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LUIS FLÁVIO REIS GODINHO

QUE TRABALHADOR SOU EU?

Uma análise sobre a experiência com a exclusão,


diferenciação e segmentação no/do trabalho

SALVADOR

2001
Este trabalho é dedicado a:

“ historiadores [ e sociólogos], tanto acadêmicos

quanto populares, que planejarão escrever livros

que implícita ou explicitamente neguem a

possibilidade de uma recriação histórica significativa

das vidas das massas, mas seus motivos serão

cada vez mais duvidosos. A história vista de baixo

ajuda a convencer aqueles de nós nascidos sem

colheres de pratas em nossas bocas, de que

temos um passado, de que viemos de algum

lugar” ( Jim Sharpe, 1992, p. 62) (Grifos nossos)

2
AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi possível devido a contribuição de diversas pessoas.

Agradeço a minha mai ( é isso mesmo mai !! - mistura de mãe e pai) que

nunca poupou esforços para que eu chegasse aqui.

A Prof.a Graça Druck minha orientadora acadêmica que sempre procurou


assumir uma postura de formar ao invés de informar, que acreditou sempre em
mim e que possibilitou através de suas competentes aulas, o exercício teórico.

Ao Professor João Saturnino que de forma competente iniciou-me nas


discussões metodológicas e de pesquisa quando fui seu aluno.

A todos os Professores do Curso de Ciências Sociais/UFBa, especialmente a


Prof.a Iracema Guimarães e as ricas discussões em sala de aula que
auxiliaram na realização deste estudo.

Aos Profs. da UNEB: Daniel Francisco dos Santos e Wilson Roberto de Mattos,
por terem me convidado a penetrar nas linhas escritas por E.P. Thompson.

Ao amigo Jair Batista da Silva com quem partilhei cada dúvida teórica e que
acompanhou esta experiência acadêmica .

Aos amigos, Fabiano Brito dos Santos , Sandro Augusto Ferreira e Maurício
Brito estes sempre estiveram por perto.

A Gleide Sacramento pela sua sincera amizade que ultrapassou os muros da


Universidade.

À Selma Cristina Silva de Jesus amiga de sempre, pela convivência


acadêmica que me propiciou e pela oportunidade que tivemos de ser colegas
por três anos de bolsa de iniciação científica.

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A Ângela Borges, que me presenteou com um computador, gesto este que foi
fundamental para a conclusão deste trabalho.

Ao amigo e colega Théo Barreto pelo estímulo e pela crença otimista de que
tudo daria certo.

Aos colegas bolsistas, Bartira Barreto e Luiz Paulo Oliveira de Jesus, a este
último agradeço o desenho do banco de dados no SPSS e a edição das
tabelas.

Ao colega Carlos Henrique que auxiliou-me no trabalho de coleta de dados.

A todos os Funcionários do CRH, que sempre estiveram solícitos e atenciosos


a meus pedidos.

Por fim aos Diretores do Siticcan, especialmente a (Paulinho e Loteba), que


abriram as portas e foram sempre solícitos aos meus pedidos.

A todos os trabalhadores que se dispuseram a me auxiliar nesta empreitada,


com certeza !!

Aos colegas do M.E.( Movimento Estudantil) que lutaram e lutam ainda como
eu, por uma Universidade Pública, Gratuita, Democrática e de Qualidade, que
alguns dizem ser um chavão, mas que nós fazemos questão de reafirmar como
princípios em cada luta social e institucional que realizamos.

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APRESENTAÇÃO

Esta monografia foi resultado de reflexões que fiz acerca do mundo do trabalho

durante a minha trajetória acadêmica. Neste sentido a preocupação sobre a

integração desigual do trabalhador em situação de emprego e trabalho

precário vem me despertando atenção e o trabalhador terceirizado1 me fez

despertar para o problema de pesquisa que desenvolvo para obter o grau de

Bacharel em Ciências Sociais/UFBA. Nestes últimos três anos estive

participando de projetos do PIBIC/CNPq, a saber: A reestruturação produtiva e

os Sindicatos: um estudo da imprensa sindical e a Reestruturação produtiva e

os impactos sobre o trabalho e o emprego no setor bancário na Bahia, este

último executado durante os dois últimos anos. Durante esta trajetória O Centro

de Recursos Humanos ( CRH) órgão suplementar da Faculdade de Filosofia e

Ciências Humanas da UFBA, esteve sediando estas pesquisas em que

participei na condição de Bolsista de IC, inserido na Linha de Pesquisa

”Trabalho, Saúde e Meio Ambiente”.

1
Trabalhador Terceirizado é aquele que trabalha como empregado de uma empresa que presta serviço a
outra empresa. Neste sentido pretendo estudar as condições de trabalho e vida do terceirizado na
Petrobrás.

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INTRODUÇÃO

O peão pegou a boca de ferro e começou a protestar contra a qualidade

do sonrisal na gata. Estava acompanhado do carteira branca e até um

trabalhador amém se envolveu na luta, o seu principal temor e dos seus

companheiros era o medo de ficar amarrando lata depois do protesto, logo

vieram se somar à paralisação os companheiros da chupa toda. Depois do

protesto pode cair na boca do jacaré. Se tudo der certo é pegar o bombril e

apresentar para justificar a falta.

Não entendeu nada não foi? Pois é, o objetivo principal deste trabalho é

o de investigar a terceirização que ocorre atualmente procurando identificar a

experiência do trabalhador terceirizado sobre o processo e procurar averiguar

o processo de segmentação que ocorre entre os trabalhadores terceirizados e

não terceirizados ( Contratados diretos) na Refinaria Landulfo Alves (RLAM)

causados pela terceirização.

Portanto antes de prosseguirmos, precisaria explicar esta linguagem com

que comecei este trabalho. Estas palavras grifadas são algumas das

expressões utilizadas por esses trabalhadores de empresas prestadoras de

serviço) - informantes de meu estudo - para darem um testemunho de suas

condições de trabalho e como representam seu cotidiano no trabalho .

A linguagem é uma dimensão importante de qualquer cultura e no caso de

6
trabalhadores precários ajuda o investigador a compreender como no plano

dessa experiência podemos entender situações de trabalho, que não seriam

ditas de forma tão espontânea como é dita através de seus códigos

lingüísticos. Boca de ferro é como os trabalhadores chamam o microfone, este

instrumento que tão bem simboliza a luta sindical e a dos trabalhadores.

Sonrisal é como os trabalhadores chamam as refeições que lhe são fornecidas

pelas empresas em que trabalham, talvez fazendo uma alusão ao mal estar,

provocado pela ingestão de tal refeição. As outras expressões solicito que

sejam decifradas através da leitura do dicionário de verbetes que está em

anexo a este estudo. Esta foi uma forma que encontrei para explicitar e chamar

atenção para meu objetivo na consecução deste estudo.

Há atualmente nas ciências humanas um movimento crescente de

compreender/explicar a história e a vida social a partir de novas fontes e novos

sujeitos. É a perspectiva que os historiadores chamam de ‘história vista de

baixo” ( Sharpe, 1992). Darnton num livro que teve uma certa repercussão ‘O

grande massacre de gatos” nos ensina como um tema aparentemente

desinteressante como o de um massacre de gatos, pode esconder dimensões

importantes do estudo da emergente classe operária no início da

industrialização. O gato era o animal de estimação predileto dos burgueses na

Londres do início da industrialização e como os recém tornados operários não

podiam protestar contra suas condições de trabalho de formas mais nítidas

como fazendo greve ( que ainda não era uma forma de insurgência ...)

sacrificavam os gatos dos burgueses como forma de protesto. Ainda simbólico,

mas planejado para denunciar a precariedade das condições de trabalho (

7
Darnton,1986).

Em outro sentido Hobsbawn (1987) aponta a necessidade de investigar o

trabalhador não organizado, que está fora das estruturas sindicais, o

trabalhador comum, vejamos:

“(...) o interesse marxista, ou em outros termos mais gerais,


socialista, pela história feita pelo povo desenvolveu-se com o
crescimento do movimento trabalhista. Mas embora isto
proporcionasse um incentivo muito forte ao estudo da história
do homem comum – especialmente, da classe operária – impôs
também antolhos muito eficientes aos historiadores socialistas.
Naturalmente eles se sentiam tentados a estudar não apenas o
homem comum, mas o homem que podia ser considerado
como ancestral do movimento: não trabalhadores como tais,
mas principalmente como cartistas, sindicalistas, militantes
trabalhistas. E sentiram também a tentação – igualmente muito
natural – de supor que a história dos movimentos e
organizações que lideraram a luta dos trabalhadores e,
portanto, em sentido bem real, ‘representaram’ os
trabalhadores, podia substituir a história das próprias pessoas
comuns”.

Mas porque a história atual também é vista de baixo? Uma das

explicações possíveis é de que estas perspectivas de estudo estavam

silenciadas por uma “ciência histórica” que só buscava fontes oficiais e

personagens ilustres, é a história vista de cima. Ë disto que diversos

historiadores falam sobre ‘o silêncio da história” e este silêncio foi rompido por

diversos autores e seus estudos ( Thompson 1987, Hobsbawn 1987, Sharpe,

1992).

Neste sentido poderia buscar um trabalho menos árduo fazer um estudo

social numa perspectiva tradicional, mas o que me interessa está coadunando

com esta passagem em Thompson:

8
" Estou tentando resgatar o pobre tecelão de malhas, o meeiro
luddita, o tecelão do 'obsoleto' tear manual, o artesão 'utópico'
e mesmo o iludido seguidor de Joanna Southcott, dos imensos
ares da condescendência da posteridade. Seus ofícios e
tradições podiam estar desaparecendo. Sua hostilidade frente
ao novo industrialismo podia ser retrógrada. Seus ideais
comunitários podiam ser fantasiosos. Suas conspirações
insurrecionais podiam ser temerárias. Mas eles viveram nesses
tempos de aguda perturbação social, e nós não. Suas
aspirações eram válidas nos termos de sua própria existência;
se foram vítimas acidentais da história, continuam a ser,
condenados em vida, vítimas acidentais."(Thompson, 1987.
P.13)

Por fim, se evidencia atualmente nas Ciências Sociais um contigente cada

vez maior de autores ( Sennett, 1999; Castels, 1998; Hobsbawn, 1995; Bihr,

1998) que vem se ocupando de estudar a incerteza, a falta de projetos de vida,

a desesperança e a precarização das condições de trabalho e de vida neste fim

de século. Esses autores identificam processos de “vulnerabilidades de massa”

e “desfiliação” (Cf: Castels, 1998) num período “após proteções”, ou seja,

depois da sociedade ocidental ter conhecido uma fase áurea de

desenvolvimento sócio-econômico ( a era do Welfare State). Neste sentido

como disse Bourdieu “a precariedade está em toda parte” e o que pretendo é

estudar a precariedade e a experiência com ela no emprego e na vida.

O movimento que sigo é este: através de uma análise dos de ‘baixo”

explicar o processo de terceirização.

Parti da premissa teórica de que os sujeitos internalizam e interpretam a

situação estrutural em que vivem ( estão numa “estrutura-estruturante”) e o

meu objeto de estudo são os trabalhadores terceirizados e suas condições de

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trabalho e de vida2. Para entendê-los quero saber como interpretam e tomam

experiência com a estrutura que os condiciona. Portanto esta é uma relação de

interação: tanto a mudança estrutural condiciona e fixa o sujeito como é

possível de ser entendida/interpretada/transformada por ele, neste sentido, o

problema de pesquisa é saber: Como os trabalhadores terceirizados (na

Refinaria Landulfo Alves da Petrobrás) interpretam estas práticas de

segmentação/diferenciação social causadas pela reestruturação produtiva

através da terceirização?

Para cumprir os objetivos que coloquei formulei as seguintes hipóteses:

A terceirização traz consigo mudanças nos padrões de sociabilidade no

ambiente de trabalho. Sendo que chamo de padrões de sociabilidade na

fábrica: frequentar os mesmos espaços destinados a trabalhadores,

envergarem a mesma vestimenta, frequentar os mesmos refeitórios, vestiários

e entrarem pelo mesmo portão na fábrica, participarem de clubes de lazer etc

Uma segunda hipótese vem a ser a de que: Os trabalhadores terceirizados

portam um status social menos valorizado devido ao processo de mudança

estrutural e ao trabalho mais precário que exercem. A terceirização implica e

resulta numa segmentação/diferenciação social que ocorre entre os

trabalhadores diretos e terceirizados da empresa. Sendo que considero status

social no trabalho - trabalhar numa empresa que garanta estabilidade e boas

2
Trabalhadores terceirizados são aqueles que trabalham em empresas sem ser contratados delas.
Tercerizados são empregados de empresas que prestam serviço a uma empresa contratante.

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condições de trabalho, não ser temporário, Ter todas as garantias trabalhistas

etc.

Segmentação vem ser na minha acepção neste estudo- não frequentar os

mesmos espaços destinados a trabalhadores, não envergarem a mesma

vestimenta, não frequentar os mesmos refeitórios e vestiários e não entrarem

pelo mesmo portão na fábrica, não participarem de clubes de lazer. Ter que

dizer para mulher e filhos que não pode atender telefone no local de trabalho

por que não é funcionário da Petrobrás.

Uma terceira hipótese é de que: a terceirização resulta numa precarização

cada vez mais acentuada da relação e do convívio entre funcionários das

empreiteiras e da Petrobrás. Sendo a precarização da relação e do Convívio –

a discriminação, não dar apoio às reivindicações da categoria em greve, não

haver uma identidade interesses entre as categorias.

A última hipótese é a de que: o terceirizado percebe-se enquanto

trabalhador temporário, sem se incorporar na cultura organizacional da

Petrobrás. Intitulo Trabalhador temporário – o que trabalha por empreitada

sem nenhuma estabilidade no emprego, por tempo pré-fixado e determinado e

Cultura Organizacional – Ter pertencimento institucional, compreender as

regras da Instituição, utilizar seus símbolos, participar de seus clubes, ser um

petroleiro, participar de cursos oferecidos pela empresa.

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Portanto para dar respostas a essas hipóteses, objetivos e ao problema de

pesquisa é que construir esta monografia, sendo que o interesse por este tema

fui construindo durante minha trajetória enquanto estudante e bolsista de

Iniciação científica por quatro anos preocupado com questões referentes ao

mundo do trabalho.

O processo de terceirização é uma estratégia adotada pelas empresas

para a transferência de mão de obra e de custos trabalhistas para prestadoras

de serviço. É uma das características principais do processo de reestruturação

em curso. Por ter uma implicação social sobre as relações entre trabalho e

capital faz-se necessário sua investigação.

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SOBRE O MÉTODO

A partir da concepção de que todos os dados são construídos, procurei

buscar o máximo de investigação e o mínimo de interferência sobre os

resultados encontrados. Utilizei algumas técnicas de pesquisa social:

entrevistas estruturadas, semi-estruturadas, gravação de depoimentos,

observação participante e aplicação de questionário, além da análise de fontes

secundárias.

Esta interpretação se dará a partir de duas concepções: uma que privilegia

a descrição mais quantitativa e outra qualitativa. Foram realizadas entrevistas

com setenta trabalhadores, sendo que destas setenta entrevistas serão

utilizadas apenas sessenta e duas, pois as outras oito entrevistas ou foram

incompletas ou não respondidas. O questionário utilizado está em anexo.

Todas as tabelas neste texto foram construídas a partir da pesquisa de campo.

A Metodologia utilizada concorda com as premissas de que o investigador

ao escolher o seu problema de pesquisa interfere sobre a realidade( cf; Weber)

que é sempre construída e nunca pura. Entretanto aos informantes desta

pesquisa sempre foi dito o objetivo da pesquisa e solicitado autorização para a

citação. A discussão sobre as interpretações que pretendo através deste

trabalho está inserida nua idéia de que não pretendo universalizar os achados

da pesquisa e nem tomá-los como axiomas gerais válidos para quaisquer

contexto, assim:

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“(...) nossas mentes não refletem diretamente a realidade. Só
percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções,
esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma
cultura para outra. Nessa situação, nossa percepção dos
conflitos é certamente mais realçada por uma apresentação de
pontos de vista opostos do que por uma tentativa, como a de
Acton, de articular o consenso. Nós nos deslocamos do ideal
da Voz da História para aquele da heteroglossia, definida como
‘vozes variadas e opostas’( Burke, 1992)

Descreverei os procedimentos da pesquisa de campo:

a) Elaborei um questionário estruturado com dezoito questões fechadas para

ser aplicado junto a trabalhadores de empreiteiras da RLAM durante uma

paralisação que ocorreu no fim do mês de maio de 2000. Estavam

presentes a esta paralisação cerca de quatro mil trabalhadores. Realizei

cerca de setenta entrevistas.

b) A população investigada permitiu descobrir indicadores importantes das

condições de trabalho e vida da categoria, o perfil da categoria:

composição étnica, de gênero, faixa etária, escolaridade.

c) Defini da seguinte forma a amostra3 que fiz: Trabalhadores terceirizados

do setor de montagem e manutenção industrial que laboram na Refinaria

Landulfo Alves, excluí da amostra tanto trabalhadores terceirizados na área

de apoio quanto trabalhadores terceirizados na área de construção civil,

3
Meu objetivo foi fazer um estudo qualitativo sobre as condições de trabalho e de vida dos informantes.
Por este motivo não procedi a um cálculo de amostra. O objetivo da construção de dados quantitativos
neste trabalho é para elaborar um perfil dos entrevistados

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assim procedi porquê estes trabalhadores não são terceirizados que

interessam ao objetivo deste trabalho e não trabalham na atividade-fim da

Petrobrás, e portanto não constitui novidade no processo de terceirização.

d) Para ampliar a investigação utilizei a técnica de observação participante tão

comum aos antropólogos. Fui observador durante o V Congresso de

Trabalhadores na Indústria da Construção Civil, Montagem e Manutenção

Industrial de Candeias, Simões Filho, São Sebastião do Passé, São

Francisco do Conde e Madre de Deus, organizado pelo Siticcan, que

ocorreu entre 25 a 27/02/2000, na Cidade de Candeias , promovida pelo

Sindicato da categoria. Naquele momento convivi com diversos informantes

de minha pesquisa, fiz contatos para entrevista, fiz anotações sobre

questões levantadas pelos trabalhadores durante as discussões sobre as

condições de trabalho e de organização política. Foi neste momento que

comecei a construir o dicionário de verbetes que trago em anexo. A cada

expressão / “gíria” aguçava minha curiosidade de saber o que significava.

Participei do Congresso da categoria durante dois dias e este congresso

contou com a presença de cerca de cento e oitenta trabalhadores da base,

que participaram ativamente das discussões.

e) Realizei entrevistas gravadas ( com diretores do sindicato e trabalhadores)

com o objetivo de tomar depoimentos que me permitissem uma análise

mais qualitativa do processo que se buscou investigar . estas entrevistas

obedeceram a um roteiro previamente feito constando de perguntas sobre o

processo de terceirização e sobre a segmentação que ocorre no espaço da

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fábrica entre empregados da Petrobrás e das empreiteiras, dentre outras

perguntas.

f) Os dados secundários coletados foram os seguintes: Análise dos Boletins o

“ Maçarico” e das Convenções coletivas confeccionadas , pelo Sindicato de

Trabalhadores da Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial de

Candeias, Simões Filho, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé

e Madre de Deus. ( Siticcan). A periodicidade deste boletim é mensal e

analisei os boletins do período 1990-99. Lá constam notícias e denúncias

sobre terceirização, desemprego e outras informações e fiz um pequeno

resumo delas.

g) Análise das entrevistas feitas pela Equipe Unitrabalho/UFBA junto aos

diretores do Sindipetro e do Siticcan para a pesquisa sobre o perfil dos

dirigentes de sindicatos urbanos da Bahia.

h) Coletei dados sobre a Petrobrás na home page da AEPET( Associação dos

Engenheiros da Petrobrás) www.aepet.org.br.

i) Coletei dados no caderno de Teses do V Congresso de Trabalhadores de

base Siticcan.

j) Coletei notícias sobre a terceirização que foram publicadas na Revista Isto

é.

