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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
Módulo Práticas de Investigação Sociológica

PROJECTO DE PESQUISA

Desenvolvimento Sustentável e Industria Extractiva em Moçambique:um estudo de caso


sobre a sustentabilidade social da mineradora Siyrah Resourses de Balama, Cabo Delgado

Mestrando:

Ruby Muinde

Docente:
Samuel Quive
Orlando Nipassa, PhD

Maputo, UEM
2020

1
FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
MESTRADO EM SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
Módulo Práticas de Investigação Sociológica

PROJECTO DE PESQUISA

Desenvolvimento Sustentável e Industria Extractiva em Moçambique:um estudo de caso


sobre a sustentabilidade social da mineradora Siyrah Resourses de Balama, Cabo Delgado

Projecto de pesquisa apresentado a FLCS,no


Departamento de Sociologia, para fins avaliativos
no módulo de Práticas de Investigação Sociológica
e a realização da dissertação

Maputo, UEM
2020
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Índice

1. Introdução...................................................................................................................................4

2. Estado de arte.............................................................................................................................5

2.1. Desenvolvimento Sustentável (DS), Sustentabilidade Social (SS) e Indicadores de


Sustentabilidade Social (ISS).........................................................................................................5

2.2. A interface entre a sustentabilidade e a mineração.................................................................6

2.3. Indicadores de Sustentabilidade Social (ISS)..........................................................................7

2.4. Problematização......................................................................................................................9

2.5. Objectivos..............................................................................................................................11

2.5.1. Geral...................................................................................................................................11

2.5.2. Específicos.........................................................................................................................11

3. Enquadramento teórico e conceptual do estudo.......................................................................12

i) Dutch diseas (doença holandesa)..............................................................................................12

ii) Resource curse (maldição de recursos)……………………………………………………... 12

iii) Rent seeking (procura de renda).............................................................................................12

3.1. Principais conceitos-chave....................................................................................................13

4. Opções metodológicas..............................................................................................................14

4.1. Campo e sujeitos da pesquisa................................................................................................15

5. Plano de Trabalho e Cronograma de actividades.....................................................................16

6. Referências bibliográficas........................................................................................................16

3
1. Introdução

A sociedade contemporânea vive um momento em que as discussões acerca do desenvolvimento


sustentável (DS) estão em voga, o que vem desafiando os mais diversos sectores, económico,
ambiental, social, político, etc. Entretanto, a busca pelo DS coloca em questão sectores como o
da Indústria extractiva mineral que se utilizam dos recursos minerais considerados recursos não
renováveis, quer dizer, a constatação de que os recursos naturais não estariam permanentemente
disponíveis tem incitado cada vez mais a adopção de medidas, no sentido de prolongar a
utilização desses recursos de uma maneira equilibrada.

Essa preocupação já tem inclusive despertado atenção do sector Indústria extractiva mineral que,
embora ainda permaneça voltado para a obtenção do crescimento económico, já vem se obrigado
a praticar uma mudança de comportamentos e pressionada pela exigência legal de uma tríplice
licença: título minerário, licença ambiental e licença social (Fernandes et al., 2007).

Neste enquadramento, a nossa temática de investigação traduz-se na análise da sustentabilidade


social da mineradora Ryrah Resourses de Balama tendo em conta os indicadores de
sustentabilidade social1. Esta escolha do tema prende-se pelo facto de a pouca literatura nacional
existente procurar analisar este fenómeno sob ponto de vista económico e/ou ambiental. Então, é
nossa pretensão preencher essa lacuna teórica.

Em termos de metodologia, a abordagem configurar-se-á como uma pesquisa qualitativa,


exploratória, e em relação aos procedimentos técnicos, caracteriza-se como um estudo de caso e
bibliográfica

1
Labuschagne, Brent e Erck (2004) e Labuschagne e Brent (2005). é um modelo que permite captar vários níveis de
detalhes na organização e entre organizações e vários matizes, definições e elementos de sustentabilidade social.
4
2. Estado de arte
2.1. Desenvolvimento Sustentável (DS), Sustentabilidade Social (SS) e Indicadores de
Sustentabilidade Social (ISS)

A sustentabilidade, enquanto conceito, provém de um longo processo histórico de fortalecimento


da consciência humana diante do rápido desenvolvimento das sociedades (o desenvolvimento
tecnológico, em particular) em contraste com os recorrentes desastres ambientais.

