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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE BIODIVERSIDADE, EVOLUÇÃO E MEIO AMBIENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE BIOMAS TROPICAIS

Dissertação de mestrado

Padrões de atividade dos mamíferos da Área de Proteção


Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas, com
ênfase nos catetos Dicotyles tajacu (Linnaeus, 1758)
(Cetartiodactyla,Tayassuidae)

Débora Bohrer dos Santos

Orientador: Cristiano Schetini de Azevedo

Co-orientadora: Maria Rita Silvério Pires

Co-orientador: Arleu Barbosa Viana-Junior

Ouro Preto – MG

2022

1
Padrões de atividade dos mamíferos da Área de Proteção
Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas, com
ênfase nos catetos Dicotyles tajacu (Linnaeus, 1758)
(Cetartiodactyla,Tayassuidae)

Aluna: Débora Bohrer dos Santos

Orientador: Cristiano Schetini de Azevedo

Co-orientadora: Maria Rita Silvério Pires

Co-orientador: Arleu Barbosa Viana-Junior

Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Ecologia de Biomas Tropicais, do
Instituto de Ciências Exatas e
Biológicas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como
parte dos requisitos para obtenção
do título de Mestre em Ecologia.

Ouro Preto

2022

2
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

S237p Santos, Debora Bohrer dos.


SanPadrões de atividade dos mamíferos da Área de Proteção Ambiental
Estadual da Cachoeira das Andorinhas, com ênfase nos catetos Dicotyles
tajacu (Linnaeus, 1758)(Cetartiodactyla,Tayassuidae). [manuscrito] /
Debora Bohrer dos Santos. - 2022.
San62 f.: il.: color., gráf., tab., mapa.

SanOrientador: Prof. Dr. Cristiano Schetini de Azevedo.


SanCoorientadores: Prof. Dr. Arleu Barbosa Viana Junior, Profa. Dra. Maria
Rita Silvério Pires.
SanDissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Ouro
Preto. Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Biomas Tropicais.
SanÁrea de Concentração: Evolução e Funcionamento de Ecossistemas.

San1. Mamíferos. 2. Espécies. 3. Estações do ano. I. Azevedo, Cristiano


Schetini de. II. Junior, Arleu Barbosa Viana. III. Pires, Maria Rita Silvério.
IV. Universidade Federal de Ouro Preto. V. Título.

CDU 574

Bibliotecário(a) Responsável: Luciana De Oliveira - SIAPE: 1.937.800


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

REITORIA

INSTITUTO DE CIENCIAS EXATAS E BIOLOGICAS

PROGRAMA DE POS-GRADUACAO EM ECOLOGIA DE


BIOMAS TROPICAIS

FOLHA DE APROVAÇÃO

 
Débora Bohrer dos Santos
 
Padrões de atividades dos mamíferos do entorno da Floresta Estadual do Uaimií, com ênfase nos catetos Dicotyles tajacu
(Linnaeus, 1758) (Cetartiodactyla, Tayassuidae)
 

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduaçao em Ecologia de Biomas Tropicais da Universidade Federal


de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de  Mestre em Ecologia de Biomas Tropicais

Aprovada em 25 de março  de 2022


 
 
 
 
Membros da banca
 
 
Dr. Cristiano Schetini de Azevedo  - Orientador - Universidade Federal de Ouro Preto  
Dra. Aba Carolina Srbek de Araujo  - Universidade Vila Velha
Dra. Caryne Aparecida de Carvelho Braga  - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
 
 
 
Prof. Dr. Cristiano Schetini de Azevedo, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da
UFOP em 08/08/2022
 
 

Documento assinado eletronicamente por Cristiano Schetini de Azevedo, COORDENADOR(A) DE CURSO DE PÓS-GRADUACÃO
EM ECOLOGIA DE BIOMAS TROPICAIS, em 09/08/2022, às 11:53, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art.
6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site http://sei.ufop.br/sei/controlador_externo.php?


acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 , informando o código verificador 0376747 e o código CRC 8998BDA7.

Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.010599/2022-09 SEI nº 0376747

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35400-000

Telefone: (31)3559-1747   - www.ufop.br


Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus por ter me permitido chegar até aqui, me dando
forças e discernimento para concluir meu trabalho mesmo com todos os empecilhos.

Agradeço à minha família que esteve presente em todos os momentos e sempre


me disse palavras de incentivo em todas as vezes que pensei em desistir. Obrigada, amo
vocês!

Agradeço ao Diego que durante esse tempo ocupou o lugar de namorado, noivo e
agora marido. Mas não posso deixar de falar que também foi meu porto seguro e,
principalmente, meu “saco de pancadas” quando as coisas não davam certo. Obrigada por
tanto, amo você!

Agradeço ao meu orientador Cristiano Schetini de Azevedo que foi pego de


surpresa e mesmo assim não mediu esforços para me orientar, pela paciência nas minhas
enrolações, por me tranquilizar nos momentos de desespero e por me dar todo apoio
possível, sempre trazendo pessoas para somar. Cris, muito obrigada!

Agradeço, do fundo do meu coração, a Deus por ter colocado a Maria Rita no meu
caminho. Você foi a peça mais importante para que eu chegasse até aqui! Lembro que foi
na minha primeira aula de zoologia, com ela, na graduação, que tive a certeza que eu
queria “seguir os passos dela”. Rita, você foi e é uma verdadeira mãe, acompanhou todos
os meus passos dentro e fora da Academia, sempre trazendo palavras amigas e puxando
a orelha quando necessário. Muito obrigada mesmo, seu lugar sempre estará guardado!

Agradeço a todos que passaram em algum momento da minha trajetória, mas vai
um agradecimento especial para as minhas amigas Shay e Gabi, que embarcaram comigo
nessa loucura e passaram por cima dos próprios medos para me ajudar. Se não fossem
elas, eu jamais teria chegado aqui! Obrigada por todo o companheirismo de sempre, por
todas as risadas e por ouvirem todas as minhas lamentações. Sem dúvidas os campos
ficaram menos pesados com vocês. Sentirei muita falta disso e jamais abrirei mão da
amizade de vocês! GRATIDÃO minhas meninas do “team girinos do turo turo”!

Agradeço ao Arleu, que sem nunca ter me visto na vida, topou o convite do
Cristiano para contribuir com seus super poderes no meu trabalho. Você foi essencial!

3
Agradeço até hoje a galera do 14.2. Tivemos uma trajetória linda dentro da UFOP.
Muitos me acompanharam presencialmente até o mestrado e outros à distância, mas o que
construímos juntos foi lindo! Às turmas do BIOMAS, principalmente a 19.2 fica aqui o
meu agradecimento também, pois foi com vocês que vivenciei momentos incríveis.
Nunca achei uma galera tão desesperada quanto a mim. Obrigada pelo conforto de saber
que nunca estive sozinha nessa.

Nada disso teria acontecido se não fosse, principalmente, a UFOP e o Programa


de Pós-graduação em Ecologia de Biomas Tropicais. Obrigada por me permitir vivenciar
tantas coisas boas e conhecer pessoas maravilhosas durante esse tempo.

Agradeço à IDEA WILD pela doação de armadilhas fotográficas, baterias e


cartões de memória. Essa doação permitiu que eu levasse adiante esse projeto, além do
incentivo enorme por aceitarem o meu projeto perante a tantos outros. Obrigada!

Agradeço aos membros da banca, por aceitarem o convite para participar desse
momento crucial na minha formação. Principalmente a Caryne, que acredito não lembrar
mais, mas foi minha professora no ensino médio e foi uma peça fundamental na escolha
da minha profissão. Foi com você que pisei na UFOP e segurei uma serpente pela primeira
vez! Obrigada!

Um agradecimento muito especial para a comunidade de Engenho d’água e sítio,


em especial para Ivair, Lecir, Roberto, Conceição e Vando, por serem pessoas
maravilhosas sempre dispostas a ajudar, sem medir esforços. Também agradeço ao
Helton juntamente com o Creads, por cederem o espaço permitindo a continuidade da
minha pesquisa. Que Deus abençoe a cada um de vocês!

4
Sumário

Lista de figuras ............................................................................................................................ 6


Lista de tabelas .......................................................................................................................... . 7
Lista de material suplementar ................................................................................................... 7
Apresentação ............................................................................................................................... 8
Referências ................................................................................................................................. 11
Resumo .................................................................................................................................. 16
Abstract .................................................................................................................................. 17
Introdução................................................................................................................................. 18
Material e métodos ................................................................................................................... 23
Área de estudo ........................................................................................................................ 23
Coleta de dados ...................................................................................................................... 24
Análise de dados .................................................................................................................... 25
Resultados .................................................................................................................................. 27
Discussão .................................................................................................................................... 40
Conclusão ................................................................................................................................... 47
Referências ................................................................................................................................. 48
Material suplementar................................................................................................................ 60

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Listas de figuras
Figura 1: Localização da área de estudo e dos pontos de instalação das armadilhas
fotográficas;

Figura 2: Espécies de mamíferos da Ordem Carnivora registrados na Área de Proteção


Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas).

Figura 3: Espécies de mamíferos das Ordens Cetartiodactyla, Pilosa, Lagomorpha e


Didelphimorphia, registrados na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das
Andorinhas (APA Andorinhas).

Figura 4: Espécies de mamíferos das Ordens Cingulata e Rodentia, registrados na Área


de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas).

Figura 5: Similaridade de registros de mamíferos entre as oito armadilhas fotográficas


utilizadas na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA
Andorinhas), Município de Ouro Preto.

Figura 6: Variações climáticas da região do estudo entre os meses de setembro de 2020 e


setembro de 2021.

Figura 7: Número total de registros das espécies registradas com maior frequência em
relação aos meses de coleta de dados por meio de armadilhas fotográficas na Área de
Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), no
Município de Ouro Preto.

Figura 8: Padrão de atividade das espécies de mamíferos em relação às variáveis


climáticas temperatura e umidade.

Figura 9: Relação da sobreposição do padrão de atividade diário do cateto comparado


com as variações climáticas (quente/chuvosa e fria/seca) e com a presença dos predadores
Puma Concolor (Puma), Leopardus pardalis (Ocelot), Canis lupus familiaris (Domestic
dog) e Homo sapiens (Human).

