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Artigo

Sul Global. 2 (2): 115-137 [2021]

A política externa do México no governo de López Obrador


e as relações com os EUA
Marcela Franzoni (1) e Luis Fernando Ayerbe (2)
1- Doutoranda e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago
Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP)
2- Livre-Docente em História pela Universidade EstadualPaulista (Unesp)

Introdução Analistas (Modonesi, 2018; Centeno,


2021) discutiram a possibilidade de
Andrés Manuel López Obrador que o México estivesse passando por
(AMLO) foi eleito presidente do México um “progressismo tardio”, em
com a expectativa de que faria referência à política externa dos
transformações profundas no país. A partidos de centro-esquerda que
chegada do Movimento Regeneração governaram a América Latina na
Nacional (Morena), partido pelo qual foi primeira década do século XXI. Estes
eleito, representou uma alternância para governos reforçaram as instâncias
o sistema político mexicano, dominado regionais, caso da União das Nações
pelo Partido Revolucionário Institucional Sul-americanas (Unasul) e da
(PRI), de 1929 a 2000 e de 2012 a 2018, Comunidade de Estados Latino-
e pelo Partido da Ação Nacional (PAN), Americanos e Caribenhos (Celac),
de 2000 a 2012. Além disso, o projeto de menos institucionalizada que a
desenvolvimento “pós-neoliberal” da primeira citada, como forma de reduzir
Quarta Transformação, conforme a influência extrarregional e conquistar
apresentado nos documentos oficiais, maior autonomia no sistema
pressupunha a redistribuição de renda, a internacional. O paralelo com os
maior participação do Estado na partidos de centro-esquerda sugere
economia e o combate à corrupção, que o governo AMLO poderia se
extinguindo os privilégios herdados dos aproximar dos países da América
governos anteriores e arrematando Latina e do Caribe, sobretudo da
recursos para as políticas sociais e os Argentina, após a eleição de Alberto
projetos de infraestrutura (México, Fernández, em 2019, e
Diário Oficial de la Federación, 2019). contrabalancear a dependência
As expectativas de mudança na econômica do México em relação aos
política interna alimentaram a de Estados Unidos.
mudanças também na política externa, O objetivo do artigo é discutir a
apesar de o tema não ter recebido política externa do governo de López
atenção significativa de López Obrador. Obrador e as relações do México com
os Estados Unidos. Argumentamos que,
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A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

apesar de seu discurso transformador, as relações bilaterais na administração


López Obrador sinaliza para a de Joseph Biden, iniciada em 20 de
continuidade nas relações com o janeiro de 2021. Por último, as
vizinho, tendo adotado uma posição conclusões finais.
colaborativa, mas subordinada, com o
governo de Donald Trump (2016- A política externa de Peña Nieto e as
2020). A posição do presidente relações com os Estados Unidos
mexicano se justifica pela relação
assimétrica com os EUA, condição que A eleição de Enrique Peña
limita as possibilidades de autonomia Nieto representou a volta do Partido
por parte da política externa nacional. Revolucionário Institucional à
Diante da ampla agenda das Presidência do México depois de dois
relações México-Estados Unidos, o governos consecutivos do Partido Ação
artigo aborda com maior profundidade Nacional (2000-2012). EPN, como é
a questão comercial e migratória. conhecido, assumiu o cargo em meio
Ambas se destacaram no início do às contestações internas e externas da
governo AMLO, devido às negociações estratégia de combate ao crime
do Acordo Estados Unidos-México- organizado empreendida pelo
Canadá (USMCA, em inglês), que presidente Felipe Calderón (2006-
substituiu o Tratado de Livre-Comércio 2012), que legou ao país o aumento da
da América do Norte (NAFTA, em violência e as denúncias de corrupção
inglês), em 1º de julho de 2020; e a por parte das forças armadas e
crise migratória na América Central. As policiais.
políticas mexicanas nestas temáticas Enrique Peña Nieto buscou
indicam que o governo de López imprimir ao Partido uma ideia de
Obrador pretende aproveitar a renovação. Em 1º de dezembro de
magnitude dos vínculos bilaterais com 2012, o governo aprovou no Congresso
os EUA para implementar as questões Nacional um conjunto de 11 reformas
de incidência na política interna e estruturais conhecidas como “Pacto
externa do México. pelo México”, as quais tinham como
O artigo está dividido em mais objetivo: 1. Elevar a produtividade e
três partes, além desta introdução. A impulsionar o crescimento econômico;
segunda seção realiza um balanço da 2. Fortalecer e ampliar os direitos dos
política externa do governo de Enrique mexicanos; e 3. Afiançar o regime
Peña Nieto (2013-2018) e das relações democrático e de liberdades (México,
do México com os Estados Unidos. A Secretaría de Relaciones Exteriores,
terceira seção discute a política 2016). Aprovado com o apoio do PAN e
externa do governo de López Obrador do PRD, o Pacto incluiu a Reforma em
e as principais medidas adotadas na Matéria de Competição Econômica, de
política comercial e migratória. Telecomunicações e Radiodifusão,
Ademais, discute as perspectivas para Fiscal, Financeira, Trabalhista,
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Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

