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CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof.

Remo Dalla Zanna (MS)

CI 04 – edição pessoal para fins de estudo e venda em PDF

Revisado e atualizado até maio/2021.

COMO CALCULAR O FUNDO DE COMÉRCIO e PERPETUIDADE


(4º módulo)

1. Fundo de Comércio
1.1. Conceitos de Fundo de Comércio.
1.2. Explicitação do que o Fundo de Comércio representa
1.3. Contabilização do Fundo de Comércio
1.4. Dificuldades para conhecer o valor do Fundo de Comércio
1.5. Juros compensatórios
2. O lucro como elemento determinante para avaliar o Fundo de
Comércio da empresa.
3. Conceitos, Critérios e alguns Cálculos de Avaliação de Fundo de
Comércio.
a) Comentário Introdutório
b) Fundamentação Teórica e Fórmula para calcular o Fundo de
Comércio com base no Fluxo de Caixa Descontado
c) Estudo de um caso real
4. Outras formas usadas para avaliar uma empresa em condições de
normalidade e PERPETUIDADE.
4.1. Pelo método Americano EBITDA (erning before interest, taxes,
depreciation and amortization);
4.2. Pelo método de capitalização de lucros líquidos futuros;
4.3. Pelo método de capitalização de lucros líquidos do passado mais (+)
despesas com propaganda e publicidade.
4.4. Perpetuidade: conceito e cálculos.
5. Outros exemplos de cálculo do valor do Fundo de Comércio.
6. O Valor do Fundo de Comércio de Empresas de Pequeno Porte –
EPPs e de Microempresas como Farmácias, Padarias, Postos de
Gasolina, Mercadinhos, Pizzarias e etc.
7. O Valor do Fundo de Comércio de uma Sociedade Anônima de
Capital Aberto.

1. Fundo de Comércio

1.1. Conceitos de Fundo de Comércio.

A ideia universal a respeito do valor do Fundo de Comércio (1) corresponde ao


lucro que excede (2) ao que se espera como lucro normal (3) decorrente da aplicação
financeira do Ativo Operacional Líquido – AOL da sociedade empresária. Por
isso, o Fundo de Comércio reflete o valor dos bens intangíveis (imateriais) de
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forma que a empresa vale a soma do valor de seu AOL composto, que é, por bens,
direitos e obrigações demonstrados em seu Balanço Patrimonial – MAIS – o valor
atribuído ao seu Fundo de Comércio. Ou seja, MAIS sua capacidade de gerar
lucros futuros. Esta questão não é objeto de controvérsias. As controvérsias surgem
no momento em que se escolhe um, entre vários métodos existentes, para calcular
estimativamente, o valor do Fundo de Comércio, ou seja, o valor do “goodwill”.
Este tema é notório exatamente por causa das várias propostas apresentadas, ao
longo de quase um século, sobre as formas de calcular o valor deste bem imaterial.

No que diz respeito à apuração do valor do AOL (Ativo Operacional Líquido), em


face das negociações entre os interessados em estabelecer (ou fixar) o valor efetivo
da empresa e tendo como ponto de partida o Balanço Patrimonial, sempre serão
feitos ajustes tanto nas contas do Ativo como do Passivo que resultarão em um
valor do Patrimônio Líquido a preços de mercado ou dentro do conceito de Preço
Justo conforme se lê na orientação técnica nº 46 do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis. Com a aplicação desses conceitos: preços de mercado e Preço Justo se
obtém outra demonstração contábil a que chamamos de Balanço Especial.

O Patrimônio Líquido corrigido pela aplicação dos conceitos de:


i) “valor presente”,
ii) “valor de mercado”,
iii) “valor de realização”,
iv) “valor de venda forçada”,
v) v) “valor de liquidação” e etc.; ...
...leva o nome de Patrimônio Líquido Ajustado.
(1)
Para a Contabilidade, a palavra: “fundo”; tem o mesmo significado de “provisão” e indica que
do lucro do exercício foram segregados valores para atender despesas que se sabe ocorrerão no
futuro tais como: a) fundo ou provisão para pagamento de férias dos funcionários; b) idem, para
o pagamento de décimo terceiro salário; c) fundo ou provisão para absorver perdas com
devedores inadimplentes; d) fundo ou provisão para reformas e reparos no edifício; e) fundo ou
provisão para atendimento de garantias etc. Em outras situações a palavra: “fundo”, tem
característica estritamente monetária. Por exemplo, na contabilidade de condomínios residenciais
e comerciais os “fundos” correspondem a uma conta bancária específica, tal como: “fundo para
pintura do prédio”, “fundo para o 13º dos funcionários”, “fundo para férias”, “fundo para
blindagem da guarita” etc. Na respectiva conta bancária, é, mensalmente, depositada a quantia
destinada à formação destes fundos conforme decisão da Assembleia de Condôminos. Para os
condomínios residenciais e comerciais a criação de contas específicas para esses fundos, além de
proporcionar renda financeira enquanto não são feitos os dispêndios para os quais foram criados,
revelam, categoricamente, o destino futuro do dinheiro ali depositado. Todavia, a tradição
jurídica consagrou a expressão: “Fundo de Comércio” para designar o conjunto de bens
intangíveis não contabilizados e, inclusive, sua capacidade de gerar lucros que excedem o
normalmente esperado para a atividade, elemento intangível que em língua inglesa recebeu o
nome de “goodwill”. Por sua vez, lucros que excedem o normalmente esperado para a atividade
são os lucros futuros que a empresa em funcionamento pode gerar nos próximos anos.

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(2)
Entende-se como Lucro Excedente a diferença entre o lucro da empresa apurado, digamos nos
últimos três anos e o que poderia ser obtido aplicando o mesmo Ativo Operacional Líquido
(AOL) em títulos do Tesouro Nacional, conhecidos como “Tesouro Direto”.
(3)
Entende-se como Lucro Normal a renda que pode ser obtida aplicando um capital, um AOL
sem risco. Por exemplo, aplicação financeira em títulos do Tesouro Nacional ou em Caderneta
de Poupança.

O Patrimônio Líquido assim Ajustado é a expressão aritmética entre direitos,


bens e obrigações decorrentes de ajustes dos saldos das contas em que os direitos e
obrigações fiduciários são apresentados pelo seu valor presente ou valor atual e os
bens físicos (estoques e ativos imobilizados) pelos seus valores de mercado.

Assim sendo, o conceito de Fundo de Comércio, no âmbito deste capítulo, abrange


somente os bens imateriais ou intangíveis não contabilizados e, mais
precisamente, o valor dos lucros futuros que a empresa pode gerar.

Quando este trabalho de ajustar os saldos das contas que compõem o Patrimônio
Líquido contábil acontece em ambiente forense e é feito:
(a) por determinação judicial e
(b) por um perito contador, ...
...recebe o nome de Balanço de Determinação.

Em casos que tramitarem pelo Poder Judiciário, o valor do Patrimônio Líquido


resultante da apuração do Balanço de Determinação deve atender aos conceitos
relacionados com a continuidade ou descontinuidade do negócio. Estes conceitos
são:
1. dissolução parcial ou total da sociedade por vontade dos sócios ou por
motivo de falência, e ...
2. resolução em casos em que se dá a saída voluntária de um dos sócios ou, no
caso de seu afastamento pela vontade dos demais sócios. Neste caso a
empresa continua operando.

Nos casos de falência o Patrimônio Líquido Ajustado será apresentado pelo seu
Valor de Liquidação (fechamento da empresa).

Nos casos de dissolução total, dependendo da r. decisão judicial, o Patrimônio


Líquido será apresentado pelo seu Valor de Venda Forçada (ou seja, pelo valor
que os bens físicos da empresa puderem ser vendidos, no estado em que se
encontram, conforme avalição pericial).

Já nos casos de resolução decorrente de retirada de sócio e continuidade das


atividades empresariais pelos sócios remanescentes, o Balanço de Determinação
será apresentado pelo Valor de Mercado também chamado de Valor Justo. E, no

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conceito de valor de mercado e de valor justo insere-se o valor do Fundo de


Comércio.
NOTA: A jurisprudência determina que o Patrimônio Líquido apurado em
Balanço de Determinação para fins de resolução – retirada de um
dos sócios e continuidade da empresa – seja feito da mesma forma
como se a empresa fosse ser dissolvida.

Sabendo-se que o Fundo de Comércio é o valor atribuído à empresa que excede o


valor contábil de seu Patrimônio Líquido Ajustado, conclui-se então, que
nenhuma empresa, em funcionamento, vale menos que o valor de seu
Patrimônio Líquido Ajustado.

Logo:

O valor da empresa é igual à soma de

Patrimônio Líquido conforme Balanço de Determinação


+
Fundo de Comércio

Lembrete: o AOL é um quantitativo usado para calcular o Fundo de


Comércio e não se confunde com o conceito de Patrimônio Líquido
Ajustado, apurado conforme Balanço de Determinação. O AOL é
um número obtido do que foi considerado no Balanço de
Determinação.

1.2. Explicitação do que o Fundo de Comércio Representa

O Fundo de Comércio é o conjunto de bens incorpóreos, ou imateriais ou


intangíveis que uma empresa possui. Estes bens são conceituais e estão
relacionados com o sucesso da entidade. Vários bens intangíveis somados dão a
conhecer o valor do Fundo de Comércio ou “goodwill”. Além do que já foi visto
no capítulo precedente, o 2º (segundo), há que considerar:
 a freguesia(4);
 a clientela(5); e
 o goodwill(6).
(4)
A ideia da palavra “freguesia” remete o pensamento a um conjunto de pessoas físicas e
jurídicas que compram e/ou usam os produtos e serviços de uma determinada empresa e que este
conjunto de consumidores e/ou usuários localiza-se nas proximidades geográficas do fornecedor
e/ou prestador dos serviços. Esta proximidade tem a ver com o local onde o “freguês” mora,
trabalha ou estuda. Exemplos: a freguesia de um restaurante, de uma escola, de um clube
esportivo, de uma farmácia, de um hospital, de um cabeleireiro, de um massagista, de um
dentista, de um posto de gasolina etc. A ideia de “freguesia” corresponde também à ideia de
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“fidelidade” do consumidor. Na era da informática e das telecomunicações, a freguesia é o


conjunto de pessoas que apresentam grande probabilidade de manterem-se fieis à empresa
fornecedora por longo período de tempo. Exemplos: fidelidade para com a provedora de Internet,
para com a empresa de telefonia fixa e/ou móvel. Fidelidade para com um plano de saúde, para
com uma corretora de valores, para com um banco, para com uma agência de turismo, etc.
(5)
A ideia que a palavra “clientela” gera no pensamento é que se trata do conjunto de pessoas
físicas e jurídicas que compram e/ou usam os produtos e serviços de uma determinada empresa
ou de um determinado profissional em face de sua localização ser conveniente naquele momento
em que surge a necessidade. Exemplos: a clientela de um restaurante de aeroporto ou de beira de
estrada; uma universidade localizada em outra cidade, estado ou país em face à sua fama; uma
academia especializada em certos tipos de atividades físicas; um hospital especializado em
determinado tipo de cirurgia, etc. A ideia de “clientela” corresponde também à ideia de
“causalidade” e de “oportunidade” do consumidor, totalmente diferente da ideia de “fidelidade”.
Então “cliente” é o que busca por determinados produtos e por serviços específicos, isto,
independentemente da localização geográfica do fornecedor.
(6)
As palavras “goodwill” ou “aviamento” transmitem a ideia de que se trata de um conjunto de
qualidades empresariais e/ou pessoais que proporcionam a quem as têm, lucros que excedem o
que poderia ser conseguido aplicando-se o mesmo capital, sem risco.

A organização e a gestão adequada dos bens intangíveis produzem um efeito


positivo junto ao mercado. Considerando que, em uma sociedade que adotou a
livre concorrência, a conquista de “freguesia”, “clientela” e “aviamento” são
fundamentais para a continuidade da empresa, estes bens têm valor econômico.
Logo, o Fundo de Comércio, como bem econômico que é, pode ser vendido e,
para ser vendido, há que se atribuir um preço. Por conseguinte, necessita ser
avaliado.