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k) Os dados quantitativos foram tratados estatísticamente através da

Utilização do programa de computador ‘SPSS” - Programa Estatístico para

as Ciências Sociais – este programa permite tirar freqüências, fazer

cruzamento entre variáveis, elaborar médias etc.

l) A Empresa escolhida foi a Petrobrás porque é a empresa que tem mais

trabalhadores terceirizados em seus quadros na Região Metropolitana de

Salvador ( cerca de dez mil trabalhadores de empreiteiras, sendo que os

trabalhadores da RLAM representam somente mil e quinhentos

trabalhadores.)

Cerca de 90 % da categoria representada pelo Siticcan trabalha na RLAM

Por último o processo de observação foi intencionalmente feito fora da RLAM,

por um motivo simples: a partir da metodologia que escolhi – o que envolve a

tomada de depoimentos gravados – a questão do tempo de realização da

entrevista me fez optar por fazer a entrevista fora do local de trabalho. Pois

esta situação possibilitou a coleta de um depoimento com um tempo a meu

favor, situação que se complica quando você faz a realização de pesquisas no

local de trabalho das pessoas.

Em síntese esta pesquisa foi realizada junto a trabalhadores terceirizados das

áreas de montagem e manutenção industrial que trabalham na RLAM, esta se

situa em São Francisco do Conde.

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No primeiro capítulo apresentamos uma discussão sobre trabalho e classe.

Atentando para o fato de que é necessário uma ampliação teórica e empírica

dos conceitos citados. Neste capítulo revisito autores clássicos Marx (1971)

Weber, (1989) e Durkheim ( 1988) e contemporâneos da sociologia (Bourdieu,

(1989) Thompson, (1987) Gorz, 1987) Offe, (1989).

No segundo capítulo faço uma discussão sobre a reestruturação produtiva,

seus elementos centrais,o modelo de gestão fordista e sua crise. Além de

discutir especificamente a questão da terceirização e seus impactos sobre o

trabalho e o emprego. Faço também um estudo das formas de

comunicação/linguagem do segmento de trabalhadores estudados

O terceiro capítulo apresenta resultados da pesquisa, tanto os de cunho

quantitativo ( análises de tabelas) como de cunho qualitativo ( análise de

depoimentos, de boletins etc). Neste capítulo reside a maior contribuição deste

estudo, qual seja, desvendar quem são os terceirizados e como interpretam a

terceirização de que são parte e a segmentação no espaço social.

Por fim apresentamos as conclusões retomando as hipóteses iniciais do

trabalho.

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Capítulo 1 - Trabalho e Classe: Por uma ampliação teórica e empírica

As mudanças que ocorrem na vida social e em particular no mundo do

trabalho neste fim de século têm trazido como tônica principal: redução de

direitos sociais e trabalhistas, complexificação do conteúdo do trabalho,

desemprego estrutural, flexibilização e precarização das condições do trabalho

e de vida etc. O Relatório da OIT, de 19964, afirma que há hoje no mundo

cerca de 1 bilhão de desempregados e sub-empregados. Isto representa

aproximadamente 20% da população do planeta Terra.

Em setembro de 99, o BIRD divulgou um relatório sobre o

desenvolvimento global onde consta dados de que cerca de um bilhão e meio

de pessoas vivem na mais absoluta pobreza , sendo o indicador desta -

aquelas pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia (Revista Isto é,

22/09/1999). o Ibope - no mesmo mês - divulgou sua 18.ª rodada da pesquisa

feita conjuntamente com a Confederação Nacional da Indústria com duas mil

pessoas eleitoras a partir de dezesseis anos de idade em diversas regiões

metropolitanas do país sobre a confiança no futuro do país: " (...) O

desemprego continua sendo considerado o maior problema brasileiro, com

83% de indicações, seguido pela Saúde, com 50% e o salário dos

trabalhadores com 35%"(CNI/IBOPE, 1999)

4
Sobre esse assunto ver análise feita por DRUCK, 1997.

19
Na Região Metropolitana de Salvador - dados da Pesquisa de Emprego e

Desemprego (Abril 98)5 realizada pelo Dieese/UFBa/Sei/Seade / Setras aponta

índice de 25 % de sua população economicamente ativa desempregada, o que

representa aproximadamente 350.000 pessoas.

Para entendermos esse quadro de profundas mudanças sociais faz-se

necessário compreender o entrelaçamento entre três movimentos que ocorrem

atualmente: a reestruturação produtiva, a globalização e o neoliberalismo.

Segundo Druck:

" (...) esses dois movimentos estruturais - a globalização e a


reestruturação produtiva - estabelecem as condições materiais
e objetivas dessa fase do capitalismo neste final século, e o
neoliberalismo oferece as condições subjetivas necessárias
para realizar de forma plena o entrelaçamento e a articulação
entre os três movimentos"6.

No caso do neoliberalismo, as implicações são: redução dos direitos

sociais, concepção de um estado mínimo - que deve atuar, segundo seus

defensores, onde não há interesses mercantis, liberando todas as outras áreas

para a atuação do capital -, programas de privatização e outros que visam

diminuir a intervenção dos governos, na esfera economico-financeira e social.

O que podemos observar em relação ao papel do estado não é

necessariamente uma diminuição da intervenção e sim um redirecionamento

de sua intervenção. Neste sentido as políticas de cunho econômico-

5
- Última taxa divulgada pela equipe executora da pesquisa.
6
Para compreender a Escola da Regulação Francesa, ver: CONCEIÇÃO, Octávio, C. "Escola de
Regulação Francesa." . In: CATTANI, Antônio David . 1997, (Org.). Dicionário Crítico Trabalho e
Tecnologia - Vozes/ Editora da Universidade RS

20
financeirista têm no governo um parceiro fundamental. Já no que se refere às

políticas sociais poderíamos afirmar que há uma redução da intervenção do

Estado brasileiro neste setor.

A globalização tem como características essenciais: mundialização,

mobilidade intensa de capitais fictícios, desregulamentação dos mercados

financeiros, das barreiras alfandegárias, das fronteiras estatais, do intenso

desenvolvimento da telemática. Assim esta deve ser entendida como um

fenômeno velho e novo. Velho porque o capital sempre buscou a expansão de

seus mercados para além de suas regiões de origem, faz parte de sua lógica a

racionalização técnica e social, o desenvolvimento das tecnologias, a busca do

lucro calculado; Desta forma, faz sentido a famosa assertiva de Marx, de que o

capitalismo tem que estar revolucionando a todo momento suas bases técnicas

e suas forças produtivas para manter sua reprodução7. Novo, porque embora

desenvolva características presentes desde os seus primórdios, configura-se

no estágio atual especificidades no contexto de seu desenvolvimento, como já

foi dito as mudanças do fim-de-siecle praticamente comprimiram ao mínimo a

distância e o tempo real, pode-se estar comprando ações da bolsa de New

York e de São Paulo em questão de segundos através do uso de

computadores ligados em rede mundial; as notícias de todas as partes do

mundo chegam quase em tempo real nas casas através dos meios de

comunicações audiovisuais.

7
ver O Manifesto Comunista, Karl Marx e Engels.

21
A reestruturação produtiva tem por características principais: o advento

de novas práticas organizacionais na forma de gestão e organização do

trabalho: (terceirização, reestruturação administrativa, programas de qualidade

total, automação e privatização) e estas mudanças vêm tendo por

conseqüência o desemprego estrutural. Sendo uma resposta a crise do padrão

fordista de produção, consumo e organização social, a reestruturação ocorreu

a partir de início da década de 70 nos países centrais do capitalismo e a partir

do início da década de 80 nos países periféricos. Adiante, no segundo

capítulo, discutiremos de forma mais pormenorizada a reestruturação

produtiva, o fordismo e as implicações sociais destes padrões organizativos no

mundo do trabalho.

Um interesse crescente nas ciências sociais vem sendo dado ao

estudo das novas formas de exclusão na sociedade capitalista, dentre estas, a

exclusão no e do trabalho vem ganhando contornos marcantes. Exclusão no

trabalho porque as formas de supressão de direitos trabalhistas, tais como:

falta de carteira assinada, falta de equipamentos de proteção individual, falta de

garantias sociais e assistência médica, precarização do trabalho e da saúde e

diferenciação social causadas pelo surgimento de duas categorias de

trabalhadores: os de primeira e os de segunda categoria. Exclusão do trabalho

é o próprio desemprego, sendo o mais grave o de " longa duração" ,ou seja,

pessoas que ficam mais de um ano sem conseguir trabalhar e o de "

longuíssima duração", onde as pessoas ficam mais de três anos

desempregadas. (Cf: Bihr,1999, p. 84).

22
Neste fim de século a crise social e a incerteza não é devido a guerras,

catástrofes, mas da própria instabilidade do capitalismo:

" Durante a maior parte da história humana, as pessoas têm


aceito o fato de que suas vidas mudarão de repente devido a
guerras, fomes ou outros desastres, e de que terão de
improvisar para sobreviver(...) o que é singular na incerteza de
hoje é que ela existe sem qualquer desastre histórico iminente;
ao contrário, está entremeada nas práticas cotidianas de um
vigoroso capitalismo. A instabilidade pretende ser
normal(...)"(Sennnett,1999, p.33)

1.1 Pequeno histórico do trabalho

O trabalho conheceu formas históricas concretas nas sociedades ( trabalho

de subsistência, trabalho escravo, trabalho servil e emprego assalariado - este

último, a forma assumida nas sociedades capitalistas -. A importância do

trabalho na vida do homem e da sociedade - principalmente a capitalista -

permitiu desenvolver teses variadas sobre sua natureza. Nesta perspectiva

pretende-se resgatar, a seguir, algumas concepções teóricas sobre o trabalho

em autores clássicos da sociologia.

1.2 O Trabalho em Durkheim, Marx e Weber

O conceito de trabalho foi tratado de forma diferenciada por alguns autores

clássicos da sociologia, a saber Durkheim, Marx e Weber. No século XIX o

trabalho analisado assume a forma histórica de emprego. A sociedade se

industrializava, as relações sociais de produção se desenvolviam no sentido de

uma maior complexificação, a revolução industrial inglesa avançava, novos

23
atores sociais entravam em cena: burgueses e proletários. Desde então o

trabalho foi estudado com diversas matizes teóricas, filosóficas, históricas e

sociais.

A história do termo nos revela sua origem semântica, o termo trabalho

tendo sido proveniente de "tripalium" - objeto de tortura utilizado na idade

média - . Uma outra distinção nos é apresentada por E.P. Thompson que

demonstra na língua inglesa a distinção entre "work" - trabalho no sentido geral

- e "labor" como constituído nas relações capitalistas de produção. Nos autores

que ora utilizamos o trabalho encontra diversas interpretações, veremos a

seguir.

Em Durkheim ( 1988)8 o trabalho é concebido como a fonte de

solidariedade social e moral que permite a organização da vida dos indivíduos

nas sociedades capitalistas - sociedades complexas. A divisão social do

trabalho seria então um fato social coercitivo, pois impõe aos indivíduos a

ordem, a consciência coletiva - que é uma força social que está em todos sem

ser atributo de nenhum indivíduo em particular. A coesão social seria então a

principal função que a divisão do trabalho assumiria nas sociedades

capitalistas Nas palavras de Durkheim:

" (...) Dentre todos esses exemplos, o efeito mais notável da


divisão do trabalho não é que ela aumente o rendimento das
funções divididas, mas as torna solidárias. Seu papel, em todos
os casos, não é simplesmente ornamentar ou melhorar as
sociedades existentes, mas tornar possível as sociedades que,
sem ela, não existiriam(...)" (Durkheim, 1988, p. 64).

24
A divisão do trabalho para Durhkeim é fonte da moralidade e de ordem

social, mas a solidariedade social não é derivada mecanicamente da

especialização crescente das funções e das atividades através da divisão

sexual, social, profissional e legal; da organização jurídica das funções sociais,

ela- a moral - é originária - da necessidade de convivência social.

A divisão do trabalho quando não garante a ordem e a solidariedade

orgânica nas " sociedades complexas" desenvolve um estado de anomia, de

conduta desviante, de negação da solidariedade socialmente ordenada para o

progresso. Perdendo sua função a divisão do trabalho deixaria de ser a fonte

da solidariedade e da moral na sociedade complexa.

Giddens (1978) comenta ser um dos problemas da análise funcionalista-

durkheiminiana a negligência da questão do poder nas análises que faz das

sociedades capitalistas. Por se preocupar demasiadamente com a função que

a divisão do trabalho tem nestas sociedades Durkheim acaba por negligenciar

as relações de poder constituídas socialmente, os conflitos, os motins e os

interesses antagônicos das classes emergentes: burguesia e proletariado.

Em Marx (1976) o trabalho é uma categoria central de explicação tanto

da relação do homem com o seu meio social, quanto do homem enquanto

transformador da natureza que lhe cerca através da atividade laborativa e

elaborativa. Para Marx o trabalho " é o primeiro ato histórico dos

homens"(Marx,1976). Neste sentido esta categoria permite desvendar a dupla

dimensão valorativa que este assume na sociedade capitalista: como valor de

8
Divisão do trabalho Social

25
uso - caso predominante do trabalho nas sociedades não capitalistas -, onde o

resultado do trabalho é somente para a subsistência e para o atendimento de

necessidades individuais e sociais. Na sociedade capitalista o trabalho assume

a forma histórica de emprego/assalariamento e o caráter predominante de

valor de troca, onde este ganha a dimensão de uma mercadoria que só os

grupos sociais que não possuem os meios de produção nesta sociedade

dispõe: a força de trabalho. O trabalho também é ressaltado enquanto

valorizador do capital, valor esse obtido pela extração da mais-valia absoluta

e/ou relativa (cf. Marx,1971). Outra dimensão percebida na forma que o

trabalho assume nas sociedades capitalistas contemporâneas é de que há uma

separação entre trabalho manual e intelectual, entre concepção e execução

neste sentido:

" (...) Na manufatura e nos ofícios, o trabalhador serve-se do


instrumento; na fábrica, ele serve a máquina. No primeiro caso,
ele é quem move o meio de trabalho; no segundo, ele só tem
que acompanhar o movimento. Na manufatura, os
trabalhadores são membros de um mecanismo vivo; na fábrica
são apenas os complementos vivos de um mecanismo morto
que existe independente deles(...)" (Marx, apud Gorz 1989, p.
31)

Ademais, a noção de exploração, de um trabalho estranhado, rotineiro,

simplificado, feito para um terceiro, prescrito, surgiu junto com a fábrica

moderna9. Nos escritos de Marx o trabalho parcelizado, típico das indústrias

capitalistas submete o trabalhador há uma situação em que: “ (...) o exercício

9
Numa recente entrevista feita com um trabalhador bancário para o projeto em desenvolvimento “ A
reestruturação produtiva e os impactos sobre o trabalho e o emprego no setor bancário na Bahia”
perguntado se gostava da atividade que desempenhava o bancário informou: “ Isto que eu faço - fazia

26
de uma única função transforma-o em orgão infalível dessa função, ao mesmo

tempo que a conexão do mecanismo total obriga-o a trabalhar com a

regularidade de uma peça de máquina.(...)” (Marx apud Gorz, 1989, p. 24). No

cinema esta crítica que Marx faz pode ser entendida através do filme “ Tempos

Modernos” de Chaplin, onde o personagem trabalha numa fábrica somente

apertando parafusos na sua jornada de trabalho. Numa passagem de uma

poesia Chaplin vaticina: “ não sois máquinas homens é que sois”.

Weber (1989) analisa o trabalho como vocação do homem - na concepção

do puritanismo ascético - que visa a salvação de sua alma, o convívio no reino

dos céus para os que trabalham na terra. Neste sentido, o trabalho é um valor

socialmente aprovado pela doutrina puritana.. Weber percebe que a doutrina

protestante inglesa prega que uma vida cheia de sentido necessariamente terá

que ser afastada do ócio, da destemperança, da vadiagem, então o trabalho

deve ser o caminho para uma vida racional, calculada e obediente, enfim, o

trabalho é visto pelo protestantismo ascético - estudado por Weber - como

condição especial de uma vida terrena inteligente e vocacionada para a

salvação. Observa-se neste estudo sobre as origens do protestantismo a

centralidade que o trabalho e a vida racional tem para a vida dos indivíduos:

" (...) o tratamento do trabalho como 'vocação' era tão


característico para o moderno trabalhador, como a
correspondente atitude aquisitiva do empresário. Fora a
percepção dessa situação, então nova, que levou um
observador anglicano tão arguto como Sir William Petty a
atribuir o poderio holandês do século XVII ao fato de os
numerosos ' dissenters' (calvinistas e batistas) serem em sua
maioria ' pessoas que encaram o trabalho e a industriosidade

serviço de escritório - se quiser lhe ensino em duas horas a executar - este indivíduo faz curso superior e
me informou que o que faz é tão simples que no máximo se precisa somente do primeiro grau completo”

27
como seu dever para com Deus." (Weber, 1989, p.129)

Podemos observar que na concepção puritana de trabalho, a racionalidade

da vida religiosa e da posterior salvação dos pobres trabalhadores passava

também por aprovar a atitude 'aquisitiva' do empresário, rompendo então com

a visão de que estes agentes sociais possuíam interesses conflitantes e

contraditórios10. É comentado por Weber que esta racionalidade da vida

buscada através da valorização do labor, do sour no rosto, da vida pelo

trabalho, do trabalho pela vida tinha como objetivo também: " (...) através do

preenchimento do dever vocacional, e a estrita ascese imposta naturalmente

pela igreja, especialmente nas classes pobres, (...) influenciar a ' produtividade'

do trabalho, no sentido capitalista da palavra.(...)" ( Weber, 1989, p.129)

Alguns autores (Alexander,1987) têm comentado sobre a tese weberiana

de que o "espírito do capitalismo" é a ascese protestante. Trevor- Ropper apud

Alexander, 1987 faz uma crítica a esta tese no sentido de que houve uma

negligência com relação aos comerciantes genoveses e venezianos de religião

católica que eram no século XVI grandes capitalistas - a maior expressão da

forma capitalista de acumulação de então - e que não foram analisados por

Weber, a isto Alexander intitula como "sobredeterminação da teoria", ou seja,

subdimensionar a amostra - no caso negligenciando na análise capitalistas que

não eram protestantes - para confirmar a teoria: o protestantismo é a

expressão espiritual da racionalidade capitalista.

10
- Esta concepção puritana rompe com aquela concepção da tradição católica de perceber o lucro e a
riqueza adquirida com o trabalho e a possibilidade de entesourar como atitudes condenáveis, pois são
expressões de um comportamento de usura para os catolicismo tradicional.

28
Os autores clássicos da sociologia ( Durkheim, Marx e Weber) entenderam

a categoria trabalho como central na explicação da vida social. Em Durkheim, o

trabalho através de sua divisão social é fonte de solidariedade. Em Marx o

trabalho é essencialmente constituidor da subjetividade humana, o trabalho é a

obra que distingue o homem do meio natural, é seu primeiro ato histórico e tem

estatuto de centralidade na sua vida social. Em Weber o trabalho é uma

vocação valorizada tanto racionalmente como espiritualmente pelo puritanismo

ascético. O trabalho continua sendo discutido, sendo que mais

contemporaneamente a discussão tomou outro rumo: o trabalho continuaria

tendo estatuto de centralidade na organização da vida social? Ser trabalhador

ou trabalhar ainda confere identidade para os sujeitos sociais? Empiricamente

o que ocorre com o trabalho hoje? Essa são algumas das questões que

desenvolveremos a seguir:

No início dos anos 80 Gorz lança na França um polêmico ensaio " Adeus

ao proletariado", este versa sobre a abolição do trabalho e da classe. Segundo

Gorz (1987) o trabalho como vem sendo entendido nos limites da sociedade

capitalista: atividade prescrita, obrigatória, heteronoma, não determinada por

quem o executa, em troca de um salário não se constitui como sociabilizador

para os indivíduos, eis um de seus argumentos sobre a abolição do trabalho:

" (...) a mais imediatamente perceptível é a seguinte: a


abolição do trabalho é um processo em curso e que parece
acelerar-se. Para cada um dos três principais países
industrializados da Europa Ocidental, institutos independentes
de previsão econômica estimaram que a automatização irá

29
suprimir, no espaço de dez anos, entre quatro e cinco milhões
de emprego(...)" (Gorz, 1987, p. 11).