Educativa, em Matéria de modernização do México dependia dos


Transparência, Político-Eleitoral e a resultados macroeconômicos das
Reforma Energética, que causou reformas estruturais aprovadas em
polêmica ao promover a abertura do dezembro de 2012. Para isso, Peña
setor petroleiro e romper com o Nieto investiu em uma intensa agenda
monopólio da estatal Petróleos diplomática durante o sexênio, que
Mexicanos (PEMEX) na exploração e na incluiu a participação em fóruns
produção de hidrocarbonetos. multilaterais, reuniões de trabalho e
As reformas estruturais visitas oficiais a vários países (Meda;
reforçaram a dimensão econômica Aguilar, 2017).
como eixo central da política externa Nas relações com os Estados
mexicana (Ulloa, 2014; Meda e Aguilar, Unidos, o Plano Nacional de
2017). Por um lado, ela significou uma Desenvolvimento 2013-2018 destacou
retomada da estratégia adotada pelo a perspectiva de alargar os temas da
PRI na década de 1990, quando a agenda para além dos comerciais,
diplomacia nacional buscou abrir como direitos humanos e promoção da
oportunidades de comércio e de democracia, mas não mencionou a
investimentos por meio de Tratados de negociação de uma política migratória
Livre-Comércio. Por outro, o “Pacto (México, Diário Oficial de la
pelo México” seria uma forma de Federación, 2013). Esta foi uma
atribuir menos importância à agenda diferença com relação aos governos de
de segurança, que tinha sido a tônica Vicente Fox (2000-2006) e de Felipe
do governo de Felipe Calderón. A Calderón (2006-2012): no primeiro,
mudança de narrativa ganhou buscou-se aprofundar o NAFTA e
destaque nas publicações negociar com os EUA um acordo
internacionais. A revista The Economist migratório, que não avançou após os
falou em “The Rise of Mexico”, a atentados de 11 de setembro de 2001;
Foreign Affairs, em “Mexico Makes It: com Calderón, os dois países
A Transformed Society, Economy and negociaram a Iniciativa Mérida, que
Government” e, com Enrique Peña formalizou a cooperação com os EUA
Nieto na capa, a revista Time escreveu no combate ao narcotráfico no México.
“Saving Mexico”. Em maio de 2013, o México e os EUA
A política externa de Peña acordaram o Diálogo Econômico de
Nieto teria o papel de projetar a Alto Nível (DEAN), cujos objetivos
imagem de um México moderno, eram: 1. Promover a competitividade e
seguro para os investidores a conectividade; 2. Fomentar o
internacionais e competitivo no crescimento econômico, a
comércio exterior. Alimentou-se, produtividade, o empreendedorismo e
portanto, uma relação coconstitutiva a inovação; e 3. Exercer liderança
entre a política interna e a externa, na regional e global de forma conjunta
qual o sucesso da imagem de (México, Secretaría de Relaciones
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A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

Exteriores, 2018). Por parte do México ingressou em outubro de 2012.


governo do México, o DEAN foi Considerado pelo governo mexicano a
copresidido pelas Secretarias de “negociação comercial mais importante
Relações Exteriores, da Fazenda e do e ambiciosa a nível mundial” [1], o
Crédito Público, e de Economia. Dos Acordo seria uma forma de o México
Estados Unidos, pelo Departamento de expandir as relações comerciais com
Estado, de Comércio e de países da região da Ásia-Pacífico e que
Representação de Comércio dos são pouco representativos na pauta de
Estados Unidos (USTR, em inglês). comércio exterior do país, como
Além destes órgãos, buscou-se agregar Austrália, Brunei Darussalam, Malásia,
outras agências dos governos Nova Zelândia, Singapura e Vietnã.
nacionais, além do setor privado e da Além disso, era uma oportunidade de
sociedade civil, para transformá-lo no ampliar as trocas comerciais com
principal fórum de discussão bilateral países, com os quais o México já tinha
para os temas econômicos. Tratados de Livre-Comércio — caso de
Os representantes do México e Chile, Japão, Peru, Canadá e EUA.
dos EUA se reuniram em 2013, 2015 e A participação do México no
2016. Dentre os temas tratados no TPP também foi considerada uma
DEAN, destacam-se a harmonização forma de harmonizar a política
regulatória para facilitar a produção na comercial do país com a dos Estados
região fronteiriça, cooperação Unidos. Na prática, o Acordo de
educacional e oferta de bolsas para Associação Transpacífico atualizou o
estudantes mexicanos e NAFTA (Cruz, 2019), pois ele incluiu
estadunidenses, medidas de combate à temas que não tinham sido negociados
corrupção e de ampliação da pelos três países na década de 1990 e
transparência governamental e a aprofundou outros, nos quais as
modernização do trânsito na fronteira normas tinham baixo enforcement,
binacional, como a construção de como as trabalhistas. Mesmo que o
novos portos de entrada e de conexão governo de Donald Trump tenha
aeroportuária entre os dois países retirado os Estados Unidos do TPP, em
(México, Secretaría de Relaciones janeiro de 2017, as novas diretrizes
Exteriores, 2018). Contudo, apesar de negociadas no Acordo, como as regras
sua importância no governo de Enrique trabalhistas, serviram como base para
Peña Nieto, o mecanismo foi a modernização do Acordo Estados
descontinuado após a eleição de Unidos-México-Canadá, uma das
Donald Trump. principais promessas de campanha do
No âmbito multilateral, o presidente estadunidense.
governo de Peña Nieto deu Para além da participação no
continuidade às negociações do Acordo TPP, o governo mexicano ingressou em
Estratégico Transpacífico de Associação espaços informais de diálogo com os
Econômica (TPP, em inglês), em que o países emergentes da Ásia-Pacífico. Em
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Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

