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NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS

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fisico.
III

NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS


SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO
IV

Copyright © 2006

Não é permitida a reprodução total ou parcial desta publicação sem a permissão expressa da Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo.

EDITOR REVISÃO
Manlio Silvestre Fernandes Nelson Coeli
Maria Aparecida Soares
CAPA
(Layout) DIAGRAMAÇÃO
Manuela Vieira Novais José Roberto de Frei tas

CAPA FOTOS DA CAPA


(Arte) Gentilment e cedidas pelos professores João
José Roberto de Frei tas Carlos Ker, Reinaldo Bertola Cantarutti,
Roberto Ferreira de Novais e Víctor Hugo
Alvarez V.

Ficha Catalográfica preparada pela Seção de Catalogação


da Biblioteca Central da UFV

Nutrição mineral de plan tas / editor Manlio Silvestre


N976 Fernandes. - Viçosa, MG : Sociedade Brasileira d e
2006 Ciência do Solo, 2006.
[viii], 432p. : il. algumas col.; 26 cm

Inclui bibliografia
ISBN 85-86504-02-5

1. Plantas - Nutrição. 2. Plantas - Efeito dos minerais.


3. Plantas e solo. I. Fernandes, Manlio Silvestre.
II. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.

CDD 22.ed. 631.811


1. Solos - Periódicos. I. Sociedade Brasileira de Ciência

Sociedade Brasileira de Ciência do Solo


Tel.: (0XX) 31 3899-2471
E-mail: sbcs@ufv.br
http:\\www.sbcs.org.br
V

PREFÁCIO
Este volume , sobre “Nutrição Mineral de Plantas ”, é parte da série
que está sendo publicada pela Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo (SBCS ). É notória , no Brasil , a carência de livros didáticos que
abordam o assunto , o que torna essa iniciativa da SBCS de grande relevância
para o aperfeiçoamento do ensino e para a ampliação da pesquisa em
ciências do solo.
Livros de Nutrição Mineral de Plantas sempre podem resvalar para os
domínios da Química e da Fertilidade do solo, ou transformar -se em tratados
de Fisiologia Vegetal . Nem sempre é fácil estabelecer com rigor os limites da
Nutrição como disciplina autônoma . A Nutrição Mineral de Plantas está
localizada na fronteira dessa s outras disciplinas.
Nesta obra, dá-se ênfase à dinâmica da interface solo-planta , não havendo a
preocupação com a descrição detalhada dos mecanismos pelos quais os
nutrientes se deslocam do solo até a planta . Nesta série , que está sendo
publicada pela SBC S, o volume sobre Fertilidade do Solo fará essa abordagem .
Aos autores dos diversos capítulos , pediu -se que fossem destacados os
mecanismos de absorção e transporte de nutrientes , tornando claros para os
leitores os caminhos que as espécies iônicas percorrem desde que a solução do
solo entra em contato com as raízes , até sua chegada à área vascular e
redistribuição pelos diversos órgãos da planta.
Não houve , neste livro , a preocupação em esgotar cada tópico .
Procurou -se abordar em cada capítulo apenas o essencial para o entendimento
do assunto pelos leitores . Foram mantidas as referências de cada capítulo ,
às vezes numerosas , de modo que aqueles que precisarem de maior
aprofundamento em determinadas áreas tenham ampla base de pesquisa.
Certamente a obra será de grande utilidade para estudantes de
graduação e de pós -graduação e para os pesquisadores na área de Nutrição
Mineral de Plantas.
Um agradecimento especial aos professores e pesquisadores das diversas
instituições do país , que prontamente atenderam à solicitação para que
colaborassem neste volume , e aos professores e estudantes do Laboratório de
Nutrição de Plantas da UFRRJ, pelo apoio e estímulo.

Manlio Silvestre Fernandes Rio de


Janeiro, setembro de 2006
NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS
INTRODUÇÃO
PARTE I - A AQUISIÇÃO DE NUTRIENTES
Capítulo 1 – Elementos Essenciais
Capítulo 2 – Raízes
Capítulo 3 – Micorrízas
Capítulo 4 – Soluções Nutritivas
Capítulo 5 – Absorção de Nutrientes
Capítulo 6 – Fixação Biológica de N2
Capítulo 7 – Efeitos Fisiológicos de Substâncias Húmicas
Capítulo 8 – Efeitos Fisiológicos do Óxido Nítrico

PARTE II - OS MACRONUTRIENTES
Capítulo 9 – Nitrogênio
Capítulo 10 – Potássio
Capítulo 11 – Fósforo
Capítulo 12 – Cálcio, Magnésio e Enxofre

PARTE III - OS MICRONUTRIENTES


Capítulo 13 – Micronutrientes

PARTE IV - OS ELEMENTOS BENÉFICOS


Capítulo 14 – Silício, Sódio e Cobalto

PARTE V - OS ELEMENTOS TÓXICOS


Capítulo 15 – Alumínio
Capítulo 16 – Metais Pesados
VII
ISBN 85-86504-02-5

NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS


SETEMBRO , 2006

CONTEÚDO

PREFÁCIO .............................................................................................................................. v

I - ELEMENTOS ESSENCIAIS E BENÉFICOS ÀS PLANTAS SUPERIORES

Antonio Roque Dechen & Gilmar Ribeiro Nachtigall ............................................................. 9

II - O SISTEMA RADICULAR E SUAS INTERAÇÕES COM O AMBIENTE


EDÁFICO

Everaldo Zonta, Felipe da Costa Brasil, Silvia Regina Goi & Maria Mercedes Teixeira da
Rosa.......................................................................................................................................... 16

III - FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES: MUITO ALÉM DA NUTRIÇÃO

Ricardo L.L. Berbara, Francisco A. Souza & Henrique M.A.C. Fonseca ............................. 85

IV - SOLUÇÕES NUTRITIVAS: FORMULAÇÃO E APLICAÇÕES

Nilton Nélio Cometti , Pedro Roberto Furlani , Hugo Alberto Ruiz & Elpídio Inácio Fernandes
Filho ....................................................................................................................................... 156

V - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES

Manlio Silvestr e Ferna ndes & Sonia Regina Souza .............................................................199

VI - FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO SIMBIÓTICA E ASSOCIATIVA

Veronica Massena Reis, André Luiz de Martinez de Oliveira, Vera Lucia Divan Baldani,
Fábio Lopes Ol ivares & José Ivo Bal dani ............................................................................250
VIII

VII - EFEITOS FISIOLÓGICOS DE SUBSTÂNCIAS HÚMICAS – O ESTÍMULO ÀS


H+-ATPases

Luciano Pasqualoto Canellas, Daniel Basílio Zandonadi, Fábio Lopes Olivares & Arnoldo
Rocha Façanha........................................................................................................................286

VIII - ORIGEM DO ÓXIDO NÍTRICO EM PLANTAS E SEU PAPEL COMO


SINALIZADOR DDEE ESTRESSES

José Ronaldo Magalhães, Luzia V. Modolo, Sonia Regina de Souza, Luciano Freschi, Marcel
G.C. França & Filomena Leonor Ilhargo Morgado Silva .....................................................332

IX - NITROGÊNIO
Sonia Regina Souza & Manlio Silvestr e Ferna ndes ...........................................................361

XI - POTÁSSIO
Egon José Meurer ................................................................................................................. 411

X - FÓSFORO
Adelson Paul o Araújo & Cynthia Torres de Tol edo Machado ..........................................446

XII - CÁLCIO, MAGNÉSIO E ENXOFRE


Godofredo César Vitt i, Eduardo Lima & Fernanda Cicarone ............................................495

XIII - MICRONUTRIENTES
Antonio Roque De chen & Gilmar Ribeiro Na chtigall ........................................................542

XIV - ELEMENTOS BENÉFICOS


Gaspar H. Korndörfer ............................................................................................................596

XV - TOXIDEZ DE ALUMÍNIO EM PLANTAS: NOVOS ENFOQUES PARA UM


VELHO PROBLEMA

Roberto O scar P ereyra Ro ssiello & Jorge Ja cob Netto .........................................................634

XVI - MECANISMOS DE TOLERÂNCIA DE PLANTAS A METAIS PESADOS

Fabiana Soares dos Santos, Nelson Moura Brasil do Amaral Sobrinho & Nelson Mazur .......704
CAPÍTULO 1

ELEMENTOS ESSENCIAIS E BENÉFICOS ÀS PLANTAS SUPEIRORES

Antonio Roque Dechen(1);Gilmar Ribeiro Nachtigall(2)

(1)
Professor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP – C. Postal
9, 13418-900, Piracicaba, SP. ardechen@esalq.usp.br.
(2)
Eng. Agrº. Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, C. Postal 130, 95700-000, Bento
Gonçalves, RS. gilmar@cnpuv.embrapa.br.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 10
2 CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE ......................................................................................................... 11
3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................................................... 15
1 INTRODUÇÃO

O uso de técnicas de cultivos hidropônicos com soluções de composição química bem

definida e a possibilidade de obtenção de compostos químicos de alto grau de pureza foram

fatores que contribuíram muito para os avanços nas pesquisas em nutrição mineral de plantas,

já que possibilitaram o crescimento normal das plantas e permitiram um controle mais preciso

no fornecimento de nutrientes às raízes.

Revendo a história da nutrição mineral de plantas, provavelmente Woodward em

1699, realizou os primeiros experimentos em cultivo de plantas em meio líquido sem o uso de

substratos sólidos. Em 1804, Saussure realizou uma das primeiras tentativas para analisar os

fatores envolvidos no cultivo de plantas em meios nutritivos, estabelecendo a necessidade de

fornecer nitrato à solução destes cultivos. No século XIX foram realizadas intensas pesquisas

envolvendo soluções nutritivas e o crescimento de plantas. Pesquisadores como Sachs,

Boussingault e Knop, realizaram experimentos que ajudaram a determinar que certos

elementos eram importantes para o crescimento das plantas. O alemão Justus von Liebig

compilou em seus livros e cartas publicadas entre 1840 e 1855, informações da época quanto

a importância dos elementos minerais para as plantas, referindo-se que os elementos minerais

essenciais para as plantas eram: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca),

magnésio (Mg), enxofre (S), silício (Si), sódio (Na) e ferro (Fe), todos retirados do solo, além

dos elementos essenciais carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), retirados da água e do

ar. Knop, em 1865, publicou os resultados de seu experimento envolvendo o efeito da

composição de uma solução nutritiva sobre o crescimento das plantas, bem como propôs uma

fórmula de uma solução nutritiva simples, baseada em relações moleculares, a qual foi o
ponto de partida para modificações posteriores por outros autores (Ploeg et al., 1999; Furlani,

2004; Epstein & Bloom, 2005).

2 CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE

Em termos médios, o protoplasma de uma planta contém 85 a 90% de água. O

conteúdo de água nas raízes, expresso em peso fresco, varia de 71 a 93%, dos ramos de 48 a

94%, das folhas de 77 a 98% e dos frutos entre 84 e 94%. A presença de elementos químicos

nas cinzas de uma planta não é um indicador das necessidades quantitativas e qualitativas dos

diferentes elementos químicos para uma planta fotoautotrófica, como demonstraram Arnon &

Stout (1939), utilizando cultivos hidropônicos. Estes autores estabeleceram três critérios que

devem sem atendidos para que um elemento possa ser considerado como essencial:

Critério 1: Um elemento é essencial se a sua deficiência impede que a planta complete

o seu ciclo vital.

Critério 2: Para que um elemento seja essencial, este não pode ser substituído por

outro elemento com propriedades similares. Por exemplo: O sódio (Na)

apresenta propriedades semelhantes ao potássio (K), contudo não pode

substituir o potássio completamente.

Critério 3: O último critério que deve ser cumprido é que o elemento deve participar

diretamente no metabolismo da planta e que seu benefício não esteja

somente relacionado ao fato de melhorar as características do solo,

melhorando o crescimento da microflora ou algum efeito similar.

A presença de um elemento em altas concentrações em uma planta não é um indicador

seguro de sua essencialidade, já que as plantas apresentam uma capacidade de absorção

seletiva limitada, de modo que podem absorver pelas raízes elementos minerais não essenciais

e/ou mesmo tóxicos. Assim, mesmo que um elemento possibilite melhorar o crescimento ou
um processo fundamental de uma planta, não se considera como essencial se não atender os

três critérios da essencialidade. Todos os 17 elementos apresentados na Tabela 1 cumprem

estas exigências e devem ser fornecidos às plantas para que estas germinem, cresçam,

floresçam e produzam sementes.

Tabela 1. Relação dos elementos essenciais às plantas superiores, com as concentrações


médias na matéria seca da parte aérea de plantas e os respectivos autores que
demonstraram a sua essencialidade e o ano em que ocorreu a descoberta.

Concentração na massa Demonstração da


Elemento Ano
seca Essencialidade
Carbono (C) 450 g kg-1 Saussure 1804
Oxigênio (O) 450 g kg-1 Saussure 1804
Hidrogênio (H) 60 g kg-1 Saussure 1804
Nitrogênio (N) 15 g kg-1 Saussure 1804
Potássio (K) 10 g kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865
Cálcio (Ca) 5 g kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865
Fósforo (P) 2 g kg-1 Ville 1860
Magnésio (Mg) 2 g kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865
Enxofre (S) 1 g kg-1 Sachs & Knop 1865
Cloro (Cl) 100 mg kg-1 Broyer et al. 1954
Manganês (Mn) 50 mg kg-1 Mazé, McHargue 1915, 1922
Boro (B) 20 mg kg-1 Warington 1923
Zinco (Zn) 20 mg kg-1 Sommer & Lipman 1926
Ferro (Fe) 10 mg kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865
Cobre (Cu) 6 mg kg-1 Lipman & McKinney 1931
Níquel (Ni) 3 mg kg-1 Brown et al. 1987
Molibdênio (Mo) 0,1 mg kg-1 Arnon & Stout 1938
Fonte: Malavolta (1980); Marschner (1995).

Alguns elementos são classificados como benéficos para algumas plantas, como o

sódio (Na), selênio (Se), silício (Si) e cobalto (Co). Por exemplo, existem algumas espécies de

plantas de mangue que acumulam Na, já algumas plantas de deserto como Atriplex vesicaria e

Halogeton glomeratus que requerem sódio para o seu desenvolvimento, enquanto para a

Amaranthus tricolor (espécie C4) o Na é essencial quando em condições de baixas


concentrações de CO2; existem plantas como Astragalus, Stanleya e Lecythis que crescem em

solos com altas concentrações de Se, constituindo-se em plantas acumuladoras deste

elemento. Tem sido proposto que os silicatos presentes em folhas e inflorescências de

gramíneas podem impedir ou diminuir o ataque por animais e insetos. O Co é essencial e

necessário para a fixação do nitrogênio (N) por bactérias presentes nos nódulos das raízes de

leguminosas, bem como para bactérias de vida livre que fixam N.

Desta forma, os elementos requeridos pelas plantas podem ser classificados como

essenciais e benéficos, contudo, esta listagem atual pode ser ampliada, já que com o avanço

das técnicas analíticas, outros elementos exigidos em quantidades mínimas poderão ser

considerados essenciais ou benéficos às plantas.

O conteúdo mineral dos tecidos vegetais é variável, dependendo do tipo de planta, das

condições climáticas existentes durante o período de crescimento, da composição química do

meio e da idade do tecido entre outros. Por exemplo, uma folha madura provavelmente

contém uma concentração de nutrientes maior do que uma folha muito jovem. Por outro lado,

uma folha madura pode ter uma concentração de nutrientes maior do que uma folha velha,

devido ao processo de perda de minerais solúveis em água, ao ser lavado pela água de chuva

ou mediante mecanismos de translocação para folhas jovens.

Os elementos minerais essenciais são denominados nutrientes minerais e são

classificados, conforme as quantidades exigidas pelas plantas em: macronutrientes que

constituem aproximadamente o 99,5% da massa seca e em micronutrientes, que constituem

cerca do 0,03%. Desta forma, são considerados macronutrientes os nutrientes C, H, O, N, P,

K, Ca, Mg e S e como micronutrientes os nutrientes B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn. Esta

classificação é utilizada sob o ponto de vista da nutrição mineral de plantas e da fertilidade do

solo.
Segundo Mengel & Kirkby (2001), sob o ponto de vista fisiológico é difícil justificar a

classificação dos elementos essenciais às plantas segundo a classificação de macro e

micronutrientes, dependente da concentração do nutriente nos tecidos da planta. Segundo

estes autores, a classificação dos elementos essenciais às plantas seguindo um critério que

leve em consideração os processos bioquímicos e as funções fisiológicas é mais apropriada, e

estabeleceram uma classificação dos nutrientes em quatro grupos segundo estas características

(Tabela 2).

Tabela 2. Classificação dos elementos essenciais às plantas

Nutriente Absorção Funções Bioquímica


1° Grupo Na forma de CO2, HCO3- Maior constituinte de compostos orgânicos.
C, H, O, N, S H2O, O2, NO3-, NH4+, N2, Elementos essenciais de grupos atômicos
SO42-,SO2, na forma de íons que são envolvidos em processos
da solução do solo, de gases enzimáticos. Assimilação por reações de
e da atmosfera. oxidação-redução.

2° Grupo Na forma fosfatos, ácido Esterificação com grupos alcoólicos em


P, B bórico ou borato, plantas. Os esteres de fosfato estão
absorvidos da solução do envolvidos em reações com transferência de
solo. energia.

3° Grupo Na forma de íons da solução Funções não específicas, estabelecendo


K, Mg, Ca, do solo. potencial osmótico. Reações mais
Mn, Cl específicas nas qual o íon proporciona um
melhor arranjo em enzimas protéicas
(ativação de enzima). Balanceamento iônico.
Controlando a permeabilidade de membrana
e o potencial elétrico.

4° Grupo Na forma de íons ou Presente predominantemente em formas


Fe, Cu, Zn, quelatos da solução do solo. quelatadas incorporadas em grupos
Mo prostéticos. Habilita o transporte de elétron
através da mudança de valência.
Fonte: Mengel & Kirkby (2001).
3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARNON, D.I.; STOUT, P.R. 1939. The essentiality of certain elements in minute quantity for

plants with special reference to copper. Plant Physiology, 14:371-375.

EPSTEIN, E.; BLOOM, A.J. 2005. Mineral nutrition of plants: Principles and perspectives.

Sinauer, Massachusetts. 400p.

FURLANI, A.M.C. 2004. Nutrição mineral. In: Kerbauy, G.B. Fisiologia vegetal. Editora

Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. pp.40-75.

MALAVOLTA, E. 1980. Elementos de nutrição mineral de plantas. Ceres, São Paulo. 254p.

MARSCHNER, H. 1995. Mineral nutrition of higher plants. 2th ed. Academic Press, London.

889p.

MENGEL, K.; KIRKBY, E.A. 2001. Principles of plant nutrition. 5. ed. Kluwer Academic,

Dordrecht. 849p.

PLOEG, R.R.; BÖHM, M.; KIRKHAM, M.B. 1999. History of soil science. On the origin of

the theory of mineral nutrition of plants and the law of the minimum. Soil Science Society of

American Journal, 63:1055-1062.


CAPÍTULO 2

O SISTEMA RADICULAR E SUAS INTERAÇÕES COM O AMBIENTE

EDÁFICO

Everaldo Zonta1; Felipe da Costa Brasil2; Silvia Regina Goi3; Maria Mercedes
Teixeira da Rosa4

1 – Prof. Dr. Departamento de Solos – UFRRJ – ezonta@ufrrj.br


2 - Prof. da Universidade Severino Sombra, Vassouras, RJ.
3 - Prof. Dr. Departamento de Silvicultura – UFRRJ
4 - Prof. Dr. Departamento de Botânica – UFRRJ
1. Introdução......................................................................................................................... 17
2. Origem e funções das raízes.............................................................................................. 18
3. Anatomia Radicular.......................................................................................................... 20
3.1.Ápice daraiz...................................................................................................................... 21
3.2.Epiderme.......................................................................................................................... 22
3.3 Córtex................................................................................................................................. 23
3.4 Exoderme......................................................................................................................... 23
3.5 Endoderme....................................................................................................................... 23
3.6 Tecido vascular e Cilindro central................................................................................... 24
4. Morfologia Radicular........................................................................................................ 24
4.1 Pêlos Radiculares.............................................................................................................. 27
4.2 Formação de raízes laterais.............................................................................................. 31
4.3 Formação de raízes adventícias........................................................................................ 33
4.4 Outras raízes especializadas ............................................................................................ 35
4.5 Rizosfera e Rizoplano...................................................................................................... 37
5. Fisiologia das Raízes......................................................................................................... 38
5.1. Rotas de Absorção.......................................................................................................... 38
5.2. Absorção de água............................................................................................................ 42
5.3 Absorção de nutrientes.................................................................................................... 44
5.4 Zonas e taxas de absorção................................................................................................ 46
5.5 Extrusão de prótons.......................................................................................................... 49
5.6 Exsudação radicular.......................................................................................................... 51
6. Dinâmica do desenvolvimento radicular......................................................................... 51
6.1 Rizocrescimento............................................................................................................... 52
6.2 Economia de carbono e nutrientes nos sistemas radiculares ........................................ 52
6.3 Arquitetura e topologia radicular..................................................................................... 54
6.4 Características de interesse quantitativo.......................................................................... 57
6.5 Magnitude dos sistemas radiculares................................................................................ 59
6.6 Plasticidade radicular....................................................................................................... 60
6.7 Gravitropismo.................................................................................................................. 61
6.8 Variabilidade e arranjo espacial e temporal..................................................................... 63
7. Fatores abióticos e bióticos que alteram o desenvolvimento radicular...................... 66
7.1. Micorrização..................................................................................................................... 73
7.2. As raízes e a formação de agregados no solo................................................................. 75
10. Literatura citada.............................................................................................................. 78
1. INTRODUÇÃO

Durantes muitos anos (até meados do século passado), as raízes foram

consideradas como a “metade oculta” dos vegetais (Waisel, et al, 2002), com uma

significativa escassez de resultados de pesquisa sobre este tema em todo o mundo. As

razões para esta carência de dados são historicamente explicáveis pelas dificuldades

metodológicas (Van Noordwijk, 1993), a própria inacessibilidade ao sistema radicular

como objeto de experimentação, sua complexidade tridimensional e sua marcada

variabilidade espacial e temporal (Van Noordwijk, 1993).

Hoje existe consenso da importância desses estudos com observações in situ

no campo, para o manejo das lavouras, que quando associado aos fatores

edafoclímaticos são fundamentais para a otimização das práticas de adubações e

aplicações de pesticidas de solo, além das demais como, tratos culturais, densidade de

plantio, irrigação, cultivos intercalares e na arborização urbana. Os estudos das raízes

são ainda fundamentais para o entendimento das relações de absorção de água e


nutrientes, necessários aos avanços das pesquisas básicas que nortearão os estudos

aplicados.

Neste capítulo, serão apresentados de forma sucinta os conhecimentos

acumulados sobre sistemas radiculares, tanto básicos como práticos, obtidos nas ultimas

décadas, de estudos sobre o assunto.

2. Origem e funções das raízes

Filogenéticamente, as raízes são órgãos recentes, cujo aparecimento data da

fixação dos vegetais na terra, da diferenciação do sistema vascular e novas rotas

metabólicas conducentes à síntese de substâncias fenólicas e ligninas (Chriqui et al,

1996).

Os ancestrais mais antigos conhecidos de plantas vasculares pertencem ao

gênero Rhynia, que existiram durante o período Siluriano e Devoniano (há cerca de 354

a 435 milhões de anos). Eram plantas aquáticas sem sementes, não havendo

diferenciação morfológica de suas partes (raiz, caule e folha), constituídas unicamente

de um eixo com ramificações dicotômicas, possuindo, no entanto, estômatos e um

sistema fotossintético rudimentar. É muito provável que as raízes tenham surgido ao

longo da evolução, a partir da parte subterrânea do eixo da Rhynia, ou de uma

subespécie um pouco mais evoluída, no final do período Devoniano ou no início do

período Carbonífero da Era Paleozóica. Inicialmente, este sistema radicular pouco

definido morfologicamente, tinha como função a fixação da planta no seu ambiente e

substrato, visto que a absorção de água e nutrientes era primordialmente processada pela

parte aérea, já que estas viviam em meio aquoso (Raven et al, 1996).

Especificamente, as raízes, como órgãos distintos da parte aérea, evoluíram

nas esporófitas, quando da maior ocupação do ambiente terrestre, onde, estruturas

semelhantes a raízes penetravam a quase um metro dentro do substrato, aumentando o


volume de material mineral sujeito à intemperização, pelo aumento do nível de CO2

gerado pela respiração das plantas e microrganismos em materiais com contacto restrito

com a atmosfera. Estruturas mais refinadas envolvidas na absorção de nutrientes de

baixa difusão no solo evoluíram a pelo menos 400 milhões de anos atrás, como as

micorrizas arbusculares (capitulo 3 deste volume) ou pêlos radiculares. (Raven et al,

1996).

Com essa evolução, o sistema radicular, subterrâneo e heterotrófico, passou a

desempenhar funções mais complexas, como a fixação das plantas e a absorção e

condução de água e nutrientes do meio externo até o caule. Funções estas, primordiais

para o desenvolvimento vegetal e indiscutivelmente necessárias para a sobrevivência de

toda e qualquer espécie (Raven & Edwards, 2001).

Particularmente, em algumas espécies, além das funções primárias de

sustentação e absorção de água e nutrientes, houve evolutivamente, a necessidade das

raízes cumprirem outras funções, em parte moduladas pelo ambiente a que estavam

submetidas, tais como: a) dreno final no armazenamento de substâncias de reserva, b)

propagação e dispersão da espécie, c) nicho ecológico para simbiontes e organismos

livres associados à rizosfera, d) produção de metabólitos secundários, e) aeração

(oxidação) da rizosfera, e, f) síntese de reguladores de crescimento (Raven et al, 1996).

Ainda, em modelos singulares de sistemas radiculares (como em orquídeas) os sistemas

radiculares podem ser aéreos e fotossintetizantes (Peres & Kerbauy, 2000).

Independentemente das características específicas, o primórdio do sistema

radicular em plantas vasculares é o embrião (esporófito jovem), formado por um eixo

caulinar (hipocótilo-epicótilo), uma ou duas folhas embrionárias (cotilédones) e por

uma raiz embrionária (radícula). Com a germinação da semente, a radícula sofre

divisões e alongamentos celulares por um período de tempo e espaço variado e com


tendência caótica até o seu desenvolvimento total (Figura 1), e originando raízes laterais

de primeira, segunda, terceira e demais ordens.

Figura 1. Desenvolvimento de uma eudicotiledônea (sombreiro), mostrando a raiz

principal e raízes laterais de primeira e segunda ordem. Desenho de Maria Mercedes

Teixeira da Rosa, Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005).

3. Anatomia Radicular

A unidade básica e estrutural da anatomia é a célula, que se caracteriza pela

presença de parede celular envolvente, que mantém sua forma independente da célula

estar viva ou não. Agrupadas, estas estruturas compõem todo o vegetal desde suas raízes

até o pólen.

A organização particular e especializada de parte destas células determina a

anatomia radicular das plantas, conforme mostra Figura 2.


Figura 2. Estrutura anatomica da raiz principal de Ravenala madagascariensis, na

região de ramificação. Secção transversal. Desenho de Maria Mercedes Teixeira da

Rosa, Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005).

3.1. Ápice da raiz

O ápice da raiz (Figura 3a) em crescimento é protegida pela coifa que consiste

de camadas de células concêntricas que envolvem o meristema apical onde novas

células são produzidas. É freqüentemente coberta por uma grossa camada de mucilagem

(Figura 3b), usualmente considerada um lubrificante, para ajudar o ápice a atravessar o

solo. A mucilagem também protege contra a dessecação, especialmente se contém

arabinogalactanas que se associam a partículas do solo e ajudam a garantir a

continuidade do filme de água entre o solo e a raiz (Lynch, 1990). A mucilagem

também tem a função de proteção contra substâncias tóxicas do solo e funciona como

superfície de absorção, afetando a troca iônica, dissolvendo e provavelmente formando

quelatos com certos nutrientes. À medida que novas células são produzidas, as células

da periferia da ponta da raiz são destacadas (Figura 3b). Quando a raiz para de crescer, o
ápice da raiz pode ser protegido por suberização das suas células externas. Essa

metacutinização, que é uma modificação das pontas das raízes dormentes por

suberização de uma ou mais camadas de células da coifa (Romberger, 1963), não é

produzida em espécies anuais, mas é produzida em espécies perenes como as árvores,

presumivelmente como uma forma de proteção contra fatores adversos do solo

(Brundrett & Kendrick, 1990).

Figura 3. a) Ápice da raiz de cebola. No detalhe, células em diferentes fases de divisão.

Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005); b) Células da periferia radicular destacadas e

mucigel em raiz de plântula de cana-de-açúcar. Silvia Regina Goi – Departamento de

Ciências Ambientais – IF - UFRRJ (2005).

3.2. Epiderme

A epiderme, chamada por alguns autores de rizoderme, presente na estrutura

primária, funciona como interface entre a planta e o solo. A parede celular de células da

epiderme podem ser suberizadas, lignificadas ou relativamente não modificadas.

Células da epiderme de raízes novas secretam mucilagem.


3.3 Córtex

O córtex, região compreendida entra a epiderme e o cilindro central, é

freqüentemente composto por células do parênquima. O córtex pode se diferenciar em

aerênquima (Figura 2), com espaços intercelulares representados por grandes lacunas. O

aerênquima das raízes é considerado como um tecido que serve ao transporte de gases e

como reservatório de oxigênio necessário à respiração dos tecidos principalmente em

solos alagados. As células do córtex são altamente vacuoladas, seus plastídeos

usualmente não possuem clorofila, mas acumulam amido. A camada interna do córtex é

diferenciada em endoderme, e uma ou mais nas camadas externas, podem desenvolver

uma exoderme.

3.4 Exoderme

A camada de células abaixo da epiderme é chamada exoderme. É a camada

mais externa do córtex, podendo, apresentar vários estratos celulares, cujas paredes

poder ser suberizadas e/ou lignificadas (Raven et al, 1996).

3.5 Endoderme

Na região de absorção das raízes, as células da endoderme contêm suberina em

uma região que se estende completamente ao redor das células, nas paredes radiais e

transversais, formando as estrias de Caspary. Nas raízes que não apresentam

crescimento secundário, como nas monocotiledôneas, onde portanto o córtex é retido,

verifica-se um depósito adicional de camadas alternadas de suberina e cera internamente

às paredes das células endodérmicas, formando-se o chamado espessamento em “U”

(Figura 4).
Espessamento em “U” Estria de Caspary

Figura 4. Células da endoderme com espessamento em “U” e estria de Caspary de raiz

de Heliconia sp em diferentes fases de desenvolvimento. Depto de Botânica – IB

– UFRRJ (2005).

3.6 Tecido vascular e Cilindro central

O cilindro central compreende os feixes vasculares e uma ou mais camadas de

células não vasculares denominadas de periciclo. O xilema freqüentemente forma uma

sólida medula com projeções cônicas dispostas radialmente no periciclo. Feixes de

floema se alternam com os cones do xilema. Se o xilema não se diferencia no centro da

raiz, um cerne, consistindo de parênquima ou esclerênquima aparece (encontrado em

muitas monocotiledôneas).

4. Morfologia Radicular

A morfologia radicular refere-se às características intrínsecas externas do

sistema, sendo fundamental também na identificação e classificação das espécies. Em

geral é morfologicamente que se pode visualizar as principais alterações no sistema


devido a efeitos bióticos e/ou abióticos (McCully, 1999). Essas alterações são devidas

às características de elasticidade e plasticidade intrínseca dessa parte do vegetal.

A maioria das plantas ramifica suas raízes a partir do eixo principal em eixos

laterais de ordens superiores. Essas diferentes ordens de raízes podem variar suas

características, com relação à espessura, taxa de crescimento, capacidade de

crescimento secundário, duração, estruturas e adaptações. Essas variações por sua vez,

vão influenciar a capacidade de obtenção de água, nutrientes, sobrevivência a condições

adversas e a possibilidade de servir de habitat para microrganismos da rizosfera.

A radícula é a raiz inicial da planta e está geralmente presente no embrião

dentro da semente. Ela forma a raiz principal da plântula. Em certas espécies o embrião

é tão pequeno e imaturo, como nas micro-sementes de orquídeas, que a radícula não está

presente. Em gimnospermas e dicotiledôneas, a raiz principal e suas ramificações

constituem o sistema radicular. Nas monocotiledôneas, a primeira raiz comumente tem

um curto período de vida e o sistema radicular é formado por raízes adventícias (Figura

5) que emergem da parte aérea, freqüentemente em conexão com as gemas axilares

(Esaú, 1977). Um esquema da morfologia externa de uma raiz é apresentado na figura 6.


Figura 5. Raízes adventícias de Pandanus sp. No detalhe, a presença de espinhos.

Fotografia de Lucia Helena Cunha dos Anjos – Depto de Solos – IA – UFRRJ

(2003).
Figura 6. Morfologia de eixo radicular principal ou de raiz lateral. Modificado de Raven

et al (1996), por Orlando Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de

Solos – IA - UFRRJ (2006).

4.1 Pêlos Radiculares

A epiderme pode apresentar projeções que são os pêlos radiculares (Figura 7),

podendo ser curtos, longos, raros ou densos. Os pêlos radiculares são estruturas

cilíndricas e tubulares derivadas de células epidérmicas da raiz chamadas tricoblastos

(Müller & Schmidt, 2004).


Figura 7. Pêlos radiculares de Ravenala madagascariensis. A e B) Tecido submetido a

diferentes corantes; C) Detalhe do Pêlo (unicelular). Departamento de Botânica

– IB – UFRRJ (2005).

Os pêlos radiculares são importantes no processo de aquisição de nutrientes,

pois aumentam a superfície de absorção radicular. Resultados obtidos por Itoh & Barber

(1983) mostram a contribuição dos pêlos radiculares no aumento da superfície da raiz

de alface, tomate e Salsola kali L.. A distribuição, densidade e comprimento dos pêlos

radiculares, pode variar de acordo com fatores genéticos e ambientais. Experimentos

com tomate, canola e espinafre mostraram que a formação do pêlo é fortemente

influenciada pelo suprimento de nitrato e fosfato (Foehse & Jungk, 1983). O etileno

parece estar envolvido na regulação do desenvolvimento dos pêlos radiculares de

Arabidopsis thaliana L. crescida em baixa concentração de fósforo; a inibição do


etileno sob deficiência de fósforo resultou em redução do crescimento da raiz,

diminuição do número de células formadoras de pêlos radiculares e redução no

comprimento dos pêlos (Zhang et al 2003). Essas mudanças morfológicas são

sinergísticas à aquisição de fósforo, aumento da capacidade e competitividade da planta

quando este elemento é o fator limitante (Bates & Lynch, 2000; Bates & Lynch, 2001).

O crescimento dos pêlos radiculares é regulado por vários genes, como RHD2,

RHD3, RHD4 e T!P! (Aeschbacher, 1994). Esses genes podem codificar produtos que

afetam o crescimento da ponta do pêlo, tal como o fluxo de cálcio.

Antes da emergência do pêlo radicular, a maioria dos feixes de

microfilamentos nos tricoblastos são orientados longitudinalmente ao eixo da raiz;

durante o desenvolvimento do pêlo, eles mantém essa orientação. O primeiro passo é a

formação de uma protuberância no tricoblasto. Os microfilamentos ficam nesta

protuberância com a mesma orientação das células epidérmicas. As protuberâncias se

desenvolvem em pêlos radiculares e inicialmente apresentam diâmetro pequeno e têm

feixes finos de microfilamentos no citoplasma, mas que não chegam à ponta do pêlo. No

estágio intermediário de crescimento, o vacúolo principal fica encostado na ponta e os

microfilamentos podem se estender até a ponta, mas não são tão finos como no início do

crescimento. O pêlo totalmente crescido possui um grande vacúolo no centro da célula e

o citoplasma localizado perifericamente. Os microfilamentos ficam no citoplasma e se

dirigem até a ponta do pêlo, contornando-a (Miller et al 1999).

Outras modificações na morfologia de pêlos radiculares tem sido mais

intensivamente estudadas em plantas inoculadas com Rhizobium (Ervin & Hubbell,

1985; Cárdenas et al 2000). A especificidade das interações simbióticas entre Rhizobium

e as leguminosas hospedeiras é governada por um número de fatores que atuam em

vários estágios. Fatores “Nod” são os principais determinantes da especificidade para


várias espécies de Rhizobium (Dénairié et al. 1996). Fatores “Nod” são lipo-quitina

oligopolissacarídeos que aplicados em raízes de leguminosas podem induzir várias

respostas, tais como deformação do pêlo radicular e divisão de células corticais

(Walker & Downie, 2000). A estrutura básica de fatores “Nod” permite ao Rhizobium

leguminosarum bv. viciae entrar no pêlo radicular e os genes nod nodO ou nodE

promoveram o desenvolvimento subseqüente do cordão de infecção em Vicia hirsuta

(Walker & Downie, 2000).

Em pêlos radiculares, a presença de feixes finos de microfilamentos sub-

apicais estão correlacionados com o crescimento da ponta do pêlo. Após a aplicação de

fatores “Nod” específicos de Rhizobium, o número de feixes de microfilamentos sub-

apicais aumentou em todos os estágios de desenvolvimento do pêlo radicular de Vicia

sativa, mostrando de uma maneira quantitativa, como a aplicação de Fatores “Nod”

pode mudar a configuração dos microfilamentos do citoesqueleto. As mudanças são

muito rápidas para terem sido causadas pela transcrição de um novo gene e para síntese

proteica “de novo”. Isso implica em que os fatores “Nod” lipochito-oligossacarídeos

(LCO) acionam um sinal de transdução que termina produzindo moléculas que

influenciam o citoesqueleto de microfilamentos. Após a percepção da sinalização do

LCO, ocorre um influxo de íons de cálcio dentro dos pêlos radiculares de Medicago

sativa (Felle et al. 1998).

Vários trabalhos tem demonstrado o efeito da inoculação de bactérias

diazotróficas endofíticas, não só em gramíneas mas também em outras plantas

cultivadas, causando modificações nos pêlos radiculares. Azospirillum pode produzir “in

vitro” os fitohormônios AIA, giberelina e citocinina A aplicação de giberelina teve

efeito similar à inoculação de Azospirillum lipoferum, aumentando a densidade dos

pêlos radiculares (Bashan & Holguin, 1997). Estirpes de Azospirillum brasilense e A.


lipoferum aumentaram a formação de pêlos radiculares e produziram um número maior

de raízes laterais em trigo, tomate e pimentão (Bashan, 1998). O Azospirillum

promoveu um efeito específico na deformação do pêlo radicular de trigo, semelhante ao

efeito causado por Rhizobium na deformação de pêlos radiculares de leguminosas

(Patriquin et al 1983). Considerando o efeito da presença de bactérias no crescimento

dos pêlos radiculares, estas poderiam modificar a expressão dos genes que codificam o

crescimento dos pêlos em função da mudanças no nível de fitohormônios (Jain &

Patriquin, 1985) ou mesmo em função de mudanças na absorção de nutrientes minerais

(Lin et al, 1983).

Foram observadas variações na distribuição e tamanho dos pêlos radiculares

nas diferentes zonas de raízes de plantas cana-de-açúcar inoculadas com bactérias

diazotróficas; pêlos radiculares de tamanho maior foram obtidos com a inoculação da

estirpe Mex 77 de Azospirillum lipoferum; a inoculação com a estirpe PAL 5 de

Gluconacetobacter diazotrophicus promoveram um aumento da densidade de pêlos

radiculares na zona proximal da raiz (Baldani et al., 1999).

Em relação à forma do pêlo, foram observados pêlos radiculares bifurcados

(em forma de garfo) em plântulas de cana-de-açúcar inoculadas com Burkholderia

brasilensis. Pêlos radiculares helicoidais foram observados em plântulas de cana-de-

açúcar inoculadas com a estirpe PAL-5 de Acetobacter diazotrophicus (Goi et al 1998).

4.2 Formação de raízes laterais

A formação das raízes laterais é um processo multifásico que inclui pelo

menos a iniciação, emergência dos primórdios da raiz e ativação dos meristemas das

raízes laterais. Estas raízes se originam no periciclo, onde células quiescentes

individuais são estimuladas a se diferenciar e proliferar para formar primórdios de raízes

laterais (Figura 8). Os primórdios crescem via divisão e expansão celular. A emergência
dos primórdios a partir das raízes parentais ocorre primariamente por expansão celular.

Imediatamente após a emergência o primórdio fica ativado para formar um sistema

meristemático funcional da raiz lateral, que direciona o crescimento deste estágio em

diante.

Vários trabalhos indicam que a auxina seria necessária para a iniciação e

subseqüente crescimento das raízes laterais (Lloret & Pulgarin, 1992; Reed et a, 1998).

A aplicação exógena ou aumento da síntese endógena de auxina resulta em aumento

significativo do número de raízes laterais (Boerjan et al. 1995). A citocinina juntamente

com a auxina teria uma importante atuação na morfogênese da planta, influenciando a

formação da raiz e da parte aérea e seu crescimento relativo. Segundo Wightman et al.

(1980) as citocininas são formadas na ponta da raiz e interagem com a auxina na

regulação da formação das raízes laterais, tendo ação inibitória em relação à emergência

das raízes laterais. Resultados recentes mostram que as citocininas (cinetina e trans-

zeatina) tiveram efeito inibitório na iniciação da raiz lateral e efeito estimulatório no

alongamento da raiz lateral em arroz (Debi et al, 2005). Da mesma forma, em Lotus

japonicum a expressão do gene ARR5 (que controla a expressão de citocinina em

Arabidopsis) não foi observado nas células em divisão nos primórdios das raízes

laterais, mas foi observada alta expressão nas etapas seguintes da formação da raiz

lateral (Lohar et al. 2004); estes autores observaram também a expressão do ARR5 nos

pêlos radiculares deformados e também nos primórdios de nódulos, em resposta à

inoculação com rizobio. Em plântulas de Pinus pinea a formação de raízes laterais

estaria controlada por fatores de estímulo localizados na parte aérea (Atzmon et al 1994)
A B

Traqueídes

Raiz Lateral
Raiz Lateral

Endoderme

Xilema

Figura 8. Emissão das raízes laterais de Ravenala madagascariensis. a) Corte

transversal; b) Corte longitudinal, evidenciando os traqueídeos, que são células

relativamente alongadas e com a parede primária e secundária lignificada, com função

de condução de solutos e de sustentação; c) Detalhes do xilema primário da raiz lateral e

do rompimento das células da endoderme. Depto de Botânica – IB – UFRRJ, 2005.

4.3 Formação de raízes adventícias

Comumente, as raízes adventícias se formam a partir do caule, originadas da

divisão celular do córtex ou menos freqüentemente, a partir de gemas axilares


escondidas na casca. Geralmente tem origem endógena e surgem próximo aos tecidos

vasculares. Em caules novos de eudicotiledôneas e gimnospermas, as raízes adventícias

comumente surgem no parênquima interfascicular e em caules velhos, no raio hipotético

dos tecidos vasculares, próximo ao câmbio. Portanto a nova raiz aparece próxima ao

xilema e floema.

Quando as raízes adventícias são formadas em explantes, elas provavelmente

se originam no tecido que se localiza na base do explante. Os primórdios das raízes

adventícias são iniciados por divisão de células do parênquima, lembrando as divisões

que iniciam a formação de raízes laterais a partir do periciclo de raízes jovens. Antes da

emergência das raízes adventícias do caule ou raiz, são diferenciados um meristema

apical, uma coifa e o começo do cilindro vascular e do córtex.

Quando os elementos vasculares se diferenciam, a partir das células do

parênquima, localizadas na extremidade proximal do primórdio, estes passam a fornecer

uma conexão com os elementos correspondentes do órgão principal. A formação das

raízes adventícias tem sido bem estudada em conexão com os reguladores de

crescimento. Em explantes, é possível regenerar raízes, através da aplicação de auxinas,

o que aumenta o número de raízes adventícias (Esaú, 1977).

Durante a formação das raízes adventícias podem ser distinguidos diferentes

estágios de desenvolvimento: iniciação, desenvolvimento inicial, crescimento e

emergência do primórdio da raiz. A iniciação da raiz adventícia a partir de células

diferenciadas de tabaco é determinada pela expressão do gene HRGPnt3, induzido antes

da divisão celular dos primórdios. O desenvolvimento de primórdios de raízes

adventícias e raízes laterais de Arabidopsis é caracterizado pela expressão do gene

LRP1, que em raízes laterais foi mostrado como desligado antes da emergência do

primórdio. Em arroz inundado o crescimento de raízes adventícias é induzido pelo


etileno. Quando as plantas são submersas, a concentração de etileno aumenta (Métraux

& Kende, 1983) e a expressão das ciclinas sugerem que o etileno atua sistematicamente

e o primórdio da raiz responde ao etileno no estágio inicial de desenvolvimento

(Lorbiecke & Sauter, 1999). Recentemente isolado, o gene que controlaria a iniciação

dos primórdios de raiz adventícia em arroz: ARL1 seria um gene responsivo a auxina e

etileno. ARL1 estaria envolvido na diferenciação celular mediado pela auxina e promove

a divisão inicial nas células do periciclo, adjacentes ao cilindro vascular periférico no

caule (Liu et al., 2005).

4.4 Outras raízes especializadas

São raízes especializadas, os pneumatóforos, que são raízes aéreas e

esponjosas de plantas de mangue, e se constituem em raízes respiratórias, que possuem

canais de ar (lenticelas), para troca gasosa com a atmosfera e existe uma via interna para

distribuição de O2 dentro da raiz, para suprimento das raízes submersas. Ainda, as raízes

adventícias do tipo escora, com espinhos, como as de Pandanus sp, que servem como

suporte mecânico à planta, seriam também uma outra especialização (Figura 5).

As raízes proteóides ou raízes em cluster (Figura 9) são adaptações

encontradas em um número grande de famílias, incluindo Leguminosae, Betulaceae,

Myricaceae, Elegnaceae, Casuarinaceae, Proteaceae e Moraceae (Skene, 2000;

Neumann & Martinoia, 2002).


A B

C
A D

Figura 9. Raizes proteóides ou raízes em cluster de diferentes espécies. a) Lupinus

albus; b) Hakea sp; c) Lupinus sp e d) Imagem obtida por endoscopia de solo. Diâmetro

do eixo radicular menor ou igual a 0,2 mm (Fotografia de 18 x 13,5 mm). Fontes: a b

Nemoy, 2006; c Schimidt, 2006; d Brasil, 2005.

Do ponto de vista ecológico, as raízes em cluster, embora ocorram em várias

famílias, pertencem a um número limitado de ecotipos. Muitas espécies que possuem

essas raízes são espécies pioneiras e muitas não se associam com micorrízas ou exibem

infecção micorrízica reduzida. Essas raízes são consideradas juntamente com as

micorrizas e nódulos das leguminosas, as maiores adaptações para a aquisição de

nutrientes.

Cada raiz em cluster é composta por pequenas raízes de desenvolvimento

determinado, que surgem do periciclo, opostas ao pólo do protoxilema, e dão à raiz o


formato de “escova de lavar mamadeira”. A iniciação está ligada a vários fatores,

incluindo deficiência de fosfato. Essas raízes combinam adaptação de ramificação da

raiz, alteração da rizosfera, desenvolvimento da raiz e absorção de nutrientes em uma

única via. A formação das raízes em cluster parece ser induzida pela diminuição da

disponibilização de fósforo e pelo menos em algumas espécies, pela deficiência de ferro

(Neumann & Martinoia, 2002). Existem evidências fortes de que ocorram mudanças

metabólicas durante o desenvolvimento das raízes proteóides, contribuindo para um

aumento no acúmulo de carboxilato no tecido da raiz e finalmente a liberação

temporária desses compostos na rizosfera.

Durante o estágio de desenvolvimento destas raízes, grandes quantidades de

carboxilatos, prótons, fosfatases ácidas e compostos fenólicos são liberados na rizosfera

durante um período de 1 a 3 dias. Este padrão de desenvolvimento da raiz em cluster é

associado a um aumento na concentração de carboxilatos no tecido da raiz e uma troca

na acumulação de malato por citrato, antes da exsudação. A liberação temporária de

carboxilatos pelas raízes em cluster é provavelmente mediada por mecanismos de

transporte controlado. Em Lupinus albus, estudos com inibidores sugerem o

envolvimento de canais iônicos para exsudação de citrato acoplados com a

concomitante liberação de prótons para manter o balanço de cargas (Neumann &

Martinoia, 2002).

4.5 Rizosfera e Rizoplano

Em termos nutricionais, a interface solo-raiz é bastante importante e os

eventos que ocorrem na rizosfera, serão referenciados nos próximos capítulos. O termo

rizosfera foi introduzido por Hiltner em 1904, e é a zona de influência das raízes, que

vai desde a sua superfície até uma distância de 1 a 3 mm. Entretanto, atualmente, outros

autores em trabalhos mais recentes, consideram uma distância de até 5 mm. A sua
extensão varia com o tipo de solo, espécie considerada, idade e muitos outros fatores,

mas assume-se que esta se estenda a partir da superfície da raiz (rizoplano) até poucos

milímetros para dentro do solo, ou possivelmente poucos centímetros, em alguns casos

especiais (Lynch, 1990). É neste volume do meio de crescimento do sistema radicular

que se processa uma infinidade de eventos físico-quimico-biológicos que podem alterar

a morfologia e a dinâmica do sistema radicular e a disponibilidade de nutrientes, ao

mesmo tempo, que este espaço pode ser alterado pelo sistema radicular.

5. Fisiologia das Raízes.

O sistema radicular como um todo, independente de seu desenvolvimento

fásico ou idade, apresenta regiões espacialmente mais ou menos ativas, em relação à

capacidade intrínseca de absorver água e nutrientes, de exsudarem moléculas orgânicas,

ou de fazer extrusão de prótons. Em relação à absorção de água, nutrientes e outros

solutos, faz-se necessário o entendimento da interface solo/planta, das rotas de absorção

e das barreira existentes nos tecidos radiculares, que podem acelerar ou reduzir a

velocidade do movimento radial, da superfície radicular até o cilindro central.

5.1. Rotas de Absorção

O movimento da água, nutrientes e outras substâncias a partir da superfície da

raiz - considerando a rizosfera - ao interior das plantas, ocorre em dois espaços distintos

denominados de apoplasto e simplasto, até a endoderme (Figura 10).

O apoplasto é definido como um "continuum" entre as paredes celulares,

espaços intercelulares e os vasos xilemáticos ao longo de todo o corpo da planta desde o

córtex da raiz até os traqueídes e elementos de vaso que chegam às folhas. A

caracterização do apoplasto remonta ao botânico Ernst Münch, que em 1930, distinguiu

a planta em dois compartimentos: o morto, que denominou de apoplasto e o vivo, que

denominou simplasto. Münch sugeriu, na época, que a função do apoplasto era


exclusivamente o transporte de água e solutos. Hoje sabemos que este compartimento

tem funções mais numerosas, e que os nutrientes simplesmente não apenas atravessam o

apoplasto, mas podem ser adsorvidos ou fixados na parede celular, por exemplo, com

implicações diretas na aquisição de nutrientes, além de poder conferir tolerância de

algumas plantas à toxidez por metais (Al, Mn). Este espaço pode ser colonizado por

microorganismos, que podem contribuir diretamente para a nutrição da planta

(Sattelmacher, 2001).

De acordo com a compreensão atual, todos os compartimentos além da

plasmalema constituem o apoplasto, incluindo o espaço interfibrilar e intermicelar das

paredes celulares, o lumem das células mortas e os espaços intracelulares do xilema

(com água e gases), sendo as suas bordas externas formadas pela superfície do rizoplano

e da cutícula na parte aérea (Sattelmacher, 2001). Entretanto, pode existir uma

interrupção neste contínuo apoplástico, quando considerada a planta toda, esta

interrupção é representada pela endoderme, mais especificamente pelas estrias de

Caspary, onde uma camada mais ou menos suberizada pode apresentar maior ou menor

permeabilidade a água e solutos.


Figura 10. Rotas para absorção de água e nutrientes. A partir do córtex até o cilindro

central o movimento acontece entre os espaços celulares (rota apoplástica) ou através

dos plasmodesmos (rota simplastica) ou aquaporinas (para água). Desenho de Orlando

Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de Solos – IA - UFRRJ (2006).


Atualmente, considera-se a endoderme, com as estrias de Caspary, uma

barreira, porém, não totalmente impermeável, ao movimento radial da água e íons nos

dois sentidos (Pimentel, 2004).

RANATHUNGE et al (2005) usando uma nova técnica de precipitação de

sais, estudaram a permeabilidade da parede celular, e, em especial das estrias de

Caspary da endoderme, utilizando como modelo de estudo raízes jovens de milho e

arroz. Os autores concluíram que em termos de permeabilidade da estria de caspary para

íons não representa uma barreira absoluta. Esses autores verificaram que alguns íons

podem eventualmente ultrapassar a barreira da endoderme, mas consideram este

fenômeno pouco relevante, do ponto de vista da nutrição da planta. A permeabilidade da

barreira endodérmica pode variar em função das condições e fases do crescimento

radicular. Em particular, observaram os autores, que em arroz pode haver um fluxo

apoplástico significativo pelas regiões onde o surgimento das raízes laterais rompe a

barreira endodérmica.

O simplasto por sua vez é considerado como todo o citoplasma e membranas

de todas as células vivas. Muitas vezes faz-se referência ao simplasto como uma

unidade devido à existência dos plasmodesmos, observados apenas em células vegetais,

e que são interligações entre membranas de células vizinhas, criando pontes

citoplasmáticas (Figura 11).

Os plasmodesmos, são estruturas tubulares da membrana plasmáticas de 40 a

50 nm de diâmetro que atravessam a parede celular e conectam os citoplasmas das

células adjacente (Taiz & Zeiger, 2004), e ocorrem em uma densidade que pode variar

de 0,1 a 10,0 por µm2 (cerca de 20.000 por cada parede tangencial, ou 5×108

unidades/cm2). Anatomicamente, apresentam uma estrutura interna complexa,

constituída pelo eixo central, desmotúbulo (que é um prolongamento do retículo


endoplasmático), cavidade central e proteínas filamentosas, entre outras organelas,

sendo que o movimento do íon se faz exclusivamente pela cavidade central. O papel do

desmotúbulo, que envolve o eixo central, ainda é incerto quanto ao movimento de

solutos e outras substâncias, pois não parece existir espaço entre essas membranas para

tal fim.

Figura 11. Plasmodesmatas. Microfotografia de microscópio eletrônico de transmissão

de nódulo radicular de Mimosa caesolpiniaefolia. Silvia Regina Goi – Departamento de

Ciências Ambientais – IF - UFRRJ (2005).

5.2. Absorção de água.

Para as plantas terrestres, o solo é o reservatório natural de água, e ela está

presente no solo como água gravitacional, capilar e higroscópica. A gravitacional é

pouco utilizada, pois é drenada rapidamente através do macroporos. A higroscópica

constitui uma fração que está quimicamente ligada às partículas do solo, formando uma

película líquida, e não é utilizada pela planta devido a grande tensão de retenção. A

fração de água capilar, retida nos microporos, por sua vez é de extrema importância por

representar a fonte direta para a planta.


Até à superfície das raízes, que representam o acesso para o interior do

vegetal, a água se movimenta por difusão ou por fluxo de massa, e a partir daí, flui e

penetra pela camada epidérmica. Uma vez na superfície da raiz, a absorção e/ou

movimento da água pode ocorrer através de três rotas (simplástica, apoplástica ou

transmembranar), até atingir o cilindro central onde ascenderá pela planta para as

demais partes do vegetal. Esse deslocamento se dá sempre de zonas hipotônicas (menos

concentradas) para zonas hipertônicas (mais concentradas), ou seja, de zonas com

elevado potencial hídrico para zonas de baixo potencial hídrico. Um efeito típico, que

viabiliza este mecanismo, é a própria absorção ativa de íons (Capítulo 5 deste volume),

fazendo com que as raízes acumulem nutrientes, e outros solutos e elementos em

concentrações centenas de vezes superiores ao do meio externo. Este transporte torna a

solução interna ainda mais hipertônica, diminuindo o potencial hídrico e causando mais

entrada de água por osmose.

Pela rota apoplástica, da rizoderme até o xilema no cilindro central, passando

pela endoderme, onde pode haver dificuldade à sua passagem, mas não impedimento,

em função da composição química da endoderme, ao seu desenvolvimento e

especificidade (mono e eudicotiledôneas; Pimentel, 1998). Durante este movimento, por

um ou outro mecanismo, pode haver absorção de água pelas células corticais.

Pela rota simplástica, a absorção preferencial para as células da raiz se dá

através dos pêlos radiculares, onde a água se movimenta pelo citoplasma, passando de

célula a célula, pelos plasmodesmos até o cilindro central. A rota transcelular (ou

simplástica), sendo um movimento célula a célula, atravessa pelo menos duas

membranas, via aquaporinas, descobertas na década de 90, que são canais seletivos para

água, regulados pelo seu estado de fosforilação, de modo que as células podem regular a

sua permeabilidade à água ao acrescentando ou removeno grupos fosfato a resíduos de


aminoácidos específicos. Esta modulação da atividade da aquaporina pode então alterar

a taxa de movimento da água através da membrana (Taiz & Zeiger, 2004).

Espacialmente, considerando um único eixo radicular, a absorção e

movimentação da água tende a ocorrer mais rapidamente através das regiões que

oferecem menor resistência à sua movimentação. Essas regiões variam de acordo com a

espécie, idade e velocidade de desenvolvimento da raiz. Atualmente, sabe-se que a

máxima absorção de água ocorre na região de diferenciação celular onde o xilema está

bem diferenciado e na qual a suberização e lignificação ainda não reduziram a

permeabilidade das paredes celulares, destacando-se em especial as regiões de pêlos

radiculares. Nas regiões meristemáticas, a absorção de água é bastante limitada, devido

principalmente à grande resistência oferecida pelo protoplasma denso e a falta de

elementos de condução nesta região.

Quando considerado o sistema radicular como um todo, sob condições normais

de hidratação da planta (e do solo), a absorção de água é feita preferencialmente via

simplástica. Com a redução da água disponível, ou aumento da transpiração, o

mecanismo apoplástico é ativado. Por fim, sob condições de déficit, o transporte trans-

membrana é ativado (aquaporinas). Destes mecanismos, o apoplástico, resulta também

em maior arraste de solutos da rizosfera, aumentando a zona de depleção (Pimentel,

2004). A velocidade de deslocamento de água pela via apoplástica pode ser cerca de 60

vezes superior à prevista para movimentos citoplasmáticos, e, considera-se que este

deva ser o percurso preferencial, nos momentos de demanda elevada.

5.3 Absorção de nutrientes

A absorção de nutrientes e o seu movimento radial até o cilindro central

acontece da mesma forma que o descrito para a água, exceto para a rota

transmembranar. As plantas adquirem numerosos íons e substâncias, mesmo


desnecessárias ou tóxicas, do solo, pelas vias apoplásticas e simplásticas. Estes podem

se movimentar até o cilindro central, serem assimilados em tecidos próprios ou ainda

ficarem retidos nas cargas da superfície radicular (CTC radicular). Isso implica

inclusive na possibilidade de dispersão de substâncias potencialmente tóxicas para os

seres vivos, sendo, porém esta capacidade das plantas, proveitosa para a “remediação”

de solos contaminados (Capitulo 15 neste volume).

O deslocamento via simplasto por sua vez é dependente inicialmente de um

mecanismo qualquer (bomba, canal ou transportador; Capitulo 6 neste volume), que

permita a sua entrada na célula vegetal, ultrapassando a membrana plasmática, o que

pode acontecer em qualquer parte da raiz, em células compreendidas entre o espaço

físico da superfície radicular e o cilindro central, resguardando a variabilidade relativa

para cada elemento e espécie vegetal. Este deslocamento, ao contrário do que se

imagina, não é totalmente livre, pois estas superfícies radiculares, em geral, apresentam

um quantidade relativa de cargas, que podem reduzir ou aumentar a velocidade de

deslocamento do íon neste espaço. Porém, indubitavelmente, a velocidade de

movimento neste espaço é sempre maior que pela rota simplastica.

Quando o íon de uma forma ou outra cruza a endoderme, também pode

regressar ao apoplasto, difundindo-se para dentro de um traqueídeo ou elemento de vaso

no xilema, sendo conduzido até o local específico de sua absorção, e, para participar

ativamente do metabolismo necessita ser reabsorvido (Taiz & Zeiger, 2004). É ainda

possível, que alguns elementos, principalmente os não estruturais como o potássio,

possam de uma ou outra forma retornar mais facilmente para os espaços intercelulares

(apoplasto), após a reabsorção. Indiscutivelmente, porém, a presença da estria de

Caspary permite à planta manter uma concentração iônica mais elevada em seus tecidos

do que na solução do solo (Taiz & Zeiger, 2004).


5.4 Zonas e taxas de absorção

O termo taxa de absorção de nutrientes, embora usado com conotações

variadas na literatura, tende a englobar as contribuições dos processos associados à sua

aquisição do solo, que é produto da interação entre as propriedades absortivas do

sistema radicular, o seu estágio de desenvolvimento (arquitetura e tamanho), e a

concentração do nutriente na solução do solo e na superfície radicular (Jungk, 1991;

Williams & Yanai, 1996).

A taxa de absorção de um dado nutriente pode ser estimada a partir da área

superficial e da cinética de absorção, tal como mostra a equação (Williams & Yanai,

1996):

TAn = 2 .π .r L.α. C ................................. ...............Equação 1

onde “TAn” é a taxa de absorção do nutriente, “r” o raio radicular, “L” o

comprimento radicular, “α” o poder de absorção radicular (relacionado aos mecanismos

de transporte do nutriente a nível de membrana), e “C” a concentração do soluto na

superfície radicular, expressos em dimensões e unidades homogêneas.

A equação 1 ainda é uma representação parcial do processo de aquisição de

nutrientes, na medida que não integra efeitos importantes, tais como exsudação

radicular ou variações do pH rizosférico, induzidas pelo próprio processo de absorção

(Fernandes & Rossiello, 1995). Entretanto ela tem sido extensivamente usada em

modelos de simulação de absorção, ao explicitar os principais fatores envolvidos

(Williams & Yanai, 1996). Por outro lado, a qualquer instante, a taxa de absorção

representa o produto da intensidade do influxo do nutriente (ou taxa de absorção por

unidade de área radicular) pelo tamanho do sistema radicular (a sua área superficial

total).
Destaca-se ainda, que esses modelos avaliam o sistema radicular

como um todo, mas consideram que apenas a superfície radicular é

responsável pela absorção. Isso leva a uma superestimativa da atividade

absortiva das células epidérmicas. Essa superestimativa acontece também

quando se avalia o influxo ou efluxo em plantas de diferentes idades. Neste

caso, sabendo-se que as regiões mais novas da raiz tem maior capacidade

absortiva, pode-se explicar porque um sistema radicular novo tem maior

influxo, pois proporcionalmente, existem mais superfícies aptas à absorção, do

que regiões suberizadas.

Quando se estuda um eixo unitário do sistema radicular, seja de uma raiz

principal ou de uma lateral, pode-se observar a existência de um gradiente ativo entre

seu ápice e a sua base, já que apresentam anatomia e fisiologia semelhantes, variando

apenas em magnitude e função.

Sabendo-se que a atividade radicular pode ser medida pela intensidade do

efluxo de prótons, o trabalho de Fan & Neumann (2004) mostra que a acidificação ao

longo da zona de alongamento de uma raiz, tende a alcançar um máximo a

aproximadamente 4 mm do ápice, quando em condições de controle de deficiência

hídrica, como mostrado na figura 12, e, a partir dos 6 mm, o ritmo é desacelerado,

tendendo a ficar constante.


15 0,3
Efluxo

Efluxo de H (nmol m s )
-1
12 TCR
-2
0,2

TCR Raiz (h )
-1
9
+

6
0,1

0 0
0 2 4 6 8 10
Distância do apice radicular (mm)

Figura 12. Variação espacial do efluxo de prótons e da taxa de crescimento relativo da

raiz (TCRRaiz) em raízes de milho, sob condições hídricas favoráveis. Modificado de

Fan & Neumann (2004).

Enquanto as raízes principais têm como principal função a fixação, e as

laterais, a absorção, ambas possuem as respectivas zonas de crescimento, alongamento e

maturação. Assim podem possuir regiões mais ou menos ativas fisiologicamente,

quando da absorção de nutrientes, e este tem sido um tópico de considerável interesse.

Taiz & Zeiger (2004) expõem claramente as diferentes linhas, onde alguns autores

consideram que os nutrientes sejam absorvidos somente nas regiões apicais dos eixos

principais ou de menor calibre, enquanto outros consideram a absorção ao longo de toda

a superfície radicular. Isto está, entretanto relacionado com a espécie estudada e com a

tecnologia adotada para estudar a absorção, que pode ser mais ou menos sensível a

ponto de identificar tais diferenças.

Trabalhos clássicos da literatura demonstram diferentes variações na absorção

de nutrientes pelas raízes em função da espécie estuda. Por exemplo, na cevada, o ferro
é absorvido mais intensamente na região apical, enquanto que no milho, a absorção do

mesmo elemento não tem tal diferenciação. Potássio, nitrato e amônio, na maioria das

espécies são absorvidos igualmente em toda superfície, mas, em particular no milho, é

na zona de alongamento que encontramos as taxas máximas de absorção. Taiz & Zeiger

(2004), explicam que uma possível maior absorção nas zonas apicais é resultado da

elevada demanda metabólica por nutrientes nestes tecidos. De qualquer maneira porém,

a absorção de íons é mais pronunciada na zona de ocorrência de pêlos radiculares, do

que nos meristemas de crescimento ou na zona de alongamento. Isto se deve ao fato de

que estas células completaram seu alongamento, mas não iniciaram seu crescimento

secundário, e têm grande superfície de contato com o solo, aumentando a superfície de

absorção (Taiz & Zeiger, 2004).

A partir da zona de pelos radiculares, até o local onde surge a primeira raiz

lateral, tem-se uma área com absorção reduzida (onde acontece o crescimento

secundário, nas eudicotiledôneas). Quando surge a primeira raiz lateral, as regiões

fisiológicas acima descritas se repetem, e as mesmas explicações são válidas. Um ponto

duvidoso, mas importante, na absorção de água e nutrientes é o local de surgimento das

raízes laterais, onde há o rompimento da endoderme (figura 8). Temporariamente, esta

região pode ficar sujeita a fluxos intensos para o interior da planta de água, nutrientes,

moléculas orgânicas e elementos tóxicos.

5.5 Extrusão de prótons

O efluxo ativo de prótons na raíz, por H+-ATPases ligadas a membrana

plasmática, na raiz, é de importância fundamental para a planta, participando de seu

crescimento através de processos como absorção de nutrientes, geração de turgência

celular, acidificação externa para relaxamento da parede celular e desenvolvimento de

polaridade em células em crescimento (França et al, 2005). Quando um excesso de


cátions é absorvido pelas células radiculares, (Capitulo 6 deste volume), uma

quantidade equivalente de carga positiva deve ser deslocada para o espaço extracelular,

para evitar excessiva despolarização através da plasmalema, com efeitos lesivos para a

funcionalidade da membrana e evitando flutuações acentuadas no pH do citossol

(Fernandes e Rossiello, 1995). Este efeito é notório quando acontece a absorção de

cátions de alta demanda metabólica como por exemplo NH4+ e K+. Isso ocasiona a

acidificação no meio rizosférico, como resultado do efluxo líquido de H+ gerado no

processo (França et al, 2005).

Na literatura encontram-se referências de estimativas do efluxo liquido

expressas por unidade de massa de raiz fresca ou seca, ou ainda por planta inteira

(França et al, 2005), porém uma estimativa mais apropriada para o efluxo instantâneo,

considerando o sistema radicular como um todo e um volume fixo de solução ou meio,

pode ser aproximado pela equação descrita por França et al (2005):

1 dU H +
EH+ = ⋅ ................................. ...............Equação 2
AR dT

onde; UH+ é conteúdo total de prótons livres na solução, t o tempo, e AR a área

dU H +
radicular através da qual prótons permeiam à solução segundo a uma certa taxa .
dT

dU H + ∆UH +
Na prática é aproximado por , mas mesmo assim a aplicação da
dT ∆T

Equação 2 envolve muita incerteza, considerando a variação axial do influxo-efluxo de

H+ no ápice radicular, das dificuldades técnicas associadas à determinação da atividade

de H+ ao nível da superfície radicular e da quantificação precisa da área radicular

(Zonta, 2003).
5.6 Exsudação radicular

Os sistemas radiculares acrescentam quantidades significativas de carbono ao

solo, em suas mais diversas formas, independente da quantidade estocada nos seus

tecidos e disponibilizada após a colheita ou morte da planta.

O carbono acrescentado à rizosfera durante o crescimento ativo da raiz

raramente excede 1% de peso seco (Nye, 1981) sob condições normais de crescimento.

Porém, essas taxas podem ser 2 a 4 vezes maiores sob condições de estresse, onde,

dependendo da espécie e condições ambientais, até 40% do carbono fixado pelas plantas

pode ser depositado diretamente na rizosfera (Zonta, 2003), o que significaria 5 - 25%

do C líquido assimilado pela planta, resultando em uma perda líquida de fotossintatos.

Exemplos típicos de exsudações radiculares são os ácidos orgânicos, por

estarem diretamente envolvidos na tolerância das plantas ao Al (Zonta, 2003) (Capitulo

16 deste volume). Os ácidos orgânicos têm relação especial com a toxicidade por Al e

outros metais e com a nutrição da planta (Jones, 1998; Ryan, 2001), participando como

componente chave no sistema operacional da interface solo-raiz (Búcio et al, 2000).

Além destes, uma grande quantidade de substâncias são exudadas pelas raízes, entre

elas podem ser citados: açúcares, compostos aminados, ácidos orgânicos, ácidos graxos,

esteróis, nucleotídeos, flavonas, enzimas e outras substâncias.

6. Dinâmica do desenvolvimento radicular

O crescimento das raízes ocorre quando células da região meristemática (coifa)

dividem-se, alongam-se e levam a ponta da raiz através do material adjacente. A pressão

de turgor nas células que se alongam é direcional, que deve ser suficientes para se

sobrepor à resistência da parede celular ou às demais resistências externas do meio.

Assim, a pressão de turgor celular e a resistência da parede celular, somadas as


resistências do meio à deformação, são fatores importantes para avaliação do

crescimento radicular através do solo (Camargo & Alleoni, 1997).

Plantas cultivadas, tipicamente possuem raízes que crescem 1 cm ou mais por

dia (Russel, 1977), enquanto que raízes de plantas em ecossistemas naturais podem

crescer 1 mm ou menos por dia (Brundrett & Kendrick, 1990).

6.1 Rizocrescimento

Nos vegetais, a maior parte do desenvolvimento ocorre após a embriogênese

através das atividades de seus meristemas, os quais continuam formando órgãos (raízes,

ramos, folhas, verticilos florais e frutos) ao longo de todo o ciclo de vida. Essa continua

formação de órgãos, parece ser uma adaptação das plantas à vida fixa em substratos,

permitindo que seu desenvolvimento seja ajustado às variações de água, luz e nutrientes

(plasticidade fenotípica).

Dentre os principais grupos de hormônios envolvidos no crescimento dos

vegetais, as auxinas e citocininas parecem estar intimamente associadas à atividade dos

meristemas radicular PERES & KERBAUY (2000). Como um todo, o sistema radicular

repete-se indiscriminadamente e de forma caótica, existindo um diferencial a nível

hierárquico (magnitude do sistema), sempre modulado pelas condições ambientais.

6.2 Economia de carbono e nutrientes nos sistemas radiculares

As raízes são órgãos heterotróficos das plantas (com exceção de alguns tipos

singulares, fotossintetizantes, como das orquídeas), e por tal motivo, os gastos com

carbono no sistema radicular se constituem em limitação primária para o crescimento de

plantas cultivadas, comuns em solos com baixa disponibilidade de nutrientes (Nielsen et

aI., 1999), como os solos brasileiros, pois o crescimento e a atividade do sistema


radicular apresenta um custo metabólico significativo, especialmente, quando a planta

está sob estresse edáfico (Lynch, 1995).

MOREIRA & SIQUEIRA (2002) citam que até 60% do carbono

fotoassimilado pode ser consumido pelo sistema radicular, sendo que metade deste em

média é utilizado pela respiração (25% do carbono fotossintetizado), e o restante,

utilizado para a formação de tecidos, do mucigel e exudação radicular. Estes

fotossintatos são translocados de suas fontes até o sistema radicular através do floema, e

seu movimento através dos tecidos se dá via plasmodesmatas, podendo, a qualquer

momento, compor novos tecidos, formar o mucigel ou ainda deixar o simplasto e

penetrar no apoplasto, podendo ser eventualmente exudados para o solo ou ser trocados

por íons.

Pimentel (1998), revisando diversos autores, indica que 44% do carbono

fixado pela fotossíntese vá para a raíz, com 1/4 desse valor utilizado no crescimento, e o

restante na respiração de manutenção. O mesmo autor afirma que para plantas em

simbiose com o Rhizobium, pelo menos 12% dos fotossintatos produzidos pela planta

são gastos na respiração e crescimento dos nódulos, assim como em plantas

micorrizadas, 5 a 10% destes fotossintatos são usados pelo fungo.

A quantidade de fotoassimilados na planta é, geralmente, proporcional à área

foliar, resguardando as particularidades devidas. Sabe-se que o alongamento de raízes

cessa num período de 24 horas, quando 40-50% da parte aérea é removida, tanto em

plantas de metabolismo fotossintético C3, como C4 (Richards, 1993). Assim, o

desenvolvimento de novas folhas, a partir do momento que assumem o papel de fonte,

correlaciona-se positiva e linearmente com o alongamento radicular.

Matthew et al (2001), mostraram que a redução no metabolismo e senescência

do sistema radicular é diferenciada de acordo com o fitômero de origem da raiz. Raízes


mais velhas, que crescem a partir de fitômeros mais distantes da coroa da planta,

recebem menor quantidade de fotoassimilados, o que determina a redução na taxa de

alongamento e a progressiva diminuição na respiração destas raízes, sinalizando o

avançar do processo de senescência e eventual morte. Logo, pode-se conjecturar que a

alocação de fotossintetizados é inversamente proporcional à distância das raízes em

relação à coroa da planta, ou seja, há maior partição de carbono para as raízes mais

próximas da fonte de fotoassimilados (folhas).

MATTHEW et al (2001) demonstraram que a maior redução no carboidrato

alocado à raiz ocorre em sua ponta, onde se concentra a atividade meristemática. As

raízes recém formadas (mais jovens) e portanto, mais próximas à superfície do solo,

foram as que receberam a maior parte do carbono direcionado ao sistema radicular.

Neste contexto, estabelece-se um aparente paradoxo, em que a planta investe no

metabolismo de raízes superficiais, mais sujeitas ao déficit hídrico do solo, enquanto

provoca a morte de raízes (velhas) estabelecidas em maiores profundidades do solo,

onde há maior disponibilidade de água.

Portanto, a seleção de plantas com sistema radicular bem desenvolvido, para

profundidade e área radicular, apesar da raiz não ser um órgão colhido na maioria das

culturas, permitirá aumentos de produtividade (Pimentel, 1998).

6.3 Arquitetura e topologia radicular

Um sistema radicular pode ser definido como um objeto que apresenta auto-

semelhança e complexidade infinita, ou seja, têm sempre cópias aproximadas de si

mesmo em seu interior. Essa é a própria definição de fractal, e assim é o sistema

radicular de toda e qualquer espécie, apresentando aparência consensual e crescimento

caótico.
A arquitetura radicular nada mais é primordialmente do que a forma

determinada geneticamente, de ordenar e organizar no espaço este órgão, de forma a

obter sua melhor eficiência de uso, na aquisição de recursos. A topologia de um sistema

radicular, por sua vez, está contida no sistema arquitetônico radicular, e permite a

quantificação desta organização. A figura 13, mostra a arquitetura radicular de várias

espécies (Lynch, 1995), onde a diversidade estrutural dos sistemas radiculares é vista

como uma adaptação para o desempenho mais eficiente das funções das raízes.

Figura 13. Exemplos de variação da arquitetura radicular. Imagens obtidas a partir de

escavação parcial de diversas eudicotiledôneas Européias. Modificado de Lynch (1995),

com permissão da American Society of Plant Biologists.


Um sistema radicular eficiente é aquele que otimiza a relação entre quantidade

de recursos adquiridos e empregados para sua obtenção, e, a arquitetura do sistema

radicular é fundamental para a aquisição de recursos no solo (Miller et al., 1999). Sua

definição é muito complexa, por envolver vários aspectos, como taxa de crescimento,

ramificação, orientação e longevidade dos diferentes tipos de raiz (Bonser et aI., 1996).

O desenvolvimento espacial do sistema radicular determina a habilidade da

planta em explorar recursos que estão mal distribuídos (Fan et aI., 2003), e a arquitetura

do sistema radicular pode alterar o custo dessa exploração em termos de carbono, e,

definir a capacidade de competição do sistema radicular (Fan et aI., 2003). Lynch

(1995) afirma não existir uma ferramenta quantitativa adequada que caracterize o

sistema radicular, já que estes sistemas variam amplamente em função da característica

genética e da sua interação com vários fatores físicos, químicos e biológicos no solo,

além dos temporais e espaciais.

A geometria radicular tem importante papel na dinâmica global do ecossistema

pastoril (Jarvis, 1999), através de efeitos sobre a aquisição de nutrientes de baixa

mobilidade, como o fósforo; a captura e reciclagem de outros nutrientes em

profundidade, como o nitrato, e o estabelecimento de associações com a biota do solo

(Mc Cully, 1999; Salcedo, 1999). O estudo desses aspectos, que relacionam a

distribuição radicular às suas funções de aquisição de água e nutrientes, demandam a

separação das raízes em classes funcionais, e a quantificação da sua contribuição ao

sistema total (Rossiello et al., 1995).

A resposta da arquitetura radicular à disponibilidade de fósforo parece ser

extremamente específica (Bates & Lynch, 2000; Williamson et aI., 2001; López-Bucio

et aI., 2002), influenciando o ângulo de crescimento das raízes basais em relação à

gravidade (Bonser et aI., 1996).


Estudos relativos à arquitetura do sistema radicular são úteis na quantificação

da eficiência fisiológica de sistemas radiculares contrastantes, fornecendo ferramentas

para a investigação de mecanismos específicos, viabilizando a formação de variedades

cultivadas com maior eficiência no uso de fósforo (Nielsen et aI., 1999).

6.4 Características de interesse quantitativo

Na tabela 1 são apresentados as principais características radiculares a serem

medidas de acordo com suas funções (Adaptadas do trabalho de Atkinson, 2000).

Tabela 1. Principais características radiculares mensuradas, unidades e funções.

Modificada e adaptada de Atkinson (2000).

Característica Unidade Definição Função


Determina o potencial de
Somatório do
absorção de água e nutrientes
Comprimento m ou Km de comprimento de
do solo. Indicador da
Radicular raízes todos os eixos
interação das raízes com os
radiculares
microorganismos do solo.
Somatório em massa Estoque total de massa
Massa Radicular g ou Kg de
de todos os eixos subterrânea alocada.
(fresca ou Seca) raízes
radiculares. Conteúdo de Reserva.
Espaço ocupado
Volume cm3 ou m3 de Volume de solo explorado
pelo sistema
Radicular raízes. pelas raízes.
radicular.
Superfície de
cm2 ou m2 de Absorção de água e
Área radicular contato ente as
raízes. nutrientes do solo.
raízes e o solo.
Potencial do
desenvolvimento de
associações com
Diâmetro médio dos
microorganismos; indicação
eixos radiculares.
Diâmetro da regulação do stress
mm Geralmente assume-
Radicular hídrico; potencial do
se a raiz como um
crescimento radicular;
cilindro.
indicador da influencia e
respostas das condições
físicas e químicas do solo.

Os valores da Tabela 1, podem ser expressos por unidade de volume de solo

extraído, sendo apresentados como densidade da área radicular (DRA), do comprimento


radicular (DRC) e da massa seca radicular total (DMR), expressas em cm2 dm-3, m dm-
3
e g dm-3, respectivamente (Van Noordwijk, 1993; Brasil et al., 2005). Durante muitos

anos, o tempo gasto nas atividades de quantificação desses parâmetros, e as incertezas

quanto aos resultados, constituíram fortes desestímulos ao trabalho com raízes.

Outros valores podem ser derivados das características morfológicas das raízes,

como por exemplo, a utilização dos valores da área e do comprimento específico, obtido

pela razão entre a área ou o comprimento e a massa radicular, respectivamente (cm2 g-1

e m g-1 de raízes) como indicadores da espessura ou do diâmetro radicular, (Oliveira et

al., 2000).

Os dados de densidade radicular podem ser a ajustados a uma função

exponencial decrescente, da forma: DR = a(-bz), onde “a” é o parâmetro de ajuste, “b” é

a taxa de decréscimo relativo da DR (m-1) e “z” a profundidade (m) para solos de textura

homogênea, ou para diversas outras funções (Nicoullaud et al., 1994), com o objetivo de

se estudar a distribuição vertical das raízes em profundidade. O que pode ser feito por

classes de diâmetro.

Embora em estudos de raízes no campo, a característica de maior enfoque seja a

massa radicular (fitomassa de raízes), o comprimento radicular, tem sido a característica

mais utilizada como base de cálculo para inúmeras funções de determinação de

variações temporais do sistema radicular, sendo considerado como característica padrão

para a determinação da densidade (m de raíz m-3 de solo) e do crescimento radicular

(Van Noordwijk, 1993, Rossiello et al., 1995). Tal característica é um indicador do

potencial de absorção de água e nutrientes, sendo proporcionalmente maior o volume

ocupado e explorado do solo, quanto maior for o comprimento radicular total (Atkinson,

2000). Adicionalmente, os estudos sobre o influxo líquido de nutrientes deve levar em

conta a influencia do diâmetro radicular e a distancia média entre raízes (França et al.,
1999). Outros estudos, ligados à produtividade primária, necessitam de dados sobre as

quantidades totais de biomassa e sua partição entre parte aérea e raízes.

6.5 Magnitude dos sistemas radiculares

Em parte, a eficiência na captação de recursos das plantas está associada à

capacidade de explorar o meio, e via de regra, quanto mais escassos os recursos no

meio, maior o investimento em sistema radicular. Segundo TAIZ & ZEIGER (2004), a

habilidade das plantas em obter água e nutrientes minerais está relacionada à sua

capacidade de desenvolver um extenso sistema radicular. Os autores retornam a

Dittmer, que em 1930, examinou o sistema radicular de uma única planta de centeio

depois de 16 semanas de crescimento e estimou que a mesma tinha 13 milhões de eixos

radiculares primários e secundários, estendendo-se por aproximandamente 500 km

(comprimento total) e proporcionando 200 m2 de área radicular superficial, que

somados aos 300 m2 de área dos pêlos radiculares do sistema, faziam contato com 500

m2 de solo.

TAIZ & ZEIGER (2004), também destacam as raízes das plantas do gênero

Prosopis, que podem, em áreas desérticas, estender-se a 50 m de profundidade para

alcançar a água subterrânea. Por outro lado, plantas cultivadas anualmente têm raízes

que normalmente crescem entre 0,1 e 2,0 m em profundidade e se estendem

lateralmente a distâncias de 0,3 a 1,0 m. Plantas perenes, atingem, em média, um

comprimento total de 12 a 18 km por árvore.

A produção anual de raízes, principalmente em ecossistemas naturais, pode

facilmente ultrapassar a de partes aéreas, já que podem crescer continuamente ao logo

de todo o ano, sendo que a proliferação das mesmas, no entanto, depende da

disponibilidade de água e nutrientes. Em geral, se a rizosfera é pobre em nutrientes ou


muito seca, o crescimento radicular é lento, havendo retomada do mesmo quando as

condições na rizofera melhoram.

Em azevém, Matthew et al. (2001), mostraram que o comprimento do sistema

radicular atingiu 2,5 m por fitômero (unidade básica das gramíneas, constituída de de

lâmina, bainha, entrenó,nó e gema, ou, simplesmente perfilho) , o que resultou em

cerca de 82 km de raízes/m2 de superfície, para uma profundidade de 70 cm.

6.6 Plasticidade radicular

A capacidade de adaptação do sistema radicular, através de mudanças

morfológicas e fisiológicas às condições do meio ambiente é dada pela plasticidade

fenotípica (López-Bucio et aI., 2002), sendo que as plantas que apresentam maior

plasticidade são mais competitivas (Fan et aI., 2003).

Essas alterações em geral não modificam a arquitetura, de modo a afetar as

características básicas do sistema radicular como a fasciculação e a pivotância, dentre

outras.

A relação entre raiz e parte aérea é determinada pela diferença fisiológica entre

esses órgãos. Raízes geralmente se desenvolvem no escuro, portanto, são dependentes

de fotoassimilados. As partes aéreas, por sua vez, são dependentes da absorção de água

e nutrientes pelas raízes. As atividades da parte aérea, bem como do sistema radicular,

são decisivas para definir a massa e o volume de ambos. As relações entre esses órgãos

são coordenadas e reguladas por fitohormônios, com destaque para auxinas e

citocininas. O balanço entre parte aérea e sistema radicular é dinâmico e sujeito a

modificações. A comprovada correlação existente entre parte aérea e sistema radicular,

no entanto, não deixa claro o que é causa ou efeito (Moreira, 2004).


O efeito de estresses nutricionais sobre a alocação de carbono, geralmente,

proporciona aumento do sistema radicular, ou seja, da capacidade de absorção. O P por

exemplo, apresenta baixa mobilidade no solo e freqüentemente limita a produtividade

(López-Bucio et aI., 2002), e a resposta do sistema radicular é bem específica

(Williamson et aI., 2001), e, ocorre através de diversas características do sistema

radicular, tal como proliferação de raízes em sítios onde ocorre maior disponibilidade

deste elemento (Bonser et aI., 1996).

As raízes de Poácea (gramíneas), proliferadas em regiões mais férteis do

substrato, são finas e apresentam aumento de diversas características, tais como

comprimento específico, número de raízes laterais de primeira e segunda ordem,

comprimento do eixo radicular principal e comprimento médio da raiz principal em

relação ao comprimento do eixo principal (Larigauderie & Richards, 1994).

6.7 Gravitropismo

Gravitropismo é a resposta específica de crescimento em relação à força da

gravidade, e faz com que uma planta colocada na horizontal, curve sua parte aérea para

cima e seu sistema radicular para baixo. Raízes em geral, apresentam gravitropismo

positivo, sendo que as raízes principais são orientadas mais verticalmente que as laterais

de primeira ordem, enquanto raízes laterais de segunda ou de ordem superior, podem se

desenvolver quase que em todas as direções (Salisbury & Ross, 1992).

A resposta à mudança de gravidade pode ser divida em três fases: percepção,

tradução e resposta (Taiz & Zeiger, 2004). A percepção ou a detecção inicial da

gravidade parece ocorrer na coifa, nos últimos milímetros da raiz. Essa resposta, uma

alteração no padrão de crescimento, que conduz à curvatura para baixo, ocorre na zona

de alongamento (Evans et al., 1986).


A percepção da gravidade é dada pela movimentação de amiloplastos. Esses

possuem dois ou mais grânulos de amido e se localizam nas células da coifa da raiz

(Taiz & Zeiger, 2004). Conforme o posicionamento da raiz em relação à gravidade, os

amiloplastos se sedimentam sobre os retículos endoplasmáticos, localizados na parte

basal da célula, proporcionando a liberação de cálcio. O cálcio se liga à uma proteína

denominada calmodolina. Quando desprovida de cálcio, a calmodolina é inativa. A

cálcio-calmodolina, originária dessa ligação, ativa as bombas de cálcio e a auxina

localizadas nas partes basais da membrana celular, proporcionando aumento na

concentração de auxina e cálcio. A elevada concentração de auxina inibe o crescimento

dessa região da raiz, provocando a curvatura da mesma (Evans et aI., 1986; Figura 14).

20 min.

120 min.

Figura 14. Sucessão de mudanças do padrão de pH na superfície da raiz principal de

milho exposta a um estímulo geotrópico. Regiões de pH alto são representadas pelo

vermelho e regiões de pH baixo são representadas por amarelo. O tempo de exposição

ao estímulo (posição horizontal do eixo radicular) foi de 20 minutos e 120 minutos.

Adaptado a partir de de Mulkey e Evans (1981).

Quando a raiz está na posição horizontal, ocorre migração de Ca para a coifa.

O acúmulo desse íon na parte basal estimula a movimentação diferencial e basípeta da

auxina para a zona de alongamento. Ao longo do estímulo da gravidade, o balanço entre

o movimento acrópeto (da base para o ápice) da auxina, como estimulador do


crescimento, e o movimento basípeto do ABA, que inibe o crescimento, é alterado.

Como conseqüência, ocorre o crescimento longitudinal e assimétrico entre os lados

inferior e superior (Jesko, 1994).

Existe ainda outra hipótese, onde o sinal que desencadeia a resposta seria

elétrico, ou eletroquímico, e não hormonal (Taiz & Zeiger, 2004). Essa hipótese

considera uma corrente elétrica simétrica ao longo do sistema radicular, quando esse

está na posição vertical. Quando as raízes são colocadas na horizontal, essa corrente

passa a ser assimétrica. Há evidências da participação do fluxo de H+ na formação dessa

corrente elétrica. (Evans et aI., 1986; Salisbury & Ross, 1992). O fluxo de H+ estaria

refletindo o fluxo de cálcio para a parte basal da coifa, para manutenção do equilíbrio de

cargas (Evans et aI., 1986).

6.8 Variabilidade e arranjo espacial e temporal

Os estudos sobre o desenvolvimento, a distribuição e a profundidade efetiva

das raízes têm permitido aprimorar os conhecimentos sobre essa relação, através da

determinação da camada de solo a ser umedecida pela aplicação de água, assim como a

profundidade de monitoramento da água no solo. A figura 15 mostra a distribuição

espacial das raízes de cana-de-açucar, em condições de campo.


0,0

0,5

1,0
Raizes

Profundidade (m)
1,5
superficiais Raizes de
sustentação
2,0

2,5
Raizes-cordão
3,0

3,5

4,0
3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0

Distância do centro da touceira (m )

Figura 15. Distribuição vertical e horizontal do sistema radicular da cana-de-açucar.

O tolete foi plantado aos 25 cm de profundidade, destacando: Raízes superficiais, mais

ramificadas responsáveis pela absorção da maior parte da água e dos nutrientes; Raízes

de sustentação ou fixadoras, responsáveis pela ancoragem da touceira, e, Raízes-cordão,

profundas e importantes no processo de ciclagem de nutrientes e absorção de água nos

períodos de veranicos. Adaptado de Orlando Filho (1983) e Smith et al (2005).

Neves et al. (2000) analisaram o sistema radicular de três cultivares de acerola

em um Latossolo Roxo e verificaram que a profundidade efetiva do sistema radicular

das três variedades variou de 0,50 a 0,69m, pois nesta profundidade foram encontrados

80% do sistema radicular das plantas analisadas.

Com relação à distribuição horizontal das raízes no perfil do solo, os autores

observaram que 80% do sistema radicular concentravam-se a 0,75 metro de distância da

planta. Diante disto, recomenda-se que sejam feitas avaliações da distribuição do

sistema radicular das plantas, no sentido de se determinar a profundidade efetiva das

raízes de absorção de água e nutrientes para locais específicos e, conseqüentemente, os


volumes de água disponíveis no perfil do solo para as plantas. Somente, a partir dessas

informações, será possível otimizar a freqüência e ou a intermitência da irrigação e as

lâminas de água a aplicar em cada irrigação.

Avaliando a distribuição e variação temporal de características radiculares de

B. humidicula em Planossolo arenoso, Brasil (2001) verificou a importância de três

classes de raízes (finas (<0,8mm), médias (1,5-0,8mm) e grossas (2,5-1,6mm) para o

comprimento e biomassa radicular em amostras de solo coletadas em camadas paralelas

de 10cm de solo até 70cm de profundidade. Estes autores verificaram que as raízes finas

contribuíram com a quase totalidade do comprimento total e mais da metade da

biomassa acumulada até 70cm de profundidade, concentrando-se principalmente nos

primeiros 20cm (Figura 16). Estes resultados revelam que a cuidadosa separação de

raízes por classes de diâmetro é essencial para o entendimento da dinâmica de resposta

do sistema radicular de B. humidicola às flutuações nas condições ambientais e que a

fração raízes finas contribuem significativamente não somente para o comprimento total

do sistema radicular como também para a biomassa total do mesmo.

-3
Comprimento Radicular (m dm )
0 40 80 120 160 200
0

0,1

0,2
Profundidade (m)

Grossa

0,3 Média

0,4 Fina

Muito Fina
0,5
Total
0,6

0,7
Figura 16. Variação da densidade do comprimento radicular (Total; m dm-3) de

Brachiaria decumbens em função do diâmetro de raízes (Grossa, média, fina e muito

fina), em profundidade. Brasil, 2005.

7. Fatores abióticos e bióticos que alteram o desenvolvimento radicular

Os fatores abióticos que influenciam a fisiologia das raízes e, por conseqüência,

o crescimento e o desenvolvimento das culturas, podem ser classificados, quanto à sua

natureza, em químicos (pH, a concentração de elementos tóxicos e nutrientes), físicos e

fisico-hídricos (oxigenação, temperatura, umidade, textura, densidade/porosidade).

Quase todos estes fatores são interdependentes.

A influência da umidade do solo com relação à resistência à penetração das

raízes, e pode estar relacionado com fatores bióticos, como exemplos, a influência da

temperatura e do pH na atividade microbiana (decompositores, FBN e micorrizas), a

oxigenação interagindo com os fatores químicos e biológicos (oxidação, respiração,

etc.).

De modo geral, o crescimento das plantas é reduzido drasticamente na presença

de camadas compactadas; com impedimentos de natureza química (acidez e toxidez por

Al+3); e físico-hídrica (alagamento, seca). No entanto algumas diferenças entre espécies

são observadas (Taylor, 1981; Materechera et al., 1991). As raízes não podem alterar o

diâmetro de seu ápice, para penetrar em poros menores à sua proporção tecidual

(diâmetro e área superficial), por isto ao crescer em solos compactados, as plantas

necessitam deslocar partículas minerais (areia, argila, etc.), para alongar e expandir seus

eixos radiculares.

Muitas espécies sofrem limitações de crescimento na presença de horizontes ou

camadas compactadas, ocorrendo freqüentemente o encurtamento e aumento do

diâmetro dos eixos radiculares, e, além disso, podem ocorrer alterações anatômicas
significativas como a relação entre a espessura do córtex e a espessura do cilindro

vascular das raízes (Bassoi et al., 1999).

No entanto, a simples redução no alongamento dos eixos principais não pode ser

considerada como uma diminuição do crescimento radicular, e sim uma alteração na

distribuição espacial das raízes, em proporção horizontal, já que em condições de

limitação do crescimento radicular em profundidade, ocorre uma intensa proliferação de

eixos laterais finos (secundários e de ordens superiores, com diâmetro < 0,8 mm) e

pêlos radiculares (diâmetro < 0,1 mm), que contribuem para o aumento significativo da

superfície específica radicular superficialmente (Dias Correia, 1986), o que pode ser

limitante em regiões com períodos prolongados de seca. Por esta razão, a profundidade

em que as camadas compactadas aparecem no solo, determinará a importância agrícola

do mesmo.

A estrutura é a propriedade física do solo que diz respeito à aglutinação das

partículas primárias em partículas secundárias (agregados), delimitadas umas das outras

por superfícies de fraqueza ou separadas por descontinuidades, dando origem a

agregados de configurações peculiares. Esta propriedade exerce influência direta sobre

o crescimento das raízes, reduzindo a sua extensão em função de alterações

significativas provocadas pelo stress mecânico no alongamento das diferentes espécies

cultivadas.

Dexter (1988) define a estrutura do solo como sendo “a heterogeneidade

espacial dos diferentes componentes do solo”, e por isto ainda existe uma grande lacuna

na pesquisa, sobre métodos de estudos para determinar as interações entre a estrutura do

solo e o desenvolvimento do sistema radicular, que precisam ser melhor desenvolvidos.

Esta propriedade controla os espaços vazios e, conseqüentemente, a quantidade de água

e oxigênio que pode ser armazenada no solo e a velocidade com que são liberados para
as raízes das plantas. Desta forma, a porcentagem de espaços vazios no volume do solo

e, especialmente, seus aspectos geométricos, como número, tamanho, forma,

distribuição, direção, continuidade e conexão são portanto, bastante relevantes e podem

alterar o crescimento das raízes.

A forma e a orientação dos agregados dentro do solo podem afetar a penetração

das raízes, pois esses fatores influenciam o ângulo de contato no qual a coifa encontra a

superfície dos mesmos. A chance de penetração é menor quando o ângulo de contato

coifa-superfície do agregado é mais agudo. Por outro lado, a falta de ancoragem (apoio)

em camadas mais soltas (frouxas) do solo pode impedir a penetração de raízes em

camadas mais duras. Por exemplo, se a semente é plantada em solo desagregado e a

plântula encontra uma crosta superficial, em vez de emergir poderá ser empurrada para

baixo. Da mesma forma acontece com raízes, quando encontram superfícies duras, se a

camada acima não oferecer apoio suficiente ela não conseguirá penetrá-la, mesmo que

tenha força suficiente para tal (Rezende, 2000).

A infiltração e a capacidade de armazenamento de água também estão

intimamente relacionadas com a porosidade do solo e as raízes das plantas. A dinâmica

destas propriedades, pode sofrer modificações na sua porção superficial com o passar do

tempo, através de práticas de manejo como aração, tratos culturais, calagem, adubação,

incorporação de matéria orgânica, dentre outras. A distribuição vertical das

características radiculares dos vegetais também pode ser alterada em função da variação

de textura nos horizontes superficiais e subsuperficiais do solo (Atkinson, 2000). Em

solos argilosos as árvores muitas vezes formam raízes “dispersantes” concentradas no

horizonte superficial, podendo muitas vezes o sistema radicular estar limitado às zonas

de coveamento de plantio (Figura 17).


Figura 17. Raízes dispersantes - efeito de coveamento na distribuição radicular da

Acerola. A linha pontilhada representa o espaço tridimensional da cova de plantio.

Fotografia de Felipe da Costa Brasil (2002).

Os solos com textura homogênea (textura média a arenosa), ao longo de toda sua

profundidade efetiva, apresentam normalmente uma distribuição radicular que declina

conforme uma função exponencial decrescente (Brasil, 2001), o que pode ser alterado

por ação de agentes de impedimento, como os já descritos anteriormente, ou em função

do manejo do solo.

Em solos com variação de textura entre os horizontes (Ex. A-AB-BA-Bt), ou

com camadas de adensamento, tal distribuição passa a ser afetada de forma bimodal,

ocorrendo zonas de acúmulo radicular após a camada de impedimento. No caso de solos

coesos dos tabuleiros costeiros, estes apresentam normalmente uma redução grande da

porosidade entre o horizonte superficial e subsuperficial. Cintra (1997), estudando um

Podzólico acinzentado fragipan (Segundo a antiga Classificação de Solos), encontrou

uma redução de 41% a 34% da biomassa radicular, entre o horizonte Ap e o BA, e,

salienta que esta redução, deve em grande parte, resultar da diminuição de macroporos

do horizonte compactado.
A distribuição horizontal de raízes também pode ser afetada, uma vez que é

comum observar agrupamentos de raízes concentrados em rachaduras, gretas ou covas

de animais (Figura 18).

a b

Figura 18. Fissuras em um solo Mediterrânico (Luvisol) no período de seca na na

Região do Alentejo em Portugal; a) na superficie; b) no perfil. Foto de Felipe da Costa

Brasil (2004).

Agrupamentos ou acúmulos de raízes no espaço ocorrem naturalmente em certas

regiões, especialmente em sistemas radiculares que possuem elevado número de

ramificações curtas por unidade de comprimento da raiz parental (Bingham &

Bengough, 2003). Um exemplo típico é a proliferação do sistema adventício de raízes

nas gramíneas, nos primeiros centímetros do solo, onde a concentração de fatores de

crescimento é maior que no subsolo.

Como propriedade química limitante, a acidez do solo é comum em todas as

regiões onde a precipitação é suficientemente elevada para lixiviar quantidades

apreciáveis de bases permutáveis das camadas superficiais dos solos. Tão generalizada é

a sua ocorrência e tão pronunciada a sua influência sobre os vegetais, que se

transformou numa das mais discutidas propriedades do solo. Especificamente a

presença de Al+3 a níveis tóxicos para a maioria das plantas cultivadas, é um dos

principais fatores que limitam a produção agrícola (Ma et al., 2001) (Figura 19).
Figura 19. Efeito do conteúdo de Al+3 no desenvolvimento de plântulas de arroz,

variedade Caiapó (Zonta, 2003).

Particularmente, é na raiz que se verifica o principal sintoma de toxicidade e

maior sinal de danos, sendo a inibição do crescimento longitudinal uma das

características que pode variar entre espécies tolerantes e sensíveis, em diferentes graus

(Kochian, 1995). Este cátion, quando em contato com as raízes, promove rapidamente a

paralisação do crescimento radicular, tornando-as atrofiadas em função da morte ou

injúria do meristema radicular. Especificamente, a parte distal da zona de transição no

ápice das raízes, onde as células estão entrando em fase de alongamento, é o sítio da

ação tóxica primária do Al+3 (Sivaguru & Horst, 1998).

Ainda, o Al+3, atua fixando fósforo em formas menos disponíveis nas superfícies

das raízes, diminuindo a respiração desta, além de interferir na atividade das enzimas de

fotofosforilação, reduzindo a absorção, transporte, e a eficiência de uso de água e vários

nutrientes essenciais (Ca, Mg, K, P e Fe), entre outros efeitos diretos e indiretos (Nichol

& Oliveira, 1995). Em síntese, plantas afetadas por Al também apresentam sintomas de

deficiência de nutrientes, tais como P, Ca, Mg, K e Mo, devido à interferência do Al nos
processos de absorção, transporte e uso destes nutrientes. Tais deficiências

aparentemente ocorrem porque o Al induz a deposição de calose nos canais

plasmodesmáticos, inibindo fisicamente o transporte simplástico entre células (Sivaguru

et al., 2000). Esse assunto será melhor discutido no capitulo 16 neste volume.

A matéria orgânica do solo afeta significativamente sobre diferentes aspectos

diretos e indiretos, para o desenvolvimento e a dinâmica do sistema radicular. Funciona

como fonte e reserva de nutrientes, e atua sobre os principais processos pedogenéticos,

participando na migração ou fixação de alguns elementos (Ca, Fe, Al) e argilas;

reduzindo o efeito tóxico de metais (Al, Mn); estabilizando o pH do meio, além de

regular o regime térmico e hídrico do solo; melhorando a densidade e a estrutura do solo

(SANTOS & CAMARGO, 1999).

Não obstante a estes efeitos conhecidos da matéria orgânica do solo, a

importância das substâncias húmicas como bioativadoras do crescimento vegetal tem

sido relatada por alguns autores. Os resultados demonstram que estas substâncias podem

alterar o arranjo tridimensional, com um aumento substancial da superfície específica do

sistema radicular, além de atuar sobre a ativação das H+-ATPases e na permeabilidade

das membranas (Capitulo 4 neste volume), com isto tornando-o mais eficiente nos

processos de absorção de água e nutrientes (Façanha et al., 2002).

Outro aspecto a ser abordado na dinâmica do crescimento radicular, que governa

as demais propriedades acima discutidas, é a própria natureza mineralógica dos solos.

Tomando-se como exemplo solos Cauliniticos (Ki e Kr > 0,75 ) e solos Oxídicos (Kr <

0,75) (Embrapa, 1999), que diferem quanto ao grau de intemperismo, e

conseqüentemente apresentam diferenças significativas nas propriedades físicas e

químicas dos solos e de suas interações com o crescimento radicular das culturas. Como

exemplo de propriedades físico-hídricas, podemos citar as diferenças entre os


Argissolos (cauliníticos), que apresentam uma descontinuidade de capilaridade na

transição do Horizonte A (mais arenoso) com o Horizonte Bt (argiloso), onde são

observadas maior microporosidade no horizonte B do que no A, e o inverso em relação

à macroporosidade, tendo influência direta na maior umidade da camada subsuperficial.

Comparativamente, a homogeneidade da macro e microporosidade em todos os

horizontes dos Latossolos (Oxídicos), facilita a evaporação da água, sua drenagem, e

conseqüentemente a distribuição do sistema radicular em profundidade. Embora os

Latossolos tenham propriedades físicas mais favoráveis que os Argissolos, devido a seu

estágio avançado de intemperismo, inúmeros problemas de natureza química são

acentuados, tais como: pH, alumínio, baixo conteúdo de matéria orgânica, baixa CTC,

fósforo, etc. (Oliveira, 2001). Tais propriedades conforme já descrito anteriormente,

alteram o crescimento radicular, sendo encontrados na literatura inúmeros trabalhos,

sobre o manejo e correção dos solos, principalmente através de calagem e adubações de

NPK, em solos da região do Cerrado brasileiro, com predomínio de solos Oxídicos.

7.1. Micorrização

As raízes podem ser ajudadas em suas funções por microrganismos encontrados

no solo. Entre essas associações, a mais generalizada interação entre as plantas e

microrganismos é a micorriza. Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) estão sendo

apresentados em detalhes no capitulo 3 neste volume. Algumas modificações nas raízes,

resultantes da interação com fungos ectomicorrízicos são aqui apresentadas. De uma

maneira geral, a rede de Hartig é distribuída ao redor das células corticais e a manta de

fungos pode envolver a raiz como uma bainha. A infecção não se espalha em tecidos

meristemáticos ou dentro dos vasos condutores. A ectomicorriza penetra

enzimaticamente e mecanicamente entre as células epidérmicas e entre a lamela média

das células corticais.


A penetração enzimática é primeiramente hidrolítica via enzimas pectolíticas e

pode progredir até a endoderme. O grau de desenvolvimento do fungo no córtex da raiz

é aparentemente mediado pela agressividade do fungo e pela resposta do hospedeiro

(Marx & Krupa, 1978). Brundrett (2002) sugere que pressões de seleção causaram

divergências morfológicas em raízes com diferentes tipos de micorrizas. A espessura e

suberização da exoderme são maiores em plantas micorrízicas obrigatórias, enquanto

plantas não micorrizadas possuem tendência a ter raízes finas, com mais pêlos

radiculares e defesas químicas avançadas.

Espécies em associação com ectomicorrizas geralmente possuem raízes laterais

curtas e grossas, resultando um sistema radicular distinto.

Existem plantas que parecem ter raízes curtas quando em associação com fungos

micorrízicos vesículo-arbusculares (VAM), como as angiospermas Acer e Ulmus e a

gymnosperma Podocarpus. Arisaema atrorubens com raízes grossas e relativamente

sem ramificações e sem pêlos radiculares é considerada altamente dependente de

micorrizas (Brundrett & Kendrick, 1988).

Contudo, existem exceções, como Geranium robertianum que apresenta raízes

altamente ramificadas e é considerada como tendo baixa necessidade de micorrizas. As

raízes micorrizadas da espécie arbórea bétula (Betula alleghaniensis) são mais grossas

que as raízes da mesma ordem não micorrizadas, dado à manta de hifas na superfície

(Brundrett, 2002). O padrão de crescimento das raízes das plantas hospedeiras é

freqüentemente alterado pelo desenvolvimento de fungos ectomicorrízicos (ECM) no

sistema radicular. Por exemplo, em Pinus a proliferação de raízes curtas é estimulada

pela colonização com o fungo, bem como a bifurcação das raízes curtas (Reid, 1990). A

colonização com MA mudou a morfologia do sistema radicular de Annona cherimola,


aumentando o número total de raízes, o número de raízes laterais de primeira ordem e

de segunda ordem (Padilla et al., 2005).

Outra importante interação da raiz com microrganismos é a produção de nódulos

radiculares em leguminosas (Capitulo 9 neste volume). Esses nódulos são estruturas que

se desenvolvem em muitos membros da família Leguminosae em presença do rizóbio

apropriado (Sprent & Sprent, 1990) ou Burkholderia (Chen et al 2005) e que suprem a

planta de nitrogênio fixado. Pode ocorrer também a formação de nódulos radiculares

fixadores de nitrogênio em membros das famílias Rosaceae, Eleagnaceae, Rhamnaceae,

Betulaceae, Casuarinaceae, Myricaceae, Coriariaceae e Datiscaceae, em associação com

Frankia (Sprent & Sprent, 1990).

Fatores ambientais podem afetar o processo de enraizamento de esplantes e cita-

se que para E globulus e E. saligna, baixas temperaturas ocasionaram uma demora no

enraizamento dos explantes. Neste caso, foram identificadas características preferenciais

por espécie, sendo que E. saligna prefere temperaturas mais elevadas e E. globulus,

temperaturas mais baixas (Corrêa & Fett-Neto, 2004).

7.2. As raízes e a formação de agregados no solo

Apesar de representarem uma pequena fração dos constituintes orgânicos do

solo, as raízes exercem também grande influência direta e indireta, na formação e

estabilidade dos agregados no ambiente edáfico (Silva & Mielniczuck, 1997).

A dinâmica radicular, através da transferência direta dos produtos da

fotossíntese para a matriz do solo, tem sido considerada a principal força propulsora na

manutenção da qualidade do solo. Tais produtos são representados pelo tecido radicular

vivo, exsudatos e diversos constituintes orgânicos derivados das raízes em crescimento,

raízes mortas e pelos radiculares, além de microrganismos rizosféricos e seus

subprodutos de elevado poder agregante (Mielniczuck, 1999). Estes compostos, ao se


associarem com a matéria mineral do solo, formam agregados estáveis em água, onde

permanecem menos acessíveis ao ataque de microorganismos decompositores (Haynes

& Beare, 1996).

As raízes atuam na primeira fase de formação dos agregados, sendo este um

resultado de interações de componentes físicos, químicos e biológicos, onde os

principais agentes são o clima, as raízes, os microorganismos, a fauna e o próprio

tracionamento do solo (Silva & Mielniczuck, 1997). Durante seu crescimento, exercem

pressões biofísicas (axial e radial), no seu avanço através do espaço poroso,

aproximando as partículas minerais, e conseqüentemente aumentando a densidade do

solo nas regiões mais próximas à superfície radicular. Paralelamente a absorção de água

pelas raízes ocasiona um secamento das partículas adjacentes, provocando pressões

capilares que intensificam a compressão dos grânulos minerais.

Como componente bioquímico, o ambiente da rizosfera, rico em energia,

estimula a proliferação de microorganismos que liberam substâncias húmicas e

polissacarídeos responsáveis pela estabilização dos microagregados formados

(partículas < 250 µm), e sua aglutinação em unidades maiores (Figura 20). Ao lado

desta atividade, que ocorre enquanto o sistema radicular está em crescimento, a matéria

orgânica oriunda da decomposição do tecido radicular após a sua senescência, raízes

não decompostas, hifas de fungos e micorrizas também atuam na formação e

estabilização, principalmente dos macroagregados (partículas > 250 µm) (Mielniczuck,

1999).
Figura 20. Diagrama esquemático de um microagregado. Adaptado de Haynes & Beare

(1996) por Orlando Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de Solos –

IA - UFRRJ (2006).

Em conjunto, e analisando a dinâmica radicular, através de seus processos

bioquímicos e físico-químicos em interação com a matriz mineral do solo, pode-se

admitir que o sistema radicular é o principal componente formador dos micro e

macroagregados do solo (Figura 21). Porém, a ação das raízes finas (< 800 µm) e dos

pêlos radiculares (1 mm de comprimento por 10 µm de diâmetro) (Dias Correia, 1986),

tanto pelo seu arranjo tridimensional (distribuição espacial, vertical e horizontal), que

pode contribuir com mais de 90 % da área superficial e do comprimento radicular total

(alta superfície específica) (Brasil, 2001), em conjunto com os processos de absorção de

água e exudação de substâncias orgânicas, constituem a fração do sistema radicular

mais efetiva na gênese e estabilidade dos agregados do solo (Haynes & Beare, 1996;

Mielniczuck, 1999).
Figura 21. Diagrama esquemático de um macroagregado de solo. Adaptado de Haynes

& Beare (1996) por Orlando Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de Solos –

IA - UFRRJ (2006).

Em adição aos componentes de formação dos agregados e a própria morfologia

radicular, uma análise comparativa pode ser feita, quando da dinâmica (crescimento e

renovação) de um sistema radicular denso, bem desenvolvido e atuante por vários anos

no mesmo local, como por exemplo o das gramíneas forrageiras perenes, verificamos

que o mesmo distribui uniformemente os efeitos de agregação em toda a matriz do solo,

por favorecerem as ligações dos pontos de contato entre partículas minerais e

constituintes orgânicos, quando comparado com as culturas anuais, cujo sistema

radicular é menos desenvolvido e atua por curtos períodos de tempo no solo (Silva &

Mielniczuck, 1997).

10. Literatura citada

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CAPÍTULO 3

FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES: MUITO ALÉM


DA NUTRIÇÃO

Ricardo L.L. Berbara1; Francisco A. de Souza2; Henrique M.A.C. Fonseca3

1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Solos, Seropédica,
Itaguaí, RJ, CEP 23851-970, Brasil.
 Berbara@ufrrj.br
2
Embrapa Agrobiologia, BR-23851970, Seropédica, Seropédica, Itaguaí, RJ, Brasil.
3
Centro de Biologia Celular, Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro, 3810-
193, Aveiro, Portugal

1
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 88
2. EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO.................................................................... 91
3. CARACTERÍSTICAS GENÉTICAS E MORFOLÓGICAS ............................. 101
3.1 ASPECTOS GENÉTICOS...................................................................................... 101
3.2 MORFOTIPOS........................................................................................................ 103
4. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA .......................................................... 108
6. MICORRIZAS E A DINÂMICA DO CARBONO .............................................. 115
6.1 GLOMALINA.......................................................................................................... 119
4 7. NUTRIÇÃO MINERAL ...................................................................................... 123
8. MANEJO DE FMA .................................................................................................. 130
9. CONCLUSÕES........................................................................................................ 132
10. REFERÊNCIAS .....................................................................................................134

2
1. INTRODUÇÃO

“Plantas não têm raízes, elas têm micorrizas”. Esta sentença foi proferida décadas

atrás por J. L. Harley com o intuito de alertar ecologistas e biólogos para o fato de que, em

condições naturais, a maioria das espécies de plantas se encontram associadas a

determinados fungos de solo numa simbiose mutualística do tipo micorrízico, do grego

mico [fungo] e riza [raiz]. Indo além das relações funcionais que se estabelecem entre

plantas e estes fungos, van der Heijden & Sanders (2002) enfatizaram que “associações

micorrízicas devem sempre serem consideradas quando se busca entender a ecologia e

evolução de plantas, suas comunidades e ecossistemas”. Esta consideração está baseada em

experimentos que demonstram o papel desta simbiose no resultado da competição e

sucessão de plantas bem como na hipótese de que a evolução de plantas terrestres ter sido

dependente da presença desta simbiose (van der Heijden et al., 1998a; 1998b; Kiers et al.,

2000; Klironomos et al., 2000; Allen et al., 2003; Cairney 2000; Brundrett 2002).

Atualmente são reconhecidos seis tipos diferentes de associações micorrízicas,

sendo algumas delas muito específicas, encontradas em apenas algumas famílias de plantas

terrestres (Arbuscular-, Arbutoide-, Ericoide-, Ecto-, Monotropoide-, e Orquidoide). Para

detalhes destes tipos ver Siqueira (1996). Este capítulo irá enfatizar as micorrízas

arbusculares, em particular devido ao seu caráter ubíquo, seu papel vital para a

sustentabilidade da agricultura em regiões tropicais, e seu potencial biotecnológico,

impacto na estrutura de comunidades vegetais e no dreno de carbono atmosférico.

O caráter cosmopolita desta simbiose advém de levantamentos que indicam que

80% das famílias de plantas são formadas por espécies que formam micorrízas arbusculares

(MA). Ela é encontrada em todas as latitudes, estando presente em quase todos os

3
ecossistemas terrestres (Siqueira & Franco, 1988). A simbiose micorrízica arbuscular é a

mais ancestral dentre todos tipos de micorrízas conhecidas. Evidências fósseis indicam que

as primeiras plantas terrestres já estavam colonizadas por fungos que apresentavam

estruturas miceliais e esporos similares a dos atuais fungos arbusculares (FMA) (Redecker

et al., 2000a). Atualmente, a maioria das angiospermas, e muitas gimnospermas,

pteridófitas e briófitas formam associação com FMA (Smith & Read 1997). Além disso, é

provável que eles sejam os fungos de solo mais abundantes na maioria dos ecossistemas

tropicais, principalmente nos sistemas agrícolas, onde eles podem representar quase que

50% da biomassa microbiana (Olsson et al., 1999). Devido a esta ubiqüidade, esta simbiose

tem sido considerada a mais importante dentre todas as que envolvem plantas. Esta

associação é simbiótica pelo fato dos organismos co-existirem em um mesmo ambiente

físico, raiz e solo, e mutualística porque, em geral, ambos os simbiontes se beneficiam da

associação. Ela é considerada como sendo mutualista nutricional, onde a planta supre o

fungo com energia para crescimento e manutenção via produtos fotossintéticos, enquanto

que o fungo provê a planta com nutrientes e água. Neste sentido, esta simbiose amplia a

capacidade de absorção de nutrientes por parte do simbionte autotrófico e,

conseqüentemente, a sua competitividade inter-específica e produtividade.