Gorz(1987) acentua a necessidade de um trabalho que dê autonomia,

devolva a ao homem sua capacidade criativa, torne o trabalho uma atividade

constitutiva dos homens, neste sentido é que Antunes(1995) alerta para o

caráter utópico da proposta de Gorz, por não compreender a abrangência da

sociedade capitalista e sua " dimensão totalizante", de apropriação e

transformação de tudo em mercadoria, em propriedade privada, em capital.

Num outro sentido, Offe ( 1989) argumenta que o trabalho não é mais uma

categoria sociológica central: a partir de evidências empíricas, a redução

quantitativa dos trabalhos remunerados em toda a Europa, mudança da

racionalidade nas sociedades capitalistas - que estaria passando de uma

racionalidade econômico-social para uma racionalidade pós-industrial e pós

capitalista; a invisibilidade social da identidade do " ser trabalhador" e a

desmotivação com essa condição e por fim o surgimento de relações de

trabalho que não se adequam às mesmas formas de organização e gestão do

trabalho, tal como: o trabalho no setor de serviços, que Offe chama de trabalho

reflexivo em oposição ao trabalho no setor secundário - o trabalho industrial.

Essas " dúvidas" como Offe intitula são postas e o autor percebe indícios de

que o trabalho não constitui-se mais como categoria central de inserção e

identidade dos indivíduos no meio social.

Hirata (1999)11 faz três críticas a essa concepção de que o trabalho perdeu

11
Palestra proferida por Helena Hirata no Curso " Centralidade do Trabalho, Qualificação e Gênero"
realizado em 1999 no CRH, disponível em vídeo

30
centralidade: 1) os autores(Gorz, Offe, Habermas), mesmo por caminhos

diferenciados pensam o trabalho com uma visão estritamente européia, sem se

dar conta que a dimensão histórica e empírica do trabalho em outros países e

regiões também necessita ser estudada; 2)Percebe-se uma certa confusão

entre determinação do tempo e dominação. Hirata (1999) expõe que o trabalho

pode até estar dominando cada vez mais menos tempo efetivo das pessoas no

meio social mas acaba determinando todo o resto do tempo da vida do

indivíduo, devido ao fato do trabalho na sociedade capitalista ser remunerado e

esta ser uma sociedade de trocas, de compras até mesmo da locomoção, do

lazer, do direito de ir e vir. 3)Uma visão restritiva, o trabalho sendo concebido

como sinônimo de trabalho industrial, desconsiderando neste sentido o trabalho

no setor de serviços, no comércio, o trabalho informal etc.

A concepção de Offe( 1989) sobre o fato do trabalho no setor de serviços

ser " reflexivo" desconsidera a heterogeneidade do setor de serviços e das

pessoas que vivem deste trabalho. O autor discute o setor de serviços públicos

na Alemanha: saúde, educação, previdência. A visão sobre o setor de serviços

fica restrita ao setor público, dando pouca importância ao setor de serviços

privados na própria Alemanha.

Em pesquisas realizadas com trabalhadores bancários - do setor de

serviço - as queixas são as mesmas das de trabalhadores industriais:

alienação, separação entre concepção e execução, monotonia e

parcelização12. A pergunta a Offe então seria: não é aprioristico contrapor

12
Cf: diversos questionamentos feitos a trabalhadores bancários sobre se gostavam da atividade que

31
trabalho em serviços ao trabalho na indústria, o primeiro como reflexivo e o

segundo como não reflexivo? Qual o sentido a atividade tem para o indivíduo

que trabalha no setor de serviço?, ainda, não estaria sendo feita uma confusão

entre trabalho e suas formas específicas?

Uma questão deve ser direcionada a Gorz(1987) no que se refere a sua

concepção de trabalho: em sociedades como a soteropolitana onde os níveis

de informalidade no trabalho são históricas, como então pensar o trabalho de

maneira uniforme, pela ótica do trabalho industrial com sua formalidade, sua

proteção social, sua organização específica? Em sua análise da sociedade do

trabalho este autor acaba por uniformizar o trabalho, desconsiderando outras

formas de que não atendem às mesmas características do trabalho na

indústria. Antunes(1995, p.80-81) tece crítica a tese de Gorz de que o trabalho

perde centralidade social:

" (...) a recusa radical do trabalho abstrato não deve levar à


recusa da possibilidade de conceber o trabalho concreto como
dimensão primária, originária, ponto de partida para a
realização das necessidades humanas e sociais. É a não
aceitação desta tese que leva tantos autores, Gorz à frente, a
imaginar um trabalho sempre heterônomo, restando
praticamente a luta pelo tempo liberado. Seria a realização,
esta sim utópica e romântica, do trabalho que avilta e do
tempo(fora do trabalho que libera). Esta concepção acaba
desconsiderando a dimensão totalizante e abrangente do
capital, que engloba desde a esfera da produção até o
consumo, desde o plano da materialidade ao mundo das
idealidades(...)."

Ademais, segundo Hirata (1999) se não podemos falar em crise da

exerciam. In: " A reestruturação produtiva e os impactos sobre o trabalho e o emprego no setor bancário
na Bahia" sob a coordenação da Prof.a Graça Druck (pesquisa em andamento)

32
centralidade do trabalho, podemos falar em crise da noção de emprego, de

posto de trabalho, típico da era fordista - discussão essa que desenvolveremos

no segundo capítulo. Enfim como disse Goethe apud Antunes(1995, p. 11):

" Se me perguntares como é a gente daqui, responder-te-ei:


como em toda parte. A espécie humana é de uma desoladora
uniformidade; a sua maioria trabalha durante a maior parte do
tempo para ganhar a vida, e, se algumas horas lhe ficam,
horas tão preciosas, são-lhe de tal forma pesadas que busca
todos os meios para as ver passar. Triste destino o da
humanidade!" Grifos meus.

Bihr(1998) argumenta que, uma das saídas políticas que o movimento

operário deveria encaminhar no que se refere ao trabalho seria lutar por "

trabalho para todos", sendo isto possível através da reivindicação de uma

jornada semanal de vinte e cinco horas semanais.13

Enfim, se o trabalho é uma das atividades constitutivas do ser social, e só

podemos falar em sua superação nos limites de uma sociedade onde o

trabalho não seja o elemento mediador dos homens com a natureza e como

forma de inserção deste na vida social, dimensão esta que negaria aos

indivíduos sua capacidade de ação, antes mesmo de decretarem o " fim do

trabalho" (Offe, Gorz) deveriam compreender que o trabalho não pode ser

compreendido somente pela realidade européia, além do determinismo

tecnológico da automação p. ex. Gorz, (1987)) e da visão restritiva do trabalho

como sinônimo do trabalho industrial p. ex. Offe (1989)). O que mais falta a

13
Uma das formas que esta reivindicação poderia começar a destituir a lógica de organização do trabalho
na sociedade capitalista seria a de lutar para que essas vinte e cinco horas fossem distribuídas por três dias
na semana (Oito horas diárias etc.)

33
esses teóricos é a uma concepção de trabalho que leve em conta múltiplas

realidades histórico-sociais. E que não se retrinja à análise do trabalho no

ramo industrial.

1.3 Relação entre trabalho e classe

A relação entre trabalho e classe é mais desenvolvida no marxismo e

faremos uso desta acepção. É muito comentado que Marx não elaborou uma

teoria sobre as classes sociais, entretanto encontramos em sua obra -

implicitamente - este conceito. Dentro da abordagem marxista

desenvolveremos duas concepções da relação entre trabalho e classe: a do

marxismo estrutural ( Althusser e Poulantzas) e a Thompsoniana. Esperamos

que fique claro nossa tomada de posição neste debate

A escola estruturalista concebe que a classe pode ser definida como a

posição ocupada pelos agentes sociais - proletários - no meio e dentro das

relações sociais de produção nas sociedades capitalistas. A descrição feita

pelo estruturalismo diz respeito ao lugar objetivo ocupado por esses agentes

sociais. Daí partem para uma análise puramente estrutural da classe

trabalhadora. Os termos privilegiados são: força de trabalho, mão de obra etc.

Poulantzas embora escape da concepção estritamente objetivista de Althusser

incorre no mesmo equívoco: o do anti-humanismo. No caso de Poulantzas

existem lugares e posições de classe, observa-se nesta discussão teórica uma

análise mecanicista do que vem a ser e quem compõe uma classe social.

Então para Poulantzas (1975):

34
"o que significam as classes sociais na teoria marxista? 1. As
classes sociais são conjuntos de agentes sociais determinados
principalmente mas não exclusivamente, por seu lugar no
processo de produção, isto é, na esfera econômica. De fato,
não seria preciso concluir sobre o papel principal do lugar
econômico sendo este suficiente para a determinação das
classes sociais." Grifos meus

Ademais, na tradição estruturalista do marxismo a classe é entendida

como lugares objetivamente ocupados no seio da sociedade capitalista, que

pela relação social coloca em dicotomia: proprietários dos meios de produção e

não proprietários - os proletários. Poulantzas diferencia " lugar de classe" de

“posição de classe" sendo a posição - o ideário político tomado pelos agentes

sociais: burgueses e proletários, que poderiam neste sentido ter um lugar de

classe - ser burguês ou ser proletário - mas concepções de mundo que

evocariam posições contraditórias com a situação objetiva que ocupa. Neste

sentido para Poulantzas " as classes são efeitos de lutas" concepção esta que

podemos encontrar também em ( Przevorski,1989) o problema da concepção

de classe de Poulantzas reside no fato de sua concepção de consciência de

classe que é ideal, mecanicista e esquemático; além de uma postura

economicista quando afirma a suficiência desta dimensão para uma análise de

classe.

Thompson (1981) faz uma crítica a Althusser devido ao anti-humanismo da

definição de classes sociais do estruturalismo e por definir " classe quase

matematicamente". Neste último sentido a crítica daquele é ao reducionismo

economicista implementado por autores estruturalistas. Thompson em seu

conceito de classe faz uma operação teórica na direção de re-humanizar a

35
classe, ou seja, reconhece como a classe está estruturada, sua posição, mas

considera insuficiente discriminar somente a posição como fez Althusser. Para

Thompson a classe é composta de pessoas reais, de sujeitos com valores e

sua cultura, símbolos, formas de ser socialmente construída.

Por este motivo, Thompson rejeitaria termos clássicos da

sociologia/economia do trabalho tais como: "força de trabalho", "recursos

humanos" " capital humano" dentre outras terminologias. Recusa porque,

teoricamente, estas des-humanizam os agentes sociais que trabalham, ou de

outra forma, o reconhecem apenas pela importância para o capital. Neste

sentido o sujeito é ""inativo" ou " ativo"' em relação ao período em que

trabalha.14. A classe trabalhadora é portadora de uma ação, de uma

subjetividade, de escolhas, numa frase: ocupa uma posição na estrutura social

mas tem condições culturais e sociais distintas.

No que se refere ao estudo teórico e empírico das classes sociais diversos

autores vem enfatizando a necessidade de estudar o trabalhador comum, o

não organizado( Hobsbawn,(1987) e revelado interesses de compreender a

classe trabalhadora como um sujeito histórico identificável na

realidade(Thompson,1987, Przervorski, 1989) de ampliar a noção de classe e

demonstrar empiricamente como a classe é constituída de " habittus", de

capitais: sociais, simbólicos, econômicos e culturais" (Bourdieu, 1989). Muito

mais que o lugar que ocupa no processo produtivo diversos autores vêm

14
O termo ativo e inativo é próprio de uma concepção restrita a uma mentalidade economicista pró-
capital, ou seja, a pessoa é útil ou inútil se está a serviço do capital.

36
buscando compreender a identidade do trabalhador, seu cotidiano, sua visão

de mundo, pois como diz Thompson(1987, p. 10)" (...) a relação precisa estar

sempre encarnada em pessoas e contextos reais". Sobre esta mudança nos

estudos da classe trabalhadora sob novo prisma:

" (...)Em vez de examinar a forma através da qual as mudanças


das estruturas econômicas, políticas e sociais afetam o
movimento operário e investigar a relação entre formas de
acumulação de capital e formação da classe operária, ou o
papel do estado no processo de acumulação de capital e sua
política em relação aos trabalhadores, a nova geração de
historiadores prefere examinar a maneira pela qual a ação dos
trabalhadores força a mudança econômica e política. Os temas
de interesse da nova historiografia são as impressões
subjetivas dos trabalhadores, os vínculos entre práticas
políticas e discursos políticos, as experiências de trabalhadores
nos locais de trabalho e nos bairros operários, suas formas de
apropriação e reinterpretação da cultura de elite, e a maneira
pela qual interpretam o passado e visualizam o futuro" (Vioti da
Costa,1990, p.4):

Identificar a "classe-que-vive-do-trabalho"15 é central do ponto de vista da

valorização dos sujeitos sociais que vivem desta atividade. Em outra

perspectiva o trabalho como atividade auto-determinada, como produtora de

"valores de uso" requereria uma sociedade fundada em valores não

mercadológicos. Gorz tem razão quando aponta os limites do trabalho na

sociedade capitalista, - o que já está presente em Marx -: desprovido de

sentido e de finalidade para quem o executa, mas negligencia outra dimensão,

que é de que o trabalho deve ser entendido de forma ampliada como mediação

do homem com seu mundo social e não como sinônimo de troca, de cessão e

15
Antunes(1999) numa palestra confidenciava que os hífens que separam o termo tenta enunciar a
fragmentação que ocorre na classe trabalhadora neste fim de século. Em outro sentido Filgueiras(1999)
afirma que Antunes cria esse conceito para ampliar a concepção de classe trabalhadora, pois o termo
proletário não dava mais conta dessa heterogeneização.

37
obrigatoriedade como se constituiu nesta sociedade produtora de valores de

troca.

Para entender os que trabalham e como se deu o processo de formação de

classes nas sociedades capitalistas utilizarei o conceito de classe e de

experiência em E. P. Thompson segundo o qual:

" (...) Por classe , entendo um fenômeno histórico, que unifica


uma série de acontecimentos díspares e aparentemente
desconectados, tanto na matéria prima da experiência como na
consciência. Ressalto que é um fenômeno histórico. Não vejo a
classe como uma estrutura' nem como uma 'categoria', mas
como algo que ocorre efetivamente (e cuja ocorrência pode ser
demonstrada) nas relações humanas" por experiência de
classe: 'a classe acontece quando alguns homens, como
resultado de experiências comuns (herdada ou partilhadas)
sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e
contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente
se opõem dos seus. A experiência de classe é determinada em
grande medida, pelas relações de produção em que os homens
nasceram - ou entraram involuntariamente" (Thompson, 1987,
p. 9-10).

Portanto E.P. Thompson quando concebe a classe e não classes como

resultado de uma experiência socialmente construída, como uma relação

histórica, o faz assim por discordar da discussão teórica presente em alguns

autores do marxismo clássico, como: Althusser e Poulantzas. Thompson

discute suas discordâncias com o marxismo estruturalista. Em sua obra " A

miséria da Teoria - ou um planetário de erros - uma crítica a Althusser, discute

que há um um termo ausente na concepção estruturalista: a experiência. Esta

é concebida como a vivência, o pertencimento a uma classe, ou seja, embora

o lugar que os indivíduos ocupem no processo produtivo seja importante, é

insuficiente para entender a formação real das classes. Como diz Thompson

38
(1987)" (...) A classe se faz no mesmo momento em que foi feita(...)".

Nesta perspectiva Thompson argumenta classe no singular. Primeiro

porque a classe é um acontecimento social onde grupos sociais articulam seus

interesses em oposição aos interesses de outros grupos sociais. Neste sentido,

o autor reconhece a luta política, ou como diz Przervorski, (1989) " As classes

não antecederam a prática política e ideológica". Bastante influenciado por

Poulantzas a concepção de classes de Pzervorski contudo, negligencia por

demais a dimensão cultural da formação de uma classe, seus atributos de

valores e formas de identidade. Voltando a Thompsom poderíamos argumentar

que a conjunção de classe e contexto histórico nos permite desvendar quando

a classe realmente está constituída, por exemplo, é impossível, na concepção

do autor utilizar esta noção para compreender uma sociedade não capitalista.

Por que classe está relacionada a divisão social do trabalho e da propriedade

nas sociedades que se desenvolveram com estas características, de

apropriação e privatização dos meios de produção.

No que se refere ao pensamento marxiano é notório que não há uma teoria

desenvolvida sobre classe, o que se atribui no " Capital" às classes diz

respeito a distinção entre proletários - proprietários da força de trabalho,

Burgueses - proprietários dos meios de produção: maquinaria etc. e os

proprietários de terra.. Enfim, para E.P. Thompson:

" Existe hoje uma tendência de se supor que a classe é uma


coisa. Não era esse o sentido em Marx, em seus escritos
históricos, mas o erro deturpa muitos textos 'marxistas'
contemporâneos. 'Ela', a classe operária, é tomada como tendo

39
uma existência real, capaz de ser definida quase
matematicamente - uma quantidade de homens que se
encontra numa certa proporção com os meios de produção.
Uma vez isso assumido, torna-se possível deduzir a
consciência de classe que 'ela' deveria ter (mas raramente
tem), se estivesse adequadamente consciente de sua própria
posição e interesse reais. Há uma superestrutura cultural, por
onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes.
Essas 'defasagens' distorções culturais constituem um
incômodo, de modo que é mais fácil passar para alguma teoria
substitutiva: o partido, a seita ou o teórico que desvenda a
consciência de classe, não como ela é, mas como deveria ser"
(Thompson, 1987, p.10)

O que E.P. Thompson quer informar é que antes de mais nada a 'a classe'

é uma experiência histórica, construída nas lutas, pelas instituições, pelos

valores culturais em suas dimensões, simbólica, material, política e social. E

que portanto as experiências de sujeitos e de sua consciência constituídas

socialmente faltam `a teoria de classes do marxismo estruturalista. Por

consciência de classe Thompson intitula: " (...) a forma como essas

experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições,

sistemas de valores, idéias e formas institucionais(...) a consciência de classe

surge da mesma forma em tempos e lugares diferentes, mas nunca

exatamente da mesma forma" (ibid. id., p. 10)

A própria teoria de classes e a noção de experiência em Thompson é

criticada por alguns autores16: a união internacional dos trabalhadores - o

famoso "Trabalhadores de todo o mundo uni-vos!!"- fica difícil de ser

compreendido através da proposta thompsoniana de classe. Sobre a noção de

experiência, Vioti da Costa ressalta mesmo sem criticar diretamente

Thompson que não há nenhuma hierarquia entre as experiências de classe nos

40
autores que adotam tal noção:

" (...) Não existirá alguma forma de hierarquia entre essas


várias experiências, sendo umas mais determinantes que
outras? Como se articulam? Em outras palavras, como se
estrutura (constitui) a própria experiência? Se os trabalhadores
têm muitas identidades, religião, etnia, partido político, classe,
de que maneira a identidade de classe vem a prevalecer sobre
outros tipos de identidade ?" (Vioti da Costa, 1990, p. 7)

Numa tradição influenciada por Weber, classe é compreendida por

atributos de possibilidade de consumo e de aquisição no mercado de bens e

serviços. Assim, o que define o pertencimento de classe são critérios

aquisitivos de bens duráveis e serviços. A classe é definida dentro de faixas de

consumo: classe A, classe B, classe C, etc.. Numa perspectiva assim, a

relação histórica de pertencimento cultural, identidade com a condição de

classe é relegada a segundo plano, ou num sentido mais preciso é anulada. A

condição de ser de uma classe perde em projeto político e só pode ser

mensurada e/ou compreendida pelo viés de comportamento perante o mercado

de bens e serviços. Weber define como situação de classe:

"o conjunto de possibilidades típicas:


1. de provisão de bens,
1. de posição externa,
1. de destino pessoal, que derivam, dentro de uma
determinada ordem econômica, da magnitude e natureza do
poder de dispor (ou da carência dele) sobre bens e serviços, e
das maneiras de sua aplicabilidade para a obtenção de rendas
ou receitas" (Weber apud Dias, 1997)

Portanto, minha preocupação teórica é articular a mudança estrutural que

a sociedade capitalista sofre nestas últimas décadas através da reestruturação

16
Nas aulas de Sociologia II para alunos do Curso de Ciências Sociais/UFBA, a Prof.a Graça Druck

41
produtiva e mais especificamente a terceirização, investigando neste processo,

o segmento social que se origina destas mudanças, isto é, os trabalhadores

terceirizados. E buscar articular o plano da mudança estrutural com uma

análise que reconheça o papel dos grupos sociais nesta estrutura. Para isso,

utilizarei o conceito de estrutura-estruturante que vem a ser: “instrumentos de

conhecimento e de construção do mundo objetivo” Bourdieu (1989, p. 16)

Este conceito auxilia no entendimento da estrutura e as formas em que os

indivíduos ou grupos sociais entendem esta,: " (...) o estruturalismo considera

os sistemas de representações somente como uma estrutura-estruturada e não

como estrutura-estruturante'(...) dentro dessa perspectiva o ator social se

apresenta necessariamente como simples executor da estrutura(...)"