2013, o grupo MIST (México, As iniciativas na América Latina


Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), e na Ásia estavam alinhadas à tentativa
que recebeu o nome de MIKTA após a de longa data da política externa do
incorporação da Austrália, tinha a México de diversificar as relações
expectativa de aprofundar a econômicas internacionais, que ganhou
cooperação política entre os países e destaque em momentos de
de estabelecer uma contraposição ao instabilidade nas relações com os
Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e Estados Unidos. O conceito sugere que
África do Sul). A participação nestas o país poderia diminuir a dependência
iniciativas foi considerada uma em relação à grande potência, ao
oportunidade para o México intensificar as relações econômicas com
desempenhar um papel mais outros sócios, como América Latina e o
destacado no cenário internacional, Caribe, União Europeia e, mais
um “ator de responsabilidade global" recentemente, China. Contudo, mesmo
(México, Diário Oficial de la que o México tenha Tratados de Livre-
Federación, 2013), além de diversificar Comércio com 50 países, não há
as relações econômicas internacionais. nenhum país, ou região, que possa
O retorno do México às equilibrar o peso dos Estados Unidos no
Operações de Paz da Organização das comércio exterior mexicano. A
Nações Unidas (ONU) também sinaliza dependência econômica em relação aos
para este objetivo. EUA faz com que os acordos com outras
O maior engajamento com a regiões tenham baixo alcance no
Ásia-Pacífico foi ainda uma das comércio exterior e, assim, limitam o
motivações do governo do México nas interesse da política externa mexicana
iniciativas da América Latina, como a por iniciativasmais institucionalizadas.
Celac e a Aliança do Pacífico. A última, O tema recobrou importância
criada em 2012 por México, Peru, após o notório discurso antimexicano
Colômbia e Chile, buscava facilitar as adotado pelo candidato Donald Trump
trocas multilaterais e projetar os países durante a campanha eleitoral dos EUA,
para a Ásia, em busca de ampliar o em 2016. Trump ameaçou completar a
comércio e os investimentos. Como construção do muro na fronteira
todos os membros tinham Tratados de binacional e fazer o México pagar por
Livre-Comércio com os EUA, a Aliança ele, deportar em massa os imigrantes
era funcional aos interesses da grande mexicanos que vivem no país vizinho e
potência (Turzi, 2014). Ainda assim, o sair do NAFTA, caso o Tratado
comércio do México com Peru, Chile e não fosse modernizado (Barragán,
Colômbia é muito pouco desenvolvido 2017). Para González e Castillo (2019),
em relação às trocas totais — 1,4% das a política externa mexicana passou
exportações, e 0,8%, das importações, para uma fase de retração (2015-2017)
em 2019 (México, Secretaría de e depois de contenção (2017-2018),
Economía, 2021).
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A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

em que os objetivos se resumiram a PRI e a instabilidade nas relações com


amortecer os danos ocasionados pelas os Estados Unidos abriram caminho
ameaças dirigidas ao México. A para a vitória de López Obrador, em 2
conjuntura era de grande instabilidade de julho de 2018.
para o desenvolvimento econômico do
país, que não tinha condições de A política externa do governo de
absorver os cerca de 4,9 milhões de López Obrador
cidadãos sem documentos que viviam
nos Estados Unidos e que poderiam ser A eleição de López Obrador
deportados (Passel e Cohn, 2019). representou uma alternância histórica
Além disso, a possibilidade de que os dentro do sistema político-partidário
EUA saíssem do NAFTA gerou grande mexicano. Apesar de AMLO ser uma
instabilidade para a economia do figura antiga na política nacional, o
México, pois o vizinho é destino de Movimento Regeneração Nacional,
80% das exportações mexicanas e partido pelo qual se elegeu, foi criado
origem de 37% dos investimentos em 2012. AMLO começou sua carreira
externos (México, Secretaría de política no Partido Revolucionário
Economía, 2021). Institucional e, em 1989, fundou o
Além da crise nas relações com Partido da Revolução Democrática
os Estados Unidos e seus impactos na (PRD). Pelo PRD, foi chefe de governo
política doméstica, Peña Nieto do Distrito Federal entre 2000 e 2005 e
enfrentou circunstâncias internas que disputou as eleições presidenciais em
mancharam a pretendida imagem de 2006 e 2012, quando anunciou sua
país moderno. Em setembro de 2014, o saída para fundar o Morena. Em 2018,
desaparecimento de 43 estudantes no disputou as eleições pela coalizão
município de Iguala, no estado de “Juntos Faremos História”, que incluiu
Guerrero, foi alvo de grande o Partido do Trabalho (PT) e o Partido
repercussão nacional e internacional, Encontro Social (PES), e foi eleito com
crime que está sendo investigado pela uma votação massiva de 53% dos
Comissão para a Verdade e o Acesso à votos, além de ter conquistado maioria
Justiça no caso Ayotzinapa, criada em na Câmara e no Senado.
junho de 2018. Além disso, o governo López Obrador apresentou um
sofreu denúncias de corrupção que discurso fortemente modernizador. Em
envolviam Angélica Rivera, esposa do referência aos três momentos-chave
presidente, e Javier Duarte, aliado da história mexicana — Independência
próximo e ex-governador de Veracruz. (1821), Reformas de Benito Juárez
Por fim, o crescimento econômico (1858-1861) e Revolução (1910) —,
também ficou aquém do projetado AMLO prometeu a Quarta
pelo governo — 2,4% ao ano, entre transformação e indicou que faria
2013 e 2018 (World Bank, 2021). Os mudanças profundas no país, ainda
descontentamentos com o retorno do que não estivesse claro o que isso
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Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

