, procurando identificar possíveis
recorrências. Como em geral o Poema dos Desejos favorece o surgimento de “desejos variados”,
Brasileiro e Dezan (2003) sugerem que no seu tratamento seja utilizada uma Análise de Conteúdo22.
Após a leitura de todo material, os desejos devem ser interpretados e agrupados em diferentes
categorias, criadas em função das respostas fornecidas, e anotadas separadamente. Um mesmo

22
Cf. Bardin (1995: 31), “conjunto de técnicas de análise de comunicações” cujos princípios se originam na lingüística e na
psicologia social. O método visa obter indicadores quantitativos ou qualitativos, por meio de procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, para a inferência dos conhecimentos relativos às condições de sua
produção e/ou recepção (Alcantara 2008: 71).

46
Poema dos Desejos

Poema pode conter mais do que um desejo, e portanto, pode estar classificado em mais de uma
categoria. Podem ser necessárias várias leituras repetidas de todo o material, até ele estar
devidamente categorizado e condições de produção de análise (Belchior 2003).
O tratamento gráfico dos resultados obtidos facilita sua visualização e compreensão. Se
adequadamente trabalhados, os gráficos podem indicar os desejos mais representativos de cada
categoria ou grupo de respostas (Fig. 14).

Mais salas de reuniões/Salas de reunião para


grupos de pesquisa

Uma sala para conversa/consulta com os


professores (um ambiente de encontros
"científicos", não sociais)

Gabinetes equipados para docentes Alunos


Prof/Func

Salas de aula flexíveis (nº de alunos) e equipadas

Salas de pesquisa para prof. e alunos, com silêncio,


privacidade e computadores

Biblioteca

Salas de estudo equipadas para alunos

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%


Frequência

Figura 14 - Gráfico ilustrativo dos resultados do Poema dos Desejos – Categoria: “Espaços de Ensino e Pesquisa”. Fonte: Brasileiro e
Dezan (2003:04)

Como reforço de argumento, a seguir são apresentados alguns exemplos ilustrativos da contribuição
da postura alinhada com abordagem experiencial para a compreensão dos significados realmente
atribuídos aos desenhos por seus autores (Figs. 15 e 16). Na Avaliação Pós-Ocupação realizada na
creche Berta Lutz, situada no Campus Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, pelos alunos das
disciplinas Avaliação de Desempenho do Ambiente Construído23, dos cursos de Mestrado e
Doutorado em Arquitetura do PROARQ/FAU-UFRJ, os observadores procuraram interagir com os
respondentes, acompanhando a elaboração dos desenhos e sedimentando um “elo afetivo” de
empatia, afetividade e confiança.
Na ocasião, foi adotado um procedimento multimétodos, com a intenção de testar um conjunto de
instrumentos trabalhados na disciplina. Em função das limitações de tempo, - foram realizadas
apenas três incursões de quatro horas cada – a avaliação serviu para evidenciar as possibilidades e
vantagens da abordagem experiencial na aplicação do Poema dos Desejos.
De acordo com Souza et al (2004: 38),

23
Ministrada em 2004 sob a responsabilidade dos professores Giselle Azevedo e Paulo A. Rheingantz.

47
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

O wish poem ou poema dos desejos foi realizado em 3 turmas com faixa etária de 3 a 5 anos, num total
de 30 crianças. Em duas turmas foi realizada a atividade de desenho, e na última turma, os desejos
foram expressos através de uma conversa informal. No caso dos desenhos, à medida que as crianças
iam desenhando íamos anotando os seus significados, já que devido a pouca idade, seria difícil entendê-
los sem a ajuda delas. (...) Ao serem convidadas a completar a frase “EU GOSTARIA QUE A MINHA
CRECHE ...” as crianças exprimiram os seus desejos em relação à sua escola ideal.

“Vitor Hugo gostaria que a creche tivesse


piscina e quadra de futebol. A falta de um
espaço para a prática de esportes se fez notar
na resposta de algumas crianças”.

Figura 15 - Poema dos desejos – Creche Fiocruz. Fonte: SOUZA et al (2004: não paginado))

“Manuela desenhou a piscina com uma


pessoa, céu e nuvens.Acreditamos que o calor
que faz na creche fez com que muitas crianças
citassem a piscina como grande desejo”.

Figura 16 - Poema dos desejos – Creche Fiocruz. Fonte: SOUZA et al (2004: não paginado)

A interpretação dos desenhos foi sendo construída na medida em que as crianças produziam seus
registros, os observadores anotavam os relatos e as observações que as crianças produziram
enquanto desenhavam. A análise dos resultados foi mais simples e representativa das intenções das
crianças do que a resultante de uma abordagem com menor interação entre observador e usuários,
realizada posteriormente, geralmente com base em categorias previamente definidas e abstratas –
como, por exemplo, desenhos simbólicos, semi-estruturados e estruturados.
Os resultados foram agrupados segundo categorias representativas das respostas mais recorrentes,
como por exemplo, elementos da natureza, figura humana, elementos construtivos etc. As categorias,
específicas de cada ambiente, nem sempre estão relacionadas a elementos ambientais. Podem surgir
elementos de cunho social, que retratam as relações existentes e mostram o grau de agregação ou
desagregação do grupo de respondentes.

48
Poema dos Desejos

Os trabalhos de campo realizados pelos observadores do APO/ProLUGAR24 em Unidades de


Educação Infantil evidenciam a importância do Poema dos Desejos para encorajar a participação dos
usuários mirins na avaliação do ambiente. Tais pesquisas identificaram questões importantes a serem
consideradas nos projetos de unidades de educação infantil, apontando a influência de certas
decisões projetuais na dinâmica dessas instituições. Apesar da maioria das instituições visitadas terem
sido projetadas para serem ambientes educacionais, as demandas ambientais das crianças nem
sempre foram devidamente contempladas pelos projetistas envolvidos, que freqüentemente
desconhecem ou desconsideram a ótica e as necessidades específicas dos usuários mirins25. As
atividades de desenho têm demonstrado a importância do poema dos desejos na interlocução com
as crianças, produzindo informações valiosas para a concepção das unidades de educação infantil. A
relação de afetividade, empatia e confiança produzida na interação dos observadores com as
crianças transformam a observação em uma experiência repleta de significados e descobertas.
Entre os observadores do APO/ProLUGARO, o Poema dos Desejos é considerado um instrumento de
grande utilidade para aprofundar o conhecimento e a compreensão dos valores, emoções, afetos,
simbolismos presentes nas interações pessoa-ambiente, além da importância e significado sócio-
histórico-cultural para os diferentes grupos de usuários.

24
Em parceria com o Grupo Ambiente-Educação (GAE/PROARQ/UFRJ).
25
Em um dos estudos de caso – a Creche Paulo Niemeyer, o pátio de recreação foi equipado com os mesmos
brinquedos encontrados nas praças públicas, inadequados à faixa etária das crianças de uma creche. Ainda
nesta instituição, apesar dos ambientes incluírem mobiliários e equipamentos adaptados para essa faixa etária,
as salas possuem peitoris de janelas acima do nível dos usuários infantis, impedindo o contato visual com o
“atraente mundo de fora”.

49
MAPEAMENTO VISUAL

Introdução
O Mapeamento Visual é um instrumento que possibilita identificar a percepção dos usuários em
relação a um determinado ambiente, focalizando a localização, a apropriação, a demarcação de
territórios, as inadequações a situações existentes, o mobiliário excedente ou inadequado e as
barreiras, entre outras características. Seus objetivos são: (a) verificar aspectos relacionados com
territorialidade e apropriações, (b) avaliar a adequação do mobiliário e do equipamento existente, e
(c) possibilitar que o usuário registre em plantas baixas humanizadas e de fácil identificação, os
pontos positivos e negativos do ambiente considerado. Embora tenha sido concebido para ser
utilizado em ambientes internos, o mapeamento visual pode ser aplicado com facilidade em
ambientes urbanos.

Fundamentos
Foi concebido por Ross Thorne – discípulo de David Canter e Metcalfe Purcell da Universidade de
Strathclyde – e J. A. Turnbull para uma APO realizada em um escritório em Sydney 1991, com o
propósito de identificar a opinião dos funcionários sobre o seu ambiente de trabalho.
Baseado na teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner (1995), especialmente na
Inteligência Visual, que explicita que “uma pessoa com a inteligência necessária para ser um soberbo
dançarino de balé pode não ter erudição para verbalizar conceitos abstratos” (Thorne 1995:123).
Assim, “um arquiteto dotado de capacidade visual para projetar pode não ter condições para a
construção verbal de um conceito.” (Thorne 1995: 123). O autor reconhece a contribuição da
avaliação pré-projeto (APP) e da APO para adequar os métodos e instrumentos das ciências sociais,
cujo desenvolvimento baseou-se em constructos verbais, bem como de constructos numéricos para o
processamento dos dados. Segundo Thorne (1995:123), “o uso de diferentes inteligências por
diferentes disciplinas pode resultar em dificuldades para o entendimento disciplinar do ambiente e
vice-versa. Por exemplo, algumas das primeiras avaliações de edifícios com base nas ciências sociais
produziram informações em um formato que era totalmente inadequado para os projetistas, embora
sua forma fosse bastante compatível com os métodos da disciplina original.” (Thorne 1995: 123).
O mapeamento visual contribui para delinear os atributos a serem utilizados na avaliação dos
ambientes propostos por Lynch (1960), especialmente a identidade, que traduz a interação entre
homem e lugar, contribuindo para a construção de uma imagem ambiental do conjunto. Esta relação
forma um sentido de integração e pertencimento do usuário ao lugar.
Thorne (1995) utilizou este instrumento para identificar a opinião dos funcionários acerca do
ambiente de trabalho de uma determinada empresa. Para tal fim, preparou uma planta baixa
humanizada do ambiente, complementada por um conjunto de questões capazes de estimular o
usuário a registrar graficamente quais seriam, na sua opinião, os pontos positivos e negativos do
ambiente considerado.

Aplicações e limitações
A aplicabilidade do mapeamento visual em ambientes de convívio contribui para o entendimento da
vitalidade de um lugar com relação às funções humanas e ao bem estar de seus usuários. Este
instrumento também possibilita a compreensão do ambiente a partir do que é percebido e
estruturado pelos seus usuários, identificando, inclusive, seu grau de adequação a determinadas
situações existentes.

50
Mapeamento Visual

Quando utilizado em ambientes delimitados (Thorne 1995: 124-128; Abrantes, 2004: 99-104), o
mapeamento visual facilita o trabalho de identificação, pelo pesquisador, das relações individuais e
coletivas dos respondentes em suas apropriações e nas questões de territorialidade em um ambiente
de convívio. Por ser uma abordagem mais lúdica, esta técnica dispensa a formalização verbal,
possibilitando uma maior liberdade nas respostas visuais, além de proporcionar uma maior
integração entre o usuário e o pesquisador. Desta forma, contribui para a melhor eficácia de outras
técnicas a serem aplicadas para coleta de material e futura análise.
Outra aplicação do Mapeamento Visual nas abordagens lúdicas está relacionada com a cor, um
importante sinalizador na avaliação. A inclusão dos pontos positivos ou negativos relacionados com
o uso da cor no relato pode ser estimulado pelo observador. A inclusão da percepção e
compreensão da cor por parte dos usuários pode facilitar o entendimento das relações entre os
usuários e os ambientes (Araújo 2007).
O Mapeamento Visual pode ser utilizado em um mesmo trabalho com base em diferentes
abordagens: pode ser adotada uma abordagem mais abrangente para a compreensão das
características positivas e negativas do ambiente; ou mais pragmática e focalizada, quando o objetivo
da avaliação é investigar algum aspecto específico do ambiente, como a análise da territorialidade,
conforto acústico ou lumínico, por exemplo. Na aplicação do instrumento com base na abordagem
experiencial, adotada pelo ProLUGAR, há uma maior interação do observador com os usuários. Esta
aproximação pode enriquecer as informações e descobertas resultantes da atividade de registro das
anotações na planta humanizada do lugar. Isto permite que o observador perceba a postura do
respondente e o modo como este percebe ou identifica os aspectos negativos e positivos dos
ambientes.
É importante lembrar que o material resultante do Mapeamento Visual e dos instrumentos que
utilizem esquemas e desenhos não contempla a totalidade das informações, o que implica na
utilização de instrumentos complementares, tais como walkthrough, questionário, entrevista, seleção
visual etc.

Recomendações e Cuidados
Para facilitar o entendimento e, também, o preenchimento por parte do respondente, na construção
da planilha de mapeamento visual devem ser utilizados desenhos esquemáticos das plantas baixas
humanizadas, com a inclusão de mobiliário e equipamento do ambiente. Também deve ser previsto
um local para eventuais anotações ou observações escritas (Fig. 17).
O formulário deve ter um cabeçalho com a indicação da instituição responsável pela pesquisa, um
código de identificação, a data, a hora e por quem foi aplicado, complementado por uma breve e
clara explicação dos propósitos da pesquisa e a finalidade do instrumento. O observador deve
sistematizar a planilha, de modo a tornar a atividade de registro, por parte do respondente, simples e
clara, e, também, facilitar o tratamento e a análise dos resultados. Esta é uma técnica que, por
utilizar plantas baixas, pode representar uma limitação quando os respondentes não tiverem
compreensão deste tipo de representação, ou ainda, quando estes se sentem inibidos em fazer
marcações gráficas que serão posteriormente analisadas por um arquiteto. Para contornar este
problema, é possível fazer um acompanhamento direto do respondente, transformando em mapas o
resultado de entrevistas individuais com os usuários (Brasileiro 2007).

51
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 17 – Ficha de Mapeamento Visual. Fonte: Abrantes (2004: 209)

É recomendável o uso da cor para melhor diferenciar os aspectos positivos e negativos – sugere-se a
cor azul para os aspectos positivos e a vermelha para os negativos –, assim como ícones e símbolos
universais do design gráfico – que se preocupa em produzir sinalizações capazes de, na medida do
possível, universalizar a linguagem –, de modo a não incorrer no excesso de informações que podem
se tornar confusas para o pesquisador. Tanto podem ser utilizados ícones ou legendas já existentes,
quanto novos, com o objetivo específico de facilitar a sua compreensão pelos respondentes.
Também é recomendável realizar um pré-teste com o objetivo de avaliar a consistência e a clareza do
instrumento, bem como de sua legenda gráfica (Fig. 18).

Análise dos resultados


Inicialmente deve ser preparado um formulário de registro, contendo: (a) a planta baixa humanizada,
para registrar os dados levantados pelos respondentes; (b) a classificação, em categorias, dos
símbolos utilizados pelos respondentes no mapeamento, bem como as eventuais observações escritas
(Figs. 17 e 18). Este procedimento facilita o controle e a sistematização das descrições e comentários
registrados pelos usuários que não se limitam a utilizar os símbolos indicados no instrumento. Nas
observações escritas, recomenda-se que a opinião dos usuários seja registrada (Fig. 19). Por
exemplo, em relação a uma cor existente no local: gosta, não gosta, prefere.

52
Mapeamento Visual

Figura 18 – Ficha de Mapeamento Visual com Legendas. Fonte: Penna (2004: Anexo)

53
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Na interpretação e no tratamento dos registros e informações produzidas podem ser utilizadas


diferentes técnicas:
1. Tabela: é importante a construção de uma tabela para cada categoria de mapa visual. Nela
devem constar os símbolos com seus significados, e as observações escritas pelos usuários,
relacionando sempre com a freqüência em que aparecem.
2. Gráfico: neste caso específico, o do tipo “pizza” é o mais comum, por ser de melhor entendimento
visual na relação número absoluto x número relativo (Fig. 20).

Figura 19 - Exemplo de Ficha de Mapeamento Visual com anotações pelos respondentes dos principais aspectos levantados.
Fonte: Abrantes (2004:208)

Figura 20 - Exemplo de gráfico “pizza” utilizado em Mapeamentos Visuais. Fonte: Simões (2005:128)

3. Mapeamento Visual: em diferentes cópias da mesma planta baixa analisada, coloca-se um


zoneamento de cor relacionando cada área colorida com a especificidade indicada no cabeçalho
dos mapas preenchidos pelos usuários. Por exemplo: zonas com cores diferentes, relacionando-as
com pontos positivos e negativos, territorialidade etc. (Fig. 21).

54
Mapeamento Visual

Figura 21 - Mapeamento Visual evidenciando os territórios apropriados por cada pessoa em um escritório. As áreas mencionadas por
diferentes respondentes receberam cores superpostas, com manchas levemente deslocadas para evidenciar a multiplicidade existente.
Fonte: Brasileiro (2007:113)

A apresentação gráfica dos resultados deve ser devidamente complementada pela sua análise. Para
tornar claros e explícitos os resultados obtidos – ou não – com o uso do instrumento, o texto desta
análise deve ser incluído no relatório final.

55
MAPA MENTAL

Introdução
O Mapa Mental ou Cognitivo é um instrumento baseado na elaboração de desenhos ou relatos de
memória representativas das idéias ou da imageabilidade que uma pessoa ou um grupo de pessoas
têm de um determinado ambiente. Bechtel (1997) atribui sua primeira utilização ao psicólogo E.C.
Tolman (1948), que introduziu o termo a partir de experimentos com cobaias para explicar como os
ratos aprendiam a ganhar recompensas em um labirinto (Sommer; Sommer 1997).
Sua disseminação no campo das relações pessoa--ambiente se deve a Kevin Lynch (1982), que se
utilizou de Mapas Mentais para obter informações sobre a imagem ambiental26 das pessoas sobre
determinados locais ou ambientes pesquisados.
Os desenhos podem incorporar tanto a experiência pessoal como outras informações, como por
exemplo, experiências relatadas por outras pessoas, pela imprensa falada e escrita, ou pela literatura.
Com base na idéia de que todas as pessoas carregam estes mapas em sua memória para facilitar
sua navegação pela cidade, Lynch acreditava na existência de imagens públicas e coletivas, em
detrimento das diversas e distintas imagens individuais, descartadas em seus estudos (Sbarra 2007).

Fundamentos
Em seu estudo pioneiro realizado nos anos 50 nas cidades de Boston, Jersey City e Los Angeles,
Kevin Lynch (1982) formula um roteiro de entrevista estruturada contendo um conjunto de questões
para: (a) testar a hipótese da imageabilidade; (b) obter uma idéia da imagem pública; e (c)
desenvolver um método simples e capaz de evocar a imagem pública de qualquer cidade27.
Apesar do conjunto de perguntas não fazer parte do mapa mental, ele foi incluído para ilustrar a
necessidade de complementar o instrumento com um conjunto de informações capazes de possibilitar
que os analistas estabeleçam algumas correlações entre as respostas, bem como verifiquem a sua
coerência.
Na primeira questão, o respondente é convidado a informar que idéias ou símbolos a palavra
“Boston” sugere a ele e como descreveria fisicamente a cidade.
A segunda questão, que trata especificamente do mapa mental. o texto, transcrito em sua íntegra, é
indicativo da sua construção:

Gostaríamos que fizesse um mapa esquemático do centro de Boston a partir da Avenida


Massachusetts. Desenhe-o exatamente como se estivesse fazendo uma rápida descrição da cidade
para um estranho, incluindo todas as características principais. Não esperamos que você nos apresente

26
Cf. Lynch (1982: 149) “a imagem ambiental é um processo bilateral entre observador e observado. O que ele vê é
baseado na forma exterior, mas o modo como ele interpreta e organiza isso, e como dirige sua atenção, afeta por sua vez
aquilo que ele vê. O organismo humano é extremamente adaptável e flexível, e grupos diferentes podem ter imagens
muitíssimo diferentes da mesma realidade exterior”.
27
A principal dificuldade reconhecida pelo autor para a utilização deste método, foi o tempo de resposta – 1:30 hora por
respondente – pode ter sido responsável pela simplificação excessiva do método, em alguns casos reduzido apenas aos
mapas mentais.

