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Parte 2 | Teatro Jornal e Teatro

Invisível
A censura e a interferência dos militares no que devia ou não ser
publicado nos jornais possibilitou que Boal e um grupo de jovens
atores e atrizes do Arena desenvolvessem o Teatro Jornal. Já no exílio
na Argentina, diante da impossibilidade de se fazer teatro nos palcos,
Boal passou a desenvolver o chamado Teatro Invisível.

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10 min read · May 10, 2021

TEATRO JORNAL
As experiências foram realizadas sob a orientação de Augusto Boal no Areninha, anexo do Teatro de Arena,
último trimestre do ano de 1970 | Acervo Augusto Boal [Código AB.ATJrj.001].

No ano de 1970, no governo do general Emílio Garrastazu Médici, seis jovens


atores e atrizes do curso de interpretação organizado pelo Teatro de Arena,
chamado Areninha, sob a orientação de Augusto Boal, passaram a observar o
potencial dramático das manchetes e notícias de jornais (DEL RIOS, p. 35,
1970).
Em setembro daquele ano, Boal montou o Teatro Jornal — 1ª. edição, que
consistia na improvisação das notícias pelo elenco, por meio da leitura dos
principais jornais da época.

Assim nasceu o Teatro Jornal, uma resposta à censura imposta pelos


militares que distorciam e manipulavam o que era publicado nos jornais,
selecionando somente aquelas notícias que enalteciam o regime.

Sobre a técnica, Boal (1984, p. 43–44) salienta que o Teatro Jornal tem três
objetivos.

O primeiro é desmistificar a pretensa objetividade do jornalismo,


demonstrando que uma notícia publicada no jornal é uma obra de
ficção. A importância da notícia e o seu próprio caráter dependem de
sua relação com o resto do jornal. Neste sentido, Boal destaca o
Cidadão Kane, de Orson Welles, que assim afirma:

Nenhuma notícia é importante o bastante para valer uma manchete; ponha-se


qualquer notícia sem importância na manchete e ela se tornará uma notícia
importante!

O segundo objetivo é tornar o teatro mais popular, a fim que o


próprio povo possa fazer o próprio teatro;
E o terceiro objetivo consiste em demonstrar que o teatro pode ser
praticado mesmo por quem não é artista. Todo mundo pode fazer
teatro como pode participar de uma assembleia e defender seu ponto
de vista.

Em suma, o Teatro Jornal consiste em diversas técnicas simples que


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permitem a transformação de notícias de jornal, ou de qualquer outro
material
Search Medium não-dramático, em cenas teatrais. As técnicas são abordadas em Write

diversas obras sobre o Teatro do Oprimido, sendo que as definições trazidas


a este estudo estão dispostas nos livros Teatro do Oprimido e outras Poéticas
Políticas (2013, p. 149–150) e Técnicas Latino-Americanas de Teatro Popular
(1984, p. 44–46), de Augusto Boal.
As experiências foram realizadas sob a orientação de Augusto Boal no Areninha, anexo do Teatro de Arena,
último trimestre do ano de 1970 | Acervo Augusto Boal [Código AB.ATJrj.001].

Estas são as principais técnicas do Teatro Jornal:

Leitura simples — A notícia é lida, destacando-se dela, da


diagramação, o que a torna falsa ou tendenciosa, fazendo com que
aquela informação readquira sua verdade objetiva;

Leitura cruzada — Duas ou mais notícias são lidas de forma cruzada,


uma lançando nova luz sobre a outra, dando ao fato uma nova
dimensão por meio dos contrastes sociais presentes em cada uma
delas;

Leitura complementar — Acrescentam-se dados e informações


omitidas pelo jornal que publicou a notícia;

Leitura com ritmo — A notícia é cantada em vez de lida, usando-se o


ritmo mais indicado para se transmitir o conteúdo que deseja, como
samba, tango, canto gregoriano, funk, rap ou sertanejo. Qualquer
forma que o ritmo funcione como verdadeiro filtro crítico da notícia,
revelando seu verdadeiro conteúdo, oculto em suas linhas. Ler com
ritmo é interpretar, emprestando à notícia o conteúdo do ritmo
escolhido. Significa ver os fatos na perspectiva dos ritmos;

