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Copyright © 2006
Não é permitida a reprodução total ou parcial desta publicação sem a permissão expressa da Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo.
EDITOR REVISÃO
Manlio Silvestre Fernandes Nelson Coeli
Maria Aparecida Soares
CAPA
(Layout) DIAGRAMAÇÃO
Manuela Vieira Novais José Roberto de Frei tas
Inclui bibliografia
ISBN 85-86504-02-5
PREFÁCIO
Este volume , sobre “Nutrição Mineral de Plantas ”, é parte da série
que está sendo publicada pela Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo (SBCS ). É notória , no Brasil , a carência de livros didáticos que
abordam o assunto , o que torna essa iniciativa da SBCS de grande relevância
para o aperfeiçoamento do ensino e para a ampliação da pesquisa em
ciências do solo.
Livros de Nutrição Mineral de Plantas sempre podem resvalar para os
domínios da Química e da Fertilidade do solo, ou transformar -se em tratados
de Fisiologia Vegetal . Nem sempre é fácil estabelecer com rigor os limites da
Nutrição como disciplina autônoma . A Nutrição Mineral de Plantas está
localizada na fronteira dessa s outras disciplinas.
Nesta obra, dá-se ênfase à dinâmica da interface solo-planta , não havendo a
preocupação com a descrição detalhada dos mecanismos pelos quais os
nutrientes se deslocam do solo até a planta . Nesta série , que está sendo
publicada pela SBC S, o volume sobre Fertilidade do Solo fará essa abordagem .
Aos autores dos diversos capítulos , pediu -se que fossem destacados os
mecanismos de absorção e transporte de nutrientes , tornando claros para os
leitores os caminhos que as espécies iônicas percorrem desde que a solução do
solo entra em contato com as raízes , até sua chegada à área vascular e
redistribuição pelos diversos órgãos da planta.
Não houve , neste livro , a preocupação em esgotar cada tópico .
Procurou -se abordar em cada capítulo apenas o essencial para o entendimento
do assunto pelos leitores . Foram mantidas as referências de cada capítulo ,
às vezes numerosas , de modo que aqueles que precisarem de maior
aprofundamento em determinadas áreas tenham ampla base de pesquisa.
Certamente a obra será de grande utilidade para estudantes de
graduação e de pós -graduação e para os pesquisadores na área de Nutrição
Mineral de Plantas.
Um agradecimento especial aos professores e pesquisadores das diversas
instituições do país , que prontamente atenderam à solicitação para que
colaborassem neste volume , e aos professores e estudantes do Laboratório de
Nutrição de Plantas da UFRRJ, pelo apoio e estímulo.
PARTE II - OS MACRONUTRIENTES
Capítulo 9 – Nitrogênio
Capítulo 10 – Potássio
Capítulo 11 – Fósforo
Capítulo 12 – Cálcio, Magnésio e Enxofre
CONTEÚDO
PREFÁCIO .............................................................................................................................. v
Everaldo Zonta, Felipe da Costa Brasil, Silvia Regina Goi & Maria Mercedes Teixeira da
Rosa.......................................................................................................................................... 16
Ricardo L.L. Berbara, Francisco A. Souza & Henrique M.A.C. Fonseca ............................. 85
Nilton Nélio Cometti , Pedro Roberto Furlani , Hugo Alberto Ruiz & Elpídio Inácio Fernandes
Filho ....................................................................................................................................... 156
V - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES
Veronica Massena Reis, André Luiz de Martinez de Oliveira, Vera Lucia Divan Baldani,
Fábio Lopes Ol ivares & José Ivo Bal dani ............................................................................250
VIII
Luciano Pasqualoto Canellas, Daniel Basílio Zandonadi, Fábio Lopes Olivares & Arnoldo
Rocha Façanha........................................................................................................................286
José Ronaldo Magalhães, Luzia V. Modolo, Sonia Regina de Souza, Luciano Freschi, Marcel
G.C. França & Filomena Leonor Ilhargo Morgado Silva .....................................................332
IX - NITROGÊNIO
Sonia Regina Souza & Manlio Silvestr e Ferna ndes ...........................................................361
XI - POTÁSSIO
Egon José Meurer ................................................................................................................. 411
X - FÓSFORO
Adelson Paul o Araújo & Cynthia Torres de Tol edo Machado ..........................................446
XIII - MICRONUTRIENTES
Antonio Roque De chen & Gilmar Ribeiro Na chtigall ........................................................542
Fabiana Soares dos Santos, Nelson Moura Brasil do Amaral Sobrinho & Nelson Mazur .......704
CAPÍTULO 1
(1)
Professor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP – C. Postal
9, 13418-900, Piracicaba, SP. ardechen@esalq.usp.br.
(2)
Eng. Agrº. Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, C. Postal 130, 95700-000, Bento
Gonçalves, RS. gilmar@cnpuv.embrapa.br.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 10
2 CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE ......................................................................................................... 11
3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................................................... 15
1 INTRODUÇÃO
fatores que contribuíram muito para os avanços nas pesquisas em nutrição mineral de plantas,
já que possibilitaram o crescimento normal das plantas e permitiram um controle mais preciso
1699, realizou os primeiros experimentos em cultivo de plantas em meio líquido sem o uso de
substratos sólidos. Em 1804, Saussure realizou uma das primeiras tentativas para analisar os
fornecer nitrato à solução destes cultivos. No século XIX foram realizadas intensas pesquisas
elementos eram importantes para o crescimento das plantas. O alemão Justus von Liebig
compilou em seus livros e cartas publicadas entre 1840 e 1855, informações da época quanto
a importância dos elementos minerais para as plantas, referindo-se que os elementos minerais
essenciais para as plantas eram: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca),
magnésio (Mg), enxofre (S), silício (Si), sódio (Na) e ferro (Fe), todos retirados do solo, além
dos elementos essenciais carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), retirados da água e do
composição de uma solução nutritiva sobre o crescimento das plantas, bem como propôs uma
fórmula de uma solução nutritiva simples, baseada em relações moleculares, a qual foi o
ponto de partida para modificações posteriores por outros autores (Ploeg et al., 1999; Furlani,
2 CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE
conteúdo de água nas raízes, expresso em peso fresco, varia de 71 a 93%, dos ramos de 48 a
94%, das folhas de 77 a 98% e dos frutos entre 84 e 94%. A presença de elementos químicos
nas cinzas de uma planta não é um indicador das necessidades quantitativas e qualitativas dos
diferentes elementos químicos para uma planta fotoautotrófica, como demonstraram Arnon &
Stout (1939), utilizando cultivos hidropônicos. Estes autores estabeleceram três critérios que
devem sem atendidos para que um elemento possa ser considerado como essencial:
Critério 2: Para que um elemento seja essencial, este não pode ser substituído por
Critério 3: O último critério que deve ser cumprido é que o elemento deve participar
seletiva limitada, de modo que podem absorver pelas raízes elementos minerais não essenciais
e/ou mesmo tóxicos. Assim, mesmo que um elemento possibilite melhorar o crescimento ou
um processo fundamental de uma planta, não se considera como essencial se não atender os
estas exigências e devem ser fornecidos às plantas para que estas germinem, cresçam,
Alguns elementos são classificados como benéficos para algumas plantas, como o
sódio (Na), selênio (Se), silício (Si) e cobalto (Co). Por exemplo, existem algumas espécies de
plantas de mangue que acumulam Na, já algumas plantas de deserto como Atriplex vesicaria e
Halogeton glomeratus que requerem sódio para o seu desenvolvimento, enquanto para a
necessário para a fixação do nitrogênio (N) por bactérias presentes nos nódulos das raízes de
Desta forma, os elementos requeridos pelas plantas podem ser classificados como
essenciais e benéficos, contudo, esta listagem atual pode ser ampliada, já que com o avanço
das técnicas analíticas, outros elementos exigidos em quantidades mínimas poderão ser
O conteúdo mineral dos tecidos vegetais é variável, dependendo do tipo de planta, das
meio e da idade do tecido entre outros. Por exemplo, uma folha madura provavelmente
contém uma concentração de nutrientes maior do que uma folha muito jovem. Por outro lado,
uma folha madura pode ter uma concentração de nutrientes maior do que uma folha velha,
devido ao processo de perda de minerais solúveis em água, ao ser lavado pela água de chuva
K, Ca, Mg e S e como micronutrientes os nutrientes B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn. Esta
solo.
Segundo Mengel & Kirkby (2001), sob o ponto de vista fisiológico é difícil justificar a
estes autores, a classificação dos elementos essenciais às plantas seguindo um critério que
estabeleceram uma classificação dos nutrientes em quatro grupos segundo estas características
(Tabela 2).
ARNON, D.I.; STOUT, P.R. 1939. The essentiality of certain elements in minute quantity for
EPSTEIN, E.; BLOOM, A.J. 2005. Mineral nutrition of plants: Principles and perspectives.
FURLANI, A.M.C. 2004. Nutrição mineral. In: Kerbauy, G.B. Fisiologia vegetal. Editora
MALAVOLTA, E. 1980. Elementos de nutrição mineral de plantas. Ceres, São Paulo. 254p.
MARSCHNER, H. 1995. Mineral nutrition of higher plants. 2th ed. Academic Press, London.
889p.
MENGEL, K.; KIRKBY, E.A. 2001. Principles of plant nutrition. 5. ed. Kluwer Academic,
Dordrecht. 849p.
PLOEG, R.R.; BÖHM, M.; KIRKHAM, M.B. 1999. History of soil science. On the origin of
the theory of mineral nutrition of plants and the law of the minimum. Soil Science Society of
EDÁFICO
Everaldo Zonta1; Felipe da Costa Brasil2; Silvia Regina Goi3; Maria Mercedes
Teixeira da Rosa4
consideradas como a “metade oculta” dos vegetais (Waisel, et al, 2002), com uma
razões para esta carência de dados são historicamente explicáveis pelas dificuldades
no campo, para o manejo das lavouras, que quando associado aos fatores
aplicações de pesticidas de solo, além das demais como, tratos culturais, densidade de
aplicados.
acumulados sobre sistemas radiculares, tanto básicos como práticos, obtidos nas ultimas
1996).
gênero Rhynia, que existiram durante o período Siluriano e Devoniano (há cerca de 354
a 435 milhões de anos). Eram plantas aquáticas sem sementes, não havendo
substrato, visto que a absorção de água e nutrientes era primordialmente processada pela
parte aérea, já que estas viviam em meio aquoso (Raven et al, 1996).
gerado pela respiração das plantas e microrganismos em materiais com contacto restrito
baixa difusão no solo evoluíram a pelo menos 400 milhões de anos atrás, como as
1996).
condução de água e nutrientes do meio externo até o caule. Funções estas, primordiais
raízes cumprirem outras funções, em parte moduladas pelo ambiente a que estavam
3. Anatomia Radicular
presença de parede celular envolvente, que mantém sua forma independente da célula
estar viva ou não. Agrupadas, estas estruturas compõem todo o vegetal desde suas raízes
até o pólen.
O ápice da raiz (Figura 3a) em crescimento é protegida pela coifa que consiste
células são produzidas. É freqüentemente coberta por uma grossa camada de mucilagem
também tem a função de proteção contra substâncias tóxicas do solo e funciona como
quelatos com certos nutrientes. À medida que novas células são produzidas, as células
da periferia da ponta da raiz são destacadas (Figura 3b). Quando a raiz para de crescer, o
ápice da raiz pode ser protegido por suberização das suas células externas. Essa
metacutinização, que é uma modificação das pontas das raízes dormentes por
3.2. Epiderme
primária, funciona como interface entre a planta e o solo. A parede celular de células da
aerênquima (Figura 2), com espaços intercelulares representados por grandes lacunas. O
aerênquima das raízes é considerado como um tecido que serve ao transporte de gases e
usualmente não possuem clorofila, mas acumulam amido. A camada interna do córtex é
uma exoderme.
3.4 Exoderme
mais externa do córtex, podendo, apresentar vários estratos celulares, cujas paredes
3.5 Endoderme
uma região que se estende completamente ao redor das células, nas paredes radiais e
(Figura 4).
Espessamento em “U” Estria de Caspary
– UFRRJ (2005).
muitas monocotiledôneas).
4. Morfologia Radicular
A maioria das plantas ramifica suas raízes a partir do eixo principal em eixos
laterais de ordens superiores. Essas diferentes ordens de raízes podem variar suas
crescimento secundário, duração, estruturas e adaptações. Essas variações por sua vez,
dentro da semente. Ela forma a raiz principal da plântula. Em certas espécies o embrião
é tão pequeno e imaturo, como nas micro-sementes de orquídeas, que a radícula não está
um curto período de vida e o sistema radicular é formado por raízes adventícias (Figura
(2003).
Figura 6. Morfologia de eixo radicular principal ou de raiz lateral. Modificado de Raven
A epiderme pode apresentar projeções que são os pêlos radiculares (Figura 7),
podendo ser curtos, longos, raros ou densos. Os pêlos radiculares são estruturas
– IB – UFRRJ (2005).
pois aumentam a superfície de absorção radicular. Resultados obtidos por Itoh & Barber
de alface, tomate e Salsola kali L.. A distribuição, densidade e comprimento dos pêlos
influenciada pelo suprimento de nitrato e fosfato (Foehse & Jungk, 1983). O etileno
quando este elemento é o fator limitante (Bates & Lynch, 2000; Bates & Lynch, 2001).
O crescimento dos pêlos radiculares é regulado por vários genes, como RHD2,
RHD3, RHD4 e T!P! (Aeschbacher, 1994). Esses genes podem codificar produtos que
feixes finos de microfilamentos no citoplasma, mas que não chegam à ponta do pêlo. No
microfilamentos podem se estender até a ponta, mas não são tão finos como no início do
(Walker & Downie, 2000). A estrutura básica de fatores “Nod” permite ao Rhizobium
leguminosarum bv. viciae entrar no pêlo radicular e os genes nod nodO ou nodE
muito rápidas para terem sido causadas pela transcrição de um novo gene e para síntese
LCO, ocorre um influxo de íons de cálcio dentro dos pêlos radiculares de Medicago
cultivadas, causando modificações nos pêlos radiculares. Azospirillum pode produzir “in
dos pêlos radiculares, estas poderiam modificar a expressão dos genes que codificam o
menos a iniciação, emergência dos primórdios da raiz e ativação dos meristemas das
laterais (Figura 8). Os primórdios crescem via divisão e expansão celular. A emergência
dos primórdios a partir das raízes parentais ocorre primariamente por expansão celular.
diante.
subseqüente crescimento das raízes laterais (Lloret & Pulgarin, 1992; Reed et a, 1998).
formação da raiz e da parte aérea e seu crescimento relativo. Segundo Wightman et al.
regulação da formação das raízes laterais, tendo ação inibitória em relação à emergência
das raízes laterais. Resultados recentes mostram que as citocininas (cinetina e trans-
alongamento da raiz lateral em arroz (Debi et al, 2005). Da mesma forma, em Lotus
Arabidopsis) não foi observado nas células em divisão nos primórdios das raízes
laterais, mas foi observada alta expressão nas etapas seguintes da formação da raiz
lateral (Lohar et al. 2004); estes autores observaram também a expressão do ARR5 nos
estaria controlada por fatores de estímulo localizados na parte aérea (Atzmon et al 1994)
A B
Traqueídes
Raiz Lateral
Raiz Lateral
Endoderme
Xilema
dos tecidos vasculares, próximo ao câmbio. Portanto a nova raiz aparece próxima ao
xilema e floema.
que iniciam a formação de raízes laterais a partir do periciclo de raízes jovens. Antes da
LRP1, que em raízes laterais foi mostrado como desligado antes da emergência do
& Kende, 1983) e a expressão das ciclinas sugerem que o etileno atua sistematicamente
(Lorbiecke & Sauter, 1999). Recentemente isolado, o gene que controlaria a iniciação
dos primórdios de raiz adventícia em arroz: ARL1 seria um gene responsivo a auxina e
etileno. ARL1 estaria envolvido na diferenciação celular mediado pela auxina e promove
canais de ar (lenticelas), para troca gasosa com a atmosfera e existe uma via interna para
distribuição de O2 dentro da raiz, para suprimento das raízes submersas. Ainda, as raízes
adventícias do tipo escora, com espinhos, como as de Pandanus sp, que servem como
suporte mecânico à planta, seriam também uma outra especialização (Figura 5).
C
A D
albus; b) Hakea sp; c) Lupinus sp e d) Imagem obtida por endoscopia de solo. Diâmetro
essas raízes são espécies pioneiras e muitas não se associam com micorrízas ou exibem
nutrientes.
única via. A formação das raízes em cluster parece ser induzida pela diminuição da
(Neumann & Martinoia, 2002). Existem evidências fortes de que ocorram mudanças
Martinoia, 2002).
eventos que ocorrem na rizosfera, serão referenciados nos próximos capítulos. O termo
rizosfera foi introduzido por Hiltner em 1904, e é a zona de influência das raízes, que
vai desde a sua superfície até uma distância de 1 a 3 mm. Entretanto, atualmente, outros
autores em trabalhos mais recentes, consideram uma distância de até 5 mm. A sua
extensão varia com o tipo de solo, espécie considerada, idade e muitos outros fatores,
mas assume-se que esta se estenda a partir da superfície da raiz (rizoplano) até poucos
mesmo tempo, que este espaço pode ser alterado pelo sistema radicular.
e das barreira existentes nos tecidos radiculares, que podem acelerar ou reduzir a
raiz - considerando a rizosfera - ao interior das plantas, ocorre em dois espaços distintos
tem funções mais numerosas, e que os nutrientes simplesmente não apenas atravessam o
apoplasto, mas podem ser adsorvidos ou fixados na parede celular, por exemplo, com
algumas plantas à toxidez por metais (Al, Mn). Este espaço pode ser colonizado por
(Sattelmacher, 2001).
(com água e gases), sendo as suas bordas externas formadas pela superfície do rizoplano
Caspary, onde uma camada mais ou menos suberizada pode apresentar maior ou menor
barreira, porém, não totalmente impermeável, ao movimento radial da água e íons nos
íons não representa uma barreira absoluta. Esses autores verificaram que alguns íons
apoplástico significativo pelas regiões onde o surgimento das raízes laterais rompe a
barreira endodérmica.
de todas as células vivas. Muitas vezes faz-se referência ao simplasto como uma
células adjacente (Taiz & Zeiger, 2004), e ocorrem em uma densidade que pode variar
de 0,1 a 10,0 por µm2 (cerca de 20.000 por cada parede tangencial, ou 5×108
sendo que o movimento do íon se faz exclusivamente pela cavidade central. O papel do
solutos e outras substâncias, pois não parece existir espaço entre essas membranas para
tal fim.
constitui uma fração que está quimicamente ligada às partículas do solo, formando uma
película líquida, e não é utilizada pela planta devido a grande tensão de retenção. A
fração de água capilar, retida nos microporos, por sua vez é de extrema importância por
vegetal, a água se movimenta por difusão ou por fluxo de massa, e a partir daí, flui e
penetra pela camada epidérmica. Uma vez na superfície da raiz, a absorção e/ou
transmembranar), até atingir o cilindro central onde ascenderá pela planta para as
elevado potencial hídrico para zonas de baixo potencial hídrico. Um efeito típico, que
viabiliza este mecanismo, é a própria absorção ativa de íons (Capítulo 5 deste volume),
solução interna ainda mais hipertônica, diminuindo o potencial hídrico e causando mais
pela endoderme, onde pode haver dificuldade à sua passagem, mas não impedimento,
através dos pêlos radiculares, onde a água se movimenta pelo citoplasma, passando de
célula a célula, pelos plasmodesmos até o cilindro central. A rota transcelular (ou
membranas, via aquaporinas, descobertas na década de 90, que são canais seletivos para
água, regulados pelo seu estado de fosforilação, de modo que as células podem regular a
movimentação da água tende a ocorrer mais rapidamente através das regiões que
oferecem menor resistência à sua movimentação. Essas regiões variam de acordo com a
máxima absorção de água ocorre na região de diferenciação celular onde o xilema está
mecanismo apoplástico é ativado. Por fim, sob condições de déficit, o transporte trans-
2004). A velocidade de deslocamento de água pela via apoplástica pode ser cerca de 60
acontece da mesma forma que o descrito para a água, exceto para a rota
ficarem retidos nas cargas da superfície radicular (CTC radicular). Isso implica
seres vivos, sendo, porém esta capacidade das plantas, proveitosa para a “remediação”
imagina, não é totalmente livre, pois estas superfícies radiculares, em geral, apresentam
no xilema, sendo conduzido até o local específico de sua absorção, e, para participar
ativamente do metabolismo necessita ser reabsorvido (Taiz & Zeiger, 2004). É ainda
possam de uma ou outra forma retornar mais facilmente para os espaços intercelulares
Caspary permite à planta manter uma concentração iônica mais elevada em seus tecidos
superficial e da cinética de absorção, tal como mostra a equação (Williams & Yanai,
1996):
nutrientes, na medida que não integra efeitos importantes, tais como exsudação
(Fernandes & Rossiello, 1995). Entretanto ela tem sido extensivamente usada em
(Williams & Yanai, 1996). Por outro lado, a qualquer instante, a taxa de absorção
unidade de área radicular) pelo tamanho do sistema radicular (a sua área superficial
total).
Destaca-se ainda, que esses modelos avaliam o sistema radicular
caso, sabendo-se que as regiões mais novas da raiz tem maior capacidade
seu ápice e a sua base, já que apresentam anatomia e fisiologia semelhantes, variando
efluxo de prótons, o trabalho de Fan & Neumann (2004) mostra que a acidificação ao
hídrica, como mostrado na figura 12, e, a partir dos 6 mm, o ritmo é desacelerado,
Efluxo de H (nmol m s )
-1
12 TCR
-2
0,2
TCR Raiz (h )
-1
9
+
6
0,1
0 0
0 2 4 6 8 10
Distância do apice radicular (mm)
Taiz & Zeiger (2004) expõem claramente as diferentes linhas, onde alguns autores
consideram que os nutrientes sejam absorvidos somente nas regiões apicais dos eixos
a superfície radicular. Isto está, entretanto relacionado com a espécie estudada e com a
tecnologia adotada para estudar a absorção, que pode ser mais ou menos sensível a
de nutrientes pelas raízes em função da espécie estuda. Por exemplo, na cevada, o ferro
é absorvido mais intensamente na região apical, enquanto que no milho, a absorção do
mesmo elemento não tem tal diferenciação. Potássio, nitrato e amônio, na maioria das
na zona de alongamento que encontramos as taxas máximas de absorção. Taiz & Zeiger
(2004), explicam que uma possível maior absorção nas zonas apicais é resultado da
elevada demanda metabólica por nutrientes nestes tecidos. De qualquer maneira porém,
que estas células completaram seu alongamento, mas não iniciaram seu crescimento
A partir da zona de pelos radiculares, até o local onde surge a primeira raiz
lateral, tem-se uma área com absorção reduzida (onde acontece o crescimento
região pode ficar sujeita a fluxos intensos para o interior da planta de água, nutrientes,
quantidade equivalente de carga positiva deve ser deslocada para o espaço extracelular,
para evitar excessiva despolarização através da plasmalema, com efeitos lesivos para a
cátions de alta demanda metabólica como por exemplo NH4+ e K+. Isso ocasiona a
expressas por unidade de massa de raiz fresca ou seca, ou ainda por planta inteira
(França et al, 2005), porém uma estimativa mais apropriada para o efluxo instantâneo,
1 dU H +
EH+ = ⋅ ................................. ...............Equação 2
AR dT
dU H +
radicular através da qual prótons permeiam à solução segundo a uma certa taxa .
dT
dU H + ∆UH +
Na prática é aproximado por , mas mesmo assim a aplicação da
dT ∆T
(Zonta, 2003).
5.6 Exsudação radicular
solo, em suas mais diversas formas, independente da quantidade estocada nos seus
raramente excede 1% de peso seco (Nye, 1981) sob condições normais de crescimento.
Porém, essas taxas podem ser 2 a 4 vezes maiores sob condições de estresse, onde,
dependendo da espécie e condições ambientais, até 40% do carbono fixado pelas plantas
pode ser depositado diretamente na rizosfera (Zonta, 2003), o que significaria 5 - 25%
16 deste volume). Os ácidos orgânicos têm relação especial com a toxicidade por Al e
outros metais e com a nutrição da planta (Jones, 1998; Ryan, 2001), participando como
Além destes, uma grande quantidade de substâncias são exudadas pelas raízes, entre
elas podem ser citados: açúcares, compostos aminados, ácidos orgânicos, ácidos graxos,
de turgor nas células que se alongam é direcional, que deve ser suficientes para se
dia (Russel, 1977), enquanto que raízes de plantas em ecossistemas naturais podem
6.1 Rizocrescimento
através das atividades de seus meristemas, os quais continuam formando órgãos (raízes,
ramos, folhas, verticilos florais e frutos) ao longo de todo o ciclo de vida. Essa continua
formação de órgãos, parece ser uma adaptação das plantas à vida fixa em substratos,
permitindo que seu desenvolvimento seja ajustado às variações de água, luz e nutrientes
(plasticidade fenotípica).
meristemas radicular PERES & KERBAUY (2000). Como um todo, o sistema radicular
As raízes são órgãos heterotróficos das plantas (com exceção de alguns tipos
singulares, fotossintetizantes, como das orquídeas), e por tal motivo, os gastos com
fotoassimilado pode ser consumido pelo sistema radicular, sendo que metade deste em
fotossintatos são translocados de suas fontes até o sistema radicular através do floema, e
penetrar no apoplasto, podendo ser eventualmente exudados para o solo ou ser trocados
por íons.
fixado pela fotossíntese vá para a raíz, com 1/4 desse valor utilizado no crescimento, e o
simbiose com o Rhizobium, pelo menos 12% dos fotossintatos produzidos pela planta
cessa num período de 24 horas, quando 40-50% da parte aérea é removida, tanto em
relação à coroa da planta, ou seja, há maior partição de carbono para as raízes mais
raízes recém formadas (mais jovens) e portanto, mais próximas à superfície do solo,
profundidade e área radicular, apesar da raiz não ser um órgão colhido na maioria das
Um sistema radicular pode ser definido como um objeto que apresenta auto-
caótico.
A arquitetura radicular nada mais é primordialmente do que a forma
radicular, por sua vez, está contida no sistema arquitetônico radicular, e permite a
espécies (Lynch, 1995), onde a diversidade estrutural dos sistemas radiculares é vista
como uma adaptação para o desempenho mais eficiente das funções das raízes.
radicular é fundamental para a aquisição de recursos no solo (Miller et al., 1999). Sua
definição é muito complexa, por envolver vários aspectos, como taxa de crescimento,
ramificação, orientação e longevidade dos diferentes tipos de raiz (Bonser et aI., 1996).
planta em explorar recursos que estão mal distribuídos (Fan et aI., 2003), e a arquitetura
(1995) afirma não existir uma ferramenta quantitativa adequada que caracterize o
genética e da sua interação com vários fatores físicos, químicos e biológicos no solo,
(Mc Cully, 1999; Salcedo, 1999). O estudo desses aspectos, que relacionam a
extremamente específica (Bates & Lynch, 2000; Williamson et aI., 2001; López-Bucio
Outros valores podem ser derivados das características morfológicas das raízes,
como por exemplo, a utilização dos valores da área e do comprimento específico, obtido
pela razão entre a área ou o comprimento e a massa radicular, respectivamente (cm2 g-1
al., 2000).
a taxa de decréscimo relativo da DR (m-1) e “z” a profundidade (m) para solos de textura
homogênea, ou para diversas outras funções (Nicoullaud et al., 1994), com o objetivo de
se estudar a distribuição vertical das raízes em profundidade. O que pode ser feito por
classes de diâmetro.
ocupado e explorado do solo, quanto maior for o comprimento radicular total (Atkinson,
conta a influencia do diâmetro radicular e a distancia média entre raízes (França et al.,
1999). Outros estudos, ligados à produtividade primária, necessitam de dados sobre as
meio, maior o investimento em sistema radicular. Segundo TAIZ & ZEIGER (2004), a
habilidade das plantas em obter água e nutrientes minerais está relacionada à sua
Dittmer, que em 1930, examinou o sistema radicular de uma única planta de centeio
somados aos 300 m2 de área dos pêlos radiculares do sistema, faziam contato com 500
m2 de solo.
TAIZ & ZEIGER (2004), também destacam as raízes das plantas do gênero
alcançar a água subterrânea. Por outro lado, plantas cultivadas anualmente têm raízes
radicular atingiu 2,5 m por fitômero (unidade básica das gramíneas, constituída de de
fenotípica (López-Bucio et aI., 2002), sendo que as plantas que apresentam maior
outras.
A relação entre raiz e parte aérea é determinada pela diferença fisiológica entre
de fotoassimilados. As partes aéreas, por sua vez, são dependentes da absorção de água
e nutrientes pelas raízes. As atividades da parte aérea, bem como do sistema radicular,
são decisivas para definir a massa e o volume de ambos. As relações entre esses órgãos
radicular, tal como proliferação de raízes em sítios onde ocorre maior disponibilidade
6.7 Gravitropismo
gravidade, e faz com que uma planta colocada na horizontal, curve sua parte aérea para
cima e seu sistema radicular para baixo. Raízes em geral, apresentam gravitropismo
positivo, sendo que as raízes principais são orientadas mais verticalmente que as laterais
gravidade parece ocorrer na coifa, nos últimos milímetros da raiz. Essa resposta, uma
alteração no padrão de crescimento, que conduz à curvatura para baixo, ocorre na zona
possuem dois ou mais grânulos de amido e se localizam nas células da coifa da raiz
dessa região da raiz, provocando a curvatura da mesma (Evans et aI., 1986; Figura 14).
20 min.
120 min.
Existe ainda outra hipótese, onde o sinal que desencadeia a resposta seria
elétrico, ou eletroquímico, e não hormonal (Taiz & Zeiger, 2004). Essa hipótese
considera uma corrente elétrica simétrica ao longo do sistema radicular, quando esse
está na posição vertical. Quando as raízes são colocadas na horizontal, essa corrente
corrente elétrica. (Evans et aI., 1986; Salisbury & Ross, 1992). O fluxo de H+ estaria
refletindo o fluxo de cálcio para a parte basal da coifa, para manutenção do equilíbrio de
das raízes têm permitido aprimorar os conhecimentos sobre essa relação, através da
determinação da camada de solo a ser umedecida pela aplicação de água, assim como a
0,5
1,0
Raizes
Profundidade (m)
1,5
superficiais Raizes de
sustentação
2,0
2,5
Raizes-cordão
3,0
3,5
4,0
3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0
ramificadas responsáveis pela absorção da maior parte da água e dos nutrientes; Raízes
das três variedades variou de 0,50 a 0,69m, pois nesta profundidade foram encontrados
de 10cm de solo até 70cm de profundidade. Estes autores verificaram que as raízes finas
primeiros 20cm (Figura 16). Estes resultados revelam que a cuidadosa separação de
fração raízes finas contribuem significativamente não somente para o comprimento total
-3
Comprimento Radicular (m dm )
0 40 80 120 160 200
0
0,1
0,2
Profundidade (m)
Grossa
0,3 Média
0,4 Fina
Muito Fina
0,5
Total
0,6
0,7
Figura 16. Variação da densidade do comprimento radicular (Total; m dm-3) de
raízes, e pode estar relacionado com fatores bióticos, como exemplos, a influência da
etc.).
são observadas (Taylor, 1981; Materechera et al., 1991). As raízes não podem alterar o
diâmetro de seu ápice, para penetrar em poros menores à sua proporção tecidual
necessitam deslocar partículas minerais (areia, argila, etc.), para alongar e expandir seus
eixos radiculares.
diâmetro dos eixos radiculares, e, além disso, podem ocorrer alterações anatômicas
significativas como a relação entre a espessura do córtex e a espessura do cilindro
No entanto, a simples redução no alongamento dos eixos principais não pode ser
eixos laterais finos (secundários e de ordens superiores, com diâmetro < 0,8 mm) e
pêlos radiculares (diâmetro < 0,1 mm), que contribuem para o aumento significativo da
superfície específica radicular superficialmente (Dias Correia, 1986), o que pode ser
limitante em regiões com períodos prolongados de seca. Por esta razão, a profundidade
do mesmo.
cultivadas.
espacial dos diferentes componentes do solo”, e por isto ainda existe uma grande lacuna
e oxigênio que pode ser armazenada no solo e a velocidade com que são liberados para
as raízes das plantas. Desta forma, a porcentagem de espaços vazios no volume do solo
das raízes, pois esses fatores influenciam o ângulo de contato no qual a coifa encontra a
coifa-superfície do agregado é mais agudo. Por outro lado, a falta de ancoragem (apoio)
plântula encontra uma crosta superficial, em vez de emergir poderá ser empurrada para
baixo. Da mesma forma acontece com raízes, quando encontram superfícies duras, se a
camada acima não oferecer apoio suficiente ela não conseguirá penetrá-la, mesmo que
destas propriedades, pode sofrer modificações na sua porção superficial com o passar do
tempo, através de práticas de manejo como aração, tratos culturais, calagem, adubação,
características radiculares dos vegetais também pode ser alterada em função da variação
horizonte superficial, podendo muitas vezes o sistema radicular estar limitado às zonas
Os solos com textura homogênea (textura média a arenosa), ao longo de toda sua
conforme uma função exponencial decrescente (Brasil, 2001), o que pode ser alterado
do manejo do solo.
com camadas de adensamento, tal distribuição passa a ser afetada de forma bimodal,
coesos dos tabuleiros costeiros, estes apresentam normalmente uma redução grande da
salienta que esta redução, deve em grande parte, resultar da diminuição de macroporos
do horizonte compactado.
A distribuição horizontal de raízes também pode ser afetada, uma vez que é
a b
Brasil (2004).
apreciáveis de bases permutáveis das camadas superficiais dos solos. Tão generalizada é
presença de Al+3 a níveis tóxicos para a maioria das plantas cultivadas, é um dos
principais fatores que limitam a produção agrícola (Ma et al., 2001) (Figura 19).
Figura 19. Efeito do conteúdo de Al+3 no desenvolvimento de plântulas de arroz,
características que pode variar entre espécies tolerantes e sensíveis, em diferentes graus
(Kochian, 1995). Este cátion, quando em contato com as raízes, promove rapidamente a
ápice das raízes, onde as células estão entrando em fase de alongamento, é o sítio da
Ainda, o Al+3, atua fixando fósforo em formas menos disponíveis nas superfícies
das raízes, diminuindo a respiração desta, além de interferir na atividade das enzimas de
nutrientes essenciais (Ca, Mg, K, P e Fe), entre outros efeitos diretos e indiretos (Nichol
& Oliveira, 1995). Em síntese, plantas afetadas por Al também apresentam sintomas de
deficiência de nutrientes, tais como P, Ca, Mg, K e Mo, devido à interferência do Al nos
processos de absorção, transporte e uso destes nutrientes. Tais deficiências
et al., 2000). Esse assunto será melhor discutido no capitulo 16 neste volume.
sido relatada por alguns autores. Os resultados demonstram que estas substâncias podem
das membranas (Capitulo 4 neste volume), com isto tornando-o mais eficiente nos
Tomando-se como exemplo solos Cauliniticos (Ki e Kr > 0,75 ) e solos Oxídicos (Kr <
químicas dos solos e de suas interações com o crescimento radicular das culturas. Como
Latossolos tenham propriedades físicas mais favoráveis que os Argissolos, devido a seu
acentuados, tais como: pH, alumínio, baixo conteúdo de matéria orgânica, baixa CTC,
7.1. Micorrização
maneira geral, a rede de Hartig é distribuída ao redor das células corticais e a manta de
fungos pode envolver a raiz como uma bainha. A infecção não se espalha em tecidos
(Marx & Krupa, 1978). Brundrett (2002) sugere que pressões de seleção causaram
plantas não micorrizadas possuem tendência a ter raízes finas, com mais pêlos
Existem plantas que parecem ter raízes curtas quando em associação com fungos
raízes micorrizadas da espécie arbórea bétula (Betula alleghaniensis) são mais grossas
que as raízes da mesma ordem não micorrizadas, dado à manta de hifas na superfície
pela colonização com o fungo, bem como a bifurcação das raízes curtas (Reid, 1990). A
radiculares em leguminosas (Capitulo 9 neste volume). Esses nódulos são estruturas que
apropriado (Sprent & Sprent, 1990) ou Burkholderia (Chen et al 2005) e que suprem a
por espécie, sendo que E. saligna prefere temperaturas mais elevadas e E. globulus,
fotossíntese para a matriz do solo, tem sido considerada a principal força propulsora na
manutenção da qualidade do solo. Tais produtos são representados pelo tecido radicular
tracionamento do solo (Silva & Mielniczuck, 1997). Durante seu crescimento, exercem
solo nas regiões mais próximas à superfície radicular. Paralelamente a absorção de água
(partículas < 250 µm), e sua aglutinação em unidades maiores (Figura 20). Ao lado
desta atividade, que ocorre enquanto o sistema radicular está em crescimento, a matéria
1999).
Figura 20. Diagrama esquemático de um microagregado. Adaptado de Haynes & Beare
IA - UFRRJ (2006).
macroagregados do solo (Figura 21). Porém, a ação das raízes finas (< 800 µm) e dos
tanto pelo seu arranjo tridimensional (distribuição espacial, vertical e horizontal), que
mais efetiva na gênese e estabilidade dos agregados do solo (Haynes & Beare, 1996;
Mielniczuck, 1999).
Figura 21. Diagrama esquemático de um macroagregado de solo. Adaptado de Haynes
& Beare (1996) por Orlando Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de Solos –
IA - UFRRJ (2006).
radicular, uma análise comparativa pode ser feita, quando da dinâmica (crescimento e
renovação) de um sistema radicular denso, bem desenvolvido e atuante por vários anos
no mesmo local, como por exemplo o das gramíneas forrageiras perenes, verificamos
radicular é menos desenvolvido e atua por curtos períodos de tempo no solo (Silva &
Mielniczuck, 1997).
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do Rio de Janeiro. Instituto de Agronomia. 139 pag. 2003.
CAPÍTULO 3
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Solos, Seropédica,
Itaguaí, RJ, CEP 23851-970, Brasil.
Berbara@ufrrj.br
2
Embrapa Agrobiologia, BR-23851970, Seropédica, Seropédica, Itaguaí, RJ, Brasil.
3
Centro de Biologia Celular, Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro, 3810-
193, Aveiro, Portugal
1
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 88
2. EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO.................................................................... 91
3. CARACTERÍSTICAS GENÉTICAS E MORFOLÓGICAS ............................. 101
3.1 ASPECTOS GENÉTICOS...................................................................................... 101
3.2 MORFOTIPOS........................................................................................................ 103
4. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA .......................................................... 108
6. MICORRIZAS E A DINÂMICA DO CARBONO .............................................. 115
6.1 GLOMALINA.......................................................................................................... 119
4 7. NUTRIÇÃO MINERAL ...................................................................................... 123
8. MANEJO DE FMA .................................................................................................. 130
9. CONCLUSÕES........................................................................................................ 132
10. REFERÊNCIAS .....................................................................................................134
2
1. INTRODUÇÃO
“Plantas não têm raízes, elas têm micorrizas”. Esta sentença foi proferida décadas
atrás por J. L. Harley com o intuito de alertar ecologistas e biólogos para o fato de que, em
mico [fungo] e riza [raiz]. Indo além das relações funcionais que se estabelecem entre
plantas e estes fungos, van der Heijden & Sanders (2002) enfatizaram que “associações
sucessão de plantas bem como na hipótese de que a evolução de plantas terrestres ter sido
dependente da presença desta simbiose (van der Heijden et al., 1998a; 1998b; Kiers et al.,
2000; Klironomos et al., 2000; Allen et al., 2003; Cairney 2000; Brundrett 2002).
sendo algumas delas muito específicas, encontradas em apenas algumas famílias de plantas
detalhes destes tipos ver Siqueira (1996). Este capítulo irá enfatizar as micorrízas
arbusculares, em particular devido ao seu caráter ubíquo, seu papel vital para a
80% das famílias de plantas são formadas por espécies que formam micorrízas arbusculares
3
ecossistemas terrestres (Siqueira & Franco, 1988). A simbiose micorrízica arbuscular é a
mais ancestral dentre todos tipos de micorrízas conhecidas. Evidências fósseis indicam que
estruturas miceliais e esporos similares a dos atuais fungos arbusculares (FMA) (Redecker
pteridófitas e briófitas formam associação com FMA (Smith & Read 1997). Além disso, é
provável que eles sejam os fungos de solo mais abundantes na maioria dos ecossistemas
tropicais, principalmente nos sistemas agrícolas, onde eles podem representar quase que
50% da biomassa microbiana (Olsson et al., 1999). Devido a esta ubiqüidade, esta simbiose
tem sido considerada a mais importante dentre todas as que envolvem plantas. Esta
associação. Ela é considerada como sendo mutualista nutricional, onde a planta supre o
fungo com energia para crescimento e manutenção via produtos fotossintéticos, enquanto
que o fungo provê a planta com nutrientes e água. Neste sentido, esta simbiose amplia a
positivamente à inoculação com fungos MA, dentre elas café, soja, milho, batata-doce,
contribuição dos fungos MA sobre a nutrição fosfatada de plantas está amplamente aceita e
4
fungo vão muito além da nutrição de plantas individualizadas pois eles também contribuem
distintas. Neste sentido a maioria das plantas estão interligadas por uma rede de hifas
micorrízicas comum, durante alguma fase do seu ciclo de vida (Newman 1988). As
vegetais sugere que ela seja elemento importante na definição da sucessão vegetal
Como decorrência desta imensa quantidade de hifas produzidas por FMA, existe
al., 1998). Esta função é significativa por que a estruturação do solo modifica a capacidade
Breemen et al., 2000). Como consequência, existem evidências de que FMA colaboram no
aos processos de mudança climáticas (Leake et al., 2004). Estas características fazem com
ultrapassa seus impactos sobre a nutrição mineral de plantas, uma vez que por mais
importante que eles sejam, aspectos relevantes estão por serem desvendados. Considerações
básicas são também abordados de forma a possibilitar a leitura por um público mais amplo.
5
2. EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO
Fungos MA, sem exceção, são simbiontes obrigatórios: eles dependem da simbiose
com plantas compatíveis para sua multiplicação. Além disso, não existem evidências
puramente assexuada, por centenas de milhões de anos (Rosendahl et al., 1997; Sanders
2002). No entanto sabe-se que organismos que se multiplicam clonalmente por longos
pela análise de seqüências de DNA indicando que estes fungos desenvolveram mecanismos
Quanto à origem desta simbiose, sabemos pelo estudo de fosseis, que o surgimento
das plantas na superfície terrestre ocorre entre 460-500 Mi de anos (Figura 1). enquanto a
divisão Glomeromycota (que contém todos os fungos MA) já era encontrada aos 600 Mi de
Ordoviciano (Redecker et al., 2000a) (450 milhões de anos). Especula-se portanto que estes
fungos foram fundamentais para a conquista de ambientes terrestres pelas plantas (Simon et
plantas não vasculares), sugere a possibilidade desta associação ter evoluído de ambientes
aquáticos uma vez que as primeiras plantas terrestres encontraram um ambiente inóspito
para seu desenvolvimento, ressecado e infértil (Pirozynski & Malloch, 1975). Além disso,
6
suas raízes eram desprovidas de pelos radiculares ou ramificações. Eram estruturas
hepáticas (Malloch et al., 1980; Raven & Edwards 2001). Assim, como essas plantas
apesar da origem da associação ser ainda matéria em debate, não se discute o papel central
7
Figura 1 – Fóssil de fungo micorrízico, indicando suas vesículas, associado
simbioticamente à Aglaophyton, Rhynia e Nothia, plantas vasculares. As vesículas
provavelmente se desenvolviam em esporângias. (da página:
http://www.xs4all.nl/~steurh/engrhyn/eglomit2.html, um excelente local para
buscas sobre vegetação fossilizada).
fungo Geosiphon pyriformis e cianobactérias tem sido apontada como sendo uma das
de fósforo e o papel regulador deste elemento sobre a simbiose. Além disso, a filogenia
molecular confirma a relação evolutiva entre estes simbiontes (Schüßler et al., 2001).
8
interesse da simbiose micorrízica para além das plantas vasculares e briófitas (Schüßler et
al., 1996).
suprem o fungo com carbono (fixado via processos fotossintéticos pelo simbionte
autotrófico), enquanto fungos provêm às plantas de nutrientes (Moreira & Siqueira, 2002).
Após penetrar a parede celular, a hifa se torna extremamente finas, com diâmetro menor
que 1 µm que se ramifica profusamente, formando uma matriz de troca com a plasmalema
Hifas extraradiculares por sua vez, são mais eficientes que raízes na captura de
nutrientes por serem estruturas extremamente longas e finas (Figura 2). Em associações
aos 1-2 mm de extensão média das radicelas). Por serem finas, com cerca de 2 µm de
diâmetro, hifas arbusculares podem explorar volumes do solo inatingíveis por estruturas
9
100-500 µm). Portanto hifas são capazes de absorver os elementos minerais, como uma
10
Figura 2 – Fotografia e diagrama de hifas extraradiculares penetrando em raiz de trevo.
Note a dimensão da hifa em relação ao pelo radicular. Barra 1mm
fungos micorrízicos percebe-se que todo Pi é em geral absorvido por hifas (Nielsen et al.,
2002). O transporte para as raízes entretanto não é total devido ao movimento bi-direcional
observado em hifas permitir seu deslocamento para drenos do próprio fungo. Neste estudo,
11
Figura 3 – Cultura em placa Petri de Lunularia cruciata (L.) Lindb. em simbiose com o
Glomus proliferum Dalpé & Declerck. Vista inferior do talo da hepática mostrando
extensa proliferação de hifas e esporos (ver detalhe no canto superior esquerdo).
Barras 50 µm. Fotografia Fonseca & Berbara, não publicada.
Como FMA dependem do hospedeiro para sua própria existência, não existe dúvida
obrigatório advém do fato de que, ao longo de sua evolução, estes organismos perderam sua
fonte de compostos orgânicos (Gadkar et al., 2001). No caso das plantas, entretanto, existe
uma faixa grande de resposta à simbiose. Espécies vegetais têm sido classificadas quanto à
1997).
12
O caráter facultativo pode ser observado em condições de solo com alta
simbiose é inibida através de mecanismos genéticos controlados pela planta (Lambais &
Mehdy, 1998; Lambais, 2000; Lambais et al., 2003). Neste caso o hospedeiro perde C ao
decumbens. Esta espécie é adaptada a solos com baixos níveis de nutrientes disponíveis. B.
em situações onde a fertilidade é baixa. Elas em geral apresentam um sistema radicular bem
completar seu ciclo (Amijee et al., 1993; Peng et al., 1993; Johnson et al., 1997). Plantas
13
disponibilidade de nutrientes. Como exemplo temos a leguminosa arbórea nativa da região
encontrada com frequência em espécies nativas de solos de baixa fertilidade natural como
em boa parte dos solos brasileiros (Siqueira & Saggin-Junior, 2001). Nestes solos,
ausência da MA, como mandioca e batata-doce (Sieverding, 1991; Paula & Siqueira, 1992).
14
CNPAB5 em diferentes níveis de adubação com fósforo. No painel superior plantas
não inoculadas e inferior plantas inoculadas. Esta leguminosa apenas se desenvolve
na ausência de fungos MA quando a disponibilidade de P é alta, que não ocorre
naturalmente nos solos da região amazónica. (Teles, de Souza e Faria, não
publicado).
desenvolvido com muitas raízes finas e pelos radiculares. Apesar disso, são plantas ruderais
epiderme, o que não conseguem (Allen et. al., 1989). Provavelmente existem dificuldades
estruturais, ou defesas químicas que impedem a colonização uma vez que o fungo consegue
Caryophyllaceae e Brassicaceae.
espécie de fungo inoculada, para uma mesma planta a resposta pode variar desde levemente
negativa até altamente positiva (Sieverding, 1991). Assim, por parte do simbionte
micorrízas são associações simbióticas porém nem todas mutualistas. A dinâmica entre
mutualismo e parasitismo na simbiose micorrízica, por sinal, tem sido apontada como um
ecossistemas naturais (van der Heijden et al., 1998a; van der Heijden et al., 1998b); van der
Heijden and Kuyper 2003). Como resultado destes múltiplos níveis de dependência da
15
planta ao fungo micorrízico, a associação acaba por influenciar na modelação da estrutura
como de alterações climáticas como as causadas por precipitações ácidas e ricas em óxidos
de N (Jeffries & Barea 2001; Corkidi et al., 2002). Voltaremos a estes temas no item 5.
Provavelmente estes fungos seguem um ciclo reprodutivo assexual (Rosendahl & Taylor,
1050 µm em diâmetro (Perez & Schenck, 1990). Os esporos são multinucleados e podem
haplóide havendo controvérsias sobre o seu caráter homo ou heterocariótico (Hijri &
Sanders, 2004; Hijri & Sanders, 2005; Pawlowska & Taylor, 2004). Ambas situações
16
vegetativa. Este processo resulta em um micélio contendo núcleos geneticamente distintos
núcleos diferentes se fundem formando um núcleo diplóide o qual, para retornar à condição
haplóide, devem sofrer perdas cromossomais (Schardl & Craven, 2003). Recentemente,
foram encontradas (de Souza et al., 2005a). Além disso outros estudos de recombinação já
tinham sido relatadas (Pawlowska & Taylor, 2004) indicando que estes fungos apesar de se
castanea (Hijri & Sanders, 2004; Hijri & Sanders, 2005). Todas as espécies estudadas
17, 37, e 795 Mb. A grande diferença entre o tamanho do genoma das espécies de Glomus
intraradices está sendo seqüenciado, resultados preliminares indicam que o fungo apresenta
17
3.2 Morfotipos
& Schenck, 1990). Septos quando presentes indicam que o micélio esta senescente. Apesar
morfologicamente em apenas dois tipos: o Paris e o Arum. Estes termos advém do fato do
primeiro grupo ter sido reconhecido há cerca de 100 anos, na espécie vegetal Paris
quadrifolia enquanto o segundo em Arum maculatum (Dickson 2004). No tipo Arum a hifas
formando estruturas finas e muito ramificadas nas células, os arbúsculos (Figura 6). No tipo
(Figura 7). As estruturas arbusculares são similares para ambos os morfotipos enquanto
deslocamento de fosfato ao hospedeiro. Ao que parece, estas estruturas são definidas pela
planta (Gerdeman, 1965; Bedini et al., 2000; Ahulu et al., 2005; van Aarle et al., 2005)
apesar de Cavagnaro et al. (2001) terem observando a mesma espécie vegetal, mas
colonizada por 6 diferentes espécies de FMA, formava tanto arbúsculos do tipo Arum como
Paris.
18
Figura 6 - Colonização tipo Arum hifas se desenvolvem intercelularmente, de maneira
linear e longitudinal ao longo do espaço cortical formando estruturas finas e muito
ramificadas nas células, os arbúsculos (Fotografia gentilmente cedida por Dr. Larry
R. Peterson, University of Guelph, Canada).
Figura 7 - Colonização micorrízica tipo Paris com hifas mais grossas, enovelam-se
intracelularmente (Fotografia gentilmente cedida por Dr. Larry R. Peterson,
University of Guelph, Canada).
19
Diversos levantamentos têm registrado que espécies anuais e a maioria das perenes
apresentam morfotipo Arum, como no extenso levantamento realizado por Santos et al.,
(2000) com monocotiledoneas da Região Nordeste do Brasil. Sugere-se portanto que este
tipo esteja mais presente em espécies vegetais de rápido crescimento pelo fato destas
(Brundrett and Kendrick 1990). Assim, FMA seriam capazes de acompanhar o crescimento
das raízes com um elevado custo energético para estas. Plantas com taxas de crescimento
peregrina, o angico do cerrado (Gross et al., 2004). O mais provável é que ocorra um
continuum nas estruturas fúngicas de Arum para Paris em uma mesma planta (Dickson
2004). Como pouco se conhece dos aspectos funcionais envolvidos em ambos os tipos,
20
10
te
8
en
ist
rs
Pe
Tipo de crescimento
Tipo:
Número de plantas
lia
fó
Arum
ci
du
Ca
4 Paris
ne
Intermediário
re
Pe
2 Ausente
al
nu
A
0
Pioneiros Sucessão Sucessão 0% 20% 40% 60% 80% 100
inicial tardia %
impacto das FMA sobre o volume do solo varia principalmente com as características
radiculares e de textura do solo sendo que raízes mais finas tendem a induzir maiores
observou-se 14 metros de hifas (m) de FMA . g solo-1 mas apenas 1 m hifas . m de raiz
colonizada-1. Por outro lado, raízes de Trifolium repens (leguminosa – trevo, com raízes
21
maiores valores de hifas em solos sob pastagem bem conduzidas onde a perturbação é
Figura 9 – Raiz de Trifolium repens colonizada por Gigaspora margarita. Barra 250 µm.
(fotografia de Souza, não publicada).
de fungos saprofíticos, os resultados obtidos são incertos variando de 30-8000 m hifas . m-1
al., 2001). De qualquer forma, pelas características do fungo ectomicorrízico que graças a
22
4. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA
Gerdemann & Trappe (1974) propuseram a primeira classificação dos fungos MA. Estes
cladística para analisar parâmetros morfológicos e formular uma nova classificação, onde
os fungos MA foram reclassificados em uma nova ordem chamada Glomales, composta por
duas sub ordens Glominea e Gigasporineae. Esta ordem excluía o gênero Endogone que
dos fungos MA. Em 1998, Cavalier-Smith criou a classe Glomeromicetos para englobar os
fungos MA dentro do filo Zigomicota. Morton (1999) lançou uma hipótese na qual os
sub unidade menor do gene ribossomal (SSU rDNA), verificaram que seqüências
Estes autores reclassificaram então todas as espécies descritas como Sclerocystes para o
gênero Glomus (Morton et al., 2000). No ano seguinte, Morton & Redecker (2001)
(SSU rDNA). Estas famílias são consideradas linhagens ancestrais dos fungos MA. No
23
mesmo ano, Schwarzott et al. (2001) propuseram, com base na análise filogenética de
seqüência do SSU rDNA, a polifilia do gênero Glomus, o gênero com maior número de
espécies descritas. Estes autores agruparam as espécies do gênero Glomus em três grupos
gênero Diversispora (Walker et al., 2004) Ainda em 2001, Schüβler e colaboradores (2001)
propuseram, com base na análise filogenética de seqüência SSU rDNA, a criação do filo
(Tabela 1). Esta análise confirma que os fungos MA formam um grupo monofilético e
& Sieverding, 2004) com base em uma nova descrição da espécies Glomus scinthillans e da
Diversisporales que foi criada exclusivamente com base na análise filogenética do SSU
rDNA. Ela indica que características ligadas à presença de paredes flexíveis e estrutura de
análise indicou que para algumas espécies o padrão morfológico não coincide com o
24
molecular, ou seja, espécies com padrão de paredes similares agruparam separadamente na
análise molecular. Este resultado sugere que apesar destas características morfológicas
serem úteis para diferenciar espécies os agrupamentos feitos com base nestes critérios
podem não ser adequados para reconstruir a filogenia deste grupo (de Souza et al., 2005b).
Por outro lado, a análise filogenética baseada em um só gene também deve ser
analisada com cuidado, visto que a evolução de genes nem sempre segue o processo de
especiação. No caso dos fungos MA a análise de outros genes como beta tubulina (Corradi
et al., 2004), fator de elongamento alfa 1 (Helgason et al., 2003), tem comprovado o caráter
monofilético dos fungos MA, mas a posição do grupo ainda continua incerta. A análise
parcial do Fator de elongamento 1 alfa aponta os Zigomicota como grupo irmã (Helgason et
al., 2003). Já Corradi e colaboradores verificaram que pela análise dos genes da Beta
engloba linhagens ancestrais dos fungos. Atualmente o projeto AFToL (Assembling the
Fungal Tree of Life, Lutzoni et al., 2004) está sequenciando um conjunto de genes
25
Tabela 1. Ordens, famílias e gêneros pertencentes à divisão Glomeromycota e distribuição
de espécies por gênero.
Número de
Ordem Família Gêneros espécies
descritas *
Diversisporales Diversisporaceae Diversispora 3
Gigasporaceae Gigaspora 7
Scutellospora 32
Pacisporaceae Pacispora ** 7
Acaulosporaceae Acaulospora 33
Entrophospora 5
Glomerales Glomeraceae Glomus *** 104
Archaeosporales Archaeosporaceae Archaeospora 3
Geosiphonaceae Geosiphon**** 1
Paraglomerales Paraglomeraceae Paraglomus 2
Total: 4 8 10 197
(*) O número total de espécies inclui sinonímias.
para acomodar espécies semelhantes à Glomus, bem como novas espécies que partilham
et al., 2004). Pacispora foi descrita na família Glomeraceae (Oehl & Sieverding, 2004), e
(Schwarzott et al., 2001). Glomus grupo C pertence agora ao género Diversispora, ordem
Diversisporales.
26
(****) Geosiphon não forma micorriza arbuscular. Esta espécie estabelece simbiose
micorrízica.
A taxonomia molecular tem sido muito útil para elucidar a filogenia dos fungos MA
ao nível de sub-gênero ou níveis superiores. No entanto, pouco tem sido feito para a
fungo em cultura pura. O sistema tradicional de vasos de cultivo não garante a ausência de
contaminantes em esporos que podem ser de outros fungos como Ascomicetos (Schüβler,
1999; Fonseca et al., 2001) ou mesmo outros fungos MA. Além disso, várias bactérias são
Recentemente esta característica foi utilizada para diferenciar espécies ou até isolados do
gênero Gigaspora, parece ser promissora para diferenciar espécies de outros gêneros
27
Figura 10 – Identificação de espécies de Gigaspora através da diferenciação do
polimorfismo inter e intra específico entre cópias do rDNA pela técnica do PCR-
DGGE (Denaturing Gradiente Gel Electrophoresis). Dendrograma mostrando a
similaridade (Jaccard - UPGMA) entre perfis de bandas de PCR-DGGE de 48
estirpes de Gigaspora e dois perfis divergentes encontrados em esporos das culturas
das estirpes Gi. albida CL151 e Gi. margarita UFLA36. A escala indica a
similaridade entre os perfis de bandas, e linhas tracejadas indicam separação entre
os grupamentos principais, barra nos grupamentos indica faixa de erro. Números
indicam o fator cofenético de correlação (Modificado de Souza et al., 2004).
5. Fungos MA como determinantes da diversidade de plantas
28
Estudos conduzidos em condições controladas indicam que a resposta em
espécie vegetal e a estirpe do fungo utilizada, bem como das condições ambientais
destas variáveis, em condições naturais onde mais do que uma espécie de fungo coloniza
Planta A Planta B
Fungo a Fungo b
Figura 11 - Coexistência hipotética entre duas espécies de plantas, uma com folhas escura
(A) e a outra com folhas claras (B). O fungo a favorece o crescimento da planta A
que passa a dominar a comunidade vegetal. Assim manejos que favoreçam a
manutenção do fungo a promoverão a exclusão da planta B (Modificado de van der
Heijden 2001).
29
Um experimento clássico conduzido em microcosmos por Marcel van der Heijden e
diversidade fúngica resultaram também em maior diversidade de plantas (van der Heijden
et al., 1998a).