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Listas de tabelas

Tabela 1: Relação das espécies de mamíferos registradas na Área de Proteção Ambiental


Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), Ouro Preto, MG, entre
setembro de 2020 e setembro de 2021.

Tabela 2: Estado de conservação das espécies de mamíferos registradas na Área de


Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), Ouro
Preto, MG, entre setembro de 2020 e setembro de 2021.

Material suplementar 1

Tabela 1: Localização e coordenadas geográficas das armadilhas fotográficas instaladas


na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA
Andorinhas), Ouro Preto, Minas Gerais.

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Apresentação

O Brasil é o país com maior diversidade de espécies animais (Lewinsohn and


Prado, 2002) e maior diversidade de mamíferos do mundo (Costa et al. 2005), tendo
atualmente registradas 770 espécies de mamíferos, reunidas em 11 ordens, 51 famílias e
249 gêneros (Abreu et al. 2021). Essa grande diversidade pode estar relacionada ao clima
e aos biomas únicos, como a Mata Atlântica e a Caatinga (Joly, 2011). Os mamíferos são
vertebrados importantes para a manutenção dos ecossistemas, desempenhando funções
ecológicas cruciais para o ambiente, tais como controle populacional e dispersão de
sementes, atuando na estruturação de comunidades (Kurten, 2013). Assim, o
desaparecimento de espécies de mamíferos pode gerar impactos em escalas locais,
regionais e globais (Galetti and Dirzo, 2013).

De modo geral, as principais ameaças que contribuem para o declínio dos


mamíferos são a perda de habitat e a pressão de caça, essa última principalmente para
animais de médio e grande porte (Peres, 2001). O crescimento da população humana
acarreta a destruição de habitats, tanto devido ao aumento da urbanização, bem como da
supressão de florestas para o avanço da agropecuária (Dirzo et al. 2014). Dessa forma,
os mamíferos são afetados direta e indiretamente pela antropização (Gaynor et al. 2018),
de modo que os distúrbios causados pela presença humana, como a caça, passam a ser
percebidos pelos animais de modo semelhante ao risco de predação (Walther, 1969),
levando-os a modificar os padrões de atividade para evitar encontros com humanos
(Gaynor et al. 2018). O crescimento da população humana, portanto, pode desencadear o
declínio de populações de animais silvestres e até a extinção (Dirzo, 2001), tendo como
resultado a defaunação (Redford, 1992; Abrahams, 2017).
A sazonalidade também causa modificação no padrão de atividade dos mamíferos,
devido às diferenças na estrutura da vegetação e na disponibilidade de água e alimentos
observadas entre estações climáticas diferentes (Schaik and Brockman, 2005). Em épocas
chuvosas, em algumas configurações vegetacionais, a vegetação mais estruturada e
complexa dos dosséis, sub-bosques e a vegetação rasteira densa dificultam a visualização
dos animais, diminuindo o risco de predação (Brockman and Schaik, 2005; Scarano and
Ceotto, 2015). Nessa época, há maior disponibilidade de água e alimento de origem
vegetal e animal (Maestri and Marinho, 2014). Essas características se diferenciam da
época de seca, quando a cobertura vegetal é menos densa e permite melhor visibilidade
dos animais, aumentando a possibilidade de predação (Schaik and Brockman, 2005).

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Além disso, na Mata Atlântica e principalmente no Cerrado, o período é propício a
queimadas, devido à falta de água no ambiente e, assim, a disponibilidade de recursos
alimentares tende a ser menor (Jacobs, 1999).
A Mata Atlântica é o terceiro maior domínio vegetal brasileiro, sendo menor que
a Amazônia e o Cerrado, e abriga a segunda maior riqueza de espécies entre os domínios
brasileiros (Chiarello et al. 2008; Paglia et al. 2012). Entretanto, a Mata Atlântica vem
sofrendo grandes impactos, ocasionando a redução de habitats disponíveis aos animais e
o aumento do número de espécies ameaçadas de extinção. Cerca de 68% das espécies
ameaçadas de extinção no Brasil encontram-se na Mata Atlântica (Chiarello et al. 2008).
Por estar entre as regiões mais ricas e ameaçadas do planeta, a Mata Atlântica é
considerada um hotspot de biodiversidade (Ribeiro et al. 2011; Rezende et al. 2018).
Ribeiro et al. (2009) mostram o status altamente degradado da Mata Atlântica no Brasil,
sendo uma das florestas tropicais mais deterioradas do mundo. Nesse contexto, ainda
segundo Ribeiro et al. (2009), somente 12% da área original da Mata Atlântica está
disponível e em pequenos fragmentos, menores que cinquenta hectares, fazendo com que
as estratégias de conservação atuais para esse domínio sejam insuficientes para conservá-
la em longo prazo. A região do presente estudo está inserida em área de ecótone entre os
domínios da Mata Atlântica e Cerrado.
Com o aumento acelerado do desmatamento, medidas preventivas precisaram ser
tomadas (Brito, 2006). Em 2000, a Lei nº 9.985 estabeleceu um conjunto de
procedimentos oficiais para a criação e gestão de Unidades de Conservação, o SNUC
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação), uma importante estratégia para a
proteção da biodiversidade. A partir de então, as UCs são divididas de acordo com níveis
de proteção, existindo Unidades de Proteção Integral e de Uso Sustentável (ICMBIO,
2021). As Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e as Florestas Estaduais (FLOEs)
pertencem ao grupo das Unidades de Uso Sustentável. Essas Unidades visam a
exploração do ambiente de modo a garantir a conservação dos recursos naturais,
protegendo a biodiversidade e todas as características ecológicas do local (IEF, 2021). As
UCs são instrumentos essenciais para a proteção das espécies, ecossistemas e paisagens
(Joly, 2011). O presente estudo foi desenvolvido na Área de Proteção Ambiental Estadual
da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), mais precisamente no entorno da
Floresta Estadual do Uaimií (FLOE Uaimií), uma vez que essa última se encontra no
interior da APA, sendo ambas situadas no município de Ouro Preto, estado de Minas
Gerais. A FLOE Uaimií foi criada em outubro de 2003 (IEF, 2012).

9
A perda de habitat nessa região historicamente remonta ao ciclo do ouro e, mais
recentemente, com a atividade carvoeira para funcionamento de uma grande siderúrgica
na cidade vizinha, Itabirito. Segundo relatos dos moradores da região, há cerca de 40-50
anos atrás foi intensa a produção de carvão a partir de mata nativa sendo, para isso, abertas
clareiras na floresta, as quais eram aproveitadas para o plantio de milho, mandioca e
feijão. Essas plantações eram frequentmente atacadas por animais silvestres,
principalmente o porco-do-mato (Pires et al. 2019).

Vinte espécies de mamíferos foram registradas na FLOE Uamií, utilizando-se


visualizações, vocalizações e rastros (Morcatty et al. 2011). Nenhum estudo sobre o
comportamento e padrão de atividade dos mamíferos foi conduzido anteriormente na
FLOE Uaimií. Conhecer a distribuição e a composição da fauna é o primeiro passo para
a proteção das espécies e seus ambientes(Tobler et al. 2008).

Dentre as espécies que ocorrem na região, o presente estudo enfatiza o porco-do


mato ou cateto, Dicotyles tajacu (Linnaeus, 1758). Trata-se de uma espécie nativa das
Américas, com distribuição do sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina (Desbiez
et al. 2012). Essa espécie ocorre em todo o território e em todos os biomas brasileiros
(Chiarello et al. 2008; Desbiez et al. 2012). São animais territorialistas e podem ter uma
área de vida de até 287 ha (Keuroghlian et al. 2004). O cateto mede entre 84 e 106 cm de
comprimento e entre 30 e 50 cm de altura; seu peso varia entre 15 e 28 quilos e a cor da
pelagem é geralmente castanho-cinza escuro, com um colar branco no peito e ombros
(Sigrist, 2012). Apresentam glândulas sebáceas e sudoríparas na região dorsal. O odor
característico do produto dessas glândulas é utilizado na marcação de territórios e na
comunicação intraespecífica (Reis et al., 2011). Apesar de não estar entre as espécies
ameaçadas nacionalmente (Desbiez et al., 2012), no Estado de Minas Gerais, o cateto se
encontra em perigo de extinção, classificada como vulnerável, justificando a tomada de
medidas conservacionistas (Chiarello et al. 2008; COPAM, 2010).

Dentre as principais ameaças para o cateto estão a caça excessiva e a destruição


do habitat ou fragmentação dos ambientes naturais, acarretando a diminuição das
populações ao longo da sua distribuição original (Bodmer and Sowls, 1993; Chiarello et
al. 2008). Além da proteção de áreas naturais e a proibição da caça, há situações em que
a reintrodução ou o revigoramento de espécie podem ser ações necessárias como formas
de manejo, uma vez que contribuem para a restauração da espécie em locais onde ela
ocorre ou ocorria naturalmente, mas se tornou extinta ou em declínio populacional (Neri,

10
2004; Keuroghlian et al. 2004; Seddon et al. 2007). Encontra-se em andamento um
projeto de reintrodução/revigoramento do cateto na FLOE Uaimií (Projeto Cateto). No
sentido de contribuir com essa iniciativa, no presente estudo é dada ênfase para os catetos
quanto à interação com outros mamíferos e quanto à interferência humana. Ao mesmo
tempo, são levantadas informações sobre a composição de espécies de mamíferos de
médio e grande porte da região e analisado o padrão de atividade das espécies mais
frequentemente registradas.