Ação paralela — Paralelamente à leitura da notícia, os participantes


imitam ações físicas, mostrando em que contexto o fato descrito
ocorreu verdadeiramente; ouve-se a notícia e, ao mesmo tempo,
veem-se imagens que a complementam. A notícia é lida por alguém,
enquanto que, em cena, se desenrolam ações que explicam a notícia
ou que a critiquem;

Improvisação — A notícia é improvisada cenicamente, explorando-se


todas as suas variantes e possibilidades. Os participantes informam-
se sobre a notícia e improvisam uma cena como um exercício de
laboratório. A notícia serve apenas como vago roteiro, ou ainda, pode-
se improvisar o que teria acontecido após o fato narrado pela notícia,
como também, pode-se improvisar os motivos e as cenas que teriam
levado aos fatos narrados pela notícia;

Histórico — A notícia é representada juntamente com outras cenas ou


dados que mostrem o mesmo fato em outros momentos históricos ou
em outros países, ou em outros contextos sociais. Uma notícia é
sempre melhor compreendida pelo espectador se ele tiver
informações históricas adicionais;

Reforço — A notícia é lida, ou cantada, ou bailada, com a ajuda de


jingles comerciais, canções chiclete, frases de filmes famosos ou
material de publicidade já conhecidos pelo público;

Concreção da abstração — Concreta-se cenicamente o que a notícia


às vezes esconde em sua informação puramente abstrata: mostra-se
concretamente a tortura, a fome, o desemprego, mostrando imagens
gráficas, reais ou simbólicas. A TV, os jornais e as redes sociais nos
habituaram a conviver com o que há de mais terrível no mundo:
guerra, mortes violentas, chacinas, terremotos, estupros, todos os
tipos de crimes. Os noticiários são quase sempre na hora do almoço
ou do jantar. Ver sangue enquanto se come é quase tão importante
como o sal na comida. Continuamos a comer tranquilos. A
informação já não informa. Ouvimos e lemos a notícia, registramos e
continuamos insensíveis. A morte é abstrata, por isso é necessário
tornar concretas certas palavras;

Texto fora do contexto — Uma notícia é representada fora do contexto


em que sai publicada. Por exemplo, um ator representa o discurso
sobre austeridade pronunciado por um ministro da economia,
enquanto devora um enorme jantar; a verdade do discurso fica assim
desmitificada;

Entrevista de campo — Quando um dramaturgo queria revelar o


íntimo do seu personagem, ele escrevia um monólogo e o
personagem começava a falar sozinho, a se perguntar se era melhor
ser ou não ser. Hoje em dia, com a televisão, quando saber o íntimo
do personagem, faz-se uma entrevista de campo, utilizando-se todas
as técnicas dos entrevistadores. Assim, toda a solenidade de certos
manifestos, discursos, são relativizados pela transcrição numa
linguagem esportiva, e o conhecimento da verdade do
pronunciamento torna-se mais fácil, pois é destacado de seu contexto
solene, desprovendo os chavões demagógicos.
Alessandro Conceição e Claudia Simone na divulgação do laboratório do Teatro Jornal (2010) | Foto: Centro de
Teatro do Oprimido.

No ano de 2010, o Centro de Teatro do Oprimido — CTO realizou um


laboratório de Teatro Jornal, com base na Estética do Oprimido, na qual os
participantes buscaram desenvolver as atividades teatrais se apropriando da
palavra, da imagem e do som. Com a orientação da pedagoga Claudia
Simone e do jornalista Alessandro Conceição (2016, p. 117), os participantes
desenvolveram uma nova técnica, chamada de Arauto da Notícia.
Arauto da Notícia— Vários jornais são colocados no chão, com
notícias que poderiam chamar a atenção do grupo. Cada pessoa
escolhe uma notícia e diz a razão de a ter escolhido. Os arautos das
notícias devem defendê-las: Qual sua importância? O que ela não
revela? Por que é necessário usar uma técnica de Teatro Jornal com
ela? Escolhe-se uma ou duas notícias e utiliza-se duas técnicas com
cada uma.