A sustentabilidade da produção agrícola está ligada aos efeitos benéficos das

micorrízas sobre a nutrição de plantas, principalmente com relação à absorção de fósforo,

que é um recurso natural não renovável. Várias espécies de plantas respondem

positivamente à inoculação com fungos MA, dentre elas café, soja, milho, batata-doce,

mandioca, cana-de-açúcar, além de varias essências florestais e frutíferas brasileiras. A

contribuição dos fungos MA sobre a nutrição fosfatada de plantas está amplamente aceita e

documentada na literatura nacional e internacional. No entanto, os serviços prestados pelo

4
fungo vão muito além da nutrição de plantas individualizadas pois eles também contribuem

para a estruturação de comunidades vegetais. O micélio de fungos MA freqüentemente

interconecta o sistema radicular de plantas vizinhas da mesma espécie ou de espécies

distintas. Neste sentido a maioria das plantas estão interligadas por uma rede de hifas

micorrízicas comum, durante alguma fase do seu ciclo de vida (Newman 1988). As

consequências desta trama micelial para a competição inter-específica em comunidades

vegetais sugere que ela seja elemento importante na definição da sucessão vegetal

conforme ainda discutiremos.

Como decorrência desta imensa quantidade de hifas produzidas por FMA, existe

significante impacto sobre a estruturação e estabilidade de agregados em solos (Jastrow et

al., 1998). Esta função é significativa por que a estruturação do solo modifica a capacidade

de mobilização de nutrientes, o conteúdo de água, a penetração de raízes e o potencial

erosivo dos solos. Fungos MA conferem também incrementos à resistência de plantas

frente ao ataque patogênico (Hwang et al., 1992), à tolerância ao estresse hídrico, à

eficiência fotossintética (Brown & Bethlenfalvay 1987), ao intemperismo de minerais (van

Breemen et al., 2000). Como consequência, existem evidências de que FMA colaboram no

aumentos do dreno de carbono da atmosfera, variável importante e pouco estudada frente

aos processos de mudança climáticas (Leake et al., 2004). Estas características fazem com

que a simbiose micorrízica arbuscular tenha um potencial biotecnológico e ecológico

imenso ainda a ser explorado.

Neste capítulo buscaremos discutir estas associações em um contexto amplo que

ultrapassa seus impactos sobre a nutrição mineral de plantas, uma vez que por mais

importante que eles sejam, aspectos relevantes estão por serem desvendados. Considerações

básicas são também abordados de forma a possibilitar a leitura por um público mais amplo.

5
2. EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

Fungos MA, sem exceção, são simbiontes obrigatórios: eles dependem da simbiose

com plantas compatíveis para sua multiplicação. Além disso, não existem evidências

comprovadas que indiquem que estes fungos se reproduzam sexualmente. Até

recentemente, sugeria-se que estes fungos vinham se multiplicando clonalmente, de forma

puramente assexuada, por centenas de milhões de anos (Rosendahl et al., 1997; Sanders

2002). No entanto sabe-se que organismos que se multiplicam clonalmente por longos

períodos de tempo tendem rapidamente a extinção devido à acumulação de mutações

deletérias originadas durante o crescimento somático e a incapacidade de eliminá-las e de

gerar variabilidade genética, características fundamentais para a adaptação a mudanças do

ambiente. Recentemente, evidências de recombinação em fungos MA têm sido observadas

pela análise de seqüências de DNA indicando que estes fungos desenvolveram mecanismos

de evolução que ainda necessitam elucidação (ver caracterização molecular).

Quanto à origem desta simbiose, sabemos pelo estudo de fosseis, que o surgimento

das plantas na superfície terrestre ocorre entre 460-500 Mi de anos (Figura 1). enquanto a

divisão Glomeromycota (que contém todos os fungos MA) já era encontrada aos 600 Mi de

anos. A simbiose com plantas superiores já está perfeitamente registrada em fosseis do

Ordoviciano (Redecker et al., 2000a) (450 milhões de anos). Especula-se portanto que estes

fungos foram fundamentais para a conquista de ambientes terrestres pelas plantas (Simon et

al., 1993b; Simon 1996) . A presença de AM em plantas primitivas (entendidas como

plantas não vasculares), sugere a possibilidade desta associação ter evoluído de ambientes

aquáticos uma vez que as primeiras plantas terrestres encontraram um ambiente inóspito

para seu desenvolvimento, ressecado e infértil (Pirozynski & Malloch, 1975). Além disso,

6
suas raízes eram desprovidas de pelos radiculares ou ramificações. Eram estruturas

similares a rizóides, sem tecidos vasculares, similares aos encontrados em briófitas e

hepáticas (Malloch et al., 1980; Raven & Edwards 2001). Assim, como essas plantas

poderiam absorver nutrientes (principalmente P) e evoluir de ambientes onde estes

elementos eram mobilizados facilmente (aquáticos), sem o auxilio da simbiose? Portanto,

apesar da origem da associação ser ainda matéria em debate, não se discute o papel central

desta relação mutualistas na ecologia e evolução de espécies vegetais.

7
Figura 1 – Fóssil de fungo micorrízico, indicando suas vesículas, associado
simbioticamente à Aglaophyton, Rhynia e Nothia, plantas vasculares. As vesículas
provavelmente se desenvolviam em esporângias. (da página:
http://www.xs4all.nl/~steurh/engrhyn/eglomit2.html, um excelente local para
buscas sobre vegetação fossilizada).

Outra hipótese aceita para o surgimento da simbiose micorrízica vem da relação

mutualística observada entre fungos e cianobactérias. A endossimbiose formada entre o

fungo Geosiphon pyriformis e cianobactérias tem sido apontada como sendo uma das

possíveis origens da simbiose micorrízica, principalmente porque este fungo apresenta

morfologia, estrutura e função próxima à dos fungos MA inclusive quanto ao fornecimento

de fósforo e o papel regulador deste elemento sobre a simbiose. Além disso, a filogenia

molecular confirma a relação evolutiva entre estes simbiontes (Schüßler et al., 2001).

Infelizmente, não são conhecidas evidenciais fosseis desta relação e os únicos

representantes conhecidos desta simbiose foram encontrados em poucas localidades na

Europa (Áustria e Alemanha). Atualmente, G. pyriformis é o único fungo conhecido capaz

de formar simbiose com cianobactérias. Estas observações portanto permitem expandir o

8
interesse da simbiose micorrízica para além das plantas vasculares e briófitas (Schüßler et

al., 1996).

A relação micorrízica é expressão de um evento mutuamente benéfico: plantas

suprem o fungo com carbono (fixado via processos fotossintéticos pelo simbionte

autotrófico), enquanto fungos provêm às plantas de nutrientes (Moreira & Siqueira, 2002).

A simbiose é possível graças ao fato do fungo produzir hifas intra e extraradiculares

capazes de absorver elementos minerais do solo e transferi-los ao ambiente radicular, onde

são absorvidos. No espaço intraradicular, a troca bi-direcional ocorre principalmente em

uma estrutura presente no córtex radicular, similar a um haustório excessivamente

ramificado, os arbúsculos. Arbúsculos são estruturas formadas pela interação de hifas de

fungos MA e a plasmalema de algumas células do cortex. Estas estruturas são consideradas

“chave” para o desenvolvimento da simbiose micorrízica e sua formação depende da

completa interação genética e funcional entre combinações fungo-planta (Harrison 1999).

Após penetrar a parede celular, a hifa se torna extremamente finas, com diâmetro menor

que 1 µm que se ramifica profusamente, formando uma matriz de troca com a plasmalema

da célula vegetal sem entretanto a ultrapassar. Como conseqüência, aumenta-se

massivamente a superfície de contato entre as membranas dos simbiontes permitindo uma

eficiente troca de sinais, nutrientes e compostos orgânicos entre a planta e o fungo.

Hifas extraradiculares por sua vez, são mais eficientes que raízes na captura de

nutrientes por serem estruturas extremamente longas e finas (Figura 2). Em associações

arbusculares, hifas podem se estender a vários decímetros da superfície da raiz (comparado

aos 1-2 mm de extensão média das radicelas). Por serem finas, com cerca de 2 µm de

diâmetro, hifas arbusculares podem explorar volumes do solo inatingíveis por estruturas

radiculares (pelos radiculares apresentam valores de 10-20 µm de diâmetro e raízes laterais

9
100-500 µm). Portanto hifas são capazes de absorver os elementos minerais, como uma

raiz, mas de maneira mais eficiente (Figura 3).

10
Figura 2 – Fotografia e diagrama de hifas extraradiculares penetrando em raiz de trevo.
Note a dimensão da hifa em relação ao pelo radicular. Barra 1mm

Quanto aos mecanismos de absorção e mobilização de nutrientes, da mesma forma,


32
FMA são ainda mais eficientes que raízes. Quando adiciona-se P em meio contendo

fungos micorrízicos percebe-se que todo Pi é em geral absorvido por hifas (Nielsen et al.,

2002). O transporte para as raízes entretanto não é total devido ao movimento bi-direcional

observado em hifas permitir seu deslocamento para drenos do próprio fungo. Neste estudo,

a maior quantidade de Pi transportada à raiz correlacionou-se não com o comprimento da

hifa, mas com o seu número total (Bago et al., 2000).

11
Figura 3 – Cultura em placa Petri de Lunularia cruciata (L.) Lindb. em simbiose com o
Glomus proliferum Dalpé & Declerck. Vista inferior do talo da hepática mostrando
extensa proliferação de hifas e esporos (ver detalhe no canto superior esquerdo).
Barras 50 µm. Fotografia Fonseca & Berbara, não publicada.

Como FMA dependem do hospedeiro para sua própria existência, não existe dúvida

da importância central da simbiose para fungos micorrízicos. A condição de simbionte

obrigatório advém do fato de que, ao longo de sua evolução, estes organismos perderam sua

capacidade de fixar C passado a depender exclusivamente do hospedeiro autotrófico como

fonte de compostos orgânicos (Gadkar et al., 2001). No caso das plantas, entretanto, existe

uma faixa grande de resposta à simbiose. Espécies vegetais têm sido classificadas quanto à

dependência micorrízica em facultativas, obrigatórias ou não micorrízicas (Smith & Read,

1997).

12
O caráter facultativo pode ser observado em condições de solo com alta

disponibilidade de nutrientes, onde plantas não necessitam de FMA. Nestas condições a

simbiose é inibida através de mecanismos genéticos controlados pela planta (Lambais &

Mehdy, 1998; Lambais, 2000; Lambais et al., 2003). Neste caso o hospedeiro perde C ao

micobionte de maneira desnecessária. Como exemplo pode-se mencionar Brachiaria

decumbens. Esta espécie é adaptada a solos com baixos níveis de nutrientes disponíveis. B.

decumbens tem um sistema radicular bem desenvolvido, contudo não é suficiente o

bastante para absorver Pi em condições de baixa disponibilidade comuns em solos

Brasileiros (Figura 4). Espécies facultativas usualmente se beneficiam da simbiose apenas

em situações onde a fertilidade é baixa. Elas em geral apresentam um sistema radicular bem

desenvolvido e altas taxas de crescimento, caso típico de gramíneas.

Figura 4 – Resposta de uma espécie micorrízica facultativa, a gramínea forrageira


Brachiaria decumbens, à inoculação com Glomus clarum CNPAB5 em solo sem
adição de fertilizante fosfatado. Vasos da esquerda inoculados e os da direita não
inoculados (de Souza, não publicado).
Outras espécies vegetais desenvolvem obrigatoriamente AM para poderem

completar seu ciclo (Amijee et al., 1993; Peng et al., 1993; Johnson et al., 1997). Plantas

micorrízicas obrigatórias não crescem na ausência de fungos MA em níveis normais de

13
disponibilidade de nutrientes. Como exemplo temos a leguminosa arbórea nativa da região

amazônica, taxí-dos-campos, (Sclerolobium paniculatum) (Figura 5). Esta característica é

encontrada com frequência em espécies nativas de solos de baixa fertilidade natural como

em boa parte dos solos brasileiros (Siqueira & Saggin-Junior, 2001). Nestes solos,

demonstrou-se que inúmeras espécies vegetais são incapazes de absorver fósforo na

ausência da MA, como mandioca e batata-doce (Sieverding, 1991; Paula & Siqueira, 1992).

Figura 5 – Resposta de uma espécie micorrízica obrigatória, a leguminosa arbórea taxí-


dos-campos (Sclerolobium paniculatum), a inoculação com o fungo Glomus clarum

14
CNPAB5 em diferentes níveis de adubação com fósforo. No painel superior plantas
não inoculadas e inferior plantas inoculadas. Esta leguminosa apenas se desenvolve
na ausência de fungos MA quando a disponibilidade de P é alta, que não ocorre
naturalmente nos solos da região amazónica. (Teles, de Souza e Faria, não
publicado).

Plantas que não desenvolvem MA apresentam um sistema radicular bem

desenvolvido com muitas raízes finas e pelos radiculares. Apesar disso, são plantas ruderais

que se desenvolvem, em geral, em solos com altos níveis de nutrientes disponíveis

apresentando baixa competitividade em solos pobres em fósforo. A colonização nestas

plantas é inibida devido à incompatibilidade genética que impede ao fungo ultrapassar as

primeiras camadas radiculares. Hifas chegam a produzir haustórios buscando ultrapassar a

epiderme, o que não conseguem (Allen et. al., 1989). Provavelmente existem dificuldades

estruturais, ou defesas químicas que impedem a colonização uma vez que o fungo consegue

produzir haustórios. Como exemplo pode-se mencionar as famílias Juncaceae,

Caryophyllaceae e Brassicaceae.

É importante mencionar que a dependência micorrízica de uma planta varia com a

espécie de fungo inoculada, para uma mesma planta a resposta pode variar desde levemente

negativa até altamente positiva (Sieverding, 1991). Assim, por parte do simbionte

autotrófico, existem exceções quanto ao mutualismo da simbiose. Portanto, strictu sensu,

micorrízas são associações simbióticas porém nem todas mutualistas. A dinâmica entre

mutualismo e parasitismo na simbiose micorrízica, por sinal, tem sido apontada como um

dos mecanismos que facilitam a coexistência de plantas e a diversidade florística em

ecossistemas naturais (van der Heijden et al., 1998a; van der Heijden et al., 1998b); van der

Heijden and Kuyper 2003). Como resultado destes múltiplos níveis de dependência da

15
planta ao fungo micorrízico, a associação acaba por influenciar na modelação da estrutura

da paisagem sendo um dos componentes definidores da diversidade de espécies vegetais e

da produtividade primária. Inversamente, plantas influenciam na diversidade e abundância

da comunidade FMA. Modificações ambientais como na fertilidade, em especial na oferta

de N, também alteram a estrutura da comunidade de fungos micorrízicos (e plantas),

induzindo a predominância de espécies cujos esporos apresentam pequenas dimensões,

como os Glomus, bem como na redução da abundância e riqueza de espécies. Assim, a

estrutura da comunidade FMA é um importante indicador da qualidade ambiental bem

como de alterações climáticas como as causadas por precipitações ácidas e ricas em óxidos

de N (Jeffries & Barea 2001; Corkidi et al., 2002). Voltaremos a estes temas no item 5.

3. CARACTERÍSTICAS GENÉTICAS E MORFOLÓGICAS

3.1 Aspectos genéticos

Como já mencionado, FMA só completam seu ciclo de vida quando associados à

plantas compatíveis. Esta característica é esperada em simbioses altamente evoluídas.

Provavelmente estes fungos seguem um ciclo reprodutivo assexual (Rosendahl & Taylor,

1997) formando esporos grandes, em relação a outros grupos de fungos, variando de 22 a

1050 µm em diâmetro (Perez & Schenck, 1990). Os esporos são multinucleados e podem

apresentar centenas a milhares de núcleos. Evidências moleculares indicam que o fungo é

haplóide havendo controvérsias sobre o seu caráter homo ou heterocariótico (Hijri &

Sanders, 2004; Hijri & Sanders, 2005; Pawlowska & Taylor, 2004). Ambas situações

podem ser esperadas se o fungo seguir um ciclo parasexual de recombinação.

O ciclo parasexual é caracterizado pela ocorrência de anastomose seguida de troca

de núcleos entre fungos geneticamente distintos mas que apresentem compatibilidade

16
vegetativa. Este processo resulta em um micélio contendo núcleos geneticamente distintos

(heterocariótico). No entanto, a heterocariose é uma condição instável onde, em geral,

núcleos diferentes se fundem formando um núcleo diplóide o qual, para retornar à condição

haplóide, devem sofrer perdas cromossomais (Schardl & Craven, 2003). Recentemente,

evidências da ocorrência de recombinação parasexual em fungos do gênero Gigaspora

foram encontradas (de Souza et al., 2005a). Além disso outros estudos de recombinação já

tinham sido relatadas (Pawlowska & Taylor, 2004) indicando que estes fungos apesar de se

multiplicarem clonalmente, desenvolveram mecanismos de recombinação que operam

durante o crescimento somático. A elucidação destes mecanismos é de fundamental

importância para que possamos compreender processos de evolução, especiação e

adaptação destes fungos.

Recentemente, foi caracterizado o tamanho, a complexidade e a ploidia do genoma

de três espécies de fungos MA, Glomus intraradices, Glomus etunicatum e Scutellospora

castanea (Hijri & Sanders, 2004; Hijri & Sanders, 2005). Todas as espécies estudadas

apresentaram condição haplóide e o tamanho aproximado do genoma foi respectivamente

17, 37, e 795 Mb. A grande diferença entre o tamanho do genoma das espécies de Glomus

para a Scutellospora castanea se deve a uma grande quantidade de seqüências repetidas:

58% do genoma em contraste com 1,6% em G. intraradices. O genoma do fungo G.

intraradices está sendo seqüenciado, resultados preliminares indicam que o fungo apresenta

aproximadamente 30% conteúdo GC e presença de pequenos “introns” entre genes

(Shachar-Hill (comunicação pessoal).

17
3.2 Morfotipos

O micélio dos fungos micorrízicos é dimórfico e não septado, ou coenocítico (Perez

& Schenck, 1990). Septos quando presentes indicam que o micélio esta senescente. Apesar

de cerca de 80% das plantas superiores formarem MA, as associações se distinguem

morfologicamente em apenas dois tipos: o Paris e o Arum. Estes termos advém do fato do

primeiro grupo ter sido reconhecido há cerca de 100 anos, na espécie vegetal Paris

quadrifolia enquanto o segundo em Arum maculatum (Dickson 2004). No tipo Arum a hifas

crescem intercelularmente, de maneira linear e longitudinal ao longo do espaço cortical

formando estruturas finas e muito ramificadas nas células, os arbúsculos (Figura 6). No tipo

Paris, hifas mais grossas, enovelam-se intracelularmente, desenvolvendo hifas arbusculares

(Figura 7). As estruturas arbusculares são similares para ambos os morfotipos enquanto

que, funcionalmente, sugere-se que em hifas enoveladas também possam ocorrer

deslocamento de fosfato ao hospedeiro. Ao que parece, estas estruturas são definidas pela

planta (Gerdeman, 1965; Bedini et al., 2000; Ahulu et al., 2005; van Aarle et al., 2005)

apesar de Cavagnaro et al. (2001) terem observando a mesma espécie vegetal, mas

colonizada por 6 diferentes espécies de FMA, formava tanto arbúsculos do tipo Arum como

Paris.

18
Figura 6 - Colonização tipo Arum hifas se desenvolvem intercelularmente, de maneira
linear e longitudinal ao longo do espaço cortical formando estruturas finas e muito
ramificadas nas células, os arbúsculos (Fotografia gentilmente cedida por Dr. Larry
R. Peterson, University of Guelph, Canada).

Figura 7 - Colonização micorrízica tipo Paris com hifas mais grossas, enovelam-se
intracelularmente (Fotografia gentilmente cedida por Dr. Larry R. Peterson,
University of Guelph, Canada).

19
Diversos levantamentos têm registrado que espécies anuais e a maioria das perenes

apresentam morfotipo Arum, como no extenso levantamento realizado por Santos et al.,

(2000) com monocotiledoneas da Região Nordeste do Brasil. Sugere-se portanto que este

tipo esteja mais presente em espécies vegetais de rápido crescimento pelo fato destas

plantas apresentarem taxas de crescimento, e de colonização micorrízicas, mais altas

(Brundrett and Kendrick 1990). Assim, FMA seriam capazes de acompanhar o crescimento

das raízes com um elevado custo energético para estas. Plantas com taxas de crescimento

menor, apresentariam a predominância do morfotipo Paris apesar de Breuninger et al.

(2000) terem encontrado em Araucária angustifolia o morfotipo Arum. Existem espécies

intermediárias, que apresentam os dois tipos, conforme relatado em Anandenantera

peregrina, o angico do cerrado (Gross et al., 2004). O mais provável é que ocorra um

continuum nas estruturas fúngicas de Arum para Paris em uma mesma planta (Dickson

2004). Como pouco se conhece dos aspectos funcionais envolvidos em ambos os tipos,

sugere-se que em estudos de identificação da colonização, tente-se, para futuras referências,

determinar o morfotipo do fungo e não apenas a presença ou ausência da simbiose, ao

longo dos estádios sucessionais do hospedeiro (Figura 8).

20
10

te
8

en
ist
rs
Pe
Tipo de crescimento
Tipo:
Número de plantas

lia

Arum

ci
du
Ca
4 Paris

ne
Intermediário

re
Pe
2 Ausente

al
nu
A
0
Pioneiros Sucessão Sucessão 0% 20% 40% 60% 80% 100
inicial tardia %

Grupos de sucessão Proporção de espécies de plantas

Figura 8 – Diagrama sugerindo a distribuição dos morfotipos de FMA entre tipos de


espécies vegetais e sua sucessão, de acordo com Ahulu et al., 2005.
3.3 Hifas extraradiculares

O comprimento de hifas extraradiculares é expresso por unidade de massa ou

volume do solo ou ainda por unidade de comprimento de raiz colonizada. A extensão e

impacto das FMA sobre o volume do solo varia principalmente com as características

radiculares e de textura do solo sendo que raízes mais finas tendem a induzir maiores

comprimentos de hifa (Figura 7). Por exemplo em raízes de Lolium perene

(monocotiledonea com raízes fibrosas e níveis elevados de colonização micorrízica),

observou-se 14 metros de hifas (m) de FMA . g solo-1 mas apenas 1 m hifas . m de raiz

colonizada-1. Por outro lado, raízes de Trifolium repens (leguminosa – trevo, com raízes

bem mais grossas) induziu a produção de 3 m de hifas. g de solo-1 e 46 m hifas. m de raiz

colonizada-1 (Tisdall & Oades, 1979). Normalmente, em condições de campo, observa-se

21
maiores valores de hifas em solos sob pastagem bem conduzidas onde a perturbação é

mínima e o solo está coberto permanentemente.

Figura 9 – Raiz de Trifolium repens colonizada por Gigaspora margarita. Barra 250 µm.
(fotografia de Souza, não publicada).

Para fungos ectomicorrízicos, devido às dificuldades em distinguir-se suas hifas das

de fungos saprofíticos, os resultados obtidos são incertos variando de 30-8000 m hifas . m-1

raiz ou 3 – 600 m. g solo-1. Finlay & Soderstrom (1989) encontraram, a partir de

correlações entre micomassa e respiração, valores de 200 m. g solo-1 sob floresta de

coníferas o que é um valor médio em relação aos determinados em microcosmos (Leake et

al., 2001). De qualquer forma, pelas características do fungo ectomicorrízico que graças a

sua exuberante micomassa desloca maiores quantidades de C da planta que FMA, os

valores devem ser superiores aos encontrados para FMA.

22
4. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA

A taxonomia deste grupo de fungos vem sendo alterada significativamente.

Gerdemann & Trappe (1974) propuseram a primeira classificação dos fungos MA. Estes

pesquisadores utilizaram parâmetros morfológicos para agrupa-los na ordem Endogonales

(Zigomicota), gênero Endogone. Posteriormente, Morton & Benny (1990) utilizaram

cladística para analisar parâmetros morfológicos e formular uma nova classificação, onde

os fungos MA foram reclassificados em uma nova ordem chamada Glomales, composta por

duas sub ordens Glominea e Gigasporineae. Esta ordem excluía o gênero Endogone que

forma ectomicorrizas. No entanto, o filo Zigomicota não refletia adequadamente a filogenia

dos fungos MA. Em 1998, Cavalier-Smith criou a classe Glomeromicetos para englobar os

fungos MA dentro do filo Zigomicota. Morton (1999) lançou uma hipótese na qual os

fungos MA teriam uma origem polifilética, contrariando evidências moleculares que

indicavam claramente que os fungos MA constituíam um grupo monofilético e que

Acaulosporaceae era filogeneticamente próxima à família Gigasporaceae e não a

Glomeraceae (Simon et al., 1993a; Simon 1996).

Morton e colaboradores, com base na análise filogenética de seqüência de DNA da

sub unidade menor do gene ribossomal (SSU rDNA), verificaram que seqüências

pertencentes a espécies do gênero Sclerocystes agrupavam junto com espécies de Glomus.

Estes autores reclassificaram então todas as espécies descritas como Sclerocystes para o

gênero Glomus (Morton et al., 2000). No ano seguinte, Morton & Redecker (2001)

propuseram duas novas famílias (Paraglomeraceae e Archaeosporaceae, e seus respectivos

gêneros Paraglomus e Archeospora) com base em caracteres morfológicos e moleculares

(SSU rDNA). Estas famílias são consideradas linhagens ancestrais dos fungos MA. No

23
mesmo ano, Schwarzott et al. (2001) propuseram, com base na análise filogenética de

seqüência do SSU rDNA, a polifilia do gênero Glomus, o gênero com maior número de

espécies descritas. Estes autores agruparam as espécies do gênero Glomus em três grupos

denominados A, B e C. Espécies no grupo C foram posteriormente reclassificadas para o

gênero Diversispora (Walker et al., 2004) Ainda em 2001, Schüβler e colaboradores (2001)

propuseram, com base na análise filogenética de seqüência SSU rDNA, a criação do filo

Glomeromicota, o qual agrupa todos os fungos MA e o fungo Geosiphon pyriformis

(Tabela 1). Esta análise confirma que os fungos MA formam um grupo monofilético e

sugere que estes fungos compartilham o mesmo ancestral que os Basidiomicetos e

Ascomicetos, e não com Zigomicota que forma um grupamento artificial.

Recentemente, a família Pacisporaceae e o gênero Pacispora foram propostos (Oehl

& Sieverding, 2004) com base em uma nova descrição da espécies Glomus scinthillans e da

descoberta de novas espécies com características morfológicas similares (Walker et al.,

2004), com aspectos de Glomoides (vesículas e hifa de sustentação) e com características

encontradas em Acaulosporaceae e Scutellospora (paredes internas flexíveis e escudo de

germinação ou orbe). Estas evidências morfológicas fortaleceram a criação da ordem

Diversisporales que foi criada exclusivamente com base na análise filogenética do SSU

rDNA. Ela indica que características ligadas à presença de paredes flexíveis e estrutura de

germinação com formação de escudo ou orbe, são homologas entre Pacispora,

Acaulosporaceae (Acaulospora e Entrophospora) e Scutellospora. Buscando evidências, de

Souza e colaboradores fizeram uma avaliação filogenética do gênero Scutellospora

comparando resultados da análise filogenética baseada em seqüências do SSU rDNA com a

análise morfológica baseada no padrão de desenvolvimento ontogênico de esporos. A

análise indicou que para algumas espécies o padrão morfológico não coincide com o

24
molecular, ou seja, espécies com padrão de paredes similares agruparam separadamente na

análise molecular. Este resultado sugere que apesar destas características morfológicas

serem úteis para diferenciar espécies os agrupamentos feitos com base nestes critérios

podem não ser adequados para reconstruir a filogenia deste grupo (de Souza et al., 2005b).

Por outro lado, a análise filogenética baseada em um só gene também deve ser

analisada com cuidado, visto que a evolução de genes nem sempre segue o processo de

especiação. No caso dos fungos MA a análise de outros genes como beta tubulina (Corradi

et al., 2004), fator de elongamento alfa 1 (Helgason et al., 2003), tem comprovado o caráter

monofilético dos fungos MA, mas a posição do grupo ainda continua incerta. A análise

parcial do Fator de elongamento 1 alfa aponta os Zigomicota como grupo irmã (Helgason et

al., 2003). Já Corradi e colaboradores verificaram que pela análise dos genes da Beta

tubulina, Glomeromicota se coloca como um grupo próximo ao Chitridiomicota, que

engloba linhagens ancestrais dos fungos. Atualmente o projeto AFToL (Assembling the

Fungal Tree of Life, Lutzoni et al., 2004) está sequenciando um conjunto de genes

cromossomais e mitocondriais de representantes de todos os grupos de fungos conhecidos

visando aprimorar a filogenia dos fungos.

25
Tabela 1. Ordens, famílias e gêneros pertencentes à divisão Glomeromycota e distribuição
de espécies por gênero.
Número de
Ordem Família Gêneros espécies
descritas *
Diversisporales Diversisporaceae Diversispora 3
Gigasporaceae Gigaspora 7
Scutellospora 32
Pacisporaceae Pacispora ** 7
Acaulosporaceae Acaulospora 33
Entrophospora 5
Glomerales Glomeraceae Glomus *** 104
Archaeosporales Archaeosporaceae Archaeospora 3
Geosiphonaceae Geosiphon**** 1
Paraglomerales Paraglomeraceae Paraglomus 2

Total: 4 8 10 197
(*) O número total de espécies inclui sinonímias.

(**) Recentemente a família Pacisporaceae e o genero Pacispora foram propostos

para acomodar espécies semelhantes à Glomus, bem como novas espécies que partilham

germinação e características internas da parede e apresentam aspectos moleculares que as

vincula a espécies de Scutellospora e Acaulosporaceae (Oehl & Sieverding, 2004; Walker

et al., 2004). Pacispora foi descrita na família Glomeraceae (Oehl & Sieverding, 2004), e

reclassificado na ordem Diversisporales, com base em resultados morfológicos, citológicos

e moleculares (Walker et al., 2004).

(***) O género Glomus é polifilético e foi dividido em Glomus grupos A, B e C

(Schwarzott et al., 2001). Glomus grupo C pertence agora ao género Diversispora, ordem

Diversisporales.

26
(****) Geosiphon não forma micorriza arbuscular. Esta espécie estabelece simbiose

mutualística com cianobactérias, sendo considerada uma possível precursora da simbiose

micorrízica.

A taxonomia molecular tem sido muito útil para elucidar a filogenia dos fungos MA

ao nível de sub-gênero ou níveis superiores. No entanto, pouco tem sido feito para a

diferenciação de espécies. Isto se deve principalmente a dificuldades em se multiplicar o

fungo em cultura pura. O sistema tradicional de vasos de cultivo não garante a ausência de

contaminantes em esporos que podem ser de outros fungos como Ascomicetos (Schüβler,

1999; Fonseca et al., 2001) ou mesmo outros fungos MA. Além disso, várias bactérias são

comumente encontradas no citoplasma de fungos MA. Inclusive é reconhecida uma

endosimbiose entre bactérias do gênero e espécie nova Candidatus Glomeribacter

gisporararum e esporos de diversas espécies da família Gigasporaceae (Bianciotto et al

2003). Outra característica que dificulta a análise de fungos MA ao nível de espécies é o

alto grau de polimorfismo entre genes encontrados em um mesmo fungo (esporo).

Recentemente esta característica foi utilizada para diferenciar espécies ou até isolados do

gênero Gigaspora, parece ser promissora para diferenciar espécies de outros gêneros

também (Figura 8, de Souza dados não publicados).

27
Figura 10 – Identificação de espécies de Gigaspora através da diferenciação do
polimorfismo inter e intra específico entre cópias do rDNA pela técnica do PCR-
DGGE (Denaturing Gradiente Gel Electrophoresis). Dendrograma mostrando a
similaridade (Jaccard - UPGMA) entre perfis de bandas de PCR-DGGE de 48
estirpes de Gigaspora e dois perfis divergentes encontrados em esporos das culturas
das estirpes Gi. albida CL151 e Gi. margarita UFLA36. A escala indica a
similaridade entre os perfis de bandas, e linhas tracejadas indicam separação entre
os grupamentos principais, barra nos grupamentos indica faixa de erro. Números
indicam o fator cofenético de correlação (Modificado de Souza et al., 2004).
5. Fungos MA como determinantes da diversidade de plantas

28
Estudos conduzidos em condições controladas indicam que a resposta em

crescimento da planta inoculada depende da compatibilidade genética e funcional entre a

espécie vegetal e a estirpe do fungo utilizada, bem como das condições ambientais

vigentes, como tipo de solo, pH e disponibilidade de nutrientes em especial o P. Além

destas variáveis, em condições naturais onde mais do que uma espécie de fungo coloniza

simultaneamente raízes da planta hospedeira, os benefícios da simbiose micorrízica

dependerão da comunidade de fungos presentes e da competição que se estabelece entre

eles conforme discutido na Figura 9.

Planta A Planta B

Fungo a Fungo b

Figura 11 - Coexistência hipotética entre duas espécies de plantas, uma com folhas escura
(A) e a outra com folhas claras (B). O fungo a favorece o crescimento da planta A
que passa a dominar a comunidade vegetal. Assim manejos que favoreçam a
manutenção do fungo a promoverão a exclusão da planta B (Modificado de van der
Heijden 2001).

29
Um experimento clássico conduzido em microcosmos por Marcel van der Heijden e

colaboradores ilustra bem os efeitos deste tipo de interação sobre o desenvolvimento de

comunidades de plantas. Para condução do experimento foram isolados quatro espécies de

fungos MA e 11 espécies de plantas autóctones de uma pastagem temperada em solo

calcáreo na Europa. A manipulação da diversidade de fungos MA resultou em profundas

modificações na diversidade da comunidade de plantas enquanto os tratamentos com maior

diversidade fúngica resultaram também em maior diversidade de plantas (van der Heijden

et al., 1998a).

Em síntese, fungos micorrízicos arbusculares causam impactos que vão desde suas

relações com plantas (processos de absorção de nutrientes), com comunidades vegetais

(influenciando em sua diversidade e abundância) e finalmente, com processos relacionados

à estabilidade de ecossistemas, ao participarem de forma ativa e significante na dinâmica do

C e agregação do solo, conforme ainda enfatizaremos neste capítulo. Assim, percebida não

apenas na perspectiva da planta, mas do solo em suas múltiplas relações, MA são hoje

reconhecidos como um componente integral e fundamental na construção e estabilidade de

ecossistemas de todo o planeta (van der Heijden et al., 1998a; van der Heijden et al.,

1998b; van der Heijden et al., 2003).

6. MICORRIZAS E A DINÂMICA DO CARBONO

O ciclo do carbono orgânico do solo é um componente fundamental de ecossistemas

terrestres sendo um dos elementos reguladores dos fluxos de gases entre a biosfera e a

atmosfera. Os principais elementos definidores da magnitude e rapidez deste ciclo são a

relação entre a produtividade primária e a distribuição do carbono entre a parte aérea e as

raízes, com os processos de mineralização e imobilização (Brady, 1989). Um dos

30
indicadores utilizados para determinar-se a eficiência deste processo é a biomassa

microbiana e sua atividade. O quanto de C é drenado direta ou indiretamente da atmosfera

pelas funções microbianas é incerto mas certamente depende de variáveis como o a

estrutura da cobertura vegetal, manejo, quantidade e qualidade da matéria orgânica

adicionada, clima e fatores edáficos. Não por acaso, as mesmas variáveis que regulam a

abundância, riqueza e atividade de FMA (Lovelock & Ewel, 2005).

Fungos micorrízicos são um importante componente do ciclo do C no solo devido a

sua direta influência sobre: (a) a produtividade primária graças ao seu impacto na absorção

de nutrientes e água por plantas; (b) a estabilidade de agregados do solo e; (c) por sua

imensa biomassa e produção de Glomalinas (Zhu & Miller, 2003) proteínas de alta

estabilidade produzida por hifas de FMA conforme discutido no próximo item. Apesar do

impacto evidente, poucos são os estudos, em especial em sistemas tropicais, sobre o papel

destes organismos no ciclo do C. Fungos micorrízicos são fontes (graças a sua respiração e

a de aumentos na taxa respiração da raiz colonizada) ou, bem mais provável, dreno (devido

à sua imensa biomassa, produção de glomalinas e modificações na produtividade primária)

de C da atmosfera? Em qual escala e como este balanço pode ser mediado pelo ambiente e

manejo?

Estudos diversos usando 14C têm demonstrado que fotossintetatos são deslocados da

parte aérea às hifas poucas horas após este elemento ter sido marcado (Bucking & Shachar-

Hill, 2005). Estes resultados confirmam que FMA são dreno importante de C da planta

podendo impor perdas de até 20% do C fixado pelo simbionte autotrófico. Como resposta

da planta ao dreno imposto pelo sistema micorrízico, ocorrem aumentos significativos de

sua taxa fotossintética ocasionando aumentos no potencial da produtividade primária e

dreno de C da atmosfera (Jakobsen et al., 2002). Estima-se que, globalmente, FMA possam

31
ser responsáveis pelo dreno anual de 5 bilhões de toneladas de C aos solos (Bago et al.,

2000). As consequências deste fenômeno são ainda desconhecidas, seja nas propriedades

do solo, seja em escala global, nas relações referentes às mudanças globais e o papel desta

simbiose no sequestro de C da atmosfera. Pode-se especular sobre a necessidade em

ampliar-se as linhas de investigação das AM para além de seus aspectos nutricionais.

Fungos micorrízicos podem portanto serem considerados canais de drenagem do C

da atmosfera para o solo, via planta, por terem acesso direto à fontes de carbono da planta.

Esta característica os diferenciam de boa parte dos microorganismos saprófitas que

adquirem açúcares (energia) a partir de fontes diversas e espacialmente limitadas. Estes

organismos são energizados por uma quantidade e qualidade de fontes orgânicas

praticamente ilimitadas, desde que haja plantas metabolicamente ativas sendo colonizadas.

Esta vantagem competitiva lhes confere uma significativa parcela da biomassa microbiana

presente no solo (Bago et al., 2000; Graham 2000). Entretanto, alguns métodos tradicionais

de quantificação da biomassa microbiana baseada na técnica de respiração induzida pelo

substrato não conseguem detectar essa imensa contribuição micorrízica por duas razões:

Os métodos discriminam contra a detecção da biomassa micelial. Isso porque a

técnica da respiração induzida (Anderson & Domsch, 1978) é aplicada à amostras de terra

destorroadas e peneiradas. Neste processo hifas micorrízicas são fragmentadas e suas

conecções às plantas, ou seja, à sua única fonte de C, destruídas. Como consequência, a

“indução” por adição de sacarose ao substrato é indiferente ao fungo uma vez que este é

incapaz de mobilizar açucares que não sejam os deslocados por plantas. Desta maneira,

como FMA não conseguem mobilizar fontes externas de açucares, sendo dependentes

obrigatórios da planta para este fim, o método subestima a contribuição fúngica;

32
Os métodos de fumigação Voroney & Winter (1993), da mesma forma, apenas

conseguem detectar a atividade de FMA se as análises forem realizadas após poucas horas

da coleta.

A insensibilidade destes métodos em detectar a biomassa de hifas de FMA intactas,

coloca em dúvida os resultados quantitativos obtidos para biomassa microbiana (Leake et

al., 2004) e os cuidados em se considerar este atributo como indicador da fertilidade

biológica do solo. Apenas hifas extraradiculares podem contribuir com até 30% da

biomassa total do solo em sistemas agropastoris (Hamel et al., 1991; Miller & Kling, 2000;

Olsson & Wilhelmsson, 2000). Os valores de biomassa microbiana encontrados na

literatura provavelmente estão subestimados.

A biomassa de fungos micorrízicos, não deve ser desconsiderada. Apesar de boa

parte do C transferido ao fungo retornar à atmosfera via respiração, cerca de 25% deste C

pode ser acumulado apenas no micélio extraradicular o qual pode representar 90% da

biomassa de hifas do FMA (Olsson et al., 1999). O micélio intraradicular por sua vez,

corresponde a 3-20% do peso das raízes (Smith & Read, 1997). Considerando-se a

biomassa micelial, desconsiderando-se esporos, vesículas ou células auxiliares, podem ser

encontrados valores de biomassa próximos aos do próprio sistema radicular. Extensões

superiores a 70 m de hifas por grama de solo já foram registrados em solos sob pastagem.

Em solos tropicais estes valores são em geral menores (30-50 m hifas g-1 solo) talvez

devido à maior taxa de ciclagem ou acidez (van Aarle et al., 2002; 2003). Considerando-se

que mais de 50% do comprimento de hifas no solo advenham de fungos micorrízicos

(Rillig et al., 2002), correspondendo a 0,03 – 0,5 mg g-1 em peso seco de hifas extra-

radiculares, concluímos que FMA representam uma grande e funcionalmente significativa

parcela da biomassa microbiana, podendo, apenas as hifas extraradiculares, chegar a 1

33
tonelada ha-1, considerando-se os 20 cm iniciais do perfil. Ainda mais, se o solo não for

perturbado e os agregados mantidos intactos, a meia vida de hifas, ricas em quitina, uma

molécula recalcitrante e de difícil decomposição, pode chegar a 25 anos (Rillig et al.,

2001).

Hifas são, portanto, um importante reservatório de C no solo, ainda não

incorporados nos estudos de sua ciclagem. Outro dreno não desprezível, são os próprios

esporos. Em condições controladas, em placas de Petri contendo raízes transformadas,

pode-se observar mais de 40.000 esporos (ver Figura 3). Portanto, não existe

constrangimento, sob o ponto de vista genético (da planta ou do fungo), na produção de

imensas quantidades de propágulos fúngicos. Como de 45% a 95% do pool de C em

esporos é constituído por lipídeos, pode-se concluir que estas estruturas são potencialmente

um importante dreno de C garantido pelos simbiontes autotróficos em algumas situações

ainda mais significantes que o encontrado em hifas (Bago 2000).

6.1 Glomalina

A contribuição das hifas extraradiculares não se limita à sua biomassa ou à

aumentos na capacidade de plantas em mobilizar nutrientes. Estas são características

clássicas e fundamentais na simbiose micorrízica. Entretanto, o micélio externo também é

responsável pela exsudação (ou incorporação em suas paredes celulares bem como de

esporos) de glicoproteinas hidrofóbicas chamadas glomalinas. Estas proteínas muito

provavelmente são produzidas por FMA uma vez que em sua ausência, glomalinas não são

encontradas (Leake et al.,2004). Elas apresentam alta estabilidade no solo podendo

permanecer 42 anos até sua mineralização completa, período bem superior aos de hifas, que

não ultrapassa 5-7 dias (Rillig et al., 2001; Zhu & Miller, 2003) ou raízes que variam de 10

34
dias até à morte da planta arbórea (Fitter & Moyersoen, 1996). Glomalinas constituem-se

em um importante componente do “Corg” do solo podendo atingir 1.45 Mg C.ha-1 em

florestas tropicais apenas nos 10 cm do perfil, se estabilizando em geral na fração argila

(Lovelock et al., 2004). A função das glomalinas é incerto, entretanto é provável que elas

tenham impacto sobre a construção de nichos ao promover a agregação do solo e sua

estruturação com a consequente redução dos processos erosivos. Desta forma, apesar de

estudos de hifas fúngicas intraradiculares absorverem maior atenção graças a sua maior

facilidade e ao interesse nos mecanismos de transferência de nutrientes, são as hifas

extraradiculares que atuam diretamente sobre atributos relacionados à qualidade do solo,

entendida como expressão de um conjunto de processos que estimulam ganhos de

produtividade sem prejuízo das funções nele realizadas, conforme diagrama da Figura 10.

Isso porque, como já mencionado, estas estruturas ultrapassam em muito o espaço

rizosférico, mobilizam nutrientes para bem além da zona de depleção, produzem uma série

de compostos quelantes (uma das quais, glomalinas), células mortas que interagem com

outros organismos criando uma “hifosfera” com uma bem característica e particular

comunidade microbiana. Bactérias específicas, não encontradas na rizosfera, interagem

com glomalinas ampliando o efeito rizosférico criando uma “micorrizosfera”, com

propriedades próprias (Vancura et al., 1990; Bomberg et al., 2003). Se, além destas

qualidades, considerarmos a influência de hifas extraradiculares nos processos de

agregação do solo, a conclusão de que FMA são um fundamental indicador de qualidade de

manejo e cobertura do solo, torna-se emblemática.

Considera-se a agregação do solo como a forma em que partículas e poros se

distribuem no solo. Ela é influenciada pela ação da biota (em especial bactérias e fungos em

geral) e atividade de cargas superficiais em um contexto de secagem e humidecimento do

35
solo (Brady, 1989). O papel dos FMA, em particular, não é, via de regra, considerado ou

menos ainda, dimensionado. Não sabemos qual sua contribuição neste processo: é

secundário ou absolutamente fundamental? Alguns estudos indicam que a importância de

FMA é similar ao das raízes enquanto outros apontam que hifas extraradiculares são o

elemento mais importante dentre todos os que atuam neste processo com óbvias

implicações na capacidade de armazenamento de água (Thomas et al., 1993; Jastrow et al.,

1998). Se é assim, quais são os mecanismos que permitem ao FMA esta ação, tanto sobre a

agregação quanto sobre sua estabilidade? Provavelmente são dois: um físico, com hifas

extraradiculares envolvendo e enovelando partículas minerais e orgânicas do solo e, outro,

quelante, graças à ação de glomalinas.

Em estudos realizados em um gradiente de textura e classes de solos, comprovou-se

que existe forte e positiva correlação entre estabilidade de agregados com a quantidade de

glomalinas no solo (Wright & Upadhyaya, 1998). Percebeu-se também que estas proteínas

ficam estocadas dentro destes agregados, protegidos então dos processos de mineralização.

Desta forma, glomalinas representam uma forma estável de armazenar C no solo (Rillig

2004). Pelo exposto, é clara a necessidade de criar-se condições que apontem para o

aumento da produção destes metabólitos. Sabe-se que o manejo (em especial a

mecanização), a diversidade da cobertura vegetal além de variáveis físicas e químicas do

solo, controlam a produção de glomalinas. Sistemas que estimulem a produção de hifas

extraradiculares devem também induzir a síntese destas moléculas apesar de resultados

iniciais serem contraditórios (Piotrovsky et al., 2004). Em solos agrícolas, a quantidade de

glomalina detectada é baixa em relação aos encontrados sob pastagem ou florestas. Isso

porque com o revolvimento e compactação do solo, a rede micelial é destroçada e, com

isso, a produção de glomalinas diminui drasticamente (Figura 10).

36
Figura 12 - Diagrama indicando as múltiplas funções desempenhadas pelos FMA, seja
sobre funções do solo, seja sobre a comunidade de espécies vegetais (Zhu & Miller
2003).

Existe necessidade de ampliar-se os estudos em condições tropicais sobre o impacto

destas glicoproteinas sobre o pool do C, agregação e estabilidade, bem como da relação

glomalina – FMA, ainda não definida.

37
7. NUTRIÇÃO MINERAL

Daremos ênfase na nutrição fosfatada pelo seu maior impacto sobre plantas

hospedeiras apesar de estudos com inoculação com FMA também ocasionarem, via de

regra, aumentos tanto na taxa de crescimento como nos níveis de Cu, Mg e Zn, não por

acaso, todos elementos pouco móveis no solo. Micorrízas arbusculares são reconhecidas

por sua habilidade em estimular o crescimento de plantas principalmente através do

incremento na absorção de nutrientes em geral, P em especial. Ryan e colaboradores (2003)

identificaram níveis elevados de nutrientes em hifas intraradicais. Os níveis de P variaram

de 60 170 mM, apesar de valores como 600 mM terem sido detectados. Estes valores

correlacionaram-se fortemente com os de K, com cerca de 350 mM, e Mg, com 175 mM.

Muito pouco Ca foi detectado. Os níveis de P em arbúsculos ativos variou de 30 50 mM

enquanto os níveis de potássio foram de 100 mM. Estes elevados valores são muito

superiores aos encontrados em solos ou mesmo em tecidos vegetais, confirmando a

capacidade de FMA na absorção e acumulação de elementos minerais.

Fósforo é um macronutriente presente no solo em baixas concentrações,

normalmente em níveis inferiores a 1 µM de fósforo disponível, e pouco móvel em solos

intemperizados, como são os tropicais. São nestas condições que as AM assumem um papel

determinante na sobrevivência de diversas espécies vegetais, incapazes de mobilizar este

elemento. Não que FMA não absorvam nitrogénio por exemplo. Absorvem e em níveis

superiores aos de P (Gamper et al., 2004). Entretanto, a planta não necessita do FMA para

sua nutrição nitrogenada pois seu próprio sistema radicular é capaz de absorve-lo, visto que

apresenta grande mobilidade no solo. Além disso, P é um nutriente estrutural na

constituição de ácidos nucleicos, fosfolipídeos bem como de diversas enzimas (Lehninger

38
et al., 1989). Está envolvido diretamente nos processos de fosforilação e portanto no

metabolismo energético, na transdução de sinais e regulação da atividade celular. Sua falta

ocasiona significante declínio no conteúdo de ATP (-74%) e ADP (-91%) bem como dos

níveis de enzimas (Duff et al., 1989). Portanto, a manutenção da homeostasis celular deste

elemento é central para organismos em geral e plantas tropicais desenvolvidas em solos de

baixa fertilidade em particular.

Como a taxa de absorção e transporte de Pi por raízes é maior que sua taxa de

difusão no solo, uma zona de depleção é formada, resultando em uma zona de esgotamento

para este elemento ainda no ambiente rizosférico. Desta forma, a planta, em sua evolução,

desenvolveu mecanismos de captura deste elemento para além desta zona, através das MA

(Figura 11).

Os aumentos na taxa de absorção do P propiciados pelas MA podem ser atribuídos

a:

Aumento do volume de solo explorado pelas hifas extra-radiculares do fungo

arbuscular;

O pequeno diâmetro da hifa, o que a permite explorar espaços do volume do solo

inatingíveis pela raiz;

Maiores taxas de influxo por unidade de superfície;

A formação de polifosfatos, moléculas orgânicas sintetizadas pelo fungo AM ricas

em P, as quais acarretam a diminuição da concentração de P inorgânico no interior das hifas

com o concomitante acumulo de P em condições de alta disponibilidade deste elemento,

com sua remobilização em condições de estresse permitindo, assim, um fluxo contínuo ao

hospedeiro;

39
Produção de enzimas como fosfatases que catalisam a liberação de P dos complexos

orgânicos; permitindo sua absorção na forma iónica pelas plantas nas unidades arbusculares

(Marschner & Dell, 1994).

Figura 13 - Estrutura das hifas intra-radicular, arbúsculos e vesículas, e extra-radicular com


hifas ultrapassando a zona de depleção de Pi. Como se pode constatar (gráfico) a
taxa de absorção de Pi é maior que a sua taxa de difusão no solo.

O aumento da nutrição de P em plantas colonizadas ocasionará então: (a) aumentos

no crescimento e atividade fotossintética; (b) aumentos na taxa de transferência de

carboidratos para as raízes e (c) aumentos no seu efluxo ao apoplasto, em direção ao dreno

imposto pelo fungo micorrízico (Bucking & Shachar-Hill, 2005). Devido ao aumento da

absorção de P (e em menor escala Zn), o pH da rizosfera normalmente cai na presença de

FMA, o que leva a aumentos da solubilidade de P no solo (Mohammad et al., 2004).

40
Como outros nutrientes, fosfato é absorvido de forma seletiva contra um gradiente

de potencial eletroquímico partindo de níveis no solo da ordem de micromolar, para mais

de 1000 vezes estes valores no interior da célula. Este processo de absorção é portanto

energeticamente dependente dos transportadores de P (simporte) e da ação das H+-ATPases

(Figura 12). Recentemente alguns destes transportadores foram identificados. Estudos

realizados por Smith et al. (2003 e 2004), demonstram que os transportadores de fosfato

envolvidos na sua absorção por raízes, são distintos dos envolvidos pela absorção por raízes

colonizadas. Este resultado sugere há regulação genética dos mecanismos de transporte de

Pi em sistemas AM e que esta regulação é controlada diretamente pelo fungo pois sabe-se

que genes que codificam para estes transportadores, apenas são expressos na presença do

fungo simbionte (Karandashov & Bucher, 2005).

Figura 14 – Células arbusculares de Lunularia cruciata (L.) Lindb. com diagrama


indicando a transferência de fosfato (Pi) e estruturas de carbono através da interface
micorrízica. Em circulos fechados H+-ATPases e transportadores secundários já
identificados. Circulos abertos indicam modelos hipotéticos de transferência de
metabólitos ou Pi (modificado de (Ferrol et al., 2002). Barra 10µm. Fotografia
Fonseca & Berbara, não publicada.

41
Como não existe conexão simplástica entre os simbiontes, nutrientes e fosfato

devem ser absorvidos via apoplasto (Rausch et al., 2001). É provável que ocorram

transferências passivas tanto de Pi como de carboidratos através da plasmalema de ambos

os simbiontes, ao apoplasto matricial (que separa as membranas dos simbiontes) e,

posteriormente, ativamente absorvidas graças a ação de bombas H+-ATPases. Modelos

originais propunham o que seria mais plausível: a existência de transportadores acoplados

de carboidratos – fosfato (Schwab et al., 1991; Smith et al., 1994) apesar de Nehls et al.

(2001), terem identificado transportadores independentes para P e carboidratos em

associações ectomicorrizicas. Estudos com plantas sob limitações fotossintéticas, mostram

diminuições nos efeitos benéficos do fungo arbuscular devido, provavelmente, à

competição por carboidratos (Son & Smith, 1988). Nesta linha, (Bucking & Shachar-Hill,

2005) um estudo com raízes transformadas e em placas dividas, demonstrou que aumentos

na oferta de carboidratos, em especial sacarose, estimulam o transporte de C através da

interface micorrízica, em direção ao simbionte fúngico. Neste momento, carboidratos

diversos (monosacarideos, di-sacarideos ou poli-sacarídeos), exudados pela raiz, seriam

hidrolisadas por invertases presentes no apoplasto, em hexoses, principalmente, estruturas

que podem ser absorvidas pelo FMA (Bago et al., 2000). Como a atividade da invertase é

pH dependente, deve-se incrementar a ação das H+-ATPases as quais, não por acaso, tem

sua expressão genica ativada tanto pela infecção micorrízica como pela concentração de

sacarose (Blee & Anderson, 2002), de acordo com o modelo proposto na Figura 12.

Provavelmente MA obtêm todo o seu C do ambiente radicular, passivamente

deslocado pelas raízes em favor de um gradiente de concentração. Nas raízes, FMA

polimerizam os açucares absorvidos, hexoses principalmente, em trealose e glicogênio,

estruturas encontrados em fungos em geral (Bago et al., 2003). fungo. Algumas destas

42
formas de lipídeos podem então ser deslocadas das hifas intra para as extraradiculares. O

transporte de C de hifas para a planta não tem sido reportada, sendo o transporte de C

considerado unidirecional da planta para as hifas. Os Triacilglicerois (TAG) são outra das

mais importantes formas em que carbono é armazenado pelo fungo (Pfeffer et al., 2004).

Entretanto nas hifas, ocorre um rápido fluxo citoplasmático nos dois sentidos com

deslocamento de recursos de regiões fonte para regiões dreno dentro no micélio fúngico.

Este fluxo também é responsável pela movimentação de organelas (Bago et al., 2002; Bago

et al., 2003).

Figura 15 - Modelo de transporte de fosfato indicando sítios de transferência de entre solo-


hifa. À esquerda, graças à atividade de ATPases, protons (H+) são bombeados, com
gastos de energia (ATP), pela planta. O gradiente de concentração de protons
gerado por este mecanismo, cria um potencial eletroquímico através da membrana.
Este gradiente facilita a movimentacao de Pi através de transportadores específicos
(Pnt1) conforme indicado à direita (modificado de Karandashov & Bucher, 2005).

É provável que a absorção de Pi pelo FMA e sua transferência à planta seja

estimulada pela transferência de carbono da planta para o fungo (Bucking, 2004). Frente à

43
maior oferta de C, o fungo diminui a síntese de polifosfatases levando a aumentos nos

níveis de Pi citoplasmáticos bem como na sua incorporação em fosfolipídeos e Poli P

(Viereck et al., 2004).

Pi é ativamente absorvido por hifas extra-radiculares e metabolizado em ácidos

nucleicos, fosfolipídeos e outras moléculas fosforiladas, bem como condensadas em

moléculas de polifosfatos (poliP). Polifosfatos são polímeros ricos em fosfatos e presentes

em diversos organismos, como bactérias, fungos, plantas e animais superiores (Bjm-

BRASIL). Em fungos micorrízicos arbusculares, os poliP são armazenados em hifas intra e

extraradiculares, bem como em esporos, e são centrais no metabolismo do fosfato. Após

absorção de Pi por hifas, poliP são sintetizados antes mesmo de serem detectados em

vacúolos (Viereck et al., 2004) denotando a importância desta via metabólica no

armazenamento de fosfato em estruturas moleculares capazes de concentrar grandes

quantidades de Pi. Pode-se especular que a rapidez e a quantidade com que poli P é

sintetizado e armazenado tem como objetivo manter seja o dreno de Pi do solo pelo fungo

inalterado, seja a transferência de Pi à raiz. Eventualmente estas moléculas são deslocadas

ao espaço intra-radicular, hidrolisados em Pi e, finalmente, deslocados ao apoplasto e à

células vegetais, devido ao dreno imposto pela planta (Karandashov & Bucher, 2005).

A hidrólise do Poli P provavelmente ocorre nas hifas intra-radiculares e não no

apoplasto ou menos ainda nas células vegetais uma vez que plantas não absorvem poliP,

mas Pi (Ohtomo et al., 2004). Esta hidrólise intracelular induziria a incrementos no Pi do

citoplasma fúngico levando ao seu transporte em direção ao apoplasto interfacial. A

passagem de fosfato através da plasmalema fúngica seria portanto passiva em favor de um

gradiente de concentração. Sua passagem pela matriz micorrízica pode se dar por canais ou

transportadores iónicos. Finalmente, o fosfato liberado é transferido às células corticais

44
através de transportadores de fosfato, conforme já discutido. Bucking (2004) sugere que as

trocas de C por P estejam efetivamente acopladas conforme a Figura 10. Assim, a absorção

de P pelo fungo e sua transferência à planta, estaria diretamente associada à disponibilidade

de C ao fungo micorrízico.

Da mesma forma que para Pi, FMA absorvem e deslocam à plantas significantes

quantidades de Nitrogênio seja na forma de amonia seja na de nitrato. As enzimas de

assimilação de N estão presentes tanto em raízes como em estruturas do FMA. Este

elemento pode ser acumulado em fungos, o que garante gradientes de concentração entre o

espaço extra e intracelular bem como entre células do cortex (Jolicoeur et al., 2002).

Os pools gerados pelo acumulo de P na forma de PoliP / Pi e de N, na forma de

distintos amino ácidos, NH4+ ou NO3-, tanto em células corticais como em hifas, produzem

gradientes que são percebidos pelos simbiontes provavelmente no espaço arbuscular.

Estudos realizados por Jolicoeur et al. 2002, demonstram que os níveis de Pi (e

possivelmente outros nutrientes) além de açúcares intracelulares regulam a orientação do

fungo em produzir hifas ou cessar seu crescimento. É comum observar o incremento no

número de esporos de algumas espécies de FMA conforme avança o desenvolvimento das

raízes (Berbara e de Souza, observações pessoais). Estudos de (Declerck et al., 2001) em

meio de cultura utilizando raízes transgênicas, confirmam que a produção de esporos segue

uma fase lag, log e estacionária, obedecendo uma curva clássica sigmoide, sugerindo que

este processo obedece uma dinâmica similar ao do metabolismo primário.

8. MANEJO DE FMA

No contexto da nutrição mineral de plantas e otimização das funções de

ecossistemas, visando aumentos em sua estabilidade e resiliência, considera-se alguns

45
atributos biológicos como centrais: (a) quantidade e qualidade de raízes (finas, terminais,

não-lignificadas e metabolicamente ativas); (b) riqueza e abundância de organismos como

FMA; (c) bactérias promotoras de crescimento de plantas (incluindo bactérias fixadoras e

solubilizadoras de fosfato) e; (d) minhocas (Hamel et al., 2004; Wardle et al., 2004). Aqui,

considera-se estabilidade como a capacidade que um sistema apresenta para manter

inalteradas suas propriedades frente a um impacto ambiental ou antrópico, enquanto que,

resiliência, como a capacidade de ecossistemas em recuperar suas funções após sofrer uma

perturbação ou estresse, sendo uma função do tempo (Lal, 1997). Ambas estas propriedades

são decisivamente influenciadas pelas associações micorrízicas. Isso porque FMA e

bactérias promotoras de crescimento associadas, relacionam-se à estrutura de comunidades

vegetais (ver item 5). Portanto, podem ser manejados juntamente com os tratos culturais.

Outros grupos funcionais, como os da meso-macrofauna, da mesma forma são importantes.

Entretanto, seu manejo é bem mais complexo ao não se correlacionarem tão rapidamente

com variações ambientais ou antrópicas (Schloter et al., 2003).

Pelos seus múltiplos impactos, já apontados neste capítulo, estratégias de manejo

que incrementem não apenas a diversidade de FMA, mas em especial hifas

extraradiculares, devem ser buscadas mesmo porque, a maioria dos agroecossistemas

apresenta condições não-ótimas para o funcionamento de FMA. Manejos como

mecanização excessiva com alta fertilização do solo, aplicação de pesticidas, rotações de

cultura com plantas não hospedeiras (ex. Brassicas), poluentes diversos, inclusive orgânicos

com uso excessivo de esterco por exemplo, levam à diminuição da otimização desta

simbiose seja pela redução da atividade fúngica, de sua diversidade ou da produção de hifas

extraradiculares. Considera-se que as chamadas modernas técnicas de manejo do solo vêm

diminuindo sobremaneira não apenas a diversidade, mas a importância de FMA nas

46
funções já discutidas neste capítulo, implicando em quedas na resiliência e estabilidade de

agroecossistemas (Jeffries et al., 2003).

9. CONCLUSÕES

Os primeiros estudos sobre micorrízas realizados no Brasil por Sacco (1958, 1962),

foram descritivos. Avançou-se desde então, de maneira gradual, na formação de

pesquisadores que tiveram acertadamente o interesse em estudar o impacto das MA sobre o

desenvolvimento de plantas em solos tropicais. Estes trabalhos foram importantes por

enfatizar seu caráter fundamental na sobrevivência de inúmeras espécies vegetais, as quais,

sem esta simbiose para garantir sua nutrição fosfatada, provavelmente não existiriam. Os

novos desafios para a pesquisa nestes ambientes não são menos relevantes. Incorporar este

componente fúngico às inúmeras funções realizadas pelo solo, relacionadas à estabilidade e

resiliência de ecossistemas é imperativo (Fitter, 2005).

Apesar de seus mais de 120 anos de estudos, desde as primeiras descrições e

hipóteses formuladas sobre a funcionalidade das associações micorrízicas (Trappe, 2005),

suspeitamos que o impacto mais profundo desta simbiose ainda está por ser desvendado. O

esforço pela potencialização das AM em campo, bem como pela geração de tecnologias a

elas relacionadas, demanda técnicas de estudo que incorporem protocolos de multiplicação

de FMA, seja em potes, aero ou hidroponia, ou principalmente cultivos in vitro com o uso

de Ri-DNA, raízes transformadas (Berbara & Fonseca, 1996) uma formidável ferramenta

ainda pouco explorada no Brasil. Implica considerar este componente em estudos de longa

duração que busquem detectar não apenas seu impacto sobre o desenvolvimento de uma

planta, mas sobre a magnitude de sua contribuição a eventos globais e estruturação de

comunidades vegetais. Com a perspectiva aberta pelas tecnologia moleculares, temos a

47
oportunidade de entender mecanismos de evolução de espécies vegetais e da própria

simbiose. Resta aos investigadores em MA ampliarem seu leque de investigação em um

esforço multidisciplinar, mesmo porque, sem esta abordagem, não compreenderemos a

dimensão completa desta formidável simbiose.

48
10. REFERÊNCIAS

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71
CAPÍTULO 4

SOLUÇÕES NUTRITIVAS: FORMULAÇÃO E APLICAÇÕES

Nilton Nélio Cometti 1, Pedro Roberto Furlani2, Hugo Alberto Ruiz3 & Elpídio Inácio
Fernandes Filho3

1
Escola Agrotécnica Federal de Colatina - ES, CP 256 – Colatina - ES, CEP 29709-910,

www.eafcol.gov.br, 2Pesquisador Científico Voluntário, Bolsista do CNPq – Instituto

Agronômico, CP 28, CEP 13.001.970 – Campinas - SP: pfurlani@iac.gov.br , 3 Professores do

Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, CEP 36570-000, Viçosa (MG). E-

mails: hruiz@ufv.br; espidio@ufv.br

1
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 159

2. COMPOSIÇÃO DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS 159

2.1. Composição da solução nutritiva 164

2.2. Sais utilizados nas soluções 165

2.3. Exemplo de formulação de solução nutritiva para a cultura da alface 166

2.4. Concentração da solução nutritiva 168

3. MANEJO DA SOLUÇÃO 172

3.1. Reposição da solução 172

3.2. Preparo e utilização de soluções estoque 174

3.3. pH da solução nutritiva 177

4. ESPECIAÇÃO IÔNICA DA SOLUÇÃO NUTRITIVA 180

4.1. Força iônica 181

4.2. pH 182

4.3. Quelatos 184

5. ESTUDOS DE CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 189

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 196

2
1. INTRODUÇÃO

Uma solução nutritiva pode ser definida como um sistema homogêneo onde os nutrientes

necessários à planta estão dispersos, geralmente na forma iônica e em proporções adequadas.

Além dos nutrientes, pressupõe-se que a solução nutritiva contenha O2 e esteja na temperatura

ideal para a absorção dos nutrientes. Entretanto, uma solução nutritiva não é composta

inteiramente de elementos em suas formas minerais, puras e simples, onde uma simples análise

dos elementos seja suficiente para desvendar os “segredos” de suas fórmulas “mágicas”. A partir

do instante em que a solução nutritiva é colocada em contato com as raízes, transforma-se em

uma verdadeira “sopa” nutritiva, contendo vários compostos orgânicos provenientes da atividade

microbiana, dos exsudatos das raízes e da decomposição de fragmentos de raízes. Além desses,

há resíduos do meio de cultivo das mudas, fragmentos do sistema hidropônico e do sistema

hidráulico.

Em qualquer sistema de cultivo sem solo, duas variáveis são preponderantes sobre a

produtividade: a ambiência, determinada pelo tipo de proteção das plantas, especialmente a

cobertura com filmes plásticos transparentes e telas de sombreamento; e a solução nutritiva, que

pode estar livre ou dispersa em um substrato. Em condições normais, todos os nutrientes podem

ser absorvidos da solução nutritiva pela raiz em quantidades suficientes ao requerimento da

planta. Além dos nutrientes, O2 e água são absorvidos diretamente da solução, enquanto o C é

retirado normalmente da atmosfera. Tanto em pesquisas de nutrição mineral de plantas, quanto

na produção de alimentos em sistemas hidropônicos, a solução nutritiva tem o caráter de ser o

objeto e a ferramenta de trabalho e estudo.

2. COMPOSIÇÃO DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

A composição da solução nutritiva tem sido estudada há muitos anos, com relatos de

soluções datando de 1865, como a solução de Knopp (Resh, 2002). Entretanto, somente a partir

3
de 1933 houve preocupação com a elaboração de uma solução contendo micronutrientes, em

1938, Hoagland & Arnon apresentaram uma solução nutritiva completa e balanceada para

tomateiro, baseada na composição de plantas cultivadas em vasos com solução nutritiva

(Hoagland & Arnon, 1950). Em 1957, essa solução sofreu uma pequena adaptação na relação

NO3-:NH4+ para o valor de 7:1, por Johnson e colaboradores, para manter o pH mais próximo de

cinco. A partir da solução de Hoagland & Arnon, muitas outras foram desenvolvidas, mas a

tradicional solução “Hoagland” permanece como a mais utilizada, por atender adequadamente às

necessidades das culturas.

Admite-se que não exista uma solução nutritiva ideal para todas as culturas. Desta forma,

a composição da solução nutritiva varia com uma série de fatores: a espécie de planta cultivada

(a exigência nutricional é geneticamente controlada), o estádio fenológico da planta, a época do

ano (duração do período de luz), fatores ambientais (temperatura, umidade e luminosidade) e a

parte da planta colhida e, eventualmente, comercializada. Além disso, aspectos intrínsecos à

solução alteram sua composição, tais como pH, força iônica, temperatura e presença de

moléculas orgânicas, em especial os agentes quelantes.

Diversas soluções nutritivas têm sido propostas, havendo diferenças marcantes em

relação às concentrações dos macronutrientes, enquanto que para os micronutrientes, as

diferenças são bem menores (Quadro 1). É comum encontrar nos artigos científicos a “solução

nutritiva modificada de Hoagland”, isto é, fórmulas derivadas da solução nutritiva proposta por

Hoagland & Arnon. Essa solução tem sido a mais usada na pesquisa em nutrição mineral de

plantas e constitui a base para a formulação de inúmeras soluções nutritivas comerciais. As

faixas de concentrações dos nutrientes utilizadas nas soluções são muito amplas, variando em até

10 vezes, como no caso do S (Quadro 1).

4
Quadro 1. Faixas de concentração encontradas nas soluções nutritivas e solução de Hoagland &
Arnon (1950) modificada.

Nutriente Massa Faixas de concentração 1 Hoagland & Arnon


atômica

----mg L-1----- --------mmol L-1------ mg L-1 mmol L-1

N-NO3- 14,0 70 - 250 5,00 - 17,86 196 14,00

N-NH4+ 14,0 0 - 33 0,00 - 2,36 14 1,00

P 31,0 15 - 80 0,48 - 2,58 31 1,00

K 39,1 150 - 400 3,84 - 10,23 234 5,98

Ca 40,0 70 - 200 1,75 - 5,00 160 4,00

Mg 24,3 15 - 80 0,62 - 3,29 48 1,98

S 32,0 20 - 200 0,63 - 6,25 64 2,00

------µmol L-1------ µmol L-1

B 10,8 0,1 - 0,6 9,26 - 55,56 0,5 46,30

Cu 63,5 0,05 - 0,3 0,79 - 4,72 0,02 0,31

Fé 55,8 0,8 - 6 14,34 - 107,53 1 17,92

Mn 54,9 0,5 - 2 9,11 - 36,43 0,5 9,11

Mo 95,9 0,01 - 0,15 0,52 - 1,56 0,01 0,10

Zn 65,4 0,05 - 0,5 1,53 - 7,65 0,05 0,76

Cl 35,5 1 - 188 28,17 - 5.295,77


1
Adaptado de Barry (1996) e Resh (2002).

Para formular uma solução nutritiva, é importante entender o modo e a velocidade com

que os nutrientes são absorvidos pelas plantas. Há vários sistemas de monitoramento da

concentração dos íons na solução nutritiva, incluindo aqueles totalmente automatizados,

compostos de sensores (eletrodos específicos para íons) e computadores para registrar o teor do

nutriente e a necessidade de reposição. Entretanto, esse monitoramento pode ser interessante,

mas não é fundamental para a manutenção da solução adequada ao cultivo hidropônico.

5
É muito comum verificar a rápida depleção de um nutriente na solução, enquanto outros

se acumulam, devido às diferentes taxas de absorção. A velocidade de absorção de N, P e K é

maior do que dos outros nutrientes, o que pode levar ao rápido esgotamento desses nutrientes e

acúmulo de outros, especialmente S e Ca (Figura 1). O mesmo pode ocorrer com

micronutrientes, considerando que o Mn tem alta taxa de absorção em comparação ao B. Assim,

os nutrientes podem ser separados em três grandes grupos, considerando a velocidade de

absorção (Quadro 2). O conhecimento da velocidade com que um íon é absorvido pode explicar

porquê, na análise de uma solução nutritiva, um nutriente pode estar praticamente ausente,

enquanto outros ainda estão em concentrações adequadas para a cultura, mesmo que as plantas

tenham um crescimento exuberante. Então, a depleção do nutriente na solução nutritiva, ao invés

de indicar sua deficiência, pode indicar que as plantas estão saudáveis, e que estão absorvendo os

nutrientes rapidamente. Por exemplo, se a concentração de P for mantida constante na solução

circulante (0,5 mmol L-1), sua concentração no tecido poderá atingir a 1% da massa seca, valor

três vezes maior do que o ótimo para a maioria das plantas, o que pode induzir deficiências de Fe

e Zn (Chaney & Coulomb, 1982). Sendo assim, ao longo do ciclo de um cultivo hidropônico sem

renovação da solução, os resultados de análises devem apresentar concentrações estáveis dos

nutrientes de absorção lenta (Figura 1 e Quadro 2), enquanto para os nutrientes de absorção

rápida, as concentrações normalmente são baixas, mesmo com o ajuste diário da concentração da

solução.

6
Quadro 2. Taxa de absorção aproximada dos nutrientes por plantas crescidas em solução

nutritiva (adaptado de Bugbee, 1995).

Grupo Taxa de absorção Nutriente

1 Absorção rápida N-NO3 N-NH4 P K Mn

2 Absorção intermediária Mg S Fe Zn Cu Mo

3 Absorção lenta Ca B

100

80

60
S
40 P Ca
% do Inicial (%)

Mg
20 N
0 K

80

60
B
40
Fe
20

0 Mn

0 20 40 60 80 100 120
Tempo (horas)
Figura 1. Variação temporal da concentração relativa de nutrientes da solução nutritiva em NFT
(técnica do nutriente em filme) em cultivo de alface (Adaptado de Furlani, 2003 – dados
não publicados).

7
A concentração total dos nutrientes na solução pode ser estimada medindo-se a

condutividade elétrica (CE) da solução. Devido à taxa diferencial de absorção dos nutrientes, a

CE da solução indica, na maior parte, o Ca, Mg e S remanescentes, enquanto os micronutrientes

contribuem com menos de 0,1 % da CE da solução. No Sistema Internacional de Unidades, a CE

é expressa em S m-1 (siemen por metro), sendo mais comum sua utilização na faixa de mS m-1,

muito empregada comercialmente, e que equivale à unidade mMho cm-1 usada no passado.

2.1. Composição da solução nutritiva

Em seu trabalho pioneiro, Hoagland & Arnon (1950) formularam uma solução nutritiva a

partir da composição elementar média de plantas de tomate, mas seus cálculos foram baseados

em plantas cultivadas em recipientes com 18 L de solução, com troca semanal de solução. Com o

advento das novas técnicas de cultivo hidropônico e novas formas de reposição da solução

nutritiva, surgiram algumas questões: o que ocorre quando se cultiva uma planta diferente, ou

quando o volume de solução por planta for diferente, ou quando a forma e a freqüência de

reposição da solução nutritiva forem distintas? Portanto, dois fatores devem ser considerados

para a formulação de uma solução nutritiva: a composição da solução, determinada pela relação

entre as concentrações dos nutrientes no tecido da planta cultivada; e a concentração da solução,

determinada pela razão de transpiração para o crescimento da planta, pelo volume de solução por

planta, pelo grau de agitação da solução e pela velocidade de reposição da solução.

A composição da solução deve ser determinada a partir da concentração desejada de cada

nutriente dentro da planta. O ponto de partida é a análise química de toda a planta, já que as

diferentes partes contêm concentrações diferentes de nutrientes. As quantidades acumuladas de

cada nutriente, e suas proporções relativas, servem de referência para a definição da

concentração relativa de cada nutriente na solução nutritiva. Outro meio é utilizar referências

bibliográficas, com interpretação de análise de plantas contendo as concentrações adequadas de

nutrientes para o crescimento e desenvolvimento ótimos das plantas. Quando se procede à

8
análise das exigências nutricionais de plantas visando ao cultivo em solução nutritiva, deve-se

enfocar as relações existentes entre os nutrientes, pois essa é uma indicação da relação de

extração do meio de crescimento.

Além das diferenças nos teores de nutrientes nas folhas em função de sua posição,

cultivares e épocas de amostragem, também ocorrem diferenças nas relações entre os teores

foliares de nutrientes para as diversas espécies, o que deve ser levado em consideração quando se

utiliza uma única solução para a nutrição de diversas espécies vegetais. Quando isso ocorre para

espécies que possuem relação de extração diferente, há grande possibilidade de desequilíbrio

nutricional ao longo do desenvolvimento das plantas, principalmente aquelas com ciclo mais

longo e quando a solução nutritiva não é renovada integralmente. Essas relações devem ser

consideradas também para a reposição de nutrientes durante o crescimento das plantas. Em

trabalhos de pesquisa, é comum a renovação total da solução após uma semana de cultivo em

vasos, a fim de evitar desequilíbrios nas relações entre os nutrientes.

2.2. Sais utilizados nas soluções

Para a escolha de um sal para uma determinada solução deve-se considerar,

primeiramente, a finalidade da solução. Em trabalhos de pesquisa, utilizam-se normalmente sais

puros para análise, a fim de evitar contaminações com outros nutrientes que possam distorcer os

resultados. Entretanto, em cultivos hidropônicos com fins comerciais, o volume de solução

utilizado geralmente é grande, e neste caso o uso de sais comerciais é preferível pelo seu menor

custo. Esses sais são comumente utilizados em fertirrigação devido à sua alta solubilidade e

ausência de resíduos que possam obstruir os emissores. Se o objeto de estudo forem os

micronutrientes, os cuidados devem ser maiores, inclusive com a purificação de sais.

No fornecimento de macronutrientes, é preferível utilizar sais que não contenham Na e

Cl, que podem acumular-se na solução, aumentando a salinidade e reduzindo a absorção de

alguns nutrientes. O Cl pode reduzir a absorção de NO3-, e o Na pode interferir na absorção de

Ca e K (Marschner, 1995).

9
2.3. Exemplo de formulação de solução nutritiva para a cultura da alface

Como exemplo de um método prático de cálculo de uma solução nutritiva, deve-se

inicialmente definir a relação de concentração entre os nutrientes para a cultura em questão

(dados do Quadro 3, para a cultura da alface), para preparar a base da solução, assumindo uma

quantidade inicial de 100 g de K por m3 de solução (Quadro 6).

Quadro 3. Relação entre nutrientes, e quantidade de nutriente para preparar a solução básica
para a cultura da alface

K N P Ca Mg S

Relação entre nutrientes 1,00 0,62 0,09 0,31 0,08 0,03

Relação × 100 100 62 9 31 8 3

Quantidade (g m-3) 100 62 9 31 8 3

Em seguida, definem-se os sais que serão utilizados para os macronutrientes. Geralmente

utilizam-se os seguintes sais:

- nitrato de cálcio (Ca 19 %, N-NO3 4,5 %, N-NH4 1,0 %);

- nitrato de potássio (K 36,5 %, N-NO3 13 %);

- MAP purificado (N-NH4 11 %, P 26 %); deve ser utilizado quando o pH da solução for

ligeiramente neutro ou alcalino, devido à presença do amônio que acidifica a solução;

- MKP (K 29 %, P 23 %); deve ser utilizado quando o pH da solução for ácido;

- sulfato de magnésio (Mg 10 %, S 13%).

a) Cálculo do Ca: nitrato de cálcio = 31/0,19 = 163,2 g m-3

(o valor 31 indica a quantidade de Ca do Quadro 3; o valor 0,19 indica 19 % de Ca no

nitrato de cálcio; iniciou-se pelo nitrato de cálcio por ser a única fonte de cálcio.

b) Cálculo do K: nitrato de potássio = 100/0,36 = 278 g m-3

c) Cálculo do P: de MAP = 9/0,26 = 23 g m-3

d) Cálculo do Mg: sulfato de magnésio = 8/0,10 = 80 g m-3


10
e) Cálculo do N: N contido nos sais acima = 163,2×0,145 + 278×0,13 + 23×0,11 =

62,3 g m-3

f) Caso o N resultante da soma das quantidades dos sais não seja suficiente, pode-se

completá-lo com nitrato de cálcio e nitrato de potássio.

g) A composição da solução nutritiva básica para atender a proporção entre os

nutrientes será (em g m-3): 163,2 g de nitrato de cálcio, 278 g de nitrato de potássio, 23 g de

MAP e 80 g de sulfato de magnésio; esta deverá ser corrigida para a condutividade elétrica

desejada, 1,5 mS cm-1, por exemplo.

h) Para a estimativa da condutividade elétrica, multiplica-se a CE de uma solução em

g L-1 (Quadro 4) pela quantidade do sal. Para a solução nutritiva básica, a CE estimada será:

163,2×1,18 + 278×1,28 + 23×0,95 + 80×0,88 = 641 µS cm-1 ou 0,64 mS cm-1.

i) Para se obter a CE da solução nutritiva desejada (CE = 1,5 mS cm-1), deve-se

multiplicar os valores de concentração de sais calculados no item g pelo fator de correção da CE

(fce = 1,50 / 0,64 = 2,3), obtendo-se as concentrações finais dos sais (Quadro 4).

Quadro 4. Solução nutritiva final para a cultura do alface, corrigida para a condutividade
elétrica desejada.

Sal utilizado Solução básica Solução desejada

g m-3 g m-3

Nitrato de cálcio 163 375

Nitrato de potássio 278 639

MAP 23 53

Sulfato de magnésio 80 184

CE (mS cm-1) 0,64 1,5

Para o cálculo da solução de micronutrientes, não há necessidade de correção da CE.

Podem-se utilizar as concentrações consideradas adequadas e preparar uma solução estoque, 10

vezes mais concentrada, chamada de “solução de micronutrientes 10×” (Quadro 5). Portanto, a
11
solução nutritiva com CE de 1,50 mS cm-1 terá, em g m-3: 375 g de nitrato de cálcio, 639 g de

nitrato de potássio, 53 g de MAP, 184 g de sulfato de magnésio e 100 mL da solução de

micronutrientes 10×.

Quadro 5. Cálculo de uma solução de micronutrientes 10× para alface

Micronutriente Sal utilizado Concentração Quantidade Solução 10×


(% do micronutriente) 1 adequada 2 do sal

mg L-1 mg L-1 g L-1

B Ácido bórico (17) 0,3 1,76 17,6

Cu Sulfato de cobre (25) 0,02 0,08 0,8

Fé Fe-EDDHA (6) 2,0 34,00 340,0

Mn Sulfato de manganês (25) 0,4 1,60 16,0

Mo Molibdato de sódio (39) 0,06 0,15 1,5

Zn Sulfato de zinco (21) 0,06 0,29 2,9


2
Furlani et al. (1999)

2.4. Concentração da solução nutritiva

A definição da concentração dos nutrientes na solução nutritiva a ser fornecida às plantas

é o segundo passo para sua formulação. A concentração adequada, independentemente da

relação entre os nutrientes, vai depender primariamente da taxa transpiratória da planta. Segundo

Bugbee (1995), uma boa estimativa da água transpirada em relação ao crescimento de plantas em

hidroponia está em torno de 300 a 400 L de água transpirada por kg de massa seca acumulada. A

taxa de transpiração depende principalmente da umidade do ar, ventilação, concentração de CO2,

temperatura e luminosidade. Em condições de clima tropical, a alta transpiração contribui ainda

mais para a redução do volume e da concentração da solução nutritiva. A absorção dos

nutrientes, por outro lado, é determinada pela taxa de crescimento da planta. Por isso, é muito

comum encontrar um desequilíbrio entre a quantidade de água e de nutrientes que a planta

12
absorve da solução, ocorrendo aumento da CE da solução ao longo do dia, quando não há

reposição da água.

As primeiras soluções nutritivas propostas na literatura científica eram muito

concentradas, por serem formuladas para sistemas hidropônicos estáticos, geralmente em vasos

com oxigenação. Com o advento dos sistemas circulantes, com constante agitação e renovação

da solução fluindo em velocidade pelas raízes, foi possível reduzir consideravelmente sua

concentração. Enquanto as primeiras soluções utilizavam CE de 2,5 a 3,0 mS cm-1, atualmente é

comum a utilização de CE em torno de 1,0 a 1,5 mS cm-1 (Cometti, 2003).

Um exemplo consiste na determinação da concentração de um nutriente na solução

nutritiva a partir do balanço de massas. Assumindo-se a concentração de K no tecido em torno de

40 g kg-1 de massa seca e uma transpiração de 300 L kg-1 de massa seca, deveria haver 40 g de K

em 300 L de água, ou 133 mg K L-1. Se a taxa de transpiração for maior, 400 L kg-1, a solução

deveria ser mais diluída, ou seja, 40 g por 400 L, ou 100 mg K L-1.

Em uma solução nutritiva, o principal componente do potencial da água é o osmótico,

conseqüência da quantidade de sais dissolvidos na solução. Quanto maior a quantidade de sais na

solução, tanto maior será a restrição à absorção de água pelas raízes, e, portanto, de nutrientes.

Se a concentração de sais for muito alta, os vegetais poderão perder água para o meio, ocorrendo

injúrias (plasmólise das células) que, dependendo da intensidade, podem causar morte de raízes e

da planta. O efeito salino de cada sal é variável, sendo geralmente utilizado o nitrato de sódio

como referência (Quadro 6). Na prática, em soluções nutritivas, a salinidade pode se tornar um

problema apenas quando a circulação da solução é interrompida por longos períodos em

momentos de alta transpiração, podendo ocorrer acúmulo de sais na superfície das raízes.

13
Quadro 6. Solubilidade de alguns sais utilizados em hidroponia (adaptado de Boodley, 1996 e
Resh, 2002).

Sal Solubilidade Índice salino 1

Água fria (0,5 oC) Água quente (100 oC)

g L-1 g L-1

Ácido bórico 19,5 389

Cloreto de potássio 277 561 116

Fosfato diamônio 426 1063 34

Fosfato monoamônio 224 1730 30

Nitrato de amônio 1183 8711 105

Nitrato de cálcio 1212 6598 53

Nitrato de potássio 134 2471 74

Nitrato de sódio 100

Sulfato de amônio 704 1033 69

Sulfato de cálcio Insolúvel 8

Sulfato de magnésio 2 700 906 2

Sulfato de manganês 516 696

Sulfato de potássio 67 239 46


1
Índice de salinidade relativo ao nitrato de sódio = 100.
2
Temperatura em água fria = 20 oC e água quente = 40 oC.

O potencial osmótico (Ψo) pode ser calculado pela equação de Van’t Hoff, que relaciona

o potencial osmótico à concentração de soluto na solução:

- nsRT
Ψo =
V

em que Ψo é o potencial osmótico em pascals, V o volume do solvente em litros, ns o número de

mols de soluto, R a constante dos gases (0,00832 MPa K-1 mol-1 a 273 oK), e T a temperatura em
o
K. Medições diretas, entretanto, têm mostrado que esta relação é aproximadamente correta para
14
soluções diluídas que não se dissociam. Para eletrólitos que se dissociam em solução, no entanto,

há um grande desvio do valor teórico. Assim, a pressão osmótica de uma solução molar de NaCl

é aproximadamente 4,32 MPa, em vez do valor teórico de 2,27 MPa. Assumindo-se que haja a

completa dissociação do NaCl, o potencial osmótico seria 4,54 MPa, e a discrepância pode ser

atribuída, principalmente, às forças de Van der Waals operando entre os íons. Em soluções

nutritivas, que trabalham na faixa milimolar, o efeito da concentração sobre a força iônica é

menor, permitindo uma aproximação maior entre os valores calculado e real do potencial

osmótico.

Um potencial osmótico entre -0,05 e -0,1 MPa tem sido considerado adequado para o

cultivo hidropônico. Considerando-se uma solução nutritiva que contenha uma concentração de

íons totais em torno de 20 mmol L-1 e temperatura de 27 oC, o potencial osmótico seria:

- 0,02 * 0,00832 * 300


Ψo = = 0,0499 MPa
1

Devido à dificuldade de medição direta da pressão osmótica da solução e de seu cálculo,

pois seria necessário conhecer a concentração de cada íon, pode-se utilizar a medida de CE, que

apresenta uma boa correlação com a quantidade total de sólidos solúveis da solução ou com a

sua força iônica estimada (Figura 2). Há uma relação significativa entre a CE e a concentração

total de íons da solução, que pode ser determinada pelas seguintes equações:

CE (mS cm-1) = [total de íons (mmol L-1)] × 0,0698; ou

total de íons (mmol L-1) = [CE (mS cm-1)] × 14,33; ou

total de íons (mg L-1) = [CE (mS cm-1)] × 655

Estas equações permitem que se utilize apenas a molaridade total da solução, sem que

sejam necessárias as concentrações individuais dos nutrientes na solução. A relação entre CE e a

concentração de íons deve ser determinada para cada sal em solução, visto que há grande

variação entre a CE de cada espécie iônica (Quadro 4). Quando se utilizam estas relações para

estimar a concentração total dos íons a partir da CE, deve-se considerar que seu valor pode ser

diferente para cada solução nutritiva, dependendo da relação entre os nutrientes. Finalmente, a
15
soma das CE estimadas de cada sal dissolvido pode ser utilizada como a CE estimada da solução

nutritiva, com uma boa aproximação do valor medido por meio de condutivímetro.

A CE da solução também varia com sua temperatura. A cada cinco graus de aumento de

temperatura, há um aumento da CE em torno de 11,0 %. Sendo assim, uma solução com CE de 1

mS cm-1 a 25 oC deverá apresentar, aproximadamente, uma CE de 1,11 mS cm-1 a 30 oC.

2,5

2,0 Força Iônica CE = FI*0,0853


2
Concentração de Íons r = 0,99
CE (mS cm-1)

1,5

1,0 CE = [Total de Íons] * 0,0698


2
r = 0,99

0,5

0,0
0 5 10 15 20 25
-1
Concentração Total de Íons e Força Iônica (mmol L )

Figura 2. Relação entre condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva e a concentração total
de íons e força iônica (FI) estimada; força iônica simulada com o programa GEOCHEM
3.0 (Parker et al., 1995). Fonte: Cometti (2003).

3. MANEJO DA SOLUÇÃO

3.1. Reposição da solução


Durante o crescimento das plantas em solução nutritiva, há absorção de água e nutrientes

em proporções diferentes, com diferentes quantidades acumuladas no tecido vegetal. Os

nutrientes, por sua vez, são absorvidos da solução nutritiva com velocidade diferenciada (Figura

1). Assim, o manejo da solução nutritiva deve contemplar essas diferenças a fim de se alcançar o

16
fim do ciclo de cultivo com o menor desbalanceamento iônico possível, constituindo um desafio

a adequada reposição dos nutrientes e da água. Dentre os métodos disponíveis de reposição da

solução nutritiva, podem-se listar:

a) Renovação de toda a solução: em vasos, é comum a troca de toda a solução ao final de

uma semana de cultivo, utilizando-se 2 a 3 L de solução para plantas como soja, arroz, e feijão.

Para determinar o momento da troca da solução, Ruiz (1977) propôs utilizar o K como nutriente

indicador. Em cultivos comerciais, o volume total de solução costuma ser grande, tornando alto o

custo com desperdício de solução, além de riscos de contaminação do meio ambiente.

b) Reposição da solução absorvida: esse método utiliza a solução básica para repor a água

absorvida por transpiração. Em condições de baixa umidade relativa do ar, alta velocidade do

vento e alta temperatura, há uma perda de água por transpiração desproporcionalmente maior do

que a absorção de nutrientes, provocando a concentração da solução nutritiva remanescente.

Caso seja feita a reposição da solução na mesma concentração inicial, haverá um aumento da

concentração de sais na solução, aumentando consideravelmente sua CE. A forma de solucionar

o problema é monitorar a CE da solução e adicionar água pura para reduzi-la, quando necessário,

ou efetuar a reposição com uma solução mais diluída do que a original.

c) Reposição de nutrientes e água separadamente com análise química da solução. Depois

de efetuada a análise química da solução nutritiva, pode-se adicionar água para atingir o nível

inicial e adicionar os nutrientes por meio de soluções-estoque concentradas de cada sal. O custo

de monitoramento da solução por esse método pode ser impeditivo, além de demandar um certo

tempo para a análise e de não traduzir exatamente a necessidade de reposição dos íons, Apesar

do ajuste da concentração dos nutrientes, a solução tem restrições para uso indefinido, pois há

exsudação de ácidos orgânicos, descamação e quebra de raízes liberando fragmentos,

crescimento de algas, bactérias e fungos, e contaminação por microrganismos patogênicos,

resíduos de substratos, poeira e metais pesados contaminantes . Todos esses elementos exigiriam

um tratamento de alto custo da solução para que esta pudesse ser reutilizada com segurança. A

17
vida útil de uma solução com acompanhamento semanal por análise química pode chegar a três

meses, segundo Resh (2002).

d) Reposição de água e nutrientes separadamente, com uso de sensores de concentração

dos íons. Além do custo elevado dos eletrodos específicos para os íons, sua vida útil é reduzida e

necessitam de calibrações freqüentes. A esse método, aplicam-se as considerações anteriores

sobre a vida útil da solução.

e) Reposição de água e nutrientes separadamente, por meio do monitoramento da CE da

solução. Este é o método mais utilizado atualmente na hidroponia comercial, além de aplicar-se

às pesquisas em nutrição de plantas, pois é de baixo custo e permite um acompanhamento da

concentração total de sais da solução. A reposição de água pode ser efetuada instantaneamente

por meio de válvula de nível com bóia ou diariamente, de forma manual. A medida da CE

permite monitorar a absorção de nutrientes pois, apesar de não fornecer a concentração de cada

íon, a CE dá uma idéia da concentração total dos íons em solução (Figura 2). A reposição dos

íons é feita com soluções-estoque concentradas, repondo-se apenas um volume de solução-

estoque suficiente para elevar a CE para o valor inicial. O descarte da solução nutritiva é

efetuado apenas ao final de um ciclo de cultivo, reduzindo bastante os custos com nutrientes e

análises químicas da solução. A vida útil da solução, em condições de cultivo hidropônico de

hortaliças folhosas, no Brasil, tem sido em torno de trinta dias em sistemas NFT, ou técnica do

filme nutriente, onde a solução nutritiva é conduzida por toda a parte inferior do tanque inclinado

onde as plantas são crescidas.

3.2. Preparo e utilização de soluções estoque

Para facilitar o manejo da reposição de nutrientes, é conveniente preparar soluções-

estoque concentradas, contendo todos os nutrientes na mesma proporção da solução nutritiva.

Para determinar a concentração máxima da solução estoque, é necessário utilizar a solubilidade

dos sais como o limite (Quadro 6). Além disso, pode haver incompatibilidade entre sais que não

permita que os mesmos sejam colocados na mesma solução concentrada, destacando-se a

18
incompatibilidade entre nitrato de cálcio e os sais contendo P e S por formarem precipitados de

baixa solubilidade (Quadro 7). Portanto, preparam-se duas soluções, intituladas “A” e “B”, onde

o nitrato de cálcio é colocado em apenas uma delas. Considerando que o nitrato de potássio tenha

compatibilidade com todos os outros sais, e que seja utilizado em maior quantidade, pode ser

dividido entre as soluções A e B, e servir como determinante para a concentração final das

soluções.

19
Quadro 7. Compatibilidade entre diferentes fertilizantes (C – compatível; I – incompatível; R –
compatibilidade reduzida).
C C C C C C C C C C C C C C Uréia
C C C C C C C C C C C C C Nitrato de amônio
C C C C C C C C C C C I Sulfato de amônio
C I C I C I I I I C C Nitrato de cálcio
C R C R C R C C C C Nitrato de potássio
C R C R C R C C C Cloreto de potássio
C R C R C R C C Sulfato de potássio
R I C C C I C Fosfato diamônio (DAP)
R I C C C I Fosfato monoamônio (MAP)
C C C C C Sulfato de magnésio
R I C C Ácido fosfórico
C C C Ácido sulfúrico
I C Ácido nítrico
C Sulfato de ferro, zinco, cobre e manganês
Quelato de ferro, zinco, cobre e manganês

Utilizando como exemplo de cálculo a solução formulada para a cultura do alface,

considerando que o nitrato de potássio possui solubilidade de 134 g L-1 (Quadro 6), serão

necessários 4,77 L para solubilizar os 639 g para a solução nutritiva (Quadro 8); este valor pode

ser arredondado para 5 L. Assim, o nitrato de potássio será utilizado como base para as soluções

estoque por ser o sal com maior quantidade de água necessária para solubilização. Como será

utilizado nitrato de potássio em ambas as soluções A e B, pode-se então dobrar as quantidades

dos outros sais e recalcular as quantidades para preparar 10 L de cada solução estoque.

20
Quadro 8. Volume mínimo necessário para solubilizar os sais da solução nutritiva para a cultura
do alface

Sal Solubilidade Solução Volume mínimo


desejada

g L-1 g m-3 L

Nitrato de cálcio 1212 375 0,14

Nitrato de potássio 134 639 4,77

MAP 224 53 0,24

Sulfato de magnésio 700 184 0,26

3.3. pH da solução nutritiva

Altas concentrações de H+ na solução nutritiva podem desestabilizar as membranas

celulares, provocando perda de íons e morte das células da raiz. As plantas podem suportar

perfeitamente pH entre 4,5 e 7,5 sem grandes efeitos fisiológicos. Entretanto, efeitos indiretos,

tais como a redução na disponibilidade de nutrientes, podem comprometer seriamente o

crescimento das plantas, pois as mudanças de pH podem favorecer a formação de espécies

iônicas que não são prontamente transportadas para o interior das células, comprometendo a

absorção do nutriente. Além disso, dependendo do pH da solução, há formação de complexos

insolúveis. Em pH acima de 6,5 há redução na disponibilidade de Mn, Cu, Zn, B, P e,

especialmente, Fe, enquanto há uma pequena redução na disponibilidade de P, K, Ca e Mg em

pH abaixo de 5,0. Portanto, em uma cultura hidropônica é recomendado um pH entre 5,5 e 5,8,

condição que permite a máxima disponibilidade dos nutrientes em geral (Bugbee, 1995). Em

solução nutritiva, Inoue et al. (2000) observaram redução no crescimento da parte aérea e do

sistema radicular de alface quando o pH foi reduzido abaixo de 4,2.

As variações de pH que ocorrem na solução nutritiva são reflexos da absorção

diferenciada de cátions e ânions. Por exemplo, quando o N é suprido na forma nítrica, a absorção

de ânions é maior que cátions, ocorrendo elevação do pH. A absorção de um mol de NO3- é feita
21
em cotransporte com dois mols de H+, enquanto na absorção de um mol de NH4+ pode ocorrer o

bombeamento de um mol de H+ para o exterior da célula. Assim, enquanto a absorção de NO3-

aumenta o pH, a absorção de NH4+ o reduz. Em plantas supridas com NH4+ e NO3-, o pH da

solução pode voltar a subir assim que o NH4+ tenha sido absorvido e que a absorção de NO3-

torne-se maior do que a de NH4+ (Figura 3). Devido ao abaixamento do pH com a absorção do

NH4+, recomenda-se o suprimento apenas parcial do N na forma amoniacal, tornando a solução

mais tamponada.

Em geral, o poder de tamponamento das soluções nutritivas utilizadas em hidroponia é

muito pequeno. A utilização de água deionizada, muito comum em pesquisa, reduz ainda mais o

poder de tamponamento da solução. Apesar do poder do fosfato (H2PO4- ↔ HPO42-) de tamponar

a solução, sua concentração necessária para estabilizar o pH em uma solução nutritiva o tornaria

tóxico para as plantas. Além disso, a rápida absorção do P retira toda sua capacidade de

tamponamento, que se encontra a partir de 5,5, e alcança o máximo no pH 7,2. Portanto, é mais

conveniente manter a solução nutritiva equilibrada em cátions e ânions para atender a demanda

da planta, do que tentar manter o pH numa faixa estreita de valores por meio do uso de ácidos

(sulfúrico, fosfórico, nítrico ou clorídico) e bases (hidróxido de sódio, potássio ou amônio) fortes

para reduzir ou elevar o pH do meio de crescimento, respectivamente.

22
200 N-NO3-
150
Nutrientes na Solução Nutritiva (mg L )

100
-1

50

0
25 N-NH4+
20
15
10
5
0
pH
6

3
17 24 31 38 45
Dias Após a Semeadura
Figura 3. Variação de NO3-, NH4+ e pH da solução nutritiva em cultivo hidropônico (NFT) de
alface. A solução foi renovada totalmente a cada sete dias (linhas verticais pontilhadas) e
ajustada diariamente pela condutividade elétrica e pH com solução de hidróxido de sódio
(Furlani, 1998).

A utilização de doses pequenas e contínuas de N-NH4+ de uma solução de sulfato de

amônio pode manter o pH em 5,5 (± 0,5) durante todo o ciclo da cultura, sem que haja

necessidade de lançar mão de ácidos fortes para baixar o pH da solução e sem comprometimento

da produtividade da cultura (Martins et al., 2002). Entretanto, esses estudos têm sido realizados

em sistemas automatizados, onde o computador interpreta o pH e libera uma solução contendo

amônio através do controle por uma válvula solenóide. Em experimentos conduzidos em vasos

com solução nutritiva, é possível manter o pH estável utilizando-se uma concentração de 1 mmol

23
L-1 de MES (ácido 2 (N-morfolino) ethanosulfônico) sem qualquer prejuízo para as plantas

(Bugbee & Salisbury, 1985).

4. ESPECIAÇÃO IÔNICA DA SOLUÇÃO NUTRITIVA

A especiação iônica para compreender as respostas das plantas à presença de certos íons

nas soluções, principalmente em cultivos hidropônicos, tem sido crescente, e cada vez mais útil.

Apenas a concentração total de um elemento tal como se obtém a partir de análises laboratoriais,

ou aquela que se acredita ter sido adicionada, não corresponde, muitas vezes, aos efeitos

observados no aumento ou na redução do crescimento vegetal. Da mesma forma, os efeitos

tóxicos de metais pesados têm se mostrado mais coerentemente correlacionados com a atividade

de espécies iônicas do que com a concentração total do elemento. Na especiação de soluções

contendo Al, Sr, Fe, Ca, P e outros elementos, observa-se o forte efeito do pH na formação de

vários complexos e precipitados, acarretando sua baixa disponibilidade para a planta mesmo sob

altas concentrações, e assim pouco ou nenhum efeito pode ser observado em resposta ao

aumento de sua concentração na solução nutritiva.

Segundo Bernhard et al. (1986), “espécie química” refere-se a uma forma molecular

(configuração) de átomos de um elemento ou aglomerado de átomos de diferentes elementos. O

termo “especiação química”, por sua vez, tem sido utilizado para descrever a análise das espécies

predominantes numa amostra, a abundância dessas espécies ou distribuição numérica, a

reatividade de dadas espécies e a transformação de uma espécie em outra. Como as formas do

metal complexado são de difícil ou impossível determinação por métodos de análises

laboratoriais, o uso de expressões termodinâmicas em modelos computacionais mostra-se uma

alternativa mais viável, simples e segura para a obtenção desse conhecimento. Programas de

computador tais como REDEQL, GEOCHEM-PC, MINTEQ, CHEAQS e outros, podem indicar

as espécies químicas em uma solução nutritiva a partir das concentrações analíticas conhecidas

24
dos elementos adicionados, apontando os pares iônicos, complexos e formas livres dos íons

(Parker et al., 1995).

Na especiação iônica de uma solução nutritiva, três variáveis determinam a

disponibilidade de um dado íon: a força iônica da solução, que atua sobre a atividade iônica

individual; o pH, que propicia a presença das várias espécies iônicas; e a presença de agentes

quelantes, que promovem o seqüestro de alguns íons em maior ou menor escala.

4.1. Força iônica

Geralmente, quando a força iônica aumenta, íons de cargas opostas interagem de tal

forma que sua atividade iônica diminui, e então, o número de íons “ativos” diminui.

Pesquisadores na área de solos, aparentemente, foram os primeiros a desenvolver o conceito de

que as respostas das plantas se correlacionam melhor com a atividade do que com a concentração

analítica de íons inorgânicos (Adams, 1971). O Quadro 9 mostra que a atividade iônica é mais

próxima da concentração analítica tanto quanto mais diluída for a solução. Em solos, essa

situação é agravada devido às mudanças observadas nas reações de troca iônica. Em estudos com

solução nutritiva, entretanto, não faz diferença em se utilizar atividade ou concentração iônica,

pois a maioria das soluções nutritivas utilizadas possui força iônica na faixa de 5 a 20 mmol L-1,

onde as comparações podem ser realizadas razoavelmente utilizando-se tanto atividade quanto

concentração iônica. Cuidado adicional deve ser tomado quando se trabalha com o íon Al3+, que

tem a atividade fortemente reduzida pelo aumento da força iônica da solução.

25
Quadro 9. Efeito da força iônica nos coeficientes de atividades individuais

Íon ri x 10-8 1 Força iônica (mmol L-1)

1 5 10 50 100

coeficiente de atividade de íons univalentes 2

K+, OH-, Cl-, NO3- 3 0,964 0,925 0,899 0,805 0,755

Na+, HCO3-, H2PO4- 4 0,964 0,927 0,901 0,815 0,770

H+ 9 0,967 0,933 0,914 0,860 0,830

coeficiente de atividade de íons bivalentes

SO42-, HPO42- 4 0,867 0,740 0,660 0,445 0,335

Ca2+, Fe2+ 6 0,870 0,749 0,675 0,485 0,405

Mg2+ 8 0,872 0,755 0,690 0,520 0,450

coeficiente de atividade de íons trivalentes

PO43- 4 0,725 0,505 0,395 0,160 0,095

Al3+, Fe3+ 9 0,738 0,540 0,445 0,245 0,180


1
ri = raio da atmosfera iônica.
2
Coeficiente de atividade: razão entre a atividade e a concentração analítica do íon.

4.2. pH

Alguns trabalhos mostram que a absorção por plantas, de ânions que exibem um

comportamento de ácido ou base fraca, depende do pH e do seu efeito na especiação. Para alguns

ânions, o efeito pode ser observado como um aumento do cotransporte do ânion com prótons

(Marschner, 1995). O potencial transmembrana negativo nas células torna o processo de entrada

na célula de qualquer ânion um transporte ativo, onde qualquer redução da carga aniônica reduz

o potencial da barreira energética de entrada do íon na célula. Alguns exemplos incluem a maior

absorção de H2PO4- em relação ao HPO42- (Hendrix, 1967) e maior absorção de H3BO30 do que

B(OH)4- (Oertli & Grgurevic, 1975). Outro exemplo é o aumento da toxidez de N amoniacal às

raízes de algodão com o aumento do pH (Bennett & Adams, 1970). A maioria das soluções

26
nutritivas são pouco tamponadas, e o pH varia bastante, não se mantendo dentro de uma faixa

ideal. Diferentemente do solo, a faixa de pH ideal deve situar-se entre 5,0 e 6,0, pois valores de

pH diferentes destes ocasionam alteração nas formas livres e complexadas dos nutrientes. Com

relação aos macronutrientes, apenas as formas disponíveis de Ca e de P são negativamente

afetadas por aumentos no pH da solução nutritiva. A partir do pH 6,0 ocorre redução na

disponibilidade de Ca2+ e HPO4- Furlani et al. (1999). Em pesquisas com Al e metais pesados, é

importante observar o efeito do pH na disponibilidade do metal livre, pois o Al e o Sr têm sua

disponibilidade reduzida em pH mais elevado ou formam precipitados. É importante observar

que o efeito do pH é variável com a força iônica da solução, bem como a concentração dos

elementos. A simulação de uma solução de Hoagland com 40 µmol de cloreto de alumínio

mostra que a concentração é preponderante sobre a disponibilidade e a formação de precipitados

de Al (Figura4). Assim, o Al em solução nutritiva só ocasiona restrições ao crescimento vegetal

quando em soluções altamente diluídas ou em altas concentrações de Al (Pintro et al., 1999).

27
100 100% da Solução de Hoagland 10

80 Força Iônica 8
Composto formado pelo metal (%)

60 Al - EDTA 6

40 4

Força Iônica (mmol.L-1)


20 2

0 0

100 25 % da Solução de Hoagland 10

80 Al-OH - sólido 8

60 Al3+ - livre 6

40 4

20 2

0 0

3,8 4,0 4,2 4,4 4,6


pH
Figura 4. Efeito da concentração da solução nutritiva de Hoagland na disponibilidade de Al
(adição de 40 µmol L-1 de AlCl3) e na formação de quelato de EDTA e hidróxido
precipitado em função do pH; simulação com o programa GEOCHEM-PC (Parker et al.,
1995).

4.3. Quelatos

A presença de agentes quelantes é também determinante no resultado da especiação

iônica da solução. Um bom exemplo disso é o Fe, normalmente quelatado nas formas de

FeDTPA (dietileno triamino penta acetato de ferro), FeEDTA (etileno diamino tetra acetato de

ferro), FeEDDHA (etileno diamino di-orto hidroxi fenil acetato de ferro) e FeEDDHMA (etileno

diamino di-orto hidroxi para metil fenil acetato de ferro).

28
Para o Fe (Figura 7) e demais cátions micronutrientes (Quadro 10), as alterações nas

formas livres e complexadas são dependentes do pH e do quelato de Fe utilizado. Considerando

a faixa normal de pH das soluções nutritivas (5,5 a 6,5), o quelato FeEDDHA é mais estável que

o FeDTPA e este mais estável que o FeEDTA. Aumentos eventuais de pH na solução podem

comprometer a disponibilidade de Fe, acarretando sua deficiência. Desta maneira, é comum

ocorrer carência de Fe em pH acima de 7, quando se utiliza o EDTA como quelante.


Composto de Ferro Formado (%)

100

80
Fe-EDTA
Fe-EDDHA
60
Fe-DTPA
Fe-OH (com EDTA)
40
Fe-OH (com EDDHA)
20 Fe-OH (com DTPA)

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0


pH
Figura 5. Formação de compostos de ferro em função do quelato de ferro usado e do pH da
solução nutritiva simulado com o programa GEOCHEM-PC (Parker et al., 1995).

A adição de quelatos de Fe à solução também leva à quelação de Cu, Zn e Mn. O quelato

entra em solução dissociando-se conforme sua constante de estabilidade, liberando o agente

quelante que poderá se ligar aos outros íons. A adição do quelato FeEDDHA como fonte de Fe

(2,5 mg L-1) à solução nutritiva (Quadro 10) promoverá, em parte, a quelação apenas do Cu,

enquanto outros agentes quelantes como o DTPA e EDTA também formam complexos com Zn e

Mn. No caso do Zn, tanto o DTPA quanto o EDTA possuem capacidade semelhante e crescente

de quelação a partir do pH 5,5. No caso do Mn, o EDTA tem capacidade de quelação superior ao

DTPA, porém com importância significativa apenas em pH superior a 7,0. Essas relações na
29
solução se refletem na absorção dos micronutrientes pelas plantas. Os dados da Quadro 15

indicam que as formas livres de Mn e de Zn são determinantes na absorção pelas plantas. No

caso de plantas de alface, as concentrações de Mn e de Zn são maiores em plantas crescidas com

solução nutritiva contendo FeEDDHA do quem em plantas crescidas em solução nutritiva

contendo FeEDTA. Na primeira solução, as quantidades de Mn e de Zn livres ocorrem em

maiores proporções do que em solução com EDTA (Quadro 10). Em crisântemo (Quadro 11), o

EDDHA e o DTPA proporcionam semelhantes concentrações livres de Mn, porém a

concentração de Zn é maior na solução com EDDHA (Quadro 10), refletindo em maior acúmulo

de Zn nas folhas (Quadro 11). Esses experimentos validam as simulações das especiações

iônicas realizadas com programas computacionais.

30
Quadro 10. Formação de compostos de Cu, Mn e Zn em função do quelato de Fe e do pH da
solução nutritiva.

Quelatos Formas pH da solução nutritiva

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0

Composto formado (%)

FeEDTA Cu2+ 6,3 0,7 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Mn2+ 92,7 92,5 91,3 82,1 67,0 18,5 4,3 3,4

Zn2+ 83,1 54,5 13,1 1,8 0,6 0,1 0,0 0,0

Cu EDTA 92,8 99,2 99,9 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Mn EDTA 0,0 0,2 1,5 11,4 27,2 79,7 92,6 96,1

Zn EDTA 6,2 38,1 84,9 97,9 99,2 99,9 100,0 100,0

FeEDDHA Cu2+ 28,1 22,1 13,5 6,5 6,6 1,4 0,1 0,0

Mn2+ 92,6 92,6 92,6 92,6 92,0 91,4 89,8 75,1

Zn2+ 88,6 88,1 86,6 82,9 81,2 77,8 63,8 37,9

Zn OH 0,0 0,1 0,4 1,1 3,4 10,4 27,3 53,6

Cu EDDHA 67,7 74,4 84,0 91,3 88,8 95,9 98,3 98,8

Mn 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,1 1,1 13,6


EDDHA

Zn EDDHA 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,8

FeDTPA Cu2+ 2,9 0,6 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Mn2+ 92,7 92,7 92,6 92,0 89,9 68,3 9,1 0,4

Zn2+ 79,5 62,0 33,9 11,1 5,7 0,5 0,0 0,0

Cu DTPA 96,7 99,3 99,9 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Mn DTPA 0,0 0,0 0,1 0,8 2,3 25,3 90,0 99,5

Zn DTPA 10,4 29,6 60,9 86,6 93,0 99,4 100,0 100,0

31
Em uma hidroponia comercial, observou-se em certa ocasião que a adição acidental de

grande quantidade de sulfato de zinco. Apenas a não adição do sal de Zn com a adição de maior

quantidade de Fe-EDTA foi suficiente para recuperar as plantas com sintomas de toxidez de Zn.

Quando foi utilizado Fe-EDDHA, qualquer excesso de Zn causava sintomas característicos de

redução abrupta no crescimento radicular, com grave deficiência de Fe. A partir do uso de Fe-

EDTA, esses sintomas desapareceram, mesmo quando a análise da solução nutritiva mostrava

uma concentração de Zn potencialmente fitotóxica. Tanto o tipo de quelato de Fe utilizado,

quanto as concentrações de P e S (que formam complexos com Zn) podem explicar porquê pode-

se encontrar altas concentrações de Zn na solução nutritiva, acima de 0,5 mg L-1 (10 vezes acima

do recomendado na solução de Hoagland), sem que haja sintomas visuais de toxidez de Zn.

Muito há que ser pesquisado para uma perfeita compreensão dessas relações.

Quadro 11. Teores de Mn e Zn em folhas de alface e de crisântemo cultivadas em solução


nutritiva com diferentes quelatos de ferro.

Quelato de Ferro Teor de Mn Teor de Zn

mg kg-1

Folhas de alface 1

FeEDDHA 125,2 a 69,0 a

FeEDTA 80,9 b 38,4 b

Folhas de crisântemo 2

FeEDDHA 219,6 a 104,6 a

FeDTPA 230,6 a 45,8 b


(1) (2)
Furlani (dados não publicados); De Kreij & Paternotte (1999). Para cada espécie
vegetal, médias seguidas por letras iguais em cada coluna não diferem estatisticamente pelo teste
de Tukey a 5%.

32
5. CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES

As soluções nutritivas têm larga aplicação em estudos de cinética de absorção de

nutrientes em plantas. A absorção de íons presentes em soluções de concentrações relativamente

baixas, pelos vegetais, segue, geralmente, a cinética de Michaelis-Menten (Epstein, 1975), cujo

modelo matemático é representado pela equação:

Vmax C
I= (1)
Km + C
em que I é o influxo ou velocidade de absorção do íon (µmol g-1 h-1) numa solução de

concentração C (µmol L-1). As constantes Vmax (µmol g-1 h-1) e Km (µmol L-1) representam a

velocidade máxima de absorção e a concentração em que a velocidade de absorção corresponde

à metade da Vmax, respectivamente.

Para facilitar o cálculo das constantes foram propostas diversas transformações, que

permitem obter formas lineares da equação de Michaelis-Menten. Assim, Lineweaver & Burk

(1934) relacionaram os valores inversos de I e C por meio da equação:

1 Km 1 1
= + (2)
I Vmax C Vmax
e Hofstee (1952) estimou I em relação a I/C:
I
I = −K m + Vmax (3)
C

Uma representação não-linear foi proposta por Claassen & Barber (1974). Eles

caracterizaram a absorção pela velocidade de diminuição da quantidade, Q (µmol), do nutriente na

solução. Esse valor depende da concentração, C (µmol L-1), e do volume da solução, v (L), no

tempo t (h):

Qt = Ct vt (4)

A representação gráfica de Q, em relação ao tempo t, denota a diminuição da quantidade

do íon em solução com o tempo, em conseqüência da absorção pela planta. O influxo, em

33
qualquer ponto da curva, será o valor correspondente a –dQ/dt dividido pela massa radicular.

Pode-se também usar o comprimento ou a superfície das raízes.

Claassen & Barber (1974) ajustaram Q vs t a uma série de funções cúbicas ou parabólicas e

estimaram as constantes de Michaelis-Menten. Essas constantes podem, também, ser determinadas

graficamente. Neste caso, a declividade da porção de maior comprimento dentro da curva,

aproximadamente linear, permitirá o cálculo de Vmax e a tangente, na parte mais curva da

representação, com valor equivalente à metade da declividade anteriormente determinada, indicará

o Km.

Para minimizar as imprecisões devidas a uma estimativa exclusivamente gráfica, Ruiz

(1985) propôs uma aproximação matemática para o cálculo das constantes Vmax e Km. Os dados

que serão utilizados para exemplificar o método resultaram de um ensaio de absorção de fósforo,

conduzido em câmara de crescimento, usando soja como planta-teste. Nesse ensaio usou-se uma

concentração inicial de fósforo igual a 32,29 µmol L-1, estimando-se a absorção do nutriente pela
32
diminuição da atividade de P na solução, amostrada a cada meia hora. Essa atividade foi

corrigida para o tempo de contagem, devido à meia vida, relativamente curta, do 32P.