A partir desse momento, faz-se uso da Demonstração de Resultados também


ajustada como contrapartida dos ajustes feitos ao Ativo e ao Passivo do Balanço
Especial que geraram o Balanço de Determinação. Todos os ajustes feitos às
cifras do Balanço Especial se refletem na Demonstração de Resultado.

Os lucros do passado servem como indicativo para o Perito Judicial estimar os


lucros futuros. Numa situação em que a empresa seria vendida, seja parcial ou
totalmente, pessoas interessadas em adquiri-la estarão dispostas a pagar preço
maior que o valor expresso pelo seu Patrimônio Líquido. Logo, reconhecem que
a empresa tem um sobrevalor, ou seja, um Fundo de Comércio. Usamos, na
observação, a expressão: lucros que excedem ao esperado em situação normal.

Considerado o aspecto meramente econômico, afastado, pois, qualquer aspecto


emocional, ninguém manteria funcionando uma empresa cujos lucros fossem
iguais ou menores que os proporcionados por uma aplicação em Títulos Federais
negociados no sistema “Tesouro Direto”.

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Este conceito é aplicado nas avaliações de empresas no âmbito da Justiça de forma


que o sócio afastado possa receber o valor justo de suas quotas ou ações, (*) no
qual seja incluído um adequado valor do Fundo de Comércio (goodwill
empresarial), isto, por certo, se a empresa for lucrativa e o possuir.
(*) a referência a ações se aplica às companhias de capital fechado porque as
companhias de capital aberto têm suas cotas negociadas em Bolsa de
Valores.

1.3. Contabilização do Fundo de Comércio

Os bens incorpóreos contabilizáveis são os que foram comprados. Considerando


que a escrituração contábil só pode ser feita à luz de documentos idôneos, legais e
legítimos, a contabilização do que se pagou pelo Fundo de Comércio terá por base
documento idôneo, geralmente um contrato de compra e venda registrado em
Cartório de Títulos e Documentos e respectivos recibos do valor pago.
Exemplos:
1. O investidor na sua situação de cooperado, franqueado ou associado, paga
para entrar no negócio, na associação etc. uma “joia” ou “luvas” ou outra
denominação dada à quantia paga no momento do ingresso. O valor pago
será registrado no Ativo Intangível.
2. O “ágio” das ações ou das quotas sociais, calculado com base no valor do
Patrimônio Líquido Contábil, pago para adquirir o total da empresa ou uma
parte dela.

Como se vê, o fundo de comércio só pode ser contabilizado quando adquirido


formalmente. Nesta situação, o valor que for pago gerará um lançamento do tipo:

DÉBITO: Fundo de Comércio. Conta: Intangível do grupo do Ativo


Não Circulante.
CRÉDITO: Caixa/Bancos ou Contas a Pagar
HISTÓRICO: Aquisição de bens incorpóreos (fundo de comércio)
conforme contrato. Ou, alternativamente: ágio pago na compra
de participação acionária conforme contrato ou conforme nota
da Corretora xyz.

O Fundo de Comércio é passível de amortização em conformidade com a


legislação do Imposto de Renda aplicável às pessoas jurídicas.

1.4. Dificuldades para conhecer o valor do Fundo de Comércio.

Vários profissionais: economistas, contabilistas, engenheiros, administradores, etc.


têm se dedicado à difícil tarefa de dar valor a bens que não figuram no Balanço
Patrimonial e que não podem ser avaliados objetivamente. Ocorre que esses bens
incorpóreos podem ter qualquer valor desde zero (valor nulo) ou maior e até bem

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maior que o valor líquido dos bens tangíveis. Esta situação, em que o Fundo de
Comércio vale mais que os bens físicos; é comumente observado nas empresas
prestadoras de serviços e corretoras. E por quê? – R.: porque o que leva ao
fechamento de negócios e geração de lucros, nessas empresas, é networking de
seus sócios.

As principais dificuldades enfrentadas para dar valor ao Fundo de Comércio são:

a) Como calcular (projetar, estimar) os lucros futuros que, descontados a uma


taxa de juros (custo de capital) dão a conhecer o valor presente, ou valor
atual, desses lucros futuros?
b) Qual seria a quantidade de anos, desses lucros futuros, considerada adequada
para conhecer o Fundo de Comércio? 3 (três) ou 5 (cinco) anos?
c) Qual seria a média aritmética ideal dos lucros do passado? 3 (três) ou 5
(cinco) anos?
d) Que taxa de desconto (custo de capital) usar para trazer ao valor presente os
lucros futuros estimados? (7)
a) Qual seria taxa de juros pela qual se pode dividir a média aritmética dos
lucros do passado, para conhecer o valor do Fundo de Comércio sem que
ocorram muitas controvérsias no ambiente forense?

A resposta às questões “a”, “b” e “c” está relacionada com a confiabilidade das
fontes de informação e com a credibilidade atribuída às informações obtidas pela
pericia. Já a resposta para as perguntas “d” e “e” está relacionada com a capacidade
técnica do avaliador (do perito contador, no nosso caso) de escolher uma taxa de
desconto e uma taxa de juros, ambas, em linha com o que se espera que aconteça
no futuro, no momento presente.
Explicando: o momento presente é aquele em que o perito contador está
trabalhando e o futuro é estimado para um tempo que varia, geralmente,
de 3 (três) ou 5 (cinco) anos. Assim sendo, os cálculos feitos no passado
o foram com base na expectativa que se tinha àquela época e os cálculos
que serão feitos daqui a alguns anos (daqui a cinco anos, por exemplo) o
serão com base em expectativas inimagináveis no momento presente.

Para nós, peritos contadores, a verdade que se busca com o uso de nossos
conhecimentos diz respeito à situação em que um sócio retirante, dissidente ou os
herdeiros do sócio falecido, quando recorrem ao Poder Judiciário para que arbitre o
Valor Justo de seus haveres, terá sido exatamente porque não confiou nas ...
(7)
Esta taxa de desconto ou taxa de juros, que é conhecida pelo nome de “custo de capital” e, às
vezes, pelo nome de “custo de oportunidade”, corresponde ao percentual que o investidor espera
diante da oportunidade de aplicar seus recursos na aquisição da empresa ou parte dela. Então,
para evitar celeumas em casos de avaliações no âmbito da Justiça, o “custo de oportunidade”
pode ser representado pela taxa SELIC.

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... Demonstrações Contábeis usadas pela Administração, na fase extra judicial, para
atribuir valor aos seus haveres. É isso!

Diante desta situação real e tendo que atribuir um valor ao Fundo de Comércio
como em casos de: (a) separação, dissidência, afastamento ou falecimento de
sócios; (b) separação de cônjuges em face aos bens adquiridos na constância do
casamento (aquestos) (c) venda, cisão, fusão ou incorporação de empresa por
decisão judicial; (d) despejo da empresa por decisão governamental em
atendimento ao interesse público; (e) etc.; o Perito:
1. sempre que possível valer-se-á de informações contábeis disponíveis na
empresa avaliada;
2. procederá aos ajustes cabentes de maneira fundamenta e apresentará, como
consequência, o Balanço de Determinação; e
3. elaborará estimativas para conhecer o valor do Fundo de Comércio.

1.5. Juros Compensatórios:

No meio forense, a avaliação de empresas se faz na data-base do Balanço de


Determinação. Essa data é sempre uma data passada em relação ao momento em
que o trabalho pericial é feito. Caso a empresa tenha continuado suas atividades
apesar da retirada de um ou mais sócios, seus resultados futuros, contados a partir
dessa data base, já estarão disponíveis e serão conhecidos via Demonstrações de
Resultado dos exercícios que se sucederam à retirada do sócio. Todavia, não se
prestam para avaliar a empresa porque o sócio afastado ou falecido ou dissidente,
não participou da gestão que os gerou. Esta é uma verdade incontestável. Por outro
lado, a parte do patrimônio que deverá ser paga ao sócio retirante permaneceu na
empresa da data de sua retirada, que corresponde á data do levantamento do
Balanço de Determinação, até a data da decisão judicial. Este patrimônio (esse
capital) pertencente ao sócio retirante, que continuou sendo gerido pelos sócios
remanescentes gerou ou poderia ter gerado novos resultados para eles e do qual o
sócio retirante não participará. Entende-se, então, que ao sócio retirante deve ser
paga uma renda que o Capital ainda não recebido lhe proporcionaria se disponível
para ele fosse, isto independe dos resultados obtidos depois de seu afastamento,
se lucros ou prejuízos, pois, como foi dito, da administração não participou. O
conceito desta forma de pensar está na suspeita de que na ausência do sócio
retirante e antes que lhe sejam pagos seus direitos, os sócios remanescentes
poderiam ter perpetrado algum tipo de fraude para prejudica-lo.

O sócio retirante, não tendo participado das decisões tomadas depois de seu
afastamento, nenhuma responsabilidade tem para com os lucros ou para com os
prejuízos contabilizados depois que seu afastamento. Por outro lado, se lhe
tivessem sido entregues, de pronto, seus haveres, poderia tê-los aplicado em outro
negócio. Logo, devem-lhe ser reconhecidos juros compensatórios.

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Por causa das controvérsias que esta situação gera e, na eventual ausência de
determinação judicial estabelecendo o percentual, o Perito Judicial acrescentará,
em favor do sócio retirante, atualização monetária conforme fatores da Tabela
Prática do Tribunal de Justiça e juros compensatórios à taxa de 1% ao mês.

2. O lucro como elemento determinante para avaliar o Fundo de Comércio da


empresa

Segundo o Acadêmico Adriano Gilioli in Acadêmicos Explicam os


Pronunciamentos Contábeis; 1ª edição; Academia Paulista de Contabilidade –
APC; página 63: “Do ponto de vista prático, o lucro é um indicador estimado do
sucesso do negócio (...) no momento em que as atividades ocorrem...”. Apesar de
algumas pessoas pensarem de forma diferente, temos, então que o conceito de
Fundo de Comércio não permite a existência de Fundo de Comércio Negativo.
Para indicar que o “goodwill” revelou-se negativo, alguns autores mencionam o
“badwill”. Ou seja, a empresa vale menos que seu Patrimônio Líquido Ajustado
porque gera menos lucro que a renda proporcionada pelo mesmo capital se
investido fosse, em títulos do Tesouro Direto, estes, conceituados como
investimento financeiro sem risco. Logo, toda empresa que apresentar, como média
de resultados dos 3 (três) ou 5 (cinco) anos que antecederam a elaboração do
Balanço de Determinação: prejuízos; tem Fundo de Comércio nulo.

A hipótese de inexistir Fundo de Comércio em empresas cujo Balanço Patrimonial


Ajustado apresenta prejuízo ou lucro abaixo da taxa básica de juros (SELIC) é algo
muito concreto, principalmente, pelo fato de as Demonstrações Contábeis de
sociedades anônimas fechadas, de empresas limitadas, de empresas de pequeno
porte, ressalvadas as sempre existentes e honradas exceções, não revelarem a
realidade de todas as operações realizadas.

Afora este fato, sempre existe a possibilidade de o valor do Patrimônio Líquido ter
sido objeto de manipulação para fraudar interesses de sócios ausentes, de
financiadores, do fisco etc. Portanto, as empresas cujas Demonstrações de
Resultado, mesmo depois de serem feitas os ajustes possíveis, apresentam prejuízo
ou um lucro inferior à remuneração proporcionada pelos Títulos do Tesouro
Nacional, NÃO têm Fundo de Comércio.