A atriz Clara de Andrade com o seu livro intitulado “O Exílio de Augusto Boal — Reflexões sobre um teatro
sem fronteiras” (2014) | Imagem: Youtube.
A atriz e escritora, Clara de Andrade (2013), afirma que o Teatro Jornal foi o
marco inicial para a descoberta do Teatro do Oprimido. Nesta técnica,
reencena-se o que não se vê nas entrelinhas das notícias, criando imagens
que revelavam os silêncios.

Bárbara Santos | Foto: Teatro Municipal do Porto.

A socióloga e atriz, Bárbara Santos (2016, p. 75), ressalta que, nos dias de
hoje, o Teatro Jornal ainda é utilizado para explicitar as manipulações
realizadas pelos veículos de comunicação, sendo que sua redescoberta
envolve a necessidade de democratizar os meios de comunicação de massa
que estão nas mãos do poder econômico e investigar as possibilidades
oferecidas, especialmente pela internet.

TEATRO INVISÍVEL
Em fevereiro do ano de 1971, Augusto Boal foi preso e torturado pelos
militares por dois meses. Após deixar a prisão, partiu para o exílio em
Buenos Aires.
Augusto Boal posa em frente ao Obelisco de Buenos Aires durante o período de seu exílio na cidade (1971) |
Acervo Augusto Boal [Código AB.Ef.001].

Na Argentina, Boal se deparou com a dificuldade enfrentada pelos atores e


atrizes de fazer teatro dentro dos teatros.
Diante dessa realidade, os atores e as atrizes passaram a encenar situações e
conflitos do cotidiano nos locais públicos sem identificar que se tratava de
uma encenação. Este tipo de encenação foi denominada de Teatro Invisível.

No Teatro Invisível, os atores e atrizes passam a interagir por meio de


debates provocados e combinados previamente por eles.

Bárbara Santos (2016, p. 88–90) informa que o objetivo do Teatro Invisível é


dar visibilidade ao que se encontra invisível na vida cotidiana. Portanto,
deve-se evitar revela-lo como encenação teatral, pois pode colocar em risco
o grupo de atores e atrizes. Como a encenação é apresentada como fato
concreto da vida real, ela não pode ser revelada como teatro. Por esta razão,
a encenação deve ser apresentada em locais públicos onde poderia
acontecer a cena como fato verídico, de modo que não seria facilmente
identificada como evento teatral. Os espectadores são participantes reais,
que estão no local por acaso, e acabam reagindo e opinando
espontaneamente à discussão provocada pela encenação.
Augusto Boal apoiado na mesa de sua casa em Buenos Aires (1976) | Foto: Cecília Thumim Boal.

Na Argentina, Boal e o grupo com o qual trabalhava fizeram uma encenação


baseada numa lei que dizia que nenhum cidadão argentino deveria passar
fome. Em resumo, bastava que comprovasse ser cidadão argentino que teria
direito a comer, contanto que não consumisse álcool e nem sobremesa.

A encenação ocorreu num restaurante, onde o ator pedia um bife com


acompanhamento, e deixava evidenciado que não queria bebida alcóolica,
nem sobremesa. Quando o garçom apresentava a conta, o ator mostrava a
sua identidade e dizia ser um cidadão argentino e por isso tinha direito de
comer mesmo sem ter dinheiro.

Outros atores sentados em outras mesas começavam a entrar, um a um, na


discussão, uns apoiando e outros questionando. Até que todo o restaurante
estava envolvido na discussão. Quando o gerente decidiu chamar a polícia,
um outro ator pagou a conta.

A intenção era provocar a reflexão de que, como cidadãos argentinos passam


fome se existe uma lei que prevê que nenhum argentino deve passar fome?

O Teatro Invisível nada tem a ver com improvisação, trata-se de um modelo


criado a partir do estudo de situação e deve ser ensaiado, para que o grupo
possa testar possibilidades de intervenção. A encenação geralmente conta
com imprevistos e, dependendo do caso tratado, o grupo deve estar
acompanhado de aliados externos para casos de emergência, como
advogados, seguranças, por exemplo. A escolha tática de atuação e de
composição de alianças deve levar em conta o contexto local.
Augusto Boal, Cecilia Thumim e o pequeno Juian Boal — Buenos Aire (1976) | Acervo Augusto Boal [Código
AB.ABff.029].