O volume de solução para cada tempo, vt, foi calculado levando em conta o volume

inicial, vi (0,801 L), o volume após 24 horas, vf (0,410 L), o volume amostrado, va (0,026 L) e

uma taxa de transpiração uniforme, uma vez que a iluminação e a temperatura foram mantidas

no mesmo nível por 24 horas. O valor do va resulta de uma amostragem inicial (tempo zero) de

0,002 L, acrescido de amostragens de 0,001 L cada meia hora, até totalizar 12 horas de ensaio.

Assim, va foi estimado a cada meia hora, no intervalo de 0 a 12 horas, usando a equação:

 v − vf − va 
v t = v i − 0,002 −  i + 0,002  t (5)
 24 

A concentração para cada tempo, Ct, foi calculada pela equação:


a v
C t = C0 t t (6)
a 0 v0

34
em que a é a atividade do 32P corrigida, v o volume estimado (equação 5) e os subíndices

0 e t os tempos zero e t, respectivamente. Com os valores de vt e Ct calculou-se a quantidade do

nutriente em solução por meio da equação 4.

No Quadro 12 apresentam-se os dados de uma repetição desse ensaio, que foram

utilizados para exemplificar o cálculo das constantes de Michaelis-Menten. A seqüência do

ajuste gráfico e matemático foi a seguinte:

a) Os valores de Q = f(t) foram representados graficamente (Figura 8);

b) Na região inicial da curva, onde são observadas as maiores declividades, escolheu-se, em

seqüência ininterrupta, os pontos que melhor se ajustaram a uma reta (intervalo de 1 a 3,5 horas,

no exemplo), determinando-se uma equação de regressão linear:

Q = a1 + b1t (7)
em que a1 e b1 são os valores da intercepção e da declividade, respectivamente;
c) Calculou-se Vmax pela equação:
b
Vmax = − 1 (8)
M
em que M é a massa da matéria seca das raízes (0,9348 g, no exemplo);

35
32
Quadro 12. Tempo de exaustão, atividade de P, volume e concentração da solução e
quantidade de fósforo absorvida por plantas de soja em ensaio para determinar as
constantes de Michaelis-Menten (Fonte: Ruiz, 1985)

Tempo Atividade Volume Concentração Quantidade

h cpm L µmol L-1 µmol

0 4.998,8 0,7990 32,29 25,80

0,5 4.452,6 0,7904 28,45 22,49

1,0 3.490,5 0,7818 22,06 17,25

1,5 3.128,8 0,7732 19,56 15,12

2,0 2.447,4 0,7646 15,13 11,57

2,5 1.747,9 0,7560 10,68 8,08

3,0 1.526,6 0,7474 9,22 6,89

3,5 870,6 0,7388 5,20 3,84

4,0 462,2 0,7302 2,73 1,99

4,5 346,2 0,7216 2,02 1,46

5,0 162,5 0,7130 0,94 0,67

5,5 127,2 0,7044 0,72 0,51

6,0 106,8 0,6958 0,60 0,42

6,5 83,4 0,6872 0,46 0,32

7,0 81,0 0,6786 0,44 0,30

7,5 74,1 0,6700 0,40 0,27

8,0 56,8 0,6614 0,30 0,20

8,5 69,5 0,6528 0,37 0,24

36
Figura 6. Diminuição da quantidade de fósforo (Q) com o tempo de exaustão (t) e equações de

regressão usadas para o cálculo das constantes de Michaelis-Menten.

d) Na região curva da parte inferior do gráfico (intervalo 3,5 a 6,5 horas, no exemplo),

determinou-se a equação de regressão com melhor ajuste aos pontos experimentais, que exigisse

somente 1 grau de liberdade para o modelo. Para os dados analisados, a melhor aproximação

correspondeu a uma equação exponencial:

Q = a 2t b2 (9)

em que a2 e b2 são o coeficiente e o expoente, respectivamente. O critério de menor soma

do quadrado dos desvios (Nelson & Anderson, 1977) foi usado para escolher os pontos da reta e

da curva. Considerando que a exaustão é um fenômeno contínuo usou-se, como critério, a

coincidência do último ponto da reta com o primeiro ponto da curva;

37
e) Km foi calculada por uma relação semelhante à equação 4:

Qm
Km = (10)
vm
em que Qm é a quantidade de íons para a qual a velocidade de absorção equivale à metade

da Vmax e vm é o volume de solução correspondente. Qm é o ponto da curva da região inferior do

gráfico em que sua tangente iguala-se à metade da declividade da reta usada no cálculo de Vmax.

Matematicamente:

1 d
(a1 + b1t ) = d a 2 t b 2
( ) (11)
2 dt dt
1
b1 = a 2 b 2 t m (b 2 −1) (12)
2
em que tm é o tempo em que Q iguala-se a Qm. Reordenando:
1 (b 2 −1)
 b1 
t m =   (13)
2a b
 2 2
Calculando tm estimou-se vm, Qm e Km pelas equações 5, 9 e 10, respectivamente.

Os valores numéricos obtidos com os dados apresentados no Quadro 16 foram os

seguintes:

Equação da reta: Q = 22,70 – 5,4417 t R2 = 0,987***

Equação da curva: Q = 592,85 t -4,0791 R2 = 0,980***

Vmax = 5,821 µmol g-1 h-1

tm = 3,81 h

vm = 0,733 L

Qm = 2,531 µmol

Km = 3,453 µmol L-1

O método gráfico-matemático envolve um volume apreciável de cálculos matemáticos

para alocação dos pontos experimentais, o que o torna um processo demorado. Para superar essa

38
dificuldade Ruiz & Fernandes Filho (1992) desenvolveram o programa CINÉTICA, inicialmente

em DOS, que executa de forma rápida e confiável os cálculos necessários. Uma nova versão

desse programa, em ambiente Windows foi desenvolvido por esses autores, e pode ser obtido a

partir do link ftp://ftp.solos.ufv.br/cinetica .

É interessante observar, que embora esse método tenha sido desenvolvido para sistemas

estáticos (vasos), Cometti (2003) empregou com sucesso o programa CINÉTICA a sistemas de

hidroponia NFT, para estudar a cinética de absorção de NH4+ e NO3- por alface.

39
6. LITERATURA CITADA

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43
1

CAPÍTULO 5

ABSORÇÃO DE NUTRIENTES

Manlio S. Fernandes1 e Sonia R. Souza2


1
Departamento de Solos, UFRRJ
2
Departamento de Química, UFRRJ

SUMÁRIO

1 TRANSPORTE ATRAVÉS DA PAREDE CELULAR E DA MEMBRANA PLASMÁTICA. 201


2 MEMBRANA PLASMÁTICA E A ABSORÇÃO ÍONS. ........................................................ 212
3 ENERGÉTICA DO PROCESSO DE ABSORÇÃO ................................................................. 220
4 CONTROLE DE pH NAS CÉLULAS ...................................................................................... 235
5 CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE IONS ................................................................................... 238
6 INTERAÇÕES IÔNICAS.......................................................................................................... 243
7 TRANSLOCAÇÃO DE NUTRIENTES ................................................................................... 245
8 REFERENCIAS.......................................................................................................................... 249
2

1 TRANSPORTE ATRAVÉS DA PAREDE CELULAR E DA MEMBRANA


PLASMÁTICA.

As células vegetais são separadas do meio externo por membranas. Genericamente falando,
as membranas permitiram o desenvolvimento da vida, pois criaram compartimentos separando o
ambiente externo do ambiente interno, ao mesmo tempo em que possibilitam trocas entre estes
ambientes. As membranas permitem assim que as células possam ter composição diferente daquela
do meio que as circundam, ao mesmo tempo em que podem retirar do meio o material de que
necessitam para o seu metabolismo e sua organização estrutural.
As células vegetais têm uma parede celular externa, rígida, composta na sua maior parte de
material inerte, e que mantém a sua forma mesmo após a morte da célula. Internamente, existe uma
membrana, composta principalmente de material lipoprotéico, e conhecida como plasmalema ou
membrana plasmática (Figura 1).
Como pode ser visto na figura 1 a membrana plasmática é um delgado filme de fosfolipídios
e proteínas, pressionado contra a parede celular. Na verdade, pode-se dizer que a parede celular
"contém" a membrana plasmática e o citoplasma. Isto porque, o interior da célula é um meio
hipertônico em relação à solução do solo. Deste modo, a célula vegetal se em contacto livre com a
solução do solo tenderia a expandir explosivamente. Neste sentido, a célula vegetal é contida pela
parede rija que a circunda.
A parede celular é formada principalmente por uma rede de microfibrilas de celulose
interligadas por feixes de glicanas (Figura 2). Este conjunto está embebido em uma matriz de
hemicelulose e substâncias pécticas.
A celulose que forma as microfibrilas da parede celular é um polissacarídio, que ocorre em
longos polímeros de unidades de D-glicose, que estão unidas por ligações ß 1-4, este arranjo
espacial confere à celulose a conformação de longas fibras paralelas de 100 a 200 Å de largura. A
unidade estrutural de repetição da celulose é a celobiose formada pela união de duas moléculas de
glicose. A cadeia glicana da celulose pode ter de 200 a mais de 25.000 resíduos de glicoses. As
moléculas longas e rígidas da celulose combinam-se em orientação paralela, para formar as
microfibrilas. Cada microfibrila pode ter aproximadamente 35 cadeias de celulose (Raven et al.,
2001). Em fungos, as microfibrilas da parede celular podem ser formadas principalmente por quitina
(polímeros de N-acetilglicosaminas).
O diâmetro das microfibrilas está entre 5 e 10 nm. A parede celular tem aproximadamente
100 nm de espessura, podendo conter de 5 a 10 camadas de microfibrilas (Figuras 1 e 2).
3

Célula A Célula B

Figura 1. Célula vegetal destacando a parede celular e membrana plasmática. Deslocamento de


íons pelos macro e microporos, e através dos transportadores da membrana até o citossol.
4

Figura 2. Estrutura dos blocos de construção das substâncias pécticas (ácido α-D-
poligalacturônico) depositadas nas microfibrilas de celulose da parede celular.

A hemicelulose é um heteropolissacarídeo composto de hexoses (glicose) pentoses


(arabinose, xilose) e ácidos urônicos (ácido glicurônico). Na hemicelulose de gramíneas a cadeia
principal é composta de xilanas (ß 1-4-glicose-glicose) e a cadeia lateral de ácido metil-glucurônico,
enquanto as leguminosas apresentam xilanas não ramificadas.
As substâncias pécticas podem ser denominadas de homopolissacarídeos, quando formadas
por ácido 1,4 D galacturônico, ou heteropolissacarídeos, quando em sua constituição pode haver
ácido galacturônico, D-galactose, L-arabinose e L-ramnose. As substâncias pécticas são
5

particularmente importantes para a nutrição mineral das plantas. Elas são formadas por polímeros do
ácido 1,4 D-galacturônico, geralmente esterificado com grupos metila. Estas substâncias têm peso
molecular variando entre 25.000 a 360.000. Os feixes de microfibrilas com seus depósitos de
poligalacturatos estão representados na figura 2. Nessa mesma figura podem ser observados os
resíduos de cargas negativas sobre as microfibrilas.
Na tabela 1, está a composição da parede celular de alguns tecidos vegetais:

Tabela 1. Composição da parede celular de alguns tecidos vegetais.

Composição da parede celular (% de massa seca)


Tecido Vegetal Celulose Hemicelulose Pectatos Proteínas Lipídios
Milho (coleóptilo) 35 30 13 - 21
Trigo (folhas) 30 11 22 - -
Aveia (caule) 26 40 20 13 1

As proteínas na parede celular podem ser estruturais (como a extensina) ou enzimáticas


(oxidases, fosfatases, ATPases, estearases e outras). Essas proteínas podem ser excretadas para o
meio externo. Em geral essas proteínas são consideradas "incrustações" na matriz da parede celular.
Proteínas estruturais como a extensina são ricas em prolina e hidroxiprolina. Considera-se que a
maior flexibilidade dos caules das plantas aquáticas deve-se principalmente a conversão de prolina
em hidroxiprolina nos ambientes aquáticos, devido a menor pressão de oxigênio.
Esta organização da parede celular permite a formação no seu interior de microporos e
macroporos. Estes poros têm em torno de 3 a 5 nm de diâmetro, e em torno de 100 a 200 nm de
comprimento (Figura 2)
Diversas substâncias que estão incrustadas ou apenas sobrepostas às microfibrilas de
celulose têm grande importância para a nutrição das plantas. Proteínas, particularmente as que têm
atividade enzimática podem estar depositadas sobre a superfície dessas microfibrilas. Também
podem ocorrer deposições de açúcares e de lipídeos. Entretanto, são as deposições de ácidos
poligalacturônicos e seus ésteres (as substâncias pécticas), que afetam intensamente a circulação de
íons dentro e através da parede celular (Figura 2).
As pectinas podem dar origem a pectatos como os de cálcio, que afetam grandemente a
rigidez das membranas.
As microfibrilas de celulose, nas plantas superiores, não formam uma parede contínua, mas
são constituídas de cadeias de polisacarídeos de tamanho variável, que se fixam através de ligações
6

não-covalentes com a matriz que as envolve, e pela coesão desenvolvida pelas forças físicas
resultantes de seu enovelamento.
Por sua natureza, as microfibrilas de celulose não têm praticamente qualquer
expansibilidade, e por essa razão, os movimentos de expansão celular ocorrem através do
rompimento das ligações não-covalentes entre as microfibrilas e a matriz. Nessa situação, as
microfibrilas e matriz podem deslizar umas sobre as outras, permitindo assim que a célula se
expanda cedendo às pressões de turgor.
Embora ainda não se conheçam em todos os detalhes do exato mecanismo através do qual as
paredes celulares expandem, permitindo o crescimento celular, é certo que este fenômeno envolve a
acidificação do espaço livre, e portando a ação das bombas iônicas de extrusão de H+. A
acidificação do espaço livre ativa a ação de um grupo de enzimas que atua neste processo; as
expansinas.
Aparentemente, a ação das expansinas se dá através do rompimento das ligações não-
covalentes que ligam as microfibrilas de celulose à matriz de hemicelulose e pectinas. Ou seja, as
expansinas rompem as pontes de hidrogênio que unem os feixes de microfilbrilas. Este rompimento
de ligações não-covalentes permite então o deslizamento dos feixes de microfibrilas.
Diversas outras enzimas são também ativadas quando da acidificação do espaço livre. Entre
elas destacamos as endoglicanases que cortam as “glicanas” da matriz em segmentos menores, o
que contribui para diminuir a resistência da parede celular.
Dentro da parede celular temos os micro e macroporos formados pela organizaçâo das
microfibrilas de celulose, hemicelulose e lignina, com incrustações, depósitos de ácidos orgânicos,
proteínas estruturais e outros compostos que ajudam a formar a estrutura da parede celular (Figuras
1 e 2). Estes macro e microporos conectam-se com os espaços intercelulares e formam um
continuum. A este conjunto formado pelos espaços intercelulares e poros da parede celular
chamamos de “espaço livre”.
Na verdade, este espaço está dividido em dois: um espaço em que água e íons circulam
livremente, e um outro, em que íons de um sinal circulam livremente, enquanto que íons de outro
sinal têm a sua circulação restrita. Assim por exemplo, Cl- e SO4= poderiam circular livremente

neste espaço, enquanto que K+ tem a sua circulação limitada. Isto dá origem ao conceito de " espaço
livre aparente ".
A figura 1 mostra o conjunto formado pelo espaço intercelular e poros na parede celular,
formando o “o espaço livre aparente”. Na figura 1, o espaço intercelular e o poro com água (H2O)
7

formam “o espaço livre de água”. Água e solutos podem circular no espaço livre (com restrições
devido à carga).
Solutos podem entrar e sair dos poros, dependendo dos gradientes de concentração, e pode
ocorrer troca com o meio externo (solução do solo). Não apenas íons podem circular no espaço
livre, mas também moléculas como açúcares, aminoácidos e outras.
Consideramos estar na endoderme o limite interno do espaço livre porque nem a água nem
os solutos podem atravessar os seus espaços intercelulares, uma vez que, eles estão cimentados com
suberina que recobre as células e as une como o cimento une uma parede de tijolos, embora essa
limitação não seja absoluta, principalmente nas áreas de crescimento da raiz. Íons e água podem
circular “dentro” da parede celular, através de seu sistema de poros, mas não conseguem atravessar
a membrana interna (plasmalema), que com a sua natureza lipo-protéica, é impermeável a íons e
água. Assim podemos estabelecer os limites do espaço livre das raízes como sendo o espaço entre a
epiderme, a endoderme e a plasmalema das células do córtex radicular (Ver capítulo 2, neste
volume).
Qualquer espécie iônica, o K+ por exemplo, pode difundir livremente da solução do solo para
o interior das raízes, circulando pelo espaço livre, seja no espaço intercelular ou nos poros dentro da
parede celular.
Veja o exemplo do macroporo na célula B da figura 1. A maior ou menor circulação desse
íon no espaço livre vai depender da concentração relativa do íon nos diversos compartimentos
(macro e microporos-espaço intercelular) e da eventual interferência de forças de adsorção.
Eventualmente o íon pode ser perdido para o espaço externo. Por esta razão não se pode considerar
que os íons que circulam no espaço livre radicular tenham sido realmente “absorvidos”. Embora
eles estejam dentro da raiz, podem ser facilmente perdidos para o meio externo por simples difusão.
Só são considerados realmente absorvidos os íons que atravessam a membrana plasmática e passam
para o espaço interno da célula.
A passagem de um íon do espaço externo (espaço livre) para o espaço interno da célula só
ocorre através de sítios específicos na superfície da plasmalema. Se um íon não encontra o seu sítio
específico de absorção, pode circular por macro e microporos, voltar para o espaço intercelular, ou
sair do espaço livre. Uma vez que tenha atravessado a plasmalema, entretanto não pode mais voltar
livremente ao espaço externo. Foi absorvido! (Figura 1).
O continuum formado pelo conjunto dos espaços intercelulares e poros da parede celular que
resulta numa via de deslocamento de íons é também chamado de apoplasma, e essa via de
deslocamento é a via apoplástica (Figura 3).
8

A absorção de um íon (passagem para o interior da célula) pode ocorrer em uma das células
da endoderme através de sua superfície exposta (não revestida de material suberificado). Neste
caso, o íon atravessa uma única célula, e chega ao parênquima vascular. A absorção pode também
ocorrer em uma das células corticais, ou numa célula da epiderme. Nestes dois últimos casos o íon
absorvido tem que ser deslocado, de uma célula a outra até chegar finalmente ao parênquima
vascular. O caminho a ser percorrido, de célula a célula, é tornado possível graças a uma intensa
rede de comunicação célula a célula, os plasmodesmas (Figura 3 e capítulo 2). O plasmodesma é
um prolongamento do material celular que passa através de poros na parede celular. É formado por
um desmotúbulo, e tem uma espécie de “revestimento citoplasmático”. O desmotúbulo é o
prolongamento do retículo endoplasmático de duas células adjacentes. A maior parte do transporte
célula a célula, entretanto, pode ser feito através do revestimento citoplasmático. Os plasmodesmas
ocorrem em uma densidade que pode ir de 0,1 a 10,0 por µm2 (cerca de 20.000 por cada parede
tangencial, ou 5 X 108 /cm2) (Ver capítulo 2 neste volume). Estes “canais” ligam as células desde a
epiderme até a endoderme formando um continuum. A este conjunto chamamos de simplasma. Os
íons que se deslocam de célula a célula através do simplasma estão seguindo a via simplástica
(Figura 3).
Seguir a via simplástica é uma maneira de contornar as limitações e/ou restrições ao
deslocamento que os íons enfrentam, nos diversos compartimentos do espaço livre aparente.
Algumas espécies iônicas, de absorção muito rápida são quase que totalmente absorvidas nas
células epidérmicas ou nas primeiras camadas de células corticais, o que significa que praticamente
só alcançam a área vascular das plantas por deslocamento através do simplasma. O íon fosfato
(H2PO4-) é uma dessas espécies. Outros íons como o K+ deslocam-se facilmente por via apoplástica.
Na figura 3 esse movimento do íon H2PO4- pode ser visto desde a célula epidérmica (1ª à esquerda)
até as células do parênquima vascular.
9

Figura 3. Deslocamento de íons, desde a solução externa até o xilema; por via apoplástica (K+), ou
simplástica (H2PO4-).

O deslocamento por via simplásmica resulta em um significativo aumento das possibilidades


de partição ao longo da via de transporte. No caso do fósforo, quando ocorre deficiência desse
nutriente há uma partição desequilibrada de matéria seca entre raiz e parte aérea. Como o íon
fosfato tem que percorrer a longa via simplásmica, sob deficiência, a demanda metabólica ao longo
da via de transporte retira o fósforo da rota de deslocamento e o incorpora ao metabolismo das
células da raiz. Disso resulta o fato de que sob deficiência de P, as raízes crescem
proporcionalmente mais do que a parte aérea (Tabela 2).
10

Tabela 2 Massa seca das Folhas e das raízes de plantas de hortelã aos 64 dias após o transplantio
(DAT) em cultivo hidropônico com diferentes doses de N e P (Souza et al., no prelo)

Teor (mg/L) -------Massa Seca (g/5 plantas) -------


Tratamento -
N-NO3 P Raízes Folhas
T1 120 16 30,5 b 122,9 a
T2 60 16 29,5 b 81,2 b
T3 120 4 37,7 a 73,8 c
T4 60 4 37,8 a 65,8 d
Letras minúsculas iguais na mesma coluna não diferem significativamente (Fisher LSD 5%).

O espaço livre aparente é subdividido em dois: o espaço livre de água, e espaço livre de
Donnan. O espaço livre de água é aquele em que água e solutos circulam livremente, enquanto que
o espaço livre de Donnan, é aquele onde existem limitações para circulação de ions. Para entender a
origem e extensão deste espaço (de Donnan), voltamos a nossa discussão a respeito da deposição de
ácidos galacturônicos sobre a superfície das microfibrilas de celulose.
Pela figura 2 vemos que os ácidos galacturônicos são ácidos orgânicos de cadeia longa. O
pK dos grupos carboxílicos desses ácidos está em torno de 3,5. Isto significa, que nas condições
normais de equilíbrio entre a solução do solo e o apoplasto, estes ácidos estarão dissociados (o pH
da solução do solo, em solos normais está entre 5,0 e 7,0 ). Quando o espaço intercelular e os macro
e microporos das células entram em contacto com a solução do solo, ocorre um arraste e eventual
substituição dos prótons do ácido. Pode então ocorrer uma troca de cátions (H+ por K+ por
exemplo), com os resíduos de carga negativa formando uma superfície de carga negativa fixa. Essas
cargas fixas formam uma superfície de troca de cátions. Esta superfície, capaz de trocar cátions é a
origem da capacidade de troca de cátions das raízes, ou CTCR (Figura 4).
Nos microporos, se estas cargas estiverem muito próximas, e sua densidade for grande,
forma-se uma barreira para a livre difusão dos íons. Os íons Cl- , NO3- e H2PO4- por exemplo

teriam grande redução de sua velocidade de difusão sob essas condições. Por outro lado, os cátions
seriam atraídos por essas superfícies carregadas. A intensidade dessa atração depende da densidade
das cargas elétricas fixas, e da valência do íon. Assim por exemplo, em uma superfície de pequena
densidade de carga um íon monovalente como o K+ seria atraído com muito maior facilidade do que
um íon trivalente como o Al+++ (Figura 4A e 4B). Por outro lado em uma superfície de alta
densidade de carga, cátions de maior valência como o Ca++, seriam atraídos com maior intensidade,
e teriam maior atividade do que os íons monovalentes (Figura 4D). Deste modo, teremos como uma
11

regra geral: poros com baixa densidade de carga atraem preferencialmente íons monovalentes, em
detrimento dos íons di e trivalentes, enquanto que, poros com alta densidade de carga atraem
preferencialmente íons di e trivalentes, em detrimento dos íons monovalentes (Figura 4).
Íons trivalentes como o Al+++, têm uma interação tão grande com superfícies de alta
densidade de cargas, que praticamente entram em “colapso” sobre essas superfícies, formando
ligações quase covalentes (Figura 4C). Neste caso, dificilmente são substituídos nas superfícies de
troca e reduzem a CTCR da planta (ver capítulo 15 neste volume).
Em geral, as monocotiledôneas têm uma menor densidade de carga do que as
eudicotiledôneas. Plantas como o milho, arroz e brachiaria, têm uma densidade de carga (expressa
em CTCR) em torno de 10 a 20 meq/100 g de raízes secas, enquanto que soja e feijão têm suas
CTCR em torno de 40 a 80 meq/100 g de raízes secas.
Esta variação da CTCR nos permite fazer algumas considerações sobre a capacidade de
diferentes plantas de extrair nutrientes do solo. Embora a CTCR seja um dentre os inúmeros fatores
que afetam o processo de aquisição de nutrientes pelas plantas, se colocarmos sob as mesmas
condições ambientais duas raízes com diferentes CTCR e do mesmo tamanho, podemos esperar que
as plantas de menor CTCR sejam mais eficientes na absorção de K+, enquanto que as plantas de
maior CTCR absorverão Ca++ e Mg++ mais eficientemente, se todos os outros fatores forem
mantidos constantes. Glass et al. (1992) observaram que a absorção de cátions monovalentes (K+ e
Na+) diminui, e a absorção de cátions divalentes (Ca++ e Mg++) aumenta, à medida que a CTCR das
plantas aumenta. Este fenômeno é importante no desenvolvimento de espécies de plantas calcícolas
ou calcífugas.
12

Figura 4. Superfícies de cargas nos macro e microporos da parede celular


13

2 MEMBRANA PLASMÁTICA E A ABSORÇÃO ÍONS.

A membrana celular (plasmalema ou membrana plasmática) formada por uma dupla camada
de fosfolipídios e incrustada de proteínas apresenta o seu interior hidrofóbico, portanto impermeável
à água e a espécies iônicas (Figura 5).

Figura 5. Diagrama representativo de um segmento de membrana biológica: dupla camada de


fosfolipídios e proteínas.

A absorção de íons através das membranas ocorre necessariamente através de sítios


específicos, de origem protéica (proteínas integrais da membrana), que permitem a passagem dos
íons do meio externo para o interior das células. Essas proteínas integrais de membrana formam os
três sistemas que atuam no transporte de íons: as bombas iônicas, os transportadores de íons e os
canais iônicos (Figura 6).
14

 As bombas iônicas atuam no transporte unidirecional de íons (uniporte), e estão acoplados a


sistemas geradores de energia (ex. H+-ATPases). A velocidade de transporte das bombas
iônicas é de 100 íons/segundo.
 Os transportadores de íons (carreadores) podem ser unidirecionais (uniporte); podem atuar
na troca de uma espécie iônica por outra (antiporte), ou no transporte simultâneo de íons
(simporte). Sofrem mudanças conformacionais durante o transporte. A velocidade de
transporte variar de 300 a 1000 íons/segundo.
 Os canais iônicos são de alta velocidade. Transportam apenas a favor de gradientes de
potencial eletroquímico. A velocidade de transporte dos canais iônicos pode variar de 106 a
108 íons/segundo.

Figura 6. Sistemas de transporte através da membrana plasmática.


15

A seguir é feita uma descrição detalhada dos sistemas de transporte.

a) Bombas iônicas
As bombas iônicas atuam no transporte ativo de íons, com o uso direto de energia
metabólica. Geralmente são sistemas que incluem ATPases ou Pirofosfatases. Estes transportadores
usam a energia gerada pela hidrólise de ligações de alta energia (ATP ou PPi), sofrem mudanças
conformacionais, e voltam ao estado inicial após transportar o íon.
Entre as bombas iônicas, sem dúvida a mais estudada é a bomba iônica de extrusão de
prótons. A extrusão de prótons, conhecida como "transporte ativo primário" é um mecanismo
gerador de eletrogenicidade, e portando atua sobre as diferenças de potencial que compõem, junto
com as atividades da espécie iônica, o potencial eletroquímico que determina as características do
transporte ativo ou passivo.
Foram identificadas bombas de prótons que atuam tanto na membrana plasmática como na
membrana do vacúolo (tonoplasto). Na plasmalema, a bomba de extrusão de prótons atua, tornando
o interior da célula mais negativo e criando um gradiente de prótons entre o exterior e o interior da
célula (gradiente protoniônico). No tonoplasto, foram identificadas bombas de prótons que atuam no
sentido citoplasma → vacúolo, que são as H+-ATPases e as H+-PPases. No caso de transporte
através do tonoplasto, um gradiente protoniônico é criado de dentro para fora (vacúolo →
citoplasma) (figura 7).

Figura 7. Sistemas de transporte de íons na célula: (1) P-H+-ATPase; (2) Transportador de nitrato
(simporte com 2H+); (3) Canal iônico; (4) V-H+-ATPase; (5) P-H+-PPase; (6) Transportador
de nitrato (simporte com 1H+)
16

A P-H+-ATPase é uma glicoproteina de aproximadamente 100 kDa com 10 hélices


transmembrana (Figura 8), que hidrolisa ATP para gerar um movimento vetorial de H+ em direção
ao apoplasto, criando gradientes de pH e potencial elétrico na membrana, o que viabiliza o
transporte de íons e moléculas para dentro ou fora da célula através de sistemas de transporte ativo
secundário.

H+ H+
H+ H+
H+

Apoplasto

Citosol

H+
H+
H+3N H+ ATP
-
COO
FC

Ação da FC 14-3-3

ADP + Pi

Figura 8. Forma estendida da P-H+-ATPase destacando as 10 hélices transmembrana, domínio de


hidrólise do ATP e ação da fusicocina (FC) na extremidade auto-inibitória C-terminal,
ativando irreversivelmente a enzima (Adaptado de Azevedo, L., tese de mestrado, UFRRJ,
2006).

As P-H+-ATPase são fortemente inibidas por ortovanadato (HVO42-), um íon análogo ao


fosfato (HPO42-) que compete com o fosfato do ATP pelo sítio de fosforilação de um resíduo de
aspartato na enzima. Isso ocorre porque o ortovanadato é muito parecido com a estrutura do fosfato
no momento da hidrólise.
Estas proteínas são reguladas pela concentração de substrato, temperatura, pH, e íons entre
outros, e podem ser reversivelmente ativadas ou desativadas por diversos sinais exógenos como
hormônios, luz, ataque de pragas e/ou patógenos, dentre outras. A regulação das P-H+-ATPase é
mediada por um domínio auto-inibitório localizado na extremidade C-terminal da cadeia
17

polipeptídica (face citossólica), que atua na regulação da atividade hidrolítica desta proteína. Esta
regulação pode também ser resultado da ação de quinases ou fosfatases que podem adicionar ou
remover grupos fosfato nos resíduos de serina ou treonina presente no domínio auto-inibitório da
enzima (Figura 8).
A fosforilação destes resíduos e a ligação da proteína regulatória 14-3-3, resulta na ativação
da enzima. Este complexo H+-P-ATPase-14-3-3 pode ser observado em plantas tratadas com
fusicosina, uma toxina produzida pelo fungo Fusicoccum amygdali. A fusicosina liga-se ao
complexo H+-P-ATPase-14-3-3 e o estabiliza, ativando dessa forma irreversivelmente a enzima.
(Figuras 8 e 9).

A B C
0.8 300
CONTROLE FUSICOCCINA
K+
250
H+
0.6
-1

200
meq K L

-1
VANADATO

µeq H L
+

+
0.4 150

100
0.2
50

0.0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

TEMPO (HORAS)

Figura 9. Efeito do vanadato (inibidor) e da fusicocina (estimulante) na atividade das H+-


ATPase nas raízes de arroz. (A) Controle, (B) Com vanadato há uma completa inibição
da extrusão de H+ e consequentemente não há queda na concentração externa de K+
(influxo de K+); (C) Ao contrário, a fusicocina aumenta a extrusão de H+ e a absorção de
K+ (Bucher et al., no prelo).

A H+-ATPase vacuolar ou V-H+-ATPase é uma enzima que acidifica compartimentos


intracelulares e está localizada não apenas no tonoplasto, mas também no retículo endoplasmático
(RE), provacúolos, membrana plasmática, e outras membranas da via secretória. Essas enzimas
diferem tanto estrutural quanto funcionalmente das P-H+-ATPases de plasmalema (Figuras 8 e 10).
A V-ATPase é estruturalmente mais relacionada as F-ATPases (ou F1Fo ATP-sintase) que
normalmente funciona na síntese de ATP em mitocôndrias, cloroplastos e bactérias.
A V-ATPase usa a energia liberada durante a hidrólise do ATP para bombear prótons para o
interior do lúmem vacuolar, portanto criando um gradiente de potencial eletroquímico, e a força
18

próton motriz para uma variedade de eventos de transporte de íons e metabólitos. Dessa forma, a
H+-V-ATPase gera um gradiente de pH através do tonoplasto explicando o fato do pH vacuolar ser
tipicamente de 3 a 6 enquanto o pH do citosol se encontra por volta de 7,5.
A V-ATPase é composta de dois domínios estruturais. O domínio periférico (V1) é um
complexo de 640 kDa responsável pela hidrólise de ATP e contém oito diferentes subunidades (A-
H) de massa molecular entre 13 e 70 kDa com a estequiometria A3B3CDEFG2H1-2. O domínio
integral (Vo) é um complexo de 260 kDa responsável pela translocação de prótons e é composto de
cinco subunidades (a, b, c, c’, c’’) com massa molecular entre 17 e 100 kDa na estequiometria
abc’c’’c4 (Kawasaki-Nishi, et al., 2003). A subunidade “a” forma dois hemi-canais em comunicação
com os lados citoplasmáticos e o lúmem vacuolar e é provavelmente o local por onde os prótons
passam.

A B A
ADP+Pi
B B G
A H+
ATP
E

C H
D
d a
F

c’ c c’’

Figura 10: Modelo rotacional de funcionamento das V-H+-ATPase. (Azevedo, L., tese de
mestrado, UFRRJ, 2006, adaptado de Kawasaki-Nishi, et al., 2003).

Muitos estudos sobre a função fisiológica dessas proteínas tem sido possíveis graças à
existência de inibidores específicos das V-ATPAses como a bafilomicina A1. Este antibiótico inibe
a atividade da V-ATPases de diferentes organismos em concentrações na faixa do nanomolar. A
ação da bafilomicina A1 se dá pela ligação desse inibidor ao setor Vo impedindo o fluxo de prótons
através do canal de prótons da enzima. As V-H+-ATPase são também inibidas pela presença de
NO3- no citossol. Esta característica é importante no metabolismo de N nas plantas.
19

Outro tipo de bomba de prótons, a H+-PPase trabalha paralelamente às V-ATPases para gerar
um gradiente de prótons através do tonoplasto. A H+-PPase é composta de um único polipeptídio
com massa molecular em torno de 80 kDa com tamanho aparente em gel de poliacrilamida de 67 a
73 kDa. A H+-PPase é a única bomba de prótons que utiliza um substrato de baixo custo energético,
o pirofosfato (PPi), sendo este, produto gerado por vários processos biosintéticos de
macromoléculas, como proteína, DNA, RNA, celulose entre outras.
É comumente aceito que o requerimento diferenciado de energia entre as V- H+-ATPases e
as H+-PPases pode prover uma plasticidade energética necessária para manutenção da homeostase
celular numa ampla faixa de condições metabólicas. Por exemplo, tem sido argumentado que H+-
PPase é a bomba predominante em tecidos jovens que contém um elevado conteúdo de pirofosfato
oriundo das altas atividades biossintéticas desses tecidos. Além disso, a atividade das V-PPase nas
células em crescimento ajuda a conservar o ATP, que é moeda corrente de energia na célula.
A síntese de H+-PPase vacuolar em determinadas plantas pode ser induzida por carência de
Pi, anoxia ou frio. Portanto, propõe-se que esta enzima deva funcionar como um sistema para
garantir a manutenção das funções essenciais da célula sob condições em que a produção de energia
metabólica (ATP) é reduzida pela inibição do processo respiratório.

A geração de um gradiente protoniônico, no caso da plasmalema, é fundamental para o


transporte simultâneo (simporte) de um íon e de um próton como no caso do transporte de nitrato
(NO3-/ 2H+) ou para o transporte de nitrato do vacúolo para citoplasma (NO3-/ H+) (Figura 7).
Gradientes protoniônicos são também essenciais para o transporte (simporte) de açúcares e de
aminoácidos em plantas.
Os transportadores de íons (carreadores) podem transportar íons através da plasmalema a
favor de um gradiente de potencial eletroquímico (transporte passivo) sem troca por outra espécie
iônica de mesma carga (uniporte) ou permitir a troca de uma espécie iônica de um sinal, por outra
de mesmo sinal (antiporte). O transporte de Na+ para fora da célula através da plasmalema em troca
de um H+, é um exemplo de transporte do tipo antiporte. O transporte de K+ (de fora para dentro) é
um exemplo de transporte unidirecional (uniporte) (Figura 11).
Os transportadores podem também fazer o transporte ativo de íons (contra um gradiente de
potencial eletroquímico) em sistemas de cotransporte (simporte) em que o íon, a ser transportado
(cátion ou anion) entra na célula contra o seu gradiente de potencial eletroquímico. A energia para
esse processo é obtida com a entrada simultânea de outro íon, este sim, entrando a favor do seu
gradiente de potencial eletroquímico.
20

A atividade das H+-P-ATPases gera um gradiente de prótons ∆µ H+ entre o exterior e o


interior da célula. Este acúmulo de H+ no exterior da célula cria um potencial, com tendência dos H+
a voltar ao interior eletronegativo da célula. Isso gera na verdade, uma força próton motriz ∆p
(Figura 11).
A força próton-motriz está relacionada ao potencial da membrana Ψ e a diferença de pH

(∆pH) entre os meios interno (citosol) e externo (espaço livre):

∆p = ∆Ψ - 2,303 RT/F. ∆pH

(R= constante dos gases; T=Temperatura absoluta; F= Constante de Faraday)


A 25ºC, teremos: ∆p= ∆Ψ - 59 ∆pH

Por exemplo: com o potencial de membrana em -110mV e a diferença entre o pH externo e o pH


interno (∆pH) de 2,0; teremos:

∆p=-228mV

É esta força próton-motriz (∆p) que energiza o transporte de outros íons, que por seu
gradiente de potencial eletroquímico tem que ser absorvidos ativamente, nas que não dispõem de
um sistema ativo primário (tipo bomba iônica) para transporte.
21

Figura 11. Geração de gradiente de prótons (∆µH+) através da plasmalema.

3 ENERGÉTICA DO PROCESSO DE ABSORÇÃO

Os nutrientes estão em concentrações muito pequenas no solo e para que esses nutrientes
possam ser retirados deste ambiente rarefeito, a estratégia desenvolvida pelas plantas foi a de criar
uma grande superfície radicular, para permitir contacto com o maior volume possível da solução do
solo. Por outro lado, as plantas também desenvolveram uma grande superfície foliar na parte aérea
para permitir a captação mais eficiente da energia solar, que chega a superfície das folhas em
pequena densidade sob a forma de quanta de luz.
A imagem usada fica assim justificada; uma grande superfície de captação de nutrientes em
contacto com o solo, e uma grande superfície de captação de energia, aberta para o céu. Entre as
duas, um eficiente sistema de transporte (Figura 12).
22

Figura 12. As plantas superiores apresentam duas grandes superfícies que são como uma imagem
especular uma da outra, e ligadas por um sistema de vasos condutores (xilema e floema)
para comunicação entre elas.

Na tabela 1 do capítulo 1, neste volume, estão as concentrações dos nutrientes nas plantas.
Em condições normais, as concentrações de nutrientes nas plantas podem exceder em muito as
concentrações no solo. Experiências feitas com cenoura, por exemplo, mostram que os tecidos
podem acumular K+ em concentrações 10.000 vezes maiores do que a concentração na solução em
que estão imersas. Mesmo que as concentrações normais nos tecidos vegetais não sejam assim tão
elevadas, o fato é que as plantas, e em particular as raízes das plantas têm em geral uma
concentração de nutrientes muito maior do que a solução do solo. A despeito desta grande diferença
de concentração, as plantas retiram do solo os nutrientes de que necessitam.
Se os íons encontrados entre a solução do solo e o interior das raízes fossem distribuídos
naturalmente, de acordo com os princípios da fisico-química, deveria haver um deslocamento dos
íons do local de maior concentração para o de menor concentração. No caso, como a concentração
de íons na planta (raízes) é maior do que na solução do solo, deveria haver uma perda de íons pela
raiz e um conseqüente enriquecimento da solução do solo em nutrientes. Entretanto, o que a
experiência nos mostra é que ocorre exatamente o contrário: mesmo que a concentração de íons em
uma solução externa seja 1000 vezes menor do que o das raízes, ainda assim as plantas retiram este
nutriente deste meio rarefeito e aumentam a concentração do íon em seus tecidos. Em outras
23

palavras, os íons podem se deslocar de um ambiente para outro (do solo para as raízes) contra
gradientes de concentração.
Agora vamos nos deter um pouco na questão; que forças seriam capazes de vencer a barreira
formada pelos gradientes de concentração durante o processo de absorção de nutrientes pelas
plantas?
Inicialmente vamos considerar que a entrada de nutrientes na célula pode ser passiva. Por
“passivo” queremos dizer: “energia metabólica não está sendo usada diretamente no transportador”,
o que não significa como já vimos que este transporte esteja sendo feito sem gasto de energia.
Todo e qualquer processo metabólico usa energia. A questão é onde e quando!
No caso do transporte passivo, a energia metabólica (no caso, energia obtida através da
hidrólise de ATP) está sendo usada em outro processo, que usa essa energia para gerar gradientes de
potencial através das membranas. São então esses gradientes as forças que ajudam transportar os
íons de fora para dentro das células. Em outras palavras, no transporte passivo ocorre um uso
indireto da energia metabólica, tornada disponível pela hidrólise do ATP.
No caso do transporte ativo, que é feito contra um gradiente de potencial eletroquímico,
energia pode ser usada diretamente pelo transportador, como é o caso das bombas iônicas, ou
indiretamente, através da geração de gradientes de prótons. O gradiente de prótons permite um co-
transporte em que o H+ é transportado a favor de seu gradiente (passivamente), enquanto que o
elemento co-transportado (anions, açúcares, aminoácidos) o é contra seu gradiente (ativamente).
Este tipo de deslocamento de solutos, de um local em que estão em menor concentração,
para outro em que estão em maior concentração, em desacordo aparente com as leis da física, é
conhecido como "deslocamento contra um gradiente de concentração".
Vejamos, na tabela 3, o deslocamento de um soluto de um compartimento cuja concentração
é 0,01 mM, para outros compartimentos de maior concentração, e a energia necessária para este
trabalho.

Tabela 3. Deslocamento de um glicose de um compartimento cuja concentração é 0,01 mM, para


outros compartimentos de maior concentração, e a energia necessária para o processo
(Adaptado Nelson e Cox, 2004)

Concentração de Glicose (mM) Razão de concentração Variação de Energia Livre


externa interna (∆G) (Kcal / mol)
0,01 0,1 1:10 1,34
0,01 1,0 1:100 2,68
0,01 10,0 1:1000 4,02
24

Como pode ser observado na tabela 3, temos um soluto (glicose), sendo transportado de um
compartimento em que a concentração é de 0,01 mM para outros compartimentos em que as
concentrações são 10, 100 ou 1000 vezes maiores. Para que isso ocorra, é necessário que alguma
força atue empurrando o soluto contra um gradiente de concentração. Para um soluto neutro, como a
glicose, por exemplo, é possível calcular qual a força necessária para este trabalho, através da
equação de Nernst:

∆G = RT ln Ci
Ce (1)
Onde: Ci = concentração interna e Ce= concentração externa.

No nosso exemplo :

∆G = RT ln 0,1
0,01

Nesta equação, ∆G é a variação da energia livre no sistema (formado pelos dois


compartimentos), R é a constante dos gases, e T a temperatura absoluta. ln é o logaritmo natural, no
caso, da razão entre as concentrações interna e externa do íon.
Pelo que podemos ver na última coluna da tabela 2, a energia necessária para "empurrar" um
mol de glicose contra um gradiente de concentração duplica à medida que a concentração interna
aumenta de 10 para 100 e de 100 para 1000 vezes.
Estes dados indicam que também a absorção de íons pelas plantas a partir de baixas
concentrações como as que ocorrem na solução do solo, exigem energia, sendo feita contra um
gradiente de concentração.
É necessário observar, entretanto, que no exemplo acima se trata de uma molécula neutra
(glicose). Os nutrientes, entretanto, existem nas soluções externas às raízes como espécies iônicas,
têm carga. Neste caso, a equação tem que ser modificada para incluir a carga. A equação de Nernst
pode então ser modificada:

∆G = RT ln C2 + ZF∆
∆Ψ (2)
C1

Onde: Z é a carga do íon, F a constante de Faraday (96,493 Coulomb/Eqg) e ∆Ψ a diferença


de potencial elétrico através da membrana por onde o transporte está sendo mediado.
Para que possamos entender melhor as aplicações deste conceito é preciso antes examinar o
conceito de "potencial através da membrana", sua origem e suas funções.
25

Quando uma célula vegetal em equilíbrio com a solução externa é examinada com um
microeletrodo (do tipo Ling- Gerard ), observa-se que entre o interior da célula e a solução externa,
geralmente existe uma diferença de potencial em torno de - 100mV (interior negativo). Estes
microeletrodos têm em geral pontas de 10 µ de diâmetro quando são usados em algas gigantes, e de
1µ de diâmetro para células animais e vegetais. Os microeletrodos são feitos de vidro, e têm alta
impedância. Internamente o eletrodo é imerso no citoplasma ou no vacúolo e externamente na
solução que banha a célula. Os trabalhos clássicos nesta área foram feitos com algas unicelulares
(algas gigante) (figura 12).

Figura 12. Correntes elétricas podem ser formadas entre o interior da célula e o meio externo

A existência deste potencial, em condições de equilíbrio de fluxos, indica que as plantas


tendem a manter um excesso de carga negativa no seu interior (em relação à solução externa). Estas
cargas têm origem nos resíduos de carga negativa resultantes da dissociação de ácidos orgânicos,
com posterior extrusão dos prótons. Estes ácidos podem ser de grande peso molecular ou não, o que
pode lhes dar características de superfícies de cargas fixas.
O pH citoplasmático está em torno da neutralidade, os ácido orgânicos tem um pK em torno
de 3,5, assim sob condições normais de metabolismo estes ácidos estão dissociados. Para que ocorra
26

um desequilíbrio em favor das cargas negativas, é necessário que as plantas eliminem o excesso de
H+, ficando na célula os resíduos negativos (Figura 11).
As plantas desenvolveram um eficiente sistema de eliminação de prótons, através das
bombas iônicas de extrusão de prótons. A bomba iônica de extrusão de prótons é o mecanismo
central no processo de nutrição mineral das plantas. Este mecanismo gera direta ou
indiretamente a energia que permite a entrada de espécies iônicas nas células, mesmo contra um
gradiente de concentração (ou como veremos adiante, contra um gradiente de potencial
eletroquímico).
A bomba de prótons é na verdade um transportador de íons, específico para prótons que
funciona usando energia metabólica (ATP). O transportador, estimulado pela presença de H+ no
meio interno, usa a energia gerada pela hidrólise do ATP para mudar de estado energético, liga-se
ao H+, e o bombeia para o meio externo, independentemente de troca por outro cation (do meio
externo). É, portanto, um sistema de transporte unidirecional chamado uniporte. (Figura 6)
Uma transferência unidirecional de cargas positivas gera eletronegatividade (pois não ocorre
transporte simultâneo de outro cátion de fora para dentro, de modo a que a diferença de carga
positiva pudesse ser compensada) (interior negativo). Deste modo quando um microeletrodo for
inserido na célula, surge uma corrente. Este potencial que é gerado entre o interior e o exterior da
célula, através da plasmalema, é denominado potencial de membrana (ψ ).

Origem dos potenciais de membrana (desenvolvimento de cargas negativas no interior das


células):

O potencial químico de um íon J é:

µ-j = µ*j + RT Ln aj + VjP + zj FE

O termo VjP indica o efeito da pressão no potencial químico. Nas raízes, este termo é
negligível.(considerando-se µ-j)

R = constante dos gases


T = temperatura absoluta
aj = atividade química do íon j
z = valência do íon
F = Constante de Faraday
E = potencial elétrico em volts
27

Consideremos as atividades do íon j dentro e fora da célula:

µ- jo = µ*jo + RT Ln ajo + zj FEo µ- j i = µ*ji + RT Ln aji + zj FEi

Exterior Interior da célula

em condições de equilíbrio :

µ- j o = µ-ji

logo : Ei - Eo = RT ln ajo
zj F aji

Por essa equação, verificamos que, em condições de equilíbrio, o potencial gerado através da
membrana depende da atividade química do íon nos dois compartimentos. A bomba de prótons
desloca este equilíbrio em favor do compatimento externo, gerando eletronegatividade, e criando
um gradiente protoniônico.

Potencial através da membrana.

A difusão de um íon (C+) com um coeficiente de permeabilidade diferente do co-ion gera um


potencial (potencial de difusão). Quando existe um íon fixo (por exemplo, os ácidos orgânicos no
citoplasma, ou as proteínas estruturais) a direção do potencial é dada pela carga do íon fixo.
28

A-i
A-o
C+
C+
C+X-

Exterior Interior da célula

Onde: X-, é o íon fixo.

Quando um íon difunde livremente (e passivamente), sem ser afetado por outros ions ou por
interações com a membrana:
Ej = Em

Onde, Ej é o potencial do íon (potencial de Nernst) e o segundo termo, Em, é o potencial da


membrana.
Quando Ej difere de Em, isso significa que forças outras que não a difusão estão agindo
sobre os íons.
Podemos agora voltar à equação de Nernst, adequada para a inclusão da carga dos solutos:

∆G = RT ln Ce + ZF ∆Ψ
Ci

Ce= concentração externa de íons.


Ci= concentração interna de íons.

A partir desta equação podemos calcular qual o potencial de membrana a partir do qual uma
espécie iônica pode ser transportada para o interior da célula, a favor do gradiente de potencial
eletroquímico.
Vejamos o potencial de membrana para a absorção de K. Em primeiro lugar, é necessário
conhecer as concentrações externa e interna da espécie iônica. No caso, teremos uma concentração
29

externa (na solução) de 1 mM. A concentração interna (na célula) é de 89mM (Lüttge e
Higinbothan, 1979)

Arranjando a equação teremos:

Ek+ = RT ln [K]e
ZF [K] i

Onde : (ZC+ =+1); (RT =25,3)


ZF

Ek+ = 25,3 ln 1
89

Ek+ = -114 mV

No exemplo citado (Lüttge & Higinbotham, 1979), o potencial da membrana medido com
eletrodo foi de -109 mV. A pergunta então é: dadas às concentrações de K+ (Ke/Ki), e o potencial de
membrana (Ψ), a tendência do íon K será de entrar ou de sair da célula?

A força potencial para entrada (ou saída) de um íon será:

EDK= Em - Ek

ou seja: EDK= (-109) - (-114) = 5 mV

(D=drive)

Com este resultado (+5) não haverá tendência de deslocamento de K+ para o interior da
célula. Neste caso, o gradiente de potencial eletroquímico é desfavorável ao transporte (passivo) de
K+. Para que o íon possa ser transportado será necessário usar energia adicional, capaz de realizar o
trabalho de transporte do íon.
A partir deste exemplo de Lüttge & Higinbotham (1979), fizemos uma modificação nesse
sistema de modo a permitir que se desenvolva um gradiente de potencial eletroquímico favorável à
absorção passiva de K+.
Um parâmetro que pode ser modificado facilmente é a concentração externa de K (na prática
agronômica isso é feito via aplicação de fertilizantes). Neste caso, por exemplo, vamos duplicar a
concentração externa de K. Teremos:
30

[K]e = 2mM [K]i = 89 mM

EK+ = 25,3 ln 2
89

EK+ = - 96 mV

logo,

EKD = -109 – (-96) = - 14 mV


(Em) (EK)

Com este resultado negativo, o íon K+, nessa nova situação, será absorvido passivamente.

Uma outra possibilidade seria estimular a atividade da bomba iônica de extrusão de H+, por
exemplo, com a aplicação de Fusicocina, como pode ser visto na figura 9.

Neste caso, e todos os outros fatores sendo mantidos constantes, o potencial da membrana
(∆Ψ) torna-se ainda mais negativo. Vamos supor, por exemplo, que como resultado do estímulo à
atividade das H+-ATPases, devido à aplicação da Fusicocina, o potencial da membrana caia para –
150 mV. Neste caso, e mantendo-se as mesmas concentrações iniciais interna (89 mM) e externa (1
mM), teremos o seguinte resultado:

EDK+= -150 – (-114) = -36 mV

Também neste caso, o K+ pode ser absorvido, passivamente, graças ao gradiente de potencial
eletroquímico favorável, criado pela ação eletrogênica da bomba iônica de extrusão de H+.
Resumindo teremos:
 Transporte ativo: é feito contra um gradiente de potencial eletroquímico
 Transporte passivo: é feito a favor de um gradiente de potencial eletroquímico

Quando transportadores do tipo “simporte”, aceitam o íon a ser transportado ativamente em


um sítio, e o H+ em outro sítio, a força próton-motriz (∆p) arrasta as duas espécies iônicas para o
interior da célula. Como pode ser visto na figura 7, o NO3- por exemplo, praticamente nunca teria
condições de entrar passivamente em uma célula da raiz. Seu transporte teria que ser “ativo”. Neste
31

caso, a energia para o transporte “contra um gradiente de potencial eletroquímico”, é fornecida pela
força próton motriz (∆p).
Em qualquer dessas formas de transporte, o transportador sofre mudanças de conformação.
A velocidade de transporte desse sistema está em torno de 103 íons por segundo.
Os canais iônicos, formados por proteínas, com uma fração apolar embebida no interior da
plasmalema, e com o lúmen formado com sítios eletricamente carregados são mecanismos de
transporte de grande velocidade (106 a 108 moléculas por segundo), reduzindo a energia necessária
para o transporte através da membrana. Os canais iônicos atuam sempre a favor do gradiente de
potencial eletroquímico, e pela sua velocidade são retificadores de corrente. Quando abertos, os
canais iônicos formam poros seletivos que transportam íons sem que ocorram mudanças de
conformação na proteína (Zimmermann & Sentenac, 1999).
Canais iônicos ajudam a controlar o potencial das membranas, e participam da transdução de
informações em plantas.
Alguns canais iônicos são de maior seletividade, enquanto que outros podem transportar
diversas espécies iônicas, como por exemplo os canais não seletivos de cátions. Certos canais
iônicos só são ativados a partir de um dado potencial de membrana, ou seja têm um controle ou
(portal) umbral a partir do qual estão abertos. Abaixo deste potencial de membrana o canal iônico
estará fechado.
Por exemplo, o canal iônico pode abrir a potenciais de membrana mais negativo que -
200mV, e fechar com potenciais mais positivos que -100mV.
Os canais iônicos mais estudados são os de K. Canais transportadores de K existem em
plantas e em animais, e podem ser de diversos tipos. Os mais conhecidos são os da família “shaker”.
São formados por uma cadeia polipeptídica com 6 segmentos que atravessam a membrana (S1 a
S6), estando as extremidade N-terminal e C-terminal, ambas no interior da célula (Figura 13). O
domínio P localizado entre os segmentos S5 e S6 forma o poro aquoso, quando quatro cadeias
polipeptídicas se arranjam espacialmente na membrana, formando a estrutura tetramérica do canal.
O segmento S4 é o elemento sensor do potencial elétrico, ele é caracterizado pela presença de
aminoácidos com carga positiva. O arranjo espacial de quatro cadeias polipeptídicas (estrutura
tetramérica) com seus respectivos seguimentos que atravessam a membrana (S1 a S6) formam o
poro do canal de K+, por onde esse íon atravessa a membrana (Figuras 13 e 14). Em canais de K do
tipo KAT1, aminoácidos com carga positiva foram identificados como parte do sistema de sensores
de voltagem (Zimmermann e Sentenac, 1999).
32

Figura 13. Representação esquemática dos domínios transmembrana dos canais de K+.(Adaptado
de Zimmermann e Sentenac, 1999).

Figura 14. Arranjo espacial em estrutura tetramérica dos domínios transmenbrana dos canais de
potássio (vista superior) (Modificado a partir de Zimmermann e Sentenac, 1999)
33

Alguns canais iônicos estão localizados prioritariamente em órgãos específicos da planta.


Canais codificados pelos genes AKT1 são expressos preferencialmente em células da epiderme e
córtex da raiz (É possível que este canal também participe do transporte de alta afinidade de K).
(Figura 3).
Há também os canais que aceleram a saída de íons, da célula. No caso do K por exemplo, o
gene skor (Stellar K+ outward-rectifying channel) codifica para um canal iônico (SKOR) que acelera
a saída de K da célula. Estes canais estão situados preferencialmente nas células do periciclo e do
parênquima vascular. São eles os responsáveis pela liberação no espaço livre estelar, do K+ que vai
ser deslocado para o xilema (Figura 3).
Os canais iônicos são extremamente importantes no controle de Ca++ no citoplasma, e no
transporte de NO3- para o vacúolo. No caso do nitrato, o rápido transporte para fora do citoplasma
explica as quedas de atividade das enzimas de redução (NR) quando o suprimento externo de nitrato
é reduzido, mesmo quando o teor total de nitrato na planta ainda é elevado.
Canais para transporte de anions também foram localizados na raiz, e são importantes para o
efluxo de nutrientes para o apoplasto, na área do parênquima estelar (Roberts, 2006).
Também de grande significação para a nutrição de plantas são os canais iônicos para efluxo
de ácidos orgânicos. Na plasmalema das células da raiz, existem canais deste tipo, que são ativados
pela presença no meio externo de íons potencialmente tóxicos como o Al+++(Ver Cap. 15 neste
Volume). Existem outros canais especializados na exsudação de ácidos orgânicos que são ativados
quando há deficiência de Fósforo (P) no meio externo. Este tipo de canal aniônico é particularmente
ativo nas raízes proteóides de algumas espécies vegetais.
A importância dos transportadores de íons para as plantas pode ser avaliada pelo fato de que
um grande número de genes ou de famílias de genes codifica para a síntese das proteínas
envolvidas. No primeiro organismo cujo patrimônio genético foi completamente decodificado
(Haemophilus influenzae), de um total de 1743 genes, nada menos que 12,2 % codificam para os
transportadores ou para as proteínas que formam o complexo transportador. Ao que tudo indica esta
percentagem deve ser regra geral para todos os organismos.
Em H+ATPases vacuolares foi observado que existem famílias multigênicas codificando
para as subunidades das H+-ATPases, que funcionariam em complemento aos genes básicos que
codificam para o transportador e que mantém o sistema em funcionamento. Isto significa que podem
surgir genes codificando para sistemas transportadores em resposta a estímulos ambientais, o que é
extremamente interessante do ponto de vista da nutrição mineral de plantas.
34

Como já mencionamos, é interessante observar a existência de bombas iônicas como a de


Ca++ (de dentro para fora através da plasmalema) e do antiporte Ca++/ H+ no tonoplasto atuando
como um eficiente sistema para a homeostase do Ca++ nas células. Por outro lado a existência de
bombas iônicas de protons tanto para fora através da plasmalema como para o vacúolo através do
tonoplasto (inclusive com as PPiases) permite um eficiente controle do pH citoplasmático. Os
sistema de bombas que usam energia das PPiases também são importantes nas situações de estresse
por baixa pressão de oxigênio. Também já foi confirmada a existência no tonoplasto de um
antiporte Na+/ H+. Este transportador seria de grande importância no desenvolvimento da tolerância
ao estresse salino. A hidrólise de ATP aumenta, em plantas halófitas, com o tratamento (aplicação)
de sal. Isto pode indicar o aparecimento de novas subunidades (polipeptídeos) dos transportadores.

Na figura 15, temos os principais sistemas de transporte conhecidos, tanto através da


membrana plasmática como do tonoplasto.

Figura 15. Sistemas de transporte localizados na membrana plasmática e tonoplasto.


35

A figura 15 mostra que o K+ e o Ca++ podem ser deslocados para o interior das células,
através da plasmalema, via canais iônicos. O K+ também pode ser transportado ativamente via
simporte (H+/K+). NH4+ e H+ são transportados via uniporte por transportadores de íons na
plasmalema. Ainda na plasmalema foi observado um antiporte, com a troca de Na+ por H+.
Na plasmalema ocorre o cotransporte de Cl-/ 2H+; de 2H+/ NO3-, H+(2-4)/H2PO-4 e 3H+/SO-4.
Açúcares e aminoácidos também são transportados via simporte (cotransporte) com um próton.
Duas bombas iônicas de grande importância para o metabolismo celular operam na plasmalema: a
bomba de prótons (transporte ativo primário), e a bomba de Ca++.
No tonoplasto, três canais iônicos operam no tranporte de K+, Ca++, e NO3-. Este último,
provavelmente também é capaz de transportar Cl- e malato.
Um mecanismo antiporte H+/Na+ funciona no tonoplasto, transportando H+ para fora do
vacúolo, e Na++ do citosol para o vacúolo. Também ocorre no tonoplasto um antiporte Ca++/ 2H+
transportando Ca++do citoplasma para o vacúolo.
Nitrato sai do vacúolo via simporte (NO3-/ H+) enquanto que o sistema de cotransporte para
o malato exige dois prótons (malato-/ 2H+). A formação de um gradiente protoniônco no vacúolo,
em relação ao citosol, é garantido por duas bombas iônicas: uma H+-ATPase, e uma H+-PPase.
Este esquema via bombas iônicas, uniportes, simportes e antiportes, mostra algumas
características importantes dos sistemas de transporte, e de sua influência no metabolismo celular.
Em primeiro lugar, há que ressaltar a eficiente bomba iônica de extrusão de prótons (5 a 20
pmoles/cm2/seg) de caráter eletrogênico, e que funciona como sistema primário de transporte,
permitindo a criação de potenciais que possam ser favoráveis ao transporte unidirecional (uniporte)
de cátions. Este mesmo mecanismo acaba por gerar grandientes de prótons (de fora para dentro) que
permitirão o cotransporte de anions. Inversamente, no tonoplasto, as duas bombas de protons
retiram H+ do citosol, acumulando-o do vacúolo. Isso permite o controle do pH citoplasmático e
também a geração de um gradiente próton-iônico de dentro para fora, em relação ao vacúolo. Este
último gradiente, permitirá a saída de NO3- e de malato do vacúolo (Figura 15).

Este esquema de transportes mostra ainda claramente os mecanismos de exclusão de Ca++ e


de Na+ do citoplasma. No caso do Ca++, ele tanto pode ser eliminado da célula via bomba iônica,
quando transportado rapidamente para o vacúolo via canal iônico. No caso do Na+, o íon pode ser
trocado por um proton de fora da célula, via plasmalema, ou trocado por um proton do vacúolo, via
tonoplasto. De qualquer maneira estes mecanismos evitam o acúmulo de Ca++ no citoplasma,
mantendo sua atividade citoplasmática em torno de 10-6 M. Também evitam o acúmulo de Na+,que
poderia perturbar o funcionamento de sistemas enzimáticos em que K+ tem um papel essencial.
36

É interessante observar que o gradiente próton-iônico vacúolo/citoplasma é garantido por


duas bombas iônicas (uma das quais H+-PPiase), e ocorre mesmo sob condições de stress de
oxigênio (baixas pressões de O2). Com isto, a planta tem o potencial de retirar NO3- do vacúolo, e
usá-lo no metabolismo de N, o que viabiliza o vacúolo como compartimento de reserva de N nas
plantas.

4 CONTROLE DE PH NAS CÉLULAS

Para que as atividades enzimáticas ocorram a um nível ótimo para o metabolismo, o pH


citoplasmático deve ser mantido um pouco acima da neutralidade (7,3). Como se pode antever do
estudo dos mecanismos de absorção de nutrientes, este pH ótimo pode facilmente ser mudado.
Extrusão de H+, entrada de H+ nas células, ou bombeamento de H+ para o interior do vacúolo podem
afetar o pH celular. Além desses mecanismos, a constante produção de ácidos orgânicos também
contribui para essas mudanças no pH celular.
Pequenas variações de pH (entre 0.2 e 0.3 unidades de pH) podem ser controladas pela
capacidade tampão do citoplasma. Esta capacidade gira em torno de 20 mmol de H+ por litro por
unidade de pH. A eficiência deste mecanismo também é de curta duração (6 a 8 minutos). Quando
as variações do pH citoplasmático vão além desta capacidade de tamponamento natural da célula,
um segundo mecanismo de controle é acionado. Neste caso, o metabolismo celular cria ou destrói
ácidos orgânicos para controlar as variações do pH celular.
Em casos de aumentos de pH, ácidos orgânicos são gerados, a partir de precursores neutros,
com o consumo de CO2 e OH-. Nos casos de queda de pH, ácidos orgânicos são descarboxilados,

com a liberação de CO2 e OH-. O ácido orgânico formado é o malato, e sua descarboxilação dá

origem ao piruvato.

Esquematicamente, este mecanismo pode ser assim descrito:


37

Este mecanismo é chamado de "sintonia fina".


Quando as variações de pH celular são superiores a capacidade de controle deste mecanismo
bioquímico de sintonia fina, entram em ação os sistemas fisico-químico de controle, fazendo a
extrusão de prótons através da plasmalema, ou bombeando prótons para o vacúolo através do
tonoplasto.
A extrusão de prótons, além dos importantes efeitos que tem sobre o metabolismo celular,
afeta o espaço livre (macro e micro poros e o espaço intercelular) aumentando a extensibilidade
plástica da parede celular por ativação de enzimas hidrolíticas de polissacarídeos, o que permite o
deslizamento das microfibrilas e a expansão celular. Os efeitos da extrusão de prótons podem
também se extender além deste espaço livre celular, afetando o pH do rizocilindro e mesmo da
rizosfera como um todo. Na figura 16, temos um exemplo de como a absorção de K+, via canal
iônico ou via simporte afeta o pH da solução externa. A figura 16 mostra a variação de pH
observado no meio de cultivo (K2SO4 + CaSO4), em função da absorção de K+ por plantas de arroz.
A rápida queda do conteúdo de K+ (Figura 16 A e B) corresponde à faixa de absorção via canal
iônico. A contrapartida é a extrusão de H+, com queda de pH. Na extremidade oposta (Figura 16 A e
C), quando a percentagem de K+ se aproxima de zero, afeta o simporte H+/K+, com predomínio
dessa fase o pH sobe.
38

Figura 16. A absorção de K+ estimula a extrusão de H+ e resulta em queda do pH da solução


externa (A e B). Em concentração muito baixa de K+, um sistema de co-transporte
(simporte) elva o pH da solução externa (A e C).

Sob condições normais de metabolismo, a absorção de cátions e de ânions resulta em influxo


líquido de um excesso de carga negativa. Experiências feitas com 62 espécies, mostraram que a
soma de K+, Na++, Mg++, e Ca++ na parte aérea dessas plantas produz um total de 2,5 meq/g de
carga. A absorção de NO3-, SO4-- , H2PO4- e Cl- por outro lado, produz um total de 3,6 meq/g de

carga. Nestas condições, há um desequilíbrio em favor de cargas negativas, o que pode resultar, em
médio prazo, na necessidade de que a planta faça a extrusão de cargas negativas (ou absorção de
H+).
39

É preciso observar, entretanto, que o NO3-é responsável por cerca de 50% do total de anions
absorvidos pelas plantas. Assim, se o suprimento de N às plantas for feito via fixação de N2, ou

através de N-NH4+, esta equação (balanço entre cátions e anions) é alterada, e a planta passa a

absorver um excesso de carga positiva. Neste caso, mantendo-se esta tendência por períodos longos
de tempo, deve ocorrer uma extrusão ativa de prótons, para reequilibrar as cargas no interior do
citoplasma, e controlar o pH celular.

5 CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE IONS

O grupo que estudava nutrição de plantas em Davis (Rains e Epstein, 1967; Rains, 1976), fez
um experimento que consistiu em colocar raízes, envoltas em gaze, em bechers contendo soluções
de K+, de concentração crescente. Por exemplo, concentrações de K+ de 0,002 mM a 0,2 mM, a
intervalos constantes. As raízes ficaram em contato com a solução por um certo período de tempo
(20 minutos a 1 hora). Ao fim deste período um grama de raízes foi pesado e o seu conteúdo em K+
determinado (na esses autores usaram Rb+, que tem um isótopo de vida mais longa para substituir o
K, e mediram a radiação emitida pelas raízes).
Os trabalhos iniciais de Epstein e seu grupo em Davis mostraram que a absorção de K
mostrava cinética de saturação (figura 17).

Figura 17. Gráfico da velocidade de absorção (V em µmoles/g/h) em função da concentração do


íon (M)
40

Relacionando-se o desaparecimento do K+ à sua absorção pelas raízes das plantas, e


conhecendo-se o peso das raízes, teremos então a absorção de certa quantidade de íons, por unidade
de peso de raízes, por tempo. Por exemplo, teremos 10 umoles de K sendo absorvidos por grama de
raízes por hora. Ou seja, umoles K/ g/ hora = velocidade de absorção.
Logicamente, quando a concentração é mínima (próxima de zero) a velocidade de absorção
do ion é muito baixa, quase zero. À medida que aumenta a concentração do íon na solução aumenta
a velocidade de absorção. Entretanto, este fenômeno não é linear na faixa de concentração que
estamos considerando. Ou seja, vamos chegar a certa concentração do íon na solução a partir da
qual os aumentos na velocidade de absorção serão negligíveis, mesmo que a concentração do íon
continue a crescer.
O resultado desta experiência pode ser colocado em um gráfico, em que no eixo dos X
teremos as concentrações de K (mM), e no eixo dos Y as velocidades de absorção (µmol./g/hr)
(Figuras 17 e 18).
Imagine-se agora uma roleta de estádio de futebol, com pessoas chegando para entrar antes
do jogo. Quando apenas uma pessoa está do lado de fora, a velocidade de entrada das pessoas é
mínima. À medida que aumenta o número de pessoas a velocidade de entrada também aumenta, até
que uma velocidade máxima é alcançada. A partir desse ponto, mesmo que aumente o número de
pessoas do lado de fora, a velocidade não aumenta mais. Seria correto dizer que a partir desse ponto
os aumentos de velocidade de entrada são negligíveis. Os limites de velocidade de entrada das
pessoas no estádio são fixadas pelo tempo necessário para que a roleta gire permitindo a passagem
de uma pessoa do lado de fora para o lado de dentro, ficando livre para que a próxima pessoa seja
transportada. Em linguagem de cinética de absorção, dizemos que há uma limitação de velocidade,
neste caso devido à razão de turnover.
O influxo de pessoas no estádio vai depender não apenas da velocidade de entrada de cada
roleta, mas também do número total de roletas que estão sendo efetivamente usadas em dado
momento (Vmáx). Ou, em linguagem de cinética de absorção, a velocidade de absorção de íons em
um dado momento será:

v= Vmáx x θ

em que θ (fator intensidade) é a fração do total de sítios de transporte sendo efetivamente utilizados
em um dado momento (N° de roletas disponíveis).
41

Figura 18. Diferentes isotermas são formadas (são mostradas aqui apenas como I e II), à medida
que a concentração K+ aumenta na solução externa.

Quando verificamos a curva resultante do gráfico da velocidade versus concentração temos


uma hipérbole quadrada (Figuras 17 e 18). Pode-se observar nesta curva, que inicialmente, quando a
concentração aumenta, a velocidade de absorção aumenta quase linearmente. A seguir, a inclinação
da curva começa a diminuir, e deixa de existir proporcionalidade entre os aumentos de concentração
e velocidade de absorção. A partir de concentrações maiores, a curva começa a se aproximar
assintoticamente de um ponto a que chamaremos velocidade máxima (máx). Vmáx. é linguagem
emprestada da cinética enzimática, em Nutrição de Plantas, podemos usar Influxo máximo, Imáx.
Fica claro por este gráfico, que de nada adianta aumentar as concentrações de K+ além de
0,2mM. Diz-se que, neste ponto, houve saturação. Ou seja, a absorção de K+ mostra cinética de
saturação.
Neste gráfico, chamamos de Vmáx, à máxima velocidade que o sistema atinge, a uma dada
concentração. Agora podemos a partir do eixo dos Y (da velocidade) em direção à curva, determinar
a concentração do nutriente (K) na qual, a absorção atinge a metade da velocidade máxima. Este
ponto é o Km aparente. Por Km aparente, entendemos a concentração do substrato na qual o
processo de absorção atinge a metade da sua velocidade máxima (Vmáx/2).
42

Vmáx é o máximo de transporte possível, quanto todos os sítios dos transportadores estão
carregados é o fator capacidade.
Chamaremos de teta (ø) à fração do transportador que está sendo efetivamente utilizado a
uma determinada concentração do substrato. É também chamado de fator intensidade.

v= Vmáx. ø

[M]
ø = _____ e assim teremos a: [M] = concentração do ion a ser absorvido.
Km + [M]

Vmáx [M]
v = __________
Km + [M]

Esta última equação descreve a hipérbole obtida na figura 18.

Em nutrição de plantas, o Km aparente é uma medida da afinidade do sistema transportador


(na raiz) pelo íon a ser transportado. Neste caso, quanto menor o Km, maior a afinidade do sistema
pelo íon. Inversamente, quanto maior o Km, menor a afinidade do sistema pelo íon a ser
transportado.
Outros modelos de representação gráfica deste sistema podem ser usados. Aqui usaremos
apenas uma outra possibilidade; o modelo Lineweaver-Burk. Este modelo usa um gráfico duplo
invertido, assim, no eixo das ordenadas (Y) teremos 1/V e no eixo X teremos 1/[M]. O resultado é
que a hipérbole do caso anterior é transformada em uma reta. Este tipo de gráfico tem uma grande
vantagem sobre o anterior, a Vmáx é obtida com exatidão, isto porque a intercessão da reta com o
eixo Y é 1/Vmáx. (Figura 19)
43

Figura 19. Gráfico duplo invertido de Lineweaver-Burk, indicando os inversos de velocidade x


concentração, o que transforma a hipérbole quadrada em reta

A faixa de concentração que estamos usando neste caso (0 a 0,2 mM) está dentro dos limites
do mecanismo de alta afinidade para absorção de K, mecanismo I (Epstein & Bloom, 2005).
Quando as concentrações externas de K vão muito além desse limite, surge uma segunda isoterma,
que foi chamada por Epstein de mecanismo II. Na verdade, esta segunda isoterma é uma soma de
várias isotermas que surgem nas faixas de alta concentração de K (Figura 18).
Em uma primeira aproximação, podemos considerar que no caso do K, a primeira isoterma
corresponde à faixa do transporte ativo do íon (K+/H+) (Mecanismo I), enquanto que as isotermas
das faixas de maior concentração refletem a absorção via canais iônicos (uniporte) (Mecanismo II).
A figura 16, baseada em trabalho de V. Pimentel (resultados não publicados) exemplifica esses
casos.
A faixa do mecanismo I, da figura 18, é também denominada de “Sistema de transporte de
alta afinidade” (HATS em língua inglesa). A faixa do mecanismo II representa o “Sistema de
transporte de baixa afinidade” (LATS em língua inglesa). Para o NO3-, o NH4+ e o K+, a grosso
modo, as concentrações de 1mM do íon em solução externa pode ser usada como limite entre os
dois mecanismos.
44

6 INTERAÇÕES IÔNICAS

Embora o transporte de íons seja específico isto é; cada espécie iônica é transportada através
de um sítio particular, seja ele um tipo qualquer de transportador (ATP-ase específica, canal iônico,
ou um sistema acoplado de transporte, cotransporte), existem situações em que dois ou mais íons
por sua semelhança em termos de raio iônico e carga podem ser transportados pelo mesmo sistema.
O caso mais óbvio, pelo seu largo uso em pesquisa científica, é o dos íons K+ e Rb+. Os sistemas
transportadores de K+ não conseguem distinguir entre o íon K+ e o íon Rb+ . Como não existem
isótopos estáveis de K+, o fato do transportador de K+ também transportar Rb+, permite o uso de um
isótopo de Rb+ como traçador para K+.
Outros casos existem em que este tipo de interação é evidente. O íon SeO4= e o íon SO4= são
outros exemplos de interação deste tipo.
Interações deste tipo são chamadas de interações competitivas. Nas interações competitivas
o íon competidor compete de modo reversível com o íon nativo (no caso acima, Rb+ é o íon
competidor, e K+ o íon nativo) pelo mesmo lugar no transportador. Neste caso, não ocorrem
mudanças no total de sítios disponíveis, mas sim na fração do total de sítios que ficam disponíveis
para o íon nativo.
Como o total de sítios transportadores não muda, se representarmos graficamente este
processo de interação, usando o gráfico de Lineweaver-Burk, teremos então a figura 21.

Figura 21. Efeito de um íon competidor (linhas pontilhadas) sobre a absorção do íon nativo
45

A intensidade deste tipo de competição depende:


a) da concentração do íon nativo
b) da concentração do íon competidor
c) das afinidades relativas dos íons nativos e competidor em relação ao sistema transportador.

Um outro parâmetro foi introduzido no estudo da cinética de absorção, o Cmin. Que


representa a concentração do íon na solução externa a partir da qual não se observa mais influxo
líquido desse íon. Todos estes parâmetros (Vmáx, Km, e Cmin) são geneticamente determinados e
refletem as pressões relativas a que as planta foi submetida ao longo do processo de evolução.
Na Tabela 4, temos a variação dos parâmetros cinéticos na absorção de NH4+ para duas
variedades de arroz: uma variedade tradicional (Bico Ganga) e uma variedade melhorada (Agulha).
Observa-se que com o aumento das concentrações de N-NH4+ na solução nutritiva a Vmáx para a
variedade Agulha aumenta, enquanto que para a variedade Bico Ganga diminui. Os valores de
Cmin para a variedade Bico Ganga são menores do que para a Agulha, indicando que ainda há
influxo de NH4+ na variedade tradicional mesmo em menores concentrações externas. Os maiores
valores de Vmáx associados aos valores baixos de Cmin, apresentado pela variedade Bico Ganga
tanto aos 25 quanto aos 50 dias, quando cultivadas com 20 mg de N-NH4+ .L-1 sugerem maior
capacidade de absorção de N em condições de menor disponibilidade desse nutriente, sendo um
indicativo de adaptabilidade à ambientes com baixa fertilidade natural.
Os métodos de estudo da cinética de absorção foram modificados por Claassen e Barber
(1974). Ao invés de vários recipientes com concentrações diferentes do nutriente, um só vaso é
usado, e a depleção de nutriente é medida a intervalos regulares de tempo. A curva de depleção é
então usada para determinar os parâmetros cinéticos. Baseado neste conceito, um método gráfico-
matemático foi desenvolvido por Ruiz (1985), e um software usado para estimativas das constantes
Vmáx e Km (Ruiz e Fernandes Filho, 1992). Um CD com uma versão deste software desenvolvido
para ambiente Windows, e as instruções sobre como usá-lo, estão no anexo I deste volume.
46

Tabela 4. Parâmetros Vmáx, Km e Cmin em plantas de arroz (variedades Agulha e Bico Ganga) aos
25 e 50 dias, submetidas a quatro níveis de N-NH4+ em solução nutritiva (Baptista, Fernandes e
Souza, 2001)

Vmáx (µmol L-1.h-1) Km (mmol L-1) Cmin (mmol L-1)


N-NH4+
(mgL-1) Agulha Bico Ganga Agulha Bico Ganga Agulha Bico Ganga
________________________________25 dias______________________________
20 16,27b 22,10a 0,513b 0,577a 0,252a 0,222b
40 28,50ns 29,50ns 1,061a 0,867b 0,868a 0,828b
60 34,20a 32,90ab 2,796ns 2,691ns 1,377b 1,537a
80 54,60a 44,29b 3,514b 4,510a 2,049b 2,134a
________________________________50 dias______________________________
20 20,31b 41,70a 0,836a 0,518b 0,389a 0,119b
40 32,40b 35,50a 2,044a 1,645b 1,606a 0,708b
60 100,60a 52,20b 3,450a 2,938b 1,208b 1,374a
80 134,81a 11,60b 3,517ns 3,582ns 1,873b 2,880a
Médias seguidas de letras iguais na mesma linha, para cada parâmetro não diferem
significativamente pelo teste de Tukey 5%

7 TRANSLOCAÇÃO DE NUTRIENTES

Os nutrientes, após deslocamento por via simplástica ou apoplástica alcançam as células do


parênquima vascular, e um processo inverso tem lugar, com o efluxo dos nutrientes para o espaço
livre da área estelar. Esses nutrientes e a água seguem então via xilema para a parte aérea das
plantas onde são novamente depositados no espaço livre das células. Para participar do metabolismo
celular, esses nutrientes precisam atravessar novamente a barreira da plasmalema (Figura 23)
A saída de cátions e ânions das células do parênquima estelar para o apoplasma e
consequentemente o xilema requer o funcionamento de canais iônicos tanto para cátions como já foi
mostrado para K+, como para ânions. Canais de efluxo de anions podem ser ativados por
hiperpolarização das plasmalema. É possível, entretanto, que canais para cátions e anions atuem
simultaneamente (Roberts, 2006).
Temos agora uma visão de conjunto do sistema de aquisição de nutrientes pelas plantas via
sistema radicular: os nutrientes são absorvidos via plasmalema das células da epiderme, córtex ou
pêlos radiculares, que do ponto de vista do conjunto (trans-root) podem ser classificadas como
47

células periféricas (Roberts, 2006), internamente, estão as células estelares que atuam na liberação
dos nutrientes para o apoplasma estelar e vasos do xilema (Roberts, 2006).
Como pode ser visto no esquema da figura 22, nutrientes como o H2PO4- e K+ são
absorvidos por células da epiderme e córtex, respectivamente, via canais iônicos e transportadores.
Circulando via plasmodesmas esses íons ultrapassam a barreira da endoderme e alcançam as células
do parênquima estelar. Nas células do parênquima estelar esses nutrientes são passíveis de efluxo, e
podem deslocar-se para o apoplasma, seguindo para o xilema acompanhando o fluxo de água. Via
xilema os nutrientes alcançam a parte aérea das plantas, ou outras partes (incluindo raízes em
crescimento) que podem funcionar como drenos (Fernandes e Souza, 2004).
Na parte aérea, os nutrientes encontram-se num espaço que seria o equivalente ao espaço
livre das raízes. Novamente precisam deslocar-se através de macro e micro poros, vencer as
barreiras dos espaços de Donnan, e alcançar a plasmalema das células, onde podem ser
transportados para o citossol. Os nutrientes assim absorvidos podem entrar no metabolismo celular,
ou ser deslocados por via simplástica em direção aos vasos condutores. Em alguns casos, conexões
podem ser estabelecidas com as células companheiras, mas o mais provável, é que esses nutrientes,
juntamente com produtos do metabolismo celular sofram efluxo para o apoplasma, e depois voltem
a ser absorvidos, via transportadores, através da plasmalema das células companheiras. A partir daí,
alguns nutrientes podem se deslocar diretamente via floema na direção dos drenos. Outros
nutrientes, entretanto, apenas após sofrerem transformações (assimilação) são deslocados no floema
(Figura 22).
O deslocamento de íons pode ser feito como pares iônicos. Por exemplo, o NO3- e o K+
deslocam-se juntos no xilema. No sentido inverso, nutrientes podem também ser translocados via
floema (Fernandes e Souza, 2004). Entretanto, nem todos os nutrientes conseguem se deslocar no
floema em forma iônica. O NO3- por exemplo, não se desloca no floema. O N é geralmente
movimentado no floema como aminoácidos ou amidas. O K+ por outro lado, desloca-se no floema, e
como acontece no transporte no xilema, e geralmente o faz em companhia de um anion, neste caso
de ácidos orgânicos (R-COO-). O resultado dessa mobilidade é o fenômeno da “recirculação do K+”
entre raiz-parte aérea-raíz.
O cálcio, o enxofre e o ferro que também são transportados para a parte aérea, via xilema, ao
contrario do K+, não circulam no floema. O cálcio e o ferro são particularmente pouco móveis na
planta. Uma vez localizados em um tecido vegetal, não são mais remobilizados para outra parte da
planta. É conhecido um tipo de clorose chamada “clorose de topo” característica de deficiência de
ferro. Isto ocorre porque o ferro não se desloca das folhas mais velhas para as mais novas. Como
48

resultado, são as folhas mais novas que apresentam clorose. No caso de elementos de grande
mobilidade como o nitrogênio, sua deficiência gera clorose das folhas mais velhas, que perdem o
nutriente em uma relação fonte-dreno (Fernandes e Souza, 2004).
Em todo esse processo ao longo da via de absorção, translocação e efluxo há uma demanda
de energia, principalmente via ativação das ATPases, para a absorção de nutrientes, seja nas células
da epiderme, do córtex da raiz, ou nas células de folhas, bainhas e caule. O processo como um todo
resulta, portanto em um custo energético, principalmente para a geração de gradiente de potencial
entre compartimentos da célula, e o apoplasma.
Após o deslocamento no floema, sempre no sentido fonte dreno, os nutrientes podem seguir
por via simplástica, para as células dos frutos ou sementes, ou para células em crescimento nas
raízes. Como pode ser visto na figura 22, ocorre então uma última etapa de efluxo (para o
apoplasma) e nova absorção, desta vez para as células do destino final.
49

Figura 22. Esquema da circulação dos nutrientes desde sua absorção por células epidérmicas ou corticais; circulação no xilema e no floema, e
redistribuição entre células da parte aérea e da raiz (Modificado a partir de Sondergaard et al., 2004).
50

8 REFERENCIAS

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CAPÍTULO 6

FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO SIMBIÓTICA E


ASSOCIATIVA

Veronica Massena Reis1,3, André Luiz de Martinez de Oliveira1, Vera Lucia Divan
Baldani1, Fábio Lopes Olivares2 & José Ivo Baldani1.
1
Embrapa Agrobiologia, Rodovia 465, km 7, CP 74505, CEP 23851-970, Seropédica,
Rio de Janeiro, Brasil. 2Centro de Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual
do Norte Fluminense, Campo dos Goytacazes, RJ, Brazil. Autor para correspondência:
veronica@cnpab.embrapa.br

SUMÁRIO

1 Introdução.......................................................................................................... 252
2 Mecanismos de fixação biológica de nitrogênio ............................................... 255
3 Quem são os organismos responsáveis por esta fixação biológica de
nitrogênio? ........................................................................................................................ 257
4 Onde ocorre o processo de fixação biológica de nitrogênio..............................259
4.1 Formação do nódulo ............................................................................................... 259
9 4.2 Interações associativas....................................................................................... 261
4.3 Associações com bactérias diazotróficas endofíticas ............................................ 262
4.4 Vida livre ......................................................................................................... 264
5 Fixação Biológica de Nitrogênio e o ambiente ............................................... 265
6 Absorção de nitrogênio fixado pelas plantas................................................... 267
7 Quantificação da FBN ................................................................................. 272
7.1 Métodos para estimar a contribuição da FBN ............................................... 274
7.1.1 Redução de acetileno...................................................................... 274
7.1.2 Balanço de N .................................................................................. 275
7.1.3 Técnicas isotópicas – 15N ............................................................... 276
8 Potencial de uso agrícola e otimização da FBN .............................................. 278
9 Perspectivas Futuras ........................................................................................ 279
10 Referencias bibliográfica................................................................................. 282
1 INTRODUÇÃO

Um dos mais importantes processos conhecido na natureza e realizado apenas

por microrganismos procariotos é o da fixação biológica de nitrogênio (FBN). A

primeira publicação sobre a capacidade das bactérias fixarem nitrogênio atmosférico e

este ser absorvido pelas plantas foi descrita em 1888. A incorporação de nitrogênio via

FBN aos diferentes ecossistemas de nosso planeta é bastante elevada, representando

uma economia substancial de energia fóssil, normalmente empregada na produção de

fertilizantes nitrogenados necessários para atender a demanda da agricultura mundial.

Para se ter uma idéia, a contribuição da fixação biológica de nitrogênio para o total de N

introduzido em sistemas agrícolas no mundo, é estimada em 65 %. A disponibilidade de

nitrogênio para os vegetais em sistemas naturais ocorre principalmente pela

mineralização da matéria orgânica do solo (ciclagem de nutrientes), haja vista o

pequeno conteúdo deste nutriente nos minerais do solo. Apesar disto, a grande maioria

do nitrogênio do solo está presente em frações cuja mineralização é bastante lenta

(húmus e argilosilicatos), sendo mineralizado (disponibilizado para absorção pelas

raízes) apenas 2 % a 3 % do N total presente no solo a cada ano. Esta fração

mineralizável está ainda sujeita à perdas por lixiviação, volatilização e desnitrificação,

além da imobilização e adsorção pelas partículas do solo.

A primeira bactéria fixadora de nitrogênio atmosférico, também conhecida como

diazotrófica, foi descrita em 1893. Desde o começo, esta descoberta gerou um grande

impacto e vasta literatura no tema, sendo até hoje os rizóbios as mais estudadas.

Atualmente o uso de técnicas moleculares tem possibilitado a reclassificação e o

conhecimento da grande diversidade existente neste grupo de bactérias. Estes são

reconhecidos pela capacidade de formar nódulos, principalmente na família das


leguminosas. Hoje se sabe que estes nódulos podem ser formados por outros gêneros,

tais como Herbaspirillum, Ralstonia, Orthrobactum, etc., deixando de ser exclusividade

de um pequeno grupo de microrganismos. Os nódulos não são exclusividade das raízes,

mas também podem ocorrer nos caules de plantas que sofrem períodos de alagamento.

Ainda que as maiores contribuições da fixação biológica de nitrogênio tenham

sido detectadas em oceanos e plantas leguminosas, algumas plantas da família Poacea

(antiga família Gramineae) têm mostrado um potencial bastante significativo de fixação

biológica de nitrogênio. No caso específico da cultura de cana-de-açúcar cultivada no

Brasil, esses ganhos são bastante expressivos, podendo gerar uma economia potencial

de cerca de 200 milhões de reais por ano se considerarmos que o processo de fixação

biológica de nitrogênio contribui com cerca de 65 % do N acumulado pela cultura.

Ainda que possamos considerar esses ganhos apenas razoáveis quando comparados ao

das leguminosas, a fixação biológica de nitrogênio tem um papel fundamental a exercer

também no ambiente, principalmente pela redução dos níveis de nitrato acumulado nos

lagos e rios, devido à lixiviação do nitrogênio aplicado na forma de fertilizantes.

A seguir, apresentamos a tabela contendo os gêneros de microrganismos

fixadores de nitrogênio conhecidos atualmente. Esta tabela tem como base a atual

classificação dos microrganismos baseada na evolução e foi proposta e aceita a partir

dos anos 70. A molécula usada para diferenciar os grupos, é a subunidade 16 S (S de

Svedberg – unidade de sedimentação de moléculas) do ácido ribonuclêico ribossomal

(ARN). Como esta molécula possui em torno de 1500 pares de bases e seu arranjo

espacial permite a sua divisão em regiões chamadas de hipervariáveis e sua variação na

composição dos pares de bases é usada na formação dos três super-reinos: Archae

(archae = antigo – bactérias ancestrais), Eubactéria (Eubactéria – bactéria verdadeira) e

Eucaria (organismos que possuem membrana nuclear) (maiores detalhes Sapp, 2005)
Tabela 1: Grupo e gênero de microrganismos fixadores de nitrogênio conhecidos
atualmente. Esta classificação está baseada na organização dos grupos de
microrganismos levando em consideração a evolução destes usando a
variabilidade genética presente na composição de pares de bases da subunidade
16 S do ácido ribonuclêico (ARN) ribossomal (16 S rRNA).
Grupo Gênero Grupo Gênero
Alfa Azospirillum Gamma cont. Scytonema
Gluconacetobacter Symploca
Mesorhizobium Synechococcus (Cyanothece)
Rhodobacter Synechocystis (marine)
Rhodospirillum Tolypothrix
Rhizobium Trichodesmium
Sinorhizobium Xenococcus
Beijerinckia Delta Desulfobacter
Methylocella Desulfomicrobium
Methylosinus Desulfovibrio
Methylocystis Desulfotomaculum
Bradyrhizobium Desulfonema
Methylocystis Firmicutes Frankia
Xanthobacter Paenibacillus
Methanosarcina Clostridium
Beta Alcaligenes Acetobacterium
Burkholderia Desulfosporosinus
Herbaspirillum Spirochaetes Spirochaeta
Azoarcus Treponema
Thiobacillus Spirochaeta
Epsilon Arcobacter Treponema
Gamma Anabaena Spirochaeta
Azotobacter Spirochaeta
Chlorogloeopsis Treponema
Calothrix Archae Methanobrevibacter
Cyanothece Methanococcus
Dermacarpa Methanothermobacter
Fischerella Methanosarcina
Gloeothece Methanothermobacter
Lyngbya Methanopyrus
Myxosarcina Methanococcus
Nostoc Methanocaldococcus
Oscillatoria Heliobacteria Heliobacterium
Phormidium Cyanobacteria Grupo das Cyanothece
Plectonema Grupo das Gloeocapsa
Pseudanabaena Gloeothece
Adaptado de Zehr,J.P.; Jenkins,B.D.; Short,S.M.; Steward,G.F (2003).
2 MECANISMOS DE FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO

Todos os microrganismos fixadores de nitrogênio são procariotos e esta

habilidade está distribuída entre os super-reinos Archaea e Eubacteria. Todos eles

possuem o complexo nitrogenase, que hidrolisa 16 adenosinas tri-fosfato (ATP) e 8

elétrons por molécula de nitrogênio fixado, sendo um dos processos metabólicos mais

caros para a célula. Estudos têm mostrado que a quantidade de N fixado no planeta gira

em torno de 2 x 1013 g por ano. A nitrogenase, é um complexo enzimático redox-ativo

que hidrolisa ATPs para efetuar a redução do N molecular (N2). É formado por duas

subunidades, um heterotetrâmero, a dinitrogenase α2β2, e um homodímero, a

dinitrogenase redutase γ2. A subunidade α contem um sítio ativo para a redução do

nitrogênio, composto de molibdênio, ferro e enxofre – MoFe7S9 chamado de FeMo-

cofator. Alguns microrganismos contêm nitrogenases ditas alternativas, onde o Mo é

trocado pelo Vanádio (V) ou Ferro (Fe) e os genes que codificam estas nitrogenases são

denominados de Vnf e Anf respectivamente, no lugar do Nif. Até o momento, poucas

bactérias diazotróficas descritos possuem estas nitrogenases alternativas, mas todas

possuem a nitrogenase de Molibdênio. As alternativas só são expressas na falta de Mo,

sendo que a de vanádio expressa preferencialmente à de ferro. Nesta mesma ordem está

a eficiência de redução do nitrogênio (Loveless, T.M., Saah, J.R., & Bishop, P.E. 1999;.

Miller & Eady, 1988).

A estequiometria da reação de redução do N2 até NH3 é apresentada na equação

1.

Equação 1 – N2 + 8 H+ + 8e- + 16 ATP = 2 NH3 + H2 + 16 ADP + 16 Pi


Por ser uma enzima redutora, o oxigênio reprime a expressão da nitrogenase ou

inativa quando já sintetizada e em funcionamento. No caso dos microrganismos

diazotróficos aeróbicos, que precisam de oxigênio para crescer, alguns mecanismos de

proteção podem atuar quando o processo de fixação biológica de nitrogênio está ativo.

Além disso, por ser um processo fisiológico que requer uma grande quantidade de

energia, a sua regulação é controlada em diversos momentos, através da ação modular

de genes reguladores. A disponibilidade energética da célula, idade fisiológica,

concentração de oxigênio, presença de alguns aminoácidos essenciais, disponibilidade

de oxigênio e nitrogênio em excesso (principalmente o amônio) são alguns dos fatores

que inibem a atividade da nitrogenase. A tabela 2 apresenta alguns mecanismos de

proteção contra concentrações elevadas de oxigênio (O2) presentes em microrganismos

diazotróficos. Geralmente a fixação biológica de nitrogênio é ativa em baixas pressões

de O2 (<0.1 % v/v).

Tabela 2. Mecanismos de proteção contra o oxigênio


Mecanismo Forma de ação Organismo
Aerotaxia Busca por baixas pressões de oxigênio Azospirillum
Proteção Respiração Azotobacter, Derxia
Hemoglobina que combina eficientemente nódulos de rizóbio,
com O2 casuarina-Frankia
Simbiose
Algumas proteínas protegem exposição ao O2 Azotobacter
– proteção conformacional
Separação Heterocistos - não fazem fotossíntese e não Cianobacteria
espacial envolve O2
Vesículas na simbiose de Frankia Frankia
Colônia, diferencia em filamentos Scenedesmium -
fotossintéticos e filamentos fixadores de microrganismo
nitrogênio marinho
Separação no Fotossíntese durante o dia e FBN à noite. Cianobacteria
tempo
Mudança de Facultativos só fixam em anaerobiose Klebsiellaspp.,
metabolismo Clostridium spp.
Física Barreira de células contra o O2 Nódulos
Produção de polissacarídeos extracelulares Derxia, Beijerinckia
Relação superfície/volume celular Azotobacter
3 QUEM SÃO OS ORGANISMOS RESPONSÁVEIS POR ESTA FIXAÇÃO
BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO?

Sabe-se hoje que muitos gêneros e espécies capazes de realizar a FBN estão

distribuídos no ambiente e associados às plantas. Estas associações podem variar em

especificidade, estrutura, localização, e microrganismo responsável. Temos as bactérias

denominadas simbióticas que são capazes de formar nódulos, e pertencem

principalmente ao grupo do rizóbio e do gênero Frankia. Temos também bactérias que

colonizam os tecidos internos das plantas e são denominadas de bactérias diazotróficas

endofíticas. Um terceiro grupo forma associações superficiais aos tecidos radiculares,

sobrevivem bem no solo e não são caracterizadas como espécie-específicas, sendo

denominadas de associativas. O que todos estes organismos tem em comum é a

presença da nitrogenase. Além deste grupo de bactérias heterotróficas, temos as

cianobactérias de vida livre, cianobactérias simbióticas, bactérias que vivem no trato

digestivo de animais, líquens e bactérias minerotróficas do grupo Archae.

A maioria das bactérias diazotróficas está posicionada na subdivisão alfa de

Proteobacteria, sendo este o subgrupo mais estudado. Dentro deste grupo estão também

posicionados as bactérias simbióticas do gênero Azorhizobium, Bradyrhizobium,

Rhizobium e Sinorhizobium, além de organismos fototróficos e metanotróficos,

tornando esta subdivisão bastante variável. Já a subdivisão Beta e Gamma de

Proteobacteria possuem uma minoria das bactérias diazotróficas descritas. A subdivisão

Delta de Proteobacteria possui, em sua maioria, bactérias anaeróbicas obrigatórias

redutoras de enxofre, incluindo espécies de Desulfovibrio e Desulfobacter.

A descoberta de organismos fixadores de N2 em Archaebacteria foi uma

surpresa, o que trouxe à luz a hipótese mais plausível de ter havido um ancestral

diazotrófico comum a todos os microrganismos atuais, do que ter ocorrido uma


transferência lateral dos genes estruturais da enzima nitrogenase, ou uma evolução

independente, e que a separação entre eucariotos e procariotos ocorreu posteriormente a

diferenciação de Archaebacteria e Bacteria. Neste grupo, estão inseridas bactérias

halófitas, termófitas dependentes de enxofre (como doador ou receptor de elétrons),

entre outras, mas nenhum gênero foi descrito com associado a plantas.

Existe ainda a simbiose das cianobactérias com diatomáceas, fungos e bactérias.

Na simbiose entre Azolla e Anabaena/Nostoc o simbionte está localizado na cavidade

foliar de vegetal e a troca de N2 fixado por fotoassimilados é realizada através de pêlos

de transferência. Esta simbiose tem importância agrícola principalmente na cultura do

arroz inundado. No caso das cianobactérias, ocorre a especialização de um órgão onde

ocorre a FBN, o heterocisto. Estas simbioses ocorrem em sistemas aquáticos marinhos

ou de água doce, e desempenham um papel fundamental no ciclo de nitrogênio. A

simbiose de fungos e cianobactérias formam os liquens que são os pioneiros na

pedogênese e na colonização de ambientes inóspitos. Actinomicetos do gênero Frankia

formam nódulos radiculares em oito famílias de plantas pertencentes a sete ordens.

Estimativas de FBN em espécies destes gêneros se situam entre 40 a 300 kg de N ha-1

ano-1 (Arora, A.& Singh,P.K., 2003).

Na Tabela 3 são apresentados alguns tipos de relações simbióticas entre

bactérias diazotróficas e organismos vegetais.


Tabela 3: Lista de microrganismos fixadores de nitrogênio atmosférico
Microrganismo Planta Hospedeira Localização Isolado
???
Grupo Gênero Grupo de Plantas Tecido Dentro ou fora da
célula vegetal
Bacteria Rhizobium Leguminosas e Nódulos Dentro Sim
(alfa- Bradyrhizobium Parasponia (induzidos)
Proteobacteria) Azorhizobium
Actinomicetos Frankia Betulaceae e 8 Nódulos Dentro Sim
familias de árvores (induzidos)
Cianobacteria Nostoc Bryophytes Cavidade da Fora Sim
(Antheros etc.) folha
Nostoc Pteridophyte Cavidade da Fora Não
(Anabaena?) (Azolla) folha
Nostoc Cycadophyta Raiz coralóide Fora Sim
(Cycas,
Macrozamia etc.)
Nostoc Angiosperm Tecido da Dentro Sim
(Gunnera) glande

4 ONDE OCORRE O PROCESSO DE FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE


NITROGÊNIO

4.1 Formação do nódulo

Vários genes específicos controlam os diferentes aspectos do processo de

nodulação. Uma estirpe de Rhizobium pode infectar somente algumas espécies de

legumes, é o que chamamos de especificidade hospedeira. Por exemplo: Rhizobium

leguminosarum biovar viciae, nodula ervilha e R. leguminosarum biovar trifolii. nodula

trevo. Existem casos em que a estirpe nodula a planta, mas se não for o seu hospedeiro

correto ela não fixa o nitrogênio, sendo chamado de nódulo inefetivo. A efetividade do

processo de nodulação é governada por diferentes genes. Os genes nod agem

diretamente nos vários estágios de nodulação. No estágio inicial ocorre a liberação de

uma variedade de compostos químicos das células radiculares para o solo, influenciando

a multiplicação da bactéria no seu estágio de vida livre. Estes compostos são


responsáveis pelo reconhecimento do hospedeiro pela bactéria, permitindo a adesão à

superfície dos pêlos radiculares. Estas substâncias químicas são chamadas de

flavonóides e isoflavonóides e induzem a formação do nódulo. Na etapa seguinte, a

bactéria secreta os fatores nod que estimulam a curvatura dos pelos radiculares e a

invasão da raiz, que inclui a formação de um cordão de infecção. Este cordão é formado

pelas células das raízes em resposta a infecção. A bactéria continua a se multiplicar e a

secretar fatores nod, que estimulam a divisão das células radiculares. Após uma semana,

o pequeno nódulo é visível e cada nódulo representa um pacote de milhões de células

vivas de Rhizobium, que nesta fase são denominados de bacteróides. Estes bacteróides

são envolvidos por membrana de origem vegetal conhecidas como membrana

peribacteroidal.

Existem outras maneiras de formação do nódulo, onde o rizóbio invade a planta

por feridas e não há a formação do cordão de infecção. Este é o caso da nodulação de

Parasponia (Família Ulmaceae; ordem Urticales). É o único gênero de plantas não

leguminosas que possui nódulos do simbionte Bradyrhizobium/Rhizobium. No caso do

amendoim e do Estilosantes, o sítio de infecção é a região de emergência da raiz lateral.

Também não corre a formação do cordão de infecção.

Nódulos de crescimento determinado


em Dalbergia nigra. Foto: Sergio
Miana de Faria (Embrapa
Agrobiologia)

Quanto ao tipo de nódulos, podemos ter o clássico nódulo formado na soja,

feijão, etc chamado de nódulo de crescimento determinado (circulares). Neste caso, uma
vez formado ele fixa enquanto a simbiose estiver ativa, facilmente notada pela

coloração avermelhada da atividade da leghemoglobina. Uma vez que a simbiose for

interrompida, por vários motivos, este nódulo senesce e se despende da planta

hospedeira. O outro tipo de formação de nódulos é chamado de indeterminado. Neste

caso o nódulo não para de crescer, isto é, o centro responsável pela FBN muda

conforme um novo tecido organizado para este fim é formado. São comumente

encontrados em espécies arbóreas como os nódulos de Leucena.

Nódulos de crescimento
indeterminado em simbiose com
Acácia podalfriaefolia. .
Foto: Dr. Sergio Miana de Faria
Embrapa Agrobiologia).

4.2 Interações associativas

Entre as bactérias que fixam nitrogênio e não formam nódulos, as mais

estudadas são as do gênero Azospirillum, principalmente A. brasilense e A. lipoferum.

Este gênero está dividido hoje em sete espécies, sendo que estas duas espécies são mais

freqüentemente encontradas colonizando a maioria das plantas de regiões tropicais e

temperadas, chegando a ser isoladas de gramíneas crescidas em locais gelados como o


Ártico. As espécies citadas acima e A. amazonense tem sido encontradas em associação

com plantas monocotiledôneas incluindo milho, arroz, cana-de-açúcar, sorgo e

gramíneas forrageiras como Digitaria, Brachiaria além de plantas eudicotiledôneas

como palmeiras e fruteiras. Apesar da sua ampla ocorrência, o isolamento da espécie A.

amazonense tem se restringido a plantas crescidas em algumas regiões do Brasil, exceto

por sua detecção em amostras de plantas de cana-de-açúcar cultivadas no Havaí e

Tailândia. As outras quatro espécies possuem poucos relatos de sua presença, sendo que

A. halopraeferens foi isolado de uma espécie de grama (Leptochloa fusca L.) crescida

em solos salinos no Paquistão, A. doebereinerae (espécie cujo nome homenageia a

cientista Johanna Döbereiner) foi isolada de plantas de outra espécie de gramínea

forrageira do gênero Miscanthus plantada na Alemanha, e A. irakense foi descrito

utilizando amostras do solo da rizosfera e de raízes de plantas de arroz cultivadas no

Iraque. Já a espécie A. largimobile é uma reclassificação de Conglomeromonas

largomobilis, mas não foi evidenciada a capacidade de fixar nitrogênio. Da mesma

forma, outros gêneros e espécies são descritos em associação com diversas plantas e em

diversos ecossistemas, mostrando a grande diversidade de organismos diazotróficos no

planeta.

4.3 Associações com bactérias diazotróficas endofíticas

Algumas bactérias são capazes de colonizar os tecidos internos das plantas e se

perpetuarem nestes tecidos sem causar nenhum sintoma de patogenicidade, promovendo

o crescimento da planta hospedeira. Estas associações internas são denominadas de

endofíticas. Algumas espécies de bactérias diazotróficas foram caracterizadas como


endófitas tais como Gluconacetobacter diazotrophicus, Herbaspirillum seropedicae,

Herbaspiririllum rubrisubalbicans, Azoarcus spp., entre outras.

Independente das controvérsias, existe um consenso razoável quanto a definição

prática do termo endófito. De acordo com Kloepper et al. (1997), bactérias endofíticas

são aquelas que podem ser isoladas de tecidos vegetais superficialmente desinfestados

ou extraídas de dentro da planta, e que não causam danos visíveis ou induzem sintomas

na planta. Fica claro portanto, que bactérias com capacidade para estabelecer-se

endofiticamente em tecidos vegetais, devem ser enquadradas em algumas regras:

• A bactéria deve ser capaz de invadir e proliferar nos tecidos da planta hospedeira,

desenvolvendo mecanismos para ultrapassar as barreiras físicas e químicas

desenvolvidas pela planta (mecanismos constitutivos e induzíveis), estabelecendo

vias de infecção e colonização, bem como os sítios de estabelecimento;

• A bactéria não deve induzir uma resposta drástica da planta à infecção (resposta

hipersensível), caracterizada pela morte rápida e necrose das células ao redor do

ponto de infecção, impedindo a colonização dos tecidos (H. seropedicae causa HR

em sorgo)

• A bactéria deve possuir um padrão de colonização modelado pela planta hospedeira,

uma vez que a multiplicação massiva e/ou hiperativação de genes de virulência,

pode colapsar os tecidos, induzindo sintomas na planta e consequentemente

estabelecendo uma interação patogênica;

• No caso de interações mais evoluídas, a bactéria deve seguir o ciclo de vida da

planta hospedeira, desenvolvendo mecanismos para colonizar sementes ou estruturas

de propagação vegetativa.
Vamos dar como exemplo a descrição do endófito mais conhecido atualmente e

que recentemente foi reclassificado como Gluconacetobacter diazotrophicus (antiga

Acetobacter diazotrophicus) (Yamada et al., 1997, 1998). Esta espécie foi isolada

inicialmente de raízes, colmos e folhas de cana-de-açúcar por Cavalcante & Döbereiner,

(1989), e posteriormente outros relatos mostraram a sua existência em canaviais

plantados na Argentina, no Uruguai, no México, Cuba, Estados Unidos, Índia, Canadá e

Austrália. Esta bactéria também está associada a outras plantas tais como a batata-doce,

e capim elefante (Pennisetum purpureum), café, abacaxi, entre outras. Por não possuir a

enzima nitrato redutase, a atividade do complexo nitrogenase não será inibida pela

presença de nitrato no meio externo à célula da bactéria. É considerada uma bactéria

endofítica pois possui baixa sobrevivência no solo. A via principal de transmissão é o

tolete de cana-de-açúcar, muito embora o palhiço da própria cultura não deva ser

descartado como uma fonte alternativa de inóculo quando incorporado ao solo, esporos

de fungos micorrízicos arbusculares ou através da contaminação ocorrida no momento

da sucção da seiva do floema por cochonilhas que vivem dentro da bainha foliar da

plantas de cana-de-açúcar e que possuem esta bactéria dentro da linfa. Devido a estas

características fisiológicas e a importância da cana-de-açúcar na economia brasileira, o

seu genoma está sendo seqüenciado além dos estudos relacionados a caracterização de

proteínas presentes nos diversos estágios de seu metabolismo (Baldani, J.I.; Reis, V.M.;

Baldani,V.L.D.; Dobereiner, J.; 2002).

4.4 Vida livre

As bactérias capazes de sobreviver no solo, e que também colonizam as plantas

desde que o ambiente esteja proprício para a sua multiplicação celular são chamadas de
bactérias de vida livre. Este grupo é representado por bactérias aeróbicas, anaeróbicas e

facultativas. Esses organismos podem viver harmoniosamente em associação com as

plantas, utilizando para sua nutrição os exudatos das raízes das plantas. Mas como

fazem para manter a sua população? Por serem quimiorganotróficas, utilizam

compostos orgânicos como principal fonte de carbono e energia. Este grupo é

representado pela maioria das bactérias fixadoras como Azospirillum, Beijerinkia,

Derxia, Azotobacter entre outras. Outros, denominados de fotoautotróficas, utilizam a

luz como fonte de energia e CO2 como fonte de carbono. Neste grupo está a espécie

Rodospirillum rubrum, as cianobactérias como Nostoc, entre outras. Também temos os

fotoheterotróficos, que utilizam compostos orgânicos como a principal fonte de carbono

e a luz como fonte de energia. Neste grupo estão as bactérias verdes sulfurosas

Chlorobium. As quimiolitotróficas utilizam compostos inorgânicos reduzidos como

fonte de energia e CO2 como fonte de carbono e tem como principal representante

Thiobacillus ferroxidans.

5 FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO E O AMBIENTE

Independente do tipo de associação entre a planta e a bactéria, o genótipo da

planta exerce grande influência. Na simbiose, a especificidade hospedeira é um exemplo

deste controle entre os componentes da interação. No caso das associativas, endofíticas

e de vida livre, esta associação é menos exigente. Vários estudos têm mostrado que a

eficiência da inoculação depende do genótipo da planta. Outros fatores biológicos,

químicos e físicos podem interferir na fixação biológica de nitrogênio. As plantas

diferem entre si quanto a quantidade do N fixado, e uma mesma espécie vegetal se

diferencia quanto ao genótipo e idade. Dependendo da promiscuidade do hospedeiro e


da eficiência do simbionte, teremos taxas variáveis de FBN. A seguir apresentamos os

fatores que interferem no N fixado e a recomendação para solucionar o problema.

Tabela 4: Fatores que afetam a fixação biológica de nitrogênio


Fatores Efeito Recomendação
Temperatura e Na sobrevivência do rizóbio e na Introduzir o inoculante nas
umidade habilidade de nodular e fixar N2 camadas mais profundas
Occore inibição da FBN evitando a dessecação
Usar cobertura morta
Salinidade Redução massa seca de parte aérea, Uso de estirpes tolerantes
nodulação e atividade da nitrogenase e/ou adaptadas à região
Uso de Inibição da nodulação e da fixação Utilização de pequenas
fertilizantes biológica de nitrogênio. quantidades no solo, ou
nitrogenados foliar em plantas que não
fixam todo o N necessário
Pesticidas, A compatibilidade do rizóbio com Antes do uso do produto
fungicidas e pesticidas é pouco conhecida. fazer teste de sensibilidade
inseticidas Os fungicidas interferem na Se possível aplicar longe da
sobrevivência semente
Os inseticidas não têm efeito desde
que não sejam aplicados nas
sementes.
Se conhece o efeito de herbicidas de
Poucos herbicidas
Cultivo Aumentam as oportunidades do uso Rotação de culturas
intercalado do N complementar.
Reduzir a necessidade de fertilizantes
nitrogenados, além de aumentar a
disponibilidade de N ou de sua
transferência.
Solos ácidos Limitam a produtividade e a FBN. Usar cultivares adaptados
bem como de estirpes.
Acidez e toxidade de alumínio Fazer a calagem
Preparo do solo Com o uso do plantio direto, ocorre Estimular a FBN
menor mineralização e nitrificação
acoplada a maior imobilização e a
maior denitrificação, o que limita a
disponibilidade de N.
Deficiência Fósforo principalmente em solos Uso de fertilizantes
nutricional tropicais
Elementos Metais pesados Uso de estirpes tolerantes
tóxicos
6 ABSORÇÃO DE NITROGÊNIO FIXADO PELAS PLANTAS

Em sistemas agrícolas tropicais, a simbiose mutualística entre rizóbios e

leguminosas apresenta-se como uma das principais tecnologias para reduzir a carência,

e/ou aumentar a disponibilidade de nitrogênio assimilável. Entretanto, as associações

não mutualísticas, envolvendo gramíneas e bactérias diazotróficas endofíticas, vem

sendo cada vez mais amparadas por resultados experimentais, e tornando-se uma

realidade para culturas importantes, como o arroz, o milho e a cana-de-açúcar, apesar de

ser um sistema quantitativamente inferior ao observado para leguminosas.

Para que as plantas consigam aproveitar os benefícios da FBN, é necessário que

o N fixado pelos organismos diazotróficos seja liberado em uma forma assimilável. Em

sistemas onde ocorre a contribuição destes microrganismos em vida livre, bem como em

alguns sistemas associativos, a disponibilização do nitrogênio biologicamente fixado

ocorre após a morte das células bacterianas e a lise de constituintes orgânicos celulares,

que são diretamente absorvidos pelas raízes vegetais através de transportadores

específicos. Em sistemas simbióticos, ocorre a transferência direta de moléculas

contendo o N fixado para dentro de vias metabólicas vegetais de assimilação de N

(Kennedy, I. R., Choudhury, A. T. M. A., Kecske´s, M. L.; 2004).

Nas simbioses mutualísticas entre leguminosas e rizóbios, todo o processo de

interação entre os organismos envolvidos é bastante estudado, apesar de estar longe de

ser esgotado. Nestes casos, após as etapas de sinalização e reconhecimento de moléculas

de origem bacteriana e vegetal, ocorre a penetração das raízes pelos microrganismos

simbiontes através do cordão de infecção. O caráter específico no diálogo molecular

entre a planta hospedeira e a bactéria diazotrófica caracteriza-se pelo fato de que

determinada espécie de rizóbio apresenta um número limitado de espécies vegetais com

as quais interage. O cordão de infecção é um canal formado por um processo de


endocitose dos pêlos radiculares, e direciona as células bacterianas para o córtex

radicular onde elas diferenciam-se em bacteróides e induzem a formação dos nódulos,

verdadeiras fábricas de produção de compostos aminados. A forma bacteróide dos

rizóbios é caracterizada pela perda da parede celular bacteriana e o conseqüente

aumento do volume celular, além da repressão da atividade da enzima glutamato sintase

(GOGAT) que impede a assimilação do N fixado pelos bacteróides. Os bacteróides não

possuem contato direto com o citoplasma celular, sendo envolvidos por uma membrana

de origem vegetal denominada membrana peribacteróide, extremamente importante

para a formação de nódulos eficientes. A estrutura formada pela membrana

peribacteróide e os bacteróides assemelha-se à uma organela, e denomina-se

simbiossoma, a unidade básica de fixação de nitrogênio no nódulo. Um nódulo maduro

ativo apresenta muitos milhares de simbiossomas dentro das células diferenciadas.