Referências

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15
Padrões de atividades dos mamíferos do entorno da Floresta
Estadual do Uaimií, com ênfase nos catetos Dicotyles tajacu
(Linnaeus, 1758) (Cetartiodactyla, Tayassuidae)

Resumo

Mamíferos podem alterar o padrão de atividade em resposta a diferentes fatores como


forma de garantir a sobrevivência. O conhecimento desses padrões permite compreender
as interações interespecíficas da comunidade e pode subsidiar a proposição de medidas
de conservação da biodiversidade local. Este estudo teve como objetivo registrar espécies
da mastofauna de médio e grande porte na APA das Andorinhas, particularmente no
entorno da FLOE Uaimií, no município de Ouro Preto, MG, avaliar o padrão de atividade
desses mamíferos em relação à sazonalidade climática, bem como caracterizar a
sobreposição de atividade entre os catetos, Dycotiles tajacu, e seus predadores entre o
período seco e chuvoso. Para tanto, foram utilizadas oito armadilhas fotográficas durante
treze meses. Foram registradas 17 espécies, dentre elas Mazama gouazoubira, Sylvilagus
brasiliensis e Puma concolor, que se encontram ameaçadas. As espécies que tiveram
maior número registros foram: Eira barbara (172 registros), Sylvilagus brasiliensis (161),
Cuniculus paca (137), D. tajacu (132) e Cerdocyon thous (71). Leopardus pardalis e P.
concolor juntos somaram 56 registros indepentes. Foram observadas variações no padrão
de atividade da maioria das espécies entre as estações climáticas, sendo maior no período
mais frio e seco. O cateto D. tajacu não apresentou alteração significativa na ativadade
em função da sazonalidade climática. Sua atividade teve baixa sobreposição com P.
concolor e alta sobreposição com a atividade de Canis lupus familiaris e Homo sapiens.
Esses resultados podem estar relacionados com a baixa pressão de caça exercida na região
e também ao comportamento agressivo dos catetos, bem como à alteração do período de
forrageio destes como forma de escapar de seus predadores. Além de entender as
interações interespecíficas entre os catetos e seus principais predadores, os resultados
também contribuíram com o inventário de espécies da região mostrando que as Unidades
de Conservação estudadas abrigam diversas espécies de mamíferos, ressaltando a
importância dessas UCs para a conservação das espécies.

Palavras-chave: mastofauna, armadilha fotográfica, cateto, forrageio, sazonalidade.

16
Abstract

Mammals change their temporal pattern of activities in response to different factors, as a


way of ensuring survival. The knowledge of these patterns allows us to understand the
interspecific interactions of the community and can support the proposal of conservation
measures for local biodiversity. This study aimed to record species of medium and large
mammals in the APA das Andorinhas, particularly in the surroundings of FLOE Uaimií,
in the municipality of Ouro Preto, MG, to evaluate the activity pattern of the species, to
evaluate the occurrence of changes in these patterns in relation to seasonality and to
evaluate the influence of the presence of predators on the activity of the collared
peccaries, Dycotiles tajacu. For that, data were obtained from records of eight camera
traps during thirteen months. Seventeen species were recorded, among them Mazama
gouazoubira, Sylvilagus brasiliensis and Puma concolor, which are threatened. The
species that obtained the highest number of records were: Eira barbara (172), S.
brasiliensis (161), Cuniculus paca (137), D. tajacu (132), Cerdocyon thous (71) the sum
of the records of the felines, Leopardus pardalis and P. concolor (56). Changes were
observed in the activity pattern of most species between seasons, being greater in the
coldest and driest months. The collared peccary D. tajacu did not show seasonal
differences in activity, however it showed changes in its activity in relation to its natural
predators. Its activity had low overlap with P. concolor and high overlap with the activity
of Canis lupus familiaris and Homo sapiens. Both the high and low overlap of the activity
of collared peccaries with their predators may be related to the low hunting pressure
exerted in the region and also to the aggressive behavior of collared peccaries, as well as
the change in the foraging period of collared peccaries as a way of escaping their
predators. In addition to understanding the interspecific interactions between collared
peccaries and their main predators, the results also contributed to the inventory of species
in the region, showing that the Conservation Units studied harbor several species of
mammals, highlighting the importance of these UCs for the conservation of species.

Key words: activity period, camera-trap, collared peccary, foraging, mammals.

17
Introdução

O período de atividade dos animais considera estratégias para potencializar a


busca por recursos e parceiros, visando reduzir o encontro com predadores e competidores
(Hut et al. 2012). Para garantir sua sobrevivência os mamíferos ajustam o período de
atividade constantemente em adaptação às circunstâncias bióticas e abióticas que são
expostos, como flutuações sazonais do ambiente, condições da luz, pressões exercidas
sobre eles (predação e competição), ao nível trófico que ocupa e sua necessidade
fisiológica (termorregulação e necessidade energética) (Passamani, 2003; Peterson et al.
2021). A predação e a disponibilidade de rescursos influenciam na escolha do período de
atividade dos animais, entretanto, em mamíferos, que são animais endotérmicos, a
temperatura ambiental pode determinar a escolha do período de atividade devido à baixa
tolerância a temperaturas extremas (Bennie et al. 2014). Os distúrbios causados pela
proximidade humana, como a caça e a destruição de hábitats, são percebidos pelos
animais de modo semelhante ao risco de predação, acarretando em mudanças no período
de atividade (Walther, 1969).

As espécies tendem a alterar sua atividade em resposta à predação ou competição


(Smith et al. 2019). Nesse sentido, predadores de pequeno porte, que competem por
recursos com predadores de topo, podem alterar o padrão de atividade a fim de evitar a
sobreposição e competição pelos mesmos recursos, como é o caso das jaguatiricas e
pumas (Sunquist and Sunquist, 2002). Enquanto que espécies de presas também tendem
a alterar o período de forrageio para evitar a predação e a competição (Smith et al. 2019).
Por outro lado, predadores de topo também alteram sua atividade de acordo com o período
reprodutivo de suas presas, uma vez que os filhotes são presas mais fáceis de serem
capturadas (Allen et al. 2014).

Os mamíferos são afetados diretamente pela antropização, tendo suas atividades


modificadas ou adaptadas conforme ocorre o aumento da pressão (Gaynor et al., 2018).
Cães e gatos domésticos são os carnívoros mais abundantes no mundo e o impacto que
causam às espécies selvagens é intenso, pois além do próprio instinto para a caça, muitos
desses animais são incentivados a caçar pelos humanos (Villatoro et al. 2018). Outro fator
prejudicial da presença de espécies domésticas em ambientes silvestres é que, além do
grande impacto causado pela predação (Mccarthy, 2005), as interações entre animais
silvestres com animais domésticos e dos humanos com animais silvestres podem
promover a disseminação de zoonozes e de doenças infecciosas para os animais

18
(González-Martínez et al. 2016), reduzindo populações. Como forma de escapar dos
perigos gerados pela presença humana, os animais tendem a modificar o padrão de
atividade, de forma que não se sobreponham aos dos humanos (Frid and Dill, 2002;
Gaynor et al. 2018).

A sazonalidade também está relacionada diretamente às alterações no padrão de


atividade dos mamíferos, tanto em relação à mudança ambiental (estrutura da vegetação,
temperatura, condições da luz, disponibilidade de recursos) quanto em relação às
respostas biológicas, como a reprodução (Battey, 2000). Mudanças sazonais na
disponibilidade de recursos alimentares, normalmente mais abundantes nas épocas
chuvosas (Schaik and Brockman, 2005), são bastante importantes na modificação do
padrão de atividade dos mamíferos. Em épocas secas os recursos alimentares são mais
escassos, com isso, os mamíferos tendem a se deslocar mais e por mais tempo,
apresentando atividades em períodos que são destinados ao descanso na época chuvosa
(Vieira et al. 2010; Marques and Fábian, 2018). Outro ponto interessante é que a
sazonalidade influencia até mesmo a predação, já que a estrutura da vegetação é alterada
pela variação temporal. A vegetação tende a ficar mais densa e estruturalmente mais
complexa em épocas chuvosas, o que torna mais difícil a visualização dos animais, tanto
presas quanto predadores (Schaik and Brockman, 2005). As necessidades de
termorregulação também podem alterar a atividade, ou seja, com o aumento ou a
diminuição de temperatura, precipitação e luz, os animais flexibilizam seus horários a fim
de evitar condições extremas (Fuller et al. 2016).

A obtenção de dados locais representativos é um dos critérios para se conhecer os


padrões de atividade dos animais e propor estratégias de conservação para a
biodiversidade, uma vez que com uma maior amostragem da área estudada é possível
conhecer a comunidade local (Buckland and Jonhston, 2017). A partir do levantamento
de espécies de mamíferos é possível avaliar a pressão antrópica exercida nas comunidades
(Tobler et al. 2008), como a caça. Essa avaliação pode ser feita a partir de alguns métodos,
como por exemplo, a quantificação do peso corporal, ou seja, quando ocorrem espécies
com peso igual ou superior a 5kg é possível inferir que há baixa pressão de caça na região,
pois esses animais são os mais atingidos em locais com alta pressão de caça (Endo et al.
2010). Também é possível aprimorar os conhecimentos sobre a distribuição geográfica
das espécies (Melo et al. 2012) e conhecer a riqueza daquela localidade (Tobler et al.
2008).

19
Várias metodologias são utilizadas para avaliar a composição de espécies de
mamíferos de uma determinada área (Melo et al. 2012), como amostragens em
transecções lineares e busca ativa por vestígios (fezes e pelos) (Trolle, 2003; Silva, 2020),
armadilhas para registros de pegadas (Carrillo et al. 2000), entrevistas etnozoológicas
(Braga et al. 2018) e armadilhas fotográficas (Tobler et al. 2008; Srbek-Araujo and
Chiarello, 2007, 2013; Silva, 2020). Alguns pesquisadores compararam a eficiência e os
custos desses diferentes métodos de amostragem de espécies. Srbek-Araujo and Chiarello
(2005) e Braga et al. (2018) recomendam o uso de mais de uma metodologia ao mesmo
tempo para aumentar o sucesso amostral e contabilizar espécies de diferentes portes e
hábitos locomotores. Entretanto, em outros trabalhos, a amostragem por armadilhas
fotográficas foi o método mais recomendado para o levantamento de mamíferos de médio
e grande porte (Silveira et al. 2003; Lyra-Jorge et al. 2008).

A amostragem a partir de armadilhas fotográficas é eficiente para distinguir


espécies que são de difícil identificação em um rápido avistamento ou a observação de
alguma característica morfológica (Melo et al. 2012). Além disso, esse método é uma
forma não-invasiva para o estudo de mamíferos em seus habitats e, como as câmaras
permanecem no ambiente por longos períodos, aumentam o esforço amostral e o sucesso
de amostragem (Rowcliffe et al. 2008) ao mesmo tempo em que não causam estresse aos
animais (Srbek-Araújo and Chiarello, 2007, 2013). Com o uso dessas armadilhas,
estrategicamente instaladas em locais frequentados pelos animais, é possível obter
informações sobre o uso do habitat (Head et al. 2012), o padrão de atividade (Azlan and
Sharma, 2006; Rowcliffe et al. 2014; Hofmann et al. 2016), fazer o inventariamento de
espécies (Tobler et al. 2008; Silva, 2020) e avaliar a abundância de indivíduos (Jenks et
al. 2011).