Os resultados do passado, lucros ou perdas, são um indicativo do sucesso da


empresa que se projeta para o futuro. Em casos em que a empresa limitada ou
sociedade anônima de capital fechado (sociedade familiar) não apresentar, pela sua
escrituração contábil, adequado retorno sobre o capital investido, permite ao Perito
Contador Judicial inferir que essa cultura empresarial se repetirá no futuro. Que as
práticas contábeis em desacordo com as Normas e os Princípios de Contabilidade
continuarão a gerar Demonstrações Contábeis imprestáveis.

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Mas, neste caso, para avaliar o Fundo de Comércio da empresa, o Perito Contador
Judicial pode se valer das declarações de Imposto de Renda (IRPJ) e da
Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) e fazer seus cálculos usando esses
dados. Afinal, quem paga IRPJ e CSLL é por que tem lucro. Certo?

3. Conceitos, Critérios e alguns Cálculos de Avaliação de Fundo de Comércio.

a) Comentário introdutório

Apesar do cálculo do valor do Fundo de Comércio ser, em si mesmo, uma


estimativa elaborada em bases técnicas, contém aspectos subjetivos que, depois de
protocolado e encartado o Laudo, sempre geram controvérsias entre os interessados
no sentido de que aqueles a quem cabe pagar consideram o valor excessivo e quem
deve receber, ao contrário, considera o valor insuficiente. E todos questionam ou
criticam as fontes de informação usadas, o método matemático ou aritmético
adotado e as conclusões periciais. Este ambiente de beligerância, que envolve o
Perito Contador, é normal.

b) Fundamentação teórica e fórmula para Calcular o Fundo de Comércio com


base no Fluxo de Caixa Descontado

Lembremo-nos de pronto, que o Fundo de Comércio é um valor estimado do


intangível da empresa e não a empresa como um todo. Para se conhecer o valor
total da empresa há que somar o valor de seu Patrimônio Líquido Ajustado
conforme Balanço de Determinação mais (+) o valor do Fundo de Comércio.

Considerando, pois, toda teoria apresentada até aqui, procedendo-se às adaptações


que este autor considera adequadas para avaliar empresas em ambiente judicial e
considerando:

1. Lucros Normais: os que podem ser obtidos com a aplicação de capital em


títulos do Governo Federal, o chamado “Tesouro Direto”;

2. Lucros Excedentes: os que a empresa gerou nos 3 (três) ou 5 (cinco) anos


passados, mas acima dos Lucros Normais;

... apresentamos as seguintes fórmulas:

LE = L – {C [(1 + i) n – 1]}

Onde:

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LE = Lucros Excedentes
L = Média aritmética do lucro dos últimos 3 (três) ou 5 (cinco) anos, devidamente
atualizados monetariamente para a data do Balanço de Determinação.
C = Capital investido, entendido, como tal, o valor total do Patrimônio Líquido
Ajustado da empresa objeto de avaliação, apurado em Balanço de
Determinação, mas pode ser o valor do Ativo Operacional Líquido – AOL
conforme o mesmo Balanço de Determinação. A escolha de uma ou outra
base de cálculo é uma decisão cabente às Partes via formulação de quesitos.
Na ausência de definição prévia das Partes recomenda-se adotar, como base
de cálculo, o valor do Patrimônio Líquido Ajustado apurado em Balanço de
Determinação.
i = Taxa de juros SELIC vigente na época do afastamento do sócio; (8)
n = Período de tempo convencionado para este cálculo: 3 ou 5 anos futuros. (9)

Conhecido o valor dos Lucros Excedentes pode-se calcular o valor do Fundo de


Comércio ou “goodwill” e o valor da empresa como segue:

VE = PLA + (LE/i)

Onde:

VE = Valor da Empresa
PLA = Patrimônio Líquido Ajustado conforme Balanço de Determinação,
levantado à data do afastamento do sócio.
LE = Lucro Excedente como acima calculado
i = Taxa de juros SELIC vigente á época do afastamento do sócio (10)

(8) O uso da taxa de juros SELIC vigente à época do afastamento do sócio é uma escolha
adequada pela praticidade e pelo conhecimento incontroverso sobre o que representa no meio
econômico.
(9) A escolha de cinco anos futuros atende à praxe. No âmbito do Poder Judiciário tem-se
praticado este limite seja para conhecer os lucros dos anos passados, como para estimar os
lucros no tempo futuro, mas há exceções bem justificadas e corretamente fundamentadas.
(10) A divisão do LE pela taxa de juros, segundo convenção aceita mundialmente, dá a conhecer
o valor perpétuo do Fundo de Comércio.

c) Estudo de um Caso Real

Observação: O exemplo abaixo foi extraído de um caso real e, por isso, a estrutura
do Balanço Patrimonial corresponde ao que vigia antes das Leis nºs. 11.638/07 e
11.941/08.

1ª Parte: elaborar o Balanço de Determinação

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Demonstrações contábeis especiais na data do afastamento: 06/09/2004


Ajustes BALANÇO
Justificativas
Balanço Periciais ao DE
para os
Especial Balanço DETERMI –
ajustes
Especial NAÇÃO

ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Caixa 1.911,44 - 1.911,44
Bancos conta movimento 1.153,59 (127,50) (a) 1.026,09
Clientes 149.652,11 (35.412,17) (b) 114.239,94
Estoques 361.294,16 (14.231,00) (c) 347.063,16
Antecipação de Impostos 10.100,39 (10.100,39) (d) -
Lucros Distribuídos a pagar 2.311,53 - 2.311,53
Soma 526.423,22 (59.871,06) 466.552,16

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO


Direitos fiduciários 223,37 (223,37) (e) -

ATIVO PERMANENTE
Fundo de Comércio 357.350,05 (357.350,05) (f) -
Imobilizações Técnicas 229.776,53 316.000,00 (g) 545.776,53
(-) Depreciações acumuladas (18.641,73) 18.641,73 (h) -
Bens Intangíveis 4.251,91 (4.251,91) (f) -
Soma 572.736,76 (26.960,23) 545.776,53

ATIVO DIFERIDO
Despesas pré-operacionais 170.434,77 (170.434,77) (i) -
(-) Amortizações (9.580,92) 9.580,92 (i) -
Soma 160.853,85 (160.853,85) -

TOTAL DO ATIVO 1.260.237,20 (247.908,51) 1.012.328,69

PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
Fornecedores 47.769,64 - 47.769,64
Contas a pagar 2.707,79 - 2.707,79
Salários a pagar 3.527,39 832,00 (j) 4.359,39
Previdência e Encargos Sociais a pagar 2.960,96 291,00 (k) 3.251,96
Obrigações Tributárias 5.795,77 2.585,26 (l) 8.381,03
Empréstimos e Financiamentos 283.909,99 22.782,39 (m) 306.692,38
Provisões: de Férias e 13º salário 24.491,59 312,00 (k) 24.803,59
Soma 371.163,13 26.802,65 397.965,78

EXIGÍVEL A LONGO PRAZO


Empréstimos e Financiamentos 162.881,80 22.782,39 (m) 185.664,19

12
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Capital Social 100.000,00 - 100.000,00


Reserva de Capital 33.840,37 - 33.840,37
Reserva Reavaliação/ Fundo de Comércio 357.350,05 (357.350,05) (f) -
Lucros Acumulados 122.593,98 59.856,50 (n) 182.450,48
Resultado do Exercício 112.407,87 - (o) 112.407,87
Soma (Valor do CAPITAL aplicado nesta
data) = Valor do Patrimônio Líquido
Ajustado 726.192,27 (297.493,55) 428.698,72

TOTAL DO PASSIVO 1.260.237,20 (247.908,51) 1.012.328,69

a) Despesas bancárias não contabilizadas conforme princípio de competência.


b) Exclusão de devedores duvidosos, entendidos como tal os atrasados há mais de 120 dias.
c) Exclusão de estoques com data vencida para venda e uso ou de estoques obsoletos.
d) Exclusão de impostos pagos antecipadamente em face das dificuldades de recuperação ou de
aproveitamento.
e) Exclusão deste crédito porque a administração não conseguiu demonstrar sua origem.
f) Exclusão deste ativo porque será objeto de recálculo nesta prova pericial contábil.
g) Aumento do valor das imobilizações técnicas conforme laudo de engenharia que revela o valor atual (de
mercado) desses ativos.
h) Como consequência da avaliação das imobilizações técnicas a valor de mercado, neste momento não há
mais sentido em depreciações.
i) Em atenção ao que estabelece o princípio da Prudência, foram excluídas essas despesas ativadas mesmo
porque o sócio afastado delas não se beneficiará.
j) Inclusão de horas extras a pagar que não haviam sido consideradas no Balanço Especial.
k) Efeito das horas extras que não haviam sido contabilizadas.
l) Valor de multas e juros (SELIC) sobre impostos atrasados que haviam sido contabilizados quando da
elaboração do Balanço Especial.
m) Valor de juros não vencidos, mas já maturados não contabilizados no Balanço Especial.
n) Ajuste ao resultado como balanço dos demais ajustes acima especificados.
o) IMPORTANTE: do resultado foi excluída a quantia de R$ 96.000,00. Este valor corresponde à
remuneração mensal dos sócios no valor de R$ 12.000,00 multiplicado por 8 meses. Para conhecer o
valor do Fundo de Comércio o que os sócios recebem a título de pró-labore e retiradas de qualquer
natureza, deve ser excluído das despesas.

2ª Parte: elaborar o quadro demonstrando a evolução dos resultados nos últimos 3


(três) ou 5 (cinco) anos – ou, como no caso presente – o que foi possível obter.

Demonstrações de Resultado de três exercícios anteriores


06.09.2004
31/12/2004
31/12/2002 31/12/2003 (resultado de
projetado
249 dias)
RECEITA BRUTA 576.491,30 626.620,98 474.972,98 696.245,53
(-) Deduções de Venda (87.440,14) (95.043,63) (72.042,20) (105.604,03)
Receita Líquida 489.051,17 531.577,35 402.930,78 590.641,50
(-) Custo dos Produtos Vendidos (150.992,43) (164.122,20) (124.403,13) (182.358,00)

13
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Lucro Bruto 338.058,74 367.455,15 278.527,65 408.283,50

Despesas Operacionais
Comerciais: com Vendas e Marketing (42.177,29) (45.844,88) (34.750,00) (50.938,76)
Administrativas (20.700,25) (22.500,27) (17.055,00) (25.000,30)
Tributárias (15.041,10) (16.349,02) (12.392,41) (18.165,58)
Financeira (-) receitas financeiras (95.883,52) (104.221,22) (78.998,73) (115.801,35)
Soma (173.802,16) (188.915,39) (143.196,14) (209.905,99)

Receitas não operacionais 27.823,22 30.242,63 22.923,64 33.602,93

RESULTADO 136.433,36 148.297,13 112.407,87 164.774,59

Atualização Monetária do Resultado


Fatores da Tabela Prática do TJSP 27,392011 30,885960 32,676253
Índices 1,192912 1,057965 1,000000
RESULTADO ATUALIZADO 162.752,96 156.893,12 164.774,59
Soma do resultado atualizado monetariamente de três anos de atividade 484.420,67
Média aritmética dos Resultados dos três anos passados 161.473,56

3ª Parte: calcular o Fundo de Comércio – a taxa de juros de 9% ao ano era a taxa SELIC
vigente no mês dos cálculos
Taxa de juros de 9% ao ano
Lucros contábeis ajustados (Resultados) - Nota: só quando a média dos resultados
(média aritmética dos últimos 3 anos) 161.473,56 for um lucro existe goodwill
Capital Investido igual ao Patrimônio
Líquido Ajustado, conceito diferente de
Ativo Operacional Líquido 428.698,72
Juros de 9% ao ano capitalizados por 3 anos [(1 + 0,09)^3 - 1] (taxa SELIC adotada neste caso)
[1,295029 - 1]
29,50%
Lucros Normais >>>>>>>>>>> 126.466,12
Lucros Excedentes >>>>>>>>> 35.007,43 (161.473,56 – 126.466,12)
Valor do Fundo de Comércio ou goodwill 388.971,49 (35.007,43 dividido por 9%)
Soma do Patrimônio Líquido com o
Valor da empresa 817.670,21 Fundo de Comércio calculado sobre o
Patrimônio Líquido Ajustado

Usando os mesmos dados vamos, agora, apresentar o valor da empresa segundo o


conceito Ativo Operacional Líquido – AOL.