Boal (2013, p. 150) afirmava que o Teatro Invisível deve explodir em um


determinado local de grande afluência de pessoas. Todas as pessoas
próximas devem ser envolvidas pela explosão, e os seus efeitos muitas vezes
perduram até depois de muito tempo de terminada a cena.

No Peru, durante a Operação Alfabetização Integral — ALFIN, em 1973,


foram realizados espetáculos de Teatro Invisível para divulgar o programa
de alfabetização.
Num mercado popular perto da capital Lima, duas senhoras atrizes
protagonizaram uma cena diante de um vendedor de verduras.

A primeira senhora, que se fazia passar por analfabeta, insistia em dizer que
o vendedor estava lhe cobrando um preço muito abusivo, aproveitando-se do
fato dela não saber ler.

A outra atriz refazia as contas dizendo que estavam corretas e aconselhava a


primeira atriz a entrar no curso de alfabetização do Programa de
Alfabetização Integral — ALFIN.

Dessa forma, iniciava-se uma discussão sobre qual era a melhor idade para
começar a estudar. Os feirantes e a clientela passaram a opinar, enquanto a
primeira atriz continuava insistindo em dizer que era muito velha para
aprender matemática.

Foi aí que uma velhinha que estava na feira, comentou indignada:

— Minha filha, isso não é verdade! Para aprender e para fazer amor, não há idade!

Todas as pessoas que presenciaram a cena começaram a rir, e as duas atrizes


não conseguiram mais continuar a cena.
Helen Sarapeck no programa “Como Será?” (2015) | Imagem: TV Globo

A bióloga Helen Sarapeck (2016, p. 123) reforça que a dramaturgia do Teatro


Invisível tem como base o conflito entre um protagonista e um antagonista,
um oprimido e um opressor que lutam por desejos contrários.

O conflito central deve ser o ponto auge da apresentação. Deve ser rápido,
intenso e capaz de chamar a atenção de todos que estão presenciando a
cena, desencadeando, assim, o debate.
Após a encenação do conflito central, entram em cena os aquecedores,
atores e atrizes que estão fora do foco central e responsáveis por estimular
os espectadores ao debate. Os aquecedores podem ser aliados do oprimido
como também aliados do opressor, que ficam espalhados entre o público, de
forma que se abranja o máximo de espectadores possível.

Segundo Helen Sarapeck (2016, p. 123), o Teatro Invisível é desvendar e


expor o tema, para que possa ser discutido numa mesa de bar ou na calçada,
rasgando os bons modos, receios e medos que mascaram e escondem as
opressões vividas cotidianamente. Expor e tornar translúcido o que a
hipocrisia pretende fingir que não existe.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Clara de. “Teatro-Jornal” de Augusto Boal e a descoberta
do teatro do oprimido. Anais do Simpósio de Internacional Brecht
Society. Vol. 1, 2013.

BOAL, Augusto. Técnicas latino-americanas de teatro popular: uma


revolução copernicana ao contrário. Editora Hucitec: Prefeitura do
Município de São Paulo. Secretaria Municipal de Cultura: São Paulo,
1984. 166 p.
BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. São
Paulo: Cosac Naify, 2013. 224 p.

DEL RIOS, Jefferson. “Teatro-Jornal” está no Arena. Folha de São


Paulo, São Paulo, set. de 1970.

OLIVEIRA, Claudia Simone; CONCEIÇÃO, Alessandro da. Teatro-


Jornal: edição extraordinária!. In: METAXIS. Centro de Teatro do
Oprimido, 30 anos: Teatro do Oprimido na Maré. Rio de Janeiro:
Centro de Teatro do Oprimido, 2016. 136 p.

SANTOS, Bárbara. Teatro do oprimido: raízes e asas — uma teoria da


práxis — 1ª ed. — Rio de Janeiro: Íbis Libris, 2016. 528 p.

SARAPECK, Helen. Dando visibilidade à dramaturgia do Teatro


Invisível. In: METAXIS. Centro de Teatro do Oprimido, 30 anos:
Teatro do Oprimido na Maré. Rio de Janeiro: Centro de Teatro do
Oprimido, 2016. 136 p.

Teatro Jornal Teatro Buenos Aires Augusto Boal Arena


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