(Bourdieu,1974).

A história social " vista de baixo" como sugere (Sharpe,1992) tem por

objetivo oferecer uma visão histórica e social sob uma perspectiva que não seja

a da classe dominante e dirigente. Trata-se de compreender o processo de

formação de uma consciência de classe e de uma classe que requer do

investigador uma noção ampliada de classe apoiada Thompson(1987),

Bourdieu (1989) na experiência concreta dos grupos sociais. Bertold Brecht

elabora um poema "perguntas de um operário frente ao livro de História, em

que uma das passagens diz o seguinte: "(...) César chorou ao ver afundar a

sua frota, ninguém mais chorou?". Neste poema a questão discutida é que a

história não pode ser entendida somente através de uma perspectiva dos

líderes dos motins, da elite, dos personagens que freqüentam a maioria dos

colocava a impossibilidade de generalização do conceito de classe de Thompson.

42
livros de história tradicional. No caso do Brasil, percebemos pela ótica

tradicional os personagens históricos: Pedro Álvares Cabral, Tiradentes, Duque

de Caxias, D. Pedro I, Princesa Isabel etc. O questionamento é esse: onde está

o comum, o "pobre artesão e seu tear obsoleto" como nos diria Thompson?

Bourdieu, (1989), nos chama a atenção para isto: uma coisa é a classe no

papel, a elaboração teórica do que vem a ser classe:

" (...)Com base no conhecimento do espaço das posições,


podemos recortar classes no sentido lógico do termo, quer
dizer, conjuntos de agentes que ocupam posições
semelhantes, têm , com toda a probabilidade, atitudes e
interesses semelhantes, logo, práticas e tomadas de posições
semelhantes. Esta classe tem a existência teórica que é a das
teorias(...) não é realmente uma classe actual, no sentido de
grupo e de grupo mobilizado para a luta; poder-se ia dizer, em
rigor, que é uma classe provável, enquanto conjunto de
agentes que oporá menos obstáculos objectivos às acções de
mobilização do que qualquer outro conjunto de agentes"
(Bourdieu, 1989, p.135).

Uma outra coisa seria a classe efetiva, composta de sujeitos sociais

concretos. Bourdieu propõe que se faça um duplo jogo " interiorizar a

exterioridade e exteriorizar a interioridade", ou seja, no que se refere a classe

social, esta é portadora de uma situação de classe - lugar objetivo ocupado

pelos indivíduos e grupos na estrutura das relações sociais de produção por

exemplo, ser proletário ou ser burguês, mas Bourdieu incorpora duas

dimensões ausentes no marxismo estruturalista a posição e a condição de

classe. A posição se refere ao lugar ocupado por uma classe na hierarquia

social e a condição seria os valores intrínsecos mediados culturalmente.

43
Esta diferenciação que Bourdieu faz nos permite compreender de forma

satisfatória a heterogeneidade que ocorre historicamente na classe operária;

com o advento da terceirização como sugerem vários autores

(Druck,1995;Antunes,1995; Bihr,1998) há o surgimento de dois estatutos no

seio da classe trabalhadora: os trabalhadores de primeira categoria - os

formais, com alguma estabilidade, com direito sociais garantidos mesmo em

vias de redução - e os trabalhadores de " segunda categoria - os instáveis,

muitas vezes sem carteira assinada, precários, part-time ou "trabalhadores

hifenizados" etc. Portanto embora todos sejam trabalhadores que vendem sua "

força de trabalho" a posição e a condição de classe se torna diferenciada

devido a posição na sociedade e no trabalho e aos valores culturais. No caso

de trabalhadores de empreiteiras possuem menos direitos trabalhistas que os

trabalhadores da estatal, ganham um salário menor, tem menor escolaridade,

ficam em instalações de vestiários e refeitórios precários, não se integram e

moram em bairros em piores condições de urbanização. Até no plano do

imaginário social esta condição é distinta: um é o Petroleiro e logo é

reconhecido socialmente como bem empregado e com boas condições de vida,

o outro é o trabalhador de empreiteira e no imaginário social seu trabalho é

temporário, instável e não tem uma boa condição social. O petroleiro tem seus

clubes, o trabalhador terceiro não os possui, dentre ostras distinções sociais,

culturais e simbólicas.

Para exemplificarmos esta posição e condição social lembremos de nosso

objeto de estudo: a precarização no trabalho industrial e de nosso sujeito de

44
pesquisa - os trabalhadores de empreiteiras na Petrobrás. A posição social dos

trabalhadores de empreiteiras é a mesma que a dos trabalhadores petroleiros

da estatal? Uma outra pergunta: os valores culturais - a condição cultural - os

gostos, as representações são as mesmas? Tomamos como hipótese de

pesquisa que não e na fase de pesquisa de campo estaremos especialmente

atentos a esta diferenciação de posição e condição de classe como nos é

sugerida por Bourdieu (1989). Enfim, Bourdieu tem uma qualidade difícil de

encontrar em diversos cientistas sociais: operacionalidade dos conceitos, pois

como diz: " (...) a teoria científica apresenta-se como um programa de

percepção e acção só revelado no trabalho empírico em que se realiza(...)" (

Bourdieu, 1989, p. 59).

Gorz (1987) considera todo tipo de trabalhador temporário, em tempo

parcial, precário, sem-empregos deste fim de século como " não classe de

proletários pós industriais", que já não se identificariam com o trabalho e com

um projeto político de trabalhadores, por que :

"(...) o novo proletariado pós-industrial, exatamente por essas


ausência de uma concepção global da sociedade futura, difere
fundamentalmente da classe investida, segundo Marx, de uma
missão histórica. É que o neo-proletário não tem nada a
esperar da sociedade existente nem da sua evolução. Esta
evolução - o desenvolvimento das forças produtivas - findou
por tornar o trabalho virtualmente supérfluo(...)" (Gorz, 1987, p.
93).

Há diversos problemas de ordem teórica e empírica nesta concepção de

"não classe....". Um primeiro que toda a discussão no marxismo do proletário

45
como agente revolucionário primordial baseou-se naquela noção aprioristica de

que esses trabalhadores eram revolucionários por serem a expressão do

trabalho e do setor mais desenvolvido na sociedade capitalista: o industrial. E

por trabalharem lá compreenderiam a luta, o conflito de forma mais rápida que

outros agentes sociais, isto faz Gorz incorrer no equívoco de ter concordado de

que a história tem um sentido determinado e de que os proletários eram

revolucionários desde seu surgimento na sociedade capitalista. Neste sentido

crêr - é essa a palavra - num agente social, transformador e revolucionário

reificado: o proletário, dificulta a compreensão de que como dizem diversos

autores: a classe se forma na luta concreta.(Cf: Thompson, (1987), Bourdieu,

(1989), Przervorski, (1989).

Um outro equívoco analítico é pensar que estes trabalhadores precários,

instáveis não têm projeto para esta sociedade presente. Gorz deveria partir de

pesquisas com os próprios trabalhadores precários para chegar a essa

conclusão , pois num artigo sobre o sindicato dos trabalhadores de

empreiteiras da Região Metropolitana de Salvador Godinho ( 1998) , já

demonstrara que estes trabalhadores através de sua representação sindical o

(Sindicato de Trabalhadores na Indústria da construção civil, montagem e

manutenção industrial de Candeias, Simões Filho, São Sebastião do Passé,

São Francisco do Conde e Madre de Deus) protestavam contra a política

governamental, inclusive se reivindicavam como " petroleiros sem direitos

iguais aos contratados pela estatal Petrobrás". Como então chamá-los de "não

classe" se até posições políticas como o corporativismo - comportamento

histórico de trabalhadores e sindicatos fordistas - estavam presentes na leitura

46
sistemática dos boletins semanais da categoria? Portanto Gorz incorre no

equívoco de usar em seu conceito de classe o critério de emancipação. Como

estes novos trabalhadores não teriam projeto de emancipação social não se

formaria a identidade de classe.

Um terceiro equívoco analítico de Gorz, é pensar estes trabalhadores como

" proletários pós industriais". Vejamos uma consideração óbvia sobre o

segmento que pretendo investigar - a de trabalhadores de empreiteiras na

indústria petroquímica -: é de que trabalham numa indústria, assim chamá-los

de pós industriais já seria incorreto, mas Gorz vai além, desconsidera as

evidências empíricas que nos informa que o trabalho industrial ainda está

presente em nossa sociedade - mesmo que com um decréscimo absoluto e

relativo. Incorre neste equívoco por ter uma concepção de trabalho restritiva,

trabalho como sinônimo de trabalho na indústria ( Cf: Hirata, 1999).

Por último gostaríamos de ressaltar que identificar um decréscimo absoluto

e relativo da classe operária é insuficiente para daí concluir a perda de

centralidade do trabalho. Enfim, Gorz deveria buscar os sinais de

desmotivação, de perda de identidade- com um cabedal teórico que lhe

permitisse compreender trabalho e classe de forma ampliada - levando em

conta realidades não européias e formas de trabalho não industrais, pois seus

argumentos estão demasiadamente centrados na realidade da Europa e do

decréscimo de trabalho na indústria.

Para compreender como a terceirização proporciona um clima

47
concorrencial e de diferenciação dentro do espaço onde se trabalha entre

trabalhadores da empresa e trabalhadores de empresas terceiras é possível

utilizar o conceito de campo, que é segundo Bourdieu apud Ortiz,: "(...) esse

espaço onde as posições dos agentes se encontram a priori fixadas. O campo

se define como o lócus onde se trava uma luta concorrencial entre os atores

em torno de interesses específicos que caracterizam a área em questão(...)." (

Cf.: ORTIZ apud Bourdieu 1983, p. 19).

Este conceito - de campo - poderá auxiliar no entendimento da

diferenciação causada pela mudança estrutural - terceirização - no espaço

fabril da refinaria na convivência entre trabalhadores da Petrobrás e

trabalhadores de empresas que prestam serviço na Refinaria da Petrobrás. Por

exemplo o estudo da diferenciação social entre petroleiros e trabalhadores de

empreiteiras revela17 algumas dimensões de conflitos:

a) Conflitos de ordem simbólica - A vestimenta diferenciada, a proibição de

acesso de trabalhadores de empreiteiras a alguns setores da empresa, o

pertencimento social diferenciado p. ex. bairro de moradia, a identificação do

trabalhador de empreiteira como peão em contraste com a de petroleiro etc.

a) Conflitos de ordem política - Não se solidarizar nas greves de um e outro

segmento, não dar apoio político a reivindicações da categoria em greve etc.

17
Estou trabalhando nesta questão como hipótese.

48
a) Conflitos de ordem social - Direitos desiguais, condições de trabalho

diferenciadas, condições de vida desiguais.

d) Conflitos de ordem Econômica - Salário desigual, benefícios extra-salariais

desiguais

e) Conflitos causados pela Petrobrás – revistar os pertences de todos os

funcionários de empreiteiras ( na entrada e na saída do trabalho) e não

acontecer revista de empregados da Petrobrás.

Sennett (1999) discute a idéia de " caráter social" sendo este caracterizado

por valores pelos quais nos queremos ser reconhecidos pelos outros indivíduos

e grupos sociais. Este caráter vem sofrendo uma corrosão, devido a

instabilidade e a incerteza que esta nova fase do capitalismo traz como

conseqüência pessoal, destruindo sociabilidades. A noção de caráter,

pressupõe no que se refere a classe que qualquer projeto de formação de

identidade de classe requer convivência, " longo prazo", esta situação de

transitoriedade e instabilidade pode tornar a formação desta de difícil

consecução, quando nos referimos aos trabalhadores de empreiteiras, pois,

convivem sem a noção de fazer carreira, ter um trabalho em que se almeje

desenvolver um projeto de vida profissional, ou de emprego estável. Ainda

assim a organização de um Sindicato em 1990 da categoria permite

minimamente uma experiência de convivência coletiva, de proposição de ação,

de organização de interesse e neste ponto é uma formidável proposta de ação

coletiva. Mais os sindicatos ainda estão presos ao ideário de que representam

49
os incluídos no trabalho, tendo pouca preocupação com os desempregados de

sua própria base. Como é um trabalho extremamente rotativo, o sindicato lida

com um perfil de segmento bastante específico. E seu maior desafio é

representar trabalhadores que não constróem a noção de estabilidade na

condição de trabalhador de indústria.

Enfim, as diversas contribuições desses autores (Thompson, !987;

Bourdieu, 1989 ; Pzervorski, 1989; Vioti da Costa, 1990); possibilitaram novas

formas teóricas de entendimento: do que vem a ser empiricamente a classe?

Como se constitui? Quais os elementos de pertencimento?. O mais importante

é que a sociedade tem contradições, dicotomias, ou seja, em toda teorização

que fazem a estrutura encontra seu lugar. Não se descarta neste sentido toda

uma formulação que começa com Marx; Althusser e Poulantzas de que a

divisão social do trabalho cria com seu desenvolvimento desigualdade social, e

esta noção é central para quem se ocupa de entender a sociedade capitalista e

seus mecanismos de exclusão historicamente desenvolvidos.

Em síntese, a classe não está dada, ela se constitui, se forma na luta

concreta, na partilha de valores, na contraposição de valores e ideais, na

formação de uma consciência que é sempre socialmente construída.

A "classe-que-vive-do-trabalho" e a situação de trabalhadores "hifenizados"

trabalhadores separados, distintos e com graus de precariedade diferenciados

eis aí a novidade do fim do século. E é um segmento precário dessa classe que

se constitui no meu objeto de pesquisa, conforme está sendo paulatinamente

50
apresentado.

51
Capítulo 2 - A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS PERCEPÇÕES DO

SINDICATO

A reestruturação produtiva, movimento de caráter estrutural do capitalismo

é uma resposta à crise de um padrão de acumulação do capital, qual seja: o

fordismo, entendendo-se fordismo, pela formulação da Escola francesa de

regulação, como tendo dois níveis: um que se aplica ao espaço intra-fabril

(organização e administração do trabalho; das relações capital x trabalho) e

outro que concebe o padrão como organizador do modo de vida e das relações

sociais nas sociedades industriais ocidentais.

A reestruturação produtiva, conforme afirma a maioria dos estudiosos da

área, foi engendrada a partir dos anos 70 nos países centrais do capitalismo e

a partir de meados da década de 80 nos países periféricos - dentre eles o

Brasil - tendo como elementos principais: desemprego estrutural,

implementação de programas de terceirização, qualidade total, reestruturação

administrativa/privatização e automação. Sob sua égide assiste-se a uma

redução quantitativa e qualitativa dos postos de trabalho em todos os setores

produtivos, à precarização e complexificação do trabalho, redução de direitos

sociais, flexibilização do trabalho e das leis trabalhistas - visando um maior

controle do capital sobre seu conteúdo -, enfraquecimento dos sindicatos, além

de um grau de degradação bastante acentuado do meio ambiente e da saúde

do trabalhador. Para uma melhor compreensão acerca desta mudança, faz-se

necessário um resgate do fordismo enquanto padrão regulatório do trabalho e

52
da sociedade18.

O fordismo foi o padrão de acumulação e reprodução do capital dominante

nas sociedades capitalistas até meados da década de 70 nos países centrais.

Dentre outras características, tinha como principais no plano intra-fabril, a base

técnica eletro-mecânica (utilização da esteira rolante); produção padronizada e

seriada; alto grau de hierarquização e verticalização de cargos e funções;

divisão rígida entre concepção e execução do trabalho e relação capital x

trabalho fundamentalmente orientada para uma crescente divisão dos ganhos

do capital - como os altos salários; políticas de benefícios indiretos, como

assistência médico-odontológica, auxílio-educação, etc. No plano extra-fabril:

padronização e massificação do consumo, estado de bem-estar social - que

visava proteger o trabalhador e o cidadão desenvolvendo políticas específicas

como o seguro desemprego, salário educação, previdência social e

reconhecimento do sindicato pelo capital, neste sentido no período fordista de

produção poderíamos falar numa espécie de compromisso social entre trabalho

e capital.

O fordismo deve ser entendido como um modo de produção e de

organização social. Alguns autores privilegiam em suas análises concebê-lo

historicamente ( Gramsci, (1976), Castels,(1998), Hobsbawn,(1995). Castels,

18
Henry Ford, costumava dizer que os trabalhadores deveriam ter a fábrica como seu templo e o trabalho

como sua religião.

53
(1998) analisa o período fordista de organização social como um período da

sociedade salarial, onde as normas que regulam a principal forma de inserção

dos indivíduos na esfera do trabalho e da sociedade vem a ser a obtenção de

um emprego assalariado.

Hobsbawn fala do período que compreende o pós Segunda guerra e

meados da década de setenta como a "era de ouro' do desenvolvimento do

capitalismo. Foi neste período que as políticas de welfare state se

disseminaram pelos países centrais do capitalismo e o fordismo foi hegemônico

neste período histórico.

O fordismo enquanto padrão disseminado pela vida social e não restrito ao

local de trabalho foi classicamente definido por Gramsci. Em "Americanismo e

Fordismo" - um estudo clássico gramsciano - é apresentada uma tese bastante

aceita, a de que o fordismo é um modo de vida que perpassa o ambiente da

organização da gestão do trabalho e invade todos os poros da vida social. O

fordismo nesta acepção é entendido como um padrão de organização social,

mais há um elemento importante nesta análise: este padrão torna-se

hegemônico.

É no interior deste debate que o conceito de Hegemonia em Gramsci torna-

se uma importante novidade na busca de uma compreensão dos fenômenos

sociais que não separe as importantes influências do âmbito econômico e do

âmbito político, cultural e ideológico. Para Gramsci, a conquista de hegemonia

total em uma sociedade se dá na disputa em dois níveis: o nível infra-estrutural

54
(o controle dos meios de produção) e o nível da superestrutura (a conquista do

consenso, político, cultural e ideológico da maioria). Sendo assim uma classe

que só detém o controle da base infra-estrutural tende a ser "dominante" mas

não hegemônica, da mesma forma, uma classe que detém o controle da

superestrutura tende a ser meramente "dirigente" mas não completamente

hegemônica. Deste modo uma estratégia revolucionária de uma determinada

classe ou bloco histórico19 precisa ter, na busca pela hegemonia, o controle dos

dois âmbitos, precisa tornar-se dominante e ao mesmo tempo dirigente.

Entretanto este modelo de organização da produção e da vida social deve

ser entendido de um ponto de vista histórico e devemos buscar contextualizá-lo

analisando-o a partir de cada contexto social:

"(...) o caso japonês configuraria o que ele chama de 'fordismo


híbrido', na Alemanha Ocidental teríamos um 'fordismo flexível'
ou 'flex-fordismo', na Suécia um 'fordismo democrático', na
Itália um 'fordismo retardatário e imperfeitamente
institucionalizado', na França um 'fordismo impulsionado pelo
Estado', na Grã-Bretanha um 'fordismo falho ou defeituoso',
enquanto nos Estados Unidos seria o país do 'fordismo
genuíno'" (Ferreira apud Druck, 1999: 52).

Por fim, Burawoy (1990) faz uma caracterização das formas de

organização de gestão do trabalho numa perspectiva política, chamando o

período taylorista de regime despótico, o período fordista de regime

hegemônico e o período atual ( acumulação flexível, toyotismo etc) de

despotismo hegemônico.