A teoria ensina que os resultados provêm da boa administração aplicada sobre os


bens operacionais líquidos e que os não operacionais líquidos devem ser, por isso,
excluídos do cálculo. O mesmo deve ocorrer com eventuais resultados não
operacionais. Veja a composição do AOL e dos resultados expurgados de receitas e
despesas não operacionais.

14
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

APURAÇÃO DO ATIVO OPERACIONAL LÍQUIDO – AOL


Ajustes
BALANÇO DE
Balanço Periciais ao
DETERMI –
Especial Balanço
NAÇÃO
Especial
ATIVO CIRCULANTE
Clientes 149.652,11 (35.412,17) 114.239,94
Estoques 361.294,16 (14.231,00) 347.063,16
PERMANENTE
Imobilizações Técnicas 229.776,53 316.000,00 545.776,53
TOTAL DO ATIVO OPERACIONAL 740.722,80 266.356,83 1.007.079,63

PASSIVO CIRCULANTE
Fornecedores 47.769,64 - 47.769,64
Contas a pagar 2.707,79 - 2.707,79
Salários a pagar 3.527,39 832,00 4.359,39
Previdência e Encargos Sociais a pagar 2.960,96 291,00 3.251,96
Obrigações Tributárias 5.795,77 2.585,26 8.381,03
Provisões: de Férias e 13º salário 24.491,59 312,00 24.803,59
TOTAL DO PASSIVO OPERACIONAL 87.253,14 4.020,26 91.273,40
ATIVO OPERACIONAL LÍQUIDO 653.469,66 262.336,57 915.806,23

Demonstrações de Resultado de três exercícios anteriores,


excluídas Receitas e Despesas não Operacionais

06.09.2004
31/12/2004
31/12/2002 31/12/2003 (resultado de 249
projetado
dias)
Receita Bruta 576.491,30 626.620,98 474.972,98 696.245,53
(-) Deduções de Venda (87.440,14) (95.043,63) (72.042,20) (105.604,03)
Receita Líquida 489.051,17 531.577,35 402.930,78 590.641,50
(-) Custo dos Produtos Vendidos (150.992,43) (164.122,20) (124.403,13) (182.358,00)
Lucro Bruto 338.058,74 367.455,15 278.527,65 408.283,50

Despesas Operacionais
Comerciais: com Vendas e Marketing (42.177,29) (45.844,88) (34.750,00) (50.938,76)
Administrativas (20.700,25) (22.500,27) (17.055,00) (25.000,30)
Tributárias (15.041,10) (16.349,02) (12.392,41) (18.165,58)
Soma (77.918,64) (84.694,17) (64.197,41) (94.104,64)
RESULTADO OPERACIONAL 260.140,10 282.760,98 214.330,24 314.178,87

Atualização Monetária do Resultado


Fatores da Tabela Prática do TJSP 27,392011 30,885960 32,676253
Índices 1,192912 1,057965 1,000000
RESULTADO ATUALIZADO 310.324,19 299.151,11 314.178,87
Soma do resultado atualizado monetariamente de três anos de atividade 923.654,17
Média aritmética dos Resultados dos três anos passados 307.884,72

15
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Taxa de juros de 9% ao ano


Resultado Operacional Líquido (média
aritmética dos últimos 3 anos) 307.884,72
Capital Investido igual ao Patrimônio
Líquido Ajustado, conceito diferente de
Ativo Operacional Líquido 428.698,72
Juros de 9% ao ano capitalizados por 3 anos [(1 + 0,09)^3 - 1] (taxa SELIC adotada neste caso)
[1,295029 - 1]
29,50%
Lucros Normais >>>>>>>>>>> 126.466,12
Resultado Operacional Líquido >>>>>>>>> 181.418,60 (307.884,72 – 126.466,12)
Valor do Fundo de Comércio ou goodwill 2.015.762,24 (181.418,60/0,09)
Soma do Patrimônio Líquido
Valor da empresa 2.444.460,96 com o Fundo de Comércio
calculado com base no AOL

É óbvio que todas as vezes que alterarmos as bases e os critérios de cálculo


obteremos resultados diferentes.

Outra consideração importante é que quanto menor for a taxa de juros usada como
divisor, menor será a exigência de Lucros Normais. Logo, maior será o valor do
Fundo de Comércio. Hipotetizando, para o caso acima, que a taxa de juros seja de
5% ao ano teríamos:

Taxa de juros de 5% ao ano


Resultado Operacional (média aritmética dos
últimos 3 anos) 307.884,72
Capital Investido igual ao Patrimônio
Líquido Ajustado, conceito diferente de
Ativo Operacional Líquido 428.698,72
Juros de 5% ao ano capitalizados por 3 anos [(1 + 0,05)^3 - 1] (taxa SELIC de 5% adotada neste caso)
[1,157625 - 1]
15,76%
Lucros Normais >>>>>>>>>>> 67.562,92 (307.884,72 – 67.562,92)
Lucros Excedentes (307.884,72 -67.562,92) 240.321,81
Valor do Fundo de Comércio ou goodwill 4.806.436,12
Soma do Patrimônio Líquido com o Fundo
Valor da empresa 5.235.134,84
de Comércio calculado sobre o AOL

Os senhores advogados podem requerer, mediante quesitos, que sejam utilizados


outros parâmetros tais como: (i) outras bases de cálculo diferentes do Patrimônio
Líquido Ajustado e do Ativo Operacional Líquido, (ii) outras taxas de juros (iii)
períodos diferentes de três anos para calcular a média dos resultados, (iv) uma
particular conceituação daquilo que o Perito Judicial deveria considerar como
Ativos Operacionais e Não Operacionais em paralelo com o que deveria
computar como Receitas Operacionais e Não Operacionais. Este procedimento

16
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

decorre, geralmente, do fato que Ativos Operacionais e Não Operacionais e


Receitas Operacionais e Não Operacionais serem diferentes segundo os setores
da economia em que se insere a empresa objeto de avaliação. Portanto, é óbvio que
à medida que forem sendo alterados os elementos das fórmulas, segundo o desejo e
o interesse de cada um dos interessados ou litigantes, também o valor do Fundo de
Comércio se alterará e, por consequência, se alterará o Valor da Empresa.

Para o perito, a tarefa será muito facilitada quando os litigantes concordarem, de


partida, o método de cálculo que será usado para conhecer o valor do Fundo de
Comércio. Em tese, a “conferência reservada” entre o perito judicial e os
assistentes técnicos das partes é a tentativa legalmente aceita pela qual podem
definir, entre eles, o método que, consensualmente, será adotado para apresentar,
ao magistrado, o valor do Fundo de Comércio e, consequentemente, o Valor da
Empresa. Quando isto ocorre, recomenda-se elaborar uma Ata de Reunião que será
datada e assinada pelos presentes.

4. Outras formas usadas para avaliar uma empresa em condições de


normalidade

4.1. Sistema Americano EBITDA (Erning before interest, taxes, depreciation and
amortization) = LAJIDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e
amortização).

EBITDA = LAJIDA – É um indicador financeiro (um múltiplo) usado pelos


analisas de mercado de ações para acompanhar o desempenho da empresa ao longo
dos anos e para comparações com empresas do mesmo setor da economia. Os
analistas entendem que o EBITDA (índice adotado nos Estados Unidos da América
do Norte há quase 40 anos) indica a geração de caixa da empresa, logo, sua
capacidade de investimentos e crescimento. Pode ser usado para calcular o Fundo
de Comércio de uma empresa.

EBITDA e Lucro Operacional da Empresa são a mesma coisa. Entende-se por


Lucro Operacional da Empresa a soma de seu Lucro Líquido, mais juros (despesa
financeira líquida), mais depreciação, mais amortização e menos receitas não
operacionais. Notar que ao somar a depreciação e a amortização há que considerar
as que foram agregadas ao custo de fabricação e/ou ao custo da mercadoria
vendida e somente essas.

Como se vê, o EBITDA obtido como acima referido, elimina os custos e despesas
que não movimentaram o caixa (depreciação e amortização) e também as receitas e
as despesas não operacionais. Os juros são considerados como despesa não
operacional dentro do entendimento que se a empresa foi à busca de financiamento
bancário é porque os sócios não fizeram os aportes de capital suficientes para
atender às necessidades de capital de giro.

17
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Segue um exemplo de como apurar o EBITDA.

Demonstração de Resultado
1 Receita de Vendas (liquida de impostos) 100.000.000,00
2 (-) Custo das Mercadorias Vendidas 65.000.000,00
3 LUCRO BRUTO 35.000.000,00
4 Despesas Operacionais
4.1 Com Vendas (inclusive comissões) 15.000.000,00
4.2 Administrativas e de funcionamento 7.000.000,00
4.3 Financeiras 4.500.000,00
5 Receitas não operacionais 2.500.000,00
6 Depreciações e Amortizações 550.000,00
6 Provisão para IRPJ e CSLL 4.500.000,00
7 LUCRO LÍQUIDO 5.950.000,00
8 Lucro Operacional (usa-se para conhecer o valor do EBITDA)
8.1 Lucro Líquido 5.950.000,00
8.2 (+) Despesas Financeiras 4.500.000,00
8.3 (+) Provisão para IRPJ e CSLL 4.500.000,00
8.4 (+) Depreciações e Amortizações 550.000,00
8.4 (-)Receitas não operacionais (2.500.000,00)
LUCRO OPERACIONAL ou seja: EBITDA = LAJIDA 13.000.000,00
A base de cálculo do valor da empresa é o EBITDA
Suponhamos que o EBITDA acima seja a média dos últimos 5 (cinco) anos
Calcular o valor da empresa
EBITDA 13.000.000,00
Taxa SELIC ao ano 6,50%
Quantidade de anos futuros 5
Fator para juros (6,5% elevado à 5ª potência) 1,37087
CÁLCULO: 13.000.000,00*1,37087 17.811.127,00
Valor da empresa

Atualmente o EBITDA é objeto de críticas e não é mais usado para avaliar uma
empresa. A principal crítica é não poder ser aplicado a toda e qualquer empresa
porque, ao desconsiderar a depreciação e a amortização estará se “esquecendo” que
os bens de produção deverão ser substituídos, seja pelo desgaste, como pelo
avanço das tecnologias de produção.

Mesmo assim, consideramos educativo saber como se calcula o EBITDA porque a


mesma fórmula pode ser aplicada a outras bases, como, por exemplo, ao AOL –
Ativo Operacional Líquido e ao valor do Patrimônio Líquido Ajustado.

Vejamos:

Fórmula para calcular o Valor da Empresa

18
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

(1+i)n –1
W = K + ------------- * R – ( i1 * k)
i*(1+i)n

Onde:

W = valor da empresa
K = valor do Patrimônio Líquido Ajustado conforme Balanço de
Determinação
i = percentual ou taxa de lucro líquido estimado para o setor da economia
nacional onde se insere a empresa objeto de avaliação. Convém que este
percentual seja obtido junto a uma entidade de classe como, por exemplo,
a FIESP ou algum órgão oficial com credibilidade junto ao mercado.
i1 = taxa de juros da economia como, por exemplo, SELIC ou taxa de juros
possível de ser obtida em aplicações de capital em títulos do Tesouro
Direto com taxa pré fixada.
n = quantidade de períodos (anos) considerados
R = média aritmética dos resultados (lucros e prejuízos) dos últimos 5 anos

No caso presente, serão considerados os seguintes parâmetros:

i = 6% ao ano (rentabilidade média do capital investido no ramo de


negócios em que se enquadra a empresa objeto de avaliação);

i1 = 5% ao ano (taxa de juros paga para aplicadores em títulos


conceituados como sendo de risco zero como as Letras do Tesouro
Nacional);

n = 5 anos (período escolhido pelas partes ou pelo perito judicial para


calcular o valor dos lucros futuros da empresa avaliada);

R = média aritmética dos resultados dos últimos cinco anos.