56
Mapa Mental

um desenho perfeito, mas apenas um esboço de mapa. [O entrevistador deve tomar notas sobre a
seqüência em que o mapa é desenhado] (Lynch 1982: 162)28.

Na terceira questão, que se subdivide em duas partes, o respondente deve indicar com detalhes e
clareza as direções do(s) percurso(s), bem como o trajeto completo e sequencial que realiza ao se
deslocar de sua casa para o trabalho – o que indica um critério de escolha dos respondentes.
Também deve informar em ordem sequencial, as coisas que vê, ouve ou sente ao longo do trajeto,
bem como informar que indicações daria a um estranho que desejasse repetir este percurso. A
questão ressalta o interesse “nas imagens físicas das coisas” (Lynch 1982: 162), independentemente
do respondente lembrar ou não os nomes de ruas e lugares. “[Durante o relato do trajeto o
entrevistador deve pedir, se achar necessário, que o entrevistado acrescente mais detalhes às suas
descrições.]” (Lynch 1982: 162); na segunda parte da questão, o respondente é convidado a
descrever as emoções que sente em relação às diferentes partes do trajeto – como, por exemplo,
sobre a segurança ou o tempo gasto no trajeto indicado.
Na quarta questão, o respondente deve informar quais são os principais elementos distintivos do
centro de cada cidade observada, se possível, comentando cada um deles, bem como sugerindo que
a cada dois ou três elementos observados, seja aplicada a pergunta cinco.
A quinta questão, por sua vez, subdivide-se em três itens nos quais, respectivamente, o respondente é
solicitado a descrever: (a) cada elemento, bem como informar que elementos ou indicadores usaria
para identificar o lugar onde está, no caso de estar com os olhos vendados; (b) que emoção sente a
respeito do elemento ou indicador considerado; (c) se seria capaz de indicar a sua localização no
mapa.
Na sexta questão o respondente é solicitado a indicar o norte no mapa que desenhou.
Por fim, na sétima e última questão, que se subdivide em cinco itens, o respondente é solicitado a
opinar sobre: (a) “o que acha que estávamos tentando descobrir? (Lynch 1982: 163); (b) a
importância, para as pessoas, da orientação e do reconhecimento dos elementos urbanos; (c) se
sente prazer ou aflição em saber em que lugar está ou para onde está indo; (d) a facilidade de
encontrar caminhos ou identificar as partes da cidade; (e) qual cidade considera que tenha uma boa
orientação.”
Lynch acreditava que tais imagens resultavam de um processo bilateral entre o ambiente e o homem,
e sugeria que estas imagens ambientais pudessem ser decompostas em identidade, estrutura e
significado, embora tenha utilizado apenas os dois primeiros conceitos, mais objetivos, descartando a
subjetividade inerente ao significado, que lida com valores não objetivos e, muitas vezes, emocionais.
Conforme Lynch (1982), os principais elementos estruturadores da imagem ambiental – marcos, nós,
limites, setores e percursos – podem ser identificados nos mapas e, a seguir, agrupados com vistas a
identificar as imagens públicas, comuns à maioria dos habitantes de uma cidade.
O mapa mental é caracterizado por imagens que combinam os espaços urbanos (vias, ruas, praças)
a outros aspectos e elementos físicos relacionados em um espaço de ação detalhado. Para Lynch,
imageabilidade é a capacidade de percepção da cidade através de elementos físicos e legibilidade a
habilidade de leitura dos elementos urbanos, reconhecidos e organizados de modo coerente (Lynch
1982). O mapa mental define o ambiente percebido pelo respondente e indica a importância de um

28
A recomendação entre colchetes é indicativa do alinhamento de Lynch com a abordagem cognitivista ou comportamental.
Em nenhum momento é recomendado que o observador converse com o respondente para saber a opinião do autor sobre
o significado dos desenhos, ao contrário do que recomenda a Abordagem Experiencial.

57
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

elemento físico em relação a outro. Assim, a combinação da forma física com o espaço de ação da
pessoa possibilitaria a condução de ações cotidianas na cidade.
O percurso cotidiano pelas ruas de uma cidade reforça a estruturação mental ou a percepção que as
pessoas têm em relação a um determinado ambiente. De modo inverso, a escolha de um percurso
diferente altera esta percepção, causando uma sensação de perda de direção ou sentido, em função
da falta dos elementos mais familiares presentes no mapa mental.
Alinhado com o pensamento de autores como Lev Vygotsky, Humberto Maturana, Francisco Varela,
Evan Thompson e Eleanor Rosch, Boaventura de Souza Santos e Bruno Latour, o grupo
APO/ProLUGAR, substitui a noção de “representação” pela de “associação” ou “construção”
mental dos ambientes relacionados com a experiência vivenciada pelas pessoas. Estas associações
devem ser complementadas por outras informações, que tanto podem ter sido apreendidas
diretamente em outros momentos, como indiretamente, por meio de relatos de outras pessoas, de
notícias veiculadas pela imprensa, ou por outros veículos de comunicação.

Aplicações e Limitações
Na aplicação do Mapa Mental, o observador solicita que o respondente desenhe de memória, em
uma folha de papel em branco, um croquis ou um mapa de um determinado ambiente utilizado ou
frequentado regularmente, contendo um mínimo de instruções sobre que tipo de elementos ou
informações devem ser incluídas, como por exemplo, ruas, avenidas, praças, edifícios, monumentos,
acidentes geográficos, ou outros aspectos ou elementos que considere relevantes.
A técnica de mapas mentais tem sido muito útil na arquitetura, no desenho urbano e na geografia.
Os mapas facilitam a identificação de áreas ou aspectos urbanos que possuem imagem fraca, ou
seja, que resultam de falta de legibilidade, de clareza arquitetônica e força. A aplicação da técnica
de mapas mentais permite que o pesquisador saiba o quanto o respondente conhece seu ambiente e
quais são os elementos e aspectos físicos mais fortes na estruturação de sua imagem mental.
O Mapa Mental também pode ser útil em projetos de equipamentos urbanos comunitários ou no
planejamento de áreas públicas de lazer e na definição de limites administrativos e políticos que, por
vezes, diferem dos limites e possibilidades de ação que são percebidos pelos usuários. Podem ser
utilizados tanto em áreas externas como a cidade, parques e praças, quanto em ambientes internos,
como uma casa, áreas de trabalho, de estudo ou de lazer. Os mapas mentais são particularmente
úteis para a obtenção das visões de mundo de pessoas portadoras de algum tipo de dificuldade
perceptiva ou motora.
Os mapas mentais devem ser relativizados cultural, social e psicologicamente. Aspectos como a
consciência espacial e a consciência temporal diferem entre grupos sociais ou povos, tais como os
americanos e os japoneses29. Dimensões psicológicas, como interesse/excitação e medo/incerteza,
são muito presentes nos mapas. Os planejadores de um parque comunitário na Filadélfia optaram
por uma localização central, para facilitar a utilização por todos os moradores da região. Um estudo
posterior que utilizou os mapas mentais para entender as razões da baixa utilização da área,
evidenciou que o parque foi localizado exatamente sobre uma linha divisória imaginária dos

29
“Norte-americanos tendem a ser menos conscientes do espaço e mais conscientes do tempo do que os japoneses e
portanto, mais preocupados com a distância entre as unidades espaciais do que com o que ocupa o espaço entre as
unidades. Isto pode explicar porque americanos, ao desenvolver mapas mentais, freqüentemente deixam vastos espaços de
uma cidade sem identificação, enquanto que os japoneses sem dúvida identificariam estes espaços em branco” (Harsthorn
1992).

58
Mapa Mental

territórios de duas gangues rivais. As crianças tinham medo de permanecer em uma área que sabiam
ser uma “terra de ninguém” (Hartshorn 1992).
As distorções e a seletividade dos elementos desenhados em um mapa mental são informativas,
porém, é possível que em sua interpretação, o pesquisador considere estes elementos como imagens
estereotipadas, em prejuízo do significado a ele atribuído pelo respondente. Esta limitação pode ser
superada por meio da interação do investigador e do respondente, ou seja, na medida em que o
mapa vai sendo desenhado, o investigador observa e inquire o respondente acerca de suas razões
para a elaboração do mapa mental. Deste modo, a representação mental deixa de ser uma
atividade abstrata, normalmente interpretada à distância do autor do mapa, e passa a ser uma ação
de interação entre este e o pesquisador que aplica o instrumento (Souza 2003; Alcantara; Rheingantz
2004).

Recomendações e Cuidados
Existem, pelo menos, duas abordagens com diferentes procedimentos de aplicação do instrumento.
A primeira aqui designada como modelo interpretativo ou comportamental - é mais estruturada e se
baseia em pressupostos e categorias de análise previamente determinados. As categorias de análise
são definidas previamente à aplicação do instrumento. Ao aplicar o instrumento, o observador deve
manter um certo distanciamento dos respondentes. Depois de entregar o formulário ou uma folha de
papel em branco, faz uma breve exposição sobre os objetivos do instrumento e de como ele deve ser
trabalhado. A seguir, o respondente é convidado a realizar o desenho, Uma vez concluída a
atividade de desenho, as folhas de papel são recolhidas e a sua análise é realizada posteriormente,
com base em categorias previamente escolhidas.
A segunda aqui designada modelo sócio-interativo ou experiencial é menos estruturada, uma vez que
não trabalha com categorias de análise previamente definidas. Durante a aplicação e a análise dos
seus resultados, o observador deve acompanhar todo o processo, procurando interagir com os
respondentes, para informar-se e/ou registrar as explicações e comentários que são produzidos na
elaboração do desenho. O observador deve evitar qualquer atitude ou comentário que possa
direcionar ou influenciar os trabalhos. Uma vez concluído o desenho e registradas as informações
necessárias para sua compreensão, o processo de análise torna-se mais simples e representativo dos
interesses e intenções dos respondentes.
As limitações do modelo interpretativo ou comportamental podem ser explicitadas por Antoine de
Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe (s/d: 9-10):

Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.
Responderam-me: ‘Por que é que um chapéu faria medo?’ Meu desenho não representava um
chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de
que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações.

Independentemente da abordagem adotada, é importante que o observador registre a ordem


seqüencial de elaboração dos desenhos ou elementos gráficos. Aqui vale o pressuposto de que os
elementos que são desenhados primeiro são os mais significativos (del Rio 1991).
O uso de material colorido na elaboração do mapa mental – em geral restrito às aplicações com
crianças – pode contribuir para enriquecer o instrumento e sua análise, que pode se estender aos
aspectos simbólicos da cor em relação ao ambiente. O uso da cor nas aplicações do Mapa Mental
com crianças enriquece a análise dos resultados, pois permite abordar significados que em geral não
são evidenciados nos desenhos em preto e branco.

59
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Análise dos resultados


Conforme Appleyard (1980), o primeiro procedimento para uma análise comportamental dos mapas
é separá-los por categorias, que variam dos mais simples, com representações e símbolos mais
abstratos, até os mais estruturados, contendo símbolos mais icônicos e de maior semelhança com a
configuração do ambiente. Essas tipologias deverão ser cruzadas com dados relacionados a tempo
de vivência, idade, sexo, proximidade do local de moradia, de forma a apreender o quanto e como o
ambiente afeta a cognição e verificar a compreensão e estruturação do lugar dos usuários. No
estudo da rua General Glicério, vinculado à pesquisa Desenho Urbano e Qualidade do Lugar,
inspirado em Planning Ciudad Guayana (Appleyard), Vicente del Rio classificou os desenhos em três
categorias (Fávero 2000; del Rio 2001; Rheingantz, Alcantara, del Rio 2005):

• Simbólico: aquele que apresenta uma imagem ou ícone, não necessariamente relacionado com o
lugar (Fig. 22a).
• Semi-estruturado: apresenta uma lógica operacional simples, sendo formados por poucos
elementos, ou por apresentarem apenas um recorte da área (Fig. 22b).
• Estruturado: refere-se aos desenhos que apresentam maior complexidade, mais elementos, uma
boa definição dos limites da área em questão e uma grande quantidade de informações sobre o
ambiente (Fig. 22c).

Figuras 22a, 22b e 22c – Exemplos de mapas mentais elaborados por usuários do Parque Guinle. Fonte: Alcantara (2002)

Já em uma aplicação sócio-interacionista ou experiencial, na qual os respondentes interagem com os


observadores e estes explicam o significado dos seus desenhos – é importante que os observadores
anotem com a maior fidelidade possível as explicações que, posteriormente, devem ser transcritas no
verso das folhas contendo os desenhos (Fig. 23) – a análise e a categorização dos mapas mentais se
torna mais simples e direta. A exemplo do Poema dos Desejos, a classificação dos mapas mentais
pode se valer das mesmas técnicas e procedimentos utilizados em uma Análise de Conteúdo (Bardin
1995), organizando e separando o material em categorias de análise que podem ser estabelecidas a
priori ou a posteriori, em função das respostas fornecidas (Brasileiro; Dezan 2003). Como exemplo
nos mapas mentais, podem ser criadas categorias de desenhos que ressaltem com mais intensidade
os elementos arquitetônicos do que as circulações entre eles (e vice-versa), ou mesmo o maior
destaque de um elemento em detrimento de outro.

60
Mapa Mental

“A fachada da escola também foi bastante


representada, assim como o nome da escola e o
seu porteiro, que parece ser simpatizado por todas
as crianças”

Figura 23 – Exemplo de mapa mental elaborado por crianças. Fonte: Santos et al (2005)

Uma vez concluída a classificação, os elementos físicos identificados nos mapas mentais e nos relatos
dos respondentes devem ser listados e ordenados segundo a frequência com que aparecem. A seguir,
estes elementos físicos podem ser relacionados com os cinco elementos formadores da imagem
mental propostos por Lynch (1982): nós, percursos, marcos, limites e setores.
Nos estudos em que o observador tenha registrado a ordem sequencial de elaboração dos desenhos, a
interpretação deve considerar a escala relativa de cada elemento (del Rio 1991). A interpretação
também deve levar em conta informações omitidas, bem como a precisão da representação, as
distorções entre os elementos representados e o conhecimento diferenciado do lugar.
Tabelas e gráficos podem ser utilizados para o cruzamento e a apresentação dos resultados (Fig. 24).

Figura 24 – Esquemas gráficos e tabela com interpretação dos dados analisados, relativos ao mapeamento realizado na General Glicério e
Parque Guinle. Fonte: Rheingantz; Alcantara; del Rio (2005).

Devido a sua natureza essencialmente qualitativa, a interpretação dos mapas mentais deve cuidar
para não generalizar os resultados da amostra, ao mesmo tempo em que deve associá-los aos
resultados produzidos por outros instrumentos, como, por exemplo, os relatos verbais e escritos dos
questionários.

61
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

As figuras 21 e 23 referem-se a exemplos de mapas mentais no estudo de caso do Parque Guinle


(Alcantara 2002), vinculado à pesquisa Projeto e Qualidade do Lugar (del Rio 2001), abrangendo
cerca de 70 mapas mentais elaborados por três categorias de usuários – moradores, trabalhadores e
visitantes. Sua aplicação considerou as questões acima propostas, mas a análise comportamental e o
cruzamento não consideraram as motivações dos usuários, uma vez que os mapas foram analisados
sem a presença dos seus autores. Ainda assim, o cruzamento dos resultados com os produzidos por
outros instrumentos – entrevistas informais, questionários, observação direta – possibilitou a
identificação da forte estruturação espacial dos usuários com o ambiente observado.
Para validar uma interpretação alinhada dos resultados, cabe mais uma vez observar que é
necessário levar em conta a interação do observador com o respondente que elabora o desenho,
com o propósito de conhecer suas intenções e motivações, bem como o significado da linguagem
gráfica utilizada. Esta interação evita o descarte de mapas que não expressam com a devida clareza
a intenção do respondente. Os resultados da aplicação dos mapas mentais podem ser confrontados
com os de outros instrumentos de pesquisa, inclusive os que produzem resultados mais objetivos,
como questionários e entrevistas estruturadas.

62
SELEÇÃO VISUAL30

Introdução
Com base em um conjunto de imagens referenciais previamente escolhidas, a Seleção Visual
possibilita identificar valores e significados agregados ao conjunto de ambientes analisados, sempre
que possível relacionando-os com os ambientes construídos vivenciados pelos respondentes. Sua
aplicação possibilita identificar os símbolos, as preferências e os aspectos culturais de um
determinado grupo de usuários. Permite, ainda, compreender o imaginário das pessoas relacionado
com o ambiente construído, considerando os impactos causados por determinadas tipologias
arquitetônicas e organizações espaciais.

Fundamentos
Segundo Hall (1994)31 e Sanoff (1994), os ambientes produzem mensagens silenciosas que refletem
a vida, as atitudes, as atividades e os valores sociais dos seus usuários. Características como a cor, a
forma ou os arranjos espaciais podem dar “pistas” de como um determinado grupo de pessoas utiliza
e interage com um ambiente ou conjunto de ambientes, bem como de que maneira esses ambientes
as influenciam. Os usuários apreendem as características dos ambientes, na medida em que se
apropriam e compreendem uma determinada organização espacial, e/ou quando fazem julgamentos
e escolhas para orientar-se ou deslocar-se.
Ao considerar o papel das referências visuais para a percepção e a interpretação da realidade, as
imagens revelam-se essenciais para uma melhor compreensão do ambiente,. Elas também podem
produzir resultados dificilmente expressados por meio dos instrumentos tradicionais de pesquisa
(Sanoff, 1991) que, em geral, não contemplam os aspectos simbólicos da percepção ambiental. Os
instrumentos que utilizam imagens evidenciam aos usuários as diversas possibilidades visuais,
facilitando a sua comparação, assim como a definição de suas preferências.
A leitura do ambiente varia em função das associações que as pessoas fazem com as especificidades
da natureza destes ambientes ou em função de razões de ordem existencial ou ainda de
hierarquização das relações sociais vivenciadas no ambiente considerado. Como, de um modo geral,
os usuários apreendem de maneira inconsciente as mensagens que são produzidas em suas
interações com o ambiente, sua subjetividade pode ser mais facilmente traduzida32 por meio de
instrumentos de análise visual. Sanoff (1991) menciona que tais instrumentos são particularmente
eficazes para traduzir e/ou reconhecer determinados componentes simbólicos que denotem
associações que podem ser desejáveis e significativas.

30
Visual Preferences: Termo originalmente proposto por Henry Sanoff (1991).
31
Versão original em Inglês publicada em 1959.
32
Cf. Law (2008), traduzir é fazer conexão, é “se ligar a”, e também supõe percepção, interpretação e apropriação.
Concordando com Maturana – “explicar é uma operação distinta da experiência que se quer explicar, ou seja, ela está na
linguagem. ... O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se explica. ... mas nem toda reformulação da
experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador.” (2001: 28-
29) – a palavra traduzir foi mantida por entendermos ser mais adequada para caracterizar a negociação ou a comunicação
entre o observador e o usuário, uma vez que ela também pressupõe a possibilidade de vir a ser recusada, negociada ou até
mesmo ser novamente traduzida.