A Figura 1 apresenta um esquema simplificado do funcionamento de

simbiossomas em nódulos de soja.


citoplasma de célula infectada do nódulo (-)

assimilação
ADP + Pi
D
A NH3 + H+ NH4+
ATP H+

N2 + nitrogenase H+
H+
C bacteróide (-)
malato-

B (+)
membrana peribacteróide
malato-

Figura 1 – Representação gráfica de um simbiossoma de nódulo de soja (Glycine max).


A, ATPase da membrana peribacterioidal; B, carreador de composto
dicarboxilado da membrana peribacterioidal; C, carreador de composto
dicarboxilado do bacteróide; D, transportador de amônio. Simplificado de
Udvardi & Day, (1997).

A membrana peribacteróide envolve de um a muitos bacteróides (dependendo da

espécie vegetal e idade dos nódulos), permitindo um controle da planta sobre a

colonização bacteriana em seus tecidos. Sua função é regular o trânsito de nutrientes

entre os bacteróides e a planta hospedeira, onde a planta fornece compostos reduzidos

de carbono para o funcionamento constante da nitrogenase no bacteróide, e este fornece

compostos nitrogenados reduzidos para a planta, que são assimilados no citoplasma

vegetal. Além disso, a membrana peribacteróide apresenta outros transportadores e

canais, que são responsáveis pelo suprimento de compostos necessários para o


funcionamento eficiente da simbiose. A degradação desta membrana leva à senescência

da simbiose, e sua não formação leva a nódulos ineficientes (Udvardi & Day, 1997).

A sacarose formada através da fotossíntese é a principal fonte de energia para o

nódulo, metabolizada enzimaticamente no citoplasma vegetal a dicarboxilados que irão

suprir a demanda energética dos bacteróides ativos no processo de fixação biológica de

nitrogênio. Outros compostos reduzidos de carbono são presentes em abundância nos

nódulos, e é provável que ocorra a utilização de mais de um composto, bem como

variações qualitativas no fornecimento de compostos energéticos de acordo com o

desenvolvimento do nódulo e a espécie vegetal. A energia dos compostos

dicarboxilados é utilizada na forma de poder redutor e ATP para catalizar a redução de

Nitrogênio molecular à amônia pela enzima nitrogenase, segundo a Equação 1,

anteriormente citada.

A amônia produzida é liberada pelo bacteróide por difusão simples, e assimilada

no citoplasma da célula infectada pela enzima glutamina sintase (GS), convertendo a

amônia até glutamina. Em seguida ocorre a ação da GOGAT, que converte a glutamina

até glutamato. A enzima GOGAT apresenta uma atividade bastante elevada nos

nódulos, promovendo um nível muito baixo de amônia no citoplasma da célula

infectada e o consequente efluxo da amônia presente nos bacteróides. O glutamato

contendo o N derivado da FBN é utilizado na síntese de compostos aminados que serão

utilizados para suprir outros tecidos da planta. A molécula utilizada para o transporte

deste nitrogênio apresenta variação entre diferentes espécies de leguminosas. Em geral,

leguminosas de clima temperado exportam amidas, enquando leguminosas de clima

tropical exportam ureídos (Udvardi M. K., Ou Yang L-J, Young S, Day D. A., 1990).

A forma de assimilação do N biologicamente fixado nas relações associativas

com bactérias diazotróficas, envolvendo principalmente gramíneas, ainda não é


15
conhecida. Apesar dos estudos baseados no balanço de N utilizando o isótopo N

comprovarem a contribuição de diferentes espécies de bactérias diazotróficas

(destacando-se Azospirillum spp., Herbaspirillum spp. e Gluconacetobacter

diazotrophicus) em culturas como arroz, milho, sorgo, trigo e cana-de-açúcar, entre

outras, a forma como ocorre a transferência do N fixado não foi determinada (vide

tópicos anteriores). Além disso, a maioria destes organismos apresenta outras formas de

promoção do crescimento vegetal, como a produção de fitormônios, resistência a

estresses, produção de sideróforos e antibiose, entre outras (Gray & Smith, 2005).

Soma-se a isso a inexistência de uma estrutura especializada semelhante aos nódulos,

dificultando o estudo destas associações, e a determinação da real contribuição de cada

mecanismo na melhoria da nutrição das plantas inoculadas. Estas associações

apresentam uma eficiência muito menor que a observada nas simbioses entre rizóbios e

leguminosas, e uma baixa reproducibilidade dos resultados experimentais. Entretanto,

resultados experimentais de co-cultivo sugerem a capacidade de excreção de amônia por

G. diazotrophicus, bem como a ausência da enzima nitrato redutase e uma baixa

repressão do mecanismo de fixação de N por quantidades relativamente elevadas de

amônia, como observado em bacteróides. Estudos recentes baseados na análise da

expressão gênica comparativa de variedades de cana-de-açúcar contrastantes quanto à

capacidade de associação com bactérias diazotróficas, sugerem que a enzima glutamina

sintetase (GS) citossólica do vegetal pode estar envolvida na assimilação do N

biologicamente fixado. Espera-se que a continuidade de estudos fundamentados em

ferramentas de biologia molecular possa fornecer em breve um modelo da associação

entre gramíneas e bactérias fixadoras de Nitrogênio.


7 QUANTIFICAÇÃO DA FBN

A presença de bactérias capazes de fixar nitrogênio em plantas que não formam

nódulos não significa que estas plantas estejam recebendo contribuições significativas

deste processo. Os primeiros trabalhos utilizavam cálculos sobre o balanço de

nitrogênio onde todas as entradas e saídas do sistema eram medidas. Resultados

positivos destes estudos, aplicados em plantas crescidas em potes, sugeriram uma

quantidade significativa de entradas via FBN. Estes trabalhos, embora limitados a

condições experimentais e pouco convincentes, foram suficientes para estimular os

estudos sobre contribuições agronômicas em plantas que não formavam nódulos como a

maioria dos cereais e forrageiras. Mas quais são as necessidades de nitrogênio de

culturas onde não há a formação dos nódulos? Por exemplo, o arroz remove cerca de

16-17 kg N por tonelada produzida de grãos secos (Sahrawat, 2000), o trigo requer

cerca de 26-28 kg de N para produzir 1 tonelada de grãos secos (Angus, 2001). O milho

requer de 9-11 kg de N para produzir 1 tonelada de biomassa (Anuar, Shamsuddin &

Yaacob, 1995) e a cana-de-açúcar utiliza 1,45 kg de N para produzir 1 tonelada de

biomassa fresca ou 7 kg N para 1 ton massa seca por hectare, o que seria igual a 116-

274 kg N/ha (Bhuiyan, 1995). Mas este nitrogênio pode ser adquirido apenas via o

processo biológico? Infelizmente, os estudos têm mostrado que no melhor dos casos

para plantas como o arroz e a trigo, menos de 20 % do N advém do processo biológico

(Tabela 5).
Tabela 5: Estimativa de contribuição de FBN por diversas espécies de bactérias
diazotróficas inoculadas em cereais e gramíneas forrageiras.
Gênero Planta Quantidade de N Referência
Azotobacter Arroz 20% aumento grão Yanni & El-Fattah, 1999
Azospirillum Arroz 20% a 58% dependendo Mirza et al., 2000
da variedade/casa de
vegetação
Arroz 58,9 % Ndfa Mirza, Rasul, Mehnaz, Ladha,
So, Ali & Malik, 2000
Trigo 30% aumento grão/ 50- Okon & Labandera-
60 kg N/ha Gonzalez,1994
Trigo 7-12% - 15N Malik, Mirza, Hassan, Mehnaz,
Rasul, Haurat, Bally &
Normand, 2002
Trigo 14 – 37 %; Balanço de Didonet, A. D., Rodrigues, O.
N & Kenner, M. H. 1996
10 a 79 %; Balanço de Boddey, R. M., Oliveira, O. C.
N de, Urquiaga, S., Reis, V. M.,
Olivares, F. L., Baldani, V. L.
D. & Dobereiner, J. 1986
Cana 9 t/ha cana-planta e 5 Muthukumarasamy, Revathi &
t/ha em cana soca Lakshminarasimhan, 1999
Milho 50-95% dependendo Dobbelaere, Vanderleyden &
solo com aplicação 18- Okon, 2001
46 kgN/ha
13 a 25% aumento grãos Riggs, Chelius, Iniguez,
dependendo do genótipo Kaeppler &Triplett, 2001
Burkholderia Arroz 0,8 t/ha Trân Van, Berge, Kê,
Balandreau & Heulin., 2000
Herbaspirillu Arroz 19-58% casa de Mirza, Rasul, Mehnaz, Ladha,
m vegetação So, Ali & Malik, 2000
Arroz 58,2 % Ndfa Mirza, Rasul, Mehnaz, Ladha,
So, Ali & Malik, 2000
Rhizobium Milho 11% campo Gutiérrez-Zamora & Martinez-
Romero, 2001

Para as leguminosas, a expectativa de contribuição da FBN é variável. O que

determina esta amplitude é a variedade, o local de plantio, o método utilizado para

medir a contribuição, a estirpe utilizada entre outros fatores bióticos e abióticos.


Tabela 6: Quantificação de contribuição da FBN em leguminosas
Espécies (kg N/ha/por ano)
Alfalfa (Medicago sativa L.) 80-250
Amendoim (Arachis hupogaea) 33-297
Caupi (Vigna unguiculata L.) 73-240
Ervilha (Pisum sativum) 7-244
Ervilhaca peluda (Vicia villosa Roth) 110-184
Trevo (Trifolium pratense L.) 22-150
Estilosantes (Stylosanthes sp.) 110-184
Lupine (Lupinus spp. L.) 50-100
Feijão (Phaseolus vulgaris L.) 30-50
Guandu (Cajanus cajan) 7-235
Lentilha (Lens culinaris) 35-192
Mucuna preta (Stizolobium aterrimun) 157
Feijão mungo (Vigna radiate) 55
Soja (Glycina max) 17-450
Sesbania rostrata 324
Sesbania sesban 7-18
Trevo branco (Trifolium repens) 128-291
Adaptado de Freire, (1992) e Moreira & Siqueira (2002)

7.1 Métodos para estimar a contribuição da FBN

7.1.1 Redução de acetileno

Os primeiros esforços em medir a contribuição da FBN utilizaram um inibidor

competitivo da enzima nitrogenase, que uma vez presente na atmosfera era reduzido

preferencialmente: o acetileno. Neste método substitui-se parte da atmosfera por

acetileno, que é reduzido a etileno e medido em um cromatógrafo a gás. A principal

crítica deste método era o tempo de pré-incubação de 6 a 12 horas, e durante este

período ocorria uma diferença alta entre o início e o fim do período de análise, sendo
este atribuído à multiplicação de células estimulada pela liberação de carbono advindo

da lise celular das raízes após a extração (Van Berkum & Bohlool, 1980). Várias

modificações foram feitas no método para minimizar críticas como estas e outras

advindas da dificuldade de difusão de gases em sistemas inundados, dificuldade de

medir a contribuição de bactérias diazotróficas e não de algas fotossintéticas e também

fixadoras, etc. O principal problema advindo deste método era a modificação da pO2,

visto que sistemas nodulantes apresentam queda imediata da atividade da nitrogenase

após distúrbios físicos aplicados ao sistema radicular, mesmo sabendo-se que barreiras

físicas protegem os nódulos do efeito inibidor do oxigênio (Witty & Minchin, 1988).

7.1.2 Balanço de N

O princípio é muito simples: estimar o N total no solo, semente, e outros

insumos como adubos desde o início do crescimento até a colheita e novamente ao final

quantificar o N total na planta e no solo. Diminuindo o teor inicial do final tem-se o

balanço de N. Se o N total na cultura e no solo for significativamente maior que o

inicial, assume-se que houve incremento de N ao sistema advindo da FBN. Devemos ter

em mente que perdas naturais de nitrogênio normalmente ocorrem no solo tais como

lixiviação, denitrificação e volatilização e estas perdas normalmente não são

quantificáveis, o que leva a uma superestimativa da contribuição de FBN.

Como a massa de solo necessária para crescer uma planta sadia pode ser maior

que 100 vezes a massa da planta, o N total do solo é muito maior que o acumulado na

planta, mesmo em solos deficientes. Desta forma, as perdas advindas dos três processos

descritos acima devem ser quantificadas e portanto esta técnica deve ser aplicada em

experimentos de vasos ou similares, capazes de serem quantificados e mesmo assim

deve-se utilizar as mesmas condições para sucessivos plantios, para obter um ganho de
N significativamente superior aos erros de amostragem e das análises. A principal

vantagem desta técnica é a sua simplicidade e baixo custo e permitem explorar sistemas

onde não se tenha nenhum dado da contribuição de FBN por grupos de pesquisa

iniciantes.

7.1.3 Técnicas isotópicas – 15N

6.1.3.1. Incorporação de 15N2 gás

Com a utilização do isótopo mais pesado do nitrogênio, o 15N, é possível marcar

compostos ou mesmo utilizar 15N2 para quantificar a contribuição da FBN. No caso do

gás marcado é necessário o controle da atmosfera de CO2 e O2 pela clausura das plantas,

além de mantê-las em um sistema de luz controlada, temperatura e transpiração,

necessitando de um sistema sofisticado de controle ambiental (Eskew, Eaglesham &

App, 1981). Devido a problemas como perdas de gases e períodos curtos de incubação

em atmosfera controlada inibem a quantificação da FBN de uma maneira global que

incluem dados de todo o ciclo da cultura, principalmente tratando-se de um processo

que varia com as condições ambientais e período de crescimento. Se a contribuição for

muito pequena no período de incubação, erros advindos de variações na aplicação da


15
técnica podem ocasionar valores de acúmulo de N2 menores que a planta controle

(Morris, Zuberer & Weaver, 1985).

6.1.3.2. Diluição de 15N

Podemos utilizar compostos nitrogenados onde parte do teor de N está na forma

de 15N e adicionar este adubo ao solo para ser absorvido pelas plantas. Uma vez que a
14
planta absorve esta isótopo mais pesado juntamente com o N, podemos discriminar
esta absorção utilizando um espectrômetro de massa, com sensibilidade suficiente para
15
quantificar o N presente nas amostras de tecidos vegetais e subtrair da abundancia

natural (McAuliffe, Chamblee, Uribe Arango & Woodhouse, 1958). Este cálculo da

contribuição de FBN na planta depende da comparação com uma planta controle que

devemos escolher. Esta planta primeiramente não fixa nitrogênio e portanto todo o

nitrogênio absorvido virá do conteúdo de N disponível no solo. Outras características

também devem ser levadas em conta para a escolha da planta controle: possuir taxa de

crescimento semelhante a planta teste, ter um sistema radicular que explore as mesma

camadas de solo. Os principais problemas advêm do fato que ao se adicionar adubo


15
marcado com N, o N disponível marcado (essencialmente NH4+ e NO3-) geralmente

varia de acordo com a profundidade e com o tempo. Plantas com absorção diferencial

ao longo do tempo e espaço explorado pelas raízes terão uma marcação diferente,

introduzindo um erro na estimativa na contribuição da FBN (Witty, 1983). A solução

para este tipo de problema é utilizar vasos ou tanques de concreto e incorporar o


15
material marcado com N em diferentes profundidades alguns meses antes do plantio,

permitindo a estabilização do N disponível no solo (Kohl & Shearer, 1981).

6.1.3. 3. Abundância natural de 15N

O que se entende pela técnica de abundância natural do 15N refere-se a marcação

natural deste isótopo no solo. Plantas que recebem contribuições significativas da FBN

acumularão teores deste elemento de duas fontes: solo e ar, diluindo esta marcação

natural. Com o advento de espectrômetros de massa mais sensíveis, é possível

diferenciar a absorção entre plantas. O uso desta técnica para estimar a contribuição da

FBN em plantas noduladas e plantas capazes de se associar com actinorrizas, foi feito

primeiramente por Shearer & Kohl (1986). Para aplicar a técnica de abundância natural
de 15N na quantificação de FBN para gramíneas ou cereais faz-se necessário utilizar um

grande número de plantas vizinhas, ou mesmo invasoras dos campos de produção que se

deseja avaliar. Somente quando esta diferença de marcação natural entre sua planta de

interesse e suas plantas controle for significativa pode-se realmente estimar a

contribuição da FBN ao sistema.

Tabela 7: Comparação entre os métodos de se estimar a contribuição da fixação


biológica de nitrogênio
Métodos Vantagem Desvantagem Sensibilidade
1. Balanço de N Simples Baixa sensibilidade e não inclui Baixa
total todos os itens de ganhos e perdas
2. Incorporação Mais direto Caro e apenas por períodos Alta a moderada
15
de N2 curtos
3. Redução de Simples e sensível Indireto e semi-quantitativo Alta
acetileno
4. Diluição de Mede todo o Somente para FBN em planta e Alta-baixa
15
N período de cultivo problemas de marcação estável
do solo
4a. Abundância Simple e não Somente baixa diferença no Baixa
natural pertuba o sistema conteúdo de 15N
4b. Adição de Diferença no Mudança do 15N em tempo e no Moderado
substrato conteúdo de 15N é solo
grande

8 POTENCIAL DE USO AGRÍCOLA E OTIMIZAÇÃO DA FBN

Em sistemas agrícolas, a possibilidade de utilização de fertilizantes nitrogenados

para suprir a demanda de cultivos comerciais com nitrogênio pode ocorrer tanto pela

transferência de N de uma área para outra, através do uso da biomassa vegetal ou de

estercos animais, como pela utilização de tecnologias baseadas na utilização de sistemas

capazes de fixar biologicamente o nitrogênio atmosférico. Esta última alternativa, onde


se inclui a utilização de adubação verde, apresenta-se como a única capaz de aumentar

naturalmente a quantidade de N assimilável in situ.

Quando se fala de FBN lembramos de plantas da família das leguminosas,

principalmente da soja. Realmente o maior sucesso da tecnologia de uso de bactérias

fixadoras de nitrogênio como inoculante é a cultura da soja onde não se recomenda a

adubação nitrogenada em todo o território brasileiro. Hoje 95 % ou mais da industria de

inoculantes instaladas no Brasil produzem somente insumos para a soja. Outras culturas

de importância nacional como o feijão Phaseolus vulgaris, regional Caupi (Vigna

unguiculata), ou mesmo para cereais como milho, arroz e plantas de importância

industrial como a cana-de-açúcar, são passíveis de aplicação de inoculantes comerciais.

O que falta é a iniciativa privada mudar a linha de produção para atender a

demanda crescente por produtos biológicos, não trangênicos, e que podem contribuir

para reduzir os custos e o impacto ecológico da produção.

9 PERSPECTIVAS FUTURAS

Alguns pontos importantes devem ser alvo das pesquisas nesta área visando um

maior aproveitamento da FBN em gramíneas. Primeiro refere-se a seleção de genótipos,

pois existe um grande número de evidências sobre diferenças entre cultivares. Segundo,

qual a bactéria ou grupo destas deve ser a melhor combinação com o genótipo mais

promissor. Terceiro, refere-se aos fatores ambientais bióticos e abióticos relativos a

eficiência do processo tais como temperatura, água, luminosidade, nitrogênio,

associação com outros organismos tais como micorrizas, interação com a microflora

nativa, etc. Quarto ponto seria referente a modificações tanto na planta como na bactéria

visando o aperfeiçoamento desta associação.


Algumas perguntas continuam sem resposta: Existe suficiente fonte de carbono

para suportar uma população elevada de bactérias ou estas podem ser um dreno para as

plantas? A Nitrogenase é expressa (genes nif) mas está realmente ativa? Os produtos da

fixação são diretamente transferidos para a planta ou somente após a morte e

mineralização das células? Os números encontrados em plantas não leguminosas ficam

entre 10.00.000 células por grama de massa fresca sendo que no caso do rizóbio estes

números chegam a 100.000.000.000 bacteróides por grama de massa fresca. Estes

números seriam suficientes? Como poderemos aumentá-lo sem causar uma resposta de

defesa da planta? Muitos aspectos ainda precisam ser estudados visando tornar esta

associação mais eficiente.

Acima de tudo, o que a pesquisa busca atualmente é fazer uso destas associações

benéficas para substituir fontes não renováveis de energia, como o caso do processo de

obtenção de nitrogênio fertilizante, que usa energia fóssil. A busca por sustentabilidade

e produtividade tem que levar em consideração o custo / benefício da tecnologia,

facilidade de implantação, disponibilidade de obtenção do inoculante ou muda

inoculada, entre outros fatores sócio-econômicos e mesmo ambientais. Acima de tudo o

manejo sustentável visualizado na figura 1, engloba todas as possíveis utilizações da

FBN para a agricultura.


Associativas Endófitos

Vida livre Nódulos

Fixação Biológica de Nitrogênio

Quais os possíveis hospedeiros que podem se beneficiar


dos ganhos da FBN, mantendo a produtividade agrícola?

Manejo Sustentável dos Agroecossistemas

Figura 1: Maneiras de utilizar os ganhos advindos da fixação biológica de nitrogênio


para a redução do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico-CNPq pela bolsa de recém-doutor do segundo autor, as bolsas de

produtividade em pesquisa dos outros autores, à Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio

de Janeiro (FAPERJ) pelas bolsas Cientista do Nosso Estado do primeiro e último autor.

Este trabalho foi parcialmente financiado pela Embrapa, pelo CNPq (PRONEX II),
10 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA

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CAPÍTULO 7

EFEITOS FISIOLÓGICOS DE SUBSTÂNCIAS HÚMICAS – UMA


REVISÃO SOBRE O ESTÍMULO NAS H+-ATPASES

Luciano Pasqualoto Canellas(1), Daniel Basílio Zandonadi(1), Fábio Lopes

Olivares(2) & Arnoldo Rocha Façanha(2)

(1) Laboratório de Solos, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias,


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Av. Alberto
Lamego 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes –RJ.bolsista do CNPq:
canellas@uenf.br; daniel@uenf.br
(1)Laboratório de Biologia Celular e Tecidual Centro de Biociências e
Biotecnologias, UENF. bolsista do CNPq: fabioliv@uenf.br; arnoldo@uenf.br

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 288
2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E ESTRUTURAIS DAS SUBSTÂNCIAS
HÚMICAS................................................................................................................... 289
2.1 Bioatividade de Substâncias húmicas................................................ 297
2.2 perspectiva histórica .......................................................................... 297
2.3 Efeitos indiretos das substâncias húmicas sobre o crescimento das
plantas ........................................................................................................... 299
2.4 Efeitos diretos das substâncias húmicas sobre o metabolismo das
plantas ........................................................................................................... 300
2.5 O papel da H+-ATPases na nutrição e crescimento celular ............... 301
2.6 Mecanismos de ativação da H+-ATPase de membrana plasmática pelas
substâncias húmicas.................................................................................................. 312
3 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 322
1 INTRODUÇÃO

As substâncias húmicas são o principal componente da matéria orgânica dos

solos, das águas e dos sedimentos. Além de influenciar as propriedades químicas, físicas

e biológicas determinando a produção biológica dos ecossistemas, elas exercem um

efeito direto sobre o crescimento e metabolismo das plantas, especialmente sobre o

desenvolvimento radicular (Nardi et al., 2002). Não é recente a concepção de que as

substâncias húmicas podem regular o crescimento das plantas, porém os mecanismos

celulares através dos quais tal efeito se manifesta ainda não são bem claros. Parte do

atraso na evolução deste tema decorre de uma concepção reducionista que,

freqüentemente, põe em questão se os “ácidos húmicos”, sendo macromoléculas de alto

peso molecular, poderiam de fato serem reconhecidas por receptores de membrana na

superfície/apoplasto, ou mesmo acessar o interior da célula e regular o metabolismo das

plantas. Entretanto, evidências experimentais recentes têm lançado luz sobre o problema

ao verificar que as substâncias húmicas, e entre elas especificamente os ácidos húmicos,

podem regular a atividade das bombas de H+ induzindo a síntese de H+-ATPase de

membrana plasmática e vacuolar.

Existe uma série de trabalhos que compilam o efeito fisiológico de substâncias

húmicas (Vaughan & Malcolm, 1985; Chen & Aviad, 1990; Nardi et al., 2002). Esta

revisão é centrada nos efeitos fisiológicos de ácidos húmicos sobre a atividade de

enzimas transmembranares responsáveis pela geração do gradiente eletroquímico que

energiza os canais e transportadores de íons e moléculas, utilizados na absorção de

nutrientes pelas células, e ainda, pela acidificação do apoplasto, condição necessária

para a expansão celular. Antes, porém, é realizada uma breve discussão sobre aspectos

estruturais das substâncias húmicas


2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E ESTRUTURAIS DAS SUBSTÂNCIAS

HÚMICAS

Tradicionalmente, os ácidos húmicos (AHs) têm sido definidos como

substâncias de coloração escura compostas por macromoléculas de massa molecular

relativamente elevada formada através de reações de síntese secundária a partir de

resíduos orgânicos de plantas, animais e microrganismos (Stevenson, 1994). Entretanto,

alguns estudos têm sugerido uma nova concepção para a estrutura destas complexas

substâncias húmicas (Orlov et al., 1975; Piccolo, 2002).

Piccolo et al. (1996a; 1996b) observaram que AHs submetidos à cromatografia

de exclusão por tamanho molecular apresentaram alterações reversíveis no perfil de

distribuição da massa molecular, ou seja, diminuição do tamanho dos Ahs, com a

acidificação da solução de AHs pela adição de ácidos orgânicos (na faixa de pH 9,2 à

2,0). A partir destes dados, Piccolo postulou que, em vez de consistir num polímero

estável em pH neutro ou alcalino, os AHs se comportam como uma associação

supramolecular de moléculas relativamente pequenas e heterogêneas que se mantêm

unidas pela ação de forças fracas dispersivas, tais como forças de van der Waals e

interações π- π, CH-π em valores de pH na neutralidade ou através de pontes de H+ em

valores mais baixos de pH. Segundo a concepção mais antiga de Orlov et al. (1975),

esse menor agregado corresponderia à célula estrutural mínima das substâncias húmicas

sobre a qual vai se desenvolvendo paulatinamente a macroestrutura através da adição de

camadas sobre esta célula básica, num arranjamento semelhante ao supraestrutural. A

adição de ácidos orgânicos altera a estabilidade dessa conformação através do

rompimento de interações hidrofóbicas fracas. A subseqüente eluição na cromatografia

por exclusão de tamanho resulta em subunidades menores, que são protegidas da


reassociação das unidades estruturais, que pode ocorrer em condições estáticas. Piccolo

e colaboradores consideraram os resultados desse experimento como a expressão da

natureza associativa de pequenas moléculas húmicas, que se auto-organizam num

material de tamanho molecular aparentemente elevado. Essas frações de menor massa

molecular são um produto do rearranjamento conformacional e composição química

diferente das substâncias húmicas. A associação supramolecular em solução é formada,

então, por meio da interação de domínios hidrofóbicos de compostos anfipáticos (um

composto anfipático ou anfifílico é aquele que apresenta uma parte polar e outra apolar

na mesma molécula). A tendência termodinâmica natural desses compostos é de formar

agregados espontaneamente. Essas associações são isoladas progressivamente da rede

de estrutura da água (Wershaw, 1986). Tal separação resulta no acréscimo da entropia

do sistema e na energia livre de estabilização das diferentes unidades moleculares

húmicas para formar a superestrutura. Na associação húmica supramolecular, as forças

intermoleculares determinam a conformação estrutural das substâncias húmicas, e a

complexidade de múltiplas interações não covalentes controlam e regulam a sua

reatividade no ambiente.

Considerando a nova concepção (associação supramolecular ou unidade

estrutural mínima) para o comportamento estrutural das substâncias húmicas, a

definição clássica de ácidos fúlvicos e húmicos precisa, necessariamente, ser revista.

Piccolo (2002) redefine, então, ácidos fúlvicos como a associação de pequenas

moléculas hidrofílicas com uma quantidade de grupamentos funcionais ácidos

suficientemente grandes para manter os agrupamentos de ácidos fúlvicos dispersos em

qualquer valor de pH. Os ácidos húmicos, por sua vez, são compostos por associações

de material humificado onde predominam compostos hidrofóbicos (cadeias

polimetilênicas, ácidos graxos, esteróides), que são estabilizados em pH neutro por


forças hidrofílicas dispersivas. De acordo com o modelo de Piccolo, a conformação dos

ácidos húmicos cresce progressivamente de tamanho quando as forças oriundas das

ligações hidrogênio são progressivamente aumentadas até um valor baixo de pH onde

os ácidos húmicos floculam.

Essa concepção foi duramente criticada por Swift (1999), que considerou as

modificações provenientes do cromatograma de exclusão por tamanho das substâncias

húmicas com variação do pH de eluição como uma conseqüência de artefatos

produzidos pela interação polímero – gel da cromatografia. No entanto, o modelo supra-

estrutural se mostrou consistente ao serem reproduzidos qualitativamente os

experimentos de Piccolo por Façanha et al. (2002). Além disso, uma série de outras

evidências de um arranjamento supra-estrutural para substâncias húmicas foram obtidas

a partir de diferentes métodos espectroscópicos. Através de uma extensiva revisão de

literatura sobre o uso da pirólise na análise de estrutura de substâncias húmicas, Saiz-

Jimenez (1996) concluiu que os principais produtos da pirólise encontrados nos

fragmentos da fração húmica também foram observados em ligninas e polissacarídeos,

não havendo evidências de uma condensação aparente entre lignina e polissacarídeos. O

mesmo autor argumenta que, tendo em conta os produtos da pirólise, não se pode,

necessariamente, assumir que as substâncias húmicas sejam geradas por reações de

condensação de lipídeos, carboidratos, amino-ácidos, etc. Teoricamente, misturas de

compostos mais ou menos biodegradáveis, de macromoléculas e de outras moléculas

com baixo peso molecular podem explicar mais adequadamente os dados de pirólise

(Saiz-Jimenez & Leew, 1986).

A associação supramolecular de substâncias húmicas foi encontrada por Haider

et al. (2000) e Ricca et al. (2000) e por meio da ruptura até pequenos componentes pela

preparação de derivados húmicos através de reações silanização ou metilação de


funções oxigenadas ácidas. Com essa simples produção de derivados (que não quebra

ligações éter e ésteres), é desagregado o frágil aglomerado de estruturas húmicas num

plano supramolecular até chegar a pequenas entidades que são prontamente dissolvidas

em solventes orgânicos e, assim, eluídos em faixas de massa molecular pequenas por

cromatografia por exclusão de tamanho a alta pressão. Os espectros de ressonância

magnética nuclear (RMN) e de infravermelho (IV) gerados dessa forma são muito

melhor resolvidos.

Estudos com espectroscopia RMN têm demonstrado que, como sugere Piccolo et

al. (2003), as substâncias húmicas resultam da agregação de várias classes de compostos

orgânicos, tais como açúcares, aminoácidos, ésteres e éteres alifáticos e aromáticos.

Numerosos estudos mostram que há uma correlação direta entre o peso molecular e os

coeficientes de difusão para uma variedade de espécies orgânicas e estas correlações são

descritas por equações empíricas. Baseado nestas observações foi desenvolvido um

experimento bidimensional chamado DOSY (do inglês Diffusion Ordered

SpectroscopY), em que observam-se deslocamentos químicos em um eixo e no outro

eixo encontram-se os respectivos coeficientes de difusão. Comparando-se os

deslocamentos químicos e os coeficientes de difusão com os de diferentes padrões, é

possível identificar várias classes de compostos no agregado. Usando a técnica de

DOSY 1H RMN, Simpson (2002) foi capaz de demonstrar que as substâncias húmicas

são, na realidade, associações ou agregados de moléculas de menores pesos moleculares

que podem ser rompidos pela adição de ácido. A Figura 1 mostra os espectros de

DOSY, em duas concentrações diferentes, de AHs isolados de turfa.


Figura 1. Espectros de DOSY de ácido húmico isolado de turfa em concentração de
5mg mL-1 (A) e 133 mg mL-1 (B) e após adição de 5l de ácido acético (C e
D). Adaptado de Simpson 2002.

Em ambas as concentrações de AHs, os componentes da mistura exibem

coeficientes de difusão semelhantes, indicando que existem associações entre os vários

componentes. Entretanto, a adição de ácido acético, que promove a desagregação de

materiais húmicos (Piccolo 2002), resulta na formação de bandas discretas de difusão

que estão correlacionadas com deslocamentos químicos consistentes com as espécies

mais abundantes nestas misturas, ou seja, lignina, polissacarídeos e peptídeos (ver

também Piccolo et. al. 2003). Após a desagregação com ácido acético, os coeficientes

de difusão médios para cada uma das espécies podem ser calculados (Figura 1D).
Finalmente, os tamanhos moleculares podem ser extrapolados a partir da comparação

destes coeficientes com padrões e os resultados estimam pesos moleculares na região de

200-600, ~1000 e 2000-2500 Da, respectivamente. Este resultado é muito significante,

pois valida a concepção do arranjamento supraestrutural de pequenas associações de

moléculas orgânicas com grandes implicações para o efeito fisiológico de substâncias

húmicas como se verá mais adiante. Wang and Xing (2004), usando a técnica de

correlação de tempos para RMN de 1H, obtiveram uma série de informações novas

sobre a mobilidade das substâncias húmicas em solução. Eles concluíram que os

fragmentos estruturais típicos de carboidratos são maiores e apresentam baixa

mobilidade em solução, enquanto que grupamentos alquílicos e aromáticos são

relativamente menores e mais móveis. Esta mobilidade diferencial das unidades

constitutivas dos ácidos húmicos pode estar diretamente relacionada com a capacidade

de interação das substâncias húmicas com as células vegetais.

O estudo da ação direta das substâncias húmicas sobre o metabolismo e o

crescimento das plantas tem sido centrado, principalmente, sobre os ácidos fúlvicos, ou

seja, a fração humificada considerada de menor massa molecular (Vaughan & Malcolm,

1985). Isto ocorreu por uma simples questão: não era possível conceber que uma

substância de massa dois ou três milhões de vezes maiores como os ácidos húmicos (na

ordem de micrômetros) (Cameron et al., 1972a; Cameron et al., 1972b) pudessem

passar por poros ou espaços aparentes no apoplasto (na ordem de nanômetros). No

entanto, baseando-se na concepção emergente do arranjamento macro-estrutural de

substâncias húmicas, compostos de reconhecida capacidade de regulação e estimulação

do crescimento vegetal tais como os hormônios vegetais podem estar fracamente unidos

à supra-estrutura das substâncias húmicas e serem liberados para a solução do solo e

para a absorção das plantas por uma simples variação de pH na interface das raízes
decorrente, por exemplo, da exsudação de ácidos orgânicos como experimentado por

Façanha et al. (2002). Dessa forma, os ácidos húmicos e seus domínios hidrofóbicos

predominantes podem ser considerados como um armário de compostos químicos que

pode ser aberto ou fechado para liberação de determinados componentes de acordo com

uma “conversa” entre a planta e seu ambiente de crescimento. O sítio inicial de interface

ativa entre os AH e as raízes de plantas é a região que compreende a rizosfera e o

rizoplano, onde partículas supra-estruturais de ácidos húmicos aplicados a planta ou que

naturalmente são formadas no solo, entram em contato com uma diversidade de

secreções e exsudatos radiculares das plantas (Figura 2A). O produto desta interação

causa alterações físico-químicas no ambiente radicular externo, que, por conseguinte

promovem alterações estruturais nas partículas supra-estruturais de AH. Tais alterações,

podem supostamente gerar sub-unidades/fragmentos de baixo peso molecular (como

demonstrado por estudos de pirólise, exclusão molecular e alteração de perfil

cromatográfico), potencialmente capazes de induzirem alterações no metabolismo

celular de plantas. Embora os detalhes moleculares que respondem pelas alterações

fisiológicas na planta sejam pouco explorados, presumivelmente tais sub-produtos de

baixo peso molecular podem ser reconhecidos por receptores presentes na plasmalema

ou mesmo de modo não conhecido serem internalizados (via apoplasto/simplasto)

(Figura 2B e 2C) e elicitarem respostas em nível celular, eventos de transcrição e

transdução específicos, resultando em alterações estruturais e fisiológicas na planta.

Neste sentido, a localização desse “armário” está na rizosfera/ rizoplano das raízes. Os

quais parecem guardar a chave desse armário, e que, promovem, de forma não

elucidada, a entrada de substâncias húmicas para o interior da célula (Figura 2B e 2C,

D, E). A linguagem dessa conversação permanece ainda como um mistério desafiador.


A
A B

C D E

Figura 2. A: Fotomicrografia de imunomarcação fluorescente de partículas de ácidos


húmicos (AHs) dispersas no rizoplano de raízes de milho (estrela). Aumento de
620X. B: Fotomicrografia de imunomarcação fluorescente de seção transversal
de raízes de milho, com imagem de sinal amplificado, evidenciando agregados
de partículas de AHs no lúmem de vasos do protoxilema. Aumento de 750X.
C/D: Imagens de correspondência, respectivamente por microscopia ótica de
contraste diferencial e interferêncial (DIC) e de fluorescência de seção
transversal de raízes de milho evidenciando agregado de AHs presente nos
espaços intercelulares de células do parênquima cortical de milho (quadrado).
Aumentos de 500X. E: Fotomicrografia de imunomarcação fluorescente de
raízes de milho evidenciando agregados de AHs (seta) em células de
parênquima próximas ao aerênquima formado pelas condições de cultivo
hidropônico no ensaio em questão. Aumento de 250X. A Detecção de AHs na
planta foi feita por imunoflorescência, combinando anticorpos secundários de
cabra, IgG anti-coelho, marcados com isotiocianato de fluoresceína (FitC) e
anticorpos primários policlonais não purificado anti-AHs isolado de
vermicomposto.
2.1 Bioatividade de Substâncias húmicas

2.2 Perspectiva histórica

Vaughan e Malcoln fizeram, em 1985, uma revisão brilhante sobre a cronologia

do estudo do efeito das substâncias húmicas sobre a fisiologia das plantas. Aqui é feito

um breve resumo desse artigo.

Por mais de 8000 anos, o homem tem considerado que as terras de coloração

escura são normalmente mais produtivas e que a coloração e a produtividade estão

associadas à presença de matéria orgânica proveniente da decomposição dos resíduos de

plantas ou animais. Conta uma famosa lenda que o rei Augeas de Elis possuía um curral

com 3 mil cabeças de gado. Por trinta anos, o curral nunca fora limpo. O legendário

Hércules se dispôs a limpar o curral numa única noite. O rei Augeas, considerando

impossível tal proeza, concordou em pagar o equivalente a 10% de seu rebanho pela

tarefa. Hércules desviou o rio Alpheus para dentro do curral dispersando todo o esterco.

Então, o rei usou a perda do precioso material como uma das razões para não pagar a

dívida. Homero, na Odisséia, escrita provavelmente entre 800 e 900 antes de Cristo,

menciona a fertilização das vinhas com esterco. Teofrasto (372-287 A.C.) recomendava

o uso abundante de esterco nos solos enfraquecidos. Além desses, há uma série de

outros relatos do uso da matéria orgânica desde a Antigüidade, seja em fatos históricos

ou em contos mitológicos (Tisdale & Nelson, 1966).

Aristóteles é sempre mencionado como o primeiro a sugerir que as plantas

deveriam absorver seus alimentos na mesma forma que os animais. No século XVII,

muitos estudiosos consideravam que as plantas poderiam absorver seus nutrientes

orgânicos diretamente do solo. A utilização direta do húmus pelas plantas (A teoria do

húmus) foi enunciada originalmente por Thaer, que, no início do século XIX, indicou

que “o húmus compreende uma porção mais ou menos considerável do solo e a


fertilidade do solo depende dele; além da água, o húmus é o único material capaz de

fornecer nutrientes para as plantas”. Apesar da Teoria do Húmus de Thaer ter sido

amplamente disseminada, foi na mesma época que também surgiu a maior crítica sobre

o papel do húmus na fertilidade do solo. De Saussure foi o responsável pela descoberta

de que as plantas podem sintetizar substâncias orgânicas a partir de CO2 atmosférico e

água. Também o papel dos elementos inorgânicos na nutrição das plantas foi descrito

por Liebig, que formulou, em contraposição à Teoria do Húmus, a Teoria da Nutrição

Mineral de Plantas: “a produção das culturas no campo aumenta ou diminue na exata

proporção em que aumentam ou diminuem a quantidade de substâncias minerais que

podem ser liberadas do esterco”. Embora a controvérsia entre as duas teorias ainda

tenha perdurado, ao longo dos anos, a teoria da nutrição mineral de plantas mostrou-se

inequícova e tem sido a mais defendida na literatura especializada.

Numa série de 15 artigos para a Academia Real Inglesa, publicados entre 1912 e

1921, Bottomley chegou à conclusão de que as substâncias húmicas aumentavam o

crescimento de Lema major, Salvinia natans e Limobium stoloniferum em solução de

cultivo. Ele cunhou a denominação de auximônios para a fração bioativa da matéria

humificada. Bottomley (1917) considerou que os auximônios poderiam regular o

crescimento das plantas. Foram publicados, nessa mesma época, os primeiros relatos

sobre os hormônios vegetais. Idéias muito semelhantes às de Bottomley foram

defendidas por Hillitzer, Chaminade e Boucher. Seguindo uma outra linha de

pensamento, Olsen pregava que as substâncias húmicas promoviam o crescimento das

plantas por tornarem os micronutrientes mais solúveis e mais disponíveis para a

absorção celular. O caso clássico estudado por Olsen em 1930 foi o aumento da

absorção de ferro pelas plantas, que inspirou, mais tarde, os trabalhos de Pinton et al.

(1997; 1999b), Mohamed et al. (1998), Cesco et al. (2000), Agnolon et al. (2002),
Nikolic et al. (2003) e Chen et al. (2004). A forma absorvida pelas plantas é FeII e

Olsen demonstrou que as substâncias húmicas têm poder redutor suficiente para

transformar FeIII em FeII. Além disso, Lieske (1931) sugeriu que as substâncias

húmicas também poderiam alterar a permeabilidade das membranas das plantas através

de sua ação surfactante aumentando a capacidade de absorção de nutrientes. A ação

detergente das substâncias húmicas e o conseqüente aumento da fluidez das membranas

é ainda advogada até hoje como um dos principais efeitos das substâncias húmicas no

metabolismo celular (Visser, 1985; Visser, 1987a e 1987b; Samson & Visser, 1989;

Varanini et al., 1993).

Na seqüência, desenvolveremos uma discussão crítica dos resultados e

interpretações dos trabalhos mencionados acima, os quais têm constituído a base do

conhecimento geralmente aceito e descrito na literatura científica que versa sobre a

influencia das substâncias húmicas no metabolismo e crescimento das plantas.

2.3 Efeitos indiretos das substâncias húmicas sobre o crescimento das plantas

O condicionamento das propriedades do solo pela matéria orgânica, via de regra,

proporciona melhores condições de cultivo. Esta influência global das substâncias

húmicas sobre a macro e a microestrutura dos solos, a qual proporciona benefícios para

a atividade biológica, é conhecida como o efeito indireto da matéria orgânica

humificada sobre o crescimento vegetal. Existe uma série muito grande de evidências

experimentais que asseguram que as substâncias húmicas (SH) participam de reações

importantes que ocorrem na interface solução – parte sólida do solo, influenciando a

fertilidade através da liberação de nutrientes, da detoxificação de elementos químicos,

na formação de estrutura, ou seja, da melhoria das condições químicas, físicas e


biológicas do solo (Canellas et al., 1999). O Quadro 1 resume alguns dos principais

efeitos da matéria orgânica humificada sobre as propriedades do solo.

2.4 Efeitos diretos das substâncias húmicas sobre o metabolismo das plantas

As substâncias húmicas podem afetar diretamente o metabolismo das plantas

através de mecanismos ainda não muito claros. O efeito das substâncias húmicas sobre

o metabolismo das plantas foi resumido por Nannipieri et al. (1993) como resultado (i)

da influência positiva sobre o transporte de íons, facilitando a absorção; (ii) do aumento

da respiração e da velocidade das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, resultando em

maior produção de energia metabólica sob a forma de ATP; (iii) do aumento no

conteúdo de clorofila; (iv) do aumento da síntese de ácidos nucléicos; (v) do efeito

seletivo sobre a síntese protéica e (vi) do aumento ou inibição da atividade de diversas

enzimas. Todavia, as moléculas húmicas dotadas de bioatividade e seus alvos celulares

bem como as vias sinalizadoras primariamente envolvidas nessas respostas não foram

ainda elucidadas.
Quadro 1. Propriedades gerais das substâncias húmicas e efeitos causados no solo

Propriedade Substâncias húmicas Efeitos no solo


Apresentam coloração Interferem no matiz e no
Cor variando de amarelo até croma do solo; retenção de
escuro calor
Podem reter água até 20 Proteção contra erosão;
Retenção de água vezes a sua massa armazenamento de água no
solo
União de partículas Cimentam partículas do Formação de estrutura no
sólidas solo formando agregados solo; porosidade do solo;
densidade do solo
Formam complexos Detoxificação de íons
específicos (Cu++, Mn++, tóxicos (Al+++), aumentam
Complexação
Zn++, Al+++) e não mobilidade de íons
específicos (Ca++, Cd++)
Devido à sua associação Pouca matéria orgânica é
Insolubilidade em água com argilas e sais de perdida com a água de
cátions di e tri valentes percolação
Têm função tamponante ajudam a manter o
Efeito tampão em amplos intervalos de equilíbrio da solução do
pH solo
A acidez total das frações Responsáveis pela
Troca de íons isoladas do húmus varia de capacidade de troca de
300 a 1400 cmolesc kg-1 cátions e de ânions no solo
A decomposição da Fornecimento de nutrientes
matéria orgânica libera para o crescimento das
Mineralização
íons e moléculas (CO2, plantas
+ - -3 -2
NH4 , NO3 , PO4 e SO4 )
Adaptado de Rocha & Rosa (2003)

2.5 O papel da H+-ATPases na nutrição e crescimento celular

Em função de seu papel central no processo de nutrição e proteção celular e por

ser a barreira que comunica o citoplasma com a rizosfera, é evidente que a membrana

plasmática deveria ser um dos alvos primários da ação das substâncias húmicas. Neste

contexto, evidências experimentais crescentes têm sugerido que o monitoramento da

atividade das bombas de prótons nesta membrana poderia ser utilizada para avaliar a

bioatividade das substâncias húmicas.


A H+-ATPase de membrana plasmática exerce um papel central no crescimento

das células vegetais e em sua nutrição mineral. Essa enzima funciona como uma bomba

de H+ acionada pela hidrólise de ATP, sendo responsável pelo transporte primário de

prótons (H+) do interior da célula para o apoplasto e, conseqüentemente, pela formação

do gradiente de H+ gerado através da membrana plasmática. Este gradiente de H+

energiza o transporte secundário de íons e outros metabólitos contra um gradiente de

concentração. Vários íons dos principais micro e macro-nutrientes vegetais se

encontram em concentrações nano ou micromolares nos solos e precisam ser

transportados para o interior celular, onde estão centenas de vezes mais concentrados.

Para isto, existem na membrana plasmática várias proteínas transportadoras específicas

capazes de acoplar a dissipação do(s) componente(s) elétrico e/ou químico do gradiente

de H+ gerado pelas bombas ao co-transporte dos H+ com estes íons.

De fato, o principal papel imputado à H+-ATPase de membrana plasmática na

fisiologia das plantas sempre foi o de ativar o transporte secundário de íons

(Sondergdard et al., 2004). A absorção de íons da solução do solo pode acontecer contra

ou a favor de um gradiente de concentração e, em qualquer dos casos, o gradiente de H+

pode exercer forte influência, quer seja energizando o transporte ativo através de

transportadores tipo simporte, uniporte ou antiporte, quer seja regulando a abertura e o

fechamento de alguns canais responsáveis pelo transporte passivo de íons (Figura. 3).

Além dos íons, o gradiente eletroquímico de H+ também fornece a energia necessária

para o transporte de alguns compostos orgânicos (Maathuis et al., 2003). Um exemplo

já bem caracterizado é o do transportador de sacarose envolvido no transporte de açúcar

do apoplasto para os vasos do floema (Morsomme & Boutry, 2000)


Teoria do Crescimento Ácido

H+ CELULOSE

AH / AUXINA
+ + ++
- - - -
EXPANSINA

HEMICELLULOSE

H2O

ânions ATP ADP + Pi

cátions

uniport simport antiport

Figura 3. Representação esquemática da H+-ATPase de membrana plasmática. A


atividade de hidrólise de ATP gera de 3 a 5 moles de H+ que, transportados em
outro domínio da mesma enzima, gera gradiente de prótons necessário para i)
energizar o transporte de íons e ii) diminuir o pH do apoplasto (condição para
ação das expansinas e conseqüente afrouxamento da parede celular).

Também existem várias evidências que indicam que as respostas das plantas a

diversos estresses ambientais, tais como o a tolerância à salinidade e ao estresse hídrico,

estão relacionadas com a ativação dos sistemas de transporte primários e secundários.

Para prevenir a acumulação excessiva de sais no citoplasma, as plantas desenvolveram

os mais variados tipos de mecanismos, parte destes envolvendo a expressão diferencial

de transportadores específicos. Uma resposta imediata ao acúmulo de um sal ou de

outro agente potencialmente citotóxico na célula consiste, basicamente, na exclusão

deste do citoplasma por meio de sua compartimentalização no vacúolo ou sua extrusão


para o exterior celular. No caso específico do estresse salino, a super- expressão do

antiporte Na+/H+ tanto na membrana plasmática quanto na vacuolar (tonoplasto) parece

ser fundamental para o desenvolvimento da tolerância. Adicionalmente, tem se

evidenciado que o processo também envolve a ativação dos transportadores primários

de H+ presentes nestas membranas. A abertura e o fechamento dos estômatos também é

energizado pelas H+-ATPases das membranas plasmáticas e dos vacúolos das células

guardas que mantêm e regulam um fluxo massivo, bidirecional de íons e de água através

de transportadores e de canais específicos que controlam a pressão de turgor destas

células e, conseqüentemente, a função estomática.

As H+-ATPases também exercem um papel central na regulação do pH celular, o

qual, na maioria das espécies, permanece constante dentro de uma estreita faixa de pH

(7,0 a 7,5), independente do estádio fisiológico da célula vegetal ou do estresse a que

está submetida. Apesar de saber-se relativamente pouco sobre o mecanismo de ação das

H+-ATPases nesta regulação, vários experimentos têm demonstrado que o pH

citoplasmático varia de acordo com o estado de ativação das H+-ATPase e com a

modulação da expressão dos genes que as codificam. Enquanto o pH celular é mantido

acima de 7,0, o pH ótimo para a atividade da H+-ATPase de membrana plasmática fica

entre 6,0 e 6,5. Assim, qualquer acidificação do citoplasma pode ativar esta enzima,

aumentando a extrusão de H+ e contribuindo para a alcalinização do citoplasma.

Entretanto, também foi observado em pêlos radiculares de alfafa que mudanças pontuais

da atividade da H+-ATPase não provocaram mudanças no pH do citoplasma.

Obviamente, existem outros controles na regulação do pH celular e muitos caminhos

metabólicos e de transporte que envolvem H+, tornando difícil uma idéia clara de como

essa regulação é feita.


Não obstante, um dos fenômenos que têm sido mais relacionado com a

bioatividade das substâncias húmicas corresponde à acidificação da parede celular

causada pela ativação da H+-ATPase de membrana plasmática. Esse evento é tido como

o evento inicial da expansão celular. Esse mecanismo é conhecido como teoria do

crescimento ácido (Rayle & Cleland, 1992) e está associado com a ação da auxina, um

hormônio vegetal que ativa a H+-ATPse por diversos mecanismos, entre eles a indução

da síntese de H+-ATPse modulada por genes Mha1 e Mha2 (Frias et al., 1996). A

acidificação do apoplasto seguida da elogamento celular é também ativada pela

fusiccocina (uma toxina fúngica) que, reconhecidamente, estimula a H+-ATPase. De

acordo com a teoria do crescimento ácido, a acidificação do apoplasto leva ao

rompimento de ligações da parede celular promovendo sua elasticidade, enquanto a

hiperpolarização da membrana plasmática aumenta a absorção de K+ (por meio da

energização de transportadores). Essa absorção provoca mudanças no potencial

osmótico da célula, permitindo influxo de água através das membranas mediado pelas

aquaporinas, favorecendo, assim, o crescimento celular (Morssome e Boutry, 2000).

Esse breve resumo do trabalho de Morssome e Boutry (2000) deixa claro o papel

central dessa enzima na adaptação da planta ao ambiente.

As primeiras evidências de que as bombas de prótons membranares estariam

envolvidas no aumento da absorção de nutrientes na presença de substâncias húmicas

foi obtida por Varanini et al. (1993) que obtiveram uma evidência direta da interação

entre substâncias húmicas de baixo peso molecular e H+-ATPase de membrana

plasmática. Nesse estudo foi usado um surfactante (brij58) e postulado que o aumento

da permeabilidade da membrana poderia ser responsável pela maior capacidade de

absorção de nutrientes proporcionada pela presença de substâncias húmicas em solução

tem sido justificada por um hipotético aumento da permeabilidade da membrana


plasmática por meio da ação surfactante das substâncias húmicas e a ativação da H+-

ATPase de membrana plasmática (Varannni et al., 1993). Nessa linha de argumentação,

há vários estudos que sugerem uma analogia entre a ação fisiológica das substâncias

húmicas e a ação dos surfactantes. Os dois grupos de substâncias exercem algum efeito

sobre o crescimento das plantas. Visser (1985) sugeriu que o resultado da atividade de

superfície das substâncias húmicas teria como alvo principal às membranas celulares,

uma vez que os surfactantes aumentam a fluidez da membrana, diminuindo a coesão

entre os componentes da membrana. Esse fenômeno resulta num aumento da

permeabilidade da membrana plasmática e na diminuição da temperatura na qual ocorre

a transição da matriz lipídica entre as fases líquida e sólida. O mesmo autor, utilizando

células de batata, estudou a ação de dipalmitoil fosfatidicolina (DPPC) e de ácidos

húmicos. A concentração de 40 mg AH L-1 de solução foi suficiente para aumentar o

efluxo de K+ da célula. A explicação para o fenômeno dada por Visser (1987a) inclui o

aumento da permeabilidade da membrana celular. Reconhecidamente, os agentes

surfactantes, que apresentam superfície ativas, aumentam a permeabilidade de

membranas biológicas (Visser, 1985; 1987b; Samson & Visser, 1989). Entretanto, seria

improvável que o aumento da permeabilidade da membrana plasmática e a dissipação

do potencial transmembranar possam induzir qualquer efeito benéfico sobre as plantas.

O controle da permeabilidade celular está intimamente relacionado à manutenção da

seletividade da membrana plasmática, fator fundamental para a manutenção da

homeostase celular. Em outras palavras, com a perda da seletividade, o aumento do

fluxo de íons através da membrana leva, invariavelmente, à perda do equilíbrio químico

da célula e de sua funcionalidade.

A Figura 4 mostra claramente a ação de ácidos húmicos adicionados ao meio de

reação contendo vesículas enriquecidas de membrana plasmática e ATP como substrato


para reação de hidrólise e geração de H+ + Pi + ADP. É observada uma forte ação

depletora na atividade da enzima in vitro com o aumento da concentração de ácidos

húmicos na solução de reação, provavelmente pela ação surfactante mencionada acima.

Café Milho

100
100
90
90
80
80
70
70
A.E. (%) 60
60
A.E. (%) 50
50
40
40
30
30

20 20

10 10

0 0
0 5 10 20 40 50 100 0 5 10 20 40 50 100

ÁCIDOS HÚMICOS (mg/ L) ÁCIDOS HÚMICOS (mg/ L)

Figura 4. Ensaio in vitro da ação dos AH sobre a atividade específica (A.E.) sensível à
vanadato (expressa em porcentagem) da H+ ATPase de membrana plasmática
isolada de raízes de café e milho controle (i.e. crescidas sem ácidos húmicos).
O meio de reação consistiu de 50 mM Mops-tris pH 6,5, 100 mM KCl, 3 mM
MgSO4, 1 mM ATP, 0,05 mg.mL-1 de proteína e concentrações crescentes dos
ácidos húmicos extraídos de vermicomposto (o) e de lodo da estação de
tratamento de esgoto (●).

A ativação das bombas de H+ pelas substâncias húmicas isoladas de

vermicomposto foi observada por Nardi et al. (1991), que verificaram aumento na

hidrólise de ATP pela H+-ATPase da fração microssomal obtida de raízes de milho.

Ensaios in vivo, com plântulas de milho tratadas com substâncias húmicas solúveis em

água isoladas de turfas, também mostraram a estimulação da atividade da H+-ATPase

associada a um aumento na absorção de NO3- (Pinton et al., 1999). Por outro lado, Nardi
et al. (2000) encontraram forte inibição da H+-ATPase também obtida de microssomos

de raízes de milho, porém tratado com substâncias húmicas de baixo peso molecular

extraídas do horizonte superficial de um solo de região de clima temperado.Tal

discrepância foi relacionada às diferenças encontradas nas concentrações e na natureza

química das substâncias húmicas testadas. A maioria dos trabalhos sobre bioatividade

de substâncias húmicas tem se concentrado nas frações solúveis em água e/ou de baixo

peso molecular porque essas substâncias poderiam acessar mais facilmente possíveis

receptores na superfície da membrana plasmática ou no interior da célula (Vaughan &

Malcolm, 1985).

Canellas e Façanha (2004) observaram um forte estímulo no transporte de

prótons através de vesículas enriquecidas de membrana plasmática isoladas de raízes de

milho por substâncias húmicas isoladas das camadas superficiais de um Argissolo

Amarelo em avançado estádio de intemperismo em comparação com as substâncias

húmicas isoladas das camadas mais profundas. Além disso, foi observado que o

estímulo no transporte de H+ e no crescimento de raízes de plântulas de milho foi maior

para ácidos húmicos do que para os ácidos fúlvicos (Quadro 2).

Foi encontrada uma correlação matemática significativa entre o estímulo no

transporte de H+ e a relação E4/E6 determinada pela razão entre a absorbância em 465

nm e 665 nm (Figura 5). Esse índice está diretamente relacionado com a agregação das

substâncias húmicas (Kononova, 1982). Quanto menor a relação, maior a

hidrofibicidade da substância húmica e o grau de agregação das unidades no

arranjamento supra-estrutural. A mesma relação foi encontrada quando comparado o

efeito da bioatividade de ácidos húmicos isolados de solos com estádios diferentes de

intemperismo. Ácidos húmicos com valores de E4/E6 mais elevados foram isolados de

solos mais intemperizados e apresentaram maior acidez total e carboxílica (Latossolo


Amarelo > Luvissolo Crômico> Argissolo Vermelho Amarelo). Ácidos húmicos

isolados dos Chernossolos e do Neossolo Litólico apresentaram valores menores de

E4/E6 e de acidez total e carboxílica.

Quadro 2. Efeito de ácidos fúlvicos e húmicos isolados de diferentes profundidades


de um Argissolo Amarelo sobre a área e o transporte de H+ em vesículas
isoladas da preparação microssomal de raízes de plântulas de milho.
Área superficial Velocidade inicial do
Amostra Profundidade
radicular transporte de H+
(m) (mm2) % min
Ácidos Húmicos

Controle - 28,81 C* 3,8


AH-1 0,00-0,05 36,44 BC 14,0
AH-2 0,05-0,10 58,76 A 16,0
AH-3 0,10-0,20 38,22 BC 11,0
AH-4 0,20-0,40 46,49 AB 8,0
Ácidos Fúlvicos

AF-1 0,00-0,05 47,06 AB 8,0


AF-2 0,05-0,10 37,29 BC 5,2
AF-3 0,10-0,20 34,92 BC 11,5
AF-4 0,20-0,40 32,04 C 0,0

F - 4,87** -
CV - 25,6 -
médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey P <
0,05.(**) significativo a P < 0.01.

O efeito de uma solução de 20 mg C de ácidos húmicos L-1 sobre o crescimento

radicular de plântulas de milho é apresentado no Quadro 3. Os diferentes ácidos

húmicos promoveram estímulos na massa seca, área superficial e no número de sítios de

mitose e de raízes laterais emergidas em comparação com o tratamento controle


(solução de CaCl2 2 mmol L-1 sem os ácidos húmicos). Após o período do ensaio (sete

dias de exposição das plântulas) foi possível observar incrementos entre 237% e 395%

para massa radicular, de 89% a 378% para área superficial, de 35% a 162% para o

número de sítios de mitose e entre 14% e 108% para o número de raízes emergidas. O

aumento do desenvolvimento radicular promovido pelos ácidos húmicos está dentro de

uma faixa já observada por Vaughan & Malcolm (1985) e por Chen & Aviad (1990).

Foi possível estabelecer uma relação inversa e significativa entre a razão E4/E6

dos ácidos húmicos e os incrementos de massa seca (r2= 0,70 p<5%) e de área radicular

(r2=0,74 p<5%) (Figura 5). A correlação entre a E4/E6 e a soma do número de sítios de

mitose mais o de raízes laterais já emergidas foi, também, inversa e significativa (y= -

0,0195 x + 12,516; r2= 0,82 p<1%).

10
AF4
9
AF2
8 AF1
AF3
E4/E6 7 AH4

6 R2 = 0,92**
AH3
5
AH1
4 AH2

3 R2 = 0,99**
2
0 100 200 300 400
+
estímulo no transporte de H (%)

Figura 5. Relação entre o estímulo no bombeamento de H+ em vesículas da


prepraração microssomal isoladas de plântulas de milho tratadas com ácidos
húmicos (AH) e fúlvicos (AF) isolados em diferentes profundidades de um
Argissolo Amarelo (0,00-0,05; 0,005-0,10; 0,10-0,20; 0,20-0,40 m).
Provas adicionais da ação de substâncias húmicas sobre a H+-ATPase de

membrana plasmática e a absorção de nutrientes foram obtidas através do estudo do

efeito de substâncias húmicas sobre a absorção de nitrato. A principal via para o

transporte desse nutriente é um processo ativo que envolve o co-transporte com íons H+.

Sabe-se, também, que altas taxas de absorção de nitrato freqüentemente ocorrem

paralelamente à elevação dos níveis de expressão da H+-ATPase na membrana

plasmática e de sua atividade. Este é o caso descrito para a ação de substâncias húmicas

de baixo peso molecular sobre raízes de milho, onde se demonstrou que ocorre um

aumento na capacidade de absorção de nitrato associada a um aumento na expressão da

H+-ATPase de membrana plasmática (Quaggiotti et al., 2004).

Quadro 3. Bioatividade dos ácidos húmicos isolados de uma seqüência típica de solos
do Rio de Janeiro avaliada através da promoção do crescimento radicular e
sobre a atividade de hidrólise do ATP da fração microssomal de plântulas de
milho crescidas em meio mínimo de CaCl2 2 mmol L-1 (controle) e 20 mg C
de AH L-1.
Tratamentos massa seca área superficial Hidrólise de ATP

2
µmol de Pi mg Proteína-1
g m
min-1
Controle 0,019 d 0,009 d 0,86 + 0,014 (100%)
AH-1 0,064 c 0,019 cd 2,46 + 0,037 (286%)
AH-2 0,079 abc 0,024 bc 1,40 + 0,049 (163%)
AH-3 0,090 ab 0,043 a 4,40 + 0,076 (511%)
AH-4 0,087 ab 0,032 ab 3,67 + 0,037 (427%)
AH-5 0,071 bc 0,017 cd 2,69 + 0,042 (312%)
AH-6 0,094 a 0,041 a 5,24 + 0,113 (609%)

Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (teste de Duncan a 5%).

Luvissolo Crômico Pálico abrúptico (AH-1), Argissolo Vermelho Amarelo Distrófico

(AH-2), Chernossolo Argilúvico Órtico vértico (AH-3), Chernossolo Rêndzico


Saprolítico típico (AH-4), Latossolo Amarelo Coeso típico (AH-5) e Neossolo Litólico

Eutrófico típico (AH-6)

2.6 Mecanismos de ativação da H+-ATPase de membrana plasmática pelas


substâncias húmicas

Os trabalhos acima mencionados explicitam a notória estimulação que as

substâncias húmicas, especialmente ácidos húmicos e fúlvicos, exercem sobre o

desenvolvimento de raízes de plântulas e sua possível associação com a indução da

expressão da enzima que representa o sistema primário de transporte de H+ da

membrana plasmática e, conseqüentemente, da hidrólise de ATP e do transporte de H+,

estudados, principalmente, em vesículas microssomais. O aumento na atividade das

bomba de H+ parece favorecer a indução da emissão de pêlos radiculares, de raízes

laterais finas, o que resultaria, principalmente, no aumento na área superficial do

sistema radicular (Figura 6). A teoria baseia-se num processo onde grupamentos com

atividade auxínica, presentes na composição estrutural dos substâncias húmicas,

sensibilizariam receptores específicos na membrana plasmática, desencadeando cascatas

de sinalização que culminariam com a ativação da transcrição dos genes que codificam

para isoformas específicas da H+-ATPase de membrana plasmática, as quais seriam

superexpressas na superfície das células radiculares (Canellas et al., 2002). Essa

hipótese foi confirmada no trabalho de Quaggiotti et al. (2004). Isto promove o aumento

do gradiente eletroquímico de H+ através da membrana, ativando os sistemas

secundários de transporte de íons (estimulação da nutrição) e a acidificação e

conseqüente aumento de plasticidade da parede celular (teoria do crescimento ácido),

condições estas que dariam suporte à profusão dos pêlos radiculares e à indução de

raízes laterais (Figura 6).


Figura 6. Efeito do tratamento de raízes de plântulas de cana-de-açúcar (A), milho (B) e
tomate (C) com 20 mg C de AH isolado de vermicomposto. O tratamento com
ácidos húmicos induz a formação de sítios de mitose nas raízes e,
posteriormente, o número de raízes laterais emergidas.

Todavia, permanecem ainda pendentes várias questões que envolvem o

mecanismo de ativação das bombas de H+ pelos ácidos húmicos. E uma das principais

questões diz respeito à dificuldade de identificação das moléculas bioativas

responsáveis pela sensibilização dos receptores. Através da cromatografia de exclusão

por tamanho em gel de sephadex, foi observado uma mudança drástica no perfil de

distribuição das faixas de tamanho dos agregados húmicos após o contato da solução de

ácidos húmicos com o sistema radicular tanto de plântulas de milho como de café

(Figura 7)
A A
0.5 0.5
depois
0.45 0.45

Ab 0.4 0.4
sor depois
Ab
vâ 0.35 sor 0.35
nci vâ
a 0.3 nci 0.3
em a
25 0.25 em 0.25
25
0
0
nm 0.2 nm
0.2
antes
0.15 0.15
antes
0.1 0.1

0.05 0.05

0 0
0 10 20 30 40 50 60 0 20 40 60
Volume de eluição (mL) Volume de eluição (mL)

Figura 7. Cromatografia de exclusão por tamanho da solução de ácidos húmicos a pH


5,5. AHVantes: ácidos húmicos isolados de vermicomposto antes do
crescimento das plântulas de milho; AHV depois: ácidos húmicos isolados do
vermicomposto depois do crescimento de plântulas de milho. AHLantes:
ácidos húmicos isolados de lodo da estação de tratamento de esgoto antes do
crescimento das plântulas de milho; AHL depois: ácidos húmicos isolados de
lodo da estação de tratamento de esgoto depois do crescimento de plântulas de
milho. (Adaptado de Façanha et al., 2002).

As substâncias exsudadas pelas raízes de milho parecem modificar a distribuição

e/ou conformação dos componentes de ambos os ácidos húmicos testados neste ensaio.

Foi postulado por Piccolo et al. (1999) que os ácidos húmicos são formados por uma

mistura heterogênea de pequenas moléculas reunidas num arranjo supramolecular

estabilizado por forças relativamente fracas (ligações do tipo van de Waals, π-π, CH-π).

Essas ligações podem ser quebradas reversivelmente na presença de baixas

concentrações de ácidos orgânicos (Nardi et al., 2000; Cozzolino et al., 2001). Vários

ácidos orgânicos são exsudados pelas raízes de várias plantas que podem mobilizar

subunidades estruturais das SH, resultando na alteração observada do perfil


cromatográfico de exclusão das amostras (Piccolo, 2002). É possível que pelo menos

algumas dessas subunidades possuam atividade hormonal tais como os grupamentos

auxínicos detectados nos derivados metilados de ácidos húmicos (Muscolo et al., 1998;

Canellas et al., 2002). Um esquema representativo ilustrando essa hipótese é mostrado

na Figura 8.

Figura 8. Esquema representativo da ruptura do arranjamento supra-estrutural dos


ácidos húmicos em decorrência da ação de ácidos orgânicos. Pequenas
subunidades estruturais podem ser portadoras de atividade química específica
para estimular o metabolismo de plantas como, por exemplo, grupamentos
similares à auxina detectados através da cromatografia gasosa – espectrometria
de massas. A e B cromatograma e espectro de massas de 1,3 ácido indol
acético respectivamente, C e D correspondem ao cromatograma e espectro de
massa do pico assinalado pela seta obtido de ácido húmico isolado do
vermicomposto.
Essas subunidades funcionais, uma vez dissociadas da molécula base dos ácidos

húmicos, poderiam acessar receptores na superfície ou no interior das células das raízes

desencadeando processos que culminariam com o estímulo do desenvolvimento

radicular das plântulas. Ou seja, parece existir um dialogo envolvendo a troca

bidirecional de substâncias interativas, onde exsudatos radiculares interagem com a

matéria orgânica do solo liberando moléculas bioativas, as quais, por sua vez, interagem

com as células radiculares promovendo alterações fisiológicas complexas. Evidências

experimentais têm sugerido que pelo menos uma dentre estas moléculas liberadas das

substâncias húmicas apresenta similaridades estruturais a/ou funcionais com

fitohormônios como a auxina. Tal descoberta está de acordo com os vários relatos na

literatura sobre a atividade hormonal semelhante à auxina exibida por várias substâncias

húmicas, incluindo ácidos húmicos (Bottomley, 1917; Hillitzer, 1932; Chaminade &

Boucher, 1940; Paszewski et al., 1957; O´Dobmel 1973; Cacco & Dell´Agnola, 1984;

Dell´Agnola & Nardi, 1987; Nardi et al., 1988; Piccolo et al., 1992; Muscolo et al.,

1993; Muscolo et al., 1998; Canellas et al., 2002; Quaggiotti et al., 2004). O efeito do

crescimento de raízes na presença de ácidos húmicos e de inibidores de transporte

(TIBA) e de receptores (PCIB) de auxinas é mostrado na Figura 9.


A B C D
Figura 9. Crescimento radicular de plântulas de milho controle (A), na presença de 20
mg C ácidos húmicos L-1 (B) e de ácidos húmicos com inibidores de auxinas;
C: inibidor de transporte (TIBA), D: inibidor não específico de receptores
(PCIB).

A interação dos ácidos húmicos deve ocorrer via receptores específicos e não

diretamente com a H+-ATPase, pois devido a evidências experimentais, os ácidos

húmicos não parecem responder pela ativação dessa enzima porque in vitro, a adição de

ambos AH ao meio de reação promoveu a inibição da atividade ATPásica (Figura 6). As

atividades da H+-ATPase exibidas no Quadro 3 e 4 foram obtidas de vesículas de

membrana plasmática que se formaram durante o fracionamento celular com a face

citoplasmática exposta ao meio (inside-out vesicles). Logo, parece que a hipótese mais

plausível é que moléculas de AH ou suas subunidades interajam com receptores na

superfície celular, que, por sua vez, transmitiriam um sinal para dentro da célula,

desencadeando a ativação da H+-ATPase.


Esses resultados são o alicerce da hipótese onde a H+-ATPase de membrana

plasmática figura como um dos principais alvos moleculares envolvidos na ação dos

ácidos húmicos sobre o crescimento das plantas. Essa enzima é o principal sistema de

transporte ativo de H+ da membrana plasmática, exercendo forte efeito sobre a

regulação do pH do apoplasto (Morsomme & Boutry, 2000). A acidificação do

apoplasto é uma pré-condição para o aumento da plasticidade da parede celular e a

conseqüente elogamento da célula vegetal. Esse fenômeno tem sido associado à ação do

fitormônio auxina, promovendo ativação da H+-ATPase através de mecanismos que

ainda não foram completamente elucidados (Rayle & Cleland, 1992). Portanto, o

aumento do desenvolvimento radicular em resposta ao tratamento com AHL e AHV

pode estar relacionado à estimulação da atividade da H+-ATPase de membrana

plasmática observada nas preparações de vesículas extraídas de plântulas tratadas com

ácidos húmicos Esse estímulo parece resultar de uma superexpressão da enzima na

membrana plasmática evidenciada pela maior quantidade de H+-ATPase detectada

imunologicamente nas vesículas isoladas (Figura 10).


Figura 10. Diferença no conteúdo de H+-ATPase de membrana plasmática em
preparações de raízes tratadas (+) ou não (-) com 20 mg C de ácidos húmicos
isolados de vermicomposto separadas em gel de SDS-PAGE a 7,5%. O
Western blot foi realizado utilizando-se anticorpos contra H+-ATPase de
membrana plasmática de Nicotiniana plumbaginifolia para identificar esta
enzima nas preprarações de vesículas de membrana plasmática de raízes de
milho. (Adaptado de Canellas et al., 2002).

Esse dado reforça a idéia de um envolvimento direto dos grupamentos auxínicos

dos AH (Figura 8) na ativação da H+-ATPase, uma vez que já foi demonstrado que a

incubação de tecidos de milho com auxina induz um aumento do número de H+-

ATPases expressas na membrana plasmática (Frias et al., 1996).

Comparativamente, foram observadas diferenças significativas entre os AH no

estímulo da atividade hidrolítica da H+-ATPase de membrana plasmática. Tanto nos

experimentos com café como com plântulas de milho, os AH isolados de lodo de esgoto

(AHL) estimularam mais a atividade da H+-ATPase de membrana plasmática do que os

isolados do vermicomposto (AHV) (Figura 11). O gradiente de H+ gerado pela ATPase


nas vesículas isoladas de raízes de milho tratadas com AHL foi maior do que o das

tratadas com AHV, consistente com o efeito fisiológico observado no crescimento

radicular (Figura 9). Outra possibilidade seria um acoplamento entre o estímulo da

atividade da H+-ATPase e o aumento do transporte de nutrientes que, por sua vez,

resultaria em estímulo do crescimento da planta (Pinton et al., 1999).

Figura 11. Transporte de H+ através de vesículas enriquecidas com membrana


plasmática isolada de raízes de milho tratadas com ácidos húmicos (a e b) e
controle (linha tracejada). O aumento no transporte de H+ corresponde ao
decréscimo na intensidade de fluorescência da sonda ACMA. A seta aponta
adição do protonóforo (FCCP) permeabilizando as membranas para H+ dissipar
o gradiente eletroquímico.

Foi postulado previamente que ácidos fúlvicos poderiam dissipar o potencial

elétrico da membrana plasmática e que também promoveriam aumento gradual na


permeabilidade da mesma a nutrientes. Contrário a essa hipótese, apesar de ambos os

efeitos promoverem de fato aumento da atividade ATPásica in vitro, seria improvável

que os mesmos possam proporcionar qualquer efeito benéfico sobre a célula vegetal

intacta, uma vez que o potencial elétrico e a permeabilidade seletiva das membranas são

características indispensáveis para a homeostase, a sinalização e a integridade celular.

A ação das substâncias húmicas sobre as bombas de H+ membranares representa

um efeito geral sobre o metabolismo energético celular e aponta para uma ação

sinalizadora múltipla dos ácidos húmicos envolvendo vários processos metabólicos.

A matéria orgânica humificada, além de condicionar todas as propriedades do

solo, contribui diretamente para a adaptação das plantas ao meio de cultivo.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (471910/2003-1), FAPERJ (E26/170.526/2004) e International

Foudation of Science (IFS grants # c3391-1; C/3483-1) pelo apoio financeiro.


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CAPÍTULO 8

ORIGEM DO ÓXIDO NÍTRICO EM PLANTAS E SEU PAPEL

COMO SINALIZADOR DE ESTRESSES

Jose R Magalhaes1, Luzia V Modolo2, Sonia R de Souza3, Luciano freschi4, Marcel


G C França5, Filomena LIM Silva1

1
Embrapa Gado de Leite - 36038-330 Juiz de Fora MG; 2Plant Biology Division, Samuel
Roberts Noble Foundation, 2510 Sam Noble Parkway, Ardmore, OK 73401, USA; 3Dep.
Química-Bioquímica-UFRRJ, BR465 km7, 23890-000 Seropédica RJ; 4Dep. Botânica, IB,
USP, 05508-900 São Paulo SP; 5Dep. Botânica, ICB, UFMG, Av. Antônio Carlos, 31270-
901 Belo Horizonte MG

SUMÁRIO

1. Introdução........................................................................................................................... 335

2. Química e Bioquímica do Óxido Nítrico........................................................................... 337

33. Produção de Óxido Nítrico em Algas, Fungos e Bactérias ............................................. 338

4. Produção de Óxido Nítrico via Nitrato Redutase em Plantas............................................ 340

5. Estimativa da Capacidade da Nitrato Redutase para a Formação de Óxido Nítrico ........ 342

6. Papel do Oxido Nítrico no Desenvolvimento Vegetal e Estresse Ambiental .................. 343

7. Novas fronteiras da Nitrato Redutase e a produção de Óxido Nítrico em Plantas............ 347

8. Considerações finais.......................................................................................................... 351

9. Referências ....................................................................................................................... 353

1
Resumo

O óxido Nítrico (NO) é um radical livre gasoso altamente reativo com outros

átomos ou moléculas que contêm elétrons não emparelhados. Em animal, o NO é

sintetizado pela enzima NO sintase (NOS). No entanto, vários estudos indicam que células

vegetais possuem outras vias de produção de NO alem daquela mediada pela NOS,

destacando-se a redução enzimática de nitrito (NO2-). Os primeiros estudos com mutante

duplo de Arabidopsis thaliana nia1 nia2 defectivo para nitrato redutase (NR), indicaram a

produção de NO através da atividade desta enzima. A NR teria um papel chave como fonte

de NO2- para as atividades produtoras de NO. A origem do NO2- depende da atividade NR a

partir da redução de NO3-, e a produção de NO derivada de NO2- é dependente de uma

atividade redutora mitocondrial. Em todos os sistemas vegetais estudados por Planchet et

al. (2005), a emissão de NO foi exclusivamente devido à redução do NO2- a NO. A

concentração do NO2- é o fator limitante e o transporte mitocondrial de elétrons seria a

principal fonte de energia para a redução do NO2- a NO. Este capítulo focaliza os

conhecimentos atuais dos mecanismos para a produção de NO em plantas, em resposta a

condições de estresse.

2
1. INTRODUÇÃO

O NO é um radical livre gasoso que reage rapidamente com outros átomos ou

moléculas que contêm elétrons desemparelhados, tendo uma meia vida de menos de 10

segundos na presença de oxigênio (Lancaster Jr., 1992; MeBmer et al., 1994). O NO é

produzido como um poluente do ar pela atividade industrial, tendo um papel chave na

química dos gases atmosféricos. A oxidação do NO por radicais de peróxido de hidrogênio

(H2O2) levam à formação do radical hidroxila (OH), dióxido de nitrogênio (NO2) e à

produção fotoquímica de O3 na troposfera. Assim, o NO é importante para o equilíbrio de

radicais na atmosfera e para a geração de foto-oxidantes (Wildt et al., 1997).

O NO é também produzido por vários componentes da biosfera, incluindo bactérias,

fungos, plantas e animais. Devido ao crescente interesse do papel do NO na fisiologia

humana, este radical livre tem despertado grande atenção como composto sinalizador no

desenvolvimento das plantas e nas interações planta-patógeno. Por se tratar de uma

molécula pequena e com característica lipofílica, o NO facilmente se difunde através de

membranas biológicas sem precisar de um transportador (Leshem, 1996). Uma das suas

principais funções na célula é a ativação da enzima guanilato ciclase que converte

guanosina trifostato (GTP) gerando um segundo mensageiro a guanosina-3',5'-monofosfato

cíclica (cGMP) (Moncada, 1998). Comparado à grande quantidade de referências para o

NO em células animais e humanas, os estudos da sua produção e função em plantas são

ainda escassos (Delledonne et al. 1998; Durner et al. 1998; Kim et al. 1998; Magalhaes et

al. 1999; 2000; 2005). O primeiro relato da produção de NO em plantas aconteceu há mais

de 30 anos (Klepper, 1975). Entretanto, foi somente a partir de 1998 que o papel deste

radical livre como sinalizador no desenvolvimento de planta e em interações planta-

3
patógeno foi evidenciado, causando grande impulso nas pesquisas com NO em plantas. Um

conhecimento detalhado dos processos que estão potencialmente envolvidos na síntese de

NO e sua regulação é de fundamental importância para a elucidação do papel deste radical

de nitrogênio em plantas sob condições de estresse.

Em animais, o NO é sintetizado a partir da L-arginina através de uma oxidação

complexa catalisada pela NOS (EC 1.14.13.39) (Ignarro, 1996). A enzima NOS catalisa a

oxidação da L-arginina a L-citrullina com formacao de NO, num processo dependente de

oxigênio e NADPH. Esta reação requer no mínimo outros cinco cofatores, incluindo flavina

adenina dinucleotideo (FAD), flavina mononucleotideo (FMN), tetrahidrobiopterina (H4B),

heme, cálcio e calmodulina. Em células de mamífero, várias isoenzimas da NOS foram

isoladas, purificadas, clonadas, e seqüenciadas (Tzeng e Billar, 1996). De maneira geral,

tais isoenzimas são formadas por proteínas altamente conservadas (Stuehr, 1997; Lin et al.,

1996; Marletta, 1999;). Vale destacar que existem diferentes reações possíveis para

produção de NO in vivo independente da NOS. Estas reações incluem: a redução do NO2- a

NO sob condições ácidas; oxidação da arginina por H2O2; a redução do NO2- catalisada

pela xantina oxidase (XO) em condições de anoxia (Zhang et al., 1998). A Reducao de

NO2-, catalisada por nitrito redutase microbiana seria uma outra fonte de NO sendo que em

vegetais a produção deste radical livre também pode ocorrer por vias independentes de ação

enzimática. NO pode ser produzido em cloroplastos através da conversão fotoquímica de

dióxido de nitrogênio (NO2), mediada por carotenóides (Cooney et al., 1994). Ainda, a

produção de NO a partir de NO2- foi observada em camadas de aleurona de cevada devido

às condições de acidez do espaço apoplástico (Bethke et al., 2004).

Em plantas, foram descritas atividades do tipo NOS (Delledonne et al., 1998;

Durner et al., 1998; Ribeiro et al., 1999; Modolo et al., 2002). Alem da atividade do tipo
4
NOS, é largamente conhecido que plantas adubadas com NO3- podem gerar NO através da

ação da enzima nitrato redutase [NAD(P)H-NR] como um subproduto da assimilação de

nitrogênio. Inicialmente este mecanismo parecia ser restrito a NR constitutiva (Dean e

Harper, 1988; Klepper, 1990). Porém, evidências que a NR induzida também pode produzir

NO são descritas (Yamasaki et al., 1999; Magalhaes et al., 2000). Este capítulo focaliza o

conhecimento da NR concernente à produção de NO em plantas sob condições de estresse.

2. QUÍMICA E BIOQUÍMICA DO ÓXIDO NÍTRICO

A química do NO envolve a disposição de formas redox inter-relacionadas: cátions

de nitrosônium (NO+), oxido nítrico (NO•), e ânion nitrosil (NO-). É fundamental para o

conhecimento da bioquímica do NO•, compreender as propriedades e reatividades químicas

de NO+, NO•, e NO-. Sem dúvida os compostos nitrosos e nitrosil são amplamente

estudados. Dentre estes compostos destaca-se S-nitrosoglutationa, um nitrosotiol produzido

como forma de armazenamento de NO•. Alem disso, a reação entre o grupamento sulfidrila

(-SH) da glutationa com NO• parece ser um recurso utilizado pela célula para aumentar a

eficiência de transporte deste radical livre ao seu sítio de ação (Gaston, 1999). S-

nitrosoglutationa comercial é amplamente utilizada como uma molécula doadora de NO•

para o estudo do papel deste radical de nitrogênio em plantas. Um exemplo de composto

nitrosil também amplamente utilizado como doador de NO• em modelo de planta é o

nitroprussiato de sódio (SNP). Ao contrário da S-nitrosoglutationa, o SNP é um composto

inorgânico que apresenta um átomo de ferro ligado a cinco grupos CN- e um grupo NO.

Apesar disso, sabe-se que o NO• pode interconverter nas diferentes formas redox, já citadas

e que apresentam características químicas distintas.

5
A forma neutra NO• tem um único elétron em seu orbital 2P-π . A neutralidade de

carga do NO• facilita sua livre difusão em meio aquoso e através da membrana celular. A

reação do NO• com O2 em fase gasosa ou solução aquosa é um processo complexo que

acontece na seguinte ordem [NO•] [K (NO•)2(O2)]. Assume-se que a meia-vida biológica do

NO•, esteja na ordem de grandeza de segundos, dependendo criticamente da sua

concentração inicial (Stanler a al., 1992).

3. PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO EM ALGAS, FUNGOS E


BACTÉRIAS

O NO é formado via nitrato redutase (NR), não somente em plantas superiores

(Magalhaes et al., 2000), mas também em algas (Mallick et al., 1999; Sakihama et al.,

2002), em fungos (Takaya, 2002) e em bactérias, (Baumgärtner et al., 1991; Zhang et al.,

1998). A produção do NO foi observada em algas como Chlamydomonas reinhardtii

(Sakihama et al. 2002), Scenedesmu, Anabaena doliolum, e Synechoccocus (Mallick et al.,

1999). Experimentos com inibidores de fotossíntese (DCMU), de síntese de ATP (2,4-

DNP) e o arsenato, revelaram que a inibição da assimilação do NO2- no plastídio está

conectada com a emissão de NO.

Desta forma destaca-se a uma relação linear entre concentração de NO2- no meio de

cultura e a produção de NO. Ausência de crescimento de Scenedesmus, quando se substitui

no meio de crescimento o metal molibdênio (Mo) por tungstênio (W), com conseqüente

redução na síntese de NO/NO2- em picos de luz ou no escuro indicam que a NR funcional

(que contem um centro metálico de Mo) é necessária para a produção de NO2- e NO num

meio de crescimento suplementado com NO3- como fonte de nitrogênio. Além disso, o

6
papel da NR na emissão de NO destaca-se pelo aparecimento de pico de NO imediatamente

após a suplementação de NO2- no escuro em meios de culturas no qual utiliza-se W

(Mallick et al. 1999).

A produção de NO foi também estudada em algas verdes unicelulares

Chlamydomonas reinhardtii utilizando técnicas amperométricas e um eletrodo específico

para NO. A L-arginine, o substrato para NOS sintase, não induziu a produção de NO, e o

inibidor de NOS N-nitro-L-arginina não teve efeito na produção de NO dependente de NO2.

Uma Chlamydomonas mutante deficiente de atividade da NR não mostrou quaisquer das

respostas observadas nas células selvagens. Estes resultados obtidos in vivo diretamente

confirmam as evidências que a NR está envolvida na produção de NO a partir de NO2- em

algas verdes (Sakihama et al., 2002).

No fungo Fusarium oxysporum a via de desnitrificação do NO3- é catalisada pelas

reações seqüenciais da NR e da nitrito redutase (NiR). Essas enzimas estão acopladas com

a geração de ATP pela cadeia respiratória e produção de NO. A óxido nítrico redutase do

fungo utiliza NADH como doador direto de elétron em contraste aos sistemas bacterianos, e

assim pode funcionar na regeneração de NAD+ e detoxificação do radical tóxico, NO.

Outras vias podem reduzir NO3- a amônio (NH4+), acoplando reações acetogênicas com

fosforilação em nível de substrato. Este mecanismo também é característico de uma

variedade de fungos e a via metabólica é chamada de fermentação de amônia (Takaya,

2002).

Em bactérias, durante a oxidação de NH4+ a NO3-, quantidades significativas de NO

são produzidas e o NO2- é acumulado. Por outro lado, a nitrificarão e a liberação de NO são

detectadas somente em pH neutro. A aplicação de nitrapirina inibe tanto a oxidação de

NH4+ como a produção de NO. A produção de NO pode também ser detectada em amostras
7
de rochas que contêm Nitrosomonas ou Nitrosovibrio, mas não em amostras contendo

somente a Nitrobacter. A maior parte da produção de NO pela corrosão das rochas é

atribuída à bactéria nitrificadora que oxida amônia (Baumgärtner et al., 1991).

Sob condições de hipoxia o NO pode também ser formado por outros mecanismos

independentes de NOS e NR. A redução do NO2- a NO pela xantina oxidase (XO) foi

estudada sob hipoxia, uma vez que nitrato/nitrito reductases bacteriana tem semelhança

estrutural a XO. A xantina oxidase presente no tecido catalisa a redução do NO2- a NO.

Esta reação redox também requer NADH como doador de elétron, e é independente de

oxigênio (Zhang et al., 1998).

4. PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO VIA NITRATO REDUTASE EM


PLANTAS

A produção de NO pelas células vegetais tem sido estudada basicamente com os

mesmos métodos utilizados na pesquisa animal, descritos por Kojima et al. (1998).

Recentemente mostramos que a produção de NO em células vegetais pode ser visualizada

usando uma sonda específica, diaminofluoresceina diacetato (DAF-2DA), e que o NO

induz apoptose em plantas (Magalhaes et al., 1999; 2000; 2005). A produção de NO in vitro

por soluções enzimáticas foi quantificada utilizando métodos amperométricos (Yamasaki,

2000) e a emissão de NO na atmosfera a partir de plantas ou órgãos vegetais, foi medida

pela detecção de quimioluminescência (Rockel et al., 2002). A emissão de NO em várias

espécies vegetais foi observada em tanque-reator, e a ligação entre a emissão de NO e

absorção de CO2 (3x10-6 mol de NO emitido por mol de CO2 absorvido) permitiram

8
estimar o potencial das plantas para evolução de NO em uma escala global de 0.23 Tg ano-

1 de N (Wildt et al., 1997).

Estudos anteriores indicam que as células vegetais possuem uma via de produção de

NO dependente de NO2-, distinta das reações mediada pela NOS. A nitrato redutase (NR,

EC 1.6.6.1-3), uma enzima bifuncional, pode reduzir NO3- a NO2- [NO3- + NAD(P)H + H+

NO2- + NAD(P)+ + H2O] ou NO2- a NO [2 NO2- + NAD(P)H + H+ + 2 NO + NAD(P)+ 2

OH-], porem este último processo em uma menor taxa de conversão. A produção de NO

pelas plantas foi inicialmente observada por Klepper (1975) em soja tratada com herbicidas

inibidores de fotossínteses e outros compostos químicos, como também sob condições

anaeróbias no escuro (Klepper, 1990). Em seguida, a produção de NOx pelas plantas foi

confirmada e a nitrato redutase constitutiva dependente de NAD(P)H era responsável pela

evolução de NOx (Dean e Harper, 1988; Klepper 1990).

Mais recentemente, medições eletroquímica, fluorométrica e quimioluminescência

in vitro mostraram que o NO pode também ser produzido por NR purificada de milho ou

por NR na presença de NO3- ou NO2- e NADH em pH 7 a partir de extratos brutos foliares

dessalinizados (Yamasaki, 2000; Yamasaki e Sakihama, 2000; Rockel et al., 2002). A

produção de NO pode ser inibida por azida sódica, um conhecido inibidor de NR

(Yamasaki, 2000). Além disso, uma NR ligada à membrana plasmática acoplada a NO2-:

NO redutase em vesículas de membrana de raízes de tabaco também mostraram produção

de NO (Stöhr et al., 2001).

A utilização de inibidores da NOS não contribuiu para a redução da emissão de NO

em folhas de Arabidopsis (Magalhaes et al., 2000; Rockel et al., 2002). Novas evidências

para a produção de NO dependente da NR foram obtidas através do uso de mutantes duplos

nia (Tabaco ou Arabidopsis), que não possuem atividade NR. Essas plantas não produziram
9
NO, tanto por medições por cromatografia gasosa (494±57 e 000±00 nL.gfw-1.h-1 em planta

selvagem e mutante nia1/nia2 respectivamente) (Magalhaes et al., 2005), quanto por

quimioluminescência (Rockel et al., 2002). Experimentos utilizando NO3- marcado com


15
N mostraram a produção de 15NOx evidenciando, de maneira inequívoca, que os óxidos de

nitrogênio foram formados a partir de NO3- (Dean e Harper, 1988).

5. ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DA NITRATO REDUTASE PARA A


FORMAÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO

Extratos de folhas contendo NR ou NR purificada, na presença de NAD(P)H,

produziram NO a partir de NO3-. Substituindo-se o NO3- por NO2-, a produção de NO

iniciou-se imediatamente (Yamasaki 2000; Rockel et al., 2002), indicando que o NO2- é o

real substrato, e que a produção de NO à partir do NO3- requerer a formação e acúmulo de

NO2-. A produção de NO não foi observada na ausência de NAD(P)H ou de NR, e foi

completamente inibida por azida sódica que interrompe o fluxo de elétron para a atividade

da NR (Yamasaki, 2000).

O valor de KM da NR (purificada a partir de folha de milho) para o NO2- foi

relativamente alto (100 µM) para a formação de NO quando comparado à concentração de

NO2- em folhas sob condições de luz (10 µM). NO3- foi um inibidor competitivo (Ki=50

µM) neste processo. A capacidade máxima, in vitro, da NR para formação de NO a partir

do NO2- e NAD(P)H é de aproximadamente 1% da capacidade de redução do NO3- (até 0.2

µmol g-1 pf-1 h-1 com NR de espinafre) e foi detectada por quimioluminescência (Rockel et

al., 2002). Taxas similares in vitro foram obtidas utilizando detecção amperométrica

(Yamasaki, 2000).

10
As taxas de emissão de NO por girassol (Helianthus annuus L.) ou por folhas de

espinafre, medidas por quimioluminescência, foram freqüentemente muito baixas (Rockel

et al., 2002). Em girassol, os valores observados foram de 0,05 ηmol g-1.pf-1.h-1 no escuro

até 0,5 ηmol g-1.pf-1.h-1 na presença de luz As mais altas taxas de emissão de NO foram

obtidas no escuro sob anoxia, 200 ηmol g-1pf-1h-1 (Rockel et al. 2002). Plantas de

Arabidopsis intactas produziram até 20 ηmol de NO g-1 pf-1 h-1 na luz (Tabela 1).

Avaliando o conjunto dessas medidas a taxa máxima de emissão de NO pela NR in

vitro ou por plantas ou folhas representa apenas uma pequena percentagem da capacidade

da NR. Essas baixas taxas contrastam nitidamente com resultados anteriores de Klepper

(1990), que encontrou taxas de NO 100 vezes maior quase tão alta quanto a taxa de

produção, quase tão alto quanto a taxa de redução de NO3- (até 15 µmoles NO g-1pf-1h-1 sob

condições anaeróbicas no escuro). A razão para esta grande discrepância não é clara, mas

nas medidas efetuadas por Klepper (1990) as taxas muito altas podem estar baseadas em

uma insuficiente remoção de outros compostos gasosos emitidos pelas folhas os quais

podem também dar um sinal quimioluminescente.

6. PAPEL DO OXIDO NÍTRICO NO DESENVOLVIMENTO VEGETAL E


ESTRESSE AMBIENTAL

Os fatores que induzem estresse, tais como ataque de patógenos, ferimentos,

perturbações mecânicas, anaerobiose, seca, alagamento, esfriamento, congelamento,

estresse salino, metais pesados, ozônio, correntes elétricas, certos herbicidas, levam ao

estabelecimento do chamado estresse de etileno (Kacperska, 1997). O estresse de etileno

está relacionado ao NO como molécula sinalizadora em plantas (Magalhaes et al., 2000).

11
Como anteriormente observado, a emissão de NO por plantas é altamente variável.

Um exame mais detalhado mostra que emissão de NO varia grandemente com o estádio de

desenvolvimento da planta, intensidade luminosa e diferente tipo de estresse. Uma

tendência inversa para NO e emissão de etileno foi observada na fase da floração até o

inicio da senescência (Magalhaes et al., 2000). Quando as plantas entram em senescência, a

emissão de NO diminui. A relação inversa entre a emissão de etileno e NO sugere a

interação das duas vias de síntese, embora o mutante duplo nia1, nia2 defectivo para NR,

que não emite NO, produza etileno de modo similar à planta selvagem (Magalhaes et al.,

2000).

A seca e o alagamento reduzem drasticamente a emissão de NO (Magalhaes et al.,

2000). No entanto, anoxia em curto prazo ativa NR, leva ao acumulo de NO2- e altas taxas

de emissão NO pelas folhas e raízes (Rockel et al., 2002). Assim, tanto em curto quanto em

longo prazo a hipoxia e a anoxia podem ter diferentes efeitos na produção de NO pelas

raízes. Uma queda da atividade da NR também foi observada em condições de estresse

provocado pela seca (Garg et al., 1998).

A emissão de NO em função da intensidade luminosa é um processo complexo. A

emissão cai a valores próximos de zero nas primeiras duas horas de exposição à luz e então

aumenta drasticamente com o tempo e com aumento da intensidade luminosa, embora

tenha sido observada emissão de NO no escuro (Tabela 1). Nas primeiras duas horas do dia,

a intensidade luminosa na casa de vegetação é baixa (115 µol.m-2.s-1 em média). Isto

explica a queda até zero da emissão de NO e é consistente com experimentos em uma

câmara de crescimento com intensidade luminosa de 105 µol.m-2.s-1, onde NO não foi

produzido.

12
Diversos experimentos mostraram significativa variação diurna na emissão de NO.

Por esta razão, as medições de NO mais precisas quando feitas pelo menos há três horas

após as plantas serem expostas a luz (Tabela 1). Isto produz resultados consistentes e

comparáveis. A Tabela 1 mostra que plantas transferidas do escuro para baixa luminosidade

(105 µmol.m-2.s-1) não emitem NO durante 12 horas. Quando transferidas de 555 para 105

µmol.m-2.s-1, uma diminuição gradual foi observada nas primeiras 4 horas e então diminuiu

para próximo de zero por 12 horas. Quando as plantas foram transferidas de 555 µmol.m-
2 -1
.s para o escuro, a emissão de NO diminuiu gradualmente, mas uma considerável emissão

de NO foi observada ao fim de 12 horas. Após a transferência da luz para o escuro, Salalkar

et al. (1999) observaram que a atividade da NR nas folhas persistiu por algum tempo

durante a fase de escuro e então declinou gradualmente. Após a re-exposição à luz a

atividade da NR aumentou rapidamente de uma maneira bastante similar à emissão NO em

nossos estudos, respaldando a observação do paralelismo entre as taxas de NO, atividade da

NR e eventual concentração de NO2-. É também razoável atribuir a diminuição da emissão

de NO ao declínio da atividade da NR com a idade da planta (Anburaj e Francis, 1996; Lee

et al., 1998; Yu et al., 1998). A NR em alface mostrou pico de atividade 20 dias após o

plantio (Lee et al., 1998) em uma maneira similar à emissão de NO observada por

Magalhaes et al. (2000).

A nitrato redutase é uma enzima altamente regulada (Magalhaes et al., 2005). Tem

uma meia vida curta de algumas horas e sua indução requer NO3- e luz (fotossíntese). A

atividade da enzima pode ser diminuída em minutos por fosforilação de um resíduo de

serina conservado na região 1, e subseqüente ligação de uma proteína 14-3-3, o que inativa

a enzima. A fosforilação é um processo reversível e depende da presença de cátions

bivalentes. Uma vez desfosforilada, a enzima volta a sua atividade normal. A degradação
13
proteolítica da NR é acelerada quando a enzima está ligada a proteína 14-3-3 (Magalhaes et

al., 2005). In vitro, a NR é inativada por incubação com magnésio (Mg) e ATP,

eventualmente na presença de inibidores da fosfatase PP2A, que impedem a

desfosforilação. A pré-incubação com ATP também diminui a produção de NO dependente

de NO2-enquanto que a reativação da NR por desfosforilação aumenta a produção de NO

(Rockel et al., 2002).

Como mencionado anteriormente, a luz e altos níveis de CO2 ativam a NR, o que

também leva a altas taxas de emissão de NO. Isto também sugere que a modulação da NR

in vivo é acompanhada pela produção NO. Os tratamentos artificiais com conhecidos

ativadores da NR no escuro (quando a enzima está freqüentemente inativa) levam a alta

emissão de NO (que é também freqüentemente baixa no escuro). Ao lado da anoxia, essas

condições podem produzir desacopladores de análogos de 5'-AMP (5-aminoimidazol-4-

carboxiamida-1-ß-ribofuranosill 5'-monofosfato) entre outros. Quando a ativação da NR é

impedida pelo ácido okadaico, um inibidor das fosfatases, a emissão de NO é bloqueada

(Rockel et al., 2002). Estes resultados indicam, que a modulação da NR in vivo também

modula a emissão de NO.

Em interações planta-patógeno, uma das primeiras respostas após inoculação do

hospedeiro é a formação de espécies reativas de oxigênio (ROS). O ânion superóxido (O2-)

pode reagir rapidamente com NO levando à formação de peroxinitrito (ONOO-) que é

altamente tóxico, desencadeando prontamente a nitração de aminoácidos aromáticos como

a tirosina presente em muitas proteínas. De forma interessante, a NR também é capaz de

catalisar em baixas taxas a redução de oxigênio molecular a superóxido (Yamasaki, 2000).

A produção simultânea de superóxido e NO leva quase inevitavelmente à formação de

peroxonitrito. Mutantes de tabaco defectivas para nitrito redutase (NiR), mas com NR
14
normal acumulam NO2-, emitem altas quantidades de NO e têm um alto grau de nitração da

tirosina (Morot-Gaudry-Talarmain et al., 2002).

Enquanto as considerações anteriores estão focalizadas na formação de NO

dependente de NR, não deve ser negligenciada a atuação da NOS como uma fonte de NO

em plantas, Há indicações para a presença em plantas de uma atividade enzimática suposta

NOS (Delledonne et al., 1998; Durner et al., 1998; Ribeiro et al., 1999; Modolo et al.,

2002). Embora, nem o gene e nem uma proteína homóloga à NOS de mamíferos foram

isolados em plantas, recentemente, Guo et al. (2003) identificaram um gene de A. thaliana

(AtNOS1) que codifica uma proteína com atividade conversora de L-arginina em L-

citrulina com liberação de NO. AtNOS1 é uma proteína homóloga àquela responsável pela

síntese de NO em Helix pomatia (Huang et al., 1997).

7. NOVAS FRONTEIRAS DA NITRATO REDUTASE E A PRODUÇÃO DE


ÓXIDO NÍTRICO EM PLANTAS

A enzima nitrato redutase (NR; Ec: 1.6.6.1) é a mais estudada entres as possíveis

fontes de NO em planta (Magalhaes et al., 2005). A conversão de NO2- a NO poderia ser

atribuída à atividade da NR, como tem sido sugerido na literatura (Yamasaki e Sakihama,

2000; Rockel et al., 2002; Vanin et al., 2004). A produção de NO à partir da atividade da

NR ocorre em tecidos onde a concentração de NO2- é alta (Morot-Gaudry-Talarmain et al.,

2002; Rockel et al., 2002) e, em plantas transgênicas expressando a enzima NR

permanentemente ativada apresentam uma emissão de NO consideravelmente aumentada

(Lea et al., 2004).

15
Evidências espectroscópicas fornecem um estado intermediário em que o nitrosil-Fe

(II) siroheme é formado durante o ciclo catalítico da enzima nitrito redutase (NiR),

purificada a partir de cloroplastos de espinafre (Kuznetsova et al., 2004). Contudo, plantas

de tabaco contendo uma seqüência anti-senso para NiR (Morot-Gaudry-Talarmain et al.,

2004), bem como alga verde Chlorella sorokiniana (Tischner et al., 2004) acumulam NO2-

e, emitem uma quantidade elevada de NO. Em adição a NiR como uma possível fonte de

NO, uma enzima ligada à membrana plasmática também é proposta com atividade

conversora de NO2- (Stöhr et al., 2001).

Em todos os sistemas vegetais estudados por Planchet et al. (2005), a emissão de

NO foi exclusivamente devido à redução do NO2- a NO. A concentração do NO2- foi um

fator limitante e o transporte mitocondrial de elétron foi identificado como a fonte principal

para a redução do NO2- a NO. O NO está envolvido no controle de vários aspectos de

resistência da planta ao patógeno, crescimento, e desenvolvimento (Delledonne et al., 1998,

Garcya-Mata e Lamattina, 2003).

Uma enzima tipo NOS parece contribuir para a produção de NO durante a interação

planta-patógeno, convertendo L-arginina em L-citrulina (Delledonne et al., 1998; Modolo

et al., 2002; Zeidler et al., 2004). A produção de NO via atividade da enzima tipo NOS foi

relacionada com a sinalização de movimento de estômatos (Garcia-Mata e Lamattina,

2003). No entanto, a NR tem sido considerada também como a fonte do NO, em ambos

sistemas, na relação planta-patógeno (Yamamoto et al., 2003) e no controle dos estômatos

(Desikan et al., 2004).

Planchet et al. (2005) mostraram que as plantas ou suspensões de células sem NR

supridas com NO3- por curtos períodos de tempo nunca emitiam NO. Entretanto, quando

supridas com NO2-, as suspensões de células sem NR crescidas com amônio virtualmente
16
emitiam NO sob condições de anoxia quase nas mesmas taxas que as células com NR.

Assim, a NR é imprescindível para produção de NO, porque é a fonte do NO2-.

Como a alta produção de NO foi encontrada em folhas de mutante deficiente em

nitrito redutase (NiR), parece muito improvável que a própria NiR seja uma enzima fonte

para a produção de NO. Estudos baseados em inibidores e suspensão de células mostram

que a mitocôndria contribui para produção do NO a partir do NO2-, pelo menos nos casos

onde a enzima NR estava ausente. Confirmando isto, foi demonstrado que a mitocôndria

das plantas, assim como a de algas, reduzem o NO2- a NO sob anoxia (Planchet et al.,

2005).

A ação combinada dos inibidores mixotiazol e ácido salicilhidroxâmico (SHAM,

inibidor da oxidase alternativa) não causou inibição completa da produção de NO. Contudo,

produção de NO foi bloqueada na presença de KCN (inibidor da NR e outras enzimas

heme). Assim, quando não há nenhuma dúvida que todo o NO foi produzido

enzimaticamente, algumas reações sensíveis a cianeto ainda indefinidas parecem contribuir

de certa forma para formação de NO (Planchet et al., 2005). A oxidorreductase de NO2-,

detectada por Stöhr et al. (2001), pode ser uma candidata possível.

Em quase todos os sistemas estudados pelo grupo de Werner M. Kaiser, a produção

de NO foi fortemente inibida pelo oxigênio do ar. Assumiu-se originalmente que o NADH

do citosol poderia se tornar um fator limitante na presença do ar, pelo menos sob condições

em que o NO2- era elevado (em suspensões de células supridas com NO2-). Embora, as

determinações de piruvato/lactato sugerirem apenas um ligeiro aumento de NADH/NAD+

na luz em comparação com escuro. Além disso, mitocôndrias purificadas a partir de

suspensões de células não apresentaram quase nenhuma emissão de NO na presença de ar,

mesmo quando NO2- e NADH foram adicionados ao meio. A baixa produção aeróbica de
17
NO não poderia ser rastreada pela limitação substrato, e presentemente não temos nenhuma

explicação satisfatória para essa observação. Encontrou-se que 0.05% oxigênio era o

suficiente para uma inibição de 50% da emissão de NO das mitocôndrias purificadas de

raízes. Em contraste à mitocôndria, a emissão de NO a partir da atividade da NR purificada

foi bastante insensível ao ar (Planchet et al., 2005). Hemoglobina pode catalisar a oxidação

de NO, dependente de NADH, de volta a nitrito e nitrato (Igamberdiev e Hill, 2004). Tal

reação conduziria a uma produção de NO subestimada na presença do ar, mas não em

presença de nitrogênio. A que extensão esta reação contribui no sentido de retirar NO do

meio ainda é desconhecido.

Considerando a hipótese da produção mitocondrial de NO em células supridas com

NO2-, estudos com os inibidores SHAM e mixotiazol causaram inibição quase completa da

emissão de NO de células sem NR, sob anoxia, uma inibição de 57% em células crescidas

com NO3- e baixa emissão de NO em mitocôndria purificada. Quando o NO2- foi suprido no

escuro sob o anoxia, a folha do mutante nia deficiente para NR emitiu muito pouco NO

(abaixo de 0.3 ηmol g-1 FW h-1), embora em folhas do material selvagem com NR houve

emissão de NO 100 vezes maior (50 ηmol g-1 FW h-1) (Planchet et al., 2005).

Sob condições de anoxia, o NO2- é acumulado em todos os tecidos (ou é liberado ao

meio) que contem NR e NO3-. Este acúmulo de NO2- sob anoxia tem duas razões: uma é a

bem conhecida ativação da NR, provocada provavelmente pela acidificação celular; a

segunda é a queda na taxa de redução do NO2- do plastídio (Planchet et al. 2005). Com a

utilização de suspensão de células NR-deficientes nia supridas com NO2-, observou-se que

a redução deste anion sob anoxia foi aproximadamente 25% daquela na presença do ar. Os

plastídios não-verdes ou cloroplastos no escuro produzem NAD(P)H através do ciclo da

18
pentose fosfato oxidativa (OPP). Sob o anoxia, os níveis de ATP e do açúcar fosfatado são

muito baixos, eventualmente insuficientes para abastecer o ciclo da OPP. Vale especular se

a redução do NO2- a NO sob anoxia, onde se acumula NO2-, pode representar uma

“respiração do nitrito”. Entretanto, as taxas medidas da produção de NO em condições de

anoxia são muito baixas, demasiadamente distantes para serem consideradas relevantes

para a produção de energia (Planchet et al. 2005).

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No passado, o grande foco dado aos estudos da nitrato redutase se dava ao papel

desta enzima no metabolismo de nitrogênio, enquanto que sua habilidade para produzir NO

não era considerada. Embora o NO tenha se mostrado um importante mediador em vários

processos fisiológicos ou relacionados com estresse, pouco se conhece a respeito de sua

origem nestes sistemas. Compreender a relevância da contribuição de todas as possíveis

fontes de NO em plantas, bem com a localização subcelular de sua produção, torna-se

essencial para um melhor entendimento de quais enzimas estariam relacionadas a um

processo fisiológico e/ou de estresse.

Como o NO pode ser originado a partir de diferentes vias, cada uma delas poderia

ser regulada independentemente bem como interações entre elas poderiam ocorrer. Um

exemplo dessa interação seria a produção de NO a partir de NO2- com relevante

contribuição de ambas, NR e mitocôndria conforme discutido neste capitulo. Alem disso,

vale ressaltar que o NO formado via atividade NR poderia refletir na sinalização em

resposta a nutrição, intensidade luminosa e fotossínteses. Os efeitos fisiológicos do NO

sugerem um potencial papel-chave para este radical livre como uma molécula sinalizadora

19
em situações adaptativas e a emissão de NO também pode ser utilizada como indicador

para fatores que provocam estresse em plantas.

20
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28
Legendas

Table 1. Emissão de NO em Arabidopsis, em função da intensidade e tempo da

exposição de luz. Plantas de quatro semanas de idade foram submetidas aos diferentes

regimes de luz, transferindo as plantas de 555 para 105 µmoles.m-2.s-1; de 555 µmoles.m-
2 -1
.s para escuro; do escuro para 105 µmoles.m-2.s-1 (em câmara do crescimento) e a

transferência do escuro para casa de vegetação 555 µmoles.m-2.s-1 ou completa luz do sol

1500 µmoles.m-2.s-1. NO foi medido no tempo zero, 2; 4; 6; 8 e 12 h com quatro repetições.

Os resultados são apresentados nL.gfw-1. h-1± erro padrão da media.

Tabela 1
Regime de Luz 0h 2h 4h 8h 12 h

555 para 105 µmol.m-2.s-1 503±62 187±24 172±23 89±12 1.79±0.20


555 µmol.m-2.s-1 - Escuro 503±62 492±47 477±42 425±41 232±24
Escuro - 105 µmol.m-2.s-1 264±24 00±00 00±00 00±00 00±00
Escuro - 555 µmol.m-2.s-1 264±24 00±00 278±27 667±57 543±62

29
NITROGÊNIO

Sonia R. Souza1 e Manlio S. Fernandes2

1 Departamento de Química, UFRRJ


2 Departamento de Solos, UFRRJ

SUMÁRIO
1 O NITROGÊNIO NA NATUREZA........................................................................................... 363
2 ABSORÇÃO DE NITROGÊNIO PELAS PLANTAS............................................................... 364
2.1 A absorção de Amônio (NH4+) ......................................................................................... 367
2.1.1 Transportadores de Amônio..................................................................................... 369
2.2 Absorção de Nitrato (NO3-).............................................................................................. 371
2.2.1 Transportadores de Nitrato....................................................................................... 374
2.3 Absorção de nitrogênio orgânico por plantas ................................................................. 375
3 REDUÇÃO DO NITRATO.................................................................................................... 376
3.1 Nitrato Redutase (NR) ..................................................................................................... 377
3.2 Nitrito Redutase (NiR) ..................................................................................................... 379
4 ACÚMULO E REMOBILIZAÇÃO DO NITRATO................................................................ 379
5 ASSIMILAÇÃO DO AMÔNIO ................................................................................................. 383
5.1 Glutamina Sintetase (GS)................................................................................................. 385
5.2 Glutamato Sintase (GOGAT)............................................................................................. 386
5.3 Glutamato Desidrogenase (GDH)........................................................................................ 387
6 VISÃO GERAL DO METABOLISMO DE NITROGÊNIO ................................................... 390
7 TOXIDEZ DE NH4+ EM PLANTAS ......................................................................................... 391
8 REMOBILIZAÇÃO DE NITROGÊNIO.................................................................................... 395
8.1 Senescência ..................................................................................................................... 395
8.2 Enchimento dos Grãos .................................................................................................... 398
9 Referências.............................................................................................................................. 400

1
1 O NITROGÊNIO NA NATUREZA

O nitrogênio (N) é um dos elementos minerais requeridos em maiores quantidades pelas


plantas e o que mais limita o crescimento. Ele faz parte de proteínas, ácidos nucléicos e muitos
outros importantes constituintes celulares, incluindo membranas e diversos hormônios vegetais. Sua
deficiência resulta em clorose gradual das folhas mais velhas e redução do crescimento da planta,
sendo que inicialmente, em detrimento das reservas da parte aérea a planta promove um
alongamento do sistema radicular, como uma tentativa de buscar o nutriente (Figura 1).

Figura 1. Folhas e raízes de plantas de arroz cultivadas em solução nutritiva com 0,1 e 0,5 mM de
N-NO3- ou sem nitrogênio.

O nitrogênio molecular (N2) representa 78% dos gases de nossa atmosfera, entretanto, a
despeito dessa abundância há uma escassez desse nutriente em formas disponíveis para as plantas, o
que pode ser explicada pela extraordinária estabilidade do N2 que, ao contrário de outras moléculas

2
diatômicas, como O2, NO ou CO, praticamente não é passível de reações químicas em condições
naturais.
A ligação dos átomos da molécula de N2 é curta (1,098Å), o potencial de ionização é de 15,6
eV, e a energia de dissociação é de 224,5 kcal. Os elétrons do nitrogênio molecular estão em
orbitais de baixa energia, e o mais elevado orbital molecular efetivamente preenchido é um orbital
σ, no centro da molécula. Nestas condições, a reatividade química da molécula é extremamente
baixa. Chatt e Leigh (1968) observaram: “Não existe nenhum agente oxidante que seja
suficientemente forte para oxidar nitrogênio em condições ambientais, nem mesmo fluoreto.
Nenhum agente redutor que seja suficientemente forte para reduzir o nitrogênio molecular pode
existir em meio aquoso, porque a água seria preferencialmente reduzida, produzindo hidrogênio”.
Existe um aporte de nitrogênio aos solos através do arraste, pela chuva, dos óxidos de
nitrogênio produzidos na atmosfera por descargas elétricas. Entretanto, a maior parte do nitrogênio
disponível nos solos para a nutrição de plantas é obtida através de fixação biológica, um processo
complexo que envolve a enzima nitrogenase presente em bactérias. A decomposição dessas plantas
fixadoras contribui para a disponibilidade de nitrogênio mineral para as outras culturas. Embora a
simbiose bactéria-leguminosa seja o principal sistema responsável pela fixação de N2, observou-se
que a fixação biológica de nitrogênio também pode ocorrer na rizosfera de gramíneas. A fixação de
N2, tanto simbiótica quanto associativa é abordada no capítulo 6 neste volume.
Os estudos do nitrogênio em plantas indicam uma tendência para o máximo de economia,
através de complexo sistema de absorção, assimilação e remobilização desse nutriente nos tecidos
vegetais, de modo a evitar desperdícios. O desenvolvimento desses mecanismos, através de
processos de seleção, indica uma progressiva adaptação das plantas a condições ambientais
caracteristicamente deficientes em nitrogênio.