CÁLCULOS

(1) Cálculo dos juros

(1+i)n –1 Onde:
Fator para o lucro = --------------- = i = 6% ao ano e
i*(1+i)n n = 5 anos

19
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

(1+0,06)5 -1 1,065 –1 1,338226 –1 0,338226


= -------------------- = ------------------ = -------------------- = -------------- = 4,212364
0,06*(1+0,06)5 0,06*(1,06) 5 0,06*1,338226 0,0802935

(2) Média aritmética R: 17.782.265 / 5 = 3.556.453.

(3) Valor da empresa

(1+i)n –1
W = K + ------------- * R – ( i1 * k)
i* (1+i)n

Logo: W = 17.782.265 + {4,212364 [3.556.453 – (17.782.265 * 0,05)]}

W = 17.782.265 + {4,212364 [3.556.453 – 889.113,25]}

W = 17.782.265 + {4,212364 * 2.667.339,75}

W = 17.782.265 + 11.235.805,94; portanto, W = R$ 29.018.070,94

4.2. Pelo método de capitalização de lucros líquidos futuros.

Outra forma usada para conhecer o valor da empresa é conhecida como método de
capitalização dos lucros futuros. Usando os mesmos dados do exemplo
precedente, vejamos como se faz esse cálculo.

Média aritmética R: 14.109.718 / 5 = 2.821.944:

Valor da empresa

W = 14.109.718 + {4,212364 [2.821.944 – (14.109.718 * 0,05)]}

W = 14.109.718 + {4,212364 [2.821.944 – 705.486]}

W = 14.109.718 + {4,212364 * 2.116.458}

W = 14.109.718 + 8.915.292; portanto, W = R$ 23.025.010.

4.3. Pelo método de capitalização de lucros líquidos do passado mais (+) despesas
com propaganda e publicidade.

20
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Por que somar a publicidade? – Porque a publicidade, principalmente para os


produtos não essenciais e de consumo de massa, é fundamental ao sucesso de
vendas. Veja o caso dos serviços de telefonia móvel, das lojas de utilidades
domésticas e eletroeletrônicos, fármacos para emagrecimento e produtos de época
como ovos de chocolate (Pascoa), brinquedos (Natal), inclusive para os casos de
lançamento de novos modelos de automóveis. Portanto, quando se trata de empresa
com estas características econômicas, recomenda-se somar as despesas com a
publicidade.

Usando os dados já fornecidos, temos:

Valores em Reais, excluídos os centavos


Resultados + GASTOS
ANOS Líquidos COM RESULTADO
Ajustados PUBLICIDADE
2004 886.800 1.055.100 1.941.900
2005 3.150.517 1.125.600 4.276.117
2006 3.225.978 1.759.828 4.985.806
2007 (867.132) 2.519.203 1.652.071
2008 (1.187.027) 2.179.803 992.776
SOMAS 5.209.136 8.639.634 13.848.670

(4) Média aritmética R: 13.848.670 / 5 = 2.769.734.

(5) Valor da empresa

W = 13.848.670 + {4,212364 [2.769.734 – (13.848.670 * 0,05)]}

W = 13.848.670 + {4,212364 [2.769.734 – 692.434]}

W = 13.848.670 + {4,212364 * 2.077.301}

W = 13.848.670 + 8.750.348; portanto, W = R$ 22.599.018.

==========================================================

4.4. PERPETUIDADE: CONCEITO E CÁLCULOS

1. Conceito:
Ao aplicarmos o método matemático do Fluxo de Caixa Descontado à avaliação
de empresas, em casos de apuração de haveres, devemos considerar duas situações:
(a) a avaliação visa atender ao encerramento das atividades da empresa, ou
seja, à sua liquidação; e...
(b) a avaliação é feita para uma empresa em funcionamento.
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Entendemos que na opção (a) não existe um fundo de comércio porque a empresa
deixou ou deixará de funcionar assim que for definitivamente fechada pelo
administrador judicial. Logo, o cálculo do valor do Fundo de Comércio e de sua
Perpetuidade se aplica somente aos casos (b) em que as empresas encontram-
se em continuidade.

Então o VALOR DA EMPRESA corresponde à soma de:


(1) seu Patrimônio Líquido apurado conforme Balanço de Determinação; (+)
(2) MAIS o valor de seu Fundo de Comércio; (+)
(3) MAIS a Perpetuidade desse Fundo de Comércio.

No que tange à quantidade de anos futuros não existe uma regra que determine
qual seria o período ideal para prever os lucros futuros. Em alguns cálculos
apresentados neste livro, usei o primeiro ano como ano base e os demais quatro
anos como estimativa, ou seja, calculei imaginando 4 (quatro) anos futuros; nem
três e nem cinco. Atualmente tenho usado 5 (cinco) anos futuros. Esta quantidade
de anos está mais alinhada com a jurisprudência dominante. MAS, o que se
esperar depois do 5º (quinto) ano? É para responder a esta pergunta que a ciência
econômica desenvolveu o conceito de perpetuidade. A preocupação da ciência
econômica tem sentido. Basta lembrar que a Faber Castell foi fundada em 1761 e
opera viçosamente, nos dias atuais, ou seja, depois de 260 anos de vida continua
gerando lucros para seus sócios.

Por outro lado, para uma empresa em continuidade, temos que imaginar que ao
final do 5º ano não se esgotam suas possibilidades de gerar lucro além de que, terá
um valor residual porque os bens que compõem seu Patrimônio Líquido, com
destaque para o Ativo Imobilizado representado por prédios, máquinas, terras e
outros bens físicos, têm valor de mercado por muito anos, talvez para sempre.

A fórmula matemática usada para calcular o valor residual da empresa ou seja,


para calcular o valor de sua perpetuidade é fluxo de caixa descontado. O valor
residual ou perpétuo da empresa é conceituado como sendo o valor do último ano,
o 5º, divido pela taxa de desconto.

Muito bem, mas quais são as variáveis necessárias para calcular o Fundo de
Comércio e sua Perpetuidade?

Resposta:

1ª variável: o lucro médio dos últimos 5 (cinco) anos. O lucro de cada ano deve
ser atualizado monetariamente até a data da propositura da ação em Juízo. Há
peritos contadores judiciais que trabalham com a média dos últimos 3 (anos).

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Exemplo:

Valores em Reais
%
Fator de
Lucro Lucro Contábil Crescimento
Ano Atualização
Contábil Atualizado anual do
Monetária
lucro
0 690.000,00 1,000000 690.000,00
1 700.000,00 1,020000 714.000,00 3,48%
2 730.000,00 1,050000 766.500,00 7,35%
3 745.000,00 1,080000 804.600,00 4,97%
4 760.000,00 1,110000 843.600,00 4,85%
5 770.000,00 1,130000 870.100,00 3,14%
3.998.800,00 23,79%
Média aritmética do lucro atualizado
799.760,00 4,76%
dos últimos 5 anos

2ª variável: a taxa de desconto (taxa de juros). A literatura fala ora em “taxa de


custo do capital próprio”; ora em “taxa de oportunidade”; ora em “taxa de risco”;
etc. Cada nomenclatura adotada corresponde ao entendimento que um analista de
investimentos, em face à realidade em que opera, tem para montar ou escolher a
taxa de desconto que usará para calcular o Fluxo de Caixa Descontado dos lucros
projetados. A verdade é que no meio forense o Perito Contador Judicial – que não
é analista de mercado de investimentos – tem duas opções para adotar uma taxa de
desconto:

(a) ou ela já foi determinada quando da formulação de quesitos;


(b) ou foi determinada mediante r. Decisão judicial.

Todavia, considerando ser muito raro as Partes determinarem à taxa de desconto e


considerando que este escriba nunca soube que um magistrado a determinasse à
priori, resta ao Perito Contador Judicial a solução mais óbvia e menos questionável
que é a de escolher, como taxa de desconto, a taxa SELIC vigente na data da saída
do sócio da empresa, mas poderia ser a TJLP. (Taxa de juros de longo prazo).

A grande vantagem de usar uma dessas duas taxas é que ambas contém, em sua
composição, tanto a expectativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto),
com a expectativa de inflação e evita cálculos complexos indicados pela
“administração financeira” que ponderam custos de capital próprio, custo de
capital de terceiros, este, diferente para fornecedores e financiadores; taxa de risco
do ramo do negócio, taxa de risco Brasil e ß (beta); ou seja, um percentual que
representa a taxa estimada de crescimento do lucro da empresa segundo a
expectativa de crescimento do ramo de negócios em que se enquadra.

Neste nosso exemplo usaremos a taxa SELIC de 9,76% ao ano e um ß (beta) de


4,76%.

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Exemplo:
Valores em Reais
Valor Presente
Anos Fatores de
Taxa de desconto dos lucros
Futuros desconto
futuros
Lucro Médio base para calcular o Fundo 799.760,00
de Comércio

1 (1+9,76%)^1 1,097600 728.644,31


2 (1+9,76%)^2 1,204726 663.852,33
3 (1+9,76%)^3 1,322307 604.821,73
4 (1+9,76%)^4 1,451364 551.040,20
5 (1+9,76)%^5 1,593017 502.041,00
Valor do Fundo de Comércio para 5 anos 3.050.399,57

Assumindo que o lucro do 5º ano se repetirá para sempre, consegue-se conhecer o


valor perpétuo dos lucros. Vejamos:

A) CÁLCULO DA PERPETUIDADE SEM crescimento anual do lucro líquido.


Valor do lucro no 5º ano
Taxa de Desconto
futuro
502.041,00 9,76%
Calculando:
Base de cálculo 502.041,00
Taxa perpetuidade 9,76%
Valor perpétuo do lucro 5.143.862,72
Descontando o valor de R$ 5.143.862,72 à taxa de 9.76% ao ano, este lucro chega a zero
somente no 223º ano.

Parando os cálculos neste ponto, ou seja, calculando o valor do Fundo de Comércio


(+) mais a perpetuidade dos lucros, sem agregar ß de crescimento, temos o valor
de R$ 3.050.399,57 + R$ 5.143.862,72 = R$ 8.194.262,29.