63
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Os métodos de análise visuais possibilitam uma abordagem mais “colorida” e abrangente do


desempenho do ambiente construído, uma vez que os processos cognitivos vão além dos
mecanismos perceptivos (del Rio 1996)33 e incluem expectativas, necessidades, conhecimentos
prévios, humores e motivações dos indivíduos. Eles facilitam o reconhecimento das variáveis
perceptivas relacionadas com o grau de familiaridade dos usuários de um determinado lugar, com
seus afetos ou Topofilia ( Tuan 1980), valores, emoções e com a condição sócio-histórica-cultural.

Aplicações e limitações
Devido a sua utilidade no desenvolvimento de projetos ou processos de avaliação de desempenho
participativos, a Seleção Visual, também denominada Visual Preferences (Sanoff, 1991) ou Photo
Questionnaires (Sanoff, 1994) tem sido utilizada e divulgada pelo arquiteto Henry Sanoff34. Em
função das especificidades dos ambientes a serem analisados, as pesquisas desenvolvidas pelo
ProLUGAR, têm proposto sucessivas adaptações no instrumento, relacionadas a aspectos de ordem
qualitativa. A Seleção Visual é indicada para identificar a influência e o significado dos ambientes
para seus usuários, e quando aplicada em conjunto com outros instrumentos de análise, pode ser útil
“para orientar o desenvolvimento do processo projetual, particularmente a programação e o partido
arquitetônico” (del Rio et al 1999: 13).

Recomendações e cuidados
A escolha das imagens deve ser criteriosa, procurando relacioná-las: (a) entre si; (b) com o contexto
real do ambiente a ser analisado; (c) com aspectos econômicos e (d) com aspectos sócio-culturais
existentes. Também deve ser explorada a possibilidade das imagens referenciais apontarem
informações ou diretrizes de projeto que possam vir a ser incorporadas ao diagnóstico. A escolha das
imagens também deve considerar os conceitos a serem utilizados no processo de avaliação de
desempenho, bem como nos aspectos a serem investigados. Por exemplo, para avaliar as
possibilidades de interação e de socialização dos usuários de um conjunto de ambientes escolares,
deve ser considerada a influência das características ambientais e dos arranjos espaciais que podem
favorecer ou dificultar esta interação ou socialização (Fig. 25).
Em outros casos, pode ser importante definir um conjunto de imagens de ambientes estratégicos de
análise capazes de explicitar significados e subjetividades associados a cada ambiente – como, por
exemplo, a sensação de acolhimento ou de dispersão, ou determinados aspectos e qualidades visuais
relacionadas com a função e a identificação daqueles ambientes.
A Seleção Visual também pode ser utilizada para identificar e explorar as associações positivas e
negativas e/ou a imageabilidade dos usuários sobre um conjunto de imagens de ambientes, edifícios
ou tipologias arquitetônicas sem qualquer tipo de relação com o ambiente ou edifício a ser
analisado. Este procedimento possibilita, com base em uma série de imagens com variadas
possibilidades visuais, provocar uma reflexão dos usuários sobre as suas características, compará-las
entre si e a determinação de suas preferências. No estudo de uma edificação escolar (Fig. 26), por
exemplo, “foram selecionadas 05 imagens de edificações, não necessariamente edifícios escolares,
cada uma representando uma tipologia arquitetônica diferente” (del Rio et al 1999: 13). Segundo os

33
A idéia de “mecanismos perceptivos”, vinculada à corrente cognitivista, foi mantida nesta referência por ser representativa
da concepção de cognição formulada por del Rio (1996).
34
Um dos pioneiros nas pesquisas ambiente-comportamento, Henry Sanoff contribuiu significativamente para o
aperfeiçoamento e utilização de instrumentos de análise visual em programação arquitetônica, utilizando métodos
participativos.

64
Seleção Visual

autores, as imagens selecionadas apresentavam evidentes diferenças caracterizadas pelo uso das
cores, dos diversos materiais de revestimento e pelo uso de elementos de arquitetura, tais como
pórticos, janelas e telhados. Os respondentes foram convidados a analisar as imagens e a registrar os
principais aspectos positivos e negativos de cada uma delas. Outro exemplo se refere à avaliação de
aspectos positivos e negativos do ambiente da sala de aula (Fig. 27). Neste estudo,

a seleção dos ambientes a serem efetivamente analisados, assim com das imagens a serem
apresentadas, constituem etapas sutis desse processo. Consideramos as qualidades de pertinência,
adequação e factibilidade das imagens selecionadas em função do contexto real do objeto de análise,
de importância fundamental para o cumprimento dos objetivos propostos e para a boa qualidade dos
resultados (Tavares et al 2004: 3).

Neste sentido, deve-se procurar relacionar as imagens com o contexto real do ambiente a ser
analisado. Devem ser consideradas as questões econômicas e sócio-culturais existentes, e ainda,
explorar a possibilidade das imagens referenciais apontarem informações ou diretrizes de projeto que
possam vir a ser incorporadas ao diagnóstico.
Outra medida recomendável é a realização de pré-testes para identificar possíveis inconsistências na
construção ou na aplicação do instrumento, bem como para verificar a qualidade e a quantidade das
imagens apresentadas.

65
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 25 – Questionário para Seleção Visual de diferentes organizações espaciais, baseado em Sanoff (1995)

66
Seleção Visual

Figura 26 – Exemplo de Ficha de Seleção Visual de Edificações Escolares. Fonte: del Rio et al (1999).

67
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 27 – Exemplo de análise de ambientes internos. Fonte: Tavares et al (2004)

A aplicação do instrumento pode ser de forma direta – por exemplo, durante a realização de um
workshop reunindo os diferentes grupos de usuários – ou indireta – formulários previamente
construídos são distribuídos entre os usuários, que os preenchem e devolvem posteriormente.
No caso dos grupos de discussão ou workshops a participação dos usuários é mais efetiva,
possibilitando ampliar a reflexão e a discussão a respeito das imagens apresentadas, além de facilitar
o esclarecimento de eventuais dúvidas que possam surgir durante a aplicação. Essa postura aproxima
e estreita a relação usuário/pesquisador.

68
Seleção Visual

Análise dos Resultados


Como em outros instrumentos qualitativos, a análise dos resultados (Fig. 28) deve ser realizada a
partir de leitura crítica, detalhada e criteriosa das respostas escritas nos formulários, com vistas a
identificar e/ou a construir categorias de atributos de análise capazes de traduzir a recorrência das
respostas. A exemplo do Poema dos Desejos e dos Mapas Mentais, em função da subjetividade da
avaliação e da tradução dos resultados, pode ser conveniente recorrer à Análise de Conteúdo (Bardin
1995), organizando e separando o material em categorias que podem ser estabelecidas a priori ou a
posteriori, em função das respostas fornecidas (Brasileiro, Dezan 2003).
A construção do conjunto de categorias e atributos de análise tem por objetivo minimizar possíveis
ambiguidades e sobreposições, em que pese o risco de alterações ou até mesmo de
comprometimento de seu significado, especialmente seu pressuposto de que “por trás do discurso
aparente, simbólico e polissêmico, há um sentido a ser descoberto” (Alcantara 2008: 71). Em
conjunto com a tradução do conteúdo das mensagens e a análise categorial35, a análise dos
resultados pode fazer aflorar algumas das condições da interpretação do significado das respostas.
As categorias devem ser avaliadas em conjunto com os resultados de outros instrumentos. Em muitos
casos, elas também podem ser indicativas da abordagem a ser utilizada na construção e/ou na
análise dos resultados dos outros instrumentos como, por exemplo, questionários ou entrevistas.
A exemplo de outros instrumentos qualitativos que lidam com os significados e valores dos
respondentes relacionados com a leitura e a tradução das imagens dos ambientes – elementos
simbólicos – o envolvimento dos participantes é determinante na Seleção Visual. A escolha cuidadosa
e criteriosa das imagens facilita a interação entre o observador e respondentes no processo de
identificação e/ou de tradução dos problemas e descobertas. A aplicação do instrumento também
pode influenciar a formulação de medidas corretivas e/ou de parâmetros de projeto ou, ainda,
servindo como suporte e reconhecimento das qualidades e defeitos do ambiente considerado.

35
Cf. Bardin (1995: 153), a análise categorial “funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em
categorias segundo reagrupamento analógico”.

69
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 28 – Tabela para compilação dos dados obtidos. Fonte: Tavares et al (2004)

70
ENTREVISTA

Introdução
A entrevista é “uma das principais técnicas de trabalho em quase todos os tipos de pesquisas
utilizadas nas ciências sociais” (Lüdke; André 1986: 32) e pode ser definida como relato verbal ou
conversação “com um determinado objetivo” (Bingham; Moore apud Sommer; Sommer 1997: 106),
sendo muito utilizada em pesquisas de opinião ou de mercado. Gera um conjunto de informações
sobre o que as pessoas pensam, sentem, fazem, conhecem, acreditam e esperam (Zeisel 1981),
especialmente quando devidamente encorajadas pela manifestação de interesse do entrevistador. Seu
sucesso não se resume à qualificação e à competência dos pesquisadores, e está relacionado ao
reconhecimento da importância da interação entre o pesquisador e o respondente. Os pesquisadores
também precisam ter agilidade para informar sua avaliação e reconhecer a contribuição daqueles
que colaboraram com o trabalho.
Apesar das novas tecnologias possibilitarem a ampliação do conceito de contato direto, com a
incorporação das entrevistas por telefone, por vídeo ou por outros meios de comunicação extensiva,
a questão-chave de uma entrevista continua sendo a conversa gerada diretamente entre duas
pessoas em torno das respostas às questões formuladas. Nos casos de contato presencial o
entrevistador pode se valer da comunicação não verbal ou, segundo Thiollent, atenção flutuante, que
envolve “toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais, hesitações,
alterações de ritmo... importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito.”
(apud Lüdke; André 1986: 36).
Em geral, os objetivos de uma entrevista são: averiguar “fatos”, determinar opiniões sobre os “fatos”,
determinar sentimentos, descobrir planos de ação, conhecer conduta atual ou do passado,
reconhecer motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas (Lakatos; Marconi
1991: 196). A entrevista aprofunda as informações levantadas em outros trabalhos de campo no
ambiente em análise, coletando dados que ficaram ocultos ou simplesmente, preenchendo lacunas
nas informações.

Fundamentos
Existem, basicamente, três tipos de entrevista: estruturada, semi-estruturada ou não estruturada. Sem
prejuízo desta classificação, elas podem assumir a forma de painel ou, ainda, serem aplicadas por
telefone.

Entrevista estruturada ou padronizada:


Uma entrevista estruturada é aquela onde o entrevistador segue um roteiro previamente programado
e impresso em um formulário. Esta modalidade se assemelha a um questionário, do qual se
diferencia, basicamente, pelo procedimento de resposta. Enquanto o questionário é distribuído para
ser respondido sem a presença do entrevistador, na entrevista o questionário serve de roteiro da
conversação. Segundo Lüdke e André (1986), esta modalidade de entrevista é mais indicada em
pesquisas onde se precise reunir um grupo numeroso de respondentes em um curto espaço de
tempo, como nos levantamentos de tendências eleitorais ou de preferências por determinados
produtos.

71
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Entrevista semi-estruturada:
Algumas vezes pode ser necessário ou conveniente prever uma entrevista semi-estruturada, onde os
entrevistadores podem preparar apenas um roteiro ou esquema básico, ou ainda um mesmo
conjunto de perguntas que não são necessariamente aplicadas em uma mesma ordem seqüencial.
Segundo Merton, Fiske e Kendall (apud Selltiz et al, 1987) elas podem ser do tipo focalizada ou
clínica. Em alguns casos até mesmo a forma como as questões são apresentadas varia, como por
exemplo, alterando a estrutura da sentença da pergunta.
• Entrevista focalizada
A principal função do entrevistador é focalizar a atenção em uma determinada experiência e seus
efeitos, quando os aspectos da questão a serem abordados são previamente conhecidos ou
definidos. A lista ou roteiro de tópicos e aspectos são derivados da formulação do problema da
pesquisa. A análise de uma situação ou experiência da qual o entrevistado participa – um filme,
um programa de rádio ou de televisão, uma mudança de arranjos espaciais em uma sala de aula
ou de um layout de escritório – traz, para o entrevistador, mudanças de hipóteses baseadas em
teoria psicológica ou sociológica. A entrevista constitui-se de uma estrutura de tópicos a serem
abordados, mas o modo da abordagem e o tempo de duração das questões são deixados a
critério do entrevistador. Ele tem a liberdade de explorar as razões e os motivos e conduzir para
direções que não estavam programadas no roteiro da entrevista. Embora os entrevistados sejam
livres para expressar de maneira completa sua linha de raciocínio, a direção da entrevista está
claramente nas mãos do entrevistador. Esta modalidade de entrevista tem sido utilizada nos
procedimentos em campo onde seja necessário verificar uma hipótese de pesquisa construída
previamente. Ela tem como objetivo investigar quais os aspectos que uma experiência específica
traz para as mudanças nas atitudes e valores daqueles que dela participaram. De posse de uma
análise prévia de conteúdo da experiência ou situação observada, o entrevistador pode distinguir
os fatos objetivos dos subjetivos, sem esquecer de considerar a possibilidade de percepção
seletiva e estar preparado para explorar suas implicações.
• Entrevista clínica
Refere-se mais aos sentimentos ou motivações subjacentes, ou às experiências no decorrer da
vida de um respondente ou aos efeitos de uma experiência específica. O entrevistador conhece
quais aspectos do sentimento ou experiência que ele quer que o entrevistado relate, e novamente,
o método de aflorar a informação é deixado a cargo do entrevistador. A entrevista de “história
pessoal” é o tipo mais comum e os aspectos específicos da história de vida individual a serem
cobertos pela entrevista são determinados, como em todos os instrumentos de coleta de dados,
pelos propósitos do estudo.

Entrevistas não estruturadas ou não dirigidas:


Utilizadas em pesquisas mais aprofundadas sobre percepção, atitudes e motivações, especialmente
quando se procura descobrir quais são as questões básicas – como as pessoas conceituam os
tópicos, que terminologia é utilizada pelos respondentes – e qual é o seu nível de compreensão do
problema ou ambiente a ser pesquisado.
Sua flexibilidade, se adequadamente explorada, é muito útil para levantar os aspectos afetivos e
valorativos das respostas dos entrevistados, bem como para determinar o significado pessoal de suas
atitudes. Ela não só permite que o entrevistado se expresse em detalhes quanto ao assunto da
entrevista, mas também pode explicitar os contextos sociais e pessoais de crenças e sentimentos. Este
tipo de entrevista atinge seus propósitos à medida que as respostas dos entrevistados são
espontâneas e não forçadas, altamente específicas e concretas, ao invés de difusas e gerais, sendo

72
Entrevista

pessoais e auto-reveladoras, ao invés de superficiais. A iniciativa está muito mais nas mãos do
entrevistado, que é solicitado a expressar seus sentimentos e opiniões sem sugestões diretivas ou
questões diretas do que nas do entrevistador que, por sua vez deve estar preparado a não influenciar
ou induzir as respostas do entrevistado. A função do entrevistador deve ser de, simplesmente,
encorajar o entrevistado a falar sobre um dado tópico ou assunto, com um mínimo de
direcionamento ou suporte. Ao mesmo tempo em que deve encorajar o respondente a falar
livremente, o entrevistador deve se valer de sua atenção flutuante para observar as emoções e gestos
que acompanham as respostas, demonstrando um entendimento cordial para com esses sentimentos,
mas sem emitir juízo de valor sobre o que está sendo dito. Os comentários dos entrevistadores devem
limitar-se a “você sente que ...”, “fale-me mais sobre ...”, “por que ...?” ou apenas “ahã, ahã!” ....”
(Selltiz et al, 1987: 43).
Além de evitar influenciar ou direcionar as respostas, o entrevistador deve criar uma atmosfera
completamente permissiva, onde os respondentes sintam-se livres para se expressarem, sem medo de
reprovação, admoestação ou disputa.
Em qualquer dos tipos acima de entrevista utilizada, a abordagem experiencial adotada pelo Grupo
APO/Pro-LUGAR (Rheingantz; Alcantara 2007) valoriza a interação respondente/entrevistador. Para
melhor compreender a experiência vivenciada pelo respondente, o entrevistador deve recorrer aos
conceitos da empatia (Thompson 1999), pois esta facilita a compreensão do significado da
experiência do respondente pelo entrevistador. Ela também aproxima mutuamente os olhares e
experiências, favorecendo o reconhecimento de seus mundos. Além dos relatos e respostas obtidos
por meio da linguagem verbal, é possível apreender nuances e subjetividades que, eventualmente,
podem escapar nas observações baseadas nas abordagens mais tradicionais.

Painel
Consiste na repetição periódica de perguntas a um mesmo grupo de pessoas, com a finalidade de
conhecer a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de
maneira diversa, para que não haja distorção das respostas pelo respondente. (Lakatos; Marconi
1991: 197).

Entrevista por telefone


A entrevista por telefone torna-se cada vez mais comum em função de diversos avanços tecnológicos.
Ela tanto pode ser direcionada para pessoas específicas, como por discagem aleatória, dependendo
dos propósitos e do assunto da pesquisa. Suas principais vantagens são a rapidez e o custo
relativamente baixo. Seu formato tanto pode ser estruturado, semi-estruturado como não estruturado.

Aplicações e limitações
Existe um consenso entre os pesquisadores sobre a utilidade da entrevista nas ciências sociais.
Segundo Selltiz et al (1987), a principal vantagem da entrevista em relação ao questionário, é que
quase sempre produz uma amostra melhor da população envolvida. Enquanto em um questionário o
retorno é da ordem de 10 a 15%, em uma entrevista ele pode chegar a 70 ou 80%. Para os autores,
a “maioria das pessoas está disposta e é capaz de cooperar num estudo onde tudo o que ela tem a
fazer é falar. As pessoas normalmente apreciam falar com pessoas que são amigáveis e que estejam
interessadas naquilo que pensam” (Selltiz et al 1987: 19). Sommer e Sommer (1997: 147) indicam
que a entrevista também é melhor do que o questionário para lidar com temas complexos, pois “os
entrevistadores têm acesso ao comportamento não verbal dos respondentes e a aspectos ambientais

73
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

no momento e no local de realização da entrevista”. Lüdke e André (1986) a reconhecem como uma
das principais técnicas de trabalho nas pesquisas com abordagem qualitativa.
Além da necessidade do entrevistador desenvolver sua capacidade de ouvir com atenção e estimular
o fluxo natural das informações, garantindo um clima de confiança em sua interação com o
respondente, Lakatos e Marconi (1991) e Lüdke e André (1986) indicam alguns cuidados necessários
na etapa de preparação e de aplicação de uma entrevista:
• Identificar as pessoas-chave relacionadas com cada assunto/problema a ser observado.
• Conhecimento prévio do respondente e do seu grau de familiaridade com o objeto da
observação.
• Organizar um roteiro ou formulário com as questões importantes.
• Contato inicial – entrar em contato com o respondente e estabelecer, desde o primeiro momento,
uma conversação amistosa, explicando a finalidade da pesquisa, seu objeto, relevância e
ressaltando a importância de sua colaboração.
• Garantir ao respondente, sempre que necessário, o anonimato e o sigilo de suas confidências
e/ou de sua identidade.
• Respeito pela cultura e pelos valores do respondente, de modo a evitar a imposição de uma
problemática sem qualquer relação com o universo de valores e preocupações do respondente.