Como marcos históricos fundamentais para a difusão deste novo conceito e seus correlatos, bem
como o fomento do diálogo e discussão acerca do assunto, cujas importância e influência sobre o
mundo actual crescem continuamente, podem ser citados: a Conferência das Nações Unidas
sobre o Homem e o Meio Ambiente realizada em Estocolmo (1972), marcada pela publicação do
Relatório de Meadows; o surgimento do tema ecodesenvolvimento em 1973, seguido pela
Declaração de Cocoyoc (1974); a Comissão Brundtland (1987) e o Relatório Brundtland; o
Protocolo de Montreal (1989); as Conferências das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio
Ambiente (Eco92 ou Rio/92, Rio+5 e Rio+10) realizadas em 1992, 1997 e 2002; o Protocolo de
Kyoto em 1997; e a Avaliação Ecossistêmica em 2005. (CAMPOS et all, 2013, p. 915)

Esses eventos, embora realizados em diferentes momentos, demonstram a importância, a


abrangência e o crescente amadurecimento da consciência mundial diante do tema da
sustentabilidade.

Outro conceito que se destaca, neste contexto, é o termo desenvolvimento sustentável (DS),
cunhado pela primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que o explica com a frase

[...] é o desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da


geração actual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazerem as suas próprias necessidades (WORLD, 1987, p. 12).

O grande mérito deste relatório parece ser o do esforço para tornar o conceito de DS operativo,
traduzido sinteticamente nas ditas estratégias alternativas. Portanto, o objectivo da
sustentabilidade exige que todos os países repensem suas políticas e acções em relação ao seu
impacto na ecologia mundial e no desenvolvimento socioeconómico.

5
Para Bond e Morrison-Saunders (2009) apud Campos et all (op.cit.), DS é aquele que permite
crescer, desenvolver uma actividade, uma região pautada nas dimensões económicas, sociais e
ambientais, principalmente, preocupando-se em manter um equilíbrio neste trio. Os mesmos
autores consideram que há três objectivos consagrados nas definições de DS, os quais são: o
crescimento económico, a protecção do meio ambiente e a valorização e o bem-estar do ser
humano.

De acordo com Sachs (2001), o tipo de desenvolvimento desejável propõe uma conciliação,
simultaneamente, sensível à dimensão social, ambientalmente prudente e economicamente
viável. Assim, essa conciliação o se torna preponderante para que se consiga alcançar o
desenvolvimento almejado. Para o autor, a sustentabilidade tem como base cinco dimensões
principais, que são a sustentabilidade social, a económica, a ambiental, a política e a cultural. A
SS está vinculada a uma melhor distribuição de renda com redução das diferenças sociais.

Dyllick e Hockerts (2002) apontam que, ao nível das corporações, a SS pressupõe que as
organizações adicionem valor para as suas comunidades, a partir do desenvolvimento do capital
humano de indivíduos e do capital social das comunidades. Por outras palravas, a SS refere-se
aos vínculos de confiança, de coesão social, de participação e de compartilha de projectos que
são construídos da relação que se estabelece entre o empreendimento mineiro e a sociedade
como um todo, inclusive, com o poder público.

Portanto, a conexão dessa relação é vista, por muitos pensadores, como de fundamental
importância para o estabelecimento de estratégias construtivas em prol da sustentabilidade
social em territórios mineradores. Além disso, a SS requer garantias de avanço nas condições de
saúde, educação, segurança pública e demais direitos sociais fundamentais. (DYLLICK e
HOCKERTS, 2002)

2.2. A interface entre a sustentabilidade e a mineração

A relação entre a sustentabilidade e a mineração tem levantado inúmeros debates. Para muitos,
este conceito é inaplicável para a indústria extractiva, uma vez que recurso mineral apresenta
duas importantes e específicas características: a sua rigidez locacional, a extracção mineral só
pode ser desenvolvida no local da sua ocorrência mineral, e a sua natureza finita, não renovável,
significando que inevitavelmente será fechada e abandonada. Logo, como dar garantias às

6
futuras gerações, quando os recursos utilizados para promover o desenvolvimento são finitos?
Enríquez e Drummon (s/d)

Mikesell (1994) alerta que, para ser mais do que um slogan, a proposta de DS deve apresentar
definições rigorosas, objectivos quantificáveis e indicadores de progresso ou de retrocesso em
relação a esses objectivos.