19
A constituição de um bloco histórico para Gramsci se dá através de alianças de classes sob a direção
hegemônica de uma classe dirigente que para tanto precisa incorporar no seu programa as teses dos seus

55
No regime despótico, a relação capital x trabalho é permeada de

autoritarismo. A forma de organização do trabalho é extremamente rígida, com

a administração racional das formas de execução dos processos de trabalho.

Seu símbolo é o cronômetro, que tem por objetivo metrificar e calcular cada

passo, cada movimento do trabalhador, como se fosse uma máquina.

Representa essa forma de organização do trabalho, o famoso "trabalhador

gorila" de Taylor.

No regime hegemônico, período fordista, a relação capital x trabalho é

baseada nos seguintes modelos: ampla divisão do trabalho, equipamento

especializado, produção em massa de bens de consumo e sindicatos

relativamente fortes. O pacto entre capital e trabalho permite que o período

citado seja considerado como um período de forte crescimento sócio-

econômico ,substanciais ganhos de produtividade e políticas de bem-estar

social nos países centrais.

No regime despótico hegemônico- o atual segundo o autor . A relação

capital x trabalho é baseada marcadamente pela ameaça da extinção de

postos de trabalho, na qualidade total, na tentativa de acordos e negociações

diretas com os trabalhadores, na crise de representatividade dos sindicatos. A

tese da inevitabilidade das transformações propostas pelo capital ganha

adesão entre organizações sindicais, que passam a priorizar acordos cada vez

mais setoriais, por empresa. A negociação se sobrepõe ao confronto, no

ideário sindical. Esta é a caracterização dos três regimes conforme o modelo

aliados tornando-se assim classe nacional.

56
proposto por Burawoy para o entendimento da relação capital x trabalho.

2.1 Fordismo No Brasil

O fordismo não se efetivou no país como um padrão de desenvolvimento

social, econômico e cultural. Quando se analisa a introdução do padrão

fordista no Brasil e sua política de benefícios diretos e indiretos, conclui-se que

suas características foram absorvidas por setores produtivos específicos da

economia nacional, como: indústria automobilística, siderúrgica e petroquímica,

entre outros ramos produtivos e que o mercado de trabalho e de consumo

brasileiro historicamente tiveram e continuam a ter um caráter restritivo e

excludente, no que tange às políticas sociais e trabalhistas. Sobre o período

fordista, analisa Larangeira:

"No que se refere ao contexto de países periféricos, como o


Brasil, a implantação do fordismo realizou-se em termos
precários, já que o desenvolvimento industrial verificou-se em
contexto de exclusão, de forte concentração de renda,
impossibilitando, portanto, a vigência das características
básicas do fordismo (...) .( Larangeira, 1997: 90)

Uma das características centrais do modelo fordista de produção e

organização social é a implementação de políticas de bem-estar-social, e no

caso brasileiro essa característica primordial não foi conhecida:

"Em decorrência do caráter socialmente excludente e


fortemente concentrador do desenvolvimento capitalista no
Brasil, não ocorreu aqui a formação de uma verdadeira norma
de consumo de massa e pouco se avançou no caminho da
edificação de um Estado do Bem-Estar nos moldes daquele
existente nos países fordistas do centro. ( Ferreira, 1993, p.17)

57
Em termos de políticas para o mercado de trabalho, veremos que nas

décadas de 50 a fins da de 70, o Estado Brasileiro investe parcelas importantes

de recursos no setor industrial ( petroquímico, químico) através da concessão

de benefícios fiscais para algumas multinacionais se instalarem.

Se pensarmos em termos regionais se caracteriza um desnível no

desenvolvimento entre Estados do Sudeste e Estados do Nordeste. Nos

estados do Nordeste o mercado de trabalho é menos desenvolvido e os índices

de informalidade no trabalho são maiores que no Sudeste:

"Por fim, cabe ressaltar uma característica de fundamental


importância do mercado de trabalho brasileiro, que tem
considerável influência sobre seu funcionamento - e, em
particular, sobre os mecanismos de formação dos rendimentos
do trabalho -, e o diferenciam bastante dos mercados de
trabalho dos países 'fordistas' do centro: a existência de um
contigente extremamente numeroso de trabalhadores que
estão fora do mercado formal de trabalho, inseridos no
chamado 'setor informal' da economia" ( Ferreira, 1993, p.18)

2.2 CRISE DO FORDISMO

Esse padrão de acumulação e reprodução capitalista entra em crise em

meados da década de 70 nos países centrais e fins da década de 80 nos

periféricos.

Dentre os principais motivos da crise estão a crise do petróleo em 1973;

alta das taxas de juros; mudanças na base técnica - com o desenvolvimento da

58
tecnologia da eletrônica, e posteriormente a micro-eletrônica, e mudança nas

estratégias de produção de mercadorias - onde a lógica fordista de produção

em massa, não respondia mais à dinâmica do mercado, que exigia uma

produção mais segmentada, variável e flexível - a partir desse momento tenta-

se dar respostas à crise de acumulação e reprodução do capital com a

implementação de novo modelo de produção/acumulação do sistema que

possibilitasse a recuperação dos ganhos que o mesmo tinha na fase áurea do

fordismo - a chamada era de ouro do capitalismo20. Para Harvey:

" A acumulação flexível, (...) , é marcada por um confronto


direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade
dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos
produtos e padrões de consumo(...) a acumulação flexível
envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento
desigual, tanto entre setores como entre regiões
geográficas(...) " (grifos meus) ( Harvey, 1992, p. 140)

O modelo de produção desenvolvido no Japão, no pós segunda guerra,

chamado também de Toyotismo21, está sendo utilizado nos países centrais e

periféricos do capitalismo como resposta a essa crise. Tem como

características principais ( utilização de programas de

subcontratação/terceirização de mão de obra, implementação de programas

de qualidade total e círculos de controle de qualidade - os CCQ,s -

reestruturação administrativa, automação do processo de trabalho, produção

enxuta (sem criação de estoque - o just in time - e sindicatos atrelados aos

20
Para um estudo sobre a era de ouro ver (HOBSBAWN, 1995)

21
A Toyota foi uma das primeiras empresas no Japão a implementar este modelo no pós segunda guerra.

59
interesses das empresas - o sindicato - casa).

O modelo japonês, passou a ser implementado- no caso do Brasil - a partir

da década de 80. Assiste-se a uma discussão nos debates acadêmicos e

sindicais sobre a seguinte questão: o modelo foi implementado nos países

centrais e periféricos ocidentais da mesma forma que no país original ou foi

aplicado parcialmente?.

Para dar respostas a essa questão há duas vertentes, uma argumenta que

o modelo Toyota tem como característica geral, independendo do país onde

será aplicado: precarização das condições de trabalho, intensificação das

jornadas de trabalho, redução de direitos trabalhistas, práticas que visam

enfraquecer os sindicatos etc. Watanabe, líder sindical japonês aponta nesta

direção:

"Quando cheguei aos Estados Unidos surpreendeu-me a idéia


que os trabalhadores americanos tinham das relações de
trabalho no Japão, vistas como uma combinação de eficiência,
estabilidade vitalícia no emprego e harmonia entre capital e
trabalho. Boa parte desta imagem foi criada com a publicação
do livro : 'A Máquina que mudou o mundo', que aumentou a
reputação do sistema Toyota de produção caracterizado como
eficiente e enxuto. Todas as empresas do mundo passaram a
buscar maneiras de diminuir as gorduras. Trata-se porém, de
informações de caráter ideológico. Quando o livro cita o
número de horas necessárias para montar um carro na Toyota,
por exemplo não deixa claro se este número inclui todas as
horas extras utilizadas.(Grifos nossos). Mas adiante afirma: Se
a Toyota decide, na sexta-feira à tarde que vai precisar de um
lote de peças na segunda feira de manhã, isso significa que os
trabalhadores vão ter que trabalhar no fim de semana, pois não
pode haver nenhum atraso(...)"(Watanabe; 1993)

A segunda vertente, defende que o modelo foi implementado diferentemente

60
do Japão, como explicita Zilbovicius:

"Em primeiro lugar, é importante deixar claro que existem


diferenças entre o sistema que começou a se desenvolver no
Japão a partir dos anos 50 e o que as pessoas, no ocidente,
entenderam dele e começaram a adotar. O modelo japonês ou
sistema de produção enxuta,(...) é bem diferente do que
passou a ser copiado, parcialmente, pelas empresas do mundo
inteiro". (Zilbovicius, 1993,p.16)

Este debate está em curso no mundo do trabalho, não havendo respostas

conclusivas sobre o assunto, fala-se de uma cultura do trabalho singular no

Japão - no país não foi implementado o padrão fordista de produção - e que

portanto haveria um problema de adequar os países ocidentais fordistas à

mesma lógica do padrão japonês, visto que existe singularidades culturais-

trabalhistas22que tornam a implementação total do modelo impossível.

Entretanto o que se observa da implementação do modelo de produção

japonês no Brasil e no mundo é que o conjunto de suas características (

terceirização de mão de obra, qualidade total, reestruturação administrativa -

diminuição de turnos e aumento de horas trabalhadas, automação - etc.) têm

levado a uma perda crescente de postos de trabalho e a uma conseqüente

precarização de seu conteúdo, da qualidade de vida, além do enfraquecimento

das identidades compartilhadas coletivamente.

As principais características do modelo japonês são:

22
Ver( MOTTA, 1997)

61
a) Implementação de programas de qualidade total - mudança organizacional

que busca transformações na relação capital x trabalho e tentam difundir entre

os trabalhadores a idéia da parceria, da co-responsabilidade pela produção,

além de combater a organização sindical23. O problema é que ao usar deste

programa para criar um clima de harmonia entre capital x trabalho, o que se

leva em conta é a qualidade do produto, a redução dos custos e o aumento da

produção deixando de lado na estratégia a qualidade nas condições de

trabalho.

b) A reestruturação administrativa cumpre o papel de tentar impor mudanças

nos turnos de trabalho, no aumento da jornada e até na diminuição dos turmas

de revezamento e escalas24. Um elemento importante desta fenômeno é idéia

de polivalência, ou seja, o trabalhador deve ter a capacidade de desenvolver

varias habilidades no local de trabalho, ser multi funcional. Para exemplificar:

No caso de trabalhadores bancários a multifuncionalidade é caracterizada por -

no caso de caixas - desde saber fazer as atividades básicas de sua atividade (

autenticação de documentos, contabilização, pagamento de cheques ) até

desenvolver atividades de venda de produtos, atendimento ao clientes,

organizador de cadastros e vendedor externo de produtos e serviços do banco.

23
Um exemplo claro da tentativa de combater a organização coletiva, é ilustrada pela utilização por parte
das empresas de sistemas de premiação individual por produtividade alcançada. Outra forma é premiar
grupos de trabalhadores por produtividade, onde todos tem que dar o mesmo ritmo à produção, no caso da
queda da produtividade do grupo - composto no máximo por oito integrantes - sendo que se um do grupo
diminuir o ritmo, ele penaliza todo grupo na obtenção do prêmio. Estes exemplos geram uma prática de
negociação entre empresas e trabalhadores que visa desprestigiar e enfraquecer a ação dos sindicatos na
defesa dos interesses classistas.

62
c) Automação - uma característica pouco presente na reestruturação brasileira

na década de 90. O processo de automação se deu principalmente na década

anterior. Entretanto, no ano passado pudemos observar que a automação não

é um processo inexorável e inevitável. Surgiram notícias nos meios de

comunicação que os postos de gasolina automatizaram as bombas de

gasolina e isto permitiu a dispensa de um contigente expressivo de frentistas.

Contudo houve uma reação dos consumidores deste produto no sentido de

criticar a concepção de atendimento self service que se instalaria, o governo

Brasileiro instaurou uma medida desautorizando os donos de postos de

gasolina de automatizarem as bombas de combustíveis e com isso os

empregos dos frentistas foram recuperados. “Caindo por terra” a idéia tão

disseminada que a automação é inexorável.

a) Desemprego estrutural - Este fenômeno é o que mais cresce no mundo. As

taxas de desemprego são cada vez maiores. E o desemprego é a principal

conseqüência da reestruturação produtiva. Na Região Metropolitana de

Salvador (RMS) a última taxa de desemprego divulgada pelo Dieese/UFBa nos

informa que estamos com 25% da População economicamente ativa

desempregada. (Abr/98).

Contudo conceito de desemprego foi ampliado ( sendo incorporado a

concepção de desemprego oculto) e ampliou o nosso conhecimento sobre a

questão. Tradicionalmente as pesquisas captavam o índice de desemprego

aberto ( que é aquele tipo de desemprego onde a pessoa está sem emprego e

24
Um exemplo disso é a proposta feita pelas empresas de acabar com a quinta turma de trabalhadores,
ocasionando com isso aumento das cargas de trabalho e demissão.

63
procurou emprego nos últimos trinta dias ou doze meses anteriores ao dia da

entrevista). A grande novidade foi a consideração de trabalhos precários, bicos

como um tipo de desemprego oculto caso o trabalhador precário esteja

procurando trabalho fixo.

Isto permitiu dimensionar de forma mais real a situação de desemprego no

Brasil. E esta metodologia foi desenvolvida pela Fundação SEADE -

SP/DIEESE . É importante ressaltar que esta metodologia contraria uma

metodologia utilizada pelo órgão oficial de Pesquisa e Estatística do Governo

Federal ( IBGE) que considera qualquer pessoa que tenha desenvolvido

quaisquer atividades remuneradas nos últimos sete dias anteriores ao da

entrevista como não desempregadas. Ocultando neste sentido o trabalho

temporário e o biscate.

Esta falta de distinção entre desemprego aberto e oculto faz com que as

estatísticas do IBGE só reflitam a realidade do desemprego aberto no país e

permite uma diferenciação enorme entre os resultados encontrados pelas duas

Instituições de Pesquisa. Enquanto que para o IBGE o desemprego está em

torno de 10% da PEA na Região metropolitana de Salvador, para o

Dieese/Seade esta cifra é de 25%. Portanto não consideram o desemprego

oculto e isto cria uma distorção considerável na realidade da questão do

desemprego.

Hirata (1999) concorda que podemos falar ao invés de crise do trabalho em

uma crise da noção de posto de trabalho e de emprego fordista na atualidade.

64
A polivalência e a multifuncionalidade contribuem junto com a aguda

precarização do trabalho atualmente para a relativização da idéia de fordismo.

Torna-se complexa a noção de posto de trabalho.

Vejamos um exemplo: um caixa de banco na atualidade, pode estar em um

momento de sua jornada de trabalho autenticando documentos e pagando

cheques, em outro momento conferindo e atualizando dados cadastrais dos

clientes, num outro momento vendendo seguros e títulos de capitalização.

Podemos deduzir três ocupações distintas: trabalho de caixa, trabalho de

assistente administrativo e trabalho de vendedor, sendo que o mesmo indivíduo

pode estar exercendo as três funções ao mesmo tempo. Portanto na fase atual

de organização do trabalho, algumas ocupações profissionais são fundidas

com outras, acarretando dois movimentos que se complementam: uma

desespecialização25 acompanhada de uma polivalência crescente em algumas

ocupações como a de trabalhadores bancários e de trabalhadores de caixa de

supermercados. Até que ponto podemos nos remeter a idéia de posto de

trabalho nestes casos?.

Por fim, no que se refere às características do modelo de gestão japonês é

necessário caracterizar a terceirização que é a característica mais importante

do processo de reestruturação produtiva no Brasil, conforme será descrito a

seguir.

25
Jesus, 2001, desenvolve um Projeto de Mestrado no PPGCS/UFBA, sobre trabalho bancário, onde há
uma hipótese em que o fim do ofício ser bancário é fruto da Reestruturação Produtiva no setor.

65
2.3 TERCEIRIZAÇÃO

O processo de terceirização é uma estratégia adotada pelas empresas

para a transferência de mão de obra e custos trabalhistas para prestadoras de

serviço. Há outros termos que são utilizados para caracterizar o fenômeno :

externalização de atividades para outra empresa, sub-contratação e ainda

aparece o termo 'outsourcing'.

Druck apud Hirata ( 1999, p. 123) faz uma descrição de quatro tipos de

terceirização no Japão - berço deste modelo de produção - :

"a) Kogaisha - empresa filial; b) kioryoku gaisha - empresa


cooperadora; c) kankei gaisha- empresa com a qual se tem
relações, empresa coligada; d) shitauke gaisha - empresa sub-
contratada ou terceirizada"

No Japão, existem quatro modelos de terceirização distintos. Entretanto no

Japão a terceirização representa para os trabalhadores:

"(...)uma situação de discriminação muito grande entre os


próprios trabalhadores do Japão. O contigente que é
identificado com a empresa, da qual é empregado efetivo se
diferencia e é diferenciado dos demais subcontratados, até
mesmo pela cor dos uniformes, uso de alas diferentes nos
restaurantes, vestiário etc. ( Hirata, s/d. Cria-se uma divisão
entre eles, os de primeira e os de segunda categoria,
impossibilitando uma convivência social e mesmo de identidade
de classe entre os operários, desestruturando os coletivos de
trabalho e excluindo a maioria dos 'privilégios' que o emprego
estável oferece, São os excluídos no mundo do trabalho. (
Druck, 1999, p.126)

66
No caso brasileiro, o tipo de terceirização mais difundida é a de

subcontratação de empresas, a “shitauke gaisha” do caso japonês.

Uma constatação presente em muitos estudos sobre a terceirização - uma

das práticas de gestão do toyotismo - indica que o objetivo primordial das

indústrias que adotam esta prática tem sido a de reduzir custos26, transferindo

encargos sociais e responsabilidades trabalhistas para as empresas

contratadas para prestar serviços.

No que se refere a perspectiva do ponto de vista dos trabalhadores e dos

sindicatos, podemos perceber que a terceirização representa: precarização

objetiva e subjetiva das condições de trabalho, desintegração de coletivos de

trabalhadores e fragmentação da representação coletiva. Pois com a

segmentação que ocorre entre trabalhadores da empresa contratante e da

empresa contratada o coletivo de trabalhadores se pulveriza em sindicatos

distintos, dificultando a ação sindical. (cf: Druck, 1999; Antunes, 1995)

2.4 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

A terceirização e a qualidade total são as características do processo de

reestruturação produtiva mais presentes na reestruturação produtiva. Assiste-

se em todos os setores de atividade econômica a adoção destas práticas (

indústria, comércio, serviço e agroindústrias). Neste sentido a reestruturação

26
Para uma melhor compreensão ver Druck 1997

67
no caso brasileiro é amplamente motivada por mudanças organizacionais.

O tipo de terceirização predominantemente utilizado nas fábricas nos anos

90 vem sendo a terceirização das atividades-fim (produção, operação e

manutenção. Na década de 80 as áreas terceirizadas eram as chamadas áreas

de apoio (limpeza, vigilância, alimentação, entre outras.)