Com relação às vantagens da entrevista as autoras indicam:


• Maior entrosamento com o respondente e maior variabilidade de informações.
• A possibilidade imediata e corrente de captar a informação com praticamente qualquer tipo de
respondente – analfabetos, alfabetizados, crianças, adolescentes, adultos e idosos – sobre os
mais diversos assuntos.
• A possibilidade de fazer correções, esclarecimentos e adaptações decorrentes de situações
ocorridas durante a realização da entrevista. O entrevistador também pode repetir ou esclarecer
perguntas, formulá-las de maneira diferente, ou até mesmo, esclarecer se está sendo
compreendido ou se está compreendendo seu respondente.
• Pode ser aplicada em diferentes momentos da observação.
• Pode ser utilizada para a complementação ou esclarecimento de alguma informação previamente
obtida com outros instrumentos de pesquisa.
• Fornece uma amostragem mais rica da população geral.
• Permite, quando necessário, que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamento
estatístico.
• Configura-se como uma oportunidade para obter informações relevantes e significativas não
disponíveis em fontes documentais.
• Possibilita obter informações mais precisas, que podem ser comprovadas de imediato, bem como
identificar as discordâncias.

Entre as principais limitações da entrevista, podem ser destacadas:


• A dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes.

74
Entrevista

• A falsa interpretação decorrente da incompreensão do significado das perguntas e da pesquisa,


por parte do respondente.
• A possibilidade de o respondente ser influenciado, consciente ou inconscientemente, pelo
entrevistador, pelo seu aspecto físico, suas atitudes, idéias, opiniões, etc.
• A disposição do respondente em dar as informações necessárias.
• A retenção de informações importantes, decorrente do receio de que sua identidade seja
revelada.
• Pequeno grau de controle sobre uma situação de coleta de dados.
• A aplicação da entrevista com um número relativamente grande de entrevistados pode ocupar
muito tempo e, de um modo geral, é difícil de ser realizada e analisada.

Recomendações e cuidados
A exemplo do questionário, a elaboração de uma entrevista é relativamente complexa e demanda
muita atenção para evitar inconsistências e ambigüidades. O tempo de resposta de uma entrevista
estruturada não deve exceder a 30 minutos e o número de questões está diretamente relacionado
com a complexidade das perguntas e da própria natureza da entrevista. Já nas entrevistas semi-
estruturada e não estruturada, o tempo pode ser administrado com maior liberdade; apenas o
entrevistador deve atentar para qualquer sinal de cansaço emitido pelo respondente.
A qualidade da entrevista depende, primeiramente, de um planejamento adequado. A situação
usualmente procurada é a permissiva, onde os respondentes são encorajados a emitirem opiniões
francas, a não temerem que suas atitudes sejam reveladas a outras pessoas, e na qual o entrevistador
não usa de expressões de surpresa ou julgamentos de valor. A partir de então a arte do entrevistador
consiste em elaborar questões de maneira apropriada e inteligível, em obter uma resposta válida e
significativa, e em registrar as respostas precisamente e de forma completa.
A introdução do entrevistador deve ser breve, informal e positiva. O interesse do estudo está nas
questões de fato, e o entrevistador deve chegar a elas o mais rapidamente possível. Apresentações e
explicações demoradas apenas aumentam a curiosidade do respondente ou sua suspeita. A melhor
maneira de abordar é: “Bom dia. Estou trabalhando na avaliação da qualidade ambiental do ... e
gostaria de saber algumas de suas idéias. Por exemplo, a sua opinião sobre ...” . Freqüentemente o
respondente responderá a questão e prosseguirá toda a entrevista com interesse superficial nos
objetivos do levantamento (Selltiz et al 1987: 35).
Em entrevistas estruturadas, o pesquisador deve fazer a pergunta exatamente como ela está redigida.
Uma leve re-elaboração da pergunta ou qualquer explicação de improviso deve ser evitada, pois
pode provocar estímulos e respostas em diferentes quadros de referência (Selltiz et al 1987).
Há situações em que as pessoas limitam suas respostas a evasivos “não sei” ou “talvez”, para evitar
pensarem sobre a questão, ou interpretarem mal o seu significado; iniciam discussões irrelevantes; ou
se contradizem; em qualquer dos casos, o entrevistador deve procurar incentivá-las e conduzi-las ao
objetivo da entrevista.
Uma desatenção a respostas incompletas e não específicas é o teste crítico para avaliar um bom
entrevistador. Como não se podem prever as respostas possíveis, cada entrevistador deve
compreender de maneira completa os objetivos de cada questão e o que exatamente ela pretende
medir. Tanto as instruções escritas como o treino oral devem enfatizar os objetivos das questões e
devem ser dados exemplos de respostas inadequadas que são comumente encontradas durante o
pré-teste. No momento em que o entrevistador estiver entrevistando, ele deve ter o hábito de se

75
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

perguntar, a cada resposta, a “questão que acabei de fazer foi completamente respondida?” (Selltiz
et al 1987: 36) Quando a resposta for insuficiente ou inadequada, uma simples repetição da
questão, com ênfase apropriada, será normalmente suficiente para se obter uma resposta satisfatória.
Se a resposta for vaga ou muito geral, o entrevistador deve fazer perguntas motivadoras do gênero:
“Interessante. Você poderia explicar um pouco mais?”, ou “Deixe ver, você disse que ...”, “o que
você quis dizer com isto?” (Selltiz et al 1987: 36).
Nas entrevistas não estruturadas, entrevistador e respondente devem ter o total domínio da ação,
podendo interromper ou redirecionar seu andamento conforme novos insights surjam durante a
conversação. O entrevistador deve ter experiência e sensibilidade para saber quando mudar de
direção. Quando um novo tópico emerge na discussão, é difícil saber quando segui-lo, sob o risco
de perder a continuidade, ou ficar no tema principal, omitindo informações adicionais (Sommer;
Sommer 1997). Por outro lado, nesse tipo de entrevista, surge a possibilidade de implementar algo
inesperado, como um significado surgido nas falas dos respondentes e que não estava previsto
inicialmente no instrumento (Sommer; Sommer 1997).
Antes de aplicar uma entrevista é recomendável fazer um pré-teste para avaliar o tamanho, a clareza
e a adequação da redação das questões. Sommer (1979) recomenda iniciar a entrevista com
perguntas mais gerais, seguidas de perguntas progressivamente relacionadas com itens mais
específicos. O respondente de uma entrevista iniciada com perguntas específicas pode se envolver
com detalhes e, mais adiante, ter dificuldades para expressar suas impressões mais gerais.

Registrando as respostas
Existem dois significados principais no registro de opiniões durante a entrevista. Se a questão é
codificada a priori, o entrevistador deve assinalar um espaço ou circundar um código ou, ainda,
indicar qual código se aproxima mais da opinião do respondente. Se a questão não tiver sido pré-
codificada, espera-se que o entrevistador registre a resposta literalmente.
Ao registrar as questões abertas os entrevistadores devem estar cientes da importância de um registro
completo e literal. Em geral, é difícil registrar tudo o que o respondente diz, mas afora as
irrelevâncias e repetições óbvias, este deveria ser o objetivo. Os entrevistadores devem ter algum
conhecimento sobre o processo de codificação, pois assim podem conhecer os perigos de resumir,
abreviar ou parafrasear respostas. A menos que aquele que abrevia tenha uma visão de toda a
resposta, tal como o respondente a deu, ele provavelmente a classificará impropriamente ou perderá
algumas distinções importantes que deveriam ter sido feitas. Além disso, as respostas literais dos
respondentes são úteis no relatório final, como ilustrações de nuances de atitudes, e elas não devem
ser abreviadas ou distorcidas.
Gravadores são muito úteis no registro, mas podem inibir as respostas. Se o respondente não
concordar com o uso do gravador, o entrevistador deve conhecer algumas técnicas simples que
podem aumentar a velocidade de sua escrita. É admissível pedir ao entrevistado que espere até o
registro estar completo. O entrevistador deve estar preparado para escrever assim que a questão é
formulada; utilizar abreviações comuns; não apagar, mas riscar; desistir do registro literal e se utilizar
um registro telegráfico; omitir “um”, “a” “o”, e expressões secundárias como “bem”, “você sabe”,
“deixa ver”. Ele não deve, entretanto, aumentar sua velocidade ao custo de deixar de lado palavras
chave (Selltiz et al 1987).

Fatores de enviezamento introduzidos pelo entrevistador


“Vieses” do entrevistador – isto é, diferenças sistemáticas de entrevistador para entrevistador, ou,
ocasionalmente, erros sistemáticos cometidos por muitos ou por todos os pesquisadores – podem

76
Entrevista

ocorrer não apenas na seleção da amostra, mas também na elaboração de questões e no registro de
respostas. O viés do entrevistador não é simplesmente uma questão de preconceito ou falta de
treino, o que exerce influência sobre os informantes e deliberadamente, ou descuidadosamente,
distorce suas respostas. Os perigos dos vieses não são evitados simplesmente encontrando-se
entrevistadores “imparciais”. O fato de um entrevistador possuir fortes opiniões sobre o assunto em
estudo não significa, necessariamente, que seu trabalho será enviesado, assim como o fato de não
possuir nenhuma opinião formada não significa que seu trabalho está livre de vieses (Selltiz et al
1987). Neste sentido, de acordo com a abordagem experiencial, o senso comum ou a bagagem
sócio-cultural inerente ao observador – que deve atuar e interagir com o ambiente de forma
consciente – passam a ser parte da experiência vivenciada.

Grupo de respondentes
A definição do grupo de respondentes é parte essencial do trabalho do entrevistador,
independentemente do grau de precisão e de detalhamento do planejamento original da formação
do grupo, do grau de padronização das questões e da rigidez da instrução do entrevistador. Sua
execução depende do conhecimento, do treino, da experiência e da sensibilidade do entrevistador e
durante a entrevista, ele deverá ter muitas oportunidades de exercer a liberdade de escolha. É
freqüente e admissível que sua percepção determine a maneira pela qual ele formula a questão,
classifica respostas a questões pré-codificadas e determine a maneira de registro das respostas (Selltiz
et al 1987).
• Definição dos grupos por nomes:
É necessário advertir o entrevistador sobre a melhor maneira de estabelecer contato com os
indivíduos escolhidos e sobre como superar qualquer hostilidade que possa ser encontrada. Se
houver um sistema de substituição para casos onde o respondente originalmente designado não
puder ser respondente, é conveniente descrever cuidadosamente as circunstâncias nas quais tais
substituições são permitidas, para que a amostra não seja enviesada por um exercício livre desta
providência (Selltiz et al 1987).
• Definição dos grupos por setor/área:
Envolve setores de um edifício ou ambiente ou a seleção de um determinado edifício ou área,
segundo um plano pré-fixado – os entrevistadores devem ser extensivamente treinados em sua
execução. Erros e distorções podem ser facilmente cometidos na substituição de unidades e na
suposta seleção probabilística de unidades ou domicílios e dos informantes individuais dentro
desses elementos (Selltiz et al 1987).
• Definição dos grupos por categoria:
Em certas situações os grupos são divididos em categorias específicas, como no caso de
ambientes urbanos que contêm um universo social mais diversificado. Podem ser classificados
como moradores, visitantes ou trabalhadores em um ambiente misto. Esta subdivisão favorece a
análise a partir de olhares distintos. Torna-se necessário, antes de definir os grupos, um
conhecimento preliminar do lugar, o que pode ser realizado por meio da observação
incorporada.

Análise dos resultados


Com relação à quantidade de respondentes, ao número de itens incluídos no questionário, ou ao
tempo de demora nas respostas, Sommer esclarece que não existe uma resposta absoluta, e que o
melhor é “observar um número suficiente de pessoas, durante o tempo que for necessário para obter

77
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

um bom retrato do que elas fazem; devem ser entrevistadas tantas pessoas quantas forem necessárias
para alcançar os objetivos da pesquisa” (Sommer 1979: 145). Porém, na análise de resultados,
devem ser indicadas quantas entrevistas foram feitas, e possivelmente também o número de
entrevistados que eventualmente se recusaram a responder à entrevista.
Entrevistas não estruturadas ou semi-estruturadas são mais difíceis de analisar e esta atividade
consome maior tempo do que as estruturadas. Contudo, a separação das respostas por grupo de
respondentes (como os mencionados anteriormente) já favorece uma análise inicial. Além destes, é
possível utilizar outros mais básicos, dependendo da pesquisa (como faixa etária, gênero ou grau de
instrução).
Na análise de resultados Sommer e Sommer (1997) sugerem que se inicie apresentando os
resultados mais claros e significativos,. Assuntos de menor importância vêm em seguida; descobertas
triviais ou irrelevantes devem ser ignoradas. Segundo os autores, não há a necessidade de seguir a
mesma seqüência de apresentação das perguntas. Entretanto, em algumas pesquisas, pode ser
necessário incluir como anexos ao final do relatório, as respostas fornecidas, desde que seja
preservada a identificação dos respondentes, codificando seus nomes e/ou omitindo trechos que
contenham alguma informação pessoal ou identificadora.

78
QUESTIONÁRIO

Introdução
Um questionário pode ser definido como um instrumento de pesquisa que contém uma série
ordenada de perguntas relacionadas com um determinado assunto ou problema, que devem ser
respondidas por escrito sem a presença do pesquisador36. Tanto pode ser entregue pessoalmente,
enviado por correio, por e-mail, ou ainda disponibilizado pela Internet.

Fundamentos
O questionário é um instrumento de grande utilidade quando se necessita descobrir regularidades
entre grupos de pessoas por meio da comparação de respostas relativas a um conjunto de questões
(Zeisel 1981). As referências ao primeiro uso do questionário como instrumento de pesquisa
remontam a Sir Francis Galton, no século XIX (Sommer; Sommer 1997).
Em avaliações de desempenho, a análise dos resultados obtidos com a aplicação do questionário
possibilita identificar o perfil dos respondentes e verificar sua opinião acerca dos atributos ambientais
analisados. Uma das grandes vantagens do instrumento é que pode ser aplicado a um universo
maior de respondentes.
Sanoff (1992) observa que tanto a presença quanto a ausência de determinada pergunta ou conjunto
de perguntas pode influenciar as respostas. Outra questão importante está relacionada com a
linguagem utilizada na formulação das perguntas, uma vez que ela pode dificultar a interpretação
por parte dos respondentes. Gifford (1997), por sua vez, observa que os arranjos ambientais, quando
inadequados, podem induzir as pessoas a um “entorpecimento ambiental”37 que as impede de
reconhecer como estes ambientes poderiam ser melhorados. Nesses casos, como as pessoas não
atentam espontaneamente para seus sentimentos, as perguntas apresentadas em um questionário
podem fazê-las “despertar” para a situação.

Aplicações e Limitações
O questionário é muito utilizado em pesquisas de opinião ou survey research (Sommer; Sommer
1997) – reunindo um conjunto ordenado de perguntas formuladas com o objetivo de saber
informações sobre as crenças, atitudes, valores e comportamentos das pessoas. As vantagens e
desvantagens do uso do questionário devem ser devidamente avaliadas:
Principais vantagens:
ƒ rapidez e custo relativamente baixo;
ƒ possibilidade de trabalhar com universos maiores de respondentes e/ou de áreas
geográficas;
ƒ caráter impessoal e a não identificação do respondente que favorecem a liberdade de
resposta, a segurança e o anonimato;
ƒ possibilidade de o respondente escolher o momento e o local mais conveniente para
responder;
ƒ maior uniformidade na avaliação.

36
Quando os questionários são aplicados pessoalmente, são chamados de “entrevistas estruturadas”.
37
Do original “environmental numbness” (Gifford 1997: 300).

79
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Principais desvantagens:
ƒ impossibilidade de aplicação com crianças e analfabetos;
ƒ baixas taxas de retorno e/ou altas taxas de perguntas sem resposta;
ƒ impossibilidade de esclarecer dúvidas e incompreensões dos respondentes;
ƒ risco da leitura prévia das perguntas influenciar as respostas;
ƒ possibilidade de outra pessoa preencher;
ƒ necessidade de um universo mais homogêneo de respondentes.

Estas vantagens e desvantagens devem ser relativizadas nas avaliações de desempenho,


considerando sua natureza multimétodos que possibilita o cruzamento da análise dos resultados e
das descobertas.

Recomendações e cuidados
Para evitar inconsistências e ambigüidades, a elaboração de um questionário é relativamente
complexa e longa e demanda muita atenção. As questões devem ser simples, precisas e neutras, de
modo a não influenciar os respondentes (Zeisel 1981). O tempo de preenchimento não deve exceder
a 30 minutos; já o número de questões está diretamente relacionado com a complexidade das
perguntas e da própria natureza do questionário.

Existem dois aspectos gerais para todos os questionários. O conteúdo do questionário, relacionado
com o objeto do estudo. O formato está relacionado com a sua estrutura e aparência – como os itens
são escritos, sua aparência na página – e a forma adotada para responder as questões. (Sommer;
Sommer 1997: 128).

Com relação ao conteúdo, os autores indicam alguns cuidados importantes: a conveniência de o


questionário ter um único assunto/propósito, evitando incluir assuntos ou itens não diretamente
relacionados com o propósito da pesquisa; a necessidade de procurar informações sobre pesquisas
similares já realizadas naquele local ou com aquele grupo de respondentes (Sommer; Sommer
1997). Uma consulta prévia com pessoas dos diferentes grupos de usuários ou usuários freqüentes
pode economizar tempo, trabalho e recursos.
Outro aspecto a considerar é que nem sempre é necessário construir um novo questionário. Em
muitos casos, se adapta ou simplesmente replica um questionário pré-existente. Caso seja necessário
construir um novo, é recomendável realizar, previamente, uma visita exploratória ou de
reconhecimento, ou uma walkthrough, devidamente complementadas por entrevistas com pessoas-
chave relacionadas com as principais atividades, tarefas e categorias de usuários identificadas.
Após a elaboração e/ou definição do questionário a ser aplicado, Sommer e Sommer (1997)
recomendam a utilização de um ckecklist para que o pesquisador avalie o questionário elaborado e
verifique sua eficácia:
1. A pergunta é realmente necessária? O quão úteis serão as suas respostas?
2. O item está claro e sem ambigüidades?
3. O respondente está apto a responder à pergunta?
4. O respondente está disposto a responder à pergunta como solicitado?
5. As questões ambíguas foram eliminadas?
6. O item está tão curto quanto possível, além de claro e preciso?
7. As questões de múltipla escolha oferecem opções compreensíveis? Elas incluem as categorias “não
sei” e “não se aplica”? Há uma categoria “outros”, quando aplicável?

80
Questionário

8. As questões podem ser afetadas por aspectos sociais (como “dizer a coisa certa”)? Se sim, a questão
pode ser alterada para reduzir os vieses pessoais?
9. As palavras de sentido negativo, como “não”, foram realçadas?
10. As questões equilibram itens favoráveis e desfavoráveis? (Sommer; Sommer 1997: 135).