Em síntese, fungos micorrízicos arbusculares causam impactos que vão desde suas
C e agregação do solo, conforme ainda enfatizaremos neste capítulo. Assim, percebida não
apenas na perspectiva da planta, mas do solo em suas múltiplas relações, MA são hoje
ecossistemas de todo o planeta (van der Heijden et al., 1998a; van der Heijden et al.,
terrestres sendo um dos elementos reguladores dos fluxos de gases entre a biosfera e a
30
indicadores utilizados para determinar-se a eficiência deste processo é a biomassa
adicionada, clima e fatores edáficos. Não por acaso, as mesmas variáveis que regulam a
sua direta influência sobre: (a) a produtividade primária graças ao seu impacto na absorção
de nutrientes e água por plantas; (b) a estabilidade de agregados do solo e; (c) por sua
imensa biomassa e produção de Glomalinas (Zhu & Miller, 2003) proteínas de alta
estabilidade produzida por hifas de FMA conforme discutido no próximo item. Apesar do
impacto evidente, poucos são os estudos, em especial em sistemas tropicais, sobre o papel
destes organismos no ciclo do C. Fungos micorrízicos são fontes (graças a sua respiração e
a de aumentos na taxa respiração da raiz colonizada) ou, bem mais provável, dreno (devido
de C da atmosfera? Em qual escala e como este balanço pode ser mediado pelo ambiente e
manejo?
Estudos diversos usando 14C têm demonstrado que fotossintetatos são deslocados da
parte aérea às hifas poucas horas após este elemento ter sido marcado (Bucking & Shachar-
Hill, 2005). Estes resultados confirmam que FMA são dreno importante de C da planta
podendo impor perdas de até 20% do C fixado pelo simbionte autotrófico. Como resposta
dreno de C da atmosfera (Jakobsen et al., 2002). Estima-se que, globalmente, FMA possam
31
ser responsáveis pelo dreno anual de 5 bilhões de toneladas de C aos solos (Bago et al.,
2000). As consequências deste fenômeno são ainda desconhecidas, seja nas propriedades
do solo, seja em escala global, nas relações referentes às mudanças globais e o papel desta
da atmosfera para o solo, via planta, por terem acesso direto à fontes de carbono da planta.
praticamente ilimitadas, desde que haja plantas metabolicamente ativas sendo colonizadas.
Esta vantagem competitiva lhes confere uma significativa parcela da biomassa microbiana
presente no solo (Bago et al., 2000; Graham 2000). Entretanto, alguns métodos tradicionais
substrato não conseguem detectar essa imensa contribuição micorrízica por duas razões:
técnica da respiração induzida (Anderson & Domsch, 1978) é aplicada à amostras de terra
“indução” por adição de sacarose ao substrato é indiferente ao fungo uma vez que este é
incapaz de mobilizar açucares que não sejam os deslocados por plantas. Desta maneira,
como FMA não conseguem mobilizar fontes externas de açucares, sendo dependentes
32
Os métodos de fumigação Voroney & Winter (1993), da mesma forma, apenas
conseguem detectar a atividade de FMA se as análises forem realizadas após poucas horas
da coleta.
biológica do solo. Apenas hifas extraradiculares podem contribuir com até 30% da
biomassa total do solo em sistemas agropastoris (Hamel et al., 1991; Miller & Kling, 2000;
parte do C transferido ao fungo retornar à atmosfera via respiração, cerca de 25% deste C
pode ser acumulado apenas no micélio extraradicular o qual pode representar 90% da
biomassa de hifas do FMA (Olsson et al., 1999). O micélio intraradicular por sua vez,
corresponde a 3-20% do peso das raízes (Smith & Read, 1997). Considerando-se a
superiores a 70 m de hifas por grama de solo já foram registrados em solos sob pastagem.
Em solos tropicais estes valores são em geral menores (30-50 m hifas g-1 solo) talvez
devido à maior taxa de ciclagem ou acidez (van Aarle et al., 2002; 2003). Considerando-se
(Rillig et al., 2002), correspondendo a 0,03 – 0,5 mg g-1 em peso seco de hifas extra-
33
tonelada ha-1, considerando-se os 20 cm iniciais do perfil. Ainda mais, se o solo não for
perturbado e os agregados mantidos intactos, a meia vida de hifas, ricas em quitina, uma
2001).
incorporados nos estudos de sua ciclagem. Outro dreno não desprezível, são os próprios
pode-se observar mais de 40.000 esporos (ver Figura 3). Portanto, não existe
esporos é constituído por lipídeos, pode-se concluir que estas estruturas são potencialmente
6.1 Glomalina
responsável pela exsudação (ou incorporação em suas paredes celulares bem como de
provavelmente são produzidas por FMA uma vez que em sua ausência, glomalinas não são
permanecer 42 anos até sua mineralização completa, período bem superior aos de hifas, que
não ultrapassa 5-7 dias (Rillig et al., 2001; Zhu & Miller, 2003) ou raízes que variam de 10
34
dias até à morte da planta arbórea (Fitter & Moyersoen, 1996). Glomalinas constituem-se
(Lovelock et al., 2004). A função das glomalinas é incerto, entretanto é provável que elas
estruturação com a consequente redução dos processos erosivos. Desta forma, apesar de
estudos de hifas fúngicas intraradiculares absorverem maior atenção graças a sua maior
produtividade sem prejuízo das funções nele realizadas, conforme diagrama da Figura 10.
rizosférico, mobilizam nutrientes para bem além da zona de depleção, produzem uma série
de compostos quelantes (uma das quais, glomalinas), células mortas que interagem com
outros organismos criando uma “hifosfera” com uma bem característica e particular
propriedades próprias (Vancura et al., 1990; Bomberg et al., 2003). Se, além destas
distribuem no solo. Ela é influenciada pela ação da biota (em especial bactérias e fungos em
35
solo (Brady, 1989). O papel dos FMA, em particular, não é, via de regra, considerado ou
menos ainda, dimensionado. Não sabemos qual sua contribuição neste processo: é
FMA é similar ao das raízes enquanto outros apontam que hifas extraradiculares são o
elemento mais importante dentre todos os que atuam neste processo com óbvias
1998). Se é assim, quais são os mecanismos que permitem ao FMA esta ação, tanto sobre a
agregação quanto sobre sua estabilidade? Provavelmente são dois: um físico, com hifas
que existe forte e positiva correlação entre estabilidade de agregados com a quantidade de
glomalinas no solo (Wright & Upadhyaya, 1998). Percebeu-se também que estas proteínas
ficam estocadas dentro destes agregados, protegidos então dos processos de mineralização.
Desta forma, glomalinas representam uma forma estável de armazenar C no solo (Rillig
2004). Pelo exposto, é clara a necessidade de criar-se condições que apontem para o
glomalina detectada é baixa em relação aos encontrados sob pastagem ou florestas. Isso
36
Figura 12 - Diagrama indicando as múltiplas funções desempenhadas pelos FMA, seja
sobre funções do solo, seja sobre a comunidade de espécies vegetais (Zhu & Miller
2003).
37
7. NUTRIÇÃO MINERAL
Daremos ênfase na nutrição fosfatada pelo seu maior impacto sobre plantas
hospedeiras apesar de estudos com inoculação com FMA também ocasionarem, via de
regra, aumentos tanto na taxa de crescimento como nos níveis de Cu, Mg e Zn, não por
acaso, todos elementos pouco móveis no solo. Micorrízas arbusculares são reconhecidas
de 60 170 mM, apesar de valores como 600 mM terem sido detectados. Estes valores
correlacionaram-se fortemente com os de K, com cerca de 350 mM, e Mg, com 175 mM.
enquanto os níveis de potássio foram de 100 mM. Estes elevados valores são muito
intemperizados, como são os tropicais. São nestas condições que as AM assumem um papel
elemento. Não que FMA não absorvam nitrogénio por exemplo. Absorvem e em níveis
superiores aos de P (Gamper et al., 2004). Entretanto, a planta não necessita do FMA para
sua nutrição nitrogenada pois seu próprio sistema radicular é capaz de absorve-lo, visto que
38
et al., 1989). Está envolvido diretamente nos processos de fosforilação e portanto no
ocasiona significante declínio no conteúdo de ATP (-74%) e ADP (-91%) bem como dos
níveis de enzimas (Duff et al., 1989). Portanto, a manutenção da homeostasis celular deste
Como a taxa de absorção e transporte de Pi por raízes é maior que sua taxa de
difusão no solo, uma zona de depleção é formada, resultando em uma zona de esgotamento
para este elemento ainda no ambiente rizosférico. Desta forma, a planta, em sua evolução,
desenvolveu mecanismos de captura deste elemento para além desta zona, através das MA
(Figura 11).
a:
arbuscular;
hospedeiro;
39
Produção de enzimas como fosfatases que catalisam a liberação de P dos complexos
orgânicos; permitindo sua absorção na forma iónica pelas plantas nas unidades arbusculares
carboidratos para as raízes e (c) aumentos no seu efluxo ao apoplasto, em direção ao dreno
imposto pelo fungo micorrízico (Bucking & Shachar-Hill, 2005). Devido ao aumento da
40
Como outros nutrientes, fosfato é absorvido de forma seletiva contra um gradiente
de 1000 vezes estes valores no interior da célula. Este processo de absorção é portanto
realizados por Smith et al. (2003 e 2004), demonstram que os transportadores de fosfato
envolvidos na sua absorção por raízes, são distintos dos envolvidos pela absorção por raízes
Pi em sistemas AM e que esta regulação é controlada diretamente pelo fungo pois sabe-se
que genes que codificam para estes transportadores, apenas são expressos na presença do
41
Como não existe conexão simplástica entre os simbiontes, nutrientes e fosfato
devem ser absorvidos via apoplasto (Rausch et al., 2001). É provável que ocorram
de carboidratos – fosfato (Schwab et al., 1991; Smith et al., 1994) apesar de Nehls et al.
competição por carboidratos (Son & Smith, 1988). Nesta linha, (Bucking & Shachar-Hill,
2005) um estudo com raízes transformadas e em placas dividas, demonstrou que aumentos
que podem ser absorvidas pelo FMA (Bago et al., 2000). Como a atividade da invertase é
pH dependente, deve-se incrementar a ação das H+-ATPases as quais, não por acaso, tem
sua expressão genica ativada tanto pela infecção micorrízica como pela concentração de
sacarose (Blee & Anderson, 2002), de acordo com o modelo proposto na Figura 12.
estruturas encontrados em fungos em geral (Bago et al., 2003). fungo. Algumas destas
42
formas de lipídeos podem então ser deslocadas das hifas intra para as extraradiculares. O
transporte de C de hifas para a planta não tem sido reportada, sendo o transporte de C
considerado unidirecional da planta para as hifas. Os Triacilglicerois (TAG) são outra das
mais importantes formas em que carbono é armazenado pelo fungo (Pfeffer et al., 2004).
Entretanto nas hifas, ocorre um rápido fluxo citoplasmático nos dois sentidos com
deslocamento de recursos de regiões fonte para regiões dreno dentro no micélio fúngico.
Este fluxo também é responsável pela movimentação de organelas (Bago et al., 2002; Bago
et al., 2003).
estimulada pela transferência de carbono da planta para o fungo (Bucking, 2004). Frente à
43
maior oferta de C, o fungo diminui a síntese de polifosfatases levando a aumentos nos
absorção de Pi por hifas, poliP são sintetizados antes mesmo de serem detectados em
quantidades de Pi. Pode-se especular que a rapidez e a quantidade com que poli P é
sintetizado e armazenado tem como objetivo manter seja o dreno de Pi do solo pelo fungo
células vegetais, devido ao dreno imposto pela planta (Karandashov & Bucher, 2005).
apoplasto ou menos ainda nas células vegetais uma vez que plantas não absorvem poliP,
gradiente de concentração. Sua passagem pela matriz micorrízica pode se dar por canais ou
44
através de transportadores de fosfato, conforme já discutido. Bucking (2004) sugere que as
trocas de C por P estejam efetivamente acopladas conforme a Figura 10. Assim, a absorção
de C ao fungo micorrízico.
Da mesma forma que para Pi, FMA absorvem e deslocam à plantas significantes
elemento pode ser acumulado em fungos, o que garante gradientes de concentração entre o
espaço extra e intracelular bem como entre células do cortex (Jolicoeur et al., 2002).
distintos amino ácidos, NH4+ ou NO3-, tanto em células corticais como em hifas, produzem
meio de cultura utilizando raízes transgênicas, confirmam que a produção de esporos segue
uma fase lag, log e estacionária, obedecendo uma curva clássica sigmoide, sugerindo que
8. MANEJO DE FMA
45
atributos biológicos como centrais: (a) quantidade e qualidade de raízes (finas, terminais,
solubilizadoras de fosfato) e; (d) minhocas (Hamel et al., 2004; Wardle et al., 2004). Aqui,
resiliência, como a capacidade de ecossistemas em recuperar suas funções após sofrer uma
perturbação ou estresse, sendo uma função do tempo (Lal, 1997). Ambas estas propriedades
vegetais (ver item 5). Portanto, podem ser manejados juntamente com os tratos culturais.
Entretanto, seu manejo é bem mais complexo ao não se correlacionarem tão rapidamente
cultura com plantas não hospedeiras (ex. Brassicas), poluentes diversos, inclusive orgânicos
com uso excessivo de esterco por exemplo, levam à diminuição da otimização desta
simbiose seja pela redução da atividade fúngica, de sua diversidade ou da produção de hifas
46
funções já discutidas neste capítulo, implicando em quedas na resiliência e estabilidade de
9. CONCLUSÕES
Os primeiros estudos sobre micorrízas realizados no Brasil por Sacco (1958, 1962),
sem esta simbiose para garantir sua nutrição fosfatada, provavelmente não existiriam. Os
novos desafios para a pesquisa nestes ambientes não são menos relevantes. Incorporar este
suspeitamos que o impacto mais profundo desta simbiose ainda está por ser desvendado. O
esforço pela potencialização das AM em campo, bem como pela geração de tecnologias a
de FMA, seja em potes, aero ou hidroponia, ou principalmente cultivos in vitro com o uso
de Ri-DNA, raízes transformadas (Berbara & Fonseca, 1996) uma formidável ferramenta
ainda pouco explorada no Brasil. Implica considerar este componente em estudos de longa
duração que busquem detectar não apenas seu impacto sobre o desenvolvimento de uma
47
oportunidade de entender mecanismos de evolução de espécies vegetais e da própria
48
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CAPÍTULO 4
Nilton Nélio Cometti 1, Pedro Roberto Furlani2, Hugo Alberto Ruiz3 & Elpídio Inácio
Fernandes Filho3
1
Escola Agrotécnica Federal de Colatina - ES, CP 256 – Colatina - ES, CEP 29709-910,
1
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 159
4.2. pH 182
2
1. INTRODUÇÃO
Uma solução nutritiva pode ser definida como um sistema homogêneo onde os nutrientes
Além dos nutrientes, pressupõe-se que a solução nutritiva contenha O2 e esteja na temperatura
ideal para a absorção dos nutrientes. Entretanto, uma solução nutritiva não é composta
inteiramente de elementos em suas formas minerais, puras e simples, onde uma simples análise
dos elementos seja suficiente para desvendar os “segredos” de suas fórmulas “mágicas”. A partir
uma verdadeira “sopa” nutritiva, contendo vários compostos orgânicos provenientes da atividade
microbiana, dos exsudatos das raízes e da decomposição de fragmentos de raízes. Além desses,
hidráulico.
Em qualquer sistema de cultivo sem solo, duas variáveis são preponderantes sobre a
cobertura com filmes plásticos transparentes e telas de sombreamento; e a solução nutritiva, que
pode estar livre ou dispersa em um substrato. Em condições normais, todos os nutrientes podem
planta. Além dos nutrientes, O2 e água são absorvidos diretamente da solução, enquanto o C é
A composição da solução nutritiva tem sido estudada há muitos anos, com relatos de
soluções datando de 1865, como a solução de Knopp (Resh, 2002). Entretanto, somente a partir
3
de 1933 houve preocupação com a elaboração de uma solução contendo micronutrientes, em
1938, Hoagland & Arnon apresentaram uma solução nutritiva completa e balanceada para
(Hoagland & Arnon, 1950). Em 1957, essa solução sofreu uma pequena adaptação na relação
NO3-:NH4+ para o valor de 7:1, por Johnson e colaboradores, para manter o pH mais próximo de
cinco. A partir da solução de Hoagland & Arnon, muitas outras foram desenvolvidas, mas a
tradicional solução “Hoagland” permanece como a mais utilizada, por atender adequadamente às
Admite-se que não exista uma solução nutritiva ideal para todas as culturas. Desta forma,
a composição da solução nutritiva varia com uma série de fatores: a espécie de planta cultivada
solução alteram sua composição, tais como pH, força iônica, temperatura e presença de
diferenças são bem menores (Quadro 1). É comum encontrar nos artigos científicos a “solução
nutritiva modificada de Hoagland”, isto é, fórmulas derivadas da solução nutritiva proposta por
Hoagland & Arnon. Essa solução tem sido a mais usada na pesquisa em nutrição mineral de
faixas de concentrações dos nutrientes utilizadas nas soluções são muito amplas, variando em até
4
Quadro 1. Faixas de concentração encontradas nas soluções nutritivas e solução de Hoagland &
Arnon (1950) modificada.
Para formular uma solução nutritiva, é importante entender o modo e a velocidade com
compostos de sensores (eletrodos específicos para íons) e computadores para registrar o teor do
5
É muito comum verificar a rápida depleção de um nutriente na solução, enquanto outros
maior do que dos outros nutrientes, o que pode levar ao rápido esgotamento desses nutrientes e
absorção (Quadro 2). O conhecimento da velocidade com que um íon é absorvido pode explicar
porquê, na análise de uma solução nutritiva, um nutriente pode estar praticamente ausente,
enquanto outros ainda estão em concentrações adequadas para a cultura, mesmo que as plantas
de indicar sua deficiência, pode indicar que as plantas estão saudáveis, e que estão absorvendo os
circulante (0,5 mmol L-1), sua concentração no tecido poderá atingir a 1% da massa seca, valor
três vezes maior do que o ótimo para a maioria das plantas, o que pode induzir deficiências de Fe
e Zn (Chaney & Coulomb, 1982). Sendo assim, ao longo do ciclo de um cultivo hidropônico sem
nutrientes de absorção lenta (Figura 1 e Quadro 2), enquanto para os nutrientes de absorção
rápida, as concentrações normalmente são baixas, mesmo com o ajuste diário da concentração da
solução.
6
Quadro 2. Taxa de absorção aproximada dos nutrientes por plantas crescidas em solução
2 Absorção intermediária Mg S Fe Zn Cu Mo
3 Absorção lenta Ca B
100
80
60
S
40 P Ca
% do Inicial (%)
Mg
20 N
0 K
80
60
B
40
Fe
20
0 Mn
0 20 40 60 80 100 120
Tempo (horas)
Figura 1. Variação temporal da concentração relativa de nutrientes da solução nutritiva em NFT
(técnica do nutriente em filme) em cultivo de alface (Adaptado de Furlani, 2003 – dados
não publicados).
7
A concentração total dos nutrientes na solução pode ser estimada medindo-se a
condutividade elétrica (CE) da solução. Devido à taxa diferencial de absorção dos nutrientes, a
é expressa em S m-1 (siemen por metro), sendo mais comum sua utilização na faixa de mS m-1,
muito empregada comercialmente, e que equivale à unidade mMho cm-1 usada no passado.
Em seu trabalho pioneiro, Hoagland & Arnon (1950) formularam uma solução nutritiva a
partir da composição elementar média de plantas de tomate, mas seus cálculos foram baseados
em plantas cultivadas em recipientes com 18 L de solução, com troca semanal de solução. Com o
advento das novas técnicas de cultivo hidropônico e novas formas de reposição da solução
nutritiva, surgiram algumas questões: o que ocorre quando se cultiva uma planta diferente, ou
quando o volume de solução por planta for diferente, ou quando a forma e a freqüência de
reposição da solução nutritiva forem distintas? Portanto, dois fatores devem ser considerados
para a formulação de uma solução nutritiva: a composição da solução, determinada pela relação
determinada pela razão de transpiração para o crescimento da planta, pelo volume de solução por
nutriente dentro da planta. O ponto de partida é a análise química de toda a planta, já que as
concentração relativa de cada nutriente na solução nutritiva. Outro meio é utilizar referências
8
análise das exigências nutricionais de plantas visando ao cultivo em solução nutritiva, deve-se
enfocar as relações existentes entre os nutrientes, pois essa é uma indicação da relação de
Além das diferenças nos teores de nutrientes nas folhas em função de sua posição,
cultivares e épocas de amostragem, também ocorrem diferenças nas relações entre os teores
foliares de nutrientes para as diversas espécies, o que deve ser levado em consideração quando se
utiliza uma única solução para a nutrição de diversas espécies vegetais. Quando isso ocorre para
nutricional ao longo do desenvolvimento das plantas, principalmente aquelas com ciclo mais
longo e quando a solução nutritiva não é renovada integralmente. Essas relações devem ser
trabalhos de pesquisa, é comum a renovação total da solução após uma semana de cultivo em
puros para análise, a fim de evitar contaminações com outros nutrientes que possam distorcer os
utilizado geralmente é grande, e neste caso o uso de sais comerciais é preferível pelo seu menor
custo. Esses sais são comumente utilizados em fertirrigação devido à sua alta solubilidade e
Ca e K (Marschner, 1995).
9
2.3. Exemplo de formulação de solução nutritiva para a cultura da alface
(dados do Quadro 3, para a cultura da alface), para preparar a base da solução, assumindo uma
Quadro 3. Relação entre nutrientes, e quantidade de nutriente para preparar a solução básica
para a cultura da alface
K N P Ca Mg S
- MAP purificado (N-NH4 11 %, P 26 %); deve ser utilizado quando o pH da solução for
nitrato de cálcio; iniciou-se pelo nitrato de cálcio por ser a única fonte de cálcio.
62,3 g m-3
f) Caso o N resultante da soma das quantidades dos sais não seja suficiente, pode-se
nutrientes será (em g m-3): 163,2 g de nitrato de cálcio, 278 g de nitrato de potássio, 23 g de
MAP e 80 g de sulfato de magnésio; esta deverá ser corrigida para a condutividade elétrica
g L-1 (Quadro 4) pela quantidade do sal. Para a solução nutritiva básica, a CE estimada será:
(fce = 1,50 / 0,64 = 2,3), obtendo-se as concentrações finais dos sais (Quadro 4).
Quadro 4. Solução nutritiva final para a cultura do alface, corrigida para a condutividade
elétrica desejada.
g m-3 g m-3
MAP 23 53
vezes mais concentrada, chamada de “solução de micronutrientes 10×” (Quadro 5). Portanto, a
11
solução nutritiva com CE de 1,50 mS cm-1 terá, em g m-3: 375 g de nitrato de cálcio, 639 g de
micronutrientes 10×.
relação entre os nutrientes, vai depender primariamente da taxa transpiratória da planta. Segundo
Bugbee (1995), uma boa estimativa da água transpirada em relação ao crescimento de plantas em
hidroponia está em torno de 300 a 400 L de água transpirada por kg de massa seca acumulada. A
nutrientes, por outro lado, é determinada pela taxa de crescimento da planta. Por isso, é muito
12
absorve da solução, ocorrendo aumento da CE da solução ao longo do dia, quando não há
reposição da água.
concentradas, por serem formuladas para sistemas hidropônicos estáticos, geralmente em vasos
com oxigenação. Com o advento dos sistemas circulantes, com constante agitação e renovação
da solução fluindo em velocidade pelas raízes, foi possível reduzir consideravelmente sua
40 g kg-1 de massa seca e uma transpiração de 300 L kg-1 de massa seca, deveria haver 40 g de K
em 300 L de água, ou 133 mg K L-1. Se a taxa de transpiração for maior, 400 L kg-1, a solução
solução, tanto maior será a restrição à absorção de água pelas raízes, e, portanto, de nutrientes.
Se a concentração de sais for muito alta, os vegetais poderão perder água para o meio, ocorrendo
injúrias (plasmólise das células) que, dependendo da intensidade, podem causar morte de raízes e
da planta. O efeito salino de cada sal é variável, sendo geralmente utilizado o nitrato de sódio
como referência (Quadro 6). Na prática, em soluções nutritivas, a salinidade pode se tornar um
momentos de alta transpiração, podendo ocorrer acúmulo de sais na superfície das raízes.
13
Quadro 6. Solubilidade de alguns sais utilizados em hidroponia (adaptado de Boodley, 1996 e
Resh, 2002).
g L-1 g L-1
O potencial osmótico (Ψo) pode ser calculado pela equação de Van’t Hoff, que relaciona
- nsRT
Ψo =
V
mols de soluto, R a constante dos gases (0,00832 MPa K-1 mol-1 a 273 oK), e T a temperatura em
o
K. Medições diretas, entretanto, têm mostrado que esta relação é aproximadamente correta para
14
soluções diluídas que não se dissociam. Para eletrólitos que se dissociam em solução, no entanto,
há um grande desvio do valor teórico. Assim, a pressão osmótica de uma solução molar de NaCl
é aproximadamente 4,32 MPa, em vez do valor teórico de 2,27 MPa. Assumindo-se que haja a
completa dissociação do NaCl, o potencial osmótico seria 4,54 MPa, e a discrepância pode ser
atribuída, principalmente, às forças de Van der Waals operando entre os íons. Em soluções
nutritivas, que trabalham na faixa milimolar, o efeito da concentração sobre a força iônica é
menor, permitindo uma aproximação maior entre os valores calculado e real do potencial
osmótico.
Um potencial osmótico entre -0,05 e -0,1 MPa tem sido considerado adequado para o
cultivo hidropônico. Considerando-se uma solução nutritiva que contenha uma concentração de
íons totais em torno de 20 mmol L-1 e temperatura de 27 oC, o potencial osmótico seria:
pois seria necessário conhecer a concentração de cada íon, pode-se utilizar a medida de CE, que
apresenta uma boa correlação com a quantidade total de sólidos solúveis da solução ou com a
sua força iônica estimada (Figura 2). Há uma relação significativa entre a CE e a concentração
total de íons da solução, que pode ser determinada pelas seguintes equações:
Estas equações permitem que se utilize apenas a molaridade total da solução, sem que
concentração de íons deve ser determinada para cada sal em solução, visto que há grande
variação entre a CE de cada espécie iônica (Quadro 4). Quando se utilizam estas relações para
estimar a concentração total dos íons a partir da CE, deve-se considerar que seu valor pode ser
diferente para cada solução nutritiva, dependendo da relação entre os nutrientes. Finalmente, a
15
soma das CE estimadas de cada sal dissolvido pode ser utilizada como a CE estimada da solução
nutritiva, com uma boa aproximação do valor medido por meio de condutivímetro.
A CE da solução também varia com sua temperatura. A cada cinco graus de aumento de
2,5
1,5
0,5
0,0
0 5 10 15 20 25
-1
Concentração Total de Íons e Força Iônica (mmol L )
Figura 2. Relação entre condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva e a concentração total
de íons e força iônica (FI) estimada; força iônica simulada com o programa GEOCHEM
3.0 (Parker et al., 1995). Fonte: Cometti (2003).
3. MANEJO DA SOLUÇÃO
nutrientes, por sua vez, são absorvidos da solução nutritiva com velocidade diferenciada (Figura
1). Assim, o manejo da solução nutritiva deve contemplar essas diferenças a fim de se alcançar o
16
fim do ciclo de cultivo com o menor desbalanceamento iônico possível, constituindo um desafio
uma semana de cultivo, utilizando-se 2 a 3 L de solução para plantas como soja, arroz, e feijão.
Para determinar o momento da troca da solução, Ruiz (1977) propôs utilizar o K como nutriente
indicador. Em cultivos comerciais, o volume total de solução costuma ser grande, tornando alto o
b) Reposição da solução absorvida: esse método utiliza a solução básica para repor a água
absorvida por transpiração. Em condições de baixa umidade relativa do ar, alta velocidade do
vento e alta temperatura, há uma perda de água por transpiração desproporcionalmente maior do
Caso seja feita a reposição da solução na mesma concentração inicial, haverá um aumento da
o problema é monitorar a CE da solução e adicionar água pura para reduzi-la, quando necessário,
de efetuada a análise química da solução nutritiva, pode-se adicionar água para atingir o nível
inicial e adicionar os nutrientes por meio de soluções-estoque concentradas de cada sal. O custo
de monitoramento da solução por esse método pode ser impeditivo, além de demandar um certo
tempo para a análise e de não traduzir exatamente a necessidade de reposição dos íons, Apesar
do ajuste da concentração dos nutrientes, a solução tem restrições para uso indefinido, pois há
resíduos de substratos, poeira e metais pesados contaminantes . Todos esses elementos exigiriam
um tratamento de alto custo da solução para que esta pudesse ser reutilizada com segurança. A
17
vida útil de uma solução com acompanhamento semanal por análise química pode chegar a três
dos íons. Além do custo elevado dos eletrodos específicos para os íons, sua vida útil é reduzida e
solução. Este é o método mais utilizado atualmente na hidroponia comercial, além de aplicar-se
concentração total de sais da solução. A reposição de água pode ser efetuada instantaneamente
por meio de válvula de nível com bóia ou diariamente, de forma manual. A medida da CE
permite monitorar a absorção de nutrientes pois, apesar de não fornecer a concentração de cada
íon, a CE dá uma idéia da concentração total dos íons em solução (Figura 2). A reposição dos
estoque suficiente para elevar a CE para o valor inicial. O descarte da solução nutritiva é
efetuado apenas ao final de um ciclo de cultivo, reduzindo bastante os custos com nutrientes e
hortaliças folhosas, no Brasil, tem sido em torno de trinta dias em sistemas NFT, ou técnica do
filme nutriente, onde a solução nutritiva é conduzida por toda a parte inferior do tanque inclinado
dos sais como o limite (Quadro 6). Além disso, pode haver incompatibilidade entre sais que não
18
incompatibilidade entre nitrato de cálcio e os sais contendo P e S por formarem precipitados de
baixa solubilidade (Quadro 7). Portanto, preparam-se duas soluções, intituladas “A” e “B”, onde
o nitrato de cálcio é colocado em apenas uma delas. Considerando que o nitrato de potássio tenha
compatibilidade com todos os outros sais, e que seja utilizado em maior quantidade, pode ser
dividido entre as soluções A e B, e servir como determinante para a concentração final das
soluções.
19
Quadro 7. Compatibilidade entre diferentes fertilizantes (C – compatível; I – incompatível; R –
compatibilidade reduzida).
C C C C C C C C C C C C C C Uréia
C C C C C C C C C C C C C Nitrato de amônio
C C C C C C C C C C C I Sulfato de amônio
C I C I C I I I I C C Nitrato de cálcio
C R C R C R C C C C Nitrato de potássio
C R C R C R C C C Cloreto de potássio
C R C R C R C C Sulfato de potássio
R I C C C I C Fosfato diamônio (DAP)
R I C C C I Fosfato monoamônio (MAP)
C C C C C Sulfato de magnésio
R I C C Ácido fosfórico
C C C Ácido sulfúrico
I C Ácido nítrico
C Sulfato de ferro, zinco, cobre e manganês
Quelato de ferro, zinco, cobre e manganês
considerando que o nitrato de potássio possui solubilidade de 134 g L-1 (Quadro 6), serão
necessários 4,77 L para solubilizar os 639 g para a solução nutritiva (Quadro 8); este valor pode
ser arredondado para 5 L. Assim, o nitrato de potássio será utilizado como base para as soluções
estoque por ser o sal com maior quantidade de água necessária para solubilização. Como será
dos outros sais e recalcular as quantidades para preparar 10 L de cada solução estoque.
20
Quadro 8. Volume mínimo necessário para solubilizar os sais da solução nutritiva para a cultura
do alface
g L-1 g m-3 L
celulares, provocando perda de íons e morte das células da raiz. As plantas podem suportar
perfeitamente pH entre 4,5 e 7,5 sem grandes efeitos fisiológicos. Entretanto, efeitos indiretos,
iônicas que não são prontamente transportadas para o interior das células, comprometendo a
pH abaixo de 5,0. Portanto, em uma cultura hidropônica é recomendado um pH entre 5,5 e 5,8,
condição que permite a máxima disponibilidade dos nutrientes em geral (Bugbee, 1995). Em
solução nutritiva, Inoue et al. (2000) observaram redução no crescimento da parte aérea e do
diferenciada de cátions e ânions. Por exemplo, quando o N é suprido na forma nítrica, a absorção
de ânions é maior que cátions, ocorrendo elevação do pH. A absorção de um mol de NO3- é feita
21
em cotransporte com dois mols de H+, enquanto na absorção de um mol de NH4+ pode ocorrer o
aumenta o pH, a absorção de NH4+ o reduz. Em plantas supridas com NH4+ e NO3-, o pH da
solução pode voltar a subir assim que o NH4+ tenha sido absorvido e que a absorção de NO3-
torne-se maior do que a de NH4+ (Figura 3). Devido ao abaixamento do pH com a absorção do
mais tamponada.
muito pequeno. A utilização de água deionizada, muito comum em pesquisa, reduz ainda mais o
a solução, sua concentração necessária para estabilizar o pH em uma solução nutritiva o tornaria
tóxico para as plantas. Além disso, a rápida absorção do P retira toda sua capacidade de
tamponamento, que se encontra a partir de 5,5, e alcança o máximo no pH 7,2. Portanto, é mais
conveniente manter a solução nutritiva equilibrada em cátions e ânions para atender a demanda
da planta, do que tentar manter o pH numa faixa estreita de valores por meio do uso de ácidos
(sulfúrico, fosfórico, nítrico ou clorídico) e bases (hidróxido de sódio, potássio ou amônio) fortes
22
200 N-NO3-
150
Nutrientes na Solução Nutritiva (mg L )
100
-1
50
0
25 N-NH4+
20
15
10
5
0
pH
6
3
17 24 31 38 45
Dias Após a Semeadura
Figura 3. Variação de NO3-, NH4+ e pH da solução nutritiva em cultivo hidropônico (NFT) de
alface. A solução foi renovada totalmente a cada sete dias (linhas verticais pontilhadas) e
ajustada diariamente pela condutividade elétrica e pH com solução de hidróxido de sódio
(Furlani, 1998).
amônio pode manter o pH em 5,5 (± 0,5) durante todo o ciclo da cultura, sem que haja
necessidade de lançar mão de ácidos fortes para baixar o pH da solução e sem comprometimento
da produtividade da cultura (Martins et al., 2002). Entretanto, esses estudos têm sido realizados
amônio através do controle por uma válvula solenóide. Em experimentos conduzidos em vasos
com solução nutritiva, é possível manter o pH estável utilizando-se uma concentração de 1 mmol
23
L-1 de MES (ácido 2 (N-morfolino) ethanosulfônico) sem qualquer prejuízo para as plantas
A especiação iônica para compreender as respostas das plantas à presença de certos íons
nas soluções, principalmente em cultivos hidropônicos, tem sido crescente, e cada vez mais útil.
Apenas a concentração total de um elemento tal como se obtém a partir de análises laboratoriais,
ou aquela que se acredita ter sido adicionada, não corresponde, muitas vezes, aos efeitos
tóxicos de metais pesados têm se mostrado mais coerentemente correlacionados com a atividade
contendo Al, Sr, Fe, Ca, P e outros elementos, observa-se o forte efeito do pH na formação de
vários complexos e precipitados, acarretando sua baixa disponibilidade para a planta mesmo sob
altas concentrações, e assim pouco ou nenhum efeito pode ser observado em resposta ao
Segundo Bernhard et al. (1986), “espécie química” refere-se a uma forma molecular
termo “especiação química”, por sua vez, tem sido utilizado para descrever a análise das espécies
alternativa mais viável, simples e segura para a obtenção desse conhecimento. Programas de
computador tais como REDEQL, GEOCHEM-PC, MINTEQ, CHEAQS e outros, podem indicar
as espécies químicas em uma solução nutritiva a partir das concentrações analíticas conhecidas
24
dos elementos adicionados, apontando os pares iônicos, complexos e formas livres dos íons
disponibilidade de um dado íon: a força iônica da solução, que atua sobre a atividade iônica
individual; o pH, que propicia a presença das várias espécies iônicas; e a presença de agentes
Geralmente, quando a força iônica aumenta, íons de cargas opostas interagem de tal
forma que sua atividade iônica diminui, e então, o número de íons “ativos” diminui.
que as respostas das plantas se correlacionam melhor com a atividade do que com a concentração
analítica de íons inorgânicos (Adams, 1971). O Quadro 9 mostra que a atividade iônica é mais
próxima da concentração analítica tanto quanto mais diluída for a solução. Em solos, essa
situação é agravada devido às mudanças observadas nas reações de troca iônica. Em estudos com
solução nutritiva, entretanto, não faz diferença em se utilizar atividade ou concentração iônica,
pois a maioria das soluções nutritivas utilizadas possui força iônica na faixa de 5 a 20 mmol L-1,
onde as comparações podem ser realizadas razoavelmente utilizando-se tanto atividade quanto
concentração iônica. Cuidado adicional deve ser tomado quando se trabalha com o íon Al3+, que
25
Quadro 9. Efeito da força iônica nos coeficientes de atividades individuais
1 5 10 50 100
4.2. pH
Alguns trabalhos mostram que a absorção por plantas, de ânions que exibem um
comportamento de ácido ou base fraca, depende do pH e do seu efeito na especiação. Para alguns
ânions, o efeito pode ser observado como um aumento do cotransporte do ânion com prótons
(Marschner, 1995). O potencial transmembrana negativo nas células torna o processo de entrada
na célula de qualquer ânion um transporte ativo, onde qualquer redução da carga aniônica reduz
o potencial da barreira energética de entrada do íon na célula. Alguns exemplos incluem a maior
absorção de H2PO4- em relação ao HPO42- (Hendrix, 1967) e maior absorção de H3BO30 do que
B(OH)4- (Oertli & Grgurevic, 1975). Outro exemplo é o aumento da toxidez de N amoniacal às
raízes de algodão com o aumento do pH (Bennett & Adams, 1970). A maioria das soluções
26
nutritivas são pouco tamponadas, e o pH varia bastante, não se mantendo dentro de uma faixa
ideal. Diferentemente do solo, a faixa de pH ideal deve situar-se entre 5,0 e 6,0, pois valores de
pH diferentes destes ocasionam alteração nas formas livres e complexadas dos nutrientes. Com
disponibilidade de Ca2+ e HPO4- Furlani et al. (1999). Em pesquisas com Al e metais pesados, é
que o efeito do pH é variável com a força iônica da solução, bem como a concentração dos
27
100 100% da Solução de Hoagland 10
80 Força Iônica 8
Composto formado pelo metal (%)
60 Al - EDTA 6
40 4
0 0
80 Al-OH - sólido 8
60 Al3+ - livre 6
40 4
20 2
0 0
4.3. Quelatos
iônica da solução. Um bom exemplo disso é o Fe, normalmente quelatado nas formas de
FeDTPA (dietileno triamino penta acetato de ferro), FeEDTA (etileno diamino tetra acetato de
ferro), FeEDDHA (etileno diamino di-orto hidroxi fenil acetato de ferro) e FeEDDHMA (etileno
28
Para o Fe (Figura 7) e demais cátions micronutrientes (Quadro 10), as alterações nas
a faixa normal de pH das soluções nutritivas (5,5 a 6,5), o quelato FeEDDHA é mais estável que
o FeDTPA e este mais estável que o FeEDTA. Aumentos eventuais de pH na solução podem
100
80
Fe-EDTA
Fe-EDDHA
60
Fe-DTPA
Fe-OH (com EDTA)
40
Fe-OH (com EDDHA)
20 Fe-OH (com DTPA)
quelante que poderá se ligar aos outros íons. A adição do quelato FeEDDHA como fonte de Fe
(2,5 mg L-1) à solução nutritiva (Quadro 10) promoverá, em parte, a quelação apenas do Cu,
enquanto outros agentes quelantes como o DTPA e EDTA também formam complexos com Zn e
Mn. No caso do Zn, tanto o DTPA quanto o EDTA possuem capacidade semelhante e crescente
de quelação a partir do pH 5,5. No caso do Mn, o EDTA tem capacidade de quelação superior ao
DTPA, porém com importância significativa apenas em pH superior a 7,0. Essas relações na
29
solução se refletem na absorção dos micronutrientes pelas plantas. Os dados da Quadro 15
maiores proporções do que em solução com EDTA (Quadro 10). Em crisântemo (Quadro 11), o
concentração de Zn é maior na solução com EDDHA (Quadro 10), refletindo em maior acúmulo
de Zn nas folhas (Quadro 11). Esses experimentos validam as simulações das especiações
30
Quadro 10. Formação de compostos de Cu, Mn e Zn em função do quelato de Fe e do pH da
solução nutritiva.
FeEDTA Cu2+ 6,3 0,7 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
FeEDDHA Cu2+ 28,1 22,1 13,5 6,5 6,6 1,4 0,1 0,0
FeDTPA Cu2+ 2,9 0,6 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
31
Em uma hidroponia comercial, observou-se em certa ocasião que a adição acidental de
grande quantidade de sulfato de zinco. Apenas a não adição do sal de Zn com a adição de maior
quantidade de Fe-EDTA foi suficiente para recuperar as plantas com sintomas de toxidez de Zn.
redução abrupta no crescimento radicular, com grave deficiência de Fe. A partir do uso de Fe-
EDTA, esses sintomas desapareceram, mesmo quando a análise da solução nutritiva mostrava
quanto as concentrações de P e S (que formam complexos com Zn) podem explicar porquê pode-
se encontrar altas concentrações de Zn na solução nutritiva, acima de 0,5 mg L-1 (10 vezes acima
do recomendado na solução de Hoagland), sem que haja sintomas visuais de toxidez de Zn.
Muito há que ser pesquisado para uma perfeita compreensão dessas relações.
mg kg-1
Folhas de alface 1
Folhas de crisântemo 2
32
5. CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES
baixas, pelos vegetais, segue, geralmente, a cinética de Michaelis-Menten (Epstein, 1975), cujo
Vmax C
I= (1)
Km + C
em que I é o influxo ou velocidade de absorção do íon (µmol g-1 h-1) numa solução de
concentração C (µmol L-1). As constantes Vmax (µmol g-1 h-1) e Km (µmol L-1) representam a
Para facilitar o cálculo das constantes foram propostas diversas transformações, que
permitem obter formas lineares da equação de Michaelis-Menten. Assim, Lineweaver & Burk
1 Km 1 1
= + (2)
I Vmax C Vmax
e Hofstee (1952) estimou I em relação a I/C:
I
I = −K m + Vmax (3)
C
Uma representação não-linear foi proposta por Claassen & Barber (1974). Eles
solução. Esse valor depende da concentração, C (µmol L-1), e do volume da solução, v (L), no
tempo t (h):
Qt = Ct vt (4)
33
qualquer ponto da curva, será o valor correspondente a –dQ/dt dividido pela massa radicular.
Claassen & Barber (1974) ajustaram Q vs t a uma série de funções cúbicas ou parabólicas e
o Km.
(1985) propôs uma aproximação matemática para o cálculo das constantes Vmax e Km. Os dados
que serão utilizados para exemplificar o método resultaram de um ensaio de absorção de fósforo,
conduzido em câmara de crescimento, usando soja como planta-teste. Nesse ensaio usou-se uma
concentração inicial de fósforo igual a 32,29 µmol L-1, estimando-se a absorção do nutriente pela
32
diminuição da atividade de P na solução, amostrada a cada meia hora. Essa atividade foi
corrigida para o tempo de contagem, devido à meia vida, relativamente curta, do 32P.
O volume de solução para cada tempo, vt, foi calculado levando em conta o volume
inicial, vi (0,801 L), o volume após 24 horas, vf (0,410 L), o volume amostrado, va (0,026 L) e
uma taxa de transpiração uniforme, uma vez que a iluminação e a temperatura foram mantidas
no mesmo nível por 24 horas. O valor do va resulta de uma amostragem inicial (tempo zero) de
0,002 L, acrescido de amostragens de 0,001 L cada meia hora, até totalizar 12 horas de ensaio.
Assim, va foi estimado a cada meia hora, no intervalo de 0 a 12 horas, usando a equação:
v − vf − va
v t = v i − 0,002 − i + 0,002 t (5)
24
34
em que a é a atividade do 32P corrigida, v o volume estimado (equação 5) e os subíndices
seqüência ininterrupta, os pontos que melhor se ajustaram a uma reta (intervalo de 1 a 3,5 horas,
Q = a1 + b1t (7)
em que a1 e b1 são os valores da intercepção e da declividade, respectivamente;
c) Calculou-se Vmax pela equação:
b
Vmax = − 1 (8)
M
em que M é a massa da matéria seca das raízes (0,9348 g, no exemplo);
35
32
Quadro 12. Tempo de exaustão, atividade de P, volume e concentração da solução e
quantidade de fósforo absorvida por plantas de soja em ensaio para determinar as
constantes de Michaelis-Menten (Fonte: Ruiz, 1985)
36
Figura 6. Diminuição da quantidade de fósforo (Q) com o tempo de exaustão (t) e equações de
d) Na região curva da parte inferior do gráfico (intervalo 3,5 a 6,5 horas, no exemplo),
determinou-se a equação de regressão com melhor ajuste aos pontos experimentais, que exigisse
somente 1 grau de liberdade para o modelo. Para os dados analisados, a melhor aproximação
Q = a 2t b2 (9)
do quadrado dos desvios (Nelson & Anderson, 1977) foi usado para escolher os pontos da reta e
37
e) Km foi calculada por uma relação semelhante à equação 4:
Qm
Km = (10)
vm
em que Qm é a quantidade de íons para a qual a velocidade de absorção equivale à metade
gráfico em que sua tangente iguala-se à metade da declividade da reta usada no cálculo de Vmax.
Matematicamente:
1 d
(a1 + b1t ) = d a 2 t b 2
( ) (11)
2 dt dt
1
b1 = a 2 b 2 t m (b 2 −1) (12)
2
em que tm é o tempo em que Q iguala-se a Qm. Reordenando:
1 (b 2 −1)
b1
t m = (13)
2a b
2 2
Calculando tm estimou-se vm, Qm e Km pelas equações 5, 9 e 10, respectivamente.
seguintes:
tm = 3,81 h
vm = 0,733 L
Qm = 2,531 µmol
para alocação dos pontos experimentais, o que o torna um processo demorado. Para superar essa
38
dificuldade Ruiz & Fernandes Filho (1992) desenvolveram o programa CINÉTICA, inicialmente
em DOS, que executa de forma rápida e confiável os cálculos necessários. Uma nova versão
desse programa, em ambiente Windows foi desenvolvido por esses autores, e pode ser obtido a
É interessante observar, que embora esse método tenha sido desenvolvido para sistemas
estáticos (vasos), Cometti (2003) empregou com sucesso o programa CINÉTICA a sistemas de
hidroponia NFT, para estudar a cinética de absorção de NH4+ e NO3- por alface.
39
6. LITERATURA CITADA
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BOODLEY, J.W. The commercial greenhouse. 2.ed. Albany, Delmar Publishers. 1996. 612p.
acid) and amberlite IR 50 as pH buffers for nutrient solution studies. J. Plant Nutr, 8: 567-583,
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induction of root hair formation in young lettuce (Lactuca sativa L. cv. Grand Rapids) seedlings.
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RUIZ, H.A. Estimativa dos parâmetros cinéticos Km e Vmax por uma aproximação gráfico-
RUIZ, H.A. Relações molares de macronutrientes em tecidos vegetais como base para a
43
1
CAPÍTULO 5
ABSORÇÃO DE NUTRIENTES
SUMÁRIO
As células vegetais são separadas do meio externo por membranas. Genericamente falando,
as membranas permitiram o desenvolvimento da vida, pois criaram compartimentos separando o
ambiente externo do ambiente interno, ao mesmo tempo em que possibilitam trocas entre estes
ambientes. As membranas permitem assim que as células possam ter composição diferente daquela
do meio que as circundam, ao mesmo tempo em que podem retirar do meio o material de que
necessitam para o seu metabolismo e sua organização estrutural.
As células vegetais têm uma parede celular externa, rígida, composta na sua maior parte de
material inerte, e que mantém a sua forma mesmo após a morte da célula. Internamente, existe uma
membrana, composta principalmente de material lipoprotéico, e conhecida como plasmalema ou
membrana plasmática (Figura 1).
Como pode ser visto na figura 1 a membrana plasmática é um delgado filme de fosfolipídios
e proteínas, pressionado contra a parede celular. Na verdade, pode-se dizer que a parede celular
"contém" a membrana plasmática e o citoplasma. Isto porque, o interior da célula é um meio
hipertônico em relação à solução do solo. Deste modo, a célula vegetal se em contacto livre com a
solução do solo tenderia a expandir explosivamente. Neste sentido, a célula vegetal é contida pela
parede rija que a circunda.
A parede celular é formada principalmente por uma rede de microfibrilas de celulose
interligadas por feixes de glicanas (Figura 2). Este conjunto está embebido em uma matriz de
hemicelulose e substâncias pécticas.
A celulose que forma as microfibrilas da parede celular é um polissacarídio, que ocorre em
longos polímeros de unidades de D-glicose, que estão unidas por ligações ß 1-4, este arranjo
espacial confere à celulose a conformação de longas fibras paralelas de 100 a 200 Å de largura. A
unidade estrutural de repetição da celulose é a celobiose formada pela união de duas moléculas de
glicose. A cadeia glicana da celulose pode ter de 200 a mais de 25.000 resíduos de glicoses. As
moléculas longas e rígidas da celulose combinam-se em orientação paralela, para formar as
microfibrilas. Cada microfibrila pode ter aproximadamente 35 cadeias de celulose (Raven et al.,
2001). Em fungos, as microfibrilas da parede celular podem ser formadas principalmente por quitina
(polímeros de N-acetilglicosaminas).
O diâmetro das microfibrilas está entre 5 e 10 nm. A parede celular tem aproximadamente
100 nm de espessura, podendo conter de 5 a 10 camadas de microfibrilas (Figuras 1 e 2).
3
Célula A Célula B
Figura 2. Estrutura dos blocos de construção das substâncias pécticas (ácido α-D-
poligalacturônico) depositadas nas microfibrilas de celulose da parede celular.
particularmente importantes para a nutrição mineral das plantas. Elas são formadas por polímeros do
ácido 1,4 D-galacturônico, geralmente esterificado com grupos metila. Estas substâncias têm peso
molecular variando entre 25.000 a 360.000. Os feixes de microfibrilas com seus depósitos de
poligalacturatos estão representados na figura 2. Nessa mesma figura podem ser observados os
resíduos de cargas negativas sobre as microfibrilas.
Na tabela 1, está a composição da parede celular de alguns tecidos vegetais:
não-covalentes com a matriz que as envolve, e pela coesão desenvolvida pelas forças físicas
resultantes de seu enovelamento.
Por sua natureza, as microfibrilas de celulose não têm praticamente qualquer
expansibilidade, e por essa razão, os movimentos de expansão celular ocorrem através do
rompimento das ligações não-covalentes entre as microfibrilas e a matriz. Nessa situação, as
microfibrilas e matriz podem deslizar umas sobre as outras, permitindo assim que a célula se
expanda cedendo às pressões de turgor.
Embora ainda não se conheçam em todos os detalhes do exato mecanismo através do qual as
paredes celulares expandem, permitindo o crescimento celular, é certo que este fenômeno envolve a
acidificação do espaço livre, e portando a ação das bombas iônicas de extrusão de H+. A
acidificação do espaço livre ativa a ação de um grupo de enzimas que atua neste processo; as
expansinas.
Aparentemente, a ação das expansinas se dá através do rompimento das ligações não-
covalentes que ligam as microfibrilas de celulose à matriz de hemicelulose e pectinas. Ou seja, as
expansinas rompem as pontes de hidrogênio que unem os feixes de microfilbrilas. Este rompimento
de ligações não-covalentes permite então o deslizamento dos feixes de microfibrilas.
Diversas outras enzimas são também ativadas quando da acidificação do espaço livre. Entre
elas destacamos as endoglicanases que cortam as “glicanas” da matriz em segmentos menores, o
que contribui para diminuir a resistência da parede celular.
Dentro da parede celular temos os micro e macroporos formados pela organizaçâo das
microfibrilas de celulose, hemicelulose e lignina, com incrustações, depósitos de ácidos orgânicos,
proteínas estruturais e outros compostos que ajudam a formar a estrutura da parede celular (Figuras
1 e 2). Estes macro e microporos conectam-se com os espaços intercelulares e formam um
continuum. A este conjunto formado pelos espaços intercelulares e poros da parede celular
chamamos de “espaço livre”.
Na verdade, este espaço está dividido em dois: um espaço em que água e íons circulam
livremente, e um outro, em que íons de um sinal circulam livremente, enquanto que íons de outro
sinal têm a sua circulação restrita. Assim por exemplo, Cl- e SO4= poderiam circular livremente
neste espaço, enquanto que K+ tem a sua circulação limitada. Isto dá origem ao conceito de " espaço
livre aparente ".
A figura 1 mostra o conjunto formado pelo espaço intercelular e poros na parede celular,
formando o “o espaço livre aparente”. Na figura 1, o espaço intercelular e o poro com água (H2O)
7
formam “o espaço livre de água”. Água e solutos podem circular no espaço livre (com restrições
devido à carga).
Solutos podem entrar e sair dos poros, dependendo dos gradientes de concentração, e pode
ocorrer troca com o meio externo (solução do solo). Não apenas íons podem circular no espaço
livre, mas também moléculas como açúcares, aminoácidos e outras.
Consideramos estar na endoderme o limite interno do espaço livre porque nem a água nem
os solutos podem atravessar os seus espaços intercelulares, uma vez que, eles estão cimentados com
suberina que recobre as células e as une como o cimento une uma parede de tijolos, embora essa
limitação não seja absoluta, principalmente nas áreas de crescimento da raiz. Íons e água podem
circular “dentro” da parede celular, através de seu sistema de poros, mas não conseguem atravessar
a membrana interna (plasmalema), que com a sua natureza lipo-protéica, é impermeável a íons e
água. Assim podemos estabelecer os limites do espaço livre das raízes como sendo o espaço entre a
epiderme, a endoderme e a plasmalema das células do córtex radicular (Ver capítulo 2, neste
volume).
Qualquer espécie iônica, o K+ por exemplo, pode difundir livremente da solução do solo para
o interior das raízes, circulando pelo espaço livre, seja no espaço intercelular ou nos poros dentro da
parede celular.
Veja o exemplo do macroporo na célula B da figura 1. A maior ou menor circulação desse
íon no espaço livre vai depender da concentração relativa do íon nos diversos compartimentos
(macro e microporos-espaço intercelular) e da eventual interferência de forças de adsorção.
Eventualmente o íon pode ser perdido para o espaço externo. Por esta razão não se pode considerar
que os íons que circulam no espaço livre radicular tenham sido realmente “absorvidos”. Embora
eles estejam dentro da raiz, podem ser facilmente perdidos para o meio externo por simples difusão.
Só são considerados realmente absorvidos os íons que atravessam a membrana plasmática e passam
para o espaço interno da célula.
A passagem de um íon do espaço externo (espaço livre) para o espaço interno da célula só
ocorre através de sítios específicos na superfície da plasmalema. Se um íon não encontra o seu sítio
específico de absorção, pode circular por macro e microporos, voltar para o espaço intercelular, ou
sair do espaço livre. Uma vez que tenha atravessado a plasmalema, entretanto não pode mais voltar
livremente ao espaço externo. Foi absorvido! (Figura 1).
O continuum formado pelo conjunto dos espaços intercelulares e poros da parede celular que
resulta numa via de deslocamento de íons é também chamado de apoplasma, e essa via de
deslocamento é a via apoplástica (Figura 3).
8
A absorção de um íon (passagem para o interior da célula) pode ocorrer em uma das células
da endoderme através de sua superfície exposta (não revestida de material suberificado). Neste
caso, o íon atravessa uma única célula, e chega ao parênquima vascular. A absorção pode também
ocorrer em uma das células corticais, ou numa célula da epiderme. Nestes dois últimos casos o íon
absorvido tem que ser deslocado, de uma célula a outra até chegar finalmente ao parênquima
vascular. O caminho a ser percorrido, de célula a célula, é tornado possível graças a uma intensa
rede de comunicação célula a célula, os plasmodesmas (Figura 3 e capítulo 2). O plasmodesma é
um prolongamento do material celular que passa através de poros na parede celular. É formado por
um desmotúbulo, e tem uma espécie de “revestimento citoplasmático”. O desmotúbulo é o
prolongamento do retículo endoplasmático de duas células adjacentes. A maior parte do transporte
célula a célula, entretanto, pode ser feito através do revestimento citoplasmático. Os plasmodesmas
ocorrem em uma densidade que pode ir de 0,1 a 10,0 por µm2 (cerca de 20.000 por cada parede
tangencial, ou 5 X 108 /cm2) (Ver capítulo 2 neste volume). Estes “canais” ligam as células desde a
epiderme até a endoderme formando um continuum. A este conjunto chamamos de simplasma. Os
íons que se deslocam de célula a célula através do simplasma estão seguindo a via simplástica
(Figura 3).
Seguir a via simplástica é uma maneira de contornar as limitações e/ou restrições ao
deslocamento que os íons enfrentam, nos diversos compartimentos do espaço livre aparente.
Algumas espécies iônicas, de absorção muito rápida são quase que totalmente absorvidas nas
células epidérmicas ou nas primeiras camadas de células corticais, o que significa que praticamente
só alcançam a área vascular das plantas por deslocamento através do simplasma. O íon fosfato
(H2PO4-) é uma dessas espécies. Outros íons como o K+ deslocam-se facilmente por via apoplástica.
Na figura 3 esse movimento do íon H2PO4- pode ser visto desde a célula epidérmica (1ª à esquerda)
até as células do parênquima vascular.
9
Figura 3. Deslocamento de íons, desde a solução externa até o xilema; por via apoplástica (K+), ou
simplástica (H2PO4-).
Tabela 2 Massa seca das Folhas e das raízes de plantas de hortelã aos 64 dias após o transplantio
(DAT) em cultivo hidropônico com diferentes doses de N e P (Souza et al., no prelo)
O espaço livre aparente é subdividido em dois: o espaço livre de água, e espaço livre de
Donnan. O espaço livre de água é aquele em que água e solutos circulam livremente, enquanto que
o espaço livre de Donnan, é aquele onde existem limitações para circulação de ions. Para entender a
origem e extensão deste espaço (de Donnan), voltamos a nossa discussão a respeito da deposição de
ácidos galacturônicos sobre a superfície das microfibrilas de celulose.
Pela figura 2 vemos que os ácidos galacturônicos são ácidos orgânicos de cadeia longa. O
pK dos grupos carboxílicos desses ácidos está em torno de 3,5. Isto significa, que nas condições
normais de equilíbrio entre a solução do solo e o apoplasto, estes ácidos estarão dissociados (o pH
da solução do solo, em solos normais está entre 5,0 e 7,0 ). Quando o espaço intercelular e os macro
e microporos das células entram em contacto com a solução do solo, ocorre um arraste e eventual
substituição dos prótons do ácido. Pode então ocorrer uma troca de cátions (H+ por K+ por
exemplo), com os resíduos de carga negativa formando uma superfície de carga negativa fixa. Essas
cargas fixas formam uma superfície de troca de cátions. Esta superfície, capaz de trocar cátions é a
origem da capacidade de troca de cátions das raízes, ou CTCR (Figura 4).