As áreas terceirizadas atualmente são as nucleares da empresa, e essa

mudança não transfere, na maiorias das vezes, a tecnologia para as

empreiteiras, ocasionando com isso o aumento dos riscos intra e extra-fabris,

por exemplo: possibilidade de acidente no processo de trabalho - fato

corriqueiro no Pólo de Camaçari e nas indústrias da região abrangida pelo

Siticcan -, pois, em casos cada vez mais freqüentes trabalhadores terceirizados

se acidentam por não conhecerem os mecanismos de funcionamento das

máquinas que operam, como podemos ver em notícia publicada em revista de

grande circulação nacional:

'(...) era quase meia-noite de domingo 11, quando Rinaldo


Abreu Fontes foi convocado para a tarefa de limpeza na área
de laminação a quente na Usiminas, a primeira estatal
privatizada, em 1991. De repente, sua mão esquerda foi
puxada pela correia transportadora, sugando o braço, ombro e
parte do tórax, (...) teve morte instantânea". Este rapaz
trabalhava numa terceira e não conhecia minimamente a
máquina que estava limpando. (Revista Isto é, 21/08/98 , p. 75)

Enfim a prática da terceirização implementada pelas empresas em seu

processo de reestruturação tem desembocado num uso predatório da força de

trabalho, da saúde e do meio ambiente. Uma das dimensões dos riscos extra-

68
fabris causados pela terceirização é o risco transportado para o lar do

trabalhador, conforme este depoimento:

"(...)as empresas começaram a dar o fardamento. E os


funcionários das empreiteiras tinham que levar para casa, para
lavar em casa. Ele recebia duas fardas. Aí ficava usando uma e
outra ficava em casa lavando. E os funcionários da Petrobrás
sempre deu uma farda, e sempre foi lavada dentro da
Refinaria. A Petrobrás contratava uma empresa, é uma
lavanderia. Aí o petroleiro só vai lá trocar a farda, e a roupa era
lavada dentro da área mesmo. A Petrobrás, quer dizer ,ela
sabe o risco que a família do cara tá correndo, se o cara levar
aquela farda para casa. Aí quer dizer, pros funcionários da
Petrobrás ela dava roupa lavada, o cara não precisava levar
para casa. Mas os das empreiteiras, eles tinham que levar pra
casa pra lavar. Ai a gente foi descobrindo muitos problemas
que vem acontecendo com famílias de trabalhadores, por
exemplo: coceira com questão de lã de vidro. Expõe esposa
né? Até ela lavano (sic), quando ela tá lavano a roupa ali a lã
de vidro assim o cilicato, no caso de isolamento, ele tem um
produto que ele entra, ele penetra na pele e causa coceira,
causa até câncer de pele. Tem também o FENOL que tem na
área, que ele causa queimaduras e isso acaba com os
familiares do pessoal das empreiteiras" ( Depoimento de
trabalhador)

Podemos perceber neste passagem a ampliação dos riscos, além de toda

a precarização sofrida pelo trabalhador, a família, - principalmente a esposa -

também fica exposta a riscos de contaminação com produtos químicos que

ficam agarrados na roupa que lavam. Famílias expostas ao risco é uma

realidade presente neste segmento estudado.

É parte desse processo de precarização a "quarteirização", que

acompanha o processo de terceirização. A quarteirização é a subcontratação

de empreiteiras. É a subcontratação em cascata. E estas empresas são as que

mais precarizam as condições de trabalho na RLAM. Não pagam direitos

69
trabalhistas, não fornecem Equipamentos de Segurança Industrial (EPI). Se os

trabalhadores da empresas Terceiras são de "Segunda categoria" os

trabalhadores de sub-empreiteiras são o contigente mais precarizado ainda.

Os trabalhadores das empresas quarteirizadas ( sub-empreiteiras) chamam

as empresas em que trabalham de "chupa toda". O que isto quer dizer?:

empresas que solapam todos os direitos trabalhistas e precarizam mais ainda

as condições de trabalho. Isto se dá no plano da experiência com o trabalho.

No plano da linguagem e da ironia, estes trabalhadores compreendem o

próprio trabalho e o que ele significa, nesta dimensão; precarização acentuada,

ausência de direitos trabalhistas e riscos maiores de saúde e de vida.

2.5 A Terceirização , O Siticcan e a Percepção das Mudanças no Mundo

do Trabalho e a experiência coletiva

O Siticcan ( Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil,

Montagem e Manutenção de Candeias, Simões Filho, São Sebastião do Passé,

São Francisco do Conde e Madre de Deus) foi organizado a partir da

transformação da Associação dos Trabalhadores na Construção Civil de

Candeias em sindicato, no dia 26 de março de 1989, a partir da organização

passou a representar os interesses do segmento composto de trabalhadores

nas empreiteiras das indústrias da região. Estas indústrias ficam situadas entre

a RMS27 e a região do Recôncavo baiano e sediam importantes indústrias do

27
Região Metropolitana de Salvador

70
ramo petroquímico, a exemplo da Refinaria Landulfo Alves, da PETROBRÁS; e

empresas do ramo siderúrgico, metalúrgico e químico como: Usiba, Alcan,

Sibra e Dow Química.

O sindicato representa os trabalhadores das empreiteiras da região, e tem

agido no sentido de reduzir as precárias condições de trabalho a que são

submetidos quotidianamente, e que tem sido denunciadas desde o início, como

podemos ver em um dos seus primeiros boletins:

"(...) Antes do fortalecimento do sindicato éramos humilhados,


fazíamos nossas refeições embaixo das árvores porque não
tínhamos refeitórios, vestiários não existiam e tínhamos que
trocar a roupa escondido pelos cantos, éramos transportados
como gados, os caminhões lotados e inseguros nos levava
para o trabalho e quando lá chegávamos, nem mesmo a água
potável tínhamos direito"28 (Boletim da Chapa Unificação)29

Entretanto essa situação, embora continue sendo registrada atualmente

através do boletim da categoria, vem sendo combatida com muitas

mobilizações realizadas durante todo este tempo - a exemplo da histórica greve

de setembro de 1990 realizada, conjuntamente com o sindicato dos petroleiros,

que durou 23 dias , obtendo conquistas importantes como: reajuste escalonado

de 84,32%.

Em 1991, outra greve foi realizada junto com o Sindipetro, durando 36 dias

e conquistou na justiça, além do reajuste salarial, pagamento dos dias parados.

28
(Boletim da Chapa unificação Siticcan, s/d).

71
Em 1992 e 1993 realizaram várias mobilizações e voltaram a parar as

atividades em 1994 numa greve que durou 21 dias - realizada somente pela

segmento dos terceirizados-.

O que se depreende dessas ações é que o Siticcan possui uma história

de defesa dos interesses dos trabalhadores das empreiteiras da Petrobrás, e é

importante salientar que, politicamente entendem que devido ao fato do

segmento trabalhar numa Indústria Petroquímica são trabalhadores petroleiros

contratados indiretamente. Além disso os sindicalistas têm uma clara oposição

à prática da terceirização/subcontratação de mão de obra, como podemos ver

a seguir:

"Hoje, conjuntamente, lutamos pelo reconhecimento do vínculo


empregatício com a Petrobrás porque entendemos que todos
os que trabalham na área de petróleo são petroleiros e,
portanto, não podemos admitir qualquer
discriminação".(Boletim o Maçarico,94)

Embora o segmento tenha uma forte tradição de luta e combatividade, o

fato de serem trabalhadores tipicamente terceirizados, revela um grau de

precarização bastante agudo das condições de trabalho e de saúde. São

problemas freqüentes a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) (

Capacete, protetores contra ruídos, cinto de segurança, botas etc.,) condições

insalubres e periculosas de trabalho; péssima alimentação; ausência de

assinatura na carteira profissional; não pagamento do FGTS - quando da

dispensa -; até casos mais graves, como lesões e mortes nas plantas das

contratantes como podemos ver a seguir:

72
"Cresce de forma assustadora o número de acidentes de
trabalho na área da [Refinaria]. Só na última semana de
novembro foram registrados 15 casos envolvendo
trabalhadores da nossa categoria, vítimas da negligência e do
descaso dos setores de segurança da área. O fato mais
recente ocorreu com o companheiro Ivan Alves operário da
empresa [A] que caiu de uma altura de mais ou menos 8
metros, vindo a falecer no último dia 03 no Hospital Aliança.
Nossa categoria está de luto". ( Boletim Maçarico, num. 102 -
dez/96).

Além da precarização das condições materiais no trabalho, assiste-se à

uma fragmentação das identidades coletivas, causadas pela ameaça

constante do desemprego, pela discriminação sofrida e pela individualização

nas relações de trabalho. Esse quadro contribui para o enfraquecimento da

subjetividade do trabalhador, pois no espaço fabril convivem trabalhadores com

estatutos diferentes, com direitos diferenciados: são os trabalhadores

contratados diretamente e os trabalhadores das empreiteiras. Para se ter uma

idéia da situação- poderíamos exemplificar com o fato de que utilizam

banheiros e refeitórios separadamente. Um outro exemplo é o tipo de trabalho

executado pelo trabalhador da terceira, que tendo a mesma função que o

trabalhador contratado diretamente acaba ficando com o trabalho mais pesado,

mais desgastante.

Enfim, esta é uma outra dimensão da terceirização que além de precarizar

condições materiais, trata de criar entre companheiros um fosso de

desintegração e desconfiança na planta industrial, uma denúncia enfatiza a

precariedade dessa relação entre trabalhadores diretos e indiretos:

"Area P da RLAM - Os operadores da área P estão tornando a


vida dos trabalhadores das empreiteiras em uma vida de cão,

73
não nos deixando beber água. Tem alguns petroleiros que
pensam ser os donos da Petrobrás, assim não dá para chamar
esses trabalhadores de companheiros" (Boletim Maçarico,
num. 69 Out/94).

O que se pode observar deste relacionamento é que o desafio para os

sindicalistas é duplo, pois além de lutar por melhores condições materiais para

a categoria tem que lutar contra o preconceito existente no espaço intra e extra

fabril.

Outra denúncia bastante assídua no boletim, diz respeito à conivência dos

fiscais de contrato da Petrobrás, com os abusos cometidos pelas empreiteiras,

no que se referem, ao descumprimento da convenção coletiva e das leis

trabalhistas. A quarteirização, sub-empreitada de mão de obra, complexificou

ainda mais as condições de trabalho e até mesmo de fiscalização deste

segmento pelos diretores sindicais, pois são empresas que não garantem

condições e proteções trabalhistas necessárias e além disso desaparecerem

do dia para a noite, sem prestar auxílio aos trabalhadores, sem pagar direitos

trabalhistas e encargos sociais, é o que poderíamos chamar de uso selvagem

da força de trabalho sem lhe garantir nem o necessário para a reprodução da

mesma.

Por fim é noticiada uma nova modalidade de desemprego , além das já

conhecidos (desemprego estrutural, demissão arbitrária e desemprego rotativo

(no caso dos trabalhadores das terceiras) como podemos ver na notícia:

" Rlam - Paraíso dos Aposentados - Visando tirar vantagens


com a Petrobrás, as empreiteiras estão dando prioridade na

74
admissão aos trabalhadores aposentados da Refinaria, só na
Engim já são mais de dez. E se a moda pegar, dentro de pouco
tempo as gatas só vão querer fichar os aposentados da
Petrobrás. O argumento utilizado para justificar esse
procedimento é taxativo eles alegam que os aposentados
devido a sua 'larga convivência' dentro da Rlam, tem uma certa
facilidade para conseguir as coisas por lá, porque conhecem
muitos setores e um grande número de pessoas influentes;
uma ferramenta emprestada aqui, uma multa cancelada ali e
tudo bem(...)O Siticcan está de olho aberto, e não vai permitir o
crescimento desse círculo vicioso, que está tirando os
empregos dos nossos companheiros(...)" (Boletim Maçarico,
100 - Nov/96 ). Grifo meu

Esta denúncia indica, que será necessário uma atuação conjunta entre os

sindicatos dos trabalhadores de empreiteiras e dos trabalhadores petroleiros,

para barrar esta nova prática de "demissão", pois indica uma possibilidade de

desgastar ainda mais o relacionamento entre ambas. Mas por que o Sindicato

dos trabalhadores de empreiteiras não incorporam os aposentados da

Petrobrás como seus representados? os trabalhadores que são contratados -

embora já sejam aposentados - não serão também explorados? não serão

submetidos às mesmas condições de trabalho dos que trabalham nas

empresas terceiras? É possível que a discriminação e a falta de solidariedade

entre os petroleiros e os trabalhadores de empreiteiras acabe ultrapassando o

muro da fábrica e ocasionando desintegração também entre os sindicatos dos

segmentos envolvidos.

Observem que na citação a preocupação é com o desemprego que pode

vir a ocorrer dos “nossos” companheiros, como se os recém contratados que

são aposentados da Petrobrás não fossem novos companheiros. É possível

que a discriminação do dia a dia dos petroleiros para com os terceiros na

Fábrica acarrete o não reconhecimento quando um aposentado da Petrobrás

75
passe a trabalhar para uma empreiteira da própria empresa. A situação é

seguinte, para trabalhadores de empreiteiras, “uma vez petroleiro sempre

petroleiro”. A condição é intrínseca:

“ Falar de um espaço social, é dizer que não de pode juntar


uma pessoal qualquer com outra pessoa qualquer, descurando
as diferenças fundamentais, sobretudo econômicas e culturais”
( Bourdieu, 1989, p. 138)

A denúncia desta nova prática de "demissão"- mesmo sendo importante-

indica um certo corporativismo no Siticcan, pois esta denúncia sinaliza uma

forma de atuação onde se privilegia os problemas específicos do segmento que

representa, sem fazer uma disputa política num plano mais geral, ou seja, sem

problematizar por exemplo: o que leva um aposentado da Petrobrás a se

submeter a esta situação? certamente são os salários insufiicentes que

recebem quando se aposentam. Portanto, deve-se ampliar a perspectiva de

atuação frente a esse problema, procurando superar a denúncia como foi feita

e entendendo que o trabalhador aposentado não têm prioridade, e é tão

explorado quanto os trabalhadores do segmento.

O sindicato tem uma noção clara dos prejuízos trazidos pela terceirização

entendida como prática de gestão do trabalho que traz consigo uma

agudização da precariedade, redução de direitos trabalhistas, desemprego,

etc., é o que indica as informações coletadas nos boletins do sindicato sobre os

fenômenos da reestruturação:

76
Contigente do número de notícias selecionadas sobre reestrturação
Produtiva

100%
90%
80%
70%
Valores(%)

60%
50% Desemprego
40%
Terceirização
30%
20% Qualidade Total
10% Reestru, Adm./ Privatiz.
0% Automação
90 91 92 93 94 95 96 97
OLT/contrato coletivo
Anos

Fonte Boletim O Maçarico/Siticcan30

O boletim é o principal meio de comunicação entre o sindicato e a

categoria, é sem dúvida um instrumento de análise privilegiado para

compreender de que forma se dá e qual a percepção sobre a reestruturação

produtiva, ou seja, qual o "olhar sindical" sobre estas transformações.

É importante notar, que em todos os anos, estes sindicalistas sempre

tiveram uma percepção política clara da terceirização como principal problema

enfrentado pela categoria. No ano de 90, do total geral de 19 notícias

selecionadas, 89% denunciavam o problema, no ano de 91, 100% das notícias

30
Os boletins nos primeiros anos não tinham regularidade periódica, sendo confeccionados de acordo
com a demanda da categoria. Nos anos de 90, 91 e 96 percebe-se a falta de boletins no arquivo de
imprensa, embora a amostra coletada tenha sido representativa nos anos de 92,93,94 e 97. A seguir o
total de notícias selecionadas sobre reestruturação produtiva e o total de boletins coletados ano a ano.

77
eram sobre a terceirização, - embora o número de boletins31do ano não tenha

sido representativo em relação aos outros anos investigados,- nos anos de

92,93,94,95,96,97 o fenômeno ocupou respectivamente, 66%, 74%,82%, 85%,

72% e 93% das notícias veiculadas pelo boletim.

O desemprego é tratado com menor freqüência através dos boletins, nos

anos de 1990 e 91 foram 11% e 0% respectivamente - em 92 das 56 notícias

selecionadas 14% tocavam na questão, havendo um ligeiro aumento

percentual em 93 para 21%, decrescendo no ano seguinte para 15%, em 95,

96 e 97 foram respectivamente 13%,27% e 5%. Há duas hipóteses a se

considerar, sobre esta situação: 1) O problema é tão corriqueiro na categoria -

(fim de obras, término ou cancelamento de contratos das empreiteiras pelas

contratantes etc.) que é dado prioridade ao combate à terceirização; 2) Sendo

o desemprego um problema central da sociedade atual é discutido de forma

insuficiente por este sindicato através dos boletins, o que denotaria um

equívoco político de comunicação e/ou atuação e indica um tratamento

desigual dado ao conjunto de práticas trazidas pela reestruturação produtiva.

Os programas de qualidade total, também são tratados de forma

insuficiente através do boletim, havendo somente 2% das notícias

selecionadas em 94 e 96 e nenhuma nos demais anos, o mesmo acontecendo

com o tema reestruturação administrativa/privatização32. Embora não possam

31
No ano de 91 foram encontrados seis boletins nos arquivos do setor de imprensa do
sindicato e foram coletadas somente cinco notícias.
32
Embora o sindicato não trate da qualidade total nos boletins, há uma cláusula nas convenções coletivas
que trata da especificidade dos serviços prestados pelo trabalhador, que visa defender o mesmo do
trabalho polivalente e multifuncional Ex.: um montador de andaime que é colocado para fazer serviços

78
ser tomados em absoluto os resultados apresentados através do gráfico

demonstram que a centralização na denúncia dos problemas trazidos pela

terceirização é compreensível , pois é o problema crucial vivido pelo segmento.

É interessante analisar também, as cláusulas da convenção coletiva da

categoria no que diz respeito aos fenômenos estudados. Em todas as

convenções há cláusulas sobre a terceirização, por exemplo: a décima primeira

de 1990 - "Empresas de mão de obra temporária" - versa sobre a proibição de

contratação temporária quando não se tratar de mera necessidade temporária,

excluindo somente as paradas de manutenção/montagem, ficando a empresa

tomadora (solidariamente responsável pelos direitos trabalhistas dos

empregados das terceiras). Em 1991 esta cláusula foi indeferida pela justiça do

trabalho no dissídio coletivo da categoria, outras cláusulas importantes são: a

da especificidade dos serviços prestados pelo trabalhador das empreiteiras.

Esta cláusula tem o objetivo de impedir o trabalho multifuncional.

Uma outra cláusula importante é a que versa sobre a comunicação e

registro de obras, que obriga que as empresas que contratem mão de obra

abrangida pela convenção comunique o local e o tipo da obra. Neste sentido,

foi colocada uma importante complementação em um parágrafo na convenção

96/97:

"A contratante principal deverá informar o endereço do


canteiro de obra, prazo previsto de duração da obra, número
de funcionários e nome do engenheiro responsável"33

elétricos. Isto caracteriza um trabalhador polivalente e o sindicato se contrapõe a essa prática.

79
Este parágrafo citado é um exemplo do avanço na compreensão sobre a

necessidade de fiscalização pelo sindicato e controle efetivo sobre a situação

de trabalho destas empreiteiras na região.

As notícias sobre reestruturação administrativa( polifuncionalidade,

alterações de turnos e jornadas) são inexistentes. Só encontramos notícias

sobre privatização. Embora no boletim não haja tratamento do tema, na

convenção do Siticcan tem, em todos os anos, uma cláusula onde fica proibido

trabalho normal aos sábados, domingos e feriados, e até mesmo à noite, tendo

a empresa de pagar horas extras e compensar com folga na semana, contudo

várias empresas descumprem esta cláusula.

A cláusula que prevê estabilidade provisória tenta impedir que as terceiras

demitam o trabalhador nas seguintes condições:

"por 30 dias, no caso do gozo de auxílio doença, a contar da


data de retorno ao trabalho e ao empregado que esteja
faltando doze meses para aposentar-se, desde que o mesmo
tenha três anos de trabalho contínuo ou cinco de trabalho
descontínuo na mesma empresa; excluindo os casos de
término do serviço desempenhado pelo empregado, término ou
paralisação de obra, pedido de demissão ou dispensa por justa
causa"34

34
(ib. idem, cláusulas 5 e 6, pp - 8-9)

(ib. idem, cláusulas 5 e 6, pp - 8-9)

80
Em suma, a percepção sobre a reestruturação produtiva, tem importantes

avanços como: a denúncia das práticas da terceirização, a denúncia sobre a

conivência das contratantes- e seus fiscais no caso da Petrobrás - com a

precarização das condições de trabalho e saúde causada pelas empreiteiras, a

luta pelo reconhecimento de que são petroleiros que deveriam ter direitos

iguais aos contratados pela Petrobrás (a principal contratante da região), a

denúncia de novas práticas de demissão e uma postura de que a organização

por local de trabalho deve ser buscada como forma de barrar o avanço desses

problemas. Outra possibilidade colocada no boletim foi a unificação entre O

Siticcan e o Sinditccc, vejamos:

"A unificação do Siticcan e o Sindticcc[trabalhadores das


empreiteiras do Pólo Petroquímico de Camaçari], foi tema de
discussão, e todos os presentes demonstraram-se favoráveis,
mas com o indicativo de que antes fosse feita uma ampla
discussão nas categorias, com a realização de reuniões,
seminários e Congresso específico para viabilizar a unificação
das duas bases. " ( Boletim num. 106 - Março/97)

Porém, a percepção sobre os fenômenos - como foi explicitada através da

análise do boletim e da convenção - , se apresenta dentro de uma perspectiva

limitada e insuficiente, ou seja, prioriza a terceirização como principal problema

enfrentado pela categoria - o que é importante -, mas denuncia

insuficientemente os outros fenômenos- como exemplo a questão do

desemprego no boletim - percebendo-os de maneira desigual e

desequilibrada acarretando com isso dificuldades presentes e futuras na

contraposição política à reestruturação produtiva e suas implicações sobre o

81
trabalho.