Alguns cuidados adicionais devem ainda ser observados:


• Codificar todas as questões, especialmente quando sua tabulação for realizada com o auxílio de
um computador; informar o órgão ou a instituição financiadora; incluir instruções precisas e claras
sobre os objetivos e propósitos da pesquisa, bem como sobre a forma e os prazos de
preenchimento e de devolução do questionário devidamente respondido; evitar perguntas que
induzam a determinadas respostas, que provoquem embaraço ou que demandem cálculos
(Oliveira, 2002).
• Em alguns casos, o anonimato dos respondentes - uma das vantagens do instrumento -, deve ser
totalmente assegurado, para que a probabilidade de obtenção de respostas genuínas seja maior.
Em determinados ambientes, principalmente os corporativos, os respondentes têm receio de que
sua caligrafia seja reconhecida (caso seja necessário responder perguntas com as próprias
palavras), ou mesmo que suas identidades sejam reveladas à gerência. Há soluções que
contornam o problema da caligrafia, como a disponibilização de um formulário na internet.
Entretanto, se a postura do pesquisador não colaborar para transmitir confiança ao respondente,
há o risco de as respostas não serem autênticas ou honestas, porque podem envolver uma crítica
aos colegas ou ao ambiente de trabalho, e por extensão, ao seu empregador (Brasileiro 2007).
Por isso, qualquer que seja a solução operacional, de distribuição/devolução do questionário, a
confiança transmitida pelo pesquisador contribui para a confiabilidade e aproveitamento das
respostas obtidas38.
• A qualidade visual e a legibilidade das questões podem aumentar o interesse do respondente;
tomar cuidado na escolha e usar as imagens apropriadas para não desviar a atenção; sempre
imprimir um número maior de cópias dos questionários, pois eles podem ser úteis para anotar
lembretes e observações, para apoio na tabulação dos dados, bem como para o preparo de
cópias para discussão, como anexos a relatórios ou como modelos para outras pesquisas
(Sommer; Sommer 1997).
• O estilo de redação das questões deve ser claro, conciso e objetivo; a linguagem deve ser simples,
coerente e precisa; perguntas devem ser redigidas de modo a se tornarem atrativas e não
controvertidas; é recomendável evitar o uso de redundâncias, de explicações desnecessárias, de
adjetivos supérfluos ou que sejam tendenciosos; textos muito compactos, por sua vez, podem
dificultar a compreensão por parte do respondente (Lakatos; Marconi 1991).
• Iniciar o questionário com perguntas mais gerais, seguidas de perguntas sobre itens
progressivamente mais específicos; o respondente de um questionário que inicia com perguntas
específicas pode ficar “envolvido com os detalhes e não consegue exprimir impressões gerais mais
tarde” (Sommer 1979: 145).
• Apesar de algumas controvérsias, com relação à necessidade ou conveniência das questões
seguirem uma progressão lógica, é preciso reconhecer que a progressão lógica é importante para

38
Obviamente, em pesquisas que envolvam o envio de questionários pelo correio, não há necessidade de se ter este
cuidado, mas em qualquer situação que o respondente devolva pessoalmente ou mediante uma senha eletrônica de envio,
o pesquisador deverá julgar o quanto de confiabilidade poderá ter nas respostas obtidas. Se o ambiente for corporativo,
como mencionado acima, o cuidado passa a ser indispensável.

81
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

que o respondente “seja levado gradativamente de um quadro de referências a outro – facilitando


o entendimento e as respostas” (Goode e Hatt apud Lakatos; Marconi 1991).
• Outra recomendação importante é evitar a influência de uma questão sobre a questão seguinte39.
É conveniente agrupar as perguntas relativas a um mesmo tema, sempre iniciando cada grupo
com as questões de opinião e finalizando com as questões de fato.
• Também é recomendável alternar perguntas de diferentes tipos: abertas, dicotômicas e de múltipla
escolha. Este procedimento pode evitar o chamado “contágio emocional” (Lakatos; Marconi
1991: 212), além de reduzir o cansaço ou a tendência a respostas mecânicas.
• Quanto à definição do número de entrevistados, bem como o número de itens incluídos no
questionário ou ao tempo de demora nas respostas, Sommer (1979) sugere que não existe uma
resposta absoluta, e que o melhor é “observar um número suficiente de pessoas, durante o tempo
que for necessário para obter um bom retrato do que elas fazem” (Sommer 1979: 145)40.

Tipos de Perguntas:
De uma forma geral, várias classificações podem ser utilizadas, como mostrado resumidamente no
esquema abaixo e mais detalhadamente na seqüência:

Dicotômicas
Fechadas
Quanto ao formato Múltipla Escolha
Abertas

Fato
Ação
Quanto ao objetivo
Intenção
Opinião
Com o uso de imagens
Morfológica
Com matriz
Avaliação
Com diferencial semântico
Com escala de valores ou atitude
Com questões compostas

ƒ Quanto ao formato:
a) Perguntas Fechadas - o respondente assinala uma das alternativas previamente estabelecidas
pelos pesquisadores, podendo assumir ainda uma sub-classificação:
a1) Perguntas Dicotômicas – existem apenas duas escolhas de resposta: sim ou não; isto ou
aquilo; concordo ou discordo, etc. “As perguntas fechadas são desejáveis quando (1) existe
um grande número de respondentes e questões; (2) as respostas devem ser computadas por
uma máquina; e (3) respostas de diferentes grupos devem ser comparadas” (Sommer;
Sommer 1997: 130).
Exemplos:

39
Cf. Lakatos e Marconi (1991: 211), “efeito do contágio”.
40
Convém observar que esta questão deve ser cuidadosamente avaliada, especialmente em função da experiência dos
pesquisadores e do contexto de cada trabalho. Sommer (1979: 146) observa que em pesquisas “empreendidas por pessoas
preocupadas com problemas ambientais” as regras devem ser mais livres.

82
Questionário

1) A sua sala/baia possui vista para o exterior? sim não


2) A vista para o exterior contribui para tornar o ambiente de trabalho mais agradável? sim não
3) O edifício recebe alimentos para funcionários/prestadores de serviço? sim Não
4) Você é favorável ou contrário à contratação de um síndico profissional no seu edifício? Favorável Contrário

a2) Perguntas de Múltipla Escolha – o respondente escolhe dentre um conjunto de alternativas


pré-estabelecidas a resposta que considera mais adequada. As observações relativas às
situações desejáveis para as perguntas fechadas também se aplicam nas de múltipla
escolha.
Exemplos:
1) Em comparação com o escritório anterior, você considera o local do escritório atual:
(A) Muito melhor
(B) Relativamente melhor
(C) Equivalente
(D) Relativamente pior
(E) Muito pior
(F) Não tem uma opinião formada

b) Perguntas Abertas ou Livres – o respondente é convidado a escrever sua resposta com suas
próprias palavras.
As perguntas abertas são desejáveis quando:
“(1) o pesquisador não conhece todas as possíveis respostas para a questão; (2) a abrangência das
possíveis respostas é tão grande que as questões inviabilizam o formato múltipla escolha; (3) o
pesquisador deseja evitar sugerir respostas aos respondentes; e (4) o pesquisador deseja obter respostas
com as próprias palavras dos respondentes.” (Sommer; Sommer 1997: 130)
Exemplo:
1) Imagine que você precisa descrever este lugar para um amigo que não o conhece. O que você diria a ele?

Segundo Zeisel (2006), as respostas a perguntas abertas podem ser codificadas em categorias
mutuamente excludentes, para facilitar sua avaliação.

ƒ Quanto ao objetivo:
a) Questões de Fato - relativas a questões concretas e fáceis de precisar, como por exemplo
(Lakatos; Marconi 1991):
1) Indique no campo correspondente sua função ou atividade na escola X
direção ensino administrativo limpeza outro: ___________________

1) Quanto à propriedade, o apartamento onde você mora é


próprio alugado emprestado outro: ___________________

b) Perguntas de Ação - relacionadas com atitudes ou decisões tomadas pelo respondente; elas
devem ser redigidas de forma objetiva e cuidadosa para que o respondente se sinta seguro ao
respondê-la, como por exemplo (Zeisel 2006):

83
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

1) O seu local de trabalho permite que você desenvolva suas tarefas de forma:
muito adequada
adequada
inadequada
muito inadequada
você não tem certeza sobre sua resposta

c) Questões de ou Sobre Intenção – buscam avaliar procedimentos do respondente em


determinadas circunstâncias, como por exemplo (Lakatos; Marconi 1991):
1) Na próxima eleição para diretor da sua escola, em quem você pretende votar?
no candidato da situação no candidato da oposição outro: ___________________

2) Você pretende continuar morando neste bairro? Se possível, justifique sua resposta
Sim, porque _____________________________________________________________________
Não, porque _____________________________________________________________________
Não sei

Principalmente nas perguntas de Ação e nas de Intenção, há que se ter um cuidado especial
com as categorias de respostas. Zeisel (2006) sugere que as possibilidades de respostas
oferecidas devem ser adequadas aos respondentes e permitir que eles se expressem
apropriadamente, pois do contrário, todo o controle de dados e análise de resultados pode se
tornar distorcido e inútil.

d) Questões de Opinião – que representam a parte básica da pesquisa (Lakatos; Marconi 1991),
como por exemplo:
1) Como você avalia o ambiente onde permanece a maior parte do seu tempo de trabalho?
Descrição do item muito bom bom regular ruim muito ruim
a) Quanto ao tamanho
b) Quanto ao tamanho do setor/depto onde se localiza
c) Quanto à temperatura durante o verão
d) Quanto à temperatura durante o inverno
e) Quanto à qualidade do ar (odores/fumaça)
f) Quanto ao isolamento de ruídos internos do edifício
g) Quanto ao isolamento de ruídos externos ao edifício
h) Quanto à qualidade da iluminação natural
i) Quanto à qualidade da iluminação artificial
j) Quanto à adequação/conforto do mobiliário
k) Quanto à aparência de pisos, paredes e tetos
l) Quanto à posição de tomadas
m) Quanto à privacidade na execução de suas tarefas
n) Quanto à facilidade de contato pessoal
Fonte: Cosenza et al (1997)

2) Numere, por ordem de importância, os pontos que considera mais importantes neste edifício:
aparência externa facilidade de acesso segurança flexibilidade de uso
aparência interna localização garagem manutenção
conforto limpeza outro (especificar: ________________________)

84
Questionário

ƒ Questões com o Uso de Imagens41:


O uso de imagens – mapas, desenhos, fotografias, esquemas ou jogos (Zeisel 1981) – nas
perguntas pode tornar o questionário mais atraente e convidativo. Entretanto, a escolha das
imagens deve ser muito cuidadosa, para evitar que elas venham a distrair ou desviar o foco da
atenção do respondente. Quando as imagens apresentam problemas, é recomendável utilizar
bordas e fundos capazes de torná-las mais atraentes (Sommer; Sommer 1997).

ƒ Questões com Matriz


Quando o cruzamento ou a comparação de informações for necessário, é recomendável utilizar o
questionário com uma matriz. Sanoff (1977) apresenta em detalhes diversos tipos e métodos com
matrizes e suas aplicações: Método de Comparações Casadas, Matriz F, Matriz P, Método das
Tríades, Gráfico de Classificação, Matriz de Preferências, Método de Classificação e Peso, Matriz
Morfológica, Matriz de Avaliação e Jogo de Intercâmbio. As matrizes mais comuns em questões
são a Matriz Morfológica e a Matriz de Avaliação.
a) Matriz Morfológica - a matriz morfológica é útil para relacionar duas ou mais variáveis presentes
numa mesma situação.
Exemplo:
1) Considerando a proximidade de terminais/pontos de parada e a disponibilidade de linhas de ônibus ou metrô, assinale na matriz
abaixo sua avaliação sobre a qualidade dos transportes públicos na área do edifício?
excelente oferta de boa oferta de linhas oferta precária de fraca oferta de
linhas (> 10 linhas) (6 a 10 linhas) linhas (3 a 5 linhas) linhas (< 3 linhas)
distância < 500m 4 3 2 1
distância 500 a 1000m 3 2 1 1
distância 1000 a 1500m 2 1 1 1
distância > 1500m 1 1 1 1
Fonte: Rheingantz (2000: 198).

b) Matriz de Avaliação – como o próprio nome indica, a matriz de avaliação permite avaliações
diversas a vários elementos simultaneamente.
Exemplos:
1) Com base nos critérios indicados no quadro abaixo, avalie cada uma das cinco alternativas de projeto para resolver os
problemas de conforto ambiental do seu escritório, indicando nos campos correspondentes sua classificação conforme o indicado
na última linha da tabela.
ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
A1 A2 A3 A4 A5
A Luz direta desejável no inverno e indesejável no verão 1 4 2 2 3
B Ventilação cruzada na altura do corpo nas áreas de atividade 3 2 2 1 1
C Calor/odor produzidos orientados na direção sotavento do edifício 2 1 3 2 2
D Uso do espaço externo durante os meses mais quentes do verão 1 4 2 1 2
TOTAL 7 11 9 6 8
ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO 2 5 4 1 3
1 = bom 2 = relativamente bom 3 = relativamente ruim 4 = ruim
Fonte: Sanoff (1977: 67)

41
Quando o questionário é constituído exclusivamente por imagens, pode ser considerado como um outro tipo de
instrumento, com caráter mais visual. Henry Sanoff (1991) propõe o termo Visual Preferences ou ainda Photo
Questionnaires (1994). Com base no termo originalmente proposto por Sanoff, os pesquisadores do ProLUGAR têm
identificado esse tipo de instrumento como Seleção Visual.

85
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

2) Para cada afirmação abaixo, indique qual você Concorda Plenamente (CP) Concorda (C), Não Sabe/Indeciso (NS), Discorda (D),
ou Discorda Plenamente (DP)
CP C NS D DP
A A comida do refeitório é bem preparada
B As filas são muito longas
C O arranjo das mesas facilita a conversa
Fonte: Sommer; Sommer (1997: 131)

ƒ Questões com Diferencial Semântico


O diferencial semântico é um procedimento desenvolvido por Charles Osgood (Sommer; Sommer
1997) para medir o significado de um objeto, ambiente, imagem ou conceito. A questão convida
o respondente a avaliar e classificar um objeto, ambiente, imagem ou conceito utilizando escalas
com adjetivos de significados contrários em cada extremo. É uma ferramenta muito útil quando se
pretende explorar a conotação42 do significado de algo. Sanoff observa que o diferencial
semântico tem sido equivocadamente considerado um “teste” que produz um ajuste de itens
definidos por um determinado escore. O diferencial semântico “é uma abordagem geral ou
método para obter certo tipo de informação. Cada aplicação precisa ser concebida
especificamente para cada problema previsto” (Sanoff 1977: 78-79). O autor indica a existência
de três áreas que são particularmente importantes na seleção das escalas: escalas avaliativas,
escalas de potência e escalas de atividade. Na seleção da escala devem ser considerados os
seguintes aspectos: a relevância do conceito a ser avaliado (se estamos avaliando o desempenho
de um determinado político, uma escala bonito-feio é irrelevante), a estabilidade semântica dos
conceitos e assuntos em um determinado estudo (a escala grande-pequeno se torna denotativa
apenas para uma avaliação física de objetos ou ambientes) e a linearidade entre os limites dos
adjetivos e seu ponto médio (bom-mau).
Sommer e Sommer (1997: 160), por sua vez, recomendam que o diferencial semântico somente
deva ser utilizado com grupos de respondentes adultos, inteligentes e cooperativos; pessoas com
baixo nível de escolaridade tendem a não utilizar os valores médios, focalizando apenas nos
valores extremos das escalas. Eles também não recomendam o uso do diferencial semântico com
crianças e com idosos, em função da dificuldade de trabalhar com escalas com muitos pontos. Da
mesma forma, também não aconselham utilizar o diferencial semântico com grupos de
respondentes acostumados a trabalhar com distinções muito precisas e refinadas.
Exemplos de pares de diferencial semântico: silencioso X barulhento; perigoso X seguro; adequado X
inadequado; formal X informal; tradicional X inovador; confortável X desconfortável.
Exemplo:
1) Indique, no campo correspondente, sua opinião sobre cada qualificativo da sua cadeira no posto de trabalho:
(1) (2) (3) (4) (3) (2) (1)
Contemporânea Tradicional
Funcional Não funcional
Alegre Triste
Privada Pública
Clara Escura
Fonte: Zeisel (1981: 168)

42
Cf. Sommer e Sommer (1997: 157) “conotação se refere ao significado de algo, e se diferencia de suas características
físicas. Por exemplo, uma pantera, além de ser um gato grande, tem uma conotação de discrição ou furtividade e poder.”

86
Questionário

ƒ Questões com Escala de Valores ou Atitudes


A escala de atitudes é utilizada para produzir e ordenar resultados indicativos da intensidade e
natureza dos sentimentos pessoais do respondente sobre um determinado objeto, ambiente ou
evento. Ela deve ser concebida de modo a relacionar todas as perguntas em torno de um assunto
de interesse comum. Segundo Sommer e Sommer (1997: 154) o modelo mais conhecido é a
Likert-type Scale, desenvolvido por Rensis Likert em 1932 e trabalha com um conjunto de
declarações relativas a um assunto específico avaliado por cada respondente por meio de
categorias de variáveis lingüísticas que variam de uma situação extremamente favorável a uma
extremamente desfavorável, como por exemplo: concordo muito, concordo, indeciso, discordo e
discordo muito. A gama de atitudes varia em função da necessidade, dos recursos e do tempo
disponíveis para o desenvolvimento da pesquisa. Quando maior o número de variáveis da escala
de valores considerado, mais refinados serão os resultados, o que também implica em maior
dificuldade e complexidade na análise destes resultados. Por sua complexidade, as escalas não
devem ser utilizadas com respondentes crianças, idosos ou com limitações de vocabulário.
Uma questão controversa é se a escala deve ter um número par ou ímpar de valores. Alguns
autores entendem que a escala ímpar torna-se tendenciosa em seu valor médio, pois abre a
possibilidade de os respondentes se isentarem de assumir uma posição favorável ou desfavorável.
Em defesa da escala par, indicam que a possibilidade de dois termos próximos do valor médio,
sendo um de conotação positiva e outro negativa, torna o resultado mais significante. Outros
argumentam que a exclusão do valor médio torna o instrumento tendencioso, pois exclui a
possibilidade do respondente ter uma avaliação que não tenha conotação negativa nem positiva.
Exemplos:
1) Indique na lista abaixo a sua avaliação para cada item relativo a este lugar e seu entorno urbano. Marque com um X o campo
correspondente à sua opinião, sendo (-3) = muito negativa e (+3) = muito positiva
-3 -2 -1 0 +1 +2 +3
Arborização
Qualidade estética do lugar
Afastamento dos prédios em relação à rua
Largura da rua do Parque
Largura da calçada da rua do Parque
Altura dos prédios do Parque
Estética dos prédios do Parque
Portal do Parque
Circulação de micro-ônibus
Largura das outras ruas do entorno
Largura das outras calçadas
Comércio na rua Gago Coutinho
Estacionamento
Fonte: Alcantara (2002: 139)

87
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

2) Numa escala de valores de 1 (muito inadequado) a 10 (muito adequado), como você avalia a aparência do edifício em relação ao
seu entorno urbano, considerando os itens abaixo relacionados?
N Descrição 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
1 Padrão do edifício em relação ao dos edifícios vizinhos?;
2 Grau de integração/escala do edifício com edifícios vizinhos?
3 Usos dos imóveis/edifícios vizinhos harmonizam c/da escola?
4 Edifício e uso se ajustam à morfologia e usos/edifícios vizinhos?
5 Aparência do edifício é compatível com edifícios vizinhos?
Fonte: Sanoff (2001: 10)