significava. As mudanças estariam Miguel de La Madrid (1982-1988) e de


ancoradas na construção de um Salinas de Gortari (1988-1994), que
projeto de desenvolvimento “pós- teriam legado ao México um
neoliberal”, caracterizado pela “desenvolvimento desestabilizador”
retomada do papel do Estado na (México, Diário Oficial de la Federación,
condução das políticas públicas, pelo 2019). O termo fazia referência ao
combate às desigualdades desarrollo estabilizador, o projeto de
socioeconômicas e pelo reforço do reforma fiscal e monetária que garantiu
Estado de direito. Almejava-se o um período de crescimento econômico
estabelecimento de um novo contrato sustentado da economia mexicana
social em prol de “enterrar o entre 1954 e 1970.
neoliberalismo”, a partir de uma O documento atribui especial
reforma "pacífica" e “democrática" ênfase às políticas de enfrentamento
(México, Diário Oficial de la da corrupção, considerada o principal
Federación, 2019), sendo que por legado dos governos anteriores a ser
“neoliberal" entendia-se: combatido. A recuperação destes
recursos seria utilizada como fonte de
[…] desmantelamento sustentado financiamento para os programas
da presença do setor público e a dramática sociais, como bolsas e pensões para os
redução do setor social; abertura comercial idosos e a construção de
indiscriminada; desregulação em todas as universidades; e os projetos de
frentes; supressão, ou redução, dos direitos infraestrutura, caso do corredor Del
e conquistas trabalhistas; eliminação dos Istmo e do Trem Maya. Parte dos
subsídios gerais e substituição por sistemas recursos necessários também seria
clientelistas focalizados nos setores mais viabilizada por meio da adoção de uma
empobrecidos; parcelamento das "política de austeridade republicana”,
faculdades governamentais em comissões que inclui disciplina fiscal, respeito à
e organismosautônomos e a abdicação de autonomia do Banco do México e
poderes do governo em diversas instâncias fortalecimento do mercado interno
internacionais, no marco da inserção do (México, Diário Oficial de la
país na economia global [2] (México, Federación, 2019).
Diário Oficial de la Federación, 2019, Os objetivos apresentados
tradução nossa). para a política externa foram
genéricos. Quando questionado sobre
O projeto de desenvolvimento o tema, López Obrador argumentou
pós-neoliberal apresentado por López que a “melhor política externa era a
Obrador se ancorava na promessa interna”, indicando priorização da
redistributiva e no combate aos agenda doméstica. No âmbito das
privilégios (Centeno, 2021). O Plano relações com os Estados Unidos, o
apresentou uma crítica ao governo de Plano Nacional de Desenvolvimento
2019-2024 destacou que as relações
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A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

bilaterais seriam baseadas no respeito


mútuo [3], na cooperação para o entrou em vigor (Centeno, 2021). Neste
desenvolvimento e na busca por contexto, as relações com os EUA se
soluções negociadas para os problemas tornaram estruturais na política externa
comuns (México, Diário Oficial de la do México, reduzindo as possibilidades
Federación, 2019). Com a América de mudança governamental.
Latina, mencionada apenas uma vez no O presidente mexicano
PND 2019-2024, se “impulsionará com realizou uma visita oficial até março de
ênfase os intercâmbios econômicos, 2021 e não esteve presente em
culturais, científicos e tecnológicos” [4] nenhuma reunião de fórum
(México, Diário Oficial de la multilateral, eventos que contaram
Federación, 2019). O documento não com a presença de Marcelo Ebrard,
faz menção à Celac, à Aliança do secretário de Relações Exteriores. Em 8
Pacífico, nem à China, o que de julho de 2020, López Obrador
dimensiona a falta de objetivos claros e visitou Washington a convite de
o desinteresse do governo de López Trump, no marco da entrada em vigor
Obrador pela política externa. do USMCA. A visita teve repercussões
O PND 2019-2024 deixa negativas no México já que, em pleno
evidente que o discurso de processo eleitoral estadunidense,
modernização nacional não atingiria a López Obrador se encontrou apenas
política externa e as relações com os com o então presidente Trump,
Estados Unidos, que seriam mantidas candidato à reeleição pelo Partido
como prioridade da inserção Republicano. Na ocasião, AMLO
internacional do México. A equipe de declarou que “estava ali para expressar
transição do governo AMLO ao povo dos Estados Unidos que seu
acompanhou as últimas etapas da presidente tinha-se referido ao México
negociação do USMCA, concluído ainda com gentileza e respeito” e que "estão
no governo de EPN, indicando que a optando por caminhar juntos pelo que
transição e a ratificação do Acordo está por vir, privilegiar o entendimento
seriam feitas sem rupturas nas e deixar de lado as diferenças, ou
relações com o vizinho. Além disso, o resolvê-las com diálogo e respeito
neoliberalismo mexicano é mais mútuo” (apud Doque, 2020). Na
institucionalizado do que em outros mesma ocasião, Trump chegou a dizer
países da América Latina e do Caribe, que “a relação entre os Estados Unidos
justificado pelo grau de e México nunca tinha sido tão próxima
aprofundamento das reformas e como agora” [5]. Os principais temas
posterior comprometimento nas abordados pelos dois países foram o
instâncias internacionais, como a USMCA e o controle do fluxo migratório
Organização para a Cooperação e proveniente da AméricaCentral.
Desenvolvimento Econômico (OCDE),
em 1994, mesmo ano em que o NAFTA
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Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