O cateto, Dicotyles tajacu, é uma espécie onívora, que pode ser ativa tanto durante
o dia, quanto durante a noite (Sowls, 1997). O período de forrageio dos catetos pode se
alterar em função da variação diária da temperatura, pressão de caça, disponibilidade de
alimentos e presença de predadores (Mayer and Brandt, 1982). São animais sociais que
vivem em bandos que podem chegar a 25 indivíduos (Keuroghlian et al., 2004), tendo
uma média de nove indivíduos por grupo (Bissonette, 1982; Sowls, 1997). Durante o dia
os bandos se subdividem em grupos sociais menores, contendo em média três indivíduos,
para forragear e se unem novamente ao final da tarde (Keuroghlian et al. 2004). Essas
subdivisões podem variar em função de perturbações antrópicas e com a sazonalidade,

20
como mostram os trabalhos de Mendes-Pontes (2004) e Peres and Nascimento (2006),
que, respectivamente, encontraram diferenças no tamanho dos bandos na Amazônia entre
as estações climáticas (bandos maiores no verão) e em áreas com graus diferentes de
perturbações (bandos menores em áreas mais antropizadas). Além disso, os catetos
apresentam estratégias comportamentais durante o forrageio para localizar e escapar de
predadores, como ficarem alertas e agressivos (Azevedo et al. 2018 apud Taber et al.
2011). Dentre os Tayassuidae, Dicotyles tajacu é a espécie capaz de ocupar a maior
diversidade de habitats. Habitam todos os biomas terrestres, desde as florestas úmidas até
as regiões semiáridas (Sowls, 1997), incluindo ambientes alterados por ações antrópicas,
mas não aqueles extremamente alterados (Sowls, 1997).

Os principais predadores dos catetos são a Panthera onca e Puma concolor, Canis
lupus familiaris e Leopardus pardalis (Faria et al. 2018 apud Sowls 1984). Quando
ameaçados, os catetos exibem comportamentos antipredatórios e, dentre esses
comportamentos, fugir é o mais comum. Eles fogem batendo os dentes bem forte para
emitir um som alto e, dessa forma, tentar repelir os predadores (Faria et al. 2018). Outro
comportamento antipredatório muito utilizado pelos catetos é o aumento do alerta para
detecção precoce dos predadores, diminuindo as chances de que o ataque ocorra. (Sowls,
1997; Nogueira et al. 2017). Mesmo que raro, o comportamento dos catetos de contra-
ataque a predadores também já foi registrado contra coiotes e pumas (Sowls, 1997).
Recentemente, foi registrado um comportamento semelhante a tanatose pelos filhotes de
catetos, ou seja, quando ameaçados, o animal finge estar morto para evitar a predação;
nesse relato os filhotes tiveram sucesso ao escaparem de serem predados por um lince e
uma raposa cinzenta (Lundgren and Moeller, 2017). Uma forma eficaz de defesa é a
modificação do padrão de atividade, ou seja, as presas mudam seu padrão de atividade de
modo que não se sobreponha ao dos predadores (Morais et al. 2019). Os catetos são
frequentemente registrados forrageando durante o dia (Dias et al. 2018; Mendoza et al.
2019) como forma de escapar de seus predadores, uma vez que os predadores de topo,
como a onça-parda, concentram na noite seu período de maior atividade (Foster et al.
2013; Finnegan et al. 2021).

O presente estudo traz informações sobre a composição da mastofauna de médio


e grande porte da Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas
(APA Andorinhas) e analisa a influência das variações sazonais no padrão de atividade
das espécies de mamíferos mais registradas. É também avaliada a sobreposição da

21
atividade dos catetos com a atividade de seus potenciais predadores. Para isso,
hipotetizamos que: 1) Serão observadas diferenças sazonais na atividade dos mamíferos
do entorno da FLOE Uaimií. Sendo os animais mais ativos em períodos secos e frios,
quando a escassez de recursos é maior; 2) Os catetos manterão o padrão de atividade em
horários distintos à atividade de seus predadores, a fim de evitar a predação. Assim, os
catetos serão mais ativos nos períodos em que os predadores forem menos ativos. Nossos
dados contribuirão para o inventário de espécies das UCs estudadas, o que ajudará a
propor estratégias de conservação das espécies, inclusive ameaçadas; ajudarão a entender
como a sazonalidade influencia na atividade das espécies de mamíferos e ajudarão a obter
dados ecológicos dos catetos, a partir do conhecimento do seu período de atividade diário,
bem como confirmar se ocorre sobreposição da atividade dos catetos e seus predadores.

22
Material e métodos

Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido no interior da Área de Proteção Ambiental Estadual


da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), mais precisamente nas comunidades de
Engenho D’Água e Sítio, pertencentes aos distritos de São Bartolomeu e Glaura, no
município de Ouro Preto, Minas Gerais. Essas comunidades estão localizadas no entorno
da Floresta Estadual do Uaimií (FLOE Uaimií), a qual foi criada em outubro de 2003. A
FLOE Uaimií é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, de 4.398ha,
pertencente ao distrito de São Bartolomeu (IEF, 2012). A APA Cachoeira das
Andorinhas, com área de 18.700ha, foi criada em 1989, visando a proteção da nascente
do Rio das Velhas, além disso, grande parte da APA atua como zona de amortecimento
para a FLOE Uaimií (Scalco, 2009) (Figura 1).

Figura 1: Localização dos pontos amostrados dentro da Área de Proteção Ambiental


Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas) e entorno da Floresta Estadual
do Uaimií (FLOE Uaimíi), em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

Tanto a APA das Andorinhas (Rezende et al. 2011), quanto a FLOE Uaimií têm
como objetivo desenvolver o uso sustentável de recursos naturais e a proteção de

23
mananciais de abastecimento público, da biodiversidade e de sítios históricos (IEF, 2019).
São áreas com grande cobertura florestal de espécies típicas de Mata Atlântica e Cerrado,
pois é uma região de transição entre esses dois domínios. Apresentam florestas montanas,
com predominância fitofisionômica da floresta estacional semidecidual e nos pontos mais
altos (aproximadamente 1.196 metros) ocorrem os campos rupestres (IEF, 2012). O clima
é classificado como subtropical úmido – Cwb, segundo Koppen, com verões temperados
(temperatura média entre 20°C e 21°) e invernos secos (temperatura média entre -13,5°C
e 15,5°C) (Alvares et al. 2013). A precipitação anual varia entre 1300 e 1900mm (Scalco,
2009).

Coleta de dados

Para a coleta de dados foram utilizadas armadilhas fotográficas, automáticas,


ativadas por movimento, da marca UOVision, modelo UV557. As câmeras foram
distribuídas em oito pontos (uma por ponto) (Figura 1). Essas armadilhas foram instaladas
em diferentes tipos de ambientes, tais como florestas, áreas abertas e em áreas distantes e
próximas às construções humanas (Material suplementar 1). Os pontos de instalação das
câmeras foram inicialmente selecionados com base em relatos de moradores locais sobre
avistamento de mamíferos. Em um estudo piloto, por meio da instalação das câmeras
nesses locais, a utilização das áreas por catetos e os demais mamíferos foi confirmada,
além da observação de trilhas com vestígios de mamíferos.

As armadilhas foram fixadas em árvores, a aproximadamente 40 cm de altura do


solo, e foram programadas para capturar três fotos por movimento, com o intervalo de
cinco segundos por evento. Em cada fotografia a data e a hora foram automaticamente
registradas, permitindo a identificação dos horários de atividade dos animais. As
armadilhas permaneceram em campo nos mesmos lugares por aproximadamente 12
meses, entre 11 de setembro de 2020 e 14 de setembro de 2021. Conforme os
procedimentos adotados por Srbek-Araujo and Chiarello (2013), as câmeras foram
supervisionadas a cada dois meses para a troca de bateria e transferência das imagens
registradas para o notebook.

Foram realizadas medições entre a distância das câmeras e a construção civil mais
próxima, em metros. Estas medições foram feitas a partir do Google Earth, traçando
linhas retas entre os locais das armadilhas até as construções mais próximas (Material

24
suplementar 1).

Para a identificação das espécies de mamíferos foi utilizado o Guia de


identificação de espécies alvo de aves e mamíferos (Reis et al. 2015) e o Guia Ilustrado
dos Cervídeos Brasileiros (Azevedo et al. 2021). A nomenclatura utilizada seguiu a
Sociedade Brasileira de Mastozoologia (Abreu et al. 2021). As espécies registradas para
a área de estudo foram classificadas quanto à ameaça de extinção com base na Lista
Vermelha Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção (ICMBIO, 2018) e na Lista
Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção da União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN, 2021). As espécies registradas foram classificadas de
acordo com suas guildas tróficas utilizando-se a Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil
(Paglia et al. 2012).

Os dados de temperatura e precipitação foram obtidos a partir da Estação


Automática de Ouro Branco (INMET,2021), que engloba a região do estudo. Esta estação
estava distante aproximadamente 30km da área de coleta de dados.

O estudo foi realizado sob permissão dos órgãos ambientais competentes (Instituto
Estadual de Florestas – IEF e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
– ICMBio) e pelo Comitê de Ética em Uso e Experimentação Animal (CEUA) da
Universidade Federal de Ouro Preto, sob as licenças: IEF 002/2020, SisBio 72348-2 e
CEUA 2224070520, respectivamente.

Análise de dados
Foram analisados os registros das armadilhas fotográficas: imagens, datas,
horários e as variáveis climáticas. Como não foi possível reconhecer os indivíduos por
meio de fotografias, devido à ausência de dimorfismo sexual aparente ou detalhes
anatômicos para individualização, foi considerado como um único registro todos os
animais de um mesmo grupo social que apareceram em fotografias obtidas a partir da
mesma armadilha, dentro do intervalo de uma hora, seguindo o proposto por Srbek-
Araujo and Chiarello (2013). Também foi contabilizado o número de indivíduos
registrados por foto e o número de registros da espécie por armadilha, avaliando todas as
fotos da mesma armadilha, dentro do intervalo de uma hora.