2 ABSORÇÃO DE NITROGÊNIO PELAS PLANTAS

O nitrogênio está disponível no solo em diversas formas, incluindo amônio, nitrato,


aminoácidos, peptídeos e formas complexas insolúveis. As espécies vegetais diferem na sua
preferência por fontes de N, mas o absorvem principalmente sob formas inorgânicas como nitrato
(NO3-) ou amônio (NH4+) (Williams & Miller, 2001).
O nitrato absorvido pode ser reduzido a amônio, através da ação seqüencial das enzimas
Nitrato redutase e Nitrito redutase. O NO3- também pode ser acumulado no vacúolo ou exportado
para outras partes da planta. O transporte para as folhas ocorre via xilema, embora a redistribuição a
partir das folhas para outros órgãos ocorra predominantemente na forma de aminoácidos, via
3
floema. Essa redistribuição é essencial para suprir os tecidos que não participam na assimilação de
N.
O amônio absorvido ou o proveniente da redução do nitrato é imediatamente incorporado
em esqueletos de carbono preferencialmente através das enzimas da via Glutamina sintetase-
Glutamato sintase (GS-GOGAT). Tanto a redução do NO3- quanto a assimilação do NH4+ requerem
energia na forma de ATP e poder redutor como o NADH, o NADPH e a Ferredoxina reduzida, bem
como esqueletos de carbono derivados do ciclo de Krebs, como o α-cetoglutarato. Esses processos
drenam tanto esqueletos de carbono quanto energia e doadores de elétrons, competindo com o
metabolismo do carbono.
Quando ocorre a assimilação do N nas raízes, aminoácidos são transportados para as folhas
via fluxo transpiratório, pelo xilema (Marschner et al., 1995). O N também pode ser transportado
através da membrana plasmática de certas células, em outras formas tais como peptídeos menores e
as bases purinas e pirimidinas e seus derivados (Gillissen et al., 2000).
Na natureza, as concentrações de amônio e de nitrato podem variar grandemente em função
de inúmeros fatores inerentes a características físicas, químicas e biológicas do solo. As plantas
desenvolveram ao longo de sua história evolutiva, em suas membranas celulares proteínas
transportadoras que permitem a aquisição desses nutrientes a partir de concentrações bastante
variáveis.
As plantas absorvem o NO3- e o NH4+ em processos dependentes de energia. Há uma bomba
de prótons na plasmalema, P-H+ATPase, que hidrolisa ATP, bombeando H+ para fora da célula, o
que cria um gradiente de potencial eletroquímico, que é composto do potencial elétrico através da
membrana (∆Ψ) e da diferença de potencial químico para o ion NH4+ ou NO3- (∆µNH4+ ou ∆µNO3-)
entre o interior e o exterior da célula (ver capítulo 5 neste volume). O gradiente de prótons gera uma
força próton motriz, direcionando os H+ do exterior da célula para o citossol. O gradiente de
potencial eletroquímico contribui favoravelmente para a entrada de cátions na célula, enquanto que
os ânions são absorvidos acompanhando o fluxo de prótons. Deste modo, a absorção do NH4+ é
passiva, e acontece através de um transportador do tipo uniporte, enquanto a absorção do NO3- é um
processo ativo secundário, em simporte com 2 H+ (Figura 2).

4
Figura 2. Absorção de nitrato (NO3-) e amônio (NH4+) através da membrana plasmática. (1) Bomba
de prótons (P-H+ATPase); (2) Transportador de NO3- (simporte) =; (3) Transportador de
NH4+ (uniporte). ∆Ψ (potencial elétrico através da membrana); ∆µNH4+ ou ∆µNO3-
(respectivamente, diferença de potencial químico para o ion NH4+ ou NO3-, entre o interior e
o exterior da célula)

As proteínas transportadoras de NO3- ou NH4+ podem ter maior ou menor afinidade pelo íon
transportado, deste modo, eles formam nas plantas os sistemas de absorção que são denominados
de: sistema de transporte de alta afinidade (HATS – High affinity transport system) ou sistema de
transporte de baixa afinidade (LATS – Low affinity transport system).
A concentração de 1mM de NH4+ ou NO3- pode, de modo geral, ser tomado como um limite
de concentração abaixo do qual opera o sistema de alta afinidade (HATS), e acima do qual opera o
sistema de baixa afinidade (LATS):

5
Os transportadores de NO3- do sistema de alta afinidade são passíveis de indução (iHATS),
embora exista também um sistema de alta afinidade constitutivo (cHATS). Os sistemas de
transporte de NO3- de baixa afinidade (LATS) são todos constitutivos.
Os sistemas de transporte de NH4+ também são de alta afinidade (passíveis de indução) e de
baixa afinidade (constitutivos).
A indução dos genes que codificam para as proteínas transportadoras de NO3- do sistema
iHATS, é estimulada pela presença de NO3- no meio, enquanto que os sistemas transportadores de
NH4+ são induzidos pela ausência de NH4+ no meio externo.
As proteínas transportadoras de NH4+ são codificadas por uma família multigênica, e
apresentam ampla variação de padrões de cinética de absorção, este fato demonstra a plasticidade
das plantas, para a aquisição de formas reduzidas de N, que devem ter sido abundantes durante certo
período na evolução das plantas superiores.
Por outro lado, a existência de transportadores constitutivos na faixa do LATS e passíveis de
indução na faixa do HATS, pode sugerir uma gradual, porém contínua, adaptação a condições
ambientais caracterizadas pela passagem da predominância de formas reduzidas para formas
oxidadas de N e uma progressiva redução na disponibilidade de N mineral em ambientes de terra
firme. Dentro dessa linha de raciocínio, é de se esperar que plantas adaptadas a ambientes de baixa
disponibilidade natural de nutrientes, especialmente N, acionem com maior facilidade sistemas de
transporte de alta afinidade.

2.1 A absorção de Amônio (NH4+)

Evidências indicam que o íon amônio (NH4+) é a forma absorvida pelas plantas e não o gás
amônia (Ludewig , 2002). A amônia (NH3) é uma base fraca (pK = 9,25), deste modo, como o
citossol tem em média pH 7,2, aproximadamente todo o N-amoniacal neste compartimento está na
forma protonada de NH4+ .
A absorção de NH4+ é feita por um sistema bifásico. Quando os níveis de NH4+ no meio
externo (solução nutritiva ou solução do solo) são baixos opera um sistema de absorção de alta
afinidade (HATS), mediado por uma proteína transportadora do tipo uniporte e que mostra cinética
de saturação. Enquanto que, em níveis elevados de NH4+ no meio externo entra em funcionamento

6
o sistema de baixa afinidade (LATS), sendo a concentração de 1mM de NH4+ o limite abaixo do
qual opera o sistema de alta afinidade (HATS), e acima do qual opera o sistema de baixa afinidade
(LATS).
HATS e LATS são proteínas integrais da membrana, com 12 hélices que atravessam a
membrana, separadas por uma região hidrofílica em dois domínios de seis hélices.
Na faixa de absorção do sistema de alta afinidade (HATS) os valores da velocidade máxima
(Vmáx) diminuem, enquanto que os valores da constante de Michaelis-Menten (KM) aumentam,
acompanhando o aumento dos teores de N-NH4+ na solução externa, o que levou Wang et al. (1993)
a concluir que estes parâmetros cinéticos resultam da combinação dos dois mecanismos de absorção
(sistema de alta afinidade + baixa afinidade).
Em milho, milheto e cevada o sistema de alta afinidade mostrou cinética de saturação em
plantas que foram cultivadas sob concentrações externas de NH4+ entre 0,1 a 1,0 mM. Em arroz,
foram observadas velocidade de absorção de NH4+ (Vmáx) em torno de 5,2 e 5,4 µmoles/g. peso
fresco/hora (Kronzucker, 1998). Baptista et al. (2000) observaram em duas variedades de arroz
valores de Km de 0.51 e 0.58 mM, quando se utilizou 20 mg N-NH4+ /L na solução nutritiva.
Quando as plantas foram submetidas 80 mg N-NH4+/L, o Km aumentou para 3.5 e 4.5 mM
respectivamente.
Wang et al. (1993) estimaram o influxo líquido de NH4+ em arroz (influxo - efluxo) em 1,32;
6,08 e 10,16 µmoles/g. peso fresco/hora, quando sob concentrações externas de NH4+ de 2, 100 e
1000 µM respectivamente.
Em tomate, Ludewig (2002) observou que o Km do transportador HATS para amônio variou
em função do potencial de membrana, sendo muito menor à -140 mV do que a -40 mV (4 vezes).
À semelhança do que ocorre com a absorção de outros cátions como o K+, vários fatores
afetam a absorção de NH4+. Teremos então um sistema de transporte que é positivamente
influenciado pela ação da luz (ocorre uma duplicação no total absorvido, em relação a plantas no
escuro), e negativamente influenciado por inibidores metabólicos e hipoxia. Além disso, é preciso
levar em consideração que a absorção de NH4+ é passível de inibição por “feedback”.
Com o aumento dos teores de NH4+ na solução externa (0,002 a 1mM) aumenta o efluxo de
NH4+ das raízes de modo que o influxo líquido pode cair de 89% para as plantas sob 0,002 mM
NH4+, para 80% em plantas sob 1mM NH4+.
Um processo de efluxo contínuo de NH4+ é sugerido como uma característica do processo de
absorção de N-NH4+ por plantas.
O NH4+ absorvido por raízes de arroz pode também ser compartimentalizado, acumulando no
vacúolo. Wang et al. (1993) observaram que em 30 minutos, cerca de 20% do NH4+ absorvido
7
acumulou no vacúolo, enquanto que 41% do total permaneceram no citoplasma, 19% foi
assimilado, e 20% saíram das raízes para o meio externo por efluxo.

2.1.1 Transportadores de Amônio

Estudos moleculares identificaram uma família de genes que codificam para os


transportadores de amônio (AMT, ammonium transporter), e que operam na membrana plasmática
das plantas (Figura 3). Este grande número de transportadores de uma mesma família permite ao
organismo adequar-se às múltiplas condições de concentração de NH4+ no meio externo, e aumenta
a eficiência da planta como um todo.
O sistema AMT de transporte de NH4+ em plantas é específico. Por exemplo, os íons K+,
Rb+ e Cs+ não interferem com a absorção do NH4+. O sistema AMT é do tipo uniporte, e o
transporte de NH4+ é passivo (a favor do gradiente de potencial eletroquímico gerado pelas P-H+-
ATPases da membrana) (Figura 2).
Os membros da família de transportadores AMT1 são responsáveis pelo transporte de alta
afinidade em plantas (HATS) e os AMT2 pelo transporte de baixa afinidade (Figura 3).

Figura 3. Famílias de tranportadores de NH4+ (AMT, ammonium transporter), de alta (AMT1) e


baixa afinidade (AMT1)

8
Em Arabidopsis, um dos transportadores codificados por essa família de multigenes, o
AtAMT1;1 parece ser responsável pela absorção de NH4+ quando o N está em baixas concentrações
no meio externo. Foi observado em Arabidopsis que a deficiência de NH4+ no meio, resulta em
rápido incremento da transcrição do gene AtAMT1. Essa transcrição diminui rapidamente com o
aumento de NH4+ no meio. A queda nos níveis do RNA mensageiro do gene que codifica para o
transportador AtAMT1 parece ser causada principalmente pelo acúmulo de glutamina nos tecidos.
O número de transportadores da família AMT em arroz é muito maior do que em Arabidopsis e em
tomate, o que indica que cada planta forma o seu sistema de transporte de acordo com as pressões
seletivas a que foi submetida (Loqué e von Wírem, 2004).
O sistema de transporte de NH4+ de alta afinidade (HATS) mostra cinética de saturação, com
KM tipicamente abaixo de 100µM. Como mencionado anteriormente a atividade desses
transportadores depende do gradiente de potencial eletroquímico gerado através da membrana
plasmática.
Quando plantas são submetidas à deficiência de NH4+, o AtAMT1;1 é o transportador que
mais aumenta de atividade, enquanto que AtAMT1;2 e AtAMT1;3 mantêm-se constantes, o que
mostra que sob deficiência, é o transportador de maior afinidade que é transcrito.
O sistema de transporte de baixa afinidade (LATS) aparentemente não é saturável, e não
indica ser passível de regulação por produtos do metabolismo de N.
O gene do primeiro transportador de NH4+ a ser isolado foi o AtAMT1;1, em Arabidopsis
thaliana. Depois foram isolados em Arabidopsis os genes de outros membros da família AMT1: o
AtAMT1;2, AtAMT1;3, AtAMT1;4 e AtAMT1;5.
Um outro gene, o AtAMT2;1 também já foi identificado. Genes homólogos ao AMT foram
localizados em arroz: OsAMT1;1 e em tomate LeAMT1;1/ LeAMT1;2/ e LeAMT1;3.
Ludewig (2002) demonstrou que o gene LeAMT1;1 de tomate codifica para uma proteína
transportadora do tipo uniporte (AMT1;1).
A existência desses diversos sistemas de transporte de NH4+, controlados por vários genes
são uma indicação da importância na nutrição amoniacal para as plantas.
Embora os genes AMT1 sejam normalmente expressos nas raízes das plantas, os genes que
codificam para os transportadores AMT1;1 e AMT1;2 também são expressos na parte aérea, o que
mostra a importância desses transportadores no processo de reassimilação do NH4+ produzido na
parte aérea das plantas, principalmente como conseqüência da fotorespiração.
O influxo de NH4+ em plantas mostra uma variação circadiana. O máximo de absorção
ocorre ao fim do período luminoso, e uma queda acentuada no ritmo de absorção ocorre após o
início do período escuro (von Wirén et al., 2000).

9
2.2 Absorção de Nitrato (NO3-)

A absorção de NO3- é ativa ou seja, contra um gradiente de potencial eletroquímico, e uma


ampla variação de Km aparente foi observada para espécies vegetais distintas, indicando diferenças
de pressão seletiva nos diversos ambientes em que essas espécies vivem. Epstein (1972) cita a alga
marinha Skeletonemas notatum, cujo Km aparente para NO3- é de 0,4µM, enquanto que em arroz
(O. sativa), uma planta de terra firme, o Km aparente é de 0,6mM.
Experiências feitas com diferentes concentrações externas de NO3- demonstraram que a
absorção de NO3- é mediada por dois sistemas de transporte através da membrana plasmática,
ambos co-transportadores (Glass et al., 1992; Siddiqi et al.,1990). Ou seja a absorção de NO3- é
bifásica.
O primeiro seria um sistema de transporte de NO3- de baixa afinidade (LATS), que se torna
funcional sob condições de elevadas concentrações externas de NO3- (> 1mM). O outro é um
sistema de absorção de alta afinidade (HATS), que é funcional em concentrações menores que 1
mM. Esses sistemas são aditivos.
O sistema de baixa afinidade (que opera a elevadas concentrações de NO3-), é constitutivo
(cLATS), enquanto que o sistema de alta afinidade (que opera a baixas concentrações de NO3-) é
passível de indução pelo substrato NO3- (iHATS).
Em baixas concentrações externas o sistema de absorção de alta afinidade é saturável. Em
cevada, este sistema de alta afinidade mostra Km aparente na faixa de 10 a 100 µM. Em milho, foi
observado um Km aparente de 50 µM para o sistema de alta afinidade.
Estudos feitos em cevada por Siddiqi et al. (1990), mostraram que na faixa de concentração
externa que vai de 5µM a 0,5 mM o transporte de NO3- obedece à cinética de Michaelis-Menten,
mostrando saturação com o aumento na concentração externa de NO3-. No sistema de baixa
afinidade ([NO3-] >1mM) a velocidade de absorção de NO3- aumenta linearmente com o aumento
da concentração externa. A soma dos dois sistemas mostra claramente a existência de um sistema
bifásico para a absorção de NO3-.
Embora o sistema LATS não mostre cinética de saturação, é muito pouco provável que se
trate de um sistema passivo de transporte. Cálculos feitos por Crawford (1995) mostram que, com
um potencial de membrana de –110 mV, e com uma concentração externa de 2mM, para que
houvesse transporte passivo de NO3- a concentração citossólica desse íon deveria estar em torno de
28 µM. Na prática, as concentrações citossólicas obtidas experimentalmente são milhares de vezes
maiores.

10
Em Arabidobsis, LATS transporta NO3- a velocidades que variam de 4 a 700 µMoles/g/hr
(peso fresco de raízes). O sistema LATS foi caracterizado como constitutivo e insensível a
inibidores metabólicos.
A absorção de NO3- é controlada por feedback. Níveis elevados de NO2-, NH4+ e
aminoácidos livres no citossol inibem a absorção de NO3-.
Em citros, a absorção de NO3- foi fortemente afetada pelo pH do meio externo. Aumentos do
pH externo de 4,0 para 7,0 reduziram drasticamente a absorção de NO3-. Por outro lado, quando as
raízes de citros foram submetidas a inibidores de P-H+-ATPases (DCCD ou DES), também
observou-se reduções significativas na absorção de nitrato (Cerezo et al., 2000).
Fried et al. (1965), usando ambos NH4+ e NO3- marcados (15N), observaram que o arroz
absorve NH4+ mais rapidamente à medida que o pH da solução nutritiva aumenta, situando-se o pH
ótimo em torno de 8,5. Para NO3-, entretanto, foi observada uma absorção mais rápida à medida que
o pH diminuía, situando-se o pH ótimo em torno de 4,0. Para qualquer dos níveis intermediários
entre estes dois valores, entretanto, a absorção de NH4+ pelas plantas era sempre maior que a de
nitrato. Por exemplo, a um pH de 5,5, as raízes de arroz absorvem 300µg de N por g de peso seco,
quando NH4+ foi usado, enquanto que, quando NO3- foi usado, as raízes absorveram apenas 68µg de
N por g de peso seco. O pH da solução externa (de 4,5 a 9,0) teve pouco efeito sobre a absorção de
NH4+ via sistema de alta afinidade (0,1 mM NH4+), mas teve um efeito acentuado sobre a absorção
de NH4+ pelo sistema de baixa afinidade (pH acima de 6,0). Por outro lado, a redução do pH para
3,0 resultou numa redução drástica da absorção de NH4+ tanto pelo sistema de alta como de baixa
afinidade. Nielsen e Schoerring (1998) observaram que no espaço livre aparente da parte aérea de
colza ocorria uma queda de 30% nos teores de NH4+ com a variação de cada unidade de pH entre
5,0 e 8,0.
Mesmo em pH 4, quando a absorção de NO3- atinge o seu máximo, se NH4+ e NO3-
estiverem em concentrações equimolares, as plantas ainda absorvem de 5 a 10 vezes mais N como
NH4+ do que como NO3-. A absorção mais rápida de N-NH4+ do que de N-NO3- foi observada
também por Eira (1977) em Digitaria decumbens.
Syrett (1956) observou que células de Clorela, quando expostas a altos níveis de N, tanto na
forma de NH4+ ou na de NO3-, absorveram 4 a 5 vezes mais N no primeiro caso. A absorção de
NH4+ por plantas é, portanto, mais rápida do que a absorção de NO3- sob amplas condições de
variação ambiental.
Em cevada, foi observada a absorção de NO3- em níveis de 1,8 a 2,1 µmoles/g.peso
fresco/hora sob condições normais de nutrição. Entretanto, plantas submetidas previamente à

11
deficiência de N, mostraram velocidades de absorção de NO3- (Vmáx) de 9,6 a 10,1 µmoles/g. peso
fresco/hora (Sidiqqi et al., 1990).
Em algodão, Aslam et al. (1997) observaram que à medida que a concentração de NO3- na
solução externa era aumentada de 0,05 até 1,00 mM, as velocidades de absorção de NO3- variavam
desde 2,0 até 7,0 µmoles/g.peso fresco/hora, Em trigo foram observadas velocidades de absorção de
2,0 a 2,6 µmoles/g.peso fresco/hora dependo de haver ou não pré-indução do sistema de transporte
pela presença de NO3- no meio.
A velocidade de absorção de NO3- varia não apenas com a espécie estudada, mas também
depende da concentração externa de NO3-, da pré-incubação (com NO3-) dos sistemas
transportadores, e de controles (inibição) por feedback exercido não apenas pela concentração
interna de NO3-, mas também por substâncias resultantes do metabolismo de N-NO3- nas plantas.
A absorção de nitrato causa inicialmente uma despolarização no potencial da membrana
(∆ψ). Esta despolarização inicial é seguida de repolarização, e em alguns casos até de uma
hiperpolarização. Este último efeito deve-se ao estímulo que a despolarização inicial causa sobre os
mecanismos de extrusão de prótons através das P-H+-ATPases. A despolarização inicial deve-se ao
fato de que a absorção de NO3- é um processo termodinamicamente ativo. É um simporte, com uma
relação 2H+/ NO3- (Figura 2).
Em algumas plantas esta despolarização inicial pode ser pequena (da ordem de 10 mV ou
menos), mas em cevada foram observadas despolarizações da ordem de 40 mV, poucos minutos
após a exposição das plantas ao NO3- externo, e antes que se observe o estímulo à atividade das H+-
ATPAses e conseqüente extrusão de H+.
Os efeitos de NO3- sobre o potencial da membrana (∆ψ) podem ser observados na faixa de
pH que vai de 4,4 a 7,0. Em pH = 8,0 as plantas não mais responderam à presença de NO3- no meio
externo. Quando, entretanto o pH da solução foi reajustado para 6,0 a atividade elétrica das
membranas reapareceu após 30 minutos (McClure et al., 1990). Estes pesquisadores mostraram que,
o transporte de NO3- em raízes de milho foi sendo inibido à medida que o pH da solução externa
aumentava de 4,4 até 8,0. Acima de pH = 8,0 o transporte de NO3- cessou completamente. Além
disso, a pH = 8,0 as raízes não apresentaram variação no potencial da membrana em resposta à
concentração externa de NO3-.
Estes resultados contribuem para demonstrar que a força próton-motriz (∆p) é realmente
responsável pelo transporte de NO3- através das membranas. Isto explica em parte porque a
velocidade de absorção de NO3- aumenta à medida que o pH da solução externa diminui.
É preciso considerar que do ponto de vista energético, o primeiro passo para a absorção de
NO3 será a extrusão ativa de H+ pelas bombas de prótons da membrana plasmática (P-H+-
-

12
ATPases), de modo a que seja criado um gradiente de H+ (∆µH+) entre o apoplasto e o interior da
célula. Considerando como válida a relação 1 H+: 1 ATP, serão necessários 2 moles de ATP para
cada mol de NO3- absorvido (Figura 2). É preciso levar em conta, entretanto, que nestes cálculos de
custos energéticos de absorção de ânions, a concentração relativa dos ânions dentro e fora da célula
tem um papel fundamental (ver capítulo 5 neste volume).
Mudanças no pH do meio, devidas à absorção de íons por raízes de cevada, foram
observadas por Hoagland e Broyer (1940). As observações de vários pesquisadores indicam que a
absorção diferencial de ânions ou cátions resulta em aumento ou redução do pH do meio,
respectivamente (Moore, 1974). Na absorção de um excesso de ânions (NO3- no caso), o sistema de
cotransporte 2H+/NO3- resulta no aumento do pH da solução externa.
No caso específico do nitrogênio, variações drásticas no pH foram observadas, quando arroz
foi cultivado em solução nutritiva em que N estava presente em forma amoniacal (Karim & Vlamis,
1962); estes autores só conseguiram obter crescimento das plantas quando um excesso de carbonato
de cálcio foi incluído na solução nutritiva. A mesma técnica foi usada por Fernandes (1974) usando
níveis elevados de N-NH4+ (150 ppm) em solução nutritiva. Variações de pH de 6,1 para 4,3 foram
observadas em nossos laboratórios (resultados não publicados), quando arroz (4 plantas por 2 litros
de solução nutritiva) foi mantido por 90 horas em uma solução nutritiva com 5 ppm de N-NH4+. As
variações de pH (aumento) obtidas quando amônio foi substituído por nitrato, não foram tão
elevadas.

2.2.1 Transportadores de Nitrato

A absorção de NO3- é feita através de sistemas de absorção de alta (HATS) e baixa afinidade
(LATS). Os transportadores do tipo LATS são constitutivos, enquanto o sistema de absorção de
NO3- de alta afinidade (HATS) tem um componente constitutivo (cHATS) e um outro passível de
indução (iHATS). Cada um dos três sistemas propostos para a absorção de nitrato (cHATS, iHATS,
LATS) pode consistir ou não, de diversos transportadores, geneticamente diferentes.
Transportadores do tipo cHATS e iHATS, podem ser expressos simultaneamente e responder ao
aumento das concentrações externas de NO3- com um aumento de atividade (upregulation).
A indução do sistema iHATS pode ser feita tanto por NO2- como por NO3-. Foi observado
em cevada que o sistema iHATS pode aumentar sua atividade em até 30 vezes em relação ao
cHATS, como resposta ao aumento da concentração externa de nitratos.

13
Estudos moleculares em Arabidopsis, localizaram uma família de transportadores de NO3-
codificada pelos genes NRT (Nitrate transporter). Nessa família, os genes NRT1 codificam para os
transportadores do sistema de baixa afinidade e os genes NRT2 para os sistemas de alta afinidade.
Em Arabidopsis, dois membros da família NRT2, AtNRT2.1 e AtNRT2.2 corresponderiam ao
sistema iHATS, enquanto que AtNRT2.3, AtNRT2.4, AtNRT2.5 AtNRT2.6 e AtNRT2.7
corresponderiam ao sistema cHATS (Figura 4).
A expressão do genes para NRT2 é estimulada pela presença externa de NO3- e reprimida
pela presença interna de glutamina. Entretanto há um gene, AtNRT2;5 que ao contrário dos outros,
é inibido pela adição de nitrato (Okamoto e Okada, 2004).

Figura 4. Sistemas de absorção de NO3- (NRT: Nitrate transporter) de alta (NRT2) e baixa
afinidade (NRT1). cHATS (constitutivos); iHATS (induzíveis)

2.3 Absorção de nitrogênio orgânico por plantas

Em plantas superiores a capacidade de absorver formas orgânicas de nitrogênio foi estudada


por Virtanen e Linkola (1946). Entretanto, estes estudos foram limitados a certos grupos de plantas,
leguminosas entre elas. Foi observado que alguns aminoácidos, quando usados como única fonte
externa de nitrogênio, causavam crescimento anormal em plantas.

14
Em geral, o nitrogênio em forma orgânica não é considerado como fonte direta importante
de N para as plantas, em condições normais de solo. A absorção de aminoácidos é feita via
simporte, com próton e depende, portanto, da formação de gradientes de H+, e geração de força
prótonmotriz, pelas P-H+-ATPases. Também existe a sugestão de que plantas como o arroz possam
absorver diretamente proteínas (Yamagata e Ae, 1999).
Näsholm et al. (1998) observaram a absorção de N-orgânico por árvores e arbustos de
florestas boreais. Este mecanismo seria importante nessas regiões onde a baixa temperatura impede
a mineralização do N-orgânico. Glicinas marcadas no carbono e no nitrogênio foram absorvidas
pelas plantas, e usadas como fonte de N para o crescimento. Aparentemente este processo é
mediado pela micorrização.
Okamoto e Okada (2004) observaram o efeito positivo de fontes de N-orgânico (farelo e
palha de arroz) no crescimento de sorgo e arroz, enquanto que milho e milheto são menos afetados e
respondem melhor ao N-mineral. Estes autores sugerem que as necessidades de N do sorgo podem
ser supridas com a absorção de proteína da solução do solo, e que o arroz também poderia recorrer a
essa fonte complementar, quando há deficiência de N-mineral no solo.

3 REDUÇÃO DO NITRATO

O nitrato é a principal fonte de nitrogênio para a maioria das plantas, especialmente para os
cereais e culturas graníferas.
As plantas não assimilam nitrogênio em alto estado de oxidação, deste modo, quando nitrato
é absorvido, ele só será assimilado se for primeiro reduzido a amônio.
A conversão de nitrato a amônio ocorre em duas etapas, através de uma redução que requer
oito elétrons. O nitrogênio passa do estado de oxidação (+5) para (-3).
Inicialmente ocorre no citossol a redução do NO3- a nitrito (NO2-) com o uso de dois
elétrons, transferidos das coenzimas NADH ou NADPH e catalisada pela enzima nitrato redutase
(NR). Em seguida, o nitrito é transportado para os cloroplastos nos tecidos fotossintetizantes ou
para os plastídios nas raízes, sendo então reduzido a amônio, através da enzima nitrito redutase,
com transferência de seis elétrons doados pela Ferredoxina reduzida (Figura 5).

15
Figura 5. Redução do nitrato (NO3-) a nitrito (NO2-) no citossol pela enzima Nitrato Redutase e do
NO2- a amônio (NH4+) através da Nitrito Redutase no cloroplasto (plastidio).

3.1 Nitrato Redutase (NR)

A Nitrato redutase (EC. 1.6.6.1) é a primeira enzima na via de redução de nitrato pelas
plantas, e representa, a etapa limitante e reguladora deste processo (Beevers e Hageman, 1969;
Campbell, 1988; Campbell, 1999).
Nas plantas superiores, algas e fungos as NR são consideradas enzimas solúveis localizadas
no citoplasma (Hageman e Bellow, 1990; Kleinhofs e Warner, 1990), embora tenha sido
identificada em raízes de milho e cevada uma forma de NR ligada à membrana plasmática. Essa
isoforma da Nitrato Redutase ancorada na face externa da membrana plasmática é referida como um
possível sensor para o NO3- (Forde e Clarkson, 1999).
A NR é encontrada em muitas plantas e órgãos principalmente quando nitrato é a fonte de
nitrogênio. A atividade da NR pode ocorrer no citoplasma tanto de raízes como de folhas (Hageman
e Bellow, 1990), sendo que, normalmente, a atividade da enzima nitrato redutase é alta nas folhas.
No entanto, segundo Campbell (1999), algumas plantas têm pouca ou nenhuma atividade da NR nas
folhas, havendo maior atividade nas raízes. A NR pode também ser encontrada em um tipo de
16
célula particular, como ocorre em folhas de plantas C4, onde a enzima está localizada somente nas
células da bainha vascular.
A NR é um homotetrâmero formado por dois dímeros simétricos. Cada tetrâmero ativo, em
baixas concentrações da enzima, dissocia-se em dímeros ativos, sem que ocorra perda significativa
de atividade, sugerindo que a associação/dissociação não exerce papel na regulação da atividade da
enzima.
Dois elétrons são necessários para a redução do nitrato a nitrito pela NR, esses elétrons
podem ser fornecidos pelo NADH ou NADPH. Sendo que o NADH é o principal doador de elétrons
para a NR na maior parte das plantas superiores e algas eucarióticas, enquanto que somente os
fungos utilizam NADPH. Entretanto, algumas plantas superiores (arroz, milho, cevada, soja) e
algumas espécies de algas podem utilizar tanto o NADH quanto o NADPH como doador de elétrons
para a NR sendo chamadas de plantas NAD(P)H-NRs bi-específicas (Kleinhofs e Warner, 1990).
Todas as NRs eucarióticas contêm três grupos prostéticos na proporção estequiométrica de
1:1:1, por subunidade: Flavina Adenina Dinucleotideo (FAD), Citocromo b557 e Cofator
Molibdênio (molibdênio associado com a pterina, formando complexo molibdopterina). Segundo
Kleinhofs e Warner (1990) o fluxo de elétrons na NR ocorre da coenzima NAD(P)H através do
FAD, Citocromo b557 e Cofator Molibdênio, e finalmente chegando ao NO3- que é reduzido a NO2-
(Figura 6).

Figura 6. Esquema da transferência de elétrons na enzima Nitrato Redutase. Os elétrons doados


pelo NAD(P)H são transferidos pelo FAD, citocromo b557 e cofator molibdênio-pterina até
chegarem ao NO3- que então é reduzido a NO2-.

Como a NR está localizada no citoplasma, a fonte primária de poder redutor para a formação
de NADH (forma reduzida) seria proveniente da degradação de açúcares (Beevers e Hageman,
1969), provavelmente através da via Glicolítica durante a oxidação do gliceraldeido 3-fosfato a 1,3
bisfosfoglicerato que é catalisada pela enzima da Gliceraldeido 3-fosfato desidrogenase citossólica
(Klepper et al., 1971). Em tecidos fotossintetizantes o poder redutor requerido para a atividade da
17
NR parece ser derivado do NADPH produzido nos cloroplastos pela etapa luminosa da fotossíntese.
Através de sistemas especiais de transporte de elétrons entre o cloroplasto e o citossol, os elétrons
do NADPH reduzem o NAD+ citoplasmático a NADH, que desta maneira poderá ser usado pela NR
e outras reações de redução do citossol (Hageman e Bellow, 1990, Oaks e Yamaya, 1990).

3.2 Nitrito Redutase (NiR)

O nitrito (NO2-) produzido pela reação da nitrato redutase, é tóxico, devendo, portanto, ser
prontamente metabolizado. A redução do NO2- a amônio ocorre pela ação da enzima Nitrito
redutase (NiR), que transfere seis elétrons de seis moléculas de Ferredoxina reduzida (Fd red) para
o nitrito produzindo amônio (Figura 5).
A NiR está localizada nos cloroplastos da parte aérea ou nos plastídios das células
radiculares. Nos cloroplastos (presença de luz) a Ferredoxina reduzida é produzida através da cadeia
de transporte de elétrons da fotossíntese, enquanto nas células radiculares NO2- é reduzido a amônio
pela NiR localizada nos plastídeos, de maneira análoga a que acontece no tecido foliar. Entretanto,
como não pode ser produzida diretamente, através da fotossíntese, a Ferredoxina que será utilizada
pela NiR presente nas raízes (ou na parte aérea no escuro) é reduzida pelos elétrons doados pelos
NADPH, gerados através da Via das Pentoses-fosfato.
Stöhr et al. (2001) descreveram a atividade catalítica de uma enzima ancorada na membrana
plasmática, que reduz NO2- a óxido nítrico (NO) nas raízes de fumo. Esses estudos sugerem que a
enzima nitrito:NO redutase deve atuar concomitantemente com a NR da plasmalema, para converter
NO3- externo em NO, o NO por sua vez, atravessa a membrana plasmática e atua como
intermediário na sinalização por NO3-. Em mamíferos, o papel do óxido nítrico está estabelecido
como uma molécula sinalizadora importante (ver capítulo 8 neste volume). Na verdade, o NO, por
si só, é capaz de induzir genes que respondem a NO3-.

4 ACÚMULO E REMOBILIZAÇÃO DO NITRATO

De maneira geral o nitrato absorvido pela célula pode ser:


 Reduzido e assimilado no local de absorção
 Acumulado no Vacúolo da célula que o absorveu, atravessando o tonoplasto por um
canal de nitrato
 Absorvido nas raízes e enviado para a parte aérea, onde pode ser reduzido e

18
assimilado, ou acumulado no vacúolo celular.

Quando o nitrato é absorvido no citossol ele induz a atividade da enzima NR. Deste modo, o
nitrato pode ser reduzido a nitrito pela NR, e a seguir o nitrito é reduzido pela NiR a amônio, que
precisa então ser assimilado em moléculas orgânicas através das enzimas Glutamina Sintetase (GS)
e Glutamato Sintase (GOGAT). Todo esse processo de redução e assimilação, necessita de energia,
poder redutor e esqueletos de carbono, que em algumas situações estão em níveis limitantes na
célula (escuro, senescência, baixa taxa fotossintética, estresse etc). Nestas condições o nitrato
absorvido pode ser enviado para outras células ou acumulado no vacúolo, passando pelo tonoplasto
através de um canal de NO3- (Figura 7).

Figura 7. Visão geral da absorção de nitrato e amônio; redução, exportação e acúmulo de nitrato;
assimilação de amônio. T (tonoplasto; MP (membrana plasmática)
(1) P-H+-ATPase; (2) Transportador de NO3- (simporte); (3) Transportador de NH4+ (uniporte); (4)
Canal de NO3-.

19
A remobilização do nitrato acumulado no vacúolo, com seu retorno ao citossol, envolve a
participação de um transportador de nitrato, do tipo simporte, com um próton e depende de um
gradiente eletroquímico que é gerado pelas bombas de prótons presentes no tonoplasto: a V-
H+ATPase e a Pirofosfatase (H+PPase). No citossol o nitrato atua como um desacoplador das
unidades Vo e V1 das V-H+ATPase (ver capítulo 5 neste volume), deste modo esta enzima só atua
bombeando prótons para o interior do vacúolo, na ausência de nitrato no citossol, quando então, a
sua atividade permite a saída do nitrato que esteja acumulado no vacúolo (Figura 8).

Figura 8. Visão geral da remobilização de nitrato do vacúolo. (5) V-H+-ATPase; (6) H+-PPase; (7)
Transportador de NO3- (simporte: H+/NO3-).

Na célula pode se considerar que há dois reservatórios ("pools") de nitrato separados


espacialmente: o "Reservatório metabólico ou pool indutor" (de curta duração - ligado à regulação
do nível da NR) e o "Reservatório de reserva ou pool substrato" (de existência mais longa - ligado
ao suprimento de substrato) (Heimer e Filner, 1971; Ferrari et al.,1973)
20
O pool indutor se refere ao NO3- presente no citossol, enquanto o pool substrato é o NO3-
acumulado nos vacúolos.
Ferrari et al. (1973) verificaram em células de tabaco que o NO3- acumulado no "pool
substrato" podia ser utilizado pela planta, no entanto era incapaz de substituir o NO3- do "pool
indutor" em sua capacidade de induzir síntese "de novo" de NR, ou aumentar a atividade da NR já
existente. O excesso de nitrato no citossol (pool indutor) passa rapidamente para o vacúolo (pool de
reserva), através de um canal iônico no tonoplasto (Satter e Moran, 1988; Hedrich e Schroeder,
1989). Segundo Siddiqi et al. (1989), o fornecimento de nitrogênio exógeno, pode restaurar o fluxo
de nitrato no citoplasma e assim aumentar a atividade da NR.
A Nitrato redutase é uma enzima passível de indução pelo substrato (NO3-). Numerosos
estudos comprovaram aumento da atividade dessa enzima após nitrato ser fornecido às plantas. O
nitrato tanto induz os genes para a Nitrato Redutase (NIA) como os genes para a Nitrito Redutase
(NII).
Sommers et al. (1983) utilizando imunoeletroforese com anticorpos específicos para NR,
encontraram aumento da atividade da NR em plantas induzidas por nitrato, que corresponde a um
aumento da proteína-NR. Estes resultados indicam que o nitrato induz a expressão gênica que
culmina com a síntese “de novo” da proteína NR. Posteriormente, quando o nitrato foi removido
das plantas, a atividade da NR e a proteína-NR diminuíram, demonstrando que a NR não permanece
quando o sinal-nitrato para a indução é removido.
Evidências indicam que a luz não tem papel direto na atividade da NR (Campbell, 1999). A
influência da luz poderia ser devido a um efeito geral na síntese de proteína e não diretamente na
NR.
Segundo Campbell (1988), a luz não influencia a expressão gênica para a NR, uma vez que
o RNA mensageiro (RNAm) para a NR não está presente em altos níveis em plantas crescidas na
luz, a menos que nitrato seja fornecido. Deste modo, a luz não é capaz de exercer influência nos
níveis de RNAm para a NR a menos que o nitrato já tenha ativado o gene que codifica a NR. Há
evidências de que o nitrato desencadeia a expressão gênica para a NR (e provavelmente para genes
relacionados, como o da nitrito redutase), enquanto que a luz influencia o nível de expressão desses
genes, além de fornecer energia para a reação. Em milho foi verificado que a indução da proteína-
NR inativa ocorreu em resposta à luz, na presença de baixos níveis de nitrato, no entanto, a
expressão total da atividade enzimática requereu altos níveis de nitrato (Oaks et al., 1982).
Quando plantas de milho induzidas por nitrato foram transferidas da luz para o escuro, a
atividade da NR atingiu níveis baixos, em um período de 12 horas. No escuro o nitrato é
direcionado para o pool de reserva, nos vacúolos, devido à deficiência de poder redutor produzido

21
na fotossíntese. Em um curto período após a transferência das plantas da luz para o escuro, a
proteína-NR não diminuiu, embora a atividade da NR tenha diminuído em 30%. A atividade da NR
foi restabelecida com o retorno das plantas a luz. Estes resultados indicam a existência de um
mecanismo de inativação reversível para a regulação da NR.
Em condições de baixa energia a NR ativa pode ser fosforilada e ligada a uma proteína
regulatória denominada 14-3-3, formando um complexo inativo que pode ser direcionado à
destruição da NR. Entretanto, se for restabelecido o nível energético, a proteína 14-3-3 se desligaria
da NR e a enzima posteriormente defosforilada, voltaria à sua atividade normal. A NR fosforilada
também é ativa.

5 ASSIMILAÇÃO DO AMÔNIO

Embora o nitrato e o amônio possam ser absorvidos pelas plantas, a assimilação do


nitrogênio somente ocorre sob a forma reduzida (amônio). Esse amônio pode ser diretamente
absorvido pela célula através de um transportador do tipo uniporte presente na membrana
plasmática ou ser formado pelas reações do metabolismo como a fotorespiração e a redução do
nitrato (Figura 7)
Até os anos 1970 acreditava-se que em plantas o amônio era incorporado em moléculas
orgânicas, através da enzima glutamato desidrogenase (GDH-EC.1.4.1.3), via aminação redutiva
direta do α-cetoglutarato. Embora a glutamina sintetase (GS-EC.6.3.1.2) fosse conhecida, ela não
era considerada importante, porque o nitrogênio era assimilado na posição amida formando
glutamina. Entretanto, em 1971, Tempest et al. (1971), detectaram uma nova enzima em bactéria,
que catalisava a transferência redutiva do grupo amida da glutamina para o α-cetoglutarato,
resultando na produção de duas moléculas de glutamato. Esta enzima foi denominada glutamato
sintase (GOGAT), (NADH-GOGAT-EC.1.4.1.13).
Finalmente Lea e Miflin (1974), demonstraram em cloroplastos a existência de uma
GOGAT diferente da encontrada em bactéria, que era dependente de Ferredoxina reduzida, que foi
denominada Fd-GOGAT e que catalisava reação similar à da NADH-GOGAT bacteriana.
O significado da descoberta da GOGAT é que, em cooperação com a GS, ela fornece uma
rota alternativa para a síntese de glutamato a partir de amônio e α-cetoglutarato. Este sistema foi
chamado via GS-GOGAT (Miflin e Lea, 1977). Amônio é inicialmente incorporado em glutamato,
através da GS, formando glutamina (O N incorporado está na posição amida da glutamina) e então

22
transferido, pela ação da GOGAT, para o carbono-alfa do α-cetoglutarato, formando duas
moléculas de glutamato.
Uma característica típica da via GS-GOGAT de assimilação de amônio é sua natureza
cíclica, onde o glutamato é ao mesmo tempo substrato e produto da assimilação (Figura 9).

Figura 9. Esquema representativo da Via Glutamina Sintetase-Glutamato sintase (GS-GOGAT)


para a assimilação de amônio. (Fd ox = ferredoxina oxidada e Fd red = Ferredoxina
reduzida)

Após a descoberta da via GS-GOGAT, verificou-se que a enzima GDH não tinha o papel
principal na assimilação de amônio em plantas superiores (Miflin e Lea, 1977; Kumar e Abrol,
1990; Lancien et al.. 2000).
Diversas evidências apontam para a Glutamina Sintetase como a principal enzima na
assimilação de amônio pelas plantas:
• A Glutamina Sintetase tem menor KM para o NH4+ (KM de 50 µM) do que a GDH (KM de
5 a 70 mM), portanto, mesmo em baixas concentrações de NH4+ a GS é ativa (Lea e Miflin,
1977);
23
• A glutamina é o primeiro produto formado quando se usa nitrogênio marcado (NH4+ ou
NO3-) (Magalhães et al., 1990);
• Inibidores de GS bloqueiam a assimilação de NH4+.

5.1 Glutamina Sintetase (GS)

A enzima glutamina sintetase (GS) incorpora NH4+ formando glutamina, através da ligação
do NH4+ ao grupo carboxílico do glutamato, usando energia fornecida pelo ATP:

NH4+ + L-glutamato + ATP → L-glutamina + ADP +Pi

A glutamina sintetase de plantas superiores se apresenta como uma proteína octomérica


(constituída de 8 subunidades) (Stewart et al., 1980) ou tetramérica (4 subunidades) (Mack, 1998)
ativa.
Há duas isoformas de GS: a isoforma GS1 localizada no citossol e a GS2 localizada nos
cloroplastos e outros plastídeos.
Estudos moleculares indicam que a GS1 é codificada por uma pequena família formada por
dois a cinco genes, enquanto há um único gene que codifica a GS2 (Ireland e Lea, 1999).
Hirel e Gadal (1980) demonstraram a existência de três isoformas de GS em arroz: duas
isoformas foram identificadas nas folhas: GS1 citossólica e GS2 cloroplástica; e nas raízes foi
encontrada uma isoforma citossólica denominada GSr. As enzimas GS1 e GSr são codificadas por
dois genes GS1: OsGS1 e OsGSr. Entretanto, após o sequenciamento do genoma do arroz um
terceiro gene para GS1 foi descoberto (OsGS1;3), o que levou a substituição da nomenclatura
OsGS1, OsGSr para respectivamente OsGS1;1, OsGS1;2 (Ishiyama et al., 2004).
A proporção relativa das isoformas cloroplásticas e citossólicas é influenciada por vários
fatores, inclusive o estágio de desenvolvimento e condições ambientais, tais como luz. Hirel et
al. (1982), observaram atividade da GS2 baixa ou ausente em folhas estioladas. Entretanto, quando
o tecido foi se tornando verde, a GS2 aumentou rapidamente, via síntese "de novo", enquanto a GS1
diminuiu. Estes resultados sugerem que a GS2 estaria restrita aos tecidos verdes e que a GS1 estaria
presente de forma mais generalizada, em folhas, raízes e sementes.
Foi demonstrado que o amônio produzido durante a fotorespiração é reassimilado nos
cloroplastos pela GS2. Wallsgrove et al. (1979) isolaram mutantes de cevada deficientes em GS2
cloroplástica e observaram que esses mutantes acumularam concentrações tóxicas de amônio
devido à fotorespiração, o que enfatiza o papel da GS2 na assimilação do amônio liberado na

24
fotorrespiração. Entretanto, algumas plantas, como o espinafre e o fumo, não contêm a GS
citossólica (GS1) (McNally et al., 1983), o que sugere que toda o amônio produzido na célula
vegetal possa ser assimilado pela GS2.

5.2 Glutamato Sintase (GOGAT)

Em plantas existem enzimas glutamato sintase (GOGAT) que podem utilizar NADH
(NADH-GOGAT) ou ferredoxina (Fd-GOGAT) como doadores de elétrons. Ambas as isoformas
promovem a transferência redutiva do grupo amida da glutamina para o alfa-cetoglutarato,
formando duas moléculas de glutamato:

L-glutamina + α-cetoglutarato + NADH ou Fdred → 2 L-glutamato + NAD+ ou Fdoxid

Uma das duas moléculas de glutamato formado pode retornar à via GS-GOGAT, enquanto a
outra molécula de glutamato pode ser usada nas reações biossintéticas (Miflin e Lea, 1976) (Figura
9).
Os anticorpos contra NADH-GOGAT não reconhecem Fd-GOGAT e vice-versa indicando
que as duas GOGAT são proteínas imunologicamente distintas (Suzuki et al., 1982).
A glutamato sintase (GOGAT) foi detectada em plastídios tanto em raízes como em folhas
(Suzuki et al., 1982; Wallsgrove et al., 1979).
Nas folhas, Fd-GOGAT é a forma predominante da enzima, encontrada no estroma dos
cloroplastos. Ela é específica para ferredoxina reduzida, e é inativa com NADH como doador de
elétrons (Lea e Miflin, 1974; Suzuki e Gadal, 1982). A Fd-GOGAT presente em raízes é similar,
mas não idêntica à foliar.
A isoforma NADH-GOGAT está localizada principalmente em tecidos não verdes tais como
raízes, nódulos e cotilédones em desenvolvimento (Chen et al 1990). Em tecidos verdes NADH-
GOGAT é muito menos ativa que a Fd-GOGAT (Matoh et al., 1980).
A Fd-GOGAT foi a principal forma de glutamato sintase encontrada nas folhas verdes de
arroz (Suzuki e Godal, 1982; Yamaya et al., 1992), enquanto que, alta atividade de NADH-GOGAT
foi detectada em folhas que ainda não tinham emergido e, portanto, não estavam verdes e
expandidas (Yamaya et al., 1992). Entretanto, parece que uma vez atingida a expansão total da
folha, a atividade e o conteúdo de proteína NADH-GOGAT diminuem, sugerindo que a expressão

25
do gene para NADH-GOGAT em folhas de arroz é reduzida com a idade da folha e que ocorre
degradação da proteína NADH-GOGAT (Yamaya et al., 1992).
Nos cloroplastos a ferredoxina utilizada pela Fd-GOGAT é produzida através da
fotossíntese. Na raiz a ferredoxina não pode ser reduzida pelas reações luminosas da fotossíntese,
mas sim, por NADH ou NADPH proveniente da oxidação de açúcares, que por sua vez é a mesma
fonte de poder redutor para o NADH-GOGAT (Hageman e Bellow, 1990).

5.3 Glutamato Desidrogenase (GDH)

A enzima Glutamato desidrogenase (GDH) promove a aminação redutiva reversível do α-


cetoglutarato formando glutamato. Foram detectadas duas isoenzimas da GDH, uma localizada na
mitocôndria e dependente de NADH (E.C.1.4.1.2 - NADH-GDH) como doador de eletrons e outra
presente nos cloroplastos que utiliza a coenzima NADPH (E.C.1.4.1.4 - NADPH-GDH). A enzima
mitocondrial está associada à membrana da mitocôndria. A GDH está presente tanto nas raízes
quanto nas folhas, utilizando como doador de elétrons: NADH ou NADPH.

NH4+ + α-cetoglutarato + NAD(P)H + H+ ↔ L-Glutamato + H2O + NAD(P) +

A afinidade da GDH pelo NH4+ é baixa, com Km variando de 5-70 mM, de acordo com a
localização da enzima no tecido vegetal (Miflin e Lea, 1977). O Km pelo α-cetoglutarato é de 3,3
mM e pelo glutamato de 7,3 mM, na rota de desaminação.
O maior Km apresentado pela GDH para o amônio em relação a GS (Km = 50 µM),
demonstra que a GDH não estaria atuando no sentido da aminação, pois a GS seria a enzima mais
apropriada, devido a sua maior afinidade pelo amônio (menor Km).
Lewis et al. (1983) verificaram que nas raízes de cevada os íons NH4+ absorvidos do solo
eram assimilados, exclusivamente, através da via GS/GOGAT e que a GDH teria somente um papel
limitado neste processo. Esses reultado indicam que a GDH das plantas superiores seria importante
na reação de desanimação oxidativa do glutamato e não na aminação do α-cetoglutarato a
glutamato. Foi observada maior atividade da GS nas regiões de crescimento radicular, enquanto
que, a atividade da GDH foi consideravelmente maior nas partes mais velhas da raíz (Luxová,1988)
Simpson e Dalling (1981), observaram que durante o período de enchimento dos grãos, a
atividade da GS e da GOGAT na folha bandeira de arroz diminui. A atividade da GDH permaneceu

26
constante durante o mesmo período. No entanto a enzima atingiu um pico de atividade aos 25 dias
após a antese. Esse pico coincidiu com o período do rápido declínio na atividade da GS.
Boggio et al. (2000) observaram em tomate que GS estava presente quase que
exclusivamente nos frutos verdes, enquanto que GDH se encontrava apenas nos frutos mais
maduros, sugerindo um modelo recíproco de atividade entre GS e GDH durante o amadurecimento
e senescência do fruto de tomate.
Aumentos na GDH, no período tardio da senescência foram observados em pétalas de tulipa
senescentes e em folhas destacadas e senescentes de Lolium (Thomas, 1978).
Tem sido observado que GDH é a enzima do metabolismo de N que freqüentemente atinge
mais alta atividade durante a senescência (Frith et al., 1978; Ragster e Chrispeels, 1981; Laurière e
Daussand, 1983)
De acordo com Robinson et al. (1992) as mudanças na atividade da GDH, observadas em
folhas senescentes, poderiam estar relacionadas com a diminuição da fotossíntese destes tecidos, e,
portanto, ligada à disponibilidade de carbono.
Deste modo, como pode ser visto na figura 10, a enzima Glutamato desidrogenase pode
atuar no sentido de:
a) Desaminação: catalisando a oxidação do glutamato a α-cetoglutarato e fornecendo assim,
esqueleto de carbono para o ciclo de Krebs;
b) Aminação: incorporando amônio e formando glutamato.

27
Figura 10. Atividade da enzima Glutamato desidrogenase (GDH). Aminação: incorporando amônio
e formando glutamato; Desaminação: catalisando a oxidação do glutamato a α-cetoglutarato
liberando amônio.

Em cultura de células de cenoura, foi observado que a GDH era ativa na oxidação do
glutamato, mas não na aminação redutiva do α-cetoglutarato, que ocorreria somente via
GS/GOGAT (Robinson et al.,1990). Em outro experimento os mesmos autores observaram relação
inversa entre atividade da GDH e o suprimento de carboidrato (sacarose) ao meio de cultura.
Sahulka e Lisá (1980) também observaram aumento da atividade da GDH em resposta à limitação
de sacarose em raízes de ervilha.
Estes resultados evidenciam o papel primário da GDH na desaminação do glutamato.
Fornecendo assim, esqueletos de carbono para que o ciclo de Krebs funcione, sob condições de
limitação de carbono (Srivastava e Singh, 1987; Yamaya e Oaks, 1987; Oaks e Yamaya, 1990;
Robinson et al., 1990; 1992).

28
Sob este ponto de vista, poderia se supor que a chamada "indução da atividade da GDH" por
amônio, observada por diversos autores (Kar e Feierabend, 1984; Jain e Shargool, 1987 Shargool e
Jain, 1987; Srivastava e Singh, 1987), estaria na verdade acontecendo devido à diminuição de
esqueletos de carbono e não pelo aumento de amônio no tecido da planta. A GDH está, portanto,
envolvida em uma importante função anaplerótica, unindo o metabolismo do carbono e do
nitrogênio nas plantas superiores.

6 VISÃO GERAL DO METABOLISMO DE NITROGÊNIO

O fornecimento de energia ou poder redutor para o funcionamento das enzimas do


metabolismo de nitrogênio acopla o metabolismo de N ao de carbono (C) em três vias (Tabela 1):

• Utilização de esqueletos de carbono: como a GDH ou GOGAT.


• Utilização de doadores de elétrons: como para a NR, NiR, GOGAT e GDH.
• Utilização direta de energia: como a GS.

Tabela 1. Principais enzimas do metabolismo do nitrogênio e seus doadores de elétrons ou energia.

Doador de elétrons
Enzima Reação
ou energia
Nitrato redutase NADH
NO3- → NO2-
(NR) NAD(P)H
Nitrito redutase
NO2- → NH4+ Ferredoxina
(NiR)
Glutamina sintetase
Glutamato + NH4+ → Glutamina ATP
(GS)
Glutamato sintase Ferredoxina
α-cetoglutarato + Glutamina → 2 Glutamato
(GOGAT) NADH
Glutamato desidrogenase NADH
α-cetoglutarato + NH4+ → Glutamato
(GDH) NAD(P)H

Nas folhas essas interações ocorrem às expensas dos produtos primários da fotossíntese
[ATP, NAD(P)H, Ferredoxina] e competem com a redução de carbono. Por outro lado, nas raízes,
os carboidratos armazenados ou translocados servem como substrato para a produção de energia e
fonte de carbono para a assimilação de N.

29
7 TOXIDEZ DE NH4+ EM PLANTAS

Vários estudos demonstram que o NH4+ pode ser tóxico para as plantas. Algumas plantas
são muito sensíveis à toxidez por NH4+, mesmo em pequenas concentrações (2 mM). A toxidez de
NH4+ afeta tanto a fisiologia como a morfologia das plantas.
Embora as plantas às vezes consigam metabolizar as grandes quantidades do NH4+, liberadas
pela fotorespiração, sem mostrar sinais da toxidez, a nutrição de plantas com N- NH4+ através do
sistema radicular pode afetar negativamente o metabolismo vegetal, quando comparada às plantas
sob nutrição nítrica ou sob uma combinação de NH4+ e NO3-.
A absorção de excesso de NH4+ interfere com o balanço de água nas plantas, reduzindo o
fluxo de água das raízes para a parte aérea de modo que plantas não tolerantes acabam murchando.
Alguns sintomas de toxidez de NH4+ como folhas secas enroladas podem ser reflexo do aumento da
resistência ao movimento radial da água em plantas sob nutrição amoniacal. Os níveis de exudação
em plantas de tomate tratadas com NH4+ sofrem rapidamente uma redução de até 60% quando
comparadas com plantas sob nutrição nítrica. Alguns dos efeitos da toxidez por NH4+ podem ser
revertidas por NO3-.
Sintomas de deficiência de K foram observados em plantas sob nutrição amoniacal, mas a
conclusão foi de que este efeito foi devido a redução na exudação e não por perda de K nas raízes.
Potássio tem uma ação importante na ativação das enzimas de assimilação de N quando o NH4+ está
em níveis tóxicos nos tecidos das plantas. Plantas de tomate que tinham apresentado lesões devido a
absorção de excesso de NH4+ tiveram essas lesões inibidas pelo K. A produtividade de milho sob
nutrição amoniacal aumentou com a aplicação de níveis crescentes de K.
Outros sintomas de toxidez de NH4+ podem incluir a clorose, a necrose e até a morte das
plantas. O aparecimento desses sintomas depende da concentração de NH4+ nos tecidos, da relação
NH4+/ NO3- e da concentração de outros nutrientes. Em experimento com mistura de NH4+: NO3- o
feijão foi a planta mais severamente afetada pelo aumento da concentração de NH4+ em relação ao
NO3-. Enquanto que, repolho, melão e milho tiveram o peso seco das folhas reduzido pelo NH4+.
Todas essas plantas apresentam uma redução no teor de Ca com o aumento nos teores de NH4+.
Para o seu funcionamento as enzimas de assimilação de NH4+ requerem energia, doadores de
elétrons e esqueleto de carbono, para a incorporação do íon. Quando se adicionou α-cetoglutarato a
plantas de tomates cultivadas sob nutrição amoniacal foi observado aumento no crescimento e nos
teores de aminoácidos livres, e redução nos sintomas de toxidez. A assimilação de NH4+ formando
glutamina pela ação da GS (relação C/N 5:2) ou glutamato pela ação da GDH (relação C/N 5:1)
representa um dreno de esqueletos de carbono.
30
Britto et al. (2001) trabalhando com uma planta mais tolerante ao NH4+ (arroz) e outra mais
sensível (cevada), identificou na cevada um mecanismo de exudação ativa de NH4+, como uma das
causas prováveis da toxidez de N- NH4+. De acordo com esses autores, a cevada, ao contrário do
arroz, não mostra alta capacidade de regulação do potencial da membrana (∆Ψ) com a absorção de
NH4+ (principalmente através de mecanismo de alta afinidade (HATS)). Como resultado, cevada
acumula níveis excepcionalmente elevados de N- NH4+ no citossol. Parte deste NH4+ sofreria então
efluxo, contra a tendência termodinâmica dominante, que seria de fora para dentro. O resultado
desse processo seria um gasto excessivo de energia (aumento de 41% nas taxas de respiração) com
efeitos negativos sobre o metabolismo das plantas, e conseqüente redução do peso. Arroz,
entretanto, mostra um eficiente sistema de controle do potencial da membrana (potencial menos
negativo), e conseqüentemente acumula níveis menores de NH4+ no citossol (Wang et al. 1994;
Britto et al. 2001), e níveis mínimos de exudação de NH4+. Este mecanismo poderia ser uma das
razões da tolerância do arroz ao NH4+.
Devido ao fato da assimilação de NH4+ ocorrer basicamente nas raízes, e requerer grandes
quantidades de carboidratos, plantas sob nutrição amoniacal mostram uma redução na taxa de
crescimento das raízes. Quando houve redução do suprimento de N às raízes de milheto crescida em
solução nutritiva por sete dias, as raízes mostraram um aumento de peso 24%, enquanto que
simultaneamente as folhas tiveram uma redução no peso de 24%. Esta redução no peso da parte
aérea das plantas foi atribuída a um redirecionamento dos carboidratos que seriam usados na
assimilação do N uma vez que são necessário cinco equivalentes de Glicose para a fixação de oito
equivalentes de N.
O acúmulo de N-amino e N-amida é uma das características de plantas sob excesso de N
amoniacal. Na presença de elevados níveis de NH4+, asparagina e glutamina podem responder por
mais de 80% do total de N-amino/N-amida livre. O teor de N-amino/N-amida livre pode aumentar
de 10 a 20 vezes como resposta a toxidez do NH4+. Situações de stresses devido ao excesso de
absorção de N em plantas submetidas a condições desfavoráveis de crescimento como baixa luz e
alta temperatura, mudam a composição de N-amino/N-amida em plantas, como pode ser observado
em experimento com arroz (Tabela 2).

31
TABELA 2. Efeitos de baixa luz (17,3 Klux) e alta temperatura (35ºC) na composição de
aminoácidos e razão N-amino e N-amida em plantas de arroz submetidas a dois níveis de
nitrato e amônio (20 e 150mg/L) (Adaptado de Fernandes, 1974).

N-NO3- N-NH4+
Aminoácidos 20 mg N/L 150 mg N/L 20 mg N/L 150 mg N/L
___________________ % do total ___________________
Aspartato 10,6 5,1 1,4 2,3
Glutamato 25,1 16,3 5,5 5,0
Asparagina 3,9 11,2 26,7 12,5
Glutamina 12,3 21,5 54,7 70,5
Relação
N-Amino/N-amida 5,17 2,06 0,23 0,20
Total de aminoácidos
(µmoles. g-1 peso fresco) 12,80 17,93 124,50 173,00

A acumulação de NH4+ em plantas pode ocorrer tanto devido ao aumento absoluto na


disponibilidade de NH4+, como devido ao aumento relativo do NH4+ como conseqüência de um
déficit de esqueleto de C. Ou seja, a uma deficiência dos cetoácidos para síntese de N-amino e N-
amida. É esta síntese de N-amino/N-amina que reduz o excesso de NH4+ livre nos tecidos.
Um déficit de carboidratos pode ocorrer como resultado direto da redução da fotossíntese
devido a queda de radiação fotossintaticamente ativa na superfície do dossel (como acontece em
dias nublados ou devido ao auto-sombreamento em dosséis formado por plantas com excesso de
folhas decumbentes), ou pode ser um efeito indireto devido ao consumo excessivo de C na
respiração (como por exemplo, sob condições de alta temperatura (Britto et al., 2001)). Pode
ocorrer, entretanto, uma combinação negativa de vários fatores, como níveis elevados de NH4+,
redução da radiação incidente, temperaturas elevadas (Figura 11).

32
Figura 11. Relações entre os teores de N-amino e matéria seca (A); N-amônio e matéria fresca
(B); e N-amino e açúcares solúveis (C) em arroz cultivado com alto nível de N-NH4+ (150
mg/L). Adaptado de Fernandes (1990).

Em comunidades vegetais formando dosséis densos, às vezes apenas a parte superior do


dossel recebe a radiação incidente total e é capaz de realizar o seu potencial fotossintético. Em
situações como essas, o dossel como um todo pode apresentar níveis elevados de respiração à
medida que a temperatura do ar aumenta. O resultado é uma situação de estresse devido a
combinação de baixa fotossíntese e alta respiração que resulta na queima de níveis elevados de
carboidratos, na absorção de nutrientes devido a energia disponível através da respiração, ao mesmo
tempo em que diversas rotas do metabolismo de N são bloqueadas devido a redução no suprimento
de esqueletos de C. Isso mostra que na aplicação de fertilizantes nitrogenados devem ser levados em
consideração todos os fatores que afetam a fisiologia das plantas. Sem esse tipo de consideração
pode acontecer que aplicando N na agricultura em níveis que aparentemente seriam considerados
33
adequados pode-se na verdade levar rapidamente a condições de toxidez de NH4+ ou ao acúmulo de
excesso de NO3- nos tecidos.

8 REMOBILIZAÇÃO DE NITROGÊNIO

8.1 Senescência

Grande parte dos nutrientes presentes nas folhas durante o seu desenvolvimento são
transferidos durante a senescência deste tecido, para os órgãos reprodutivos ou em crescimento. A
senescência culmina com a morte foliar, no entanto esse estágio só é atingido após os processos da
senescência remobilizarem os nutrientes presentes para outras partes da planta.
Na fase inicial da senescência principia a hidrólise das proteínas cloroplásticas e os
aminoácidos liberados podem ser exportados para as regiões reprodutivas, como por exemplo, os
grãos em desenvolvimento. Os cloroplastos são desmontados no início da senescência, enquanto as
mitocôndrias permanecem funcionais.
A perda da atividade fotossintética acontece em paralelo à degradação de proteínas e RNA
mensageiros, enquanto N, fósforo (P) e outros nutrientes são transferidos das folhas (Buchanan-
Wollaston et al., 2003). A remobilização de N, P, K (potássio) em folhas de Arabidopsis foi de 80%
durante a senescência (Himmelblau e Amasino, 2001). Em plantas C3 mais de 75% do nitrogênio
celular total está localizado nos cloroplastos foliares (Peoples e Dalling, 1988).
As principais substâncias cloroplásticas que contribuem para a perda total de proteínas
foliares durante a senescência são a Rubisco e o Complexo coletor de luz pertencente ao
fotossistema II (Matile et al., 1997). O complexo coletor de luz faz parte das membranas tilacóides
e é formado de proteínas e pigmentos, principalmente clorofilas.
A degradação, nos cloroplastos, das proteínas das membranas tilacóides associadas às
clorofilas requer o simultâneo catabolismo das clorofilas. A desmontagem dos complexos
pigmentos-proteínas causa a liberação de clorofilas que são potencialmente perigosas, pois podem
causar danos foto-oxidativos. As clorofilas devem então ser degradadas até formas não reativas
através de pelo menos cinco reações enzimáticas (Höstensteiner e Feller, 2002).
Os produtos finais do catabolismo das clorofilas, denominados “catabólitos de clorofila não-
fluorescentes”, são depositados nos vacúolos, sem que ocorra a remobilização do N presente nessas
moléculas (Hinder et al., 1996; Tommasini et al., 1998). Para cada molécula de clorofila quatro
moles de N não são reciclados durante a senescência.

34
Portanto, o N das clorofilas não é exportado das folhas senescentes, permanecendo nas
células na forma de catabólitos tetrapirrólicos lineares que são produzidos pela abertura do anel
porfirínico decorrente da introdução de oxigênio por uma oxigenase. Esses derivados tetrapirrólicos
são então transportados ativamente através de carreadores do tonoplasto e acumulam no vacúolo
(Tommasini et al., 1998). Deste modo, a degradação das clorofilas não tem por objetivo mobilizar
nutrientes, mas sim detoxificar os compostos de clorofila altamente reativos que são liberados dos
complexos proteínas-pigmentos constituintes das membranas tilacóides dos cloroplastos.
Durante a senescência as enzimas envolvidas na assimilação de N e C são degradadas e os
aminoácidos derivados de seu catabolismo são exportados via floema com ou sem modificações.
A atividade das enzimas envolvidas no metabolismo do nitrogênio diminui durante a
senescência da planta. Em geral, a atividade da nitrato redutase (NR) é perdida primeiro, enquanto
que a glutamina sintetase (GS), a glutamato sintase (GOGAT) e a Glutamato desidrogenase (GDH)
permanecem ativas por um período mais longo (Storey e Beevers, 1978).
A degradação da Rubisco é rápida e serve como fonte de N para o desenvolvimento dos
grãos (Mae et al., 1983; 1985; Makino et al., 1984). Em plantas C3, como o arroz, a Rubisco
contribui com cerca de 50% do total de proteína solúvel das folhas (Feller, 1990).
No processo de remobilização de N, durante a senescência, quando as proteínas foliares são
degradadas o N liberado na forma de amônio é reassimilado e convertido principalmente nas amidas
glutamina e asparagina, que são translocadas para os órgãos em desenvolvimento (Ghosh et al.,
1995; Nakasathien et al., 2000).
Apesar do glutamato ser o aminoácido presente em maior proporção nas folhas de arroz,
durante a senescência o teor de glutamato diminui acentuadamente e os níveis de sua amida, a
glutamina, aumentam (Kamachi et al., 1991).
Segundo Hayashi e Chino (1990) a glutamina contribui com 42% do total de aminoácidos
presente na seiva do floema de arroz, tornando-se o principal aminoácido de transporte durante o
desenvolvimento dos grãos.
A glutamina sintetase (GS) é a mais provável enzima para a formação de glutamina, nos
tecidos senescentes (Miflin e Lea, 1977; Oaks e Hirel, 1985). No entanto, como acontece com a
RUBISCO, a atividade da GS também diminui durante o período reprodutivo (Simpson e Dalling,
1985; Hayashi e Chino, 1990; Kamachi, et al., 1991; 1992; Souza et al., 1999).
Entretanto, como a GS no tecido vegetal está presente em pelo menos duas isoformas: a GS1
localizada no citossol e a GS2 localizada no cloroplasto (Oaks e Hirel, 1985), a queda na atividade
da GS observada durante a senescência, pode ser atribuída à diminuição da isoforma GS2, que
como outras proteínas cloroplásticas, sofre hidrólise preferencial durante este período. Em

35
cloroplastos isolados observou-se que a GS2 é mais suscetível à hidrólise e degrada mais
rapidamente de que a RUBISCO e outras enzimas de assimilação de C (Mitsuhashi e Feller, 1992;
Thoenen e Feller, 1998). A GS1 citossólica, por sua vez, se mantém constante e pode até aumentar
ligeiramente durante a senescência (Makino et al., 1983; Kamachi et al., 1991; 1992).
A GS1 converte glutamato em glutamina aumentando assim a eficiência de transporte de N,
pois a glutamina carreia dois nitrogênios por cinco carbonos.
Em folhas de arroz senescente observa-se que a GS citossólica está predominantemente
localizada nas bainhas vasculares (Sakurai et al., 1996) indicando seu estreito papel para a formação
de compostos para o transporte de N. Yamaya et al. (2002) detectaram imunocitologicamente
proteína GS1 citossólica em folhas senescentes de arroz, especificamente em células companheiras
importantes para o carregamento do floema. Estes resultados contribuem para caracterizar a
importância da GS1 para a formação de compostos de N a serem exportados das folhas senescentes.
Segundo pode ser a responsável pela conversão de glutamato e NH4+ em glutamina.
Portanto, a GS1 das folhas senescentes seria a enzima responsável pela síntese de glutamina, que
por sua vez seria então Buchanan-Wollaston e Ainsworth (1997), a GS1 citossólica está envolvida
na remobilização de compostos nitrogenados, pois a expressão de genes que codificam para a GS1
aumenta durante a senescência. Entretanto, pode haver controle pós-traducional da GS1 por
fosforilação, o que protege a enzima da degradação, e também podem ocorrer interações com
proteínas 14-3-3 que aumentam a atividade da GS1 (Finnemann e Schoerring, 2000).
Enquanto a GS1 citossólica permanece ativa por mais tempo a GS2 plastidial é perdida nas
folhas de cereais na fase inicial da senescência juntamente com outras proteínas cloroplásticas.
Desta maneira, durante o período reprodutivo, apesar da atividade da GS total (GS1 + GS2)
diminuir, a atividade da GS1 remanescente transferida para os tecidos em crescimento. A GS1
citossólica nestas circunstâncias envolvida na formação de compostos de transporte, a partir do
catabolismo de proteínas.
Como ocorre progressiva deterioração das funções do cloroplasto durante a senescência e as
enzimas cloroplásticas como RUBISCO, GS cloroplástica e Fd-GOGAT também são degradadas,
parece lógico que o glutamato deixe de ser o principal aminoácido de transporte e essa posição
passe à glutamina. A glutamina pode transportar mais N, por unidade de C do que o glutamato. Esta
modificação no metabolismo é benéfica no período da senescência, quando a taxa fotossintética está
declinando e a produção de esqueletos de carbono é limitada. Isto pode acionar outras enzimas,
como a glutamato desidrogenase, para que, através de sua função de desaminação possa suprir, em
parte, esta demanda por esqueletos de carbono (Thomas, 1978; Robinson et al., 1990, 1992).

36
Durante esses processos tem sido observado aumento da atividade da GS1 citossólica,
NADH-GOGAT e GDH, o que sugere a participação dessas isoenzimas na remobilização do
nitrogênio (Hirel, et al. 2001; Lea et al., 1990; Stewart et al., 1980). Alta atividade de GDH está
freqüentemente, presente nas raízes e folhas senescentes (Srivastava e Singh, 1987; Smirnoff e
Stewart, 1987).

8.2 Enchimento dos Grãos

Durante o enchimento dos grãos, há duas fontes de N para a planta: o N absorvido do solo e
o N remobilizado dos tecidos vegetativos (Ta e Weiland, 1992).
Inicialmente o N é mobilizado das folhas e caules como parte do processo de
envelhecimento (senescência), mas o N disponível no solo também é absorvido. No entanto se esses
dois processos são incapazes de sustentar a demanda de N dos grãos, então ocorre uma aceleração
no processo de senescência com aumento da remobilização do N das folhas e em menor extensão do
caule (Borrel e Hammer, 2000).
Durante a fase de enchimento dos grãos, os fotossíntetatos produzidos são canalizados
primariamente para as sementes em desenvolvimento, sendo o suprimento via raízes limitado.
Ta e Weiland (1992) usando 15N para medir a taxa de remobilização de N, sob condições de
campo, em milho, observaram que as folhas e caules forneceram cerca de 45% do N remobilizado
durante o enchimento dos grãos, enquanto as raízes contribuíram com cerca de 10%.
Portanto, os nutrientes absorvidos através das raízes não são suficientes para suprir as
necessidades de desenvolvimento dos grãos, os nutrientes são então translocados das folhas para os
órgãos em desenvolvimento, ocorrendo a senescência rápida das folhas.
Desta forma, a reposição de nutrientes poderia manter a taxa de fotossíntese por um tempo
maior, e se refletir em aumento da produção de grãos. A manutenção do metabolismo das folhas
parece importante para garantir o melhor desenvolvimento dos grãos. Del Molino et al. (1989)
observaram em trigo, que após a antese, os grãos são o principal dreno para o N das folhas, portanto
a senescência foliar que ocorre durante o enchimento do grão, têm grande importância para a
produção de grãos e conteúdo de proteína.
Yang et al. (2000) observaram que fertilização nitrogenada pesada atrasou a senescência em
trigo e resultou em lento enchimento do grão e baixo índice de colheita. Esse atraso na senescência
pode ser revertido se as plantas forem submetidas durante o estágio tardio de enchimento dos grãos
a uma retirada controlada da umidade do solo, que promove assim a remobilização de assimilados
pré-armazenados para o enchimento dos grãos e aumento da produção.

37
Sob condições de estresse abiótico tais como seca e deficiência de N, a remobilização dos
tecidos vegetativos torna-se particularmente importante para o crescimento dos grãos (Ta e
Weiland, 1992).
Desde que as folhas contribuem com a maior parte dos substratos nitrogenados para o
desenvolvimento dos grãos, o aumento na concentração total de aminoácidos foliares,
particularmente glutamato, aspartato e suas amidas glutamina e asparagina pode ser o responsável
pelo aumento no conteúdo de proteína nos grãos de dois genótipos de soja que receberam 30 mM de
N (Nakasathien et al., 2000).
Barneiz e Guitman (1993) também observaram que a biossíntese de proteína em grãos de
trigo é substrato-dependente da quantidade de aminoácidos presente nas folhas e que o aumento nos
teores de aminoácidos foliares poderia intensificar a exportação de aminoácidos para os grãos.
Segundo Masclaux et al (2000) a taxa de senescência e remobilização foliar está relacionada
ao ‘status’ de N e relação fonte-dreno. Em trabalho com arroz, Souza et al. (1998) observaram que a
taxa diária de perda de N entre a antese e a coleta final da parte aérea de uma variedade tradicional
Piauí (9,94 mg N/dia) foi cerca de duas vezes maior do que a de uma variedade melhorada IAC-47
(4,66 mg N/dia). Para a variedade Piaui o N perdido da parte aérea correspondeu a 75% do N-
acumulado nos grãos e na IAC-47 a 42%. De acordo com estes resultados a variedade tradicional
Piauí apresenta maior eficiência de remobilização do N acumulado na planta o que pode indicar um
processo de adaptação a condições de disponibilidade sazonal de N, como acontece nos trópicos. As
plantas de ambas as variedades quando receberam N suplementar durante o enchimento dos grãos
tiveram uma taxa diária de perda de N da parte aérea menor do que o das plantas sem
suplementação nitrogenada, indicando que quando há uma fonte externa de N a planta utiliza menos
de suas reservas vegetativas para o desenvolvimento dos grãos.

38
9 REFERÊNCIAS

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glutamate synthase system in rice seedling roots. Plant and Cell Physiology, 18:1121-1129, 1977.

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50
CAPÍTULO 10

POTÁSSIO

Egon José Meurer

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia, Departamento de


Solos. Av. Bento Gonçalves, 7712 – Agronomia - 90001-970 - Porto Alegre, RS - Brasil -
Caixa-Postal: 776 - E-mail: egon.meurer@ufrgs.br

SUMÁRIO

1 POTÁSSIO ........................................................................................................ 413

1.1 Forma e modo como o nutriente está presente na rizosfera .............................. 414

1.2 Dinâmica da interface solo-planta ..................................................................... 414

1.3 Liberação do potássio não trocável por ação das raízes .................................... 418

1.4 Disponibilidade do potássio para as plantas na interface solo-planta ............... 419

1.5 Mecanismos de absorção do potássio................................................................. 421

1.5.1 O suprimento do potássio às raízes.................................................................... 421

1.5.2 O influxo do potássio......................................................................................... 424

1.5.3 Predição da absorção de potássio por modelos mecanísticos............................ 428

1.6 Transporte e acúmulo ........................................................................................ 430

1.7 Efeitos no crescimento....................................................................................... 432

1.8 Toxidez.............................................................................................................. 434

2 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................... 436

1
1 POTÁSSIO

O potássio é o cátion mais abundante no vegetal sendo absorvido em grandes

quantidades pelas raízes. Tem importante função no estado energético da planta, na

translocação e armazenamento de assimilados e na manutenção da água nos tecidos

vegetais. O potássio não faz parte de nenhuma estrutura ou moléculas orgânicas na planta,

como o nitrogênio e fósforo que são constituintes de proteínas, ácidos nucléicos,

fosfolipídios, ATP entre outros. O íon K+ encontra-se predominantemente com cátion livre

ou como cátion adsorvido e pode facilmente ser deslocado das células ou dos tecidos

vegetais (Lindhauer, 1985). Esta alta mobilidade nas plantas explica as principais funções

e características do K+ como o principal cátion que atua na neutralização de cargas e como

o mais importantes e ativo componente inorgânico osmótico (Clarkson & Hanson, 1980). A

alta concentração do potássio no citoplasma e nos cloroplastos é responsável pela

manutenção do pH das células e tecidos entre 7 e 8. Em plantas deficientes em potássio se

o pH cai abaixo de 7 muitos processos na planta poderão ser paralisados. O potássio atua

em muitos processos fisiológicos no vegetal (Marschner, 1995): ativa mais do que 60

sistemas enzimáticos (sinteases, oxidoredutases, deidrogenases, transferases, kinases), atua

na fotossíntese, favorece um alto estado de energia (necessária para a produção da ATP),

mantém o turgor das células, regula a abertura e fechamento dos estômatos, promove a

absorção de água, regula a translocação de nutrientes na planta, favorece o transporte e

armazenamento de carboidratos, incrementa a absorção do nitrogênio e a síntese de

proteínas, participa na síntese de amido nas folhas.

2
Estas múltiplas funções do potássio nos processos metabólicos resultam em vários

efeitos positivos nas plantas quando há uma adequada nutrição do potássio (Imas, 1999):

incremento no crescimento das raízes, aumento da resistência às secas, às baixas

temperaturas, resistência a pragas e moléstias, resistência ao acamamento das plantas e

incremento na nodulação das leguminosas. A adequada nutrição do potássio promove,

também, qualitativamente, incremento no teor de proteína, de amido nos grãos e tubérculos,

na coloração e aroma dos frutos, no teor de vitamina C e de sólidos solúveis, na redução de

desordens fisiológicas. Possibilita, também, períodos maiores de armazenamento de

culturas como da banana, tomate, batata, cebola, e outras (Usherwood, 1985; Koo, 1985;

Mengel, 1997).

1.1 Forma e modo como o nutriente está presente na rizosfera

No solo e na região da rizosfera (volume de solo compreendido numa distância de

0,1 a 1,5 mm da raiz, em média) o potássio pode ser encontrado sob diferentes formas:

como íon livre (K+) na solução do solo, adsorvido como complexo de esfera-externa nos

minerais da argila e na matéria orgânica do solo, como complexo de esfera-interna nas

entrecamadas de minerais de argila e fazendo parte da estrutura de minerais primários

fontes de potássio (Sposito, 1984; Sparks & Huang, 1985).

1.2 Dinâmica da interface solo-planta

3
O íon potássio (K+) presente na solução do solo é a forma como as plantas absorvem

esse nutriente. A quantidade de K+ na solução necessária para o crescimento dos vegetais

depende da espécie e do estádio de crescimento da planta. O teor do potássio na solução do

solo pode variar desde 1 mg L-1 até 50 mg L-1, ou mais, em solos fertilizados, e depende das

características químicas e mineralógicas dos solos.

O íon potássio em solução e o potássio trocável são, inicialmente, as formas do

elemento prontamente disponíveis para as plantas. Solos com alto teor de K-trocável, pelo

rápido equilíbrio com o K-solução, mantêm um alto gradiente de concentração, o que

favorece a difusão do K+ para junto da superfície radicular (item 9.3). A relação entre as

quantidades do potássio na forma trocável e o potássio na solução (K-trocável / K-solução)

é denominada de poder tampão de potássio (PTK). É uma relação simplificada que

possibilita uma estimativa da quantidade de K-trocável que é necessária na fase sólida do

solo para manter determinada concentração de potássio na solução. No Quadro 9.1 são

mostrados os teores de K-solução e de K-trocável em algumas unidades de solos da região

sul do Brasil.

4
Quadro 9.1 Teores de potássio trocável e de potássio na solução em solos do Estado do
Rio Grande do Sul fertilizados com potássio ( Meurer, 1991).

Solos K-trocável K-soluçν


νo
mmoles L-1 solo mmoles L-1 soluçνo
Argissolo Vermelho Distrófico arΛnico 0,77 2,38
Latossolo Vermelho Distrófico típico 1,43 0,62
Argissolo Vermelho-Amarelo alumínico típico 2,08 0,31
Latossolo Vermelho Distrófico típico 2,53 0,56
Argissolo Vermelho Distrófico típico 3,36 0,54
Latossolo Vermelho Auminoférrico típico 3,01 0,20
Latossolo Vermelho Distroférrico típico 4,23 0,24
Latossolo Bruno Dlumínico câmbico 4,49 0,43
Planossolo Háplico Eutrófico vértico 2,68 0,38
Chernossolo Ebânico Carbonático vértico 2,67 0,40
Vertissolo Ebânico Órtico chernossólico 6,16 0,35

O potássio trocável, forma prontamente disponível para as plantas, é o que se

encontra adsorvido na forma de complexo de esfera-externa na superficie siloxana de

tetraedros de silício) dos minerais de argila, na forma de enxame de íons difusíveis

neutralizando somente cargas superficiais em minerais silicatados do tipo 2:1, adsorvido

como complexo de superfície de esfera-externa nos grupos funcionais aluminol e silanol da

caulinita e também como complexo de esfera-externa na matéria orgânica do solo. O

potássio não trocável está quimiossorvido na forma de complexo de esfera-interna nas

entrecamadas de argilominerais do tipo 2:1, como na vermiculita, por exemplo, e o que faz

parte da estrutura dos minerais primários, como os feldspatos de potássio, micas e outros

5
minerais fontes de potássio em solos ( Greenland & Mott, 1978; Sposito, 1984; Sposito,

1989).

O potássio não trocável poderá estar disponível para as plantas a curto, médio e

longo prazos. Diversos trabalhos têm mostrado que em solos intemperizados, como os

brasileiros, o potássio nas formas não trocáveis é capazes de fornecer quantidades

significativas desse nutriente para as plantas (Oliveira et al., 1971; Mielniczuk & Selbach,

1978, Rosolem et al., 1988; Nachtigall & Vahl, 1991a; Nachtigall & Vahl, 1991b; Rosolem

et al., 1993; Silva & et al., 1995). No Quadro 9.2 são apresentados os resultados obtidos

num desses trabalhos onde se evidencia que a maior parte do potássio absorvido pela

cultura do azevém foi proveniente de formas não trocáveis do potássio.

Quadro 9.2 Formas e quantidade de potássio absorvido por azevém perene cultivado em
solos do Estádio do Rio Grande do Sul (Oliveira et al., 1971)

Solos Material K-
origem total K absorvido pelo azevém (1)
do K-trocável do K- nνo Total
trocável
Latossolo Vermelho Basalto 1.960 17 399 416
distroférrico típico
Latossolo Vermelho Basalto 4.560 45 400 445
distroférrico típico
Latossolo Bruno Basalto 2.600 44 412 456
alumínico câmbico
Neossolo Litólico Basalto 6.400 313 427 740
Eutrófico chernossólico
Neossolo Sedimentos 2.080 13 257 270
QuartzarΛnico órtico Costeiros
típico
Neossolo Flúvico Sedimentos 12.000 122 426 548
Aluviais
Argissolo Vermelho Arenito- 14.200 17 442 459
distrófico latossólico argilito

(1) em sete cortes

6
Vários estudos foram conduzidos para quantificar a liberação de potássio das

frações granulométricas dos solos (K-não trocável). Em solos arenosos Sadusky et al.

(1987) e Parker et al. (1989) observaram que a fração areia de solos da planície da costa

atlântica dos Estados Unidos teve importância na liberação de potássio para as plantas,

tendo o nutriente sido liberado de feldspatos contidos nestes solos. Meurer et al. (1996)

relatam que 76% do teor total de potássio de um Latossolo Vermelho Distroférrico típico

do Estado do Rio Grande do Sul estava contido na fração argila; o teor de K-não trocável

correspondeu a 12% do K-total e se encontrava na quase totalidade (84%) na fração argila

desse Latossolo.

1.3 Liberação do potássio não trocável por ação das raízes

As raízes pela absorção de nutrientes e liberação de exsudatos criam o seu redor

uma área (rizosfera) cujas características químicas e biológicas são bastante distintas da

massa de solo distante da raiz (fora da rizosfera). A absorção pelas raízes exaure o K-

solução (Niebes et al., 1993) e o K-trocável rizoférico (Kuchenbuch & Jungk, 1982),

porém, sem alterar o teor de potássio do solo não rizosférico. A exaustão do potássio junto

a superfície radicular origina um gradiente de concentração que provoca a liberação de K-

não trocável (Hinsinger et al., 1992; Hinsinger et al., 1993; Hinsinger & Jaillard, 1993),

podendo induzir, inclusive, a transformação de minerais após curtos períodos de cultivo.

Kuchenbuch (1985) verificou que em solo deficiente em potássio o K-não trocável

contribuiu com 85% do total absorvido por plantas de colza com sete dias de idade e que a

baixa concentração de K+ na solução do solo provocou liberação de potássio da mica

presente na rizosfera do solo. Niebes et al. (1993) constataram que após oito dias de cultivo,

ocorreu acentuada diminuição do teor de potássio em frações granulométricas na rizosfera

7
de plantas de Brassica napus cv Drakkar. Hissinger et al. (1993) constataram que os

exsudatos dessa mesma espécie induziram transformação irreversível da mica flogopita em

vermiculita. Segundo os autores, o provável mecanismo que induziu a transformação foi a

excreção de prótons que diminuiu o pH da rizosfera causando a dissolução do mineral.

Silva et al., (1995) em dois Latossolos do Estado do Paraná constataram que o potássio

trocável não foi a única fonte do nutriente para as plantas de soja. Nos dois Latossolos

identificaram minerais micáceos nas frações silte e argila e argilominerais 2:1HE na fração

argila que poderiam estar associados a liberação do K-não trocável. Melo et al. (2004)

estudando a distribuição da reserva de K e Mg nas diferentes classes da fração areia de

solos do Triângulo Mineiro e o potencial de liberação de formas não-trocáveis e estruturais

destes nutrientes para as plantas, verificaram que solos com teores totais elevados de K e

Mg na fração areia, geralmente, apresentaram maior capacidade de liberação de parte

desses nutrientes para a solução do solo. A fração areia dos solos originados de arenito da

Formação Uberaba e de migmatito/micaxisto do Grupo Araxá apresentaram as maiores

reservas e liberação de K e Mg. Kuchenbuch (1985) afirmou que a contribuição do K-não

trocável no suprimento do nutriente às raízes é a freqüente razão das relações pouco

significativas encontradas entre os resultados das análises convencionais de solo e o

rendimento das plantas e entre estas e as adubações potássicas.

1.4 Disponibilidade do potássio para as plantas na interface solo-planta

No Brasil o potássio extraível (K-trocável + K-solução) pelas soluções de Mehlich 1

(HCl 0,05 mol L-1 + H2SO4 0,0125 mol L-1) ou por acetato de amônio 1 mol L-1 tamponado

a pH 7, são os índices mais utilizados pelos laboratórios de análises de solos para avaliar a

8
disponibilidade deste nutriente para as plantas. Como a dinâmica de disponibilidade do

potássio na rizosfera é bem diferente daquela que ocorre no solo como um todo, o índice K-

extraível, isoladamente, não tem se mostrado adequado para estimar a disponibilidade deste

nutriente para as plantas (Grimme & Nemeth, 1979; Ritchey, 1982). É o que confirmam

as pesquisas de Silva & Meurer (1988) e de Meurer & Anghinoni (1993) em solos com

diferentes características mineralógicas, químicas e físicas, derivados de argilito, siltito,

arenito, basalto e granito. Os resultados destes trabalhos mostraram que o K-trocável

somente em 59% e 52% dos casos se relacionou com o potássio absorvido por plantas de

trigo e de sorgo, respectivamente (Figura 9.1). Silva & Meurer (1988) e Meurer &

Anghinoni (1993) também constataram que a predição da disponibilidade do potássio para

as plantas pôde ser significativamente melhorada pela discriminação dos solos segundo sua

capacidade de troca de cátions (CTC). Este procedimento já foi adotado nas recomendações

de adubação potássica para solos do Cerrado brasileiro (Sousa & Lobato, 2002 e para solos

dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Sociedade, 2004).

A avaliação da capacidade de suprimento das formas do potássio não trocável para

as plantas tem sido feita com a utilização do HNO3 1mol L-1 fervente (Pratt, 1973), H2SO4

concentrado (Hunter & Pratt, 1957) e pelo tetrafenilborato de sódio (Shulte & Corey, 1965)

ou por cultivos sucessivos (Oliveira et al., 1971; Crisostomo e Castro, 1970; Mielnizcuk &

Selbach, 1978). Nachtigal & Vahl (1991a), em pesquisa com 44 amostras de solos da

região sul do Estado do Rio Grande do Sul, encontraram que a capacidade de suprimento de

potássio dos solos, medida pela extração do K em cultivos sucessivos, correlacionou-se

significativamente com o K extraível pelo do HNO3 1mol L-1 fervente e com o K-trocável.

9
POTÁSSIO ABSORVIDO, mmol vaso-1
5
Y = 0,27 + 0,58 Ktroc
4 R2 = 0,518

0
0 1 2 3 4 5

-1
POTÁSSIO TROCÁVEL, mmol L

Figura 9.1 Relação entre o potássio extraído por acetato de amônio 1 mol L-1 e o potássio
absorvido por plantas de sorgo aos 18 dias de idade em onze amostras de solos do
Estado do Rio Grande do Sul, derivados de argilito, siltito, arenito, basalto e granito,
fertilizados com oito níveis de potássio (Meurer & Anghinoni, 1993).

1.5 Mecanismos de absorção do potássio

1.5.1 O suprimento do potássio às raízes

As plantas absorvem o íon K+ da solução do solo e para que a absorção

efetivamente ocorra é necessário que o nutriente entre em íntimo contato com a superfície

da raiz. A difusão e o fluxo de massa são os principais mecanismos de transporte

(suprimento) do K+ da solução do solo até a superfície radicular (Barber, 1995). O

suprimento por fluxo de massa depende da quantidade de água transpirada pela planta e do

teor do K+ na solução do solo. A difusão, que é o principal mecanismo de suprimento do

potássio às raízes, ocorre em resposta a um gradiente resultante das diferenças de

concentração do K+ entre a superfície da raiz e a rizosfera. A difusão do potássio para as

raízes é limitada à rizosfera, isto é, à distâncias muito curtas da superfície da raiz,

usualmente em torno de 1 a 4 mm.

10
Vargas et al. (1983) verificaram, em amostras de 12 unidades de solos com

diferentes características químicas, físicas e mineralógicas, que o mecanismo de difusão

supriu, na média, cerca de 90% da quantidade do potássio que foi absorvido por plantas de

milho. Ruiz et al., (1999) e Rosolem et al. (2003) também constataram que a difusão foi o

principal mecanismo de suprimento de potássio às raízes de milheto e de plantas de arroz,

respectivamente.

A equação (simplificada) a seguir descreve a quantidade de nutriente que chega à

superfície radicular (Corey & Schulte, 1993; Anghinoni & Meurer, 2004):

dq / dt = D 2 A f [(C1 –C2) / L]

onde:
dq / dt a quantidade do nutriente que chega à superfície radicular na unidade
de tempo (segundo),
D coeficiente de difusão do nutriente na água; para o íon K o valor de D
é de aproximadamente 1,98 x 10-5 cm2 s-1,
2 teor de água volumétrica do solo
f fator tortuosidade; é o caminho efetivo que o íon deve percorrer no
solo até alcançar a superfície da raiz. Está relacionado à textura: em
solos muito argilosos, por exemplo, o caminho do íon até a superfície
da raiz é mais tortuoso. Afeta o fator L descrito abaixo.
A área superficial das raízes
C1 concentração do nutriente na solução do solo a uma distância L da
raiz,
C2 concentração do nutriente na superfície da raíz,
L distância entre C1 e C2 que pode variar de 0,4 a 4,0 mm,

11
Esta equação mostra que a quantidade do íon que chega à superfície da raiz depende

do coeficiente de difusão desse íon no solo, da tortuosidade do caminho difusivo, do teor de

água volumétrica no solo, da área superficial das raízes e do gradiente de concentração.

O fator A, área superficial das raízes, além de depender das características físicas e

químicas do solo, é dependente de características da própria planta. Plantas que apresentam

sistema radicular extenso, com muitas raízes finas, possuem uma grande área radicular (A)

para a absorção dos nutrientes. Qualquer fator que impeça o desenvolvimento das raízes,

como a presença de substâncias tóxicas, como o alumínio livre na solução do solo,

deficiência de oxigênio, compactação do solo, necessariamente diminuirá a taxa de difusão

de nutrientes até às raízes (Corey & Shulte, 1993).

Solos que mantêm um gradiente de concentração (C2 – C1) alto podem suprir maior

quantidade do nutriente por difusão. Quanto maior for a concentração do nutriente na

solução solo e maior a capacidade da planta de absorvê-lo, mantendo baixa a concentração

na superfície da raiz, maior será a taxa de difusão (Barber, 1995).

A aplicação direta a campo da equação que descreve a quantidade de nutriente que

chega à superfície radicular pode apresentar alguma dificuldade para determinação de

algumas variáveis da equação. Entretanto pode-se observar ou inferir o efeito de alguns

atributos e propriedades dos solos que podem afetar a absorção dos nutrientes. Por

exemplo, solos argilosos possuem maior capacidade de reter a água (fator 2) do que solos

arenosos, o que favorece a difusão dos nutrientes. Solos que apresentam propriedades

físicas que não apresentem impedimentos mecânicos para o desenvolvimento do sistema

radicular, aumentam o termo A, o que favorece a absorção dos elementos nutrientes das

plantas.

12
1.5.2 O influxo do potássio

A taxa de absorção do potássio pela planta por unidade de superfície radicular é

denominada de influxo de entrada de potássio (In). O influxo de entrada aumenta com a

concentração do K na solução do solo até que um máximo é alcançado (Barber, 1982;

Barber, 1995). Na Figura 9.2 mostra-se a relação entre o influxo de entrada e a

concentração de K em solução em plantas de sorgo aos 18 dias de idade.

1,8
INFLUXO DE K, umol cm raiz s x 10E-05

I max
1,6

1,4
-1

1,2
-2

1,0

0,8
Imax = 1,59E-05 umol L-1
0,6
Km = 12,07 umol L-1
0,4
Cmin = 1,02 umol L-1
Km
0,2

0,0
0 50 100 150 200
-1
K SOLUÇÃO, mmoles L

Figura 9.2. Influxo de potássio por plantas de sorgo aos 18 dias de idade em função da
concentração de potássio na solução, descrita pela cinética de Michaelis-Menten
(Meurer &Anghinoni, 1999)

Barber (1995) prefere usar o índice Imax, ao invés de Vmax (parâmetro original da

cinética enzimática), para descrever o influxo de nutrientes nas raízes das plantas, onde foi

acrescentado o parâmetro Cmin à equação de Michaelis-Menten para caracterizar a

13
concentração do nutriente na solução externa onde o influxo liquido torna-se zero (In = 0).

Assim, o influxo liquido (In) do íon é descrito por (Barber, 1995):

In Imax ( C1 Cmin )
Km ( C1 Cmin )

Onde:

In fluxo de entrada do potássio


I max valor máximo do influxo
C concentração do potássio na solução
C min concentração do potássio na soução abaixo da qual o fluxo
cessa
Km constante de Michaelis-Menten correponde ao valor de C quando
I = ½ Imax. Km representa a afinidade (associação) do íon
pelos transportadores (carregadores) através da membrana
plasmática. Quanto menor o valor de Km, maior é a afinidade do
carregador pelo íon.

No modelo cooperativo proposto por Hodges (1973), para explicar a dinâmica da

absorção, o carregador de íons consiste de várias subunidades e existe uma interação entre

estas sub-unidades que é responsável pelo decréscimo da afinidade pelos íons quando a

concentração da solução externa aumenta. O modelo também sugere que a variação do

campo elétrico dos sítios de ligação dos carregadores é a responsável pela seletividade da

absorção de íons pela raíz. A respiração aeróbica fornece a energia necessária para a

absorção dos íons pela raiz e a ATP parece ser a fonte primária de energia para a absorção.

Estudos recentes no campo do transporte de solutos através da membrana plasmática

demonstraram a existência de canais, como uma descoberta revolucionária nesse campo

14
(Schauf, 1987). Nissen (1991) sugere que o transporte dos íons seria feito por

transportadores que apresentam a capacidade de adquirirem formas variadas. Nessa

estrutura, há um sítio de transição que fica exposto somente na parte externa do

transportador e, por conseguinte, em contato com a solução externa. Esse sensor seria o

responsável por induzir as mudanças conformacionais da estrutura protéica transportadora.

Sob baixas concentrações, o transportador apresenta forma de transporte individual, de alta

afinidade. Em condições de altas concentrações a estrutura transportadora adquire forma de

canal, adquirindo características de alto influxo e baixa afinidade e seletividade.

Os valores de Imax, Km e Cmin são determinados experimentalmente com plantas

crescendo em solução nutritiva, determinando-se a cinética de absorção pela taxa de

exaustão da solução em relação a sua concentração inicial de potássio Esses índices

caracterizam os parâmetros cinéticos de absorção dos nutrientes e variam acentuadamente

entre espécies, e mesmo, entre genótipos da mesma espécie, e estão associados à eficiência

da absorção. Os programas de melhoramento devem selecionar espécies ou genótipos que

apresentem valores elevados para Imax e valores baixos para Km e Cmin.

Fatores inerentes à própria planta, como idade da raíz, idade da planta, fatores de

natureza química e física, como interações ou antagonismo entre íons, teor de oxigênio na

rizosfera, temperatura, entre outros, podem afetar significativamente a absorção do potássio

pelas raízes das plantas. As plantas mais jovens são mais eficientes do que as mais velhas

para absorver os nutrientes (Becker & Meurer, 1986). As taxas de absorção para todos os

nutrientes decrescem rapidamente com a idade da planta. Assim, raízes jovens numa planta

mais velha não absorvem os nutrientes na mesma taxa que raízes jovens numa planta

jovem. A idade da raiz, ou o período que permanecem ativas também afeta o influxo dos

íons. A idade da raiz aumenta com o seu crescimento, assim, é nas extremidades das raízes
15
que se localizam as células mais jovens. Diversos autores tentaram estimar a idade efetiva

da raiz, isto é o tempo que permanecem ativas para a absorção. Em geral os estudos

realizados indicam que possivelmente a raíz permanece ativa por 5 a 8 dias (Barber, 1995).

Nos Quadros 9.3 e 9.4 pode ser observado como a presença de outros nutrientes na

solução, as diferenças na capacidade de absorção entre genótipos e a idade da plantas,

afetam o influxo de potássio pelas plantas.

Quadro 9.3 Pârametros cinéticos de absorção de potássio por dois genótipos de arroz
submetidos a três tratamentos: A) solução nutritiva normal; B) solução normal +
100 mg L-1 de Fe2+ e C) solução com 100 mg L-1 de Fe2+ e baixas concentrações de
Ca e Mg (Vahl et al., 1993)

Genótipo Tratamento Imax Km Cmin


0moles min-1 m-1 :moles L-1 de solução
de raiz
A 1,29 9,28 1,18
EEA 406 B 0,80 14,67 4,48
C 0,68 20,50 7,84

A 0,78 8,64 1,68


BR IRGA 409 B 0,45 21,20 11,92
C 0,30 27,10 17,50
DMS 5% 0,50 4,16 7,47

16
Quadro 9.4 Parâmetros cinéticos de absorção de K+, de quatro cultivares de soja
submetidos a dois níveis do nutriente na solução de crescimento, aos 20, 40 e 60
dias após a transferência para a solução de crescimento (Sacramento e Rosolem,
1998)

Níveis de K (mmol L-1)


Cultivares 1,82 0,50 1,82 0,50 1,82 0,50
Vmax Km Cmin
µmol g-1 h-1 µmol L-1
20 dias
IAC 17 170,70 62,76 117,03 20,64 29,68 3,66
IAC 18 165,52 57,46 140,60 18,18 63,53 3,66
FT 2 42,56 112,93 94,11 21,80 24,41 4,33
IAC 11 240,42 64,06 136,69 19,39 28,59 4,67
40 dias
IAC 17 6,19 22,57 79,26 35,07 32,97 2,10
IAC 18 9,75 20,04 149,97 53,74 69,53 2,99
FT 2 30,06 27,71 129,70 29,70 21,72 1,71
IAC 11 10,01 31,71 136,33 58,95 102,02 2,55
60 dias
IAC 17 9,97 20,52 103,14 71,84 14,70 1,65
IAC 18 4,94 9,59 128,78 39,73 24,70 1,65
FT 2 11,25 32,35 134,15 40,09 34,36 1,65
IAC 11 7,37 15,58 104,94 36,75 35,70 1,65

1.5.3 Predição da absorção de potássio por modelos mecanísticos

A absorção dos nutrientes é função da demanda pela planta e da capacidade de

suprimento do solo. Diversos modelos matemáticos foram desenvolvidos com o objetivo de

17
simular a interação dinâmica entre estes dois processos e são baseados essencialmente nos

mesmos princípios. Os modelos predizem a absorção integrando o suprimento potencial do

solo por difusão e fluxo de massa com o tamanho, morfologia e taxa de crescimento do

sistema radicular e com a cinética de absorção do nutriente pela raiz. Quando o modelo

descreve adequadamente a absorção ele pode ser utilizado para determinar o importância

relativa de cada parâmetro na absorção, o que pode proporcionar um entendimento mais

fundamental da dinâmica de disponibilidade dos nutrientes no solo e dos fatores que a

afetam (Barber, 1995). Meurer & Anghinoni (1994) utilizaram o modelo mecanístico

desenvolvido por Barber & Cushman (1981) para avaliar a disponibilidade de potássio em

oito solos com diferentes características mineralógicas e difusivas e submetidos a diferentes

doses de adubação potássica. O modelo estimou satisfatoriamente a absorção do potássio,

nesses solos para plantas de sorgo (Figura 9.3). O modelo subestimou a absorção em

situações em que ocorreu liberação de potássio de formas não trocáveis. Mas foi muito

mais eficaz que na situação em que a predição da disponibilidade do potássio para as

plantas foi realizada utilizando-se somente o índice K-trocável como apresentado na Figura

9.1.

O modelo foi útil para efetivação de testes de sensibilidade como parâmetros de solo

(concentração inicial de K na solução, poder tampão e coeficiente de difusão de potássio no

solo), morfológicos de raiz da planta (raio médio das raízes, meia-distância entre elas,

comprimento inicial e taxa de crescimento e taxa de absorção de água) e de solo (Imax,

Km, Cmin) podem afetar a absorção do potássio. Os resultados mostraram que entre os

parâmetros de solo testados os que mais afetaram a absorção do K foram o teor de água

volumétrica e o teor inicial de potássio na solução do solo; dos parâmetros morfológicos de

18
planta o que mais afetou a absorção foi a taxa de crescimento das raízes, que afeta

diretamente a área efetiva para a absorção.

-1
ABSORÇÃO PREDITA, mmoles vaso

4
Y = 0,083 + 0,874 X
2
R = 0,800

0
0 1 2 3 4
POTÁSSIO ABSORVIDO, mmol vaso-1

Figura 9.3 Relação entre o potássio absorvido por plantas de sorgo aos 18 dias de idade e a
absorção predita pelo modelo de Barber-Cushman, em oito amostras de solos do
Estado do Rio Grande do Sul com diferentes características mineralógicas e
difusivas (Meurer & Anghinoni, 1994).

1.6 Transporte e acúmulo

O potássio é um elemento muito móvel na planta; tem alta mobilidade intracelular e

nos tecidos, translocando-se dos mais velhos para os mais novos, e no transporte à longa

distância via xilema e floema. O potássio participa ou ativa processos em diversos

compartimentos da planta. Está presente em altas concentrações no citossol e cloroplastos

(100-200 mM), neutralizando ânions solúveis de ácidos orgânicos e inorgânicos, ânions

insolúveis e estabilizando o pH entre 7-8 nesses compartimentos, considerado como ótimo

19
para muitas reações enzimáticas. Em outros compartimentos as concentrações do K+ são

variáveis, como nos vacúolos e células guardas dos estomatos. A concentração do potássio

no floema também é alta; como os solutos no floema podem ser transportados para as

partes superiores e inferiores da plantas, o transporte do K+ à longa distância na planta

ocorre com facilidade. Os órgãos das plantas preferencialmente supridos pelo floema são

as folhas novas, os tecidos meristemáticos e os frutos frescos, e, que apresentam, assim, alta

concentração em potássio (Mengel & Kirkby, 1987; Marschner, 1995). Nos estágios

iniciais de crescimento das plantas os teores de potássio nas plantas são mais elevados

(Quadro 9.5), decrescendo nos estádios mais avançados devido a menor atividade da raiz e

ao menor nível do elemento metabolicamente absorvido ( Fageria, 1982)

Quadro 9.5 Teores de potássio na planta de arroz durante vários estágios de crescimento
(Fageria, 1982)

Estádio de crescimento Teor de K %


Arroz de sequeiro Arroz irrigado
inicio do perfilhamento 3,50 2,74
perfilhamento ativo 3,21 2,18
formação do primórdio floral 2,67 2,20
diferenciação da panícula 2,48 1,78
elongamento da panícula 2,10 1,53
(emborrachamento)
enchimento do grão 1,79 1,40
colheita 2,00 2,21

As necessidade de potássio para o ótimo crescimento das plantas situam-se na faixa

de 2-5% da massa seca das partes vegetativas da planta, frutas frescas e tubérculos.
20
Entretanto, as plantas têm a capacidade de absorver quantidades de potássio superiores às

suas necessidades, o que comumente é denominado de “consumo de luxo de potássio.

O primeiro sintoma visível de deficiência de potássio nas plantas é a clorose em

manchas ou marginal, que, então evolui para necrose, principalmente nos ápices foliares,

nas margens e entre nervuras. Em muitas monocotildôneas, essas lesões necróticas podem

formar-se inicialmente nos ápices foliares e margens, e, então, estender-se em direção a

base.

Como o potássio pode ser remobilizado para as folhas mais jovens, os sintomas de

deficiência aparecem inicialmente nas folhas mais maduras da base da planta. As folhas

podem também, curvar-se e secar. Os caules de plantas deficientes em potássio podem ser

delgados e fracos, com regiões internodais anormalmente curtas (Taiz & Zeiger, 2004).

1.7 Efeitos no crescimento

O potássio é elemento essencial para o crescimento, desenvolvimento e maturação

dos grãos e frutos dos vegetais. Quando os solos apresentam baixos teores do nutriente as

plantas respondem à adubação potássica. Pesquisas realizadas em solos brasileiros não têm

apresentado acentuadas respostas à fertilização com esse nutriente. Isso deve-se,

provavelmente, a fatores como teores de potássio prontamente disponíveis às plantas em

quantidades adequadas no solo, a presença de minerais fontes de potássio, à contribuição de

formas não trocáveis do elemento, entre outros. No Quadro 9.6 apresenta-se a resposta de

plantas de soja à doses crescentes de potássio em solos do Estado de São Paulo, onde pode-

se observar que embora tenha havido resposta da cultura ao potássio, os incrementos não

21
são notáveis. Resultados semelhantes são relatados em diversos trabalhos conduzidos em

solos brasileiros ( Muzilli, 1982).

Quadro 9.6 Efeitos de doses crescentes de potássio na cultura da soja, em 41 ensaios


instalados em Latossolo Roxo no Estado de São Paulo, agrupados segundo o uso
anterior (Miyasaka et al., 1970).

Agrupamento segundo uso da área


Doses de K2O adubada nunca adubada
kg ha-1 rendimento de soja kg ha-1
(%) (%)
0 1.743 ( 92) 1.553 (87)
30 1.883 (100) 1.689 (95)
60 1.875 ( 99) 1.717 (100)
90 1.883 (100) 1.777 (100)

Em solos cultivados com arroz irrigado por alagamento no Estado do Rio Grande do

Sul esta cultura apresenta alta produtividade. Entretanto, na maior parte dos experimentos

realizados não se obteve resposta à adubação potássica, mesmo quando as análises dos

solos indicavam baixos teores de potássio prontamente disponíveis nesses solos. Pesquisas

conduzidas por Castilhos &¨Meurer (2001), Castilhos &¨Meurer (2002), e por Castilhos et

al., (2002), mostraram que a principal razão da ausência de reposta à adubação potássica foi

a presença de minerais fontes de potássio nesses solos.

22
1.8 Toxidez

Não se tem conhecimento de toxidez de potássio em plantas, apesar deste nutriente

ser absorvido por muitas espécies em quantidades superiores às necessárias (“consumo de

luxo”). Entretanto o excesso de potássio pode interferir, positiva ou negativamente, na

absorção de outros cátions pelos vegetais, considerando que a taxa de absorção de um íon

pode ser afetada por outro íon, desde que estejam competindo diretamente pelo mesmo sítio

no carregador. O teor de potássio na planta aumenta a taxa de absorção de nitrato, e pode

inibir as de cálcio e magnésio (Marschner, 1995). Duarte & Anderson (1983) relatam que o

K inibiu a atividade de bactérias anaeróbias utilizadas em processos de degradação

anaeróbica de efluentes de esgotos.

Um exemplo clássico de antagonismo entre íons é o efeito depressivo do potássio

sobre o magnésio. O incremento da concentração do potássio na solução tem um efeito

depressivo na absorção do magnésio, enquanto o inverso não ocorre (Fonseca & Meurer,

1997). Na figura 9.3 observa-se que a absorção do magnésio da solução por plantas de

milho aos 18 dias de idade, foi muito baixa, mesmo quando a concentração de potássio na

solução foi baixa. A absorção do magnésio efetivamente passou a ocorrer quando a

concentração do potássio na solução foi igual ao Cmin para este nutriente. Observa-se,

também na Figura 9.3, que concentrações maiores do que 30 µmoles L-1 de magnésio na

solução não afetaram a absorção do potássio pelas plantas de milho.

23
200 40

Mg NA SOLUÇÃO EXTERNA, mol m-3


K NA SOLUÇÃO EXTERNA, mmol m-3
160 32
Mg

120 24

80 16

K
40 8

0 0
0 50 100 150 200 250 300

TEMPO, minutos

Figura 9.4. Exaustão de potásssio e de magnésio da solução por plantas de milho aos 18
dias de idade (Fonseca & Meurer, 1997).

Indiretamente o potássio pode ter um efeito prejudicial sobre as plantas. Silva et al.,

(2001) relatam que a aplicação de potássio afetou o crescimento radicular de Capsicum

annuum, devido ao efeito salino do KCl sobre as raízes. O fertilizante comercial mais

utilizado para suprir as plantas é o KCl que além do elevado teor de K (50-52% de K),

contém também cloro (47%), que também é nutriente das plantas (Tisdale et al., 1993).

Porém, a aplicação de altas doses de KCl podem afetar o crescimento das plantas por

toxicidade do cloro. O fertilizante KCl não é recomendado para a cultura do tabaco, que

apresenta alta suscetibilidade ao Cl- ; igualmente, deve ser evitado na fertilização de

culturas como a da batatinha, batata-doce e citrus que também são suscetíveis ao cloro.

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35
CAPÍTULO 11

FÓSFORO

Adelson Paulo Araújo(1) & Cynthia Torres de Toledo Machado(2)

(1) Professor do Departamento de Solos, UFRRJ, CEP 23890-000, Seropédica, RJ. (2)
Pesquisadora da Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970, Planaltina, DF.

SUMÁRIO

1 Introdução................................................................................................................................ 448

1.1 Formas de fósforo no solo................................................................................................. 448

1.2 Absorção de fósforo pela membrana celular..................................................................... 449

2 Caracteres radiculares associados à absorção de fósforo ....................................................... 453

2.1 Controle metabólico da absorção de fósforo..................................................................... 457

3 Associações com microrganismos ......................................................................................... 460

3.1 Mudanças na rizosfera...................................................................................................... 463

3.2 Formas de fósforo na planta............................................................................................. 464

3.3 Transporte de fósforo na planta........................................................................................ 467

3.4 Interações do fósforo com outros nutrientes .................................................................... 470

3.4.1 A interação entre fósforo e nitrogênio ................................................................... 470

3.4.2 O fósforo e a fixação biológica de N2 .................................................................... 472

3.5 A interação entre fósforo e zinco ................................................................................. 473

4 Efeitos do fósforo no crescimento vegetal .......................................................................... 475

5 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 479


1 INTRODUÇÃO

O fósforo participa de vários processos metabólicos em plantas, como a transferência de

energia, síntese de é, fotossíntese e respiraçãosimbiótica . Entretanto, a interação do P com

constituintes do solo como Al, Fe e Ca, sua ocorrência em formas orgânicas, e suas lentas taxas de

difusão na solução do solo, tornam o P o nutriente menos prontamente disponível na rizosfera.

Mesmo quando são aplicados fertilizantes, a maior parte do P adicionado é adsorvido em colóides

do solo e torna-se não disponível em compostos de baixa solubilidade, sem propiciar uma

contribuição imediata para a produção vegetal. Além disto, o suprimento mundial de P para

fabricação de fertilizantes origina-se de depósitos minerais, constituindo um recurso natural não

renovável, exigindo um aproveitamento consciente deste nutriente para garantir a sustentabilidade

da agricultura em um futuro próximo da humanidade.

1.1 Formas de fósforo no solo

O P constitui cerca de 0,12 % da crosta terrestre, sendo que as maiores reservas de P na

crosta estão em sedimentos marinhos, solos terrestres, fosfato inorgânico dissolvido no oceano e

rochas com minerais como apatita (Stevenson & Cole, 1999). Apesar de existirem na natureza mais

de 200 minerais de P, apenas o grupo das apatitas tem significação quantitativa. Em escala

geológica, o intemperismo liberou P das apatitas, que foi absorvido pelas plantas e reciclado,

incorporado na matéria orgânica dos solos e sedimentos, ou precipitado como minerais pouco

solúveis de Ca, Fe e Al (Stevenson & Cole, 1999).

O conteúdo total de P nos solos está entre 0,02 e 0,5 %, mas apenas uma pequena fração está

em formas disponíveis para os vegetais. O P no solo pode ser dividido em quatro amplas categorias:

P na forma iônica e em compostos na solução do solo, P adsorvido na superfície dos constituintes

minerais do solo, minerais cristalinos e amorfos de P, e P componente da matéria orgânica (Barber,

1984). As concentrações de fosfato na solução do solo são usualmente muito baixas, variando entre

2
0,1 e 10 µM. Os valores de pK para dissociação do H3PO4 em H2PO4- e HPO4-2 são de,

respectivamente, 2,1 e 7,2, ou seja, abaixo de pH 6 a maior parte do P da solução do solo está na

forma de H2PO4-, usualmente denominada de Pi. Os teores de P orgânico nos solos podem variar

desde quase zero até mais de 0,2 %, e dependendo da classe de solo o P orgânico pode representar

de 20 a 80 % do P total do solo (Stevenson & Cole, 1999). A liberação de P orgânico para a solução

do solo é controlada pela taxa de mineralização da matéria orgânica e depende da atividade

microbiana (Barber, 1984).

Como a taxa de difusão de fosfato no solo é muito baixa (10-12 a 10-15 m2 s-1), a rápida

absorção vegetal cria uma zona de depleção de P em volta da raiz, e os íons se difundem por

gradiente de potencial químico até a superfície radicular (Rausch & Bucher, 2002). Após poucos

dias de absorção, a concentração de P na rizosfera pode reduzir-se de 30 a 50 %, e a zona de

depleção estender-se até cerca de 2 mm da superfície radicular (Jungk, 1987). O coeficiente de

difusão do fosfato é função da umidade do solo, tornando seu movimento mais difícil em solos com

baixos teores de umidade.