Economia e comércio trabalhistas nos países sócios, como


forma de evitar que a flexibilização das
As relações econômicas do legislações nacionais seja utilizada para
México com os EUA no governo de López obter vantagens comerciais. Segundo a
Obrador ficaram marcadas pela entrada Federação Americana do Trabalho e
em vigor do Acordo Estados Unidos- Congresso de Organizações Industriais
México-Canadá, em 1º de julho de 2020. A (AFL-CIO) (2018), maior sindicato dos
modernização do NAFTA era uma das EUA, as medidas eram necessárias para
principais promessas de campanha do ex- combater “acordos comerciais injustos”
presidente Donald Trump, que considerou e que “destroem as vidas das famílias
o Tratado o “pior acordo já assinado pelos trabalhadoras”.
Estados Unidos” (apud Davis e Rappeport, A expectativa é que o USMCA
2017). As negociações, iniciadas ainda no seja um modelo para futuros tratados
governo de Enrique Peña Nieto, em 16 de comerciais. Ele incluiu temas que não
agosto de 2017, ficaram marcadas por estavam presentes no NAFTA, como
ameaças de Trump de que os EUA comércio digital, pequenas e médias
poderiam deixar o acordo, caso ele não empresas, medidas anticorrupção e
fosse modernizado. Esta possibilidade práticas regulatórias (Sáez, 2019); e
trouxe grande instabilidade para o peso aprofundou as regras de origem da
mexicano e, como consequência, para a indústria automobilística e as
economia nacional. Os EUA e o Canadá regulações trabalhistas e ambientais,
eram signatários do Tratado de Livre- antes acordos paralelos. No âmbito das
Comércio entre Canadá e Estados Unidos, regulações trabalhistas, o USMCA
em vigor desde 1989, que regularia as reforçou os compromissos dos países
relações comerciais em caso de eventual membros com a Declaração da
saída dos EUA do acordo trilateral. Organização Internacional do Trabalho
O USMCA é parte da estratégia sobre os Princípios e Direitos
de Donald Trump de realocar as Fundamentais, de 1998, e instituiu que
companhias estadunidenses de volta as violações das normas podem ser
ao país, diminuindo o déficit comercial levadas ao mecanismo de solução de
dos EUA e gerando postos de trabalho controvérsias, com a possibilidade de
mais qualificados. Para Robert sanções comerciais.
Lighthizer (2020), ex-representante de O Acordo ainda prevê que 40%
Comércio dos Estados Unidos, o dos veículos leves devem ser
Acordo é fruto da nova abordagem da produzidos por trabalhadores que
política comercial de priorizar a ganhem ao menos US$ 16 por hora,
dignidade do trabalho. Ele buscou valor que apenas os Estados Unidos e o
responder à ofensiva dos sindicatos Canadá atingem. A medida pode
dos EUA, que demandavam um aprofundar as assimetrias regionais,
endurecimento das diretrizes pois concentra as atividades de alta
intensidade tecnológica nos países
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A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

mais ricos e reforça o papel do México regional para que um veículo seja
como produtor de bens intermediários. exportado sem taxas — de 62,5% para
As novas diretrizes representam uma 75%, no caso das partes essenciais.
pressão externa para que o governo de Além disso, o Capítulo 32 prevê que o
López Obrador modifique as relações membro que tiver intenções de
de trabalho e deixe de apostar nos negociar acordos comerciais com
baixos salários e no baixo grau de países que não sejam economias de
formalização como forma de dar mercado devem avisar os outros com
competitividade à economia nacional pelo menos três meses de
(Areous e Covarrubias V., 2016). antecedência. Caso haja algum
As novas regras trabalhistas do comprometimento ao USMCA, o
USMCA atendem à promessa de López Estado que negociou deverá
Obrador de “recuperar o poder abandonar o acordo trilateral. O
aquisitivo dos salários” e “melhorar a objetivo da medida é diminuir as
distribuição de riqueza e de renda" importações de produtos chineses e
(México, Diário Oficial de la substituir pelos fabricados dentro do
Federación, 2019). Para se adaptar às bloco. Entre 2001 e 2020, a
novas normas, o governo mexicano participação da China nas importações
aprovou, em maio de 2019, o “Novo totais dos Estados Unidos saltou de
Modelo Laboral”, que prevê sindicatos 8,9% para 18,6% (U.S. Census Bureau,
independentes, transparência nos 2021) e, nas do México, de 1,5% para
contratos coletivos e tribunais 18,2%, no mesmo período (México,
autônomos para a resolução dos Secretaría de Economía, 2021).
conflitos trabalhistas. Ademais, o Mesmo com diretrizes mais
governo mexicano trabalha junto aos rígidas, o USMCA é a principal aposta
sindicatos e empresários para coibir do governo mexicano para a retomada
possíveis denúncias contra o México no do crescimento econômico, depois do
órgão de soluções de controvérsias, crescimento nulo registrado em 2019 e
além de adotar uma política anual de da queda de 8,5% em 2020, atribuída
reajuste do salário mínimo. Apesar de aos impactos da crise econômico-
o USMCA representar uma transição sanitária deflagrada pela covid-19
para um novo modelo de relações de (Valor Econômico, 2021).
trabalho no México, as mudanças no
âmbito doméstico são lentas e Migração
insuficientes para fechar a brecha
salarial entre México e EUA no curto e Depois do crescimento
no médio prazo (Covarrubias, 2021). acelerado da migração de mexicanos
Ao recuperar diversos pontos para os Estados Unidos, entre 1994 e
negociados no TPP, o USMCA sinaliza 2007, notou-se uma mudança no
para medidas de contenção da China, padrão migratório e o reforço da
como o aumento do valor de conteúdo posição do México como país de
https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 124
Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