Para avaliar aspectos da composição de espécies dos pontos amostrados, foi feita

25
uma análise de agrupamento (cluster) para identificar quais pontos de coleta tiveram
maior similaridade de espécies. Para isso, foi utilizado o método de agrupamento
Ward.d2, método apropriado para variáveis quantitativas a partir da função Hclust do
pacote Stats (R Core Team, 2021). Posteriormente, foi utilizada a função Pheatmap para
gerar um mapa que permitisse melhor visualização dos dados, a partir do pacote
Pheatmap (Kolde, 2019). A análise de agrupamento foi feita pelo índice de similaridade
de Bray-Curtis, para agrupar as câmeras mais semelhantes em relação à composição de
espécies. A função que calcula esse índice é a Vegdist do pacote Vegan (Oksanen et al.
2020). A partir disso, foram determinadas as espécies mais frequentes em todas as
armadilhas, as quais foram utilizadas para as análises seguintes.

Para avaliar a atividade dos animais entre os meses de coleta foram somados todos
os dados de registros independentes de cada mês, das seis espécies mais representativas,
com o auxílio da função Aggregate do pacote Dplyr (Hadley et al. 2021) e, em seguida,
foi gerado um mapa de frequência dessas espécies ao longo dos meses, facilitando a
observação da atividade distribuida no decorrer dos meses.

Foi gerado um gráfico do perfil climático da região do estudo a partir dos dados
de precipitação e temperatura obtidos pela estação automática. Finalmente, foram feitos
Modelos Lineares Generalizados (GLM) com os dados climáticos e dados dos registros
para avaliar se houve diferença no padrão de atividade dos animais em relação à
sazonalidade, onde a temperatura e pluviosidade foram as variáveis explicativas e o
número de registros independentes a variável resposta. O modelo que melhor se ajustou
foi o binomial negativo (nb), utilizado para dados de contagem de eventos agregados por
unidade amostral, a partir do pacote MASS (Venables and Ripley, 2002). Foram
considerados valores significativos quando p < 0,05.

Os horários de atividade dos catetos e de seus predadores foram avaliados a partir


de informações contidas nos registros das armadilhas fotográficas pela função Fitact do
pacote Activity (Rowcliffe, 2021). Essa função ajusta os registros de cada espécie ao
horário do dia em que foram registrados, estimando sua atividade ao longo do dia. A partir
dessas análises, os catetos foram classificados como diurnos, se mais de 90% dos registros
ocorrerem durante o dia (entre 6:00h e 16:59h); predominantemente diurnos, se entre 70%
e 90% dos registros ocorrerem durante o dia (entre 6:00h e 16:59h); catemerais, se os
animais forem ativos durante o dia e durante a noite (entre 30% e 70% dos registros a
noite – entre 18:00h e 03:59h); noturnos, se entre 70% e 90% dos registros ocorrerem a

26
noite (entre 18:00h e 03:59h); ou crepusculares, se mais de 50% dos registros ocorrerem
entre o amanhecer (entre 04:00h e 05:59h) e entre o anoitecer (entre 17:00h e 17:59h)
(Gómez et al., 2005).

Para avaliar a sobreposição temporal dos catetos e seus predadores foi utilizado o
pacote Overlap (Ridout and Linkie, 2009) a partir da função OverlapEst. Foram
computadas as estimativas de sobreposição (delta) dos horários de atividade das espécies
de forma quantitativa, sendo que os valores mais próximos a zero indicam baixa
sobreposição (0 - sem sobreposição) e valores mais próximos a um, alta sobreposição (1
- sobreposição completa) e os intervalos de confiança calculados via bootstrapping. Para
melhor ajuste, foi utilizado um estimador circular não paramétrico para amostras de
tamanho pequeno (<50), o Δ1 (delta 1). A sobreposição (delta) é a area subjacente às
linhas da curva de densidade ajustada, sendo os mínimos das funções de densidade de
dois ciclos comparados em cada ponto de tempo. Conforme Foster et al. (2013), os
intervalos de confiança de Δ com percentuais semelhantes foram calculados a 95%. Todas
as análises foram desenvolvidas pelo software R (R Core Team, 2021).

Resultados

As armadilhas fotográficas permaneceram em campo por 370 dias, obtendo 5930


registros de mamíferos. Desses registros, 838 foram considerados registros
independentes. Além de Homo sapiens e Canis lupus familiaris, foram registradas 17
espécies de mamíferos silvestres de médio e grande porte, consistindo em 13 famílias e
sete ordens. Alguns registros não permitiram a identificação específica, sendo
categorizadas apenas em nível de gênero (Tabela 1). A ordem registrada com maior
frequência foi Carnivora, correspondendo a quatro famílias (Figura 2), seguida da ordem
Rodentia, com três (Figura 4), e Cetartiodactyla, com duas famílias (Figura 2).
Didelphimorphia, Lagomorpha e Pilosa contaram com uma espécie cada (Figura 3). A
ordem Cingulata foi representada por uma família e duas espécies (Figura 4).

As espécies de mamíferos registradas foram classificadas em quatro guildas


tróficas, sendo o maior número de espécies pertencente à guilda dos onívoros (animais
que consomem alimentos de diferentes origens) (Tabela 2). Dentre as espécies registradas
no entorno da FLOE Uaimií, uma se encontra em situação de ameaça de extinção.

27
Segundo a Lista Vermelha Brasileira de Espécies Ameaçadas (ICMBIO, 2018), Puma
concolor está classificada como vulnerável (VU) (Tabela 2). Cabassous tatouay é
classificada, segundo os critérios da IUCN como com dados deficientes (DD).

28
Tabela 1. Classificação em ordem e família das espécies de mamíferos registradas na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA
Andorinhas) (Ouro Preto, MG), entre setembro de 2020 e setembro de 2021. Pontos de coleta: número de registros das espécies por ponto; Total: número total
de registros independentes por espécie; Proporção: proporção dos registros por espécie em relação ao número total de todos os registros.
Pontos de coleta Total Proporção
Ordem Família Espécie (%)
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Carnivora Canidae Canis lupus familiaris (Linnaeus, 1758) 18 7 62 3 42 41 1 5 179 14,817
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) 40 0 24 0 3 4 0 0 71 8,473
Felidae Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) 10 9 8 0 3 0 3 0 33 3,938
Puma concolor (Linnaeus, 1771) 0 4 4 3 6 1 4 1 23 2,745
Mustelidae Eira barbara (Linnaeus, 1758) 17 11 104 2 13 17 1 7 172 20,525
Galictis cuja (Molina, 1782) 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0,119
Procyonidae Nasua nasua (Linnaeus, 1766) 0 8 1 0 0 0 0 0 9 1,074
Procyon cancrivorus (Cuvier, 1798) 1 3 0 0 0 0 0 0 4 0,477
Cetartiodactyla Cervidae Mazama gouazoubira (Fischer, 1814) 0 0 0 0 2 0 0 0 2 0,239
Tayassuidae Dicotyles tajacu (Linnaeus, 1758) 60 6 6 1 9 6 36 8 132 15,752
Cingulata Dasypodidae Cabassous sp. 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0,119
Cabassous tatouay (Desmarest, 1804) 0 0 4 0 0 0 0 2 6 0,716
Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) 33 0 0 0 0 9 0 0 42 5,012
Dasypus sp. 1 2 4 0 11 1 4 0 23 2,745
Didelphimorphia Didelphidae Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826) 7 5 0 0 0 0 1 0 13 1,551
Lagomorpha Leporidae Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758) 11 0 139 1 3 5 0 2 161 19,212
Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) 0 1 2 0 0 1 0 0 4 0,477
Primates Hominidae Homo sapiens 2 0 29 11 33 39 0 0 114 9,437
Rodentia Caviidae Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) 0 1 0 0 1 1 0 0 3 0,358
Cuniculidae Cuniculus paca (Linnaeus, 1766) 77 0 1 0 35 12 6 6 137 16,348
Sciuridae Guerlinguetus sp. (Linnaeus, 1766) 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0,119
Registros 278 58 388 21 161 137 56 31 1136 124,254
Riqueza 14 12 13 6 12 12 8 7 21

29
Tabela 2. Nomes populares e classificação quanto à guilda trófica das espécies de mamíferos registradas na Área de Proteção Ambiental Estadual
da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas)(Ouro Preto, MG), entre setembro de 2020 e setembro de 2021. ON: onívoro; CA: carnívoro;
HE: herbívoro; MI: mirmecófago; LC: menos preocupante; VU: vulnerável; NT: quase ameaçada; DD: dados deficientes; EN: em perigo.
Espécie Nome popular (inglês) Guilda IUCN ICMBio

Canis lupus familiaris (Linnaeus, 1758) Domestic dog CA


Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Crab-eating Fox ON LC LC
Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Ocelot CA LC LC
Puma concolor (Linnaeus, 1771) Puma CA LC VU
Eira barbara (Linnaeus, 1758) Tayra ON LC LC
Galictis cuja (Molina, 1782) Lesser Grison CA LC LC
Nasua nasua (Linnaeus, 1766) South American Coati ON LC LC
Procyon cancrivorus (Cuvier, 1798) Crab-eating Racoon ON LC LC
Mazama gouazoubira (Fischer, 1814) Gray brocket HE LC LC
Dicotyles tajacu (Linnaeus, 1758) Collared Peccary ON LC LC
Cabassous sp.
Cabassous tatouay (Desmarest, 1804) Greater Naked-tailed Armadillo MI LC DD
Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Nine-banded Armadillo ON LC LC
Dasypus sp.
Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826) Brazilian Common Opossum ON LC LC
Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758) Tapiti HE
Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Southern Tamandua MI LC LC
Homo sapiens Human ON
Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) Capybara HE LC LC
Cuniculus paca (Linnaeus, 1766) Agouti HE LC LC
Guerlinguetus sp. (Linnaeus, 1766)

30
Figura 2: Espécies de mamíferos da Ordem Carnivora registradas na Área de Proteção
Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), no Municipio de Ouro
Preto, entre setembro de 2020 e setembro de 2021, a partir de armadilhas fotográficas. 1:
Puma concolor; 2: Leopardus pardalis; Cerdocyon thous; 4: Eira barbara; 5: Procyon
cancrivorus; 6: Nasua nasua; 7: Galictis cuja.

