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Boletim Petróleo, Royalties e Região - Campos dos Goytacazes/RJ - Ano XV, nº 58 – dezembro/2017

Sobre mineração, sustentabilidade e alquimia: algumas


relexões sobre os paradoxos da mineração sustentável
ON MINING, SUSTAINABILITY AND ALCHEMY: SOME REFLECTIONS ABOUT THE PARADOXES OF SUSTAINABLE MINING

Resumo: Abstract:
A noção de desenvolvimento sustentável (DS), longe de ser unívoca e ter um The notion of sustainable development (SD), far from being univocal and
signiicado consensual, alude a campos conceituais e políticos diversos que having a consensual meaning, alludes to diverse conceptual and political
recobrem representações múltiplas, as quais variam segundo os atores, as social ields that cover multiple representations, and varies according
estratégias e as perspectivas em jogo. No início dos anos 2000, um conjunto to actors, strategies and perspectives. In the early 2000s, a set of
de empresas transnacionais, que atua no setor de mineração, incorpora – transnational companies operating in the mining sector incorporated –
sem aparente paradoxo – o desenvolvimento sustentável como um “marco without apparent paradox – the sustainable development discourse as a
de referência útil para guiar o setor mineral”. Argumentamos, neste artigo, “useful benchmark to guide the mineral sector”. In this paper, we argue
que a paradoxal junção da mineração em grande escala com o DS é possível that the paradoxical junction of large-scale mining with SD is possible due
graças a um deslocamento discursivo e simbólico, que chamaremos de to a discursive and symbolic displacement, which we will call a narrative
alquimia narrativa, dos princípios ecológicos contidos na noção de DS, de alchemy, of the ecological principles contained in the notion of SD, in order
forma a apagar a responsabilidade das empresas perante a insustentabilidade to erase corporate responsibility related to the inherent unsustainability
inerente à atividade extrativa mineral. Tal airmação baseia-se na análise de of mineral extractive activity. This statement is based on the analysis
“iniciativas” sociais e ambientais publicizadas nas páginas institucionais na of social and environmental “initiatives” published on the institutional
internet por algumas das principais empresas de mineração atuantes no websites of some of the leading mining companies operating in the state
estado do Rio de Janeiro. of Rio de Janeiro.
Palavras-chave: desenvolvimento sustentável; mineração, responsabilidade Keywords: sustainable development, mining, corporate social responsibility,
social Rio de Janeiro.

Gabriela Scotto
Formação acadêmica: Doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social / Museu Nacional / UFRJ
Filiação institucional: Professora Adjunta de Antropologia do Departamento de Ciências Sociais (COC/UFF). Docente do quadro permanente do Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas (PPGDAP/UFF) - Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional
(ESR/UFF), Campos dos Goytacazes, RJ
E-mail: gabriela.scotto@gmail.com