trânsito. De 2007 a 2019, o número de “Permanecer no México”, o Programa


mexicanos que chegaram aos EUA sem se aplicava inicialmente às cidades da
documentação caiu 29% (Passel e fronteira mexicana com maior fluxo de
Cohn, 2019), mesmo período em que pessoas — San Diego, Calexico, El Paso,
se registrou um aumento de cidadãos Laredo e Brownsville, mas, em junho
de outras nacionalidades. Em 2007, os de 2019, foi estendido para toda faixa
mexicanos eram 52% dos imigrantes fronteiriça do México. Na prática, os
que chegavam sem documento aos imigrantes que cruzam o México para
EUA, além de 13% de asiáticos e 11% chegar aos Estados Unidos deveriam
de guatemaltecos, salvadorenhos e primeiro entrar com o pedido de asilo
hondurenhos. Em 2017, os números no México e, depois, no destino final.
corresponderam a 20%, 23% e 17%, Como parte do "Permanecer
respectivamente (Passel e Cohn, 2019). no México”, o governo mexicano
Como território de passagem reposicionou tropas da Guarda
para os imigrantes centro-americanos Nacional para a fronteira sul, medida
que buscam chegar aos Estados que contradisse a promessa de López
Unidos, o México desempenha um Obrador de que o tema migratório
papel complementar no controle do seria tratado de uma perspectiva mais
fluxo migratório proveniente da humanitária. As medidas foram
Guatemala, Honduras e El Salvador. duramente criticadas por organizações
Para pressionar o governo do México a não-governamentais de direitos
adotar medidas mais efetivas de humanos, que apontaram violência
controle, Trump ameaçou impor tarifa contra jovens e crianças por parte dos
de 5% aos produtos mexicanos oficiais mexicanos que faziam a
importados pelos EUA (Brice, 2019). O patrulha fronteiriça (Human Rights
governo estadunidense se aproveitou, Watch, 2021). Os solicitantes de asilo
portanto, da dependência econômica que permaneciam nas cidades
do México em relação ao vizinho para mexicanas eram encaminhados para
pressionar o governo de López abrigos lotados, ou acolhidos por
Obrador a promover mudanças em sua organizações sociais que, buscando
política migratória. contornar a escassez de recursos do
O Programa de Proteção ao governo federal, ofereciam assistência
Migrante (MPP, em inglês), lançado Humanitária [6]. Na prática, a medida
pelo governo dos Estados Unidos após transferia ao México a responsabilidade
acordo com o governo do México, em de assistir aos migrantes que
25 de janeiro de 2019, determinou que permaneciam em território mexicano
os cidadãos não mexicanos que tentam por tempo indeterminado. O Programa
entrar sem documentação nos EUA foi lançado na esteira de medidas
deverão aguardar no país de trânsito migratórias mais restritivas nos Estados
até a decisão da corte estadunidense. Unidos, como o atraso e a recusa de
Conhecido popularmente como pedidos de naturalização, assim como de
https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 125
A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

vistos de entrada, que reduziram em de López Obrador de responder às


49% o ingresso de imigrantes com críticas que recebeu após as políticas
documentação no país (Anderson, 2020). militaristas na fronteira sul do México.
A colaboração do governo de Ele trata a migração de uma
López Obrador com o de Trump perspectiva multidimensional e atribui
indicou que o governo do México não ao país um papel de coordenador e de
estaria disposto a defender os centro- mediador de esforços na cooperação
americanos, caso isso ameaçasse o para o desenvolvimento. Além disso, a
status quo nas relações com os Estados inclusão da ONU atribui mais
Unidos. Como a política migratória é legitimidade à atuação do governo do
um tema-chave da política doméstica México, algo que diferencia o PDI de
estadunidense, o México está outras iniciativas já lançadas pelo
significativamente mais suscetível às governo mexicano na América Central,
pressões da grande potência. Além como o Plano Puebla Panamá (2001) e
disso, a possibilidade de impor tarifas o Projeto Mesoamérica (2008). Ambos
comerciais aos produtos mexicanos tinham como ênfase a promoção do
poderia ter graves impactos nas desenvolvimento a partir de grandes
exportações e, consequentemente, no projetos de infraestrutura.
crescimento econômico do país. Como parte do Plano, o
López Obrador sinalizou que governo mexicano assinou acordos
poderia utilizar o papel do México no com os governos de Honduras e El
controle do fluxo migratório como um Salvador que garantiam a doação de
meio de barganha para obter recursos recursos para os Programas
para o Plano de Desenvolvimento “Sembrando Vida" e "Jovens
Integral para a América Central (PDI). Construyendo el Futuro”, também
Lançado em conjunto com a Cepal, em implementados no México. O primeiro
20 de maio de 2019, o Plano tinha tem como objetivo aumentar a
como objetivo combater as causas produtividade das comunidades rurais
estruturais da migração internacional, (México, Secretaría de Bienestar,
como as associadas à vulnerabilidade 2020); e o segundo oferece bolsas de
socioeconômica, que levam os estudo para o desenvolvimento
imigrantes a saírem de seus países de profissional de jovens (México,
origem. Propõe-se atuar em três frentes: Secretaría del Trabajo e Previsión
1. Promover investimentos para projetos Social, 2020). Devido à pandemia da
de infraestrutura e facilitação comercial; covid-19, a entrega dos recursos
2. Humanizar e regulamentar o trânsito atrasou e foi retomada apenas em
de migrantes; e 3. Gerir o retorno e outubro de 2020 (México, Secretaría
promover atividades de reintegração de Relaciones Exteriores, 2020). Além
(Cepal, 2019). disso, o governo mexicano negocia um
O Plano de Desenvolvimento acordo similar com a Guatemala, sem
Integral foi uma tentativa do governo previsão para ser concluído
https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 126
Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

Perspectivas com Biden

A posse de Joseph Biden e diplomática da política externa


Kamala Harris, em 20 de janeiro de Mexicana, ao não reconhecer
2021, impôs desafios às relações do imediatamente a vitória de Joe Biden,
México com seu vizinho e principal argumentando que esperaria até todas
sócio comercial. Biden prometeu as questões legais serem resolvidas
restaurar o papel de liderança dos (López Obrador, 2020). O
Estados Unidos no mundo, reconstruir reconhecimento oficial veio em 15 de
as relações com os aliados, promover a dezembro de 2020, depois que o
segurança econômica e recompor a Colégio Eleitoral ratificou a vitória de
credibilidade do país no sistema Biden, e mais de um mês depois que a
internacional (Biden, 2020). O novo imprensa proclamou o resultado, em 7
presidente dos EUA ainda pretende de novembro de 2020.
reforçar a cooperação internacional A política externa de Biden para a
em torno dos valores democráticos, “classe média” inclui investimentos em
que inclui avanços no combate à educação, em infraestrutura e nas
corrupção e ao autoritarismo e o políticas de inovação, instrumentos que
respeito aos direitos humanos. Mesmo podem favorecer a retomada da liderança
que estes objetivos não estejam tecnológica dos Estados Unidos (Biden,
diretamente associados às relações 2020). No contexto da integração
com o México, eles sinalizam uma produtiva da América do Norte, elas
agenda mais ampla do que aquela podem contribuir para o aprofundamento
desenvolvida durante o governo de das assimetrias regionais e da divisão
Donald Trump. Nesse sentido, internacional do trabalho. Na política
demanda-se do governo de López comercial, o novo governo pretende
Obrador uma maior capacidade de acabar com os acordos comerciais
negociação e de articulação com injustos e confrontar a China no que
diferentes atores nacionais e considera práticas econômicas abusivas e
estrangeiros. violações dos direitos humanos (Biden,
Ademais, as relações do 2020). Diferentemente de Donald Trump,
México com os Estados Unidos porém, Biden propõe implementar as
representam um desafio, porque López medidas por meio da ação coletiva entre
Obrador desenvolveu uma relação os Estados Unidos e os aliados. O retorno
subordinada, mas colaborativa, com do país ao Acordo de Paris, em fevereiro
Donald Trump. A visita de AMLO à de 2021, é uma sinalização nessesentido.
Washington foi vista como um gesto de A preocupação com as relações
apoio ao candidato do Partido de trabalho no México se mantém
Republicano. López Obrador ainda como um dos temas centrais. Nos
negou a gravidade da pandemia da últimos anos, ele passou por um
covid-19 e quebrou a tradição
https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 127
A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