Nos microporos, se estas cargas estiverem muito próximas, e sua densidade for grande,
forma-se uma barreira para a livre difusão dos íons. Os íons Cl- , NO3- e H2PO4- por exemplo
teriam grande redução de sua velocidade de difusão sob essas condições. Por outro lado, os cátions
seriam atraídos por essas superfícies carregadas. A intensidade dessa atração depende da densidade
das cargas elétricas fixas, e da valência do íon. Assim por exemplo, em uma superfície de pequena
densidade de carga um íon monovalente como o K+ seria atraído com muito maior facilidade do que
um íon trivalente como o Al+++ (Figura 4A e 4B). Por outro lado em uma superfície de alta
densidade de carga, cátions de maior valência como o Ca++, seriam atraídos com maior intensidade,
e teriam maior atividade do que os íons monovalentes (Figura 4D). Deste modo, teremos como uma
11
regra geral: poros com baixa densidade de carga atraem preferencialmente íons monovalentes, em
detrimento dos íons di e trivalentes, enquanto que, poros com alta densidade de carga atraem
preferencialmente íons di e trivalentes, em detrimento dos íons monovalentes (Figura 4).
Íons trivalentes como o Al+++, têm uma interação tão grande com superfícies de alta
densidade de cargas, que praticamente entram em “colapso” sobre essas superfícies, formando
ligações quase covalentes (Figura 4C). Neste caso, dificilmente são substituídos nas superfícies de
troca e reduzem a CTCR da planta (ver capítulo 15 neste volume).
Em geral, as monocotiledôneas têm uma menor densidade de carga do que as
eudicotiledôneas. Plantas como o milho, arroz e brachiaria, têm uma densidade de carga (expressa
em CTCR) em torno de 10 a 20 meq/100 g de raízes secas, enquanto que soja e feijão têm suas
CTCR em torno de 40 a 80 meq/100 g de raízes secas.
Esta variação da CTCR nos permite fazer algumas considerações sobre a capacidade de
diferentes plantas de extrair nutrientes do solo. Embora a CTCR seja um dentre os inúmeros fatores
que afetam o processo de aquisição de nutrientes pelas plantas, se colocarmos sob as mesmas
condições ambientais duas raízes com diferentes CTCR e do mesmo tamanho, podemos esperar que
as plantas de menor CTCR sejam mais eficientes na absorção de K+, enquanto que as plantas de
maior CTCR absorverão Ca++ e Mg++ mais eficientemente, se todos os outros fatores forem
mantidos constantes. Glass et al. (1992) observaram que a absorção de cátions monovalentes (K+ e
Na+) diminui, e a absorção de cátions divalentes (Ca++ e Mg++) aumenta, à medida que a CTCR das
plantas aumenta. Este fenômeno é importante no desenvolvimento de espécies de plantas calcícolas
ou calcífugas.
12
A membrana celular (plasmalema ou membrana plasmática) formada por uma dupla camada
de fosfolipídios e incrustada de proteínas apresenta o seu interior hidrofóbico, portanto impermeável
à água e a espécies iônicas (Figura 5).
a) Bombas iônicas
As bombas iônicas atuam no transporte ativo de íons, com o uso direto de energia
metabólica. Geralmente são sistemas que incluem ATPases ou Pirofosfatases. Estes transportadores
usam a energia gerada pela hidrólise de ligações de alta energia (ATP ou PPi), sofrem mudanças
conformacionais, e voltam ao estado inicial após transportar o íon.
Entre as bombas iônicas, sem dúvida a mais estudada é a bomba iônica de extrusão de
prótons. A extrusão de prótons, conhecida como "transporte ativo primário" é um mecanismo
gerador de eletrogenicidade, e portando atua sobre as diferenças de potencial que compõem, junto
com as atividades da espécie iônica, o potencial eletroquímico que determina as características do
transporte ativo ou passivo.
Foram identificadas bombas de prótons que atuam tanto na membrana plasmática como na
membrana do vacúolo (tonoplasto). Na plasmalema, a bomba de extrusão de prótons atua, tornando
o interior da célula mais negativo e criando um gradiente de prótons entre o exterior e o interior da
célula (gradiente protoniônico). No tonoplasto, foram identificadas bombas de prótons que atuam no
sentido citoplasma → vacúolo, que são as H+-ATPases e as H+-PPases. No caso de transporte
através do tonoplasto, um gradiente protoniônico é criado de dentro para fora (vacúolo →
citoplasma) (figura 7).
Figura 7. Sistemas de transporte de íons na célula: (1) P-H+-ATPase; (2) Transportador de nitrato
(simporte com 2H+); (3) Canal iônico; (4) V-H+-ATPase; (5) P-H+-PPase; (6) Transportador
de nitrato (simporte com 1H+)
16
H+ H+
H+ H+
H+
Apoplasto
Citosol
H+
H+
H+3N H+ ATP
-
COO
FC
Ação da FC 14-3-3
ADP + Pi
polipeptídica (face citossólica), que atua na regulação da atividade hidrolítica desta proteína. Esta
regulação pode também ser resultado da ação de quinases ou fosfatases que podem adicionar ou
remover grupos fosfato nos resíduos de serina ou treonina presente no domínio auto-inibitório da
enzima (Figura 8).
A fosforilação destes resíduos e a ligação da proteína regulatória 14-3-3, resulta na ativação
da enzima. Este complexo H+-P-ATPase-14-3-3 pode ser observado em plantas tratadas com
fusicosina, uma toxina produzida pelo fungo Fusicoccum amygdali. A fusicosina liga-se ao
complexo H+-P-ATPase-14-3-3 e o estabiliza, ativando dessa forma irreversivelmente a enzima.
(Figuras 8 e 9).
A B C
0.8 300
CONTROLE FUSICOCCINA
K+
250
H+
0.6
-1
200
meq K L
-1
VANADATO
µeq H L
+
+
0.4 150
100
0.2
50
0.0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
TEMPO (HORAS)
próton motriz para uma variedade de eventos de transporte de íons e metabólitos. Dessa forma, a
H+-V-ATPase gera um gradiente de pH através do tonoplasto explicando o fato do pH vacuolar ser
tipicamente de 3 a 6 enquanto o pH do citosol se encontra por volta de 7,5.
A V-ATPase é composta de dois domínios estruturais. O domínio periférico (V1) é um
complexo de 640 kDa responsável pela hidrólise de ATP e contém oito diferentes subunidades (A-
H) de massa molecular entre 13 e 70 kDa com a estequiometria A3B3CDEFG2H1-2. O domínio
integral (Vo) é um complexo de 260 kDa responsável pela translocação de prótons e é composto de
cinco subunidades (a, b, c, c’, c’’) com massa molecular entre 17 e 100 kDa na estequiometria
abc’c’’c4 (Kawasaki-Nishi, et al., 2003). A subunidade “a” forma dois hemi-canais em comunicação
com os lados citoplasmáticos e o lúmem vacuolar e é provavelmente o local por onde os prótons
passam.
A B A
ADP+Pi
B B G
A H+
ATP
E
C H
D
d a
F
c’ c c’’
Figura 10: Modelo rotacional de funcionamento das V-H+-ATPase. (Azevedo, L., tese de
mestrado, UFRRJ, 2006, adaptado de Kawasaki-Nishi, et al., 2003).
Muitos estudos sobre a função fisiológica dessas proteínas tem sido possíveis graças à
existência de inibidores específicos das V-ATPAses como a bafilomicina A1. Este antibiótico inibe
a atividade da V-ATPases de diferentes organismos em concentrações na faixa do nanomolar. A
ação da bafilomicina A1 se dá pela ligação desse inibidor ao setor Vo impedindo o fluxo de prótons
através do canal de prótons da enzima. As V-H+-ATPase são também inibidas pela presença de
NO3- no citossol. Esta característica é importante no metabolismo de N nas plantas.
19
Outro tipo de bomba de prótons, a H+-PPase trabalha paralelamente às V-ATPases para gerar
um gradiente de prótons através do tonoplasto. A H+-PPase é composta de um único polipeptídio
com massa molecular em torno de 80 kDa com tamanho aparente em gel de poliacrilamida de 67 a
73 kDa. A H+-PPase é a única bomba de prótons que utiliza um substrato de baixo custo energético,
o pirofosfato (PPi), sendo este, produto gerado por vários processos biosintéticos de
macromoléculas, como proteína, DNA, RNA, celulose entre outras.
É comumente aceito que o requerimento diferenciado de energia entre as V- H+-ATPases e
as H+-PPases pode prover uma plasticidade energética necessária para manutenção da homeostase
celular numa ampla faixa de condições metabólicas. Por exemplo, tem sido argumentado que H+-
PPase é a bomba predominante em tecidos jovens que contém um elevado conteúdo de pirofosfato
oriundo das altas atividades biossintéticas desses tecidos. Além disso, a atividade das V-PPase nas
células em crescimento ajuda a conservar o ATP, que é moeda corrente de energia na célula.
A síntese de H+-PPase vacuolar em determinadas plantas pode ser induzida por carência de
Pi, anoxia ou frio. Portanto, propõe-se que esta enzima deva funcionar como um sistema para
garantir a manutenção das funções essenciais da célula sob condições em que a produção de energia
metabólica (ATP) é reduzida pela inibição do processo respiratório.
∆p=-228mV
É esta força próton-motriz (∆p) que energiza o transporte de outros íons, que por seu
gradiente de potencial eletroquímico tem que ser absorvidos ativamente, nas que não dispõem de
um sistema ativo primário (tipo bomba iônica) para transporte.
21
Os nutrientes estão em concentrações muito pequenas no solo e para que esses nutrientes
possam ser retirados deste ambiente rarefeito, a estratégia desenvolvida pelas plantas foi a de criar
uma grande superfície radicular, para permitir contacto com o maior volume possível da solução do
solo. Por outro lado, as plantas também desenvolveram uma grande superfície foliar na parte aérea
para permitir a captação mais eficiente da energia solar, que chega a superfície das folhas em
pequena densidade sob a forma de quanta de luz.
A imagem usada fica assim justificada; uma grande superfície de captação de nutrientes em
contacto com o solo, e uma grande superfície de captação de energia, aberta para o céu. Entre as
duas, um eficiente sistema de transporte (Figura 12).
22
Figura 12. As plantas superiores apresentam duas grandes superfícies que são como uma imagem
especular uma da outra, e ligadas por um sistema de vasos condutores (xilema e floema)
para comunicação entre elas.
Na tabela 1 do capítulo 1, neste volume, estão as concentrações dos nutrientes nas plantas.
Em condições normais, as concentrações de nutrientes nas plantas podem exceder em muito as
concentrações no solo. Experiências feitas com cenoura, por exemplo, mostram que os tecidos
podem acumular K+ em concentrações 10.000 vezes maiores do que a concentração na solução em
que estão imersas. Mesmo que as concentrações normais nos tecidos vegetais não sejam assim tão
elevadas, o fato é que as plantas, e em particular as raízes das plantas têm em geral uma
concentração de nutrientes muito maior do que a solução do solo. A despeito desta grande diferença
de concentração, as plantas retiram do solo os nutrientes de que necessitam.
Se os íons encontrados entre a solução do solo e o interior das raízes fossem distribuídos
naturalmente, de acordo com os princípios da fisico-química, deveria haver um deslocamento dos
íons do local de maior concentração para o de menor concentração. No caso, como a concentração
de íons na planta (raízes) é maior do que na solução do solo, deveria haver uma perda de íons pela
raiz e um conseqüente enriquecimento da solução do solo em nutrientes. Entretanto, o que a
experiência nos mostra é que ocorre exatamente o contrário: mesmo que a concentração de íons em
uma solução externa seja 1000 vezes menor do que o das raízes, ainda assim as plantas retiram este
nutriente deste meio rarefeito e aumentam a concentração do íon em seus tecidos. Em outras
23
palavras, os íons podem se deslocar de um ambiente para outro (do solo para as raízes) contra
gradientes de concentração.
Agora vamos nos deter um pouco na questão; que forças seriam capazes de vencer a barreira
formada pelos gradientes de concentração durante o processo de absorção de nutrientes pelas
plantas?
Inicialmente vamos considerar que a entrada de nutrientes na célula pode ser passiva. Por
“passivo” queremos dizer: “energia metabólica não está sendo usada diretamente no transportador”,
o que não significa como já vimos que este transporte esteja sendo feito sem gasto de energia.
Todo e qualquer processo metabólico usa energia. A questão é onde e quando!
No caso do transporte passivo, a energia metabólica (no caso, energia obtida através da
hidrólise de ATP) está sendo usada em outro processo, que usa essa energia para gerar gradientes de
potencial através das membranas. São então esses gradientes as forças que ajudam transportar os
íons de fora para dentro das células. Em outras palavras, no transporte passivo ocorre um uso
indireto da energia metabólica, tornada disponível pela hidrólise do ATP.
No caso do transporte ativo, que é feito contra um gradiente de potencial eletroquímico,
energia pode ser usada diretamente pelo transportador, como é o caso das bombas iônicas, ou
indiretamente, através da geração de gradientes de prótons. O gradiente de prótons permite um co-
transporte em que o H+ é transportado a favor de seu gradiente (passivamente), enquanto que o
elemento co-transportado (anions, açúcares, aminoácidos) o é contra seu gradiente (ativamente).
Este tipo de deslocamento de solutos, de um local em que estão em menor concentração,
para outro em que estão em maior concentração, em desacordo aparente com as leis da física, é
conhecido como "deslocamento contra um gradiente de concentração".
Vejamos, na tabela 3, o deslocamento de um soluto de um compartimento cuja concentração
é 0,01 mM, para outros compartimentos de maior concentração, e a energia necessária para este
trabalho.
Como pode ser observado na tabela 3, temos um soluto (glicose), sendo transportado de um
compartimento em que a concentração é de 0,01 mM para outros compartimentos em que as
concentrações são 10, 100 ou 1000 vezes maiores. Para que isso ocorra, é necessário que alguma
força atue empurrando o soluto contra um gradiente de concentração. Para um soluto neutro, como a
glicose, por exemplo, é possível calcular qual a força necessária para este trabalho, através da
equação de Nernst:
∆G = RT ln Ci
Ce (1)
Onde: Ci = concentração interna e Ce= concentração externa.
No nosso exemplo :
∆G = RT ln 0,1
0,01
∆G = RT ln C2 + ZF∆
∆Ψ (2)
C1
Quando uma célula vegetal em equilíbrio com a solução externa é examinada com um
microeletrodo (do tipo Ling- Gerard ), observa-se que entre o interior da célula e a solução externa,
geralmente existe uma diferença de potencial em torno de - 100mV (interior negativo). Estes
microeletrodos têm em geral pontas de 10 µ de diâmetro quando são usados em algas gigantes, e de
1µ de diâmetro para células animais e vegetais. Os microeletrodos são feitos de vidro, e têm alta
impedância. Internamente o eletrodo é imerso no citoplasma ou no vacúolo e externamente na
solução que banha a célula. Os trabalhos clássicos nesta área foram feitos com algas unicelulares
(algas gigante) (figura 12).
Figura 12. Correntes elétricas podem ser formadas entre o interior da célula e o meio externo
um desequilíbrio em favor das cargas negativas, é necessário que as plantas eliminem o excesso de
H+, ficando na célula os resíduos negativos (Figura 11).
As plantas desenvolveram um eficiente sistema de eliminação de prótons, através das
bombas iônicas de extrusão de prótons. A bomba iônica de extrusão de prótons é o mecanismo
central no processo de nutrição mineral das plantas. Este mecanismo gera direta ou
indiretamente a energia que permite a entrada de espécies iônicas nas células, mesmo contra um
gradiente de concentração (ou como veremos adiante, contra um gradiente de potencial
eletroquímico).
A bomba de prótons é na verdade um transportador de íons, específico para prótons que
funciona usando energia metabólica (ATP). O transportador, estimulado pela presença de H+ no
meio interno, usa a energia gerada pela hidrólise do ATP para mudar de estado energético, liga-se
ao H+, e o bombeia para o meio externo, independentemente de troca por outro cation (do meio
externo). É, portanto, um sistema de transporte unidirecional chamado uniporte. (Figura 6)
Uma transferência unidirecional de cargas positivas gera eletronegatividade (pois não ocorre
transporte simultâneo de outro cátion de fora para dentro, de modo a que a diferença de carga
positiva pudesse ser compensada) (interior negativo). Deste modo quando um microeletrodo for
inserido na célula, surge uma corrente. Este potencial que é gerado entre o interior e o exterior da
célula, através da plasmalema, é denominado potencial de membrana (ψ ).
O termo VjP indica o efeito da pressão no potencial químico. Nas raízes, este termo é
negligível.(considerando-se µ-j)
em condições de equilíbrio :
µ- j o = µ-ji
logo : Ei - Eo = RT ln ajo
zj F aji
Por essa equação, verificamos que, em condições de equilíbrio, o potencial gerado através da
membrana depende da atividade química do íon nos dois compartimentos. A bomba de prótons
desloca este equilíbrio em favor do compatimento externo, gerando eletronegatividade, e criando
um gradiente protoniônico.
A-i
A-o
C+
C+
C+X-
Quando um íon difunde livremente (e passivamente), sem ser afetado por outros ions ou por
interações com a membrana:
Ej = Em
∆G = RT ln Ce + ZF ∆Ψ
Ci
A partir desta equação podemos calcular qual o potencial de membrana a partir do qual uma
espécie iônica pode ser transportada para o interior da célula, a favor do gradiente de potencial
eletroquímico.
Vejamos o potencial de membrana para a absorção de K. Em primeiro lugar, é necessário
conhecer as concentrações externa e interna da espécie iônica. No caso, teremos uma concentração
29
externa (na solução) de 1 mM. A concentração interna (na célula) é de 89mM (Lüttge e
Higinbothan, 1979)
Ek+ = RT ln [K]e
ZF [K] i
Ek+ = 25,3 ln 1
89
Ek+ = -114 mV
No exemplo citado (Lüttge & Higinbotham, 1979), o potencial da membrana medido com
eletrodo foi de -109 mV. A pergunta então é: dadas às concentrações de K+ (Ke/Ki), e o potencial de
membrana (Ψ), a tendência do íon K será de entrar ou de sair da célula?
EDK= Em - Ek
(D=drive)
Com este resultado (+5) não haverá tendência de deslocamento de K+ para o interior da
célula. Neste caso, o gradiente de potencial eletroquímico é desfavorável ao transporte (passivo) de
K+. Para que o íon possa ser transportado será necessário usar energia adicional, capaz de realizar o
trabalho de transporte do íon.
A partir deste exemplo de Lüttge & Higinbotham (1979), fizemos uma modificação nesse
sistema de modo a permitir que se desenvolva um gradiente de potencial eletroquímico favorável à
absorção passiva de K+.
Um parâmetro que pode ser modificado facilmente é a concentração externa de K (na prática
agronômica isso é feito via aplicação de fertilizantes). Neste caso, por exemplo, vamos duplicar a
concentração externa de K. Teremos:
30
EK+ = 25,3 ln 2
89
EK+ = - 96 mV
logo,
Com este resultado negativo, o íon K+, nessa nova situação, será absorvido passivamente.
Uma outra possibilidade seria estimular a atividade da bomba iônica de extrusão de H+, por
exemplo, com a aplicação de Fusicocina, como pode ser visto na figura 9.
Neste caso, e todos os outros fatores sendo mantidos constantes, o potencial da membrana
(∆Ψ) torna-se ainda mais negativo. Vamos supor, por exemplo, que como resultado do estímulo à
atividade das H+-ATPases, devido à aplicação da Fusicocina, o potencial da membrana caia para –
150 mV. Neste caso, e mantendo-se as mesmas concentrações iniciais interna (89 mM) e externa (1
mM), teremos o seguinte resultado:
Também neste caso, o K+ pode ser absorvido, passivamente, graças ao gradiente de potencial
eletroquímico favorável, criado pela ação eletrogênica da bomba iônica de extrusão de H+.
Resumindo teremos:
Transporte ativo: é feito contra um gradiente de potencial eletroquímico
Transporte passivo: é feito a favor de um gradiente de potencial eletroquímico
caso, a energia para o transporte “contra um gradiente de potencial eletroquímico”, é fornecida pela
força próton motriz (∆p).
Em qualquer dessas formas de transporte, o transportador sofre mudanças de conformação.
A velocidade de transporte desse sistema está em torno de 103 íons por segundo.
Os canais iônicos, formados por proteínas, com uma fração apolar embebida no interior da
plasmalema, e com o lúmen formado com sítios eletricamente carregados são mecanismos de
transporte de grande velocidade (106 a 108 moléculas por segundo), reduzindo a energia necessária
para o transporte através da membrana. Os canais iônicos atuam sempre a favor do gradiente de
potencial eletroquímico, e pela sua velocidade são retificadores de corrente. Quando abertos, os
canais iônicos formam poros seletivos que transportam íons sem que ocorram mudanças de
conformação na proteína (Zimmermann & Sentenac, 1999).
Canais iônicos ajudam a controlar o potencial das membranas, e participam da transdução de
informações em plantas.
Alguns canais iônicos são de maior seletividade, enquanto que outros podem transportar
diversas espécies iônicas, como por exemplo os canais não seletivos de cátions. Certos canais
iônicos só são ativados a partir de um dado potencial de membrana, ou seja têm um controle ou
(portal) umbral a partir do qual estão abertos. Abaixo deste potencial de membrana o canal iônico
estará fechado.
Por exemplo, o canal iônico pode abrir a potenciais de membrana mais negativo que -
200mV, e fechar com potenciais mais positivos que -100mV.
Os canais iônicos mais estudados são os de K. Canais transportadores de K existem em
plantas e em animais, e podem ser de diversos tipos. Os mais conhecidos são os da família “shaker”.
São formados por uma cadeia polipeptídica com 6 segmentos que atravessam a membrana (S1 a
S6), estando as extremidade N-terminal e C-terminal, ambas no interior da célula (Figura 13). O
domínio P localizado entre os segmentos S5 e S6 forma o poro aquoso, quando quatro cadeias
polipeptídicas se arranjam espacialmente na membrana, formando a estrutura tetramérica do canal.
O segmento S4 é o elemento sensor do potencial elétrico, ele é caracterizado pela presença de
aminoácidos com carga positiva. O arranjo espacial de quatro cadeias polipeptídicas (estrutura
tetramérica) com seus respectivos seguimentos que atravessam a membrana (S1 a S6) formam o
poro do canal de K+, por onde esse íon atravessa a membrana (Figuras 13 e 14). Em canais de K do
tipo KAT1, aminoácidos com carga positiva foram identificados como parte do sistema de sensores
de voltagem (Zimmermann e Sentenac, 1999).
32
Figura 13. Representação esquemática dos domínios transmembrana dos canais de K+.(Adaptado
de Zimmermann e Sentenac, 1999).
Figura 14. Arranjo espacial em estrutura tetramérica dos domínios transmenbrana dos canais de
potássio (vista superior) (Modificado a partir de Zimmermann e Sentenac, 1999)
33
A figura 15 mostra que o K+ e o Ca++ podem ser deslocados para o interior das células,
através da plasmalema, via canais iônicos. O K+ também pode ser transportado ativamente via
simporte (H+/K+). NH4+ e H+ são transportados via uniporte por transportadores de íons na
plasmalema. Ainda na plasmalema foi observado um antiporte, com a troca de Na+ por H+.
Na plasmalema ocorre o cotransporte de Cl-/ 2H+; de 2H+/ NO3-, H+(2-4)/H2PO-4 e 3H+/SO-4.
Açúcares e aminoácidos também são transportados via simporte (cotransporte) com um próton.
Duas bombas iônicas de grande importância para o metabolismo celular operam na plasmalema: a
bomba de prótons (transporte ativo primário), e a bomba de Ca++.
No tonoplasto, três canais iônicos operam no tranporte de K+, Ca++, e NO3-. Este último,
provavelmente também é capaz de transportar Cl- e malato.
Um mecanismo antiporte H+/Na+ funciona no tonoplasto, transportando H+ para fora do
vacúolo, e Na++ do citosol para o vacúolo. Também ocorre no tonoplasto um antiporte Ca++/ 2H+
transportando Ca++do citoplasma para o vacúolo.
Nitrato sai do vacúolo via simporte (NO3-/ H+) enquanto que o sistema de cotransporte para
o malato exige dois prótons (malato-/ 2H+). A formação de um gradiente protoniônco no vacúolo,
em relação ao citosol, é garantido por duas bombas iônicas: uma H+-ATPase, e uma H+-PPase.
Este esquema via bombas iônicas, uniportes, simportes e antiportes, mostra algumas
características importantes dos sistemas de transporte, e de sua influência no metabolismo celular.
Em primeiro lugar, há que ressaltar a eficiente bomba iônica de extrusão de prótons (5 a 20
pmoles/cm2/seg) de caráter eletrogênico, e que funciona como sistema primário de transporte,
permitindo a criação de potenciais que possam ser favoráveis ao transporte unidirecional (uniporte)
de cátions. Este mesmo mecanismo acaba por gerar grandientes de prótons (de fora para dentro) que
permitirão o cotransporte de anions. Inversamente, no tonoplasto, as duas bombas de protons
retiram H+ do citosol, acumulando-o do vacúolo. Isso permite o controle do pH citoplasmático e
também a geração de um gradiente próton-iônico de dentro para fora, em relação ao vacúolo. Este
último gradiente, permitirá a saída de NO3- e de malato do vacúolo (Figura 15).
com a liberação de CO2 e OH-. O ácido orgânico formado é o malato, e sua descarboxilação dá
origem ao piruvato.
carga. Nestas condições, há um desequilíbrio em favor de cargas negativas, o que pode resultar, em
médio prazo, na necessidade de que a planta faça a extrusão de cargas negativas (ou absorção de
H+).
39
É preciso observar, entretanto, que o NO3-é responsável por cerca de 50% do total de anions
absorvidos pelas plantas. Assim, se o suprimento de N às plantas for feito via fixação de N2, ou
através de N-NH4+, esta equação (balanço entre cátions e anions) é alterada, e a planta passa a
absorver um excesso de carga positiva. Neste caso, mantendo-se esta tendência por períodos longos
de tempo, deve ocorrer uma extrusão ativa de prótons, para reequilibrar as cargas no interior do
citoplasma, e controlar o pH celular.
O grupo que estudava nutrição de plantas em Davis (Rains e Epstein, 1967; Rains, 1976), fez
um experimento que consistiu em colocar raízes, envoltas em gaze, em bechers contendo soluções
de K+, de concentração crescente. Por exemplo, concentrações de K+ de 0,002 mM a 0,2 mM, a
intervalos constantes. As raízes ficaram em contato com a solução por um certo período de tempo
(20 minutos a 1 hora). Ao fim deste período um grama de raízes foi pesado e o seu conteúdo em K+
determinado (na esses autores usaram Rb+, que tem um isótopo de vida mais longa para substituir o
K, e mediram a radiação emitida pelas raízes).
Os trabalhos iniciais de Epstein e seu grupo em Davis mostraram que a absorção de K
mostrava cinética de saturação (figura 17).
v= Vmáx x θ
em que θ (fator intensidade) é a fração do total de sítios de transporte sendo efetivamente utilizados
em um dado momento (N° de roletas disponíveis).
41
Figura 18. Diferentes isotermas são formadas (são mostradas aqui apenas como I e II), à medida
que a concentração K+ aumenta na solução externa.
Vmáx é o máximo de transporte possível, quanto todos os sítios dos transportadores estão
carregados é o fator capacidade.
Chamaremos de teta (ø) à fração do transportador que está sendo efetivamente utilizado a
uma determinada concentração do substrato. É também chamado de fator intensidade.
v= Vmáx. ø
[M]
ø = _____ e assim teremos a: [M] = concentração do ion a ser absorvido.
Km + [M]
Vmáx [M]
v = __________
Km + [M]
A faixa de concentração que estamos usando neste caso (0 a 0,2 mM) está dentro dos limites
do mecanismo de alta afinidade para absorção de K, mecanismo I (Epstein & Bloom, 2005).
Quando as concentrações externas de K vão muito além desse limite, surge uma segunda isoterma,
que foi chamada por Epstein de mecanismo II. Na verdade, esta segunda isoterma é uma soma de
várias isotermas que surgem nas faixas de alta concentração de K (Figura 18).
Em uma primeira aproximação, podemos considerar que no caso do K, a primeira isoterma
corresponde à faixa do transporte ativo do íon (K+/H+) (Mecanismo I), enquanto que as isotermas
das faixas de maior concentração refletem a absorção via canais iônicos (uniporte) (Mecanismo II).
A figura 16, baseada em trabalho de V. Pimentel (resultados não publicados) exemplifica esses
casos.
A faixa do mecanismo I, da figura 18, é também denominada de “Sistema de transporte de
alta afinidade” (HATS em língua inglesa). A faixa do mecanismo II representa o “Sistema de
transporte de baixa afinidade” (LATS em língua inglesa). Para o NO3-, o NH4+ e o K+, a grosso
modo, as concentrações de 1mM do íon em solução externa pode ser usada como limite entre os
dois mecanismos.
44
6 INTERAÇÕES IÔNICAS
Embora o transporte de íons seja específico isto é; cada espécie iônica é transportada através
de um sítio particular, seja ele um tipo qualquer de transportador (ATP-ase específica, canal iônico,
ou um sistema acoplado de transporte, cotransporte), existem situações em que dois ou mais íons
por sua semelhança em termos de raio iônico e carga podem ser transportados pelo mesmo sistema.
O caso mais óbvio, pelo seu largo uso em pesquisa científica, é o dos íons K+ e Rb+. Os sistemas
transportadores de K+ não conseguem distinguir entre o íon K+ e o íon Rb+ . Como não existem
isótopos estáveis de K+, o fato do transportador de K+ também transportar Rb+, permite o uso de um
isótopo de Rb+ como traçador para K+.
Outros casos existem em que este tipo de interação é evidente. O íon SeO4= e o íon SO4= são
outros exemplos de interação deste tipo.
Interações deste tipo são chamadas de interações competitivas. Nas interações competitivas
o íon competidor compete de modo reversível com o íon nativo (no caso acima, Rb+ é o íon
competidor, e K+ o íon nativo) pelo mesmo lugar no transportador. Neste caso, não ocorrem
mudanças no total de sítios disponíveis, mas sim na fração do total de sítios que ficam disponíveis
para o íon nativo.
Como o total de sítios transportadores não muda, se representarmos graficamente este
processo de interação, usando o gráfico de Lineweaver-Burk, teremos então a figura 21.
Figura 21. Efeito de um íon competidor (linhas pontilhadas) sobre a absorção do íon nativo
45
Tabela 4. Parâmetros Vmáx, Km e Cmin em plantas de arroz (variedades Agulha e Bico Ganga) aos
25 e 50 dias, submetidas a quatro níveis de N-NH4+ em solução nutritiva (Baptista, Fernandes e
Souza, 2001)
7 TRANSLOCAÇÃO DE NUTRIENTES
células periféricas (Roberts, 2006), internamente, estão as células estelares que atuam na liberação
dos nutrientes para o apoplasma estelar e vasos do xilema (Roberts, 2006).
Como pode ser visto no esquema da figura 22, nutrientes como o H2PO4- e K+ são
absorvidos por células da epiderme e córtex, respectivamente, via canais iônicos e transportadores.
Circulando via plasmodesmas esses íons ultrapassam a barreira da endoderme e alcançam as células
do parênquima estelar. Nas células do parênquima estelar esses nutrientes são passíveis de efluxo, e
podem deslocar-se para o apoplasma, seguindo para o xilema acompanhando o fluxo de água. Via
xilema os nutrientes alcançam a parte aérea das plantas, ou outras partes (incluindo raízes em
crescimento) que podem funcionar como drenos (Fernandes e Souza, 2004).
Na parte aérea, os nutrientes encontram-se num espaço que seria o equivalente ao espaço
livre das raízes. Novamente precisam deslocar-se através de macro e micro poros, vencer as
barreiras dos espaços de Donnan, e alcançar a plasmalema das células, onde podem ser
transportados para o citossol. Os nutrientes assim absorvidos podem entrar no metabolismo celular,
ou ser deslocados por via simplástica em direção aos vasos condutores. Em alguns casos, conexões
podem ser estabelecidas com as células companheiras, mas o mais provável, é que esses nutrientes,
juntamente com produtos do metabolismo celular sofram efluxo para o apoplasma, e depois voltem
a ser absorvidos, via transportadores, através da plasmalema das células companheiras. A partir daí,
alguns nutrientes podem se deslocar diretamente via floema na direção dos drenos. Outros
nutrientes, entretanto, apenas após sofrerem transformações (assimilação) são deslocados no floema
(Figura 22).
O deslocamento de íons pode ser feito como pares iônicos. Por exemplo, o NO3- e o K+
deslocam-se juntos no xilema. No sentido inverso, nutrientes podem também ser translocados via
floema (Fernandes e Souza, 2004). Entretanto, nem todos os nutrientes conseguem se deslocar no
floema em forma iônica. O NO3- por exemplo, não se desloca no floema. O N é geralmente
movimentado no floema como aminoácidos ou amidas. O K+ por outro lado, desloca-se no floema, e
como acontece no transporte no xilema, e geralmente o faz em companhia de um anion, neste caso
de ácidos orgânicos (R-COO-). O resultado dessa mobilidade é o fenômeno da “recirculação do K+”
entre raiz-parte aérea-raíz.
O cálcio, o enxofre e o ferro que também são transportados para a parte aérea, via xilema, ao
contrario do K+, não circulam no floema. O cálcio e o ferro são particularmente pouco móveis na
planta. Uma vez localizados em um tecido vegetal, não são mais remobilizados para outra parte da
planta. É conhecido um tipo de clorose chamada “clorose de topo” característica de deficiência de
ferro. Isto ocorre porque o ferro não se desloca das folhas mais velhas para as mais novas. Como
48
resultado, são as folhas mais novas que apresentam clorose. No caso de elementos de grande
mobilidade como o nitrogênio, sua deficiência gera clorose das folhas mais velhas, que perdem o
nutriente em uma relação fonte-dreno (Fernandes e Souza, 2004).
Em todo esse processo ao longo da via de absorção, translocação e efluxo há uma demanda
de energia, principalmente via ativação das ATPases, para a absorção de nutrientes, seja nas células
da epiderme, do córtex da raiz, ou nas células de folhas, bainhas e caule. O processo como um todo
resulta, portanto em um custo energético, principalmente para a geração de gradiente de potencial
entre compartimentos da célula, e o apoplasma.
Após o deslocamento no floema, sempre no sentido fonte dreno, os nutrientes podem seguir
por via simplástica, para as células dos frutos ou sementes, ou para células em crescimento nas
raízes. Como pode ser visto na figura 22, ocorre então uma última etapa de efluxo (para o
apoplasma) e nova absorção, desta vez para as células do destino final.
49
Figura 22. Esquema da circulação dos nutrientes desde sua absorção por células epidérmicas ou corticais; circulação no xilema e no floema, e
redistribuição entre células da parte aérea e da raiz (Modificado a partir de Sondergaard et al., 2004).
50
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Veronica Massena Reis1,3, André Luiz de Martinez de Oliveira1, Vera Lucia Divan
Baldani1, Fábio Lopes Olivares2 & José Ivo Baldani1.
1
Embrapa Agrobiologia, Rodovia 465, km 7, CP 74505, CEP 23851-970, Seropédica,
Rio de Janeiro, Brasil. 2Centro de Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual
do Norte Fluminense, Campo dos Goytacazes, RJ, Brazil. Autor para correspondência:
veronica@cnpab.embrapa.br
SUMÁRIO
1 Introdução.......................................................................................................... 252
2 Mecanismos de fixação biológica de nitrogênio ............................................... 255
3 Quem são os organismos responsáveis por esta fixação biológica de
nitrogênio? ........................................................................................................................ 257
4 Onde ocorre o processo de fixação biológica de nitrogênio..............................259
4.1 Formação do nódulo ............................................................................................... 259
9 4.2 Interações associativas....................................................................................... 261
4.3 Associações com bactérias diazotróficas endofíticas ............................................ 262
4.4 Vida livre ......................................................................................................... 264
5 Fixação Biológica de Nitrogênio e o ambiente ............................................... 265
6 Absorção de nitrogênio fixado pelas plantas................................................... 267
7 Quantificação da FBN ................................................................................. 272
7.1 Métodos para estimar a contribuição da FBN ............................................... 274
7.1.1 Redução de acetileno...................................................................... 274
7.1.2 Balanço de N .................................................................................. 275
7.1.3 Técnicas isotópicas – 15N ............................................................... 276
8 Potencial de uso agrícola e otimização da FBN .............................................. 278
9 Perspectivas Futuras ........................................................................................ 279
10 Referencias bibliográfica................................................................................. 282
1 INTRODUÇÃO
este ser absorvido pelas plantas foi descrita em 1888. A incorporação de nitrogênio via
Para se ter uma idéia, a contribuição da fixação biológica de nitrogênio para o total de N
pequeno conteúdo deste nutriente nos minerais do solo. Apesar disto, a grande maioria
diazotrófica, foi descrita em 1893. Desde o começo, esta descoberta gerou um grande
impacto e vasta literatura no tema, sendo até hoje os rizóbios as mais estudadas.
mas também podem ocorrer nos caules de plantas que sofrem períodos de alagamento.
Brasil, esses ganhos são bastante expressivos, podendo gerar uma economia potencial
de cerca de 200 milhões de reais por ano se considerarmos que o processo de fixação
Ainda que possamos considerar esses ganhos apenas razoáveis quando comparados ao
também no ambiente, principalmente pela redução dos níveis de nitrato acumulado nos
fixadores de nitrogênio conhecidos atualmente. Esta tabela tem como base a atual
(ARN). Como esta molécula possui em torno de 1500 pares de bases e seu arranjo
composição dos pares de bases é usada na formação dos três super-reinos: Archae
Eucaria (organismos que possuem membrana nuclear) (maiores detalhes Sapp, 2005)
Tabela 1: Grupo e gênero de microrganismos fixadores de nitrogênio conhecidos
atualmente. Esta classificação está baseada na organização dos grupos de
microrganismos levando em consideração a evolução destes usando a
variabilidade genética presente na composição de pares de bases da subunidade
16 S do ácido ribonuclêico (ARN) ribossomal (16 S rRNA).
Grupo Gênero Grupo Gênero
Alfa Azospirillum Gamma cont. Scytonema
Gluconacetobacter Symploca
Mesorhizobium Synechococcus (Cyanothece)
Rhodobacter Synechocystis (marine)
Rhodospirillum Tolypothrix
Rhizobium Trichodesmium
Sinorhizobium Xenococcus
Beijerinckia Delta Desulfobacter
Methylocella Desulfomicrobium
Methylosinus Desulfovibrio
Methylocystis Desulfotomaculum
Bradyrhizobium Desulfonema
Methylocystis Firmicutes Frankia
Xanthobacter Paenibacillus
Methanosarcina Clostridium
Beta Alcaligenes Acetobacterium
Burkholderia Desulfosporosinus
Herbaspirillum Spirochaetes Spirochaeta
Azoarcus Treponema
Thiobacillus Spirochaeta
Epsilon Arcobacter Treponema
Gamma Anabaena Spirochaeta
Azotobacter Spirochaeta
Chlorogloeopsis Treponema
Calothrix Archae Methanobrevibacter
Cyanothece Methanococcus
Dermacarpa Methanothermobacter
Fischerella Methanosarcina
Gloeothece Methanothermobacter
Lyngbya Methanopyrus
Myxosarcina Methanococcus
Nostoc Methanocaldococcus
Oscillatoria Heliobacteria Heliobacterium
Phormidium Cyanobacteria Grupo das Cyanothece
Plectonema Grupo das Gloeocapsa
Pseudanabaena Gloeothece
Adaptado de Zehr,J.P.; Jenkins,B.D.; Short,S.M.; Steward,G.F (2003).
2 MECANISMOS DE FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO
elétrons por molécula de nitrogênio fixado, sendo um dos processos metabólicos mais
caros para a célula. Estudos têm mostrado que a quantidade de N fixado no planeta gira
que hidrolisa ATPs para efetuar a redução do N molecular (N2). É formado por duas
trocado pelo Vanádio (V) ou Ferro (Fe) e os genes que codificam estas nitrogenases são
sendo que a de vanádio expressa preferencialmente à de ferro. Nesta mesma ordem está
a eficiência de redução do nitrogênio (Loveless, T.M., Saah, J.R., & Bishop, P.E. 1999;.
1.
proteção podem atuar quando o processo de fixação biológica de nitrogênio está ativo.
Além disso, por ser um processo fisiológico que requer uma grande quantidade de
de O2 (<0.1 % v/v).
Sabe-se hoje que muitos gêneros e espécies capazes de realizar a FBN estão
Proteobacteria, sendo este o subgrupo mais estudado. Dentro deste grupo estão também
surpresa, o que trouxe à luz a hipótese mais plausível de ter havido um ancestral
entre outras, mas nenhum gênero foi descrito com associado a plantas.
trevo. Existem casos em que a estirpe nodula a planta, mas se não for o seu hospedeiro
correto ela não fixa o nitrogênio, sendo chamado de nódulo inefetivo. A efetividade do
uma variedade de compostos químicos das células radiculares para o solo, influenciando
bactéria secreta os fatores nod que estimulam a curvatura dos pelos radiculares e a
invasão da raiz, que inclui a formação de um cordão de infecção. Este cordão é formado
secretar fatores nod, que estimulam a divisão das células radiculares. Após uma semana,
vivas de Rhizobium, que nesta fase são denominados de bacteróides. Estes bacteróides
peribacteroidal.
feijão, etc chamado de nódulo de crescimento determinado (circulares). Neste caso, uma
vez formado ele fixa enquanto a simbiose estiver ativa, facilmente notada pela
caso o nódulo não para de crescer, isto é, o centro responsável pela FBN muda
conforme um novo tecido organizado para este fim é formado. São comumente
Nódulos de crescimento
indeterminado em simbiose com
Acácia podalfriaefolia. .
Foto: Dr. Sergio Miana de Faria
Embrapa Agrobiologia).
Este gênero está dividido hoje em sete espécies, sendo que estas duas espécies são mais
Tailândia. As outras quatro espécies possuem poucos relatos de sua presença, sendo que
A. halopraeferens foi isolado de uma espécie de grama (Leptochloa fusca L.) crescida
forma, outros gêneros e espécies são descritos em associação com diversas plantas e em
planeta.
prática do termo endófito. De acordo com Kloepper et al. (1997), bactérias endofíticas
são aquelas que podem ser isoladas de tecidos vegetais superficialmente desinfestados
ou extraídas de dentro da planta, e que não causam danos visíveis ou induzem sintomas
na planta. Fica claro portanto, que bactérias com capacidade para estabelecer-se
• A bactéria deve ser capaz de invadir e proliferar nos tecidos da planta hospedeira,
• A bactéria não deve induzir uma resposta drástica da planta à infecção (resposta
em sorgo)
de propagação vegetativa.
Vamos dar como exemplo a descrição do endófito mais conhecido atualmente e
Acetobacter diazotrophicus) (Yamada et al., 1997, 1998). Esta espécie foi isolada
Austrália. Esta bactéria também está associada a outras plantas tais como a batata-doce,
e capim elefante (Pennisetum purpureum), café, abacaxi, entre outras. Por não possuir a
enzima nitrato redutase, a atividade do complexo nitrogenase não será inibida pela
tolete de cana-de-açúcar, muito embora o palhiço da própria cultura não deva ser
descartado como uma fonte alternativa de inóculo quando incorporado ao solo, esporos
da sucção da seiva do floema por cochonilhas que vivem dentro da bainha foliar da
plantas de cana-de-açúcar e que possuem esta bactéria dentro da linfa. Devido a estas
seu genoma está sendo seqüenciado além dos estudos relacionados a caracterização de
proteínas presentes nos diversos estágios de seu metabolismo (Baldani, J.I.; Reis, V.M.;
desde que o ambiente esteja proprício para a sua multiplicação celular são chamadas de
bactérias de vida livre. Este grupo é representado por bactérias aeróbicas, anaeróbicas e
plantas, utilizando para sua nutrição os exudatos das raízes das plantas. Mas como
luz como fonte de energia e CO2 como fonte de carbono. Neste grupo está a espécie
e a luz como fonte de energia. Neste grupo estão as bactérias verdes sulfurosas
fonte de energia e CO2 como fonte de carbono e tem como principal representante
Thiobacillus ferroxidans.
e de vida livre, esta associação é menos exigente. Vários estudos têm mostrado que a
leguminosas apresenta-se como uma das principais tecnologias para reduzir a carência,
sendo cada vez mais amparadas por resultados experimentais, e tornando-se uma
sistemas onde ocorre a contribuição destes microrganismos em vida livre, bem como em
ocorre após a morte das células bacterianas e a lise de constituintes orgânicos celulares,
possuem contato direto com o citoplasma celular, sendo envolvidos por uma membrana
assimilação
ADP + Pi
D
A NH3 + H+ NH4+
ATP H+
N2 + nitrogenase H+
H+
C bacteróide (-)
malato-
B (+)
membrana peribacteróide
malato-
da simbiose, e sua não formação leva a nódulos ineficientes (Udvardi & Day, 1997).
anteriormente citada.
amônia até glutamina. Em seguida ocorre a ação da GOGAT, que converte a glutamina
até glutamato. A enzima GOGAT apresenta uma atividade bastante elevada nos
utilizados para suprir outros tecidos da planta. A molécula utilizada para o transporte
tropical exportam ureídos (Udvardi M. K., Ou Yang L-J, Young S, Day D. A., 1990).
outras, a forma como ocorre a transferência do N fixado não foi determinada (vide
tópicos anteriores). Além disso, a maioria destes organismos apresenta outras formas de
estresses, produção de sideróforos e antibiose, entre outras (Gray & Smith, 2005).
apresentam uma eficiência muito menor que a observada nas simbioses entre rizóbios e
nódulos não significa que estas plantas estejam recebendo contribuições significativas
estudos sobre contribuições agronômicas em plantas que não formavam nódulos como a
culturas onde não há a formação dos nódulos? Por exemplo, o arroz remove cerca de
16-17 kg N por tonelada produzida de grãos secos (Sahrawat, 2000), o trigo requer
cerca de 26-28 kg de N para produzir 1 tonelada de grãos secos (Angus, 2001). O milho
biomassa fresca ou 7 kg N para 1 ton massa seca por hectare, o que seria igual a 116-
274 kg N/ha (Bhuiyan, 1995). Mas este nitrogênio pode ser adquirido apenas via o
processo biológico? Infelizmente, os estudos têm mostrado que no melhor dos casos
(Tabela 5).
Tabela 5: Estimativa de contribuição de FBN por diversas espécies de bactérias
diazotróficas inoculadas em cereais e gramíneas forrageiras.
Gênero Planta Quantidade de N Referência
Azotobacter Arroz 20% aumento grão Yanni & El-Fattah, 1999
Azospirillum Arroz 20% a 58% dependendo Mirza et al., 2000
da variedade/casa de
vegetação
Arroz 58,9 % Ndfa Mirza, Rasul, Mehnaz, Ladha,
So, Ali & Malik, 2000
Trigo 30% aumento grão/ 50- Okon & Labandera-
60 kg N/ha Gonzalez,1994
Trigo 7-12% - 15N Malik, Mirza, Hassan, Mehnaz,
Rasul, Haurat, Bally &
Normand, 2002
Trigo 14 – 37 %; Balanço de Didonet, A. D., Rodrigues, O.
N & Kenner, M. H. 1996
10 a 79 %; Balanço de Boddey, R. M., Oliveira, O. C.
N de, Urquiaga, S., Reis, V. M.,
Olivares, F. L., Baldani, V. L.
D. & Dobereiner, J. 1986
Cana 9 t/ha cana-planta e 5 Muthukumarasamy, Revathi &
t/ha em cana soca Lakshminarasimhan, 1999
Milho 50-95% dependendo Dobbelaere, Vanderleyden &
solo com aplicação 18- Okon, 2001
46 kgN/ha
13 a 25% aumento grãos Riggs, Chelius, Iniguez,
dependendo do genótipo Kaeppler &Triplett, 2001
Burkholderia Arroz 0,8 t/ha Trân Van, Berge, Kê,
Balandreau & Heulin., 2000
Herbaspirillu Arroz 19-58% casa de Mirza, Rasul, Mehnaz, Ladha,
m vegetação So, Ali & Malik, 2000
Arroz 58,2 % Ndfa Mirza, Rasul, Mehnaz, Ladha,
So, Ali & Malik, 2000
Rhizobium Milho 11% campo Gutiérrez-Zamora & Martinez-
Romero, 2001
competitivo da enzima nitrogenase, que uma vez presente na atmosfera era reduzido
período ocorria uma diferença alta entre o início e o fim do período de análise, sendo
este atribuído à multiplicação de células estimulada pela liberação de carbono advindo
da lise celular das raízes após a extração (Van Berkum & Bohlool, 1980). Várias
modificações foram feitas no método para minimizar críticas como estas e outras
fixadoras, etc. O principal problema advindo deste método era a modificação da pO2,
após distúrbios físicos aplicados ao sistema radicular, mesmo sabendo-se que barreiras
físicas protegem os nódulos do efeito inibidor do oxigênio (Witty & Minchin, 1988).
7.1.2 Balanço de N
insumos como adubos desde o início do crescimento até a colheita e novamente ao final
inicial, assume-se que houve incremento de N ao sistema advindo da FBN. Devemos ter
em mente que perdas naturais de nitrogênio normalmente ocorrem no solo tais como
Como a massa de solo necessária para crescer uma planta sadia pode ser maior
que 100 vezes a massa da planta, o N total do solo é muito maior que o acumulado na
planta, mesmo em solos deficientes. Desta forma, as perdas advindas dos três processos
descritos acima devem ser quantificadas e portanto esta técnica deve ser aplicada em
deve-se utilizar as mesmas condições para sucessivos plantios, para obter um ganho de
N significativamente superior aos erros de amostragem e das análises. A principal
vantagem desta técnica é a sua simplicidade e baixo custo e permitem explorar sistemas
onde não se tenha nenhum dado da contribuição de FBN por grupos de pesquisa
iniciantes.
gás marcado é necessário o controle da atmosfera de CO2 e O2 pela clausura das plantas,
App, 1981). Devido a problemas como perdas de gases e períodos curtos de incubação
de 15N e adicionar este adubo ao solo para ser absorvido pelas plantas. Uma vez que a
14
planta absorve esta isótopo mais pesado juntamente com o N, podemos discriminar
esta absorção utilizando um espectrômetro de massa, com sensibilidade suficiente para
15
quantificar o N presente nas amostras de tecidos vegetais e subtrair da abundancia
natural (McAuliffe, Chamblee, Uribe Arango & Woodhouse, 1958). Este cálculo da
contribuição de FBN na planta depende da comparação com uma planta controle que
devemos escolher. Esta planta primeiramente não fixa nitrogênio e portanto todo o
também devem ser levadas em conta para a escolha da planta controle: possuir taxa de
crescimento semelhante a planta teste, ter um sistema radicular que explore as mesma
varia de acordo com a profundidade e com o tempo. Plantas com absorção diferencial
ao longo do tempo e espaço explorado pelas raízes terão uma marcação diferente,
natural deste isótopo no solo. Plantas que recebem contribuições significativas da FBN
acumularão teores deste elemento de duas fontes: solo e ar, diluindo esta marcação
diferenciar a absorção entre plantas. O uso desta técnica para estimar a contribuição da
FBN em plantas noduladas e plantas capazes de se associar com actinorrizas, foi feito
primeiramente por Shearer & Kohl (1986). Para aplicar a técnica de abundância natural
de 15N na quantificação de FBN para gramíneas ou cereais faz-se necessário utilizar um
grande número de plantas vizinhas, ou mesmo invasoras dos campos de produção que se
deseja avaliar. Somente quando esta diferença de marcação natural entre sua planta de
para suprir a demanda de cultivos comerciais com nitrogênio pode ocorrer tanto pela
inoculantes instaladas no Brasil produzem somente insumos para a soja. Outras culturas
demanda crescente por produtos biológicos, não trangênicos, e que podem contribuir
9 PERSPECTIVAS FUTURAS
Alguns pontos importantes devem ser alvo das pesquisas nesta área visando um
pois existe um grande número de evidências sobre diferenças entre cultivares. Segundo,
qual a bactéria ou grupo destas deve ser a melhor combinação com o genótipo mais
associação com outros organismos tais como micorrizas, interação com a microflora
nativa, etc. Quarto ponto seria referente a modificações tanto na planta como na bactéria
para suportar uma população elevada de bactérias ou estas podem ser um dreno para as
plantas? A Nitrogenase é expressa (genes nif) mas está realmente ativa? Os produtos da
entre 10.00.000 células por grama de massa fresca sendo que no caso do rizóbio estes
números seriam suficientes? Como poderemos aumentá-lo sem causar uma resposta de
defesa da planta? Muitos aspectos ainda precisam ser estudados visando tornar esta
Acima de tudo, o que a pesquisa busca atualmente é fazer uso destas associações
benéficas para substituir fontes não renováveis de energia, como o caso do processo de
obtenção de nitrogênio fertilizante, que usa energia fóssil. A busca por sustentabilidade
Agradecimentos
de Janeiro (FAPERJ) pelas bolsas Cientista do Nosso Estado do primeiro e último autor.
Este trabalho foi parcialmente financiado pela Embrapa, pelo CNPq (PRONEX II),
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CAPÍTULO 7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 288
2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E ESTRUTURAIS DAS SUBSTÂNCIAS
HÚMICAS................................................................................................................... 289
2.1 Bioatividade de Substâncias húmicas................................................ 297
2.2 perspectiva histórica .......................................................................... 297
2.3 Efeitos indiretos das substâncias húmicas sobre o crescimento das
plantas ........................................................................................................... 299
2.4 Efeitos diretos das substâncias húmicas sobre o metabolismo das
plantas ........................................................................................................... 300
2.5 O papel da H+-ATPases na nutrição e crescimento celular ............... 301
2.6 Mecanismos de ativação da H+-ATPase de membrana plasmática pelas
substâncias húmicas.................................................................................................. 312
3 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 322
1 INTRODUÇÃO
solos, das águas e dos sedimentos. Além de influenciar as propriedades químicas, físicas
celulares através dos quais tal efeito se manifesta ainda não são bem claros. Parte do
plantas. Entretanto, evidências experimentais recentes têm lançado luz sobre o problema
húmicas (Vaughan & Malcolm, 1985; Chen & Aviad, 1990; Nardi et al., 2002). Esta
para a expansão celular. Antes, porém, é realizada uma breve discussão sobre aspectos
HÚMICAS
alguns estudos têm sugerido uma nova concepção para a estrutura destas complexas
acidificação da solução de AHs pela adição de ácidos orgânicos (na faixa de pH 9,2 à
2,0). A partir destes dados, Piccolo postulou que, em vez de consistir num polímero
unidas pela ação de forças fracas dispersivas, tais como forças de van der Waals e
valores mais baixos de pH. Segundo a concepção mais antiga de Orlov et al. (1975),
esse menor agregado corresponderia à célula estrutural mínima das substâncias húmicas
composto anfipático ou anfifílico é aquele que apresenta uma parte polar e outra apolar
reatividade no ambiente.
qualquer valor de pH. Os ácidos húmicos, por sua vez, são compostos por associações
Essa concepção foi duramente criticada por Swift (1999), que considerou as
experimentos de Piccolo por Façanha et al. (2002). Além disso, uma série de outras
mesmo autor argumenta que, tendo em conta os produtos da pirólise, não se pode,
com baixo peso molecular podem explicar mais adequadamente os dados de pirólise
et al. (2000) e Ricca et al. (2000) e por meio da ruptura até pequenos componentes pela
plano supramolecular até chegar a pequenas entidades que são prontamente dissolvidas
magnética nuclear (RMN) e de infravermelho (IV) gerados dessa forma são muito
melhor resolvidos.
Estudos com espectroscopia RMN têm demonstrado que, como sugere Piccolo et
Numerosos estudos mostram que há uma correlação direta entre o peso molecular e os
coeficientes de difusão para uma variedade de espécies orgânicas e estas correlações são
DOSY 1H RMN, Simpson (2002) foi capaz de demonstrar que as substâncias húmicas
que podem ser rompidos pela adição de ácido. A Figura 1 mostra os espectros de
também Piccolo et. al. 2003). Após a desagregação com ácido acético, os coeficientes
de difusão médios para cada uma das espécies podem ser calculados (Figura 1D).
Finalmente, os tamanhos moleculares podem ser extrapolados a partir da comparação
húmicas como se verá mais adiante. Wang and Xing (2004), usando a técnica de
correlação de tempos para RMN de 1H, obtiveram uma série de informações novas
constitutivas dos ácidos húmicos pode estar diretamente relacionada com a capacidade
crescimento das plantas tem sido centrado, principalmente, sobre os ácidos fúlvicos, ou
seja, a fração humificada considerada de menor massa molecular (Vaughan & Malcolm,
1985). Isto ocorreu por uma simples questão: não era possível conceber que uma
substância de massa dois ou três milhões de vezes maiores como os ácidos húmicos (na
do crescimento vegetal tais como os hormônios vegetais podem estar fracamente unidos
para a absorção das plantas por uma simples variação de pH na interface das raízes
decorrente, por exemplo, da exsudação de ácidos orgânicos como experimentado por
Façanha et al. (2002). Dessa forma, os ácidos húmicos e seus domínios hidrofóbicos
pode ser aberto ou fechado para liberação de determinados componentes de acordo com
uma “conversa” entre a planta e seu ambiente de crescimento. O sítio inicial de interface
secreções e exsudatos radiculares das plantas (Figura 2A). O produto desta interação
baixo peso molecular podem ser reconhecidos por receptores presentes na plasmalema
Neste sentido, a localização desse “armário” está na rizosfera/ rizoplano das raízes. Os
quais parecem guardar a chave desse armário, e que, promovem, de forma não
C D E
do estudo do efeito das substâncias húmicas sobre a fisiologia das plantas. Aqui é feito
Por mais de 8000 anos, o homem tem considerado que as terras de coloração
plantas ou animais. Conta uma famosa lenda que o rei Augeas de Elis possuía um curral
com 3 mil cabeças de gado. Por trinta anos, o curral nunca fora limpo. O legendário
Hércules se dispôs a limpar o curral numa única noite. O rei Augeas, considerando
impossível tal proeza, concordou em pagar o equivalente a 10% de seu rebanho pela
tarefa. Hércules desviou o rio Alpheus para dentro do curral dispersando todo o esterco.