Todavia, embora se note esta aparente relação conflituosa entre o DS com a actividade mineral,
uma vez que os bens minerais, por definição, são recursos não-renováveis, há quem acredite na
conexão entre ambos. Por exemplo, Enríquez e Drummon (s/d), afirmam que, do ponto de vista
da geração actual, a mineração pode promover o desenvolvimento sustentável, se ampliar o nível
de bem-estar socioeconómico e minimizar os danos ambientais e, do ponto de vista das gerações
futuras, se conseguir proporcionar riqueza alternativa que compense os recursos esgotáveis.

Paralelamente a ideia acima, Gibson e Auty apud Kumah (2006) acreditam que é possível pensar
numa relação ente a sustentabilidade e a mineração. Estes, por exemplo, falam da necessidade da
destinação de uma parte da renda mineral para a criação de alternativas produtivas sustentáveis
quando a mineração se esgotar.

2.3. Indicadores de Sustentabilidade Social (ISS)

Os indicadores são importantes instrumentos de gestão, pois podem fornecer um alarme para
uma situação ou condição que não seria imediatamente detectável a partir das informações
iniciais (HAMMOND et al., 1995), ao mesmo tempo que possibilitam a comparação e o
acompanhamento dos processos observados (BARCELLOS, 2002). Além disso, os indicadores
podem expressar de forma resumida, simplificada e quantitativa ou qualitativa um cenário
complexo, que, quando registados ao longo do tempo, podem revelar tendências e indicar
previsões, bem como, afirmam Bakkes et al. (1994), definir acções para os processos específicos
do qual fazem parte. Seu uso deve ser considerado como uma dinâmica de transformação de
processos complexos em variáveis unidimensionais.

A ideia de desenvolver indicadores para avaliar a sustentabilidade surgiu na Conferência


Mundial sobre o Meio Ambiente – Rio 92, conforme registado no capítulo 40 da Agenda 21:

7
Os indicadores comummente utilizados, como o produto nacional bruto (PNB) ou
as medições das correntes individuais de contaminação ou de recursos, não dão
indicações precisas de sustentabilidade. Os métodos de avaliação da interacção
entre diversos parâmetros sectoriais do meio ambiente e o desenvolvimento são
imperfeitos ou se aplicam deficientemente. É preciso elaborar indicadores de
desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para adoptar decisões em
todos os níveis, e que contribuam a uma sustentabilidade auto-regulada dos
sistemas integrados do meio ambiente e o desenvolvimento” (UNITED
NATIONS, 1992).

A proposta era definir padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerassem aspectos


ambientais, económicos, sociais, éticos e culturais. Para atingir esse objectivo tornou-se
necessário elaborar indicadores que mensurassem e avaliassem o sistema em estudo,
considerando todos esses aspectos.

Assim sendo, embora muitos modelos de sustentabilidade social tenham sido propostos ou
desenvolvidos e um único modelo não possa capturar os vários matizes, definições e elementos
de sustentabilidade social, o modelo proposto por Labuschagne, Brent, Erck (2004) e
Labuschagne e Brent (2005) em estudo para avaliar a sustentabilidade de operações no sector de
manufactura, integra as muitas dimensões identificadas por outras literaturas. É um modelo que
inova, ao considerar ambos stakeholders (incluindo empregados internos, stakeholders externos e
outras populações) e medidas de sucesso nos negócios e desempenho social. (Lourenco e
Carvalho, 2013, p. 16)