Introdução
No início da década de 2000, um conjunto de grandes sociedade envolvidos nas operações e com políticas claras de
empresas transnacionais que atua no setor de mineração, gestão. Por isso, a política mineral brasileira deve ser pautada na
reunidas no Conselho Internacional de Mineração e Metais sustentabilidade.
(ICMM, na sigla em inglês), incorpora o Desenvolvimento Sus- (PNUD-Imprensa, 23 de agosto de 2017)
tentável (DS) como um “marco de referência útil para guiar o
setor mineral” (IIED e WBCSD, 2002, p.1).1 Não deixa de sur- Argumentamos, neste artigo, que a paradoxal junção da
preender que um setor econômico baseado na exploração de mineração em grande escala com o DS é possível graças a um
um recurso natural inito, como o minério, e que frequente- deslocamento discursivo e simbólico dos princípios ecológi-
mente é acusado pela “insustentabilidade” ambiental e social cos contidos na noção de DS, de forma a apagar a responsa-
das suas práticas, adote para si – sem aparente paradoxo – o bilidade das empresas perante a insustentabilidade inerente
DS como marco público, norteador das suas práticas. Como a toda atividade extrativa mineral. O DS, como “marco orien-
é possível esperar que empresas, tais como, a Vale, a Anglo tador” das empresas globais de megamineração, não mais diz
American ou a Rio Tinto contribuam diretamente, conforme respeito à garantia de um mundo com minérios para as gera-
se declara no Atlas: Mapeando os Objetivos de Desenvolvi- ções futuras, mas aponta para um conjunto de ações e práticas
mento Sustentável na Mineração (MME e PNUD, 2017), para o sociais e ambientais externas à atividade im das empresas.
desenvolvimento sustentável do planeta? Como interpretar Em artigo anterior (SCOTTO, 2016), apresentamos uma re-
as palavras do secretário de Geologia, Mineração e Transfor- construção histórica do processo de consolidação, em termos
mação do Ministério de Minas e Energia brasileiro, Vicente globais, do DS e da Mineração Responsável como um modelo de
Lôbo Cruz, quando declara: ação para as grandes empresas transnacionais do setor minera-
Entendemos que a mineração pode contribuir diretamente com dor. Esse modelo de ação recomenda a implementação (tanto
o desenvolvimento sustentável, e é preciso que tenhamos muita em termos globais como, fundamentalmente, locais) de uma
responsabilidade, com envolvimento dos diversos setores da variedade de “políticas e programas que abordem aspectos da

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agenda do desenvolvimento sustentável” como meio para pôr tulos DS e/ou “sustentabilidade” - por algumas das principais
a agenda em prática (IIED e WBCSD, 2002, p.156). Pautadas na empresas de mineração atuantes no estado do Rio de Janeiro
agenda global do DS, as empresas mineradoras produzem for- (RJ). Com o uso da metáfora, alquimia narrativa, pretende-se
tíssimas intervenções locais na cultura e na vida cotidiana das apontar para os processos e dispositivos comunicacionais,
“comunidades” onde estão presentes. Assim, tanto no Brasil simbólicos e discursivos mediante os quais se aproximam
como em outros países onde há atividades de mineração, não aspectos antagônicos e conlitantes, tais como, os impactos
é difícil observar a presença, atuante e visível, das grandes em- ambientais e sociais inerentes ao extrativismo mineral, e os
presas mineradoras na vida cotidiana das populações locais (“co- pressupostos ecológicos e ambientais contidos na noção de
munidades”) onde atuam, “promovendo o desenvolvimento desenvolvimento sustentável. Após essa transformação “má-
sustentável” por meio de programas de capacitação, do apoio gica”, as ações “ambientais” das empresas de mineração nada
a projetos sociais e projetos de educação ambiental, de patrocí- têm a ver com a initude dos recursos naturais nem com os
nios culturais, de estágios para jovens, de parcerias com as pre- danos ambientais decorrentes da atividade mineradora. As
feituras, ONGs e Universidades, etc. preocupações das mineradoras com o “cuidado da natureza“,
A im de avançar nessa direção, este artigo se propõe com a “sustentabilidade do planeta” e com as gerações futu-
a discutir o que denominarei aqui como alquimia narrativa ras se traduzem em ações de conservação e preservação da
do DS no campo da mineração. Para isso, se analisam alguns natureza, atividades de educação ambiental, e projetos so-
exemplos das “iniciativas” e projetos sociais e ambientais pu- ciais que não têm relação direta com a (in)sustentabilidade da
blicizados nas páginas institucionais na internet – sob os ró- mineração.