Então, o rei usou a perda do precioso material como uma das razões para não pagar a
dívida. Homero, na Odisséia, escrita provavelmente entre 800 e 900 antes de Cristo,
menciona a fertilização das vinhas com esterco. Teofrasto (372-287 A.C.) recomendava
o uso abundante de esterco nos solos enfraquecidos. Além desses, há uma série de
outros relatos do uso da matéria orgânica desde a Antigüidade, seja em fatos históricos
deveriam absorver seus alimentos na mesma forma que os animais. No século XVII,
húmus) foi enunciada originalmente por Thaer, que, no início do século XIX, indicou
fornecer nutrientes para as plantas”. Apesar da Teoria do Húmus de Thaer ter sido
amplamente disseminada, foi na mesma época que também surgiu a maior crítica sobre
água. Também o papel dos elementos inorgânicos na nutrição das plantas foi descrito
podem ser liberadas do esterco”. Embora a controvérsia entre as duas teorias ainda
tenha perdurado, ao longo dos anos, a teoria da nutrição mineral de plantas mostrou-se
Numa série de 15 artigos para a Academia Real Inglesa, publicados entre 1912 e
crescimento das plantas. Foram publicados, nessa mesma época, os primeiros relatos
absorção celular. O caso clássico estudado por Olsen em 1930 foi o aumento da
absorção de ferro pelas plantas, que inspirou, mais tarde, os trabalhos de Pinton et al.
(1997; 1999b), Mohamed et al. (1998), Cesco et al. (2000), Agnolon et al. (2002),
Nikolic et al. (2003) e Chen et al. (2004). A forma absorvida pelas plantas é FeII e
Olsen demonstrou que as substâncias húmicas têm poder redutor suficiente para
transformar FeIII em FeII. Além disso, Lieske (1931) sugeriu que as substâncias
húmicas também poderiam alterar a permeabilidade das membranas das plantas através
é ainda advogada até hoje como um dos principais efeitos das substâncias húmicas no
metabolismo celular (Visser, 1985; Visser, 1987a e 1987b; Samson & Visser, 1989;
2.3 Efeitos indiretos das substâncias húmicas sobre o crescimento das plantas
húmicas sobre a macro e a microestrutura dos solos, a qual proporciona benefícios para
humificada sobre o crescimento vegetal. Existe uma série muito grande de evidências
2.4 Efeitos diretos das substâncias húmicas sobre o metabolismo das plantas
através de mecanismos ainda não muito claros. O efeito das substâncias húmicas sobre
o metabolismo das plantas foi resumido por Nannipieri et al. (1993) como resultado (i)
bem como as vias sinalizadoras primariamente envolvidas nessas respostas não foram
ainda elucidadas.
Quadro 1. Propriedades gerais das substâncias húmicas e efeitos causados no solo
ser a barreira que comunica o citoplasma com a rizosfera, é evidente que a membrana
plasmática deveria ser um dos alvos primários da ação das substâncias húmicas. Neste
atividade das bombas de prótons nesta membrana poderia ser utilizada para avaliar a
das células vegetais e em sua nutrição mineral. Essa enzima funciona como uma bomba
transportados para o interior celular, onde estão centenas de vezes mais concentrados.
(Sondergdard et al., 2004). A absorção de íons da solução do solo pode acontecer contra
pode exercer forte influência, quer seja energizando o transporte ativo através de
fechamento de alguns canais responsáveis pelo transporte passivo de íons (Figura. 3).
H+ CELULOSE
AH / AUXINA
+ + ++
- - - -
EXPANSINA
HEMICELLULOSE
H2O
cátions
Também existem várias evidências que indicam que as respostas das plantas a
energizado pelas H+-ATPases das membranas plasmáticas e dos vacúolos das células
guardas que mantêm e regulam um fluxo massivo, bidirecional de íons e de água através
qual, na maioria das espécies, permanece constante dentro de uma estreita faixa de pH
está submetida. Apesar de saber-se relativamente pouco sobre o mecanismo de ação das
entre 6,0 e 6,5. Assim, qualquer acidificação do citoplasma pode ativar esta enzima,
Entretanto, também foi observado em pêlos radiculares de alfafa que mudanças pontuais
metabólicos e de transporte que envolvem H+, tornando difícil uma idéia clara de como
causada pela ativação da H+-ATPase de membrana plasmática. Esse evento é tido como
crescimento ácido (Rayle & Cleland, 1992) e está associado com a ação da auxina, um
hormônio vegetal que ativa a H+-ATPse por diversos mecanismos, entre eles a indução
da síntese de H+-ATPse modulada por genes Mha1 e Mha2 (Frias et al., 1996). A
osmótico da célula, permitindo influxo de água através das membranas mediado pelas
Esse breve resumo do trabalho de Morssome e Boutry (2000) deixa claro o papel
foi obtida por Varanini et al. (1993) que obtiveram uma evidência direta da interação
plasmática. Nesse estudo foi usado um surfactante (brij58) e postulado que o aumento
há vários estudos que sugerem uma analogia entre a ação fisiológica das substâncias
húmicas e a ação dos surfactantes. Os dois grupos de substâncias exercem algum efeito
sobre o crescimento das plantas. Visser (1985) sugeriu que o resultado da atividade de
superfície das substâncias húmicas teria como alvo principal às membranas celulares,
a transição da matriz lipídica entre as fases líquida e sólida. O mesmo autor, utilizando
efluxo de K+ da célula. A explicação para o fenômeno dada por Visser (1987a) inclui o
membranas biológicas (Visser, 1985; 1987b; Samson & Visser, 1989). Entretanto, seria
Café Milho
100
100
90
90
80
80
70
70
A.E. (%) 60
60
A.E. (%) 50
50
40
40
30
30
20 20
10 10
0 0
0 5 10 20 40 50 100 0 5 10 20 40 50 100
Figura 4. Ensaio in vitro da ação dos AH sobre a atividade específica (A.E.) sensível à
vanadato (expressa em porcentagem) da H+ ATPase de membrana plasmática
isolada de raízes de café e milho controle (i.e. crescidas sem ácidos húmicos).
O meio de reação consistiu de 50 mM Mops-tris pH 6,5, 100 mM KCl, 3 mM
MgSO4, 1 mM ATP, 0,05 mg.mL-1 de proteína e concentrações crescentes dos
ácidos húmicos extraídos de vermicomposto (o) e de lodo da estação de
tratamento de esgoto (●).
vermicomposto foi observada por Nardi et al. (1991), que verificaram aumento na
Ensaios in vivo, com plântulas de milho tratadas com substâncias húmicas solúveis em
associada a um aumento na absorção de NO3- (Pinton et al., 1999). Por outro lado, Nardi
et al. (2000) encontraram forte inibição da H+-ATPase também obtida de microssomos
de raízes de milho, porém tratado com substâncias húmicas de baixo peso molecular
química das substâncias húmicas testadas. A maioria dos trabalhos sobre bioatividade
de substâncias húmicas tem se concentrado nas frações solúveis em água e/ou de baixo
peso molecular porque essas substâncias poderiam acessar mais facilmente possíveis
Malcolm, 1985).
húmicas isoladas das camadas mais profundas. Além disso, foi observado que o
nm e 665 nm (Figura 5). Esse índice está diretamente relacionado com a agregação das
intemperismo. Ácidos húmicos com valores de E4/E6 mais elevados foram isolados de
F - 4,87** -
CV - 25,6 -
médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey P <
0,05.(**) significativo a P < 0.01.
dias de exposição das plântulas) foi possível observar incrementos entre 237% e 395%
para massa radicular, de 89% a 378% para área superficial, de 35% a 162% para o
número de sítios de mitose e entre 14% e 108% para o número de raízes emergidas. O
uma faixa já observada por Vaughan & Malcolm (1985) e por Chen & Aviad (1990).
Foi possível estabelecer uma relação inversa e significativa entre a razão E4/E6
dos ácidos húmicos e os incrementos de massa seca (r2= 0,70 p<5%) e de área radicular
(r2=0,74 p<5%) (Figura 5). A correlação entre a E4/E6 e a soma do número de sítios de
mitose mais o de raízes laterais já emergidas foi, também, inversa e significativa (y= -
10
AF4
9
AF2
8 AF1
AF3
E4/E6 7 AH4
6 R2 = 0,92**
AH3
5
AH1
4 AH2
3 R2 = 0,99**
2
0 100 200 300 400
+
estímulo no transporte de H (%)
transporte desse nutriente é um processo ativo que envolve o co-transporte com íons H+.
plasmática e de sua atividade. Este é o caso descrito para a ação de substâncias húmicas
de baixo peso molecular sobre raízes de milho, onde se demonstrou que ocorre um
Quadro 3. Bioatividade dos ácidos húmicos isolados de uma seqüência típica de solos
do Rio de Janeiro avaliada através da promoção do crescimento radicular e
sobre a atividade de hidrólise do ATP da fração microssomal de plântulas de
milho crescidas em meio mínimo de CaCl2 2 mmol L-1 (controle) e 20 mg C
de AH L-1.
Tratamentos massa seca área superficial Hidrólise de ATP
2
µmol de Pi mg Proteína-1
g m
min-1
Controle 0,019 d 0,009 d 0,86 + 0,014 (100%)
AH-1 0,064 c 0,019 cd 2,46 + 0,037 (286%)
AH-2 0,079 abc 0,024 bc 1,40 + 0,049 (163%)
AH-3 0,090 ab 0,043 a 4,40 + 0,076 (511%)
AH-4 0,087 ab 0,032 ab 3,67 + 0,037 (427%)
AH-5 0,071 bc 0,017 cd 2,69 + 0,042 (312%)
AH-6 0,094 a 0,041 a 5,24 + 0,113 (609%)
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (teste de Duncan a 5%).
sistema radicular (Figura 6). A teoria baseia-se num processo onde grupamentos com
de sinalização que culminariam com a ativação da transcrição dos genes que codificam
hipótese foi confirmada no trabalho de Quaggiotti et al. (2004). Isto promove o aumento
condições estas que dariam suporte à profusão dos pêlos radiculares e à indução de
mecanismo de ativação das bombas de H+ pelos ácidos húmicos. E uma das principais
por tamanho em gel de sephadex, foi observado uma mudança drástica no perfil de
distribuição das faixas de tamanho dos agregados húmicos após o contato da solução de
ácidos húmicos com o sistema radicular tanto de plântulas de milho como de café
(Figura 7)
A A
0.5 0.5
depois
0.45 0.45
Ab 0.4 0.4
sor depois
Ab
vâ 0.35 sor 0.35
nci vâ
a 0.3 nci 0.3
em a
25 0.25 em 0.25
25
0
0
nm 0.2 nm
0.2
antes
0.15 0.15
antes
0.1 0.1
0.05 0.05
0 0
0 10 20 30 40 50 60 0 20 40 60
Volume de eluição (mL) Volume de eluição (mL)
e/ou conformação dos componentes de ambos os ácidos húmicos testados neste ensaio.
Foi postulado por Piccolo et al. (1999) que os ácidos húmicos são formados por uma
estabilizado por forças relativamente fracas (ligações do tipo van de Waals, π-π, CH-π).
concentrações de ácidos orgânicos (Nardi et al., 2000; Cozzolino et al., 2001). Vários
ácidos orgânicos são exsudados pelas raízes de várias plantas que podem mobilizar
auxínicos detectados nos derivados metilados de ácidos húmicos (Muscolo et al., 1998;
na Figura 8.
húmicos, poderiam acessar receptores na superfície ou no interior das células das raízes
matéria orgânica do solo liberando moléculas bioativas, as quais, por sua vez, interagem
experimentais têm sugerido que pelo menos uma dentre estas moléculas liberadas das
fitohormônios como a auxina. Tal descoberta está de acordo com os vários relatos na
literatura sobre a atividade hormonal semelhante à auxina exibida por várias substâncias
húmicas, incluindo ácidos húmicos (Bottomley, 1917; Hillitzer, 1932; Chaminade &
Boucher, 1940; Paszewski et al., 1957; O´Dobmel 1973; Cacco & Dell´Agnola, 1984;
Dell´Agnola & Nardi, 1987; Nardi et al., 1988; Piccolo et al., 1992; Muscolo et al.,
1993; Muscolo et al., 1998; Canellas et al., 2002; Quaggiotti et al., 2004). O efeito do
A interação dos ácidos húmicos deve ocorrer via receptores específicos e não
húmicos não parecem responder pela ativação dessa enzima porque in vitro, a adição de
citoplasmática exposta ao meio (inside-out vesicles). Logo, parece que a hipótese mais
superfície celular, que, por sua vez, transmitiriam um sinal para dentro da célula,
plasmática figura como um dos principais alvos moleculares envolvidos na ação dos
ácidos húmicos sobre o crescimento das plantas. Essa enzima é o principal sistema de
conseqüente elogamento da célula vegetal. Esse fenômeno tem sido associado à ação do
ainda não foram completamente elucidados (Rayle & Cleland, 1992). Portanto, o
dos AH (Figura 8) na ativação da H+-ATPase, uma vez que já foi demonstrado que a
experimentos com café como com plântulas de milho, os AH isolados de lodo de esgoto
que os mesmos possam proporcionar qualquer efeito benéfico sobre a célula vegetal
intacta, uma vez que o potencial elétrico e a permeabilidade seletiva das membranas são
um efeito geral sobre o metabolismo energético celular e aponta para uma ação
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CAPÍTULO 8
1
Embrapa Gado de Leite - 36038-330 Juiz de Fora MG; 2Plant Biology Division, Samuel
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Química-Bioquímica-UFRRJ, BR465 km7, 23890-000 Seropédica RJ; 4Dep. Botânica, IB,
USP, 05508-900 São Paulo SP; 5Dep. Botânica, ICB, UFMG, Av. Antônio Carlos, 31270-
901 Belo Horizonte MG
SUMÁRIO
1. Introdução........................................................................................................................... 335
5. Estimativa da Capacidade da Nitrato Redutase para a Formação de Óxido Nítrico ........ 342
1
Resumo
O óxido Nítrico (NO) é um radical livre gasoso altamente reativo com outros
sintetizado pela enzima NO sintase (NOS). No entanto, vários estudos indicam que células
vegetais possuem outras vias de produção de NO alem daquela mediada pela NOS,
duplo de Arabidopsis thaliana nia1 nia2 defectivo para nitrato redutase (NR), indicaram a
produção de NO através da atividade desta enzima. A NR teria um papel chave como fonte
principal fonte de energia para a redução do NO2- a NO. Este capítulo focaliza os
condições de estresse.
2
1. INTRODUÇÃO
moléculas que contêm elétrons desemparelhados, tendo uma meia vida de menos de 10
humana, este radical livre tem despertado grande atenção como composto sinalizador no
membranas biológicas sem precisar de um transportador (Leshem, 1996). Uma das suas
ainda escassos (Delledonne et al. 1998; Durner et al. 1998; Kim et al. 1998; Magalhaes et
al. 1999; 2000; 2005). O primeiro relato da produção de NO em plantas aconteceu há mais
de 30 anos (Klepper, 1975). Entretanto, foi somente a partir de 1998 que o papel deste
3
patógeno foi evidenciado, causando grande impulso nas pesquisas com NO em plantas. Um
complexa catalisada pela NOS (EC 1.14.13.39) (Ignarro, 1996). A enzima NOS catalisa a
oxigênio e NADPH. Esta reação requer no mínimo outros cinco cofatores, incluindo flavina
tais isoenzimas são formadas por proteínas altamente conservadas (Stuehr, 1997; Lin et al.,
1996; Marletta, 1999;). Vale destacar que existem diferentes reações possíveis para
NO sob condições ácidas; oxidação da arginina por H2O2; a redução do NO2- catalisada
pela xantina oxidase (XO) em condições de anoxia (Zhang et al., 1998). A Reducao de
NO2-, catalisada por nitrito redutase microbiana seria uma outra fonte de NO sendo que em
vegetais a produção deste radical livre também pode ocorrer por vias independentes de ação
dióxido de nitrogênio (NO2), mediada por carotenóides (Cooney et al., 1994). Ainda, a
Durner et al., 1998; Ribeiro et al., 1999; Modolo et al., 2002). Alem da atividade do tipo
4
NOS, é largamente conhecido que plantas adubadas com NO3- podem gerar NO através da
Harper, 1988; Klepper, 1990). Porém, evidências que a NR induzida também pode produzir
NO são descritas (Yamasaki et al., 1999; Magalhaes et al., 2000). Este capítulo focaliza o
de nitrosônium (NO+), oxido nítrico (NO•), e ânion nitrosil (NO-). É fundamental para o
de NO+, NO•, e NO-. Sem dúvida os compostos nitrosos e nitrosil são amplamente
como forma de armazenamento de NO•. Alem disso, a reação entre o grupamento sulfidrila
(-SH) da glutationa com NO• parece ser um recurso utilizado pela célula para aumentar a
eficiência de transporte deste radical livre ao seu sítio de ação (Gaston, 1999). S-
inorgânico que apresenta um átomo de ferro ligado a cinco grupos CN- e um grupo NO.
Apesar disso, sabe-se que o NO• pode interconverter nas diferentes formas redox, já citadas
5
A forma neutra NO• tem um único elétron em seu orbital 2P-π . A neutralidade de
carga do NO• facilita sua livre difusão em meio aquoso e através da membrana celular. A
reação do NO• com O2 em fase gasosa ou solução aquosa é um processo complexo que
(Magalhaes et al., 2000), mas também em algas (Mallick et al., 1999; Sakihama et al.,
2002), em fungos (Takaya, 2002) e em bactérias, (Baumgärtner et al., 1991; Zhang et al.,
Desta forma destaca-se a uma relação linear entre concentração de NO2- no meio de
no meio de crescimento o metal molibdênio (Mo) por tungstênio (W), com conseqüente
(que contem um centro metálico de Mo) é necessária para a produção de NO2- e NO num
meio de crescimento suplementado com NO3- como fonte de nitrogênio. Além disso, o
6
papel da NR na emissão de NO destaca-se pelo aparecimento de pico de NO imediatamente
para NO. A L-arginine, o substrato para NOS sintase, não induziu a produção de NO, e o
respostas observadas nas células selvagens. Estes resultados obtidos in vivo diretamente
reações seqüenciais da NR e da nitrito redutase (NiR). Essas enzimas estão acopladas com
a geração de ATP pela cadeia respiratória e produção de NO. A óxido nítrico redutase do
fungo utiliza NADH como doador direto de elétron em contraste aos sistemas bacterianos, e
Outras vias podem reduzir NO3- a amônio (NH4+), acoplando reações acetogênicas com
2002).
são produzidas e o NO2- é acumulado. Por outro lado, a nitrificarão e a liberação de NO são
NH4+ como a produção de NO. A produção de NO pode também ser detectada em amostras
7
de rochas que contêm Nitrosomonas ou Nitrosovibrio, mas não em amostras contendo
Sob condições de hipoxia o NO pode também ser formado por outros mecanismos
independentes de NOS e NR. A redução do NO2- a NO pela xantina oxidase (XO) foi
estudada sob hipoxia, uma vez que nitrato/nitrito reductases bacteriana tem semelhança
estrutural a XO. A xantina oxidase presente no tecido catalisa a redução do NO2- a NO.
Esta reação redox também requer NADH como doador de elétron, e é independente de
mesmos métodos utilizados na pesquisa animal, descritos por Kojima et al. (1998).
induz apoptose em plantas (Magalhaes et al., 1999; 2000; 2005). A produção de NO in vitro
absorção de CO2 (3x10-6 mol de NO emitido por mol de CO2 absorvido) permitiram
8
estimar o potencial das plantas para evolução de NO em uma escala global de 0.23 Tg ano-
Estudos anteriores indicam que as células vegetais possuem uma via de produção de
NO dependente de NO2-, distinta das reações mediada pela NOS. A nitrato redutase (NR,
EC 1.6.6.1-3), uma enzima bifuncional, pode reduzir NO3- a NO2- [NO3- + NAD(P)H + H+
OH-], porem este último processo em uma menor taxa de conversão. A produção de NO
pelas plantas foi inicialmente observada por Klepper (1975) em soja tratada com herbicidas
anaeróbias no escuro (Klepper, 1990). Em seguida, a produção de NOx pelas plantas foi
in vitro mostraram que o NO pode também ser produzido por NR purificada de milho ou
(Yamasaki, 2000). Além disso, uma NR ligada à membrana plasmática acoplada a NO2-:
em folhas de Arabidopsis (Magalhaes et al., 2000; Rockel et al., 2002). Novas evidências
nia (Tabaco ou Arabidopsis), que não possuem atividade NR. Essas plantas não produziram
9
NO, tanto por medições por cromatografia gasosa (494±57 e 000±00 nL.gfw-1.h-1 em planta
iniciou-se imediatamente (Yamasaki 2000; Rockel et al., 2002), indicando que o NO2- é o
completamente inibida por azida sódica que interrompe o fluxo de elétron para a atividade
da NR (Yamasaki, 2000).
NO2- em folhas sob condições de luz (10 µM). NO3- foi um inibidor competitivo (Ki=50
µmol g-1 pf-1 h-1 com NR de espinafre) e foi detectada por quimioluminescência (Rockel et
al., 2002). Taxas similares in vitro foram obtidas utilizando detecção amperométrica
(Yamasaki, 2000).
10
As taxas de emissão de NO por girassol (Helianthus annuus L.) ou por folhas de
et al., 2002). Em girassol, os valores observados foram de 0,05 ηmol g-1.pf-1.h-1 no escuro
até 0,5 ηmol g-1.pf-1.h-1 na presença de luz As mais altas taxas de emissão de NO foram
obtidas no escuro sob anoxia, 200 ηmol g-1pf-1h-1 (Rockel et al. 2002). Plantas de
Arabidopsis intactas produziram até 20 ηmol de NO g-1 pf-1 h-1 na luz (Tabela 1).
vitro ou por plantas ou folhas representa apenas uma pequena percentagem da capacidade
da NR. Essas baixas taxas contrastam nitidamente com resultados anteriores de Klepper
(1990), que encontrou taxas de NO 100 vezes maior quase tão alta quanto a taxa de
produção, quase tão alto quanto a taxa de redução de NO3- (até 15 µmoles NO g-1pf-1h-1 sob
condições anaeróbicas no escuro). A razão para esta grande discrepância não é clara, mas
nas medidas efetuadas por Klepper (1990) as taxas muito altas podem estar baseadas em
uma insuficiente remoção de outros compostos gasosos emitidos pelas folhas os quais
estresse salino, metais pesados, ozônio, correntes elétricas, certos herbicidas, levam ao
11
Como anteriormente observado, a emissão de NO por plantas é altamente variável.
Um exame mais detalhado mostra que emissão de NO varia grandemente com o estádio de
tendência inversa para NO e emissão de etileno foi observada na fase da floração até o
interação das duas vias de síntese, embora o mutante duplo nia1, nia2 defectivo para NR,
que não emite NO, produza etileno de modo similar à planta selvagem (Magalhaes et al.,
2000).
2000). No entanto, anoxia em curto prazo ativa NR, leva ao acumulo de NO2- e altas taxas
de emissão NO pelas folhas e raízes (Rockel et al., 2002). Assim, tanto em curto quanto em
longo prazo a hipoxia e a anoxia podem ter diferentes efeitos na produção de NO pelas
emissão cai a valores próximos de zero nas primeiras duas horas de exposição à luz e então
tenha sido observada emissão de NO no escuro (Tabela 1). Nas primeiras duas horas do dia,
câmara de crescimento com intensidade luminosa de 105 µol.m-2.s-1, onde NO não foi
produzido.
12
Diversos experimentos mostraram significativa variação diurna na emissão de NO.
Por esta razão, as medições de NO mais precisas quando feitas pelo menos há três horas
após as plantas serem expostas a luz (Tabela 1). Isto produz resultados consistentes e
comparáveis. A Tabela 1 mostra que plantas transferidas do escuro para baixa luminosidade
(105 µmol.m-2.s-1) não emitem NO durante 12 horas. Quando transferidas de 555 para 105
µmol.m-2.s-1, uma diminuição gradual foi observada nas primeiras 4 horas e então diminuiu
para próximo de zero por 12 horas. Quando as plantas foram transferidas de 555 µmol.m-
2 -1
.s para o escuro, a emissão de NO diminuiu gradualmente, mas uma considerável emissão
de NO foi observada ao fim de 12 horas. Após a transferência da luz para o escuro, Salalkar
et al. (1999) observaram que a atividade da NR nas folhas persistiu por algum tempo
et al., 1998; Yu et al., 1998). A NR em alface mostrou pico de atividade 20 dias após o
plantio (Lee et al., 1998) em uma maneira similar à emissão de NO observada por
A nitrato redutase é uma enzima altamente regulada (Magalhaes et al., 2005). Tem
uma meia vida curta de algumas horas e sua indução requer NO3- e luz (fotossíntese). A
serina conservado na região 1, e subseqüente ligação de uma proteína 14-3-3, o que inativa
bivalentes. Uma vez desfosforilada, a enzima volta a sua atividade normal. A degradação
13
proteolítica da NR é acelerada quando a enzima está ligada a proteína 14-3-3 (Magalhaes et
al., 2005). In vitro, a NR é inativada por incubação com magnésio (Mg) e ATP,
Como mencionado anteriormente, a luz e altos níveis de CO2 ativam a NR, o que
também leva a altas taxas de emissão de NO. Isto também sugere que a modulação da NR
(Rockel et al., 2002). Estes resultados indicam, que a modulação da NR in vivo também
peroxonitrito. Mutantes de tabaco defectivas para nitrito redutase (NiR), mas com NR
14
normal acumulam NO2-, emitem altas quantidades de NO e têm um alto grau de nitração da
dependente de NR, não deve ser negligenciada a atuação da NOS como uma fonte de NO
NOS (Delledonne et al., 1998; Durner et al., 1998; Ribeiro et al., 1999; Modolo et al.,
2002). Embora, nem o gene e nem uma proteína homóloga à NOS de mamíferos foram
citrulina com liberação de NO. AtNOS1 é uma proteína homóloga àquela responsável pela
A enzima nitrato redutase (NR; Ec: 1.6.6.1) é a mais estudada entres as possíveis
atribuída à atividade da NR, como tem sido sugerido na literatura (Yamasaki e Sakihama,
2000; Rockel et al., 2002; Vanin et al., 2004). A produção de NO à partir da atividade da
15
Evidências espectroscópicas fornecem um estado intermediário em que o nitrosil-Fe
(II) siroheme é formado durante o ciclo catalítico da enzima nitrito redutase (NiR),
2004), bem como alga verde Chlorella sorokiniana (Tischner et al., 2004) acumulam NO2-
e, emitem uma quantidade elevada de NO. Em adição a NiR como uma possível fonte de
NO, uma enzima ligada à membrana plasmática também é proposta com atividade
fator limitante e o transporte mitocondrial de elétron foi identificado como a fonte principal
Uma enzima tipo NOS parece contribuir para a produção de NO durante a interação
et al., 2002; Zeidler et al., 2004). A produção de NO via atividade da enzima tipo NOS foi
2003). No entanto, a NR tem sido considerada também como a fonte do NO, em ambos
supridas com NO3- por curtos períodos de tempo nunca emitiam NO. Entretanto, quando
supridas com NO2-, as suspensões de células sem NR crescidas com amônio virtualmente
16
emitiam NO sob condições de anoxia quase nas mesmas taxas que as células com NR.
nitrito redutase (NiR), parece muito improvável que a própria NiR seja uma enzima fonte
que a mitocôndria contribui para produção do NO a partir do NO2-, pelo menos nos casos
onde a enzima NR estava ausente. Confirmando isto, foi demonstrado que a mitocôndria
das plantas, assim como a de algas, reduzem o NO2- a NO sob anoxia (Planchet et al.,
2005).
inibidor da oxidase alternativa) não causou inibição completa da produção de NO. Contudo,
heme). Assim, quando não há nenhuma dúvida que todo o NO foi produzido
detectada por Stöhr et al. (2001), pode ser uma candidata possível.
de NO foi fortemente inibida pelo oxigênio do ar. Assumiu-se originalmente que o NADH
do citosol poderia se tornar um fator limitante na presença do ar, pelo menos sob condições
em que o NO2- era elevado (em suspensões de células supridas com NO2-). Embora, as
mesmo quando NO2- e NADH foram adicionados ao meio. A baixa produção aeróbica de
17
NO não poderia ser rastreada pela limitação substrato, e presentemente não temos nenhuma
explicação satisfatória para essa observação. Encontrou-se que 0.05% oxigênio era o
foi bastante insensível ao ar (Planchet et al., 2005). Hemoglobina pode catalisar a oxidação
de NO, dependente de NADH, de volta a nitrito e nitrato (Igamberdiev e Hill, 2004). Tal
NO2-, estudos com os inibidores SHAM e mixotiazol causaram inibição quase completa da
emissão de NO de células sem NR, sob anoxia, uma inibição de 57% em células crescidas
com NO3- e baixa emissão de NO em mitocôndria purificada. Quando o NO2- foi suprido no
escuro sob o anoxia, a folha do mutante nia deficiente para NR emitiu muito pouco NO
(abaixo de 0.3 ηmol g-1 FW h-1), embora em folhas do material selvagem com NR houve
emissão de NO 100 vezes maior (50 ηmol g-1 FW h-1) (Planchet et al., 2005).
meio) que contem NR e NO3-. Este acúmulo de NO2- sob anoxia tem duas razões: uma é a
segunda é a queda na taxa de redução do NO2- do plastídio (Planchet et al. 2005). Com a
utilização de suspensão de células NR-deficientes nia supridas com NO2-, observou-se que
a redução deste anion sob anoxia foi aproximadamente 25% daquela na presença do ar. Os
18
pentose fosfato oxidativa (OPP). Sob o anoxia, os níveis de ATP e do açúcar fosfatado são
muito baixos, eventualmente insuficientes para abastecer o ciclo da OPP. Vale especular se
a redução do NO2- a NO sob anoxia, onde se acumula NO2-, pode representar uma
anoxia são muito baixas, demasiadamente distantes para serem consideradas relevantes
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No passado, o grande foco dado aos estudos da nitrato redutase se dava ao papel
desta enzima no metabolismo de nitrogênio, enquanto que sua habilidade para produzir NO
Como o NO pode ser originado a partir de diferentes vias, cada uma delas poderia
ser regulada independentemente bem como interações entre elas poderiam ocorrer. Um
sugerem um potencial papel-chave para este radical livre como uma molécula sinalizadora
19
em situações adaptativas e a emissão de NO também pode ser utilizada como indicador
20
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Legendas
exposição de luz. Plantas de quatro semanas de idade foram submetidas aos diferentes
regimes de luz, transferindo as plantas de 555 para 105 µmoles.m-2.s-1; de 555 µmoles.m-
2 -1
.s para escuro; do escuro para 105 µmoles.m-2.s-1 (em câmara do crescimento) e a
transferência do escuro para casa de vegetação 555 µmoles.m-2.s-1 ou completa luz do sol
Tabela 1
Regime de Luz 0h 2h 4h 8h 12 h
29
NITROGÊNIO
SUMÁRIO
1 O NITROGÊNIO NA NATUREZA........................................................................................... 363
2 ABSORÇÃO DE NITROGÊNIO PELAS PLANTAS............................................................... 364
2.1 A absorção de Amônio (NH4+) ......................................................................................... 367
2.1.1 Transportadores de Amônio..................................................................................... 369
2.2 Absorção de Nitrato (NO3-).............................................................................................. 371
2.2.1 Transportadores de Nitrato....................................................................................... 374
2.3 Absorção de nitrogênio orgânico por plantas ................................................................. 375
3 REDUÇÃO DO NITRATO.................................................................................................... 376
3.1 Nitrato Redutase (NR) ..................................................................................................... 377
3.2 Nitrito Redutase (NiR) ..................................................................................................... 379
4 ACÚMULO E REMOBILIZAÇÃO DO NITRATO................................................................ 379
5 ASSIMILAÇÃO DO AMÔNIO ................................................................................................. 383
5.1 Glutamina Sintetase (GS)................................................................................................. 385
5.2 Glutamato Sintase (GOGAT)............................................................................................. 386
5.3 Glutamato Desidrogenase (GDH)........................................................................................ 387
6 VISÃO GERAL DO METABOLISMO DE NITROGÊNIO ................................................... 390
7 TOXIDEZ DE NH4+ EM PLANTAS ......................................................................................... 391
8 REMOBILIZAÇÃO DE NITROGÊNIO.................................................................................... 395
8.1 Senescência ..................................................................................................................... 395
8.2 Enchimento dos Grãos .................................................................................................... 398
9 Referências.............................................................................................................................. 400
1
1 O NITROGÊNIO NA NATUREZA
Figura 1. Folhas e raízes de plantas de arroz cultivadas em solução nutritiva com 0,1 e 0,5 mM de
N-NO3- ou sem nitrogênio.
O nitrogênio molecular (N2) representa 78% dos gases de nossa atmosfera, entretanto, a
despeito dessa abundância há uma escassez desse nutriente em formas disponíveis para as plantas, o
que pode ser explicada pela extraordinária estabilidade do N2 que, ao contrário de outras moléculas
2
diatômicas, como O2, NO ou CO, praticamente não é passível de reações químicas em condições
naturais.
A ligação dos átomos da molécula de N2 é curta (1,098Å), o potencial de ionização é de 15,6
eV, e a energia de dissociação é de 224,5 kcal. Os elétrons do nitrogênio molecular estão em
orbitais de baixa energia, e o mais elevado orbital molecular efetivamente preenchido é um orbital
σ, no centro da molécula. Nestas condições, a reatividade química da molécula é extremamente
baixa. Chatt e Leigh (1968) observaram: “Não existe nenhum agente oxidante que seja
suficientemente forte para oxidar nitrogênio em condições ambientais, nem mesmo fluoreto.
Nenhum agente redutor que seja suficientemente forte para reduzir o nitrogênio molecular pode
existir em meio aquoso, porque a água seria preferencialmente reduzida, produzindo hidrogênio”.
Existe um aporte de nitrogênio aos solos através do arraste, pela chuva, dos óxidos de
nitrogênio produzidos na atmosfera por descargas elétricas. Entretanto, a maior parte do nitrogênio
disponível nos solos para a nutrição de plantas é obtida através de fixação biológica, um processo
complexo que envolve a enzima nitrogenase presente em bactérias. A decomposição dessas plantas
fixadoras contribui para a disponibilidade de nitrogênio mineral para as outras culturas. Embora a
simbiose bactéria-leguminosa seja o principal sistema responsável pela fixação de N2, observou-se
que a fixação biológica de nitrogênio também pode ocorrer na rizosfera de gramíneas. A fixação de
N2, tanto simbiótica quanto associativa é abordada no capítulo 6 neste volume.
Os estudos do nitrogênio em plantas indicam uma tendência para o máximo de economia,
através de complexo sistema de absorção, assimilação e remobilização desse nutriente nos tecidos
vegetais, de modo a evitar desperdícios. O desenvolvimento desses mecanismos, através de
processos de seleção, indica uma progressiva adaptação das plantas a condições ambientais
caracteristicamente deficientes em nitrogênio.
4
Figura 2. Absorção de nitrato (NO3-) e amônio (NH4+) através da membrana plasmática. (1) Bomba
de prótons (P-H+ATPase); (2) Transportador de NO3- (simporte) =; (3) Transportador de
NH4+ (uniporte). ∆Ψ (potencial elétrico através da membrana); ∆µNH4+ ou ∆µNO3-
(respectivamente, diferença de potencial químico para o ion NH4+ ou NO3-, entre o interior e
o exterior da célula)
As proteínas transportadoras de NO3- ou NH4+ podem ter maior ou menor afinidade pelo íon
transportado, deste modo, eles formam nas plantas os sistemas de absorção que são denominados
de: sistema de transporte de alta afinidade (HATS – High affinity transport system) ou sistema de
transporte de baixa afinidade (LATS – Low affinity transport system).
A concentração de 1mM de NH4+ ou NO3- pode, de modo geral, ser tomado como um limite
de concentração abaixo do qual opera o sistema de alta afinidade (HATS), e acima do qual opera o
sistema de baixa afinidade (LATS):
5
Os transportadores de NO3- do sistema de alta afinidade são passíveis de indução (iHATS),
embora exista também um sistema de alta afinidade constitutivo (cHATS). Os sistemas de
transporte de NO3- de baixa afinidade (LATS) são todos constitutivos.
Os sistemas de transporte de NH4+ também são de alta afinidade (passíveis de indução) e de
baixa afinidade (constitutivos).
A indução dos genes que codificam para as proteínas transportadoras de NO3- do sistema
iHATS, é estimulada pela presença de NO3- no meio, enquanto que os sistemas transportadores de
NH4+ são induzidos pela ausência de NH4+ no meio externo.
As proteínas transportadoras de NH4+ são codificadas por uma família multigênica, e
apresentam ampla variação de padrões de cinética de absorção, este fato demonstra a plasticidade
das plantas, para a aquisição de formas reduzidas de N, que devem ter sido abundantes durante certo
período na evolução das plantas superiores.
Por outro lado, a existência de transportadores constitutivos na faixa do LATS e passíveis de
indução na faixa do HATS, pode sugerir uma gradual, porém contínua, adaptação a condições
ambientais caracterizadas pela passagem da predominância de formas reduzidas para formas
oxidadas de N e uma progressiva redução na disponibilidade de N mineral em ambientes de terra
firme. Dentro dessa linha de raciocínio, é de se esperar que plantas adaptadas a ambientes de baixa
disponibilidade natural de nutrientes, especialmente N, acionem com maior facilidade sistemas de
transporte de alta afinidade.
Evidências indicam que o íon amônio (NH4+) é a forma absorvida pelas plantas e não o gás
amônia (Ludewig , 2002). A amônia (NH3) é uma base fraca (pK = 9,25), deste modo, como o
citossol tem em média pH 7,2, aproximadamente todo o N-amoniacal neste compartimento está na
forma protonada de NH4+ .
A absorção de NH4+ é feita por um sistema bifásico. Quando os níveis de NH4+ no meio
externo (solução nutritiva ou solução do solo) são baixos opera um sistema de absorção de alta
afinidade (HATS), mediado por uma proteína transportadora do tipo uniporte e que mostra cinética
de saturação. Enquanto que, em níveis elevados de NH4+ no meio externo entra em funcionamento
6
o sistema de baixa afinidade (LATS), sendo a concentração de 1mM de NH4+ o limite abaixo do
qual opera o sistema de alta afinidade (HATS), e acima do qual opera o sistema de baixa afinidade
(LATS).
HATS e LATS são proteínas integrais da membrana, com 12 hélices que atravessam a
membrana, separadas por uma região hidrofílica em dois domínios de seis hélices.
Na faixa de absorção do sistema de alta afinidade (HATS) os valores da velocidade máxima
(Vmáx) diminuem, enquanto que os valores da constante de Michaelis-Menten (KM) aumentam,
acompanhando o aumento dos teores de N-NH4+ na solução externa, o que levou Wang et al. (1993)
a concluir que estes parâmetros cinéticos resultam da combinação dos dois mecanismos de absorção
(sistema de alta afinidade + baixa afinidade).
Em milho, milheto e cevada o sistema de alta afinidade mostrou cinética de saturação em
plantas que foram cultivadas sob concentrações externas de NH4+ entre 0,1 a 1,0 mM. Em arroz,
foram observadas velocidade de absorção de NH4+ (Vmáx) em torno de 5,2 e 5,4 µmoles/g. peso
fresco/hora (Kronzucker, 1998). Baptista et al. (2000) observaram em duas variedades de arroz
valores de Km de 0.51 e 0.58 mM, quando se utilizou 20 mg N-NH4+ /L na solução nutritiva.
Quando as plantas foram submetidas 80 mg N-NH4+/L, o Km aumentou para 3.5 e 4.5 mM
respectivamente.
Wang et al. (1993) estimaram o influxo líquido de NH4+ em arroz (influxo - efluxo) em 1,32;
6,08 e 10,16 µmoles/g. peso fresco/hora, quando sob concentrações externas de NH4+ de 2, 100 e
1000 µM respectivamente.
Em tomate, Ludewig (2002) observou que o Km do transportador HATS para amônio variou
em função do potencial de membrana, sendo muito menor à -140 mV do que a -40 mV (4 vezes).
À semelhança do que ocorre com a absorção de outros cátions como o K+, vários fatores
afetam a absorção de NH4+. Teremos então um sistema de transporte que é positivamente
influenciado pela ação da luz (ocorre uma duplicação no total absorvido, em relação a plantas no
escuro), e negativamente influenciado por inibidores metabólicos e hipoxia. Além disso, é preciso
levar em consideração que a absorção de NH4+ é passível de inibição por “feedback”.
Com o aumento dos teores de NH4+ na solução externa (0,002 a 1mM) aumenta o efluxo de
NH4+ das raízes de modo que o influxo líquido pode cair de 89% para as plantas sob 0,002 mM
NH4+, para 80% em plantas sob 1mM NH4+.
Um processo de efluxo contínuo de NH4+ é sugerido como uma característica do processo de
absorção de N-NH4+ por plantas.
O NH4+ absorvido por raízes de arroz pode também ser compartimentalizado, acumulando no
vacúolo. Wang et al. (1993) observaram que em 30 minutos, cerca de 20% do NH4+ absorvido
7
acumulou no vacúolo, enquanto que 41% do total permaneceram no citoplasma, 19% foi
assimilado, e 20% saíram das raízes para o meio externo por efluxo.
8
Em Arabidopsis, um dos transportadores codificados por essa família de multigenes, o
AtAMT1;1 parece ser responsável pela absorção de NH4+ quando o N está em baixas concentrações
no meio externo. Foi observado em Arabidopsis que a deficiência de NH4+ no meio, resulta em
rápido incremento da transcrição do gene AtAMT1. Essa transcrição diminui rapidamente com o
aumento de NH4+ no meio. A queda nos níveis do RNA mensageiro do gene que codifica para o
transportador AtAMT1 parece ser causada principalmente pelo acúmulo de glutamina nos tecidos.
O número de transportadores da família AMT em arroz é muito maior do que em Arabidopsis e em
tomate, o que indica que cada planta forma o seu sistema de transporte de acordo com as pressões
seletivas a que foi submetida (Loqué e von Wírem, 2004).
O sistema de transporte de NH4+ de alta afinidade (HATS) mostra cinética de saturação, com
KM tipicamente abaixo de 100µM. Como mencionado anteriormente a atividade desses
transportadores depende do gradiente de potencial eletroquímico gerado através da membrana
plasmática.
Quando plantas são submetidas à deficiência de NH4+, o AtAMT1;1 é o transportador que
mais aumenta de atividade, enquanto que AtAMT1;2 e AtAMT1;3 mantêm-se constantes, o que
mostra que sob deficiência, é o transportador de maior afinidade que é transcrito.
O sistema de transporte de baixa afinidade (LATS) aparentemente não é saturável, e não
indica ser passível de regulação por produtos do metabolismo de N.
O gene do primeiro transportador de NH4+ a ser isolado foi o AtAMT1;1, em Arabidopsis
thaliana. Depois foram isolados em Arabidopsis os genes de outros membros da família AMT1: o
AtAMT1;2, AtAMT1;3, AtAMT1;4 e AtAMT1;5.
Um outro gene, o AtAMT2;1 também já foi identificado. Genes homólogos ao AMT foram
localizados em arroz: OsAMT1;1 e em tomate LeAMT1;1/ LeAMT1;2/ e LeAMT1;3.
Ludewig (2002) demonstrou que o gene LeAMT1;1 de tomate codifica para uma proteína
transportadora do tipo uniporte (AMT1;1).
A existência desses diversos sistemas de transporte de NH4+, controlados por vários genes
são uma indicação da importância na nutrição amoniacal para as plantas.
Embora os genes AMT1 sejam normalmente expressos nas raízes das plantas, os genes que
codificam para os transportadores AMT1;1 e AMT1;2 também são expressos na parte aérea, o que
mostra a importância desses transportadores no processo de reassimilação do NH4+ produzido na
parte aérea das plantas, principalmente como conseqüência da fotorespiração.
O influxo de NH4+ em plantas mostra uma variação circadiana. O máximo de absorção
ocorre ao fim do período luminoso, e uma queda acentuada no ritmo de absorção ocorre após o
início do período escuro (von Wirén et al., 2000).
9
2.2 Absorção de Nitrato (NO3-)
10
Em Arabidobsis, LATS transporta NO3- a velocidades que variam de 4 a 700 µMoles/g/hr
(peso fresco de raízes). O sistema LATS foi caracterizado como constitutivo e insensível a
inibidores metabólicos.
A absorção de NO3- é controlada por feedback. Níveis elevados de NO2-, NH4+ e
aminoácidos livres no citossol inibem a absorção de NO3-.
Em citros, a absorção de NO3- foi fortemente afetada pelo pH do meio externo. Aumentos do
pH externo de 4,0 para 7,0 reduziram drasticamente a absorção de NO3-. Por outro lado, quando as
raízes de citros foram submetidas a inibidores de P-H+-ATPases (DCCD ou DES), também
observou-se reduções significativas na absorção de nitrato (Cerezo et al., 2000).
Fried et al. (1965), usando ambos NH4+ e NO3- marcados (15N), observaram que o arroz
absorve NH4+ mais rapidamente à medida que o pH da solução nutritiva aumenta, situando-se o pH
ótimo em torno de 8,5. Para NO3-, entretanto, foi observada uma absorção mais rápida à medida que
o pH diminuía, situando-se o pH ótimo em torno de 4,0. Para qualquer dos níveis intermediários
entre estes dois valores, entretanto, a absorção de NH4+ pelas plantas era sempre maior que a de
nitrato. Por exemplo, a um pH de 5,5, as raízes de arroz absorvem 300µg de N por g de peso seco,
quando NH4+ foi usado, enquanto que, quando NO3- foi usado, as raízes absorveram apenas 68µg de
N por g de peso seco. O pH da solução externa (de 4,5 a 9,0) teve pouco efeito sobre a absorção de
NH4+ via sistema de alta afinidade (0,1 mM NH4+), mas teve um efeito acentuado sobre a absorção
de NH4+ pelo sistema de baixa afinidade (pH acima de 6,0). Por outro lado, a redução do pH para
3,0 resultou numa redução drástica da absorção de NH4+ tanto pelo sistema de alta como de baixa
afinidade. Nielsen e Schoerring (1998) observaram que no espaço livre aparente da parte aérea de
colza ocorria uma queda de 30% nos teores de NH4+ com a variação de cada unidade de pH entre
5,0 e 8,0.
Mesmo em pH 4, quando a absorção de NO3- atinge o seu máximo, se NH4+ e NO3-
estiverem em concentrações equimolares, as plantas ainda absorvem de 5 a 10 vezes mais N como
NH4+ do que como NO3-. A absorção mais rápida de N-NH4+ do que de N-NO3- foi observada
também por Eira (1977) em Digitaria decumbens.
Syrett (1956) observou que células de Clorela, quando expostas a altos níveis de N, tanto na
forma de NH4+ ou na de NO3-, absorveram 4 a 5 vezes mais N no primeiro caso. A absorção de
NH4+ por plantas é, portanto, mais rápida do que a absorção de NO3- sob amplas condições de
variação ambiental.
Em cevada, foi observada a absorção de NO3- em níveis de 1,8 a 2,1 µmoles/g.peso
fresco/hora sob condições normais de nutrição. Entretanto, plantas submetidas previamente à
11
deficiência de N, mostraram velocidades de absorção de NO3- (Vmáx) de 9,6 a 10,1 µmoles/g. peso
fresco/hora (Sidiqqi et al., 1990).
Em algodão, Aslam et al. (1997) observaram que à medida que a concentração de NO3- na
solução externa era aumentada de 0,05 até 1,00 mM, as velocidades de absorção de NO3- variavam
desde 2,0 até 7,0 µmoles/g.peso fresco/hora, Em trigo foram observadas velocidades de absorção de
2,0 a 2,6 µmoles/g.peso fresco/hora dependo de haver ou não pré-indução do sistema de transporte
pela presença de NO3- no meio.
A velocidade de absorção de NO3- varia não apenas com a espécie estudada, mas também
depende da concentração externa de NO3-, da pré-incubação (com NO3-) dos sistemas
transportadores, e de controles (inibição) por feedback exercido não apenas pela concentração
interna de NO3-, mas também por substâncias resultantes do metabolismo de N-NO3- nas plantas.
A absorção de nitrato causa inicialmente uma despolarização no potencial da membrana
(∆ψ). Esta despolarização inicial é seguida de repolarização, e em alguns casos até de uma
hiperpolarização. Este último efeito deve-se ao estímulo que a despolarização inicial causa sobre os
mecanismos de extrusão de prótons através das P-H+-ATPases. A despolarização inicial deve-se ao
fato de que a absorção de NO3- é um processo termodinamicamente ativo. É um simporte, com uma
relação 2H+/ NO3- (Figura 2).
Em algumas plantas esta despolarização inicial pode ser pequena (da ordem de 10 mV ou
menos), mas em cevada foram observadas despolarizações da ordem de 40 mV, poucos minutos
após a exposição das plantas ao NO3- externo, e antes que se observe o estímulo à atividade das H+-
ATPAses e conseqüente extrusão de H+.
Os efeitos de NO3- sobre o potencial da membrana (∆ψ) podem ser observados na faixa de
pH que vai de 4,4 a 7,0. Em pH = 8,0 as plantas não mais responderam à presença de NO3- no meio
externo. Quando, entretanto o pH da solução foi reajustado para 6,0 a atividade elétrica das
membranas reapareceu após 30 minutos (McClure et al., 1990). Estes pesquisadores mostraram que,
o transporte de NO3- em raízes de milho foi sendo inibido à medida que o pH da solução externa
aumentava de 4,4 até 8,0. Acima de pH = 8,0 o transporte de NO3- cessou completamente. Além
disso, a pH = 8,0 as raízes não apresentaram variação no potencial da membrana em resposta à
concentração externa de NO3-.
Estes resultados contribuem para demonstrar que a força próton-motriz (∆p) é realmente
responsável pelo transporte de NO3- através das membranas. Isto explica em parte porque a
velocidade de absorção de NO3- aumenta à medida que o pH da solução externa diminui.
É preciso considerar que do ponto de vista energético, o primeiro passo para a absorção de
NO3 será a extrusão ativa de H+ pelas bombas de prótons da membrana plasmática (P-H+-
-
12
ATPases), de modo a que seja criado um gradiente de H+ (∆µH+) entre o apoplasto e o interior da
célula. Considerando como válida a relação 1 H+: 1 ATP, serão necessários 2 moles de ATP para
cada mol de NO3- absorvido (Figura 2). É preciso levar em conta, entretanto, que nestes cálculos de
custos energéticos de absorção de ânions, a concentração relativa dos ânions dentro e fora da célula
tem um papel fundamental (ver capítulo 5 neste volume).
Mudanças no pH do meio, devidas à absorção de íons por raízes de cevada, foram
observadas por Hoagland e Broyer (1940). As observações de vários pesquisadores indicam que a
absorção diferencial de ânions ou cátions resulta em aumento ou redução do pH do meio,
respectivamente (Moore, 1974). Na absorção de um excesso de ânions (NO3- no caso), o sistema de
cotransporte 2H+/NO3- resulta no aumento do pH da solução externa.
No caso específico do nitrogênio, variações drásticas no pH foram observadas, quando arroz
foi cultivado em solução nutritiva em que N estava presente em forma amoniacal (Karim & Vlamis,
1962); estes autores só conseguiram obter crescimento das plantas quando um excesso de carbonato
de cálcio foi incluído na solução nutritiva. A mesma técnica foi usada por Fernandes (1974) usando
níveis elevados de N-NH4+ (150 ppm) em solução nutritiva. Variações de pH de 6,1 para 4,3 foram
observadas em nossos laboratórios (resultados não publicados), quando arroz (4 plantas por 2 litros
de solução nutritiva) foi mantido por 90 horas em uma solução nutritiva com 5 ppm de N-NH4+. As
variações de pH (aumento) obtidas quando amônio foi substituído por nitrato, não foram tão
elevadas.
A absorção de NO3- é feita através de sistemas de absorção de alta (HATS) e baixa afinidade
(LATS). Os transportadores do tipo LATS são constitutivos, enquanto o sistema de absorção de
NO3- de alta afinidade (HATS) tem um componente constitutivo (cHATS) e um outro passível de
indução (iHATS). Cada um dos três sistemas propostos para a absorção de nitrato (cHATS, iHATS,
LATS) pode consistir ou não, de diversos transportadores, geneticamente diferentes.
Transportadores do tipo cHATS e iHATS, podem ser expressos simultaneamente e responder ao
aumento das concentrações externas de NO3- com um aumento de atividade (upregulation).
A indução do sistema iHATS pode ser feita tanto por NO2- como por NO3-. Foi observado
em cevada que o sistema iHATS pode aumentar sua atividade em até 30 vezes em relação ao
cHATS, como resposta ao aumento da concentração externa de nitratos.
13
Estudos moleculares em Arabidopsis, localizaram uma família de transportadores de NO3-
codificada pelos genes NRT (Nitrate transporter). Nessa família, os genes NRT1 codificam para os
transportadores do sistema de baixa afinidade e os genes NRT2 para os sistemas de alta afinidade.
Em Arabidopsis, dois membros da família NRT2, AtNRT2.1 e AtNRT2.2 corresponderiam ao
sistema iHATS, enquanto que AtNRT2.3, AtNRT2.4, AtNRT2.5 AtNRT2.6 e AtNRT2.7
corresponderiam ao sistema cHATS (Figura 4).
A expressão do genes para NRT2 é estimulada pela presença externa de NO3- e reprimida
pela presença interna de glutamina. Entretanto há um gene, AtNRT2;5 que ao contrário dos outros,
é inibido pela adição de nitrato (Okamoto e Okada, 2004).
Figura 4. Sistemas de absorção de NO3- (NRT: Nitrate transporter) de alta (NRT2) e baixa
afinidade (NRT1). cHATS (constitutivos); iHATS (induzíveis)
14
Em geral, o nitrogênio em forma orgânica não é considerado como fonte direta importante
de N para as plantas, em condições normais de solo. A absorção de aminoácidos é feita via
simporte, com próton e depende, portanto, da formação de gradientes de H+, e geração de força
prótonmotriz, pelas P-H+-ATPases. Também existe a sugestão de que plantas como o arroz possam
absorver diretamente proteínas (Yamagata e Ae, 1999).
Näsholm et al. (1998) observaram a absorção de N-orgânico por árvores e arbustos de
florestas boreais. Este mecanismo seria importante nessas regiões onde a baixa temperatura impede
a mineralização do N-orgânico. Glicinas marcadas no carbono e no nitrogênio foram absorvidas
pelas plantas, e usadas como fonte de N para o crescimento. Aparentemente este processo é
mediado pela micorrização.
Okamoto e Okada (2004) observaram o efeito positivo de fontes de N-orgânico (farelo e
palha de arroz) no crescimento de sorgo e arroz, enquanto que milho e milheto são menos afetados e
respondem melhor ao N-mineral. Estes autores sugerem que as necessidades de N do sorgo podem
ser supridas com a absorção de proteína da solução do solo, e que o arroz também poderia recorrer a
essa fonte complementar, quando há deficiência de N-mineral no solo.
3 REDUÇÃO DO NITRATO
O nitrato é a principal fonte de nitrogênio para a maioria das plantas, especialmente para os
cereais e culturas graníferas.
As plantas não assimilam nitrogênio em alto estado de oxidação, deste modo, quando nitrato
é absorvido, ele só será assimilado se for primeiro reduzido a amônio.
A conversão de nitrato a amônio ocorre em duas etapas, através de uma redução que requer
oito elétrons. O nitrogênio passa do estado de oxidação (+5) para (-3).
Inicialmente ocorre no citossol a redução do NO3- a nitrito (NO2-) com o uso de dois
elétrons, transferidos das coenzimas NADH ou NADPH e catalisada pela enzima nitrato redutase
(NR). Em seguida, o nitrito é transportado para os cloroplastos nos tecidos fotossintetizantes ou
para os plastídios nas raízes, sendo então reduzido a amônio, através da enzima nitrito redutase,
com transferência de seis elétrons doados pela Ferredoxina reduzida (Figura 5).
15
Figura 5. Redução do nitrato (NO3-) a nitrito (NO2-) no citossol pela enzima Nitrato Redutase e do
NO2- a amônio (NH4+) através da Nitrito Redutase no cloroplasto (plastidio).
A Nitrato redutase (EC. 1.6.6.1) é a primeira enzima na via de redução de nitrato pelas
plantas, e representa, a etapa limitante e reguladora deste processo (Beevers e Hageman, 1969;
Campbell, 1988; Campbell, 1999).
Nas plantas superiores, algas e fungos as NR são consideradas enzimas solúveis localizadas
no citoplasma (Hageman e Bellow, 1990; Kleinhofs e Warner, 1990), embora tenha sido
identificada em raízes de milho e cevada uma forma de NR ligada à membrana plasmática. Essa
isoforma da Nitrato Redutase ancorada na face externa da membrana plasmática é referida como um
possível sensor para o NO3- (Forde e Clarkson, 1999).
A NR é encontrada em muitas plantas e órgãos principalmente quando nitrato é a fonte de
nitrogênio. A atividade da NR pode ocorrer no citoplasma tanto de raízes como de folhas (Hageman
e Bellow, 1990), sendo que, normalmente, a atividade da enzima nitrato redutase é alta nas folhas.
No entanto, segundo Campbell (1999), algumas plantas têm pouca ou nenhuma atividade da NR nas
folhas, havendo maior atividade nas raízes. A NR pode também ser encontrada em um tipo de
16
célula particular, como ocorre em folhas de plantas C4, onde a enzima está localizada somente nas
células da bainha vascular.
A NR é um homotetrâmero formado por dois dímeros simétricos. Cada tetrâmero ativo, em
baixas concentrações da enzima, dissocia-se em dímeros ativos, sem que ocorra perda significativa
de atividade, sugerindo que a associação/dissociação não exerce papel na regulação da atividade da
enzima.
Dois elétrons são necessários para a redução do nitrato a nitrito pela NR, esses elétrons
podem ser fornecidos pelo NADH ou NADPH. Sendo que o NADH é o principal doador de elétrons
para a NR na maior parte das plantas superiores e algas eucarióticas, enquanto que somente os
fungos utilizam NADPH. Entretanto, algumas plantas superiores (arroz, milho, cevada, soja) e
algumas espécies de algas podem utilizar tanto o NADH quanto o NADPH como doador de elétrons
para a NR sendo chamadas de plantas NAD(P)H-NRs bi-específicas (Kleinhofs e Warner, 1990).
Todas as NRs eucarióticas contêm três grupos prostéticos na proporção estequiométrica de
1:1:1, por subunidade: Flavina Adenina Dinucleotideo (FAD), Citocromo b557 e Cofator
Molibdênio (molibdênio associado com a pterina, formando complexo molibdopterina). Segundo
Kleinhofs e Warner (1990) o fluxo de elétrons na NR ocorre da coenzima NAD(P)H através do
FAD, Citocromo b557 e Cofator Molibdênio, e finalmente chegando ao NO3- que é reduzido a NO2-
(Figura 6).
Como a NR está localizada no citoplasma, a fonte primária de poder redutor para a formação
de NADH (forma reduzida) seria proveniente da degradação de açúcares (Beevers e Hageman,
1969), provavelmente através da via Glicolítica durante a oxidação do gliceraldeido 3-fosfato a 1,3
bisfosfoglicerato que é catalisada pela enzima da Gliceraldeido 3-fosfato desidrogenase citossólica
(Klepper et al., 1971). Em tecidos fotossintetizantes o poder redutor requerido para a atividade da
17
NR parece ser derivado do NADPH produzido nos cloroplastos pela etapa luminosa da fotossíntese.