ƒ Questões Compostas:
Em determinadas situações pode ser interessante ou necessário formular questões compostas, que
contenham subquestões, cuja resposta final seja o resultado de uma operação de soma ou de
média dos pontos ou das respostas das subquestões. A exemplo das escalas e das matrizes, as
questões compostas não devem ser utilizadas quando o grupo de respondentes envolver crianças,
idosos, pessoas analfabetas ou com vocabulário limitado.
Com relação à imageabilidade (Lynch 1980) ou qualidade evocativa da imagem do edifício em termos de aparência, legibilidade e
visibilidade e sua relação com a identidade da empresa:
Muito bom Bom Relativamente bom Relativamente ruim Ruim Muito ruim
EXCELENTE 4 12 a 14 respostas SIM
BOM 3 8 a 11 respostas SIM
PRECÁRIO 2 4 a 7 respostas SIM
RUIM 1 0 a 3 respostas SIM
FATORES RELEVANTES (para serem respondidos com SIM ou NÃO): SIM NÃO
1) A visibilidade à distância do edifício é boa? (mais de 1 km e/ou de diversos pontos da cidade)
2) A visibilidade local do edifício é boa? (até 200m e/ou de diferentes pontos do entorno)
3) O edifício se integrada ou harmoniza com o entorno, não o descaracterizando ou prejudicando (capacidade de
evocação de imagens mentais)? [considerar possibilidade do item confrontar os interesses individuais dos arquitetos e
proprietários de produzirem objetos ávidos por atenção; deve considerar o conceito de sociedade sustentável: “aquela
que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras”]
4) As dimensões, a escala e as proporções do edifício em relação ao entorno estão adequados?
5) A implantação, o partido e o formato do edifício em relação ao entorno estão adequados?
6) As diferenças definidas pela técnica e pelos materiais utilizados na construção do edifício (evocação de imagens
mentais do edifício pela estrutura, textura, cor) são adequadas?
7) A relação de espaços em seqüência ou isolados entre edifício e entorno é adequada?
8) O partido do edifício - nuclear ou disperso – produz uma relação adequada entre edifício e entorno?
9) A relação do edifício (de natureza introvertida ou extrovertida) com o entorno é adequada?
10) A permeabilidade do edifício – número/forma/tamanho das aberturas - é adequada em relação ao entorno?
11) Os efeitos visuais que “criam movimento” para atrair o interesse do observador pelo edifício são adequados?
12) O emprego ou valorização de elementos em geral associados ao programa – telhados, coroamentos, galerias,
pórticos, etc –, como signos aplicados em um envelope basicamente pragmático exprime de forma adequada o
propósito do edifício?
13) Os propósitos do edifício são expressados adequadamente através de elementos transformados do programa
(escadas, elevadores, sist. mecânicos ou a estrutura)?
14) Elementos expressivos e tradicionais do contexto são utilizados adequadamente como analogia para valorizar o
existente (caráter associativo, contextualista)?
Fonte: Rheingantz (2000)

88
Questionário

Pré-teste:
Antes de aplicar um questionário é recomendável fazer um pré-teste com o objetivo de avaliar a
adequação do instrumento no seu todo, quanto ao tamanho, à clareza e à adequação da redação
das perguntas. A cada ajuste ou modificação nas questões, é recomendável realizar um novo pré-
teste.

Análise dos Resultados


Seja qual for o tipo de questionário adotado, somente a partir da reunião das respostas obtidas é que
deve ser iniciada a avaliação. Na maioria das pesquisas, a apresentação dos resultados deve ser
incluída no relatório final. Eventualmente, na elaboração de um artigo científico, que normalmente
possui um número reduzido de páginas, ou mesmo na apresentação do relatório final à empresa
contratante de uma APO, tais dados podem ser omitidos, como forma de reduzir o volume de
material ou para não revelar, pelas possíveis categorias existentes, a identificação de seus
respondentes. Nos demais casos, incluindo teses e dissertações, a apresentação dos resultados se faz
necessária para não privar o leitor que deseje conhecê-los e elaborar, a partir deles, sua própria
análise. No entanto, comumente a apresentação de resultados representa um volume grande de
dados, muitas vezes apresentados em porcentagem, o que por sua vez, pode cansar o leitor. É
recomendável, portanto, que todos os resultados da aplicação dos questionários sejam incluídos nos
anexos do relatório final da avaliação.
A forma de analisar os resultados dependerá do tipo do questionário que for utilizado, mas em
qualquer situação, será necessária alguma quantificação para expressar os resultados alcançados,
ainda que esta quantificação não venha a ser explicitada na pesquisa. Contudo, em pesquisas que
demandam um universo de respondentes definido por amostragem estatística é recomendável contar
com a assessoria de profissional com conhecimentos e experiência na área.
A análise de resultados feita no relatório de pesquisa não necessita obedecer à mesma seqüência das
perguntas do questionário; a partir dos dados obtidos, o pesquisador deve considerar os pontos mais
importantes e iniciar suas análises a partir deles. A consideração do que é ou não importante
dependerá diretamente da sensibilidade do pesquisador; muitas vezes, um mesmo problema
mencionado por vários respondentes pode ter sua origem em outra situação43, e cabe ao
pesquisador reunir as peças do “quebra-cabeças” para extrair uma análise frutífera dos questionários
aplicados, não os transformando apenas em uma seqüência de porcentagens. Da mesma forma, o
pesquisador não deve procurar somente pelas diferenças apontadas pelos dados, pois uma eventual
similaridade entre diferentes percentuais não deve deixar de ser percebida. Em muitos casos, a
equiparação de alguns resultados aparentemente desconexos pode significar mais do que as
diferenças entre eles (Sommer; Sommer 1997).
Deve ser dada especial atenção, na análise, ao efeito que os ambientes provocam nas pessoas, pois
ele é alterado pelas experiências ambientais já vivenciadas por elas. Por sua vez, tanto os ambientes
quanto as mudanças que neles ocorrem afetam as ações e comportamentos das pessoas,
influenciando também o modo como elas os vêem ou interpretam. A existência desta relação
possibilita, assim, uma classificação específica das respostas (Zeisel 2006: 290):

43
Como exemplo, pode ser citada uma infestação de baratas ocorrida num escritório pesquisado (Cosenza et al, 1997),
decorrente do consumo de alimentos in loco pelos funcionários, que cediam seus tickets-refeição para alimentação de seus
filhos nas escolas.

89
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

a) percepção e significado - o que elas vêem nos ambientes;


b) opinião e valor - o que elas sentem em relação aos ambientes;
c) lugares, caminhos e relações - o que ela fazem nos ambientes;
d) adaptações, ”vitrines pessoais”, mensagens - o que elas fazem aos ambientes;
e) conhecimento e dados - o que elas sabem sobre os ambientes.

Tais categorias de respostas podem auxiliar o pesquisador ampliar sua visão sobre a conexão entre
pessoa e ambiente. Estas informações podem ser extraídas das respostas do questionário como um
todo, fazendo-se uma leitura transversal a todas as perguntas, havendo especial atenção com
aquelas de caráter aberto, se existirem.
Como preceito geral, a vantagem que o questionário possui, de oferecer uma avaliação uniforme de
diferentes questões para diferentes pessoas, corre sério risco de ser desperdiçada se não houver, na
apreciação de seus resultados, uma análise que faça a relação entre suas diferentes questões. Como
todo instrumento de pesquisa, seus resultados devem ser avaliados em função do contexto e dos
resultados de outros instrumentos utilizados, sob pena de o pesquisador produzir uma avaliação
compartimentada da situação ou do local pesquisado.

90
MATRIZ DE DESCOBERTAS44

Introdução
A Matriz de Descobertas foi concebida por Helena Rodrigues e Isabelle Soares45 para registro gráfico
dos resultados e descobertas de uma Avaliação Pós-Ocupação, de modo a facilitar a leitura e a
compreensão dos resultados e descobertas por parte dos clientes e usuários. Em função do grande
volume de dados e de informações decorrentes de uma APO, que dificulta a organização e a
apresentação dos resultados, a Matriz de Descobertas foi construída com o objetivo de reunir e
apresentar graficamente as principais descobertas das APOs (Rodrigues et al, 2004; Castro, Lacerda,
Penna, 2004).
Sua utilização nas APOs realizadas pela equipe do Programa APO da Fiocruz evidenciou a utilidade
do instrumento , tanto para os técnicos mapearem as descobertas, quanto para a compreensão por
parte dos usuários – uma dificuldade freqüente na redação final dos relatórios e na relação com os
usuários e clientes. A Matriz de Descobertas mostrou-se particularmente eficiente para identificar as
adaptações e improvisações decorrentes de falhas de projeto, de execução da incompreensão e do
desconhecimento por parte dos diversos grupos de usuários que se refletem na operacionalidade
necessária ao dia-a-dia de uma unidade de saúde. A Matriz de Descobertas pode ser considerada
uma contribuição original de grande utilidade para a análise de edifícios e ambientes em uso.

Fundamentos
Anteriormente à implantação do Programa de Avaliação Pós Ocupação pela Diretoria de
Administração do Campus (Dirac/Fiocruz), no segundo semestre de 2000, o arquiteto Jorge Castro
realiza uma pesquisa de opinião com a participação de alunos da disciplina Planejamento e Controle
em Arquitetura do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
Fluminense (UFF), com o objetivo de levantar as demandas dos usuários de um conjunto de pavilhões
do Campus de Manguinhos, Rio de Janeiro. Em função dos resultados desta experiência e do
interesse em antecipar demandas e necessidades dos usuários, a Dirac implanta em 2001 um
Programa de Avaliação Pós-Ocupação46, inspirado na norma ISO-6241 e em Ornstein e Romero
(1992). O Programa definiu um conjunto de estratégias e procedimentos de campo a serem
aplicados na avaliação técnica de um conjunto de 6 (seis) edificações da Fiocruz e para registro das
informações coletadas em campo, preparou um formulário, denominado Matriz de Descobertas e
Recomendações em formato MS Word47 (Fig. 29).
As então estudantes de arquitetura e urbanismo da UFF Helena Rodrigues e Isabelle Soares foram
contratadas como bolsistas do Programa de APO, para desenvolver seus trabalhos finais de
graduação48, Plano de Remanejamento das Áreas do Instituto Fernandes Figueira49 (IFF) e

44
Texto redigido com a colaboração de Helena da S. Rodrigues e Isabelle S. Soares
45
Embora a Matriz de Descobertas tenha sido utilizada pela equipe do Programa APO da Fiocruz, sua autoria é de Helena
Rodrigues e Isabelle Soares, então bolsistas daquele programa e alunas do Curso de Graduação em arquitetura e
Urbanismo da Unifersidade federal Fluminense..
46
A equipe técnica responsável pela avaliação do desempenho de um conjunto de edificações da Fiocruz, sob a supervisão
do arquiteto Jorge Castro, chefe da então Assessoria Técnica, foi coordenada pelos arquitetos Ana Claudia Penna e
Leonardo Lacerda, tendo a consultoria do Professor Paulo Afonso Rheingantz, coordenador do grupo de pesquisas
Qualidade do Lugar e Paisagem, do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
47
De início o Programa APO definiu que todos os instrumentos a serem utilizados nas avaliações realizadas na Fiocruz
deveriam ser em formato MS Word.
48
Sob a orientação de Jorge Castro, também professor do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF.

91
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Readequação de um edifício de laboratórios tendo como estudo de caso o Pavilhão Leônidas Deane
– conhecido como Pavilhão 2650. Nas APOs do IFF e do Pavilhão 26, além dos fatores técnicos,
também foram trabalhados os fatores funcionais e comportamentais. No IFF foi realizada a primeira
APO por observação participante na Fiocruz.
Para o registro dos dados e descobertas, inicialmente Rodrigues tentou utilizar a Matriz de
Descobertas e Recomendações. Como o instrumento foi concebido para trabalhar apenas com os
fatores técnicos, suas limitações ficaram evidentes nas avaliações que incluíam os fatores funcionais e
comportamentais. Por sugestão do Professor Paulo Afonso Rheingantz, na apresentação da pesquisa
de campo do Trabalho Final de Graduação de Rodrigues (2002), – quando foi exibida a segunda
versão da Matriz de Descobertas e Recomendações, ainda na base MSWord – esta continha duas
modificações: foram acrescentadas duas novas colunas – descobertas walkthrough e opinião do
usuário, e o formato original do instrumento foi modificado de A4 para A3 (Fig. 30).
Sala/setor Tópicos Descobertas Recomendações
 Iluminação Iluminação artificial prejudicada em virtude da Substituir lâmpadas danificadas.
(Patologia Clínica

existência de 3 lâmpadas queimadas.


Almoxarifado

e Pesquisa)

 Estado dos revestimentos e Piso apresenta dois tipos de acabamentos, Padronizar acabamentos do piso e das paredes.
esquadrias manchas de ferrugem e peça quebrada. Substituir laminado da porta.
1

Paredes apresentam 3 tipos de acabamento. Substituir vidro da janela.


Laminado da porta danificado. Recuperar forro.
Janela apresenta vidro quebrado.
Forro do teto danificado.
 Iluminação Iluminação artificial prejudicada em virtude da Substituir lâmpadas danificadas.
existência de lâmpadas danificadas.
 Instalação elétrica, tomadas e Quantidade insuficiente de tomadas, contornada Instalar mais tomadas.
Bioquímica (Patologia Clínica e Pesquisa)

interruptores com a utilização de benjamins.

 Estado dos revestimentos e Forro do teto apresenta rachadura e necessita de Recuperar piso, aplicando camada de granilite.
esquadrias limpeza. Pintar teto.
Piso apresenta rachadura e manchas de ferrugem. Limpar paredes e divisórias.
Superfícies das paredes e divisórias apresentam Instalar quadro de avisos.
marcas de fita adesiva. Instalar caixa de tomadas com acabamento
Caixa de tomadas apresenta acabamento adequado.
inadequado, em madeira. Instalar dobradiça na porta.
Dobradiça da porta removida, sem acabamento Vedar vão do aparelho de ar condicionado com
adequando. material impermeável e que não emita
Vão do aparelho de ar condicionado de janela incidência de claridade (borracha, por exemplo).
apresenta vedação em espuma, permitindo a
incidência de claridade que danifica os
equipamentos.
 Instalação hidráulica Fluxo de água insatisfatório. Substituir tubulação, provocando a redução de
Ralo apresenta grelha danificada. bitola, para aumentar a pressão da água.
Filtro apresenta fixação precária. Substituir grelha do ralo.
Instalar suporte de filtro adequado.

Figura 29 - Exemplo da matriz de descobertas e recomendações desenvolvida pela equipe de APO/Dirac-Fiocruz. Fonte: Rodrigues; Castro;
Rheingantz (2004)

A principal motivação para a construção da nova ferramenta foi a dificuldade de registro das
informações produzidas no trabalho de campo que, além de não se enquadrarem nos fatores
técnicos – objeto das APOs realizadas na Fiocruz –, até então não eram consideradas ou
mencionadas nos livros e normas utilizados como base para o trabalho da Equipe de APO. Como
identificar os usos e procedimentos inadequados dos ambientes, ou ainda os aspectos culturais e
afetivos que estavam relacionados com as relações e com os usos dos ambientes analisados, eram

49
O IFF é uma unidade hospitalar materno-infantil terciária de referência do Sistema Único de Saúde voltada à pesquisa,
ao ensino e à assistência da criança, da mulher e do adolescente.
50
Edifício que, desde 2000, abriga laboratórios de pesquisa científica (Castro et al 2004).

92
Matriz de Descobertas

questões da APO que permaneciam sem solução. A Matriz de Descobertas surgiu então, em função
da necessidade de garantir um tratamento que facilitasse a visualização das informações registradas
no caderno de campo. Rodrigues, com a colaboração da designer Isabelle Soares, procurou
incorporar tais elementos à matriz os dados comportamentais, sem comprometer sua legibilidade e
qualidade visual.

Ao incorporar os dados de meu caderno de campo, as planilhas dobraram de volume e como minha
intenção era utilizar os dados para o projeto final, a utilização do relatório da forma tradicional ficou
inviabilizada. Tornou-se, então, necessário construir uma ferramenta que me permitisse não só
visualizar os dados, mas compará-los de uma forma direta.51
A primeira versão das planilhas para utilização dos dados no projeto final de graduação, além da
coluna de descobertas técnicas, possuía minhas anotações de campo e opinião do usuário sobre os
ambientes. Ao terminar a compilação dos dados, de um pavimento de um dos sete edifícios que
compõem o IFF, a planilha totalizou 17 páginas em formato A3. Mesmo com acréscimo qualitativo no
conteúdo, a ferramenta não permitia a análise das informações devido ao formato, disposição e o
número excessivo de páginas (Rodrigues; Castro; Rheingantz 2004: 4) (Fig. 30).

Apresentando mais uma evolução, e com a colaboração de Soares, a primeira versão da Matriz de
Descobertas – não mais de Recomendações – foi apresentada no Trabalho Final de Graduação de
Rodrigues (2002) (Fig. 31). Valendo-se da linguagem visual da arquitetura, Rodrigues incluiu na
planilha desenhos, fachadas e plantas baixas dos edifícios e ambientes analisados. Sobre as plantas
baixas foram inseridas as informações resultantes da avaliação, de modo a que pudessem ser
relacionados com os ambientes (Rodrigues apud Rodrigues; Castro; Rheingantz 2004: 4-5). O
trabalho, até então realizado manualmente, passou a ser editado em computador com a utilização
de software gráfico. Nesta versão foram retiradas todas as recomendações, que passaram a ser
apresentadas em documento à parte – o que justificou, inclusive, a mudança da própria designação
do instrumento: Matriz de Descobertas (Fig. 31).
Esta primeira versão da Matriz de Descobertas; além da retirada das recomendações, permitia a
visualização simultânea das principais informações de ordem técnica, funcional ou comportamental
produzidas na avaliação. O registro das descobertas foi reduzido e simplificado e a matriz passou a
conter apenas as descobertas consideradas mais relevantes, que eram apresentadas em conjunto
com uma legenda de cores para identificar quais instrumentos possibilitaram identificá-las, para
facilitar a leitura. O novo formato permitiu e facilitou a compreensão global do complexo de
ambientes/edificações avaliadas e suas relações. Além de possibilitar a elaboração de um plano de
remanejamento dos setores/áreas do IFF, a análise realizada por Rodrigues em seu Trabalho Final de
Graduação (2002) serviu de base para um projeto de readequação.

51
Por “forma direta” a autora entende a possibilidade de compreensão do todo, de visualizar as informações em planta, o
que não era possível com as planilhas elaboradas em Word.

93
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Matriz de Descobertas e Recomendações

SALA E DESCOBERTAS DESCOBERTAS DA OPINIÃO DO RECOMENDAÇÕES


SETOR WALKTHROUGH USUÁRIO
Iluminação artificial Almoxarifado O almoxarifado está Substituir lâmpadas
prejudicada em oferece risco a em local danificadas.
virtude da existência segurança dos inadequado.
de 3 lâmpadas usuários.
queimadas.

Piso apresenta dois Local improvisado, Ë necessário manter Padronizar


tipos de com aparência de este espaço devido acabamentos do
Almoxarifado (Patologia Clínica e Pesquisa)

acabamentos, ter sido problemas na piso e das paredes.


manchas de aproveitamento de compra de Substituir laminado
ferrugem e peça espaços, sem materiais. da porta.
quebrada. adaptação para o Substituir vidro da
Paredes novo uso. janela.
apresentam 3 tipos Revestimentos e Recuperar forro.
de acabamento. instalações em
Laminado da porta estado precário de
1

danificado. conservação.
Janela apresenta
vidro quebrado.
Forro do teto
danificado.
A falta de local Almoxarifado para Estudar melhor
apropriado para material inflamável localização para
guarda de material está sendo este almoxarifado e
de reserva faz com projetado. a adequação do
que estes materiais mesmo para guarda
sejam armazenados de forma segura de
de maneira material inflamável.
irregular, causando
risco, pois contém
inclusive materiais
inflamáveis.
Iluminação artificial Substituir lâmpadas
prejudicada em danificadas.
Bioquímica (Patologia

virtude da existência
Clínica e Pesquisa)

de lâmpadas
danificadas.
Quantidade Instalar mais
2

insuficiente de tomadas.
tomadas,
contornada com a
utilização de
benjamins.