Prova de que o valor da perpetuidade está certo

Valor da Perpetuidade
Anos Fator de desconto
Perpetuidade descontada
0 - 1,000000 -
1 5.143.862,72 1,097600 4.686.463,85
2 5.143.862,72 1,204726 4.269.737,47
3 5.143.862,72 1,322307 3.890.066,94
4 5.143.862,72 1,451364 3.544.157,20
5 5.143.862,72 1,593017 3.229.006,19
6 5.143.862,72 1,748496 2.941.878,82
7 5.143.862,72 1,919149 2.680.283,18
8 5.143.862,72 2,106458 2.441.948,96
9 5.143.862,72 2,312048 2.224.807,73
10 5.143.862,72 2,537704 2.026.974,97
11 5.143.862,72 2,785384 1.846.733,76

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12 5.143.862,72 3,057238 1.682.519,82


13 5.143.862,72 3,355624 1.532.908,00
14 5.143.862,72 3,683133 1.396.599,85
15 5.143.862,72 4,042607 1.272.412,40
16 5.143.862,72 4,437165 1.159.267,86
17 5.143.862,72 4,870232 1.056.184,28
18 5.143.862,72 5,345567 962.267,01
19 5.143.862,72 5,867294 876.701,00
20 5.143.862,72 6,439942 798.743,62
21 5.143.862,72 7,068481 727.718,31
22 5.143.862,72 7,758364 663.008,67
23 5.143.862,72 8,515581 604.053,09
24 5.143.862,72 9,346701 550.339,91
25 5.143.862,72 10,258939 501.402,98
26 5.143.862,72 11,260212 456.817,58
27 5.143.862,72 12,359208 416.196,78
28 5.143.862,72 13,565467 379.188,03
29 5.143.862,72 14,889457 345.470,14
30 5.143.862,72 16,342668 314.750,49
31 5.143.862,72 17,937712 286.762,48
32 5.143.862,72 19,688433 261.263,19
33 5.143.862,72 21,610024 238.031,33
34 5.143.862,72 23,719162 216.865,28
35 5.143.862,72 26,034152 197.581,34
36 5.143.862,72 28,575086 180.012,15
37 5.143.862,72 31,364014 164.005,24
38 5.143.862,72 34,425142 149.421,69
39 5.143.862,72 37,785036 136.134,92
40 5.143.862,72 41,472855 124.029,63
41 5.143.862,72 45,520606 113.000,75
42 5.143.862,72 49,963417 102.952,58
43 5.143.862,72 54,839846 93.797,91
44 5.143.862,72 60,192215 85.457,28
45 5.143.862,72 66,066976 77.858,30
46 5.143.862,72 72,515112 70.935,04
47 5.143.862,72 79,592587 64.627,41
48 5.143.862,72 87,360824 58.880,66
49 5.143.862,72 95,887240 53.644,91
50 5.143.862,72 105,245835 48.874,74
51 5.143.862,72 115,517829 44.528,73
52 5.143.862,72 126,792369 40.569,18
53 5.143.862,72 139,167304 36.961,72
54 5.143.862,72 152,750033 33.675,04
55 5.143.862,72 167,658436 30.680,61
56 5.143.862,72 184,021899 27.952,45
57 5.143.862,72 201,982436 25.466,88
58 5.143.862,72 221,695922 23.202,33
59 5.143.862,72 243,333444 21.139,15
60 5.143.862,72 267,082788 19.259,43
61 5.143.862,72 293,150069 17.546,86
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62 5.143.862,72 321,761515 15.986,57


63 5.143.862,72 353,165439 14.565,02
64 5.143.862,72 387,634386 13.269,88
65 5.143.862,72 425,467502 12.089,91
66 5.143.862,72 466,993130 11.014,86
67 5.143.862,72 512,571660 10.035,40
68 5.143.862,72 562,598654 9.143,04
69 5.143.862,72 617,508282 8.330,03
70 5.143.862,72 677,777091 7.589,31
71 5.143.862,72 743,928135 6.914,46
72 5.143.862,72 816,535521 6.299,62
73 5.143.862,72 896,229388 5.739,45
74 5.143.862,72 983,701376 5.229,09
75 5.143.862,72 1.079,710630 4.764,11
76 5.143.862,72 1.185,090388 4.340,48
77 5.143.862,72 1.300,755210 3.954,52
78 5.143.862,72 1.427,708918 3.602,88
79 5.143.862,72 1.567,053308 3.282,51
80 5.143.862,72 1.719,997711 2.990,62
81 5.143.862,72 1.887,869488 2.724,69
82 5.143.862,72 2.072,125550 2.482,41
83 5.143.862,72 2.274,365004 2.261,67
84 5.143.862,72 2.496,343028 2.060,56
85 5.143.862,72 2.739,986107 1.877,33
86 5.143.862,72 3.007,408752 1.710,40
87 5.143.862,72 3.300,931846 1.558,31
88 5.143.862,72 3.623,102794 1.419,74
89 5.143.862,72 3.976,717627 1.293,49
90 5.143.862,72 4.364,845267 1.178,48
91 5.143.862,72 4.790,854165 1.073,68
92 5.143.862,72 5.258,441531 978,21
93 5.143.862,72 5.771,665425 891,23
94 5.143.862,72 6.334,979970 811,98
95 5.143.862,72 6.953,274015 739,78
96 5.143.862,72 7.631,913559 673,99
97 5.143.862,72 8.376,788323 614,06
98 5.143.862,72 9.194,362863 559,46
99 5.143.862,72 10.091,732679 509,71
100 5.143.862,72 11.076,685788 464,39
101 5.143.862,72 12.157,770321 423,09
102 5.143.862,72 13.344,368704 385,47
103 5.143.862,72 14.646,779090 351,19
104 5.143.862,72 16.076,304729 319,97
105 5.143.862,72 17.645,352070 291,51
106 5.143.862,72 19.367,538433 265,59
107 5.143.862,72 21.257,810184 241,98
108 5.143.862,72 23.332,572457 220,46
109 5.143.862,72 25.609,831529 200,86
110 5.143.862,72 28.109,351087 182,99
111 5.143.862,72 30.852,823753 166,72
26
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112 5.143.862,72 33.864,059351 151,90


113 5.143.862,72 37.169,191543 138,39
114 5.143.862,72 40.796,904638 126,08
115 5.143.862,72 44.778,682531 114,87
116 5.143.862,72 49.149,081946 104,66
117 5.143.862,72 53.946,032344 95,35
118 5.143.862,72 59.211,165100 86,87
119 5.143.862,72 64.990,174814 79,15
120 5.143.862,72 71.333,215876 72,11
121 5.143.862,72 78.295,337746 65,70
122 5.143.862,72 85.936,962710 59,86
123 5.143.862,72 94.324,410270 54,53
124 5.143.862,72 103.530,472712 49,68
125 5.143.862,72 113.635,046849 45,27
126 5.143.862,72 124.725,827422 41,24
127 5.143.862,72 136.899,068178 37,57
128 5.143.862,72 150.260,417232 34,23
129 5.143.862,72 164.925,833954 31,19
130 5.143.862,72 181.022,595348 28,42
131 5.143.862,72 198.690,400654 25,89
132 5.143.862,72 218.082,583758 23,59
133 5.143.862,72 239.367,443932 21,49
134 5.143.862,72 262.729,706460 19,58
135 5.143.862,72 288.372,125811 17,84
136 5.143.862,72 316.517,245290 16,25
137 5.143.862,72 347.409,328430 14,81
138 5.143.862,72 381.316,478885 13,49
139 5.143.862,72 418.532,967224 12,29
140 5.143.862,72 459.381,784825 11,20
141 5.143.862,72 504.217,447024 10,20
142 5.143.862,72 553.429,069854 9,29
143 5.143.862,72 607.443,747071 8,47
144 5.143.862,72 666.730,256786 7,72
145 5.143.862,72 731.803,129848 7,03
146 5.143.862,72 803.227,115321 6,40
147 5.143.862,72 881.622,081776 5,83
148 5.143.862,72 967.668,396958 5,32
149 5.143.862,72 1.062.112,832501 4,84
150 5.143.862,72 1.165.775,044953 4,41
151 5.143.862,72 1.279.554,689340 4,02
152 5.143.862,72 1.404.439,227020 3,66
153 5.143.862,72 1.541.512,495577 3,34
154 5.143.862,72 1.691.964,115145 3,04
155 5.143.862,72 1.857.099,812784 2,77
156 5.143.862,72 2.038.352,754511 2,52
157 5.143.862,72 2.237.295,983352 2,30
158 5.143.862,72 2.455.656,071327 2,09
159 5.143.862,72 2.695.328,103888 1,91
160 5.143.862,72 2.958.392,126828 1,74
161 5.143.862,72 3.247.131,198406 1,58
27
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

162 5.143.862,72 3.564.051,203370 1,44


163 5.143.862,72 3.911.902,600819 1,31
164 5.143.862,72 4.293.704,294659 1,20
165 5.143.862,72 4.712.769,833818 1,09
166 5.143.862,72 5.172.736,169599 0,99
167 5.143.862,72 5.677.595,219752 0,91
168 5.143.862,72 6.231.728,513199 0,83
169 5.143.862,72 6.839.945,216088 0,75
170 5.143.862,72 7.507.523,869178 0,69
171 5.143.862,72 8.240.258,198809 0,62
172 5.143.862,72 9.044.507,399013 0,57
173 5.143.862,72 9.927.251,321157 0,52
174 5.143.862,72 10.896.151,050102 0,47
175 5.143.862,72 11.959.615,392592 0,43
176 5.143.862,72 13.126.873,854909 0,39
177 5.143.862,72 14.408.056,743148 0,36
178 5.143.862,72 15.814.283,081279 0,33
179 5.143.862,72 17.357.757,110012 0,30
180 5.143.862,72 19.051.874,203949 0,27
181 5.143.862,72 20.911.337,126255 0,25
182 5.143.862,72 22.952.283,629777 0,22
183 5.143.862,72 25.192.426,512043 0,20
184 5.143.862,72 27.651.207,339619 0,19
185 5.143.862,72 30.349.965,175965 0,17
186 5.143.862,72 33.312.121,777140 0,15
187 5.143.862,72 36.563.384,862588 0,14
188 5.143.862,72 40.131.971,225177 0,13
189 5.143.862,72 44.048.851,616754 0,12
190 5.143.862,72 48.348.019,534550 0,11
191 5.143.862,72 53.066.786,241122 0,10
192 5.143.862,72 58.246.104,578255 0,09
193 5.143.862,72 63.930.924,385093 0,08
194 5.143.862,72 70.170.582,605078 0,07
195 5.143.862,72 77.019.231,467333 0,07
196 5.143.862,72 84.536.308,458545 0,06
197 5.143.862,72 92.787.052,164099 0,06
198 5.143.862,72 101.843.068,455315 0,05
199 5.143.862,72 111.782.951,936554 0,05
200 5.143.862,72 122.692.968,045562 0,04
201 5.143.862,72 134.667.801,726808 0,04
202 5.143.862,72 147.811.379,175345 0,03
203 5.143.862,72 162.237.769,782859 0,03
204 5.143.862,72 178.072.176,113665 0,03
205 5.143.862,72 195.452.020,502359 0,03
206 5.143.862,72 214.528.137,703389 0,02
207 5.143.862,72 235.466.083,943240 0,02
208 5.143.862,72 258.447.573,736101 0,02
209 5.143.862,72 283.672.056,932744 0,02
210 5.143.862,72 311.358.449,689380 0,02
211 5.143.862,72 341.747.034,379063 0,02
28
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

212 5.143.862,72 375.101.544,934460 0,01


213 5.143.862,72 411.711.455,720063 0,01
214 5.143.862,72 451.894.493,798341 0,01
215 5.143.862,72 495.999.396,393059 0,01
216 5.143.862,72 544.408.937,481022 0,01
217 5.143.862,72 597.543.249,779169 0,01
218 5.143.862,72 655.863.470,957616 0,01
219 5.143.862,72 719.875.745,723079 0,01
220 5.143.862,72 790.135.618,505652 0,01
221 5.143.862,72 867.252.854,871804 0,01
222 5.143.862,72 951.896.733,507291 0,01
223 5.143.862,72 1.044.801.854,697600 0,00
No 223º ano o valor da empresa será zero

3ª variável: crescimento anual do lucro ß = taxa de crescimento estimada para a


obtenção de lucros no futuro. O percentual de crescimento do lucro, conforme
tabela acima, é, em média, de 4,76% ao ano. Neste nosso exemplo usaremos esta
taxa de crescimento como uma constante. Lembremos que estamos usando a taxa
de crescimento observada na própria empresa objeto de avaliação para fins de
Apuração de Haveres. Na literatura especializada, ß é a taxa de crescimento
econômico da atividade onde a empresa, objeto de avaliação, se insere.
Exemplo:
Valores em Reais
Fatores de desconto
Anos menos a taxa de Taxa de Valor Presente dos
Futuros desconto lucros futuros
crescimento ß
Lucro Médio base para calcular o Fundo de 799.760,00
Comércio

1 (1+9,76%-4,76%)^1 1,050000 761.676,19


2 (1+9,76%-4,76%)^2 1,102500 725.405,90
3 (1+9,76%-4,76%)^3 1,157625 690.862,76
4 (1+9,76%-4,76%)^4 1,215506 657.964,53
5 (1+9,76%-4,76%)^5 1,276282 626.632,89
Valor do Fundo de Comércio para 5 anos 3.462.542,26

4ª variável: partindo sempre do conceito de que o último lucro que, no nosso caso,
ocorrerá ao 5º ano futuro, se repetirá eternamente (perpetuamente), ou seja: R$
626.632,89; podemos calcular a Perpetuidade como segue:

29
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

B) CÁLCULO DA PERPETUIDADE COM crescimento anual do lucro líquido


de 4,76%
A forma de calcular a perpetuidade considerando um percentual
de crescimento do lucro foi desenvolvida por M. Gordon. É
conhecida, na literatura financeira, por modelo de Gordon.
% de Desconto
Valor do lucro no
Taxa de Desconto Crescimento anual para calcular a
5º ano futuro
Perpetuidade
626.632,89 9,76% 4,76% 5,00%
Calculando:
Base de cálculo 626.632,89
Taxa
5,00%
perpetuidade
Perpetuidade 12.532.657,74 Valor perpétuo do lucro

Levando os cálculos até este ponto, ou seja, calculando o valor do Fundo de


Comércio (+) mais a perpetuidade dos lucros, incluindo o crescimento médio
esperado (ß), temos o valor de R$ 3.462.542,26 que somado a novo cálculo da
perpetuidade dos lucros de R$ 12.532.657,74 gera o total de = R$ 15.995.200,00.