Através de sistemas especiais de transporte de elétrons entre o cloroplasto e o citossol, os elétrons
do NADPH reduzem o NAD+ citoplasmático a NADH, que desta maneira poderá ser usado pela NR
e outras reações de redução do citossol (Hageman e Bellow, 1990, Oaks e Yamaya, 1990).
O nitrito (NO2-) produzido pela reação da nitrato redutase, é tóxico, devendo, portanto, ser
prontamente metabolizado. A redução do NO2- a amônio ocorre pela ação da enzima Nitrito
redutase (NiR), que transfere seis elétrons de seis moléculas de Ferredoxina reduzida (Fd red) para
o nitrito produzindo amônio (Figura 5).
A NiR está localizada nos cloroplastos da parte aérea ou nos plastídios das células
radiculares. Nos cloroplastos (presença de luz) a Ferredoxina reduzida é produzida através da cadeia
de transporte de elétrons da fotossíntese, enquanto nas células radiculares NO2- é reduzido a amônio
pela NiR localizada nos plastídeos, de maneira análoga a que acontece no tecido foliar. Entretanto,
como não pode ser produzida diretamente, através da fotossíntese, a Ferredoxina que será utilizada
pela NiR presente nas raízes (ou na parte aérea no escuro) é reduzida pelos elétrons doados pelos
NADPH, gerados através da Via das Pentoses-fosfato.
Stöhr et al. (2001) descreveram a atividade catalítica de uma enzima ancorada na membrana
plasmática, que reduz NO2- a óxido nítrico (NO) nas raízes de fumo. Esses estudos sugerem que a
enzima nitrito:NO redutase deve atuar concomitantemente com a NR da plasmalema, para converter
NO3- externo em NO, o NO por sua vez, atravessa a membrana plasmática e atua como
intermediário na sinalização por NO3-. Em mamíferos, o papel do óxido nítrico está estabelecido
como uma molécula sinalizadora importante (ver capítulo 8 neste volume). Na verdade, o NO, por
si só, é capaz de induzir genes que respondem a NO3-.
18
assimilado, ou acumulado no vacúolo celular.
Quando o nitrato é absorvido no citossol ele induz a atividade da enzima NR. Deste modo, o
nitrato pode ser reduzido a nitrito pela NR, e a seguir o nitrito é reduzido pela NiR a amônio, que
precisa então ser assimilado em moléculas orgânicas através das enzimas Glutamina Sintetase (GS)
e Glutamato Sintase (GOGAT). Todo esse processo de redução e assimilação, necessita de energia,
poder redutor e esqueletos de carbono, que em algumas situações estão em níveis limitantes na
célula (escuro, senescência, baixa taxa fotossintética, estresse etc). Nestas condições o nitrato
absorvido pode ser enviado para outras células ou acumulado no vacúolo, passando pelo tonoplasto
através de um canal de NO3- (Figura 7).
Figura 7. Visão geral da absorção de nitrato e amônio; redução, exportação e acúmulo de nitrato;
assimilação de amônio. T (tonoplasto; MP (membrana plasmática)
(1) P-H+-ATPase; (2) Transportador de NO3- (simporte); (3) Transportador de NH4+ (uniporte); (4)
Canal de NO3-.
19
A remobilização do nitrato acumulado no vacúolo, com seu retorno ao citossol, envolve a
participação de um transportador de nitrato, do tipo simporte, com um próton e depende de um
gradiente eletroquímico que é gerado pelas bombas de prótons presentes no tonoplasto: a V-
H+ATPase e a Pirofosfatase (H+PPase). No citossol o nitrato atua como um desacoplador das
unidades Vo e V1 das V-H+ATPase (ver capítulo 5 neste volume), deste modo esta enzima só atua
bombeando prótons para o interior do vacúolo, na ausência de nitrato no citossol, quando então, a
sua atividade permite a saída do nitrato que esteja acumulado no vacúolo (Figura 8).
Figura 8. Visão geral da remobilização de nitrato do vacúolo. (5) V-H+-ATPase; (6) H+-PPase; (7)
Transportador de NO3- (simporte: H+/NO3-).
21
na fotossíntese. Em um curto período após a transferência das plantas da luz para o escuro, a
proteína-NR não diminuiu, embora a atividade da NR tenha diminuído em 30%. A atividade da NR
foi restabelecida com o retorno das plantas a luz. Estes resultados indicam a existência de um
mecanismo de inativação reversível para a regulação da NR.
Em condições de baixa energia a NR ativa pode ser fosforilada e ligada a uma proteína
regulatória denominada 14-3-3, formando um complexo inativo que pode ser direcionado à
destruição da NR. Entretanto, se for restabelecido o nível energético, a proteína 14-3-3 se desligaria
da NR e a enzima posteriormente defosforilada, voltaria à sua atividade normal. A NR fosforilada
também é ativa.
5 ASSIMILAÇÃO DO AMÔNIO
22
transferido, pela ação da GOGAT, para o carbono-alfa do α-cetoglutarato, formando duas
moléculas de glutamato.
Uma característica típica da via GS-GOGAT de assimilação de amônio é sua natureza
cíclica, onde o glutamato é ao mesmo tempo substrato e produto da assimilação (Figura 9).
Após a descoberta da via GS-GOGAT, verificou-se que a enzima GDH não tinha o papel
principal na assimilação de amônio em plantas superiores (Miflin e Lea, 1977; Kumar e Abrol,
1990; Lancien et al.. 2000).
Diversas evidências apontam para a Glutamina Sintetase como a principal enzima na
assimilação de amônio pelas plantas:
• A Glutamina Sintetase tem menor KM para o NH4+ (KM de 50 µM) do que a GDH (KM de
5 a 70 mM), portanto, mesmo em baixas concentrações de NH4+ a GS é ativa (Lea e Miflin,
1977);
23
• A glutamina é o primeiro produto formado quando se usa nitrogênio marcado (NH4+ ou
NO3-) (Magalhães et al., 1990);
• Inibidores de GS bloqueiam a assimilação de NH4+.
A enzima glutamina sintetase (GS) incorpora NH4+ formando glutamina, através da ligação
do NH4+ ao grupo carboxílico do glutamato, usando energia fornecida pelo ATP:
24
fotorrespiração. Entretanto, algumas plantas, como o espinafre e o fumo, não contêm a GS
citossólica (GS1) (McNally et al., 1983), o que sugere que toda o amônio produzido na célula
vegetal possa ser assimilado pela GS2.
Em plantas existem enzimas glutamato sintase (GOGAT) que podem utilizar NADH
(NADH-GOGAT) ou ferredoxina (Fd-GOGAT) como doadores de elétrons. Ambas as isoformas
promovem a transferência redutiva do grupo amida da glutamina para o alfa-cetoglutarato,
formando duas moléculas de glutamato:
Uma das duas moléculas de glutamato formado pode retornar à via GS-GOGAT, enquanto a
outra molécula de glutamato pode ser usada nas reações biossintéticas (Miflin e Lea, 1976) (Figura
9).
Os anticorpos contra NADH-GOGAT não reconhecem Fd-GOGAT e vice-versa indicando
que as duas GOGAT são proteínas imunologicamente distintas (Suzuki et al., 1982).
A glutamato sintase (GOGAT) foi detectada em plastídios tanto em raízes como em folhas
(Suzuki et al., 1982; Wallsgrove et al., 1979).
Nas folhas, Fd-GOGAT é a forma predominante da enzima, encontrada no estroma dos
cloroplastos. Ela é específica para ferredoxina reduzida, e é inativa com NADH como doador de
elétrons (Lea e Miflin, 1974; Suzuki e Gadal, 1982). A Fd-GOGAT presente em raízes é similar,
mas não idêntica à foliar.
A isoforma NADH-GOGAT está localizada principalmente em tecidos não verdes tais como
raízes, nódulos e cotilédones em desenvolvimento (Chen et al 1990). Em tecidos verdes NADH-
GOGAT é muito menos ativa que a Fd-GOGAT (Matoh et al., 1980).
A Fd-GOGAT foi a principal forma de glutamato sintase encontrada nas folhas verdes de
arroz (Suzuki e Godal, 1982; Yamaya et al., 1992), enquanto que, alta atividade de NADH-GOGAT
foi detectada em folhas que ainda não tinham emergido e, portanto, não estavam verdes e
expandidas (Yamaya et al., 1992). Entretanto, parece que uma vez atingida a expansão total da
folha, a atividade e o conteúdo de proteína NADH-GOGAT diminuem, sugerindo que a expressão
25
do gene para NADH-GOGAT em folhas de arroz é reduzida com a idade da folha e que ocorre
degradação da proteína NADH-GOGAT (Yamaya et al., 1992).
Nos cloroplastos a ferredoxina utilizada pela Fd-GOGAT é produzida através da
fotossíntese. Na raiz a ferredoxina não pode ser reduzida pelas reações luminosas da fotossíntese,
mas sim, por NADH ou NADPH proveniente da oxidação de açúcares, que por sua vez é a mesma
fonte de poder redutor para o NADH-GOGAT (Hageman e Bellow, 1990).
A afinidade da GDH pelo NH4+ é baixa, com Km variando de 5-70 mM, de acordo com a
localização da enzima no tecido vegetal (Miflin e Lea, 1977). O Km pelo α-cetoglutarato é de 3,3
mM e pelo glutamato de 7,3 mM, na rota de desaminação.
O maior Km apresentado pela GDH para o amônio em relação a GS (Km = 50 µM),
demonstra que a GDH não estaria atuando no sentido da aminação, pois a GS seria a enzima mais
apropriada, devido a sua maior afinidade pelo amônio (menor Km).
Lewis et al. (1983) verificaram que nas raízes de cevada os íons NH4+ absorvidos do solo
eram assimilados, exclusivamente, através da via GS/GOGAT e que a GDH teria somente um papel
limitado neste processo. Esses reultado indicam que a GDH das plantas superiores seria importante
na reação de desanimação oxidativa do glutamato e não na aminação do α-cetoglutarato a
glutamato. Foi observada maior atividade da GS nas regiões de crescimento radicular, enquanto
que, a atividade da GDH foi consideravelmente maior nas partes mais velhas da raíz (Luxová,1988)
Simpson e Dalling (1981), observaram que durante o período de enchimento dos grãos, a
atividade da GS e da GOGAT na folha bandeira de arroz diminui. A atividade da GDH permaneceu
26
constante durante o mesmo período. No entanto a enzima atingiu um pico de atividade aos 25 dias
após a antese. Esse pico coincidiu com o período do rápido declínio na atividade da GS.
Boggio et al. (2000) observaram em tomate que GS estava presente quase que
exclusivamente nos frutos verdes, enquanto que GDH se encontrava apenas nos frutos mais
maduros, sugerindo um modelo recíproco de atividade entre GS e GDH durante o amadurecimento
e senescência do fruto de tomate.
Aumentos na GDH, no período tardio da senescência foram observados em pétalas de tulipa
senescentes e em folhas destacadas e senescentes de Lolium (Thomas, 1978).
Tem sido observado que GDH é a enzima do metabolismo de N que freqüentemente atinge
mais alta atividade durante a senescência (Frith et al., 1978; Ragster e Chrispeels, 1981; Laurière e
Daussand, 1983)
De acordo com Robinson et al. (1992) as mudanças na atividade da GDH, observadas em
folhas senescentes, poderiam estar relacionadas com a diminuição da fotossíntese destes tecidos, e,
portanto, ligada à disponibilidade de carbono.
Deste modo, como pode ser visto na figura 10, a enzima Glutamato desidrogenase pode
atuar no sentido de:
a) Desaminação: catalisando a oxidação do glutamato a α-cetoglutarato e fornecendo assim,
esqueleto de carbono para o ciclo de Krebs;
b) Aminação: incorporando amônio e formando glutamato.
27
Figura 10. Atividade da enzima Glutamato desidrogenase (GDH). Aminação: incorporando amônio
e formando glutamato; Desaminação: catalisando a oxidação do glutamato a α-cetoglutarato
liberando amônio.
Em cultura de células de cenoura, foi observado que a GDH era ativa na oxidação do
glutamato, mas não na aminação redutiva do α-cetoglutarato, que ocorreria somente via
GS/GOGAT (Robinson et al.,1990). Em outro experimento os mesmos autores observaram relação
inversa entre atividade da GDH e o suprimento de carboidrato (sacarose) ao meio de cultura.
Sahulka e Lisá (1980) também observaram aumento da atividade da GDH em resposta à limitação
de sacarose em raízes de ervilha.
Estes resultados evidenciam o papel primário da GDH na desaminação do glutamato.
Fornecendo assim, esqueletos de carbono para que o ciclo de Krebs funcione, sob condições de
limitação de carbono (Srivastava e Singh, 1987; Yamaya e Oaks, 1987; Oaks e Yamaya, 1990;
Robinson et al., 1990; 1992).
28
Sob este ponto de vista, poderia se supor que a chamada "indução da atividade da GDH" por
amônio, observada por diversos autores (Kar e Feierabend, 1984; Jain e Shargool, 1987 Shargool e
Jain, 1987; Srivastava e Singh, 1987), estaria na verdade acontecendo devido à diminuição de
esqueletos de carbono e não pelo aumento de amônio no tecido da planta. A GDH está, portanto,
envolvida em uma importante função anaplerótica, unindo o metabolismo do carbono e do
nitrogênio nas plantas superiores.
Doador de elétrons
Enzima Reação
ou energia
Nitrato redutase NADH
NO3- → NO2-
(NR) NAD(P)H
Nitrito redutase
NO2- → NH4+ Ferredoxina
(NiR)
Glutamina sintetase
Glutamato + NH4+ → Glutamina ATP
(GS)
Glutamato sintase Ferredoxina
α-cetoglutarato + Glutamina → 2 Glutamato
(GOGAT) NADH
Glutamato desidrogenase NADH
α-cetoglutarato + NH4+ → Glutamato
(GDH) NAD(P)H
Nas folhas essas interações ocorrem às expensas dos produtos primários da fotossíntese
[ATP, NAD(P)H, Ferredoxina] e competem com a redução de carbono. Por outro lado, nas raízes,
os carboidratos armazenados ou translocados servem como substrato para a produção de energia e
fonte de carbono para a assimilação de N.
29
7 TOXIDEZ DE NH4+ EM PLANTAS
Vários estudos demonstram que o NH4+ pode ser tóxico para as plantas. Algumas plantas
são muito sensíveis à toxidez por NH4+, mesmo em pequenas concentrações (2 mM). A toxidez de
NH4+ afeta tanto a fisiologia como a morfologia das plantas.
Embora as plantas às vezes consigam metabolizar as grandes quantidades do NH4+, liberadas
pela fotorespiração, sem mostrar sinais da toxidez, a nutrição de plantas com N- NH4+ através do
sistema radicular pode afetar negativamente o metabolismo vegetal, quando comparada às plantas
sob nutrição nítrica ou sob uma combinação de NH4+ e NO3-.
A absorção de excesso de NH4+ interfere com o balanço de água nas plantas, reduzindo o
fluxo de água das raízes para a parte aérea de modo que plantas não tolerantes acabam murchando.
Alguns sintomas de toxidez de NH4+ como folhas secas enroladas podem ser reflexo do aumento da
resistência ao movimento radial da água em plantas sob nutrição amoniacal. Os níveis de exudação
em plantas de tomate tratadas com NH4+ sofrem rapidamente uma redução de até 60% quando
comparadas com plantas sob nutrição nítrica. Alguns dos efeitos da toxidez por NH4+ podem ser
revertidas por NO3-.
Sintomas de deficiência de K foram observados em plantas sob nutrição amoniacal, mas a
conclusão foi de que este efeito foi devido a redução na exudação e não por perda de K nas raízes.
Potássio tem uma ação importante na ativação das enzimas de assimilação de N quando o NH4+ está
em níveis tóxicos nos tecidos das plantas. Plantas de tomate que tinham apresentado lesões devido a
absorção de excesso de NH4+ tiveram essas lesões inibidas pelo K. A produtividade de milho sob
nutrição amoniacal aumentou com a aplicação de níveis crescentes de K.
Outros sintomas de toxidez de NH4+ podem incluir a clorose, a necrose e até a morte das
plantas. O aparecimento desses sintomas depende da concentração de NH4+ nos tecidos, da relação
NH4+/ NO3- e da concentração de outros nutrientes. Em experimento com mistura de NH4+: NO3- o
feijão foi a planta mais severamente afetada pelo aumento da concentração de NH4+ em relação ao
NO3-. Enquanto que, repolho, melão e milho tiveram o peso seco das folhas reduzido pelo NH4+.
Todas essas plantas apresentam uma redução no teor de Ca com o aumento nos teores de NH4+.
Para o seu funcionamento as enzimas de assimilação de NH4+ requerem energia, doadores de
elétrons e esqueleto de carbono, para a incorporação do íon. Quando se adicionou α-cetoglutarato a
plantas de tomates cultivadas sob nutrição amoniacal foi observado aumento no crescimento e nos
teores de aminoácidos livres, e redução nos sintomas de toxidez. A assimilação de NH4+ formando
glutamina pela ação da GS (relação C/N 5:2) ou glutamato pela ação da GDH (relação C/N 5:1)
representa um dreno de esqueletos de carbono.
30
Britto et al. (2001) trabalhando com uma planta mais tolerante ao NH4+ (arroz) e outra mais
sensível (cevada), identificou na cevada um mecanismo de exudação ativa de NH4+, como uma das
causas prováveis da toxidez de N- NH4+. De acordo com esses autores, a cevada, ao contrário do
arroz, não mostra alta capacidade de regulação do potencial da membrana (∆Ψ) com a absorção de
NH4+ (principalmente através de mecanismo de alta afinidade (HATS)). Como resultado, cevada
acumula níveis excepcionalmente elevados de N- NH4+ no citossol. Parte deste NH4+ sofreria então
efluxo, contra a tendência termodinâmica dominante, que seria de fora para dentro. O resultado
desse processo seria um gasto excessivo de energia (aumento de 41% nas taxas de respiração) com
efeitos negativos sobre o metabolismo das plantas, e conseqüente redução do peso. Arroz,
entretanto, mostra um eficiente sistema de controle do potencial da membrana (potencial menos
negativo), e conseqüentemente acumula níveis menores de NH4+ no citossol (Wang et al. 1994;
Britto et al. 2001), e níveis mínimos de exudação de NH4+. Este mecanismo poderia ser uma das
razões da tolerância do arroz ao NH4+.
Devido ao fato da assimilação de NH4+ ocorrer basicamente nas raízes, e requerer grandes
quantidades de carboidratos, plantas sob nutrição amoniacal mostram uma redução na taxa de
crescimento das raízes. Quando houve redução do suprimento de N às raízes de milheto crescida em
solução nutritiva por sete dias, as raízes mostraram um aumento de peso 24%, enquanto que
simultaneamente as folhas tiveram uma redução no peso de 24%. Esta redução no peso da parte
aérea das plantas foi atribuída a um redirecionamento dos carboidratos que seriam usados na
assimilação do N uma vez que são necessário cinco equivalentes de Glicose para a fixação de oito
equivalentes de N.
O acúmulo de N-amino e N-amida é uma das características de plantas sob excesso de N
amoniacal. Na presença de elevados níveis de NH4+, asparagina e glutamina podem responder por
mais de 80% do total de N-amino/N-amida livre. O teor de N-amino/N-amida livre pode aumentar
de 10 a 20 vezes como resposta a toxidez do NH4+. Situações de stresses devido ao excesso de
absorção de N em plantas submetidas a condições desfavoráveis de crescimento como baixa luz e
alta temperatura, mudam a composição de N-amino/N-amida em plantas, como pode ser observado
em experimento com arroz (Tabela 2).
31
TABELA 2. Efeitos de baixa luz (17,3 Klux) e alta temperatura (35ºC) na composição de
aminoácidos e razão N-amino e N-amida em plantas de arroz submetidas a dois níveis de
nitrato e amônio (20 e 150mg/L) (Adaptado de Fernandes, 1974).
N-NO3- N-NH4+
Aminoácidos 20 mg N/L 150 mg N/L 20 mg N/L 150 mg N/L
___________________ % do total ___________________
Aspartato 10,6 5,1 1,4 2,3
Glutamato 25,1 16,3 5,5 5,0
Asparagina 3,9 11,2 26,7 12,5
Glutamina 12,3 21,5 54,7 70,5
Relação
N-Amino/N-amida 5,17 2,06 0,23 0,20
Total de aminoácidos
(µmoles. g-1 peso fresco) 12,80 17,93 124,50 173,00
32
Figura 11. Relações entre os teores de N-amino e matéria seca (A); N-amônio e matéria fresca
(B); e N-amino e açúcares solúveis (C) em arroz cultivado com alto nível de N-NH4+ (150
mg/L). Adaptado de Fernandes (1990).
8 REMOBILIZAÇÃO DE NITROGÊNIO
8.1 Senescência
Grande parte dos nutrientes presentes nas folhas durante o seu desenvolvimento são
transferidos durante a senescência deste tecido, para os órgãos reprodutivos ou em crescimento. A
senescência culmina com a morte foliar, no entanto esse estágio só é atingido após os processos da
senescência remobilizarem os nutrientes presentes para outras partes da planta.
Na fase inicial da senescência principia a hidrólise das proteínas cloroplásticas e os
aminoácidos liberados podem ser exportados para as regiões reprodutivas, como por exemplo, os
grãos em desenvolvimento. Os cloroplastos são desmontados no início da senescência, enquanto as
mitocôndrias permanecem funcionais.
A perda da atividade fotossintética acontece em paralelo à degradação de proteínas e RNA
mensageiros, enquanto N, fósforo (P) e outros nutrientes são transferidos das folhas (Buchanan-
Wollaston et al., 2003). A remobilização de N, P, K (potássio) em folhas de Arabidopsis foi de 80%
durante a senescência (Himmelblau e Amasino, 2001). Em plantas C3 mais de 75% do nitrogênio
celular total está localizado nos cloroplastos foliares (Peoples e Dalling, 1988).
As principais substâncias cloroplásticas que contribuem para a perda total de proteínas
foliares durante a senescência são a Rubisco e o Complexo coletor de luz pertencente ao
fotossistema II (Matile et al., 1997). O complexo coletor de luz faz parte das membranas tilacóides
e é formado de proteínas e pigmentos, principalmente clorofilas.
A degradação, nos cloroplastos, das proteínas das membranas tilacóides associadas às
clorofilas requer o simultâneo catabolismo das clorofilas. A desmontagem dos complexos
pigmentos-proteínas causa a liberação de clorofilas que são potencialmente perigosas, pois podem
causar danos foto-oxidativos. As clorofilas devem então ser degradadas até formas não reativas
através de pelo menos cinco reações enzimáticas (Höstensteiner e Feller, 2002).
Os produtos finais do catabolismo das clorofilas, denominados “catabólitos de clorofila não-
fluorescentes”, são depositados nos vacúolos, sem que ocorra a remobilização do N presente nessas
moléculas (Hinder et al., 1996; Tommasini et al., 1998). Para cada molécula de clorofila quatro
moles de N não são reciclados durante a senescência.
34
Portanto, o N das clorofilas não é exportado das folhas senescentes, permanecendo nas
células na forma de catabólitos tetrapirrólicos lineares que são produzidos pela abertura do anel
porfirínico decorrente da introdução de oxigênio por uma oxigenase. Esses derivados tetrapirrólicos
são então transportados ativamente através de carreadores do tonoplasto e acumulam no vacúolo
(Tommasini et al., 1998). Deste modo, a degradação das clorofilas não tem por objetivo mobilizar
nutrientes, mas sim detoxificar os compostos de clorofila altamente reativos que são liberados dos
complexos proteínas-pigmentos constituintes das membranas tilacóides dos cloroplastos.
Durante a senescência as enzimas envolvidas na assimilação de N e C são degradadas e os
aminoácidos derivados de seu catabolismo são exportados via floema com ou sem modificações.
A atividade das enzimas envolvidas no metabolismo do nitrogênio diminui durante a
senescência da planta. Em geral, a atividade da nitrato redutase (NR) é perdida primeiro, enquanto
que a glutamina sintetase (GS), a glutamato sintase (GOGAT) e a Glutamato desidrogenase (GDH)
permanecem ativas por um período mais longo (Storey e Beevers, 1978).
A degradação da Rubisco é rápida e serve como fonte de N para o desenvolvimento dos
grãos (Mae et al., 1983; 1985; Makino et al., 1984). Em plantas C3, como o arroz, a Rubisco
contribui com cerca de 50% do total de proteína solúvel das folhas (Feller, 1990).
No processo de remobilização de N, durante a senescência, quando as proteínas foliares são
degradadas o N liberado na forma de amônio é reassimilado e convertido principalmente nas amidas
glutamina e asparagina, que são translocadas para os órgãos em desenvolvimento (Ghosh et al.,
1995; Nakasathien et al., 2000).
Apesar do glutamato ser o aminoácido presente em maior proporção nas folhas de arroz,
durante a senescência o teor de glutamato diminui acentuadamente e os níveis de sua amida, a
glutamina, aumentam (Kamachi et al., 1991).
Segundo Hayashi e Chino (1990) a glutamina contribui com 42% do total de aminoácidos
presente na seiva do floema de arroz, tornando-se o principal aminoácido de transporte durante o
desenvolvimento dos grãos.
A glutamina sintetase (GS) é a mais provável enzima para a formação de glutamina, nos
tecidos senescentes (Miflin e Lea, 1977; Oaks e Hirel, 1985). No entanto, como acontece com a
RUBISCO, a atividade da GS também diminui durante o período reprodutivo (Simpson e Dalling,
1985; Hayashi e Chino, 1990; Kamachi, et al., 1991; 1992; Souza et al., 1999).
Entretanto, como a GS no tecido vegetal está presente em pelo menos duas isoformas: a GS1
localizada no citossol e a GS2 localizada no cloroplasto (Oaks e Hirel, 1985), a queda na atividade
da GS observada durante a senescência, pode ser atribuída à diminuição da isoforma GS2, que
como outras proteínas cloroplásticas, sofre hidrólise preferencial durante este período. Em
35
cloroplastos isolados observou-se que a GS2 é mais suscetível à hidrólise e degrada mais
rapidamente de que a RUBISCO e outras enzimas de assimilação de C (Mitsuhashi e Feller, 1992;
Thoenen e Feller, 1998). A GS1 citossólica, por sua vez, se mantém constante e pode até aumentar
ligeiramente durante a senescência (Makino et al., 1983; Kamachi et al., 1991; 1992).
A GS1 converte glutamato em glutamina aumentando assim a eficiência de transporte de N,
pois a glutamina carreia dois nitrogênios por cinco carbonos.
Em folhas de arroz senescente observa-se que a GS citossólica está predominantemente
localizada nas bainhas vasculares (Sakurai et al., 1996) indicando seu estreito papel para a formação
de compostos para o transporte de N. Yamaya et al. (2002) detectaram imunocitologicamente
proteína GS1 citossólica em folhas senescentes de arroz, especificamente em células companheiras
importantes para o carregamento do floema. Estes resultados contribuem para caracterizar a
importância da GS1 para a formação de compostos de N a serem exportados das folhas senescentes.
Segundo pode ser a responsável pela conversão de glutamato e NH4+ em glutamina.
Portanto, a GS1 das folhas senescentes seria a enzima responsável pela síntese de glutamina, que
por sua vez seria então Buchanan-Wollaston e Ainsworth (1997), a GS1 citossólica está envolvida
na remobilização de compostos nitrogenados, pois a expressão de genes que codificam para a GS1
aumenta durante a senescência. Entretanto, pode haver controle pós-traducional da GS1 por
fosforilação, o que protege a enzima da degradação, e também podem ocorrer interações com
proteínas 14-3-3 que aumentam a atividade da GS1 (Finnemann e Schoerring, 2000).
Enquanto a GS1 citossólica permanece ativa por mais tempo a GS2 plastidial é perdida nas
folhas de cereais na fase inicial da senescência juntamente com outras proteínas cloroplásticas.
Desta maneira, durante o período reprodutivo, apesar da atividade da GS total (GS1 + GS2)
diminuir, a atividade da GS1 remanescente transferida para os tecidos em crescimento. A GS1
citossólica nestas circunstâncias envolvida na formação de compostos de transporte, a partir do
catabolismo de proteínas.
Como ocorre progressiva deterioração das funções do cloroplasto durante a senescência e as
enzimas cloroplásticas como RUBISCO, GS cloroplástica e Fd-GOGAT também são degradadas,
parece lógico que o glutamato deixe de ser o principal aminoácido de transporte e essa posição
passe à glutamina. A glutamina pode transportar mais N, por unidade de C do que o glutamato. Esta
modificação no metabolismo é benéfica no período da senescência, quando a taxa fotossintética está
declinando e a produção de esqueletos de carbono é limitada. Isto pode acionar outras enzimas,
como a glutamato desidrogenase, para que, através de sua função de desaminação possa suprir, em
parte, esta demanda por esqueletos de carbono (Thomas, 1978; Robinson et al., 1990, 1992).
36
Durante esses processos tem sido observado aumento da atividade da GS1 citossólica,
NADH-GOGAT e GDH, o que sugere a participação dessas isoenzimas na remobilização do
nitrogênio (Hirel, et al. 2001; Lea et al., 1990; Stewart et al., 1980). Alta atividade de GDH está
freqüentemente, presente nas raízes e folhas senescentes (Srivastava e Singh, 1987; Smirnoff e
Stewart, 1987).
Durante o enchimento dos grãos, há duas fontes de N para a planta: o N absorvido do solo e
o N remobilizado dos tecidos vegetativos (Ta e Weiland, 1992).
Inicialmente o N é mobilizado das folhas e caules como parte do processo de
envelhecimento (senescência), mas o N disponível no solo também é absorvido. No entanto se esses
dois processos são incapazes de sustentar a demanda de N dos grãos, então ocorre uma aceleração
no processo de senescência com aumento da remobilização do N das folhas e em menor extensão do
caule (Borrel e Hammer, 2000).
Durante a fase de enchimento dos grãos, os fotossíntetatos produzidos são canalizados
primariamente para as sementes em desenvolvimento, sendo o suprimento via raízes limitado.
Ta e Weiland (1992) usando 15N para medir a taxa de remobilização de N, sob condições de
campo, em milho, observaram que as folhas e caules forneceram cerca de 45% do N remobilizado
durante o enchimento dos grãos, enquanto as raízes contribuíram com cerca de 10%.
Portanto, os nutrientes absorvidos através das raízes não são suficientes para suprir as
necessidades de desenvolvimento dos grãos, os nutrientes são então translocados das folhas para os
órgãos em desenvolvimento, ocorrendo a senescência rápida das folhas.
Desta forma, a reposição de nutrientes poderia manter a taxa de fotossíntese por um tempo
maior, e se refletir em aumento da produção de grãos. A manutenção do metabolismo das folhas
parece importante para garantir o melhor desenvolvimento dos grãos. Del Molino et al. (1989)
observaram em trigo, que após a antese, os grãos são o principal dreno para o N das folhas, portanto
a senescência foliar que ocorre durante o enchimento do grão, têm grande importância para a
produção de grãos e conteúdo de proteína.
Yang et al. (2000) observaram que fertilização nitrogenada pesada atrasou a senescência em
trigo e resultou em lento enchimento do grão e baixo índice de colheita. Esse atraso na senescência
pode ser revertido se as plantas forem submetidas durante o estágio tardio de enchimento dos grãos
a uma retirada controlada da umidade do solo, que promove assim a remobilização de assimilados
pré-armazenados para o enchimento dos grãos e aumento da produção.
37
Sob condições de estresse abiótico tais como seca e deficiência de N, a remobilização dos
tecidos vegetativos torna-se particularmente importante para o crescimento dos grãos (Ta e
Weiland, 1992).
Desde que as folhas contribuem com a maior parte dos substratos nitrogenados para o
desenvolvimento dos grãos, o aumento na concentração total de aminoácidos foliares,
particularmente glutamato, aspartato e suas amidas glutamina e asparagina pode ser o responsável
pelo aumento no conteúdo de proteína nos grãos de dois genótipos de soja que receberam 30 mM de
N (Nakasathien et al., 2000).
Barneiz e Guitman (1993) também observaram que a biossíntese de proteína em grãos de
trigo é substrato-dependente da quantidade de aminoácidos presente nas folhas e que o aumento nos
teores de aminoácidos foliares poderia intensificar a exportação de aminoácidos para os grãos.
Segundo Masclaux et al (2000) a taxa de senescência e remobilização foliar está relacionada
ao ‘status’ de N e relação fonte-dreno. Em trabalho com arroz, Souza et al. (1998) observaram que a
taxa diária de perda de N entre a antese e a coleta final da parte aérea de uma variedade tradicional
Piauí (9,94 mg N/dia) foi cerca de duas vezes maior do que a de uma variedade melhorada IAC-47
(4,66 mg N/dia). Para a variedade Piaui o N perdido da parte aérea correspondeu a 75% do N-
acumulado nos grãos e na IAC-47 a 42%. De acordo com estes resultados a variedade tradicional
Piauí apresenta maior eficiência de remobilização do N acumulado na planta o que pode indicar um
processo de adaptação a condições de disponibilidade sazonal de N, como acontece nos trópicos. As
plantas de ambas as variedades quando receberam N suplementar durante o enchimento dos grãos
tiveram uma taxa diária de perda de N da parte aérea menor do que o das plantas sem
suplementação nitrogenada, indicando que quando há uma fonte externa de N a planta utiliza menos
de suas reservas vegetativas para o desenvolvimento dos grãos.
38
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50
CAPÍTULO 10
POTÁSSIO
SUMÁRIO
1.1 Forma e modo como o nutriente está presente na rizosfera .............................. 414
1.3 Liberação do potássio não trocável por ação das raízes .................................... 418
1
1 POTÁSSIO
vegetais. O potássio não faz parte de nenhuma estrutura ou moléculas orgânicas na planta,
fosfolipídios, ATP entre outros. O íon K+ encontra-se predominantemente com cátion livre
ou como cátion adsorvido e pode facilmente ser deslocado das células ou dos tecidos
vegetais (Lindhauer, 1985). Esta alta mobilidade nas plantas explica as principais funções
o mais importantes e ativo componente inorgânico osmótico (Clarkson & Hanson, 1980). A
o pH cai abaixo de 7 muitos processos na planta poderão ser paralisados. O potássio atua
mantém o turgor das células, regula a abertura e fechamento dos estômatos, promove a
2
Estas múltiplas funções do potássio nos processos metabólicos resultam em vários
efeitos positivos nas plantas quando há uma adequada nutrição do potássio (Imas, 1999):
culturas como da banana, tomate, batata, cebola, e outras (Usherwood, 1985; Koo, 1985;
Mengel, 1997).
0,1 a 1,5 mm da raiz, em média) o potássio pode ser encontrado sob diferentes formas:
como íon livre (K+) na solução do solo, adsorvido como complexo de esfera-externa nos
3
O íon potássio (K+) presente na solução do solo é a forma como as plantas absorvem
solo pode variar desde 1 mg L-1 até 50 mg L-1, ou mais, em solos fertilizados, e depende das
elemento prontamente disponíveis para as plantas. Solos com alto teor de K-trocável, pelo
favorece a difusão do K+ para junto da superfície radicular (item 9.3). A relação entre as
solo para manter determinada concentração de potássio na solução. No Quadro 9.1 são
sul do Brasil.
4
Quadro 9.1 Teores de potássio trocável e de potássio na solução em solos do Estado do
Rio Grande do Sul fertilizados com potássio ( Meurer, 1991).
entrecamadas de argilominerais do tipo 2:1, como na vermiculita, por exemplo, e o que faz
parte da estrutura dos minerais primários, como os feldspatos de potássio, micas e outros
5
minerais fontes de potássio em solos ( Greenland & Mott, 1978; Sposito, 1984; Sposito,
1989).
O potássio não trocável poderá estar disponível para as plantas a curto, médio e
longo prazos. Diversos trabalhos têm mostrado que em solos intemperizados, como os
significativas desse nutriente para as plantas (Oliveira et al., 1971; Mielniczuk & Selbach,
1978, Rosolem et al., 1988; Nachtigall & Vahl, 1991a; Nachtigall & Vahl, 1991b; Rosolem
et al., 1993; Silva & et al., 1995). No Quadro 9.2 são apresentados os resultados obtidos
num desses trabalhos onde se evidencia que a maior parte do potássio absorvido pela
Quadro 9.2 Formas e quantidade de potássio absorvido por azevém perene cultivado em
solos do Estádio do Rio Grande do Sul (Oliveira et al., 1971)
Solos Material K-
origem total K absorvido pelo azevém (1)
do K-trocável do K- nνo Total
trocável
Latossolo Vermelho Basalto 1.960 17 399 416
distroférrico típico
Latossolo Vermelho Basalto 4.560 45 400 445
distroférrico típico
Latossolo Bruno Basalto 2.600 44 412 456
alumínico câmbico
Neossolo Litólico Basalto 6.400 313 427 740
Eutrófico chernossólico
Neossolo Sedimentos 2.080 13 257 270
QuartzarΛnico órtico Costeiros
típico
Neossolo Flúvico Sedimentos 12.000 122 426 548
Aluviais
Argissolo Vermelho Arenito- 14.200 17 442 459
distrófico latossólico argilito
6
Vários estudos foram conduzidos para quantificar a liberação de potássio das
frações granulométricas dos solos (K-não trocável). Em solos arenosos Sadusky et al.
(1987) e Parker et al. (1989) observaram que a fração areia de solos da planície da costa
atlântica dos Estados Unidos teve importância na liberação de potássio para as plantas,
tendo o nutriente sido liberado de feldspatos contidos nestes solos. Meurer et al. (1996)
relatam que 76% do teor total de potássio de um Latossolo Vermelho Distroférrico típico
do Estado do Rio Grande do Sul estava contido na fração argila; o teor de K-não trocável
desse Latossolo.
uma área (rizosfera) cujas características químicas e biológicas são bastante distintas da
massa de solo distante da raiz (fora da rizosfera). A absorção pelas raízes exaure o K-
solução (Niebes et al., 1993) e o K-trocável rizoférico (Kuchenbuch & Jungk, 1982),
porém, sem alterar o teor de potássio do solo não rizosférico. A exaustão do potássio junto
não trocável (Hinsinger et al., 1992; Hinsinger et al., 1993; Hinsinger & Jaillard, 1993),
contribuiu com 85% do total absorvido por plantas de colza com sete dias de idade e que a
presente na rizosfera do solo. Niebes et al. (1993) constataram que após oito dias de cultivo,
7
de plantas de Brassica napus cv Drakkar. Hissinger et al. (1993) constataram que os
Silva et al., (1995) em dois Latossolos do Estado do Paraná constataram que o potássio
trocável não foi a única fonte do nutriente para as plantas de soja. Nos dois Latossolos
identificaram minerais micáceos nas frações silte e argila e argilominerais 2:1HE na fração
argila que poderiam estar associados a liberação do K-não trocável. Melo et al. (2004)
destes nutrientes para as plantas, verificaram que solos com teores totais elevados de K e
desses nutrientes para a solução do solo. A fração areia dos solos originados de arenito da
(HCl 0,05 mol L-1 + H2SO4 0,0125 mol L-1) ou por acetato de amônio 1 mol L-1 tamponado
a pH 7, são os índices mais utilizados pelos laboratórios de análises de solos para avaliar a
8
disponibilidade deste nutriente para as plantas. Como a dinâmica de disponibilidade do
potássio na rizosfera é bem diferente daquela que ocorre no solo como um todo, o índice K-
extraível, isoladamente, não tem se mostrado adequado para estimar a disponibilidade deste
nutriente para as plantas (Grimme & Nemeth, 1979; Ritchey, 1982). É o que confirmam
as pesquisas de Silva & Meurer (1988) e de Meurer & Anghinoni (1993) em solos com
somente em 59% e 52% dos casos se relacionou com o potássio absorvido por plantas de
trigo e de sorgo, respectivamente (Figura 9.1). Silva & Meurer (1988) e Meurer &
as plantas pôde ser significativamente melhorada pela discriminação dos solos segundo sua
capacidade de troca de cátions (CTC). Este procedimento já foi adotado nas recomendações
de adubação potássica para solos do Cerrado brasileiro (Sousa & Lobato, 2002 e para solos
as plantas tem sido feita com a utilização do HNO3 1mol L-1 fervente (Pratt, 1973), H2SO4
concentrado (Hunter & Pratt, 1957) e pelo tetrafenilborato de sódio (Shulte & Corey, 1965)
ou por cultivos sucessivos (Oliveira et al., 1971; Crisostomo e Castro, 1970; Mielnizcuk &
Selbach, 1978). Nachtigal & Vahl (1991a), em pesquisa com 44 amostras de solos da
região sul do Estado do Rio Grande do Sul, encontraram que a capacidade de suprimento de
significativamente com o K extraível pelo do HNO3 1mol L-1 fervente e com o K-trocável.
9
POTÁSSIO ABSORVIDO, mmol vaso-1
5
Y = 0,27 + 0,58 Ktroc
4 R2 = 0,518
0
0 1 2 3 4 5
-1
POTÁSSIO TROCÁVEL, mmol L
Figura 9.1 Relação entre o potássio extraído por acetato de amônio 1 mol L-1 e o potássio
absorvido por plantas de sorgo aos 18 dias de idade em onze amostras de solos do
Estado do Rio Grande do Sul, derivados de argilito, siltito, arenito, basalto e granito,
fertilizados com oito níveis de potássio (Meurer & Anghinoni, 1993).
efetivamente ocorra é necessário que o nutriente entre em íntimo contato com a superfície
suprimento por fluxo de massa depende da quantidade de água transpirada pela planta e do
10
Vargas et al. (1983) verificaram, em amostras de 12 unidades de solos com
supriu, na média, cerca de 90% da quantidade do potássio que foi absorvido por plantas de
milho. Ruiz et al., (1999) e Rosolem et al. (2003) também constataram que a difusão foi o
respectivamente.
superfície radicular (Corey & Schulte, 1993; Anghinoni & Meurer, 2004):
dq / dt = D 2 A f [(C1 –C2) / L]
onde:
dq / dt a quantidade do nutriente que chega à superfície radicular na unidade
de tempo (segundo),
D coeficiente de difusão do nutriente na água; para o íon K o valor de D
é de aproximadamente 1,98 x 10-5 cm2 s-1,
2 teor de água volumétrica do solo
f fator tortuosidade; é o caminho efetivo que o íon deve percorrer no
solo até alcançar a superfície da raiz. Está relacionado à textura: em
solos muito argilosos, por exemplo, o caminho do íon até a superfície
da raiz é mais tortuoso. Afeta o fator L descrito abaixo.
A área superficial das raízes
C1 concentração do nutriente na solução do solo a uma distância L da
raiz,
C2 concentração do nutriente na superfície da raíz,
L distância entre C1 e C2 que pode variar de 0,4 a 4,0 mm,
11
Esta equação mostra que a quantidade do íon que chega à superfície da raiz depende
O fator A, área superficial das raízes, além de depender das características físicas e
sistema radicular extenso, com muitas raízes finas, possuem uma grande área radicular (A)
para a absorção dos nutrientes. Qualquer fator que impeça o desenvolvimento das raízes,
Solos que mantêm um gradiente de concentração (C2 – C1) alto podem suprir maior
atributos e propriedades dos solos que podem afetar a absorção dos nutrientes. Por
exemplo, solos argilosos possuem maior capacidade de reter a água (fator 2) do que solos
arenosos, o que favorece a difusão dos nutrientes. Solos que apresentam propriedades
radicular, aumentam o termo A, o que favorece a absorção dos elementos nutrientes das
plantas.
12
1.5.2 O influxo do potássio
1,8
INFLUXO DE K, umol cm raiz s x 10E-05
I max
1,6
1,4
-1
1,2
-2
1,0
0,8
Imax = 1,59E-05 umol L-1
0,6
Km = 12,07 umol L-1
0,4
Cmin = 1,02 umol L-1
Km
0,2
0,0
0 50 100 150 200
-1
K SOLUÇÃO, mmoles L
Figura 9.2. Influxo de potássio por plantas de sorgo aos 18 dias de idade em função da
concentração de potássio na solução, descrita pela cinética de Michaelis-Menten
(Meurer &Anghinoni, 1999)
Barber (1995) prefere usar o índice Imax, ao invés de Vmax (parâmetro original da
cinética enzimática), para descrever o influxo de nutrientes nas raízes das plantas, onde foi
13
concentração do nutriente na solução externa onde o influxo liquido torna-se zero (In = 0).
In Imax ( C1 Cmin )
Km ( C1 Cmin )
Onde:
absorção, o carregador de íons consiste de várias subunidades e existe uma interação entre
estas sub-unidades que é responsável pelo decréscimo da afinidade pelos íons quando a
campo elétrico dos sítios de ligação dos carregadores é a responsável pela seletividade da
absorção de íons pela raíz. A respiração aeróbica fornece a energia necessária para a
absorção dos íons pela raiz e a ATP parece ser a fonte primária de energia para a absorção.
14
(Schauf, 1987). Nissen (1991) sugere que o transporte dos íons seria feito por
transportador e, por conseguinte, em contato com a solução externa. Esse sensor seria o
entre espécies, e mesmo, entre genótipos da mesma espécie, e estão associados à eficiência
Fatores inerentes à própria planta, como idade da raíz, idade da planta, fatores de
natureza química e física, como interações ou antagonismo entre íons, teor de oxigênio na
pelas raízes das plantas. As plantas mais jovens são mais eficientes do que as mais velhas
para absorver os nutrientes (Becker & Meurer, 1986). As taxas de absorção para todos os
nutrientes decrescem rapidamente com a idade da planta. Assim, raízes jovens numa planta
mais velha não absorvem os nutrientes na mesma taxa que raízes jovens numa planta
jovem. A idade da raiz, ou o período que permanecem ativas também afeta o influxo dos
íons. A idade da raiz aumenta com o seu crescimento, assim, é nas extremidades das raízes
15
que se localizam as células mais jovens. Diversos autores tentaram estimar a idade efetiva
da raiz, isto é o tempo que permanecem ativas para a absorção. Em geral os estudos
realizados indicam que possivelmente a raíz permanece ativa por 5 a 8 dias (Barber, 1995).
Nos Quadros 9.3 e 9.4 pode ser observado como a presença de outros nutrientes na
Quadro 9.3 Pârametros cinéticos de absorção de potássio por dois genótipos de arroz
submetidos a três tratamentos: A) solução nutritiva normal; B) solução normal +
100 mg L-1 de Fe2+ e C) solução com 100 mg L-1 de Fe2+ e baixas concentrações de
Ca e Mg (Vahl et al., 1993)
16
Quadro 9.4 Parâmetros cinéticos de absorção de K+, de quatro cultivares de soja
submetidos a dois níveis do nutriente na solução de crescimento, aos 20, 40 e 60
dias após a transferência para a solução de crescimento (Sacramento e Rosolem,
1998)
17
simular a interação dinâmica entre estes dois processos e são baseados essencialmente nos
solo por difusão e fluxo de massa com o tamanho, morfologia e taxa de crescimento do
sistema radicular e com a cinética de absorção do nutriente pela raiz. Quando o modelo
descreve adequadamente a absorção ele pode ser utilizado para determinar o importância
afetam (Barber, 1995). Meurer & Anghinoni (1994) utilizaram o modelo mecanístico
desenvolvido por Barber & Cushman (1981) para avaliar a disponibilidade de potássio em
nesses solos para plantas de sorgo (Figura 9.3). O modelo subestimou a absorção em
situações em que ocorreu liberação de potássio de formas não trocáveis. Mas foi muito
plantas foi realizada utilizando-se somente o índice K-trocável como apresentado na Figura
9.1.
O modelo foi útil para efetivação de testes de sensibilidade como parâmetros de solo
solo), morfológicos de raiz da planta (raio médio das raízes, meia-distância entre elas,
Km, Cmin) podem afetar a absorção do potássio. Os resultados mostraram que entre os
parâmetros de solo testados os que mais afetaram a absorção do K foram o teor de água
18
planta o que mais afetou a absorção foi a taxa de crescimento das raízes, que afeta
-1
ABSORÇÃO PREDITA, mmoles vaso
4
Y = 0,083 + 0,874 X
2
R = 0,800
0
0 1 2 3 4
POTÁSSIO ABSORVIDO, mmol vaso-1
Figura 9.3 Relação entre o potássio absorvido por plantas de sorgo aos 18 dias de idade e a
absorção predita pelo modelo de Barber-Cushman, em oito amostras de solos do
Estado do Rio Grande do Sul com diferentes características mineralógicas e
difusivas (Meurer & Anghinoni, 1994).
nos tecidos, translocando-se dos mais velhos para os mais novos, e no transporte à longa
19
para muitas reações enzimáticas. Em outros compartimentos as concentrações do K+ são
variáveis, como nos vacúolos e células guardas dos estomatos. A concentração do potássio
no floema também é alta; como os solutos no floema podem ser transportados para as
ocorre com facilidade. Os órgãos das plantas preferencialmente supridos pelo floema são
as folhas novas, os tecidos meristemáticos e os frutos frescos, e, que apresentam, assim, alta
concentração em potássio (Mengel & Kirkby, 1987; Marschner, 1995). Nos estágios
iniciais de crescimento das plantas os teores de potássio nas plantas são mais elevados
(Quadro 9.5), decrescendo nos estádios mais avançados devido a menor atividade da raiz e
Quadro 9.5 Teores de potássio na planta de arroz durante vários estágios de crescimento
(Fageria, 1982)
de 2-5% da massa seca das partes vegetativas da planta, frutas frescas e tubérculos.
20
Entretanto, as plantas têm a capacidade de absorver quantidades de potássio superiores às
manchas ou marginal, que, então evolui para necrose, principalmente nos ápices foliares,
nas margens e entre nervuras. Em muitas monocotildôneas, essas lesões necróticas podem
base.
Como o potássio pode ser remobilizado para as folhas mais jovens, os sintomas de
deficiência aparecem inicialmente nas folhas mais maduras da base da planta. As folhas
podem também, curvar-se e secar. Os caules de plantas deficientes em potássio podem ser
delgados e fracos, com regiões internodais anormalmente curtas (Taiz & Zeiger, 2004).
dos grãos e frutos dos vegetais. Quando os solos apresentam baixos teores do nutriente as
plantas respondem à adubação potássica. Pesquisas realizadas em solos brasileiros não têm
formas não trocáveis do elemento, entre outros. No Quadro 9.6 apresenta-se a resposta de
plantas de soja à doses crescentes de potássio em solos do Estado de São Paulo, onde pode-
se observar que embora tenha havido resposta da cultura ao potássio, os incrementos não
21
são notáveis. Resultados semelhantes são relatados em diversos trabalhos conduzidos em
Em solos cultivados com arroz irrigado por alagamento no Estado do Rio Grande do
Sul esta cultura apresenta alta produtividade. Entretanto, na maior parte dos experimentos
realizados não se obteve resposta à adubação potássica, mesmo quando as análises dos
solos indicavam baixos teores de potássio prontamente disponíveis nesses solos. Pesquisas
conduzidas por Castilhos &¨Meurer (2001), Castilhos &¨Meurer (2002), e por Castilhos et
al., (2002), mostraram que a principal razão da ausência de reposta à adubação potássica foi
22
1.8 Toxidez
absorção de outros cátions pelos vegetais, considerando que a taxa de absorção de um íon
pode ser afetada por outro íon, desde que estejam competindo diretamente pelo mesmo sítio
inibir as de cálcio e magnésio (Marschner, 1995). Duarte & Anderson (1983) relatam que o
depressivo na absorção do magnésio, enquanto o inverso não ocorre (Fonseca & Meurer,
1997). Na figura 9.3 observa-se que a absorção do magnésio da solução por plantas de
milho aos 18 dias de idade, foi muito baixa, mesmo quando a concentração de potássio na
concentração do potássio na solução foi igual ao Cmin para este nutriente. Observa-se,
também na Figura 9.3, que concentrações maiores do que 30 µmoles L-1 de magnésio na
23
200 40
120 24
80 16
K
40 8
0 0
0 50 100 150 200 250 300
TEMPO, minutos
Figura 9.4. Exaustão de potásssio e de magnésio da solução por plantas de milho aos 18
dias de idade (Fonseca & Meurer, 1997).
Indiretamente o potássio pode ter um efeito prejudicial sobre as plantas. Silva et al.,
annuum, devido ao efeito salino do KCl sobre as raízes. O fertilizante comercial mais
utilizado para suprir as plantas é o KCl que além do elevado teor de K (50-52% de K),
contém também cloro (47%), que também é nutriente das plantas (Tisdale et al., 1993).
Porém, a aplicação de altas doses de KCl podem afetar o crescimento das plantas por
toxicidade do cloro. O fertilizante KCl não é recomendado para a cultura do tabaco, que
culturas como a da batatinha, batata-doce e citrus que também são suscetíveis ao cloro.
24
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35
CAPÍTULO 11
FÓSFORO
(1) Professor do Departamento de Solos, UFRRJ, CEP 23890-000, Seropédica, RJ. (2)
Pesquisadora da Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970, Planaltina, DF.
SUMÁRIO
1 Introdução................................................................................................................................ 448
constituintes do solo como Al, Fe e Ca, sua ocorrência em formas orgânicas, e suas lentas taxas de
Mesmo quando são aplicados fertilizantes, a maior parte do P adicionado é adsorvido em colóides
do solo e torna-se não disponível em compostos de baixa solubilidade, sem propiciar uma
contribuição imediata para a produção vegetal. Além disto, o suprimento mundial de P para
crosta estão em sedimentos marinhos, solos terrestres, fosfato inorgânico dissolvido no oceano e
rochas com minerais como apatita (Stevenson & Cole, 1999). Apesar de existirem na natureza mais
de 200 minerais de P, apenas o grupo das apatitas tem significação quantitativa. Em escala
geológica, o intemperismo liberou P das apatitas, que foi absorvido pelas plantas e reciclado,
incorporado na matéria orgânica dos solos e sedimentos, ou precipitado como minerais pouco
O conteúdo total de P nos solos está entre 0,02 e 0,5 %, mas apenas uma pequena fração está
em formas disponíveis para os vegetais. O P no solo pode ser dividido em quatro amplas categorias:
1984). As concentrações de fosfato na solução do solo são usualmente muito baixas, variando entre
2
0,1 e 10 µM. Os valores de pK para dissociação do H3PO4 em H2PO4- e HPO4-2 são de,
respectivamente, 2,1 e 7,2, ou seja, abaixo de pH 6 a maior parte do P da solução do solo está na
forma de H2PO4-, usualmente denominada de Pi. Os teores de P orgânico nos solos podem variar
desde quase zero até mais de 0,2 %, e dependendo da classe de solo o P orgânico pode representar
de 20 a 80 % do P total do solo (Stevenson & Cole, 1999). A liberação de P orgânico para a solução
Como a taxa de difusão de fosfato no solo é muito baixa (10-12 a 10-15 m2 s-1), a rápida
absorção vegetal cria uma zona de depleção de P em volta da raiz, e os íons se difundem por
gradiente de potencial químico até a superfície radicular (Rausch & Bucher, 2002). Após poucos
difusão do fosfato é função da umidade do solo, tornando seu movimento mais difícil em solos com
Com base nos teores de nutrientes usuais em plantas jovens adequadamente nutridas, a razão
entre o influxo ótimo de N, P e K em raízes seria de 1:0,1:1; entretanto, na maior parte dos solos
(Gahoonia & Nielsen, 2004). Portanto, a baixa concentração de P disponível nos solos exige um
geralmente mais de 100 vezes superiores (da ordem de mM) às concentrações na solução do solo
(da ordem de µM) (Raghothama, 2000). Isto, em conjunto com a carga negativa dentro da célula,
3
exige que seja gerado um forte gradiente eletroquímico para que o transporte do fosfato para dentro
da célula seja possível (Smith, 2002). A fonte de energia livre para este transporte provém da bomba
fora da célula, gerando tanto diferença de potencial elétrico (interior negativo), quanto diferença de
pH (exterior ácido) (Glass, 1990; Figura 1). As taxas de absorção de P são maiores entre pH 4,5 e
absorvido como H2PO4- (Sentenac & Grignon, 1985). A despolarização da plasmalema após a
absorção de P indica que o H2PO4- deve ser absorvido através de um simporte com cátions,
4
EFLUXO Pi
A Pi
EM
Pi
AL
M
AS
PL
ATP VACÚOLO
H+
O
ADP
AST
PL
NO
TO
+
H
Pi
CITOPLASMA
+
H BAIXA
Pi PPi Pi
+ AFINIDADE
H
ALTA
AFINIDADE
quanto de alta afinidade pelo fosfato: os sistemas de baixa afinidade têm Km variando entre 50 e
300 µM, enquanto os sistemas de alta afinidade apresentam Km entre 2 e 10 µM, mas diante das
concentrações usuais de fosfato nos solos cultivados (1-10 µM), os transportadores de alta afinidade
é que mediam a absorção de P (Vance at al., 2003). Os transportadores de fosfato de alta afinidade,
cujos genes codificadores já foram identificados em plantas, são proteínas com cerca de 58 kDa e
constituídas de 12 domínios separados em dois grupos de 6 domínios por uma região de alta carga
hidrofílica (Smith, 2002; Vance et al., 2003; Figura 2). Os genes codificadores dos transportadores
de fosfato de alta afinidade são expressos preferencialmente em raízes de plantas sob deficiência de
5
H
NH2
DENTRO
FORA
O Pi move-se do córtex ao cilindro central das raízes principalmente pelo simplasto, a uma
taxa aparente de 2 mm h-1, taxa que pode ser atingida apenas pela difusão, mas é provável que o
fluxo transpiratório também contribua com este movimento (Bieleski, 1973). Após sua absorção no
orgânicos ocorre via formação de uma ligação anidrida no ATP; (ii) uma pequena fração de Pi
ingressa nas vias biossintéticas de P-lipídio, DNA e RNA, tornando-se um componente estrutural da
célula; (iii) uma quantidade variável de Pi é perdida pela célula via efluxo, particularmente em
transporte a longa distância para os tecidos da parte aérea (Rausch & Bucher, 2002).
