Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1-Departamento de Ciências dos Alimentos – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – CEP:
90050-170 – Porto Alegre – RS – Brasil, Telefone: +55 (51) 3303-9000 – e-mail: (leticiame@ufcspa.edu.br)
2- Gastronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade do Vale do Rio dos Sinos – CEP: 93022-750 – São
Leopoldo – RS – Brasil, Telefone +55 (51) 3591-1122 – e-mail: (lizianedl@unisinos.br)
3- Gastronomia e Nutrição – Universidade do Vale do Rio dos Sinos – CEP: 93022-750 – São Leopoldo – RS –
Brasil, Telefone +55 (51) 3591-1122 – e-mail: (jpsmart@terra.com.br)
ABSTRACT – Rice's agribusiness generates significant amounts of broken grains, it being classified
as a byproduct, devaluing its potential as a raw material in the food industry. Brazil is among the largest
rice in the world, and also increasingly in the consumer index of saké, a beverage produced by
fermenting rice. The objective of this study was to develop a saké from byproduct, optimizing the
production system by the use of enzymes α-amylase e amyloglucosidase, reducing their preparation
time and improving control of the fermentation step. The drink had alcohol concentration of 11,8G.L.,
graduation less than required by the brazilian legislation to name it a "saké". Sensory analysis showed
market potential (70%). The results of pH, turbidity and total soluble solids indicated great potential
for the proposed enzymatic process, since added commercial value to reuse the agribusiness’ waste and
also decreased the standard time required for preparation of the drink.
1. INTRODUÇÃO
O arroz (Oryza sativa) é considerado um dos cereais mais produzidos e de maior importância
mundial, visto que está incluso na dieta básica de mais da metade da população humana. O Brasil é o
nono maior produtor de arroz do mundo e o primeiro dentre os países não-asiáticos, permanecendo nesta
colocação após aumentar sua produtividade em 4,4% e com redução de área de cultivo (FAO, 2014).
Em escala nacional, o estado do Rio Grande do Sul é destaque na produção deste cereal, sendo
responsável por cerca de 61% do total produzido no país e apenas 12% do total da produção estadual é
para consumo interno sendo o restante comercializado entre os demais estados ou exportado, a cultura
do arroz no estado representa cerca de 2,74% do PIB estadual, totalizando um valor bruto de produção
superior a cinco bilhões de reais (SOSBAI, 2014).
A indústria de beneficiamento de arroz é responsável pelo polimento dos grãos, que através
do atrito remove em proporções variáveis as camadas mais externas do grão, resultando deste processo
subprodutos em forma de grãos quebrados e farelo. A quebra dos grãos pode representar cerca de 14%
em comparação com a quantidade inicial de arroz em casca, ou então, cerca de 17,5% quando comparado
com o arroz polido. Esta quebra é ocasionada por diversas razões, dentre elas, saída do campo com
rachaduras e complicações climáticas, como excesso de chuvas (CASTRO et al., 1999). De acordo com
o Anexo I da Instrução Normativa nº 6 de 2009, arroz quebrado é o pedaço do grão de arroz descascado
e polido que apresentar comprimento inferior a ¾ partes do comprimento mínimo da classe que
predomina e que ficar retido na peneira de furos circulares de 1,60mm de diâmetro (BRASIL, 2009).
Conforme Bortolini (2010), tanto o arroz polido quanto o arroz quebrado apresentam
propriedades nutricionais iguais. Entretanto, o valor dos grãos quebrados representa apenas a quinta
parte daquele obtido na comercialização do grão inteiro, e atualmente, sua aplicação principal é a
alimentação animal. O contínuo aperfeiçoamento das condições higiênicas de recolhimento e
armazenagem de coprodutos para a padronização, normatização e regulamentação das características de
qualidade e identidade comercial, incentiva o aproveitamento para o setor produtivo e o
desenvolvimento de novos produtos (BASSINELLO, 2014).
Saquê é uma tradicional bebida japonesa produzida a partir da fermentação alcoólica do arroz
tipo sakamai, que associa a sacarificação do grão (transformação de amido em açúcar) com uso de um
fungo filamentoso da espécie Aspergillus oryzae e da reação de fermentação dos açúcares em álcool por
meio de estirpes da levedura Saccharomyces cerevisiae, podendo levar até sessenta dias para finalizar o
seu processo produtivo (PEIXOTO, 2006). De acordo com a Portaria nº 64 de 23 de abril de 2008, saquê
será a bebida com graduação alcoólica de catorze a vinte e seis por cento em volume tendo como
ingredientes básicos o mosto de arroz e opcionais o álcool etílico potável de origem agrícola, água,
aromas naturais e açúcar.
O consumo da bebida e o mercado nacional refletiram no crescimento médio de 35% na
importação da bebida para o país (TRADBRAS, 2014).