Figura 30 - Segunda Versão da Matriz de Descobertas e Recomendações. Fonte: Rodrigues (2002)

94
Matriz de Descobertas

Figura 31 - Primeira Versão da Matriz de Descobertas. Fonte: Rodrigues (2002)

A segunda versão, desenvolvida por Soares (2003) (Fig. 32), incluiu siglas com letras indicativas dos
instrumentos que possibilitaram identificar cada descoberta, bem como possibilitar sua reprodução
em preto e branco. Basicamente, a Matriz de Descobertas chega à sua versão final, que passou a ser
utilizada pelo Programa de APO da Fiocruz em seus relatórios, tendo sido incluída no livro
organizado por Jorge Castro, Leonardo Lacerda e Ana Claudia Penna, Avaliação Pós-ocupação –
APO: saúde nas edificações da Fiocruz (2004). As recomendações passaram a ser apresentadas em
uma planilha complementar, denominada Matriz de Recomendações (Fig. 33).
Em função da maior facilidade do manuseio, na terceira versão da Matriz de Descobertas, Soares
retoma o formato A4 (Fig. 34), que passa a ser adotado nos relatórios produzidos pelo Programa
APO, bem como em trabalhos finais de graduação (Helena Rodrigues 2002; Isabelle Soares 2003)52,
em dissertações (Penna 2004; Rodrigues 2005) (Fig. 35) e no livro organizado por Castro et al
(2004).

52
Houve um terceiro Trabalho Final de Graduação, cujo título é “Edifício de Laboratórios”, desenvolvido por Zélia
Magalhães Índio do Brasil, aluna do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRJ em 2004.

95
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Figura 32 - Segunda Versão da Matriz de Descobertas. Fonte: Soares (2003)

Figura 33 - Matriz de Recomendações do Pavilhão 26, formato A3. Fonte: Soares (2003)

96
Matriz de Descobertas

Figura 34 - Terceira Versão da Matriz de Descobertas - Pavilhão Carlos Chagas – Formato A4. Fonte: Soares (2003)

97
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Questionário – Usuário interno Questionário – Usuário externo


Mapeamento cognitivo Mapeamento visual
Seleção visual Observação da pesquisadora
Opinião da administração

Figura 35 – Matriz de Descobertas do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Fonte: Penna (2004: 160)

Comprovada a utilidade do instrumento, também apresentado em livro (Castro et al 2004), a Equipe


de APO da Fiocruz passou a utilizá-la em seus relatórios. Em função da experiência e das novas
demandas do Programa APO, a Matriz de Descobertas sofreu sucessivos aprimoramentos, como a

98
Matriz de Descobertas

inclusão de mais dados, bem como de pequenas alterações e ajustes no formato - como a inclusão
de um novo item: “observações gerais e problemas comuns” (Fig. 36).

Figura 36 - Matriz de Descobertas formato A4. Fonte: Rodrigues (2005: 61)

99
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Aplicações e Limitações
A Matriz de descobertas foi originalmente utilizada em ambientes construídos complexos como os da
área de saúde, regulamentados em seus aspectos técnicos por modelos normativos. Estes modelos
normativos, em geral, desconsideram os fatores funcionais e comportamentais, tais como valores
psicológicos do uso e da percepção ambiental, questões sobre a gestão do ambiente construído para a
saúde, seus custos, seu controle, sua operação e sua manutenção.
A principal contribuição da Matriz de Descobertas é possibilitar uma visão panorâmica e não
fragmentada do ambiente a ser analisado, suas principais qualidades e problemas, identificados por
meio de uma APO. Por ser um instrumento gráfico que permite reunir e relacionar em poucas
pranchas de desenho as principais descobertas – cada descrição é feita sobre uma base contendo
uma planta-baixa e fotografias dos ambientes e a indicação do instrumento que gerou cada
descoberta – a Matriz de Descobertas apresenta facilidade de manuseio e de visualização global,
especialmente se comparada aos resultados e descobertas descritos por meio de tabelas, quadros ou
textos. A experiência obtida pela Equipe de APO da Fiocruz possibilitou leituras diversas e
complementares: por parte do grupo que coleta os dados de campo, do pessoal de projeto e de
manutenção, dos usuários, bem como por parte dos administradores e tomadores de decisão.
A evolução do instrumento evidencia que o tratamento visual das informações foi se tornando cada
vez mais refinado e necessário para a compreensão do conjunto de informações. Assim, a Matriz de
Descobertas deixa de ser apenas um instrumento de registro de problemas e se transforma em um
instrumento de análise.
Na medida em que as informações vão sendo classificadas e selecionadas, é possível identificar as
relações existentes entre elas. Este processo simplifica a identificação das possíveis origens dos
problemas – se falhas de projeto, de construção, de manutenção, decorrentes de procedimentos de
trabalho ou administrativas.
A possibilidade de visualização simultânea das informações, propiciada pela inserção da planta baixa
na matriz, a partir da sua primeira versão, fez com que o mesmo recurso fosse utilizado em outros
mapeamentos, como por exemplo, o Mapeamento Fotográfico (Fig. 37) e o Mapeamento de
Produtos Químicos Utilizados nos Laboratórios (Fig. 38), utilizados por Soares (2003).

100
Matriz de Descobertas

Figura 37 - Mapeamento Fotográfico Formato A3. Fonte: Soares (2003)

Figura 38 - Mapeamento de Produtos Químicos Utilizados nos Laboratórios. Fonte: Soares (2003)

101
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

Outro desdobramento já mencionado da Matriz de Descobertas foi a Matriz de Recomendações (Fig.


33) utilizado por Soares (2003) na avaliação do Pavilhão 26, e por Rodrigues (2005) na avaliação
da Fundação Casa de Rui Barbosa. As recomendações, eliminadas na Matriz de Descobertas, foram
hierarquizadas em função do prazo de intervenção – curto e médio prazo. Em outros casos, pode ser
mais adequado hierarquizar as intervenções pelo seu grau de importância e/ou urgência de
execução.

Recomendações e Cuidados
Para que se consiga um resultado satisfatório com a Matriz de Descobertas, é indispensável que a equipe
de campo se responsabilize por sua construção, uma vez que é ela quem detém o conhecimento e a
vivência dos ambientes analisados, fundamentais no momento do cruzamento e na análise dos ambientes
ou do edifício. Uma pessoa que não tenha participado do processo de campo deverá encontrar muita
dificuldade para relacionar os dados, embora possa vir a ter um melhor entendimento dos ambientes ou
do edifício em uso e de sua complexidade. No caso da Fiocruz, o tratamento visual foi decisivo, não
somente para a evolução do instrumento, mas para o sucesso dos relatórios finais das avaliações. A
análise comparativa das diferentes versões evidencia que a inclusão e o tratamento gráfico das
informações, além de reduzir significativamente o volume de dados – e, por conseqüência, também dos
relatórios – e melhorar sua aparência, facilitou a leitura e a compreensão dos resultados da avaliação. Os
clientes – administradores e pesquisadores – passaram a se interessar mais pelo conteúdo do relatório,
possibilitando reduzir, ou até mesmo eliminar a principal dificuldade enfrentada pela equipe de APO da
Fiocruz: a visualização e a compreensão das informações por parte de usuários leigos em arquitetura,
engenharia e APO. A agilidade na seleção das informações e de seu ordenamento gráfico passou a ser
determinante nos relatórios, em função da própria dinâmica das alterações a serem produzidas nas
edificações, de modo a reduzir ou evitar a obsolescência precoce do documento.
A reincidência de determinado problema é uma evidência que deve ser devidamente considerada.
Contudo, ela não deve ser mencionada a todo o momento na matriz, sob pena de torná-la cansativa
ao leitor.
Por ser uma síntese dos principais elementos e problemas dos ambientes ou edifícios analisados, a
utilidade da Matriz de Descobertas está indissociavelmente vinculada aos relatórios de diagnóstico e de
recomendações. Por se tratar de um documento-síntese, sua configuração atual ainda deve sofrer
futuros ajustes e aprimoramentos com vistas a melhor adequá-la às demandas específicas de cada
avaliação53.

Análise dos Resultados


A análise feita pela equipe de campo surge na medida em que os dados são passados a limpo, pois
o raciocínio sobre os problemas se forma em função da visualização das informações como um todo,
da recorrência dos problemas, da visualização do problema no local exato em que ele ocorre na
planta do edifício etc. Os “links” vão sendo estabelecidos praticamente de maneira automática. A
análise, se possível, deve ser feita com toda equipe reunida, pois as contribuições de um membro da
equipe podem levar os outros integrantes a outras conclusões ou outras questões sobre os problemas,
e as prioridades devem ser negociadas entre todos os setores e grupos de usuários envolvidos. O
material resultante desta análise, que é a própria Matriz de Descobertas, embasará as futuras
tomadas de decisão acerca do ambiente pesquisado.

53
Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, por exemplo, o grupo de pesquisadores
liderado pela Professora Sheila W. Ornstein tem trabalhado com um desenvolvimento bastante sofisticado da Matriz de
Descobertas. (Ornstein et al 2007).

102
OBSERVAÇÃO INCORPORADA

Introdução
“As explicações científicas não fazem referência a realidades independentes do observador.”
Humberto Maturana (2002: 57)
A Observação Incorporada é uma contribuição dos pesquisadores que trabalham com Avaliação
Pós-Ocupação, vinculados ao grupo de pesquisa Qualidade do Lugar e Paisagem (APO/ProLUGAR)
a ser incorporada ao conjunto consolidado de instrumentos e ferramentas de avaliação de
desempenho do ambiente construído.
Suas origens remontam ao trabalho revolucionário e renovador de pensadores que contrariam a
idéia de que a ciência, em sua busca de objetivar a realidade, separa os seres humanos do mundo
em que vivem; de que só é científico aquilo que pode ser medido e manipulado (Prigogine; Stengers
1992)54; e nos frutos da parceria com as psicólogas Rosa Pedro55 e Vera Vasconcellos56.
Os pesquisadores do APO/ProLUGAR têm procurado explorar: (a) os hiatos da ambivalência de uma
visão de ciência que se preocupa com a demonstração racional dos princípios da vida e em provar a
“certeza” de suas descobertas (Morin 1996); (b) as implicações e conseqüências da “nova aliança”
(Prigogine e Stengers 1984) entre os seres humanos e a natureza, que configura um coletivo (Latour
2001)57; (c) o entendimento de que o conhecimento que é autobiográfico – “Viver é conhecer”
(Maturana e Varela 1995) e que o ato e o produto do conhecimento são inseparáveis; (d) o
entendimento de que nenhuma forma de conhecimento é racional ou total – e pressupõe a história
em vez de eternidade, a imprevisibilidade em vez de determinismo, a desordem em vez de ordem, a
evolução e a irreversibilidade em lugar de reversibilidade, a criatividade e o acidente em vez da
necessidade (Prigogine e Stengers 1992).
A história de sua concepção espelha com fidelidade o amadurecimento do grupo APO/ProLUGAR,
iniciado a partir do interesse de Rheingantz (1995) pela obra de autores que contrariam a idéia de
que a ciência, em sua busca de objetivar a realidade, separa os seres humanos do mundo em que
vivem e que só pode ser científico aquilo que pode ser medido e manipulado (Prigogine; Stengers
1992).
A seguir, o reconhecimento de que o comportamento humano é guiado pela emoção, de que os
sentimentos são os sensores que qualificam nossa memória (Damásio 1996). Durante a avaliação de
desempenho do Edifício-sede do BNDES no Rio de Janeiro, o reconhecimento da importância da
interação ou cumplicidade dos observadores com os usuários e com o ambiente construído
possibilitou a proposição de uma nova categoria – fatores de interação (Rheingantz et al 1998) – que
reconhece a importância e a influência das transformações significantes resultantes das relações

54
Tais como Lev Vygotsky (1993; 1994), Prigogine e Isabelle Stengers (1984; 1992), Edgar Morin (1996), Boaventura de
Souza Santos (1995), Umberto Maturana e Francisco Varela (1995), Umberto Maturana (2001), Francisco Varela, Evan
Thompson e Eleanor Rosch (2003), Bruno Latour (1994; 2001).
55
EICOS/UFRJ.
56
Faculdade de Educação – UERJ.
57
Cf. Latour (2001:) 29, “em lugar de três pólos – uma realidade “fora”, uma mente “dentro” e uma multidão “embaixo” –,
chegamos por fim a um senso que chamo de coletivo, onde cada objeto ou evento é concebido como uma mistura ou
“coletivo” de homens, coisas e técnicas, cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (Pedro 1998).

103
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

pessoa-ambiente e possibilita compreender nuances que, em geral, escapam ao olhar “técnico”,


“neutro” do racionalismo científico e da tradição behavorista.58
O princípio da incompatibilidade proposto por Lofty Zadeh (1973) em seminal artigo contendo os
fundamentos da Matemática Nebulosa ou Fuzzy aponta a inadequação das técnicas quantitativas
convencionais de análise para lidar com sistemas complexos e possibilita a substituição dos valores
numéricos precisos da Matemática Clássica ou Crisp por variáveis lingüísticas, para o tratamento
científico das questões subjetivas “coloridas” por emoções, sentimentos e comportamentos, bem
como a intensidade das imagens, valores e expectativas dos usuários (Rheingantz 2000).
A parceria com Vicente del Rio e Cristiane Rose Duarte resultou no entendimento de que a
arquitetura não se resume apenas a um fechamento físico e/ou social; ela é um fechamento cultural.
A cultura, entendida como um conjunto de sistemas simbólicos definidores de grupos socio-culturais
que se reconhecem como membros que dividem uma mesma visão de mundo, que compreendem e
se articulam através de lógicas próprias de comportamentos, expectativas e crenças. A partir de
então, os fatores de interação passaram a ser designados fatores culturais (Rheingantz, del Rio,
Duarte 2002).59
Incentivados por Rosa Pedro, que se incorporou ao APO/ProLUGAR em 2003, e pela leitura de A
Mente Incorporada (Varela, Thompson, Rosch 2003), os participantes do APO/ProLUGAR passaram
a utilizar a designação abordagem experiencial para caracterizar as avaliações de desempenho
alinhadas com: (a) a identificação do processo de conhecimento com o processo de viver; (b) o
reconhecimento de que o observador não pode pretender ter acesso a uma realidade independente
dele própri, e que a realidade é sempre um argumento explicativo (Maturana Varela 1995); (c) o
questionamento à “excessiva atenção dispensada aos aspectos operacionais e instrumentais – e na
sua eficiência intrínseca – em detrimento da reflexão sobre a própria experiência da reflexão
vivenciada pelo observador em sua experiência de observar” (Rheingantz 2004).
Em lugar de tentar explicar “como” reconhecer um mundo independente, a abordagem experiencial
procurou buscar os argumentos justificadores do pressuposto geral: o ambiente não deve ser
entendido como algo pré-definido, mas como algo a ser apreendido a partir de sua experiência e de
sua interação60. Na medida em que o observador dá mais atenção ao desenvolvimento do seu
“saber intencional” em detrimento dos modelos, regras e procedimentos do seu “saber-fazer”
tradicional, a avaliação de desempenho passa a ser uma reflexão corporificada, circular e consciente
em torno das coerências das relações entre os diversos sistemas que configuram o ambiente
observado. O observador acontece no observar; e a experiência de explicar esta experiência
corporifica o mundo. Como o homem é o fundamento do domínio cognitivo, a questão central passa
a ser o que acontece em suas interações recorrentes com o ambiente, quando ambos mudam de
modo congruente.

58
Na avaliação de desempenho do Edifício-Sede do BNDES no Rio de Janeiro (Rheingantz et al 1998), por exemplo, o odor
e o acúmulo de restos de comida nas lixeiras dos ambientes de trabalho, inconcebível para um observador neutro e
distanciado, pois todos os funcionários recebiam vale-refeição, foi radicalmente modificada no momento em que os
observadores. Em sua interação com os usuários, conheceram as razões apresentadas pelos funcionários: a maior parte
deles, na faixa dos 50 anos, cedia os vales-refeição para os filhos universitários, e com o achatamento salarial a que
estavam submetidos, remediavam o problema levando marmitas para o trabalhor.
59
Em sua tese de doutorado, Alice Brasileiro (2007) retoma, aprofunda o estudo dos fatores culturais e desenvolve um
conjunto de procedimentos para a análise cultural de um conjunto de ambientes de trabalho.
60
A doçura do açúcar, por exemplo, não é uma propriedade do açúcar nem do palato, mas da interação entre o açúcar e
o palato (Fischer apud Capra 1991).

104
Observação Incorporada

Sua aplicabilidade foi construída em parceria com Denise Alcântara e testada nos trabalhos de
campo da pesquisa de sua tese de doutortado Cognição e Projeto do Lugar: aplicação do enfoque
atuacionista (ou enactivo) na avaliação de desempenho de lugares urbanos (Alcantara 2008). .
Desdobramento Prático da abordagem experiencial, a observação incorporada foi concebida com o
objetivo de possibilitar que o observador redirecione suas capacidades – “percepção, pensamento,
sentimento e sensação” (Tulku 1997: 233) – para contemplar com espontaneidade, clareza e
atenção sua interação com o ambiente, durante a observação.
A Observação Incorporada pode ser definida como “uma prática específica que incorpora uma
abordagem aberta da experiência” (Varela et al 2003: 247) baseada nos seguintes pressupostos:
• Seu foco é a experiência do homem no lugar, ou seja, o modo como a um só tempo cada
lugar ou ambiente influencia a ação humana, que por sua vez, dá sentido e significado a cada
lugar ou ambiente.
• Pressupõe a impossibilidade de um observador tentar explicar “como” reconhecer um mundo
que não depende dele próprio, pois o “objeto” da observação é inseparável do observador.
• Implica em aceitar que a observação pode ser conscientemente guiada, e que o foco da
reflexão passa a ser o modo como o observador guia suas ações, e que este modo passa a ser
o ponto de referência da observação. Tanto o homem quanto o ambiente são aspectos
indissociáveis e recíprocos nesta abordagem.
• O entendimento de que as capacidades sensório-motoras do homem – visão, audição, olfato,
paladar, tato e seus movimentos e ações – são parte integrante do seu processo cognitivo e
incluem a linguagem verbal e não-verbal; de que estas capacidades estão inseridas em um
contexto biológico, psicológico e cultural mais amplo e não podem existir sem a interação com
o meio a ser experienciado que, por sua vez, inexiste sem a presença humana para o
experienciar;
As primeiras incursões do APO/ProLUGAR (Rheingantz 2004; Rheingantz e Alcantara, 2007;
Alcantara e Rheingantz 2004, 2007; Alcantara et al, 2007; e Alcantara, 2008) são indicativas da
riqueza desta abordagem no estudo das relações pessoa-ambiente e na avaliação de desempenho
do ambiente construído.
Fundamentos
A abordagem experiencial e a observação incorporada baseiam-se na proposição de Francisco
61
Varela, Evan Thompson e Eleanor Rosch do termo atuação para caracterizar seu questionamento do
pressuposto
prevalente nas ciências cognitivas, como um todo, de que a cognição consiste na representação de um
mundo que é independente de nossas capacidades perceptivas e cognitivas por um sistema cognitivo que
existe independentemente desse mundo. Ao invés disso, delineamos uma visão de cognição como ação
incorporada.(Varela; Thompson; Rosch, 2003: 17).
Segundo estes autores, a evolução não é uma otimização da adaptação, mas uma deriva natural,
que é aleatória e ocorre independentemente de qualquer pressão seletiva. Em sua união ou

61
A exemplo do tradutor, adotamos o termo atuação, em lugar de enacção, por considerá-lo mais fiel ao significado da
palavra inglesa enaction : “exercer atividade, estar em atividade, exercer influência” (o grifo é nosso). As ciências
cognitivas entendem a atuação como uma aproximação teórica (e situada) para compreender uma mente que incorpora
sua perspectiva histórica. A vivência experienciada (ou a trajetória desenvolvida) por cada indivíduo configura (ou
materializa) a sua compreensão da realidade.