6
2 CARACTERES RADICULARES ASSOCIADOS À ABSORÇÃO DE FÓSFORO
Sistemas radiculares mais extensos aumentam a área de contato entre as raízes e o solo, e
para íons pouco móveis como o fosfato, a absorção é freqüentemente relacionada com o
crescimento, requerem a contínua exploração de novos volumes de solo ainda não exauridos pela
absorção radicular. A morfologia radicular apresenta grandes variações entre espécies, e ao menos
parte desta variação está sob controle genético, apesar de existir considerável plasticidade fenotípica
em muitas espécies, pois a morfologia radicular é muito sensível às propriedades químicas e físicas
parte aérea do que da raiz, o que aumenta a razão entre a massa de raiz e de parte aérea. Raízes de
concentrações de açúcares muito superiores a raízes de plantas em meio com adequado suprimento
redução da taxa de crescimento da parte aérea ocorre logo após o início da deficiência de P,
enquanto o crescimento da raiz só é limitado após um maior intervalo de tempo, e com menos
intensidade (Fredeen et al., 1989). Todavia, a maior destinação de C às raízes sob baixo P, tanto
para produção de biomassa quanto para respiração de manutenção, pode constituir fator limitante ao
crescimento vegetal como um todo (Nielsen et al., 1998). Além disto, os custos em termos de P
podem ser relativamente maiores para a produção de raízes do que de folhas, pois as raízes
7
camadas do solo. Plantas de soja (Glycine max (L.) Merr.) apresentam baixa densidade radicular,
monocotiledôneas anuais valores médios, e pastagens perenes grande densidade de raízes (Barber,
emergência, 2/3 da área radicular de genótipos de milho (Zea mays L.) estava concentrada na
camada superficial do solo, e 3 semanas após este valor era inferior a 50 % (Schenk & Barber,
1980), enquanto mais de 80 % da biomassa radicular de cultivares de soja estava concentrada nos
(Mitchell & Russell, 1971). Observa-se maior crescimento de raízes nas profundidades do solo que
indicaram que a maior eficiência de exploração do solo está associada com uma arquitetura
principal; entretanto, esta hipótese foi confirmada em eudicotiledôneas, mas não em gramíneas
(Fitter & Stickland, 1991). Uma estratégia adaptativa também observada em plantas crescidas em
solos com baixo P consiste na redução do ângulo de crescimento de raízes basais, em relação ao
plano horizontal, o que aumentaria a exploração de camadas superficiais do solo (Bonser et al.,
8
+P -P
MAIS RAÍZES
LATERAIS
NA PIVOTANTE
propriedades da epiderme e pêlos radiculares (Lynch, 1995). O diâmetro radicular está associado ao
volume de solo que pode ser explorado pelas raízes através do investimento de uma determinada
quantidade de fotoassimilados, pois raízes mais finas podem explorar um maior volume de solo por
unidade de massa radicular. Sob condições de baixo suprimento de P, é comum observar-se uma
diminuição do raio radicular, e um sistema radicular com raízes finas poderia ser considerado mais
eficiente para absorção de P, mas não devem ser ignorados outros atributos funcionais de raízes
mais grossas em determinadas condições ambientais (Eissenstat, 1992). Além disto, o custo de
manutenção de raízes finas pode ser maior, pois estas raízes são repostas mais freqüentemente
9
(Gahoonia & Nielsen, 2004). Em conseqüência da aplicação de fertilizantes e da presença de P
modificações na morfologia radicular. Nas partes de raízes de cevada (Hordeum vulgare L.) que
(Drew & Saker, 1978), e raízes de feijoeiro crescidas sob baixo teor de P alocaram mais biomassa e
produziram raízes laterais mais finas em um determinado volume do solo enriquecido com P,
quando comparadas a plantas originalmente crescidas sob alto teor de P (Snapp et al., 1995).
Os pêlos radiculares aumentam a eficiência com que as raízes exploram a rizosfera para
influxo de P mantém-se mais elevado (Barber, 1984). Sob baixo suprimento de P, ocorre um
aumento no comprimento e na densidade de pêlos radiculares (Figura 3), que por sua vez está
radicular, as mudanças na morfologia de pêlos radiculares são consideradas aquelas com menor
custo metabólico (Gahoonia & Nielsen, 2004). O número, comprimento e raio dos pêlos radiculares
podem apresentar considerável variação entre espécies e dentro de uma mesma espécie (López-
desenvolver estruturas especializadas, as raízes proteóides (ou cluster roots), que são agrupamentos
al., 2003). As raízes proteóides apresentam várias características distintivas das raízes laterais
emergência (Vance et al., 2003). O elevado sincronismo do desenvolvimento das raízes proteóides
10
indica que sua formação é um processo sob estreito controle da planta, sendo inibido sob alto
Vários mecanismos foram desenvolvidos pelas plantas para permitir a aquisição e utilização
de P em ambientes onde o suprimento deste nutriente é limitante, mecanismos estes que podem ser
agrupados em duas amplas categorias: aqueles que aumentam o conteúdo de nutriente absorvido do
solo, e aqueles que afetam a eficiência vegetal em utilizar o nutriente absorvido para a produção de
biomassa (Elliott & Läuchli, 1985). Os processos que propiciam o aumento da absorção de P
estímulo à expressão dos transportadores de P (Vance et al., 2003). Já os processos que conservam o
P absorvido envolvem a redução na taxa de crescimento, a maior produção de biomassa por unidade
etapas que requerem P, e a utilização de vias respiratórias alternativas (Vance et al., 2003).
provavelmente oriundo da parte aérea (Raghothama, 2000). A nível celular, o movimento de Pi para
para manter a homeostase (Figura 1). Já a resposta ao nível da planta inteira é muito mais complexa,
envolvendo o transporte de P dos tecidos velhos para os jovens, ou das raízes para a parte aérea e
retornando às raízes (Raghothama, 2000). Estudos em raízes subdivididas indicam que as taxas de
absorção de P por raízes crescidas em meio sem P respondem ao estado geral de P da planta, mais
do que à concentração externa localizada de P adjacente a esta seção das raízes (Smith, 2002). Isto
11
tem sido confirmado por estudos moleculares, que indicam que a regulação transcricional dos genes
Desta forma, a regulação da absorção de P em raízes é uma resposta sistêmica mais do que uma
(Rausch & Bucher, 2002). O vacúolo age como um reservatório não metabólico de P: em folhas de
enquanto em condições de deficiência, muito pouco Pi está presente no vacúolo (Foyer & Spencer,
enzimas envolvidas na síntese de ácidos orgânicos, e os canais iônicos que facilitam a liberação de
ácidos orgânicos, são exemplos de proteínas codificadas por genes cuja expressão é induzida pela
condições de deficiência de P (Vance et al., 2003). Já quando as plantas absorvem P em taxas que
excedem a demanda de crescimento, alguns processos atuam para prevenir a acumulação de níveis
12
tóxicos de P, como a conversão de Pi em compostos de reserva (como o ácido fítico), a redução da
taxa de absorção de Pi da solução do solo, ou a perda de Pi por efluxo (Schachtman et al., 1998).
Apesar das recentes evidências sobre a expressão gênica durante a deficiência de P, pouco
ainda se sabe sobre os componentes do processo de sinalização que ativaria a resposta das plantas à
limitação de P. Porém, em um mutante de Arabidopsis foi identificado um gene que codifica uma
al., 2003).
de P por unidade de raiz, na partição de biomassa entre raiz e parte aérea e na taxa de crescimento
relativo da planta (Drew & Saker, 1978). Plantas crescidas sob fornecimento limitado de P, e
originalmente crescidas sob alto fornecimento de P (Jungk et al., 1990). As plantas adaptam sua
cinética de absorção de P de acordo com seu estado nutricional, por meio de um aumento de Imax
com a redução do teor de P na parte aérea, enquanto as mudanças no Km e Cmin seriam de menor
Em geral, a taxa de absorção de nutrientes pelas raízes diminui com a ontogenia vegetal
(Gao et al., 1998). Em sistemas radiculares jovens, a taxa de absorção de nutrientes diminuiu
acentuadamente com o envelhecimento das raízes, mas sistemas radiculares mais velhos tiveram
pequena taxa de absorção, mas com menor declínio com o tempo (Gao et al., 1998). Partes
suberizadas do sistema radicular podem assumir importante papel na absorção de P, pois como a
absorção de P segue a via simplástica, seria pouco afetada pela suberização da endoderme (Barber,
1984). Os genes codificadores dos transportadores de Pi de alta afinidade estão distribuídos por todo
o comprimento radicular de plantas sob deficiência de P, indicando que todo o sistema radicular
13
Quando o Pi está presente em concentrações adequadas, altas taxas de efluxo de P podem
pelo antiporte e troca iônica nos sítios de absorção, e pelo efluxo passivo por um gradiente de
Dentre essas ações dos organismos, destacam-se a extensão dos sistemas radiculares pelas
As micorrizas são associações ou simbioses mutualistas entre fungos e raízes das plantas
hospedeiras, em que os compostos de carbono produzidos pela fotossíntese são utilizados pelo
hospedeiro e pelo fungo, e este último fornece às plantas parte dos nutrientes absorvidos do solo.
ectomicorrizas são as mais freqüentes e as mais importantes (Moreira & Siqueira, 2002). As
temperado, sendo bastante comuns em coníferas. Os fungos formadores desse tipo de micorriza são
colonização das células corticais acontece de forma intercelular apenas, com a formação da rede de
Hartig, que substitui a lamela média, e com a formação de um manto fúngico ao redor das raízes
14
A micorriza arbuscular é, provavelmente, a simbiose mais comum entre plantas e
microrganismos. A grande maioria das plantas terrestres são hospedeiras potenciais de fungos
colonizam as células das raízes, muitas das espécies destes fungos formam vesículas, órgãos de
armazenamento que contém grande quantidade de lipídeos, e todas as espécies formam arbúsculos,
estruturas constituídas por formações de hifas altamente ramificadas que promovem as trocas
A simbiose micorrízica é considerada não específica, uma vez que os fungos colonizam as
raízes de plantas de quase todos os gêneros das gimnospermas e angiospermas, além de algumas
briófitas e pteridófitas (Harley, 1994). Todavia, tanto o desenvolvimento da associação como sua
fisiologia estão sobre controle genético do hospedeiro (Smith et al., 1993), verificando-se uma certa
habilidade discriminatória entre os fungos e as plantas (Paula et al., 1988). Alguns atributos das
plantas, como o comprimento e massa de raízes e a relação entre a massa de raiz e de parte aérea,
também afetam a simbiose micorrízica (Koide et al., 1988). Fatores ambientais também podem
fornecem carboidratos aos fungos, estes colonizam inter e intracelularmente as células corticais, de
onde estendem uma rede de hifas vários centímetros para fora da rizosfera, desta forma expandindo
o volume de solo efetivamente explorado pela planta (Smith, 2002). Daí os efeitos mais expressivos
transporte do fosfato da solução do solo através das membranas das hifas fúngicas, o movimento do
15
fosfato das hifas para os arbúsculos, a liberação de fosfato dos fungos na interface entre os
arbúsculos e as células corticais, e a absorção do fosfato pelas células corticais (Smith, 2002). Os
vários mecanismos propostos para explicar o aumento da absorção de P das plantas micorrizadas
As hifas dos fungos micorrízicos são capazes de absorver o P da solução do solo e translocá-
lo para as raízes em um processo muito mais rápido que o processo de difusão deste elemento no
solo, sendo capazes de transpor as zonas de depleção de P que se formam em volta das raízes;
(a) a produção de hifas envolve um menor consumo de carbono por unidade de comprimento ou
área de absorção, e seu menor diâmetro permite que elas penetrem em poros do solo de diâmetro
(b) as hifas são mais efetivas, em conseqüência de seu tamanho e distribuição espacial, em
solubilizado;
(c) a cinética de absorção de P nas hifas difere da apresentada pelas raízes, com valores mais
baixos de Km, possibilitando uma absorção mais efetiva de P em concentrações nas quais a
(d) raízes micorrizadas podem usar fontes de P que não estejam disponíveis para as demais
raízes.
a aquisição de P com um consumo de energia menor que a própria produção de raízes, o custo de
total em endomicorrizas (Clarkson, 1985). O benefício obtido com a colonização micorrízica varia
16
al., 1982b). Em geral observa-se aumento na colonização das raízes quando as concentrações de P
no solo e nas raízes são baixas, e um efeito adverso da fertilização fosfatada no desenvolvimento de
arbúsculos, vesículas, hifas externas e esporos (Sylvia & Neal, 1990). A simbiose micorrízica
fonte-dreno (Bethlenfalvay et al., 1982a; Araújo et al., 1996). Pela sua importância no processo de
absorção do P do solo, é de se esperar que o efeito da colonização pelos fungos micorrízicos seja
mais expressivo nos estádios iniciais do crescimento das plantas, quando a demanda por P é intensa.
Entretanto, a infecção micorrízica também pode afetar a reprodução das plantas, influenciando a
produção de flores, maturação de frutos e aborto de sementes (Lu & Koide, 1994). Parece haver
uma relação entre o início da fase reprodutiva de leguminosas de grão e a redução do crescimento
de soja de 6 semanas, valor que decaiu para 8 % após 9 semanas (Harris et al., 1985), (capítulo 3
neste volume).
cátions e ânions, que é particularmente afetado pelas fontes de N: como as plantas necessitam
manter o equilíbrio de cargas e o pH no interior das células próximo da neutralidade, quando mais
cátions são absorvidos, mais H+ são liberados pelas raízes e o pH decresce; similarmente, quando
mais ânions são absorvidos, há um aumento de OH- e o pH aumenta (Hinsinger et al., 2003). Plantas
que absorvem N como NO3- tendem a aumentar o pH da rizosfera, enquanto plantas que absorvem
NH4+ ou utilizam N2 simbiótico reduzem este pH, acarretando diferenças de 1-2 unidades de pH
17
entre a rizosfera e o solo, que podem se estender a uma distância entre 1 e 4 mm da superfície
disponibilidade de fontes pouco solúveis de P do solo e a absorção de P pelas raízes, mas este
fenômeno pode depender do tipo de solo: em um Luvisol, onde o fosfato estava ligado
Oxisol, onde o P estava ligado principalmente a Al e Fe, a absorção de P foi maior nos tratamentos
A exsudação de ácidos orgânicos por raízes, como os ácidos cítrico, oxálico e málico, tem
al., 2003). Algumas raízes de plantas eudicotiledôneas, e especialmente plantas não micorrizadas,
foi proposta como uma estratégia para aumentar a absorção de P, através da solubilização de
Os tecidos vegetais contêm uma alta atividade de fosfatases, uma classe de enzimas com
considerável heterogeneidade quanto à sua função e cinética, e que quando liberadas no meio
externo podem hidrolisar P-éster para Pi, aumentando a absorção de P de formas orgânicas (Yan et
várias espécies vegetais, indicando ser a secreção de fosfatases determinada pelo requerimento de P
De forma diferente do nitrato e do sulfato, o fosfato não é reduzido nas plantas, sendo
utilizado apenas na sua forma completamente oxidada de ortofosfato. Após sua absorção, o fosfato
permanece como Pi, ou é esterificado por meio de um grupo hidroxil em uma cadeia de C como um
18
éster simples de fosfato (como em um açúcar fosfato) ou preso a outro fosfato por ligações
pirofosfato de alta energia (como no ATP) (Marschner, 1995). Em pH neutro, o fosfato ocorre tanto
como um ânion mono quanto divalente, contribuindo com a capacidade tampão da célula (Clarkson
& Hanson, 1980). Nas células vegetais, o P pode estar presente nos nucleotídeos constituintes do
material genético, nos fosfolipídeos presentes nas membranas celulares, nos fosfatos de adenosina
como o ATP e o ADP, e em ésteres de carboidratos, produtos metabólicos intermediários (Figura 4).
Uma razão típica de 0,2:2:1,5:1 entre as formas orgânicas de P DNA, RNA, P-lipídio e P-éster,
preferencialmente como fosfatos de inositol, na forma de sais de ácido fítico (ou fitina) (Figura 4).
19
(a) R O
C CH2
O
R O C H
O CH3
C
H2 CH3
O H2 C P- C N+
O O C
O H2 CH3
(b) Purinas
NH2 O
-O H
O O N N
1N 1N
6 6
P- O 5’ Base 7 5 7 5
8 8
O P P O 9 4
3
2 9 4
3
2
O N N N N
-O NH2
O -O O 3’ 2’ ligação glicosídica
R R
HO (OH - Ribose) Adenina Guanina
(H - desoxiribose) Pirimidinas
Pentose NH2 O O
Nucleosídeo H H3C H
3N 3N 3N
4 4 4
Nucleotídeo monofosfato 5 5 5
6 2 6 2 6 2
1 1 1
Nucleotídeo difosfato N O N O N O
Nucleotídeo trifosfato R R dR
Citosina Uracil Timina
(c) NH2
(d) OH
HO
C N P OH
N C
CH O
HC C O O O P OH
O O O N N OH
P O
O P O P O P OCH2 O
HO
O O O O O
OH
H H
P
OH OH O OH
O OH
OH O P OH
P
O O
OH
Figura 4: Exemplos de compostos orgânicos com P em plantas: (a) lecitina (fosfatidil colina, um
fosfolipídeo); (b) nucleotídeos; (c) trifosfato de adenosina (ATP); (d) ácido fítico (hexafosfato de
inositol).
20
O P no DNA é fortemente segregado, e de um outro lado da escala estão os grupos do ATP,
com alto turn over na célula (Bieleski, 1973). Em cevada, todas as frações de P aumentaram com o
maior suprimento de P, mas em diferentes extensões (Pi > P-nucléico > P-lipídio > P-éster),
revelando que todas as frações, mas principalmente o Pi, podem ter função de armazenamento
(Chapin & Bieleski, 1982). Altos teores de P-RNA são encontrados em tecidos meristemáticos,
envolvidos na síntese protéica, e diferenças no tamanho desta fração podem refletir a atividade
lipídio pode ocorrer quando as reservas de P em outras frações reduzem-se suficientemente, mas a
nas demais frações orgânicas (Chisholm & Blair, 1988). A utilização de P foi negativamente
correlacionada com a razão entre as taxas de acumulação de Pi e de P total em milho, indicando que
a utilização de P seria limitada pela partição de P entre formas inorgânicas e orgânicas (Elliott &
Läuchli, 1985). A elevada correlação entre a biomassa e os conteúdos de P nas frações lipídica e
residual em estilosantes e trevo branco indica que o crescimento está relacionado com a
xilema (Loughman, 1981). A exportação de P para a parte aérea foi mais sensível à inibição da
síntese protéica do que o influxo de P nas raízes, indicando que as unidades reguladoras da
transferência de P para o xilema devem diferir daquelas envolvidas no transporte de fosfato através
da plasmalema das células corticais (Schjorring & Jensén, 1987). Admite-se que o Pi seja a
21
principal forma de transporte de P no floema, registrando-se velocidades de transporte de 80 cm h-1
entre as lâminas foliares e o floema dos pecíolos (Bieleski, 1973). Entretanto, compostos orgânicos
como nucleotídeos (inclusive ATP) e hexoses-fosfatos também são detectados no suco floemático
(Bieleski, 1973). Em um nutriente tão móvel quanto o P, o padrão de redistribuição parece ser
determinado pelas propriedades da fonte e do dreno mais do que pelo sistema de transporte
(Bieleski, 1973), e estudos com radioisótopos revelam que o movimento de P é determinado pelo
aestivum L.) havia sido translocado, assim como mais de 80 % do P das porções média e de
formação de raízes laterais (Rovira & Bowen, 1970). Plântulas de nabo (Brassica napus L.)
32
mostraram acumulação de P perto do ápice das raízes primárias e laterais, sem correspondente
depleção do solo adjacente, indicando forte translocação de P para os meristemas radiculares (Bhat
& Nye, 1974). Sob deficiência de P, ocorre uma maior proporção de P em formas orgânicas nas
raízes, e uma menor concentração de P no exsudado do xilema, o que indica que o aumento da razão
entre a massa de raiz e de parte aérea seria conseqüência de menos Pi disponível para o transporte
para a parte aérea (Chapin & Bieleski, 1982; Alves et al., 1998).
O P aplicado por via foliar pode ser rapidamente transportado para outros tecidos vegetais de
32
crescimento ativo: o P aplicado em folhas foi detectado nas raízes após 3 horas, e continuou a
mover-se para fora da folha tratada ao menos por 6 dias após a aplicação (Thorne, 1958). A
absorção de nutrientes aplicados por via foliar varia com a idade da folha e com o genótipo vegetal,
mas admite-se que 50 % do P aplicado em folhas seja absorvido em torno de 5 dias após a
pulverização (Kannan, 1990). Entretanto, o P não tem sido utilizado comumente como adubo foliar,
pois nenhum composto de P pode ser aplicado foliarmente em quantidades que contribuam
22
A senescência foliar, e a concomitante degradação de macromoléculas, permite o
mobilização de P de folhas velhas para as folhas jovens e as raízes, processo que envolve a depleção
das reservas de Pi e a quebra de P orgânico de folhas velhas (Schachtman et al., 1998). A hidrólise
demanda de P de vagens e sementes de plantas de feijoeiro foi suprida pela remobilização das folhas
(Snapp & Lynch, 1996), sendo que a máxima exportação de P das folhas de arroz (Oryza sativa L.)
ocorreu nos estádios de desenvolvimento dos grãos, decaindo após (Mondal & Choudhuri, 1985).
Além disto, a proporção entre a quantidade de nutrientes nos grãos e a quantidade de nutrientes na
biomassa é superior para o P do que para os demais macronutrientes (Haag et al., 1967), indicando
nutrientes dos tecidos vegetativos para os órgãos reprodutivos acarreta um decréscimo no teor de
nutrientes nas folhas, o que pode limitar a fotossíntese do dossel em estádios posteriores de
crescimento, sugerindo que o atraso na senescência foliar poderia ser uma estratégia para aumentar a
produtividade dos cultivos anuais (Grabau et al., 1986). Entretanto, progênies de soja apresentaram
uma relação inversa entre produção de grãos e a senescência foliar, sugerindo que as produções
máximas só podem ser obtidas em plantas cujas folhas entrem em senescência durante o enchimento
A redução dos teores de P nos grãos tem sido proposta como uma alternativa para a
menor remoção de P pelos cultivos. Além disto, o baixo teor de P nos grãos implica em um menor
teor de fitina, que está associada a sintomas de deficiência nutricional em seres humanos e animais,
23
grãos parece ser parcialmente conseqüência da quantidade de carboidratos no grão, que dilui uma
quantidade de P controlada por fatores genéticos ou ambientais (Feil et al., 1992). Por outro lado,
sementes com altos teores de P originam plantas com maior crescimento da parte aérea, nodulação e
al., 1991; Teixeira et al., 1999). A fitina está localizada exclusivamente nos globóides dentro dos
corpos protéicos nos vacúolos das células das sementes, mas não em todos estes corpos protéicos,
seleção independente para os teores de N e P nos grãos (Araújo & Teixeira, 2003).
promovem aumentos na produção vegetal maiores do que aqueles obtidos com cada nutriente
São identificados pelo menos três tipos de efeitos gerais do suprimento limitado de P na
absorvido para a parte aérea, indicada por uma acumulação de NO3- nas raízes (aparentemente
aminoácidos tanto nas folhas (mais comum) quanto nas raízes, resultante ou de inibição da síntese
ou da degradação de proteínas (Israel & Rufty, 1988; Rufty et al., 1990, 1993; Jeschke et al., 1997).
24
A absorção de nitrato é um processo ativo, requerendo energia metabólica para o transporte contra
(Kleinhofs & Warner, 1990). A limitação no fornecimento de P pode resultar em menor taxa de
absorção de NO3- e NH4+, sendo relatadas em milho tanto uma redução mais acentuada na absorção
de NO3- (Magalhães et al., 1995) quanto na absorção de NH4+ (Alves et al., 1998). Há também a
hipótese de que um efeito regulatório específico seja exercido pelo P na formação ou atividade do
sistema transportador de NO3- nas membranas celulares, ou através de inibição por feedback pelas
A limitação de P, ao restringir o transporte de NO3- da raiz para a parte aérea, pode também
não assimilado na parte aérea (Rufty et al., 1990). A omissão de P na solução nutritiva acarretou
redução na atividade da GS/GOGAT em folhas e raízes de milho apenas após 144 h, enquanto que a
redução na atividade da nitrato redutase ocorreu após 6 horas, indicando que o estresse de P teria
disponibilidade de amônio para a síntese de aminoácidos (Alves et al., 2000). Como a nitrato
reduziria a atividade desta enzima, causando acúmulo de NO3-, que por sua vez exerceria um efeito
et al., 2000). Por outro lado, a deficiência de P reduziu os teores de N total nas folhas e de N total e
de nitrato nos colmos e raízes em híbridos de milho, sem que tenha ocorrido acúmulo de NO3- na
planta, indicando que o estresse de P diminuiu a absorção de N mais do que a assimilação de NO3-
25
3.4.2 O fósforo e a fixação biológica de N2
A deficiência de P tem um impacto negativo na fixação biológica de N2, pois tanto a redução
ureídos que ocorre na fração vegetal dos nódulos, são processos consumidores de energia,
(Hogh-Jensen et al., 2002): alguns estudos sugerem que a regulação ocorre no aparato fotossintético,
afetando a produção e o suprimento de carboidratos não estruturais para os nódulos, mas outros
trabalhos indicam que a deficiência de P tem um efeito direto no metabolismo dos nódulos e na
atividade da nitrogenase.
concentração de ATP nos nódulos (Sa & Israel, 1991), e os teores de N, de N-amino e alantoína no
crescimento dos nódulos (Vadez et al., 1997; Araújo & Teixeira, 2000; Hogh-Jensen et al., 2002) e
um declínio mais rápido na atividade da nitrogenase no estádio de início de enchimento das vagens
(Vadez et al., 1997). Em soja, a carga energética e a concentração de ATP nos bacteróides não
foram afetados pelo suprimento de P, mas as concentrações de ATP e de adenilato nas frações
vegetais dos nódulos foram reduzidas pela deficiência de P, o que indica que a deficiência de P
prejudicou a fosforilação oxidativa na fração vegetal dos nódulos em maior extensão do que nos
26
Plantas dependentes da fixação de N2 apresentam maior requerimento de P para obtenção de
crescimento ótimo do que plantas supridas com nitrato, e os parâmetros associados à fixação de N2
et al., 1980; Israel, 1987). A deficiência de P em soja sob N2 simbiótico afetou o equilíbrio entre a
biomassa de nódulo e raiz de forma mais intensa do que o equilíbrio entre raiz e parte aérea
(Cassman et al., 1980), e aumentou a proporção do P retido nos nódulos e raízes (Lauer & Blevins,
1989). Os nódulos são um forte dreno de P, com grandes respostas às doses do nutriente e
concentrações de P cerca de 2 vezes superiores às da parte aérea; mesmo diante da redução do teor
de P nos vários tecidos vegetais sob menor suprimento de P, a concentração de P nos nódulos pode
ser pouco afetada (Pereira & Bliss, 1987; Othman et al., 1991; Hogh-Jensen et al., 2002). Dentre as
estratégias de adaptação metabólica dos nódulos em plantas sob deficiência de P, podem ser citadas:
um aumento da proporção de P alocada nos nódulos (Lauer & Blevins, 1989), uma maior absorção
Resultados controversos têm sido publicados sobre a interação entre o P e o zinco (Zn),
mostrando que: (a) o P não exerce influência sobre a absorção de Zn; (b) o P pode aumentar a
absorção de Zn; (c) o P pode diminuir a absorção de Zn; (d) pode existir um antagonismo entre o P
e o Zn, particularmente quando um dos elementos excede o nível crítico; (e) o P pode diminuir o
transporte de Zn da raiz para a parte aérea; (f) a adição de P em solo deficiente em Zn pode
estimular o crescimento das plantas, diluindo a concentração de Zn nos tecidos; (g) um elevado
fornecimento de P pode aumentar a acumulação deste nutriente nas folhas mais velhas em
27
concentrações suficientes para causar toxicidade, sedo os sintomas dessa toxicidade identificados
erroneamente como deficiência de Zn (Loneragan et al., 1982; Webb & Loneragan, 1988).
aérea. Esta interação é verificada quando ambos os nutrientes se encontram em teores limitantes, e a
adição de P promove crescimento suficiente para diluir a concentração de Zn nas plantas a níveis
que induzem a deficiência de Zn (Loneragan et al., 1979; Singh et al., 1988). São observadas
de Zn na parte aérea muito além do que pode ser explicado pela diluição decorrente do crescimento,
indicando que o P pode atuar de modo a reduzir tanto a absorção de Zn pelas raízes como a
através de dois mecanismos: os íons H+ gerados pela dissolução dos fosfatos no solo inibem a
Adicionalmente, tem sido proposto que o P pode induzir à imobilização do Zn nas raízes através da
formação de fitatos de Zn, em condições de elevado suprimento de Zn (Loneragan & Webb, 1993).
plantas sem qualquer efeito na concentração de Zn na parte aérea. Nesses casos, a aplicação de Zn
elimina os sintomas e restaura o desenvolvimento das plantas. Esta síndrome, atribuída a um efeito
particularmente evidente em plantas crescidas em solução nutritiva ou areia, mas sem relatos
válidos sobre sua ocorrência em solo e, por conseguinte, sem efeitos relevantes na produção das
28
Uma outra situação refere-se ao efeito da deficiência de Zn promovendo a toxidez de P. Sob
parte aérea de muitas espécies a níveis tóxicos (Loneragan & Webb, 1993). A inativação do Zn nas
mecanismo responsável por esta síndrome. Em todos os níveis de suprimento de Zn, o aumento da
dose de P reduziu a proporção de Zn solúvel em raízes, caules e folhas de plantas de algodão, sendo
que a concentração de Zn solúvel nas folhas foi associada com os sintomas visuais de deficiência de
Em sua forma inorgânica, o fosfato (Pi) é substrato ou produto final em muitas reações enzimáticas
regulação das vias metabólicas no citoplasma e cloroplasto, síntese de amido e sacarore, transporte
de trioses-fosfato, translocação de sacarose e síntese de hexoses (Mitra et al., 1993). Em plantas sob
Os sintomas de deficiência de P não são tão marcantes como para outros macronutrientes, e
os efeitos mais evidentes são uma acentuada redução no crescimento da planta como um todo.
Mesmo assim, pode-se observar em plantas deficientes uma coloração verde escura nas folhas mais
29
florescimento, gemas laterais dormentes, número reduzido de frutos e sementes, e pequena
Rodríguez et al., 1998). Entretanto, de maneira geral, a deficiência de P tem pequena influência nas
taxas fotossintéticas (Fredeen et al., 1989), mas alguns efeitos conflitantes do P na fotossíntese
podem ser observados, caso não se considerem a intensidade e a época do estresse por deficiência
de P (Rodríguez et al., 1998). Além disto, deve-se considerar uma possível resposta diferenciada
estomáticos, pois a taxa fotossintética pode ser limitada pelo baixo teor foliar de P, tanto em níveis
normais quanto de saturação de CO2 (Fredeen et al., 1989). A redução da fixação fotossintética de
Plantas de milho, após 3 semanas de omissão de P, tiveram marcante diminuição nos níveis
de amido e proteína solúvel, e em menor extensão nos níveis de sacarose e glicose (Khamis et al.,
1990). Plantas de milho crescidas sob baixa disponibilidade de P apresentaram severa inibição da
redução nas atividades das enzimas ribulose 1,5-bisfosfato carboxilase, piruvato ortofosfato
30
pentoses fosfato, e redução na atividade da ADPG-pirofosforilase, enzima-chave da síntese do
amido (Usuda & Shimogawara, 1991a,b). Já a respiração noturna de plantas de trigo não apresentou
tecidos, em comparação a espécies de rápido crescimento sob as mesmas condições (Chapin &
Bieleski, 1982). A baixa taxa de crescimento pode auxiliar na adaptação a condições de estresse,
pois um crescimento lento induz a uma menor demanda e a uma menor exaustão dos recursos do
reservas dentro da planta; e espécies de menor taxa de crescimento podem sobreviver durante
períodos em que nenhum crescimento é possível (Grime & Hunt, 1975). Entretanto, o lento
crescimento não constitui necessariamente uma adaptação ao baixo suprimento de P, pois plantas
anuais necessitam de um rápido crescimento para poderem competir em seus habitats naturais
Uma hipótese usualmente formulada é que as cultivares modernas teriam baixa eficiência
nutricional, por terem sido selecionadas em condições de alta fertilidade do solo, e uma seleção
indireta para alta resposta para fertilizantes pode ter ocorrido por meio da seleção para altas
produções (Duncan & Baligar, 1990). A cevada cultivada foi mais responsiva ao P do que a cevada
silvestre adaptada à baixa disponibilidade de P (Chapin & Bieleski, 1982), e populações de trevo
branco adaptadas a condições de baixa fertilidade foram menos responsivas ao P do que populações
adaptadas à elevada fertilidade (Snaydon & Bradshaw, 1962). Todavia, genótipos silvestres de
feijoeiro mostraram menor tolerância ao baixo suprimento de P no solo do que genótipos cultivados,
em termos de crescimento vegetativo e produção de grãos, indicando que a adaptação ao baixo P foi
31
adquirida durante a domesticação da espécie (Araújo et al., 1997; Beebe et al., 1997). Além disto, o
progenitora de cevada do que em uma cultivar, indicando que o processo de seleção não reduziu o
Nos solos de regiões tropicais, bastante intemperizados e com baixos teores de P disponível,
oito culturas sem adubação fosfatada variaram de 47 a 91 % das produções com adubação (Raij et
al., 1982). Em solos com baixos teores de P disponível, são requeridas aplicações anuais de
manutenção da ordem de 20 a 50 kg P ha-1 para a maioria das culturas (Raij et al., 1982). Entretanto,
em virtude das fortes reações de adsorção do fosfato nos colóides minerais de carga variável, a
adubação fosfatada tem eficiência muito baixa nas regiões tropicais, registrando-se uma recuperação
pelas culturas de 5 a 20 % do P aplicado em um dado ano agrícola. Deve-se registrar que, nos atuais
ritmos de exploração, as jazidas conhecidas de apatita de baixo custo de extração para fabricação de
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49
CAPÍTULO 12
1
Sumário
3 ENXOFRE............................................................................................................... 518
3.1 ENXOFRE NO SOLO .................................................................................... 518
3.2 ENXOFRE NA PLANTA ................................................................................ 521
3.2.1 Distribuição e função..................................................................................... 521
3.2.1.1 Estruturais.................................................................................................... 527
3.2.1.2 Metabólicas................................................................................................. 528
3.3 FONTES DE S................................................................................................... 530
3.4 DEFICIÊNCIA DE S......................................................................................... 534
2
1 CÁLCIO
calcários, em ambiente árido, contêm os maiores níveis deste nutriente (Lopes 1998).
e silicatos - estando presente em teores mais altos em alguns minerais primários como
anortita, augita, epidoto e apatita e mais baixos nos secundários. Na realidade, minerais
Troca
Ca, Mg - Solução do Solo - Trocáveis
Ca, Mg
Mineralização
Lixiviação, erosão
Imobilização Absorção
3
O Ca pode se encontrar nas formas trocável e solúvel, sendo a primeira em solos
concentrações muito baixas, de modo particular nos solos ácidos das regiões tropicais.
retido como Ca2+ (trocável) nas superfícies com cargas negativas das argilas e da
4
1.2 Cálcio na planta
O Ca é absorvido pelas raízes como Ca2+ podendo sua absorção ser diminuída
por altas concentrações de K+, Mg2+ e N-NH+4 no meio de cultivo. Apresenta raio
plasmática. Grande parte do Ca pode ser encontrada nos vacúolos. Baixas concentrações
plasmática.
condições especiais como: a injeção de outros cátions na nervura, tratamento com ácido
triiodo tetracético (EDTA – agente quelante), tratamento com ácido triiodo benzóico
radicais R-COO- das pectinas em formas mais ou menos trocáveis. Quando se aumenta
do solo ou solução nutritiva) leva a um aumento no conteúdo de Ca nas folhas, mas não
5
necessariamente em órgãos como frutos e tubérculos (drenos) que são supridos
predominantemente pelo floema (em função da sua baixa mobilidade), ocasionando, por
longo dos tubos crivados ou ainda no tegumento das sementes. (Fink, 1991; Mix &
Marschner, 1976).
permeabilidade geral das membranas para este elemento e pela ação de transportadores
existindo também um antiporte (Ca2+/H+) (Jones et al., 1993; Kasai & Muto, 1990). O
Sze, 1990). Em células vacuoladas das folhas, uma grande proporção de Ca está
membrana plasmática das células da raiz (Olbe & Sommarin, 1991). Desde que a
6
concentração de Ca na solução do solo apresenta-se superior a 1 mM, a bomba de
efluxo de Ca2+ deve ter uma demanda considerável de energia para evitar o transporte
citoplasmática.
água, ao contrário do que acontece com o K. Uma grande parte do Ca insolúvel está na
sais predomina o oxalato que se encontra em qualquer parte da planta. Outros sais de Ca
encontrados (fora das paredes) são: carbonato, sulfato, fosfato, silicato, citrato, tartarato,
gemas e ponta das raízes. Nas folhas o denominador comum para a falta de Ca é clorose
nas mais novas; tal sintoma em geral caminha das margens para o centro. O
devido à competição do mesmo pelo Ca contido no xilema, uma vez que transpiram
7
Uma das funções do Ca já foi citada (componente da parede celular), mas são
conhecidas outras funções desse macronutriente secundário. Este tem importante papel
hidrogeniônica excessiva, sendo essencial para que tal efeito não diminua a absorção de
prejudicial da salinidade provocada por altas concentrações de adubos solúveis pode ser
ATP-ases de membrana que participam da absorção iônica são ativadas pelo Ca. Foi
demonstrado também que a toxidez devido à amônia pode ser anulada em parte pelo Ca
fornecido às raízes.
raiz. Para a nodulação nas leguminosas há necessidade maior de Ca do que para a planta
propriamente dita, pois uma vez formados os nódulos a leguminosa pode crescer com
do tubo polínico o que se deve ao fato de estar presente na síntese da parede celular ou
8
deste órgão, motivo pelo qual, às vezes, se usam adubos cálcicos em cobertura (Câmara
et al., 1980).
- Em tubérculo de batata
- Em cevada
- Em repolho
1.4 Fontes de Ca
O Ca pode ser fornecido às plantas de várias formas (Figura 2), que mostra a
Adubos
Minerais no solo Restos Orgânicos Minerais Calcários
Ca e Mg disponíveis no solo
calcário calcítico como o dolomítico são fontes excelentes desse nutriente. O gesso
menor intensidade o superfosfato triplo, podem adicionar Ca ao solo (Vitti & Luz,
Quando forem usadas fontes de Ca que não sejam os calcários moídos, deve-se
se ter cuidado com a aplicação. O excesso de cal hidratada, de acordo com Lopes
das plantas.
10
O gesso, além de ser uma excelente fonte de S e Ca para as plantas, tem
com subsolos ácidos. Isto leva à melhor absorção de água e nutrientes das camadas mais
1.5 Deficiência de Ca
prejudicado pelas concentrações tóxicas de Al, Mn e Fe, além da falta de Ca. A análise
causam um aspecto gelatinoso nas pontas das folhas e nos pontos de crescimento. Isso
1998).
11
As deficiências de Ca podem não ser muito freqüentes no campo porque os
folhas apresentam teores normais deste nutriente, enquanto o fruto se mostra deficiente
(Castellane, 1982).
2 MAGNÉSIO
2).
carga do cátion, o segundo é o tamanho do íon hidratado, os menores sendo retidos com
ocorrência dos cátions trocáveis é, em geral, segundo essa ordem, mesmo quando o solo
12
formou-se de rochas mais ricas em Mg ou K, por exemplo. Desvios dessa seqüência
1981).
Maior adsorção
Teores mais altos de Mg são, de modo geral, encontrados nos solos mais
que incluem clorita, vermiculita, ilita e montmorilonita. Alguns solos contêm Mg como
13
podem conter grandes quantidades de Mg como epsomita (MgSO4.7H2O) (Neptune,
1986).
se, hoje, que parte desta forma pode ser mais disponível do que se pensava. O Mg
Estado de São Paulo); esta fração juntamente com o Mg solúvel é da maior importância
Nos solos ácidos das regiões úmidas, o Mg2+ é o terceiro cátion mais abundante
no complexo de troca, após o Ca2+ e o H+ e nos solos das regiões semi-áridas, vem logo
depois do Ca2+, exceto nos solos alcalinos onde perde o lugar para o Na+.
Nestes solos ácidos das regiões úmidas, é possível que haja competição do H+ e
do Al3+ na absorção do Mg2+, enquanto que a competição do Ca2+ pode ocorrer em solos
onde foi aplicada alta dose de calcário. Assim, abaixando ou elevando o pH, a absorção
3) Alto teor em K;
14
Os solos, como já citado, geralmente contêm menos Mg do que Ca, porque o Mg
mais sujeito à lixiviação. Além disso, a maioria do material de origem contém menos
Mg do que Ca. Embora a maioria dos solos contenha Mg suficiente para suportar o
deficiências também podem ocorrer em solos calcários onde a água de irrigação contém
pastoreadas por gado, o que resulta em baixo teor de Mg no soro sanguíneo e uma
2.2 Mg na Planta
complexo de troca do solo. O raio iônico deste elemento é da ordem de 0,428 nm. O
15
números aproximados pode-se dizer que a concentração de Mg2+ em solução é o dobro
daquela de K+. Pode haver perdas de Mg do solo por lixiviação da ordem de 2-30
que ocorra absorção é necessário que ocorra contato do elemento com a raiz da planta,
seja por interceptação radicular, por difusão ou por fluxo de massa, sendo o fluxo de
A taxa de absorção de Mg pode ser muito afetada por outros cátions como K+,
1981). Deficiência de Mg induzida pela competição com outros cátions tem sido
capacidade de interagir com ligantes nucleofílicos como os grupos fosforílicos por meio
forma complexos ternários com enzimas nas quais cátions de ligação são necessários
para estabelecer a geometria precisa entre a enzima e o substrato, como ocorre na RuBP
16
induzida pelo excesso de K. Um excesso de Mg, por sua vez, pode causar deficiência de
K ou, principalmente, de Ca. De modo geral, os teores de Mg nas partes novas das
plantas são maiores que os encontrados nas mais velhas, embora o inverso possa ocorrer
ápices está ligado a pectatos nas paredes celulares ou precipitado como sais solúveis de
reserva no vacúolo, como por exemplo fosfatos de Mg. Os restantes 60-90 % são
25 %.
17
folha. Os plastídeos, entretanto, tem mais Mg além daquele contido na clorofila: a
conversão de energia é das principais funções dos cloroplastos e, como se verá logo
fosforilativas, formando uma ponte entre o pirofosfato do ATP ou ADP (tri e difosfato
planta. Em algumas das reações de transferências de grupos fosfatados, o Mg2+ pode ser
substituído por outros íons como o Mn2+, principalmente; muitas vezes, porém, é mais
fotossinteticamente; além disso, é necessário para a atividade da própria enzima que faz
Talvez possa ser atribuído a isso o aumento da absorção de fósforo na presença de Mg.
18
fosforilação. Esse papel do Mg tem um possível aspecto prático; o de aumentar a
mais velhas para as mais novas ou para os pontos de crescimento. Em frutos e tecidos
de reserva que são dependentes do floema para o suprimento mineral, encontra-se mais
2.3 Fontes de Mg
podem ser a fonte preferida de Mg em condições que requerem de resposta rápida a esse
nutriente.
19
Quadro 3. Adubos-fonte de magnésio.
Adubo MgO%
Cianamida, cálcica 0,06
Nitrato de cálcio 1,5
Nitrocálcio 6-8
Salitre do Chile 0,05
Tortas oleaginosas 0,3-0,5
Estercos 0,9
Resíduo de esgoto 0,5-0,7
Farinha de ossos 0,4
Fosfato natural 0,2
Superfosfatos 0,2-0,3
Cloreto de potássio 0,1
Sulfato de potássio 1-2
Kieserita 18
Sulfato de magnésio 10-16
Nitrato de magnésio 14-16
Magnesita 44-46
Fonte: modificado de Malavolta (1976).
solo e da concentração de Mg na solução do solo a qual pode ser aumentada pela adição
água de percolação.
20
O quadro 4 apresenta as quantidades exigidas de Ca, Mg e S por várias culturas.
2.4 Deficiência de Mg
21
(2) Solos ácidos;
por lixiviação: nos solos ácidos o antagonismo por cátions em excesso (H+, Al3+, Mn2+,
Fe2+) pode causar a carência; o alto teor de K trocável faz com que aumente a relação
relação K/Mg. De acordo com Shone (1967), as doses muito altas de adubos potássicos
absorção do Mg, provocar lavagem deste nutriente para camadas mais profundas do
perfil, fora do alcance das raízes. Em solos deficientes em K, porém, a adição desse
elemento como adubo pode levar à maior absorção de Mg o que é acompanhado por
pois pode ocorrer menor transporte do Mg++ para a raiz pelo processo do fluxo de
massa.
22
permanecem verdes (reticulado grosso). Exemplo: as folhas de milho com faixas
Quando a relação Ca/Mg torna-se muito alta, a planta pode absorver menos Mg. Isto
pode ocorrer quando se usa somente calcário calcítico por muitos anos, em solos
relativamente pobres em Mg. A deficiência de Mg também pode ser acentuada por altas
3 ENXOFRE
primária do elemento: ela fornece sulfetos metálicos os quais, em solos bem arejados, se
proveniente dos restos animais e vegetais e o da matéria orgânica dos solos. Outra fonte
A maior parte do S do solo está na forma orgânica que, por via microbiana, é
23
Nos solos bem aerados, o S mineral aparece quase exclusivamente como sulfato
(SO4-2), enquanto que em condições anaeróbicas os sulfetos (S2-) são a forma mais
(com o que fica afastado o perigo de toxidez à cultura por conta do sulfeto):
hidróxidos e da argila:
solo e que, eventualmente, vão resultar em sulfato: sulfito (SO32-); tiossulfato (S2O32-);
politionato (S4O62-) (Neptune et al., 1975). Não se sabe muito a respeito dos compostos
taurina;
24
2. Sulfato orgânico: alta proporção como SO42- ligado a fenóis, colina (base
microrganismos
(Cisteína) (Piruvato)
HSCH2CHNH2COOH + H2O CH3COCOOH + H2S + NH3
dos microrganismos do solo. Assim, quando C/S for menor que 200 o sulfato
geralmente se acumula; acima de 400 o SO4 2- adicionado e mais o existente no solo são
imobilizados. Estima-se que nos solos das regiões temperadas úmidas 1-3 % do S total
25
De acordo com Malavolta (1980), as quantidades de S nos solos minerais vão de
principal fonte da chuva ácida. As plantas podem, também, metabolizar o SO2, que é
(mais de oito horas) a altas concentrações atmosféricas do SO2 (maiores do que 0,3
ppm) causam extensos danos aos tecidos, devido à formação do ácido sulfúrico
A maior parte do S nas células de vegetais superiores deriva do sulfato (SO4 2-)
transporte de sulfato ocorre principalmente pelo xilema (Figura 3). Em muitos aspectos,
26
pode ser utilizado sem o processo de redução e incorporado a estruturas orgânicas
As folhas, além do SO42-, são capazes de absorver também o gás SO2 (dióxido de
elementar (molhável) foi demonstrada ocorrer nas folhas e frutos de plantas cítricas:
27
Figura 3. O ciclo do enxofre.
Enxofre elementar
Oxidação bacteriana
Ácido sulfídrico Sulfato SO4-2
(H2S)
Redução bacteriana
Mineralização
Digestão pelos animais Absorção pelas
(Degradação Plantas (Imobilização)
bacteriana)
Compostos orgânicos
(proteínas) R-SH
capacidade da planta para translocar o S na direção basípeta é muito pequena; por isso,
sulfato ao aminoácido cisteína. O sulfato é muito estável e necessita ser ativado antes
que alguma reação subseqüente possa ocorrer. A ativação inicia com a reação entre o
sulfato e o ATP, para formar 5´-adenililsulfato (o qual é, algumas vezes, referido como
28
SO4-2 + Mg-ATP APS + PPi
A enzima que catalisa essa reação, a ATP sulfurilase, apresenta duas formas: a
maior é encontrada nos plastídeos e a menor, no citoplasma (Leustek & Cols., 2000,
citados por Taiz & Zeiger, 2004). A reação de ativação é energeticamente desfavorável.
Para levar essa reação adiante, os produtos APS e PPi devem ser convertidos de
PPi + H2O 2 Pi
exclusivamente nos plastídeos. De início, a enzima APS redutase, transfere dois elétrons
acetato. A O-acetilserina, que reage com o S 2-, é formada na reação catalisada pela
serina acetiltransferase:
29
OAS + S 2- Cisteína + Acetato
APS quinase catalisa a reação da APS com ATP, para formar 3´-fosfoadenosina-5´-
fosfossulfato (PAPS).
assimilado nas folhas é exportado pelo floema para os locais de síntese protéica (frutos e
atua como um sinal que coordena a absorção do sulfato pelas raízes e a assimilação do
sulfato pela parte aérea. Além disso, nas folhas, a reação é muito estimulada pela luz
(Frankhauser & Brunold, 1978). Esta estimulação pela luz é requerida por causa da
30
. A absorção do SO42- é aparentemente reduzida pela presença em excesso de Cl-
peso seco do material vegetal. As crucíferas são as mais exigentes, com teores nas
sementes entre 1,1 a 1,7 % de S na base de peso seco. O conteúdo de S nas proteínas
varia entre frações protéicas de células individuais e entre espécies de plantas. Em geral,
naturalmente) se incorpora.
Quando o fornecimento de SO42- é alto, a sua absorção pode ser mais rápida que
portanto, das proteínas que os contém (Figura 4). A tiamina, a biotina e a coenzima A
orgânicos (enzimas).
31
SO4-2
ATP
SO3-2
S-2 R-serina
Incorporação
Biotina
NH2 Coenzima A
HS-CH2CH-COOH Glutatione
(cisteína)
Cistationina
CH2-CH-COOH
NH2
NH2
S CH3-S-CH2-CH2-CH-COOH
(Metionina)
S
NH2
CH2-CH-COOH
(cistina) Proteínas
S adenosil metionina
32
3.2.1.1 Estruturais
proteínas. Como se sabe, as proteínas tem estrutura primária por meio da ligação
hidrogênio entre duas cadeias; a estrutura terciária é controlada por ligações H não
cadeias ou para a formação de anéis estáveis numa mesma cadeia. Os grupos sulfídrico
(SH) fornecem sítios para a ligação de cátions metálicos podendo por isso afetar a
grupos SH podem ainda funcionar como locais para a formação de pontes de H e para a
ligação de grupos protéticos (não protéicos) das enzimas. Os grupos tioeter (S-CH3) da
metionina, sendo hidrófobicos podem afetar a estrutura terciária mediante interação com
3.2.1.2 Metabólicas
• Aminoácidos em proteínas
• Aminoácidos livres
33
Os grupos SH nas proteínas enzimáticas podem ser o sítio de ligação do
substrato com a enzima. Muitas das enzimas do metabolismo dos carboidratos são
sensíveis aos reagentes que destroem os grupos SH indicando pelos menos uma ação
A biotina está associada com a fixação não fotossintética do CO2 e com reações
de descarboxilação.
ocorrer como vitamina livre ou ligada ao pirofosfato (tiamina pirofosfato) quando atua
ácidos.
solúvel / N protéico;
amido;
34
aminoácidos cistina, metionina e cisteína, os quais são componentes da proteína,
biotina e tiamina, sendo esta última um problema nutricional em países que têm como
alho livres de N (bissulfeto de alila) nas plantas bulbosas (cebola, alho) e de essência de
vegetal para avaliar o seu estado nutricional (Vitti & Trevisan, 2000).
3.3 Fontes de S
35
concentrações bem altas de S. Quando o teor de S-SO4 na água de irrigação excede 5
água é o S elementar, que precisa ser oxidado a S- SO4 antes das plantas poderem
- Aeração do solo;
- Partículas menores.
36
Quadro 5. Fontes mais comuns de S
Tiossulfato de amônio 26
Gesso 12-18
Sulfato de Mg 12-14
S elementar > 85
Sulfonitrato de amônio 15
Tancage 0,9
Superfosfato amoniacal 12
Fosfossulfato de amônio 15
Fonte: modificado de Malavolta (1976) e Lopes (1998)
37
O quadro 6 apresenta respostas de algumas culturas à aplicação de S
Aumento da produção
Cultura
(%)
Algodão 37
Arroz 16
Café 41
Cana 11
Citros 18
Colonião 21
Colza 51
Feijão 28
Milho 21
Repolho 9
Soja 24
Sorgo 10
Trigo 26
devem ser utilizados quando o S é necessário rapidamente. Segundo Lopes (1998), estas
uso em fertilizantes fluidos ou água de irrigação. Ele deve ser colocado junto com a
semente; se aplicado em faixas, estas devem estar a pelo menos 2,5 cm da semente. O
produto precisa ser oxidado para a forma de sulfato para se tornar disponível às plantas.
Apesar do gesso (sulfato de Ca) ser menos solúvel em água do que os outros
com fontes na forma de sulfato, por causa da sua insolubilidade em água. Para ser
38
eficiente, essa fonte deve ser incorporada ao solo com bastante antecedência às
3.4 Deficiência de S
relação ao S, mais do que o conteúdo de S total. O melhor indicador parece ser a relação
e é considerada como um fator limitante quando os grãos são considerados como a fonte
39
- Aumento na produção das culturas que removem grandes quantidades de S;
nenhum S
gases emitidos,
- Cultura a ser explorada – culturas forrageiras de alta produtividade tais como híbridos
- Textura do solo – a lixiviação de SO4- nos solos arenosos é mais intenso do que nos
solos argilosos.
40
interessante analisar as fontes de água com a finalidade de determinar suas
concentrações de S.
41
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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47
CAPÍTULO 13
MICRONUTRIENTES
(1)
Professor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP – C.
Postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP. ardechen@esalq.usp.br.
(2) Eng. Agrº. Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, C. Postal 130, 95700-000, Bento
Gonçalves, RS. gilmar@cnpuv.embrapa.br
SUMÁRIO
se por serem absorvidos pelas plantas em pequenas quantidades (da ordem de alguns
miligramas por quilograma de massa seca da planta). Isto se deve ao fato de que os
micronutrientes não são elementos que participam da estrutura da planta, só fazendo parte da
Os micronutrientes são:
- Micronutrientes catiônicos:
- Cobre (Cu)
- Ferro (Fe)
- Manganês (Mn)
- Níquel (Ni)
- Zinco (Zn)
- Micronutrientes aniônicos:
- Boro (B)
- Cloro (Cl)
- Molibdênio (Mo)
como outros sais e são insolúveis a pH altos. Os micronutrientes aniônicos (B e Cl) são
não consegue absorvê-lo nas quantidades necessárias. Esta deficiência pode ser
• Por não se encontrarem no solo na forma disponível para as plantas, por estar retido
caracterizando neste caso, a deficiência induzida. Como exemplo destas situações tem-
se o bloqueio que sofre o B pelo Ca e a clorose férrica, induzida pela presença de
bicarbonato.
disponibilidade ou elevada fixação dos micronutrientes nos solos com elevado teor de
Z
-
5 C
-
F
10
4 5 6 7 8
pH
• Textura: é outro fator que influi no teor de micronutrientes no solo. Assim, solos de
Mn, Mo e Zn, devido ao fato de que estes elementos são lixiviados com facilidade
nestes solos.
micronutrientes. O Zn, que está presente em pequenos teores no solo, pode ter sua
deficiência provocada por microorganismos que competem com as plantas por este
elemento. Por outro lado, os microorganismos podem também liberar íons durante a
2 MICRONUTRIENTES CATIÔNICOS
2.1 Cobre
enquanto o conteúdo total de Cu no solo varia entre 10 a 80 mg kg-1 (Krauskopf, 1972), onde
se encontra, principalmente, na forma divalente (Cu2+), em sua maioria como constituinte das
fração do Cu dissolvido esteja como complexo solúvel de ácidos orgânicos, tais como cítrico
e oxálico.
onde o íon, numa grande proporção, é fixado pelo húmus, numa forma mais estável do que a
forma trocável adsorvida. A força de ligação do Cu com os ácidos húmicos diminui com o
aumento da quantidade de Cu aplicada (Goodman & Cheshire, 1976), contudo, aumenta com
matéria orgânica (Steveson & Fitch, 1981). Este Cu orgânico pode torna-se disponível
somente depois da mineralização da matéria orgânica. O Cu total não permite fornecer uma
derivados de rochas ígneas muito ácidas e em solos lixiviados de textura grosseira. Deve-se
fungicidas cúpricos no controle de doenças de videiras, por vários anos, que tem levado ao
condições da Austrália, Pietrzak & McPhail (2004), avaliaram vinhedos cultivados por 20 e
até por mais de 90 anos, observaram teores de Cu total entre 10 e 250 mg kg-1. No Brasil,
Nachtigall et al. (2005) verificaram teores de Cu total entre 1300 e 1400 mg kg-1 em dois solos
cultivados com vinhedos da região da Serra do Rio Grande do Sul, o que se deve ao fato de
que o manejo de muitos dos vinhedos brasileiros envolver o uso contínuo de calda bordaleza
plantas ocorre através de processo ativo e existem evidências de que este elemento iniba
fortemente a absorção do Zn e vice-versa (Bowen, 1969). Considera-se que este elemento não
folhas velhas para novas. Loneragan (1975) concluiu que o movimento do Cu no interior das
plantas dependente da sua concentração nestas, uma vez que em plantas de trigo bem supridas
de Cu, pode ocorrer movimento dos grãos para as folhas, contudo, em plantas deficientes o
Na planta, uma fração considerável do Cu presente nos tecidos parece estar ligada a
cloroplastos.
Cu nas folhas e o conteúdo das enzimas plastocianina, diamina oxidase e ascorbato oxidase,
bem como da atividade do fotosistema I, contudo parece não afetar significativamente o
óxido-redução, onde grande parte das enzimas com Cu reagem com O2 e o reduzem a H2O2
ou H2O. O Cu, também, faz parte da enzima fenol-oxidase, que cataliza a oxidação de
toxicidade (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones Junior, 1996; Furlani,
2004).
orgânica, por não estar disponível às plantas devido a complexação em formas orgânicas
difícil de diagnosticar devido à interferência de outros elementos (P, Fe, Mo, Zn e S). No
sistema produtivo de citros e de outras frutas, adubações em excesso com adubos fosfatados
manifestam nas raízes, que tendem a perder vigor, adquirem cor escura, apresentam
deficiência em Fe, já que o Cu em excesso atua em reações que afetam o estado de oxidação
redução da absorção de P.
2.2 Ferro
silício (Mengel & Kirkby, 1987). O Fe no solo apresenta-se na forma divalente (Fe2+) e
apresentam baixo teor de Fe, tanto na solução do solo como adsorvido em forma trocável.
O Fe não trocável está presente em vários minerais primários, tais como biotita,
hornblenda, augita e olivina. Óxidos de Fe primários, que ocorrem em muitos solos, incluem a
A coloração dos solos é devida, em sua maioria, à presença dos óxidos livres. As cores
goetita. As colorações vermelhas de regiões áridas são devidas a óxidos não hidratados como
a hematita.
O Fe, na forma ferrosa, entra no complexo de troca iônica dos solos. A forma férrica é
fortemente adsorvida pelos colóides do solo, formando complexos com os ácidos húmicos e
colóides orgânicos; no entanto, pode ser transportado pela água. Os solos sob condições de
ácidos, com pH menores que 3 e em solos ricos em ácidos húmicos e colóides capazes de
10-6 M, valor que poderia suprir as necessidades das plantas através do transporte por fluxo de
pode ocorrer, entre outros mecanismos, pela formação de complexos solúveis ou quelatos.
já que em solos argilosos existe uma tendência a reter o Fe, enquanto que teores adequados de
Fe Solúvel Total
Fe3+
Fe2+
3 4 5 6 7 8 9
pH
O Fe pode ser absorvido como Fe2+, Fe3+ e como Fe-quelato, sendo que a sua absorção
dois processos. No primeiro processo, que é uma característica das eudicotiledôneas e das
gramíneas não monocotiledôneas, prótons são liberados do interior das raízes, o que provoca
reduzido a Fe2+ na membrana plasmática das células das raízes. Este Fe reduzido é
transporte (Figura 3A). A capacidade das raízes em reduzir Fe3+ para Fe2+ é fundamental na
absorção deste cátion para muitas plantas, já que este necessita ser reduzido antes de entrar
nas células (Chaney et al., 1972). O segundo processo, que ocorre em gramíneas como
cevada, milho e aveia, envolve a extrusão de sideróforos pelas raízes. Após estes sideróforos
serem liberados, estes formam complexos com o Fe3+, os quais são transportados para o
interior das células das raízes, não ocorrendo redução para Fe2+ (Figura 3B) (Epstein &
Bloom, 2004).