. Tabela 1 - Indicadores de sustentabilidade social

Estabilidade no emprego Oportunidades de trabalho Compensações no


emprego
Práticas no emprego Práticas de segurança e disciplinares Contrato de
1. Recursos trabalho Equidade Fontes de labor Diversidade
Humanos Discriminação Flexibilidade no trabalho
Interno Saúde e segurança Incidentes de segurança e saúde Práticas de segurança
e saúde
Desenvolvimento de Pesquisa e desenvolvimento
capacidades Desenvolvimento de carreira
Saúde
Capital humano
Educação
Habitação Infra-estrutura de serviços Mobilidade de
Capital produtivo serviços; Serviços públicos e regulamentares Apoio a
instituições de educação
2. População externa
Estímulo sensorial, Segurança, Propriedades
culturais, Crescimento e prosperidade económica,
Capital comunitário Coesão social Patologias sociais, Subsídios e
doações, Patrocínio (suporte, apoio) a projectos
comunitários
8
3. Participação Audiências colectivas, Audiências
(envolvimento) selectivas ,Compromisso com stakeholders,
dos stakeholders Possibilidade de influenciar nas decisões,
Empoderamento dos stakeholders
4. Questões Prosperidade económica Oportunidades de negócios
macrossociais Monitoramento (acompanhamento) Legislação
Cumprimento das leis
Fonte: Labuschagne, Brent e Erck (2004) e Labuschagne e Brent (2005) apud Lourenço e Carvalho (2013), adaptado (2020)

A tabela acima apresenta os principais indicadores da dimensão social da sustentabilidade


relacionados aos recursos humanos internos, à população externa, à participação (envolvimento)
dos stakeholders e às questões macrossociais.

2.4. Problematização

As indústrias extractivas em África têm desempenhado um papel vital no desenvolvimento


económico dos países. Não obstante, excluindo o Botswana, é consensual entre os pesquisadores,
e academia em geral, a ideia de que a indústria extractiva não tem providenciado o tão almejado
desenvolvimento económico. Alguns destes países têm estado a observar taxas de crescimento na
ordem dos 7% a 14% mas esse aumento do Produto Interno Bruto (PIB) não se traduz em
benefícios sociais para as comunidades, muito menos proporcionado uma transformação das
estruturas produtivas dessas economias através de ligações à montante e à jusante. Chivangue
(2014)

Em Moçambique, o sector da indústria extractiva, incluindo o gás e o petróleo, tem crescido


desde 2004, impulsionado pelo investimento directo estrangeiro. A exploração dos recursos
minerais e energéticos, além da contribuição na economia nacional, tem colaborado para a
geração de empregos e renda para os trabalhadores nas regiões onde se localizam os
empreendimentos mineiros.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística - INE (2012), o sector dos recursos minerais e
energias tem registado avanços assinaláveis, principalmente em relação a sua contribuição no
Produto Interno Bruto (PIB), em que, em 2006, este sector foi responsável por 1,6%, em 2008,
por 3% e em 2011 por 5% do valor total do PIB.

9
Todavia, além dos benefícios, a exploração destes recursos produz vários impactos negativos
sobre o meio físico e introduz uma série de transformações sócio-espaciais e ambientais em nível
local e nas áreas adjacentes aos empreendimentos mineiros, como apontam MacMachon e Remy
(2001) para América Latina Canadá e Espanha ao afirmarem que a exploração mineira envolve a
degradação do ambiente e do património cultural, e cria mudanças na estrutura social e
económica das comunidades receptoras destas actividades. (BATA, 2014)

Bandeira et al (2005), em Moçambique, os principais efeitos ambientais da exploração dos


recursos minerais são: a poluição da água, a infertilidade dos solos, a depredação das florestas, a
poluição do ar em áreas de maior concentração populacional e as mudanças no equilíbrio de
alguns ecossistemas, resultante da emissão de gases, como o dióxido de enxofre, óxidos de
nitrogénio e monóxido de carbono.

Com efeito, as grandes preocupações assentam-se na falta de consultas comunitárias para a


concessão da actividade de prospecção nestes locais onde as empresas desenvolvem as suas
actividades e as quantidades de terras concedidas às empresas ou pessoas singulares para a
prática de prospecção cria-nos alguma inquietação quanto a grandeza da extensão atribuída aos
peticionários. (CPOS2, 2017)

O CPOS, em 2016, num estudo intitulado Responsabilidade Social e Corporativa (RSC) da


empresa como uma exigência ética, constatou que, em Cabo Delgado, a empresa Montepuez
Ruby Manning, de um modo geral, não realiza acções de RSC, mas sim acções pontuais que não
têm a comunidade como referência, mas sim preocupação de vender a imagem da empresa
através de pequenos gestos de entrega de bens e materiais não duradouros de forma unilateral,
sem nenhum acordo mútuo baseado em consultas para a recolha das necessidades reais das
comunidades afectada.