2.5 A TERCEIRIZAÇÃO NA PETROBRÁS

Escolhi a Refinaria da Petrobrás como espaço de investigação da

Terceirização e dos terceirizados devido a importância que esta empresa teve

e tem para o desenvolvimento sócio-econômico do país.. Um dado importante

é que a RLAM comporta a maioria dos trabalhadores terceirizados da Base

territorial do Siticcan( Sindicato dos trabalhadores terceirizados da região). A

própria história da empresa e sua importância política já justificaria sua

escolha. Recentemente - há poucos dias - a direção da empresa quis modificar

o nome da Petrobrás para Petrobrax e isso suscitou reações negativas do

Congresso Nacional e da sociedade civil. A própria campanha "O Petróleo é

Nosso" já nos deu uma idéia da importância que a empresa alcançou

historicamente no país. Além disso este processo de terceirização de

atividades-fim se dá há doze anos.

Os setores em que ocorreram terceirização foram os de manutenção e

operação, sendo que na produção ainda não temos conhecimento que tenha

ocorrido o fato.

82
2.6 A voz e a vez dos Terceirizados ...

Uma das lições ensinadas por Bourdieu( 1983) diz respeito ao processo de

"interiorizar a exterioridade e exteriorizar a interioridade". Neste sentido a

análise social deve buscar a junção entre a estrutura social( realidade exterior)

e os sujeitos, pois:

"(...) o conhecimento que podemos chamar praxiológico tem


como objeto não somente o sistema de relações objetivas que
o modo de conhecimento objetivista constrói, mas também as
relações dialéticas entre essas estruturas e as disposições
estruturadas nas quais elas se atualizam e que tendem a
reproduzí-las, isto é, o duplo processo de interiorização da
exterioridade e de exteriorização da interioridade: este
conhecimento supõe uma ruptura com o modo de
conhecimento objetivista, quer dizer, um questionamento das
condições de possibilidade e, dos limites do ponto de vista
objetivo e objetivante que apreende as práticas de fora,
enquanto fato acabado, em lugar de construir seu princípio
gerador situando-se no próprio movimento de sua efetivação.
(Bourdieu, 1983, p.47) Grifos meus

Há uma idéia de estrutura presente nos escritos de Bourdieu( 1983), mas é

necessário a superação da perspectiva que anula o sujeito e sua experiência,

como no marxismo estruturalista. Os homens não são robôs autômatos, antes

de mais nada, pensam sobre seu mundo e refletem sobre sua realidade e a

transformam e se transformam através dela.

A "estrutura - estruturante" de Bourdieu tem por objetivo superar a

dicotomia presente nas teorias objetivistas e subjetivistas. Neste sentido,

concordando com esta formulação teórica, procurei fazer uma análise que

83
tentasse conjugar a estrutura e o sujeito. E que me permitisse comprender se a

estrutura é interiorizada. Por este motivo, durante a fase de pesquisa de campo

com os trabalhadores de empreiteiras da Petrobrás, concretizei a convivência

com estes informantes durante o período em que se realizou-se o Congresso

de trabalhadores deste segmento. Além disso, mesmo sem o gravador

acionado estava sempre atento a todo o linguajar, todas as formas de enunciar

sua experiência com o trabalho. Através do boletim captei muitos termos e ao

entrevistar procurei saber seus significado. Então vejamos algumas dessas

descobertas:

As relações de trabalho podem ser analisadas objetivamente. Por exemplo,

através de um questionário, podemos perguntar se um certo indivíduo tem

carteira assinada, se o indivíduo tem uma jornada longa, etc. Essa matemática

das relações sociais é uma importante fonte de análise para a sociologia do

trabalho. Entretanto, se encerramos um estudo com uma análise quantitativa, a

sensação que se dá e a pergunta que se faz é a seguinte: onde estão os

sujeitos? Não verbalizam sobre suas condições de trabalho? Para dar conta

desses questionamentos é necessário ouvir os trabalhadores no que se

referem às suas reflexões e interpretações da realidade no trabalho.

Chupa Toda, é a forma irônica com a qual meus informantes apelidaram as

empresas que são sub-contratadas para prestar serviços. A análise semântica

do termo nos permite concluir a extrema ironia do significado dado pelos

trabalhadores estudados a estruturas objetivas - no caso uma empresa que

precariza ao máximo as condições de trabalho -. O termo se refere há uma

84
intensa exploração da "força de trabalho". A experiência com o trabalho não

anula a produção de significados, Reis chega a essa conclusão estudando uma

greve de escravos ganhadores em meados do século XIX:

"(...) não se trata de deduzir cultura de processos e relações


de trabalho, uma operação funcionalista conservadora, mas de
considerar que os escravos não suspendiam a produção de
significados culturais durante a produção de mercadorias e
serviços" ( Reis, 1993,p. 11)

Os trabalhadores de empreiteiras falam sobre suas condições de trabalho

através da crítica irônica. Isto é produção de significados, subjetivação de uma

experiência, um depoimento, mesmo que inconsciente às vezes.

A experiência com o desemprego também está presente nas falas, quando

se referem a ficar amarrando lata, estão dizendo do medo de ficarem

desempregados. Estão objetivando o subjetivo, uma situação estrutural, o

desemprego. E neste sentido, a fala é importante porque permite a exploração

de uma situação presente na vida deste segmento, são trabalhadores em

situação de trabalho precário, que ora estão empregados, ora estão

desempregados, pois trabalham muitas vezes por tempo determinado, uma

parada para manutenção de fábrica por exemplo. Trabalham por contrato. Este

trabalho é extremamente rotativo e instável, onde a noção de segurança e

estabilidade no emprego é ausente e m seus discursos e em sua experiência

com o trabalho.

A experiência com estratégias de subversão da ordem, também está

presente em suas falas, dá calor na carteira, quer dizer utilizar de meios

ilegais para colocar um carimbo de experiência profissional na carteira de

85
trabalho. São resistências simbólicas e estratégias para se inserir numa ordem,

que é opressiva e que lhe exige uma experiência profissional para arrumar

emprego. As estratégias de sobrevivência são construções sociais que

permitem aos de "baixo" o atendimento de suas necessidades imediatas. Por

esse motivo o objetivo de "dá calor" no gibi ( carteira de trabalho) é conseguir

um trabalho com mais facilidade. Estão objetivando uma necessidade subjetiva

e estão subjetivando uma necessidade objetiva, estrutural, que é a

necessidade de um trabalho, através de sua fala.

Outras falas nos colocam frente a frente com a experiência com o trabalho

e com a relação com a empresa para qual trabalham, sonrisal é o apelido

dado à refeição concedida pela empresa no horário de almoço, talvez fazendo

alusão ao mal-estar da ingestão. Bombril é o nome dado ao atestado médico,

perguntados sobre o motivo do apelido, informaram que é devido ao fato de ter

mil e umas utilidades, dentre as quais, abonar falta devido a uma "ressaca mal

curada" e a uma falta ao trabalho. Isto não é resistência simbólica ao trabalho

heterônomo?

Enfim, a fala enuncia e simboliza a experiência, subjetiviza o objetivo, ou

seja, "interioriza a exterioridade e exterioriza a interioridade". A "dupla

translação" de que nos informa Bourdieu, pode ser percebida através destes

enunciados, formas críticas e/ou irônicas de falar de uma situação de trabalho

precária que é objetiva e subjetiva. Como diz Bourdieu:

"(...) toda a estrutura social está presente na interação ( e, por


aí, no discurso): as condições materiais de existência delimitam
o discurso por intermédio das relações de produção lingüística
que elas tornam possíveis e que estruturam. As condições

86
materiais comandam, com efeito, não somente os lugares e os
momentos da comunicação(...) mas também a forma da
comunicação por intermédio da estrutura da relação de
produção na qual é engendrado o discurso." ( Bourdieu, 1983,
p.167)

A noção de uma realidade objetiva subjetivada na fala dos trabalhadores

foi um caminho que construí para aplicar empiricamente o modelo teórico de

que o objeto e o sujeito são partes indissociáveis na análise da vida social,

espero ter conseguido tal êxito. E a fala "nativa" permite lidar com a noção de

experiência socialmente construída. Pois "a relação precisa estar sempre

encarnada em contextos e pessoas reais" ( Thompson, 1987)

87
CAPÍTULO 3 - PERFIL DOS ENTREVISTADOS

O perfil dos trabalhadores terceirizados que analisamos é o seguinte:

Sobre a idade dos entrevistados, 46,8 % estão na faixa entre 31 e 40 anos.

24,2 % estão entre 41 e 50 anos e 19, 3% estão com idade entre 19 e 30 anos.

Podemos perceber que a maioria dos entrevistados (70 %) tem mais de 30

anos até 50 anos e trabalham de forma bastante rotativa e instável.

Imaginemos um sujeito com mais de 30 anos e que ainda não se estabilizou na

vida, mais ainda, imaginemos a cobrança da família, dos vizinhos em cima de

um indivíduo que trabalha por “soluço”, ora trabalha, ora têm que dizer

envergonhado que não estão trabalhando, imaginemos a cobrança que ele se

faz, nesta situação, o sujeito não deve ficar a vontade, pois a noção de projeto

de vida fica bastante comprometida, como pensar o longo prazo? E mais, qual

perspectiva de vida pode ter um indivíduo com 50 anos e que foi transformado

num trabalhador irregular, instável? Tomo por hipótese que estes trabalhadores

se sentem extremamente desconfortáveis com essa situação, pois a marca da

instabilidade precariza subjetivamente a idéia de provedor, de “encaminhado

na vida”. Se concordamos com Sennettt ( 1999) que o estar trabalhando marca

no sujeito uma caractere reconhecido e valorizado socialmente, a incerteza

desta dimensão na vida ( o não estar trabalhando) “corrói o seu caráter”.

Portanto o “passar da idade” pressiona o indivíduo a dar satisfações cada vez

maiores ao seu grupo social. E o instável não pode dar certezas e nem

88
garantias nem para ele nem para seus próximos. Esta é uma forma de

precarização subjetiva.

TABELA 1 - FAIXA ETÁRIA

Distribuição dos Entrevistados por Faixa Etária


Faixa Etária Freqüência Percentual
19-30 anos 13 21,0
31-40 anos 29 46,8
41-50 anos 15 24,2
51-60 anos 5 8,1
Total 62 100,0

No que se refere a escolaridade obtivemos os seguintes resultados: 72,6%

dos entrevistados têm até o segundo grau incompleto. Por volta de 56% só

estudaram no primeiro grau. Este dado pode nos demonstrar o quão é relativa

esta tese de que a qualificação formal é requisito básico para trabalhar numa

Indústria petroquímica na RMS. O saber fazer aprendido no cotidiano do

trabalho, ou seja, a qualificação informal supera a qualificação formal, visto que

mais de 2/3 dos trabalhadores entrevistados não possuem o nível médio.

TABELA 2
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR ESCOLARIDADE

Escolaridade Frequência Percentual


1º Grau Incompleto 24 38,7
1º Grau Completo 17 27,4
2º Grau Incompleto 4 6,5
2º Grau Completo 17 27,4
Total 62 100,0

89
Sobre a composição étnica, da população investigada 74,2% são de cor

preta, o que confirma a tese de que os negros ocupam postos de trabalho mais

precários que os de cor branca no mercado de trabalho brasileiro.

TABELA 3
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR COR

Cor Frequência Percentual


Preto 46 74,2
Branco 6 9,7
Pardo 2 3,2
Não Respondeu 8 12,9
Total 62 100,0

A composição de gênero também revela que o tipo de trabalho é

essencialmente masculino, cerca de 90,3% dos entrevistados são do sexo

masculino e 9,7% Não responderam. As mulheres representam – segundo

informações dos Dirigentes sindicais -menos de 2% da categoria e quando

trabalham nestas atividades trabalham como: limpadora de resíduos industriais,

tendo raros casos de mulheres que trabalham como soldadora de torre por

exemplo.

TABELA 4
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR SEXO

Sexo Frequência Percentual


Masculino 56 90,3
Não Respondeu 6 9,7
Total 62 100,0

Sobre a questão do tempo de serviço temos a seguinte situação 51,6 %

tem até três anos empregados; 12, 9 % tem de 3,1 a 6 anos de serviço.

90
Podemos perceber que este é um trabalho rotativo, pois os que tem mais de 6

até 9 anos de tempo de serviço são somente 6,5 % da amostra.

Distribuição dos Entrevistados por faixa de Tempo de Serviço

60,0
51,6
50,0
Percentual

40,0

30,0

20,0
12,9
6,5 8,1 6,5
10,0
3,2 4,8 3,2
1,6 1,6
0,0

Faixa de Tempo de Serviço

No que se refere a pergunta: em quantas empreiteiras já trabalhou? Os

resultados são os seguintes: cerca de 53,1 % já trabalhou em mais de dez

empreiteiras. O que pode comprovar a tese de que exercem um trabalho com

alto grau de rotatividade. Ë o que chamo de trabalhador iôiô35. Fazendo alusão

a questão de que as experiências de trabalho são intercaladas com períodos

de não trabalho. A idéia de carreira aqui então é impossível e a idéia de um

trabalho fixo e regular é só um desejo. Somente 8,1% só trabalhou em uma

empreiteira.

91
TABELA 5
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR EM QUANTAS
EMPREITEIRAS JÁ TRABALHOU

Em Quantas empreiteiras já Frequencia Percentual Percentual


trabalhou Cumulativo
1 5 8,1 8,1
2 2 3,2 11,3
3 7 11,3 22,6
4 4 6,5 29,0
5 3 4,8 33,9
6 5 8,1 41,9
7 1 1,6 43,5
8 2 3,2 46,8
10 11 17,7 64,5
11 1 1,6 66,1
12 2 3,2 69,4
15 4 6,5 75,8
18 1 1,6 77,4
20 8 12,9 90,3
30 3 4,8 95,2
45 1 1,6 96,8
49 1 1,6 98,4
50 1 1,6 100,0
Total 62 100,0

Em relação ao salário que recebem 30, 6% ganham de 1 até 3 salários

mínimos e 59,7 % ganham de mais de 3 até 6 salários mínimos. Se somarmos

as duas colunas chegaremos a constatação que do total dos entrevistados 90,

3 % ganham de 1 a até seis salários mínimos no máximo. (comparar com os

níveis de salário dos petroleiros). Não podemos fazer uma análise em

separado dos dados devido a criação de faixas de renda, tipo: 1 a 3 SM, mais

de 3 a 6 SM36.

35
Trabalhador iôiô é aquele trabalhador extremamente rotativo que muda de trabalho a todo o momento
36
No momento em que me encontrava fazendo as últimas correções ( erros de digitação etc.), para enfim
entregar esta à banca examinadora tive a curiosidade de voltar aos questionários e fazer um rol estatístico

92
TABELA 6
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR SALÁRIO MENSAL

Salário Mensal Frequência Percentual


1 a 3 SM 19 30,6
mais de 3 a 6 SM 37 59,7
mais de 6 a 10 SM 3 4,8
mais de 10 SM 1 1,6
Não Respondeu 2 3,2
Total 62 100,0

Em relação à pergunta quantas pessoas moram em casa: 66,1% moram

com mais de 4 pessoas no domicílio. Se levarmos em conta que na maioria dos

casos os homens são os principais provedores do lar, podemos então cruzar

dados e perceber que quase 60% ganham entre 3 a 6 SM e cerca de 66,1%

moram com mais de quatro pessoas em casa. Isto demonstra a relativa

insuficiência dos salários auferidos para sustentar uma família de mais de

quatro pessoas, o que possivelmente, obriga os membros adultos dessa família

a trabalharem.

das remunerações, o resultado foi o seguinte, utilizando o salário mínimo de R$ 180, 00 reais obtive o

93
TABELA 7
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR QUANTAS
PESSOAS MORAM NA SUA RESIDÊNCIA
Quantas pessoas moram na sua residência Frequência Percentual
0 1 1,6
1 2 3,2
2 5 8,1
3 13 21,0
4 11 17,7
5 17 27,4
6 6 9,7
7 4 6,5
8 2 3,2
9 1 1,6
Total 62 100,0

Sobre a pergunta se possuem plano de saúde pago pelo empregador, cerca de 80,6%

respondeu negativamente, ou seja, não tem plano de saúde pago pelo empregador. Este

dado permite comprovar que o trabalho que exercem tem um grau de precarização

bastante acentuado, pois trabalham nas instalações de uma Refinaria, que tem um alto

grau de risco à saúde e não possuem nenhum tipo de assistência médica nas empresas

para qual trabalham.

TABELA 8
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR O EMPREGADOR LHE DÁ
PLANO DE SAÚDE

O empregador lhe dá Plano de Saúde Frequência Percentual


Sim 9 14,5
Não 50 80,6
Não Respondeu 3 4,8
Total 62 100,0

Entretanto encontramos um dado positivo: dos entrevistados 87,1 % possui

carteira de trabalho assinada, 1,6 % não tem carteira assinada e 11,3 % não

resultado de que cerca de 55% das pessoas entrevistadas ganham até 3 salários mínimos.

94
responderam. Esta é uma dimensão importante dos resultados políticos

conseguidos pela criação do Sindicato da categoria que possibilitou o avanço

de questões importantes como a posse de uma carteira assinada, situação esta

que não se verificava quando do início da terceirização na Rlam, onde a

maioria das empresas empreiteiras não assinavam a carteira de seus

empregados.

A precarização de que falamos pode ser entendida por outras carências,

tais como: equipamentos de proteção industrial que se esfacelam com pouco

tempo de uso, instabilidade grande, rotatividade e incertezas. Além do que a

maioria dos acidentes com trabalhadores na fábrica ocorre entre os

terceirizados.

TABELA 9
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR POSSUI CARTEIRA DE
TRABALHO ASSINADA

Possui carteira de trabalho assinada Frequência Percentual


Sim 54 87,1
Não 1 1,6
Não Respondeu 7 11,3
Total 62 100,0

Sobre as ocupações dos entrevistados, cerca de 17 % são ajudantes (

práticos, de caldeireiro, de mecânico, de montagem e de soldador%, em

seguida vem soldadores, 12,9% , caldeireiros, 11,3%, e 8,1% de encanadores,

podemos depreender deste perfil uma característica central no segmento:

trabalhadores de manutenção industrial, pois os ocupações analisadas

confirmam este dado.