Conclusão matemática:
Quanto menor a taxa de desconto maior será o valor do Fundo de Comércio.

5ª variável
A quinta variável corresponde à ideia que as Partes têm sobre a quantidade de anos
que esperam que o lucro, realmente, se mantenha – ou seja: as Partes entendem
como algo normal considerar que esse lucro não seja exatamente perpétuo, mas
que ocorra por um tempo futuro considerado razoável por elas. Esta situação surge
nas empresas limitadas, nas sociedades anônimas de capital fechado, nas empresas
familiares e nas empresas cujo fundo de comércio é conceituado como
personalíssimo.
Nestes tipos de empresas sempre está presente a insegurança sobre:
(i) a sucessão,
(ii) quem dirigirá a empresa na falta de seu fundador ou de seu atual
presidente,
(iii) o surgimento de novas tecnologias que ameaçam a atual,
(iv) a entrada de concorrentes,
(v) etc.

As Partes consideram, então, de bom tom, fixar uma quantidade de anos futuros e
limitar a perpetuidade a esse parâmetro. Partindo novamente do conceito de que o
último lucro que, no nosso exemplo, ocorrerá ao 5º ano futuro, se repetirá pelos
próximo 10 (dez) anos – além dos 5 (cinco) anos já considerados no cálculo do
Fundo de Comércio – totalizando, pois, 15 (quinze) anos, encontramos o Valor
Residual da empresa.

30
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Cálculos:

A) CÁLCULO do VALOR RESIDUAL da empresa SEM crescimento anual do lucro líquido.


Período
estimado para
Valor do lucro no 5º Taxa de
geração do
ano futuro Desconto
lucro, em 10
anos.
502.041,00 9,76% 0,10

Calculando:
Base de cálculo 502.041.00
Taxa perpetuidade 9,76%
Perpetuidade 5.143.862,70 descartada
Lucro nos 10 anos futuros além do 5
anos do Fundo de Comércio
5.020.410,00 = C11/D9

VALOR DA EMPRESA SEM CRESCIMENTO DO LUCRO


1. Valor do Patrimônio Líquido conf. Bal.de Determinação R$ 8.000.000,00
2. Valor do Fundo de Comércio R$ 3.050.399,57
3. Valor Residual após 15 anos R$ 5.020.410,00
Valor da empresa sem crescimento do lucro R$ 16.070.809,57

B) CÁLCULO do VALOR RESIDUAL da empresa COM crescimento anual do lucro líquido de 4,76%
Período
estimado para
Valor do lucro no 5º Taxa de Crescimento % de Desconto para Fator de Crescimento
geração do
ano futuro Desconto anual calcular a Perpetuidade em 10 anos
lucro, em 10
anos.
626.632,89 9,76% 4,76% 5,00% 1,592043 0,10
Calculando:
Base de cálculo 626.632,89
Taxa perpetuidade 5,00%
Perpetuidade 11.773.381,20 descartada
{502.041,00+(502.041,00
Lucro nos 10 anos futuros além do 5
8.494.740,60 *
anos do fundo de comércio
1,592043)/0,10

Cálculo do Fator de Crescimento em 10 anos

Anos Crescimento
Anual Fatores anuais
1 1,047600 1,047600
2 1,047600 1,097466
3 1,047600 1,149705
4 1,047600 1,204431
5 1,047600 1,261762
6 1,047600 1,321822
7 1,047600 1,384741
8 1,047600 1,450654
9 1,047600 1,519705
10 1,047600 1,592043

31
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

VALOR DA EMPRESA COM CRESCIMENTO DO LUCRO


1. Valor do Patrimônio Líquido conf. Bal.de Determinação R$ 8.000.000,00
2. Valor do Fundo de Comércio R$ 3.050.399,57
3. Valor Residual após 15 anos R$ 8.494.749,60
Valor da empresa COM crescimento do lucro R$ 19.545.149,17

Outra forma de o Perito Contador Judicial atender à determinação judicial para que
calcule o Fundo de Comércio pelo prazo determinado de 10 (dez) anos, pode ser a
seguinte:
DECISÃO JUDICIAL para que o Fundo de Comércio seja calculado por 10 anos somente.
Ou seja: descartou o cálculo do lucro perpétuo

Lucro Perpétuo SEM crescimento "beta" Lucro Perpétuo COM crescimento "beta" de 4,76%
Fator de Fator de
Anos Valor Anos Valor
Desconto Desconto
0 799.760,00 0 799.760,00
1 (1+9,76%)^1 1,097600 728.644,31 1 (1+(9,76-4,76)%)^1 1,050000 761.676,19
2 (1+9,76%)^2 1,204726 663.852,33 2 (1+(9,76-4,76)%)^2 1,102500 725.405,90
3 (1+9,76%)^3 1,322307 604.821,73 3 (1+(9,76-4,76)%)^3 1,157625 690.862,76
4 (1+9,76%)^4 1,451364 551.040,20 4 (1+(9,76-4,76)%)^4 1,215506 657.964,53
5 (1+9,76%)^5 1,593017 502.041,00 5 (1+(9,76-4,76)%)^5 1,276282 626.632,89
6 (1+9,76%)^6 1,748496 457.398,87 6 (1+(9,76-4,76)%)^6 1,340096 596.793,23
7 (1+9,76%)^7 1,919149 416.726,38 7 (1+(9,76-4,76)%)^7 1,407100 568.374,50
8 (1+9,76%)^8 2,106458 379.670,53 8 (1+(9,76-4,76)%)^8 1,477455 541.309,05
9 (1+9,76%)^9 2,312048 345.909,74 9 (1+(9,76-4,76)%)^9 1,551328 515.532,43
10 (1+9,76%)^10 2,537704 315.151,00 10 (1+(9,76-4,76)%)^10 1,628895 490.983,26
Valor do Fundo de Comércio 4.965.256,10 Valor do Fundo de Comércio 6.175.534,73

Lembremos, novamente e insistentemente, que o Perito Contador Judicial trabalha


em ambiente forense onde não existe, na fase do conhecimento do processo, a
figura de negociadores. As pessoas são litigantes e foram à Justiça exatamente
porque as negociações extrajudiciais fracassaram. Logo, a escolha das variáveis
não pode ser algo que o Perito Contador Judicial deva fazer porque ele não é Parte
e não é analista de mercado de capitais. O Perito Contador Judicial não tem
qualquer interesse financeiro sobre o valor da empresa e, na realidade, ele é apenas
um terceiro com a missão de auxiliar o Juízo.

Numa negociação livre das amarras de um processo judicial os negociadores


escolhem as variáveis do cálculo do Fundo de Comércio, da Perpetuidade ou do
Valor Residual e concordam em comprar e vender ou não concordam e ai não
fecham o negócio. A situação é diferente em um processo judicial onde a venda e
a compra acontecerão, obrigatoriamente, de acordo com a r. Decisão Judicial. Por
isso não podem ser imputadas, ao Perito Contador Judicial, as responsabilidades
pelo arbitramento das variáveis usadas nos cálculos. A escolha das variáveis é uma
32
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

responsabilidade das Partes, que, na melhor das hipóteses, ao formularem seus


quesitos, deveriam explicitar, de forma taxativa, o valor de cada uma e não deixar
essa escolha ao arbítrio do perito.

E por quê?

Resposta: porque este(s) método(s), quando aplicado(s) para conhecer o valor de


uma empresa em ambiente forense, esbarra(m) em duas situações sempre difíceis
de superar que são:
a) o sócio retirante ou o sócio que se vê na obrigação de vender a sua
participação societária e deve receber, geralmente considera o valor baixo
em face de suas expectativas e critica os cálculos periciais e ...
b) o(s) sócio(s) que é obrigado a comprar e deve pagar, geralmente considera o
valor alto diante do que espera desembolsar e também critica os cálculos
periciais.

Conclusão: segundo as Partes o perito do Juízo está sempre equivocado.

Todavia, na medida em que as Partes, através da formulação de quesitos, não


estabeleceram as variáveis para calcular o valor do Fundo de Comércio e da
Perpetuidade ou, alternativamente, não fixaram um tempo futuro para calcular o
Valor Residual da empresa, o auxiliar do Juízo as arbitrará de maneira
fundamentada porque ao magistrado, que o honorou com sua nomeação, devem ser
fornecidos valores para seu douto julgamento. Por outro lado, por se tratar de um
assunto polêmico, as Partes sempre pedirão ESCLARECIMENTOS e apresentarão
QUESITOS ELUCIDATIVOS. Através dos esclarecimentos que prestar e das
respostas que der aos quesitos elucidativos, o Perito Contador Judicial terá a
oportunidade de melhor fundamentar seus cálculos ou refazê-los em conformidade
com as variáveis que lhe forem indicadas.

Mas não nos esqueçamos do que estabelece o Art. 607. A data da resolução e o
critério de apuração de haveres podem ser revistos pelo juiz, a pedido da parte, a
qualquer tempo antes do início da perícia.

==========================================================

5. Outros exemplos de Cálculo do Valor do Fundo de Comércio

Este outro exemplo é baseado na evolução das receitas brutas em relação à


evolução dos lucros. Geralmente, adotam-se 5 (cinco) anos passados dos quais o
primeiro serve como parâmetro (base 100) para conhecer a evolução da vendas dos
4 (quatro) anos sucessivos. A média aritmética das vendas passadas serve para
projetar as vendas futuras. Isto é feito usando o percentual de crescimento
encontrado. Esta projeção é realizada, por exemplo, para os próximos 3 (três) anos

33
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

e a média percentual de lucro do passado é adotada como parâmetro para estimar


os lucros futuros. O valor do Fundo de Comércio corresponde à soma dos lucros
futuros dos próximos 3 (três) anos.

Neste exemplo, trabalhou-se com a linha do Lucro Líquido e a ela foram somadas
algumas despesas:
i) Foi somada a Depreciação do Ativo Imobilizado porque não representa
uma saída de caixa;
ii) Foi somado o valor pago a título de juros passivos porque a decisão de
como financiar o capital de giro da empresa corresponde à vontade e
inteligência dos atuais administradores. Caso a empresa venha ser
vendida, os novos administradores poderão adotar outras políticas de
financiamento do capital de giro aumentando ou diminuindo a despesa
com juros passivos;
iii) Foram excluídos os juros passivos porque não operacionais;
iv) Nos casos em que a avaliação da empresa é feita para fins de negociação
as rendas pagas aos sócios e diretores (lucros, dividendos, benefícios,
pró-labores exagerados, etc.) devem ser somadas ao lucro líquido, pois
não se sabe qual será a política de remuneração que os novos
proprietários adotarão.
Portanto, ao somarmos estas despesas ao Lucro Líquido, este lucro será
majorado.