1.2 Absorção de fósforo pela membrana celular

Com base nos teores de nutrientes usuais em plantas jovens adequadamente nutridas, a razão

entre o influxo ótimo de N, P e K em raízes seria de 1:0,1:1; entretanto, na maior parte dos solos

férteis, a razão entre os teores disponíveis de N, P e K na rizosfera é de 1:0,001:1, respectivamente

(Gahoonia & Nielsen, 2004). Portanto, a baixa concentração de P disponível nos solos exige um

mecanismo de absorção bastante eficiente. As plantas adquirem P contra um elevado gradiente de

concentração através da membrana plasmática: as concentrações de Pi nas células vegetais são

geralmente mais de 100 vezes superiores (da ordem de mM) às concentrações na solução do solo

(da ordem de µM) (Raghothama, 2000). Isto, em conjunto com a carga negativa dentro da célula,

3
exige que seja gerado um forte gradiente eletroquímico para que o transporte do fosfato para dentro

da célula seja possível (Smith, 2002). A fonte de energia livre para este transporte provém da bomba

de extrusão de prótons através da plasmalema, em que ATPases efetuam o transporte de H+ para

fora da célula, gerando tanto diferença de potencial elétrico (interior negativo), quanto diferença de

pH (exterior ácido) (Glass, 1990; Figura 1). As taxas de absorção de P são maiores entre pH 4,5 e

6,0 na solução, onde a forma H2PO4- é predominante, indicando que o P é preferencialmente

absorvido como H2PO4- (Sentenac & Grignon, 1985). A despolarização da plasmalema após a

absorção de P indica que o H2PO4- deve ser absorvido através de um simporte com cátions,

principalmente H+ (Schachtman et al., 1998).

4
EFLUXO Pi

A Pi

EM
Pi

AL
M
AS
PL
ATP VACÚOLO
H+

O
ADP

AST
PL
NO
TO
+
H
Pi
CITOPLASMA
+
H BAIXA
Pi PPi Pi
+ AFINIDADE
H

ALTA
AFINIDADE

Figura 1: Transporte de fosfato através da plasmalema e do tonoplasto. ATPases na plasmalema e no


tonoplasto provêem a energia para conduzir os processos de transporte de Pi. Os mecanismos de
efluxo contribuem para manter a homeostase nas células. O transporte de Pi no tonoplasto é bi-
direcional (adaptado de Raghothama, 2000).

Estudos de cinética demonstram que as plantas possuem tanto transportadores de baixa

quanto de alta afinidade pelo fosfato: os sistemas de baixa afinidade têm Km variando entre 50 e

300 µM, enquanto os sistemas de alta afinidade apresentam Km entre 2 e 10 µM, mas diante das

concentrações usuais de fosfato nos solos cultivados (1-10 µM), os transportadores de alta afinidade

é que mediam a absorção de P (Vance at al., 2003). Os transportadores de fosfato de alta afinidade,

cujos genes codificadores já foram identificados em plantas, são proteínas com cerca de 58 kDa e

525-550 aminoácidos, que contêm regiões hidrofóbicas transversas à membrana celular,

constituídas de 12 domínios separados em dois grupos de 6 domínios por uma região de alta carga

hidrofílica (Smith, 2002; Vance et al., 2003; Figura 2). Os genes codificadores dos transportadores

de fosfato de alta afinidade são expressos preferencialmente em raízes de plantas sob deficiência de

P, e algumas destas induções gênicas estão diretamente envolvidas no aumento da disponibilidade

de P na rizosfera e na promoção de sua absorção (Raghothama, 2000).

5
H
NH2

DENTRO

FORA

Figura 2: Topologia estimada de transportadores de alta afinidade de fosfato em membranas vegetais


(Vance et al., 2003).

O Pi move-se do córtex ao cilindro central das raízes principalmente pelo simplasto, a uma

taxa aparente de 2 mm h-1, taxa que pode ser atingida apenas pela difusão, mas é provável que o

fluxo transpiratório também contribua com este movimento (Bieleski, 1973). Após sua absorção no

simplasma radicular, o Pi encontra cinco possíveis destinos: (i) ingressa no compartimento

metabólico (citoplasma celular e suas organelas), onde a maior assimilação de Pi em compostos

orgânicos ocorre via formação de uma ligação anidrida no ATP; (ii) uma pequena fração de Pi

ingressa nas vias biossintéticas de P-lipídio, DNA e RNA, tornando-se um componente estrutural da

célula; (iii) uma quantidade variável de Pi é perdida pela célula via efluxo, particularmente em

condições de alto suprimento de P; (iv) ocorre o influxo e armazenamento de Pi no vacúolo para

regular a homeostase de Pi no interior da célula; (v) o Pi é transportado simplasticamente para as

células do parênquima do xilema, e posteriormente secretado no apoplasto do xilema para o

transporte a longa distância para os tecidos da parte aérea (Rausch & Bucher, 2002).

6
2 CARACTERES RADICULARES ASSOCIADOS À ABSORÇÃO DE FÓSFORO

Sistemas radiculares mais extensos aumentam a área de contato entre as raízes e o solo, e

para íons pouco móveis como o fosfato, a absorção é freqüentemente relacionada com o

comprimento radicular. As plantas cultivadas, que usualmente apresentam elevadas taxas de

crescimento, requerem a contínua exploração de novos volumes de solo ainda não exauridos pela

absorção radicular. A morfologia radicular apresenta grandes variações entre espécies, e ao menos

parte desta variação está sob controle genético, apesar de existir considerável plasticidade fenotípica

em muitas espécies, pois a morfologia radicular é muito sensível às propriedades químicas e físicas

do solo (O’Toole & Bland, 1987).

Quando alguns nutrientes limitam o crescimento vegetal, em particular o N e o P, as raízes

transformam-se em forte dreno de carboidratos, causando uma maior limitação ao crescimento da

parte aérea do que da raiz, o que aumenta a razão entre a massa de raiz e de parte aérea. Raízes de

plantas de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) crescidas em um meio deficiente em P apresentaram

concentrações de açúcares muito superiores a raízes de plantas em meio com adequado suprimento

de P, em virtude da maior translocação de fotoassimilados da parte aérea (Wanke et al., 1998). A

redução da taxa de crescimento da parte aérea ocorre logo após o início da deficiência de P,

enquanto o crescimento da raiz só é limitado após um maior intervalo de tempo, e com menos

intensidade (Fredeen et al., 1989). Todavia, a maior destinação de C às raízes sob baixo P, tanto

para produção de biomassa quanto para respiração de manutenção, pode constituir fator limitante ao

crescimento vegetal como um todo (Nielsen et al., 1998). Além disto, os custos em termos de P

podem ser relativamente maiores para a produção de raízes do que de folhas, pois as raízes

apresentam uma pequena remobilização de P para o restante da planta durante os processos

associados à senescência (Lynch & Brown, 2001).

A distribuição radicular, relacionada à presença de biomassa ou comprimento de raízes em

um gradiente do perfil do solo, indica a capacidade do sistema radicular de exploração de diferentes

7
camadas do solo. Plantas de soja (Glycine max (L.) Merr.) apresentam baixa densidade radicular,

monocotiledôneas anuais valores médios, e pastagens perenes grande densidade de raízes (Barber,

1984). A distribuição radicular é modificada pelo estádio de crescimento: aos 47 dias da

emergência, 2/3 da área radicular de genótipos de milho (Zea mays L.) estava concentrada na

camada superficial do solo, e 3 semanas após este valor era inferior a 50 % (Schenk & Barber,

1980), enquanto mais de 80 % da biomassa radicular de cultivares de soja estava concentrada nos

7,5 cm superficiais do solo no início do cultivo, e nos 15 cm superficiais no restante do ciclo

(Mitchell & Russell, 1971). Observa-se maior crescimento de raízes nas profundidades do solo que

recebem adubação fosfatada, e à medida que se aprofunda a aplicação do fertilizante, ocorre

aumento na biomassa de raízes (Chaib et al., 1984).

A arquitetura radicular relaciona-se à configuração espacial do sistema radicular, ou seja, à

geometria de desenvolvimento dos eixos radiculares (Lynch, 1995). Modelos de simulação

indicaram que a maior eficiência de exploração do solo está associada com uma arquitetura

radicular do tipo “espinha de peixe”, onde a ramificação ocorre predominantemente no eixo

principal; entretanto, esta hipótese foi confirmada em eudicotiledôneas, mas não em gramíneas

(Fitter & Stickland, 1991). Uma estratégia adaptativa também observada em plantas crescidas em

solos com baixo P consiste na redução do ângulo de crescimento de raízes basais, em relação ao

plano horizontal, o que aumentaria a exploração de camadas superficiais do solo (Bonser et al.,

1996; Figura 3).

8
+P -P

SOLO MAIS RAÍZES ADVENTICIAS


SUPERFICIAL RAÍZES BASAIS MAIS
SUPERFICIAIS
RAÍZES LATERAIS MAIS
DISPERSAS
SUBSOLO

MAIS RAÍZES
LATERAIS
NA PIVOTANTE

PÊLOS MAIS LONGOS


E DENSOS

Figura 3: Modificação na arquitetura radicular pela disponibilidade de P no solo: a baixa disponibilidade de


P (à direita) estimula a produção de raízes adventícias, diminui o ângulo de crescimento das raízes
basais, estimula a produção de raízes laterais, e aumenta a densidade e o comprimento de pêlos
radiculares (adaptado de Lynch & Brown, 2001).

A morfologia radicular refere-se às características de um eixo radicular individual, incluindo

propriedades da epiderme e pêlos radiculares (Lynch, 1995). O diâmetro radicular está associado ao

volume de solo que pode ser explorado pelas raízes através do investimento de uma determinada

quantidade de fotoassimilados, pois raízes mais finas podem explorar um maior volume de solo por

unidade de massa radicular. Sob condições de baixo suprimento de P, é comum observar-se uma

diminuição do raio radicular, e um sistema radicular com raízes finas poderia ser considerado mais

eficiente para absorção de P, mas não devem ser ignorados outros atributos funcionais de raízes

mais grossas em determinadas condições ambientais (Eissenstat, 1992). Além disto, o custo de

manutenção de raízes finas pode ser maior, pois estas raízes são repostas mais freqüentemente

9
(Gahoonia & Nielsen, 2004). Em conseqüência da aplicação de fertilizantes e da presença de P

orgânico, é comum a ocorrência de variações espaciais na concentração de P nos solos, acarretando

modificações na morfologia radicular. Nas partes de raízes de cevada (Hordeum vulgare L.) que

receberam P da solução nutritiva, ocorreu um incremento do número e extensão de raízes laterais

(Drew & Saker, 1978), e raízes de feijoeiro crescidas sob baixo teor de P alocaram mais biomassa e

produziram raízes laterais mais finas em um determinado volume do solo enriquecido com P,

quando comparadas a plantas originalmente crescidas sob alto teor de P (Snapp et al., 1995).

Os pêlos radiculares aumentam a eficiência com que as raízes exploram a rizosfera para

absorção de P: em virtude de seu pequeno raio e de seu crescimento perpendicular em relação ao

eixo radicular, a concentração de P na superfície do pêlo radicular decresce mais lentamente e o

influxo de P mantém-se mais elevado (Barber, 1984). Sob baixo suprimento de P, ocorre um

aumento no comprimento e na densidade de pêlos radiculares (Figura 3), que por sua vez está

associado a um aumento no número de células da epiderme radicular que se diferenciam em

triclobastos (López-Bucio et al., 2003). Entre todas as alternativas de aumentar a superfície

radicular, as mudanças na morfologia de pêlos radiculares são consideradas aquelas com menor

custo metabólico (Gahoonia & Nielsen, 2004). O número, comprimento e raio dos pêlos radiculares

podem apresentar considerável variação entre espécies e dentro de uma mesma espécie (López-

Bucio et al., 2003).

Algumas espécies vegetais adaptadas a habitats de fertilidade extremamente baixa podem

desenvolver estruturas especializadas, as raízes proteóides (ou cluster roots), que são agrupamentos

de raízes laterais curtas que emergem do periciclo, especializadas na aquisição de P (López-Bucio et

al., 2003). As raízes proteóides apresentam várias características distintivas das raízes laterais

típicas de eudicotiledôneas, como a iniciação em grupamentos não aleatórios, a produção

superabundante de pêlos radiculares, e um crescimento determinado que cessa logo após a

emergência (Vance et al., 2003). O elevado sincronismo do desenvolvimento das raízes proteóides

10
indica que sua formação é um processo sob estreito controle da planta, sendo inibido sob alto

suprimento de P (Vance et al., 2003).

2.1 Controle metabólico da absorção de fósforo

Vários mecanismos foram desenvolvidos pelas plantas para permitir a aquisição e utilização

de P em ambientes onde o suprimento deste nutriente é limitante, mecanismos estes que podem ser

agrupados em duas amplas categorias: aqueles que aumentam o conteúdo de nutriente absorvido do

solo, e aqueles que afetam a eficiência vegetal em utilizar o nutriente absorvido para a produção de

biomassa (Elliott & Läuchli, 1985). Os processos que propiciam o aumento da absorção de P

incluem o maior crescimento radicular associado a mudanças na arquitetura radicular, a expansão da

superfície radicular através da proliferação de pêlos radiculares e da associação com fungos

micorrízicos, a maior produção e excreção de fosfatases, a exsudação de ácidos orgânicos, e um

estímulo à expressão dos transportadores de P (Vance et al., 2003). Já os processos que conservam o

P absorvido envolvem a redução na taxa de crescimento, a maior produção de biomassa por unidade

de P absorvido, a remobilização do P interno, modificações no metabolismo de C que contornem as

etapas que requerem P, e a utilização de vias respiratórias alternativas (Vance et al., 2003).

As plantas provavelmente possuem dois diferentes mecanismos sinalizadores para manter a

homeostase de P, um operando a nível celular, e outro envolvendo múltiplos órgãos e

provavelmente oriundo da parte aérea (Raghothama, 2000). A nível celular, o movimento de Pi para

dentro e fora do vacúolo, e a regulação do influxo e efluxo de P, seriam os principais mecanismos

para manter a homeostase (Figura 1). Já a resposta ao nível da planta inteira é muito mais complexa,

envolvendo o transporte de P dos tecidos velhos para os jovens, ou das raízes para a parte aérea e

retornando às raízes (Raghothama, 2000). Estudos em raízes subdivididas indicam que as taxas de

absorção de P por raízes crescidas em meio sem P respondem ao estado geral de P da planta, mais

do que à concentração externa localizada de P adjacente a esta seção das raízes (Smith, 2002). Isto

11
tem sido confirmado por estudos moleculares, que indicam que a regulação transcricional dos genes

codificadores dos transportadores de P respondem primeiramente ao estado de P da planta inteira.

Desta forma, a regulação da absorção de P em raízes é uma resposta sistêmica mais do que uma

resposta localizada (Smith, 2002).

Em células de plantas superiores, a concentração de Pi no citoplasma (da ordem de mM) é

mantida geralmente em um nível constante sob diferentes níveis de fornecimento de P, enquanto a

concentração de Pi no vacúolo modifica-se substancialmente de forma a tamponar o Pi

citoplasmático, permitindo a regulagem de etapas metabólicas no citoplasma e nos cloroplastos

(Rausch & Bucher, 2002). O vacúolo age como um reservatório não metabólico de P: em folhas de

plantas adequadamente supridas de P, cerca de 85 a 95 % do Pi está localizado nos vacúolos,

enquanto em condições de deficiência, muito pouco Pi está presente no vacúolo (Foyer & Spencer,

1986). O transporte de Pi através do tonoplasto requer ATP e alcalinização do citoplasma, e o fluxo

bidirecional de Pi através do tonoplasto ocorre quando a concentração de Pi é alta no vacúolo, no

citoplasma, ou em ambos (Raghothama, 2000; Figura 1).

Há várias evidências de que muitos dos processos bioquímicos e fisiológicos, e das

mudanças morfológicas que ocorrem em resposta à deficiência de P, estão associados com

alterações da expressão gênica (Raghothama, 2000). Os transportadores de fosfato, as fosfatases, as

enzimas envolvidas na síntese de ácidos orgânicos, e os canais iônicos que facilitam a liberação de

ácidos orgânicos, são exemplos de proteínas codificadas por genes cuja expressão é induzida pela

deficiência de P (Raghothama, 2000). Alguns hormônios vegetais, como auxinas, etileno e

citocininas, podem estar envolvidos na modificação da arquitetura radicular, no desenvolvimento de

raízes laterais, na elongamento de pêlos radiculares, e na formação de raízes proteóides, em

condições de deficiência de P (Vance et al., 2003). Já quando as plantas absorvem P em taxas que

excedem a demanda de crescimento, alguns processos atuam para prevenir a acumulação de níveis

12
tóxicos de P, como a conversão de Pi em compostos de reserva (como o ácido fítico), a redução da

taxa de absorção de Pi da solução do solo, ou a perda de Pi por efluxo (Schachtman et al., 1998).

Apesar das recentes evidências sobre a expressão gênica durante a deficiência de P, pouco

ainda se sabe sobre os componentes do processo de sinalização que ativaria a resposta das plantas à

limitação de P. Porém, em um mutante de Arabidopsis foi identificado um gene que codifica uma

proteína que pode estar associada ao processo de sinalização da deficiência de P (López-Bucio et

al., 2003).

A concentração de P na parte aérea teria um papel central na regulação da taxa de absorção

de P por unidade de raiz, na partição de biomassa entre raiz e parte aérea e na taxa de crescimento

relativo da planta (Drew & Saker, 1978). Plantas crescidas sob fornecimento limitado de P, e

posteriormente supridas com o nutriente, apresentam influxos de P superiores aos de plantas

originalmente crescidas sob alto fornecimento de P (Jungk et al., 1990). As plantas adaptam sua

cinética de absorção de P de acordo com seu estado nutricional, por meio de um aumento de Imax

com a redução do teor de P na parte aérea, enquanto as mudanças no Km e Cmin seriam de menor

importância (Jungk et al., 1990).

Em geral, a taxa de absorção de nutrientes pelas raízes diminui com a ontogenia vegetal

(Gao et al., 1998). Em sistemas radiculares jovens, a taxa de absorção de nutrientes diminuiu

acentuadamente com o envelhecimento das raízes, mas sistemas radiculares mais velhos tiveram

pequena taxa de absorção, mas com menor declínio com o tempo (Gao et al., 1998). Partes

suberizadas do sistema radicular podem assumir importante papel na absorção de P, pois como a

absorção de P segue a via simplástica, seria pouco afetada pela suberização da endoderme (Barber,

1984). Os genes codificadores dos transportadores de Pi de alta afinidade estão distribuídos por todo

o comprimento radicular de plantas sob deficiência de P, indicando que todo o sistema radicular

mantém o potencial para absorção de P (Raghothama, 2000).

13
Quando o Pi está presente em concentrações adequadas, altas taxas de efluxo de P podem

compensar o influxo de P, indicando que sob adequado suprimento de P a homeostase celular é

controlada principalmente pelo efluxo de P (Raghothama, 2000). O efluxo de P em raízes ocorreria

pelo antiporte e troca iônica nos sítios de absorção, e pelo efluxo passivo por um gradiente de

potencial eletroquímico, e pode atingir valores equivalentes a 15-20 % do influxo de P no mesmo

período (Schjorring & Jensén, 1984).

3 ASSOCIAÇÕES COM MICRORGANISMOS

Enquanto habitantes da rizosfera e do solo como um todo, os microrganismos desempenham

funções primordiais no aumento da disponibilidade do P do solo para as plantas, através de

mecanismos que afetam a estrutura, a química, a bioquímica e a fisiologia do ambiente radicular.

Dentre essas ações dos organismos, destacam-se a extensão dos sistemas radiculares pelas

associações com os fungos micorrízicos e a solubilização e mineralização microbianas do P por

algumas bactérias e fungos.

As micorrizas são associações ou simbioses mutualistas entre fungos e raízes das plantas

hospedeiras, em que os compostos de carbono produzidos pela fotossíntese são utilizados pelo

hospedeiro e pelo fungo, e este último fornece às plantas parte dos nutrientes absorvidos do solo.

Existem sete tipos distintos de associações micorrízicas, mas as micorrizas arbusculares e as

ectomicorrizas são as mais freqüentes e as mais importantes (Moreira & Siqueira, 2002). As

ectomicorrizas predominam em espécies arbóreas das gimnospermas e angiospermas de clima

temperado, sendo bastante comuns em coníferas. Os fungos formadores desse tipo de micorriza são

os basidiomicetos e alguns ascomicetos e ficomicetos (Harley, 1994). Nas ectomicorrizas, a

colonização das células corticais acontece de forma intercelular apenas, com a formação da rede de

Hartig, que substitui a lamela média, e com a formação de um manto fúngico ao redor das raízes

(Moreira & Siqueira, 2002).

14
A micorriza arbuscular é, provavelmente, a simbiose mais comum entre plantas e

microrganismos. A grande maioria das plantas terrestres são hospedeiras potenciais de fungos

micorrízicos arbusculares, que constituem um grupo de fungos biotróficos obrigatórios altamente

especializados, classificados como zigomicetos e pertencentes à ordem Glomales. Quando

colonizam as células das raízes, muitas das espécies destes fungos formam vesículas, órgãos de

armazenamento que contém grande quantidade de lipídeos, e todas as espécies formam arbúsculos,

estruturas constituídas por formações de hifas altamente ramificadas que promovem as trocas

metabólicas entre os fungos e as plantas (Bonfante-Fasolo, 1984).

A simbiose micorrízica é considerada não específica, uma vez que os fungos colonizam as

raízes de plantas de quase todos os gêneros das gimnospermas e angiospermas, além de algumas

briófitas e pteridófitas (Harley, 1994). Todavia, tanto o desenvolvimento da associação como sua

fisiologia estão sobre controle genético do hospedeiro (Smith et al., 1993), verificando-se uma certa

habilidade discriminatória entre os fungos e as plantas (Paula et al., 1988). Alguns atributos das

plantas, como o comprimento e massa de raízes e a relação entre a massa de raiz e de parte aérea,

também afetam a simbiose micorrízica (Koide et al., 1988). Fatores ambientais também podem

influenciar a colonização, como a disponibilidade de nutrientes, os pesticidas, a umidade do solo, o

pH e a intensidade luminosa (Azcón & Ocampo, 1981).

A colonização pelos fungos micorrízicos arbusculares promove a tolerância a estresses

bióticos ou abióticos, aumentando o crescimento e a produtividade das plantas. Enquanto as plantas

fornecem carboidratos aos fungos, estes colonizam inter e intracelularmente as células corticais, de

onde estendem uma rede de hifas vários centímetros para fora da rizosfera, desta forma expandindo

o volume de solo efetivamente explorado pela planta (Smith, 2002). Daí os efeitos mais expressivos

da simbiose quando se considera a aquisição de nutrientes em formas pouco móveis, como o P, o Zn

e o nitrogênio na forma amoniacal. A aquisição de P pelas associações micorrízicas envolve o

transporte do fosfato da solução do solo através das membranas das hifas fúngicas, o movimento do

15
fosfato das hifas para os arbúsculos, a liberação de fosfato dos fungos na interface entre os

arbúsculos e as células corticais, e a absorção do fosfato pelas células corticais (Smith, 2002). Os

vários mecanismos propostos para explicar o aumento da absorção de P das plantas micorrizadas

foram agrupados por Smith & Read (1997) da seguinte forma:

As hifas dos fungos micorrízicos são capazes de absorver o P da solução do solo e translocá-

lo para as raízes em um processo muito mais rápido que o processo de difusão deste elemento no

solo, sendo capazes de transpor as zonas de depleção de P que se formam em volta das raízes;

(a) a produção de hifas envolve um menor consumo de carbono por unidade de comprimento ou

área de absorção, e seu menor diâmetro permite que elas penetrem em poros do solo de diâmetro

menor que as raízes, aumentando assim o volume de solo explorado;

(b) as hifas são mais efetivas, em conseqüência de seu tamanho e distribuição espacial, em

competir com os microrganismos de vida livre do solo pelo P recentemente mineralizado ou

solubilizado;

(c) a cinética de absorção de P nas hifas difere da apresentada pelas raízes, com valores mais

baixos de Km, possibilitando uma absorção mais efetiva de P em concentrações nas quais a

aquisição pelas raízes já tenha cessado;

(d) raízes micorrizadas podem usar fontes de P que não estejam disponíveis para as demais

raízes.

Embora a simbiose micorrízica constitua um mecanismo adaptativo que permite maximizar

a aquisição de P com um consumo de energia menor que a própria produção de raízes, o custo de

manutenção da simbiose micorrízica é apreciável, representando cerca de 5 a 10 % da fotossíntese

total em endomicorrizas (Clarkson, 1985). O benefício obtido com a colonização micorrízica varia

com o suprimento de P: quando o P é extremamente limitante, o crescimento dos simbiontes é

inibido; quando a disponibilidade de P é baixa, ocorre o aumento do crescimento do hospedeiro; em

doses maiores de P, a proliferação do fungo pode ocorrer às custas do hospedeiro (Bethlenfalvay et

16
al., 1982b). Em geral observa-se aumento na colonização das raízes quando as concentrações de P

no solo e nas raízes são baixas, e um efeito adverso da fertilização fosfatada no desenvolvimento de

arbúsculos, vesículas, hifas externas e esporos (Sylvia & Neal, 1990). A simbiose micorrízica

também causa estímulos à fixação biológica de N2 em leguminosas, principalmente em virtude da

maior absorção de P (Barea & Azcón-Aguilar, 1983).

A simbiose micorrízica apresenta interações com o desenvolvimento ontogenético do

hospedeiro, em virtude das alterações no suprimento de fotoassimilados causadas por relações

fonte-dreno (Bethlenfalvay et al., 1982a; Araújo et al., 1996). Pela sua importância no processo de

absorção do P do solo, é de se esperar que o efeito da colonização pelos fungos micorrízicos seja

mais expressivo nos estádios iniciais do crescimento das plantas, quando a demanda por P é intensa.

Entretanto, a infecção micorrízica também pode afetar a reprodução das plantas, influenciando a

produção de flores, maturação de frutos e aborto de sementes (Lu & Koide, 1994). Parece haver

uma relação entre o início da fase reprodutiva de leguminosas de grão e a redução do crescimento

do endófito micorrízico, pois as micorrizas utilizaram 17 % do total de fotoassimilados de plantas

de soja de 6 semanas, valor que decaiu para 8 % após 9 semanas (Harris et al., 1985), (capítulo 3

neste volume).

3.1 Mudanças na rizosfera

Mudanças do pH no solo ao redor das raízes estão associadas ao balanço na absorção de

cátions e ânions, que é particularmente afetado pelas fontes de N: como as plantas necessitam

manter o equilíbrio de cargas e o pH no interior das células próximo da neutralidade, quando mais

cátions são absorvidos, mais H+ são liberados pelas raízes e o pH decresce; similarmente, quando

mais ânions são absorvidos, há um aumento de OH- e o pH aumenta (Hinsinger et al., 2003). Plantas

que absorvem N como NO3- tendem a aumentar o pH da rizosfera, enquanto plantas que absorvem

NH4+ ou utilizam N2 simbiótico reduzem este pH, acarretando diferenças de 1-2 unidades de pH

17
entre a rizosfera e o solo, que podem se estender a uma distância entre 1 e 4 mm da superfície

radicular (Gahoonia et al., 1992). A extrusão de prótons na rizosfera pode aumentar a

disponibilidade de fontes pouco solúveis de P do solo e a absorção de P pelas raízes, mas este

fenômeno pode depender do tipo de solo: em um Luvisol, onde o fosfato estava ligado

principalmente a Ca, a redução do pH da rizosfera aumentou a absorção de P, enquanto em um

Oxisol, onde o P estava ligado principalmente a Al e Fe, a absorção de P foi maior nos tratamentos

com fertilização nitrogenada que promoveram aumento do pH (Gahoonia et al., 1992).

A exsudação de ácidos orgânicos por raízes, como os ácidos cítrico, oxálico e málico, tem

sido associada com a acidificação da rizosfera, e poderia beneficiar a absorção de P (Hinsinger et

al., 2003). Algumas raízes de plantas eudicotiledôneas, e especialmente plantas não micorrizadas,

são capazes de liberar grandes quantidades de ácidos orgânicos na rizosfera em resposta à

deficiência de P (Jones, 1998). A exsudação de quelatos de células da epiderme radicular também

foi proposta como uma estratégia para aumentar a absorção de P, através da solubilização de

fosfatos de Fe e Al (Ae & Otani, 1997).

Os tecidos vegetais contêm uma alta atividade de fosfatases, uma classe de enzimas com

considerável heterogeneidade quanto à sua função e cinética, e que quando liberadas no meio

externo podem hidrolisar P-éster para Pi, aumentando a absorção de P de formas orgânicas (Yan et

al., 2001). A baixa disponibilidade de P aumenta a secreção de fosfatases ácidas na rizosfera de

várias espécies vegetais, indicando ser a secreção de fosfatases determinada pelo requerimento de P

da planta (Yan et al., 2001).

3.2 Formas de fósforo na planta

De forma diferente do nitrato e do sulfato, o fosfato não é reduzido nas plantas, sendo

utilizado apenas na sua forma completamente oxidada de ortofosfato. Após sua absorção, o fosfato

permanece como Pi, ou é esterificado por meio de um grupo hidroxil em uma cadeia de C como um

18
éster simples de fosfato (como em um açúcar fosfato) ou preso a outro fosfato por ligações

pirofosfato de alta energia (como no ATP) (Marschner, 1995). Em pH neutro, o fosfato ocorre tanto

como um ânion mono quanto divalente, contribuindo com a capacidade tampão da célula (Clarkson

& Hanson, 1980). Nas células vegetais, o P pode estar presente nos nucleotídeos constituintes do

material genético, nos fosfolipídeos presentes nas membranas celulares, nos fosfatos de adenosina

como o ATP e o ADP, e em ésteres de carboidratos, produtos metabólicos intermediários (Figura 4).

Uma razão típica de 0,2:2:1,5:1 entre as formas orgânicas de P DNA, RNA, P-lipídio e P-éster,

respectivamente, é observada nas células vegetais (Bieleski, 1973). Já em sementes, o P acumula-se

preferencialmente como fosfatos de inositol, na forma de sais de ácido fítico (ou fitina) (Figura 4).

19
(a) R O
C CH2

O
R O C H
O CH3
C
H2 CH3
O H2 C P- C N+
O O C
O H2 CH3

(b) Purinas
NH2 O
-O H
O O N N
1N 1N
6 6
P- O 5’ Base 7 5 7 5
8 8
O P P O 9 4
3
2 9 4
3
2
O N N N N
-O NH2
O -O O 3’ 2’ ligação glicosídica
R R
HO (OH - Ribose) Adenina Guanina
(H - desoxiribose) Pirimidinas
Pentose NH2 O O
Nucleosídeo H H3C H
3N 3N 3N
4 4 4
Nucleotídeo monofosfato 5 5 5
6 2 6 2 6 2
1 1 1
Nucleotídeo difosfato N O N O N O
Nucleotídeo trifosfato R R dR
Citosina Uracil Timina

(c) NH2
(d) OH
HO
C N P OH
N C
CH O
HC C O O O P OH
O O O N N OH
P O
O P O P O P OCH2 O
HO
O O O O O
OH
H H
P
OH OH O OH
O OH
OH O P OH
P
O O
OH

Figura 4: Exemplos de compostos orgânicos com P em plantas: (a) lecitina (fosfatidil colina, um
fosfolipídeo); (b) nucleotídeos; (c) trifosfato de adenosina (ATP); (d) ácido fítico (hexafosfato de
inositol).

20
O P no DNA é fortemente segregado, e de um outro lado da escala estão os grupos do ATP,

com alto turn over na célula (Bieleski, 1973). Em cevada, todas as frações de P aumentaram com o

maior suprimento de P, mas em diferentes extensões (Pi > P-nucléico > P-lipídio > P-éster),

revelando que todas as frações, mas principalmente o Pi, podem ter função de armazenamento

(Chapin & Bieleski, 1982). Altos teores de P-RNA são encontrados em tecidos meristemáticos,

envolvidos na síntese protéica, e diferenças no tamanho desta fração podem refletir a atividade

meristemática em resposta à deficiência de P (Chisholm & Blair, 1988). A remobilização do P-

lipídio pode ocorrer quando as reservas de P em outras frações reduzem-se suficientemente, mas a

perda de P deste compartimento mostra a quebra de membranas como a plasmalema e de organelas

como as mitocôndrias (Chisholm & Blair, 1988).

O suprimento de P e o genótipo vegetal governam a taxa e a extensão da incorporação do Pi

nas demais frações orgânicas (Chisholm & Blair, 1988). A utilização de P foi negativamente

correlacionada com a razão entre as taxas de acumulação de Pi e de P total em milho, indicando que

a utilização de P seria limitada pela partição de P entre formas inorgânicas e orgânicas (Elliott &

Läuchli, 1985). A elevada correlação entre a biomassa e os conteúdos de P nas frações lipídica e

residual em estilosantes e trevo branco indica que o crescimento está relacionado com a

incorporação do P solúvel nestas frações (Chisholm & Blair, 1988).

3.3 Transporte de fósforo na planta

O Pi é a principal forma de transporte de P no xilema, e o Pi que entra na raiz, após

rapidamente incorporado em formas orgânicas, seria hidrolisado antes da transferência de Pi para o

xilema (Loughman, 1981). A exportação de P para a parte aérea foi mais sensível à inibição da

síntese protéica do que o influxo de P nas raízes, indicando que as unidades reguladoras da

transferência de P para o xilema devem diferir daquelas envolvidas no transporte de fosfato através

da plasmalema das células corticais (Schjorring & Jensén, 1987). Admite-se que o Pi seja a

21
principal forma de transporte de P no floema, registrando-se velocidades de transporte de 80 cm h-1

entre as lâminas foliares e o floema dos pecíolos (Bieleski, 1973). Entretanto, compostos orgânicos

como nucleotídeos (inclusive ATP) e hexoses-fosfatos também são detectados no suco floemático

(Bieleski, 1973). Em um nutriente tão móvel quanto o P, o padrão de redistribuição parece ser

determinado pelas propriedades da fonte e do dreno mais do que pelo sistema de transporte

(Bieleski, 1973), e estudos com radioisótopos revelam que o movimento de P é determinado pelo

movimento e demanda de carboidratos dentro da planta, e não pelos requerimentos de P do dreno

(Marshall & Wardlaw, 1973).


32
Após 24 horas da absorção, 68 % do P do ápice radicular de plântulas de trigo (Triticum

aestivum L.) havia sido translocado, assim como mais de 80 % do P das porções média e de

formação de raízes laterais (Rovira & Bowen, 1970). Plântulas de nabo (Brassica napus L.)
32
mostraram acumulação de P perto do ápice das raízes primárias e laterais, sem correspondente

depleção do solo adjacente, indicando forte translocação de P para os meristemas radiculares (Bhat

& Nye, 1974). Sob deficiência de P, ocorre uma maior proporção de P em formas orgânicas nas

raízes, e uma menor concentração de P no exsudado do xilema, o que indica que o aumento da razão

entre a massa de raiz e de parte aérea seria conseqüência de menos Pi disponível para o transporte

para a parte aérea (Chapin & Bieleski, 1982; Alves et al., 1998).

O P aplicado por via foliar pode ser rapidamente transportado para outros tecidos vegetais de
32
crescimento ativo: o P aplicado em folhas foi detectado nas raízes após 3 horas, e continuou a

mover-se para fora da folha tratada ao menos por 6 dias após a aplicação (Thorne, 1958). A

absorção de nutrientes aplicados por via foliar varia com a idade da folha e com o genótipo vegetal,

mas admite-se que 50 % do P aplicado em folhas seja absorvido em torno de 5 dias após a

pulverização (Kannan, 1990). Entretanto, o P não tem sido utilizado comumente como adubo foliar,

pois nenhum composto de P pode ser aplicado foliarmente em quantidades que contribuam

significativamente para os requerimentos das culturas sem causar danos às folhas.

22
A senescência foliar, e a concomitante degradação de macromoléculas, permite o

reaproveitamento de nutrientes móveis como o N e o P para o crescimento vegetal posterior (Aerts,

1996). Em plantas deficientes em P, o fornecimento limitado de Pi da raiz é suplementado pela

mobilização de P de folhas velhas para as folhas jovens e as raízes, processo que envolve a depleção

das reservas de Pi e a quebra de P orgânico de folhas velhas (Schachtman et al., 1998). A hidrólise

de ácidos nucleicos e de fosfolipídeos contribuiu com 40-47% e 26-38%, respectivamente, do total

de P reabsorvido de folhas senescentes de espécies decíduas (Aerts, 1996). Mais da metade da

demanda de P de vagens e sementes de plantas de feijoeiro foi suprida pela remobilização das folhas

(Snapp & Lynch, 1996), sendo que a máxima exportação de P das folhas de arroz (Oryza sativa L.)

ocorreu nos estádios de desenvolvimento dos grãos, decaindo após (Mondal & Choudhuri, 1985).

Além disto, a proporção entre a quantidade de nutrientes nos grãos e a quantidade de nutrientes na

biomassa é superior para o P do que para os demais macronutrientes (Haag et al., 1967), indicando

uma translocação preferencial de P para os grãos. Este intenso processo de translocação de

nutrientes dos tecidos vegetativos para os órgãos reprodutivos acarreta um decréscimo no teor de

nutrientes nas folhas, o que pode limitar a fotossíntese do dossel em estádios posteriores de

crescimento, sugerindo que o atraso na senescência foliar poderia ser uma estratégia para aumentar a

produtividade dos cultivos anuais (Grabau et al., 1986). Entretanto, progênies de soja apresentaram

uma relação inversa entre produção de grãos e a senescência foliar, sugerindo que as produções

máximas só podem ser obtidas em plantas cujas folhas entrem em senescência durante o enchimento

de grãos (Phillips et al., 1984).

A redução dos teores de P nos grãos tem sido proposta como uma alternativa para a

sustentabilidade da agricultura, propiciando uma maior eficiência de uso de fertilizantes e uma

menor remoção de P pelos cultivos. Além disto, o baixo teor de P nos grãos implica em um menor

teor de fitina, que está associada a sintomas de deficiência nutricional em seres humanos e animais,

diminuindo a disponibilidade de minerais e proteínas (Feil et al., 1992). A concentração de P nos

23
grãos parece ser parcialmente conseqüência da quantidade de carboidratos no grão, que dilui uma

quantidade de P controlada por fatores genéticos ou ambientais (Feil et al., 1992). Por outro lado,

sementes com altos teores de P originam plantas com maior crescimento da parte aérea, nodulação e

acumulação de N, particularmente sob baixas doses de P no solo, indicando que o P da semente

pode assumir papel relevante no estabelecimento vegetal e na fixação biológica de N2 (Thomson et

al., 1991; Teixeira et al., 1999). A fitina está localizada exclusivamente nos globóides dentro dos

corpos protéicos nos vacúolos das células das sementes, mas não em todos estes corpos protéicos,

resultando em diferentes conteúdos relativos de N e P nos grãos, e abrindo perspectivas de uma

seleção independente para os teores de N e P nos grãos (Araújo & Teixeira, 2003).

3.4 Interações do fósforo com outros nutrientes

3.4.1 A interação entre fósforo e nitrogênio

Pela importância do P nas reações fotossintéticas e no metabolismo de carbono, processos

fundamentais para a assimilação e utilização do N, o P tem participação essencial no metabolismo

do N. O N e o P interagem de forma sinérgica, em que ambos os nutrientes em níveis adequados

promovem aumentos na produção vegetal maiores do que aqueles obtidos com cada nutriente

isoladamente (Shuman, 1994). Aumentos no fornecimento de P a plantas de milho promoveram

incrementos no conteúdo total de N e na eficiência de utilização deste nutriente (Machado, 2000).

São identificados pelo menos três tipos de efeitos gerais do suprimento limitado de P na

assimilação de N: a diminuição na absorção de NO3-; a diminuição na translocação do NO3-

absorvido para a parte aérea, indicada por uma acumulação de NO3- nas raízes (aparentemente

devido à restrição do transporte do simplasma da raiz para o xilema); e a acumulação de

aminoácidos tanto nas folhas (mais comum) quanto nas raízes, resultante ou de inibição da síntese

ou da degradação de proteínas (Israel & Rufty, 1988; Rufty et al., 1990, 1993; Jeschke et al., 1997).

24
A absorção de nitrato é um processo ativo, requerendo energia metabólica para o transporte contra

um gradiente de potencial eletroquímico, necessitando, portanto de substâncias redutoras e de ATP

(Kleinhofs & Warner, 1990). A limitação no fornecimento de P pode resultar em menor taxa de

absorção de NO3- e NH4+, sendo relatadas em milho tanto uma redução mais acentuada na absorção

de NO3- (Magalhães et al., 1995) quanto na absorção de NH4+ (Alves et al., 1998). Há também a

hipótese de que um efeito regulatório específico seja exercido pelo P na formação ou atividade do

sistema transportador de NO3- nas membranas celulares, ou através de inibição por feedback pelas

elevadas concentrações de NO3- e aminoácidos induzidas em raízes pela deficiência de P (Rufty et

al., 1990, 1993).

A limitação de P, ao restringir o transporte de NO3- da raiz para a parte aérea, pode também

induzir a limitação da síntese de proteínas na parte aérea, resultando em aumento da proporção de N

não assimilado na parte aérea (Rufty et al., 1990). A omissão de P na solução nutritiva acarretou

redução na atividade da GS/GOGAT em folhas e raízes de milho apenas após 144 h, enquanto que a

redução na atividade da nitrato redutase ocorreu após 6 horas, indicando que o estresse de P teria

um efeito indireto na assimilação do nitrogênio, ao inibir a redução do nitrato e limitar a

disponibilidade de amônio para a síntese de aminoácidos (Alves et al., 2000). Como a nitrato

redutase é induzida pelo substrato, a diminuição na absorção de N causada pela deficiência de P

reduziria a atividade desta enzima, causando acúmulo de NO3-, que por sua vez exerceria um efeito

regulatório promovendo mecanismos de inibição do tipo feedback negativo na absorção de N (Alves

et al., 2000). Por outro lado, a deficiência de P reduziu os teores de N total nas folhas e de N total e

de nitrato nos colmos e raízes em híbridos de milho, sem que tenha ocorrido acúmulo de NO3- na

planta, indicando que o estresse de P diminuiu a absorção de N mais do que a assimilação de NO3-

(Alves et al., 1996).

25
3.4.2 O fósforo e a fixação biológica de N2

A deficiência de P tem um impacto negativo na fixação biológica de N2, pois tanto a redução

do N2 atmosférico que ocorre nos bacteróides, quanto a assimilação de amônia em aminoácidos e

ureídos que ocorre na fração vegetal dos nódulos, são processos consumidores de energia,

dependentes da disponibilidade de ATP (Sa & Israel, 1991). A redução na fixação de N2 em

leguminosas sob suprimento limitado de P geralmente é explicada por uma diminuição no

crescimento do hospedeiro, e em conseqüência na demanda pelo N fixado, no crescimento e

funcionamento dos nódulos, ou no crescimento de ambos (Almeida et al., 2000). Entretanto, os

mecanismos responsáveis pela inibição da fixação de N2 sob limitação de P permanecem incertos

(Hogh-Jensen et al., 2002): alguns estudos sugerem que a regulação ocorre no aparato fotossintético,

afetando a produção e o suprimento de carboidratos não estruturais para os nódulos, mas outros

trabalhos indicam que a deficiência de P tem um efeito direto no metabolismo dos nódulos e na

atividade da nitrogenase.

O suprimento limitado de P pode reduzir a atividade específica da nitrogenase e a

concentração de ATP nos nódulos (Sa & Israel, 1991), e os teores de N, de N-amino e alantoína no

exsudado xilemático (Othman et al., 1991). A deficiência de P causa atrasos na formação e

crescimento dos nódulos (Vadez et al., 1997; Araújo & Teixeira, 2000; Hogh-Jensen et al., 2002) e

um declínio mais rápido na atividade da nitrogenase no estádio de início de enchimento das vagens

(Vadez et al., 1997). Em soja, a carga energética e a concentração de ATP nos bacteróides não

foram afetados pelo suprimento de P, mas as concentrações de ATP e de adenilato nas frações

vegetais dos nódulos foram reduzidas pela deficiência de P, o que indica que a deficiência de P

prejudicou a fosforilação oxidativa na fração vegetal dos nódulos em maior extensão do que nos

bacteróides (Sa & Israel, 1991).

26
Plantas dependentes da fixação de N2 apresentam maior requerimento de P para obtenção de

crescimento ótimo do que plantas supridas com nitrato, e os parâmetros associados à fixação de N2

respondem mais intensamente ao suprimento de P do que o próprio crescimento vegetal (Cassman

et al., 1980; Israel, 1987). A deficiência de P em soja sob N2 simbiótico afetou o equilíbrio entre a

biomassa de nódulo e raiz de forma mais intensa do que o equilíbrio entre raiz e parte aérea

(Cassman et al., 1980), e aumentou a proporção do P retido nos nódulos e raízes (Lauer & Blevins,

1989). Os nódulos são um forte dreno de P, com grandes respostas às doses do nutriente e

concentrações de P cerca de 2 vezes superiores às da parte aérea; mesmo diante da redução do teor

de P nos vários tecidos vegetais sob menor suprimento de P, a concentração de P nos nódulos pode

ser pouco afetada (Pereira & Bliss, 1987; Othman et al., 1991; Hogh-Jensen et al., 2002). Dentre as

estratégias de adaptação metabólica dos nódulos em plantas sob deficiência de P, podem ser citadas:

um aumento da proporção de P alocada nos nódulos (Lauer & Blevins, 1989), uma maior absorção

de P da solução diretamente pelos nódulos e bacteróides (Al-Niemi et al., 1998), e um maior

consumo de O2 por unidade de N2 reduzido, associado à maior permeabilidade do nódulo (Schulze

& Drevon, 2005).

3.5 A interação entre fósforo e zinco

Resultados controversos têm sido publicados sobre a interação entre o P e o zinco (Zn),

mostrando que: (a) o P não exerce influência sobre a absorção de Zn; (b) o P pode aumentar a

absorção de Zn; (c) o P pode diminuir a absorção de Zn; (d) pode existir um antagonismo entre o P

e o Zn, particularmente quando um dos elementos excede o nível crítico; (e) o P pode diminuir o

transporte de Zn da raiz para a parte aérea; (f) a adição de P em solo deficiente em Zn pode

estimular o crescimento das plantas, diluindo a concentração de Zn nos tecidos; (g) um elevado

fornecimento de P pode aumentar a acumulação deste nutriente nas folhas mais velhas em

27
concentrações suficientes para causar toxicidade, sedo os sintomas dessa toxicidade identificados

erroneamente como deficiência de Zn (Loneragan et al., 1982; Webb & Loneragan, 1988).

Na interação mais comum entre P e Zn, a adição de P diminui a concentração de Zn na parte

aérea. Esta interação é verificada quando ambos os nutrientes se encontram em teores limitantes, e a

adição de P promove crescimento suficiente para diluir a concentração de Zn nas plantas a níveis

que induzem a deficiência de Zn (Loneragan et al., 1979; Singh et al., 1988). São observadas

também situações em que o aumento no fornecimento de P promove diminuição das concentrações

de Zn na parte aérea muito além do que pode ser explicado pela diluição decorrente do crescimento,

indicando que o P pode atuar de modo a reduzir tanto a absorção de Zn pelas raízes como a

translocação do Zn da raiz para a parte aérea. A adição de P poderia diminuir a absorção de Zn

através de dois mecanismos: os íons H+ gerados pela dissolução dos fosfatos no solo inibem a

absorção de Zn, pois esta é particularmente sensível às variações de pH da rizosfera; o P promove a

adsorção de Zn aos componentes do solo, pois a adsorção de P afeta a retenção de Zn através da

variação de pH ou da alteração nas cargas de superfície (Loneragan & Webb, 1993).

Adicionalmente, tem sido proposto que o P pode induzir à imobilização do Zn nas raízes através da

formação de fitatos de Zn, em condições de elevado suprimento de Zn (Loneragan & Webb, 1993).

Há também situações onde o aumento no fornecimento de P em condições de baixo

suprimento de Zn induz sintomas de deficiência deste micronutriente, reduzindo o crescimento das

plantas sem qualquer efeito na concentração de Zn na parte aérea. Nesses casos, a aplicação de Zn

elimina os sintomas e restaura o desenvolvimento das plantas. Esta síndrome, atribuída a um efeito

do aumento do P dentro da planta promovendo aumentos no requerimento interno de Zn, é

particularmente evidente em plantas crescidas em solução nutritiva ou areia, mas sem relatos

válidos sobre sua ocorrência em solo e, por conseguinte, sem efeitos relevantes na produção das

culturas (Loneragan & Webb, 1993).

28
Uma outra situação refere-se ao efeito da deficiência de Zn promovendo a toxidez de P. Sob

condições de alto suprimento de P, a deficiência de Zn aumenta as concentrações de P nas folhas ou

parte aérea de muitas espécies a níveis tóxicos (Loneragan & Webb, 1993). A inativação do Zn nas

plantas pelo P, ou a redução na disponibilidade fisiológica do Zn pelo P, seria o principal

mecanismo responsável por esta síndrome. Em todos os níveis de suprimento de Zn, o aumento da

dose de P reduziu a proporção de Zn solúvel em raízes, caules e folhas de plantas de algodão, sendo

que a concentração de Zn solúvel nas folhas foi associada com os sintomas visuais de deficiência de

Zn e com os teores de clorofila (Cakmak & Marschner, 1987).

4 EFEITOS DO FÓSFORO NO CRESCIMENTO VEGETAL

O P está particularmente envolvido na transferência de energia, pois o ATP é necessário para

a fotossíntese, translocação e muitos outros processos metabólicos de relevância (Shuman, 1994).

Em sua forma inorgânica, o fosfato (Pi) é substrato ou produto final em muitas reações enzimáticas

importantes, incluindo as da fotossíntese e metabolismo de carboidratos, sendo essencial para a

regulação das vias metabólicas no citoplasma e cloroplasto, síntese de amido e sacarore, transporte

de trioses-fosfato, translocação de sacarose e síntese de hexoses (Mitra et al., 1993). Em plantas sob

deficiência de P, a alteração do metabolismo primário para o metabolismo secundário resulta

freqüentemente na acumulação de metabólitos secundários como flavonóides e indol-alcalóides

(Vance et al., 2003).

Os sintomas de deficiência de P não são tão marcantes como para outros macronutrientes, e

os efeitos mais evidentes são uma acentuada redução no crescimento da planta como um todo.

Mesmo assim, pode-se observar em plantas deficientes uma coloração verde escura nas folhas mais

velhas, e em algumas espécies colorações avermelhadas em conseqüência da acumulação de

antocianina. Outros sintomas de deficiência de P são o menor perfilhamento, atraso no

29
florescimento, gemas laterais dormentes, número reduzido de frutos e sementes, e pequena

nodulação em leguminosas (Malavolta et al., 1997).

O baixo suprimento de P diminui a área foliar, em conseqüência principalmente da redução

no número de folhas, e, secundariamente, da limitação à expansão da folha (Lynch et al., 1991;

Rodríguez et al., 1998). Entretanto, de maneira geral, a deficiência de P tem pequena influência nas

taxas fotossintéticas (Fredeen et al., 1989), mas alguns efeitos conflitantes do P na fotossíntese

podem ser observados, caso não se considerem a intensidade e a época do estresse por deficiência

de P (Rodríguez et al., 1998). Além disto, deve-se considerar uma possível resposta diferenciada

entre plantas C3 e C4 à deficiência de P. O crescimento de plantas C3 é mais sensível à deficiência

de P do que de plantas C4, mas as espécies C3 e C4 apresentaram a mesma eficiência fotossintética

de uso de P, e teores similares de P em folhas (Halsted & Lynch, 1996).

Em soja, a deficiência de P pode afetar a fotossíntese via componentes estomáticos e não

estomáticos, pois a taxa fotossintética pode ser limitada pelo baixo teor foliar de P, tanto em níveis

normais quanto de saturação de CO2 (Fredeen et al., 1989). A redução da fixação fotossintética de

CO2 em soja sob deficiência de P foi atribuída principalmente à limitação na regeneração da

ribulose-1,5-bifosfato carboxilase (Fredeen et al., 1990). As modificações no metabolismo

fotossintético observadas sob moderada deficiência de P, como o estímulo à recirculação de Pi

durante o metabolismo glicolítico e do fosfoenolpiruvato, aumentaram a adaptação de plantas de

feijoeiro ao baixo suprimento de P (Kondracka & Rychter, 1997).

Plantas de milho, após 3 semanas de omissão de P, tiveram marcante diminuição nos níveis

de amido e proteína solúvel, e em menor extensão nos níveis de sacarose e glicose (Khamis et al.,

1990). Plantas de milho crescidas sob baixa disponibilidade de P apresentaram severa inibição da

assimilação fotossintética do CO2 em folhas, redução na quantidade de C na forma de amido,

redução nas atividades das enzimas ribulose 1,5-bisfosfato carboxilase, piruvato ortofosfato

diquinase e fosfoenolpiruvato carboxilase, essenciais no metabolismo C4 e na via redutiva das

30
pentoses fosfato, e redução na atividade da ADPG-pirofosforilase, enzima-chave da síntese do

amido (Usuda & Shimogawara, 1991a,b). Já a respiração noturna de plantas de trigo não apresentou

resposta ao suprimento de P (Rodríguez et al., 1998), pois as plantas dispõem de alternativas

metabólicas da glicólise e do transporte de elétrons nas mitocôndrias, que garantem a permanência

da respiração em células sob deficiência de P (Theodorou & Plaxton, 1993).

Espécies adaptadas a solos de baixa fertilidade geralmente apresentam pequena taxa de

crescimento, taxas de absorção de nutrientes moderadas, e alta concentração de nutrientes nos

tecidos, em comparação a espécies de rápido crescimento sob as mesmas condições (Chapin &

Bieleski, 1982). A baixa taxa de crescimento pode auxiliar na adaptação a condições de estresse,

pois um crescimento lento induz a uma menor demanda e a uma menor exaustão dos recursos do

ambiente; ocorreria menor incorporação de fotoassimilados e nutrientes, permitindo a formação de

reservas dentro da planta; e espécies de menor taxa de crescimento podem sobreviver durante

períodos em que nenhum crescimento é possível (Grime & Hunt, 1975). Entretanto, o lento

crescimento não constitui necessariamente uma adaptação ao baixo suprimento de P, pois plantas

anuais necessitam de um rápido crescimento para poderem competir em seus habitats naturais

(Chapin et al., 1989).

Uma hipótese usualmente formulada é que as cultivares modernas teriam baixa eficiência

nutricional, por terem sido selecionadas em condições de alta fertilidade do solo, e uma seleção

indireta para alta resposta para fertilizantes pode ter ocorrido por meio da seleção para altas

produções (Duncan & Baligar, 1990). A cevada cultivada foi mais responsiva ao P do que a cevada

silvestre adaptada à baixa disponibilidade de P (Chapin & Bieleski, 1982), e populações de trevo

branco adaptadas a condições de baixa fertilidade foram menos responsivas ao P do que populações

adaptadas à elevada fertilidade (Snaydon & Bradshaw, 1962). Todavia, genótipos silvestres de

feijoeiro mostraram menor tolerância ao baixo suprimento de P no solo do que genótipos cultivados,

em termos de crescimento vegetativo e produção de grãos, indicando que a adaptação ao baixo P foi

31
adquirida durante a domesticação da espécie (Araújo et al., 1997; Beebe et al., 1997). Além disto, o

baixo suprimento de P reduziu a taxa de crescimento relativo mais intensamente na espécie

progenitora de cevada do que em uma cultivar, indicando que o processo de seleção não reduziu o

potencial de crescimento da espécie sob baixo suprimento de P (Chapin et al., 1989).

Nos solos de regiões tropicais, bastante intemperizados e com baixos teores de P disponível,

as grandes culturas de interesse econômico, com elevadas taxas de crescimento, normalmente

necessitam de elevadas aplicações de fertilizante fosfatado para obtenção de adequadas

produtividades. Em 774 ensaios de adubação em todas as regiões do Brasil, as produções médias de

oito culturas sem adubação fosfatada variaram de 47 a 91 % das produções com adubação (Raij et

al., 1982). Em solos com baixos teores de P disponível, são requeridas aplicações anuais de

manutenção da ordem de 20 a 50 kg P ha-1 para a maioria das culturas (Raij et al., 1982). Entretanto,

em virtude das fortes reações de adsorção do fosfato nos colóides minerais de carga variável, a

adubação fosfatada tem eficiência muito baixa nas regiões tropicais, registrando-se uma recuperação

pelas culturas de 5 a 20 % do P aplicado em um dado ano agrícola. Deve-se registrar que, nos atuais

ritmos de exploração, as jazidas conhecidas de apatita de baixo custo de extração para fabricação de

fertilizantes fosfatados, devem esgotar-se dentro de 60 a 80 anos (Vance, 2001).

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49
CAPÍTULO 12

Cálcio, Magnésio e Enxofre

Godofredo César Vitti1;Eduardo Lima2;Fernanda Cicarone1

1 - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Escola Superior de Agricultura


Luiz de Queiroz, Departamento de Solos e Nutrição de Plantas. Av. Pádua Dias, 11 –
Agronomia- 13418900 - PIRACICABA, SP - Brasil - Caixa-Postal: 09
E-mail: gcvitti@esalq.usp.br
2 - Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR 465, Km
7, SEROPÉDICA, 23890-000, Rio de Janeiro.
E-mail: edulima@ufrrj.br

1
Sumário

1 CÁLCIO ............................................................................................................ 498


1.1 CÁLCIO NO SOLO ........................................................................................ 498
1.2 CÁLCIO NA PLANTA.................................................................................... 500
1.3 DISTRIBUIÇÃO E FUNÇÃO........................................................................ 500
1.4 FONTES DE CA ............................................................................................... 504
1.5 DEFICIÊNCIA DE CA .................................................................................... 506
1.6 SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA NAS PLANTAS........................................... 506
2 MAGNÉSIO............................................................................................................. 507
2.1 MAGNÉSIO NO SOLO .................................................................................... 507
2.2 Mg NA PLANTA .............................................................................................. 510
2.2.1 Distribuição e função.................................................................................... 510
2.3 FONTES DE Mg ............................................................................................... 514
2.4 DEFICIÊNCIA DE Mg..................................................................................... 516
2.4.1 Sintomas de deficiência.................................................................................. 517

3 ENXOFRE............................................................................................................... 518
3.1 ENXOFRE NO SOLO .................................................................................... 518
3.2 ENXOFRE NA PLANTA ................................................................................ 521
3.2.1 Distribuição e função..................................................................................... 521
3.2.1.1 Estruturais.................................................................................................... 527
3.2.1.2 Metabólicas................................................................................................. 528
3.3 FONTES DE S................................................................................................... 530
3.4 DEFICIÊNCIA DE S......................................................................................... 534

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 537

2
1 CÁLCIO

1.1 Cálcio no Solo

A participação de Ca total no solo varia de 0,1 % até mais de 25 %. Os solos

calcários, em ambiente árido, contêm os maiores níveis deste nutriente (Lopes 1998).

Solos orgânicos recentemente drenados geralmente contêm muito pouco Ca e

apresentam valores de pH extremamente baixos (condições freqüentes em solos

tropicais). Os solos argilosos geralmente contêm mais Ca do que os arenosos.

O Ca no solo apresenta-se, principalmente, nas seguintes formas: carbonatos -

metamórficos ou sedimentares, os últimos sendo em parte de origem biológica; sulfatos;

e silicatos - estando presente em teores mais altos em alguns minerais primários como

anortita, augita, epidoto e apatita e mais baixos nos secundários. Na realidade, minerais

como a dolomita, calcita, apatita e feldspatos cálcicos são as maiores fontes de Ca no

solo (Figura 1) (Korndörfer, 2003).

Ca, Mg– Material de origem

Ca, Mg– Calcários, Ca, Mg- Fixos


adubos
Adição Intemperismo

Troca
Ca, Mg - Solução do Solo - Trocáveis
Ca, Mg

Mineralização
Lixiviação, erosão
Imobilização Absorção

Ca, Mg– Mat.Org.do Solo

Ca, Mg- Planta Ca, Mg– Drenagem


Enxurrada

Figura 1--Ciclos do Cálcio e do Magnésio no sistema solo-planta. Fonte: Malavolta,1976.

3
O Ca pode se encontrar nas formas trocável e solúvel, sendo a primeira em solos

mais argilosos como cátion dominante no complexo de troca (65 %) seguido do Mg

(20%), o potássio (5 %) e o H+ (10 %) A forma solúvel ocorre na solução do solo em

concentrações muito baixas, de modo particular nos solos ácidos das regiões tropicais.

Como um cátion, é participante do fenômeno de troca de cátions (CTC), e é

retido como Ca2+ (trocável) nas superfícies com cargas negativas das argilas e da

matéria orgânica do solo. O Ca é o cátion normalmente dominante da CTC dos solos

cultivados, ocupando cerca de 30 % ou mais da CTC.

Como os solos das regiões tropicais possuem, geralmente, baixas concentrações

de Ca e maiores de Al, poderá ocorrer deficiência de Ca que limitará o crescimento das

culturas mais exigentes.

4
1.2 Cálcio na planta

1.3 Distribuição e Função

O Ca é absorvido pelas raízes como Ca2+ podendo sua absorção ser diminuída

por altas concentrações de K+, Mg2+ e N-NH+4 no meio de cultivo. Apresenta raio

iônico hidratado relativamente grande (0,412 nm). Encontra-se firmemente ligado a

estruturas no apoplasma, sendo parte trocável nas paredes celulares e membrana

plasmática. Grande parte do Ca pode ser encontrada nos vacúolos. Baixas concentrações

são encontradas no simplasma e no floema, indicando sua baixa mobilidade na planta.

Muitas das funções do Ca estão ligadas à composição estrutural de macromoléculas e

relacionadas a sua capacidade de coordenação, o que confere ligações intermoleculares

estáveis mas reversíveis, principalmente nas paredes celulares e na membrana

plasmática.

Na folha o Ca torna-se muito imóvel e somente pode ser redistribuído em

condições especiais como: a injeção de outros cátions na nervura, tratamento com ácido

triiodo tetracético (EDTA – agente quelante), tratamento com ácido triiodo benzóico

(regulador de crescimento), ácidos málico ou cítrico.

O Ca aplicado via foliar é transportado no floema preferencialmente para tecidos

novos, estando o movimento atrelado à atividade metabólica.

A maior parte do Ca no tecido vegetal está localizada nas paredes celulares

(apoplasto), resultante da grande quantidade de sítios de ligação para este elemento

nestas células e ao transporte restrito do Ca no citoplasma. Na lamela média é ligado a

radicais R-COO- das pectinas em formas mais ou menos trocáveis. Quando se aumenta

o suprimento de Ca, ocorre, de modo geral, um aumento na produção de oxalato de Ca

nos tecidos vegetais. Um aumento na concentração de Ca++ na solução externa (solução

do solo ou solução nutritiva) leva a um aumento no conteúdo de Ca nas folhas, mas não

5
necessariamente em órgãos como frutos e tubérculos (drenos) que são supridos

predominantemente pelo floema (em função da sua baixa mobilidade), ocasionando, por

vezes mal desenvolvimento ou deformações nestes órgãos. Plantas desenvolveram

mecanismos que restringem o transporte de Ca para esses drenos mantendo baixas

concentrações deste nutriente nas células do floema ou precipitado como oxalato ao

longo dos tubos crivados ou ainda no tegumento das sementes. (Fink, 1991; Mix &

Marschner, 1976).

As baixas concentrações de Ca livre no citossol são atribuídas a uma baixa

permeabilidade geral das membranas para este elemento e pela ação de transportadores

de membrana que removem Ca do citossol, colocando-o no apoplasto ou acumulando-o

em estocadores intracelulares como o retículo endoplasmático, cloroplastos e

vacúolo.(Evans et al., 1991).

O mais importante transportador de Ca na membrana plasmática, e

provavelmente também no retículo endoplasmático, é a “bomba de Ca-ATPase”,

existindo também um antiporte (Ca2+/H+) (Jones et al., 1993; Kasai & Muto, 1990). O

transporte de Ca no tonoplasto também é atribuído a um antiporte Ca++/H+, energizado

pela bomba de prótons (H+-ATPase). Em média, estes antiportes mantém a diferença de

concentração da ordem de 105 entre o Ca livre no vacúolo e no citossol (Schumaker &

Sze, 1990). Em células vacuoladas das folhas, uma grande proporção de Ca está

localizada nos vacúolos, o que contribui para o balanço cátion-ânion (Kinzel,1989). Em

espécies vegetais que preferencialmente sintetizam oxalato em resposta à redução do

nitrato, a formação de cristais de oxalato de Ca nos vacúolos é importante para a

manutenção da baixa concentração de Ca livre no citossol.

Uma extrusão ativa de Ca2+ (bomba de efluxo de Ca2+) também existe na

membrana plasmática das células da raiz (Olbe & Sommarin, 1991). Desde que a

6
concentração de Ca na solução do solo apresenta-se superior a 1 mM, a bomba de

efluxo de Ca2+ deve ter uma demanda considerável de energia para evitar o transporte

de Ca através do gradiente eletroquímico. Entretanto, deve-se considerar também que

fatores físico-químicos como o tamanho e a valência do Ca podem restringir bastante a

sua mobilidade ao longo do gradiente de potencial eletroquímico através da membrana

citoplasmática.

A maior proporção do Ca na planta encontra-se em formas não solúveis em

água, ao contrário do que acontece com o K. Uma grande parte do Ca insolúvel está na

parede celular, na forma de pectato de Ca como o principal componente da lamela

média. O mesmo aumenta a rigidez da parede e dificulta o aumento do tamanho da

célula. Em células mais maduras o Ca pode estar na parede na forma de carbonato,

oxalato, sulfato, fosfato, tartarato ou citrato.

O Ca também está presente na planta na forma de sais cálcicos que ocorrem

mais freqüentemente nos vacúolos de células especializadas - idioblastos. Entre esses

sais predomina o oxalato que se encontra em qualquer parte da planta. Outros sais de Ca

encontrados (fora das paredes) são: carbonato, sulfato, fosfato, silicato, citrato, tartarato,

malato e, possivelmente, complexos insolúveis com ácidos graxos.

A insolubilidade dos compostos de Ca na planta e sua localização na célula

justificam, em parte, a falta de redistribuição em condições de deficiência o que provoca

o aparecimento de sintoma de deficiência em órgãos ou partes mais novas como as

gemas e ponta das raízes. Nas folhas o denominador comum para a falta de Ca é clorose

nas mais novas; tal sintoma em geral caminha das margens para o centro. O

aparecimento de sintomas em frutos, como o do tomateiro e da macieira, acontece

devido à competição do mesmo pelo Ca contido no xilema, uma vez que transpiram

mais (Minami, 1989; Trani, 1982).

7
Uma das funções do Ca já foi citada (componente da parede celular), mas são

conhecidas outras funções desse macronutriente secundário. Este tem importante papel

na absorção iônica, particularmente na correção do efeito desfavorável da concentração

hidrogeniônica excessiva, sendo essencial para que tal efeito não diminua a absorção de

nutrientes que necessitam do Ca, pois é indispensável à manutenção da estrutura das

membranas celulares (em particular da plasmalema). A observação de que o efeito

prejudicial da salinidade provocada por altas concentrações de adubos solúveis pode ser

diminuído aumentando-se a disponibilidade de Ca, como sulfato, no substrato; talvez

tenha relação com o papel do elemento na estrutura e no funcionamento das membranas

celulares que, com pouco Ca, permitem o “vazamento” de compostos já absorvidos;

ATP-ases de membrana que participam da absorção iônica são ativadas pelo Ca. Foi

demonstrado também que a toxidez devido à amônia pode ser anulada em parte pelo Ca

fornecido às raízes.

A falta de Ca afeta particularmente os pontos de crescimento da raiz, causando o

aparecimento de núcleos poliplóides, células binucleadas, núcleos constritos, divisões

amitóticas, o crescimento é paralisado e ocorre escurecimento com posterior morte da

raiz. Para a nodulação nas leguminosas há necessidade maior de Ca do que para a planta

propriamente dita, pois uma vez formados os nódulos a leguminosa pode crescer com

concentrações relativamente baixas desse nutriente (Embrapa, 1996; Malavolta, 1997).

O Ca é indispensável para a germinação do grão de pólen e para o crescimento

do tubo polínico o que se deve ao fato de estar presente na síntese da parede celular ou

no funcionamento da plasmalema (Malavolta, 1980).

O Ca é de grande importância para o desenvolvimento do ginóforo do amendoim

devendo estar presente em concentração relativamente alta no solo nas proximidades

8
deste órgão, motivo pelo qual, às vezes, se usam adubos cálcicos em cobertura (Câmara

et al., 1980).

Cerca de 60 % do Ca total das folhas encontra-se nos cloroplastos: a acumulação

deste nutriente nessas organelas é dependente do suprimento de energia, o mesmo

acontecendo no caso dos mitocôndrios.

São relativamente poucas as enzimas ativadas por Ca: (exemplos)

- Em tubérculo de batata

ATP → ADP + P; ATPase (aspirase)

- Em cevada

amido → n glicose; alfa amilase

- Em repolho

lecitina + H2 → colina + ácido fosfatídico; fosfolipase D

1.4 Fontes de Ca

O Ca pode ser fornecido às plantas de várias formas (Figura 2), que mostra a

adição e perda de Ca e Mg no sistema solo-planta.

Adubos
Minerais no solo Restos Orgânicos Minerais Calcários

Ca e Mg disponíveis no solo

Remoção na Colheita Lavagem Erosão



Figura 2 -Processo .
de adição e perda de Cálcio e Magnésio nos solos. Fonte: Malavolta (1976)
9
Em decorrência da maior parte dos solos deficientes em Ca ser de reação ácida,

um bom programa de calagem pode adicionar Ca de modo eficiente ao sistema. Tanto o

calcário calcítico como o dolomítico são fontes excelentes desse nutriente. O gesso

também pode suprir Ca quando o pH do solo já está suficientemente elevado e não

necessita de calagem. O superfosfato simples que contêm 50 % de gesso, e também em

menor intensidade o superfosfato triplo, podem adicionar Ca ao solo (Vitti & Luz,

2004). No Quadro 1 são mostradas algumas fontes de Ca.

Quadro 1 - Fontes comuns de Cálcio

Fonte Ca (%) Valor neutralizante


Calcário calcítico 32 85 a 100
Calcário dolomítico 22 - 27 90 a 108
Escória básica 29 50 a 70
Gesso 22 Nenhum
Margas 24 15 a 85
Cal hidratada 46 120 a 135
Cal virgem 60 150 a 175
Fonte: Lopes (1998)

Quando forem usadas fontes de Ca que não sejam os calcários moídos, deve-se

se ter cuidado com a aplicação. O excesso de cal hidratada, de acordo com Lopes

(1998), pode causar danos à microbiota do solo.

A adição de grandes quantidades de Ca e Mg em solos deficientes em K, ou a

aplicação de Ca em um solo deficiente em Mg pode causar o desequilíbrio nutricional e

o crescimento reduzido da cultura; portanto, é necessário o fornecimento de todos os

nutrientes de maneira equilibrada para diminuir as condições limitantes ao crescimento

das plantas.

10
O gesso, além de ser uma excelente fonte de S e Ca para as plantas, tem

demonstrado efeitos positivos em experimentos de campo quando aplicado em

superfície, favorecendo o aprofundamento das raízes das plantas cultivadas em áreas

com subsolos ácidos. Isto leva à melhor absorção de água e nutrientes das camadas mais

profundas do solo (Raij, 1991).

1.5 Deficiência de Ca

A disponibilidade de Ca é adequada quando os solos não são ácidos (pH entre

6,0 e 6,5) ou quanto a acidez é corrigida pela aplicação de calcário em doses

adequadamente recomendadas. Quando o solo se torna ácido em conseqüência da

lixiviação ou perda de bases pela erosão, adubação, e absorção e exportação de bases

pelas culturas, o crescimento e desenvolvimento das plantas é freqüentemente

prejudicado pelas concentrações tóxicas de Al, Mn e Fe, além da falta de Ca. A análise

de solo e um bom programa de calagem são as melhores práticas de manejo para

prevenir esses problemas (Raij et al., 1996).

1.6 Sintomas de deficiência nas plantas

O limitado crescimento do sistema radicular é um sintoma comum da deficiência

de Ca. Raízes deficientes, geralmente, escurecem e apodrecem, como já citado.

As folhas jovens e outros tecidos novos desenvolvem sintomas porque este

nutriente não é remobilizado dentro da planta. As deficiências de Ca nesses tecidos

causam um aspecto gelatinoso nas pontas das folhas e nos pontos de crescimento. Isso

deve-se ao fato da necessidade de pectato de Ca para a formação da parede celular. Em

condições de deficiência mais severa os pontos de crescimento podem morrer (Lopes,

1998).

11
As deficiências de Ca podem não ser muito freqüentes no campo porque os

efeitos secundários de deficiência, como a acidez elevada, geralmente limitam primeiro

a produção. As deficiências são mais comuns em culturas como o amendoim e as

hortaliças (a podridão estilar do tomateiro). Em alguns casos, como o do tomate, as

folhas apresentam teores normais deste nutriente, enquanto o fruto se mostra deficiente

devido à pequena translocação e ao transporte unidirecional do Ca no xilema

(Castellane, 1982).

2 MAGNÉSIO

2.1 Magnésio no solo

O Mg no solo aparece na forma iônica Mg2+, em solução e como cátion trocável.

Além disso, o Mg participa da estrutura de micas e minerais de argila do tipo 2:1,

encontrados em solos menos intemperizados, nos quais é possível a persistência desses

e de outros minerais contendo esse elemento.

Em condições de boa drenagem os teores trocáveis de Ca predominam na soma

de bases, vindo a seguir, em teores bem mais baixos, o Mg e depois o K.

O Mg pode aparecer no solo como carbonatos insolúveis, em solos calcários, ou

em solos que receberam calagem recente, nesses casos em partículas de granulometria

grosseira que não dissolvem rapidamente. De maneira geral, o fornecimento de Mg às

culturas depende da concentração de Mg e da sua disponibilidade no solo (Figuras 1 e

2).

O primeiro fator determinante da atração entre o íon e a superfície de troca é a

carga do cátion, o segundo é o tamanho do íon hidratado, os menores sendo retidos com

maior energia. Conseqüentemente, em solos bem drenados, a freqüência natural de

ocorrência dos cátions trocáveis é, em geral, segundo essa ordem, mesmo quando o solo

12
formou-se de rochas mais ricas em Mg ou K, por exemplo. Desvios dessa seqüência

ocorrem em condições de má drenagem ou, em alguns casos, por liberação de Mg ou K

de minerais primários, o que é mais comum em profundidade, em alguns solos (Raij,

1981).

Maior liberação (lixiviação)

Ca+2 > Mg+2 > K+ > Na+

Maior adsorção

Tal como acontece com o K e o Ca, o Mg aparece no solo, segundo Malavolta

(1981), em diferentes formas:

Minerais primários – silicatos com Mg estrutural, como é o caso de piroxênios,

anfibólios, olivina e turmalina; muscovita e biotita também contém Mg;

Carbonatos e sulfatos – a dolomita, CaMgCO3, calcários dolomíticos e

magnesianos, magnesita, MgCO3, podem ocorrer em camadas; em regiões áridas e

semiáridas, a epsomita (sal amargo, MgSO4.7H2O) é encontrado no solo;

Minerais secundários – o Mg pode fazer parte de algumas argilas como a

montmorilonita, a ilita e a clorita, mediante substituição do Al octaédrico; a vermiculita,

produto da intemperização hidrotermal das micas, possui Mg que desloca o K, com

expansão dos espaços entre camadas;

Matéria orgânica – Mg em compostos orgânicos.

Teores mais altos de Mg são, de modo geral, encontrados nos solos mais

argilosos na forma de minerais ferromagnesianos facilmente intemperizáveis, tais como

biotita, serpentina, hornblenda e olivina. O Mg ocorre também em minerais secundários

que incluem clorita, vermiculita, ilita e montmorilonita. Alguns solos contêm Mg como

magnesita (MgCO3) ou dolomita (CaMgCO3). Em regiões áridas ou semi-áridas, solos

13
podem conter grandes quantidades de Mg como epsomita (MgSO4.7H2O) (Neptune,

1986).

A distribuição do Mg nos solos pode ser considerada do mesmo modo que a

distribuição do K e do Ca e pode ser dividida nas seguintes formas: não-trocável ou

fixa, trocável e solúvel.

A fração do Mg predominante no solo é a forma não trocável, que inclui todo o

Mg nos minerais primários e a maior parte do Mg dos minerais secundários. Acredita-

se, hoje, que parte desta forma pode ser mais disponível do que se pensava. O Mg

trocável é da ordem de aproximadamente 5 % do Mg total (0,04 – 0,34 % nos solos do

Estado de São Paulo); esta fração juntamente com o Mg solúvel é da maior importância

no suprimento deste nutriente às plantas. Esta forma trocável constitui de 4 a 20 % da

CTC. É então consideravelmente menor do que aquela do Ca.

Nos solos ácidos das regiões úmidas, o Mg2+ é o terceiro cátion mais abundante

no complexo de troca, após o Ca2+ e o H+ e nos solos das regiões semi-áridas, vem logo

depois do Ca2+, exceto nos solos alcalinos onde perde o lugar para o Na+.

Nestes solos ácidos das regiões úmidas, é possível que haja competição do H+ e

do Al3+ na absorção do Mg2+, enquanto que a competição do Ca2+ pode ocorrer em solos

onde foi aplicada alta dose de calcário. Assim, abaixando ou elevando o pH, a absorção

do Mg2+ diminui por competição do H+, Al3+ ou Ca2+.

A deficiência de Mg no solo pode surgir sob as seguintes condições:

1) Solo ácido (pH < 5,4);

2) % Mg da CTC (< 6 %);

3) Alto teor em K;

4) Relação K/Mg > 4;

5) Concentração inferior a 48 mg.dm-3 (4 mmolc.dm-3) Mg no solo.

14
Os solos, como já citado, geralmente contêm menos Mg do que Ca, porque o Mg

não é adsorvido tão fortemente pelas argilas e matéria orgânica e, conseqüentemente, é

mais sujeito à lixiviação. Além disso, a maioria do material de origem contém menos

Mg do que Ca. Embora a maioria dos solos contenha Mg suficiente para suportar o

crescimento das plantas, podem ocorrer deficiências, mais freqüentemente em solos

arenosos, ácidos, formados sob condições de elevado índice pluviométrico. As

deficiências também podem ocorrer em solos calcários onde a água de irrigação contém

altos níveis de bicarbonato, ou ainda em solos alcalinos (sódicos) (Lopes, 1998).

A relação do Mg para o K pode ser um fator importante sob certas condições.

Por exemplo, adubando-se com K pode-se diminuir a absorção de Mg por gramíneas

pastoreadas por gado, o que resulta em baixo teor de Mg no soro sanguíneo e uma

condição conhecida como “tetania das gramíneas”. Baixas temperaturas do solo e

adequada umidade, na presença de quantidades moderadas de K, resultam numa maior

absorção de K, em comparação com Mg, e o aparecimento de forragem de gramínea

indutora de tetania (Lopes, 1980).

2.2 Mg na Planta

2.2.1 Distribuição e função

Considera-se como formas disponíveis o Mg da solução do solo e o adsorvido ao

complexo de troca do solo. O raio iônico deste elemento é da ordem de 0,428 nm. O

Mg2+ trocável normalmente constitui 5-20 % do total da capacidade de troca iônica; o

Ca2+ representa em torno de 35-45 % e o K+ cerca de 5 %; nos terrenos ácidos das

regiões tropicais e subtropicais, entretanto, a participação do Ca2+ e a do Mg2+ pode ser

menor. Na solução do solo a concentração de Mg2+ é da ordem de 48 a 120 mg.dm-3; em

15
números aproximados pode-se dizer que a concentração de Mg2+ em solução é o dobro

daquela de K+. Pode haver perdas de Mg do solo por lixiviação da ordem de 2-30

kg.ha-1.ano-1 (Mengel Kirkby, 1978).

A absorção do Mg2+ pelas plantas se faz de modo semelhante ao K. Mas para

que ocorra absorção é necessário que ocorra contato do elemento com a raiz da planta,

seja por interceptação radicular, por difusão ou por fluxo de massa, sendo o fluxo de

massa o mecanismo responsável pela maior proporção do contacto dos cátions

bivalentes, Ca2+ e Mg2+, com a raíz.

A taxa de absorção de Mg pode ser muito afetada por outros cátions como K+,

NH4+, Ca2+ e Mn2+ assim como H+ em condições de baixo pH (Heenan e Campbell,

1981). Deficiência de Mg induzida pela competição com outros cátions tem sido

observada com frequência.

As funções do Mg nas plantas estão relacionadas, principalmente, com a sua

capacidade de interagir com ligantes nucleofílicos como os grupos fosforílicos por meio

de ligações iônicas, e agindo como elemento de ligação e/ou formando complexos de

diferentes estabilidades. Embora muitas das ligações envolvendo o Mg sejam

principalmente iônicas, algumas são covalentes, como na molécula de clorofila. Mg

forma complexos ternários com enzimas nas quais cátions de ligação são necessários

para estabelecer a geometria precisa entre a enzima e o substrato, como ocorre na RuBP

carboxilase. (Pierce, 1986). Grande proporção do Mg total da planta está envolvida na

regulação do pH celular e no balanço cátion-ânion.

A relação K/Mg na planta geralmente varia entre 7 e 10. Se o teor absoluto de

Mg for relativamente baixo os sintomas da falta desse elemento poderão aparecer

quando a relação for da ordem de 15-20, quando o Mg2+ representa menos de 10 % do

total das bases trocáveis, as condições são favoráveis ao aparecimento da deficiência

16
induzida pelo excesso de K. Um excesso de Mg, por sua vez, pode causar deficiência de

K ou, principalmente, de Ca. De modo geral, os teores de Mg nas partes novas das

plantas são maiores que os encontrados nas mais velhas, embora o inverso possa ocorrer

também. O Mg2+ como o Ca2+ e o K+ se move para cima na corrente transpiratoria. Ao

contrário do que se dá com o Ca e de modo semelhante ao que ocorre com o K, o Mg2+

é móvel no floema, ocorrendo translocação na planta (Malavolta, 1979).

Dependendo do status nutricional do Mg na planta, entre 6 e 25 % do total do

elemento faz parte da clorofila. Em geral, outros 5 a 10 % do Mg total nas folhas e

ápices está ligado a pectatos nas paredes celulares ou precipitado como sais solúveis de

reserva no vacúolo, como por exemplo fosfatos de Mg. Os restantes 60-90 % são

extraíveis em água. Em muitos casos, o crescimento é afetado e aparecem sintomas

visuais de deficiência de Mg quando a proporção do elemento na clorofila excede a 20-

25 %.

A distribuição de Mg entre o citossol e os cloroplastos deve ser regulada no

“pool” metabólico. Em cloroplastos isolados, a fotossíntese é inibida por 5 mmol.L-1 de

Mg na solução externa. Esta inibição é causada por um decréscimo no influxo de K.

Esta inibição da fotossíntese pode ocorrer em função de altas concentrações de Mg no

“pool” metabólico em plantas inteiras sob estresse causado pela seca.

O Mg entra na composição da fitina (sal de Ca e Mg do ácido inositol fosfórico)

que se acumula nas sementes. Quando estas germinam, P e Mg migram para as

diversas partes da planta em via de crescimento, contribuindo para a formação de novos

tecidos (Neptune, 1986).

As funções do Mg no metabolismo da planta são:

1. Clorofila – as clorofilas são porfirinas magnesianas e o Mg corresponde a 2,7

% do peso molecular das mesmas; representa cerca de 10 % do teor total de Mg da

17
folha. Os plastídeos, entretanto, tem mais Mg além daquele contido na clorofila: a

conversão de energia é das principais funções dos cloroplastos e, como se verá logo

mais, o Mg é ativador de enzimas relacionadas ao metabolismo energético.

2. Ativação enzimática – o Mg ativa mais enzimas do que qualquer outro

elemento. Um papel principal do elemento é ser cofator de quase todas as enzimas

fosforilativas, formando uma ponte entre o pirofosfato do ATP ou ADP (tri e difosfato

de adenosina, respectivamente) e a molécula da enzima. A transferência de energia

desses dois compostos é fundamental nos processos de fotossíntese, respiração

(glicólise e ciclo dos ácidos tricarboxílicos), reações de síntese de compostos orgânicos

(carboidratos, lipídeos, proteínas), absorção iônica e trabalho mecânico executado pela

planta. Em algumas das reações de transferências de grupos fosfatados, o Mg2+ pode ser

substituído por outros íons como o Mn2+, principalmente; muitas vezes, porém, é mais

eficiente do que o seu substituto. A falta de Mg inibe a fixação do CO2 mesmo na

presença de clorofila suficiente: o elemento é exigido em reações de fosforilação que

limitam a regeneração da ribulose difosfato – o açúcar que `aceita´ o CO2 fixado

fotossinteticamente; além disso, é necessário para a atividade da própria enzima que faz

isso – a carboxilase da ribulose difosfato. O metabolismo do N também é influenciado:

nas plantas deficientes em Mg o teor de N-protéico é menor, aumentando o de N-não

protéico – evidenciando que a falta de Mg afeta a síntese de proteína. A ativação dos

aminoácidos, passo obrigatório no processo, exige Mg; a transferência dos aminoácidos

ativados para formar a cadeia polipeptídica ou protéica também necessita de Mg.

3. “Carregador do P” – encontra-se na literatura a citação que o Mg seria um

elemento “carregador” do P, ou seja, contribuiria para a “entrada” de P na planta.

Talvez possa ser atribuído a isso o aumento da absorção de fósforo na presença de Mg.

Acredita-se, também, que o efeito seja devido ao papel do Mg nas reações de

18
fosforilação. Esse papel do Mg tem um possível aspecto prático; o de aumentar a

eficiência da absorção do fósforo pelas raízes.

Diferente do Ca2+, o Mg2+ é muito móvel no floema e é translocado das folhas

mais velhas para as mais novas ou para os pontos de crescimento. Em frutos e tecidos

de reserva que são dependentes do floema para o suprimento mineral, encontra-se mais

K e Mg do que Ca (Schimansky, 1973).

2.3 Fontes de Mg

A fonte mais comum de Mg é o calcário dolomítico – um material que contém

Ca e Mg e corrige a acidez do solo. Outras fontes incluem o sulfato de Mg, óxido de

Mg, as escórias básicas, o sulfato K e Mg e os termofosfatos. No Brasil, são bastante

comercializados os calcários dolomíticos calcinados, que apresentam 26 a 32 % de Ca e

9 a 15 % de Mg, constituindo-se em excelentes fontes desses nutrientes (Quadros 2 e 3).

As formas de sulfato de Mg são mais solúveis do que calcário dolomítico e

podem ser a fonte preferida de Mg em condições que requerem de resposta rápida a esse

nutriente.

Quadro 2. Fontes comuns de magnésio.


Material Mg (%)
Calcário calcítico < 5,0
Calcário dolomítico 5,0 –12,0
Magnesita (óxido de Mg) 55
Sulfato de Mg heptahidratado 9,6
Sulfato de potássio e magnésio 11,2
Cloreto de magnésio 7,5
Termofosfato 7,0
Fonte: (Lopes, 1998).

19
Quadro 3. Adubos-fonte de magnésio.
Adubo MgO%
Cianamida, cálcica 0,06
Nitrato de cálcio 1,5
Nitrocálcio 6-8
Salitre do Chile 0,05
Tortas oleaginosas 0,3-0,5
Estercos 0,9
Resíduo de esgoto 0,5-0,7
Farinha de ossos 0,4
Fosfato natural 0,2
Superfosfatos 0,2-0,3
Cloreto de potássio 0,1
Sulfato de potássio 1-2
Kieserita 18
Sulfato de magnésio 10-16
Nitrato de magnésio 14-16
Magnesita 44-46
Fonte: modificado de Malavolta (1976).

As perdas por lixiviação dependem da quantidade de água que passa através do

solo e da concentração de Mg na solução do solo a qual pode ser aumentada pela adição

de sais solúveis: a adubação com superfosfato e sais potássicos aumenta o teor de Mg na

água de percolação.

O fornecimento de Mg através de calcário deve ser realizado quando o solo

apresentar condições de acidez; caso contrário, quando se pretende fornecê-lo somente

como nutriente, é preferível utilizar sais solúveis como fonte do elemento.

20
O quadro 4 apresenta as quantidades exigidas de Ca, Mg e S por várias culturas.

Quadro 4 - Exigências de Ca, Mg e S por várias culturas.


Total absorvido
Cultura Nível de produção Ca Mg S
-----------Kg-----------
Algodão 500 kg de fibra 15 12 10
Amendoim 2 t de grãos 10 12 11
Arroz 3 t de grãos 27 9 12
Café (1) 3 t de grãos 63 30 10
Cana 100 t de colmos 100 52 45
Eucalipto 100 m3 de madeira 140 35 38
Feijão 1 t de grãos 58 19 26
Forrageiras
Gramíneas 1t de matéria seca 5 3 1
Leguminosas 1t de matéria seca 13 4 2
Laranja (2) 18t de frutos 160 9 9
Milho 5 t de grãos 19 26 13
Soja 2,5 t de grãos 42 25 5
Tomate 40 t 15 18 27
Trigo 3 t de grãos 7 9 8
(1) Quantidades absorvidas entre 5,5 e 6,5 anos de idade para uma produção de 50 sacas
beneficiadas.
(2) Quantidades totais contidas em um pomar produzindo 2 caixas de 40,8 kg/pé, com
210 plantas.ha-1.
Fonte: Potafós, 1996.

2.4 Deficiência de Mg

A necessidade de Mg para um ótimo crescimento das plantas situa-se na faixa de

0,15-0,30 % do peso seco da parte vegetativa da planta.

De acordo com Arnold (1967), os solos com deficiência de Mg mais

freqüentemente situam-se em três grandes grupos:

(1) Solos com baixos teores de Mg trocável, geralmente de textura arenosa;

21
(2) Solos ácidos;

(3) Solos com alto teor de K trocável.

No primeiro caso, a reserva de Mg pode ser insuficiente ou pode ser exaurida

por lixiviação: nos solos ácidos o antagonismo por cátions em excesso (H+, Al3+, Mn2+,

Fe2+) pode causar a carência; o alto teor de K trocável faz com que aumente a relação

K+/Mg2+ na solução do solo podendo causar sintomas de deficiência de Mg.

De modo parecido com o descrito para o K, o Mg não trocável, tanto estrutural

como o fixado entre as camadas de argila, pode se tornar disponível devido ao

intemperismo (Malavolta, 1979).

A deficiência de Mg pode ser induzida por excesso de K na adubação o que

produziria um efeito semelhante ao alto teor desse elemento no solo aumentando a

relação K/Mg. De acordo com Shone (1967), as doses muito altas de adubos potássicos

quando usadas em solos pobres em Mg++ podem, além de causar diminuição na

absorção do Mg, provocar lavagem deste nutriente para camadas mais profundas do

perfil, fora do alcance das raízes. Em solos deficientes em K, porém, a adição desse

elemento como adubo pode levar à maior absorção de Mg o que é acompanhado por

aumento na matéria seca produzida.

O baixo nível de umidade no solo pode provocar diminuição na sua absorção,

pois pode ocorrer menor transporte do Mg++ para a raiz pelo processo do fluxo de

massa.

2.4.1 Sintomas de deficiência

Os sintomas de deficiência de Mg geralmente aparecem primeiro nas folhas mais

velhas. Isso acontece porque o Mg é redistribuído na planta. A deficiência aparece como

uma cor amarelada, bronzeada ou avermelhada, enquanto as nervuras das folhas

22
permanecem verdes (reticulado grosso). Exemplo: as folhas de milho com faixas

amarelas e com as nervuras verdes (Büll, 1993) .

O desequilíbrio entre o Ca e o Mg no solo pode acentuar a deficiência de Mg.

Quando a relação Ca/Mg torna-se muito alta, a planta pode absorver menos Mg. Isto

pode ocorrer quando se usa somente calcário calcítico por muitos anos, em solos

relativamente pobres em Mg. A deficiência de Mg também pode ser acentuada por altas

doses de K+ ou NH4+, quando o solo esta no limite de deficiência (Lopes, 1998).

3 ENXOFRE

3.1 Enxofre no Solo

A crosta terrestre contém cerca de 0,11 % de S e a rocha matriz constitui a fonte

primária do elemento: ela fornece sulfetos metálicos os quais, em solos bem arejados, se

transformam rapidamente em sulfatos. A esse S mineral junta-se o S orgânico

proveniente dos restos animais e vegetais e o da matéria orgânica dos solos. Outra fonte

adicional de S é o SO2 da atmosfera, oriundo da queima de combustíveis fósseis, da

madeira e de outros produtos orgânicos. O SO2 é oxidado em parte a SO42- e trazido ao

solo pelas chuvas em quantidades que, no Brasil, correspondem a 5-30 kg.ha-1 de S em

um ano, insuficiente para atender a exigência da maioria das culturas (Malavolta,1980).

A maior parte do S do solo está na forma orgânica que, por via microbiana, é

convertido em produtos disponíveis para a planta. Não se considerando os solos semi-

áridos onde, devido à drenagem insuficiente, acumulam-se grandes quantidades de

sulfatos de K, Mg e Na, a matéria orgânica é o principal reservatório de S para as

culturas (Freney & Swaby, 1975) .

23
Nos solos bem aerados, o S mineral aparece quase exclusivamente como sulfato

(SO4-2), enquanto que em condições anaeróbicas os sulfetos (S2-) são a forma mais

comum. Em solos inundados ocorre a reação:

SO42- + 10 H+ + 8 e- H2S + 4 H2O

O gás sulfidrico produzido poderá reagir como o Fe originando sulfeto ferroso

(com o que fica afastado o perigo de toxidez à cultura por conta do sulfeto):

Fe2+ + S2- FeS

Os sulfatos existem no solo em solução ou em outras formas: em combinações

pouco solúveis com Fe e Al e adsorvidos. A adsorção do SO42- depende dos teores de

argila, da presença de hidróxidos de ferro e de alumínio e do pH. Segundo Malavolta

(1980), acredita-se que a adsorção do sulfato implique na substituição de OH dos oxi-

hidróxidos e da argila:

- X = 2(OH) + SO42- - X = SO4 + 2 OH-

O aumento do pH (ou seja, adição de hidroxila – OH-) deslocaria a reação para a

esquerda dessorvendo o SO42-; por isso a “fixação” do sulfato (adsorção) é maior em

solos ácidos, sendo diminuída pela calagem (Vitti, 1989).

Ao lado dos sulfatos, podem aparecer, em pequena proporção e de forma

transitória, produtos intermediários que se formam durante as transformações do S no

solo e que, eventualmente, vão resultar em sulfato: sulfito (SO32-); tiossulfato (S2O32-);

politionato (S4O62-) (Neptune et al., 1975). Não se sabe muito a respeito dos compostos

orgânicos de S no solo. Admite-se que o S orgânico esteja repartido do seguinte modo:

1. Aminoácidos livres: pequena proporção de cisteína, cistina, metionina,

sulfóxido de metionina, metionina sulfona, ácido cisteico, ácido cisteino-sulfínico,

taurina;

24
2. Sulfato orgânico: alta proporção como SO42- ligado a fenóis, colina (base

nitrogenada), carboidratos e lipídeos;

3. Derivados de quinonas e aminoácidos com S: alta proporção, parte do húmus

muito resistentes à mineralização por microganismos.

O processo de mineralização pode ser ilustrado tomando-se a cisteína (livre ou

oriunda da decomposição da matéria orgânica) como exemplo:

microrganismos
(Cisteína) (Piruvato)
HSCH2CHNH2COOH + H2O CH3COCOOH + H2S + NH3

Do mesmo modo que a mineralização do N, a do S depende da relação C/S do

substrato (no caso do N um quociente C/N = 10 a 15 acelera o processo): o sulfato se

forma somente quando o teor de S da matéria orgânica excede a necessidade alimentar

dos microrganismos do solo. Assim, quando C/S for menor que 200 o sulfato

geralmente se acumula; acima de 400 o SO4 2- adicionado e mais o existente no solo são

imobilizados. Estima-se que nos solos das regiões temperadas úmidas 1-3 % do S total

seja mineralizado por ano (Malavolta, 1980).

O H2S libertado na mineralização do S sofre oxidação:

1. em condições anaeróbicas – bactérias autotróficas dos gêneros Beggiatoa e

Thiothrix que depositam S elementar;

2. em condições aeróbicas – bactérias do gênero Thiobacillus principalmente que

produzem H2SO4 no meio, como demonstram as reações:

2 H2S + O2 2 H2O + 2 S + Energia

2 S + 3 O2 + H2O 2H2SO4 + Energia

25
De acordo com Malavolta (1980), as quantidades de S nos solos minerais vão de

0,02 – 0,2 %; e em solos orgânicos podem chegar a 1 %. O S orgânico nos solos

brasileiros representa 60-90 % do total.

O sulfato é proveniente sobremaneira da intemperização das rochas. No entanto,

a industrialização acrescenta fonte adicional de sulfato: a poluição atmosférica. A

queima de combustíveis fósseis libera várias formas de S gasoso, incluindo dióxido de

S, que são levados para o solo pela chuva.

Segundo Taiz & Zeiger (2004), quando dissolvido em água, o dióxido de S é

hidrolisado e transforma-se em ácido sulfúrico (H2SO4), um ácido forte, que é a

principal fonte da chuva ácida. As plantas podem, também, metabolizar o SO2, que é

absorvido na forma gasosa através dos estômatos. Entretanto, exposições prolongadas

(mais de oito horas) a altas concentrações atmosféricas do SO2 (maiores do que 0,3

ppm) causam extensos danos aos tecidos, devido à formação do ácido sulfúrico

3.2 Enxofre na planta

3.2.1 Distribuição e função

A maior parte do S nas células de vegetais superiores deriva do sulfato (SO4 2-)

absorvido via um transportador 3H+/SO4 2-


do tipo simporte presente na membrana

plasmática (ver capítulo V neste volume).

O ânion divalente SO42- é absorvido pelas raízes em baixas quantidades e o

transporte de sulfato ocorre principalmente pelo xilema (Figura 3). Em muitos aspectos,

a assimilação de S é semelhante ao do nitrato. Por exemplo, a redução é necessária para

a incorporação de S aos aminoácidos, proteínas e coenzimas. Nas folhas verdes, a

ferredoxina é o agente redutor para o S. Entretanto, ao contrário do N-nitrato, o sulfato

26
pode ser utilizado sem o processo de redução e incorporado a estruturas orgânicas

essenciais como os sulfolipídeos nas membranas ou polissacarídeos como o agar.

As folhas, além do SO42-, são capazes de absorver também o gás SO2 (dióxido de

S) existente no ar, fazendo-o, porém, de modo pouco eficiente. A utilização direta do S

elementar (molhável) foi demonstrada ocorrer nas folhas e frutos de plantas cítricas:

empregando-se o produto marcado com S – 35 (radioativo), muito usado como

defensivo. Verificou-se sua absorção bem como sua incorporação em proteínas.

27
Figura 3. O ciclo do enxofre.
Enxofre elementar

Oxidação bacteriana Oxidação


bacteriana

Oxidação bacteriana
Ácido sulfídrico Sulfato SO4-2
(H2S)
Redução bacteriana

Mineralização
Digestão pelos animais Absorção pelas
(Degradação Plantas (Imobilização)
bacteriana)
Compostos orgânicos
(proteínas) R-SH

Fonte: Malavolta (1976).

O contato sulfato-raíz se faz, principalmente, por fluxo de massa. O sulfato é

transportado predominantemente na direção acrópeta, da base da planta para cima; a

capacidade da planta para translocar o S na direção basípeta é muito pequena; por isso,

em casos de carência de S os sintomas aparecem em primeiro lugar os órgãos mais

novos, como as folhas mais novas (Malavolta, 1980).

A primeira etapa na síntese de compostos orgânicos contendo S é a redução do

sulfato ao aminoácido cisteína. O sulfato é muito estável e necessita ser ativado antes

que alguma reação subseqüente possa ocorrer. A ativação inicia com a reação entre o

sulfato e o ATP, para formar 5´-adenililsulfato (o qual é, algumas vezes, referido como

adenosina-5´-fosfosulfato e abreviado como APS) e pirofosfato (PPi). O processo todo

se inicia com a seguinte reação:

28
SO4-2 + Mg-ATP APS + PPi
A enzima que catalisa essa reação, a ATP sulfurilase, apresenta duas formas: a

maior é encontrada nos plastídeos e a menor, no citoplasma (Leustek & Cols., 2000,

citados por Taiz & Zeiger, 2004). A reação de ativação é energeticamente desfavorável.

Para levar essa reação adiante, os produtos APS e PPi devem ser convertidos de

imediato em outros compostos. O PPi é hidrolisado a fosfato inorgânico (Pi) pela

pirofosfatase inorgânica, de acordo com a seguinte reação:

PPi + H2O 2 Pi

O outro produto, APS, é rapidamente reduzido ou sulfatado, sendo predominante

a via de redução. A redução do APS é um processo de múltiplas etapas, que ocorre

exclusivamente nos plastídeos. De início, a enzima APS redutase, transfere dois elétrons

da glutationa reduzida (GSH) para produzir sulfito (SO3 2-):

APS + 2 GSH SO3 2- + 2 H+ + GSSG + AMP

Onde GSSG representa a glutationa oxidada. (o SH em GSH e o SS em GSSG

representam as pontes S-H e S-S, respectivamente).

A seguir, a sulfito redutase transfere seis elétrons da ferredoxina (Fdred) para

produzir sulfeto (S-2):

SO3 2- + Fdred S 2- + 6 Fdox

O sulfeto resultante reage com O-acetilserina (OAS) para formar cisteína e

acetato. A O-acetilserina, que reage com o S 2-, é formada na reação catalisada pela

serina acetiltransferase:

Serina + Acetil-CoA OAS + CoA

A reação que produz cisteína e acetato é catalisada pela OAS tiol-liase:

29
OAS + S 2- Cisteína + Acetato

A sulfatação do APS, localizada no citosol, é a via alternativa. Inicialmente, a

APS quinase catalisa a reação da APS com ATP, para formar 3´-fosfoadenosina-5´-

fosfossulfato (PAPS).

APS + ATP PAPS + ADP

As sulfotransferases, então, podem transferir o grupo sulfato do PAPS para

vários compostos, incluindo colina, brassinosteróides, flavonol, ácido gálico glicosídeo,

glucosinolatos, peptídeos e polissacarídeos (Taiz & Zeiger, 2004).

A redução do sulfato a cisteína altera o número de oxidação do S de +6 para –4,

assim necessitando da transferência de 10 elétrons. A glutationa, a ferredoxina, o

NAD(P)H ou a O- acetilserina podem atuar como doadores de elétrons em vários passos

da rota metabólica (Figura 4).

Na assimilação do S, as folhas são em geral mais ativas do que as raízes,

provavelmente devido ao fato da fotossíntese disponibilizar a ferredoxina reduzida e a

fotorrespiração gerar a serina, que pode estimular a produção da O-acetilserina. O S

assimilado nas folhas é exportado pelo floema para os locais de síntese protéica (frutos e

ápices caulinares e radiculares), sobretudo na forma de glutationa. A glutationa também

atua como um sinal que coordena a absorção do sulfato pelas raízes e a assimilação do

sulfato pela parte aérea. Além disso, nas folhas, a reação é muito estimulada pela luz

(Frankhauser & Brunold, 1978). Esta estimulação pela luz é requerida por causa da

necessidade de ferredoxina como um redutor para o carregador de sulfito. Durante o

desenvolvimento da folha, a evolução da redução do sulfato é semelhante à redução do

nitrato, ou seja, é máxima durante o período de expansão foliar mas diminui

drasticamente após a maturação da folha.

30
. A absorção do SO42- é aparentemente reduzida pela presença em excesso de Cl-

; altos níveis de selênio em alguns solos podem induzir carência de S. A velocidade de

absorção do SO42- depende do cátion acompanhante, obedecendo à seguinte série

crescente Ca2+, Mg2+, NH4+, K+ (Malavolta, 1979).

A necessidade de S para o bom crescimento das plantas varia de 0,1 a 0,5 % do

peso seco do material vegetal. As crucíferas são as mais exigentes, com teores nas

sementes entre 1,1 a 1,7 % de S na base de peso seco. O conteúdo de S nas proteínas

varia entre frações protéicas de células individuais e entre espécies de plantas. Em geral,

as proteínas das leguminosas contém menos S do que as proteínas dos cereais, e a

relação N/S gira em torno de 40/1 e 30/1 nestas espécies, respectivamente.

As proteínas são os compostos nos quais a maior parte do S (e do N,

naturalmente) se incorpora.

Quando o fornecimento de SO42- é alto, a sua absorção pode ser mais rápida que

sua redução e a assimilação dos átomos de S em compostos orgânicos.

O S é constituinte dos aminoácidos cisteína e metionina (principalmente) e,

portanto, das proteínas que os contém (Figura 4). A tiamina, a biotina e a coenzima A

(COa) são coenzimas essenciais para o metabolismo quando ligados às apoenzimas

apropriadas (proteínas) que as requerem para exercer sua função de catalisadores

orgânicos (enzimas).

As funções que o S desempenha na planta podem ser classificadas em dois

grandes grupos: estruturais e metabólicas.

31
SO4-2
ATP

Adenosina fosfossulfato (APS)


ATP
Redução

Fosfo adenosina fosfossulfato (PAPS)

SO3-2

S-2 R-serina
Incorporação

Biotina
NH2 Coenzima A
HS-CH2CH-COOH Glutatione
(cisteína)

Cistationina

CH2-CH-COOH
NH2
NH2
S CH3-S-CH2-CH2-CH-COOH
(Metionina)

S
NH2

CH2-CH-COOH
(cistina) Proteínas
S adenosil metionina

Figura 4. Redução, incorporação e metabolismo do enxofre na planta


Fonte: Malavolta (1979).

32
3.2.1.1 Estruturais

Os compostos de S desempenham papel muito importante na estrutura das

proteínas. Como se sabe, as proteínas tem estrutura primária por meio da ligação

peptídica (NH-CO) ; a estrutura secundária pode ser devida a ligações cruzadas ou ao

desdobramento causado por ligações de dissulfeto (S-S) covalentes e as pontes de

hidrogênio entre duas cadeias; a estrutura terciária é controlada por ligações H não

peptídicas, ligações iônicas e grupos hidrófobicos ao longo das cadeias polipeptídicas.

As três estruturas são essenciais para o funcionamento da proteína. Os aminoácidos

contendo S fornecem as ligações de dissulfeto (da cisteína) para a ligação de duas

cadeias ou para a formação de anéis estáveis numa mesma cadeia. Os grupos sulfídrico

(SH) fornecem sítios para a ligação de cátions metálicos podendo por isso afetar a

estrutura secundária devido à conformação da cadeia protéica ao redor do metal. Os

grupos SH podem ainda funcionar como locais para a formação de pontes de H e para a

ligação de grupos protéticos (não protéicos) das enzimas. Os grupos tioeter (S-CH3) da

metionina, sendo hidrófobicos podem afetar a estrutura terciária mediante interação com

outros grupos hidrófobicos da cadeia.

Ésteres de SO42- com polissacarídeos são componentes estruturais importantes

das membranas das membranas celulares.

3.2.1.2 Metabólicas

As funções metabólicas do S são devidas a:

• Aminoácidos em proteínas

• Aminoácidos livres

• Outros compostos de S de baixo peso molecular.

33
Os grupos SH nas proteínas enzimáticas podem ser o sítio de ligação do

substrato com a enzima. Muitas das enzimas do metabolismo dos carboidratos são

sensíveis aos reagentes que destroem os grupos SH indicando pelos menos uma ação

indireta desses grupos em processos metabólicos.

Os compostos de S: tiamina, ácido lipoico e CoA funcionam como carregadores

de acila (R-CO) na oxidação de alfa cetoácidos.

A biotina está associada com a fixação não fotossintética do CO2 e com reações

de descarboxilação.

O S é componente essencial do anel de tiazol da tiamina, uma vitamina que pode

ocorrer como vitamina livre ou ligada ao pirofosfato (tiamina pirofosfato) quando atua

como coenzima na descarboxilação do piruvato a acetaldeído e na oxidação de alfa-ceto

ácidos.

A S-adenosil metionina desempenha papel essencial nas reações de transferência

de radicais que contêm um C (transmetilações), segundo Malavolta (1979).

Devido à sua participação num número tão grande de compostos e de reações, a

falta de S provoca uma série de distúrbios metabólicos:

1. diminuição na fotossíntese e na atividade respiratória;

2. queda na síntese de proteínas com o aparecimento de altas relações N

solúvel / N protéico;

3. redução no teor de gorduras;

4. acúmulo de carboidratos solúveis com elevação da relação C solúvel / C

amido;

5. diminuição na fixação livre e simbiótica do N2 atmosférico.

Finalmente, o S desempenha funções que determinam aumentos na produção e

na qualidade do produto obtido. Como já mencionado, esse nutriente é componente dos

34
aminoácidos cistina, metionina e cisteína, os quais são componentes da proteína,

encerrando 90 % do S encontrado na planta. Além disso, o S está ligado às vitaminas

biotina e tiamina, sendo esta última um problema nutricional em países que têm como

base de alimentação o arroz (Vitti, 1986). O S é componente do acetil – CoA, composto

que representa o “centro nervoso” no ciclo de Krebs, influenciando, portanto, todo o

metabolismo de gordura e carboidratos. Participa ainda da composição de azeites de

alho livres de N (bissulfeto de alila) nas plantas bulbosas (cebola, alho) e de essência de

mostarda com N (glucosídeo) nas crucíferas; na ativação de enzimas proteolíticas, como

a ficinase (figo), bromelina (abacaxi) e papaína (mamão); da composição das

ferrodoxinas, complexos enzimáticos envolvidos na fotossíntese e na fixação do N2; e

na formação de clorofila. Os grupos sulfidrilos (-SH), no tecido vegetal, parecem

aumentar a tolerância ao frio e à seca.

Analisando as funções do S, segundo Vitti et al. (1988), observa-se que o S está

intimamente ligado ao metabolismo do N, sendo inclusive utilizada a relação N/S do

vegetal para avaliar o seu estado nutricional (Vitti & Trevisan, 2000).

3.3 Fontes de S

Mais de 95 % do S encontrado no solo estão ligados à matéria orgânica. Outras

fontes naturais incluem os dejetos animais, a água e a atmosfera (Lopes, 1998).

Os dejetos de animais contêm níveis de S variando de menos de 0,02 a até cerca

de 0,3 %. Obviamente, o conteúdo varia consideravelmente, dependendo das espécies,

do método de armazenagem e aplicação.

O SO2 e outros gases da atmosfera, dissolvidos na água da chuva e da neve,

podem contribuir com até 22 kg de S.ha-1.ano-1, ainda mais em algumas áreas

industrializadas. De acordo com Lopes (1998), a água de irrigação pode conter

35
concentrações bem altas de S. Quando o teor de S-SO4 na água de irrigação excede 5

mg.L-1, a deficiência de S é pouco provável. Mesmo assim, aplicações de fertilizantes

de “arranque”, contendo S, podem ser benéficas por causa da mobilidade do sulfato

durante chuvas intensas.

A maioria das fontes de S é formada por sulfatos (Quadro 5) e são

moderadamente ou muito solúveis em água. As formas solúveis também incluem

bissulfetos, tiossulfatos e polissulfatos. A forma mais importante de S insolúvel em

água é o S elementar, que precisa ser oxidado a S- SO4 antes das plantas poderem

utilizá-lo. A oxidação bacteriana do S no solo é favorecida por:

- Temperaturas do solo mais elevadas;

- Teor adequado de umidade;

- Aeração do solo;

- Partículas menores.

36
Quadro 5. Fontes mais comuns de S

Fonte Teor de S (%)

Sulfato de amônio 22-24

Tiossulfato de amônio 26

Polissulfeto de amônio 40-50

Sulfato de potássio 15-17

Sulfato de potássio e Mg 22-24

Gesso 12-18

Sulfato de Mg 12-14

Superfosfato simples 10-12

S elementar > 85

Sulfonitrato de amônio 15

Torta de algodão 0,3

Esterco de curral 0,5

Resíduo de esgoto 0,1-0,5

Tancage 0,9

Superfosfato triplo 0,3-1,0

Superfosfato amoniacal 12

Fosfossulfato de amônio 15
Fonte: modificado de Malavolta (1976) e Lopes (1998)

37
O quadro 6 apresenta respostas de algumas culturas à aplicação de S

Quadro 6. Respostas de culturas brasileiras ao S.

Aumento da produção
Cultura
(%)
Algodão 37
Arroz 16
Café 41
Cana 11
Citros 18
Colonião 21
Colza 51
Feijão 28
Milho 21
Repolho 9
Soja 24
Sorgo 10
Trigo 26

Os sulfatos solúveis em água são imediatamente disponíveis para as plantas e

devem ser utilizados quando o S é necessário rapidamente. Segundo Lopes (1998), estas

fontes são usadas normalmente em fertilizantes sólidos, apesar de soluções de sulfato de

amônio também serem comuns.

O tiossulfato de amônio (12 % N e 26 % S) é um líquido claro adequado para

uso em fertilizantes fluidos ou água de irrigação. Ele deve ser colocado junto com a

semente; se aplicado em faixas, estas devem estar a pelo menos 2,5 cm da semente. O

polissulfeto de amônio é uma fonte fluida vermelha de S, com um forte cheiro de

amônia, comumente aplicado na água de irrigação (Lopes, 1998). O S neste último

produto precisa ser oxidado para a forma de sulfato para se tornar disponível às plantas.

Apesar do gesso (sulfato de Ca) ser menos solúvel em água do que os outros

sulfatos, ele é uma fonte eficiente e barata de S.

A adubação com S elementar resulta em resposta mais lenta da cultura do que

com fontes na forma de sulfato, por causa da sua insolubilidade em água. Para ser

38
eficiente, essa fonte deve ser incorporada ao solo com bastante antecedência às

necessidades das culturas. Usado de maneira adequada, entretanto, o S elementar é uma

fonte de S agronômica e economicamente adequada (Lopes, 1998). Uma objeção ao uso

do S finamente moído é o desconforto para o usuário. Ele é muito pulverulento e pode

apresentar riscos de incêndio sob condições de armazenamento. O problema é

usualmente evitado pela granulação do S com bentonita.

3.4 Deficiência de S

Em plantas deficientes em S, a inibição da síntese de proteínas está

correlacionada com uma acumulação de compostos solúveis de N e NO3-. Amidas estão

presentes em concentrações acima do normal e também proporções de frações solúveis

de N (Karmoker et al., 1991). O conteúdo de SO4- é extremamente baixo em plantas

deficientes e, ao fornecer S as plantas rapidamente atingem os níveis satisfatórios. O

conteúdo de sulfato é um indicador bastante sensível ao status nutricional da planta em

relação ao S, mais do que o conteúdo de S total. O melhor indicador parece ser a relação

entre o SO42- e o conteúdo de S total.(Freney et al., 1978).

O baixo conteúdo de S nas proteínas influencia consideravelmente a qualidade

nutricional das plantas. A metionina é um aminoácido essencial para a nutrição humana

e é considerada como um fator limitante quando os grãos são considerados como a fonte

principal de proteínas. Em brássicas, o conteúdo de gluconosinolatos e seus metabólitos

voláteis está muito relacionado com o conteúdo de S. O suprimento de S pode ser

considerado favorável ou desfavorável às plantas, do ponto de vista qualitativo. Em

alguns alimentos ocasiona um sabor mais acentuado e em outros diminui a sua

palatabilidade (Portz, 2005).

Áreas com solos deficientes em S tem aumentado e, de acordo com Lopes

(1998), existem vários fatores que contribuem para isso, incluindo:

39
- Aumento na produção das culturas que removem grandes quantidades de S;

- Aumento do uso de fertilizantes de alta concentração que contêm pouco ou

nenhum S

- Menor contaminação atmosférica por S por causa de diminuição do uso de

combustíveis com altos teores de S e aumento de técnicas de remoção de S dos

gases emitidos,

- Menor uso de pesticidas contendo S;

- Imobilização de S na matéria orgânica que é acumulada em decorrência das

práticas conservacionistas (plantio direto, cultivo mínimo, etc.);

- Maior preocupação quanto às necessidades de S para produções lucrativas das

culturas e qualidade dos produtos.

Outros fatores contribuem para o aparecimento de deficiências de S e também

devem ser considerados quando se pretende fazer recomendações para o uso de S:

- Cultura a ser explorada – culturas forrageiras de alta produtividade tais como híbridos

de capim bermuda e alfafa removem mais S e, em geral, respondem mais

freqüentemente a esse nutriente do que a maioria das culturas produtoras de grãos.

- Textura do solo – a lixiviação de SO4- nos solos arenosos é mais intenso do que nos

solos argilosos.

- Matéria orgânica – os solos com menos de 2 % de matéria orgânica são os que

comumente apresentam deficiência de S. Cada 1 % de matéria orgânica libera cerca

de 6 kg.ha-1.ano-1 de S (Lopes, 1998).

- Qualidade da água de irrigação – os lagos e os rios usualmente contêm altas

concentrações de S em comparação coma água de poços profundos. Por isso é

40
interessante analisar as fontes de água com a finalidade de determinar suas

concentrações de S.