processo de crescente Estados Unidos também é um indício


institucionalização nos EUA apesar de de aumento da pressão para que o
já estar em pauta nas relações com o México implemente as novas regras.
México desde as negociações do Tai foi advogada trabalhista e
NAFTA (Covarrubias, 2021). Para que o participou das negociações do USMCA.
Tratado fosse aprovado no Congresso, No tema migratório, Biden
o Partido Democrata exigiu a inclusão decretou o fim do Programa de Proteção
de acordos paralelos nos âmbitos ao Migrante e permitiu que solicitantes
ambiental e trabalhista. O Acordo da de asilo que esperavam no México
América do Norte sobre Cooperação pudessem cruzar a fronteira. Os dois
do Trabalho (NAALC, em inglês) países também acordaram ampliar a
determinou que cada Estado-membro cooperação para o desenvolvimento da
seria responsável por implementar as América Central e, depois da primeira
regras, com base na cooperação e na chamada telefônica desde a posse do
consulta entre os três países, mas não presidente dos EUA, em 22 de janeiro de
previu que as violações pudessem ser 2021, anunciaram a liberação de US$ 4
denunciadas no mecanismo de solução milhões para os programas mexicanos
de controvérsias, nem retaliadas com direcionados aos países centro-
sanções comerciais, o que gerou americanos, o que pode reforçar a
críticas por parte dos sindicatos posição do governo do México como
estadunidenses de que teria baixo interlocutor do Plano de
enforcement. Assim, a pressão dos Desenvolvimento Integral (Velázquez,
sindicatos estadunidenses foi decisiva 2021). Após falar com Biden, AMLO
para a expansão e o reforço das regras publicou no Twitter: “Conversamos com o
no novo acordo (Ortiz, 2019). presidente Biden, foi amável e respeitoso.
Apesar de os sindicatos Tratamos de assuntos relacionados com
mexicanos terem-se comprometido a migração, covid-19 e cooperação para o
acatar as novas diretrizes trabalhistas desenvolvimento e bem-estar. Tudo
do USMCA, eles temem a ingerência do indica que serão boas relações para o
governo dos Estados Unidos na bem dos nossos povos e nações” [7]. A
implementação e na fiscalização das declaração busca minimizar a demora do
regras (Estrella, 2021). No Congresso governo mexicano em reconhecer a
estadunidense, o processo é vitória de Biden.
monitorado pelo Independente Mexico Por último, cabe assinalar o
Labor Expert Board, criado no Ato de pedido de López Obrador para que o
Implementação do USMCA (Centro de governo dos Estados Unidos auxilie o
Información Sobre Empresas y México nos esforços de vacinação
Derechos Humanos, 2021). No contra a covid-19. Inicialmente, o
Executivo, a indicação de Katherine Tai governo estadunidense declarou que o
como Representante de Comércio dos foco seria garantir a imunização para

https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 128
Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

todos os conacionais e, depois, discutir de uma série de desgastes sofridos


com México e Canadá a possibilidade pelo governo de Enrique Peña Nieto,
de distribuição de doses. Em 18 de do Partido Revolucionário Institucional.
março de 2021, porém, os dois países EPN assumiu o posto com um discurso
fecharam um acordo que incluiu o modernizador e disposto a utilizar a
empréstimo de 2,7 milhões de doses política externa como um meio para
da vacina da AstraZeneca/Oxford ao ampliar as oportunidades econômicas
México, que deverão ser devolvidas do México no sistema internacional.
nos próximos meses. Diante da Contudo, as denúncias de corrupção, o
dificuldade de avançar na imunização, desaparecimento dos 43 estudantes no
o governo do México vem defendendo estado de Guerrero e a instabilidade
na ONU a promoção de políticas que nas relações com os Estados Unidos
garantam o acesso equitativo dos obrigaram o governo a desenvolver
países às vacinas e aos medicamentos. uma política externa de contenção,
A pandemia da covid-19 evidenciou capaz de amenizar os impactos das
que, mesmo a cooperação bilateral ameaças do então candidato Donald
tendo-se expandido para outros temas Trump à economia do México. Trump
e até se aprofundado em alguns deles, ameaçou completar a construção do
a assimetria se mantém como a muro na fronteira binacional, impor
principal característica das relações do sanções comerciais, caso o México não
México com os Estados Unidos. colaborasse no controle migratório de
sua fronteira sul, e sair do NAFTA.
Conclusões Diante da dependência
econômica do México em relação aos
O objetivo do artigo foi discutir EUA, López Obrador teve de se ajustar
a política externa de López Obrador e à política de Trump e, mesmo.
as relações do México com os Estados contrariando as expectativas,
Unidos. Apesar de o governo AMLO desenvolveu uma política colaborativa
ainda estar em andamento, o texto com o presidente estadunidense. Na
busca fazer um balanço das principais migração, os dois países assinaram o
medidas adotadas pelos dois países Programa de Proteção ao Migrante
nos âmbitos comercial e migratório, (MPP, em inglês), que obrigava os
com ênfase na entrada em vigor do solicitantes de asilo nos Estados Unidos
Acordo Estados Unidos-México-Canadá a permanecerem no México até a
e na posição do México no controle do decisão da corte estadunidense e
fluxo migratório da América Central. reposicionou os militares da Guarda
Além disso, o artigo discute as medidas Nacional na fronteira sul do México. Ao
iniciais do recém-eleito presidente ceder a Trump, López Obrador
Joseph Biden e seus impactos nas esperava conseguir recursos para
relações com o México. impulsionar o Plano de
López Obrador foi eleito depois Desenvolvimento Integral da América
https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 129
A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