105
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

acoplamento estrutural com o ambiente observado, a trajetória produzida pelo observador inicia “um
processo de continuada busca de soluções satisfatórias que desencadeia (mas não especifica) uma
mudança na forma das trajetórias viáveis” (Varela et al, 2003:202). A deriva natural na ação de
observar permite que o observador se liberte das amarras do seu “saber-fazer” tradicional e atue
(incorporado) com o ambiente.
Em sua experiência como avaliadores, de um modo geral, os observadores, ao considerarem
determinado ambiente “adequado”, não explicitam com clareza que a “adequação” é uma
apreciação na perspectiva do observador e não a partir de algum ponto ‘objetivo’ e independente do
observador. Diante da impossibilidade de um observador pretender ter acesso a uma realidade que é
independente dele próprio, o APO/ProLUGAR passou então a adotar a designação abordagem
experiencial para caracterizar as observações que incorporem as interações pessoa-ambiente
produzidas durante a experiência vivenciada no ambiente.
O conhecimento resultante desta experiência “não reflete um mundo exterior real, ao qual se
assemelha por mimese, mas sim um mundo interior real, cuja coerência e continuidade ajuda a
garantir” (Latour 2001: 75). Ele está diretamente relacionado com a consciência, que é produto da
capacidade do organismo humano perceber suas emoções, e do ambiente reagir a elas (Damásio
1996). O conhecimento é um juízo de valor sobre uma realidade que é, sempre, um argumento
explicativo (Maturana 2001).
Neste contexto, a observação deve ser entendida como um encadeamento de associações
dependentes do contexto que, em conjunto, configuram um ponto-de-vista aproximado e particular
da experiência vivenciada por um observador ou grupo de observadores em um determinado
ambiente ou conjunto de ambientes. O observador no ambiente "torna-se" um mundo que não pode
ser “representado” a priori.
A idéia de representação presente nos estudos das relações pessoa-ambiente implica no
entendimento de um mundo pré-determinado e incompleto, uma vez que deixa de fora justamente a
possibilidade de formular questões relacionadas com a experiência que é produzida nestas relações.
Em lugar de representação, podemos fazer interpretação (Pedro 1996), ou seja, uma atividade de
configuração em que alguns aspectos se tornam relevantes porque nós os fazemos emergir de nossa
experiência que, para ter validade, deve ser confrontada com o senso comum.
Como o observador está sempre imerso no ambiente62 sem, contudo, abrir mão de conhecer este
meio, sua compreensão será sempre local ou situada. A atividade dos homens no mundo possibilita
que eles criem padrões que são comparados aos já existentes (senso comum). Esta operação
modifica tanto os padrões iniciais, quanto as próprias operações de comparação que acontecem
durante a observação e, assim, indefinidamente. Nesse sentido, a observação, por ser um ato
cognitivo, é sempre criadora (Pedro 1996).
Ao reconhecer que a realidade é sempre um argumento explicativo (Maturana 2001), o observador
incorporado questiona a excessiva atenção dispensada aos aspectos operacionais e instrumentais – e
à crença em sua eficiência intrínseca – em detrimento da reflexão sobre a própria experiência por ele
vivenciada, sem negar a importância e utilidade dos instrumentos; o que muda é a forma como eles
são aplicados. Durante a observação e a aplicação dos instrumentos, o observador deve mesclar
uma atitude de deriva natural com uma atenção flutuante (Thiollent apud Lüdke e André 1986: 36) –

62
Preferimos utilizar a palavra “ambiente” – seja ele natural ou construído –, em lugar de “espaço”, atualmente mais
utilizada, para fazer referência ao espaço sideral interplanetário” (Santos 1997); a palavra “ambiente” traduz com maior
propriedade o meio no qual todos os coletivos compostos por seres humanos e não-humanos estão imersos.

106
Observação Incorporada

que envolve “toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais, hesitações,
alterações de ritmo... importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito.”
Como nem o ambiente nem o observador são pré-definidos e estão em permanente mutação, o
observador deve dar especial atenção ao desenvolvimento do seu “saber intencional”. Em outras
palavras, ele deve ter clareza, assumir a responsabilidade por suas emoções e aprender a trabalhar
com seus padrões emocionais durante cada momento da observação e, em complemento aos
modelos, regras e procedimentos do seu “saber-fazer” tradicional, deve reconhecer os primeiros
sinais de suas reações (Tulku 2007) e como eles podem influenciar a observação. Assim, o
observador deve considerar os acontecimentos ou distúrbios, as reações que eles provocam no
ambiente, as emoções que elas provocam em sua observação, sem esquecer de levar em conta que
a “realidade” de uma experiência pode ser muito diferente dos conceitos utilizados para interpretá-la,
que “podem ser rígidos ou limitados demais para expressar a natureza dinâmica dos sentidos do
corpo e da mente” (Tulku 1997: 229). Considerando que o homem é o fundamento do domínio
cognitivo, o observador acontece no observar, e a explicação desta experiência ou acontecimento,
corporifica o mundo, a observação precisa ser vista como o relato de um conjunto de acontecimentos
produzidos nas interações recorrentes do observador com o ambiente, durante as quais ambos
mudam de modo congruente.

Aplicações e Limitações
Sendo, basicamente, uma atitude do observador, os pesquisadores do APO/ProLUGAR consideram
que a observação incorporada deve permear e estar presente em todos os instrumentos e técnicas
tradicionais da avaliação do desempenho do ambiente construído, tomando como referência a
abordagem experiencial (Alcantara; Rheingantz, 2004; Rheingantz; Alcantara, 2007). Em
observações realizadas tanto em ambientes urbanos como em ambientes internos, a abordagem
experiencial tem demonstrado sua utilidade para evidenciar os aspectos subjetivos, que em geral são
de difícil identificação e interpretação nas abordagens comportamentais.
Os pré-testes realizados em diferentes estudos de caso (Alcantara et al, 2006 a; Alcantara et al,
2006b; Alcantara e Rheingantz 2007; Viana et al, 2007; Machado et al, 2007; Alcantara, 2008) são
indicativos de que a observação incorporada pode amplificar o significado e a compreensão do
sentido e da qualidade do lugar. Em vez de atuar como o aplicador de instrumentos, o observador
passa a ser, a um só tempo, ator e roteirista de uma experiência a ser explicada com base na
subjetividade produzida no processo de interação com o ambiente e seus usuários. Sua atenção
volta-se para a descoberta das razões, nuanças e significados daquela experiência cotidiana. A
abordagem experiencial e seu desdobramento prático – a observação incorporada - propõem a
transformação da postura ou atitude do observador, de abstrata e desincorporada, para uma atitude
de observação aberta e atenta do ambiente, considerando pessoa-ambiente de forma indissociável e
interdependente.
A contribuição e a utilidade da observação incorporada para o estudo das relações pessoa-ambiente
está no reconhecimento da importância da subjetividade na observação e da sua influência na
compreensão, por parte do observador, do processo de explicar e traduzir estas relações e que esta
compreensão se baseia no pressuposto de que todo relato é o relato de uma observação ou
experiência vivenciados pelo observador (Maturana (2001).
A postura aberta, atenta e consciente às perturbações provocadas por um determinado ambiente ou
lugar pressupõe que o observador seja capaz de equilibrar os sentidos e as emoções, o racional e o
emocional, na tentativa de não se deixar levar por impressões pré-concebidas, vagas, desatentas ou
superficiais sobre o ambiente. Ter consciência do ato de observar e estar mental e corporalmente
presente, tornam-se condições fundamentais para a experiência humana. A aplicação da

107
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

abordagem experiencial nas avaliações pós-ocupação ou de desempenho implica na necessidade de


exercitar e desenvolver a atitude e a atenção do observador para sua experiência em um
determinado ambiente construído. Na medida em que surgem os conteúdos dessa experiência –
pensamentos discursivos, “coloridos” emocionais, sensações corporais – o observador incorporado
deve, simplesmente, observar o “pensamento” e dirigir sua atenção para o processo ininterrupto
desta experiência, em lugar de se preocupar com o significado ou com o sentido do pensamento.

Recomendações e Cuidados
Devem ser exercitadas algumas habilidades e técnicas de atenção capazes de manter a mente
presente durante a experiência, de trazê-la de volta para a experiência sempre que ela tente desviar
sua atenção para outras experiências mentais. Varela; Thompson; Rosch (2003) sugerem uma
aproximação com a filosofia budista tibetana Abhidharma e suas técnicas de meditação – que se
baseiam em cinco agregados: forma, sentimentos/sensações, percepções (discernimentos)/impulsos,
formações disposicionais e consciência63 – e no pensamento comparado, que tratam do diálogo
entre ciência e experiência. Estes autores acreditam que, com esta aproximação, seja possível "levar a
pessoa a tornar-se atenta, experienciar o que a mente está fazendo enquanto ela o faz, estar junto
com a própria mente" (Varela et al 2003:40). Para tanto, a mente deve se esvaziar sem esforço, se
deixar fluir, coordenar e incorporar corpo e mente, ficando clara sua atividade natural de estar alerta
e ser observadora.
O importante é estar atento e aberto para os horizontes que se abrem durante a experiência,
evitando dar uma excessiva importância aos aspectos operacionais e instrumentais, que pode
provocar significativos desvios na atenção do observador – “se a única ferramenta em sua caixa de
ferramentas é um martelo, uma porção de coisas começam a parecer pregos” (Abraham Maslow
apud Marinoff 2004: 45). Como as observações podem ser conscientemente guiadas (Varela,
Thompson, Rosch 2003), é conveniente que o observador saiba integrar corpo e mente, de modo a
aumentar a vitalidade do corpo e a clareza da mente; saiba treinar a atenção e cultivar a presença
do corpo, da mente e dos pensamentos. Na medida em que aumenta o conhecimento da interação
produzida nas relações existentes entre as “tensões físicas, mentais e emocionais”, o observador
incorporado deve saber como dissipá-las, explorá-las e transformá-las. Assim, é possível experimentar
valiosos insights sobre a íntima relação entre corpo, mente e ambiente (Tulku 1997).
A atitude se torna operante por meio de anotações, relatos e registros das observações em cadernos
de campo diários – podendo se constituir de textos, croquis, palavras soltas e impressões.
Posteriormente são sintetizados em relatórios com o objetivo de trazer à luz elementos e descobertas
subjetivas complementares à análise dos outros métodos e instrumentos utilizados. Neste sentido, os
pesquisadores – ou observadores incorporados –, ao realizar os percursos à deriva, deverão estar
munidos de um material básico: prancheta, papel de rascunho, caderno de campo, caderno de
croquis e desenhos, máquina fotográfica, filmadora. Os procedimentos que vêm sendo aplicados
constam de:
• Preparação: antes de iniciar a observação incorporada, o observador deve procurar um
ambiente onde possa fazer um breve relaxamento das tensões e ansiedades produzidas em seu
deslocamento. O ideal é buscar um recanto tranqüilo – um templo religioso, um banco de
praça, uma mesa de um bar ou café – e por alguns instantes o observador deve se libertar de

63
Cf. Varela et al (2003), o segundo, terceiro e quarto agregados podem ser reunidos em um conjunto de Fatores Mentais,
que por sua vez, se subdivide em cinco fatores: contato, sentimento, percepção/discernimento, intenção e atenção. O
quinto agregado se desdobra em consciência visual, consciência auditiva, consciência olfativa, consciência gustativa,
consciência tátil e consciência mental.

108
Observação Incorporada

seus pensamentos e voltar sua mente para a sensação de bem-estar produzida por sua
respiração, inicialmente lenta e profunda, movimentando toda sua capacidade toráxica. Na
medida em que a mente vai se libertando dos pensamentos e ansiedades e a respiração e os
batimentos cardíacos vão se estabilizando, com suavidade e delicadeza, a intensidade da
respiração vai diminuindo gradativamente até se tornar quase imperceptível.
• Observação atenta: quando a mente e o corpo estiverem suficientemente relaxados e libertos,
o observador deve voltar sua atenção para os acontecimentos que se desenrolam no ambiente,
e na medida do possível, literalmente deixar-se envolver por eles e pela atmosfera do ambiente,
ficar à deriva, ao caminhar pelo ambiente sem seguir um percurso pré-determinado, em lugar
de procurar direcionar seus pensamentos e sentidos, o observador deve procurar observar com
atenção e sem apego (Tulku 2007) as reações, efeitos e emoções que o ambiente produz em
seu corpo e mente durante a sua experiência no ambiente. Este percurso deve ser
complementado por filmagens ou fotografias contendo momentos ou instantâneos ou
elementos e situações que chamaram à atenção do observador.
• Conclusão 1: terminado o percurso, ainda “contagiado” pelas emoções vivenciadas, o
observador deve procurar local tranquilo onde possa sentar e reviver passo-a-passo sua
experiência recente. Um gravador ou um caderno de anotações podem ser valiosos auxiliares
para registro, com a maior liberdade, naturalidade e riqueza de detalhes, do relato de sua
experiência. O relato deve ser complementado por desenhos e mapas esquemáticos indicando
com detalhes os percursos, as paradas prolongadas, as interrupções, os marcos e demais
elementos considerados importantes.
• Conclusão 2: caso a experiência tenha sido realizada por mais de um observador, inicialmente
deve ser feito um registro individual; se houver tempo e condições, a seguir deve ser registrado
um relato da troca de experiências e impressões vivenciadas, anotando os pontos comuns e as
discrepâncias.
• Conclusão 3: um ou dois dias depois, no laboratório/escritório, o observador deve reler ou
ouvir os relatos de campo e, se necessário, produzir um novo documento, agora mais
sistemático e devidamente fundamentado. Deve ser produzido um documento contendo a
sequência ordenada das fotos e desenhos produzidos, que devem ser devidamente
identificados com número e título. A seguir, com a equipe de pesquisa reunida todo o processo
deve ser apresentado e discutido. Se possível, este encontro também deve ser registrado. Se for
necessário, novas observações mais estruturadas – com roteiros previamente definidos – podem
ser realizadas no local.
Nos cadernos de campo devem constar em cada registro: nome e identificação do projeto de
pesquisa, local, data e horário de início e de término da observação, número da observação, nome
do(s) observador(es), seguido de um breve parágrafo informando as condições do tempo, bem como
um mapa ou desenho esquemático do percurso.
A atenção às próprias reações, às tensões produzidas na interação do observador com o ambiente
pode amplificar a vitalidade e a clareza da observação. “Quanto mais abertos e relaxados, os
sentidos percebem melhor tudo aquilo que se apresenta dentro ou fora do corpo, a mente se torna
menos reativa e mais silenciosamente atenta” (Tulku, 1997: 230) e as sensações, mais diretas e
presentes.

Análise dos Resultados


A releitura e o entrelaçamento dos relatos das observações e experiências podem indicar
inquietações, identificar problemas, apontar impressões ambientais, vislumbrar qualidades etc., cujos

109
Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação

efeitos sobre os observadores podem ser ou não similares. Contêm, entretanto, uma carga pessoal e
subjetiva, que ora suaviza, ora endurece o olhar sobre o ambiente. A conjugação destes diversos
olhares nada mais é que o olhar compartilhado “que participa de uma consciência do universo
percebido. Ao mesmo tempo em que é uma entidade distinta – uma onda – é, também, um universo
– um oceano – formado pelo conjunto das percepções individuais dos usuários que interagem com o
ambiente, assumindo ‘formas de vida’ e ‘significados’ variáveis conforme o uso a eles determinado”
(Rheingantz 2000).
O relato obtido a partir da observação incorporada constitui importante informação para a
compreensão e estudo do ambiente, fornecendo pistas sobre aspectos que poderão ser
posteriormente confirmados. As impressões do pesquisador com relação ao ambiente tornam-se
hipóteses de pesquisa a serem testadas pela aplicação de sucessivos métodos. Entende-se assim, que
a observação incorporada permite um olhar mais abrangente que viabiliza a real compreensão da
complexidade espacial, isso porque viver a experiência será sempre diferente de uma interpretação
distanciada do pesquisador (Rheingantz: Alcantara 2007).
As pesquisas de avaliação de desempenho desenvolvidas pelo APO/ProLUGAR, têm apresentando
como resultado, relatos de observação do lugar mais sensíveis e poéticos, contendo significados que
expressam essa interação do indivíduo com o meio. Quando o observador de fato experiencia o
ambiente, vivenciando o lugar e se deixando por ele impregnar, obtém informações mais ricas e
significativas do que aquelas resultantes dos procedimentos usuais adotados na aplicação dos
instrumentos. A abordagem experiencial e a observação incorporada buscam melhor compreender o
papel da experiência humana na avaliação do lugar – seja a experiência do usuário ou do
pesquisador. Para tanto é fundamental a observação do contexto da experiência, assim como sua
relação com as experiências individuais e suas associações.
A contribuição da abordagem experiencial para a avaliação da qualidade do lugar deve se dar a
partir do entrelaçamento e da qualificação dos olhares técnico e cognitivo-experiencial, de modo a
enriquecer a compreensão de como os atributos do ambiente são percebidos e experienciados pelos
usuários e observadores, reconhecendo-os como sujeitos sócio-históricos importantes para a
construção do lugar.

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Com a publicação deste livro, pretendemos
contribuir para a consolidação das
pesquisas e estudos sobre as relações
homem-ambiente e sobre a avaliação
pós-ocupação (APO) / avaliação de
desempenho do ambiente construído.
Nosso principal objetivo é divulgar a
produção dos pesquisadores envolvidos
com a avaliação pós-ocupação (APO)
do grupo Qualidade do Lugar e Paisagem
(ProLUGAR) do Programa de Pós-
graduação em Arquitetura da FAU/UFRJ.
Entendemos que, numa APO, os
resultados da aplicação de um conjunto de
instrumentos devem ser vistos como
complementos capazes de corroborar a
experiência reflexiva e intuitiva vivenciada
durante a observação do ambiente. Neste
sentido, sustentamos que os estudos de
APO pouco têm se ocupado da conduta
dos especialistas ou observadores. Assim,
propomos a releitura e a re-significação
das técnicas e instrumentos clássicos de
uma APO, ampliando o conceito e a
percepção da qualidade do lugar, e
agregando a experiência humana no
observar. A publicação deste livro se
justifica pela carência de publicações
didáticas relacionadas com instrumentos e
métodos para observação, análise,
programação e projeto de arquitetura
relacionados com a participação dos
usuários.

UFRJ
www.fau.ufrj.br/prolugar

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