41
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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47
CAPÍTULO 13

MICRONUTRIENTES

Antonio Roque Dechen(1);Gilmar Ribeiro Nachtigall(2)

(1)
Professor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP – C.
Postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP. ardechen@esalq.usp.br.
(2) Eng. Agrº. Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, C. Postal 130, 95700-000, Bento
Gonçalves, RS. gilmar@cnpuv.embrapa.br
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 545


1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................................... 545
1.2 FATORES QUE PODEM AFETAR A DISPONIBILIDADE DE MICRONUTRIENTES .......... 547
2 2.MICRONUTRIENTES CATIÔNICOS.......................................................... 549
2.1 COBRE................................................................................................................. 549
2.1.1 Cobre no solo ............................................................................................. 549
2.1.2 Cobre na planta........................................................................................... 551
2.2 FERRO ................................................................................................................554
2.2.1 Ferro no solo............................................................................................. 554
2.2.2 Ferro na planta.......................................................................................... 556
2.3 MANGANÊS ....................................................................................................... 560
2.3.1 Manganês no solo..................................................................................... 560
2.3.2 Manganês na planta.................................................................................. 562
2.4 NÍQUEL ............................................................................................................. 565
2.4.1 Níquel no solo .......................................................................................... 565
2.4.2 Níquel na planta ....................................................................................... 565
2.5 ZINCO................................................................................................................ 567
2.5.1 Zinco no solo............................................................................................ 567
2.5.2 Zinco na planta ......................................................................................... 569
3 MICRONUTRIENTES ANIÔNICOS.............................................................. 574
3.1 BORO................................................................................................................. 574
3.1.1 Boro no solo ............................................................................................. 574
3.1.2 Boro na planta .......................................................................................... 575
3.2 CLORO............................................................................................................... 578
3.2.1 Cloro no solo ............................................................................................ 578
3.2.2 Cloro na planta ......................................................................................... 580
3.3 MOLIBDÊNIO ..................................................................................................... 581
3.3.1 Molibdênio no solo................................................................................... 581
3.3.2 Molibdênio na planta................................................................................ 583
4 SÍNTESE............................................................................................................. 588
5 LITERATURA CITADA ................................................................................. 590
1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações gerais

Os micronutrientes são nutrientes essenciais para o crescimento vegetal, caracterizam-

se por serem absorvidos pelas plantas em pequenas quantidades (da ordem de alguns

miligramas por quilograma de massa seca da planta). Isto se deve ao fato de que os

micronutrientes não são elementos que participam da estrutura da planta, só fazendo parte da

constituição das enzimas ou então são seus ativadores.

A deficiência de qualquer micronutriente pode provocar problemas no crescimento da

planta e no desenvolvimento das raízes, repercutindo na qualidade e quantidade da produção.

Os micronutrientes são:
- Micronutrientes catiônicos:

- Cobre (Cu)

- Ferro (Fe)

- Manganês (Mn)

- Níquel (Ni)

- Zinco (Zn)

- Micronutrientes aniônicos:

- Boro (B)

- Cloro (Cl)

- Molibdênio (Mo)

Os micronutrientes catiônicos (Cu, Fe, Mn, Ni e Zn) são de natureza metálica e

encontram-se presentes nos solos e substratos principalmente como óxidos, hidróxidos ou

como outros sais e são insolúveis a pH altos. Os micronutrientes aniônicos (B e Cl) são

considerados não metais, enquanto que o Mo é classificado como um metal de transição.

Para o diagnóstico de deficiências de micronutrientes não é suficiente um exame

visual, já que as deficiências de diferentes elementos provocam sintomas externos muito

similares, sendo necessário realizar análise de solo e, preferencialmente, de folhas.

A carência de micronutrientes pode ocorrer:

• Pela falta do micronutriente em quantidade suficiente no solo, de modo que a planta

não consegue absorvê-lo nas quantidades necessárias. Esta deficiência pode ser

denominada de absoluta e raramente ocorre.

• Por não se encontrarem no solo na forma disponível para as plantas, por estar retido

em algum componente do solo ou indisponível pela presença de outros elementos,

caracterizando neste caso, a deficiência induzida. Como exemplo destas situações tem-
se o bloqueio que sofre o B pelo Ca e a clorose férrica, induzida pela presença de

bicarbonato.

1.2 Fatores que podem afetar a disponibilidade de micronutrientes

São vários os fatores que podem afetar à disponibilidade, e, portanto, à absorção de

micronutrientes pelas plantas. Os mais importantes são:

• pH do solo: tem grande influência na disponibilidade dos micronutrientes (Figura 1).

Em pH alto ocorre diminuição da solubilização e da absorção de Cu, Zn, Fe e Mn. Por

outro lado, nesta condição, ocorre um aumento na disponibilidade de Mo.

• Quantidade de matéria orgânica: tem grande influência sobre a disponibilidade de

micronutrientes. Diferentes autores relatam que ao aumentar o conteúdo de matéria

orgânica do solo observaram quantidades crescentes de micronutrientes, contudo, em

algumas situações ocorre o contrário. Os solos com elevados teores de matéria

orgânica se encontram entre os que, com mais freqüência, apresentam deficiências de

um ou mais micronutrientes. Em alguns casos, a análise de solo apresenta teores

elevados de micronutrientes e, no entanto, as plantas apresentam concentrações

inferiores aos de outros solos, indicando que existe, provavelmente, baixa

disponibilidade ou elevada fixação dos micronutrientes nos solos com elevado teor de

matéria orgânica ou baixo teor total de micronutrientes.


0
M
log atividade, mol/litro

Z
-

5 C

-
F
10

4 5 6 7 8

pH

Figura 1 - Influência do pH na concentração relativa de micronutrientes na solução do solo


(Adaptado de Havlin et al. (1999)).

• Textura: é outro fator que influi no teor de micronutrientes no solo. Assim, solos de

textura arenosa apresentam, com maior freqüência, baixa disponibilidade de B, Cu,

Mn, Mo e Zn, devido ao fato de que estes elementos são lixiviados com facilidade

nestes solos.

• Outros fatores: a atividade microbiológica, a drenagem dos solos, as condições de

oxidação-redução e as condições climáticas interferem na disponibilidade de

micronutrientes. O Zn, que está presente em pequenos teores no solo, pode ter sua

deficiência provocada por microorganismos que competem com as plantas por este
elemento. Por outro lado, os microorganismos podem também liberar íons durante a

decomposição da matéria orgânica. Já o processo de oxidação-redução interfere de

forma mais expressiva na disponibilidade de Mn e de Fe do que na disponibilidade dos

outros micronutrientes. Contudo, a redução provocada por um alto conteúdo de

umidade pode aumentar a disponibilidade do Cu, Mo e Zn, podendo chegar a níveis

tóxicos. A temperatura afeta a disponibilidade de micronutrientes pelas plantas, já que

em temperaturas elevadas do solo a absorção de micronutrientes é favorecida. Já

temperaturas baixas reduzem a taxa de mineralização da matéria orgânica do solo,

reduzindo a disponibilidade de micronutrientes presentes nestes materiais orgânicos.

2 MICRONUTRIENTES CATIÔNICOS

2.1 Cobre

2.1.1 Cobre no solo

O conteúdo médio de Cu na crosta terrestre é de aproximadamente 55 mg kg-1,

enquanto o conteúdo total de Cu no solo varia entre 10 a 80 mg kg-1 (Krauskopf, 1972), onde

se encontra, principalmente, na forma divalente (Cu2+), em sua maioria como constituinte das

estruturas cristalinas dos minerais primários e secundários. Considera-se que a principal

fração do Cu dissolvido esteja como complexo solúvel de ácidos orgânicos, tais como cítrico

e oxálico.

O Cu trocável está fortemente adsorvido especialmente pela matéria orgânica do solo,

onde o íon, numa grande proporção, é fixado pelo húmus, numa forma mais estável do que a
forma trocável adsorvida. A força de ligação do Cu com os ácidos húmicos diminui com o

aumento da quantidade de Cu aplicada (Goodman & Cheshire, 1976), contudo, aumenta com

a elevação do pH (Yonebayashi et al., 1994) e com o aumento do grau de humificação da

matéria orgânica (Steveson & Fitch, 1981). Este Cu orgânico pode torna-se disponível

somente depois da mineralização da matéria orgânica. O Cu total não permite fornecer uma

informação precisa sobre a disponibilidade deste elemento, sendo recomendado utilizar

métodos de extração, como por exemplo, o DTPA.

As deficiências de Cu ocorrem principalmente em solos orgânicos ácidos, em solos

derivados de rochas ígneas muito ácidas e em solos lixiviados de textura grosseira. Deve-se

considerar que, em alguns sistemas de cultivo, quantidades consideráveis de Cu são

adicionadas ao solo através de aplicação de fungicidas. Um exemplo desta situação é o uso de

fungicidas cúpricos no controle de doenças de videiras, por vários anos, que tem levado ao

acúmulo do Cu na superfície do solo. Em uma região cultivada com videiras na França, o

conteúdo de Cu total na camada superficial de solos de vinhedo variou de 31 a 250 mg kg-1,

enquanto em solos de florestas variou de 14 a 29 mg kg-1 (Brun et al., 1998). Para as

condições da Austrália, Pietrzak & McPhail (2004), avaliaram vinhedos cultivados por 20 e

até por mais de 90 anos, observaram teores de Cu total entre 10 e 250 mg kg-1. No Brasil,

Nachtigall et al. (2005) verificaram teores de Cu total entre 1300 e 1400 mg kg-1 em dois solos

cultivados com vinhedos da região da Serra do Rio Grande do Sul, o que se deve ao fato de

que o manejo de muitos dos vinhedos brasileiros envolver o uso contínuo de calda bordaleza

(CuSO4 + Ca(OH)2) e de outros produtos a base de Cu, para o controle de doenças em

vinhedos cultivados por longos períodos.


2.1.2 Cobre na planta

O Cu é absorvido como Cu2+ e Cu-quelato, sendo pequena a sua concentração nos

tecidos da planta, geralmente entre 2 e 20 mg kg-1 na matéria seca. A absorção do Cu pelas

plantas ocorre através de processo ativo e existem evidências de que este elemento iniba

fortemente a absorção do Zn e vice-versa (Bowen, 1969). Considera-se que este elemento não

é prontamente móvel na planta, embora existam resultados que mostram o movimento de

folhas velhas para novas. Loneragan (1975) concluiu que o movimento do Cu no interior das

plantas dependente da sua concentração nestas, uma vez que em plantas de trigo bem supridas

de Cu, pode ocorrer movimento dos grãos para as folhas, contudo, em plantas deficientes o

Cu foi relativamente imóvel.

Quanto ao transporte do Cu no interior da planta, existem resultados que indicam que

compostos nitrogenados solúveis, como os aminoácidos, atuam como carregadores deste

elemento no xilema e no floema, já que o Cu apresenta forte afinidade com o átomo de N do

grupo amino (Loneragan, 1981).

Na planta, uma fração considerável do Cu presente nos tecidos parece estar ligada a

plastocianina e alguma fração protéica, ocorrendo, também, acúmulo do elemento em órgãos

reprodutivos das plantas, contudo, existem variações entre espécies.

O Cu é um micronutriente constituinte de certas enzimas, incluindo a oxidase do ácido

ascórbico (vitamina C), citocromo-oxidase e a plastocianina, que se encontram nos

cloroplastos.

Em condições de deficiência de Cu existe uma relação íntima entre a concentração de

Cu nas folhas e o conteúdo das enzimas plastocianina, diamina oxidase e ascorbato oxidase,
bem como da atividade do fotosistema I, contudo parece não afetar significativamente o

conteúdo de clorofila (Tabela 1). O Cu também participa em enzimas de óxido-redução, com

a exceção de certas amino-oxidases e galactose-oxidases, participando, assim, das reações de

óxido-redução, onde grande parte das enzimas com Cu reagem com O2 e o reduzem a H2O2

ou H2O. O Cu, também, faz parte da enzima fenol-oxidase, que cataliza a oxidação de

compostos fenólicos à cetonas durante a formação da lignina e da cutícula. Além disto, o Cu

influencia a fixação do N atmosférico pelas leguminosas, bem como, é um micronutriente

essencial no balanço de nutrientes que regulam a transpiração na planta.

Tabela 1. Relação entre a concentração de Cu e alguns componentes do cloroplasto e a


atividade de enzimas que contém Cu em folhas de ervilha
Atividade de Enzimas
Cu Clorofila Plastocianina Diamina oxidase Ascorbato
oxidase
(µg g-1) (µmol g-1) (nmol µmol-1 clorofila) (µmol g-1 proteína h-1)
6,9 4,9 2,4 0,86 730
3,8 3,9 1,1 0,43 470
2,2 4,4 0,3 0,24 220
Fonte: Marschner (1995)

As concentrações de Cu nas plantas variam entre 2 e 75 mg kg-1 de massa seca da

planta, considerando-se concentrações entre 5 e 20 mg kg-1 como adequadas para um

crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam concentrações foliares

menores de 4 mg kg-1 enquanto que acima de 20 mg kg-1 pode-se observar sintomas de

toxicidade (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones Junior, 1996; Furlani,

2004).

As plantas raramente apresentam deficiências de Cu, já que este elemento se encontra

disponível em quase todos os solos. Contudo, a deficiência de Cu pode ocorrer em plantas


cultivadas em solos com baixo teor em Cu total ou em solos com altos teores de matéria

orgânica, por não estar disponível às plantas devido a complexação em formas orgânicas

insolúveis (Abreu et al., 2001). De todos os micronutrientes, a deficiência de Cu é a mais

difícil de diagnosticar devido à interferência de outros elementos (P, Fe, Mo, Zn e S). No

sistema produtivo de citros e de outras frutas, adubações em excesso com adubos fosfatados

podem provocar deficiência de Cu.

As deficiências de Cu se manifestam como:

• As folhas jovens tornam-se murchas e enroladas, ocorrendo uma inclinação de

pecíolos e talos. As folhas se tornam quebradiças e caem.

• Clorose e outros sintomas secundários (a clorose nem sempre aparece).

• Redução da lignificação. Os vasos não lignificados do xilema são comprimidos por

tecidos vizinhos, o que reduz o transporte de água e solutos.

• Em cereais, a deficiência de Cu provoca o abortamento de grande número de flores,

produzindo espigas pouco granadas.

Em casos de toxicidade (teores no solo superiores a 300 mg kg-1) as alterações se

manifestam nas raízes, que tendem a perder vigor, adquirem cor escura, apresentam

engrossamento e paralisam o seu desenvolvimento. Também o excesso pode provocar

deficiência em Fe, já que o Cu em excesso atua em reações que afetam o estado de oxidação

do Fe, limitando sua absorção e translocação na planta. Outro efeito do excesso de Cu é a

redução da absorção de P.
2.2 Ferro

2.2.1 Ferro no solo

O Fe constitui cerca de 5% da crosta terrestre, sendo o segundo elemento em

abundância depois do alumínio, entre os metais, e quarto em abundância depois do oxigênio e

silício (Mengel & Kirkby, 1987). O Fe no solo apresenta-se na forma divalente (Fe2+) e

trivalente (Fe3+), dependendo do estado de oxi-redução do sistema. Muitos solos cultivados

apresentam baixo teor de Fe, tanto na solução do solo como adsorvido em forma trocável.

O Fe não trocável está presente em vários minerais primários, tais como biotita,

hornblenda, augita e olivina. Óxidos de Fe primários, que ocorrem em muitos solos, incluem a

hematita (FeO3), a ilmenita (FeTiO3) e a magnetita (Fe3O4), já em rochas sedimentares, as

formas primárias são alguns óxidos e a siderita. O Fe se encontra, também, em minerais

secundários, sendo um elemento presente em amplo grupo de minerais de argila (Oades,

1963). Encontra-se também ligado a complexos orgânicos.

A coloração dos solos é devida, em sua maioria, à presença dos óxidos livres. As cores

amarelo-pardas das zonas temperadas-frias se devem à presença de óxidos hidratados como a

goetita. As colorações vermelhas de regiões áridas são devidas a óxidos não hidratados como

a hematita.

O Fe, na forma ferrosa, entra no complexo de troca iônica dos solos. A forma férrica é

fortemente adsorvida pelos colóides do solo, formando complexos com os ácidos húmicos e

colóides orgânicos; no entanto, pode ser transportado pela água. Os solos sob condições de

redução ou de alagamento têm um alto conteúdo de Fe ferroso. O conteúdo de Fe férrico


aumenta com o aumento da acidez, atingindo grandes concentrações somente em solos muito

ácidos, com pH menores que 3 e em solos ricos em ácidos húmicos e colóides capazes de

formar complexos solúveis com Fe.

A influência do pH na solubilidade dos compostos de Fe pode ser verificada na Figura

2. Verifica-se que somente em condições muito ácidas os teores de Fe estariam em torno de

10-6 M, valor que poderia suprir as necessidades das plantas através do transporte por fluxo de

massa. Já a elevação de uma unidade de pH (de 3 para 4) proporcionaria um decréscimo na

disponibilidade para 1% da necessidade das plantas. O aumento do suprimento de Fe às raízes

pode ocorrer, entre outros mecanismos, pela formação de complexos solúveis ou quelatos.

Esses agentes quelantes podem se originar de exsudatos de raízes, de substâncias produzidas

pela decomposição da matéria orgânica do solo, através da ação de microorganismos, ou pela

adição de fertilizantes quelatizantes ao solo (Lindsay, 1974).

Os conteúdos de argila e matéria orgânica influem também na disponibilidade do Fe,

já que em solos argilosos existe uma tendência a reter o Fe, enquanto que teores adequados de

matéria orgânica proporcionam um melhor aproveitamento do Fe pelas plantas, devido a suas

características acidificantes e redutoras, bem como à capacidade de determinadas substâncias

húmicas para formar quelatos em condições adversas de pH.


NECESSIDADE DA PLANTA

- log Fe Solúvel (mol L-1) NÍVEL DE 1%

Fe Solúvel Total

Fe3+

Fe2+

3 4 5 6 7 8 9
pH

Figura 2. Influência do pH do solo sobre a solubilidade do Fe (Adaptado de Lindsay, 1974).

2.2.2 Ferro na planta

O Fe pode ser absorvido como Fe2+, Fe3+ e como Fe-quelato, sendo que a sua absorção

pelas plantas é metabolicamente controlada. Na absorção do Fe são envolvidos pelo menos

dois processos. No primeiro processo, que é uma característica das eudicotiledôneas e das

gramíneas não monocotiledôneas, prótons são liberados do interior das raízes, o que provoca

uma acidificação da rizosfera. Nestas condições, e na presença da Fe3+ redutase, o Fe3+ é

reduzido a Fe2+ na membrana plasmática das células das raízes. Este Fe reduzido é

transportado para o interior da membrana plasmática através de um sistema específico de

transporte (Figura 3A). A capacidade das raízes em reduzir Fe3+ para Fe2+ é fundamental na

absorção deste cátion para muitas plantas, já que este necessita ser reduzido antes de entrar

nas células (Chaney et al., 1972). O segundo processo, que ocorre em gramíneas como
cevada, milho e aveia, envolve a extrusão de sideróforos pelas raízes. Após estes sideróforos

serem liberados, estes formam complexos com o Fe3+, os quais são transportados para o

interior das células das raízes, não ocorrendo redução para Fe2+ (Figura 3B) (Epstein &

Bloom, 2004).

ATP
Partícula
H+ ADP do solo sideróforo

Fe3+ - quelato NADH

Fe3+ - sideróforo
NAD+

Fe2+
Exterior Interior Exterior Interior
Membrana Membrana
Plasmática Plasmática

Figura 3 - Processos de absorção de Fe. (A) Processo comum em eudicotiledôneas como


ervilha tomate e soja. (B) Processo comum em cevada, milho e aveia (Adaptado de
Guerinot & Yi, 1994).

No espaço livre aparente esse elemento necessita estar presente na forma iônica ou

como quelato. Segundo Römheld & Marschner (1983), o Fe3+ quelato é reduzido de forma

mais rápida do que o FeCl3. A velocidade de redução do Fe é dependente do pH, de modo

que, em pH baixo a velocidade de redução é maior. Em exsudatos do xilema o Fe parece

ocorrer na forma não quelatizada, embora seu transporte seja controlado por citrato. Tanto a
absorção quanto o transporte do Fe em plantas são afetados por fatores da planta (processos

metabólicos) e ambientais (pH, concentração de cálcio e fósforo).

A principal função do Fe é a ativação de enzimas, atuando como grupo prostético.

Participa em reações fundamentais de óxido-redução, tanto em hemoproteínas (citocromos,

leghemoglobina, catalase, peroxidase, superóxido dismutase, etc) como em proteínas não-

hémicas com ligação Fe-S como ferredoxina e enzimas redutase, nitrogenase e sulfato

redutase.

O Fe catalisa a biossíntese da clorofila, já que faz parte constituinte de enzimas

responsáveis pela sua formação. Na ausência de Fe a planta só apresenta pigmentos amarelos

(xantofila e caroteno). Faz parte da ferredoxina, transportador de elétrons de natureza não

porfirínica que atua na fotossíntese e na redução dos nitratos. Outras enzimas que contêm Fe,

mas nas que não atuam como óxido-redutor, são a aconitase e a xantin-oxidase. A fitoferritina

[(FeO.OH)8 (FeO.OPO3H2)] apresenta aproximadamente 5000 átomos de Fe3+ é uma proteína

de reserva.

Admite-se que o íon requerido no metabolismo é o ferroso, em cuja forma é absorvido

pela planta, já que é a forma de maior mobilidade e disponibilidade para sua incorporação em

estruturas biomoleculares. Certamente o íon férrico se forma e parte deste é translocado às

folhas como um quelato aniônico do citrato.

Em relação ao metabolismo do Fe na planta, deve-se levar em conta que este apresenta

baixa mobilidade nos tecidos vegetais. Esta mobilidade é afetada negativamente por vários

fatores, como o elevado conteúdo de P, deficiência de K, quantidade elevada de Mn e baixa

intensidade luminosa. A presença de bicarbonato no médio radicular reduz a mobilidade do

Fe nos tecidos vegetais.


As concentrações de Fe nas plantas variam entre 10 e 1500 mg kg-1 de massa seca da

planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando-se concentrações entre 50 e

100 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. As plantas deficientes

apresentam concentrações foliares menores que 10 mg kg-1 enquanto que acima de 80 mg kg-1

podem-se observar sintomas de toxicidade (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais &

Jones Junior, 1996; Furlani, 2004).

O efeito mais característico da deficiência de Fe é a incapacidade das folhas jovens

para sintetizar clorofila, tornando-se cloróticas, e algumas vezes de cor branca. O Fe é

considerado imóvel na planta. A entrada de Fe no floema é diminuída provavelmente pela

formação de compostos insolúveis. Contudo, uma vez que o Fe é levado a um órgão pelo

xilema, sua redistribuição é fortemente limitada. Muitos dos sintomas de deficiência de Fe

ocorrem pela baixa taxa de translocação, que pode provocar acumulação de Fe nas raízes e

folhas velhas, enquanto que nas folhas jovens apresentam deficiências do elemento. Os

sintomas visuais característicos de deficiência são:

• As folhas velhas apresentam cor verde, enquanto as folhas jovens começam a

amarelar. Diversos estudos demonstram que existe correlação entre o fornecimento de

Fe e as concentrações de clorofila nas folhas.

• Conforme vai avançando a deficiência, observa-se uma clorose internerval

característica, onde somente os vasos permanecem de cor verde, contrastando com a

cor amarelada ou esbranquiçada do limbo.

• Em casos de deficiência forte, o amarelecimento pode ser total e aparecem zonas

necróticas nos bordos do limbo, produzindo-se uma queda precoce das folhas e, em

casos muito graves, a desfolha total.

• Os talos permanecem finos e curvados, levando a uma redução do crescimento.


• Em plantas anuais ocorre uma diminuição em seu crescimento, apresentando aspecto

raquítico e redução da produção. Em plantas arbóreas ocorre queda de folhas, os frutos

são pequenos e amadurecem precocemente.

Normalmente os solos estão bem providos de Fe, contudo podem ocorrer situações de

deficiência de Fe nas plantas em decorrência na imobilização do Fe. Trata-se de deficiência

induzida ou secundária, manifestando-se pela falta de clorofila, sendo denominada clorose.

Em solos ácidos, ricos em fosfatos solúveis, pode ocorrer clorose férrica por precipitação do

Fe3+ na forma de FePO4. Na presença de MnO2 o Fe reduzido se oxida, passando a forma

férrica não assimilável. Assim, a disponibilidade de Fe depende mais do equilíbrio Fe/Mn do

que do seu teor absoluto. Também tem sido observada deficiência de Fe em função da ação de

outros elementos metálicos, como o Cu, que pode substituir o Fe nos quelatos do solo,

originando sua imobilização, bem como de Zn e Co, que apresentam efeitos similares, porém

de menos importância.

Devido à rapidez de conversão do Fe solúvel em compostos insolúveis não disponíveis

para a planta, são raros os casos de toxicidade por Fe. Solos com teores de Fe total superiores

a 5% não provocam efeitos tóxicos na maioria dos cultivos. Para o arroz irrigado por

inundação tem-se observado toxicidade de Fe, onde os níveis de Fe ferroso são muito

importantes.

2.3 Manganês

2.3.1 Manganês no solo


O conteúdo de Mn na crosta terrestre é de aproximadamente 900 mg kg-1, sendo

considerado o décimo primeiro elemento mais comum na natureza. O Mn existente no solo é

proveniente de óxidos, carbonatos, silicatos e sulfetos. Os óxidos e sulfetos de Mn são as

formas encontradas com mais freqüência nos solos, sendo comum a sua ocorrência em

associação com o Fe. Nos solos, os teores de Mn geralmente encontram-se na faixa de 20 a

3000 mg kg-1, com média de 60 mg kg-1 (Lindsay, 1979).

Devido a seus diferentes graus de oxidação (II, III e IV) e à propriedade de passar com

facilidade de uma forma a para outra, o comportamento do Mn no solo é complexo. As

formas mais comuns do Mn no solo são:

• Íon manganês Mn2+ (divalente) proveniente do intemperismo do solo. É trocável e

disponível para as plantas.

• Óxidos e hidróxidos (MnO2 , MnOOH) ou associado a hidróxidos de Fe.

• Sais pouco solúveis (fosfatos de Mn(II) e Mn(III), carbonatos de Mn(II)), sobretudo

em solos calcáreos e alcalinos.

• Participando de compostos orgânicos.

A presença de Mn disponível (Mn2+) depende tanto do pH como do potencial redox do

solo. Em valores de pH superior a 5,5 a oxidação por ação biológica em solos bem arejados é

favorecida, contudo, diminui sua disponibilidade. Por outro lado, as formas oxidadas se

reduzem,tornando-se mais disponíveis, a pH mais ácido e em solos reduzidos.

O Mn é mais móvel no solo do que o Fe e, freqüentemente se distribui no perfil do

solo de forma diferente deste. Considerando que as substâncias húmicas reduzem o Mn

facilmente, e que o elemento se oxida com dificuldade em meio ácido, tem-se, nestas

condições maior migração do elemento no perfil do solo.


Os principais fatores do solo que determinam a disponibilidade de Mn são o pH, as

condições de óxido-redução, os teores de matéria orgânica e o equilíbrio com outros cátions,

principalmente Fe, Ca e Mn (Bartlett, 1988; Reisenauer, 1988). Os valores de pH entre 6,0 e

6,5 parecem ser críticos. Valores baixos de pH favorecem a redução, enquanto valores altos

favorecem a oxidação.

2.3.2 Manganês na planta

O Mn pode ser absorvido pelas plantas como Mn2+. Considera-se que as plantas não

podem absorver o Mn4+, enquanto se desconhece sua capacidade para absorver apreciáveis

proporções de Mn3+, já que este é muito instável. Acredita-se que existe um equilíbrio

dinâmico entre as formas de Mn, sendo que os microorganismos são principalmente

responsáveis de sua oxidação entre pH 5,0 e 7,9, enquanto a oxidação não biológica ocorre

somente acima de pH 8,0.

Tem sido encontrada evidência, em todos os trabalhos sobre absorção e distribuição de

Mn, de que a sua absorção é controlada metabolicamente, possivelmente de uma forma

similar àquela que ocorre para outros cátions, como o Mg e o Ca. Entretanto, a absorção

passiva deste elemento também pode ocorrer, principalmente quando o metal encontra-se em

níveis tóxicos na solução.

O Mn ocorre na seiva das plantas na forma livre Mn2+. Goor, citado por Kabata-

Pendias & Pendias (1985), relata uma concentração menor de Mn em exsudatos do floema do

que em tecidos das folhas, indicando que o pequeno transporte do elemento através do floema

é responsável pela sua baixa concentração em frutos, sementes e órgãos de reserva das raízes.
Heenan & Campbell (1980) relataram que, na condição de bom suprimento de Mn, as

folhas acumulam altas concentrações conforme avança a idade da planta, sendo uma pequena

quantidade do elemento translocada das folhas velhas para as novas em desenvolvimento,

onde o elemento é deficiente. Contudo, deve-se considerar que a concentração de Mn varia

grandemente dentro da planta e durante o período vegetativo.

Considera-se que o Mn é facilmente absorvido pelas plantas quando ocorre na forma

solúvel no solo, existindo uma relação direta entre o teor solúvel do elemento no solo e a

concentração na planta. Por outro lado, existe uma correlação negativa entre a concentração

de Mn nas plantas e o aumento do pH, e uma correlação positiva com a matéria orgânica.

O Mn e um micronutriente essencial para a síntese de clorofila, sua função principal

está relacionada com a ativação de enzimas. Participa no funcionamento do fotosistema II da

fotossíntese, sendo responsável pela fotólise da água. O Mn pode atuar no balanço iônico

como um contra-íon reagindo com grupos aniônicos. Grande número de enzimas são ativadas

pelo Mn, especialmente as envolvidas em metabolismos intermediários (Dechen et al.,

1991a). Não se conhece ainda o papel que exerce o Mn nas reações de óxido-redução.

A deficiência de Mn tem o efeito mais severo no conteúdo de carboidratos não

estruturais, como mostra a Tabela 2. Esta diminuição no conteúdo de carboidratos é

particularmente evidente nas raízes e é, provavelmente, o fator responsável pela redução no

crescimento de raízes de plantas deficientes neste nutriente.


Tabela 2. Efeito do Mn no crescimento e na composição do feijoeiro.

Folha Caule Raízes


Parâmetros
- Mn + Mn - Mn + Mn - Mn + Mn
Produção de M.S. 0,46 0,64 0,38 0,55 0,14 0,21
-1
(g planta )
Carboidratos 4,00 17,50 14,50 35,60 0,90 7,60
solúveis (mg g-1)
Fonte: Marschner (1995)

As concentrações de Mn nas plantas variam entre 5 e 1500 mg kg-1 de massa seca da

planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando-se concentrações entre 20 e

500 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. Em muitas plantas, as

folhas com sintomas de deficiência possuem níveis de Mn menores de 20 mg kg-1 em base ao

peso seco, enquanto concentrações superiores a 700 mg kg-1 são consideradas tóxicas

(Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones Junior, 1996; Furlani, 2004).

Os sintomas de deficiência de Mn podem ocorrer tanto em folhas jovens como em

folhas intermediárias e compreendem uma ampla variedade de formas cloróticas e manchas

necróticas. Os sintomas iniciais são, freqüentemente, cloroses entre as nervuras, tanto em

folhas jovens como velhas, dependendo das espécies, seguidas de lesões necróticas. As

deficiências de Mn são mais comuns em solos orgânicos que em inorgânicos, embora o

elemento se encontre presente, geralmente, nas mesmas formas nos dois tipos de solos. No

entanto, a proporção de Mn encontrada, formando complexos com a matéria orgânica, é muito

mais alta em solos orgânicos.

Quanto à toxicidade de Mn, considera-se que a acumulação de Mn2+ é tóxica para a

maioria das plantas cultivadas. Nas condições de solos ricos em húmus, com pH menor ou
igual a 5,5 e com elevadas condições redutoras pode ocorrer acúmulo deste elemento. Isto é

devido ao fato de que em valores baixos de pH, sua forma assimilável (bivalente) é muito

abundante e pode levar a absorção pelas plantas em quantidades superiores às necessárias para

seu desenvolvimento ótimo. O Mn parece ser o único micronutriente que pode acumular-se

nas plantas por absorção excessiva. Os sintomas de toxicidade são mais visíveis em plantas

jovens, manifestando-se como manchas marrons em folhas.

2.4 Níquel

2.4.1 Níquel no solo

O conteúdo de Ni na crosta terrestre é de aproximadamente 0,016 %, sendo um

componente comum de rochas ígneas. Segundo Pais & Jones Junior (1996), os teores no solo

variam entre 1 e 200 mg kg-1. As fontes mais importantes que contém Ni são as pentandlitas

(pirrotita e calcopirita), bem como as enlateritas (garnierita).

2.4.2 Níquel na planta

O Ni é o elemento mais recentemente identificado como essencial para as plantas

superiores (Brown et al., 1987). Embora existam poucas informações sobre os fatores que

afetam a disponibilidade do Ni, pode-se supor que os fatores que afetam a disponibilidade dos

outros metais afetam também a disponibilidade deste elemento.

As plantas o absorvem em forma de cátion divalente (Ni2+), sendo seu teor na solução

do solo muito pequeno, ainda que possa ser mais abundante nos solos onde ocorrem à
presença de serpentinas. Neste caso, pode ocorrer toxicidade do elemento para a maior parte

das espécies, ainda que existam algumas que o toleram bem, já que podem tornar o Ni inativo

pela formação de complexos com ácidos orgânicos.

Quanto ao transporte do Ni no interior da planta, este apresenta uma capacidade de

redistribuição intermediária. Há, entretanto, pouca informação sobre a sua redistribuição.

Segundo Neumann & Chamel (1986), a capacidade de remobilização no Ni em gerânios foi

de 0,01%, comparada com 0,04% para 86Rb e zero para 45Ca.

O Ni faz parte da metaloenzima urease (que contém dois átomos por molécula), a qual

participa da decomposição da uréia para amônio e dióxido de carbono. Deste modo, este

elemento é importante para as plantas que recebem adubações com uréia ou com seus

derivados (por exemplo, na adubação foliar), exercendo um papel importante no metabolismo

do N. Alguns resultados de pesquisa mostram que existem respostas das plantas, como o arroz

e a soja, com a adição de Ni quando se utilizou uréia como fonte de N. Na soja o Ni pode

aumentar a atividade da urease foliar, impedindo a acumulação de níveis tóxicos de uréia.

As concentrações de Ni nas plantas variam entre 0,3 e 3,5 mg kg-1 de massa seca da

planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando-se concentrações próximas a

1,5 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. Para plantas de cevada,

0,1 µg kg-1 é considerada uma concentração crítica, onde concentrações nos grãos menores

que 100 ng kg-1 reduzem germinação de semente significativamente e menores que 50 ng kg-1

reduzem germinação em até 70% (Brown et al.; 1987).

A concentração de Ni na planta é altamente correlacionada com a concentração do

nutriente na planta, já que o Ni é rapidamente absorvido e é altamente móvel em plantas. Os

sintomas de deficiência de Ni em plantas leguminosas se caracterizam pelo acúmulo de uréia,

provocando necrose dos folíolos. A uréia é produzida durante o metabolismo do N, normal


das plantas superiores, onde o Ni evita a acumulação de concentrações tóxicas de uréia. As

folhas das plantas que contêm níveis tóxicos de uréia apresentam sintomas de necroses,

apresentando concentrações de Ni que variam entre 0,01 e 0,15 µg g-1 grama de peso seco.

Plantas de tomate (Lycopersicon esculentum L.) deficientes em Ni apresentam clorose em

folhas jovens evoluindo para necrose do meristema. As deficiências de Ni afetam o

crescimento, o metabolismo, o envelhecimento e a absorção de Fe pelas plantas. O Ni tem um

papel na resistência das plantas a doenças.

2.5 Zinco

2.5.1 Zinco no solo

O conteúdo de Zn na crosta terrestre é de aproximadamente 70 g t-1, sendo que na

litosfera o teor médio é de 8 mg kg-1. O teor de Zn nas rochas ígneas varia entre 40 mg kg-1

(granito) a 130 mg kg-1 (basalto) e nas rochas sedimentares entre 16 mg kg-1 (arenito) a 96 mg

kg-1 (folhelho) (Souza & Ferreira, 1991). Nos solos, os teores de Zn geralmente encontram-se

na faixa de 10 a 300 mg kg-1 de Zn total, o que não se correlaciona com sua disponibilidade

(Lindsay, 1979).

O Zn é encontrado nos solos e nas rochas na forma divalente. Na fração mineral dos

solos o Zn se encontra principalmente em minerais ferromagnéticos, tais como a biotita,

magnetita, hornblenda e sulfeto de zinco (ZnS). Estes minerais ao sofrerem intemperização,

liberam Zn, o qual pode ser adsorvido aos colóides do solo, como um cátion divalente (Zn2+)

ou formar complexos com a matéria orgânica.

O conteúdo de Zn pode ser afetado pelo pH do solo, de forma que o Zn se encontra

mais disponível em solos com pH baixo (solos ácidos) que em solos com pH alto (solos
alcalinos), apresentando sua mínima disponibilidade em pH acima de 7 (Figura 4). A calagem

excessiva pode provocar deficiência de Zn. O carbonato de cálcio também reduz fortemente

sua disponibilidade. Nos solos com pH ácido as deficiências de Zn podem aparecer depois da

aplicação de adubos com fosfatos solúveis, que formam fosfatos de Zn que são muito

insolúveis. Nos solos calcáreos, de alto pH, geralmente ocorrem mais as deficiências de Zn.

No solo, o Zn é encontrado nos horizontes superficiais, o que esta relacionado ao fato

de que: a) os resíduos das plantas se depositam na superfície, onde, através da decomposição,

originam pequenas quantidades deste elemento; b) o Zn apresenta baixa mobilidade

descendente no perfil, diferente de outros elementos, devido a capacidade de ser fixado pela

matéria orgânica, pelas argilas e pelos óxidos e hidróxidos de ferro.

Nos solos agrícolas, o teor total de Zn varia normalmente entre 10-300 mg kg-1,

apresentando teor médio de 50 mg kg-1,.no entanto, o este teor total não serve como índice

para prescrever a disponibilidade para as planta.

40
120
35 y = 155,56 - 13.66**x
110 2
R = 0,97
Zn Mehlich III (mg kg )
-1

30 y = 7277,2e
-1.408**x
Zn CaCl2 (mg kg )

100
-1

2
25 R = 0,99
90
20 80
15 70
10 60
5 50

0 40
3 4 5 6 7 3 4 5 6 7

pH CaCl2 pH CaCl2

Figura 4. Relação entre os teores de Zn em um Neossolo obtidos pelos métodos CaCl2 0,01M
(A) e Mehlich III (B) e o pH do solo (Nogueirol et al., 2004).
No solo, o Zn apresenta-se em três formas principais, que são responsáveis pelo seu

suprimento às plantas:

• Zn solúvel, presente na solução do solo;

• Zn trocável, adsorvido pelos colóides;

• Zn fixado. Esta forma pode atingir valores representativos, já que o Zn é capaz de

substituir alguns elementos da estrutura da argila (Al, Mn e Fe), permanecendo

indisponível para a planta.

2.5.2 Zinco na planta

O Zn é absorvido na forma de Zn2+ tanto por via radicular como por via foliar. Alguns

autores consideram o Zn altamente móvel, enquanto que outros consideraram o elemento de

mobilidade intermediária. Verifica-se, contudo, que o Zn se encontra concentrado em grande

parte na raiz, enquanto nos frutos seu conteúdo é sempre o mínimo.

O Zn é um micronutriente essencial que serve como cofator enzimático. O Zn é

essencial para a atividade, regulação e estabilização da estrutura protéica ou uma combinação

destas:

• Constituinte (estrutural) de enzimas deshidrogenases como álcool, lactato, malato e

glutamato deshidrogenase; superóxido dismutase e anidrase carbônica. Esta última

cataliza a dissolução de CO2 como passo prévio a sua assimilação:

CO2 + H2O ----> HCO3 + H+


• Participa na ativação enzimática da trifosfato-deshidrogenase, enzima essencial na

glicolise, bem como nos processos de respiração e fermentação; e da aldolases,

encarregadas do desdobramento do éster difosfórico da frutose.

• Afeta a síntese e conservação de auxinas, hormônios vegetais envolvidas no

crescimento.

As concentrações de Zn nas plantas variam entre 3 a 150 mg kg-1 de massa seca da

planta. Considera-se que concentrações inferiores a 25 mg kg-1 caracterizam níveis de

deficiência do elemento nas folhas (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones

Junior, 1996; Furlani, 2004).

Na deficiência de Zn a planta sofre efeito drástico sobre a atividade enzimática,

desenvolvimento dos cloroplastos, conteúdo de proteínas e ácidos nucléicos. As deficiências

de Zn costumam apresentar-se nos cultivos plurianuais, sendo menos importantes em cultivos

anuais, ainda que ultimamente sejam encontradas deficiências neste tipo de cultivos, como é o

caso do milho.

As deficiências se manifestam em falta de atividade da gema terminal, o que se traduz

num porte em forma de roseta nos cultivos herbáceos, enquanto em outros cultivos se

encurtam os entrenós.

Os sintomas se iniciam sempre nas folhas mais jovens, que apresentam zonas

cloróticas que terminam necrosadas e afetando a todo o parênquima foliar e as nervuras. O

tamanho das folhas é pequeno, permanecendo sem despregar-se. Nas folhas adultas não se

costumam apreciar estes sintomas. Em geral, plantas com deficiências em Zn apresentam

folhas com elevados conteúdos de Fe, Mn, nitratos e fosfatos, enquanto os conteúdos em

amido são baixos.


A interação entre Zn e P tem sido bastante estudada, sendo verificado que altos teores

de P induzem a deficiência de Zn. Marschner & Schropp, citados por Mengel & Kirkby

(1987), verificaram que altos níveis de P em videira, cultivada em vasos com solo calcário,

induziram sintomas de deficiência de Zn nas folhas, apresentando baixas concentrações de Zn

nas folhas novas, bem como redução no crescimento. Em experimentos com solução nutritiva,

conduzidos paralelamente, não foi verificada deficiência de Zn, embora sua concentração nas

folhas de videira tenha sido inferior a das folhas com sintomas de deficiência do experimento

com solo (Tabela 3).

Tabela 3. Produção de massa seca, concentração de P e Zn em folhas de videira e relação


P/Zn, em função da aplicação de níveis de P no solo e em solução nutritiva.

P(*) Massa Seca Concentração em folhas novas


Relação P/Zn
(mmol kg-1) (g) P (mg g-1 MS) µg g-1 MS)
Zn (µ
Cultivo em solo
0,3 19,9 2,63 26,6 99
3,0 19,9 2,69 19,7 137
6,0 17,2 3,06 15,5 197
Cultivo em solução
0,1 15,7 2,72 15,7 173
1,0 15,2 8,60 13,9 678
5,0 15,5 13,47 13,8 976
(*) concentração no solo (mmol kg-1) ou na solução (mmol L-1).
Fonte: Marschner & Schropp (1977).

Não é normal a ocorrência de toxicidade por Zn em solos com pH elevado, já que

nesta situação ocorre imobilização do Zn. Contudo, é possível verificar toxicidade de Zn em

solos ácidos ou em solos cujo material de origem são rochas ricas neste nutriente. Igualmente

pode existir contaminação por Zn por fontes industriais ou por aplicações de resíduos

orgânicos. Nos casos de toxicidade de Zn as folhas apresentam pigmentações vermelhas no


pecíolo e nas nervuras, sendo, também verificada clorose devido à baixa concentração de Fe

(o Zn impede a redução do Fe, bem como pode impedir o seu transporte para o interior da

planta).
Sintomas de deficiência de Cu em citros, café e milho.

Sintomas de deficiência de Fe em citros, café e soja.

Sintomas de deficiência de Mn em citros, café e milho.

Sintomas de deficiência de Zn em: citros, café e milho.

Figura 5. Sintomas de deficiência de micronutrientes catiônicos.


Fonte: Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP.
3 MICRONUTRIENTES ANIÔNICOS

3.1 Boro

3.1.1 Boro no solo

O conteúdo de B na crosta terrestre é de aproximadamente 0,001%, apresentando-se

combinado como bórax. O conteúdo total de B nos solos é variável, os teores variam entre 3 e

100 mg kg-1, com valores médios entre 10 a 20 mg kg-1 (Lindsay, 1979). Em general, os solos

de regiões costeiras contêm entre 10 a 50 vezes mais B que os demais solos, o que se deve à

origem marinha .

Na fase sólida do solo o B é encontrado em três formas:

- nos minerais silicatados e adsorvido em argilo-minerais e na matéria orgânica.

- nos hidróxidos de alumínio e ferro.

O B disponível para as plantas se encontra na solução do solo como ácido bórico em

condições de pH neutro, formando complexos com Ca ou ligado a compostos orgânicos

solúveis, e é a forma em que este nutriente é utilizado pela planta.

A determinação do teor de B no solo, disponível para as plantas, não deve considerar o

teor total do nutriente, já que o B disponível representa uma fração muito pequena do B total,

apresentando teores em torno de 0,1-3,0 mg kg-1.

Diversos fatores influenciam a disponibilidade de B do solo. A fixação de B pelo solo

depende do pH, sendo máxima nas condições de pH entre 8 e 9. A mineralização da matéria

orgânica constitui-se em uma fonte importante de B para planta. A textura do solo também

tem sua influência, já que em solos de textura arenosa o B pode ser facilmente lixiviado,

enquanto em solos de textura argilosa sua mobilidade é praticamente nula. Assim, as


aplicações de B em solos argilosos proporcionam perdas praticamente nulas, já em solos

arenosos as perdas podem ser representativas.

Em geral, o B solúvel se encontra nas camadas superficiais dos solos bem drenados,

ligado à matéria orgânica, o que, em condições de períodos de seca, pode dificultar a absorção

do B pelas plantas destas camadas superficiais, devido à inibição das raízes. Deve-se

considerar, também, que em condições de excesso de calagem pode ocorrer redução na

disponibilidade de B.

3.1.2 Boro na planta

O B é absorvido pela planta como ácido bórico (B(OH)3) e provavelmente como anion

borato (B(OH)4-) a pH elevados, tanto por via radicular como por via foliar.

Considera-se que o B em solução mova-se até as raízes através do fluxo de massa, até

que ocorra um equilíbrio entre os níveis do nutriente nas raízes e na solução. Devido a esse

movimento passivo, podem ocorrer situações onde quantidades tóxicas são absorvidas pelas

plantas quando o teor de B na solução é alto (Dechen et al. 1991b).

O B é imóvel nas plantas e é translocado principalmente através do xilema, tendo

mobilidade muito limitada no floema (Raven, 1980). Acumula-se nas folhas velhas, nas quais

a concentração é maior nas pontas e margens (Jones Jr., 1970). Em geral, a parte aérea das

plantas apresenta maior concentração de B do que as raízes. O movimento do B junto com o

fluxo transpiratório, provavelmente seja a razão para o aparecimento de sintomas de

deficiência nos pontos de crescimento.

As concentrações de B nas plantas variam entre 12 e 50 mg kg-1 de massa seca da

planta, considerando-se concentrações entre 30 e 50 mg kg-1 como adequadas para um


crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam concentrações foliares

menores de 15 mg kg-1 (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones Junior, 1996;

Furlani, 2004).

Está comprovado que as plantas jovens absorvem o B com maior intensidade do que

as mais velhas, sendo pequena a mobilidade dos tecidos velhos para os jovens. Pode,

inclusive, existir deficiência de B numa folha enquanto em outra do mesmo ramo o conteúdo

é adequado. Comprovou-se que o B intervém em vários processos biológicos importantes.

Considerando que não é possível realizar um processo biológico sem a intervenção de

enzimas, chega-se à conclusão que o B atua em alguns sistemas enzimáticos como

constituinte ou como componente ativo e essencial do substrato onde tem lugar a reação

biológica.

O B é importante na translocação de açúcar e metabolismo de carboidrato.

Desempenha papel importante no florescimento, crescimento do tubo polínico, nos processos

de frutificação, no metabolismo do N e na atividade de hormônio. Quanto à influência do B

sobre o metabolismo de ácidos nucléicos, demonstrou-se que a deficiência em B interrompe o

desenvolvimento e a maturação das células, que constituí a segunda fase do desenvolvimento

celular. Por outro lado, quando as células atingem a maturidade, estas não são afetadas pela

deficiência deste elemento, pelo que as deficiências se refletem numa destruição dos

meristemas terminais e tubo polínico, ou seja, nas zonas de crescimento, qualquer que seja a

planta.
Tabela 4. Efeito do B na Incorporação de Fosfato em DNA e na Síntese de Proteínas em
Folhas e Raízes de Girassol.

Boro (mg L-1) Folhas Raízes


Fosfato no DNA - % do total
0 0,2 0,5
1 1,4 1,8
Fosfato do RNA - % do total
0 1,4 3,6
1 6,4 13,0
Proteína – mg vaso-1
0 627 713
1 1267 1468
Fonte: Mengel & Kirkby (1987).

O B intervém na absorção e metabolismo dos cátions, principalmente do Ca; na

formação da pectina das membranas celulares, na absorção de água e no metabolismo de

glicídios. Tem influência no metabolismo e transporte de carboidratos, estando comprovado

experimentalmente que uma deficiência em B provoca acúmulo de açúcares nos tecidos. Com

relação à formação da parede celular, está comprovado que as plantas com deficiência em B

têm paredes menos resistentes do que plantas sem carência.

Os sintomas de deficiência de B podem ser distintos conforme a espécie vegetal. Os

mais comuns são:

• Redução do crescimento e deformações nas zonas de crescimento (nas plantas com

deficiência de B as novas células não se diferenciam).

• Diminuição da superfície foliar, com folhas jovens deformadas, espessas, quebradiças

e pequenas. Podem apresentar clorose ou inclusive uma cor verde mais intenso.
• Plantas deficientes em B apresentam como conseqüência acúmulo de compostos

nitrogenados nas partes mais velhas das plantas.

• Crescimento reduzido de raízes.

• Abortamento floral.

• Fendas em ramos, pecíolos e, às vezes nos frutos. Estes apresentam uma formação

irregular (deformação).

• Diminuição da concentração de clorofila.

• Também diminui a resistência às infecções.

• Diminuição da atividade das enzimas oxidantes (catalase, peroxidase e

polifenoloxidase).

Uma das plantas mais sensível à deficiência de B no solo é o Helianthus annus

(girassol), o qual foi amplamente utilizado para detectar a disponibilidade deste elemento no

solo.

A toxidez de B é tão grave quanto a sua deficiência, manifestando-se nas folhas por

um amarelecimento das plantas que se estende para as margens.

3.2 Cloro

3.2.1 Cloro no solo

O Cl é encontrado na natureza principalmente como ânion cloreto (Cl-). O conteúdo

médio na litosfera é de aproximadamente 500 mg kg-1. O teor no solo, na forma de cloreto,

apresenta grande variabilidade (50 a 3.000 kg ha-1 de Cl-), dependendo dos sais presentes

(principalmente como cloreto de sódio e, em menor proporção, como cloreto de cálcio e


cloreto de magnésio) (Lindsay, 1979). Em solos localizados próximo ao mar ou aqueles que

recebem tratamentos com águas com excesso de sais, estes teores de Cl podem ser muito

superiores aos listados acima.

O Cl podem ter como origem a:

- Decomposição da rocha mãe, principalmente das rochas ígneas.

- Decomposição de restos orgânicos.

- Contribuições realizadas pelas chuvas.

- Contribuição das águas de irrigação, presença de fertilizantes e inseticidas.

A maior parte dos Cl do solo retorna ao mar, arrastados pela água, devido a sua

grande solubilidade e ao fato de que se fixam com facilidade ao complexo coloidal. Uma

pequena parte do Cl pode se tornar insolúvel na forma de cloretos de prata, mercúrio, cobre

ou chumbo.

Geralmente, os teores de Cl nos solos são suficientes para atender as necessidades das

plantas. Em general, seu teor nos solos não é elevado devido a sua grande mobilidade. No

entanto, podem ocorrer casos de toxicidade, principalmente em locais onde a evaporação

supera a lixiviação e não ocorre lavagem deste ânion.

Em geral, não existe uma correlação proporcional entre os teores de Cl no solo e na

planta. Em solos arenosos, embora exista grande quantidade de Cl, ocorre pouca absorção

deste nutriente pelas plantas, enquanto que em solos argilosos, com baixa porosidade, mesmo

com baixos teores de Cl, ocorre maior disponibilidade do nutriente às plantas.


3.2.2 Cloro na planta

Foi o penúltimo elemento a ser considerado como essencial para a vida das plantas,

cuja essencialidade foi demonstrada em tomateiro cultivado em solução nutritiva purificada

(Broyer et al., 1954). Encontra-se sempre em quantidades suficientes já que com as chuvas

pode-se ter contribuição de até 20 kg ha-1 por ano, quantidade suficiente para as necessidades

das plantas.

O Cl é absorvido pelas plantas, tanto pela raiz como por via aérea, na forma de Cl- e

tem grande mobilidade na planta.

As concentrações de Cl nas plantas variam entre 70 e 1000 mg kg-1 de massa seca da

planta (Furlani, 2004), considerando-se concentrações entre 20 e 100 mg kg-1 como

adequadas para um crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam

concentrações foliares menores de 2 mg kg-1.

O Cl é um elemento essencial para o desenvolvimento das plantas superiores e animais

superiores, onde atua na produção do ácido clorídrico necessários para a digestão, estando o

cloreto sódico normalmente incluído em sua dieta para suprir estas necessidades.

Só há uma função em que se reconhece a participação fundamental do Cl na planta. O

íon Cl- é essencial no processo da libertação de oxigênio por cloroplastos isolados, no

Fotosistema II da fotossíntese.

Existem outras funções nas quais também poderia ser essencial: Experimentos

demonstram que o Cl é essencial na fotossíntese via regulação estomática. A concentração

ideal de Cl para fotossíntese varia segundo a espécie. O incremento na concentração de Cl

provoca abertura dos estômatos, produzindo as trocas gasosas, e por tanto, para a assimilação

do CO2 na fotossíntese. O Cl é necessário para a ativação, ao menos, de três enzimas (amilase,

asparagina-sintetase e ATPase do tonoplasto).


O Cl apresenta grande mobilidade dentro da planta, podendo migrar para as partes em

atividade fisiológica. Os sintomas não são fáceis de identificar e, poucas vezes se

desenvolvem em condições de campo. Os sintomas mais normais consistem na redução do

tamanho das folhas, clorose, seguida por um bronzeado, evoluindo para necrose. As raízes se

apresentam anãs, mais espessas ou em forma de maços próximo ao ápice.

Os sintomas de excesso são mais freqüentes e mais graves do que os de deficiência.

Contudo, os sintomas de toxidez dependem do grau de tolerância das plantas (as plantas mais

tolerantes são as halófitas, bem como a beterraba, o milho, a cevada, o espinafre ou o tomate).

Os sintomas de toxidez se caracterizam pela redução da largura das folhas, que tendem a

enrolar-se, bem como por amplas necroses que provocam secamento das folhas.

3.3 Molibdênio

3.3.1 Molibdênio no solo

O teor médio de Mo na litosfera é de 2,3 mg kg-1. No solo, tem origem da

decomposição das rochas, apresentando-se fundamentalmente na forma aniônica (MoO42-). As

formas em que o Mo ocorre no solo são (Davies, 1956):

a) não disponível, estando retido no interior da estrutura de minerais primários e

secundários;

b) parcialmente disponível ou trocável, apresentando-se retido nas argilas como MoO4-


2
e disponível em função do pH e do teor de fósforo assimilável;

c) ligado à matéria orgânica;

d) presente na forma solúvel em água.


A fração do Mo disponível para as plantas é constituída pelo Mo da solução do solo,

que representa teores extremamente baixos, pelo Mo adsorvido à superfície de sesquióxidos

(principalmente Fe2O3 e Al2O3) e de compostos cristalinos de baixa solubilidade e pelo Mo

complexado a matéria orgânica. Contudo, a maior parte do Mo do solo encontra-se ocluso

(não disponível) em minerais (Raij et al., 1987).

Normalmente, a maior parte do Mo se encontra em formas não disponíveis para a

planta. A maior ou menor disponibilidade está determinada pelo pH do solo e pelo teor de

óxidos de ferro, alumínio e titânio (Figura 6). A presença de matéria orgânica, bem como as

quantidades de fosfatos ou sulfatos tem menor influência na sua disponibilidade.

Figura 6. Relação entre o pH do solo e a disponibilidade de Mo, Mn e P para a cultura do


feijoeiro (Quaggio et al., 1985).

De forma diferente dos outros micronutrientes (Fe, Mn, Cu e Zn), a disponibilidade do

Mo aumenta com o aumento do pH. Desta forma, pode-se explicar o fato de não existir
deficiências deste nutriente em solos básicos, bem como em solos ácidos que receberam

calagem, já que esta aumenta o teor de Mo disponível.

Em solos ácidos e com teores elevados de óxidos de ferro e alumínio, a retenção do

ânion MoO42- é elevada. A fixação do Mo é mais intensa quanto maior for o teor destes

óxidos e quanto menor for o pH. Em relação a matéria orgânica, os resultados são

contraditórios, isto é, existem casos em que a disponibilidade de Mo aumenta com a matéria

orgânica e outros em que diminui.

Existem resultados que comprovam que a adição de grandes quantidades de

fertilizantes fosfatados em solos ácidos favorece a absorção de Mo pela planta. Entretanto, a

adição de quantidades significativas de sulfatos provoca uma ação depressora na absorção de

Mo.

3.3.2 Molibdênio na planta

O Mo é absorvido na forma do ânion MoO42- e sua absorção é proporcional à sua

concentração na solução do solo, que pode ser reduzida pelo efeito competitivo do SO42-

(Reisenauer, 1963).

Embora não existam evidências diretas, é aceito que o Mo seja absorvido

metabolicamente. Considera-se que o Mo é moderadamente móvel nas plantas, contudo a

forma com que é translocada na planta ainda não é conhecida. Resultados sugerem que o Mo

se mova no xilema como MoO42-, como Mo-S aminoácido complexo ou como molibdato

complexado com açúcares (Tiffin, 1972).


As plantas requerem pequenas quantidades de Mo, (menos de 1 mg kg-1 de Mo de

massa seca da planta, o que representa, em geral, 40 a 50 g ha-1 para suprir as necessidades da

maioria das culturas).

As concentrações de Mo nas plantas variam entre 0,01 e 500 mg kg-1 de massa seca da

planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando-se concentrações entre 0,6 e

10 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. As plantas deficientes

apresentam concentrações foliares entre 0,01 e 0,6 mg kg-1 (Malavolta, 1980, Malavolta et al.,

1989; Pais & Jones Junior, 1996; Furlani, 2004).

Grandes quantidades de molibdato podem ser absorvidas pelas plantas sem efeitos

tóxicos. O molibdato é um ácido fraco que pode formar complexos polianiônicos com o

fósforo, como o fosfomolibdato, de modo que possivelmente altas concentrações são

seqüestradas sob esta forma nas plantas.

Grande parte do Mo se encontra na enzima nitrato-redutase das raízes e colmos das

plantas superiores, a qual cataliza a redução do íon nitrato (NO3-) a nitrito (NO2-). A nitrato-

redutase das plantas superiores é encontrada como uma molibdoflavoproteina solúvel, que nas

folhas pode estar associada no envolvimento dos cloroplastos. A enzima oxidada contém

quase sempre Mo (Mo5+). A enzima nitrato-redutase tem o Mo ligado de uma forma

reversível. Assim, plantas com deficiência de Mo apresentam acúmulo de nitratos, de modo

que a falta de Mo tem repercussões similares à falta de nitrogênio (Tabela 5) Ver capítulo 9

neste volume.

Nas raízes com nódulos das plantas fixadoras de nitrogênio, o Mo se encontra quase

todo na enzima nitrato-redutase e na nitrogenase dos bacteróides nodulares. Ainda que os

microorganismos possuam outras enzimas com Mo (sulfito-oxidase, aldeído-oxidase, xantina-

deshidrogenase e oxidase), não existem evidências da presença destas enzimas nas plantas
superiores. A enzima nitrogenase é atualmente um constituinte das bactérias simbióticas e

actinomicetos, enquanto a nitrato-redutase é a única enzima com Mo nas plantas superiores.

As plantas superiores podem crescer na ausência de Mo, contudo é necessário fornecer o

nitrogênio na forma de íon amônio (NH4+).

Tabela 5. Efeito do Mo e Fonte de Nitrogênio no Desenvolvimento e no Teor de Clorofila,


Nitrato e Ácido Ascórbico em Tomate
Massa Seca Clorofila Nitrato Ácido Ascórbico
Tratamentos -1 -1 * -1 **
(g planta ) (mg 100g m.v. ) (mg g m.s. ) (mg 100g-1 m.v.)
(CaCO3 + Formas de N)
- Mo + Mo - Mo + Mo - Mo + Mo - Mo + Mo
Nitrato 9,6 25,0 8,9 15,8 72,9 8,7 99 195
Amônio 16,9 19,4 21,6 17,4 10,4 8,7 126 184
*
Massa verde. ** Massa seca.
Fonte: Hewitt & Cready, 1956)

O Mo também participa das enzimas sulfito-redutase e xantina-oxidase. A deficiência

de Mo repercute negativamente na formação de ácido ascórbico, no conteúdo de clorofila e na

atividade respiratória.

O sintoma característico de deficiência de Mo é que as folhas, ainda mantendo a cor

verde, deformam-se, devido à morte de alguma das células do parênquima. As folhas

apresentam tamanho mais reduzido, apresentando clorose e mosqueados de cor marrom (em

toda ou parte da folha), surgem zonas necróticas na ponta da folha, que se estendem aos

bordos. Por último, a folha morre, provocando uma queda prematura. A deficiência em Mo

induz a uma concentração anormal de NO3- nas folhas e, portanto, influi no metabolismo do

nitrogênio. A deficiência de Mo pode influenciar na viabilidade do grão de pólen e,

consequentemente na produtividade das plantas (Tabela 6).


Tabela 6. Efeito do Suprimento de Mo para Plantas de Milho, na Produção e Viabilidade do
Grão de Pólen.

Molibdênio Concentração de Mo no Número de grãos de Diâmetro do Germinação


(mg kg-1) grão de pólen (µg g-1) pólen por antera pólen (µm) (%)
0,01 17 1.300 68 27
0,1 61 1.937 85 51
20 92 2.437 94 86
Fonte: Agarwala et al., 1979

Os casos de toxicidade por Mo não são muito freqüentes, tendo-se descrito plantas

crescidas em zonas de minas com até 200 mg kg-1 em folha sem sintomas de toxicidade.

Podem surgir casos de toxicidade por Mo no gado por ingerir forragens com alto conteúdo

neste elemento, ocorrendo transtornos intestinais.


Sintomas de deficiência de B em videira, citros e milho.

Sintomas de deficiência de Mo em citros, café e cana-de-açúcar.

Sintomas de deficiência de Cl em couve e batata e de toxidez em citros.

Figura 7. Sintomas de deficiência de micronutrientes aniônicos. Fonte: Departamento de


Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP.
4 SÍNTESE

Nas Tabelas 7 e 8 são apresentadas, de forma sintética, a forma absorvida e

incorporada e a mobilidade de redistribuição de micronutrientes, bem como a concentração

média, funções na planta e características de deficiência de micronutrientes. Deve-se levar em

conta que, por se tratar de um resumo simplificado do texto apresentado neste capítulo, muitas

informações importantes não foram incluídas, de modo que para um melhor entendimento do

tema, deve-se consultar o texto completo, onde são descritos, com mais detalhes, os temas

abortados nestas tabelas.


Tabela 7. Forma absorvida e incorporada e a mobilidade de redistribuição de micronutrientes
Mobilidade de
Nutriente Forma absorvida Forma incorporada
redistribuição
B H2BO3 - Imóvel
Cu Cu++ Cu++ Imóvel
Fe Fe++ Fe++ Imóvel
++ ++
Mn Mn Mn Imóvel
-- --
Mo MoO4 MoO4 Mobilidade média
Ni Ni++ Ni++ Imóvel
Zn Zn++ Zn++ Imóvel

Tabela 8. Concentração média, funções na planta e características de deficiência de


micronutrientes
Concentração
Nutriente Funções na planta Características de deficiência
média (mg kg-1)
Deformação de folhas novas e
B 30 – 50 Transporte de sintetizados
frutos
Ativador enzimático, Pontos necróticos nas folhas
Cu 5 - 20
fotossíntese novas
Ativador enzimático,
Clorose (reticulado fino de
Fe 50 – 100 transporte de eletros,
nervuras) em folhas novas
citocromo
Doador de elétrons, sínteseClorose (reticulado grosso de
Mn 20 - 100
de clorofila nervuras) em folhas novas
Folhas novas deformadas,
Nitrato-redutase, produção
Mo 0,1 – 10 amarelecimento das folhas
do grão de pólen
velhas
Em leguminosas, acúmulo de
Ni 0,1 – 1 Urease, hidrogenase uréia, provocando necrose dos
folíolos
Clorose (reticulado grosso de
Zn 20 – 50 Ativador enzimático nervuras) das folhas novas,
folhas novas lanceoladas
5 LITERATURA CITADA

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CAPÍTULO 14

Gaspar H. Korndörfer1

1
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Ciências Biomédicas, Departamento de
Agronomia. Av. Amazonas, s/n - Umuarama
38400-902 - Uberlandia, MG - Brasil - Caixa-Postal: 593
E-mail: ghk@triang.com.br

SUMÁRIO

1 Elementos Benéficos: Si, Na e Co ......................................................................................... 598

1.1 12.1. Silício (Si) ................................................................................................................... 598

1.2 12.1.1. Silício no solo........................................................................................................... 599

1.2.1 12.2.2. Silício na planta................................................................................... 602

1.2.2 12.2.3. Silício e o controle de pragas e doenças ............................................. 605

1.2.3 12.2.4. Efeitos do silício na produção vegetal. ............................................... 608

1.3 12.2. Sódio (Na) ................................................................................................................ 611

1.3.1 12.2.1. Sódio na Planta..................................................................................... 612

1.4 12.3. Cobalto (Co).............................................................................................................. 615

1.4.1 12.3.1. Cobalto no solo .................................................................................... 615

1.5 12.3.2. Cobalto na planta ................................................................................................... 616

2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 621


1 ELEMENTOS BENÉFICOS: SI, NA E CO

Além dos elementos considerados essenciais para as plantas, existem aqueles que são

benéficos apenas para algumas espécies ou que podem substituir parcialmente os elementos

essenciais. Esses elementos são importantes no desenvolvimento normal das plantas, mas a sua falta

não é considerada um fator limitante. Estes elementos apresentam influência no crescimento e

desenvolvimento de certas espécies, como é o caso sódio (Na), o silício (Si) e o cobalto (Co).

1.1 12.1. Silício (Si)

A capacidade de absorção e acumulação de silício é variável entre as espécies. O silício é

absorvido pelas plantas preferencialmente na forma de (H4SiO4) ácido mono silícico. Praticamente

todo o ácido mono silícico em solos de pH ácido encontra-se na forma molecular, isto é, não

dissociada, e têm sua disponibilidade afetada pelo pH, temperatura, teor de matéria orgânica, e

concentração de Si na solução.

Em solos pobres em silício disponível o uso de silicatos geralmente eleva o teor de Si nas

plantas, resultando em aumentos de produtividade principalmente em gramíneas (arroz, cana-de-

açúcar, sorgo, milheto, aveia, trigo, milho, etc) mas também em espécies não gramíneas (soja,

feijão, alface, pepino, morango, etc). O silício está normalmente associado à resistência das plantas

à fatores bióticos e abióticos tais como ao ataque de pragas e doenças e a resistência ao estresse

hídrico.

Todos estes benefícios levaram o silício a ser incluído na lista de micronutrientes criada a

partir do decreto lei nº 4.954 (que regulamenta a lei 6.894 de 16/01/1980), aprovado em 14 de

janeiro de 2004, que dispõe sobre a produção e comercialização de fertilizantes (Brasil, 2004).
1.2 12.1.1. Silício no solo

O Si é o segundo elemento mais abundante da crosta terrestre. Apesar disso, e mesmo

sabendo que a maioria dos solos contém consideráveis quantidades de Si, cultivos intensivos podem

reduzir rapidamente o nível deste elemento no solo.

As principais formas de silício presentes no solo são: Si "solúvel" ou facilmente aproveitável

pelas plantas, forma essa constituída primordialmente pelo ácido mono silícico (Figura 1); Si

"adsorvido" ou precipitado com óxidos de ferro, alumínio e manganês (Mckeague; Cline, 1963); Si

"biogênica" oriunda da decomposição da matéria orgânica e constituída por formas amorfas (ou

poliméricas de S) (Figura 2) (Matichenkov; Ammosova, 1996). Si "estrutural" presente na

composição dos minerais silicatados.

Figura 1. Ácido mono silícico (H4SiO4) Figura 2. Ácido poli silícico

As reações de dissociação, polimerização e precipitação do ácido silícico dissolvido na

solução do solo dependem principalmente da sua concentração na solução, do pH do solo e da

presença de óxidos de Fe e Al. Assim, o ácido silícico pode polimerizar-se, formando o ácido poli
silícico quando a concentração de Si for superior a 56 mg L-1 e o pH da solução próximo da

neutralidade (McKeague; Cline,1963). Este processo funciona como um mecanismo regulador da

concentração de Si em solução (Iler,1979). Segundo Mckeague; Cline (1963) o H4SiO4 presente na

solução do solo se comporta como um ácido muito fraco, de tal forma que, apenas 0,2% se ioniza

na forma carregada negativamente a pH 7,0, sendo que o grau de ionização aumenta

proporcionalmente ao aumento do pH.

O ácido mono silícico é resultante principalmente da decomposição de resíduos vegetais. A

ciclagem do Si através dos restos culturais em solos intemperizados é provavelmente a principal

fonte de Si para as plantas. Os principais drenos de Si incluem a polimerização do ácido silícico,

lixiviação, adsorção por óxidos e hidróxidos de Fe e Al e principalmente a absorção pelas plantas

(Figura 3).

Si - Fert.

Si - biogênica Si -Água
(amorfa) irrigação

Solução
do solo
(H4SiO4)
Minerais primários
Polímeros
Óxidos e Hidróxidos Fe e Al
Si - Lixiviado

Figura 2. Dinâmica do silício no solo, principais drenos ganhos (adaptado de Savant; Korndörfer;
Snyder; Datnoff, 1999).
No Brasil, a análise de solo feita em 168 amostras coletadas na região do Triângulo Mineiro

(Figura 4) mostrou que o teor de Si solúvel ou extraído com ácido acético 0,5 mol L-1 é diretamente

proporcional ao teor de argila (Korndörfer; Nolla; Oliveira, 2004). Resultados semelhantes foram
observados para os solos da África do Sul (Meyer; Keeping, 2001). A fração areia, apesar de ser

constituída fundamentalmente por Si (quartzo) apresenta baixo potencial de liberação desse

elemento para as plantas. Além disso, a maior drenagem nesse tipo de solo favorece as perdas do Si

por lixiviação.
40

30
-3
Si, mg dm

20

10

0
0-15% 16-35% 35-60% >60%
Teores de argila

Figura 3. Concentração de Si (ácido acético, 0,5 mol L-1) em solos de diferentes classes texturais
(média de 168 amostras de solo).

Cultivos intensivos e com alta exportação de Si como o arroz a cana e as gramíneas em

geral, podem também reduzir rapidamente o nível de Si no solo, até o ponto em que a reposição

através da adubação seja necessária. Os silicatos, além de corretivos de acidez, são as principais

fontes de silício para a agricultura e sua reação em solos ácidos pode ser sintetizada nas equações 1,

2 e 3 (Adaptado de Alcarde, 1992).

CaSiO3 ↔ Ca 2+ + SiO3 = Equação [1]


SiO3 = + 2H + ↔ H2SiO3 Equação [2]
H2SiO3 + H2O ↔ H4SiO4 Equação [3]

Os silicatos podem ser aplicados ao solo em pó, granulado (ex: silicato de Ca e Mg), ou

ainda na forma líquida (via solo ou via foliar – exemplo: silicato de potássio e sódio). Enquanto os

silicatos em pó são aplicados em área total e incorporados, os silicatos granulados são normalmente

aplicados em mistura com outras matérias primas na composição de adubos NPK.


1.2.1 12.2.2. Silício na planta

As plantas absorvem silício diretamente da solução do solo principalmente via fluxo de

massa (Jones; Handreck, 1967; Dayanadam; Kaufman; Franklin, 1983; Postek, 1981). A absorção

pode ocorrer de forma rápida ou lenta. Gramíneas como o arroz, por exemplo, possuem absorção

rápida, isto é, a absorção do Si ocorre mais rapidamente que a da água, resultando na redução do Si

na solução do solo (Ma; Tamai; Ichii; Wu. 2002; Ma; Mitani; Nagao; Konishi; Tamai; Iwashita;

Yano, 2004.). Já na maioria das eudicotiledôneas esta absorção se dá de forma lenta, ou seja, a taxa

de absorção de Si pelas raízes é similar a da água.

As plantas de arroz possuem mecanismos específicos de absorção de Si onde proteínas de

membrana sintetizadas são produzidas a partir de gen especifico para este fim (Ma & Takahashi,

2002). Como evidência do processo rápido de absorção de Si em arroz, na seiva bruta do arroz a

concentração de ácido mono silícico é muitas vezes mais alto que na solução do solo.

Myake e Takahashi (1983) observaram que o modo de translocação do Si foi diferente entre

as espécies. Em tomateiro, por exemplo, o Si foi retido nas raízes, e não se translocou facilmente

para a parte aérea, sendo que o teor, nessa parte da planta, foi de 0,05% a 0,24% de Si, enquanto

que nas raízes foi de 0,32% a 0,59%. Ao contrário, em pepino, os teores de Si encontrados variaram

de 1,67% e 2,86%, na parte aérea e de 0,13% e 0,55% nas raízes (Myake; Takahashi, 1983).

Segundo Balastra; Perez; Juliano; Villareal (1989), o Si é transportado pelo xilema e

depositado na parede celular na forma de sílica amorfa hidratada ou opala biogênica (SiO2nH20).

Uma vez depositado, o Si torna-se imóvel e não mais se redistribui na planta. Mais de 94% do Si

absorvido pelo trigo foi transportado rapidamente para a parte aérea, concentrando-se nas folhas

mais velhas, (Jarvis, 1987). Segundo os mesmos autores, em plantas de pepino, ao cortar o

suprimento de Si na solução, as folhas superiores apresentaram concentração de Si marcadamente

menor que as inferiores, indicando baixa translocação ou redistribuição desse elemento.


Outro exemplo da baixa mobilidade do Si no interior do tecido pode ser observado em

plantas de pepino previamente cultivadas em solução contendo Si, e posteriormente transferidas

para um meio deficiente nesse elemento. Essas plantas mantiveram o Si residual na base dos

tricomas foliares, mas não conseguiram desenvolver a silicificação do tecido injuriado por um

patógeno invasor (Sphaerotheca fuliginea) o que não permitiu à planta resistir ao ataque da doença

(Samuels; Glass; Ehret; Menzies, 1991).

As espécies de plantas diferem entre si quanto à absorção e acúmulo de Si (Marschner,

1997) e podem ser divididas em 3 grupos: acumuladoras, não acumuladoras e intermediárias. As

gramíneas são acumuladoras típicas, reduzindo de forma rápida a concentração de Si na solução do

solo (Myake; Takahashi, 1983). Plantas consideradas não acumuladoras, como o tomateiro,

absorvem o Si mais lentamente que a absorção da água, aumentando sua concentração no meio

(Adatia; Besford, 1986; Myake; Takahashi, 1983).

Vários trabalhos desenvolvidos em solução nutritiva têm demonstrado a importância do Si

em aliviar a toxidez causada pelo alumínio em raízes de plantas (Galvez; Clark; Gourley;

Maranville, 1987; Hodson; Evans, 1995; Hodson; Sangster, 1999), por exemplo, a toxidez do Al na

cultivar de trigo Espie 66 induzida por 1,5 micromolar de Al na solução foi superada parcialmente

pela adição de 5,0 micromolar de Si (Cocker; Evans; Hodson, 1998).

Segundo Pinheiro Filho (1999) a acumulação de Al e Si na parte aérea das plantas são

mutuamente exclusivas, isto é, quando o primeiro elemento é absorvido o segundo deixa de ser. A

tolerância ao alumínio de algumas espécies, entre outros fatores, pode estar associada à maior

absorção e acumulação de Si no tecido vegetal (Cocker; Evans; Hodson, 1998). Os mecanismos

envolvidos na interação do Si com o Al ainda são pouco conhecidos, porém, existem estudos com a

adição de Si em solução nutritiva demonstrando a formação de hidroxi-alumino-silicatos (HAS)

como uma das hipóteses, mas também há evidências do Si estimular a produção de compostos
orgânicos exudados pelas raízes (ex: malato) capazes de complexar o alumínio e ainda ser

responsável pela co-deposição do Al no interior das plantas (Sangster; Hodson, 2001).

O Si tem sido considerado como nutriente essencial para certas culturas, principalmente

gramíneas, nas quais, os teores do elemento chegam a ser 10 a 20 vezes maior do que em

eudicotiledôneas. O teor de Si na palha de arroz inundado pode superar os 5%.

Os efeitos benéficos da absorção e acumulação de Si em geral estão relacionados com as

funções estruturais e defesa das plantas, isto é, o Si pode afetar a produção vegetal através de várias

ações indiretas tais como: melhor arquitetura das plantas (folhas mais eretas) e assim diminuir o

auto-sombreamento; reduzindo o acamamento; aumentando a rigidez estrutural dos tecidos;

amenizando a toxidez de Fe, Mn, Al e Na; diminuindo a incidência de patógenos e aumentando a

proteção contra herbívoros, incluindo os insetos fitófagos (Epstein, 1994; Marschner, 1997).

Segundo Okuda e Takahashi (1965), o Si aumenta o volume e rigidez do aerênquima,

favorecendo também o suprimento de oxigênio para as raízes. É também atribuído ao Si a função

de aumentar o poder oxidante das raízes de arroz; o que favorece a oxidação e deposição de Fe

insolúvel na superfície das raízes, diminuindo a sua absorção e efeito tóxico no caso do cultivo do

arroz inundado.

O transporte do ácido mono silícico no interior da planta, acontece no mesmo sentido do

fluxo de água (transpiração). Sendo assim, os depósitos de Si ocorrem com maior freqüência nas

regiões onde a água é perdida em grande quantidade, ou seja, na epiderme foliar (Dayanadam;

Kaufman; Franklin, 1983). Segundo Kitajima (2002), a maior acumulação de Si observada em

espécies da floresta tropical comparadas com as espécies da floresta temperada se deve

possivelmente, entre outros motivos, à maior transpiração em climas mais quentes.

A acumulação de Si junto aos órgãos de transpiração causa redução na perda de água por

diminuir a abertura dos estômatos (Oliveira; Castro, 2002). Nas folhas de arroz, forma-se uma

camada de sílica abaixo da cutícula, a qual, dentre outras funções, também limita a perda de água
(Takahashi, 1995). Segundo Marschner (1997) e Takahashi (1995), o Si acumulado junto aos

estômatos reduz a taxa de transpiração, diminuindo, assim o consumo de água pela planta.

A deposição de silício em material vegetal de Curatella americana ocorre principalmente

nos tricomas e junto aos estômatos como mostra a Figura 5.

(B)
(A)
Figura 5. (A) - Superfície foliar da Curatella americana obtida com microscopia eletrônica de
varredura mostrando algumas estruturas de acumulação de Si, tricomas (TR) e estômatos
(Et). (B) - Gráfico da análise de micro sonda de Raio-X, feita na extremidade de um
tricoma de braços curtos (Tr), mostrando o alto teor de silício (Si). (Oliveira & Castro,
2002).

1.2.2 12.2.3. Silício e o controle de pragas e doenças

Além do efeito na transpiração a deposição de Si abaixo da cutícula, torna a planta mais

resistente à ação de fungos e insetos (Dayanadam; Kaufman; Franklin, 1983) tornando-as menos

acessíveis às enzimas de degradação dificultando a penetração de hifas de fungos pela maior

resistência mecânica (Ma & Takahashi,).

No Brasil, aumentos significativos de peso da matéria seca da parte aérea de arroz foram

obtidos com a aplicação de wollastonita (silicato de cálcio). Esses incrementos poderiam ser
explicados pelo efeito do Si em reduzir a severidade da queima das bainhas (Rhizoctonia solani)

artificialmente inoculada. Sendo as folhas as responsáveis pela realização da fotossíntese, a

presença de lesões reduz a taxa fotossintética. Assim, quanto maiores as lesões ou o seu número,

menor será a taxa fotossintética, e conseqüentemente menor a produção de matéria seca

(RODRIGUES, 2000).

Estudos realizados no sul da Flórida demonstraram que a adubação com silício reduziu a

incidência de brusone de 17 a 31% e a mancha parda de 15 a 32% em relação ao tratamento que não

recebeu silício (Datnoff; Raid; Snyder; Jones, 1991). Esses mesmos autores também observaram

que nos solos com muito baixa disponibilidade de Si houve uma redução de 73 e 86% na incidência

de bruzone e mancha parda, respectivamente, no ano de 1987, e um aumento de 56% na

produtividade, com a aplicação de silicato de cálcio. Já no ano de 1988 a redução na incidência das

doenças acima citadas foi de 58 e 75%, respectivamente e o aumento de produtividade de 88%.

Estudos mais recentes comprovam que pode haver uma associação positiva no controle de

doenças entre o fornecimento de Si e a indução ou produção de fitoalexinas (Rodrigues; Mcnally;

Datnoff; Jones; Labbé; Benhamou; Menzies; Bélanger, 2004). Fitoalexinas são produtos naturais,

ausentes na planta sadia, acumulados temporariamente no local e nos arredores da infecção.

Possuem atividade inibidora sobre bactérias, fungos, nematóides. O fornecimento de Si (+Si) a

plantas de arroz inoculadas com Magnaporthe grisea produziram mais mamilolactonas A e B junto

aos locais de infecção do que as que não receberam Si (-Si). Segundo Datnoff; Avila, (2005) a

maior produção de fenóis (mamilolactonas) se deve em parte ao atraso no desenvolvimento do

fungo e consequentemente dos sintomas (Figura 6) quando as plantas são tratadas com silício (+Si).

Acredita-se que a maioria das plantas seja capaz de sintetizar fitoalexinas, mas algumas a fazem de

maneira muito lenta.


Figura 6. Desenvolvimento dos sintomas da Magnaporthe
grisea (brusone) em folhas de arroz, 96 h depois de
inoculadas, com silício (+Si) e sem silício (+Si).

Os resultados obtidos por Carvalho; Moraes; Carvalho, (1999) com dois genótipos de sorgo

TX2567 e BR303 (respectivamente resistente e suscetível ao pulgão-verde), na ausência e presença

de Si concluíram que as plantas que receberam a aplicação de 4 ml de solução de silicato de sódio

foram menos preferidas pelos pulgões e apresentaram cerca de 50% a mais de silício na parte aérea.

Além disso, verificou-se um efeito adverso do Si sobre a reprodução e desenvolvimento do pulgão

(Tabela 1).

Tabela 1. Número total de ninfas de pulgão em plantas tratadas e não tratadas com Si (silicato de
sódio) aplicado via foliar (Fonte: Carvalho; Moraes; Carvalho, 1999).
Número total ninfas (Pulgão)
GENÓTIPO MÉDIA
Com Si Sem Si
BR 303 188,3 243,6 215,9 a
TX 2567 54,7 195,1 124,9 b
MÉDIA 121,5 B 219,3 A

O acúmulo de Si na epiderme, que normalmente deixa as folhas mais dura, também pode

afetar o ataque de pragas (Tabela 2). A incidência da broca do colmo da cana-de-açúcar (Eldana

saccharina e Diatraea Saccharalis) pode ser diminuída com o emprego do silício na adubação

(Elawad; Allen; Gascho, 1985; Meyer; Keeping, 2001).


Tabela 2. Influência do Si na resistência da cana-de-açúcar à broca do colmo (Diatraea saccharalis
F.), no teor de Si nas folhas e no peso da matéria seca. Fonte: Adaptado de Elawad (1995).
Dose No plantas % do Peso Si
Na2SiO3 atacadas Total Mat. Seca Folhas
g/vaso % g/planta %
0 44 73 450 c 0,29
68 12 20 482 b 1,39
136 4 7 505 a 2,39

1.2.3 12.2.4. Efeitos do silício na produção vegetal.

O aumento na produção decorrente da aplicação de Si tem sido verificado em vários

trabalhos (Savant; Korndorfer; Snyder; Datnoff, 1999; Korndörfer; Lepsch, 2001). Korndörfer;

Snyder; Uchoa; Datnoff (2001) trabalhando com arroz inundado durante o período de 1992-1996,

concluíram que houve aumento médio de 1.007 kg ha-1, nas parcelas tratadas (+Si) em relação a

testemunha (-Si).

A aplicação de silicatos (fonte de Si) também pode trazer incrementos significativos na

produção de cana-de-açúcar como mostra a comparação feita com o calcário (Figuras 7). Os efeitos

positivos do Si em cana-de-açúcar se devem à maior tolerância da cultura ao estresse hídrico

quando bem nutrida com Si (Faria, 2000) e a melhoria na arquitetura das folhas permitindo maior

eficiência fotossintética.
118
y = -0,4768x 2 + 4,7843x + 104,28
116 R2 = 0,95

-1
Produção de cana, t/ha
114
180 Silicato
112 Calcário
y = -0,2405x2 + 3,0229x + 165,12
R2 = 0,47 110 Silicato
-1

176
Produção de cana, t/ha

108
172 106

104 y = 0,205x + 105,39


168 R2 = 0,54

Calcário 102

164 y = -0,3253x2 + 2,2161x + 166,22 (a) 0 2 4 6


R2 = 0,52 Doses aplicadas, t/ha
-1

160
0 1 2 3 4 5 6 (b)
-1
Dose Aplicada, t/ha

Figura 7. Efeito da aplicação do silicato de cálcio e do calcário na produção de colmos (a - cana-


planta; b - cana-soca) cultivada num Latossolo Vermelho amarelo (Fonte: Silveira Jr;
Penatti; Korndorfer; Camargo, 2003).

O silício pode reduzir a incidência da brusone (Pyricularia grisea) e como conseqüência

aumentar a produção de arroz inundado. Santos; Korndörfer; Reis Filho; Pelúzio (2003) estudando a

ocorrência de brusone em arroz inundado observaram que a aplicação de silicato resultou na

redução da severidade da brusone nas folhas e aumento de 47% na produção de grãos de arroz

(Tabela 3).
Tabela 3. Doses de silicato e a ocorrência de doenças foliares, de panículas e a produtividade do
arroz irrigado, no Projeto Formoso, Tocantins, safra 1999-2000 (Fonte: adaptado de Santos;
Korndörfer; Reis Filho; Pelúzio, 2003).
Severidade
Incidência
Produção
Dose de silicato Mancha Brusone
Brusone folhas* de grãos
Parda* panículas**

notas de
(kg há-1) (grau) % panículas (kg ha-1)
0a9
1.2.3.1.1.1
47,6 a 5,0 a 4,6 a 2240 b
est.
1000 58,4 a 3,8 ab 4,2 a 2490 b
2000 67,8 a 3,7 ab 4,6 a 2510 b
4000 38,6 a 3,6 ab 4,8 a 3090 a
6000 30,0 a 3,0 b 4,0 a 3290 a
C.V.(%) 29 8 11 3
*(grau das lesões, folha bandeira).

O efeito do Si em hortaliças é pouco conhecido. Investigações recentes mostram que plantas

de pepino em solução nutritiva contendo 47 mg L-1 de Si tiveram uma redução na área foliar coberta

por colônias de míldio pulverulento (Bélanger; Bowen; Ehret; Menzie, 1995). Redução na

severidade de míldio pulverulento também foi observada em melancia devido à aplicação de Si

(Bélanger; Bowen; Ehret; Menzie, 1995). Chérif; Benhamou; Menzies; Bélanger (1992), ao

adicionarem Si na forma de silicato de potássio na solução nutritiva, observaram uma redução na

mortalidade de plantas de pepino causada por Pythium ultimum.

A aplicação de silicato de potássio (K2SiO3) via foliar em plantas de pepino inoculadas com

o fungo Erysiphe cichoracearum, causador da doença de oídio, conferiu menor incidência e

severidade desta doença, em relação ao tratamento testemunha (Figura 8) (Gama; Korndörfer;

Juliatti; Pereira; Dalto. 2003).


Figura 8. Efeito do Si aplicado via foliar no controle de oídio em plantas de pepino. Fonte: Gama;
Korndörfer; Juliatti; Pereira; Dalto, 2003.

1.3 12.2. Sódio (Na)

A presença do sódio (Na) em solos tropicais e em locais de elevada precipitação é

normalmente muito baixo, não constituindo problemas para a agricultura, porém nas regiões áridas

e semi-áridas, o Na pode contribuir com 25% ou mais do total de cátions trocáveis e, nestas

condições, as plantas cultivadas poderão apresentar problemas pelo excesso desse elemento

(toxidez).

O excesso de sais de sódio pode afetar as propriedades físicas e químicas do solo, pois ele

aumenta a espessura da dupla camada iônica difusa, proporcionando a expansão das argilas e,

conseqüentemente, reduzindo a porosidade e a permeabilidade do mesmo. Os solos sódicos

apresentam, normalmente, reação alcalina, com valores de pH superiores a 8,5 e elevada

concentração de cátions de sódio adsorvido no complexo trocável, resultando num solo difícil de ser

trabalhado.

A ocorrência de solos salinos e sódicos é comum em áreas onde ocorre baixa precipitação e

alta evaporação. Nestas condições os sais não são lixiviados, acumulando-se em quantidades
prejudiciais ao crescimento e desenvolvimento das plantas, impedindo algumas vezes a atividade

agrícola.

Solos normais submetidos à irrigação mal conduzida com águas salinas podem se tornar

improdutivos devido ao excesso de sais. Mesmo com um bom controle da qualidade da água de

irrigação, o que raramente é feito na prática, é comum o acúmulo de sais no solo (Souza, 1995).

No Brasil, aproximadamente nove milhões de hectares são afetados pela presença de sais,

cobrindo sete Estados. A maior área afetada está localizada no Estado da Bahia (44% do total),

seguido pelo Estado do Ceará, com 25% da área total do país (Gheyi; Fageria, 1997).
plantas
halófitas

1.3.1 12.2.1. Sódio na Planta

O sódio é um elemento requerido apenas por algumas plantas e é normalmente absorvido na

forma iônica (Na+). Na planta o Na é relativamente móvel. As concentrações de Na em tecidos

vegetais variam de 0,0013 a 3,51% na matéria seca e de 0,016 a 16,78% nas cinzas. As plantas

halófitas são muito ricas em Na, ao contrário plantas como o trigo, milho e girassol possuem muito

baixo teor de Na.

Em algumas espécies de plantas o Na é considerado um elemento essencial enquanto que

para a maioria das espécies é normalmente tóxico em altas concentrações.

De maneira geral os sintomas de toxicidade estão associados à redução no crescimento e

produção, além do amarelecimento e murchamento das plantas. A função do Na nas plantas é

similar a do potássio: ativador de uma ampla gama de enzimas; ativador da ATPase (transporte

através da membrana); está envolvido na osmose da membrana; facilita absorção de N, P, K em

algumas plantas devido permeabilidade das células aos sais (ex: beterrabas e cenoura); favorece a

acumulação de frutose, promove conversão de frutose à glicose; aumenta o conteúdo de sacarose

em algumas plantas; reduz a mobilidade da aberturas de estomatos; sua absorção na presença de K é


capaz de melhorar o vigor e cor de folhagem; em plantas C4 é necessário no transporte de CO2 até

as células onde é reduzido a carboidrato.

A essencialidade do Na foi demonstrada para a Atriplex versicaria a qual cultivada em

solução contendo baixo teor de Na (< 0,1 µM) apresentava sintomas de deficiência tais como

clorose, necrose foliar e redução no crescimento mesmo sob condições de altos níveis de K

(Marschner, 1997). A maioria das plantas halófitas tem desenvolvido adaptações, como suculência,

ajustamento osmótico, glândulas de sal e compartimentação iônica para diluir ou contrabalançar os

efeitos da salinidade (Marschner, 1997; Cordazzo, 1999; Larcher, 2000).

Para alguns autores, o Na é um micronutriente essencial para plantas C4 e não para as C3,

mas o mecanismo de sua atuação ainda não é bem conhecido. Há indícios de que o Na estaria

envolvido na transferência de metabólitos entre os cloroplastos das células do mesófilo e da bainha

vascular das plantas C4.

O principal papel do Na+ na nutrição mineral de plantas é substituir o K em determinadas

funções fisiológicas (metabólicas e osmóticas). Em determinadas espécies, 95% do K+ presente no

substrato pode ser substituído pelo Na+ (Marschner, 1997).

Em relação a substituição do K pelo Na, estas espécies de plantas podem ser classificadas

em quatro grupos. No grupo A, além do alto grau de substituição do K+ pelo Na+ um adicional

crescimento é obtido, o qual não seria possível pelo aumento do conteúdo de K nas plantas. No

grupo B, este efeito substitutivo é menor que no grupo A. No grupo C apenas uma pequena

proporção do K pode ser substituído pelo Na sem afetar a produção. No grupo D, nenhuma

substituição pode ocorrer sem afetar a produção.

É comum ser observada uma lesão causada pelo excesso de Na+ em espécies arbóreas como

o abacate (Persea americana Mill), citrus (Citrus spp.) e em frutas de caroço (Prunus spp.). Após a

absorção pelas raízes, o Na+ é translocado para a parte aérea da planta, causando a queima-das-
folhas dessas espécies. A maioria das espécies frutíferas cultivadas é classificada como sensível aos

sais (Rhoades; Loveday, 1990).

A cultura do feijão, por exemplo, é considerada pouco tolerante à salinidade da água de

irrigação, podendo haver redução de até 50% na produção da cultura quando irrigada com água com

valores acima de 2,4 dS.m-1 de condutividade elétrica (Bernardo, 1996). Por outro lado, existem

plantas como a beterraba forrageira, beterraba, espinafre que mostram efeitos positivos do sódio no

crescimento, sempre na presença de níveis adequados de potássio.

150
G - I
Cre scim en to Re la tiv o, %

100 G - II

G - III
50

G - IV

0
0 100 200 300 400
Na C l, m M

Figura 9. Resposta no crescimento de várias espécies de plantas quando sujeitas ao aumento da


salidade no substrato. Grupo I, beneficiadas pelo Na, ex: halófitas; Grupo II, beneficiadas só
quando em baixas concentrações, ex: beterraba; Grupo III, sensíveis, ex: cevada; Grupo V,
muito sensíveis, ex: feijão (Marschner, 1997).

As plantas cultivadas apresentam diferentes respostas à salinidade, variando desde sensíveis

até tolerantes (Maas; Hoffmman, 1977). A tolerância ao estresse salino pode ser função do controle

da absorção e da alocação do sódio na planta, do reajustamento osmótico e de outros processos

fisiológicos do vegetal (Cheeseman, 1988). O conhecimento da tolerância da espécie quando


cultivada em solo salino é muito importante para que técnicas alternativas de manejo possam ser

utilizadas com a finalidade de amenizar os efeitos prejudiciais dos sais. O crescimento de plantas

halófitas é máximo quando os níveis de Na são relativamente elevados. Este comportamento pode

ser explicado apenas pela presença do elemento na nutrição mineral destas espécies (Grupo I).

Apenas poucas espécies são levemente estimuladas pela baixa salinidade (Grupo II) enquanto que a

maioria das espécies possui baixa tolerância (Grupo III), sendo algumas delas severamente afetadas

pela salinidade (Figura 9).

A resposta das plantas à salinidade é um fenômeno complexo, envolvendo alterações

morfológicas e de crescimento, além de processos fisiológicos e bioquímicos (Fougère, Rudulier;

Streeter, 1991).

O cálcio é um nutriente particularmente importante em plantas expostas ao estresse salino,

porque têm papel fundamental na manutenção da permeabilidade seletiva das membranas, extensão

da parede celular, recuperação do estresse celular e prevenção da absorção do íon sódio em níveis

que causam injúria (Hansen; Munns, 1988).

1.4 12.3. Cobalto (Co)

1.4.1 12.3.1. Cobalto no solo

Os teores de cobalto (Co) no solo variam de 1 a 40 mg dm-3. Valores superiores podem

ocorrer em solos originários de rochas ricas em minerais ferro-magnesianos (Mitchel, 1964). Solos

ácidos normalmente apresentam teores de Co inferiores a 10 mg dm-3. Nessa condição, os solos

ricos principalmente em óxidos de Mn podem apresentar deficiência de Co devido à sua adsorção

pelos óxidos de Mn (Taylor; McKenzie, 1966).


Os cultivos intensivos aliados ao aumento da demanda de nutrientes pela soja, têm

provocado decréscimo generalizado na disponibilidade de alguns micronutrientes e mesmo os solos

de alta fertilidade têm, atualmente, apresentado respostas positivas à adição de molibdênio e cobalto

(Campo; Albino & Hungria, 1999; Campo; Hungria, 2000).

1.5 12.3.2. Cobalto na planta

A absorção do Co pela planta é feita de forma lenta, principalmente na forma de Co2+, e a

sua translocação ocorre somente após a formação de quelatos com ácidos orgânicos (Malavolta;

Vitti & Oliveira, 1997). A aplicação de Co via foliar indica que o mesmo pode ser razoavelmente

translocado das folhas para outras partes da planta como foi demonstrado para o trevo e a alfafa

(Handreck; Riceman, 1969).

Em média o teor de Co em plantas varia de 0,05 a 0,3 mg kg-1 e é normalmente maior em

leguminosas comparado às gramíneas (Kubota; Welch; Van campen, 1987).

Em plantas de leguminosas, deficientes em Co, existe uma tendência do Co se acumular nos

nódulos. Baseado na planta como um todo, são as raízes que apresentam as maiores concentrações

do elemento. A proporção de Co nos ramos, nódulos e raízes é de 1:6:15 e em plantas deficientes é

de 1:3:25.

A necessidade de Co para a fixação do N2 em leguminosas e não leguminosas foi

estabelecida por Ahmed; Evans (1960). Este trabalho mostrou que a alfafa (Medicago sativa)

cultivada sob condições controladas, não se desenvolveu adequadamente quando o Co deixou se ser

fornecido, porém, o crescimento foi normal quando o Co foi fornecido. O curioso é que ao fornecer

N-NO3- o crescimento da alfafa foi normal, mesmo sem o fornecimento de cobalto (Delwiche;

Johnson & Reisenauer, 1961). Isto pode ser explicado pela interdependência existente entre o
fornecimento de Co, a formação de leghemoglobina e coenzima cobamida (vitamina B12) presente

nas bactérias fixadoras de N (Rhizobium).

A coenzima cobamida (vitamina B12 e seus derivados) possui na sua formação o Co3+

quelatizado com 4 átomos de nitrogênio. No caso do Bradyrhizobium 3 compostos são induzidos

pelo cobalto porque dependem da cobamida:

a) Metionina: a síntese deste aminoácido (essencial à alimentação humana) pode ser afetada

pela deficiência de Co, o que pode contribuir para redução do tamanho dos nódulos (Tabela 4).

b) Redutase dos Ribonucleotídeos: esta enzima está envolvida na redução dos

ribonucleotídeos e, portanto, influenciando na síntese do DNA e consequentemente na divisão

celular do Bradyrhizobium (Tabela 4).

c) Metilmalonil-coenzima A: esta enzima está envolvida na síntese da leghemoglobina.

Tabela 4. Efeito do cobalto em algumas características dos nódulos de tremoço azul (Lupinus
angustifolius).
Volume de Teor de METIONINA
COBALTO
NÓDULOS DNA (% do total de N - amino)
--- µ m-3 --- -- g 10-15cel.-1 -- --- % ---
+ 3,19 12,3 1,31
- 2,62 7,8 0,97
Adaptado de Dilworth; Bissseling (1984).

A deficiência de cobalto pode afetar o desenvolvimento e a função ou atividade dos nódulos

(Tabela 5). A redução na atividade dos nódulos se reflete na atividade da nitrogenase e na

acumulação de N pelas plantas. Assim, plantas que dependem de N2 fixado, cultivadas em solos

deficientes em cobalto, normalmente apresentam sintomas de deficiência de N ( Robson; Dilworth;

Snowball, 1987).
Tabela 5. Efeitos da aplicação de cobalto em amendoim.
Nº de Teor de N
COBALTO Produção de vagens
nódulos/planta (Mat.Seca)
---%--- -- kg ha-1--
Testemunha ( - Co) 91 2,38 1.232
Tratamento Co na semente 150 2,62 1.687
Aplicação Foliar de Co (2x) 123 3,14 1.782
Tratamento semente +
166 3,38 1.844
Aplic.Foliar de Co
Adaptado de Reddy; Raj (1975).

No caso específico da cultura da soja, o Co é um elemento essencial para o processo de FBN

(Fixação Biológica do Nitrogênio). Ele é componente da vitamina B12, importante na formação da

coenzima cobamida, indispensável ao processo de FBN por ser precursora da leghemoglobina

(Kliewer; Evans, 1963). A deficiência de Co inibe a síntese da leghemoglobina e, por conseqüência,

a FBN (Mengel; Kirkby, 1978).

Praticamente não existem evidências do envolvimento do Co no metabolismo de plantas,

apesar disso existem trabalhos que demonstram seus efeitos no crescimento do trigo. Estas

respostas à aplicação de Co em plantas que não fixam N, são sempre pequenas e provavelmente

refletem o efeito benéfico de natureza desconhecida (Wilson; Nicholas, 1967).

As principais fontes de Co são: o cloreto de cobalto, sulfato de cobalto e nitrato de cobalto.

Existem atualmente no mercado diversos produtos comerciais contendo Mo e Co em concentrações

variáveis, mas sempre na proporção 10:1. Existem dados contraditórios em relação aos níveis

tóxicos de Co em plantas. Os valores variam de 0,4 mg kg-1 de matéria seca em trevo (Ozanne;

Greenwood; Shaw, 1963) até poucos miligramas por kilograma em feijão e repolho (Bollard, 1983).

O cobalto e o molibdênio quando aplicados individualmente nas sementes ou nas folhas, são

pouco eficientes, mas quando aplicados em conjunto são muito importantes para o aumento da
eficiência do processo de FBN, ou seja, quantidades de N fixado por nódulo, no N total nos grãos e

no rendimento de grãos de soja (Campo; Hungria, 2002).

A adubação com cobalto em plantas ou solos deficientes não apenas aumentam a fixação do

N, mas também contribui para melhor qualidade nutricional das plantas forrageiras. O cobalto é

essencial para os ruminantes porque a microflora é capaz de sintetizar a vitamina B12 em

quantidades suficientes para atender as necessidades de animais (Asher, 1991). É comum a

deficiência de Co em animais manejados sob pastos cultivados em solos pobres nesse elemento. O

nível crítico de Co nas pastagens para ruminantes é de 0,07 mg kg-1 na matéria seca. Este valor é

maior do que o crítico para a fixação de N em leguminosas.

Resultados experimentais mostram que o tratamento de semente com cobalto é uma prática

efetiva no sentido de incrementar a fixação de N e consequentemente o crescimento e produção de

leguminosas (Reddy; Raj, 1975 e outros). A uniformidade de distribuição de pequenas doses é uma

das grandes vantagens desse método de aplicação, porém altas concentrações do elemento no

produto final, aliadas à alta acidez (baixo pH), implicam em problemas ainda maiores para FBN

quando esses nutrientes são aplicados nas sementes junto com o inoculante. O contato direto da

bactéria com os sais que contêm Co parece ser um dos fatores limitantes da FBN.

'Diversos estudos foram desenvolvidos e os resultados mostraram que a aplicação foliar

isolada de Co ou em conjunto com herbicidas pós-emergentes, baculovírus ou inseticidas para

lagartas, nos estádios V4 e V5 da cultura, apresentaram resultados similares aos da aplicação nas

sementes, sem reduzir o potencial de FBN (Campo; Albino; Hungria, 1999).

A concentração de Co nos nódulos frescos de plantas deficientes pode variar entre 20 e 170

mg g-1, podendo ser diferente entre uma espécie vegetal e outra (Robson; Dilworth; Chatel, 1979).

A concentração de Co nas sementes de uma mesma espécie também pode variar entre um local e

outro. Em Lupinus angustifolius (tremoço azul) os valores encontrados nas sementes variaram de 6

a 730 mg g-1 de semente (Robson; Mead, 1980).


Existe uma diferença considerável entre as várias espécies de leguminosas à falta de cobalto.

O tremoço (Lupinus angustifolius) é praticamente mais sensível que o trevo subterrâneo (Trifolium

subterraneum) (Gladstones; Loneragan; Goodchild, 1977).

Em experimentos conduzidos no Brasil e segundo alguns autores, a aplicação de cobalto não

influenciou significativamente a absorção de nitrogênio (Rosolem; Caires, 1998), a concentração de

clorofila (Caíres; Rosolem, 1999) e a produção de soja e amendoim (Galrão, 1991; Caíres;

Rosolem, 2000; Caíres; Rosolem, 1995), possivelmente devido aos altos teores de Co reativo nos

solos de cerrado e também pela contaminação com cobalto de fertilizantes.


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TOXIDEZ DE ALUMÍNIO EM PLANTAS: NOVOS ENFOQUES PARA UM
VELHO PROBLEMA

Roberto Oscar Pereyra Rossiello1, Jorge Jacob Netto2


1 – Departamento de Solos, UFRRJ;
2 – Departamento de Fitotecnia; UFRRJ

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 635

2. Os solos ácidos no mundo...................................................................................... 637

3. Toxidez de Al e deficiências nutricionais nos solos ácidos.................................... 639

4. Atividade e fitotoxicidade das espécies iônicas do Al........................................... 641


4.1. Efeito do pH......................................................................................................... 641
4.2. Composição química da solução.......................................................................... 643
4.3. Efeito da força iônica........................................................................................... 645
4.4. Al polinuclear....................................................................................................... 646
4.5 Poder fitotóxico..................................................................................................... 649
4.6. O papel dos cátions divalentes............................................................................. 653
4.7. O papel dos compostos orgânicos........................................................................ 657
4.8. O uso de soluções salinas simples.......................................................................... 660

5. Sintomatologia do estresse de alumínio............................................................... 661


5.1. Sintomas visuais................................................................................................... 662
5.2. Ápice radicular: o alvo primário.......................................................................... 666
5.3. Estimativas das Taxas de Alongamento Radicular............................................... 671
5.4. Acúmulo da calose............................................................................................... 677
5.5. Acúmulo apical de Al e sua distribuição entre apoplasma e simplasma................ 679
5.6. O Uso de Corantes............................................................................................... 682
5.7. Efeito do Alumínio na ultraestrura dos nódulos de leguminosas............................ 684

6. Considerações Finais............................................................................................. 687

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 689


1. INTRODUÇÃO

O Alumínio (Al) é o terceiro elemento mais abundante na litosfera, após o oxigênio e o

silício, participando com 8 % na composição da crosta terrestre. Na fase sólida do solo, o Al

ocorre na forma de minerais primários ou secundários, como aluminosilicatos, oxi-hidróxidos,

sulfatos e fosfatos.

A valores de pH menores que 5,5, a dissolução das formas sólidas do Al tende a

aumentar, ocorrendo a liberação de formas iônicas à solução do solo (Ritchie, 1995). Portanto,

na medida em que os solos se acidificam, íons Al passam a ocupar as posições de troca

catiônica, na superfície dos colóides eletronegativos, em substituição aos cátions removidos pela

lixiviação. Por ser um cátion trivalente, o Al é retido firmemente, e portanto, a sua

concentração, na solução do solo, é baixa, dentro da faixa micromolar (Haynes e Mokolobate,

2001). Todavia, essas baixas concentrações de Al solúvel são tóxicas para a maioria das espécies

vegetais, primariamente por lesar o funcionamento normal das raízes, inibindo o seu

crescimento e bloqueando os mecanismos de aquisição e transporte de água e nutrientes.

As relações entre, a acidez do solo e a solubilidade do Al, assim como os efeitos tóxicos

do metal sobre as plantas, começaram a ser estudados nas primeiras décadas do século passado

(Hartwell e Pember, 1918; Magistad, 1925). A partir dessa época, foram conduzidas numerosas

pesquisas, em varias partes do mundo, para tentar elucidar os mecanismos responsáveis tanto

pela manifestação da toxidez como da tolerância diferencial existente entre genótipos de

diversas espécies cultivadas. Também, foram sendo evidenciadas algumas espécies vegetais que,
2

como o chá (Camellia sinensis), ou as hortênsias (Hydrangea macrophylla) são capazes de

acumular elevados teores de Al na sua folhagem, sem mostrar qualquer sinal de dano.

Passados quase noventa anos desde as primeiras publicações sobre a matéria, a

compreensão dos mecanismos causais da toxidez e da tolerância ao Al em plantas ainda é

bastante limitada (Rengel e Zhang, 2003; Ahn et al., 2004; Ma et al., 2005). Todavia, isso não

significa desconhecer os avanços realizados nas tentativas de elucidação desses mecanismos.

Por exemplo, nos últimos anos, uma grande diversidade de resultados, obtidos em estudos

fisiológicos e de mapeamento molecular, mostraram que a tolerância vegetal ao estresse de Al é

uma característica multigênica complexa, que pode envolver vários mecanismos de tolerância

(Kochian, 1995; Matsumoto, 2000; Barceló e Poschenraider, 2002; Kochian et al.,2004),

confirmando previsões e hipóteses formuladas com bastante antecedência (Jones, 1961;

Clarkson, 1969; Foy, 1974; Klimashevskii e Dedov, 1976; Helyar, 1978; Fageria et al., 1988).

Ha várias razões que explicam que o tema da toxidez do Al em plantas permaneça

como um tópico tão elusivo em seus aspectos básicos, e as mesmas serão abordadas neste

capítulo. Todavia, dada a extensão desta temática multifacetada, e em atenção aos objetivos

deste volume, o presente capítulo focaliza sobre os fatores químicos que controlam as formas do

Al na solução rizosférica a sua atividade na interfase raiz-solução, assim como os aspectos

toxicológicos e a sintomatologia associada. Também, é feita uma breve incursão nos possíveis

mecanismos responsáveis pela fitotoxicidade do Al. Discussões mais aprofundadas sobre

sinalização do estresse e sua expressão gênica, assim como sobre os mecanismos de tolerância

ou resistência, poderão ser encontradas nas referencias citadas, as quais foram selecionadas,

tanto quanto possível, de forma a representar a evolução dos conhecimentos ao longo da última

década, período no qual foram feitos avanços significativos nos conhecimentos sobre biologia

celular e molecular, o que, junto com o refinamento das técnicas analíticas, têm aberto novas

dimensões para este velho problema da agricultura sobre solos ácidos.

2
3

Finalmente, deve-se observar que a temática do Al envolve campos de estudo mais

vastos do que aqueles próprios da agricultura. Assim, o interesse por pesquisas envolvendo o Al

tem aumentado nos anos recentes, em conexão com os efeitos prejudiciais do metal no meio

ambiente e na saúde humana. Exemplos são os estudos sobre ações humanas na acidificação dos

solos, o declínio das florestas, a saúde de peixes em lagos e rios e o papel do Al em desordens

neuro-degenerativos como a doença de Alzheimer.

2. Os solos ácidos no mundo.

Considera-se a toxidez do Al um dos principais fatores limitantes da produtividade

agrícola em solos ácidos (Foy et al., 1978). Em uma escala global, os solos ácidos ocupam uma

superfície estimada em 37,8 milhões de km2, dos quais um 67 % possuem valores de pH

inferiores a 5,5 (Eswaran et al., 1997). As áreas de acidez natural dos solos, se concentram em

duas amplas regiões: uma no hemisfério norte, coberta por bosques de coníferas, sob clima

temperado, e uma outra, de distribuição intertropical, coberta por savanas e florestas úmidas

(Von Uexküll e Mutert, 1995). Alem disso, em outras partes do mundo, os níveis de acidez dos

solos estão aumentando, em decorrência de atividades humanas. Entre os motivos da

acidificação antropogénica dos solos, estão a liberação atmosférica de poluentes industriais,

associada à lixiviação de solos com chuvas ácidas; as atividades de mineração, e no setor

agrícola, a nitrificação subseqüente à aplicação de altas doses de fertilizantes amoniacais

(Rengel e Zhang, 2003).

Dentro da faixa intertropical, e de acordo com Sanchez e Salinas (1981), 37 % dos solos

do sudeste asiático, 40 % dos da África e 55 % dos da América do Sul, apresentam limitações ao

seu uso agrícola por excesso de acidez. No Brasil, a ocorrência de solos com problemas de

toxidez de Al é da ordem de 60 %, considerando-se as terras com potencial para a atividade

3
4

agrícola. Um estudo abrangendo 26 solos de regiões brasileiras, mostrou que 75 % dos valores

de pH da camada superficial variaram entre 3,78 e 5,52 e que o Al3+ foi o cátion trocável

predominante em mais de um terço dos solos com pH inferior a 5,6 (Abreu Jr. et al., 2003).

A incorporação superficial de rocha calcária moída é uma prática secularmente

empregada na agricultura de clima temperado, como forma de elevar o pH e aumentar o teor de

bases trocáveis da camada arável dos solos. Na agricultura tropical, o seu uso envolve

primariamente a detoxificação do Al, mediante a sua precipitação química como hidróxido (item

4.1), embora, em certas regiões, pelo seu custo, a prática possa resultar economicamente

proibitiva.

A efetividade do calcário depende do tempo decorrido da aplicação, do sistema de

preparo do solo e do volume de solo corrigido (Miranda et al., 2005). Por exemplo, no sistema

plantio direto tem sido observado que a aplicação superficial de calcário não corrige total e

rapidamente a acidez do solo em profundidades maiores do que 10 centímetros (Schlindwein et

al., 2003). A dificuldade na neutralização da acidez subsuperficial tem sido atribuída à lenta

solubilidade do calcário, o que limita o fluxo descendente de alcalinidade. O confinamento do

crescimento radicular ao volume do horizonte superficial tem conseqüências restritivas para o

crescimento da parte aérea, assim como para o pleno desenvolvimento da planta, o que resultará

em reduções na produtividade das culturas. Essa limitação adquire ainda maior relevância

durante períodos de deficiência hídrica (Fageria e Zimmermann, 1979), onde a aquisição de água

e nutrientes das camadas mais profundas, pode ser crucial para a sobrevivência das plantas.

Nesse sentido, o estresse hídrico e a toxidez de Al tendem a reforçar os seus efeitos.

Embora existam práticas alternativas, como a incorporação profunda do calcário, ou o

uso de sais mais solúveis, como o gesso, tais opções sofrem restrições de ordem técnica ou

econômica, que podem inviabilizar a sua utilização, particularmente no caso da chamada

agricultura de baixos insumos.

4
5

Em vista dessa situação, muitos pesquisadores, em diferentes lugares do mundo,

postulam que a seleção de variedades produtivas e tolerantes à toxidez de Al, seja considerada

como um componente de grande importância dentro das estratégias de manejo dos solos ácidos.

3. Toxidez de Al e deficiências nutricionais nos solos ácidos

Em ambientes tropicais, o termo “acidez do solo” abrange um conjunto de características

químicas distintivas, que compreendem tanto situações de toxidez iônica (excesso de Al, H e às

vezes, Mn) como limitações nutricionais, devidas a deficiências em Ca, Mg e Mo, aliadas a uma

baixa disponibilidade de P, produto da fixação química do anion fosfato por oxi-hidróxidos de

Fe e Al, carregados positivamente a valores de pH inferiores a 5,0 (Sanchez, 1976).

Adicionalmente, os níveis de N e K em muitos solos ácidos tropicais tendem à deficiência,

devido ao alto grau do intemperismo ou baixos conteúdos de matéria orgânica. Portanto, em

solos com tais propriedades químicas, o crescimento radicular poderá ser afetado por vários

estresses, que podem atuar interativamente. Essa situação já é conhecida há bastante tempo,

como mostra a Figura 1, relativa ao efeito limitante do Al, Ca e Mg sobre o crescimento

radicular de plantas de fumo, em um solo ácido. Resultados similares, já foram obtidos com

uma diversidade de espécies vegetais e solos ácidos, e sempre evidenciaram a dificuldade do

isolamento dos efeitos do Al per se, uma vez que a expressão da toxidez sempre aparece

modificada, em uma ou outra direção, por fatores tais como o pH, a composição iônica da

solução, o nível de disponibilidade de bases trocáveis e o teor de matéria orgânica.

5
6

100
Ca (5,8)

Alongamento radicular
Mg (5,6)
75

(% do máximo)
SC (4,2)

50

25

0
0 24 48 72
Tempo (horas)

Figura 1. Crescimento radicular de plantas de fumo (Nicotiana tabacum) em um solo ácido (pH
4,2) deficiente em Ca (0, 4 cmolc /kg) e com um nível tóxico de Al. Em tal ambiente, as
raízes cessaram o seu crescimento após 24 horas (linha sc, sem calagem). Quando o pH
do solo foi corrigido para 5,6 com MgCO3, o Al foi precipitado, mas o crescimento
deteve-se após 60 horas (linha Mg), devido à manutenção de baixo nível de Ca2+. Só
quando o nível de Ca2+ foi elevado para 4,4 cmolc /kg, pela adição de CaCO3 (linha Ca),
e o Al foi precipitado a pH 5,8, o crescimento radicular progrediu normalmente. Sobre
dados originais de Abruña et al (1970), citados por Sánchez (1976).