A Syrah Resources é uma empresa mineira australiana que está operar, desde 2018, no distrito de
Balama, a sul da província de Cabo Delgado, e tem proporcionado benefícios tanto para a
população local quanto para a economia do País, mas também desencadeia uma série de
impactos negativos sobre o meio, (re) configurando novas espacialidades e novas dinâmicas
sociais.

2
Centro de Pesquisa e Observatório Social
10
Assim, cientes de que as transformações inerentes à exploração de grafite em Balama são de
extrema importância para compreender as relações, as tramas, os impactos, no quadro da
sustentabilidade social, surge-nos as seguintes questões:

1. Será que a da Syrah Resourses é uma empresa socialmente sustentável para as


comunidades hospedeiras?
2. Qual é o modelo de actuação da empresa em relação às comunidades locais?
3. Que valor adiccional a Syrah Resourses acrescenta `as comunidades locais?

2.5. Objectivos

A presente análise irá nortear-se pelos seguintes objectivos:

2.5.1. Geral

Compreender a sustentabilidade social da Industria Extractiva em Moçambique

2.5.2. Específicos

i) Buscar diferentes percepções da população externa e dos stakeholders sobre a


mineradora Syrah Resourses de Balama;
ii) Analisar eficácia dos programas de responsabilidade social corporativa, levadas a cabo
pela empresa Syrah Resourses de Balama;
iii) Verificar as interacções entre as comunidades locais, o governo e a Syrah Resourses; e
iv) Identificar o modelo de relatório de sustentabilidade adoptado pela Syrah Resourses.

3.6. Hipótese

Com base na análise da bibliografia e na pesquisa exploratória do terreno em Balama,


produzimos a seguinte hipótese de partida:

A sustentabilidade social da indústria extractiva em Moçambique só pode ser garantida através


investimento directo em projectos sociais pela própria empresa, depois da devida auscultação
da população hospedeira.

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3. Enquadramento teórico e conceptual do estudo

A literatura que procura analisar as dinâmicas da indústria extractiva no mundo vai buscar as
suas fundações teóricas em abordagens como:

1. Dutch diseas (doença holandesa)

A doença holandesa é um problema antigo, essencial para a compreensão do desenvolvimento e


do subdesenvolvimento, mas só foi identificada nos anos 1960, nos Países Baixos, onde a
descoberta e exportação de gás natural apreciou a taxa de câmbio e ameaçou destruir toda a
indústria manufatureira do país.

A doença holandesa é uma falha de mercado que gera externalidades negativas nos outros
sectores de bens e serviços comercializáveis da economia impedindo esses sectores de se
desenvolverem não obstante usem a melhor tecnologia e as melhores práticas administrativas.
(Bresser-Pereira, Marconi e Oreiro, s/d)

2. Resource curse (maldição de recursos)


A maldição dos recursos naturais, também conhecido como o paradoxo da abundância, refere-se
ao paradoxo em que os países e regiões, com uma abundância de recursos naturais,
especificamente recursos não-renováveis, como o mineral e combustível, tendem a ter
menos crescimento económico e piores resultados de desenvolvimento se comparados a países
com menos recursos naturais.

3. Rent seeking (procura de renda)

- O termo rent seeking é usado para descrever quando um agente privado busca garantir seus
interesses económicos manipulando o ambiente a seu favor. Essa manipulação se dá, na maioria
das vezes, através da influencia sobre decisões públicas, por meio de lobbys e corrupção.

- A sua lógica está ligado a concessão de privilégios privados para uma empresa ou grupo em
detrimento dos interesses públicos

- Como, consequências possíveis, de um ponto de vista teórico, o risco moral do rent-


seeking pode ser considerável. Se "comprar" um ambiente regulatório favorável for mais barato

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que construir uma produção mais eficiente, uma firma pode escolher a primeira opção, colhendo
uma receita inteiramente sem relação com qualquer contribuição à riqueza ou bem-estar social.