Central, que replicava, em Honduras e


em El Salvador, as políticas sociais que
tinham sido implementadas no México.
No comércio, o USMCA prevê a
introdução de um salário mínimo para a
indústria automobilística e a
formalização das relações de trabalho
no México, país que teria leis mais
flexíveis nesse âmbito. De forma a se
adaptar às novas regras, o governo de
López Obrador empreendeu uma
política anual de reajuste do salário
mínimo, aprovou uma nova reforma
trabalhista e estabeleceu iniciativas de
cooperação com os empresários e com
os sindicatos, buscando antever futuras
denúncias contra o México no
mecanismo de solução de controvérsias
e, no limite, sanções comerciais.
O tema se mantém no centro
da agenda comercial do presidente Joe
Biden, que, através das agências
federais e do Congresso, monitora a
implementação e a fiscalização das
novas regras no país vizinho. A
interlocução destes temas com a
agenda doméstica e os graves impactos
da crise da covid-19 no crescimento
econômico mexicano sinalizam para
um menor espaço de manobra do
governo de López Obrador, que reforça
as relações com os Estados Unidos e
amplia o desinteresse para com a
América Latina.

https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 130
Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

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A política externa do México no governo de López Obrador e as relações com os EUA

Notas diferencias o resolverlas con diálogo y


respeto mutuo” (López Obrador apud
1) Do original: “[…] la negociación Doque, 2020).
comercial más importante y ambiciosa
a nivel mundial” (MÉXICO, DIÁRIO 5) Do original: “la relación entre
OFICIAL DE LA FEDERACIÓN, 2013). Estados Unidos y México nunca había
sido tan cercana como ahora” (López
2) Do original: “desmantelamiento Obrador apud Doque, 2020).
sostenido de la presencia del sector
público y la dramática reducción del 6) Relatos coletados durante visita à
sector social; la apertura comercial cidade de Tijuana, em Baja California,
indiscriminada; la desregulación en fronteira com San Diego, Califórnia.
todos los frentes; la supresión o
reducción de derechos y conquistas 7) Do original: “Conversamos con el
laborales; la eliminación de los presidente Biden, fue amable y
subsídios generales y su remplazo por respetuoso. Tratamos asuntos
sistemas clientelistas focalizados en los relacionados con la migración, el covid-
sectores más depauperados; el 19 y la cooperación para el desarrollo y
parcelamiento de las facultades el bienestar. Todo indica que serán
gubernamentales en comisiones y buenas las relaciones por el bien de
organismos autónomos y la abdicación nuestros pueblos y naciones” (López
de potestades del gobierno en diversas Obrador, 2021).
instancias internacionales, en el marco
de la inserción del país en la economia
global” (MÉXICO, DIÁRIO OFICIAL DE LA
FEDERACIÓN, 2019).

3) Do original: “[…] se impulsionará


con énfasis los intercambios
económicos, culturales, científicos y
tecnológicos” (MÉXICO, DIÁRIO
OFICIAL DE LA FEDERACIÓN, 2019).

4) Do original: “Por eso estoy aquí,


para expresar al pueblo de Estados
Unidos que su presidente se ha
comportado hacia nosotros con
gentileza y respeto […] estamos
optando por marchar juntos hacia el
porvenir, es privilegiar el
entendimiento y hacer a un lado las
https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 136
Marcela Franzoni e Luis Fernando Ayerbe

Abstract Resumo

The aim of the article is to discuss O objetivo do artigo é discutir a política


Mexican foreign policy under Andrés externa do México no governo de
Manuel López Obrador’s Andrés Manuel López Obrador e as
administration and the relations with relações com os Estados Unidos.
the United States. Despite presenting a Argumentamos que, apesar de
transforming discourse in domestic apresentar um discurso transformador
politics, the Mexican government’s na política interna, as medidas do
measures on trade and migration seek governo mexicano no âmbito comercial
to preserve the United States as e migratório indicam a manutenção do
Mexican foreign policy priority. The vizinho como prioridade da política
president López Obrador developed a externa. Ao sinalizar para uma posição
collaborative relationship with Donald colaborativa com Donald Trump, López
Trump, aiming to take advantage of Obrador buscou aproveitar a magnitude
the magnitude of bilateral ties to dos vínculos bilaterais para implementar
implement his domestic agenda, which sua agenda doméstica, que inclui a
includes the promise of rising wages in promessa de aumento do salário mínimo
Mexico and the mediation of the e a mediação da crise migratória na
migration crisis in Central America. We América Central. Concluímos que a
conclude that Mexico’s dependence on dependência do México em relação aos
the United States diminishes the Estados Unidos diminui a capacidade de
Mexican government’s negotiating negociação do governo mexicano frente
capacity and increases its disinterest in ao vizinho e amplia seu desinteresse pela
Latin America. América Latina.

Keywords: Mexico; United States; Palavras-chave: México; Estados


foreign policy. Unidos; política externa.

https://revistas.ufrj.br/index.php/sg 137

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