31
Figura 3: Espécies de mamíferos das Ordens Cetartiodactyla, Pilosa, Lagomorpha e
Didelphimorphia, registrados na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das
Andorinhas (APA Andorinhas), no Municipio de Ouro Preto, entre setembro de 2020 e
setembro de 2021, a partir de armadilhas fotográficas. 8: Dicotyles tajacu; 9: Mazama
gouazoubira; 10: Tamandua tetradactyla; 11: Sylvilagus brasiliensis; 12: Didelphis aurita.

32
Figura 4: Espécies de mamíferos das Ordens Cingulata e Rodentia, registrados na Área
de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), no
Municipio de Ouro Preto, entre setembro de 2020 e setembro de 2021, a partir de
armadilhas fotográficas. 13: Cabassous tatouay; 14: Dasypus novemcinctus; 15:
Guerlinguetus sp.; 16: Hydrochoerus hydrochaeris; 17: Cuniculus paca.

33
As espécies Eira barbara e Dicotyles tajacu foram registradas em todos os pontos (oito),
Puma concolor em sete, Sylvilagus brasiliensis e Cuniculus paca em seis, Leopardus pardalis
em cinco armadilhas, seguidos de Didelphis aurita, Tamandua tetradactyla e Hydrochoerus
hydrochaeris, os quais foram registrados em três. Nasua nasua, Procyon cancrivorus,
Cabassous tatouay e Dasypus novemcinctus apareceram em duas câmeras, enquanto Galictis
cuja, Mazama gouazoubira e Guerlinguetus sp., apenas em uma (Figura 5).

As câmeras C4 e C8 apresentam maior similaridade de registros de espécies de


mamíferos, bem como as armadilhas C5 e C6. C4 e C8 estão em pontos que apresentam
distância da atividade humana e vegetação parecidas, contudo, C4 teve sete registros e conta
com um córrego ao seu redor, já C8 teve 26 registros e não possui corpo d’água próximo. Os
pontos C5, com 86 registros, e o C6, com 57 registros, ficam dentro da área de uma fazenda,
tendo a vegetação similar, mas somente o C5 foi instalada em frente a uma lagoa. Dentre essas
duas armadilhas, o ponto C6 fica mais próximo à atividade humana.

Os registros obtidos a partir das armadilhas dos pontos C3 e a C1diferiram das demais
armadilhas e foram as que tiveram maior número de registros. O ponto C1 teve 259 registros,
esse é o ponto mais próximo de construções humanas, apresenta espécies de árvores frutíferas
ao redor da armadilha e um pequeno córrego escoando água de uma nascente. Já o ponto C3
teve 297 registros e é o segundo mais próximo às construções humanas, entretanto não
apresenta nenhuma das características do ponto C1. Os pontos C7 e C2, respectivamente, são
os mais distantes das construções humanas, ambos em áreas de floresta e com corpo d’água
próximo à armadilha; o ponto C7 teve 55 registros e fica em frente ao Rio das Velhas e o ponto
C2 teve 51 registros e está situado em frente a um córrego onde escoa água de uma nascente
(Figura 5).

34
Figura 5: Similaridade de registros de mamíferos entre as oito armadilhas fotográficas
utilizadas na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA
Andorinhas), Município de Ouro Preto. A escala representa o número de registros da espécie:
quanto mais escuro, maior o número de registros.

O padrão climático da região do estudo se comporta da seguinte maneira: todos os meses


mais quentes são também mais chuvosos. Exceto o mês de setembro que foi um mês quente,
mas com baixa pluviosidade, tanto em 2020, quanto em 2021 (Figura 6). Entre os mamíferos
mais frequentemente registrados estão a irara, a paca, o tapeti, o cateto, o cachorro-do-mato e
os felinos (jaguatirica e onça-parda). A irara e os felinos foram registrados em todos os meses
de coleta, a paca teve seu maior pico em março e abril de 2021, já os felinos tiveram maior pico

35
em junho e julho de 2021. Os catetos foram registrados em todos os meses de amostragem, com
exceção do mês de setembro de 2021, com picos (≥ 30) nos meses de maio e julho de 2021 e
apresentaram baixa frequência de registros (< 5) nos meses de setembro e dezembro de 2020,
janeiro, fevereiro, março e agosto de 2021. Paca e cachorro-do-mato também foram mais
frequentemente registrados em junho e julho de 2021 e ambos não foram registrados no mês de
dezembro de 2020; para a paca também não houve registro em setembro de 2020. Os registros
do tapeti se iniciaram a partir de janeiro de 2021, apresentando pico em maio e julho desse
mesmo ano (Figura 7). As espécies com poucos registros não foram analisadas.

Figura 6: Variações climáticas da região do estudo entre os meses de setembro de 2020 e


setembro de 2021, obtidos a partir da estação automática de Ouro Branco (INMET,2021).
Rainfall: dados de precipitação (barras em cinza); Temperature: dados de temperatura (círculos
pretos).

36
Figura 7: Número total de registros das espécies mais frequentemente observadas em relação
aos meses de coleta de dados por meio de armadilhas fotográficas na Área de Proteção
Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), no Município de Ouro
Preto. As barras representam o número total de registro em cada mês e a linha representa um
ajuste suavizado dos dados. Estação chuvosa: 10/2020 a 02/2021.

A relação entre o padrão de atividade e as características climáticas (temperatura e


pluviosidade) variou entre as espécies. Os catetos não apresentaram diferença significativa no
padrão de atividade durante os períodos (p = 0.13). Já os tapetis, felinos, pacas e cachorros-do-
mato apresentaram diferença significativa entre os períodos (p < 0.01), sendo maior a atividade
no período frio e seco e menor atividade no período quente e úmido. As iraras também
apresentaram diferença significativa no padrão de atividade exibido entre os períodos (p <
0.05), sendo mais ativas em temperaturas mais frias e em clima mais seco (Figura 8).

37
Figura 8: Padrão de atividade de seis espécies de mamíferos em relação às variáveis climáticas
temperatura e umidade. Todos os mamíferos foram registrados a partir de armadilhamento
fotográfico na Área de Proteção Ambiental Estadual da Cachoeira das Andorinhas (APA
Andorinhas), Município de Ouro Preto. Collared peccary: Dicotyles tajacu; Tapeti: Silvylagus
brasiliensis; Felids: Puma concolor e Leopardus pardalis; Tayra: Eira barbara; Agouti:
Cuniculus paca; Crab-eating Fox: Cerdocyon thous.

A maioria dos registros dos catetos ocorreram entre 6 e 18 horas, tanto na estação quente
e chuvosa, quanto na fria e seca, indicando serem animais diurnos. Os registros de P. concolor
evidenciam que esses felinos são animais noturnos, tendo suas atividades concentradas entre os
períodos de 18h e 06h nas duas estações. Já L. pardalis alterou sua atividade entre as estações.
A atividade de Canis lupus familiaris foi semelhante entre as estações, sendo maior entre 4:30h
e 12h. Homo sapiens manteve o mesmo padrão de atividade diurno entre as estações, tendo
maior pico entre 6h e 17h. Houve sobreposição dos horários de atividade do cateto com todos
os predadores, sendo que a menor sobreposição de atividade dos catetos foi com P. concolor
nas estações quente e chuvosa (Δ= 0.29 ) e fria e seca (Δ= 0.36). Os catetos também tiveram
baixa sobreposição com L. pardalis na estação quente e chuvosa (Δ=0.34). As maiores
sobreposições foram com H. sapiens na estação quente e chuvosa (Δ= 0.77) e com L. pardalis
na estação fria e seca (Δ=0.73). Já com C. lupus familiaris, em ambas as estações, a
sobreposição foi intermediária (Δ =0.63 e Δ =0.56), assim como foi com H. sapiens na estação
fria e seca (Δ =0.53) (Figura 9).

38
Figura 9: Relação da sobreposição do padrão de atividade diário do cateto comparado
com as variações climáticas (quente/chuvosa e fria/seca) e à presença dos predadores
Puma Concolor (Puma), Leopardus pardalis (Ocelot), Canis lupus familiaris (Domestic
dog) e Homo sapiens (Human). A linha inteira das curvas representa a atividade do
cateto e a linha pontilhada representa o padrão de atividade do predador representado
em cada gráfico. O sombreado em cinza representa a sobreposição da atividade do cateto
e do predador.

39
Discussão

As espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas no entorno da FLOE


Uaimií pertencem à diferentes guildas tróficas e incluem uma espécie ameaçada de extinção. A
atividade da maior parte das espécies variou sazonalmente, sendo os animais mais ativos
durante os períodos secos e frios, corroborando a hipótese inicial do estudo. Para o cateto, D.
tajacu, não foi observada variação sazonal significativa da atividade, mas uma baixa
sobreposição temporal com seus predadores naturais e alta sobreposição com humanos e cães
domésticos.

O número de espécies de mamíferos registrado no presente estudo (n=17), em 12 meses


de amostragem, está próximo aos números encontrados em levantamentos de mamíferos com
o uso de armadilhas fotográficas. Paulo (2019) encontrou 11 espécies em quatro meses de coleta
em um fragmento de Mata Atlântica, com o uso de iscas para atrair os animais para 28 pontos
amostrais, enquanto o presente estudo contou com oito pontos sem o uso de iscas. Silva (2020)
registrou em uma área de Cerrado um maior número de espécies, em menor tempo de
amostragem e com a mesma quantidade de pontos amostrais que o presente estudo, pois
encontrou 23 espécies em cinco meses de coleta. Porém, a área na qual o estudo foi realizado
(2.900 ha) era menor do que a do presente estudo (18.700 ha) e, consequentemente, a cobertura
pelas armadilhas foi maior. Já Boller (2020), em uma Floresta Ombrófila Mista com influência
de Floresta Semidecidual (Mata Atlântica), registrou 26 espécies, número expressivo quando
comparado às outras pesquisas citadas, entretanto o período de amostragem foi bem maior,
totalizando 21 meses em cinco pontos amostrais, sendo essa uma possível justificativa para o
número de espécies registrado, ou seja, maior tempo de amostragem pode estar relacionado ao
maior número de registros.