- O dinheiro é gasto em lobistas e contralobistas ao invés de em pesquisa e desenvolvimento,


melhores práticas de negócios, treinamento de empregados ou bens de capital adicionais, o que
retarda o crescimento socioeconómico

Assim sendo, a análise da sustentabilidade social da mineradora Syrah Resourses será feita à luz
da teoria Rent seeking, por se mostrar mais adequada captar o objecto de estudo que nos
propusemos compreender.

3.1. Principais conceitos-chave

Os conceitos que permutarão no permitir uma leitura aprofundada do objecto de estudo são:

1. Sustentabilidade social

Dyllick e Hockerts (2002) apontam que, no nível das corporações, a sustentabilidade social
pressupõe que as organizações adicionem valor para as suas comunidades, a partir do
desenvolvimento do capital humano de indivíduos e do capital social das comunidades.

2. Capital (humano, produtivo e comunitário), segundo (Lourenco e carvalho, 2013, p. 16)

- capital humano - refere-se à capacidade do trabalho de proporcionar aos indivíduos um ganho


que possa abranger aspectos como a saúde, bem-estar psicológico, treinamento e
desenvolvimento.

- capital produtivo - Este tópico pode incluir moradia, serviço e mobilidade da infraestrutura e
segurança pública e regulatória. O capital produtivo envolve recursos e a infraestrutura que um
indivíduo necessita para manter uma vida produtiva

- capital comunitário - Este critério considera o efeito das iniciativas da organização no apoio a
projetos sociais e os relacionamentos com outras instituições, estabelecendo redes de confiança,
reciprocidade e suporte, considerando as características culturais da comunidade em que a
organização actua.

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4. Opções metodológicas

Em termos de metodologia, a abordagem configurar-se-á como uma pesquisa qualitativa,


exploratória, e em relação aos procedimentos técnicos, caracteriza-se como um estudo de caso e
bibliográfica.

Optaremos pela metodologia de natureza qualitativa, pois entendemos que o pesquisador busca
compreender um processo social da problemática sustentabilidade social de um empreendimento.
Segundo Creswell (2010), na investigação qualitativa, as estratégias escolhidas têm enorme
influência sobre os procedimentos. O pesquisador pode estudar o(s) indivíduo(s), explorar
processos, actividades e eventos ou aprender sobre comportamento da cultura de indivíduos ou
grupos. Para Demo (1995, p. 32) a pesquisa qualitativa mira nos “[...] aspectos da realidade que
não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das
relações sociais”, pois enfatiza a interpretação do objecto, levando-se em consideração o
contexto pesquisado.

O estudo será exploratório porque foi identificada uma lacuna nos estudos teóricos e empíricos
na literatura nacional e internacional de pesquisas que abordam o tema da sustentabilidade na
indústria extractiva em sua dimensão social. Segundo Mattar (2008), esta abordagem
exploratória é válida para aumentar o conhecimento do pesquisador sobre o tema abordado,
podendo auxiliar a definir as prioridades e gerar subsídios sobre as possibilidades práticas de
encaminhamento da pesquisa.

Por meio de pesquisa bibliográfica serão analisados diversos materiais, como artigos, sites,
revistas científicas e livros, que tratam de sistemas de indicadores os quais visam mensurar a
sustentabilidade, especialmente na dimensão social.

Os instrumentos utilizados na pesquisa serão: observação e entrevista. Julgamos que eles nos
permitiram investigar com o rigor científico que se espera de uma pesquisa, mas com um olhar
sensível e detalhista para com o próprio campo de actuação. A observação é uma das técnicas
mais utilizadas para obtenção de informações para pesquisas. Com este instrumento pode-se
observar os fatos e correlações existentes. A observação, segundo Marconi e Lakatos (2003), é
importante, pois pode comprovar uma teoria, um discurso na prática. O pesquisador precisa estar
atento às situações ao seu redor, procurando compreender as condições objectivas e subjetivas5

14
que compõem o campo de estudo. A entrevista propicia situações de contacto com o
entrevistado, mesmo que seja necessário criar um ambiente informal para realizá-la. Trata-se de
uma técnica rigorosa que necessita de um panejamento prévio e roteiros que delimitem o
percurso para se alcançar os objectivos da pesquisa.