Um caminho natural para contornar o problema das mudanças simultâneas e não

controladas das propriedades químicas que ocorrem nos solos com a modificação de seu nível de

acidez, é a realização de estudos em condições de solução nutritiva. Dada a natureza do estresse

de Al, o meio hidropônico oferece obvias vantagens, como o pronto acesso ao sistema radicular,

e a possibilidade de monitoramento e controle do pH e das concentrações de Al e de outros íons

relevantes à expressão das reações de sensibilidade e tolerância. Justamente, um componente

importante do progresso feito nas últimas décadas, diz respeito à simplificação das soluções

nutritivas empregadas nos estudos, combinada com o uso de programas computacionais para

6
7

estimar as atividades químicas das várias espécies iônicas em solução, assim como as suas

interações. Para melhor compreender as implicações que disso decorrem, torna-se necessário,

previamente, a consideração dos fatores que controlam as formas e espécies iônicas de Al na

solução. A esse respeito seria útil a leitura prévia do capitulo 4, onde são discutidas as bases

conceituais da especiação química assim como diversos aspectos teórico-práticos da formulação

de soluções nutritivas .

4. Atividade e fitotoxicidade das espécies iônicas do Al

Uma dificuldade sempre mencionada, em relação aos estudos de Al em plantas é a

complexidade da química aquática do metal. De fato, as pesquisas que atentam para a elucidação

dos mecanismos da fitotoxidez do Al, têm sido prejudicadas, em parte, por falta de um melhor

entendimento da especiação do elemento (Kochian, 1995).

Em solução aquosa, o Al existe numa variedade de formas ou espécies iônicas: quando a

espécie está constituída por só um átomo de Al, é denominada mononuclear (ou monomérica), e

quando contem mais de um átomo, a espécie ou complexo é reconhecido como uma forma

polinuclear. A ocorrência e atividades químicas das diversas formas de Al em solução estão

reguladas, primariamente, pela interrelação de três variáveis: o pH, a composição, e a força

iônica total da solução.

4.1. Efeito do pH. O Al trivalente é um cátion com configuração de gás nobre e alta

densidade de carga, em virtude de seu pequeno raio iônico não hidratado (0,057 nm). Em

solução aquosa, ocupa o centro de um octaedro, em coordenação com seis moléculas de água,

distribuindo, em média, 0,5 unidades de carga positiva para cada vértice. Em pH inferior a 4,0,

essa forma hexahidratada (Al (H2O)63+), é absolutamente predominante. Com o aumento

progressivo do pH ocorrerão as seguintes reações de hidrólise:

7
8

[Al (H2O)6] 3+ + H2 O → [Al (H2O)5 (OH)]2+ + H3O+


[Al (H2O)5 (OH)] 2+ + H2O → [Al (H2O)4 (OH)2]+ + H3 O+
[Al (H2O)4 (OH)2]+ + H2O → [Al (H2O)3 (OH)3]0 + H3 O+
[Al (H2O)3(OH)3] 0 + H2O → [Al (H2O)2 (OH)4] - + H3 O+

com a formação dos complexos mononucleares Al (OH)2+ , Al (OH)2+ e Al (OH)03 , este

último predominante em pH neutro, e limitante da solubilidade dos outros monômeros. Sob

condições alcalinas, existe o predomínio do anion aluminato, Al (OH)4-. A figura 2 mostra a a

relação entre a atividade química de cada uma dessas espécies e do pH da solução.

Figura 2. Distribuição das atividades relativas de Al3+ e das espécies mononucleares de Al-OH
em função do pH (a partir de Wright, 1989). Uma solução de AlCl3, ajustada com HCl,
entre pH 3,5 e 5,5, gerará as formas iônicas de Al indicadas na figura. Tal solução se
manterá estável por muitos dias, desde que a concentração de AlCl3 adicionada mantenha
a relação de atividades {Al+3}/{H+ }3 < 108,8, valor limite para o início de reações de
polimerização e/ou precipitação do Al (Kinraide e Parker, 1989).

8
9

É possível observar que qualquer solução contendo Al em forma ativa, sempre terá mais

de uma espécie iônica em solução, e que a variação da atividade de uma das espécies causará co-

variação nas outras, sendo impossível manter constante a distribuição relativa das espécies

iônicas resultantes da hidrólise, sem um rígido controle do pH. Um resultado prático dessa

situação, é que a quando se adicionam doses crescentes de Al a uma solução nutritiva, mantida a

um certo pH fixo, o excesso de hidrólise impõe uma acidificação adicional, em relação à mesma

solução desprovida de Al. Na ausência de perturbação, esse efeito perdura no tempo (Figura 3).

4.3 mmol/L
0,0
4.2 0,37
pH da solução

0,74
4.1 1,11

4.0

3.9

3.8

3.7

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Dias
Figura 3. Variações diárias do pH de uma solução nutritiva, à qual foram adicionados níveis crescentes
de Al (como AlK [SO4]2 .12 H2O) a partir de um valor inicial de 4,0. Modificado de Vicente et
al (1988a) .

4.2. Composição química da solução. A existência de interações entre íons Al e radicais

aniônicos (além do OH-), através de pareamento iônico e/ou complexação, é um outro fator

relevante, uma vez que o seu efeito é o de reduzir, em média, as cargas das espécies iônicas do

Al, atenuando assim, a sua atividade fitotóxica.

9
10

O Al possui uma alta afinidade por oxi-ánions inorgânicos e orgânicos, com os quais

pode formar uma vasta série de complexos solúveis (Wright, 1989). Nesse caso se encontram

radicais inorgânicos como sulfato, fosfato, silicato e borato, assim como uma grande variedade

de ligantes orgânicos como humatos, fulvatos e ácidos orgânicos simples, entre outros. Isto

significa que outros equilíbrios devem ser considerados, além daqueles próprios da hidrólise

mononuclear. Por exemplo, caso existam radicais sulfato na solução, a soma das espécies

monoméricas deverá considerar, em adição às indicadas na figura 2, a contribuição das formas

AlSO4 + e Al (SO4)2-.

A presença de anions fosfato na solução é crítica, e dada a importância nutricional do P,

as suas interações com íons Al tem recebido muita atenção. Os mecanismos da interação Al-P na

interfase raiz-solução envolvem reações de precipitação e adsorção: o P pode ser precipitado na

forma de AlPO4 insolúvel ou adsorvido por hidroxi-Al já precipitado, na superfície da raiz ou no

espaço livre intercelular (Foy et al.,1978; Arruda et al., 1984; Fageria et al.,1989; Vázquez et al.,

1999).

O silício é outro elemento com um papel definido na atenuação da toxidez decorrente de

íons metálicos, tanto em tecidos animais como vegetais (Hodson e Evans, 1995; Mitani e Ma,

2005). Admite-se que uma parte do efeito benéfico do Si, sobre a toxidez do Al, possa ser o

resultado de co-precipitação ou inativação de Al na solução pela formação de complexos tais

como Al [O Si (OH)3 ]2+, a valores de pH acima de 4,5 (Hodson e Evans, 1995; Corrales et al.,

1997). O papel do Si na nutrição mineral de plantas, é abordado no capítulo 14.

O Flúor (F), elemento pertencente ao grupo dos halógenos, é muito reativo, sendo capaz

de formar fluoretos de alta estabilidade, da forma geral AlFx (onde x = 1 - 6). Níveis elevados

de fluoretos (F-) na solução de solos ácidos podem ser devidos à composição do material

parental, ou refletir contaminação oriunda principalmente de fertilizantes fosfatados, onde altas

concentrações de F podem ocorrer como impurezas.

10
11

4.3. Efeito da força iônica. De acordo com os princípios termodinâmicos que regem as

atividades iônicas em soluções aquosas, é de se esperar que uma redução da força iônica total, a

pH constante, determine um aumento no coeficiente de atividade da espécie Al3+ livre, enquanto

que, na situação inversa, aconteça uma redução, aumentando assim a defasagem entre a

atividade real do íon e a sua concentração nominal. Pavan e Bingham (1982) estudaram o efeito

da diluição de uma solução de Hoagland e Arnon, sobre a atividade das espécies de Al presentes

no meio hidropônico. Para uma dada concentração de Al total adicionado, quando a solução foi

diluída a um centésimo da sua força iônica original, o coeficiente de atividade da espécie Al3+

aumentou de 2,5 para 8, 07 x 10-5, e a espécie AlSO4- passou de 14 para 5 % do Al total. O

efeito da diluição é então, o de reduzir a concentração efetiva dos contra-ions responsáveis pela

formação de pares iônicos ou complexos com o Al.

As estimativas de especiação e atividades iônicas do Al apresentadas em Pavan e

Bingham (1982) e subseqüentemente, em muitos outros trabalhos similares, foram realizadas

com auxilio de um programa computacional chamado GEOCHEM, do qual têm sido geradas

sucessivas versões (Parker et al., 1995, e Capítulo 4). Esse e outros programas similares, usados

em estudos sobre especiação de soluções aquosas, consideram simultaneamente os vários

equilíbrios químicos envolvidos nas reações responsáveis pela formação de complexos, e de

dissolução e precipitação da fase sólida, calculando os coeficientes de atividade e a distribuição

das espécies iônicas livres, assim como os seus complexos e precipitados.

A aplicação da força iônica nos estudos sobre toxidez de Al tem resultado em um

notório progresso na compreensão das propriedades das soluções nutritivas, permitindo estimar

o real efeito das atividades das espécies monoméricas do Al nelas presentes, um aspecto

importante em vista do limitado número de técnicas analíticas disponíveis para a sua

determinação direta. Todavia, como toda ferramenta, apresenta as suas limitações, especialmente

quando é utilizado na especiação de meios mais complexos que o das soluções nutritivas. Isto

11
12

acontece porque nem sempre as constantes de equilíbrio computadas correspondem às que estão

operando nos sistemas reais: por exemplo, formas amorfas dos oxi-hidróxidos de Al presentes

no solo, podem ser cerca de cem vezes mais solúveis que a correspondente forma cristalina.

Nesse caso, a qualidade dos resultados obtidos dependerá diretamente da verossimilidade dos

dados termodinâmicos utilizados (Ritchie, 1994). Podem ser igualmente problemáticas, as

estimativas das atividades químicas do Al3+, e seus complexos, no ambiente iônico prevalecente

no apoplasma, na superfície externa da membrana plasmática, nos vacúolos, ou ainda em

exudados xilemáticos (Kinraide, 1991; Archambault et al., 1996; Taylor et al., 2000; Barceló e

Poschenreider, 2002). Nesse caso, além das incertezas em algumas constantes de equilíbrio, está

o fato de se tratar de ambientes onde circulam fluxos de íons (incluindo prótons) e outros

metabolitos, envolvendo processos de transporte entre apoplasma e simplasma ou, dentro da

célula, entre compartimentos delimitados por endomembranas. Independentemente desses

aspectos, tem se tornado um hábito entre muitos pesquisadores indicar, junto com as

concentrações nominais de Al total usadas nos seus experimentos, as correspondentes atividades

químicas da espécie Al3+. Este procedimento é importante, tendo em vista que parte da

variabilidade dos resultados experimentais pode ser atribuída a diferenças nas concentrações de

Al e de cátions divalentes empregadas, assim como a ocorrência (ou não) de fenômenos como à

precipitação de fosfatos de Al; ou ainda à formação, no apoplasto, de espécies insolúveis de Al

polinuclear.

4.4. Al polinuclear. A formação de complexos polinucleares, em soluções ácidas, pode

ocorrer em resposta ao aumento gradativo do pH ou da concentração de Al total. A

polimerização também é afetada, experimentalmente, pela presença de certos íons, o método de

neutralização, a temperatura da solução e o tempo de reação.

O processo de nucleação surge quando da condensação dos octaedros de Al, que passam

a compartilhar dois OH- numa aresta em comum. Esse processo não origina apenas polímeros

12
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lineares, uma vez que cada aresta livre de um octaedro pode ser compartilhada por outro

octaedro. O efeito líquido da polinucleação é a formação de complexos que acumulam Al na sua

estrutura mais não aumentam a sua carga positiva na mesma proporção, como se pode verificar

no caso, mais simples, da formação de dímeros e trímeros:

2 (Al [H2O]6) 3+ → ( Al2 [OH]2 [H2O] 8) 4+

3 ( Al [H2O]6) 3+ → ( Al3 [OH]4 [H2O]10) 5+

Dessa forma, originam-se agregados macromoleculares, que com o envelhecimento

comportam-se como geles amorfos (fase sólida).Quimicamente, são intermediários metaestáveis

na formação de Al (OH)3 (s), cuja síntese requer uma relação de atividades {Al+3}/{H+ }3 = 10 8,1

(Kinraide e Parker, 1989).

Um problema que sempre ronda as soluções experimentais nas quais são adicionadas

elevadas concentrações de Al total, é que, se uma quantidade apreciável de Al mononuclear se

agrega de forma inesperada, então as atividades das espécies monoméricas sofrerão uma redução

não prevista, devido à precipitação de Al polinuclear, e a solução como tal perderá parte da sua

fitotoxicidade. O Al polinuclear precipitado se acumulará no apoplasma, o que, dependendo do

tempo de exposição, poderá resultar em teores de Al radicular muito elevados. Tal situação pode

conduzir a interpretações errôneas acerca dos mecanismos de toxicidade ou tolerância

envolvidos.

A figura 4 mostra um exemplo onde o ambiente nutricional das plantas pode favorecer o

acúmulo de Al polimérico. Quarenta e oito horas após a troca da solução nutritiva, as plantas de

braquiária, sob nutrição nítrica, elevaram o pH do meio de crescimento, sendo que, na presença

de doses crescentes de Al, observou-se uma progressiva redução na magnitude da alcalinização.

Com efeito, observa-se que, 48 horas após a troca da solução nutritiva, as plantas, sob nutrição

13
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nítrica, elevaram o pH da solução, sendo que a presença de Al no meio inibiu progressivamente

tal processo de alcalinização. Essas plantas foram, portanto, submetidas a variações cíclicas do

pH, muito favoráveis à polimerização irreversível do Al. Em contraste, sob nutrição amoniacal,

a solução experimentou uma acidificação mais ou menos uniforme, tendo o Al, aparentemente,

pouca influencia no nível de redução do pH. Sugestivamente, ao final do período de

crescimento, as plantas cultivadas com N -nítrico, mostraram teores de Al nas suas raízes, seis

vezes maiores do que aquelas cultivadas com N- amoniacal, não obstante os maiores valores de

pH a que estiveram submetidas.

7 Brachiaria decumbens

1a. se mana
6 2da.se mana
pH da solução

5
N- NO3-

3
1a. se mana
N-NH4+
2da.se mana
2
0.0 1.5 3.0 4.5 6.0
Al adicionado (mg/L)

Figura 4. Variações de pH da solução nutritiva, induzidas por plantas do capim braquiária


(Brachiaria decumbens Stapf cv. Basilik) cultivadas com N-NO-3 ou N-N+4 e cinco
níveis de Al, entre 0-6 mg /L ( 0 – 222 µmol/ L). O pH foi medido diariamente, e
ajustado, a cada 48 horas, a um valor basal de 4,2 (linha horizontal). Os pontos
correspondem a valores medidos nas duas primeiras semanas de exposição ao Al, 48
horas após a troca da solução nutritiva. Adaptado de Arruda et al. (1983).

14
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4.5 Poder fitotóxico. Devido às influencias do pH e da força iônica, o poder fitotóxico

do Al não decorre diretamente da sua concentração solúvel total, senão da atividade das suas

espécies iônicas na interfase raiz-solução. Por outro lado, cada espécie, individualmente, pode

apresentar um maior ou menor grau de fitotoxicidade, e assim, a identificação do grau de

toxidez das diversas espécies tem sido uma outra área de estudo aberta a controvérsias (Taylor

et al., 2000).

Parker e colaboradores (1988) aferiram o grau de toxicidade das espécies de Al

resultantes de hidrólise mononuclear (Figura 2), em plântulas de trigo. Para tal, utilizaram um

bioensaio de alongamento radicular e um desenho experimental onde uma dada concentração

fixa de Al foi combinada com níveis de pH decrescentes, a partir de 5,0. Foi observado que,

conforme aumentava a atividade do Al3+, o crescimento radicular diminuía, e deduziram ser a

espécie trivalente a responsável exclusiva pela manifestação da toxidez. Em contraste, estudos

posteriores com alface, nabo e leguminosas, levaram à conclusão de que as espécies iônicas

complexadas com OH¯ eram as mais tóxicas para essas dicotiledôneas (Kinraide e Parker,

1990). Nesses estudos utilizaram-se soluções onde a atividade do Al3+ ficou constante, enquanto

a atividade dos monômeros hidroxilados aumentou progressivamente, conforme o pH variou

entre 4,5 e 5,0. Em tais soluções, a taxa de alongamento radicular da espécie estudada declinava

de forma continua, sugerindo ser a espécie Al (OH)2+ o principal motivo da toxicidade. Em

outros ensaios, a atividade de Al (OH)2+ foi mantida constante, enquanto a de Al3+ foi

aumentada, por meio da redução do pH. Nesse caso, o alongamento radicular ou se mostrou

insensível ou evidenciou ainda uma estimulação em resposta ao aumento da atividade do Al3+.

A aparente insensibilidade dessas dicotiledôneas ao Al3+ é devida a uma elevada

atividade do H+, o que reduz a densidade de cargas negativas na superfície da parede celular

(item 4.6), bloqueando o acesso dos íons Al3+ a tais sítios eletronegativos. Vários autores

sugeriram que essa forma de atenuação da toxidez, pode conduzir a uma redução no acúmulo de

15
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Al no apoplasma. O efeito amenizador tende a desaparecer se a atividade do H+ na superfície

celular diminui, e dessa forma, ao aumentar o pH, o grau de toxidez aumenta, dando a impressão

de as formas iônicas Al-OH serem mais fitotóxicas do que a forma trivalente livre, um

fenômeno, talvez, mais aparente do que real.

Igualmente interessante é o caso de estimulação da taxa de alongamento radicular,

durante os primeiros minutos ou horas após a exposição das plantas ao Al, em resposta a baixas

concentrações de íons Al3+ na solução. Em toxicologia, a estimulação do desempenho de um

organismo por pequenas exposições a agentes que seriam prejudiciais ou tóxicos a níveis altos

de exposição, é fenômeno conhecido como hormese (Forbes, 2000), e as concentrações de Al

que induzem tal efeito são consideradas sub-tóxicas (por estarem abaixo do limiar de

toxicidade). Os efeitos de hormese se manifestam naqueles genótipos que são sensíveis a níveis

elevados de acidez no meio de crescimento. Nesses casos, os cátions Al3+, ao reduzir a

eletronegatividade da superfície celular, amenizam os efeitos lesivos do excesso de prótons

sobre as áreas sensíveis, supostamente localizadas no continuum formado pela parede celular,

membrana plasmática e citoesqueleto cortical das células do ápice radicular (Balŭska et al.,

2003). Tal situação, obviamente, não opera nas soluções desprovidas de Al, onde os efeitos

tóxicos do H+ se manifestarão plenamente, causando um atraso no alongamento radicular das

plantas utilizadas como controles. Todavia, é possível encontrar grandes diferenças nos limites

dados para os efeitos estimulantes ou inibitórios do Al, em conseqüência de fatores como força

iônica e composição das soluções empregadas na experimentação. Pesquisas conduzidas com

variedades de arroz serviram para ilustrar este ponto (Figura 5) .

160 140
A B
to radicular relativo (%)

Bico Ganga
ngamento Relativo (%)

Batatais Comum Branco


140 120 IAC 899
IAC 5544 16
100
120

80
100
60
17

Figura 5. Crescimento radicular de cultivares de arroz (Oryza sativa L.) de terras altas, em
soluções às quais adicionou-se AlCl3 em concentrações mili ou micromolares. (A)
Comprimento máximo das raízes, relativo ao das plantas controle, de três cultivares, após
21 dias de crescimento. [Al] : 0 – 2,22; [Ca2+] : 1,0; [Mg2+] : 1,65 mmol/ L,
respectivamente. pH 4 ± 0,2. Adaptado de Fageria e Zimmermann (1979). (B) Taxa de
alongamento radicular, em relação ao das plantas controle,das cultivares Comum Branco
e IAC 899, após 48 horas de crescimento. [Al] : 0 - 80; [Ca2+ ]: 100 µmol /L,
respectivamente. pH 4,0 ± 0,01. Adaptado de Vasconcelos et al. (2002a).

A figura 5A, mostra que a exposição dos genótipos ao menor nível de Al adicionado à

solução nutritiva (10 mg/ L, ou 370 µmol/L ) foi bastante tóxica para a variedade local Batatais,

mas estimulou o comprimento radicular na Bico Ganga, ou simplesmente não afetou o

crescimento das raízes, como em IAC 5544. Na figura 5B, o efeito estimulante ou inibitório de

uma baixa concentração de Al se repete, desta vez com a variedade local Comum Branco, em

relação à cultivar IAC 899, tida como um padrão de sensibilidade (Furlani e Hanna, 1984).

Repare-se, todavia, nas grandes diferenças entre os experimentos, no relativo ao tempo de

exposição e concentrações de Al adicionadas , assim como o uso de soluções de composição

muito diferente (item 4.8).Tendências de resposta similares às mostradas na figura 5, foram

observadas muitas vezes, em diversas espécies vegetais, entre outras, em cultivares de trigo

(Kinraide, 1993), milho (Barceló e Poschenraider, 2002) assim como num estudo com plantas de

17
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pepino, onde a estimulação do comprimento radicular, a pH 4,0, ocorreu apenas no nível de 1,0

µmol Al/L (Pereira et al., 2005). Em todos esses estudos, os autores atribuíram os efeitos de

hormese à mitigação da toxidez de prótons, em espécies ou variedades sensíveis a uma alta

concentração de H+ na região do crescimento radicular.

Excluindo essas situações mais específicas, admite-se, atualmente, que a forma

trivalente é a mais fitotóxica entre as espécies monoméricas de Al. De acordo ao comportamento

das espécies iônicas mononucleares de Al em solução, espera-se que o poder fitotóxico de uma

solução contendo Al seja maximizado a valores de pH 4,0 ou inferiores (Figura 2). Todavia,

excetuando-se algumas espécies, a maioria das plantas cultivadas não tolera níveis tão altos

de acidez, de forma que as suas respostas ao Al devem ser testadas a valores pH maiores que

4,0, onde o Al3+, mesmo com a sua atividade mais reduzida, pode ainda causar sérias lesões nos

genótipos mais sensíveis.

Sendo a toxidez de Al3+ um caso particular da toxidez dos íons trivalentes para o

crescimento vegetal, é de se esperar também que a redução da sua valência, via atividade de

ligantes, implique na sua detoxificação, mesmo que parcial. De fato, é o que acontece: além da

limitada toxicidade das formas Al-OH, a pesquisa mostrou que as formas complexadas com o

radical sulfato não são tóxicas (Kinraide, 1991, 1998).

Com respeito aos complexos formados com fluoretos, a situação é diferente, já que para

algumas formas, como AlF2+ e AlF2+ tem havido demonstração de sua toxidez em plantas.

Façanha e Okorokova-Façanha (2002), mostraram que complexos AlFx (principalmente AlF3 e

AlF4-) foram tóxicos para plântulas de milho, por reduzir o seu crescimento radicular e inibir

competitivamente a absorção de fosfato.

Em princípio, pode se admitir que a formação de complexos polinucleares atenue os

efeitos tóxicos das formas monoméricas, uma vez que o aumento da valência positiva do

complexo é menor do que o acúmulo de Al no mesmo. Todavia, vários pesquisadores sugeriram

18
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que as formas poliméricas poderiam ser mais tóxicas do que as mononucleares.

Particularmente, tem causado preocupação o desenvolvimento de uma forma polimérica

sumamente tóxica, denominada “triskaidekaaluminio” ou Al13, por causa de sua formula global:

(AlO4Al12(OH)24(H2O)12) 7+ que agrega 13 Al para uma carga policatiônica líquida de +7. Por

exemplo, foi demonstrado que cultivares de trigo com níveis diferenciados de sensibilidade ao

Al monomérico, não mostram comportamento similar em relação ao Al polimérico (Parker et

al., 1989). De forma similar, Comin et al. (1999) verificaram uma inversão nas tolerâncias

relativas de dois híbridos simples de milho: o C525M, tolerante ao Al monomérico, foi mais

sensível ao Al polimérico (Al13) do que o HS7777, um genótipo reconhecidamente mais sensível

ao Al3+, tanto em solução nutritiva como no campo (Llugany et al., 1995; Pintro et al, 1995).

Todavia não se clarificou se o Al13 ocorre naturalmente nos solos, ou se é formado, sob

condições apropriadas, no espaço livre radicular. Por outro lado, os desenhos experimentais

atuais, com a sua ênfase em soluções salinas diluídas e baixas concentrações de Al (item. 4.8),

não favorecem a formação desta espécie altamente tóxica.

4.6. O papel dos cátions divalentes. As interações mais estudadas entre o Al e os

cátions divalentes, são aquelas com o Ca2+ e o Mg2+. A pesquisa atual está revelando um

panorama muito mais complexo do suposto poucos anos atrás, dados os importantes papeis que

esses cátions desempenham, na transdução de sinais, no metabolismo e no crescimento vegetal.

A existência de um certo nível basal de Ca2+ no meio, é essencial para o alongamento

radicular (Koyama et al., 2001, e Figura 1). Isto porque na parede celular, os íons Ca2+

desempenham um papel chave na manutenção da conformação espacial das redes de pectina

(fase gel), estabelecendo pontes iônicas entre os grupos carboxila (COO-) não esterificados, das

cadeias poligalacturônicas adjacentes (ver capítulo 5). Portanto, o deslocamento do Ca2+ ligado

às pectinas inevitavelmente alterará as propriedades físicas da parede, incluindo a sua

extensibilidade, rigidez e permeabilidade (Rengel e Zhang, 2003).

19
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Entre as várias famílias de proteínas quinases caracterizadas nos últimos anos, as

denominadas WAK (de “wall- associated kinase”), muito abundantes em plantas, atuam na

conexão entre a parede celular e a membrana plasmática. WAK1, uma das cinco isoformas

encontradas em Arabidopsis thaliana, é uma proteína integral da membrana, em cujo domínio

extracitoplasmático foi identificada uma seqüência de aminoácidos (o peptídeo WAK67–254), que

se liga ao ácido poligalacturônico através da formação de pontes de Ca2+ (Decreux e Messiaen,

2005). O gene WAK1 se expressa em resposta a ferimentos ou infecção de patógenos, o que

sugere que a WAK1, localizada na zona de alongamento celular, atua na percepção e

transferência de estímulos externos ao citoplasma, por meio de um receptor tipo serinotreonina-

quinase, localizado no domínio citoplasmático da proteína (Decreux e Messiaen, 2005). Muitas

rotas de sinalização utilizam proteínas quinases, e nesse contexto, Sivaguru e colaboradores

(2003) observaram que a exposição de plântulas de A. thaliana, ao Al, a pH 4,0, durante 12

horas, resultou, por um lado, em inibição do crescimento radicular, e por outro, em uma

rápida indução de WAKs, um tipo de resposta cujo significado funcional ainda não foi

resolvido, embora seja significativo que estudos usando plantas transgênicas tenham revelado a

essencialidade das WAKs para o alongamento celular (Balǔska et al., 2003).

Como a inibição do alongamento celular envolve necessariamente o bloqueio dos

processos responsáveis pelo afrouxamento da parede celular (relaxamento do estresse), foi

suposto que uma razão primária da ação fitotóxica do Al poderia implicar no deslocamento de

íons Ca2+ de sítios críticos no apoplasto (Rengel, 1992; Ryan et al., 1994, 1997). Essa idéia, é a

chamada “hipótese do deslocamento”, segundo a qual um cátion é tóxico porque desloca Ca2+ da

superfície celular (Kinraide, 1998), induzindo portanto uma situação de deficiência do cátion

deslocado. É conhecido que os sintomas de toxidez severa de Al são similares aos induzidos

pela deficiência de Ca2+, e que podem ser revertidos ou mitigados pela elevação da atividade do

íon Ca2+ no meio radicular (Foy, 1988; Rengel, 1992). No que diz respeito ao Al, não existem

20
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dúvidas de que, sendo um muito forte competidor por sítios de ligação eletrostática, o Al3+ se

liga às pectinas muito mais fortemente do que o Ca2+, chegando a deslocar, no caso da alga

Chara corallina, até 99,99 % do cálcio ligado à parede celular (Taylor et al., 2000).

A “hipótese do deslocamento” foi revisada criticamente por Ryan e colaboradores (1994,

1997), que apresentaram evidências de que o efeito amenizador não era exclusividade do Ca2+,

podendo também ser obtido pela adição de quantidades apropriadas de cátions monovalentes.

Nesses experimentos, evidenciou-se igualmente que, na presença de baixas concentrações de Al,

a inibição do crescimento poderia acontecer sem envolver, necessariamente, a inibição da

absorção de Ca2+. Portanto, o bloqueio, pelo Al, de canais permeáveis ao Ca2+, situados na

membrana plasmática, embora se manifeste muito rapidamente, não parece ser a razão causal da

inibição do alongamento celular. Isto sem prejuízo de que, uma inibição prolongada da absorção

de Ca2+ em raízes expostas ao Al, possa vir a causar uma séria perturbação à nutrição cálcica da

planta, exacerbando a síndrome da toxidez de Al (Rengel e Zhang, 2003).

Há uma outra possibilidade indireta, resultante do deslocamento do cálcio ligado às

pectinas, e que consistiria na interferência do Al nos elementos do citoesqueleto (microtúbulos,

filamentos de actina) via as conexões estabelecidas pelas WAKs e outras proteínas com funções

similares no continuum parede celular-MP- citoesqueleto (Horst et al., 1999; Sivaguru et al.,

1999, 2003).

Como visto no capítulo 5, o conhecimento das propriedades eletrofisiológicas das

membranas, particularmente da MP, é central para a compreensão dos mecanismos de transporte

iônico através delas. Em relação aos estudos envolvendo o Al, é necessário considerar duas

dessas propriedades: o potencial elétrico através da membrana plasmática (a diferença de

potencial, normalmente negativa, entre os dois lados da membrana, ΨMP) e o chamado

“potencial zeta” (ΨZ), que representa um valor aproximado do potencial elétrico da superfície

externa da membrana plasmática (Kinraide et al., 1998b). Nessa superfície existe uma certa

21
22

quantidade de cargas negativas, oriunda de grupos carboxílicos e radicais fosfato, estes

integrando moléculas de glicerolipídeos, componentes estruturais da membrana plasmática

(capítulo 5). Associada a essa superfície eletronegativa, há uma camada difusa de cátions, de

forma similar ao que acontece nos colóides do complexo sortivo do solo. Nos dois casos, é

possível estimar quantitativamente a distribuição dos cátions, utilizando-se modelos teóricos

como o de Gouy-Chapman-Stern (Kinraide et al., 1998b).

Se cátions Al3+ estão presentes entre os solutos iônicos em contato com a MP, eles agirão

seletivamente e com alta eficiência de ligação: a sua afinidade relativa por fosfatidilcolina é

560 vezes maior que a do Ca2+ (Rengel, 1992). Todavia, a chance desse tipo de ligação guarda

relação com a magnitude do valor da densidade de carga existente na superfície (σ, expressa em

Coulomb/ m2 ): se for alta (ΨZ com maior valor negativo), a ligação é favorecida, se ha redução

de σ, então as ligações envolvendo Al se reduzem de forma correspondente.

É possível então, que diferenças em magnitude de ΨZ entre genótipos estejam

relacionadas, de alguma forma, com diferenças em sensibilidade ao Al. Experimentação com

trigo favorece esse ponto de vista (Kinraide et al., 1998b; Ahn et al., 2004): o valor de ΨZ ,

estimado em vesículas de MP, isoladas de células radiculares, foi quase 30 % mais negativo

numa cultivar sensível do que em outra tolerante, e em conseqüência, a primeira atraiu mais

Al do que a segunda, e expressou maior toxidez. De forma similar, em outro experimento, as

vesículas de MP da linha sensível ES-8 tinham , in vitro e na ausência de Al , um valor de ΨZ

mais negativo (-18 mV) do que a linha tolerante ET-8 (-15 mV), mas evidenciaram uma

depolarização (ΨZ menos negativo) significativamente maior, em resposta à aplicação de 10 µM

Al durante 10 minutos. Essa maior depolarização, na linhagem sensível, deve refletir uma maior

ligação do Al à membrana plasmática, em comparação com a tolerante. As diferenças em

sensibilidade entre essas linhas, se expressam por menor inibição do crescimento radicular, e

menor acumulação apical de Al na linha tolerante, em relação à sensível (Ahn et al., 2004).

22
23

Uma forma de reduzir a negatividade de ΨZ, e por essa via decrescer a atividade de

Al3+ na superfície da membrana, é aumentar a concentração de cátions na solução. É justamente

aí que se mostra a efetividade dos íons divalentes, especificamente do Ca2+ e Mg2+. Esses

cátions, além de contribuírem para o aumento da força iônica, estabelecem, dentro da faixa

milimolar, uma forte competição com o Al3+ pelos sítios eletronegativos existentes, de forma

que um aumento da sua atividade, implica numa menor ligação do Al3+ , tanto na superfície da

MP, como na parede celular (Kinraide, 1993, 1998a). Efeito similar foi comentado no item

anterior, em relação ao H+ .

Existe ainda a possibilidade de que os cátions divalentes atuem na amenização da toxidez

por vias outras que não os mecanismos eletrostáticos (previstos pelo modelo de Gouy-Chapman-

Stern), ou, no caso do Ca2+, na restauração de um certo nível de suficiência para o crescimento

radicular, corrigindo deficiência induzida pelo Al (Kinraide, 1998a).

Tan et al (1992) observaram, em genótipos de sorgo, que o Mg2+ foi muito mais eficiente

do que o Ca2+ na prevenção ou atenuação da injúria causada pelo Al ao crescimento das raízes.

Da mesma forma, em uma série de experimentos com cultivares de soja, Silva et al. (2001a,

2001b) mostraram que, dentro da faixa micromolar, o Mg2+ foi cem vezes mais efetivo na

amenização da toxidez de Al do que o Ca2+, enquanto que a efetividade de ambos, na faixa

milimolar, foi similar. Os efeitos benéficos do Mg2+ sobre o alongamento radicular, não

puderam ser explicados pelas predições do modelo de Gouy-Chapman-Stern. Os autores

sugeriram a possibilidade que o Mg2+ estimulasse eventos conducentes a uma mais eficiente

detoxificação do Al, tal como a exudação de ácido cítrico (Silva et al., 2001c).

4.7. O papel dos compostos orgânicos. No curso da decomposição de resíduos animais

e vegetais no solo, uma ampla variedade de compostos orgânicos é liberada ou sintetizada pelos

microorganismos decompositores. Os dois grupos mais importantes em relação à toxicidade de

Al são o dos materiais húmicos complexos, de alto peso molecular (ácidos húmicos e fúlvicos),

23
24

e o representado por compostos bioquímicos de baixo peso molecular, como ácidos orgânicos,

fenóis, ácidos fenólicos e sideróforos (Haynes e Mokolobate, 2001). Ambos os grupos podem

formar complexos de estabilidade variada com formas de Al monomérico. O Al assim

complexado, perde a sua toxicidade para as plantas (Kinraide, 1991). As espécies amorfas de Al

complexado com humatos e fulvatos, devido ao seu grande tamanho, não podem permear os

poros da parede celular, nem, portanto, serem absorvidas como tais.

Os efeitos benéficos dos ácidos orgânicos de baixo peso molecular têm sido

demonstrados tanto em solos ácidos como em solução nutritiva (Hue et al., 1986), havendo,

entretanto, diferenças entre eles, quanto a sua efetividade. Tais diferenças resultam de suas

configurações estruturais: os mais efetivos têm dois pares de grupos funcionais OH/ COOH

ligados a dois carbonos adjacentes (caso dos ácidos cítrico e tartárico) ou dois grupos COOH

conectados diretamente (ácido oxálico), configurações essas que permitem a formação de

estruturas cíclicas estáveis com o Al (Hue et al., 1986). Na figura 6 se mostra um exemplo de

detoxificação, pela adição de ácido cítrico, de uma solução contendo plântulas de arroz

expostas ao Al.

24
25

100

80 Caiapó

CRR (%)
60

40

20

0
0 100 200
Ácido cítrico (µ
µ M)

Figura 6. Efeito da adição de ácido cítrico sobe o Comprimento Radicular Relativo de plântulas
de arroz de terra firme, cv. Caiapó. As plantas foram cultivadas em tubos, contendo
CaCl2 100 µmol L-1 (controle) ou CaCl2 + AlCl3 40 µmol L-1 + ácido cítrico, em pH
4,1, durante cinco dias. Ao final do período, as raízes foram digitalizadas em scanner e
sua área e comprimento totais determinados com auxilio de um programa de análise de
imagens. Dados não publicados de M.V. Antunes e R. Rossiello.

Além da fonte exógena representada pela matéria orgânica solúvel, a detoxificação do Al

rizosférico pode acontecer via exudação radicular de ácidos orgânicos (Miyazawa et al., 1992;

Jones, 1998; Ma et al., 2001; Silva et al, 2002; Zonta et al, 2003). Tal fenômeno, evidenciado,

até agora, em raízes de trigo, milho, cevada, feijão, soja e alfafa, entre outras, é considerado

um dos principais mecanismos pelos quais as plantas podem tolerar ou resistir a níveis

elevados de Al solúvel. Em plantas de trigo e de milho, têm sido identificados e caracterizados

canais aniônicos (ver Capítulo 5), localizados na membrana plasmática de células da região

apical das raízes. Tais canais, que têm permeabilidade para malato, no caso do trigo (Kochian,

1995; Zhang et al., 2001) ou citrato, em cultivares tolerantes de milho (Kollmeier et al., 2001;

Piñeros et al., 2002), são ativados especificamente por meio do Al3+ extracelular, por

25
26

mecanismos até agora desconhecidos (Roberts, 2006). Os temas ligados ao metabolismo,

acúmulo e efluxo radicular de ácidos orgânicos, têm sido focalizados em numerosas pesquisas

nos últimos anos, como evidenciam as revisões preparadas por Ryan et al. (2001); Barceló e

Poschenrieder (2002); Silva et al. (2002) e Kochian et al. (2004).

4.8. O uso de soluções salinas simples. Como previamente mencionado, nas soluções

nutritivas com elevada força iônica, a fitotoxicidade potencial do Al encontra-se atenuada, não

somente pelo efeito da alta força iônica per se,mas também pelas interações físico-químicas que

se estabelecem entre o Al e os outros íons, conforme os mecanismos mostrados nas seções

precedentes. Com isso, aumentam bastante a concentração de Al e o tempo necessário à indução

de sintomas de toxidez nas plantas (Figura 5 A), resultando em uma progressiva acumulação de

formas trocáveis e não trocáveis de Al no apoplasto dos tecidos apicais das raízes (item 5.5) as

quais podem ter pouca ou nenhuma relação com os mecanismos indutores da toxidez.

O reconhecimento dessa situação conduziu à formulação de soluções salinas

quimicamente mais simples, formadas pela dissolução de cloretos de Ca e de Al, em meio ácido

(tal como as usadas nas figuras 2, 5b e 6), as quais minimizam os problemas relacionados com

a precipitação e polimerização do Al, devido à ausência de outros ligantes que não o OH-.

Também por essa razão, tais soluções permitem uma computação mais precisa da especiação do

Al, e o nível de fitotoxidez da espécie Al3+ pode ser facilmente regulado, através de variações no

pH ou na concentração de Ca2+. Uma vantagem adicional é que tais soluções simulam, de forma

mais adequada, as concentrações iônicas características de soluções de solos ácidos, onde os

teores de Al monomérico extraíveis, raramente excedem 150-200 µmol/L (Schöttelndreier et al.,

2001; Wenzl et al., 2003).

Esse tipo de solução salina, uma vez que desprovida dos nutrientes essenciais (exceto

cálcio), é próprio para estudos de curta duração (minutos a horas de exposição), que geralmente

26
27

utilizam plântulas com poucos dias de germinação, com reservas seminais suficientes para

sustentar o seu crescimento inicial.

5. Sintomatologia do estresse de alumínio

Nos últimos anos, estudos relativos aos mecanismos de resposta vegetal a estresses

ambientais, como baixa temperatura, deficiência hídrica, choque osmótico ou salinidade,

comprovaram que os agentes estressantes são percebidos de forma diferenciada pelos sistemas

de sinalização das plantas,de acordo com a intensidade da sua ação (Kawasaki et al., 2001;

Pastori e Foyer, 2002). Isto significa que os roteiros de transdução assim como os seus

resultados (que incluem ações radicalmente opostas, como a aclimatação e/ ou o aumento da

tolerância ao estresse, ou a indução de um programa de morte celular) diferirão entre células

que respondam a um estresse moderado ou a um estresse severo (Kacperska, 2004). No caso do

estresse de Al a situação deve ser similar, uma vez que o tempo de exposição e a atividade

do Al3+ interagem tanto na manifestação dos sintomas de toxidez quanto na expressão dos

mecanismos de tolerância ao estresse (Parker 1995; Barceló e Poschenreider, 2002; Kochian et

al., 2004). Todavia, e muito embora estudos recentes mostrem que certas interações do Al

com componentes das rotas na transdução de sinais possam estar relacionadas à toxidez do Al

ao nível celular, há que se reconhecer que muitos aspectos ainda permanecem como hipóteses

de trabalho.

Em contraste com esse caráter ncipiente dos estudos relativos às diversas etapas da

percepção e transdução dos sinais do Al, existe vasta documentação relativa à descrição das

respostas induzidas (a etapa final da cadeia), especialmente as relacionadas ao crescimento

radicular e os seus reflexos na planta inteira. Na última década, e a favor de avanços no campo

da microscopia, além da disponibilidade de técnicas microanalíticas mais potentes, as

27
28

pesquisas têm aumentado em muito a sua capacidade de resolução, revelando novos aspectos

da ação do Al, tanto em tecidos e células como intracelularmente, em mitocôndrias e vacúolos,

ou em microtúbulos e microfilamentos de actina, componentes do citoesqueleto.

Embora os mecanismos causais da toxidez do Al possam parecer complicados, não

devemos esquecer que eles resultam, na sua essência, da ligação do Al com substâncias

situadas na parede celular, membrana plasmática ou no citoplasma. Como já foi observado, o Al

possui uma forte afinidade por compostos doadores de oxigênio, o que inclui uma longa lista de

ligantes, desde moléculas estruturalmente simples, como os fosfatos inorgânicos, até algumas

bastante complexas, como antocianinas e outros flavonoides (Tolrà et al., 2005). Isto significa

um amplo leque de oportunidades de ligação a diversos sítios nos domínios apoplásmico e

simplásmico. Como a cinética de ocupação desses sítios por parte do Al é diferenciada, isso

afeta o tempo de aparecimento de eventuais lesões nos vários compartimentos celulares,

dificultando o discernimento sobre se uma determinada resposta reflete efeitos do Al de natureza

primária ou secundária.

Dentro da ampla variedade de reações induzidas pelo Al nas plantas, nós selecionamos

três que, pela sua universalidade e precocidade de expressão, se supõe que estejam relacionadas

direta ou indiretamente com os mecanismos causais da toxidez. Assim, nas próximas seções

serão abordados os assuntos a seguir: i) inibição do crescimento radicular, incluindo a

localização do sítio de percepção do estresse; ii) acúmulo de calose na membrana plasmática; e

iii) o acúmulo e distribuição de formas de Al nas células.

5.1. Sintomas visuais. Como as raízes são os primeiros órgãos a entrar em contato com

o Al no solo, desde as primeiras observações foi registrado que os sintomas de toxidez

expressava-se de forma mais acentuada no sistema radicular.

O efeito da toxidez se manifesta, inicialmente, sob a forma de uma redução na taxa de

crescimento das raízes que, como tal, é um fenômeno muito rápido: nos genótipos mais

28
29

sensíveis, a redução do alongamento das raízes acontece entre trinta minutos e duas horas após

o início da exposição ao Al (Barceló e Poschenrieder, 2002). Utilizando um dispositivo digital,

Llugany et al (1995) foram capazes de monitorar o alongamento radicular de cultivares de

milho, de forma continua, com uma alta resolução (1 µm). Análises de vídeo-imagens também

tem sido utilizadas com a mesma finalidade (Zonta, 2003).

A redução da taxa de crescimento poderá ter caráter reversível ou não, dependendo da

severidade do estresse. Se este for suficientemente severo, poderá levar à morte as células da

zona meristemática, ou de tecidos corticais (Simonovicova et al., 2004). A níveis intermediários,

pode ocorrer o aparecimento de áreas manchadas de cor marrom castanho, pouco atrás da região

meristemática, assim como na epiderme das regiões novas ou das mais velhas. Tais manchas

são indicativas do aparecimento de substâncias polifenólicas (Richards et al., 1998; Nagy et al.,

2004), as quais contribuem através de sua oxidação, para o aumento das chamadas espécies

reativas ao oxigênio, responsáveis pelas reações de peroxidação de lipídeos constituintes de

membranas celulares (Cakmak e Horst 1991; Peixoto et al., 1999). Várias comunicações

recentes têm confirmado que o estresse de Al pode induzir a produção de espécies reativas ao

oxigênio e ativar enzimas oxidativas em células animais e vegetais (Yamamoto et al., 2002;

Boscolo et al., 2003; Guo et al., 2004), sugerindo que o estresse oxidativo é possivelmente um

componente importante da reação vegetal à toxidez de Al.

Com o passar dos dias, a exposição continua ao Al, produz alterações morfológicas

características: as raízes engrossam e tornam-se curtas, com aspecto quebradiço (Furlani e Clark,

1981), desenvolvendo uma coloração castanha, principalmente na região apical (Figuras 7). O Al

induz também alterações na arquitetura do sistema radicular, reprimindo o crescimento das

laterais, as quais tendem a iniciar mas próximas do ápice da raiz principal (Foy et al., 1978;

Pavan e Bingham 1982; Costa de Macedo et al., 1997) conduzindo portanto, a sistemas

29
30

radiculares com menor área e volume radicular (Foy et al., 1978; e Figura 8) . Da mesma forma,

há inibição da área e volume dos pelos radiculares (Care, 1995).

Figura 7. Sintomas de toxidez de Al em raízes de plantas de arroz, cultivadas em solução


nutritiva ( A) Desenvolvimento normal, raízes de plantas controle; (B) Raízes sob
estresse de Al. Aspecto do sistema radicular após quatro semanas de cultivo, a pH 4,0 ±
0,2, com 370 µmol Al/ L. Repare na coloração bronzeada indicativa da acumulação de
substâncias fenólicas, assim como no engrossamento radial dos eixos primários e na
ausência de ramificação fina. Fonte: M.L.Mendonça (1991).

Figura 8. Sintomas de toxidez de Al em plantas de feijão (Phaseolus vulgaris L. cv. Carioca


80). crescidas em solução nutritiva completa. (A) Plantas controle; (B) Plantas
expostas a 20 µ mol Al /L, durante vinte dias. Fonte: J. Jacob Neto, observação não
publicada.

Como mencionado previamente, nem sempre a lesão primária causada pelo Al é

irreversível. Por exemplo, Wheeler e Follet (1991) observaram que as raízes principais de

30
31

plantas de abóbora detiveram o seu crescimento imediatamente após a adição de Al à solução

nutritiva. Após um período inibitório inicial de 24 horas, essas raízes reiniciaram o seu

crescimento, e dois dias após, o crescimento das raízes laterais também foi restabelecido . Em

trigo (Parker, 1995) e milho (Barceló e Poschenrieder, 2002) também há relatos deste padrão de

comportamento, segundo o qual, certas cultivares, após experimentar uma redução inicial em

termos de taxas de alongamento radicular, a baixos níveis de Al, pareceram aclimatar,

recuperando, parcial ou totalmente, as suas taxas de crescimento pré-estresse.

Em oposição aos casos de intoxicação aguda, os sintomas associados a formas crônicas

de toxidez manifestam-se dias ou semanas apos a exposição inicial ao Al, com a propagação dos

efeitos à parte aérea das plantas. Na parte aérea, os sintomas resultantes da toxidez não são

claramente identificáveis, e as injúrias provocadas pelo Al podem ser confundidas com aquelas

decorrentes de desbalanço ou deficiência nutricional (item 3), especialmente do P: redução geral

do crescimento, folhas pequenas e verdes- escuras, com maturidade tardia e ramos com

coloração purpúrea. Em outros casos, os sintomas são semelhantes as deficiências de Ca e Fe,

com o enrolamento de folhas jovens ou malformações e colapso de pecíolos. Também tem sido

relatada a ocorrência de áreas cloróticas ou necróticas sobre a superfície foliar, lembrando

sintomas de toxidez por manganês ou mesmo de deficiência hídrica (Foy, 1974; Foy et al., 1978

Helyar,1978; Rengel,1992; Kochian, 1995).

A grande maioria das espécies vegetais estudadas, em geral culturas anuais de interesse

econômico, não acumula, na parte aérea, quantidades significativas de Al. Por essa razão, é

improvável que atributos como o peso ou a área da massa foliar, o número de ramos, perfilhos

ou altura, sejam afetados diretamente pela presença do metal nos seus tecidos. Portanto, se

considerados isoladamente, esses atributos possuem um valor limitado como indicadores

fenotípicos. Entretanto, se combinados com indicadores ligados às raízes, em modelos de

regressão, podem se transformar em ferramentas úteis na avaliação da variabilidade genotípica

31
32

para a tolerância ao Al. Um exemplo da abordagem anterior é o trabalho de Vicente et al

(1998b) em arroz de sequeiro.

5.2. Ápice radicular: o alvo primário. Em um estudo sobre toxidez de Al em trigo

realizados quase quatro décadas atrás Fleming e Foy (1968) concluíram, que a tolerância

varietal dependia de três fatores: habilidade das raízes para continuar a divisão e o alongamento

celular sob estresse; modificação do ambiente rizosférico; e a manutenção de áreas

meristemáticas aptas a desenvolverem novos tecidos após o estresse. Eles perceberam que o

efeito tóxico era localizado, e que as diferenças varietais resultaram de uma série de eventos que

começaram ao nível celular, atribuindo-os principalmente a interferências do metal com a

divisão celular, tal como fizera Clarkson (1965) previamente, pesquisando raízes de alho.

Embora esses trabalhos contivessem tão claras sugestões, foram necessárias mais duas

décadas de pesquisas para demonstrar que o sítio primário de toxidez é o ápice.

Em 1991, R. Bennet e C.M.Breen, publicaram uma importante revisão, na qual

introduziram a temática dos mecanismos de sinalização no estudo dos aspectos fisiológicos da

toxidez do Al. Nesse trabalho, deliberadamente especulativo, os autores sugeriram que a

percepção do sinal seria feita pelas células periféricas da coifa (CPC, Figura 9B), ao serem

danificadas pelo Al, iniciando assim uma cascata de transdução (amplificação) do sinal, que

chegaria até a população de células em mitose em torno do centro quiescente (CQ, Figura 9B),

local onde seriam elaboradas as respostas ao estresse.

A seguir, Ryan et al. (1993) demonstraram que a inibição do crescimento radicular do

milho, pelo Al, requer a exposição específica dos primeiros 10-15 mm da raiz, a partir do seu

ápice. Pequenos blocos de agar, contendo Al, foram colocados sobre segmentos específicos da

raiz, permitindo assim determinar que os primeiros 2-3 mm (região da coifa e do meristema

radicular, Figura 9 A), eram críticos para a percepção e expressão da toxidez. Em um outro

experimento, a região da coifa foi removida, e mesmo assim, a inibição do alongamento celular

32
33

foi mantida, sugerindo que a coifa não estava envolvida na percepção do sinal de Al. Este último

resultado foi confirmado em trabalhos posteriores com milho (Piñeros et al., 2002).

Por alguma razão, a raiz primária do milho (e mais recentemente, a de Arabidopsis), tem

sido estudada com muito maior detalhamento que a de outras espécies (Luxová, 1992; Ishikawa

e Evans, 1993; Baluska et al., 2001; Barlow, 2003). Ishikawa e Evans (1993) propuseram a

subdivisão da região apical da raiz primária de milho, em cinco zonas: a coifa, o meristema

apical (ZM), a zona distal de alongamento (ZDA), a zona central de alongamento (ZCA) e a

zona de maturação (Figura 9A). Tais zonas se superpõem parcialmente nos primeiros 7 mm do

extremo apical onde inicia-se a zona de cessação de crescimento celular (Luxová, 1992). A zona

distal de alongamento ou zona de transição (ZT), é uma região de crescimento celular não

descrita previamente, que começa imediatamente após terem cessado as divisões mitóticas e que

termina no começo da fase de rápido alongamento celular (Ishikawa e Evans, 1993).

Sivaguru e Horst (1998) realizaram uma série de experimentos, baseados no estúdio

prévio de Ryan et al. (1993), visando aumentar a resolução espacial da zona de máxima

sensibilidade ao Al e levando em consideração a subdivisão feita por Ishikawa e Evans (1993).

Para tal, aplicaram 90 µM Al, a pH 4,3, de forma localizada, em segmentos intactos de raízes de

milho, com 1,0 mm de extensão, a partir do ápice. Eles observaram que a inibição radicular

começou após uma hora de exposição somente quando o Al foi aplicado aos três milímetros

apicais. O Al causou a máxima inibição no segmento 1-2 mm, correspondente à ZT. No

segmento inicial (0-1 mm), correspondente à zona meristemática o efeito foi significativamente

menor enquanto, que a aplicação à zona de alongamento adjacente (2-3 mm) não provocou

efeito inibitório.

A baixa sensibilidade da ZM foi atribuída ao papel protetor de substâncias mucilaginosas

secretadas pelas células da coifa (Bennet e Breen, 1991) , as quais formam uma bainha (BM,

Figura 9B) , com um forte poder ligante do Al (Archambault et al., 1996) protegendo então o

33
34

meristema apical da toxicidade. Todavia, a falta de inibição na zona central de alongamento,

não é imediatamente compreensível. Uma explicação foi dada por Balŭska et al. (2001). Esses

autores sugeriram que as populações celulares do ápice radicular mostram diversidade de

comportamento citológico e fisiológico de acordo à posição que ocupam (Figura 9A, células

representadas por símbolo retangular), e que a arquitetura específica das células na ZT contribui

para o monitoramento dos sinais ambientais.

34
35

Figura 9. Representação esquemática do ápice de uma raiz seminal de milho, mostrando


detalhes da sua organização tissular e celular. A) Desenho esquemático do eixo radicular
(0-7 mm), conforme Luxová, 1992. À direita, a subdivisão feita por Ishikawa e Evans
(1993). ZM = zona meristemática; (ZDA ou ZT = zona distal de alongamento ou zona
de transição ZAA = zona apical de alongamento; ZCA = zona central de alongamento;
ZA = zona de alongamento (> 5,6 mm). B) Acima: Representação esquemática do
extremo pical de uma raiz de milho, indicando a localização do meristema radicular
(MR), meristema da coifa (MC) e o centro quiescente (CQ). CC= células centrais da
coifa. CPC = células periféricas da coifa, que estão envolvidas na secreção da bainha de
mucigel (BM), junto com as células de borda (CB) (adaptado de Bennet e Breen, 1991 e
Barlow, 2003). Abaixo: Corte longitudinal do ápice de uma raiz primária de milho, seis
dias após a emergência, mostrando a correspondência com o desenho acima.

35
36

Isto porque enquanto a atividade das células meristemáticas implica em montar e

desmontar fusos mitóticos, as células da ZT, são caracterizadas por corpos celulares com um

núcleo centrado, que contém, na sua superfície centros organizativos de microtúbulos, que o

conectam à membrana plasmática (Figura 9A ). Já nas células situadas dentro da zona central

de alongamento, o volume citoplasmático é ocupado por vacúolos e o núcleo é alongado e

comprimido lateralmente contra a parede celular (9A). Em decorrência dessas configurações, os

microtúbulos das células da zona de transição transportariam sinais entre a periferia celular e o

núcleo de forma muito mais eficiente que no caso das células da zona de alongamento. Esta

poderia ser uma explicação para o fato de que quando o Al foi aplicado de forma localizada à

zona de alongamento (ZA), não houve efeito sobre a taxa de alongamento radicular.

Em condições normais, a zona de transição não contribui significativamente com a taxa

de alongamento da região apical como um todo, que é determinada pelas taxas de alongamento

dentro da ZCA. Todavia, é notável que o Al aplicado à ZT, inibisse o alongamento celular na

ZA, mesmo quando essa região ainda não estava em contato com o Al. Tal resultado sugeriu a

existência de uma trilha de sinalização, mediando o sinal de Al entre as zonas de transição e de

alongamento.

Em seqüência, em uma outra série de experimentos com plântulas de milho, Kollmeier et

al. (2000), confirmaram a maior sensibilidade da ZT em relação à ZA, e observaram que havia

uma estreita relação entre o nível de inibição na zona de transição, e os teores de Al e calose

acumulada nela. Adicionalmente, verificaram que na cultivar sensível, o Al inibiu

significativamente o transporte basipetal de auxina (do ápice para a base da raiz), aplicada

externamente, diretamente sobre a ZM ou sobre a ZCA. Esse resultado sugeriu que auxina

poderia fazer parte da trilha de sinalização aludida acima.

Em condições naturais, o fluxo basipetal de auxina nos ápices radiculares implica no

acúmulo do hormônio nas células centrais da coifa (columela da coifa, CC, Figura 9 B,

36
37

superior), de onde é redirecionada para as células laterais. Como se pode apreciar na Figura 9B

(inferior), as células laterais ou periféricas da coifa se sobrepõem às da zona distal de

alongamento, o que permite que as células corticais da ZDA recebam a auxina, via um

transportador aniônico específico. Uma vez no ZDA, a auxina é transportada até a zona de

alongamento principal, onde exerce o seu efeito estimulante sobre a extensibilidade da parede

celular, primariamente via ativação de H+- ATPases da membrana plasmática, conforme foi

discutido nos capítulos 2 e 5. Concebivelmente, o Al pode interferir rapidamente nas varias

etapas desse processo, (Ishikawa e Evans, 1993; Horst et al, 1999; Kollmeier et al, 2000) , mas,

até o presente, os detalhes concretos do mecanismo de bloqueio do transporte da auxina,

permanece desconhecido.

A discussão precedente mostra então que, por mais precocemente que se manifeste, a

inibição do alongamento celular não é um evento primário em relação à toxidez do Al. O

crescimento radicular é um processo dinâmico e complexo, que, pela sua natureza , depende de

uma extensa rede de processos bioquímicos e fisiológicos que podem ser bloqueados

previamente à inibição da extensibilidade celular (Rengel e Zhang, 2003). Embora seja claro que

existem muitas possibilidades de interação entre o Al e esses processos subjacentes, há algumas

alternativas que tem merecido maior atenção, como é o caso das propriedades visco-elástica da

parede celular (Ma et al., 2004) a despolarização da membrana plasmática (item 4.6), associada

à redução da atividade da H+-ATPase nessa membrana (Ramos, 2003); os aumentos nos teores

de Ca2+ citossólico; o acúmulo de calose e as alterações da dinâmica do citoesqueleto (Rengel

e Zhang, 2003).

5.3. Estimativas das Taxas de Alongamento Radicular. Como vimos, o estresse de Al

inibe primariamente o crescimento, na região apical das raízes. Por essa razão, a magnitude da

inibição é usada como uma medida da toxidez do Al, e assim, os primeiros resultados

37
38

apresentados nas pesquisas, quase sempre mostram aos efeitos do Al sobre o alongamento

radicular. E nesse ponto se evidencia uma outra dificuldade, que é a falta de padronização na

expressão dos resultados, o que, aliado ao uso de condições experimentais diferentes entre os

estudos, prejudica as comparações e limita as possibilidades de se fazerem inferências de ordem

mais geral (Vasconcelos et al., 2002 b).

Vamos supor o experimento mais simples possível, onde plântulas com 4-5 dias de

idade, são selecionadas por uniformidade, através da medição do comprimento da raiz seminal

mais longa. Essas plântulas podem passar (ou não) por um breve período de aclimatação, onde o

pH da solução, é progressivamente abaixado com quantidades dosadas de HCl. Finalmente, as

plântulas são transplantadas a um meio contendo uma solução de CaCl2 com ou sem adição de

concentrações variáveis de AlCl3 (“x”) , sendo o pH ajustado ao valor pré-fixado com HCl. Por

ocasião do transplante às soluções testes, os comprimentos radiculares de todas as plantas de

todos os tratamentos são registrados com régua milimetrada. Nesta fase teremos então, dois

grupos de medições de comprimento inicial:

- C i Al : comprimento inicial (mm) da raiz seminal, medido antes da exposição à


0

solução-teste sem Al .

- C i Al : comprimento inicial (mm) da raiz seminal, medido antes da exposição à


x

solução-teste no nível “x” de Al.

Após um certo do período, computado em horas, sob condições ambientais controladas,

as plantas são transferidas para outra solução livre de Al, e o seu comprimento radicular é

medido novamente, obtendo-se as seguintes leituras:

- C f Al : comprimento final (mm) medido após o período de exposição à solução-teste


0

sem Al.

38
39

- C f Al : comprimento final (mm) da raiz seminal, medido após o período de exposição à


x

solução-teste no nível “x” de Al.

A partir dessas medições, o alongamento radicular pode ser expresso de várias formas.

Alguns autores preferem mostrar os valores absolutos do comprimento radicular, corrigidos ou

não pelos valores iniciais (ou seja: Cf - Ci, ou apenas Cf). Com mais freqüência, se expressa o

comprimento final das raízes sob Al (+ Al), como percentagem do comprimento nas raízes

controle (Al 0), obtendo-se o Comprimento Radicular Relativo (veja Figuras 5 A e 6) ou seja:

C f + Al
CRR = × 100 ..........................(1)
C f Al
0

Se o intuito for realizar uma análise das taxas do crescimento radicular, a subtração do

valor inicial está implícita no cálculo da taxa de alongamento (TA), dada pela expressão:

(C f Alx,0 − C i Alx,0 )
TA = .................................(2)
Tf − T 0

onde Tf - To representa o intervalo de tempo desde o início dos tratamentos com AlCl3,

e a TA fica expressa em mm/ hora. Os valores absolutos das taxas de elongação dos controles

podem ser comparados diretamente com as dos tratamentos, como no exemplo mostrado na

Figura 10, abaixo.

39
40

1.00
controle
Al (100µ
µ M)

Taxa de Alongamento
0.75
(mm h-1 )

0.50

0.25

0.00
100 200 500
2+
Ca em solução (µ
µ M)

Figura 10. Taxa de alongamento da raiz seminal de plântulas da cultivar de arroz de terra firme
Caiapó, em resposta a níveis de Ca2+ na solução, na presença ou não de 100 µM Al, a
pH 4,01 ± 0,01. F.T.Ramos e R. Rossiello, dados não publicados.

Quando as TA dos tratamentos são expressas como percentagem das taxas dos

respectivos controles, surge uma nova taxa, que podemos chamar Taxa de Alongamento

Relativo (Parker, 1995), dada pela expressão:

(C f Al x − C i Al x )
TAR = × 100 ................(3)
(C f Al 0 − C i Al 0 )

A figura 5 B, no item 4.5, apresenta um conjunto de dados de alongamento radicular em

plântulas de arroz, utilizando a TAR, que é um parâmetro bastante usado na literatura.

Kinraide (1991, 1998), apontou dois aspectos que limitam, de certa forma, a

aplicabilidade geral da fórmula (3). Em primeiro lugar, a hipótese de que as diferenças em

40
41

comprimento entre as raízes expostas e as não expostas ao metal, sejam atribuíveis,

exclusivamente, à fitotoxidez do Al, é discutível. Essa assunção pode induzir a erro quando a

espécie ou cultivar é intrinsecamente intolerante a uma alta atividade de prótons na solução.

Com efeito, embora a solução controle e aquela +Al possam estar em um pH igualmente

baixo, o nível de estresse de H+ será maior nas plantas controle, porque nas expostas ao metal, o

Al3+ deslocará o H+ da superfície da membrana plasmática (item 4.5).

Um outro aspecto é que o uso de valores de Ci na equação (3), tanto para os tratamentos

Al “x” como para Al0 não é estritamente correto e deveria ser substituído pelo valor do

comprimento associado ao nível de Al que cause a máxima toxidez, isto é, que sature o

processo de inibição do alongamento da raiz . Quando tal situação acontece, a taxa de

alongamento se estabiliza, a um valor baixo, mas que não é zero. Então, para levar em conta esse

pequeno crescimento inicial, prévio ao efeito inibitório total do Al, a equação (3) assume uma

forma, aparentemente, diferente como mostra a equação 4:

(C − C )
TAR = Al x Al sat
× 100
(C Al 0 − C Alsat
) ................................(4)

onde CAlsat. representa o comprimento radicular médio à concentração de Al que satura o

processo inibitório. Todavia, em valores absolutos, o alongamento residual verificado na

concentração de Al à qual se verifica a saturação da inibição, é usualmente pequeno. Por

exemplo, uma raiz seminal de IAC 899, severamente estressada por exposição a 160 µM de Al

por 48 horas, alonga um máximo de 3 mm, o que significa uma EER de apenas de 6-7%, de

forma que, na prática, o valor de CAlsat. é aproximadamente igual ao valor do comprimento

radicular por ocasião da transferência das plantas às soluções-teste. Por outro lado, é verdade

41
42

que se o valor C Al x também é baixo, a não consideração de C Al sat pode levar a estimativas

exageradas de TAR.

Quando as taxas de alongamento são relacionadas com as atividades ou concentrações

de Al na solução, dentro de uma ampla faixa, as curvas resultantes mostram uma tendência de

caimento, que pode ser expressa pela equação de Weibull (Kinraide e Parker, 1989). Essa

equação é aplicada à descrição das relações resposta-dose em estudos toxicológicos (Kinraide,

1998), e possui a seguinte formulação:

100
TAR = ................(5)
exp(a {Al 3+ }) b

onde a constante b, é o parâmetro responsável pela forma da equação, que mostra

caráter sigmoidal para valores de b >1. Na simulação apresentada na figura 11, foram usados os

valores: a = 0,04 e b = 1,50. Um dado importante nesse gráfico, é o ponto correspondente à

[Al3+] ou à {Al3+} que diminui a TAR máxima à metade (50 %) de seu máximo , que é

simbolizada como [Al3+]50. Essa concentração pode ser estimada por interpolação, ou de forma

mais precisa, através da seguinte expressão, derivada da equação (5):

1b
{Al3+ }50 = ln 2 ...................(6)
a

42
43

100

100
TAR (%)=
80 exp (0,04 Al)1,5

TAR (%)
60
[{Al3+}]50 = 19,6 µ M
40

20

0
0 10 20 30 40 50 60 70
Concentração/Atividade Al (µ
µ M)

Figura 11. Representação da relação funcional entre a concentração ou atividade do Al3+ no


meio de crescimento e a Taxa de Alongamento Relativo (TAR) da raiz principal de uma
dada espécie ou variedade, tal como descrita pela equação de Weibull. A simulação foi
feita com os parâmetros a = 0,04 e b= 1,5. Os valores de [{Al}] escolhidos, estão dentro
da faixa de ocorrência na solução extraível de solos tropicais.

5.4. Acúmulo da calose. A calose é um β-1,3-glucano, é sintetizada nos elementos

crivados do floema, em resposta a ocorrência de lesões provocadas pela invasão de fungos ou

bactérias, e de outros estresses ambientais, tais como altas temperaturas (Sivaguru et al., 2000).

Nas respostas patogênicas, a deposição de calose nos poros das placas crivadas, serve como uma

barreira física, bloqueando os organismos invasores e prevenindo a sua propagação ao resto da

planta.

É notável que uma das respostas mais sensíveis à toxidez de Al nas raízes, seja a rápida

síntese desse polissacarídeo, indicando que a percepção que tem a planta da injúria do Al

assemelha-se a um ferimento. A formação de calose, como um marcador sensível da toxidez de

43
44

Al, é induzida primariamente nas células apicais do cortex periférico (Sivaguru and Horst,

1998) precedendo ao seu efeito inibitório sobre a divisão celular (Kochian, 1995). O acúmulo

de calose está sob controle das atividades das enzimas 1-3 - β-glucano-sintetase, responsável

pela sua síntese, e 1,3- β-glucanase, responsável pela sua degradação, e que se localizam na

membrana plasmática, mas especificamente ao redor dos plasmodesmas (Sivagur et al., 2000).

Devido à sensibilidade o mecanismo de síntese da calose, a mesma é considera um bom

indicativo do grau de injúria, pondendo inclusive, ser utilizada como um parâmetro de seleção,

conforme sugerido por Wissemeier et al. (1992). De acordo com estudos de Sivaguru e Horst

(1998), a máxima acumulação de calose acontece nas células periféricas da zona distal de

alongamento, coincidindo com o pico de inibição da elongação celular e de acúmulo de Al nessa

região apical.

O acúmulo de calose, principalmente na face externa da membrana plasmática e no

lumem do plasmodesmata, tem como conseqüência o bloqueio da comunicação entre células

contíguas, impedindo o transporte de água e solutos por via simplástica (Sivaguru et al., 2000).

É possível portanto que várias das manifestações de toxidez na parte aérea, e particularmente a

interferência com as relações hídricas celulares sejam reflexo desse bloqueio dos plasmodesmas

pela calose. Dada a magnitude desses efeitos secundários, tem havido interesse em se determinar

os eventos fisiológicos e moleculares subjacentes ao acúmulo da calose. Os resultados das

pesquisas mais recentes, indicam que a indução da síntese de calose depende tanto da

despolarização da membrana plasmática quanto do aumento nos níveis de Al. A produção de

calose induzida pela toxidez do Al depende da despolarização da MP e um aumento nos níveis

do Ca2+ intracelular (Sivaguru et al., 2005). Esses resultados reforçam a impressão de muitos

pesquisadores, no sentido de que o aumento temporário no teor de Ca2+ intracelular pode ter um

importante papel na expressão da toxidez do Al (Rengel e Zhang, 2003).

44
45

5.5. Acúmulo apical de Al e sua distribuição entre apoplasma e simplasma. Um

sintoma característico, de rápido aparecimento após a exposição ao Al, é justamente o aumento

da concentração do metal nos tecidos radiculares. A acumulação significativa, em termos de

toxidez, é aquela que se processa no extremo apical das raízes, região na qual se situam as

células mais sensíveis, conforme visto acima. Os experimentos já citados, de Sivaguru e Horst

(1998) e Kollmeier et al. (2000), com uma cultivar sensível de milho, mostraram que na zona de

máxima sensibilidade (zona de transição, Figura 9 A), se verificou o maior acúmulo de Al, além

do que, a indução da síntese de calose foi maximizada. Experimentação com outras espécies

(anuais ou perenes), têm mostrado consistentemente a mesma associação entre alta concentração

de Al, inibição do crescimento radicular e acúmulo de calose, nos primeiros 5-10 mm a partir

do extremo apical, dependendo da espécie. Já acima dessa região, tal relação se expressa de

maneira muito menos evidente ou simplesmente não existe. Isto é lógico, já que uma

amostragem fora da região apical, supõe a inclusão de células maduras, que não contribuem para

o efeito inibitório do Al, uma vez que já cessaram o seu crescimento, mantendo, todavia, a sua

capacidade de absorver Al. Samuels et al. (1997) observaram que o teor de Al, na zona entre 0 e

2 mm da raiz primária de uma cultivar tolerante de trigo, foi sempre inferior em comparação

com os das regiões mais maduras, ao passo que, numa cultivar sensível, o padrão foi exatamente

o inverso, com um maior acúmulo na zona apical. Esse resultado é típico, e ilustra o fato de que

o mecanismo de defesa ou proteção, se expressa na região de máxima sensibilidade, excluindo e

neutralizando parcialmente os íons Al3+ potencialmente tóxicos.

O Al não trocável é definido como a somatória do Al no simplasma, precipitado ou

polimerizado na interface entre MP e parede celular, ou no próprio compartimento apoplásmico,

o qual não pode ser trocado. Já o Al trocável é aquele que se encontra adsorvido pela matriz

polianiônica do apoplasma, e como tal pode ser substituído por processos de troca iônica (Tice

et al., 1992).

45
46

A distinção entre Al trocável e não trocável no apoplasma tem sido feita sobre uma base

operacional, isto é, de acordo a certos protocolos experimentais. Archambault et al. (1996)

mostraram, em cultivares de trigo, que nos casos onde as concentrações aplicadas foram baixas

(50 µM), na forma de AlCl3 e durante curtos período de tempo (3 horas), o Al da parede celular

pode ser trocado de forma muito eficiente pelo ácido cítrico, definindo portanto uma condição

operacional que minimiza o acúmulo de Al não trocável no apoplasma. Já o aumento da

concentração (200 µM), e uma período de exposição mais longo (48 horas), facilitaram o

aumento da fração não trocável do Al. Esta última situação parece ser a regra geral, mas a sua

interpretação é ambígua: pode tanto significar que uma parte do Al acumulado no apoplasma

tornou-se refratário ou inacessível dentro da própria parede celular ou então, atravessou a

membrana plasmática e passou a residir intracelularmente. Ainda essa abordagem não elimina a

possibilidade de que o aumento em Al não trocável reflita também um aumento do Al retido no

mucigel. O Al ligado à mucilagem apical é muito resistente à troca, o que biologicamente, faz

sentido, uma vez que a bainha de mucigel em torno da coifa e do meristema apical (Figura B) é

a primeira barreira de proteção.

O tema da distribuição celular de Al entre apoplasma e simplasma continua hoje aberto

ao debate (Eticha et al., 2005). As controvérsias neste campo derivam , em parte, de dois
27
fatores, estreitamente relacionados: por um lado, a indisponibilidade de um isótopo de Al,

capaz de ser detectado de forma sensível e disponibilizado a preços acessíveis (Archambault et

al., 1996), e por outro, a falta de técnicas analíticas com suficiente sensibilidade para detectar os

muito baixos níveis de Al associados aos compartimentos sub-celulares (Taylor et al., 2000). A

falta de um isótopo acessível continua a limitar os estudos sobre os mecanismos de transporte

do Al ao nível da membrana, não se tendo certeza, ainda hoje, atualmente sob qual ou quais

formas o Al é transportado, assim como o mecanismo específico pelo qual consegue atravessar

membranas biológicas.

46
47

Por outro lado, a procura da localização e quantificação do Al intracelular se constituiu,

num dos grandes desafios enfrentados pelos pesquisadores na última década. Nesse período

foram sendo introduzidas técnicas microanalíticas que ampliaram progressivamente a resolução

espacial, e a sensibilidade analítica, como a microscopia epifluorescente; a espectrometria de

raios X, e de íons secundários, e mais recentemente, a microscopia confocal com varredura de

laser. Os resultados tem sido surpreendentes, uma vez que contrariamente ao suposto, em várias

espécies, e mesmo em genótipos tolerantes, verificou-se que os íons Al3+ ascenderam ao interior

celular muito rapidamente, em 30 minutos ou menos, após o início da exposição ao Al. Uma

demonstração direta e inequívoca dessa situação foi fornecida por Taylor et al. (2000), que

usaram o isótopo raro 26Al e espectrometria de massa com acelerador, para estudar o transporte

de Al nas membranas plasmática e vacuolar de células gigantes da alga Chara corallina .

Nesses organismos foi possível aos pesquisadores isolar, por meio de técnicas microcirúgicas, as

frações sub-celulares (parede celular, protoplasma e vacúolos) com um risco mínimo de

contaminação cruzada. Os seus dados mostraram, que a parede celular é o principal

compartimento de acumulação de Al. No entanto, o transporte de Al através da membrana

plasmática ocorreu dentro de um período de minutos de exposição e foi reforçado pelo seu

seqüestro subseqüente no vacúolo.

Chega-se então aos dias de hoje, a uma situação aparentemente paradoxal, mas

certamente não estranha no mundo da ciência: aqueles pesquisadores que sustentam que a

natureza das lesões causadas pelo Al é primariamente apoplásmica, não podem deixar de

reconhecer a possibilidade da participação de fatores citossólicos, em vista da rápida penetração

do Al no simplasma, enquanto os que pensam que a toxidez decorre da interação do Al com

componentes citossólicos, também não podem descartar um papel para o apoplasma, tendo em

vista que em todos os casos até aqui estudados, o Al acumula-se em altíssimas proporções nesse

compartimento.

47
48

5.6. O Uso de Corantes.


Um dos métodos mais eficientes e baratos de localizar Al no apoplasma, é através do

uso de corantes químicos. Para que o processo de coloração usando corantes funcione

eficientemente o Al tem que possuir alta afinidade por substâncias liberadas pela planta, como o

complexo fenólico morin que e um flavanoide ou alizarim uma antraquinona (Tolrà et al.,2005).

A substância morin por exemplo, tem sido muito usado para visualizar Al no apoplasma de

raízes utilizando o microscópio fluorescente. O uso de corantes tem sido reportado desde que

Link em 1807, citado por Conn´s (1977), usou sulfato de ferro para colorir tanino em tecido de

plantas. Para colorir o Al a hematoxilina tem sido largamente utilizada para a visualização deste

elemento na superfície de raízes e para análise da ultraestrutura de tecidos (McLean & Gilbert,

1927; Wright & Donahue 1953, Pole et al., 1978; Kinraide, 1988, Massot et al., 1991). Outros

corantes como quinalizarina (Kalovoulos & Misopolinos, 1983), azul de metileno (Wagatsuma

et al., 1988), aluminon (Matsumoto & Morimura, 1980), azul de molibdênio que colore Al e P

(McCormick & Borden, 1972; McCormick & Borden, 1974), violeta de pirocatecol - PVC

(Jacob-Neto, 1993) entre outros.

Estes métodos podem ser usados na seleção de plantas tolerantes ao Al visando o

crescimento em ambientes ácidos. A seleção de plantas que possam crescer nestes ambientes

tem sido uma das principais linhas de pesquisa de programas de melhoramento vegetal de

plantas cultivadas. Entretanto, a seleção de uma cultivar mais tolerante ao alumínio ainda não é

fácil devido à confiança nos métodos de seleção (Foy, 1988). Seleção de plantas tolerantes ao

alumínio diretamente no campo, no seu ambiente de crescimento, seria talvez, a aproximação

mais confiável de seleção, principalmente do ponto de vista agronômico (Foy, 1988; Garland-

Campbell & Carter 1990). Entretanto do ponto de vista prático, a concentração de alumínio no

substrato de crescimento pode não ser uniforme e ocorrer interação com outros fatores do

ambiente mascarando a expressão genética da resistência (Goldman et al., 1989; Garland-

48
49

Campbell & Carter 1990). Em um programa de melhoramento utilizando os métodos

tradicionais, geralmente se trabalha com grandes populações de plantas, com milhares de

linhagens, o que dificulta a seleção de cultivares tolerantes (Polle et al., 1978; Massot et al.,

1991). Uma das alternativas encontrada para a seleção de grandes populações de plantas foi o

uso de corantes com a finalidade de colorir as raízes, crescidas em meio hidropônico. Para que o

processo de seleção de plantas tolerantes ao alumínio utilizando corante, seja eficiente e

confiável, varias fatores devem ser levados em consideração, entre eles a razão H+/OH- no meio

hidropônico, o estádio de crescimento das raízes, e a sua coloração natural.

Deve ser também levado em consideração, o provável local de exclusão do alumínio, se

o mecanismo de resistência da espécie é baseado na exclusão externa ou interna na raiz, ou se a

resistência ocorre pela acumulação na parte aérea (Jacob-Neto et al., 1991; Jacob-Neto, 1993;

Barceló e Poschenrieder, 2002).

Na figura 12 A , podemos observar a coloração das raízes de cultivares de feijão C178,

não tolerante ao alumínio, com a cor azul característica do corante PVC e da coloração menos

intensa da cultivar A222, considerada mais tolerante crescidas por um período de 45 dias em

uma solução nutritiva de meia força iônica e com 30 µM de alumínio. No caso, pode ser

observada uma maior acumulação de Al na superfície das raízes da cultivar mais sensível à

toxidez, o que foi caracterizado como um mecanismo que diferencia tolerância entre cultivares

de feijão (Jacob-Neto, 1993; Kurt, 2006). Quando as plantas foram crescidas em maiores

concentrações de Al na solução (100 µM), não ocorreu distinção de cores entre as raízes das

cultivares que ficaram todas intensamente coloridas como mostrado na figura 12 (b), não

caracterizando mais diferenças entre elas.

49
50

Figura 12- Fotografias de raízes de feijão. (A) cultivares A222 (tolerante ao Al) e C178 (não
tolerante) crescidas em solução nutritiva com Al (30 µM) e coloridas com o corante
PVC. (B) cultivar A222 (tolerante ao Al) crescidas em solução nutritiva com Al (100
µM) e coloridas com o corante PVC.

Na figura 13 pode ser visualizada a diferença de coloração nas raízes de plantas de arroz

crescidas em diferentes concentrações de Al e com a presença do corante de hematoxilina. Este

corante é o mais utilizado para estudos de alumínio em gramíneas (Polle et al., 1978), embora

também possa ser utilizado em leguminosas (Massot et al., 1991) e outras espécies.

Figura 13. Plantas de arroz crescidas em diferentes concentrações de alumínio e coloridas com
o corante hematoxilina.

5.7. Efeito do Alumínio na ultraestrura dos nódulos de leguminosas.

Todos os processos relatados neste capítulo sobre o efeito da toxidez de Al ocorrem com

a maioria das plantas superiores. Entretanto, as leguminosas fixando o nitrogênio atmosférico,

devido à simbiose, são geralmente mais sensíveis à toxidez de alumínio do que quando elas

estão sendo supridas com nitrogênio mineral (Foy, 1988). O alumínio pode reduzir a fixação

50
51

biológica de nitrogênio de três modos: causando injurias diretamente na planta hospedeira;

reduzindo a sobrevivência de células livres de rizóbios ou interferindo em vários estágios do

processo de fixação biológica de nitrogênio (Foy, 1988; Brady et al., 1990; Jacob-Neto et al.,

1991; Jacob-Neto, 1993).

Plantas noduladas com o gênero Bradyrhizobium são geralmente mais tolerantes à acidez

do que aquelas noduladas com outros gêneros. No caso de microorganismo, estes devem possuir

certa tolerância a baixos valores de pH antes de serem tolerantes ao alumínio (Flis et al., 1993).

Além do efeito direto do Al nas raízes o elemento pode danificar o perfeito funcionamento dos

nódulos. Isto pode ser demonstrado em estudos de ultraestrutura do nódulo. São escassos na

literatura, os trabalhos que demonstram o efeito direto do alumínio na ultraestrutura de nódulos e

raízes das leguminosas fixando nitrogênio atmosférico. Jacob-Neto (1993) observou em seus

estudos sobre o efeito de alumínio na morfologia interna de raízes e nódulos de plantas de soja

(Glycine max ( L.) Merrill), que a cultivar tolerante IAC-9 apresentava mesmo sem adição de Al,

nas células corticais externas a camada de esclereides do nódulo, depósitos de material amorfo,

que era mais denso à passagem dos elétrons (Figura 14 A). Já na cultivar UFV-1 considerada

mais susceptível ao Al, não foi encontrado esta estrutura amorfa que foi sugerida no trabalho

como sendo a razão da maior tolerância da cultivar IAC-9 (Figura 14 B).

Figura 14- Microfotografias utilizando microscópio eletrônico de transmissão, mostrando a


presença de depósitos amorfos-D no vacúolo das células do cortex externo dos nódulos

51
52

de soja crescidas com 300 µM de Al na solução..A) Cultivar tolerante (IAC-9) com


abundância de depósitos - D B) Cultivar menos tolerante UFV-1 com poucos depósitos.
V – vacúolo.

Neste mesmo trabalho o autor também estudou cultivares contrastantes de feijão quanto à

tolerância ao Al. Na figura 15 pode ser observada microfotografia de corte transversal de

nódulos de plantas sadias de feijão (Phaseolus Vulgaris L.), crescidas sem adição de alumínio na

solução nutritiva. Analisando a ultraestrutura do nódulo (Figura 15 A) pode-se observar que o

mesmo possui uma aparência normal, com núcleo e os bacteróides dentro das células, sem

ruptura de membranas, presença das células intersticiais com amido e ausência de cordões de

infecção nas células infectadas completamente preenchidas com bacteróides, que é um sinal de

que o processo de fixação biológico do nitrogênio estava funcionando sem a ocorrência de

estresse. Já com e com as plantas crescidas com 300 µM de Al na solução ocorreram profundas

modificações na ultraestrutura da região infectada dos nódulos, o que certamente afetou a

eficiência do processo de fixação biológica do nitrogênio (Figura 15 B). Quando as plantas

foram crescidas em altas concentrações de Al ocorreu desorganização na ultraestrutura dos

nódulos em todas as cultivares testadas, independe de sua capacidade de resistência ao Al.

Figura 15 - Microfotografias (A e B) realizada utilizando microscópio ótico de seção transversal

da região infectada de nódulo de plantas de feijão cultivar A222. (a) crescida na ausência da Al. (b)

crescida com 300 µM de Al mostrando células infectadas anormais.

52
53

6. Considerações Finais

No presente capítulo foram consideradas as respostas de algumas poucas espécies

vegetais à toxidez de alumínio. Embora essas espécies sejam, quase na sua totalidade, de plantas

anuais de grande importância econômica e alimentar, elas representam, uma amostra muito

limitada da variabilidade natural que as plantas apresentam nas suas respostas ao estresse de

alumínio. Assim, não poderíamos deixar de alertar ao leitor sobre as pesquisas envolvendo

espécies arbóreas, tanto aquelas utilizadas em projetos de silvicultura tradicional, como as

espécies ecologicamente adaptadas a ambientes oxídicos, como no Cerrado. Elas mostram

aspectos surpreendentes, não somente pelo fato das árvores serem, em geral, consideravelmente

mais tolerantes do que outras espécies, como pastagens e cereais (Nagy et al., 2004), mas

também pela forma particular de coexistência com o Al, que algumas delas tem desenvolvido. É

o caso de dicotiledôneas arbustivas nativas do Cerrado, representantes dos gêneros Qualea spp.,

Vochysia spp., Miconia spp. e Psychotria spp., entre outras, as quais se comportam como

acumuladoras obrigatórias ou facultativas, exibindo, em certos casos, teores de Al acima de 1, 5

% do pêso seco foliar (Haridasan, 2000).

Na área de pastagens e forragicultura, as pesquisas envolvendo Al não tem ocupado até o

presente o lugar que deveriam, mas não deixa de ser surpreendente também, o fato de que a

gramínea Brachiaria decumbens, tão familiar nos cenários da pecuária nacional, pela sua

elevada adaptação a solos ácidos, possui mecanismos de tolerância ao Al que não coincide com

nenhum dos até agora descritos na literatura (Wenzl et al., 2001).

Num mundo onde os recursos financeiros destinados às pesquisas científicas estão

sujeitos a contingenciamentos sem prévio aviso, são quase invitáveis os debates sobre o

interesse econômico que uma determinada área de conhecimento possa ter. No caso da temática

53
54

abrangida neste capítulo, nós podemos nos perguntar, como C. D. Foy (1997): qual o valor

econômico de uma planta tolerante ao estresse? Qual o valor econômico de uma espécie ou

genótipo cujas raízes possam penetrar camadas sub-superfíciais compactadas e oxídicas, em

termos de escape a seca, economia de custos de irrigação e benefícios ao cultivo subseqüente,

num sistema de rotação de culturas? Não é difícil imaginar que espécies assim, resguardadas as

suas características produtivas, devam se comportar de forma eficiente, qualquer que for o

agroecossistema considerado. Para serem assim, essas plantam precisam ter, constitutivamente,

algum nível de tolerância ao alumínio.

A seleção de plantas que possam crescer nestes ambientes ácidos tem sido uma das

principais linhas de pesquisa de programas de melhoramento ao longo dos anos. Como

observaram recentemente Barceló e Poschenreider (2002), tais programas vêm recebendo, numa

escala global, montantes crescentes de fundos. Isso se constitui num reconhecimento implícito

da importância das pesquisas orientadas à elucidação dos eventos iniciais da toxidez de Al e dos

mecanismos de tolerância que as plantas empregam para se resguardar.

Para a compreensão desses mecanismos é essencial à aproximação via identificação de

genes para tolerância ao Al. Seguramente esta será a via mais promissora no futuro próximo para

a síntese de variedades por processos biotecnológicos. Existe, entretanto, a necessidade de muita

pesquisa adicional, posto que o objetivo final é reconciliar geneticamente as estratégias vegetais

de sobrevivência, e adaptação ao estresse,com a sua capacidade de produzir alimentos ou fibras,

o que depende, em ultima análise, da partição de carbono na planta.

Os autores consideram que esta revisão é apenas uma introdução dos conceitos básicos

da importância do alumínio na ciência vegetal, esperando que ela de alguma forma contribua

para a introdução de jovens pesquisadores, que contribuam com novos enfoque para este velho

problema da agricultura nos solos ácidos.

54
55

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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69
CAPÍTULO 16

MECANISMOS DE TOLERÂNCIA DE PLANTAS A METAIS


PESADOS

Fabiana Soares dos Santos1, Nelson Moura Brasil do Amaral Sobrinho1, Nelson Mazur1

1 Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR 465, Km 47,


Seropédica, 23890-000, Rio de Janeiro.

SUMÁRIO

1 Introdução....................................................................................................................705
2 Toxicidade de metais pesados em plantas ..................................................................... 706
3 Tolerância de plantas a metais pesados ......................................................................... 707
3.1 Imobilização ...................................................................................................... 708
3.2 Exclusão ............................................................................................................ 709
3.3 Quelação ............................................................................................................ 709
3.3.1 Fitoquelatinas ............................................................................................ 709
3.3.2 Metalotioneínas ......................................................................................... 713
3.3.3 Ácidos orgânicos e Aminoácidos .............................................................. 714
3.4 Compartimentalização....................................................................................... 715
4 Hipertolerância............................................................................................................... 717
5 Conclusões ................................................................................................................... 719
6 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 721

1
1 INTRODUÇÃO

Atualmente, a poluição por metais pesados tem sido considerada um dos mais sérios

problemas ambientais, principalmente em áreas influenciadas pela atividade antrópica. As

principais fontes antrópicas de contaminação ambiental por metais pesados são os

fertilizantes, pesticidas, água de irrigação contaminada, combustão de carvão e óleo, gases

emitidos por veículos a combustão, incineração de resíduos urbanos e industriais, e

indústrias de mineração, fundição e refinamento (Amaral Sobrinho et al., 1992).

Os metais pesados podem ser definidos como um grupo de metais, semimetais e

não-metais, que possuem densidade atômica maior que 5 g cm-3 e que estão associados à

poluição ambiental e toxicidade aos seres vivos. Alguns metais pesados, incluindo Cu, Zn,

e Mn, são micronutrientes requeridos por uma ampla variedade de processos fisiológicos

(Ver cap. X neste volume). No entanto, podem ser tóxicos em concentrações elevadas.

Além disso, metais pesados como Cd, Pb ou Hg, não possuem nenhuma função conhecida

para as plantas e são altamente tóxicos, devido à sua reatividade com átomos de S e N

presentes nos aminoácidos e proteínas (Clemens, 2001).

Algumas plantas, assim como outros organismos, desenvolveram um complexo

mecanismo de homeostase para minimizar os efeitos deletérios de metais pesados,

controlando a absorção, acumulação e translocação de metais pesados no tecido vegetal.

Esses mecanismos protegem a célula evitando o acúmulo de íons livres em excesso no

citossol, resultando na tolerância de plantas a metais pesados.

Algumas plantas, não somente toleram elevadas concentrações de metais pesados mas

também os hiperacumulam. Cerca de 400 espécies de plantas são descritas como

2
hiperacumuladoras de metais pesados, sendo definidas como plantas que podem acumular

mais de 0,1% do seu peso seco em Ni, Co ou Pb, mais de 1% em Zn, e 0,01% do seu peso

seco em Cd (Baker & Brooks, 1989).

Ao contrário dos poluentes orgânicos, os metais pesados não podem ser degradados

química ou biologicamente, e uma das alternativas para a limpeza de solos contaminados é

a fitoextração, que consiste na absorção e acumulação de metais pesados na parte aérea de

plantas hiperacumuladoras.

Nesse capítulo serão estudados os diferentes mecanismos utilizados pelas plantas na

tolerância e hiperacumulação de metais pesados.

2 TOXICIDADE DE METAIS PES ADOS EM PLANTAS

As plantas diferem na sua habilidade em retirar, acumular e tolerar metais pesados.

Diferenças marcantes podem ocorrer entre as espécies, entre variedades de uma mesma

espécie e também nos tecidos da planta. Sendo assim, as plantas apresentam um grau de

susceptibilidade variado aos metais pesados, e respondem a esses efeitos por diferentes

caminhos, dependendo do tipo e concentração do íon, espécie e estádio de desenvolvimento

da planta.

Muitos trabalhos têm sido publicados a respeito de danos fisiológicos provocados pelo

excesso de metais em plantas (Peterson, 1971; Foy et al., 1978; Bowen, 1979 citados por

Kabata-Pendias & Pendias, 1992), e relatam os seguintes efeitos tóxicos do excesso de

metais:

• mudanças na permeabilidade da membrana celular;


• reações de grupos tiólicos com cátions metálicos;
• afinidade com grupos fosfato do ADP e ATP;

3
• inativação de enzimas e/ou proteínas funcionais.

Esses danos fisiológicos provocam na planta uma série de distúrbios causando redução

no crescimento, inibição da fotossíntese e respiração, degeneração das principais organelas

celulares e, em muitos casos, morte das plantas.

Recentes estudos mostram que um dos principais mecanismos que elevadas

concentrações de metais pesados podem causar danos no tecido das plantas é o estímulo na

produção de radicais livres, levando ao estresse oxidativo (Foyer et al., 1997). Alguns

metais, como Cu, Cd, Zn e Fe podem causar estresse oxidativo pela indução na produção de

espécies ativas de oxigênio (EAO), provocando efeitos na fotossíntese e,

conseqüentemente, sérios danos a macromoléculas.

O O2 utilizado pelas plantas é pouco reativo devido a estrutura estável dos elétrons na

sua camada externa. No entanto, principalmente quando as plantas são submetidas a um

estresse, entre eles os de metais pesados, podem gerar radicais livres e derivados, como

hidroxila (OH-), ânion superóxido (O2-) e peróxido de hidrogênio (H2O2), que são altamente

reativos e podem oxidar macromoléculas biológicas, levando a danos celulares como,

alteração no DNA, oxidação de proteínas e peroxidação de lipídeos (Dat et al., 2000). As

plantas possuem um número de moléculas (glutationa, ascorbato) e enzimas antioxidantes

(catalases, peroxidases, entre outras) que protegem as plantas do estresse oxidativo.

3 TOLERÂNCIA DE PLANTAS A METAIS PESADOS

Algumas plantas podem acumular metais pesados, dentro ou fora de seus tecidos

devido à sua grande habilidade em se adaptar às propriedades químicas do meio ambiente.

Sendo assim, podem ser consideradas reservatórios intermediários através do qual os metais

pesados se movem do solo, água e ar para o homem e animais. As plantas podem ser

4
receptores passivos de metais pesados, mas também podem exercer controle sobre a

translocação e rejeição de alguns elementos, por reações fisiológicas específicas.

As plantas podem apresentar diferentes mecanismos de tolerância em resposta ao

excesso de metais pesados, incluindo a redução do transporte através da membrana,

exclusão, formação de peptídeos ricos em grupos tiólicos (fitoquelatinas e metalotioneínas),

quelação por ácidos orgânicos e aminoácidos, e compartimentalização de metal em

estruturas subcelulares.

3.1 Imobilização

A primeira barreira contra a entrada de metais pesados, se expressando principalmente

a nível radicular, é a imobilização de metais pesados na parede celular e por carboidratos

extracelulares como mucilagem e calose (Wagner, 1993), evitando a presença de íons livres

nos tecidos radiculares e, conseqüentemente, a translocação de íons para a parte aérea,

reduzindo assim a fitotoxicidade. As pectinas e histidinas se destacam pela imobilização de

metais pesados na parede celular (Leita et al., 1996).

É importante destacar que de uma quantidade de íons associados às raízes, somente

uma parte é absorvida pelas células. Uma fração significativa é adsorvida por grupos

carregados negativamente (COO-) na parede celular das raízes (ver capítulo 2 neste

volume). Desse modo, é possível a existência de plantas que acumulam uma significativa

concentração de metal nas raízes, mas expressam uma limitada concentração na parte aérea.

Por exemplo, muitas plantas acumulam Pb nas raízes, mas a sua translocação para a parte

aérea é muito baixa, devido à sua alta afinidade por sítios ligantes na parede celular

(Blaylock & Huang, 1999).

5
3.2 Exclusão

Prevenir a entrada de metais no citossol através da exudação de compostos, pela ação

da membrana plasmática, pode teoricamente representar a melhor estratégia de defesa.

Algumas plantas, conhecidas como excludentes, possuem mecanismos especializados para

reduzir a entrada de metais pesados nas raízes.

Malato, citrato e oxalato tem sido identificados como importantes quelantes secretados

pelas raízes e estão envolvidos na resistência de plantas ao Al e metais pesados

(Matsumoto, 2000).

Segundo Costa et al. (1997), o estresse ao Cd em Lactuca sativa e Lupinus albus

aumentou os níveis de asparagina em exudados de raízes. No entanto, essa resposta foi mais

relacionada a uma disfunção na membrana da planta em concentrações de Cd acima de

1 M, do que por um mecanismo de defesa induzindo a formação desses aminoácidos para

quelatar íons de Cd.

Uma melhor compreensão desse mecanismo é necessária para aumentar o

conhecimento de exclusão de metais em plantas superiores.

3.3 Quelação

Os quelantes contribuem para a detoxicação metálica pela redução na concentração de

metal livre no citossol, limitando a sua reatividade e solubilidade. Nas plantas, as principais

classes de quelantes de metais pesados conhecidas incluem as fitoquelatinas,

metalotioneínas, ácidos orgânicos e aminoácidos.

3.3.1 Fitoquelatinas

6
Um dos mecanismos de tolerância a metais pesados em plantas está relacionado com a

síntese de peptídeos tiólicos chamados fitoquelatinas (PC), que formam complexos com

metais pesados, especialmente o Cd, no S livre presente na cisteína.

As fitoquelatinas são formadas por 3 aminoácidos: glutamato (Glu), cisteína (Cys) e

glicina (Gly) com Glu e Cys ligados através de uma γ-carboxilamida. A estrutura das PCs

se forma com um aumento nas repetições do dipeptídeo γ-Glu-Cys seguido por uma Gly

terminal. Tem estrutura geral (γ-Glu-Cys)n-Gly (Figura 1), onde n=2-11, mas geralmente

são mais encontradas variando o n de 2 a 5. PCs tem sido identificadas em uma ampla

variedade de espécies de plantas e em alguns microrganismos (Rauser, 1995).

Figura 1: Estrutura química das fitoquelatinas (γ-Glu-Cys)n-Gly; n=2-11.

Fonte: Zenk, 1996.

Esses peptídeos são sintetizados enzimaticamente, usando glutationa (GSH) como

substrato, através de uma reação catalizada pela enzima γ-glutamilcisteína dipeptidil

transpeptidase, conhecida como fitoquelatina sintase (Grill et al., 1989), que é ativada pela

presença de metais pesados. Segundo Grill et al. (1989), a PC sintase é ativada após alguns

minutos de exposição a uma variedade de metais e metalóides. In vitro, a atividade da PC

7
sintase foi ativada somente na presença de íons metálicos e o melhor ativador estudado foi

o Cd seguido por Ag, Bi, Pb,Zn, Cu, Hg e Au. Esses metais também induziram a síntese de

PCs in vivo em culturas de células de plantas.

As fitoquelatinas são estruturalmente relacionadas à glutationa (GSH; γ-Glu-Cys-Gly)

e numerosos estudos fisiológicos, bioquímicos e genéticos tem confirmado que o GSH (ou,

em muitos casos, compostos relacionados) é o substrato para a biosíntese das PCs (Rauser,

1999). Estudos genéticos tem confirmado que mutantes deficientes em GSH de

Schizosaccharomyces pombe e Arabidopsis, são, conseqüentemente, deficientes em PC e

hipersensível a metais, principalmente Cd. Estudos com culturas de células demonstraram a

indução de PCs na presença de Cd coincidindo com um breve decréscimo nos níveis de

GSH. Além disso, a exposição de culturas de células e plantas inteiras a um inibidor da

síntese de GSH, BSO, conferiu inibição na biossíntese de PC e aumento da sensibilidade ao

Cd (Howden et al., 1995).

O uso de mutantes de Arabidopsis thaliana demonstrou o papel fundamental das PCs

na detoxicação ao Cd (Howden et al., 1995). O mutante cad1, deficiente na atividade da PC

sintase, apesar de ter um nível de GSH comparável com outras plantas, foi mais sensível

aos efeitos fitotóxicos do Cd.

Além das fitoquelatinas, algumas plantas podem apresentar outros peptídeos,

relacionados à PC, na presença de metais pesados. As leguminosas produzem peptídeos

com estrutura (γ-Glu-Cys)n-βAla (Grill et al., 1986), que são formados por homo-glutationa

(h-GSH), que podem substituir parcial ou integralmente o GSH nessas plantas.

Algumas espécies da família Poaceae (Gramineae) produzem peptídeos contendo

serina como aminoácido terminal, com estrutura (γ-Glu-Cys)n-Ser, chamados

8
hidroximetil-fitoquelatinas (Klapheck et al., 1994). Esses peptídeos são formados a partir

da presença de hidroximetil-glutationa em adição à glutationa nessas plantas.

O Cd é o mais forte indutor de PC in vivo e é o elemento que forma complexos mais

estáveis com PCs, devido à sua grande afinidade ao enxofre (Zenk, 1996). No entanto, a

síntese de PC não está relacionada somente a esse elemento. Grill et al. (1987) estudando a

síntese de PC em uma suspensão de cultura de células de R. serpentina exposta a metais,

concluíram que os metais induzem a síntese de PC na seguinte ordem decrescente: Cd2+,

Pb2+, Zn2+, Sb3+, Ag+, Hg2+, As5-, Cu+, Sn2+, Au3+, Bi3+. Segundo esses mesmos autores,

íons Ni, Te, W e Se não induziram a síntese de PCs.

Plantas e culturas de células expostas a uma faixa de 3 a 500 M de Cd tiveram um

rápido aumento nos níveis de PC dentro de 10-15 min, seguido por um aumento na cadeia

com vários peptídeos γ-Glu-Cys (Meuwly et al., 1995). Em raizes de milho, o tripeptídeo

γ-Glu-Cys-Glu foi induzido dentro de 2 horas de exposição ao Cd, seguido pela formação

de (γ-Glu-Cys)2-3-Glu (Meuwly et al., 1995).

Morelli & Scarano (2004), estudando os mecanismos de defesa celular da alga marinha

Phaeodactylum tricornutum ao Cu, mostrou que a formação de complexo Cu-PC foi

detectado logo após 1 hora de exposição ao metal, sugerindo que esse mecanismo forma a

primeira defesa ao Cu contra a formação de espécies ativas de oxigênio (EAOs).

Apesar da importância das PCs no processo de detoxicação de plantas a metais pesados

estar bem documentada, ainda não está clara qual a principal função das PCs em plantas. A

formação do complexo metal-PC in vivo parece ter um papel breve e passageiro no

processo de detoxicação. Leopold et al. (1999), mostraram que os complexos Cd-PC e

Cu-PC formados em Silene vulgaris desapareceram nas raízes 1 a 2 semanas após a

exposição aos metais pesados.

9
3.3.2 Metalotioneínas

Metalotioneínas (MT) são proteínas de baixo peso molecular, não enzimáticas, ricas

em cisteína e eficientes na complexação de metais pela afinidade com enxofre presente na

Cys (Hamer, 1986).

As metalotioneínas são classificadas baseado no arranjamento da Cys. MTs Classe I

possuem mais de 20 Cys conservadas, sendo comuns em mamíferos e vertebrados, e

conhecidas por conferir tolerância ao Cd2+. As MTs sem um arranjamento específico de

Cys são classificadas como MTs classe II e incluem todas as encontradas em plantas,

fungos e animais invertebrados.

Apesar das metalotioneínas serem mais comuns em animais, existem 4 tipos de MTs

em plantas, classificadas de acordo com o arranjamento das Cys na formação da proteína.

As Cys estão presentes em metalotioneínas de plantas como Cys-x-Cys, Cys-x-x-Cys (onde

x é um aminoácido diferente de Cys), ou grupamentos de Cys-Cys.

Várias plantas contêm genes de metalotioneínas, como ervilha (Pisum sativum), soja

(Glycine max), Arabidopsis thaliana, Mimulus guttatus, milho (Zea mays), cevada (Avena

sativa), trigo (Triticum aestivum), Ricinus communis, e Brassica napus, contendo genes

codificando os 4 tipos de MTs (Prasad & Freitas, 1999).

A diversidade de MTs em plantas, sugere que elas podem diferir não somente na

seqüência de aminoácidos mas também na função e especificidade a determinado metal. No

entanto, ainda não se tem informação a respeito da verdadeira função de cada MT na

planta.

Vários estudos tem sido publicados sobre a expressão de genes de metalotioneínas em

plantas. Há várias evidências que as MTs desempenham um importante papel na

10
detoxicação de plantas ao Cu. A expressão de MTs Tipo 2 correlaciona com a tolerância ao

Cu em Arabidopsis (Murphy & Taiz, 1995) e, mais recentemente, a tolerância ao Cu em

população de Silene vulgaris mostrou maior expressão na presença do gene que codifica

MT Tipo 2 (Van Hoof et al., 2001). Além disso, as PCs não conferem tolerância ao Cu em

Arabidopsis, indicando que um outro mecanismo, talvez envolvendo MTs, pode estar

envolvido no processo.

Em Arabdopsis thaliana, duas metalotioneínas induzidas por Cu com uma massa

molecular de 4500 a 8000 (chamada MT1 e MT2) foram isoladas (Murphy et al., 1997).

Em germe de trigo, uma metalotioneína foi encontrada regulando a homeostase de Zn

durante a germinação de sementes (Lane et al., 1987).

A função das MTs em plantas ainda não é bem compreendida, devido à dificuldade em

obter MT purificada, devido à tendência da MT a se hidrolizar, particularmente na região

entre as Cys na seqüência da proteína. No entanto, várias funções tem sido propostas para

as MTs em plantas, como detoxicação de metais (principalmente Cu), complexação de Zn

citossólico, secreção de metais via tricoma nas folhas (Rauser, 1999).

Plantas transgênicas expressando MTs são estratégias promissoras para aumentar a

tolerância a metais pesados. Vários genes de MTs de animais têm sido transferidos para

tabaco e Arabidopsis thaliana, aumentando o grau de tolerância ao Cd (Kamnev, 2003).

3.3.3 Ácidos orgânicos e Aminoácidos

Devido à reatividade de íons metálicos com S, N e O, os ácidos carboxílicos e

aminoácidos representam ligantes potenciais de metais pesados.

Citrato, malato e oxalato tem sido implicado em vários processos, incluindo tolerância

a metais pesados, transporte de metal através do xilema e seqüestro vacuolar (Rauser,

11
1999). O ácido cítrico é considerado o maior ligante de Cd2+ quando em baixas

concentrações (Wagner, 1993), forma complexos com Ni2+ em plantas hiperacumuladoras

(Sagner et al., 1998) e contribui na acumulação e tolerância ao Zn2+ (Godbold et al., 1984).

Mathys (1977), destaca a importância do malato como quelante de Zn citossólico em

plantas tolerantes ao Zn.

A histidina, um aminoácido produzido pelas plantas em resposta a presença de metais,

está envolvido em um mecanismo de tolerância ao Ni e, em baixas concentrações ao Co, e

em altas taxas de transporte de Ni no xilema (Krämer et al., 1996) para a hiperacumulação

na parte aérea em Alyssum lesbiacum.

3.4 Compartimentalização

Íons metálicos em excesso são removidos do citossol e o principal mecanismo

envolvido é a compartimentalização. O principal compartimento de armazenagem de

metais pesados em células de plantas é o vacúolo e há evidências de seqüestro vacuolar de

íons metálicos em plantas, o que previne a circulação de metais pesados no citossol e os

transporta para uma área limitada (Vögeli-Lange & Wagner, 1990).

Transportadores potencialmente relacionados a esse processo tem sido identificados

em Saccharomyces cerevisae, S. pombe e em plantas. Em S. pombe, Ortiz et al. (1995)

encontraram o gene hmt1, que codifica a proteína HMT1, capaz de transportar eficazmente

o complexo Cd-fitoquelatina para o vacúolo. Uma atividade similar de transporte foi

detectada no tonoplasto de células radiculares de aveia, indicando a operação de um HMT1

como mecanismo de transporte em células de planta (Salt & Rauser, 1995). No entanto,

nenhum homólogo de HMT1 foi ainda identificado em plantas.

12
Novamente em S. pombe mutante JS237, eventos de transdução envolvendo cAMP e

íons de Ca foram importantes para a acumulação de Cd no vacúolo (Ow, 1996). Além

disso, na presença de MgATP, complexos Cd-fitoquelatinas são transportados contra o

gradiente de concentração pelo tonoplasto, por meio de transportadores específicos, e são

acumulados dentro de vesículas do tonoplasto até 38 vezes mais que na solução externa

(Salt & Rauser, 1995).

As fitoquelatinas são encontradas complexadas com Cd formando complexos de baixo

e alto peso molecular (LMW e HMW, respectivamente). Geralmente assume-se que

complexos LMW são formados no citossol e, posteriormente, transportados ao vacúolo

quando Cd2+ e S2- são incorporados para produzir complexo HMW, que representa a

principal forma de armazenamento do Cd. No vacúolo, devido ao pH ácido, os complexos

de alto peso molecular se dissociam e o Cd pode ser complexado por ácidos orgânicos

vacuolares, como citrato, oxalato e malato (Krotz et al., 1989) e, possivelmente, através de

aminoácidos. As fitoquelatinas podem ser degradadas através de hidrolases vacuolares e/ou

voltar ao citossol onde elas podem continuar transportando Cd para o vacúolo.

Vögeli-Lange & Wagner (1990), isolaram mesófilo de protoplasto de tabaco exposto

ao Cd e mostraram que todo o complexo Cd-PC formado foi transportado para o vacúolo.

Esses autores consideram que a síntese de PC ocorre no citossol com transferência do

complexo para o vacúolo onde peptídeos e ácidos orgânicos quelatam o Cd. O GSH foi

observado em folhas e protoplasto, mas não no vacúolo. Com isso, esses autores sugerem

que os complexos Cd-PC são sintetizados extravacuolarmente e, por eles serem

encontrados predominantemente localizados no vacúolo, essa molécula deve estar

envolvida no transporte de Cd para o vacúolo.

13
A compartimentalização de metais no vacúolo é também parte do mecanismo de

tolerância de algumas hiperacumuladoras de metal (Tong et al., 2004). A hiperacumuladora

de Ni Thlaspi goesingense aumenta a tolerância ao Ni compartimentalizando a maior parte

desse elemento da folha no vacúolo (Krämer et al., 2000). Os altos níveis de expressão do

transportador de metal TgMTP1 no vacúolo em T. goesingense, foi correlacionado com o

acúmulo de íons metálicos dentro do vacúolo nas folhas (Persans et al., 2001).

Por outro lado, há evidências de que o Cd2+ pode ir diretamente para o vacúolo por

transporte do íon (Rauser, 1995). Uma das vias é a atividade do antiporte Cd2+:2H+

detectada no tonoplasto de células de raiz de aveia (Salt & Wagner, 1993). Foi sugerido

que, molecularmente, o mesmo transporte seria possível via antiporte Cd2+/H+ e via

antiporte vacuolar Ca2+/H+ (Salt & Wagner, 1993).

4 HIPERTOLERÂNCIA

Diferentes estudos demonstram que as plantas possuem vários mecanismos de

tolerância a elevados níveis de metais pesados, o que faz com que algumas espécies de

plantas e genótipos possam se desenvolver em solos altamente contaminados com metais

pesados. Essas plantas pertencem a uma flora especializada que coloniza solos originários

de serpentina (ricos em Ni) e calamina (mineral que contém elevadas concentrações de Zn e

Cd) naturalmente contaminados, ou áreas poluídas pela atividade antrópicas, como as

atividades mineradoras. Essas plantas são selecionadas naturalmente pelo seu alto nível de

tolerância a um determinado metal (hipertolerância) (Chaney et al., 1997).

Algumas plantas não somente toleram altos níveis de metal, mas também os

hiperacumulam, por apresentar mecanismos fisiológicos e bioquímicos (já discutidos

anteriormente) para se adaptarem, e exibir propriedades de hipertolerância e

14
hiperacumulação a metais pesados (McGrath et al., 2000). O termo hiperacumulador foi

introduzido por Brooks et al. (1977) e originalmente se referiu a plantas que absorviam

altas concentrações de Ni (1000 mg kg-1) em peso seco. Para outros elementos como Zn,

Mn, Pb, o limite de acumulação foi de até 10000 mg kg-1 (1%) e para Cd o nível

correspondente foi de 100 mg kg-1.

Mais recentemente, Baker & Brooks (1989) definiram hiperacumuladoras como

plantas que acumulam > 0,1% do seu peso seco com elementos como Ni, Co ou Pb. Para

Zn o limite é > 1% e Cd > 0,01% do seu peso seco. A maioria das plantas

hiperacumuladoras já identificadas são para Ni, Zn, Co, Cu e Se. Também existem

4 hiperacumuladoras conhecidas de Pb e 1 para Cd e As já identificadas. No entanto,

aproximadamente 75% das hiperacumuladoras caracterizadas são para Ni.

Aproximadamente 400 espécies de plantas são classificadas como hiperacumuladoras

(Baker & Brooks, 1989). São exemplos: Pteris vittata para o arsênio; Aeolanthus

biformifolius para o cobre; Thlaspi rotundifolium subsp. cepaeifolium para o chumbo;

Uncinia leptostachya para o urânio; Thlaspi calaminare para o zinco; Thalspi caerulescens

para Cd e Zn; Brassica juncea para Se; e Alyssum bertolinii para o Ni.

No Quadro 1, são apresentados as principais famílias e número de espécies conhecidas

como hiperacumuladoras de metais pesados.

15
Quadro 1. Plantas hiperacumuladoras já identificadas e as famílias onde são
freqüentemente encontradas.
Número de
Elemento Famílias
espécies
Cd 1 Brassicaceae
Co 28 Lamiaceae, Scrophulariaceaea
Cu 37 Cyperaceae, Lamiaceae, Poaceae, Scrophulariaceae
Mn 11 Apocynaceae, Cunoniaceae, Proteaceae
Ni 300 Brassicaceae, Cunoniaceae, Flacourtiaceae, Violaceae, Euphorbiaceae
Se 19 Fabaceae, Brassicaceae
Tl 2 Brassicaceae
Zn 16 Brassicaceae, Violaceae
As 1 Pteridaceae
Fonte: Baker et al., 2000; Ma et al., 2001
As hiperacumuladoras são espécies potenciais para utilização em processos de limpeza

de solos contaminados com metais pesados (fitoextração), por ser uma técnica de baixo

custo e não agressiva ao ambiente. No entanto, esse potencial é limitado por fatores como:

• geralmente acumulam somente um elemento específico e não tem sido identificadas


para todos os elementos de interesse;
• a maioria das hiperacumuladoras se desenvolvem lentamente e produzem reduzida
biomassa;
• geralmente são espécies endêmicas e pouco é conhecido sobre essas plantas, como
características agronômicas de cultivo e fisiologia.

5 CONCLUSÕES

A resposta de metais pesados em plantas é um fenômeno complexo, provavelmente de

caráter poligênico, onde a tolerância de plantas aos metais pode ser definida como sua

capacidade natural ou artificial, regulada por fatores genéticos e ambientais, para suportar

altos níveis de metais pesados por um longo tempo, sem efeitos detrimentais consideráveis

no seu metabolismo.

16
O uso de modelos para estudar a biossíntese, expressão, regulação e função dos

principais mecanismos de tolerância a metais pesados em plantas tem tido um significativo

avanço nos últimos anos. A identificação de caminhos bioquímicos e fisiológicos são

essenciais, mas é necessário a integração com as respostas genéticas para o melhor

entendimento do processo como um todo.

O potencial do uso de plantas para a fitorremediação de ambientes poluídos é

considerado promissor. O melhor entendimento das bases fisiológicas, bioquímicas e

genéticas da hiperacumulação de metais em plantas é a chave para o sucesso da

fitorremediação. A compartimentalização no vacúolo e a expressão de transportadores, são

mecanismos que tem sido identificados em uma ampla variedade de organismos que

hiperacumulam metais pesados e podem ser características fundamentais nesse processo.

Apesar da fitorremediação ainda ser uma tecnologia recente, nos últimos anos, muitas

pesquisas tem sido conduzidas nos estudos de acumulação de metais em plantas,

translocação da raiz para a parte aérea, compartimentalização e detoxicação. No entanto,

ainda não está claro como essas informações podem ser usadas eficientemente para

remover metais pesados de solos poluídos. Com isso, são necessários projetos aplicados a

nível de campo, para evidenciar o real potencial dessa tecnologia.

17
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