As armadilhas C1 e C3 forneceram maior número de registros e também as maiores


riquezas de espécies. Essas foram as armadilhas que mais se diferenciaram das demais em
relação às espécies registradas e as mais próximas de construções e atividade humana,
mostrando que os mamíferos também utilizam áreas com influência antrópica. Esse resultado
difere do encontrado por Gaynor et al. (2018), segundo o qual os mamíferos são afetados
diretamente pela antropização, tendo suas atividades modificadas ou adaptadas para evitar o
encontro com humanos conforme ocorre o aumento dos impactos derivados da expansão das
atividades humanas sobre os ambientes naturais. Entretanto, o local onde a armadilha C1 foi
instalada há árvores frutíferas, que constituem atrativos para os mamíferos onívoros e
herbívoros.

40
Carnivora foi a ordem mais rica, sendo representada por predadores como os felinos P.
concolor e L. pardalis. Os registros dessas duas espécies corroboram os resultados de Sunquist
and Sunquist (2002), que afirmam que essas duas espécies coexistem no mesmo ambiente. A
onça-parda (P. concolor) foi o maior predador registrado no presente estudo, com 23 registros
em 7 das 8 câmeras disponíveis; como é um animal com grande capacidade de deslocamento,
pode se tratar dos mesmos indivíduos, ou seja, ocorrendo poucos indivíduos na área estudada.
Essa espécie é um predador de topo, responsável pelo controle populacional de suas presas
(Allen et al. 2014), assim, a presença desses animais é um indicativo de regulação ecossistêmica
(Schmitz, 2010).

Estudos mostram que a ocorrência e atividade de P. concolor no ambiente está


diretamente relacionada com a disponibilidade de presas e que pode variar de acordo com
parâmetros climáticos e estações do ano (Azevedo et al., 2018; Cepeda-Duque et al., 2021).
Essa variação é vista também em Allen et al. (2014), que relatam um aumento significativo de
predação por pumas no verão e outono, sendo o verão a estação em que a principal espécie de
presa se reproduz, aumentando a disponibilidade de filhotes, que são presas mais acessíveis aos
felinos. Já no presente estudo, apesar dos predadores terem sido registrados durante todo o ano,
a maior atividade deles foi entre os meses maio e junho de 2021, ou seja, no inverno. Essa
atividade provavelmente está relacionada à maior disponibilidade das espécies de presas
registradas, como a paca e o cateto, uma vez que também foi observado o aumento de registros
dessas duas espécies de presas nos mesmos períodos. Inclusive, fotografias dessas duas espécies
com filhotes foram registradas no mês de julho, mês de maior número de registros do puma,
corroborando a hipótese de maior atividade de predadores quando há a maior disponibilidade
de presas jovens. Pacas podem se reproduzir durante todo o ano, com o maior número de
nascimentos ocorrendo entre novembro-janeiro e abril-julho (Collet, 1981; Guimarães et al.
2008; Nogueira et al. 2006; Garcia et al. 2009).

A família Canidae foi representada somente pela espécie Cerdocyon thous. Essa espécie
é tolerante às perturbações ambientais e está distribuída em quase todos os biomas/domínios e
nos mais variados habitats (Lucherini, 2015). Registros fotográficos de atividades solitárias e
em pequenos grupos (até 3 indivíduos) foram realizados e corroboraram os resultados de Lemos
et al. (2011), que mostraram que essa espécie pode forragear individualmente ou em grupos de
dois a três indivíduos. Ainda, esses autores salientam que, no Cerrado, C. thous tende a
forragear individualmente na estação seca e em grupos na estação chuvosa, divergindo dos
nossos resultados, os quais expõem registros tanto individuais quanto em grupos na estação
seca, entretanto na estação chuvosa só houve registros individuais. É importante lembrar que

41
nosso estudo foi realizado em área predominantemente de Mata Atlântica e não de Cerrado, e
que isso pode indicar uma maior disponibilidade de recursos alimentares na época seca.

As imagens registradas para C. thous indicam que esses mamíferos estão ativos durante
todo o ano, sendo menos detectáveis em dezembro, apresentando mais registros entre junho e
julho. Esse resultado indica que a sazonalidade influenciou o padrão de atividade dessa espécie,
pois os registros se concentraram na estação fria e seca, confirmando os resultados de Marques
(2013) no Rio Grande do Sul. O autor atribuiu esse padrão à necessidade de maior deslocamento
para a garantia de recursos, com o intuito de manter o metabolismo em épocas mais frias. Este
pode ter sido o motivo também do padrão de atividade observado no presente estudo. Outras
duas espécies registradas da ordem Carnivora foram Galictis cuja e Eira Barbara.
Popularmente conhecida como furão, G. cuja foi registrada apenas uma vez durante o tempo de
coleta. Esse baixo número de registros também foi relatado por Kasper et al. (2007), que
obtiveram um único registro da espécie durante dois anos de amostragem. Apesar de estar
presente na maioria dos ambientes, o furão é um animal considerado difícil de detectar (Yensen
and Tarifa, 2003). O método de registros por armadilhas fotográficas pode não ser eficaz para
essa espécie, pois esses animais podem evitar de transitar por trilhas compartilhadas com outros
mamíferos, preferindo se deslocar fora dessas trilhas e, assim, dificultando o registro (Melo et
al. 2012). Outro fator que pode ser responsável pelo baixo número de registros de G. cuja é seu
pequeno tamanho corporal, que pode não ser suficiente para acionar as armadilhas (Tobler, et
al., 2008).

A irara (E. barbara) foi registrada em todas as câmeras e foi a espécie com maior
número de registros (172). Uma observação interessante é que a maioria dos registros foram
nas câmeras mais próximas às construções humanas (C3, C1 e C6). Esse achado corrobora os
trabalhos de Presley (2000) e Villafañe-Trujillo et al. (2021), os quais enfatizam a resiliência
dessa espécie em relação à antropização. Elas conseguem explorar ambientes em que a presença
humana é frequente, independente da oferta de elementos antrópicos, como plantações, uma
vez que o local de instalação da C3 e C6 não apresentam recursos disponibilizados pela
população como é o caso da C1, a qual apresenta variadas árvores frutíferas que poderiam
funcionar como atrativos para as iraras. A sazonalidade teve influência no padrão de atividade
dessa espécie, uma vez que os registros se concentraram principalmente em meses de frio e
seca, corroborando os resultados de Marques (2013) no Rio Grande do Sul, onde foi encontrado
o mesmo padrão de atividade. Villafañe-Trujillo et al. (2021) também encontraram alterações
no padrão da irara entre as estações climáticas e sugeriram que essa mudança no padrão de
atividade possa estar relacionada com a disponibilidade de recursos no ambiente. Durante a

42
estação seca e fria, a quantidade de recursos diminui, forçando a irara a se deslocar mais para
forragear.

Para a espécie Cuniculus paca também foram obtidos registros expressivos, ficando
atrás somente dos catetos e da irara. A maior quantidade de registros dessa espécie foi
proveniente das câmeras C1 e C5, as quais estavam instaladas próximas a um córrego e uma
lagoa, respectivamente, coincidindo com o estudo de Matamoros (1982), que menciona a
preferência desses animais por locais com lagoas e rios. As pacas são animais importantes para
o ambiente, pois são dispersores de sementes, contribuindo para a estruturação do ecossistema
(Zucaratto, 2010). De todos os registros obtidos para essa espécie (137), 56% foram pela câmera
C1, onde se encontram várias espécies de árvores frutíferas (elementos antrópicos) (banana,
goiaba, jabuticaba, várias espécies de laranja, abacate, etc.). O fato de haver essas plantas no
local pode ser um indicativo de que as pacas estão sendo atraídas por esses recursos alimentares
já que em alguns registros fotográficos esses animais estavam se alimentando de laranja,
reforçando o papel das culturas humanas como recursos alimentares para a fauna nativa e seu
importante papel na dispersão de sementes, mesmo que de espécies exóticas (Zucaratto, 2010).

A espécie Sylvilagus brasiliensis é restrita à America do Sul (IUCN, 2022), atualmente


alguns trabalhos trazem indícios de que existem algumas subespécies e estudos estão sendo
realizados para a comprovação dessa hipótese (Bonvicino et al. 2015; Ruedas et al. 2019; Silva
et al. 2019). Dessa forma, a provável subespécie para a região do estudo é Sylvilagus
brasiliensis minensis (Bonvicino et al. 2015), entretanto os estudos ainda estão recentes e cheios
de incertezas. Sendo assim, no presente estudo a espécies registrada é tratada como Sylvilagus
brasiliensis, sendo esta a segunda espécie mais registrada. Chama a atenção o elevado número
de registros obtidos para S. brasiliensis, porque mesmo estando entre as espécies mais
registradas no presente estudo, a espécie S. brasiliensis é considerada atualmente em perigo de
extinção por ser restrita ao domínio da Mata Atlântica, o qual está sendo constantemente
ameaçado pela fragmentação e consequente diminuição de sua área (IUCN, 2022). No presente
estudo, todos os registros dessa espécie foram de indivíduos solitários, corroborando Reis et al.,
(2006). Embora esse animal tenha sido bastante registrado, não é possível estimar o tamanho
da população do entorno da FLOE Uamií, devido à dificuldade de identificação individual e
por não apresentar registros ao mesmo tempo em câmeras diferentes.

Duas espécies de Cetartiodactyla foram registradas, Mazama gouazoubira e Dicotyles


tajacu. Para Mazama gouazoubira foram obtidos dois registros em uma mesma câmera,
indicando raridade da espécie na região. Em um estudo, na Serra de Ouro Branco, um cervídeo
dessa espécie também foi registrado (Braga et al., 2018), a presença dessa espécie foi detectada

43
a partir pegadas e de relatos da população local, que menciona ser raro o avistamento. Apesar
de poucos registros, a presença dessa espécie é importante, pois é uma potencial presa para as
onças-pardas e seus filhotes e também podem ser predados pelas jaguatiricas (Jackson and
Langguth, 1987). O cateto (D. tajacu), além de ser uma presa para esses predadores, também é
um importante predador de pequenos vertebrados e dispersor de sementes, contribuindo
fortemente para a manutenção de ecossistemas florestais (Desbiez and Keuroghlian, 2009).
Além disso, são considerados engenheiros de ecossistemas, pois fuçam o ambiente, causando
modificações que irão facilitar a colonização de anfíbios (Beck et al., 2010) e répteis de
serapilheira (Reider, 2013). Assim, os catetos, como outros mamíferos de médio e grande porte,
atuam na estruturação das comunidades (Kurten, 2013).