Desenvolvimento sustentável: um delicado equilíbrio entre economia


e ecologia, entre presente e futuro
A noção de DS, longe de ser unívoca e ter um signiicado contribuição para o bem-estar da geração atual, de forma a garantir
consensuado, alude a campos conceituais e políticos diver- uma distribuição equitativa dos custos e benefícios, sem reduzir
sos que recobrem representações múltiplas, as quais variam o potencial para que as gerações futuras possam satisfazer suas
dependendo dos atores, das estratégias e das perspectivas necessidades. (IIED e WBCSD, 2002, p.4)
em jogo. Como já analisamos em outra ocasião (SCOTTO et Concordo com Whitmore (2006) quando airma que a
al, 2007), no seu início, a deinição de DS da Comissão Mun- “retórica da mineração sustentável” é uma velha roupagem
dial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), que para velhas práticas, mas que, no entanto, chegou para icar
se torna célebre nos anos 1990, é a de um “desenvolvimen- (op.cit., p.309). Sendo assim, cabe se perguntar por que al-
to que é capaz de garantir as necessidades do presente sem quimia foi possível ocultar a dimensão ecológica inerente ao
comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem conceito de DS, de forma que a contradição embutida na pro-
também às suas”. Na sua deinição original, o DS leva em con- posta de uma mineração sustentável se apague ou, no míni-
sideração a relação entre economia e ecologia. Isso signiica mo, ique encoberta. E mais ainda, como é possível que as
que qualquer atividade industrial baseada na exploração de empresas de mineração consigam “vender” tanto aos seus
recursos naturais não renováveis será, como consequência, acionistas, como na bolsa de valores, uma imagem de serem
”insustentável”. A initude do bem natural explorado põe em peças fundamentais para o desenvolvimento sustentável, lo-
risco sua existência no futuro e, por conseguinte, a capacida- cal e planetário?
de das gerações vindouras para atenderem às suas “necessi- No seu artigo Sustainable Mining, o antropólogo Stuart
dades”. Sendo assim, como já foi mencionado, não há como Kirsch parte de uma interrogação similar à minha (KIRSCH,
não observar o paradoxo que signiica deinir como sustentá- 2009). Para ele, esse processo foi facilitado pela mudança de
vel uma atividade como a mineração, baseada na extração de uma noção de sustentabilidade “forte” em uma “fraca”:
bens da natureza limitados e não renováveis. The two competing notions of sustainability difer with respect to the
Contudo, no caso da sua apropriação discursiva por gran- relationship between natural capital and human or manufactured
des empresas de mineração, principalmente as de atuação capital. Weak sustainability refers to the argument that natural
global, o DS é concebido de forma um tanto imprecisa e ge- capital and manufactured capital are interchangeable, and that
nérica como “um marco de referência útil para guiar o setor sustainability is achieved when the total value of capital remains
mineral”. Marco referencial que, como é possível observar na constant or increases.
citação abaixo, articula discursivamente a atividade econômi- According to this formula, a mine that pollute a river and causes
ca da mineração (baseada na exploração de recursos naturais extensive deforestation may be considered sustainable if the proits
não renováveis), a preservação ambiental, as preocupações from the project are successfully converted into manufactured
sociais (sob a forma de “responsabilidade social”) e os chama- capital with an economic value that equals or exceeds the value of
dos “sistemas de governança”: what has been consumed or destroyed in the process. From this
Um dos maiores desaios hoje é integrar a atividade econômica com perspective, a mine is considered sustainable as long as the “total
a integridade ambiental, com preocupações sociais e com sistemas stock” of capital remains de same or increase.
de governança efetivos. O objetivo dessa integração pode ser In contrast, the deinition of strong sustainability acknowledges
chamado de “desenvolvimento sustentável”. the interdependence of human economies and the environment
No contexto do setor mineral, o objetivo deveria ser maximizar a without treating them as interchangeable.