Este estudo teve como objetivo desenvolver um saquê a partir de grãos quebrados de arroz, a
fim de agregar valor a um resíduo da agroindústria, com o uso de enzimas do tipo α-amilase e
amiloglicosidase (AMG) para otimizar o processo produtivo e reduzir em, pelo menos, 50% o tempo de
produção quando comparado com os métodos tradicionais.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Materiais
Os grãos quebrados de arroz (Oryza sativa L.), matéria-prima base para o estudo, foram obtidos
durante o processo de beneficiamento do arroz branco polido, sendo gentilmente cedidos por uma
Indústria Arrozeira do Rio Grande do Sul através da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural). A enzima α-amilase produzida por Aspergillus oryzae (Fungamyl 800L) 800FAU/g e
amiloglicosidase produzida por Aspergillus niger (AMG 300L) 300AGU/g foram fornecidas pela
Novozymes (Bagsvaerd, Dinamarca). Para o processo fermentativo foi utilizada cepas de
Saccharomyces bayanus, produto adquirido da marca RedStar Lesaffre, visto que esta levedura
apresenta melhor tolerância a graduações alcoólicas mais altas. Para a correção de pH foi utilizado ácido
láctico 80%.
2.2 Pesquisa de mercado
Primeiramente elaborou-se uma pesquisa de mercado, cujo objetivo era conhecer o interesse
do provável consumidor a respeito de um produto alimentício elaborado a partir de um resíduo da
agroindústria, como também o seu apreço pelo saquê. Após a identificação do entrevistado (sexo, idade,
estado civil e renda mensal), o questionário aplicado seguiu o modelo apresentado na Tabela 1.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Composição Centesimal do Arroz Quebrado
O grau de impurezas na amostra de grãos de arroz quebrado foi de 3,58%, correspondendo a
um rendimento de 96,42%. A Tabela 2 apresenta a composição centesimal do arroz quebrado utilizado
para a elaboração do fermentado alcóolico.
O valor da determinação de turbidez foi de 43,2 NTU, indicando que a etapa de centrifugação
foi eficaz para tornar a bebida uma solução homogênea com a mínima quantidade de sólidos em
suspensão. Quanto ao teor alcóolico, obteve-se um resultado de 11,8º G.L. a 20ºC. Conforme o Decreto
nº 6.871, de junho de 2009, saquê é a bebida com graduação alcoólica de quatorze a vinte e seis por
cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela fermentação alcoólica do mosto de arroz,
sacarificado pelo Aspergillus oryzae, ou por suas enzimas, podendo ser adicionada de álcool etílico
potável de origem agrícola e aroma natural. Pela definição encontrada na legislação o produto
desenvolvido no estudo não pode levar o título de saquê, visto que não alcançou a graduação alcoólica
mínima necessária.
4. CONCLUSÕES
A realização do estudo com arroz quebrado e uso de enzimas catalíticas mostraram-se
satisfatórias, visto que o objetivo inicial foi alcançado e o produto final obteve respostas positivas nas
etapas de análise sensorial e físico-químicas. O método utilizado agregou valor comercial ao
reaproveitar um resíduo da agroindústria e também diminuiu o tempo necessário para a produção do
saquê.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AOAC – Association of Official Analytical Chemists. (1985): Official Methods of Analysis. Ed. 14,
Whasington DC.
Bassinello, P. Z.; Boêno, J. A.; Ascheri, D. P. R.; Carvalho, R. N.; Agência de Informação Tecnológica
Embrapa: Qualidade de Grãos. In: SANTOS, A. B. (Ed.). Agência de Informação Tecnológica
Embrapa: Arroz. 2011. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/arroz/arvore/CONT000fok5vmke02wyiv80bhgp5p9zje
7m7.html>
Bortoloni, V. M. S. Determinação da composição centesimal do arroz parboilizado (Oriza sativa) e seu
subproduto. Revista Congrega, URCAMP, Bagé, 2010.
Brasil, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (2009). Aprova o Regulamento Técnico do
Arroz, definindo o seu padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, a
amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem (IT nº 6, de 16 de fevereiro de 2009).
Diário Oficial da República Federativa do Brasil.
Dutcosky, S.D. (1996): Análise sensorial de alimentos. Curitiba: Champagnat, 123p.
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (2014): FAO Statistical Yearbook
2014.
SOSBAI – Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (2014): Arroz Irrigado: Recomendações técnicas
da pesquisa para o Sul do Brasil. In XXX Reunião Técnica Da Cultura do Arroz. Santa Maria (Brasil).
Castro, E. da M. Vieira, N.R. A.; Rabelo, R.R.; Silva, S.A (1999): Qualidade de grãos em arroz. Santo
Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. p. 26-28.
Kodama, K. (1993): The Yeasts: Yeast Technology (eds. A.H. Rose & J.S. Harrison), v. 5, Academic,
London, p. 129-164.
Lutz, I.A. (2008): Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,
ANVISA.
Peixoto, A.M.; Sousa, J.S.I.; Reichardt K.; Filho, J.M. (2006): Enciclopédia Agrícola Brasileira S-Z. v.
6, 632 p. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, p.70-72.