ATP
Partícula
H+ ADP do solo sideróforo
Fe3+ - sideróforo
NAD+
Fe2+
Exterior Interior Exterior Interior
Membrana Membrana
Plasmática Plasmática
No espaço livre aparente esse elemento necessita estar presente na forma iônica ou
como quelato. Segundo Römheld & Marschner (1983), o Fe3+ quelato é reduzido de forma
ocorrer na forma não quelatizada, embora seu transporte seja controlado por citrato. Tanto a
absorção quanto o transporte do Fe em plantas são afetados por fatores da planta (processos
hémicas com ligação Fe-S como ferredoxina e enzimas redutase, nitrogenase e sulfato
redutase.
porfirínica que atua na fotossíntese e na redução dos nitratos. Outras enzimas que contêm Fe,
mas nas que não atuam como óxido-redutor, são a aconitase e a xantin-oxidase. A fitoferritina
de reserva.
pela planta, já que é a forma de maior mobilidade e disponibilidade para sua incorporação em
baixa mobilidade nos tecidos vegetais. Esta mobilidade é afetada negativamente por vários
100 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. As plantas deficientes
apresentam concentrações foliares menores que 10 mg kg-1 enquanto que acima de 80 mg kg-1
podem-se observar sintomas de toxicidade (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais &
formação de compostos insolúveis. Contudo, uma vez que o Fe é levado a um órgão pelo
ocorrem pela baixa taxa de translocação, que pode provocar acumulação de Fe nas raízes e
folhas velhas, enquanto que nas folhas jovens apresentam deficiências do elemento. Os
necróticas nos bordos do limbo, produzindo-se uma queda precoce das folhas e, em
Normalmente os solos estão bem providos de Fe, contudo podem ocorrer situações de
Em solos ácidos, ricos em fosfatos solúveis, pode ocorrer clorose férrica por precipitação do
que do seu teor absoluto. Também tem sido observada deficiência de Fe em função da ação de
outros elementos metálicos, como o Cu, que pode substituir o Fe nos quelatos do solo,
originando sua imobilização, bem como de Zn e Co, que apresentam efeitos similares, porém
de menos importância.
para a planta, são raros os casos de toxicidade por Fe. Solos com teores de Fe total superiores
a 5% não provocam efeitos tóxicos na maioria dos cultivos. Para o arroz irrigado por
inundação tem-se observado toxicidade de Fe, onde os níveis de Fe ferroso são muito
importantes.
2.3 Manganês
formas encontradas com mais freqüência nos solos, sendo comum a sua ocorrência em
Devido a seus diferentes graus de oxidação (II, III e IV) e à propriedade de passar com
solo. Em valores de pH superior a 5,5 a oxidação por ação biológica em solos bem arejados é
favorecida, contudo, diminui sua disponibilidade. Por outro lado, as formas oxidadas se
facilmente, e que o elemento se oxida com dificuldade em meio ácido, tem-se, nestas
6,5 parecem ser críticos. Valores baixos de pH favorecem a redução, enquanto valores altos
favorecem a oxidação.
O Mn pode ser absorvido pelas plantas como Mn2+. Considera-se que as plantas não
podem absorver o Mn4+, enquanto se desconhece sua capacidade para absorver apreciáveis
proporções de Mn3+, já que este é muito instável. Acredita-se que existe um equilíbrio
responsáveis de sua oxidação entre pH 5,0 e 7,9, enquanto a oxidação não biológica ocorre
similar àquela que ocorre para outros cátions, como o Mg e o Ca. Entretanto, a absorção
passiva deste elemento também pode ocorrer, principalmente quando o metal encontra-se em
O Mn ocorre na seiva das plantas na forma livre Mn2+. Goor, citado por Kabata-
Pendias & Pendias (1985), relata uma concentração menor de Mn em exsudatos do floema do
que em tecidos das folhas, indicando que o pequeno transporte do elemento através do floema
é responsável pela sua baixa concentração em frutos, sementes e órgãos de reserva das raízes.
Heenan & Campbell (1980) relataram que, na condição de bom suprimento de Mn, as
folhas acumulam altas concentrações conforme avança a idade da planta, sendo uma pequena
solúvel no solo, existindo uma relação direta entre o teor solúvel do elemento no solo e a
concentração na planta. Por outro lado, existe uma correlação negativa entre a concentração
de Mn nas plantas e o aumento do pH, e uma correlação positiva com a matéria orgânica.
fotossíntese, sendo responsável pela fotólise da água. O Mn pode atuar no balanço iônico
como um contra-íon reagindo com grupos aniônicos. Grande número de enzimas são ativadas
1991a). Não se conhece ainda o papel que exerce o Mn nas reações de óxido-redução.
500 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. Em muitas plantas, as
peso seco, enquanto concentrações superiores a 700 mg kg-1 são consideradas tóxicas
(Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones Junior, 1996; Furlani, 2004).
folhas jovens como velhas, dependendo das espécies, seguidas de lesões necróticas. As
elemento se encontre presente, geralmente, nas mesmas formas nos dois tipos de solos. No
maioria das plantas cultivadas. Nas condições de solos ricos em húmus, com pH menor ou
igual a 5,5 e com elevadas condições redutoras pode ocorrer acúmulo deste elemento. Isto é
devido ao fato de que em valores baixos de pH, sua forma assimilável (bivalente) é muito
abundante e pode levar a absorção pelas plantas em quantidades superiores às necessárias para
seu desenvolvimento ótimo. O Mn parece ser o único micronutriente que pode acumular-se
nas plantas por absorção excessiva. Os sintomas de toxicidade são mais visíveis em plantas
2.4 Níquel
componente comum de rochas ígneas. Segundo Pais & Jones Junior (1996), os teores no solo
variam entre 1 e 200 mg kg-1. As fontes mais importantes que contém Ni são as pentandlitas
superiores (Brown et al., 1987). Embora existam poucas informações sobre os fatores que
afetam a disponibilidade do Ni, pode-se supor que os fatores que afetam a disponibilidade dos
As plantas o absorvem em forma de cátion divalente (Ni2+), sendo seu teor na solução
do solo muito pequeno, ainda que possa ser mais abundante nos solos onde ocorrem à
presença de serpentinas. Neste caso, pode ocorrer toxicidade do elemento para a maior parte
das espécies, ainda que existam algumas que o toleram bem, já que podem tornar o Ni inativo
O Ni faz parte da metaloenzima urease (que contém dois átomos por molécula), a qual
participa da decomposição da uréia para amônio e dióxido de carbono. Deste modo, este
elemento é importante para as plantas que recebem adubações com uréia ou com seus
do N. Alguns resultados de pesquisa mostram que existem respostas das plantas, como o arroz
e a soja, com a adição de Ni quando se utilizou uréia como fonte de N. Na soja o Ni pode
As concentrações de Ni nas plantas variam entre 0,3 e 3,5 mg kg-1 de massa seca da
1,5 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. Para plantas de cevada,
0,1 µg kg-1 é considerada uma concentração crítica, onde concentrações nos grãos menores
que 100 ng kg-1 reduzem germinação de semente significativamente e menores que 50 ng kg-1
folhas das plantas que contêm níveis tóxicos de uréia apresentam sintomas de necroses,
apresentando concentrações de Ni que variam entre 0,01 e 0,15 µg g-1 grama de peso seco.
2.5 Zinco
litosfera o teor médio é de 8 mg kg-1. O teor de Zn nas rochas ígneas varia entre 40 mg kg-1
(granito) a 130 mg kg-1 (basalto) e nas rochas sedimentares entre 16 mg kg-1 (arenito) a 96 mg
kg-1 (folhelho) (Souza & Ferreira, 1991). Nos solos, os teores de Zn geralmente encontram-se
na faixa de 10 a 300 mg kg-1 de Zn total, o que não se correlaciona com sua disponibilidade
(Lindsay, 1979).
O Zn é encontrado nos solos e nas rochas na forma divalente. Na fração mineral dos
liberam Zn, o qual pode ser adsorvido aos colóides do solo, como um cátion divalente (Zn2+)
mais disponível em solos com pH baixo (solos ácidos) que em solos com pH alto (solos
alcalinos), apresentando sua mínima disponibilidade em pH acima de 7 (Figura 4). A calagem
excessiva pode provocar deficiência de Zn. O carbonato de cálcio também reduz fortemente
sua disponibilidade. Nos solos com pH ácido as deficiências de Zn podem aparecer depois da
aplicação de adubos com fosfatos solúveis, que formam fosfatos de Zn que são muito
insolúveis. Nos solos calcáreos, de alto pH, geralmente ocorrem mais as deficiências de Zn.
descendente no perfil, diferente de outros elementos, devido a capacidade de ser fixado pela
Nos solos agrícolas, o teor total de Zn varia normalmente entre 10-300 mg kg-1,
apresentando teor médio de 50 mg kg-1,.no entanto, o este teor total não serve como índice
40
120
35 y = 155,56 - 13.66**x
110 2
R = 0,97
Zn Mehlich III (mg kg )
-1
30 y = 7277,2e
-1.408**x
Zn CaCl2 (mg kg )
100
-1
2
25 R = 0,99
90
20 80
15 70
10 60
5 50
0 40
3 4 5 6 7 3 4 5 6 7
pH CaCl2 pH CaCl2
Figura 4. Relação entre os teores de Zn em um Neossolo obtidos pelos métodos CaCl2 0,01M
(A) e Mehlich III (B) e o pH do solo (Nogueirol et al., 2004).
No solo, o Zn apresenta-se em três formas principais, que são responsáveis pelo seu
suprimento às plantas:
O Zn é absorvido na forma de Zn2+ tanto por via radicular como por via foliar. Alguns
destas:
crescimento.
deficiência do elemento nas folhas (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones
anuais, ainda que ultimamente sejam encontradas deficiências neste tipo de cultivos, como é o
caso do milho.
num porte em forma de roseta nos cultivos herbáceos, enquanto em outros cultivos se
encurtam os entrenós.
Os sintomas se iniciam sempre nas folhas mais jovens, que apresentam zonas
tamanho das folhas é pequeno, permanecendo sem despregar-se. Nas folhas adultas não se
folhas com elevados conteúdos de Fe, Mn, nitratos e fosfatos, enquanto os conteúdos em
de P induzem a deficiência de Zn. Marschner & Schropp, citados por Mengel & Kirkby
(1987), verificaram que altos níveis de P em videira, cultivada em vasos com solo calcário,
nas folhas novas, bem como redução no crescimento. Em experimentos com solução nutritiva,
conduzidos paralelamente, não foi verificada deficiência de Zn, embora sua concentração nas
folhas de videira tenha sido inferior a das folhas com sintomas de deficiência do experimento
solos ácidos ou em solos cujo material de origem são rochas ricas neste nutriente. Igualmente
pode existir contaminação por Zn por fontes industriais ou por aplicações de resíduos
(o Zn impede a redução do Fe, bem como pode impedir o seu transporte para o interior da
planta).
Sintomas de deficiência de Cu em citros, café e milho.
3.1 Boro
combinado como bórax. O conteúdo total de B nos solos é variável, os teores variam entre 3 e
100 mg kg-1, com valores médios entre 10 a 20 mg kg-1 (Lindsay, 1979). Em general, os solos
de regiões costeiras contêm entre 10 a 50 vezes mais B que os demais solos, o que se deve à
origem marinha .
teor total do nutriente, já que o B disponível representa uma fração muito pequena do B total,
orgânica constitui-se em uma fonte importante de B para planta. A textura do solo também
tem sua influência, já que em solos de textura arenosa o B pode ser facilmente lixiviado,
Em geral, o B solúvel se encontra nas camadas superficiais dos solos bem drenados,
ligado à matéria orgânica, o que, em condições de períodos de seca, pode dificultar a absorção
do B pelas plantas destas camadas superficiais, devido à inibição das raízes. Deve-se
disponibilidade de B.
O B é absorvido pela planta como ácido bórico (B(OH)3) e provavelmente como anion
borato (B(OH)4-) a pH elevados, tanto por via radicular como por via foliar.
Considera-se que o B em solução mova-se até as raízes através do fluxo de massa, até
que ocorra um equilíbrio entre os níveis do nutriente nas raízes e na solução. Devido a esse
movimento passivo, podem ocorrer situações onde quantidades tóxicas são absorvidas pelas
mobilidade muito limitada no floema (Raven, 1980). Acumula-se nas folhas velhas, nas quais
a concentração é maior nas pontas e margens (Jones Jr., 1970). Em geral, a parte aérea das
menores de 15 mg kg-1 (Malavolta, 1980, Malavolta et al., 1989; Pais & Jones Junior, 1996;
Furlani, 2004).
Está comprovado que as plantas jovens absorvem o B com maior intensidade do que
as mais velhas, sendo pequena a mobilidade dos tecidos velhos para os jovens. Pode,
inclusive, existir deficiência de B numa folha enquanto em outra do mesmo ramo o conteúdo
constituinte ou como componente ativo e essencial do substrato onde tem lugar a reação
biológica.
celular. Por outro lado, quando as células atingem a maturidade, estas não são afetadas pela
deficiência deste elemento, pelo que as deficiências se refletem numa destruição dos
meristemas terminais e tubo polínico, ou seja, nas zonas de crescimento, qualquer que seja a
planta.
Tabela 4. Efeito do B na Incorporação de Fosfato em DNA e na Síntese de Proteínas em
Folhas e Raízes de Girassol.
experimentalmente que uma deficiência em B provoca acúmulo de açúcares nos tecidos. Com
relação à formação da parede celular, está comprovado que as plantas com deficiência em B
e pequenas. Podem apresentar clorose ou inclusive uma cor verde mais intenso.
• Plantas deficientes em B apresentam como conseqüência acúmulo de compostos
• Abortamento floral.
• Fendas em ramos, pecíolos e, às vezes nos frutos. Estes apresentam uma formação
irregular (deformação).
polifenoloxidase).
(girassol), o qual foi amplamente utilizado para detectar a disponibilidade deste elemento no
solo.
A toxidez de B é tão grave quanto a sua deficiência, manifestando-se nas folhas por
3.2 Cloro
apresenta grande variabilidade (50 a 3.000 kg ha-1 de Cl-), dependendo dos sais presentes
recebem tratamentos com águas com excesso de sais, estes teores de Cl podem ser muito
A maior parte dos Cl do solo retorna ao mar, arrastados pela água, devido a sua
grande solubilidade e ao fato de que se fixam com facilidade ao complexo coloidal. Uma
pequena parte do Cl pode se tornar insolúvel na forma de cloretos de prata, mercúrio, cobre
ou chumbo.
Geralmente, os teores de Cl nos solos são suficientes para atender as necessidades das
plantas. Em general, seu teor nos solos não é elevado devido a sua grande mobilidade. No
planta. Em solos arenosos, embora exista grande quantidade de Cl, ocorre pouca absorção
deste nutriente pelas plantas, enquanto que em solos argilosos, com baixa porosidade, mesmo
Foi o penúltimo elemento a ser considerado como essencial para a vida das plantas,
(Broyer et al., 1954). Encontra-se sempre em quantidades suficientes já que com as chuvas
pode-se ter contribuição de até 20 kg ha-1 por ano, quantidade suficiente para as necessidades
das plantas.
O Cl é absorvido pelas plantas, tanto pela raiz como por via aérea, na forma de Cl- e
superiores, onde atua na produção do ácido clorídrico necessários para a digestão, estando o
cloreto sódico normalmente incluído em sua dieta para suprir estas necessidades.
Fotosistema II da fotossíntese.
Existem outras funções nas quais também poderia ser essencial: Experimentos
provoca abertura dos estômatos, produzindo as trocas gasosas, e por tanto, para a assimilação
tamanho das folhas, clorose, seguida por um bronzeado, evoluindo para necrose. As raízes se
Contudo, os sintomas de toxidez dependem do grau de tolerância das plantas (as plantas mais
tolerantes são as halófitas, bem como a beterraba, o milho, a cevada, o espinafre ou o tomate).
Os sintomas de toxidez se caracterizam pela redução da largura das folhas, que tendem a
enrolar-se, bem como por amplas necroses que provocam secamento das folhas.
3.3 Molibdênio
secundários;
planta. A maior ou menor disponibilidade está determinada pelo pH do solo e pelo teor de
óxidos de ferro, alumínio e titânio (Figura 6). A presença de matéria orgânica, bem como as
Mo aumenta com o aumento do pH. Desta forma, pode-se explicar o fato de não existir
deficiências deste nutriente em solos básicos, bem como em solos ácidos que receberam
ânion MoO42- é elevada. A fixação do Mo é mais intensa quanto maior for o teor destes
óxidos e quanto menor for o pH. Em relação a matéria orgânica, os resultados são
Mo.
concentração na solução do solo, que pode ser reduzida pelo efeito competitivo do SO42-
(Reisenauer, 1963).
forma com que é translocada na planta ainda não é conhecida. Resultados sugerem que o Mo
se mova no xilema como MoO42-, como Mo-S aminoácido complexo ou como molibdato
massa seca da planta, o que representa, em geral, 40 a 50 g ha-1 para suprir as necessidades da
As concentrações de Mo nas plantas variam entre 0,01 e 500 mg kg-1 de massa seca da
10 mg kg-1 como adequadas para um crescimento normal das plantas. As plantas deficientes
apresentam concentrações foliares entre 0,01 e 0,6 mg kg-1 (Malavolta, 1980, Malavolta et al.,
Grandes quantidades de molibdato podem ser absorvidas pelas plantas sem efeitos
tóxicos. O molibdato é um ácido fraco que pode formar complexos polianiônicos com o
plantas superiores, a qual cataliza a redução do íon nitrato (NO3-) a nitrito (NO2-). A nitrato-
redutase das plantas superiores é encontrada como uma molibdoflavoproteina solúvel, que nas
folhas pode estar associada no envolvimento dos cloroplastos. A enzima oxidada contém
que a falta de Mo tem repercussões similares à falta de nitrogênio (Tabela 5) Ver capítulo 9
neste volume.
Nas raízes com nódulos das plantas fixadoras de nitrogênio, o Mo se encontra quase
deshidrogenase e oxidase), não existem evidências da presença destas enzimas nas plantas
superiores. A enzima nitrogenase é atualmente um constituinte das bactérias simbióticas e
atividade respiratória.
apresentam tamanho mais reduzido, apresentando clorose e mosqueados de cor marrom (em
toda ou parte da folha), surgem zonas necróticas na ponta da folha, que se estendem aos
bordos. Por último, a folha morre, provocando uma queda prematura. A deficiência em Mo
induz a uma concentração anormal de NO3- nas folhas e, portanto, influi no metabolismo do
Os casos de toxicidade por Mo não são muito freqüentes, tendo-se descrito plantas
crescidas em zonas de minas com até 200 mg kg-1 em folha sem sintomas de toxicidade.
Podem surgir casos de toxicidade por Mo no gado por ingerir forragens com alto conteúdo
conta que, por se tratar de um resumo simplificado do texto apresentado neste capítulo, muitas
informações importantes não foram incluídas, de modo que para um melhor entendimento do
tema, deve-se consultar o texto completo, onde são descritos, com mais detalhes, os temas
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Gaspar H. Korndörfer1
1
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Ciências Biomédicas, Departamento de
Agronomia. Av. Amazonas, s/n - Umuarama
38400-902 - Uberlandia, MG - Brasil - Caixa-Postal: 593
E-mail: ghk@triang.com.br
SUMÁRIO
Além dos elementos considerados essenciais para as plantas, existem aqueles que são
benéficos apenas para algumas espécies ou que podem substituir parcialmente os elementos
essenciais. Esses elementos são importantes no desenvolvimento normal das plantas, mas a sua falta
desenvolvimento de certas espécies, como é o caso sódio (Na), o silício (Si) e o cobalto (Co).
absorvido pelas plantas preferencialmente na forma de (H4SiO4) ácido mono silícico. Praticamente
todo o ácido mono silícico em solos de pH ácido encontra-se na forma molecular, isto é, não
dissociada, e têm sua disponibilidade afetada pelo pH, temperatura, teor de matéria orgânica, e
concentração de Si na solução.
Em solos pobres em silício disponível o uso de silicatos geralmente eleva o teor de Si nas
açúcar, sorgo, milheto, aveia, trigo, milho, etc) mas também em espécies não gramíneas (soja,
feijão, alface, pepino, morango, etc). O silício está normalmente associado à resistência das plantas
à fatores bióticos e abióticos tais como ao ataque de pragas e doenças e a resistência ao estresse
hídrico.
Todos estes benefícios levaram o silício a ser incluído na lista de micronutrientes criada a
partir do decreto lei nº 4.954 (que regulamenta a lei 6.894 de 16/01/1980), aprovado em 14 de
janeiro de 2004, que dispõe sobre a produção e comercialização de fertilizantes (Brasil, 2004).
1.2 12.1.1. Silício no solo
sabendo que a maioria dos solos contém consideráveis quantidades de Si, cultivos intensivos podem
pelas plantas, forma essa constituída primordialmente pelo ácido mono silícico (Figura 1); Si
"adsorvido" ou precipitado com óxidos de ferro, alumínio e manganês (Mckeague; Cline, 1963); Si
"biogênica" oriunda da decomposição da matéria orgânica e constituída por formas amorfas (ou
presença de óxidos de Fe e Al. Assim, o ácido silícico pode polimerizar-se, formando o ácido poli
silícico quando a concentração de Si for superior a 56 mg L-1 e o pH da solução próximo da
solução do solo se comporta como um ácido muito fraco, de tal forma que, apenas 0,2% se ioniza
(Figura 3).
Si - Fert.
Si - biogênica Si -Água
(amorfa) irrigação
Solução
do solo
(H4SiO4)
Minerais primários
Polímeros
Óxidos e Hidróxidos Fe e Al
Si - Lixiviado
Figura 2. Dinâmica do silício no solo, principais drenos ganhos (adaptado de Savant; Korndörfer;
Snyder; Datnoff, 1999).
No Brasil, a análise de solo feita em 168 amostras coletadas na região do Triângulo Mineiro
(Figura 4) mostrou que o teor de Si solúvel ou extraído com ácido acético 0,5 mol L-1 é diretamente
proporcional ao teor de argila (Korndörfer; Nolla; Oliveira, 2004). Resultados semelhantes foram
observados para os solos da África do Sul (Meyer; Keeping, 2001). A fração areia, apesar de ser
elemento para as plantas. Além disso, a maior drenagem nesse tipo de solo favorece as perdas do Si
por lixiviação.
40
30
-3
Si, mg dm
20
10
0
0-15% 16-35% 35-60% >60%
Teores de argila
Figura 3. Concentração de Si (ácido acético, 0,5 mol L-1) em solos de diferentes classes texturais
(média de 168 amostras de solo).
geral, podem também reduzir rapidamente o nível de Si no solo, até o ponto em que a reposição
através da adubação seja necessária. Os silicatos, além de corretivos de acidez, são as principais
fontes de silício para a agricultura e sua reação em solos ácidos pode ser sintetizada nas equações 1,
Os silicatos podem ser aplicados ao solo em pó, granulado (ex: silicato de Ca e Mg), ou
ainda na forma líquida (via solo ou via foliar – exemplo: silicato de potássio e sódio). Enquanto os
silicatos em pó são aplicados em área total e incorporados, os silicatos granulados são normalmente
massa (Jones; Handreck, 1967; Dayanadam; Kaufman; Franklin, 1983; Postek, 1981). A absorção
pode ocorrer de forma rápida ou lenta. Gramíneas como o arroz, por exemplo, possuem absorção
rápida, isto é, a absorção do Si ocorre mais rapidamente que a da água, resultando na redução do Si
na solução do solo (Ma; Tamai; Ichii; Wu. 2002; Ma; Mitani; Nagao; Konishi; Tamai; Iwashita;
Yano, 2004.). Já na maioria das eudicotiledôneas esta absorção se dá de forma lenta, ou seja, a taxa
membrana sintetizadas são produzidas a partir de gen especifico para este fim (Ma & Takahashi,
2002). Como evidência do processo rápido de absorção de Si em arroz, na seiva bruta do arroz a
concentração de ácido mono silícico é muitas vezes mais alto que na solução do solo.
Myake e Takahashi (1983) observaram que o modo de translocação do Si foi diferente entre
as espécies. Em tomateiro, por exemplo, o Si foi retido nas raízes, e não se translocou facilmente
para a parte aérea, sendo que o teor, nessa parte da planta, foi de 0,05% a 0,24% de Si, enquanto
que nas raízes foi de 0,32% a 0,59%. Ao contrário, em pepino, os teores de Si encontrados variaram
de 1,67% e 2,86%, na parte aérea e de 0,13% e 0,55% nas raízes (Myake; Takahashi, 1983).
depositado na parede celular na forma de sílica amorfa hidratada ou opala biogênica (SiO2nH20).
Uma vez depositado, o Si torna-se imóvel e não mais se redistribui na planta. Mais de 94% do Si
absorvido pelo trigo foi transportado rapidamente para a parte aérea, concentrando-se nas folhas
mais velhas, (Jarvis, 1987). Segundo os mesmos autores, em plantas de pepino, ao cortar o
para um meio deficiente nesse elemento. Essas plantas mantiveram o Si residual na base dos
tricomas foliares, mas não conseguiram desenvolver a silicificação do tecido injuriado por um
patógeno invasor (Sphaerotheca fuliginea) o que não permitiu à planta resistir ao ataque da doença
solo (Myake; Takahashi, 1983). Plantas consideradas não acumuladoras, como o tomateiro,
absorvem o Si mais lentamente que a absorção da água, aumentando sua concentração no meio
em aliviar a toxidez causada pelo alumínio em raízes de plantas (Galvez; Clark; Gourley;
Maranville, 1987; Hodson; Evans, 1995; Hodson; Sangster, 1999), por exemplo, a toxidez do Al na
cultivar de trigo Espie 66 induzida por 1,5 micromolar de Al na solução foi superada parcialmente
Segundo Pinheiro Filho (1999) a acumulação de Al e Si na parte aérea das plantas são
mutuamente exclusivas, isto é, quando o primeiro elemento é absorvido o segundo deixa de ser. A
tolerância ao alumínio de algumas espécies, entre outros fatores, pode estar associada à maior
envolvidos na interação do Si com o Al ainda são pouco conhecidos, porém, existem estudos com a
como uma das hipóteses, mas também há evidências do Si estimular a produção de compostos
orgânicos exudados pelas raízes (ex: malato) capazes de complexar o alumínio e ainda ser
O Si tem sido considerado como nutriente essencial para certas culturas, principalmente
gramíneas, nas quais, os teores do elemento chegam a ser 10 a 20 vezes maior do que em
funções estruturais e defesa das plantas, isto é, o Si pode afetar a produção vegetal através de várias
ações indiretas tais como: melhor arquitetura das plantas (folhas mais eretas) e assim diminuir o
proteção contra herbívoros, incluindo os insetos fitófagos (Epstein, 1994; Marschner, 1997).
de aumentar o poder oxidante das raízes de arroz; o que favorece a oxidação e deposição de Fe
insolúvel na superfície das raízes, diminuindo a sua absorção e efeito tóxico no caso do cultivo do
arroz inundado.
fluxo de água (transpiração). Sendo assim, os depósitos de Si ocorrem com maior freqüência nas
regiões onde a água é perdida em grande quantidade, ou seja, na epiderme foliar (Dayanadam;
A acumulação de Si junto aos órgãos de transpiração causa redução na perda de água por
diminuir a abertura dos estômatos (Oliveira; Castro, 2002). Nas folhas de arroz, forma-se uma
camada de sílica abaixo da cutícula, a qual, dentre outras funções, também limita a perda de água
(Takahashi, 1995). Segundo Marschner (1997) e Takahashi (1995), o Si acumulado junto aos
estômatos reduz a taxa de transpiração, diminuindo, assim o consumo de água pela planta.
(B)
(A)
Figura 5. (A) - Superfície foliar da Curatella americana obtida com microscopia eletrônica de
varredura mostrando algumas estruturas de acumulação de Si, tricomas (TR) e estômatos
(Et). (B) - Gráfico da análise de micro sonda de Raio-X, feita na extremidade de um
tricoma de braços curtos (Tr), mostrando o alto teor de silício (Si). (Oliveira & Castro,
2002).
resistente à ação de fungos e insetos (Dayanadam; Kaufman; Franklin, 1983) tornando-as menos
No Brasil, aumentos significativos de peso da matéria seca da parte aérea de arroz foram
obtidos com a aplicação de wollastonita (silicato de cálcio). Esses incrementos poderiam ser
explicados pelo efeito do Si em reduzir a severidade da queima das bainhas (Rhizoctonia solani)
presença de lesões reduz a taxa fotossintética. Assim, quanto maiores as lesões ou o seu número,
(RODRIGUES, 2000).
Estudos realizados no sul da Flórida demonstraram que a adubação com silício reduziu a
incidência de brusone de 17 a 31% e a mancha parda de 15 a 32% em relação ao tratamento que não
recebeu silício (Datnoff; Raid; Snyder; Jones, 1991). Esses mesmos autores também observaram
que nos solos com muito baixa disponibilidade de Si houve uma redução de 73 e 86% na incidência
produtividade, com a aplicação de silicato de cálcio. Já no ano de 1988 a redução na incidência das
Estudos mais recentes comprovam que pode haver uma associação positiva no controle de
Datnoff; Jones; Labbé; Benhamou; Menzies; Bélanger, 2004). Fitoalexinas são produtos naturais,
plantas de arroz inoculadas com Magnaporthe grisea produziram mais mamilolactonas A e B junto
aos locais de infecção do que as que não receberam Si (-Si). Segundo Datnoff; Avila, (2005) a
fungo e consequentemente dos sintomas (Figura 6) quando as plantas são tratadas com silício (+Si).
Acredita-se que a maioria das plantas seja capaz de sintetizar fitoalexinas, mas algumas a fazem de
Os resultados obtidos por Carvalho; Moraes; Carvalho, (1999) com dois genótipos de sorgo
foram menos preferidas pelos pulgões e apresentaram cerca de 50% a mais de silício na parte aérea.
(Tabela 1).
Tabela 1. Número total de ninfas de pulgão em plantas tratadas e não tratadas com Si (silicato de
sódio) aplicado via foliar (Fonte: Carvalho; Moraes; Carvalho, 1999).
Número total ninfas (Pulgão)
GENÓTIPO MÉDIA
Com Si Sem Si
BR 303 188,3 243,6 215,9 a
TX 2567 54,7 195,1 124,9 b
MÉDIA 121,5 B 219,3 A
O acúmulo de Si na epiderme, que normalmente deixa as folhas mais dura, também pode
afetar o ataque de pragas (Tabela 2). A incidência da broca do colmo da cana-de-açúcar (Eldana
saccharina e Diatraea Saccharalis) pode ser diminuída com o emprego do silício na adubação
trabalhos (Savant; Korndorfer; Snyder; Datnoff, 1999; Korndörfer; Lepsch, 2001). Korndörfer;
Snyder; Uchoa; Datnoff (2001) trabalhando com arroz inundado durante o período de 1992-1996,
concluíram que houve aumento médio de 1.007 kg ha-1, nas parcelas tratadas (+Si) em relação a
testemunha (-Si).
produção de cana-de-açúcar como mostra a comparação feita com o calcário (Figuras 7). Os efeitos
quando bem nutrida com Si (Faria, 2000) e a melhoria na arquitetura das folhas permitindo maior
eficiência fotossintética.
118
y = -0,4768x 2 + 4,7843x + 104,28
116 R2 = 0,95
-1
Produção de cana, t/ha
114
180 Silicato
112 Calcário
y = -0,2405x2 + 3,0229x + 165,12
R2 = 0,47 110 Silicato
-1
176
Produção de cana, t/ha
108
172 106
Calcário 102
160
0 1 2 3 4 5 6 (b)
-1
Dose Aplicada, t/ha
aumentar a produção de arroz inundado. Santos; Korndörfer; Reis Filho; Pelúzio (2003) estudando a
redução da severidade da brusone nas folhas e aumento de 47% na produção de grãos de arroz
(Tabela 3).
Tabela 3. Doses de silicato e a ocorrência de doenças foliares, de panículas e a produtividade do
arroz irrigado, no Projeto Formoso, Tocantins, safra 1999-2000 (Fonte: adaptado de Santos;
Korndörfer; Reis Filho; Pelúzio, 2003).
Severidade
Incidência
Produção
Dose de silicato Mancha Brusone
Brusone folhas* de grãos
Parda* panículas**
notas de
(kg há-1) (grau) % panículas (kg ha-1)
0a9
1.2.3.1.1.1
47,6 a 5,0 a 4,6 a 2240 b
est.
1000 58,4 a 3,8 ab 4,2 a 2490 b
2000 67,8 a 3,7 ab 4,6 a 2510 b
4000 38,6 a 3,6 ab 4,8 a 3090 a
6000 30,0 a 3,0 b 4,0 a 3290 a
C.V.(%) 29 8 11 3
*(grau das lesões, folha bandeira).
de pepino em solução nutritiva contendo 47 mg L-1 de Si tiveram uma redução na área foliar coberta
por colônias de míldio pulverulento (Bélanger; Bowen; Ehret; Menzie, 1995). Redução na
(Bélanger; Bowen; Ehret; Menzie, 1995). Chérif; Benhamou; Menzies; Bélanger (1992), ao
A aplicação de silicato de potássio (K2SiO3) via foliar em plantas de pepino inoculadas com
normalmente muito baixo, não constituindo problemas para a agricultura, porém nas regiões áridas
e semi-áridas, o Na pode contribuir com 25% ou mais do total de cátions trocáveis e, nestas
condições, as plantas cultivadas poderão apresentar problemas pelo excesso desse elemento
(toxidez).
O excesso de sais de sódio pode afetar as propriedades físicas e químicas do solo, pois ele
aumenta a espessura da dupla camada iônica difusa, proporcionando a expansão das argilas e,
concentração de cátions de sódio adsorvido no complexo trocável, resultando num solo difícil de ser
trabalhado.
A ocorrência de solos salinos e sódicos é comum em áreas onde ocorre baixa precipitação e
alta evaporação. Nestas condições os sais não são lixiviados, acumulando-se em quantidades
prejudiciais ao crescimento e desenvolvimento das plantas, impedindo algumas vezes a atividade
agrícola.
Solos normais submetidos à irrigação mal conduzida com águas salinas podem se tornar
improdutivos devido ao excesso de sais. Mesmo com um bom controle da qualidade da água de
irrigação, o que raramente é feito na prática, é comum o acúmulo de sais no solo (Souza, 1995).
No Brasil, aproximadamente nove milhões de hectares são afetados pela presença de sais,
cobrindo sete Estados. A maior área afetada está localizada no Estado da Bahia (44% do total),
seguido pelo Estado do Ceará, com 25% da área total do país (Gheyi; Fageria, 1997).
plantas
halófitas
vegetais variam de 0,0013 a 3,51% na matéria seca e de 0,016 a 16,78% nas cinzas. As plantas
halófitas são muito ricas em Na, ao contrário plantas como o trigo, milho e girassol possuem muito
similar a do potássio: ativador de uma ampla gama de enzimas; ativador da ATPase (transporte
algumas plantas devido permeabilidade das células aos sais (ex: beterrabas e cenoura); favorece a
solução contendo baixo teor de Na (< 0,1 µM) apresentava sintomas de deficiência tais como
clorose, necrose foliar e redução no crescimento mesmo sob condições de altos níveis de K
(Marschner, 1997). A maioria das plantas halófitas tem desenvolvido adaptações, como suculência,
Para alguns autores, o Na é um micronutriente essencial para plantas C4 e não para as C3,
mas o mecanismo de sua atuação ainda não é bem conhecido. Há indícios de que o Na estaria
Em relação a substituição do K pelo Na, estas espécies de plantas podem ser classificadas
em quatro grupos. No grupo A, além do alto grau de substituição do K+ pelo Na+ um adicional
crescimento é obtido, o qual não seria possível pelo aumento do conteúdo de K nas plantas. No
grupo B, este efeito substitutivo é menor que no grupo A. No grupo C apenas uma pequena
proporção do K pode ser substituído pelo Na sem afetar a produção. No grupo D, nenhuma
É comum ser observada uma lesão causada pelo excesso de Na+ em espécies arbóreas como
o abacate (Persea americana Mill), citrus (Citrus spp.) e em frutas de caroço (Prunus spp.). Após a
absorção pelas raízes, o Na+ é translocado para a parte aérea da planta, causando a queima-das-
folhas dessas espécies. A maioria das espécies frutíferas cultivadas é classificada como sensível aos
irrigação, podendo haver redução de até 50% na produção da cultura quando irrigada com água com
valores acima de 2,4 dS.m-1 de condutividade elétrica (Bernardo, 1996). Por outro lado, existem
plantas como a beterraba forrageira, beterraba, espinafre que mostram efeitos positivos do sódio no
150
G - I
Cre scim en to Re la tiv o, %
100 G - II
G - III
50
G - IV
0
0 100 200 300 400
Na C l, m M
até tolerantes (Maas; Hoffmman, 1977). A tolerância ao estresse salino pode ser função do controle
utilizadas com a finalidade de amenizar os efeitos prejudiciais dos sais. O crescimento de plantas
halófitas é máximo quando os níveis de Na são relativamente elevados. Este comportamento pode
ser explicado apenas pela presença do elemento na nutrição mineral destas espécies (Grupo I).
Apenas poucas espécies são levemente estimuladas pela baixa salinidade (Grupo II) enquanto que a
maioria das espécies possui baixa tolerância (Grupo III), sendo algumas delas severamente afetadas
Streeter, 1991).
porque têm papel fundamental na manutenção da permeabilidade seletiva das membranas, extensão
da parede celular, recuperação do estresse celular e prevenção da absorção do íon sódio em níveis
ocorrer em solos originários de rochas ricas em minerais ferro-magnesianos (Mitchel, 1964). Solos
de alta fertilidade têm, atualmente, apresentado respostas positivas à adição de molibdênio e cobalto
sua translocação ocorre somente após a formação de quelatos com ácidos orgânicos (Malavolta;
Vitti & Oliveira, 1997). A aplicação de Co via foliar indica que o mesmo pode ser razoavelmente
translocado das folhas para outras partes da planta como foi demonstrado para o trevo e a alfafa
nódulos. Baseado na planta como um todo, são as raízes que apresentam as maiores concentrações
de 1:3:25.
estabelecida por Ahmed; Evans (1960). Este trabalho mostrou que a alfafa (Medicago sativa)
cultivada sob condições controladas, não se desenvolveu adequadamente quando o Co deixou se ser
fornecido, porém, o crescimento foi normal quando o Co foi fornecido. O curioso é que ao fornecer
N-NO3- o crescimento da alfafa foi normal, mesmo sem o fornecimento de cobalto (Delwiche;
Johnson & Reisenauer, 1961). Isto pode ser explicado pela interdependência existente entre o
fornecimento de Co, a formação de leghemoglobina e coenzima cobamida (vitamina B12) presente
A coenzima cobamida (vitamina B12 e seus derivados) possui na sua formação o Co3+
a) Metionina: a síntese deste aminoácido (essencial à alimentação humana) pode ser afetada
pela deficiência de Co, o que pode contribuir para redução do tamanho dos nódulos (Tabela 4).
Tabela 4. Efeito do cobalto em algumas características dos nódulos de tremoço azul (Lupinus
angustifolius).
Volume de Teor de METIONINA
COBALTO
NÓDULOS DNA (% do total de N - amino)
--- µ m-3 --- -- g 10-15cel.-1 -- --- % ---
+ 3,19 12,3 1,31
- 2,62 7,8 0,97
Adaptado de Dilworth; Bissseling (1984).
acumulação de N pelas plantas. Assim, plantas que dependem de N2 fixado, cultivadas em solos
Snowball, 1987).
Tabela 5. Efeitos da aplicação de cobalto em amendoim.
Nº de Teor de N
COBALTO Produção de vagens
nódulos/planta (Mat.Seca)
---%--- -- kg ha-1--
Testemunha ( - Co) 91 2,38 1.232
Tratamento Co na semente 150 2,62 1.687
Aplicação Foliar de Co (2x) 123 3,14 1.782
Tratamento semente +
166 3,38 1.844
Aplic.Foliar de Co
Adaptado de Reddy; Raj (1975).
apesar disso existem trabalhos que demonstram seus efeitos no crescimento do trigo. Estas
respostas à aplicação de Co em plantas que não fixam N, são sempre pequenas e provavelmente
variáveis, mas sempre na proporção 10:1. Existem dados contraditórios em relação aos níveis
tóxicos de Co em plantas. Os valores variam de 0,4 mg kg-1 de matéria seca em trevo (Ozanne;
Greenwood; Shaw, 1963) até poucos miligramas por kilograma em feijão e repolho (Bollard, 1983).
O cobalto e o molibdênio quando aplicados individualmente nas sementes ou nas folhas, são
pouco eficientes, mas quando aplicados em conjunto são muito importantes para o aumento da
eficiência do processo de FBN, ou seja, quantidades de N fixado por nódulo, no N total nos grãos e
A adubação com cobalto em plantas ou solos deficientes não apenas aumentam a fixação do
N, mas também contribui para melhor qualidade nutricional das plantas forrageiras. O cobalto é
deficiência de Co em animais manejados sob pastos cultivados em solos pobres nesse elemento. O
nível crítico de Co nas pastagens para ruminantes é de 0,07 mg kg-1 na matéria seca. Este valor é
Resultados experimentais mostram que o tratamento de semente com cobalto é uma prática
leguminosas (Reddy; Raj, 1975 e outros). A uniformidade de distribuição de pequenas doses é uma
das grandes vantagens desse método de aplicação, porém altas concentrações do elemento no
produto final, aliadas à alta acidez (baixo pH), implicam em problemas ainda maiores para FBN
quando esses nutrientes são aplicados nas sementes junto com o inoculante. O contato direto da
bactéria com os sais que contêm Co parece ser um dos fatores limitantes da FBN.
lagartas, nos estádios V4 e V5 da cultura, apresentaram resultados similares aos da aplicação nas
A concentração de Co nos nódulos frescos de plantas deficientes pode variar entre 20 e 170
mg g-1, podendo ser diferente entre uma espécie vegetal e outra (Robson; Dilworth; Chatel, 1979).
A concentração de Co nas sementes de uma mesma espécie também pode variar entre um local e
outro. Em Lupinus angustifolius (tremoço azul) os valores encontrados nas sementes variaram de 6
O tremoço (Lupinus angustifolius) é praticamente mais sensível que o trevo subterrâneo (Trifolium
clorofila (Caíres; Rosolem, 1999) e a produção de soja e amendoim (Galrão, 1991; Caíres;
Rosolem, 2000; Caíres; Rosolem, 1995), possivelmente devido aos altos teores de Co reativo nos
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1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 635
sulfatos e fosfatos.
aumentar, ocorrendo a liberação de formas iônicas à solução do solo (Ritchie, 1995). Portanto,
catiônica, na superfície dos colóides eletronegativos, em substituição aos cátions removidos pela
2001). Todavia, essas baixas concentrações de Al solúvel são tóxicas para a maioria das espécies
vegetais, primariamente por lesar o funcionamento normal das raízes, inibindo o seu
As relações entre, a acidez do solo e a solubilidade do Al, assim como os efeitos tóxicos
do metal sobre as plantas, começaram a ser estudados nas primeiras décadas do século passado
(Hartwell e Pember, 1918; Magistad, 1925). A partir dessa época, foram conduzidas numerosas
pesquisas, em varias partes do mundo, para tentar elucidar os mecanismos responsáveis tanto
diversas espécies cultivadas. Também, foram sendo evidenciadas algumas espécies vegetais que,
2
acumular elevados teores de Al na sua folhagem, sem mostrar qualquer sinal de dano.
bastante limitada (Rengel e Zhang, 2003; Ahn et al., 2004; Ma et al., 2005). Todavia, isso não
Por exemplo, nos últimos anos, uma grande diversidade de resultados, obtidos em estudos
uma característica multigênica complexa, que pode envolver vários mecanismos de tolerância
Clarkson, 1969; Foy, 1974; Klimashevskii e Dedov, 1976; Helyar, 1978; Fageria et al., 1988).
como um tópico tão elusivo em seus aspectos básicos, e as mesmas serão abordadas neste
capítulo. Todavia, dada a extensão desta temática multifacetada, e em atenção aos objetivos
deste volume, o presente capítulo focaliza sobre os fatores químicos que controlam as formas do
toxicológicos e a sintomatologia associada. Também, é feita uma breve incursão nos possíveis
sinalização do estresse e sua expressão gênica, assim como sobre os mecanismos de tolerância
ou resistência, poderão ser encontradas nas referencias citadas, as quais foram selecionadas,
tanto quanto possível, de forma a representar a evolução dos conhecimentos ao longo da última
década, período no qual foram feitos avanços significativos nos conhecimentos sobre biologia
celular e molecular, o que, junto com o refinamento das técnicas analíticas, têm aberto novas
2
3
vastos do que aqueles próprios da agricultura. Assim, o interesse por pesquisas envolvendo o Al
tem aumentado nos anos recentes, em conexão com os efeitos prejudiciais do metal no meio
ambiente e na saúde humana. Exemplos são os estudos sobre ações humanas na acidificação dos
solos, o declínio das florestas, a saúde de peixes em lagos e rios e o papel do Al em desordens
agrícola em solos ácidos (Foy et al., 1978). Em uma escala global, os solos ácidos ocupam uma
inferiores a 5,5 (Eswaran et al., 1997). As áreas de acidez natural dos solos, se concentram em
duas amplas regiões: uma no hemisfério norte, coberta por bosques de coníferas, sob clima
temperado, e uma outra, de distribuição intertropical, coberta por savanas e florestas úmidas
(Von Uexküll e Mutert, 1995). Alem disso, em outras partes do mundo, os níveis de acidez dos
Dentro da faixa intertropical, e de acordo com Sanchez e Salinas (1981), 37 % dos solos
seu uso agrícola por excesso de acidez. No Brasil, a ocorrência de solos com problemas de
3
4
agrícola. Um estudo abrangendo 26 solos de regiões brasileiras, mostrou que 75 % dos valores
de pH da camada superficial variaram entre 3,78 e 5,52 e que o Al3+ foi o cátion trocável
predominante em mais de um terço dos solos com pH inferior a 5,6 (Abreu Jr. et al., 2003).
bases trocáveis da camada arável dos solos. Na agricultura tropical, o seu uso envolve
primariamente a detoxificação do Al, mediante a sua precipitação química como hidróxido (item
4.1), embora, em certas regiões, pelo seu custo, a prática possa resultar economicamente
proibitiva.
preparo do solo e do volume de solo corrigido (Miranda et al., 2005). Por exemplo, no sistema
plantio direto tem sido observado que a aplicação superficial de calcário não corrige total e
al., 2003). A dificuldade na neutralização da acidez subsuperficial tem sido atribuída à lenta
crescimento da parte aérea, assim como para o pleno desenvolvimento da planta, o que resultará
em reduções na produtividade das culturas. Essa limitação adquire ainda maior relevância
durante períodos de deficiência hídrica (Fageria e Zimmermann, 1979), onde a aquisição de água
e nutrientes das camadas mais profundas, pode ser crucial para a sobrevivência das plantas.
uso de sais mais solúveis, como o gesso, tais opções sofrem restrições de ordem técnica ou
4
5
postulam que a seleção de variedades produtivas e tolerantes à toxidez de Al, seja considerada
como um componente de grande importância dentro das estratégias de manejo dos solos ácidos.
químicas distintivas, que compreendem tanto situações de toxidez iônica (excesso de Al, H e às
vezes, Mn) como limitações nutricionais, devidas a deficiências em Ca, Mg e Mo, aliadas a uma
solos com tais propriedades químicas, o crescimento radicular poderá ser afetado por vários
estresses, que podem atuar interativamente. Essa situação já é conhecida há bastante tempo,
radicular de plantas de fumo, em um solo ácido. Resultados similares, já foram obtidos com
isolamento dos efeitos do Al per se, uma vez que a expressão da toxidez sempre aparece
modificada, em uma ou outra direção, por fatores tais como o pH, a composição iônica da
5
6
100
Ca (5,8)
Alongamento radicular
Mg (5,6)
75
(% do máximo)
SC (4,2)
50
25
0
0 24 48 72
Tempo (horas)
Figura 1. Crescimento radicular de plantas de fumo (Nicotiana tabacum) em um solo ácido (pH
4,2) deficiente em Ca (0, 4 cmolc /kg) e com um nível tóxico de Al. Em tal ambiente, as
raízes cessaram o seu crescimento após 24 horas (linha sc, sem calagem). Quando o pH
do solo foi corrigido para 5,6 com MgCO3, o Al foi precipitado, mas o crescimento
deteve-se após 60 horas (linha Mg), devido à manutenção de baixo nível de Ca2+. Só
quando o nível de Ca2+ foi elevado para 4,4 cmolc /kg, pela adição de CaCO3 (linha Ca),
e o Al foi precipitado a pH 5,8, o crescimento radicular progrediu normalmente. Sobre
dados originais de Abruña et al (1970), citados por Sánchez (1976).
controladas das propriedades químicas que ocorrem nos solos com a modificação de seu nível de
de Al, o meio hidropônico oferece obvias vantagens, como o pronto acesso ao sistema radicular,
importante do progresso feito nas últimas décadas, diz respeito à simplificação das soluções
nutritivas empregadas nos estudos, combinada com o uso de programas computacionais para
6
7
estimar as atividades químicas das várias espécies iônicas em solução, assim como as suas
interações. Para melhor compreender as implicações que disso decorrem, torna-se necessário,
solução. A esse respeito seria útil a leitura prévia do capitulo 4, onde são discutidas as bases
de soluções nutritivas .
complexidade da química aquática do metal. De fato, as pesquisas que atentam para a elucidação
dos mecanismos da fitotoxidez do Al, têm sido prejudicadas, em parte, por falta de um melhor
espécie está constituída por só um átomo de Al, é denominada mononuclear (ou monomérica), e
quando contem mais de um átomo, a espécie ou complexo é reconhecido como uma forma
4.1. Efeito do pH. O Al trivalente é um cátion com configuração de gás nobre e alta
densidade de carga, em virtude de seu pequeno raio iônico não hidratado (0,057 nm). Em
solução aquosa, ocupa o centro de um octaedro, em coordenação com seis moléculas de água,
distribuindo, em média, 0,5 unidades de carga positiva para cada vértice. Em pH inferior a 4,0,
7
8
Figura 2. Distribuição das atividades relativas de Al3+ e das espécies mononucleares de Al-OH
em função do pH (a partir de Wright, 1989). Uma solução de AlCl3, ajustada com HCl,
entre pH 3,5 e 5,5, gerará as formas iônicas de Al indicadas na figura. Tal solução se
manterá estável por muitos dias, desde que a concentração de AlCl3 adicionada mantenha
a relação de atividades {Al+3}/{H+ }3 < 108,8, valor limite para o início de reações de
polimerização e/ou precipitação do Al (Kinraide e Parker, 1989).
8
9
É possível observar que qualquer solução contendo Al em forma ativa, sempre terá mais
de uma espécie iônica em solução, e que a variação da atividade de uma das espécies causará co-
variação nas outras, sendo impossível manter constante a distribuição relativa das espécies
iônicas resultantes da hidrólise, sem um rígido controle do pH. Um resultado prático dessa
situação, é que a quando se adicionam doses crescentes de Al a uma solução nutritiva, mantida a
um certo pH fixo, o excesso de hidrólise impõe uma acidificação adicional, em relação à mesma
solução desprovida de Al. Na ausência de perturbação, esse efeito perdura no tempo (Figura 3).
4.3 mmol/L
0,0
4.2 0,37
pH da solução
0,74
4.1 1,11
4.0
3.9
3.8
3.7
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Dias
Figura 3. Variações diárias do pH de uma solução nutritiva, à qual foram adicionados níveis crescentes
de Al (como AlK [SO4]2 .12 H2O) a partir de um valor inicial de 4,0. Modificado de Vicente et
al (1988a) .
aniônicos (além do OH-), através de pareamento iônico e/ou complexação, é um outro fator
relevante, uma vez que o seu efeito é o de reduzir, em média, as cargas das espécies iônicas do
9
10
O Al possui uma alta afinidade por oxi-ánions inorgânicos e orgânicos, com os quais
pode formar uma vasta série de complexos solúveis (Wright, 1989). Nesse caso se encontram
radicais inorgânicos como sulfato, fosfato, silicato e borato, assim como uma grande variedade
de ligantes orgânicos como humatos, fulvatos e ácidos orgânicos simples, entre outros. Isto
significa que outros equilíbrios devem ser considerados, além daqueles próprios da hidrólise
mononuclear. Por exemplo, caso existam radicais sulfato na solução, a soma das espécies
AlSO4 + e Al (SO4)2-.
as suas interações com íons Al tem recebido muita atenção. Os mecanismos da interação Al-P na
espaço livre intercelular (Foy et al.,1978; Arruda et al., 1984; Fageria et al.,1989; Vázquez et al.,
1999).
íons metálicos, tanto em tecidos animais como vegetais (Hodson e Evans, 1995; Mitani e Ma,
2005). Admite-se que uma parte do efeito benéfico do Si, sobre a toxidez do Al, possa ser o
como Al [O Si (OH)3 ]2+, a valores de pH acima de 4,5 (Hodson e Evans, 1995; Corrales et al.,
O Flúor (F), elemento pertencente ao grupo dos halógenos, é muito reativo, sendo capaz
de formar fluoretos de alta estabilidade, da forma geral AlFx (onde x = 1 - 6). Níveis elevados
de fluoretos (F-) na solução de solos ácidos podem ser devidos à composição do material
10
11
4.3. Efeito da força iônica. De acordo com os princípios termodinâmicos que regem as
atividades iônicas em soluções aquosas, é de se esperar que uma redução da força iônica total, a
que, na situação inversa, aconteça uma redução, aumentando assim a defasagem entre a
atividade real do íon e a sua concentração nominal. Pavan e Bingham (1982) estudaram o efeito
da diluição de uma solução de Hoagland e Arnon, sobre a atividade das espécies de Al presentes
no meio hidropônico. Para uma dada concentração de Al total adicionado, quando a solução foi
diluída a um centésimo da sua força iônica original, o coeficiente de atividade da espécie Al3+
efeito da diluição é então, o de reduzir a concentração efetiva dos contra-ions responsáveis pela
com auxilio de um programa computacional chamado GEOCHEM, do qual têm sido geradas
sucessivas versões (Parker et al., 1995, e Capítulo 4). Esse e outros programas similares, usados
notório progresso na compreensão das propriedades das soluções nutritivas, permitindo estimar
o real efeito das atividades das espécies monoméricas do Al nelas presentes, um aspecto
determinação direta. Todavia, como toda ferramenta, apresenta as suas limitações, especialmente
quando é utilizado na especiação de meios mais complexos que o das soluções nutritivas. Isto
11
12
acontece porque nem sempre as constantes de equilíbrio computadas correspondem às que estão
operando nos sistemas reais: por exemplo, formas amorfas dos oxi-hidróxidos de Al presentes
no solo, podem ser cerca de cem vezes mais solúveis que a correspondente forma cristalina.
Nesse caso, a qualidade dos resultados obtidos dependerá diretamente da verossimilidade dos
estimativas das atividades químicas do Al3+, e seus complexos, no ambiente iônico prevalecente
exudados xilemáticos (Kinraide, 1991; Archambault et al., 1996; Taylor et al., 2000; Barceló e
Poschenreider, 2002). Nesse caso, além das incertezas em algumas constantes de equilíbrio, está
o fato de se tratar de ambientes onde circulam fluxos de íons (incluindo prótons) e outros
aspectos, tem se tornado um hábito entre muitos pesquisadores indicar, junto com as
químicas da espécie Al3+. Este procedimento é importante, tendo em vista que parte da
variabilidade dos resultados experimentais pode ser atribuída a diferenças nas concentrações de
Al e de cátions divalentes empregadas, assim como a ocorrência (ou não) de fenômenos como à
polinuclear.
O processo de nucleação surge quando da condensação dos octaedros de Al, que passam
a compartilhar dois OH- numa aresta em comum. Esse processo não origina apenas polímeros
12
13
lineares, uma vez que cada aresta livre de um octaedro pode ser compartilhada por outro
estrutura mais não aumentam a sua carga positiva na mesma proporção, como se pode verificar
na formação de Al (OH)3 (s), cuja síntese requer uma relação de atividades {Al+3}/{H+ }3 = 10 8,1
Um problema que sempre ronda as soluções experimentais nas quais são adicionadas
agrega de forma inesperada, então as atividades das espécies monoméricas sofrerão uma redução
não prevista, devido à precipitação de Al polinuclear, e a solução como tal perderá parte da sua
tempo de exposição, poderá resultar em teores de Al radicular muito elevados. Tal situação pode
envolvidos.