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(…) Strategic deployment of the term sustainability provides Podemos airmar que a apropriação do conceito DS por
symbolic capital for a mining company whose practices are anything parte das grandes empresas de mineração integrantes do
but environmentally sustainable. (KIRSCH, op.cit. p.91) ICMM se faz esvaziando os aspectos ambientais da susten-
Coincido com a análise proposta por Kirsch, na medida tabilidade; ocultando a insustentabilidade de processos pro-
em que ela nos permite entender postulados tais como expli- dutivos baseados na exploração de recursos naturais não re-
citados no trecho a seguir: nováveis (“produtos primários”); e deslocando o foco para a
O processo do Mining, Minerals and Sustainable Development oferta de “serviços ambientais”, em que se inclui um amplo
(MMSD) procurou criar uma imagem da aparência do setor mineral conjunto de práticas (econômicas, sociais, culturais e ambien-
como se ele se propusesse maximizar sua contribuição com o tais) deinidas como “sustentáveis”.
desenvolvimento sustentável. De acordo com essa visão do futuro, Mas não apenas. Paralelamente ao esvaziamento ecológico
a indústria mineral está integrada por toda a cadeia de valor e da sustentabilidade, o DS, na perspectiva da megamineração,
proporciona serviços minerais em lugar de produtos primários. (IIED se estrutura como um campo que incorpora agentes sociais,
e WBCSD, 2002, p.13 – sublinhado meu).2 práticas e dispositivos culturais, externos à própria atividade mi-
Ou ainda neste outro: neradora, tais como: “projetos sociais”, “educação ambiental”,
Este Programa [MMSD] no se pregunta por la sustentabilidad de la “programas de relorestamento de mudas”, “parcerias” com pre-
industria, sino por cómo la industria puede contribuir al desarrollo feituras e ONGs, entre outros. Iniciativas todas que, na perspec-
sustentable de regiones y países mineros. tiva das próprias empresas, ocorrem graças às contribuições da
(IIED. Abriendo Brechas - América del Sur, 2002). indústria da mineração para a sociedade e para o planeta.

O DS e a “responsabilidade social e ambiental” (RSE)


das empresas de mineração atuantes no Rio de Janeiro
Sem pretensão de ser exaustiva, a seguir, se apresentam – ao mesmo tempo que postula a “natureza ilantrópica” do
alguns exemplos extraídos das páginas institucionais na in- empresariado sensível às necessidades e desejos da socie-
ternet das principais empresas de mineração presentes no dade e das comunidades onde se apresentam as atividades
estado do Rio de Janeiro (RJ): Vale, Companhia Siderúrgica da empresa. É neste contexto que devem ser situadas, por
Nacional (CSN), Usiminas; Ferrous Resources Brasil; Anglo exemplo, as palavras da empresa Vale quando, no corrente
American; e a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). ano de 2017, apresenta sua “Missão” com as seguintes pala-
Mediante suas páginas na internet, todas elas divulgam vras: ”Transformar recursos naturais em prosperidade e de-
informações sobre suas operações no Brasil e no mundo; senvolvimento sustentável”. Ao que acrescenta sua “Visão”
compartilham, também, uma apresentação dos seus “valo- (“Ser a empresa de recursos naturais global número um em
res”, assim como da “missão” da empresa. Nunca falta um se- criação de valor de longo prazo, com excelência, paixão pelas
tor de Notícias (ou “Sala de Imprensa”), periodicamente atua- pessoas e pelo planeta”); e seus “Valores” (1- A vida em pri-
lizado com releases divulgando as atividades da empresa;3 e o meiro lugar; 2- Valorizar quem faz a nossa empresa; 3- Cuidar
que nos interessa neste artigo: todas contam com uma seção do nosso planeta; 4- Agir de forma correta; 5- Crescer e evo-
(cujo nome varia, dependendo do caso: Desenvolvimento luir juntos; e 6- Fazer acontecer) (VALE, 2017).
Sustentável, ou Sustentabilidades; ou Iniciativas...) destinada No caso brasileiro, embora não exclusivamente, o
a apresentar as iniciativas e as ações sociais e ambientais da campo do DS e da mineração sustentável se articula com a
empresa: seu trabalho de “preservação do meio ambiente”, chamada Responsabilidade Social Empresarial (RSE). A RSE
de “educação ambiental”, de “desenvolvimento local junto também surge (assim como o DS) como um conceito global
às comunidades”, etc. Para o efeito deste trabalho, interessa que, neste caso, combina a chamada “ilantropia empresarial”
destacar que as ações e as atividades que se publicizam nessa com uma ideia, mais geral, sobre a responsabilidade das em-
última sessão são diversas e heterogêneas, abarcando áreas presas em relação ao impacto social e ambiental que geram
diferenciadas (saúde, educação, meio ambiente, patrimô- suas atividades. Este outro modelo de ação empresarial, que
nio, cultura, etc.). No entanto, observa-se que por trás dessa surgiu em 1999 durante o Fórum Econômico de Davos, tem
aparente heterogeneidade existem aspectos muito similares, sido proposto por e para as grandes empresas que operam
que nos permitem airmar que estamos frente a um campo em contextos de grande diversidade, de forte competição
discursivo e comunicacional extremamente homogêneo, no internacional e, principalmente, de crescente exposição à
qual o desenvolvimento sustentável e/ou a sustentabilidade opinião pública. Em uma economia cada vez mais globaliza-
são conceitos sempre presentes, acionados para incluir, apre- da, as empresas passam a buscar um diferencial para alcançar
sentar e divulgar as chamadas “práticas ou ações sociais e am- novos mercados nos países industrializados; mercados que,
bientais” da empresa. na visão de Haroldo Mattos de Lemos, estão compostos por
Não cabem dúvidas de que as práticas sociais e ambien- “consumidores mais exigentes em relação às questões da
tais das empresas de mineração no RJ, tais como recortadas sustentabilidade global”. Essa demanda levou, dentre outros,
e apresentadas nas suas páginas institucionais, podem ser ao desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade e ao
lidas como a busca por uma “ética empresarial” (cf. BRONZ, lançamento, em 1994, na Bolsa de Nova Iorque, do índice
2011) que, para agregar valor, evoca o princípio jurídico de Dow Jones de Sustentabilidade – Down Jones Sustainability
responsabilidade ante terceiros – compromisso de não dano Index - DJSI; (LEMOS, 2013, p.119-20).