O maior grupo de catetos registrado continha 15 indivíduos (um registro), entretanto, a


maioria dos registros foi de grupos de até nove indivíduos, reforçando os resultados de
Bissonette (1982) e Sowls (1997), os quais encontraram grupos médios de nove catetos. Embora
tenha sido observado um aumento de registros de catetos nos meses mais frios e secos do ano
(maio a julho), seu padrão de atividade não sofreu influência da sazonalidade. Isso difere do
padrão observado no Pantanal, onde a atividade do cateto tende a declinar com o aumento da
temperatura (Hofmann et al. 2016), possivelmente em função das alterações abientais
decorrentes onde dos períodos de cheia e vazante. Esse resultado pode estar relacionado com o
hábito alimentar dos catetos, pois eles têm dieta variada, podendo consumir, preferencialmente,
raízes, tubérculos, caules, frutos e folhas (Sowls, 1997). Entretanto, para complementar sua
alimentação, quando necessário, consomem proteínas animais (Bodmer et al. 1997) adquiridas
a partir de larvas, insetos, anfíbios e répteis (Mayer and Brandt, 1982). Dessa forma, os recursos
para essa espécie estão disponíveis durante todo o ano, portanto não precisam aumentar a busca
por alimento, fazendo com que a sazonalidade não tenha tanta influência no padrão de atividade.

Com exceção do cateto, todas as espécies apresentaram praticamente o mesmo padrão


de atividade, sendo mais ativas na estação fria e seca. Essa diferença na atividade entre as
estações pode ter relação com a complexidade ambiental (cobertura vegetal) e com a
disponibilidade de recursos alimentares, os quais normalmente diminuem nas estações frias e
secas (Develey and Peres, 2000). Uma das 100 questões citadas como fundamentais em
ecologia é a importância das interações tróficas para determinar a composição de espécies de
uma determinada comunidade (Sutherland et al. 2013). Os mamíferos registrados estão
distribuídos em três guildas tróficas, carnívoros, herbívoros e onívoros. O aparecimento mais
frequente de espécies de todas essas guildas na mesma estação pode ser resultado do “efeito
cascata” acarretado pela diminuição da cobertura vegetal, que leva os herbívoros e onívoros a

44
realizarem maiores deslocamentos para buscar recursos alimentares, sendo que, estes são presas
para os carnívoros. Além disso, nessa época também é registrado o aumento de insetos
herbívoros em áreas de Mata Atlântica, especialmente nas bordas de fragmentos florestais
(Barbosa et al. 2005), que são bastante utilizados por espécies onívoras generalistas, como é o
caso de E. barbara e C. thous. Assim, aumentando a disponibilidade de presas (recursos),
ocorre maior atividade dos predadores e, consequentemente, as espécies são mais registradas
pelas armadilhas fotográficas.

Apesar de constar na literatura que D. tajacu é uma das principais presas da onça-parda
(Martins, Quadros and Mazzolli, 2008). A sobreposição temporal entre os catetos e P. concolor
foi pequena em ambas as estações, refutando o estudo de Azevedo et al. (2018), que
encontraram alta sobreposição entre essas duas espécies em uma área de transição entre Cerrado
e Mata Atlântica. A baixa sobreposição pode estar relacionada a três fatores: 1) os catetos
tendem a forragear em horários distintos aos das onças-pardas, minimizando o risco de
predação; 2) a disponibilidade de presas noturnas ativas pode ser maior e pode ser que exija
menos gasto energético por parte das onças-pardas para capturá-las, se comparadas aos catetos,
já que catetos andam em bandos constantemente alertas, podendo apresentar estratégias e
comportamentos agressivos contra os predadores (Azevedo et al., 2018 apud Taber et al., 2011),
influenciando o padrão de atividade das onças-pardas (Ross et al. 2013; Azevedo et al., 2018;
Cepeda-Duque et al., 2021); e 3) as onças-pardas podem alterar seu padrão de atividade para
evitar encontros com humanos e até mesmo com cães domésticos, que por sua vez, têm a
capacidade de causar distúrbios na atividade dos carnívoros (Ngoprasert, Lynam and Gale,
2007).

Assim como apresentado na estação quente e chuvosa, o padrão noturno das jaguatiricas
também foi encontrado por Goulart (2008), que relara horário de atividade igual em ambas as
estações, tendo picos próximos às 21h e 00h. Entretanto, no presente estudo, esse horário se
alterou, na estação fria e seca a jaguatirica apresentou padrão de atividade mais diurno. Embora
os registros de atividade dos catetos não tenham apresentado diferenças entre as estações,
nossos resultados (Figura 7) mostram que os catetos tiveram maiores picos de registros na
estação fria e seca, sendo essa uma possível relação da maior sobreposição de atividade entre
essas duas espécies, ou seja, possivelmente as jaguatiricas alteraram sua atividade para coincidir
com a atividade dos catetos, já que os predadores alteram sua atividade conforme a
disponibilidade de presas (Allen et al. 2014; Azevedo et al. 2018), inclusive as jaguatiricas
(Emmons, 1988).

45
O fato dos catetos andarem em bandos e apresentarem comportamentos agressivos em
relação aos predadores (Azevedo et al., 2018 apud Taber et al., 2011) pode ser uma explicação
para a alta sobreposição de atividade destes com os cães domésticos. Isso porque os cães
provavelmente evitam a caça dessa espécie nessa região, com o intuito de minizar os riscos de
lesões e, dessa forma, conseguem cooexistir espacial e temporalmente com os catetos, sem gerar
conflitos intraespecíficos e estresse. Entretanto, são relatadas alteração entre os cães
domésticos, que passaram da atividade diurna, normalmente observada (Srbek-Araujo and
Chiarello 2008; Silva et al. 2018) para a atividade crepuscular (no amanhecer e no entardecer)
Carvalho et al. (2019). Aparentemente, essa alteração observada no presente estudo parece ter
sido para facilitar a busca por recursos, pois a atividade dos cães sobrepôs a das potenciais
presas, como o tapeti, S. brasiliensis. A sobreposição entre os catetos e os cães domésticos pode
estar relacionada a predação de outras presas pelos cães. Nesse contexto, é sugerido que os
predadores têm maior capacidade de ajustar sua atividade, a fim de minimizar o gasto
energético, do que as presas, para evitar seus predadores (Foster et al. 2013).

Apesar da presença humana ser reconhecida pelos animais de forma semelhante à


presença de predadores (Walther, 1969; Leite and Galvão, 2002), fazendo com que os animais
modifiquem seu padrão temporal de atividade para a evitar os encontros com humanos (Gaynor
et al., 2018), no presente estudo a atividade humana teve alta sobreposição com a atividade dos
catetos, indicando que H. sapiens aparentemente não tem forte influência sobre o padrão de
atividade dos catetos. Uma possível explicação para essa sobreposição pode ser a baixa pressão
de caça, associada à baixa densidade da população humana na região. Além disso, em um estudo
etnozoológico na região da Serra do Ouro Branco, foi relatado o desinteresse dos jovens por
tradições antigas das comunidades, como a caça, sendo uma possível consequência do avanço
da tecnologia, inclusive em áreas rurais,considerando ainda que a fiscalização contra a caça e a
facilidade de acesso à carne (reduzindo a necessidade de caça para alimentação) também são
fatores responsáveis pela baixa pressão de caça (Pinto et al. 2012).. Por outro lado, regiões onde
são exercidas intensas pressões de caça, os animais mais atingidos tendem a ser as espécies de
massa corporal igual ou superior a 5kg, ou seja, essas são as primeiras a ter o declínio
populacional registrado (Peres, 2000; Endo et al. 2010). Isso não foi constatado no presente
estudo, uma vez que a maioria das espécies registradas possui massa corporal de 5Kg ou mais,
corroborando a hipótese de pequena pressão de caça na região. Outra explicação para essa alta
sobreposição dos catetos com humanos pode ser porque predadores tendem a evitar áreas com
interferências humanas e dessa forma, ficando mais próximos dos humanos, os catetos podem
minimizar o risco de predação (Muhly et al. 2011).

46
Conclusão

A maioria dos mamíferos de médio e grande porte registrada no entorno da FLOE


Uaimií apresenta diferença sazonal no padrão de atividade, com exceção dos catetos, que não
têm sua atividade influenciada sazonalmente. As espécies registradas utilizam áreas com
influência antrópica indicando que a comunidade de mamíferos na região de estudo parece estar
sujeita a uma baixa pressão de caça. Os catetos apresentam alta sobreposição de atividade diária
com humanos, mas apresentam baixa sobreposição de sua atividade diária com P. concolor.

A APA das Andorinhas e a FLOE-Uaimií, mesmo sendo Unidades de Conservação de


uso sustentável, são importantes para a conservação de espécies de mamíferos, abrigando
animais das diversas guildas tróficas, inclusive espécies ameaçadas.

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59
Material suplementar 1

Tabela 1. Localização e coordenadas geográficas das armadilhas


fotográficas instaladas na Área de Proteção Ambiental Estadual da
Cachoeira das Andorinhas (APA Andorinhas), no município de Ouro
Preto, Minas Gerais. DMS: Coordenadas geográficas (graus, minutos e
segundos); DNB: Distância em metros da construção mais próxima.
Coordenadas DNB Habitat
Câmera Site
geográficas (m)

Área aberta, com


árvores frutíferas e
20°18'11.89"S
C1 Entorno 1 45 pequeno córrego por
43°35'54.94"W
onde escoa a água de
uma nascente

Área de floresta com


pequeno córrego por
20°16'29.3"S
C2 Entorno 2 764 onde escoa a água de
43°35'49.4W
uma nascente

Estrada não
20°15'43.3"S pavimentada no
C3 Fazenda 1 161
43°36'31.1"W interior da floresta

Estrada não
20°15'32.6"S pavimentada no
C4 Fazenda 2 517
43°36'26.3"W interior da floresta

Estrada não
20°15'38.9"S pavimentada no
C5 Fazenda 3 438
43°36'21.6"W interior da floresta

Estrada não
20°15'45.1"S
C6 Fazenda 4 176 pavimentada no
43º36’27.8"W
interior da floresta
Área de floresta,
20°17'44.41"S
C7 Floresta 1 888 próximo ao Rio das
43°33'29.71"W
Velhas
Área de floresta
20°17'31.22"S
C8 Floresta 2 574 próxima a estrada não
43°33'36.26"W
pavimentada

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