Portanto, uma vez que a pesquisa será de cunho qualitativo buscaremos nos instrumentos captar
não só o que está posto, mas o interdito no discurso, nas entrelinhas de cada resposta,
possibilitando uma gama de informações essenciais para a reflexão crítica.

4.1. Campo e sujeitos da pesquisa

O campo de estudo será no distrito de Balama, na província de Cabo Delgado, aonde se localiza
a mineradora Syrah Resourses. O distrito foi criado em 25 de Junho de 1986 e, actualmente, De
acordo com o Censo de 2017, o distrito tem 180 957 habitantes numa área de 5619 km². A
população registada no último censo representa um aumento de 69% em relação aos 124 100
habitantes contabilizados no Censo de 2007.

Os sujeitos da pesquisa serão a população das aldeias de Ntete, Mwalia, Pirira e Nkwidi,
trabalhadores da Syrah Resourses e governo do distrito de Balama. A amostra será aleatória
simples, a medida em que todos indivíduos têm a mesma chance que faz parte da pesquisa, sendo
que entrevistaremos 10 pessoas de cada uma das aldeias acima citadas, 6 (seis) trabalhadores da
Ryrah Resourses, 3 (três) funcionários da administração do distrito de Balama.

5. Plano de Trabalho e Cronograma de actividades

Atividade Ago,Set, Out Nov Dez Jan, Fev Marc Quem OBS

15
1 2 3 4 1 2 3 4 5 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Prat. Investig. Sociológica Ruby FLSC

Pesqisa exploratoria Ruby Balama


Levantamento bibliográfico
(problematização e modelo Ruby Maputo
teórico e conceitos)

Entrega do projecto e interacção Ruby e


Por difinir
do Supervisor Supervis

Pesquisa de campo Ruby Balama

Ruby e
Análise e compilação dos dados Supervis Pemba

Ruby e
Elaboração da dissertação Supervis Pemba

Revisão linguística Consult Maputo

FLSC
Entrega da dissertação Ruby

FLSC
Defesa da dissertação Ruby

6. Referências bibliográficas

Bata, E. J. (2014). A vulnerabilidade socioambiental nas áreas de exploração das pedras


preciosas e semipreciosas nas aldeias de Nanhupo e Nséue, em Namanhumbir, distrito de
Montepuez (Moçambique), no período de 2004 – 2011. (dissertação de mestrado)

Bresser-Pereira, L. C.; Marconi, N.; e Oreiro, J. L. Doença holandesa (capítulo 5 de Structuralist


Development Macroeconomics, Londres: Routledge) a ser publicado

Campos et all (2013). Relatório de sustentabilidade: perfil das organizações brasileiras e


estrangeiras segundo o padrão da Global Reporting Initiative. Gestão & Produção

Creswell, J. (2010). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3 ed. Porto
Alegre: Artmed.

Demo, P. (1995). Metodologia científica: em ciências sociais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

Dyllick, T.; Hockerts, K. (2002). Beyond the business case for corporate sustainability. Business
Strategy and the Environment, n. 11, p. 130-141.

16
Centro de Pesquisa e Observatório Rural. (2017). Humanizando a actividade de exploração
mineira. ECD

Gil, A. C. (1999). Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas

______. (2002). Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002

Labuschagne, C.; Brent, A. C.; Claasen, S. J. (2005). Environmental and social impact
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Social Responsibility and Environmental Management, n. 12, p. 38-54,

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Acesso em : 13 Julho 2020.

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23, n. 2, p. 159-168.

Lourenço, M.L. & Carvalho, D. (2013). Sustentabilidade social e desenvolvimento sustentável.


RACE, Unoesc, v. 12, n. 1, p. 9-38, jan./jun.

Marconi, M. A.; LAKATOS. E. M. (2003). Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São


Paulo : Atlas

Silva, M. A. R. da, & Drummond, J. A. (2005). Certificações socioambientais: desenvolvimento


sustentável e competitividade da indústria mineira na Amazônia. Cadernos EBAPE.BR.

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