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Na mesma direção do que venho argumentando, a descrevendo:


antropóloga Déborah Bronz demonstra na sua tese de dou- Os empresários brasileiros têm uma interpretação peculiar sobre
toramento como as preocupações ambientais e sociais – hoje o conceito de sustentabilidade: o que deve ser sustentável é
consideradas requisitos para os inanciamentos dos bancos o desenvolvimento econômico das empresas – para tanto, o
nacionais e multilaterais de desenvolvimento, e para a valo- tratamento correto das questões ecológicas pode contribuir seja para
rização do capital das empresas nos mercados de ações – se o aumento da produtividade, seja para melhorar a imagem pública
traduziram nos “pressupostos morais da nova ética empresa- da irma. Dentro dessa ótica, a decisão inal acerca da qualidade ou
rial da responsabilidade social e do desenvolvimento susten- intensidade do compromisso ecológico da empresa depende da
tável” (BRONZ, 2011, p.46). sua situação de mercado. Na opinião dos empresários brasileiros,
Para concluir este item, interessa transcrever as pala- a preservação do meio ambiente só é sustentável se houver lucro
vras de Cappellin e Giulani (2006) sobre as práticas am- econômico. Em outras palavras, uma prática ambiental que não
bientais das empresas no Brasil, na medida em que elas se se sustente economicamente, não é uma prática sustentável.
aplicam perfeitamente ao setor de mineração que venho (CAPELLIN E GIULANI, 2006, p.62)

Considerações finais
Acredito que a mineração em grande escala pode vir a e ações que nada têm a ver com a atividade da mineração
ser responsável, mas nunca será sustentável, e isto – como na sua dimensão extrativista. O campo do DS das empresas
pretendi argumentar ao longo deste trabalho – porque na es- mineradoras é o dos projetos de educação ambiental, do re-
sência do conceito de DS que proponho resgatar se encontra lorestamento, da criação de tartarugas; da edição de guias
como dimensão central (e ética) a initude da natureza. Quan- de turismo ecológico, etc. Sobre os minérios que extraem e a
do as empresas de mineração falam em meio ambiente e cui- água que se consome, nada... O processo alquímico se com-
dado da natureza é para se referirem a um âmbito de práticas pletou.