A figura 4 mostra um exemplo onde o ambiente nutricional das plantas pode favorecer o
acúmulo de Al polimérico. Quarenta e oito horas após a troca da solução nutritiva, as plantas de
braquiária, sob nutrição nítrica, elevaram o pH do meio de crescimento, sendo que, na presença
Com efeito, observa-se que, 48 horas após a troca da solução nutritiva, as plantas, sob nutrição
13
14
tal processo de alcalinização. Essas plantas foram, portanto, submetidas a variações cíclicas do
pH, muito favoráveis à polimerização irreversível do Al. Em contraste, sob nutrição amoniacal,
a solução experimentou uma acidificação mais ou menos uniforme, tendo o Al, aparentemente,
crescimento, as plantas cultivadas com N -nítrico, mostraram teores de Al nas suas raízes, seis
vezes maiores do que aquelas cultivadas com N- amoniacal, não obstante os maiores valores de
7 Brachiaria decumbens
1a. se mana
6 2da.se mana
pH da solução
5
N- NO3-
3
1a. se mana
N-NH4+
2da.se mana
2
0.0 1.5 3.0 4.5 6.0
Al adicionado (mg/L)
14
15
do Al não decorre diretamente da sua concentração solúvel total, senão da atividade das suas
espécies iônicas na interfase raiz-solução. Por outro lado, cada espécie, individualmente, pode
toxidez das diversas espécies tem sido uma outra área de estudo aberta a controvérsias (Taylor
et al., 2000).
resultantes de hidrólise mononuclear (Figura 2), em plântulas de trigo. Para tal, utilizaram um
fixa de Al foi combinada com níveis de pH decrescentes, a partir de 5,0. Foi observado que,
posteriores com alface, nabo e leguminosas, levaram à conclusão de que as espécies iônicas
complexadas com OH¯ eram as mais tóxicas para essas dicotiledôneas (Kinraide e Parker,
1990). Nesses estudos utilizaram-se soluções onde a atividade do Al3+ ficou constante, enquanto
entre 4,5 e 5,0. Em tais soluções, a taxa de alongamento radicular da espécie estudada declinava
outros ensaios, a atividade de Al (OH)2+ foi mantida constante, enquanto a de Al3+ foi
aumentada, por meio da redução do pH. Nesse caso, o alongamento radicular ou se mostrou
atividade do H+, o que reduz a densidade de cargas negativas na superfície da parede celular
(item 4.6), bloqueando o acesso dos íons Al3+ a tais sítios eletronegativos. Vários autores
sugeriram que essa forma de atenuação da toxidez, pode conduzir a uma redução no acúmulo de
15
16
celular diminui, e dessa forma, ao aumentar o pH, o grau de toxidez aumenta, dando a impressão
de as formas iônicas Al-OH serem mais fitotóxicas do que a forma trivalente livre, um
durante os primeiros minutos ou horas após a exposição das plantas ao Al, em resposta a baixas
organismo por pequenas exposições a agentes que seriam prejudiciais ou tóxicos a níveis altos
que induzem tal efeito são consideradas sub-tóxicas (por estarem abaixo do limiar de
toxicidade). Os efeitos de hormese se manifestam naqueles genótipos que são sensíveis a níveis
sobre as áreas sensíveis, supostamente localizadas no continuum formado pela parede celular,
membrana plasmática e citoesqueleto cortical das células do ápice radicular (Balŭska et al.,
2003). Tal situação, obviamente, não opera nas soluções desprovidas de Al, onde os efeitos
plantas utilizadas como controles. Todavia, é possível encontrar grandes diferenças nos limites
dados para os efeitos estimulantes ou inibitórios do Al, em conseqüência de fatores como força
160 140
A B
to radicular relativo (%)
Bico Ganga
ngamento Relativo (%)
80
100
60
17
Figura 5. Crescimento radicular de cultivares de arroz (Oryza sativa L.) de terras altas, em
soluções às quais adicionou-se AlCl3 em concentrações mili ou micromolares. (A)
Comprimento máximo das raízes, relativo ao das plantas controle, de três cultivares, após
21 dias de crescimento. [Al] : 0 – 2,22; [Ca2+] : 1,0; [Mg2+] : 1,65 mmol/ L,
respectivamente. pH 4 ± 0,2. Adaptado de Fageria e Zimmermann (1979). (B) Taxa de
alongamento radicular, em relação ao das plantas controle,das cultivares Comum Branco
e IAC 899, após 48 horas de crescimento. [Al] : 0 - 80; [Ca2+ ]: 100 µmol /L,
respectivamente. pH 4,0 ± 0,01. Adaptado de Vasconcelos et al. (2002a).
A figura 5A, mostra que a exposição dos genótipos ao menor nível de Al adicionado à
solução nutritiva (10 mg/ L, ou 370 µmol/L ) foi bastante tóxica para a variedade local Batatais,
crescimento das raízes, como em IAC 5544. Na figura 5B, o efeito estimulante ou inibitório de
uma baixa concentração de Al se repete, desta vez com a variedade local Comum Branco, em
relação à cultivar IAC 899, tida como um padrão de sensibilidade (Furlani e Hanna, 1984).
observadas muitas vezes, em diversas espécies vegetais, entre outras, em cultivares de trigo
(Kinraide, 1993), milho (Barceló e Poschenraider, 2002) assim como num estudo com plantas de
17
18
pepino, onde a estimulação do comprimento radicular, a pH 4,0, ocorreu apenas no nível de 1,0
µmol Al/L (Pereira et al., 2005). Em todos esses estudos, os autores atribuíram os efeitos de
das espécies iônicas mononucleares de Al em solução, espera-se que o poder fitotóxico de uma
solução contendo Al seja maximizado a valores de pH 4,0 ou inferiores (Figura 2). Todavia,
excetuando-se algumas espécies, a maioria das plantas cultivadas não tolera níveis tão altos
de acidez, de forma que as suas respostas ao Al devem ser testadas a valores pH maiores que
4,0, onde o Al3+, mesmo com a sua atividade mais reduzida, pode ainda causar sérias lesões nos
Sendo a toxidez de Al3+ um caso particular da toxidez dos íons trivalentes para o
crescimento vegetal, é de se esperar também que a redução da sua valência, via atividade de
ligantes, implique na sua detoxificação, mesmo que parcial. De fato, é o que acontece: além da
limitada toxicidade das formas Al-OH, a pesquisa mostrou que as formas complexadas com o
Com respeito aos complexos formados com fluoretos, a situação é diferente, já que para
algumas formas, como AlF2+ e AlF2+ tem havido demonstração de sua toxidez em plantas.
AlF4-) foram tóxicos para plântulas de milho, por reduzir o seu crescimento radicular e inibir
efeitos tóxicos das formas monoméricas, uma vez que o aumento da valência positiva do
18
19
sumamente tóxica, denominada “triskaidekaaluminio” ou Al13, por causa de sua formula global:
(AlO4Al12(OH)24(H2O)12) 7+ que agrega 13 Al para uma carga policatiônica líquida de +7. Por
exemplo, foi demonstrado que cultivares de trigo com níveis diferenciados de sensibilidade ao
al., 1989). De forma similar, Comin et al. (1999) verificaram uma inversão nas tolerâncias
relativas de dois híbridos simples de milho: o C525M, tolerante ao Al monomérico, foi mais
ao Al3+, tanto em solução nutritiva como no campo (Llugany et al., 1995; Pintro et al, 1995).
Todavia não se clarificou se o Al13 ocorre naturalmente nos solos, ou se é formado, sob
condições apropriadas, no espaço livre radicular. Por outro lado, os desenhos experimentais
atuais, com a sua ênfase em soluções salinas diluídas e baixas concentrações de Al (item. 4.8),
cátions divalentes, são aquelas com o Ca2+ e o Mg2+. A pesquisa atual está revelando um
panorama muito mais complexo do suposto poucos anos atrás, dados os importantes papeis que
radicular (Koyama et al., 2001, e Figura 1). Isto porque na parede celular, os íons Ca2+
(fase gel), estabelecendo pontes iônicas entre os grupos carboxila (COO-) não esterificados, das
cadeias poligalacturônicas adjacentes (ver capítulo 5). Portanto, o deslocamento do Ca2+ ligado
19
20
denominadas WAK (de “wall- associated kinase”), muito abundantes em plantas, atuam na
conexão entre a parede celular e a membrana plasmática. WAK1, uma das cinco isoformas
horas, resultou, por um lado, em inibição do crescimento radicular, e por outro, em uma
rápida indução de WAKs, um tipo de resposta cujo significado funcional ainda não foi
resolvido, embora seja significativo que estudos usando plantas transgênicas tenham revelado a
suposto que uma razão primária da ação fitotóxica do Al poderia implicar no deslocamento de
íons Ca2+ de sítios críticos no apoplasto (Rengel, 1992; Ryan et al., 1994, 1997). Essa idéia, é a
chamada “hipótese do deslocamento”, segundo a qual um cátion é tóxico porque desloca Ca2+ da
superfície celular (Kinraide, 1998), induzindo portanto uma situação de deficiência do cátion
deslocado. É conhecido que os sintomas de toxidez severa de Al são similares aos induzidos
pela deficiência de Ca2+, e que podem ser revertidos ou mitigados pela elevação da atividade do
íon Ca2+ no meio radicular (Foy, 1988; Rengel, 1992). No que diz respeito ao Al, não existem
20
21
dúvidas de que, sendo um muito forte competidor por sítios de ligação eletrostática, o Al3+ se
liga às pectinas muito mais fortemente do que o Ca2+, chegando a deslocar, no caso da alga
Chara corallina, até 99,99 % do cálcio ligado à parede celular (Taylor et al., 2000).
1997), que apresentaram evidências de que o efeito amenizador não era exclusividade do Ca2+,
podendo também ser obtido pela adição de quantidades apropriadas de cátions monovalentes.
absorção de Ca2+. Portanto, o bloqueio, pelo Al, de canais permeáveis ao Ca2+, situados na
membrana plasmática, embora se manifeste muito rapidamente, não parece ser a razão causal da
inibição do alongamento celular. Isto sem prejuízo de que, uma inibição prolongada da absorção
de Ca2+ em raízes expostas ao Al, possa vir a causar uma séria perturbação à nutrição cálcica da
filamentos de actina) via as conexões estabelecidas pelas WAKs e outras proteínas com funções
similares no continuum parede celular-MP- citoesqueleto (Horst et al., 1999; Sivaguru et al.,
1999, 2003).
iônico através delas. Em relação aos estudos envolvendo o Al, é necessário considerar duas
“potencial zeta” (ΨZ), que representa um valor aproximado do potencial elétrico da superfície
externa da membrana plasmática (Kinraide et al., 1998b). Nessa superfície existe uma certa
21
22
(capítulo 5). Associada a essa superfície eletronegativa, há uma camada difusa de cátions, de
forma similar ao que acontece nos colóides do complexo sortivo do solo. Nos dois casos, é
Se cátions Al3+ estão presentes entre os solutos iônicos em contato com a MP, eles agirão
seletivamente e com alta eficiência de ligação: a sua afinidade relativa por fosfatidilcolina é
560 vezes maior que a do Ca2+ (Rengel, 1992). Todavia, a chance desse tipo de ligação guarda
relação com a magnitude do valor da densidade de carga existente na superfície (σ, expressa em
Coulomb/ m2 ): se for alta (ΨZ com maior valor negativo), a ligação é favorecida, se ha redução
trigo favorece esse ponto de vista (Kinraide et al., 1998b; Ahn et al., 2004): o valor de ΨZ ,
estimado em vesículas de MP, isoladas de células radiculares, foi quase 30 % mais negativo
numa cultivar sensível do que em outra tolerante, e em conseqüência, a primeira atraiu mais
mais negativo (-18 mV) do que a linha tolerante ET-8 (-15 mV), mas evidenciaram uma
Al durante 10 minutos. Essa maior depolarização, na linhagem sensível, deve refletir uma maior
sensibilidade entre essas linhas, se expressam por menor inibição do crescimento radicular, e
menor acumulação apical de Al na linha tolerante, em relação à sensível (Ahn et al., 2004).
22
23
Uma forma de reduzir a negatividade de ΨZ, e por essa via decrescer a atividade de
aí que se mostra a efetividade dos íons divalentes, especificamente do Ca2+ e Mg2+. Esses
cátions, além de contribuírem para o aumento da força iônica, estabelecem, dentro da faixa
milimolar, uma forte competição com o Al3+ pelos sítios eletronegativos existentes, de forma
que um aumento da sua atividade, implica numa menor ligação do Al3+ , tanto na superfície da
MP, como na parede celular (Kinraide, 1993, 1998a). Efeito similar foi comentado no item
anterior, em relação ao H+ .
por vias outras que não os mecanismos eletrostáticos (previstos pelo modelo de Gouy-Chapman-
Stern), ou, no caso do Ca2+, na restauração de um certo nível de suficiência para o crescimento
Tan et al (1992) observaram, em genótipos de sorgo, que o Mg2+ foi muito mais eficiente
do que o Ca2+ na prevenção ou atenuação da injúria causada pelo Al ao crescimento das raízes.
Da mesma forma, em uma série de experimentos com cultivares de soja, Silva et al. (2001a,
2001b) mostraram que, dentro da faixa micromolar, o Mg2+ foi cem vezes mais efetivo na
milimolar, foi similar. Os efeitos benéficos do Mg2+ sobre o alongamento radicular, não
sugeriram a possibilidade que o Mg2+ estimulasse eventos conducentes a uma mais eficiente
detoxificação do Al, tal como a exudação de ácido cítrico (Silva et al., 2001c).
e vegetais no solo, uma ampla variedade de compostos orgânicos é liberada ou sintetizada pelos
Al são o dos materiais húmicos complexos, de alto peso molecular (ácidos húmicos e fúlvicos),
23
24
e o representado por compostos bioquímicos de baixo peso molecular, como ácidos orgânicos,
fenóis, ácidos fenólicos e sideróforos (Haynes e Mokolobate, 2001). Ambos os grupos podem
complexado, perde a sua toxicidade para as plantas (Kinraide, 1991). As espécies amorfas de Al
complexado com humatos e fulvatos, devido ao seu grande tamanho, não podem permear os
Os efeitos benéficos dos ácidos orgânicos de baixo peso molecular têm sido
demonstrados tanto em solos ácidos como em solução nutritiva (Hue et al., 1986), havendo,
entretanto, diferenças entre eles, quanto a sua efetividade. Tais diferenças resultam de suas
configurações estruturais: os mais efetivos têm dois pares de grupos funcionais OH/ COOH
ligados a dois carbonos adjacentes (caso dos ácidos cítrico e tartárico) ou dois grupos COOH
estruturas cíclicas estáveis com o Al (Hue et al., 1986). Na figura 6 se mostra um exemplo de
detoxificação, pela adição de ácido cítrico, de uma solução contendo plântulas de arroz
expostas ao Al.
24
25
100
80 Caiapó
CRR (%)
60
40
20
0
0 100 200
Ácido cítrico (µ
µ M)
Figura 6. Efeito da adição de ácido cítrico sobe o Comprimento Radicular Relativo de plântulas
de arroz de terra firme, cv. Caiapó. As plantas foram cultivadas em tubos, contendo
CaCl2 100 µmol L-1 (controle) ou CaCl2 + AlCl3 40 µmol L-1 + ácido cítrico, em pH
4,1, durante cinco dias. Ao final do período, as raízes foram digitalizadas em scanner e
sua área e comprimento totais determinados com auxilio de um programa de análise de
imagens. Dados não publicados de M.V. Antunes e R. Rossiello.
rizosférico pode acontecer via exudação radicular de ácidos orgânicos (Miyazawa et al., 1992;
Jones, 1998; Ma et al., 2001; Silva et al, 2002; Zonta et al, 2003). Tal fenômeno, evidenciado,
até agora, em raízes de trigo, milho, cevada, feijão, soja e alfafa, entre outras, é considerado
um dos principais mecanismos pelos quais as plantas podem tolerar ou resistir a níveis
canais aniônicos (ver Capítulo 5), localizados na membrana plasmática de células da região
apical das raízes. Tais canais, que têm permeabilidade para malato, no caso do trigo (Kochian,
1995; Zhang et al., 2001) ou citrato, em cultivares tolerantes de milho (Kollmeier et al., 2001;
Piñeros et al., 2002), são ativados especificamente por meio do Al3+ extracelular, por
25
26
acúmulo e efluxo radicular de ácidos orgânicos, têm sido focalizados em numerosas pesquisas
nos últimos anos, como evidenciam as revisões preparadas por Ryan et al. (2001); Barceló e
4.8. O uso de soluções salinas simples. Como previamente mencionado, nas soluções
nutritivas com elevada força iônica, a fitotoxicidade potencial do Al encontra-se atenuada, não
somente pelo efeito da alta força iônica per se,mas também pelas interações físico-químicas que
de sintomas de toxidez nas plantas (Figura 5 A), resultando em uma progressiva acumulação de
formas trocáveis e não trocáveis de Al no apoplasto dos tecidos apicais das raízes (item 5.5) as
quais podem ter pouca ou nenhuma relação com os mecanismos indutores da toxidez.
quimicamente mais simples, formadas pela dissolução de cloretos de Ca e de Al, em meio ácido
(tal como as usadas nas figuras 2, 5b e 6), as quais minimizam os problemas relacionados com
a precipitação e polimerização do Al, devido à ausência de outros ligantes que não o OH-.
Também por essa razão, tais soluções permitem uma computação mais precisa da especiação do
Al, e o nível de fitotoxidez da espécie Al3+ pode ser facilmente regulado, através de variações no
pH ou na concentração de Ca2+. Uma vantagem adicional é que tais soluções simulam, de forma
Esse tipo de solução salina, uma vez que desprovida dos nutrientes essenciais (exceto
cálcio), é próprio para estudos de curta duração (minutos a horas de exposição), que geralmente
26
27
utilizam plântulas com poucos dias de germinação, com reservas seminais suficientes para
Nos últimos anos, estudos relativos aos mecanismos de resposta vegetal a estresses
comprovaram que os agentes estressantes são percebidos de forma diferenciada pelos sistemas
de sinalização das plantas,de acordo com a intensidade da sua ação (Kawasaki et al., 2001;
Pastori e Foyer, 2002). Isto significa que os roteiros de transdução assim como os seus
estresse de Al a situação deve ser similar, uma vez que o tempo de exposição e a atividade
do Al3+ interagem tanto na manifestação dos sintomas de toxidez quanto na expressão dos
al., 2004). Todavia, e muito embora estudos recentes mostrem que certas interações do Al
com componentes das rotas na transdução de sinais possam estar relacionadas à toxidez do Al
ao nível celular, há que se reconhecer que muitos aspectos ainda permanecem como hipóteses
de trabalho.
Em contraste com esse caráter ncipiente dos estudos relativos às diversas etapas da
percepção e transdução dos sinais do Al, existe vasta documentação relativa à descrição das
radicular e os seus reflexos na planta inteira. Na última década, e a favor de avanços no campo
27
28
pesquisas têm aumentado em muito a sua capacidade de resolução, revelando novos aspectos
devemos esquecer que eles resultam, na sua essência, da ligação do Al com substâncias
possui uma forte afinidade por compostos doadores de oxigênio, o que inclui uma longa lista de
ligantes, desde moléculas estruturalmente simples, como os fosfatos inorgânicos, até algumas
bastante complexas, como antocianinas e outros flavonoides (Tolrà et al., 2005). Isto significa
simplásmico. Como a cinética de ocupação desses sítios por parte do Al é diferenciada, isso
primária ou secundária.
Dentro da ampla variedade de reações induzidas pelo Al nas plantas, nós selecionamos
três que, pela sua universalidade e precocidade de expressão, se supõe que estejam relacionadas
direta ou indiretamente com os mecanismos causais da toxidez. Assim, nas próximas seções
5.1. Sintomas visuais. Como as raízes são os primeiros órgãos a entrar em contato com
crescimento das raízes que, como tal, é um fenômeno muito rápido: nos genótipos mais
28
29
sensíveis, a redução do alongamento das raízes acontece entre trinta minutos e duas horas após
milho, de forma continua, com uma alta resolução (1 µm). Análises de vídeo-imagens também
severidade do estresse. Se este for suficientemente severo, poderá levar à morte as células da
pode ocorrer o aparecimento de áreas manchadas de cor marrom castanho, pouco atrás da região
meristemática, assim como na epiderme das regiões novas ou das mais velhas. Tais manchas
são indicativas do aparecimento de substâncias polifenólicas (Richards et al., 1998; Nagy et al.,
2004), as quais contribuem através de sua oxidação, para o aumento das chamadas espécies
membranas celulares (Cakmak e Horst 1991; Peixoto et al., 1999). Várias comunicações
recentes têm confirmado que o estresse de Al pode induzir a produção de espécies reativas ao
oxigênio e ativar enzimas oxidativas em células animais e vegetais (Yamamoto et al., 2002;
Boscolo et al., 2003; Guo et al., 2004), sugerindo que o estresse oxidativo é possivelmente um
Com o passar dos dias, a exposição continua ao Al, produz alterações morfológicas
características: as raízes engrossam e tornam-se curtas, com aspecto quebradiço (Furlani e Clark,
1981), desenvolvendo uma coloração castanha, principalmente na região apical (Figuras 7). O Al
laterais, as quais tendem a iniciar mas próximas do ápice da raiz principal (Foy et al., 1978;
Pavan e Bingham 1982; Costa de Macedo et al., 1997) conduzindo portanto, a sistemas
29
30
radiculares com menor área e volume radicular (Foy et al., 1978; e Figura 8) . Da mesma forma,
irreversível. Por exemplo, Wheeler e Follet (1991) observaram que as raízes principais de
30
31
nutritiva. Após um período inibitório inicial de 24 horas, essas raízes reiniciaram o seu
crescimento, e dois dias após, o crescimento das raízes laterais também foi restabelecido . Em
trigo (Parker, 1995) e milho (Barceló e Poschenrieder, 2002) também há relatos deste padrão de
comportamento, segundo o qual, certas cultivares, após experimentar uma redução inicial em
de toxidez manifestam-se dias ou semanas apos a exposição inicial ao Al, com a propagação dos
efeitos à parte aérea das plantas. Na parte aérea, os sintomas resultantes da toxidez não são
claramente identificáveis, e as injúrias provocadas pelo Al podem ser confundidas com aquelas
do crescimento, folhas pequenas e verdes- escuras, com maturidade tardia e ramos com
com o enrolamento de folhas jovens ou malformações e colapso de pecíolos. Também tem sido
sintomas de toxidez por manganês ou mesmo de deficiência hídrica (Foy, 1974; Foy et al., 1978
A grande maioria das espécies vegetais estudadas, em geral culturas anuais de interesse
econômico, não acumula, na parte aérea, quantidades significativas de Al. Por essa razão, é
improvável que atributos como o peso ou a área da massa foliar, o número de ramos, perfilhos
ou altura, sejam afetados diretamente pela presença do metal nos seus tecidos. Portanto, se
31
32
realizados quase quatro décadas atrás Fleming e Foy (1968) concluíram, que a tolerância
varietal dependia de três fatores: habilidade das raízes para continuar a divisão e o alongamento
meristemáticas aptas a desenvolverem novos tecidos após o estresse. Eles perceberam que o
efeito tóxico era localizado, e que as diferenças varietais resultaram de uma série de eventos que
divisão celular, tal como fizera Clarkson (1965) previamente, pesquisando raízes de alho.
Embora esses trabalhos contivessem tão claras sugestões, foram necessárias mais duas
percepção do sinal seria feita pelas células periféricas da coifa (CPC, Figura 9B), ao serem
danificadas pelo Al, iniciando assim uma cascata de transdução (amplificação) do sinal, que
chegaria até a população de células em mitose em torno do centro quiescente (CQ, Figura 9B),
milho, pelo Al, requer a exposição específica dos primeiros 10-15 mm da raiz, a partir do seu
ápice. Pequenos blocos de agar, contendo Al, foram colocados sobre segmentos específicos da
raiz, permitindo assim determinar que os primeiros 2-3 mm (região da coifa e do meristema
radicular, Figura 9 A), eram críticos para a percepção e expressão da toxidez. Em um outro
experimento, a região da coifa foi removida, e mesmo assim, a inibição do alongamento celular
32
33
foi mantida, sugerindo que a coifa não estava envolvida na percepção do sinal de Al. Este último
resultado foi confirmado em trabalhos posteriores com milho (Piñeros et al., 2002).
Por alguma razão, a raiz primária do milho (e mais recentemente, a de Arabidopsis), tem
sido estudada com muito maior detalhamento que a de outras espécies (Luxová, 1992; Ishikawa
e Evans, 1993; Baluska et al., 2001; Barlow, 2003). Ishikawa e Evans (1993) propuseram a
subdivisão da região apical da raiz primária de milho, em cinco zonas: a coifa, o meristema
apical (ZM), a zona distal de alongamento (ZDA), a zona central de alongamento (ZCA) e a
zona de maturação (Figura 9A). Tais zonas se superpõem parcialmente nos primeiros 7 mm do
extremo apical onde inicia-se a zona de cessação de crescimento celular (Luxová, 1992). A zona
distal de alongamento ou zona de transição (ZT), é uma região de crescimento celular não
descrita previamente, que começa imediatamente após terem cessado as divisões mitóticas e que
prévio de Ryan et al. (1993), visando aumentar a resolução espacial da zona de máxima
Para tal, aplicaram 90 µM Al, a pH 4,3, de forma localizada, em segmentos intactos de raízes de
milho, com 1,0 mm de extensão, a partir do ápice. Eles observaram que a inibição radicular
começou após uma hora de exposição somente quando o Al foi aplicado aos três milímetros
segmento inicial (0-1 mm), correspondente à zona meristemática o efeito foi significativamente
menor enquanto, que a aplicação à zona de alongamento adjacente (2-3 mm) não provocou
efeito inibitório.
secretadas pelas células da coifa (Bennet e Breen, 1991) , as quais formam uma bainha (BM,
Figura 9B) , com um forte poder ligante do Al (Archambault et al., 1996) protegendo então o
33
34
não é imediatamente compreensível. Uma explicação foi dada por Balŭska et al. (2001). Esses
comportamento citológico e fisiológico de acordo à posição que ocupam (Figura 9A, células
representadas por símbolo retangular), e que a arquitetura específica das células na ZT contribui
34
35
35
36
desmontar fusos mitóticos, as células da ZT, são caracterizadas por corpos celulares com um
núcleo centrado, que contém, na sua superfície centros organizativos de microtúbulos, que o
conectam à membrana plasmática (Figura 9A ). Já nas células situadas dentro da zona central
microtúbulos das células da zona de transição transportariam sinais entre a periferia celular e o
núcleo de forma muito mais eficiente que no caso das células da zona de alongamento. Esta
poderia ser uma explicação para o fato de que quando o Al foi aplicado de forma localizada à
zona de alongamento (ZA), não houve efeito sobre a taxa de alongamento radicular.
de alongamento da região apical como um todo, que é determinada pelas taxas de alongamento
dentro da ZCA. Todavia, é notável que o Al aplicado à ZT, inibisse o alongamento celular na
ZA, mesmo quando essa região ainda não estava em contato com o Al. Tal resultado sugeriu a
alongamento.
al. (2000), confirmaram a maior sensibilidade da ZT em relação à ZA, e observaram que havia
uma estreita relação entre o nível de inibição na zona de transição, e os teores de Al e calose
significativamente o transporte basipetal de auxina (do ápice para a base da raiz), aplicada
externamente, diretamente sobre a ZM ou sobre a ZCA. Esse resultado sugeriu que auxina
acúmulo do hormônio nas células centrais da coifa (columela da coifa, CC, Figura 9 B,
36
37
superior), de onde é redirecionada para as células laterais. Como se pode apreciar na Figura 9B
alongamento, o que permite que as células corticais da ZDA recebam a auxina, via um
transportador aniônico específico. Uma vez no ZDA, a auxina é transportada até a zona de
alongamento principal, onde exerce o seu efeito estimulante sobre a extensibilidade da parede
celular, primariamente via ativação de H+- ATPases da membrana plasmática, conforme foi
etapas desse processo, (Ishikawa e Evans, 1993; Horst et al, 1999; Kollmeier et al, 2000) , mas,
permanece desconhecido.
A discussão precedente mostra então que, por mais precocemente que se manifeste, a
crescimento radicular é um processo dinâmico e complexo, que, pela sua natureza , depende de
uma extensa rede de processos bioquímicos e fisiológicos que podem ser bloqueados
previamente à inibição da extensibilidade celular (Rengel e Zhang, 2003). Embora seja claro que
alternativas que tem merecido maior atenção, como é o caso das propriedades visco-elástica da
parede celular (Ma et al., 2004) a despolarização da membrana plasmática (item 4.6), associada
à redução da atividade da H+-ATPase nessa membrana (Ramos, 2003); os aumentos nos teores
e Zhang, 2003).
inibe primariamente o crescimento, na região apical das raízes. Por essa razão, a magnitude da
inibição é usada como uma medida da toxidez do Al, e assim, os primeiros resultados
37
38
apresentados nas pesquisas, quase sempre mostram aos efeitos do Al sobre o alongamento
radicular. E nesse ponto se evidencia uma outra dificuldade, que é a falta de padronização na
expressão dos resultados, o que, aliado ao uso de condições experimentais diferentes entre os
Vamos supor o experimento mais simples possível, onde plântulas com 4-5 dias de
idade, são selecionadas por uniformidade, através da medição do comprimento da raiz seminal
mais longa. Essas plântulas podem passar (ou não) por um breve período de aclimatação, onde o
plântulas são transplantadas a um meio contendo uma solução de CaCl2 com ou sem adição de
concentrações variáveis de AlCl3 (“x”) , sendo o pH ajustado ao valor pré-fixado com HCl. Por
todos os tratamentos são registrados com régua milimetrada. Nesta fase teremos então, dois
solução-teste sem Al .
as plantas são transferidas para outra solução livre de Al, e o seu comprimento radicular é
sem Al.
38
39
A partir dessas medições, o alongamento radicular pode ser expresso de várias formas.
não pelos valores iniciais (ou seja: Cf - Ci, ou apenas Cf). Com mais freqüência, se expressa o
comprimento final das raízes sob Al (+ Al), como percentagem do comprimento nas raízes
controle (Al 0), obtendo-se o Comprimento Radicular Relativo (veja Figuras 5 A e 6) ou seja:
C f + Al
CRR = × 100 ..........................(1)
C f Al
0
Se o intuito for realizar uma análise das taxas do crescimento radicular, a subtração do
valor inicial está implícita no cálculo da taxa de alongamento (TA), dada pela expressão:
(C f Alx,0 − C i Alx,0 )
TA = .................................(2)
Tf − T 0
onde Tf - To representa o intervalo de tempo desde o início dos tratamentos com AlCl3,
e a TA fica expressa em mm/ hora. Os valores absolutos das taxas de elongação dos controles
podem ser comparados diretamente com as dos tratamentos, como no exemplo mostrado na
39
40
1.00
controle
Al (100µ
µ M)
Taxa de Alongamento
0.75
(mm h-1 )
0.50
0.25
0.00
100 200 500
2+
Ca em solução (µ
µ M)
Figura 10. Taxa de alongamento da raiz seminal de plântulas da cultivar de arroz de terra firme
Caiapó, em resposta a níveis de Ca2+ na solução, na presença ou não de 100 µM Al, a
pH 4,01 ± 0,01. F.T.Ramos e R. Rossiello, dados não publicados.
Quando as TA dos tratamentos são expressas como percentagem das taxas dos
respectivos controles, surge uma nova taxa, que podemos chamar Taxa de Alongamento
(C f Al x − C i Al x )
TAR = × 100 ................(3)
(C f Al 0 − C i Al 0 )
Kinraide (1991, 1998), apontou dois aspectos que limitam, de certa forma, a
40
41
exclusivamente, à fitotoxidez do Al, é discutível. Essa assunção pode induzir a erro quando a
Com efeito, embora a solução controle e aquela +Al possam estar em um pH igualmente
baixo, o nível de estresse de H+ será maior nas plantas controle, porque nas expostas ao metal, o
Um outro aspecto é que o uso de valores de Ci na equação (3), tanto para os tratamentos
Al “x” como para Al0 não é estritamente correto e deveria ser substituído pelo valor do
comprimento associado ao nível de Al que cause a máxima toxidez, isto é, que sature o
alongamento se estabiliza, a um valor baixo, mas que não é zero. Então, para levar em conta esse
pequeno crescimento inicial, prévio ao efeito inibitório total do Al, a equação (3) assume uma
(C − C )
TAR = Al x Al sat
× 100
(C Al 0 − C Alsat
) ................................(4)
exemplo, uma raiz seminal de IAC 899, severamente estressada por exposição a 160 µM de Al
por 48 horas, alonga um máximo de 3 mm, o que significa uma EER de apenas de 6-7%, de
radicular por ocasião da transferência das plantas às soluções-teste. Por outro lado, é verdade
41
42
que se o valor C Al x também é baixo, a não consideração de C Al sat pode levar a estimativas
exageradas de TAR.
de Al na solução, dentro de uma ampla faixa, as curvas resultantes mostram uma tendência de
caimento, que pode ser expressa pela equação de Weibull (Kinraide e Parker, 1989). Essa
100
TAR = ................(5)
exp(a {Al 3+ }) b
caráter sigmoidal para valores de b >1. Na simulação apresentada na figura 11, foram usados os
[Al3+] ou à {Al3+} que diminui a TAR máxima à metade (50 %) de seu máximo , que é
simbolizada como [Al3+]50. Essa concentração pode ser estimada por interpolação, ou de forma
1b
{Al3+ }50 = ln 2 ...................(6)
a
42
43
100
100
TAR (%)=
80 exp (0,04 Al)1,5
TAR (%)
60
[{Al3+}]50 = 19,6 µ M
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Concentração/Atividade Al (µ
µ M)
bactérias, e de outros estresses ambientais, tais como altas temperaturas (Sivaguru et al., 2000).
Nas respostas patogênicas, a deposição de calose nos poros das placas crivadas, serve como uma
planta.
É notável que uma das respostas mais sensíveis à toxidez de Al nas raízes, seja a rápida
síntese desse polissacarídeo, indicando que a percepção que tem a planta da injúria do Al
43
44
Al, é induzida primariamente nas células apicais do cortex periférico (Sivaguru and Horst,
1998) precedendo ao seu efeito inibitório sobre a divisão celular (Kochian, 1995). O acúmulo
de calose está sob controle das atividades das enzimas 1-3 - β-glucano-sintetase, responsável
pela sua síntese, e 1,3- β-glucanase, responsável pela sua degradação, e que se localizam na
membrana plasmática, mas especificamente ao redor dos plasmodesmas (Sivagur et al., 2000).
indicativo do grau de injúria, pondendo inclusive, ser utilizada como um parâmetro de seleção,
conforme sugerido por Wissemeier et al. (1992). De acordo com estudos de Sivaguru e Horst
(1998), a máxima acumulação de calose acontece nas células periféricas da zona distal de
região apical.
contíguas, impedindo o transporte de água e solutos por via simplástica (Sivaguru et al., 2000).
É possível portanto que várias das manifestações de toxidez na parte aérea, e particularmente a
interferência com as relações hídricas celulares sejam reflexo desse bloqueio dos plasmodesmas
pela calose. Dada a magnitude desses efeitos secundários, tem havido interesse em se determinar
pesquisas mais recentes, indicam que a indução da síntese de calose depende tanto da
do Ca2+ intracelular (Sivaguru et al., 2005). Esses resultados reforçam a impressão de muitos
pesquisadores, no sentido de que o aumento temporário no teor de Ca2+ intracelular pode ter um
44
45
toxidez, é aquela que se processa no extremo apical das raízes, região na qual se situam as
células mais sensíveis, conforme visto acima. Os experimentos já citados, de Sivaguru e Horst
(1998) e Kollmeier et al. (2000), com uma cultivar sensível de milho, mostraram que na zona de
máxima sensibilidade (zona de transição, Figura 9 A), se verificou o maior acúmulo de Al, além
do que, a indução da síntese de calose foi maximizada. Experimentação com outras espécies
(anuais ou perenes), têm mostrado consistentemente a mesma associação entre alta concentração
de Al, inibição do crescimento radicular e acúmulo de calose, nos primeiros 5-10 mm a partir
do extremo apical, dependendo da espécie. Já acima dessa região, tal relação se expressa de
maneira muito menos evidente ou simplesmente não existe. Isto é lógico, já que uma
amostragem fora da região apical, supõe a inclusão de células maduras, que não contribuem para
o efeito inibitório do Al, uma vez que já cessaram o seu crescimento, mantendo, todavia, a sua
capacidade de absorver Al. Samuels et al. (1997) observaram que o teor de Al, na zona entre 0 e
2 mm da raiz primária de uma cultivar tolerante de trigo, foi sempre inferior em comparação
com os das regiões mais maduras, ao passo que, numa cultivar sensível, o padrão foi exatamente
o inverso, com um maior acúmulo na zona apical. Esse resultado é típico, e ilustra o fato de que
o qual não pode ser trocado. Já o Al trocável é aquele que se encontra adsorvido pela matriz
polianiônica do apoplasma, e como tal pode ser substituído por processos de troca iônica (Tice
et al., 1992).
45
46
A distinção entre Al trocável e não trocável no apoplasma tem sido feita sobre uma base
mostraram, em cultivares de trigo, que nos casos onde as concentrações aplicadas foram baixas
(50 µM), na forma de AlCl3 e durante curtos período de tempo (3 horas), o Al da parede celular
pode ser trocado de forma muito eficiente pelo ácido cítrico, definindo portanto uma condição
concentração (200 µM), e uma período de exposição mais longo (48 horas), facilitaram o
aumento da fração não trocável do Al. Esta última situação parece ser a regra geral, mas a sua
interpretação é ambígua: pode tanto significar que uma parte do Al acumulado no apoplasma
membrana plasmática e passou a residir intracelularmente. Ainda essa abordagem não elimina a
mucigel. O Al ligado à mucilagem apical é muito resistente à troca, o que biologicamente, faz
sentido, uma vez que a bainha de mucigel em torno da coifa e do meristema apical (Figura B) é
ao debate (Eticha et al., 2005). As controvérsias neste campo derivam , em parte, de dois
27
fatores, estreitamente relacionados: por um lado, a indisponibilidade de um isótopo de Al,
al., 1996), e por outro, a falta de técnicas analíticas com suficiente sensibilidade para detectar os
muito baixos níveis de Al associados aos compartimentos sub-celulares (Taylor et al., 2000). A
do Al ao nível da membrana, não se tendo certeza, ainda hoje, atualmente sob qual ou quais
formas o Al é transportado, assim como o mecanismo específico pelo qual consegue atravessar
membranas biológicas.
46
47
num dos grandes desafios enfrentados pelos pesquisadores na última década. Nesse período
laser. Os resultados tem sido surpreendentes, uma vez que contrariamente ao suposto, em várias
espécies, e mesmo em genótipos tolerantes, verificou-se que os íons Al3+ ascenderam ao interior
celular muito rapidamente, em 30 minutos ou menos, após o início da exposição ao Al. Uma
demonstração direta e inequívoca dessa situação foi fornecida por Taylor et al. (2000), que
usaram o isótopo raro 26Al e espectrometria de massa com acelerador, para estudar o transporte
Nesses organismos foi possível aos pesquisadores isolar, por meio de técnicas microcirúgicas, as
plasmática ocorreu dentro de um período de minutos de exposição e foi reforçado pelo seu
Chega-se então aos dias de hoje, a uma situação aparentemente paradoxal, mas
certamente não estranha no mundo da ciência: aqueles pesquisadores que sustentam que a
natureza das lesões causadas pelo Al é primariamente apoplásmica, não podem deixar de
componentes citossólicos, também não podem descartar um papel para o apoplasma, tendo em
vista que em todos os casos até aqui estudados, o Al acumula-se em altíssimas proporções nesse
compartimento.
47
48
uso de corantes químicos. Para que o processo de coloração usando corantes funcione
eficientemente o Al tem que possuir alta afinidade por substâncias liberadas pela planta, como o
complexo fenólico morin que e um flavanoide ou alizarim uma antraquinona (Tolrà et al.,2005).
A substância morin por exemplo, tem sido muito usado para visualizar Al no apoplasma de
raízes utilizando o microscópio fluorescente. O uso de corantes tem sido reportado desde que
Link em 1807, citado por Conn´s (1977), usou sulfato de ferro para colorir tanino em tecido de
plantas. Para colorir o Al a hematoxilina tem sido largamente utilizada para a visualização deste
elemento na superfície de raízes e para análise da ultraestrutura de tecidos (McLean & Gilbert,
1927; Wright & Donahue 1953, Pole et al., 1978; Kinraide, 1988, Massot et al., 1991). Outros
corantes como quinalizarina (Kalovoulos & Misopolinos, 1983), azul de metileno (Wagatsuma
et al., 1988), aluminon (Matsumoto & Morimura, 1980), azul de molibdênio que colore Al e P
(McCormick & Borden, 1972; McCormick & Borden, 1974), violeta de pirocatecol - PVC
crescimento em ambientes ácidos. A seleção de plantas que possam crescer nestes ambientes
tem sido uma das principais linhas de pesquisa de programas de melhoramento vegetal de
plantas cultivadas. Entretanto, a seleção de uma cultivar mais tolerante ao alumínio ainda não é
fácil devido à confiança nos métodos de seleção (Foy, 1988). Seleção de plantas tolerantes ao
mais confiável de seleção, principalmente do ponto de vista agronômico (Foy, 1988; Garland-
Campbell & Carter 1990). Entretanto do ponto de vista prático, a concentração de alumínio no
substrato de crescimento pode não ser uniforme e ocorrer interação com outros fatores do
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49
linhagens, o que dificulta a seleção de cultivares tolerantes (Polle et al., 1978; Massot et al.,
1991). Uma das alternativas encontrada para a seleção de grandes populações de plantas foi o
uso de corantes com a finalidade de colorir as raízes, crescidas em meio hidropônico. Para que o
confiável, varias fatores devem ser levados em consideração, entre eles a razão H+/OH- no meio
resistência ocorre pela acumulação na parte aérea (Jacob-Neto et al., 1991; Jacob-Neto, 1993;
não tolerante ao alumínio, com a cor azul característica do corante PVC e da coloração menos
intensa da cultivar A222, considerada mais tolerante crescidas por um período de 45 dias em
uma solução nutritiva de meia força iônica e com 30 µM de alumínio. No caso, pode ser
observada uma maior acumulação de Al na superfície das raízes da cultivar mais sensível à
toxidez, o que foi caracterizado como um mecanismo que diferencia tolerância entre cultivares
de feijão (Jacob-Neto, 1993; Kurt, 2006). Quando as plantas foram crescidas em maiores
concentrações de Al na solução (100 µM), não ocorreu distinção de cores entre as raízes das
cultivares que ficaram todas intensamente coloridas como mostrado na figura 12 (b), não
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50
Figura 12- Fotografias de raízes de feijão. (A) cultivares A222 (tolerante ao Al) e C178 (não
tolerante) crescidas em solução nutritiva com Al (30 µM) e coloridas com o corante
PVC. (B) cultivar A222 (tolerante ao Al) crescidas em solução nutritiva com Al (100
µM) e coloridas com o corante PVC.
Na figura 13 pode ser visualizada a diferença de coloração nas raízes de plantas de arroz
corante é o mais utilizado para estudos de alumínio em gramíneas (Polle et al., 1978), embora
também possa ser utilizado em leguminosas (Massot et al., 1991) e outras espécies.
Figura 13. Plantas de arroz crescidas em diferentes concentrações de alumínio e coloridas com
o corante hematoxilina.
Todos os processos relatados neste capítulo sobre o efeito da toxidez de Al ocorrem com
devido à simbiose, são geralmente mais sensíveis à toxidez de alumínio do que quando elas
estão sendo supridas com nitrogênio mineral (Foy, 1988). O alumínio pode reduzir a fixação
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51
processo de fixação biológica de nitrogênio (Foy, 1988; Brady et al., 1990; Jacob-Neto et al.,
Plantas noduladas com o gênero Bradyrhizobium são geralmente mais tolerantes à acidez
do que aquelas noduladas com outros gêneros. No caso de microorganismo, estes devem possuir
certa tolerância a baixos valores de pH antes de serem tolerantes ao alumínio (Flis et al., 1993).
Além do efeito direto do Al nas raízes o elemento pode danificar o perfeito funcionamento dos
nódulos. Isto pode ser demonstrado em estudos de ultraestrutura do nódulo. São escassos na
raízes das leguminosas fixando nitrogênio atmosférico. Jacob-Neto (1993) observou em seus
estudos sobre o efeito de alumínio na morfologia interna de raízes e nódulos de plantas de soja
(Glycine max ( L.) Merrill), que a cultivar tolerante IAC-9 apresentava mesmo sem adição de Al,
nas células corticais externas a camada de esclereides do nódulo, depósitos de material amorfo,
que era mais denso à passagem dos elétrons (Figura 14 A). Já na cultivar UFV-1 considerada
mais susceptível ao Al, não foi encontrado esta estrutura amorfa que foi sugerida no trabalho
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Neste mesmo trabalho o autor também estudou cultivares contrastantes de feijão quanto à
nódulos de plantas sadias de feijão (Phaseolus Vulgaris L.), crescidas sem adição de alumínio na
mesmo possui uma aparência normal, com núcleo e os bacteróides dentro das células, sem
ruptura de membranas, presença das células intersticiais com amido e ausência de cordões de
infecção nas células infectadas completamente preenchidas com bacteróides, que é um sinal de
estresse. Já com e com as plantas crescidas com 300 µM de Al na solução ocorreram profundas
da região infectada de nódulo de plantas de feijão cultivar A222. (a) crescida na ausência da Al. (b)
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6. Considerações Finais
vegetais à toxidez de alumínio. Embora essas espécies sejam, quase na sua totalidade, de plantas
anuais de grande importância econômica e alimentar, elas representam, uma amostra muito
limitada da variabilidade natural que as plantas apresentam nas suas respostas ao estresse de
alumínio. Assim, não poderíamos deixar de alertar ao leitor sobre as pesquisas envolvendo
aspectos surpreendentes, não somente pelo fato das árvores serem, em geral, consideravelmente
mais tolerantes do que outras espécies, como pastagens e cereais (Nagy et al., 2004), mas
também pela forma particular de coexistência com o Al, que algumas delas tem desenvolvido. É
o caso de dicotiledôneas arbustivas nativas do Cerrado, representantes dos gêneros Qualea spp.,
Vochysia spp., Miconia spp. e Psychotria spp., entre outras, as quais se comportam como
presente o lugar que deveriam, mas não deixa de ser surpreendente também, o fato de que a
gramínea Brachiaria decumbens, tão familiar nos cenários da pecuária nacional, pela sua
elevada adaptação a solos ácidos, possui mecanismos de tolerância ao Al que não coincide com
sujeitos a contingenciamentos sem prévio aviso, são quase invitáveis os debates sobre o
interesse econômico que uma determinada área de conhecimento possa ter. No caso da temática
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54
abrangida neste capítulo, nós podemos nos perguntar, como C. D. Foy (1997): qual o valor
econômico de uma planta tolerante ao estresse? Qual o valor econômico de uma espécie ou
num sistema de rotação de culturas? Não é difícil imaginar que espécies assim, resguardadas as
suas características produtivas, devam se comportar de forma eficiente, qualquer que for o
agroecossistema considerado. Para serem assim, essas plantam precisam ter, constitutivamente,
A seleção de plantas que possam crescer nestes ambientes ácidos tem sido uma das
observaram recentemente Barceló e Poschenreider (2002), tais programas vêm recebendo, numa
escala global, montantes crescentes de fundos. Isso se constitui num reconhecimento implícito
da importância das pesquisas orientadas à elucidação dos eventos iniciais da toxidez de Al e dos
genes para tolerância ao Al. Seguramente esta será a via mais promissora no futuro próximo para
pesquisa adicional, posto que o objetivo final é reconciliar geneticamente as estratégias vegetais
Os autores consideram que esta revisão é apenas uma introdução dos conceitos básicos
da importância do alumínio na ciência vegetal, esperando que ela de alguma forma contribua
para a introdução de jovens pesquisadores, que contribuam com novos enfoque para este velho
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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69
CAPÍTULO 16
Fabiana Soares dos Santos1, Nelson Moura Brasil do Amaral Sobrinho1, Nelson Mazur1
SUMÁRIO
1 Introdução....................................................................................................................705
2 Toxicidade de metais pesados em plantas ..................................................................... 706
3 Tolerância de plantas a metais pesados ......................................................................... 707
3.1 Imobilização ...................................................................................................... 708
3.2 Exclusão ............................................................................................................ 709
3.3 Quelação ............................................................................................................ 709
3.3.1 Fitoquelatinas ............................................................................................ 709
3.3.2 Metalotioneínas ......................................................................................... 713
3.3.3 Ácidos orgânicos e Aminoácidos .............................................................. 714
3.4 Compartimentalização....................................................................................... 715
4 Hipertolerância............................................................................................................... 717
5 Conclusões ................................................................................................................... 719
6 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 721
1
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a poluição por metais pesados tem sido considerada um dos mais sérios
não-metais, que possuem densidade atômica maior que 5 g cm-3 e que estão associados à
poluição ambiental e toxicidade aos seres vivos. Alguns metais pesados, incluindo Cu, Zn,
e Mn, são micronutrientes requeridos por uma ampla variedade de processos fisiológicos
(Ver cap. X neste volume). No entanto, podem ser tóxicos em concentrações elevadas.
Além disso, metais pesados como Cd, Pb ou Hg, não possuem nenhuma função conhecida
para as plantas e são altamente tóxicos, devido à sua reatividade com átomos de S e N
Algumas plantas, não somente toleram elevadas concentrações de metais pesados mas
2
hiperacumuladoras de metais pesados, sendo definidas como plantas que podem acumular
mais de 0,1% do seu peso seco em Ni, Co ou Pb, mais de 1% em Zn, e 0,01% do seu peso
Ao contrário dos poluentes orgânicos, os metais pesados não podem ser degradados
plantas hiperacumuladoras.
Diferenças marcantes podem ocorrer entre as espécies, entre variedades de uma mesma
espécie e também nos tecidos da planta. Sendo assim, as plantas apresentam um grau de
susceptibilidade variado aos metais pesados, e respondem a esses efeitos por diferentes
da planta.
Muitos trabalhos têm sido publicados a respeito de danos fisiológicos provocados pelo
excesso de metais em plantas (Peterson, 1971; Foy et al., 1978; Bowen, 1979 citados por
metais:
3
• inativação de enzimas e/ou proteínas funcionais.
Esses danos fisiológicos provocam na planta uma série de distúrbios causando redução
concentrações de metais pesados podem causar danos no tecido das plantas é o estímulo na
produção de radicais livres, levando ao estresse oxidativo (Foyer et al., 1997). Alguns
metais, como Cu, Cd, Zn e Fe podem causar estresse oxidativo pela indução na produção de
O O2 utilizado pelas plantas é pouco reativo devido a estrutura estável dos elétrons na
estresse, entre eles os de metais pesados, podem gerar radicais livres e derivados, como
hidroxila (OH-), ânion superóxido (O2-) e peróxido de hidrogênio (H2O2), que são altamente
Algumas plantas podem acumular metais pesados, dentro ou fora de seus tecidos
Sendo assim, podem ser consideradas reservatórios intermediários através do qual os metais
pesados se movem do solo, água e ar para o homem e animais. As plantas podem ser
4
receptores passivos de metais pesados, mas também podem exercer controle sobre a
estruturas subcelulares.
3.1 Imobilização
extracelulares como mucilagem e calose (Wagner, 1993), evitando a presença de íons livres
uma parte é absorvida pelas células. Uma fração significativa é adsorvida por grupos
carregados negativamente (COO-) na parede celular das raízes (ver capítulo 2 neste
volume). Desse modo, é possível a existência de plantas que acumulam uma significativa
concentração de metal nas raízes, mas expressam uma limitada concentração na parte aérea.
Por exemplo, muitas plantas acumulam Pb nas raízes, mas a sua translocação para a parte
aérea é muito baixa, devido à sua alta afinidade por sítios ligantes na parede celular
5
3.2 Exclusão
Malato, citrato e oxalato tem sido identificados como importantes quelantes secretados
(Matsumoto, 2000).
aumentou os níveis de asparagina em exudados de raízes. No entanto, essa resposta foi mais
3.3 Quelação
metal livre no citossol, limitando a sua reatividade e solubilidade. Nas plantas, as principais
3.3.1 Fitoquelatinas
6
Um dos mecanismos de tolerância a metais pesados em plantas está relacionado com a
síntese de peptídeos tiólicos chamados fitoquelatinas (PC), que formam complexos com
glicina (Gly) com Glu e Cys ligados através de uma γ-carboxilamida. A estrutura das PCs
se forma com um aumento nas repetições do dipeptídeo γ-Glu-Cys seguido por uma Gly
terminal. Tem estrutura geral (γ-Glu-Cys)n-Gly (Figura 1), onde n=2-11, mas geralmente
são mais encontradas variando o n de 2 a 5. PCs tem sido identificadas em uma ampla
transpeptidase, conhecida como fitoquelatina sintase (Grill et al., 1989), que é ativada pela
presença de metais pesados. Segundo Grill et al. (1989), a PC sintase é ativada após alguns
7
sintase foi ativada somente na presença de íons metálicos e o melhor ativador estudado foi
o Cd seguido por Ag, Bi, Pb,Zn, Cu, Hg e Au. Esses metais também induziram a síntese de
e numerosos estudos fisiológicos, bioquímicos e genéticos tem confirmado que o GSH (ou,
em muitos casos, compostos relacionados) é o substrato para a biosíntese das PCs (Rauser,
sintase, apesar de ter um nível de GSH comparável com outras plantas, foi mais sensível
com estrutura (γ-Glu-Cys)n-βAla (Grill et al., 1986), que são formados por homo-glutationa
8
hidroximetil-fitoquelatinas (Klapheck et al., 1994). Esses peptídeos são formados a partir
estáveis com PCs, devido à sua grande afinidade ao enxofre (Zenk, 1996). No entanto, a
síntese de PC não está relacionada somente a esse elemento. Grill et al. (1987) estudando a
Pb2+, Zn2+, Sb3+, Ag+, Hg2+, As5-, Cu+, Sn2+, Au3+, Bi3+. Segundo esses mesmos autores,
rápido aumento nos níveis de PC dentro de 10-15 min, seguido por um aumento na cadeia
com vários peptídeos γ-Glu-Cys (Meuwly et al., 1995). Em raizes de milho, o tripeptídeo
γ-Glu-Cys-Glu foi induzido dentro de 2 horas de exposição ao Cd, seguido pela formação
Morelli & Scarano (2004), estudando os mecanismos de defesa celular da alga marinha
detectado logo após 1 hora de exposição ao metal, sugerindo que esse mecanismo forma a
estar bem documentada, ainda não está clara qual a principal função das PCs em plantas. A
9
3.3.2 Metalotioneínas
Metalotioneínas (MT) são proteínas de baixo peso molecular, não enzimáticas, ricas
Cys são classificadas como MTs classe II e incluem todas as encontradas em plantas,
Apesar das metalotioneínas serem mais comuns em animais, existem 4 tipos de MTs
Várias plantas contêm genes de metalotioneínas, como ervilha (Pisum sativum), soja
(Glycine max), Arabidopsis thaliana, Mimulus guttatus, milho (Zea mays), cevada (Avena
sativa), trigo (Triticum aestivum), Ricinus communis, e Brassica napus, contendo genes
A diversidade de MTs em plantas, sugere que elas podem diferir não somente na
planta.
10
detoxicação de plantas ao Cu. A expressão de MTs Tipo 2 correlaciona com a tolerância ao
população de Silene vulgaris mostrou maior expressão na presença do gene que codifica
MT Tipo 2 (Van Hoof et al., 2001). Além disso, as PCs não conferem tolerância ao Cu em
Arabidopsis, indicando que um outro mecanismo, talvez envolvendo MTs, pode estar
envolvido no processo.
molecular de 4500 a 8000 (chamada MT1 e MT2) foram isoladas (Murphy et al., 1997).
A função das MTs em plantas ainda não é bem compreendida, devido à dificuldade em
entre as Cys na seqüência da proteína. No entanto, várias funções tem sido propostas para
tolerância a metais pesados. Vários genes de MTs de animais têm sido transferidos para
Citrato, malato e oxalato tem sido implicado em vários processos, incluindo tolerância
11
1999). O ácido cítrico é considerado o maior ligante de Cd2+ quando em baixas
(Sagner et al., 1998) e contribui na acumulação e tolerância ao Zn2+ (Godbold et al., 1984).
3.4 Compartimentalização
encontraram o gene hmt1, que codifica a proteína HMT1, capaz de transportar eficazmente
como mecanismo de transporte em células de planta (Salt & Rauser, 1995). No entanto,
12
Novamente em S. pombe mutante JS237, eventos de transdução envolvendo cAMP e
acumulados dentro de vesículas do tonoplasto até 38 vezes mais que na solução externa
quando Cd2+ e S2- são incorporados para produzir complexo HMW, que representa a
de alto peso molecular se dissociam e o Cd pode ser complexado por ácidos orgânicos
vacuolares, como citrato, oxalato e malato (Krotz et al., 1989) e, possivelmente, através de
ao Cd e mostraram que todo o complexo Cd-PC formado foi transportado para o vacúolo.
complexo para o vacúolo onde peptídeos e ácidos orgânicos quelatam o Cd. O GSH foi
observado em folhas e protoplasto, mas não no vacúolo. Com isso, esses autores sugerem
13
A compartimentalização de metais no vacúolo é também parte do mecanismo de
desse elemento da folha no vacúolo (Krämer et al., 2000). Os altos níveis de expressão do
acúmulo de íons metálicos dentro do vacúolo nas folhas (Persans et al., 2001).
Por outro lado, há evidências de que o Cd2+ pode ir diretamente para o vacúolo por
transporte do íon (Rauser, 1995). Uma das vias é a atividade do antiporte Cd2+:2H+
detectada no tonoplasto de células de raiz de aveia (Salt & Wagner, 1993). Foi sugerido
que, molecularmente, o mesmo transporte seria possível via antiporte Cd2+/H+ e via
4 HIPERTOLERÂNCIA
tolerância a elevados níveis de metais pesados, o que faz com que algumas espécies de
pesados. Essas plantas pertencem a uma flora especializada que coloniza solos originários
atividades mineradoras. Essas plantas são selecionadas naturalmente pelo seu alto nível de
Algumas plantas não somente toleram altos níveis de metal, mas também os
14
hiperacumulação a metais pesados (McGrath et al., 2000). O termo hiperacumulador foi
introduzido por Brooks et al. (1977) e originalmente se referiu a plantas que absorviam
altas concentrações de Ni (1000 mg kg-1) em peso seco. Para outros elementos como Zn,
Mn, Pb, o limite de acumulação foi de até 10000 mg kg-1 (1%) e para Cd o nível
plantas que acumulam > 0,1% do seu peso seco com elementos como Ni, Co ou Pb. Para
Zn o limite é > 1% e Cd > 0,01% do seu peso seco. A maioria das plantas
hiperacumuladoras já identificadas são para Ni, Zn, Co, Cu e Se. Também existem
(Baker & Brooks, 1989). São exemplos: Pteris vittata para o arsênio; Aeolanthus
Uncinia leptostachya para o urânio; Thlaspi calaminare para o zinco; Thalspi caerulescens
para Cd e Zn; Brassica juncea para Se; e Alyssum bertolinii para o Ni.
15
Quadro 1. Plantas hiperacumuladoras já identificadas e as famílias onde são
freqüentemente encontradas.
Número de
Elemento Famílias
espécies
Cd 1 Brassicaceae
Co 28 Lamiaceae, Scrophulariaceaea
Cu 37 Cyperaceae, Lamiaceae, Poaceae, Scrophulariaceae
Mn 11 Apocynaceae, Cunoniaceae, Proteaceae
Ni 300 Brassicaceae, Cunoniaceae, Flacourtiaceae, Violaceae, Euphorbiaceae
Se 19 Fabaceae, Brassicaceae
Tl 2 Brassicaceae
Zn 16 Brassicaceae, Violaceae
As 1 Pteridaceae
Fonte: Baker et al., 2000; Ma et al., 2001
As hiperacumuladoras são espécies potenciais para utilização em processos de limpeza
de solos contaminados com metais pesados (fitoextração), por ser uma técnica de baixo
custo e não agressiva ao ambiente. No entanto, esse potencial é limitado por fatores como:
5 CONCLUSÕES
caráter poligênico, onde a tolerância de plantas aos metais pode ser definida como sua
capacidade natural ou artificial, regulada por fatores genéticos e ambientais, para suportar
altos níveis de metais pesados por um longo tempo, sem efeitos detrimentais consideráveis
no seu metabolismo.
16
O uso de modelos para estudar a biossíntese, expressão, regulação e função dos
mecanismos que tem sido identificados em uma ampla variedade de organismos que
Apesar da fitorremediação ainda ser uma tecnologia recente, nos últimos anos, muitas
ainda não está claro como essas informações podem ser usadas eficientemente para
remover metais pesados de solos poluídos. Com isso, são necessários projetos aplicados a
17
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