No que tange ao IRPJ e CSLL, nos casos de empresas que apuram seu lucro
pelo regime de lucro real, é necessário ajustar essa despesa em face dos ajustes
acima mencionados. Quando se tratar de empresa tributada pelo lucro
presumido, nenhum ajuste será necessário a título de IRPJ e CSLL porque a
base de cálculo do lucro tributário é uma estimativa feita conforme critérios e
parâmetros definidos pela Receita Federal do Brasil.

Critérios:
1. Conhecer os Lucros antes da depreciação e antes das despesas financeiras
dos 5 (cinco) anos passados. Havendo prejuízos, calculá-los pelo mesmo
critério, ou seja, antes da depreciação e antes das despesas financeiras.
Considerá-los – com sinal invertido - como integrantes do cálculo;
2. Proceder à sua atualização monetária;
3. Calcular a média aritmética desses Lucros – L – ajustados e atualizados;
4. Multiplicar esta média aritmética por 3 (três) anos futuros, mas podem ser 5
(cinco) anos;
5. Aplicar-lhe juros capitalizados à taxa SELIC (ao ano) disponível no dia do
cálculo, mas poderia ser a TJLP vigente no trimestre em que ocorreu a saída
do sócio;
6. O resultado obtido com este critério corresponde ao valor do Fundo de
Comércio.

34
CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

L
Fórmula: FC = -------- *n * (1 + i)n onde:
na

FC = Fundo de Comércio
L = Lucros ajustados dos últimos 5 (cinco) anos atualizados monetariamente
na = quantidade de anos correspondentes aos lucros do passado: 5
n = quantidade de anos futuros: 3, mas podem ser 5
i = Taxa SELIC ao ano vigente na data do cálculo, mas poderia ser a TJLP ou uma
taxa de desconto definida pelas Partes quando da formulação de quesitos à
perícia. Por exemplo: 11,75% ao ano.
NOTA: lembremos que quanto menor a taxa de desconto
maior será o valor do Fundo de Comércio.

Cálculos:

Fatores encontrados na TPTJ-SP Lucros Média


Resultado Líquidos Aritmética do
Anos Líquido Divisores de Multiplicador ajustados dos Lucro Líquido
ajustado 31/12 de 31/12/2004 últimos 5 ajustado dos
(cinco) anos últimos 5 anos
2000 293.217,18 22,279965 32,676253 430.038,32
2001 474.208,87 24,337592 32,676253 636.684,56
2002 521.215,26 27,392011 32,676253 621.763,83
2003 471.779,14 30,885960 32,676253 499.125,64
2004 540.146,26 32,676253 32,676253 540.146,26
Soma dos Lucros Líquidos ajustados os últimos 5 (cinco) anos 2.727.758,61 545.551,72

Portanto: L/na em que "na" = 5 545.551,72


Taxa de desconto ao ano = 11,75%
Quantidade de anos futuros em logo, fator
3 1,395541 (1,1175^3)
que "n" = 3 anos juros

FC = 2.284.019,36 [(545.551,72*3)*1,395541]

Valor da Empresa = Patrimônio Líquido Ajustado + 2.284.019,36

Caso "n" fosse igual a 5 anos como a quantidade de anos usados para conhecer a média dos lucros
líquidos, teríamos:

Quantidade de anos futuros em logo, fator


5 1,742760 (1,1175^5)
que "n" = 5 anos juros

FC = 4.753.829,42 [(545.551,72*5)*1,742760]

Valor da Empresa = Patrimônio Líquido Ajustado + 4.753.829,42

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CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

A questão da demora em reconhecer o valor dos Haveres dos sócio retirante.

É possível que o Autor da ação de Apuração de Haveres, o sócio retirante,


advogue, em seu favor, que a demora em receber seus haveres lhe causou perdas
pessoais, isto porque a parte do Patrimônio Líquido que lhe pertence tendo ficado
na empresa enquanto aguardava uma decisão judicial gerou, para os demais sócios,
lucros. Caso tenha sucesso em seu pleito, os cálculos do valor do Fundo de
Comércio devem embutir os juros compensatórios reclamados.

Por favor, reveja à página 8 o item 1.5. Juros Compensatórios.

Reconheçamos que é verdade que a empresa em continuidade, enquanto não


houver uma decisão judicial, estará usando a parte do Patrimônio Líquido que
pertence ao sócio retirante. Então, uma forma de remunerar o sócio retirante pelo
capital que foi obrigado a deixar na empresa enquanto demandava na Justiça, é
reconhecer-lhe uma indenização sobre a média dos ganhos do passado. A este tipo
de juros dá-se o nome de juros compensatórios porque têm a propriedade de
compensar – de indenizar – danos resultantes do afastamento do sócio. A praxe é
reconhecer o direito a juros compensatórios contados a partir da data em que a
empresa, objeto de avaliação, foi intimada, mas poderiam ser calculados a partir da
data em que o sócio retirante deixou a empresa.

Exemplo de cálculo de juros compensatórios.


Variáveis:
a) Valor da empresa (conforme apurado acima) = R$ 4.753.829,42;
b) Juros de 1% ao mês (conforme CC), calculados linearmente (não
capitalizados mensalmente), correspondentes a 0,033333% ao dia;
c) Contagem de dias: da data do afastamento do sócio até o dia em que o Perito
Contador Judicial conclui seus cálculos e apresentou o Laudo Pericial
Contábil nos autos do processo, digamos, de 20/05/2018 até 18/05/2021 =
1.094 dias
Valores em Reais
Valor do Percentual VALOR dos
Quantidade Taxa de
Fundo de de Juros Juros
de dias juros ao dia
Comércio no período compensatórios
4.753.829,42 1094 0,033333% 0,364663 1.733.545,79

Valor da Indenização cabente ao sócio retirante segundo o percentual de sua


participação no Capital da empresa:

(1) Patrimônio Líquido mais (+)


(2) Fundo de Comércio de R$ 4.753.829,42 mais (+)
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CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

(3) Valor dos Juros Compensatórios de R$ 1.733.545,79

Neste tipo de cálculo o valor dos Juros Compensatórios visa substituir o Valor da
Perpetuidade ou o Valor Residual. Mas há quem advogue que essas verbas são
cumulativas. Tudo é uma questão de convencimento do MM. Juiz que sentenciará o
que for de Direito.

6. O Valor do Fundo de Comércio de Empresas de Pequeno Porte – EPPs e de


Microempresas como Farmácias, Padarias, Postos de Gasolina, Mercadinhos,
Pizzarias etc.

Para companhias de capital fechado, empresas limitadas, empresas de pequeno


porte e microempresas nas quais a contabilidade societária, geralmente e
ressalvadas as honrosas exceções que confirmam a regra, não merece credibilidade
técnica suficiente para avaliar seu Fundo de Comércio, faz-se o uso de um Fator
Multiplicativo = F. Este Fator Multiplicativo é conhecido pelos corretores que
atuam em cada mercado específico, os seja: as padarias podem usar, por exemplo,
a quantidade de sacos de farinha de trigo que desmancham, em média, por mês; os
postos de gasolina usam como F a quantidade média de litros de combustível
vendido em um mês; as farmácias usam como F a média mensal das vendas brutas
e assim, cada ramo comercial tem seu próprio F. A experiência de quem
intermedia a compra e venda deste tipo de empresas (os corretores) serve de base
para o estabelecimento de Fatores Multiplicativos específicos para cada ramo
comercial. Afora este fato, as margens de lucro praticadas são conhecidas pelos
operadores. Por exemplo: todos os proprietários de padarias sabem quais são os
percentuais de lucro proporcionados com a venda de pães e doces, com o
atendimento no balcão de lanches e café, com o fornecimento de refeições, etc. As
margens de lucro com a venda de combustíveis são conhecidas por aqueles que se
dedicam a esta forma de comércio e conhecem quando rende, mensalmente, a
venda de óleo, filtros, lavagem, etc. As farmácias também conhecem as margens
brutas proporcionadas por cada fabricante e para cada produto, etc. Em cada ramo
o que diferencia uma empresa da outra é a “movimentação”, ou seja, o
volume de dinheiro movimentado em cada dia. Considerando que as despesas
fixas dessas atividades, independentemente de ter escrituração contábil idônea,
podem ser estimadas com boa dose de precisão, o que lhe dá valor, incluindo o
Fundo de Comércio, é a quantidade e a qualidade de clientes que buscam seus
serviços e seus produtos. E este volume de clientes e sua qualidade como
consumidores, tem relação direta com o ponto em que a empresa está instalada e,
principalmente, nas grandes cidades, se dispõe ou não, de estacionamento
próprio ou conveniado gratuito. Outro elemento que é objeto de avaliação
empírica é a maneira dos clientes pagarem suas compras. Quantos (em
porcentagem) pagam em dinheiro, quantos com cartão de crédito, etc. A forma de
pagar é fator de segurança contra assaltos, roubos e furtos internos. Além do fator

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CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

segurança, a forma de pagar dos clientes tem relação direta com a necessidade de
capital de giro da empresa. Essas variáveis todas são objeto de avaliação empírica
ou intuitiva. Conclusão, o Fator Multiplicativo F será diferente para empresas do
mesmo ramo de negócios segundo os fatores ponto, risco, necessidade de capital
de giro, tempo de casa dos funcionários, e outras variáveis não contábeis.

7. O Valor do Fundo de Comércio de uma Sociedade Anônima de Capital


Aberto.
Em primeiro lugar, há que se considerar que as Demonstrações Contábeis da
companhia objeto de avaliação pericial já foram auditadas por entidade
especializada, registrada na Comissão de Valores Mobiliários o no Conselho
Regional de Contabilidade de seu Estado. Logo, estas Demonstrações, ressalvados
os casos em que foram impugnadas judicialmente, são merecedoras de fé pública
na data da apuração. Portanto, a diferença entre o valor patrimonial da ação e seu
valor de cotação em Bolsa, em determinado dia de pregão, é o ágio apercebido
pelo mercado e está relacionado com a expectativa de que a empresa possa gerar
lucros no futuro que compensem pagar por ela, agora, mais que o valor patrimonial
de suas ações. Para conhecer o valor do Fundo de Comércio ou Ágio de uma
companhia com ações normalmente negociadas em Bolsa, em certo momento ou
em determinado dia, e desde que a finalidade seja a de apresentar este valor no
âmbito da Justiça, calcula-se a diferença do valor da empresa pela multiplicação do
preço unitário de suas ações (ordinárias e preferenciais) conforme preço praticado
em Bolsa, com o valor do Patrimônio Líquido, na mesma data.

Exemplo: Calcular, para o dia 31/12/2019, o valor do Fundo de Comércio de uma


companhia aberta, sabendo-se que seu Patrimônio Líquido, nessa data, foi de R$
400.000.000,00; a quantidade de ações Ordinárias era de sete milhões e de
Preferenciais oito milhões e meio. O valor de mercado dessas ações (valor dos
negócios fechados na Bolsa no dia anterior ao do fechamento do Balanço
Patrimonial) foi de R$ 33,20 para as Ordinárias e de R$ 38,71 para as
Preferenciais.

Solução:
Valor de mercado da empresa no dia 30/12/19
Ações Ordinárias: 7.000.000 x R$ 33,20 = R$ 232.400.000,00
Ações Preferenciais: 8.500.000,00 x R$ 38,71 = R$ 329.035.000,00
SOMA = R$ 561.435.000,00

Valor do Patrimônio Líquido no fechamento


contábil do dia seguinte: (31/12/19) = R$ 400.000.000,00

Diferença ou valor do Fundo de Comércio


ou Ágio nesse dia 30/12/2019 = R$ 161.435.000,00
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CONTABILIDADE INSTRUMENTAL PARA PERITOS – Prof. Remo Dalla Zanna (MS)

Ágio ou Fundo de Comércio médio por ação = R$ 10,415161

FIM

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