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BRONZ, Deborah. Empreendimentos e empreendedores: formas de gestão, PNUD - Imprensa. Ministério de Minas e Energia e PNUD lançam relatório “Atlas:
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CAPPELLIN, Paola GIULIANI, Gian Mario. A economia política da responsabilidade am-relat-rio-atlas-mapeando-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustent-vel-na-
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IIED e WBCSD. Abrindo Novos Caminhos: Minerais e Desenvolvimento Sustentável sustentável e a mineração responsável como prática discursiva e modelo para a
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KIRSCH, Stuart. “Sustainable Mining”. Dialect Anthropol (2010) 34. University of SCOTTO, Gabriela, CARVALHO, Isabel C. de Moura, e GUIMARÃES, Leandro B.
Michigan. 2009. pp.87-93. Desenvolvimento sustentável. Petrópolis: Vozes. 2007.
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MME- Ministério de Minas e Energia o PNUD-Programa das Nações Unidas para o WHITMORE, Andy. The emperor’s new clothes: sustainable mining? Journal of
Desenvolvimento. Atlas: Mapeando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Cleaner Production, v. 14, 2006. pp. 309-314.
na Mineração. Agosto de 2017. Disponível em: http://www.br.undp.org/content/

NOTAS Projeto Mineração, Minerais e Desenvolvimento Sustentável (Projeto MMSD,


na sua sigla em inglês) com o objetivo de “entender como a exploração mineral e o
1 - O ICMM está sediado em Londres, Inglaterra, e, na atualidade, reúne setor de mineração podem contribuir com a transição global ao desenvolvimento
aproximadamente 20 das maiores empresas de mineração do mundo. Seu sustentável”. Essa iniciativa em âmbito mundial teve - na parte correspondente
objetivo, conforme apresentado na página da web do próprio Conselho, é às Américas- o estudo individualizado de alguns países da região, dentre eles
“aprimorar as formas como atuam as companhias do setor. Para isso, o ICMM o Brasil. A versão brasileira do Projeto MMSD foi coordenada e executada pelo
desenvolve “parcerias” com diversas instituições, como organizações não Centro de Tecnologia Mineral (CETEM). Os resultados inais do Projeto MMSD
governamentais (ONGs), organismos internacionais e academia, dentre outras. foram apresentados em um relatório cujo nome em português é “Abrindo Novos
Por meio dessas parcerias, o ICMM atua em várias questões, como a mudança Caminhos. Mineração, Minerais e Desenvolvimento Sustentável”, lançado
climática, a saúde e a segurança de comunidades, o impacto da mineração na publicamente durante a Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, em
biodiversidade, os direitos dos povos indígenas e, também, os relexos na 2002, em Johannesburgo (IIED e WBCSD, 2002).
indústria e as consequências futuras do surgimento de novos agentes globais. A
proposta é estimular as mineradoras a apreender como é possível compartilhar 3 - É muito interessante observar como a maioria dos meios de divulgação, ao
práticas positivas” (http://www.icmm.com/portuguese) falar sobre as atividades de uma empresa, reproduz textualmente a informação
e os dados produzidos pelo setor de comunicação da empresa e divulgados
2 - Algumas das maiores empresas transnacionais mineradoras encomendaram através desses releases. Isso causa uma homogeneização quase absoluta sobre a
ao Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (IIED) o imagem que a empresa divulga de si.

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rior y derecho 2cm; Times New Roman 12; interlineado 1,5.
Escopo • Referencias bibliográicas deben ser presentadas de acuerdo a las normas establecidas
O Boletim Petróleo, Royalties e Região, vinculado ao Mestrado Profissional em Planejamen- por la Asociación Brasileña de Normas Técnicas – ABNT-NBR 6023 (Associação Brasilei-
to Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes (UCAM – Campos dos ra de Normas Técnicas).
Goytacazes), é fruto da preocupação com a difusão de dados e informações técnicas para
o debate sobre a distribuição dos royalties na região petrolífera do Estado do Rio de Janeiro. Os artigos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail:
Dessa forma, se configura como um veículo de publicação de natureza acadêmica e técnica, boletim@ucam-campos.br

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