95
TABELA 9
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR FUNÇÃO

Função Frequencia Percentual


Ajudante 6 9,7
Ajudante de caldeireiro 1 1,6
Ajudante de Mecânico 2 3,2
Ajudante de Montagem 1 1,6
Ajudante de Soldador 1 1,6
Apontador 1 1,6
Assistente Técnico 1 1,6
Caldeireiro 7 11,3
Carpinteiro 1 1,6
Eletricista 4 6,5
Encanador 5 8,1
Encarregado 2 3,2
Encarregado de Tubulação 2 3,2
Instrumentador 1 1,6
Isolador 2 3,2
Jertista 1 1,6
Macaviqueiro 1 1,6
Manutenção Elétrica 1 1,6
Mecânico 5 8,1
Mecânico Ajustador 1 1,6
Mestre de Tubulação 1 1,6
Montador de Andaime 2 3,2
Montador de Suporte Estrutura 1 1,6
Motorista 2 3,2
Não Respondeu 1 1,6
Soldador 8 12,9
Técnico em Instrumentação 1 1,6
Total 62 100,0

Para responder a minha hipótese sobre a segmentação que ocorre entre

trabalhadores de empreiteiras e trabalhadores da Petrobrás os resultados

encontrados são os seguintes: 82, 3% disseram que há lugares na Refinaria

onde lhes são proibido o acesso. Quando estive participando do Congresso de

Trabalhadores de base do Siticcan pude perceber no plano de seus

depoimentos que lugares são esses, geralmente não podem freqüentar

refeitórios, não entram pelo mesmo portão na fábrica, não freqüentam os

mesmos vestiários e até mesmo frequentar a agência do Banco do Brasil que

96
fica no interior da Refinaria é proibido. Um trabalhador me informou que fora

tentar tirar um extrato na agência interna da Refinaria e foi proibido o acesso

por se tratar de um trabalhador de empreiteira. Acompanhemos este

depoimento:

‘ Me sinto discriminado na seguinte questão, todo dia quando


vou deixar o serviço tenho que ser revistado pelos seguranças
da Petrobrás e sei que os trabalhadores da empresa não
passam por revista então acho que isto é discriminação” (
depoimento de Edvaldo, trabalhador de empreiteira)

TABELA 10
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE SE EXISTEM
LUGARES ONDE LHE É PROIBIDO O ACESSO NA REFINARIA

Existem lugares proibidos Frequência Percentual


Sim 51 82,3
Não 10 16,1
Não Sabe 1 1,6
Total 62 100,0

Entretanto uma questão fica complexa: quando perguntamos se os

trabalhadores de empreiteiras já se sentiram discriminados por petroleiros, a

situação é a seguinte: cerca de 40,3% disseram que sim e 58,1% disse que

nunca se sentiram discriminados. Há dois tipos de discriminação, a que dá do

petroleiro para com o trabalhador de empreiteira e a que se dá por parte da

Petrobrás. Este dado permite algumas considerações importantes, como pode

82,3% acharem que existem lugares na Refinaria onde lhes são proibido

acesso e 58,1 % dos entrevistados não se sentirem discriminados? Esta é

uma questão que procurarei desenvolver em estudos posteriores mas tomo por

97
hipótese que há uma dificuldade dos trabalhadores de perceberem a

discriminação por parte dos petroleiros. Uma pergunta, do ponto de vista lógico

discriminar não significa classificar, fazer uma seleção descritiva? Embora os

trabalhadores de empreiteiras, em sua maioria não se sintam discriminados

pelos Petroleiros, devem por hipótese se sentirem discirminados pela

Petrobrás, observem o que responde37 um dirigente sindical: “Alguns

trabalhadores de empreiteira se consideram discriminados pelos petroleiros e

relutam em fazer greve conjunta” ( depoimento de um dirigente sindical)

Ainda explorando a questão anterior diria que os trabalhadores de

empreiteiras em um contigente significativo se considera discriminado 40,3 %

como já havia dito. Mas quais são os tipos de discriminação que mais sentem e

quem são dentro da Petrobrás os que mais discriminam? Em relação à

discriminação se queixam principalmente de empregados da área de

segurança da Petrobrás, o processo de revista das sacolas na saída e na

entrada da fábrica, se queixam de empregados da Petrobrás que não gostam

que empregados de empreiteiras adentrem suas salas, se queixam de placas

na entrada de algumas salas onde pode se vê a frase ‘ë proibido a entrada de

trabalhadores de empreiteiras’.

TABELA 11
VOCÊ JÁ SE SENTIU DISCRIMINADO DENTRO
DA RLAM POR PETROLEIROS

Você já se sentiu discriminado Frequência Percentual

37
A pergunta era a seguinte; Como tem sido o comportamento do sindicato e dos trabalhadores de
terceiras quando ocorre alguma greve de empregados contratados diretamente pela empresa/ Como foi o
comportamento do sindicato quando da última greve da Petrobrás? Esta pesquisa foi feita pela prof.a
Graça Druck e Roseli Afonso bolsista de IC: O Nome da pesquisa era Terceirização; as visões do
Sindicato

98
dentro da Rlam por petroleiros
Sim 25 40,3
Não 36 58,1
Não Respondeu 1 1,6
Total 62 100,0

Num depoimento a questão do perfil do discriminado fica mais exposto;

“(...) a discriminação não seria bem nessa parte, assim das


condições de trabalho. Porquê os trabalhadores de empreiteira
por exemplo que trabalham de manhã (...) tem a divisão: tem o
pessoal de manutenção que trabalha direto com os
funcionários da Petrobrás. Esses, sofre (sic) menos
discriminação porque esse usa toda instalação da Petrobrás,
certo? E tem os trabalhadores das empresas que é(sic)
contratada para fazer uma obra (...) aí os trabalhadores dessa
empresa por exemplo ele quer tomar água, aí tem os
bebedouros na área da Petrobrás, dentro das unidades pro
funcionário tomar, mas muitas vezes a água pelo contigente, aí
a água esquenta. E na sala dos operadores tem um
bebedouro, que se ele for lá ele poderia tomar água, água
gelada. Aí o pessoal da Petrobrás procura o quê? Evitar que
esse pessoal tenha acesso a essas coisas. Quer dizer, porque
ali tá pro funcionário da Petrobrás. Né? É sala com ar
condicionado, é bebedouro com água mineral, certo? É a
alimentação deles, é por exemplo, tem uma cozinha dentro da
sala que eles ficam lá trabalhando. Ai o trabalhador quer Ter
acesso a esses locais e os petroleiros na verdade não
concordam. Certo? A discriminação tá aí. Porque é nessa
situação. Porque o Petroleiro ele não quer que o trabalhador de
empreiteira invada a privacidade dele, certo?” ( depoimento de
diretor de base, Paulinho)

Alem disse esse intenso processo de segmentação pode ser percebido nesta

passagem:

“ o vestiário do pessoal da Petrobrás tem uma pessoa lá, uma


ou duas pessoas a depender do tamanho do vestiário, tem
manutenção direto. Ficam limpando, é entupir alguma coisa, o
cara vai lá e tal e desentope. Os funcionários da Petrobrás têm
os armários, o banheiro, o vestiário é todo azuleijado, tudo
direitinho. E o da empreiteira é de construção, é malmente
rebocado e pintado. Os funcionários no vestiário deles, Têm
bancos pra sentar. Quer dizer pode sentar, pode vestir sua
calça e tal. O da empreiteira não. Só tem lá as parede, o

99
quadrado com o chuveiro e os armário (sic) Aí o cara para
calçar o sapato, pra vestir a roupa te que vestir em pé mesmo”
( depoimento de um dirigente sindical)

Durante minha permanência no V Congresso de Trabalhadores de base do

Siticcan pude observar algumas queixas dos trabalhadores no que se referia às

condições do vestiário. Falavam que precisavam tomar banho em cima de uma

tábua para que seus pés não entrassem em contato com a água suja que

ficava entupida no local do chuveiro.

Portanto as condições em que se dá a desigualdade social faz com que

trabalhadores convivam num espaço fabril extremamente hierarquizado e

separado. A separação é percebida no plano da subjetividade dos que

trabalham em postos mais precários. Fica uma pergunta será que ‘os de cima’

os trabalhadores estáveis também percebem a precariedade dos trabalhadores

de empresas terceiras? Esta é uma dimensão do estudo que não está

contemplado nem nos objetivos e nem nas hipóteses do presente estudo mas

que explorarei num estudo que continuarei fazendo posteriormente sobre este

tema.

A questão da hierarquia também está presente na relação entre

trabalhadores de empreiteiras e trabalhadores da Petrobrás. Nenhum

trabalhador da Petroquímica trabalha na mesma função que um trabalhador de

empreiteira, os trabalhadores da Petrobrás são supervisores do trabalho de

trabalhadores de empreiteiras. Se o trabalhador da Petrobrás for um caldeireiro

- em sua formação profissional - trabalhará como Chefe de Caldeiraria.

100
Portanto há uma relação hierárquica entre trabalhadores estáveis e instáveis

na Rlam. Outro dado é que o trabalho mais pesado quem exerce é o

trabalhador da empreiteira.

Voltando a discussão dos dados, em relação à pergunta se se consideram

trabalhadores petroleiros38, o resultado é o seguinte: 80,6 % disse não se

considerarem. Se consideram nesta condição apenas 12,9 % do total de

entrevistados. Os outros 80,6% se considera trabalhadores de empresas de

Montagem e Manutenção Industrial. Ë importante cruzar com dados sobre

tempo de serviço; cerca de 58,1 % tem até três anos de serviço. Entretanto

30% tem mais de 6 anos de serviço, mais somente 12,9 % se consideram

petroleiros . Podemos descartar o tempo de serviço como elemento

constituidor de uma identidade profissional e social. Isto ajuda a explicar

porque o sindicato não considera que o aposentado da Petrobrás possa ser

um representado do sindicato.

TABELA 12
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR COMO SE CONSIDERA EM
RELAÇÃO AO VÍNCULO COM SEU TRABALHO

Como se considera em relação ao vínculo Frequência Percentual


Trabalhador petroleiro sem direitos iguais 8 12,9
Trabalhador de empreiteira de montagem 50 80,6
e manutenção industrial

38
Ser petroleiro no sentido mais amplo seria trabalhar numa empresa que tem como atividade fim a
produção e refino do Petróleo como aqui considero. Mas historicamente a condição de petroleiro no
imaginário social é permeada de categorias como: empregado da Petrobrás, bom emprego e situação
sócio-econômica privilegiada, situação esta que perdura embora estudos ressaltem precarização entre
trabalhadores da PETROBRÁS. NUNES, João. Dono de minh’alma – o exercício do poder disciplinar
nas sociedades modernas sob a ótica de Michel Foulcalt. Monografia de Conclusão de bacharelado em
Ciências Sociais UFBA/ 1998

101
Não Respondeu 4 6,5
Total 62 100,0

Embora em nossa acepção estes trabalhadores tenham dificuldade de

perceber que são petroleiros contratados de forma indireta. Esta passagem

enuncia que o sindicato:

“Hoje, conjuntamente, lutamos pelo reconhecimento do vínculo


empregatício com a Petrobrás porque entendemos que todos
os que trabalham na área de petróleo são petroleiros e,
portanto, não podemos admitir qualquer
discriminação”.(Boletim o Maçarico,94)

Ademais parece que o discurso sindical não encontra ressonância na base,

entre os trabalhadores. Pois estes rechaçam a identidade de petroleiro39

mesmo que indireto. Não é difícil entender isto, como podem se sentir

petroleiros se convivem com petroleiros da Petrobrás e percebem que eles

são mais bem pagos e tem uma vida melhor que a sua?

A própria valorização social que tem o petroleiro é uma justificativa para

que trabalhadores de empresas empreiteiras da Petrobrás não se identifiquem

com essa condição, pois portam um status profissional e social muito menos

valorizado. No imaginário social ser petroleiro é Ter bom emprego, boa renda e

condições de vida satisfatórias.

39

102
Sobre a questão de saber se a Petrobrás dá algum tipo de curso de

prevenção de acidentes e/ou qualidade total cerca de 58,1% disse que

receberam um desses cursos, enquanto 30,6% disse que não receberam

nenhum tipo de curso. Situação esta preocupante pois estarão despreparados

para agir caso estejam em locais de grande periculosidade.

TABELA 13
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR A PETROBRÁS LHE DÁ
ALGUM CURSO DE QUALIDADE TOTAL OU PREVENÇÃO DE ACIDENTES

A Petrobrás lhe dá algum curso de Frequência Percentual


qualidade total ou prevenção de acidentes
Sim 36 58,1
Não 19 30,6
Não Respondeu 7 11,3
Total 62 100,0

Sobre a questão de se fazem algum tipo de biscate, os dados são

reveladores: somente 11,3 % disseram fazer algum tipo de biscate e 83,9 %

disseram não fazer nenhum tipo de biscate para complementar a renda. Dos

que disseram fazer biscate, um fazia de eletricista, um de mecânico, um

Pedreiro e eletricista, um fazia pescaria e um vendedor, outros dois faziam de

pedreiro. É possível que não haja necessidade de biscate por dois motivos:

falta de tempo para a execução dos mesmos e a posse mesmo que instável de

um trabalho com um certo grau de previsão de renda mensal, embora não se

tenha segurança de quanto tempo ficarão empregados, quando estão nesta

situação não têm precisão de realizar trabalhos mais precários.

103
TABELA 14
DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR FAZ BISCATE PARA
COMPLEMENTAR A RENDA

Faz biscate para complementar a renda Frequência Percentual


Sim 7 11,3
Não 52 83,9
Não Respondeu 3 4,8
Total 62 100,0

Em relação à situação de como se divertem ou o que fazem nos momento

de folga, cerca de 17,7 % gostam de freqüentar praias, 8,1 % freqüentar

igrejas, 6,5 % preferem sair com a família, 4,8 % freqüentar bares e 12, 9 %

sair com amigos, cerca de 41,9% disse gostar de fazer outras coisas que não

estão previstas na pergunta do questionário e dentre estas outras coisas tem:

jogar um babinha, frequentar cinemas, praticar atletismo ou esportes, ler, tomar

umas cervejas, fazer conserto em casa, limpar roça, jogar dominó, sair para

fazer serviços burocráticos, jogar sinuca, pescar, ficar em casa e até um que

disse gostar de ficar lendo livros de Jorge Amado.

104
TABELA 15
DISTRIBUIÇÃO POR ENTREVISTADOR POR O QUE VOCÊ COSTUMA
FAZER

FORA DO TRABALHO NOS MOMENTOS DE FOLGA

O que você costuma fazer fora do Frequência Percentual


trabalho nos momentos de folga
sair com os amigos 8 12,9
sair com colegas de trabalho 3 4,8
frequentar praia 11 17,7
frequentar bares 3 4,8
fequentar igreja 5 8,1
Sair com a famíla 4 6,5
Outras coisas 26 41,9
Não Respondeu 2 3,2
Total 62 100,0

No que se refere a questão do lazer isto é importante para demonstrarmos

nossa opção teórica de entender uma experiência de classe como constituída

de aspectos da vida que não necessariamente estão presentes no local de

trabalho, portanto a cultura, o universo simbólico devem ser valorizados na

análise de uma classe social. (Cf:Thompson,1987 )

No que se refere a questão do lazer é importante refletir sobre esta tese

apresentada no Congresso de Trabalhadores:

“ Fundação da Área de lazer do trabalhador – Nós somos


donos de um patrimônio esquecido, com uma boa área e bem
localizada, no entanto não desfrutamos de nada. Por isso,
estamos querendo transformar esse imóvel, em área de lazer,
onde possamos levar nossos filhos, e até quem sabe nossas
esposas, para que os mesmos sintam o que é um sindicato, e o
que é política e para que se faça novas amizades.
Nessa área de lazer poderemos Ter dominó, baralho, dama,
sinuca, totó, vídeo game, um barzinho que poderá ser
arrendado, dentre outros.
No entanto são idéias para ser analisadas e discutidas. O que
nós queremos é que os trabalhador tenha outra visão do

105
sindicato, que não é só para resolver os problemas da área de
trabalho, mas também para oferecer lazer aos trabalhadores,
para que possamos esquecer um pouco essa lida tão
desgastada e estressante” (Tese 06 do V Congresso de
Trabalhadores de base Siticcan – Mário Lázaro, trabalhador da
Techint).

Portanto a preocupação de levar a família para uma área de lazer do

sindicato nos permite resgatar a trajetória destes trabalhadores, nos permite

dialogar - através de seus escritos - com seu universo simbólico. Em síntese,

com suas experiências coletivas e seu imaginário. É interessante observar a

relutância com que ele diz ‘onde possamos levar nossos filhos e até quem sabe

nossas esposas”. Pode ser que esta seja uma atitude machista mas como diria

Thompson, eles vivem sua própria experiência e nós não. Com isso é bom

afirmar, não estou legitimando o machismo e a relutância do trabalhador de

levar a espôsa ao lazer, mas apenas apresentando uma constatação

Portanto foi possível demonstrar que há:

Uma precarização do convívio entre trabalhadores da Petrobrás e das

Empreiteiras e um processo acirrado de segmentação no espaço fabril,

evidenciados pelo esquadrinhamento do lugar do terceirizado: banheiros,

refeitórios, locais de entrada e saída, vestiários todos são separados.

Trabalhadores de empreiteiras e petroleiros pouco convivem e se relacionam.

106
Uma precarização das condições objetivas de trabalho acompanhada de

uma precarização no plano da subjetividade, extrema rotatividade, instabilidade

e incerteza. Evidenciados, por exemplo, na falta de um plano de saúde.

Uma negação da identidade de ‘ser petroleiro’ mesmo indireto.

Trabalhadores de empreiteiras não se consideram Petroleiros.

Uma baixa escolarização se comparada a escolarização de trabalhadores

da Petrobrás .

Uma rotatividade intensa. É o que chamo de “trabalhador iôiô”, aquele

típico trabalhador que fica na situação de estar “empregado” e estar

desempregado como muita frequência. A instabilidade é sua marca, existem

diversos outros estigmas sobre este sujeito: peão, biscateiro, paradeiro, só

trabalha em paradas, trabalhador de trecho, só trabalha em obras etc.

O perfil demonstrou a precarização nas duas ordens que foram propostas:

objetiva e subjetiva. A precarização é objetiva – subjetiva, mas analisando as

condições materiais de trabalho podemos vislumbrar uma precarização

objetiva: equipamentos de proteção industrial de baixa qualidade, falta de plano

de saúde, falta de sanitários, refeitórios e banheiros em boas condições de uso,

transporte precário etc. No plano subjetivo temos a incerteza, a falta de

estabilidade no trabalho, a extrema rotatividade, a indiferença do outro

segmento, a discriminação da empresa e do petroleiro etc. Portanto a “dupla

translação” se dá: as duas dimensões da precarização se interpenetram

107
moldando uma situação de precariedade, no que se refere, às condições de

trabalho e de vida dos trabalhadores de empreiteira.

108
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi o de apresentar considerações sobre a

exclusão no trabalho, a diferenciação e a segmentação a partir das percepções

que o trabalhador de empreiteira ( terceirizado) na Refinaria Landulfo Alves tem

deste processo. Neste sentido, tentei reconstruir esta experiência, na fala, nos

escritos, nas entrevistas e nas observações que fiz com os próprios. A

condição de trabalhador industrial deve ser entendida historicamente, e então,

este processo de terceirização que acontece em todos os setores de atividade

econômica ( indústria, serviços, comércio, agricultura) tem levado a uma

fragmentação crescente na condição de ser trabalhador. Se num período

histórico anterior a idéia de trabalhadores unidos era um anseio, com o

processo de segmentação e diferenciação social que ocorre atualmente torna-

se este um desafio complexo, ou seja, como buscar unidade na diversidade

e/ou na desigualdade crescente entre trabalhadores cada vez mais

heterogêneos?

Portanto assiste-se a um processo de exclusão no trabalho, de direitos

sociais e trabalhistas, de precarização das condições de trabalho tanto

objetivas quanto subjetivas. Ocorre o que alguns autores ( Druck, 1999.

Antunes, 1995) chamam de surgimento de trabalhadores de dois estatutos:

trabalhadores de primeira categoria ( os estáveis, com direitos trabalhistas e

sociais preservados, mesmo com o processo de perdas de alguns destes

direitos trabalhistas e sociais); e os de segunda categoria ( trabalhadores

109
precários, sem estabilidade, sem direitos trabalhistas consolidados).

Algumas descobertas foram importantes e não estavam presentes nas

hipóteses construídas:

Falo da distinção do perfil do discriminado, são discriminados mais os

trabalhadores que trabalham em Unidades da Petrobrás em construção do que

os que trabalham em dependências da Petrobrás.

Um outro resultado interessante é que embora o Sindicato em seus

boletins fale de uma condição de Petroleiro com vínculo indireto, este discurso

não encontra apoio entre os trabalhadores, que em sua grande maioria não se

consideram trabalhadores petroleiros mesmo que indiretos. Não foi possível

saber se gostariam de se tornar trabalhadores diretos da Petrobrás, pois não

havia esta pergunta no questionário.

Por fim ressaltamos que esta categoria estudada nos permitiu aplicar

nossa hipótese teórica da 'estrutura estruturante" de Bourdieu, acredito poder

ter demonstrado através deste trabalho que os sujeitos estudados interpretam

as situações estruturais em que vivem e que neste sentido restrito não são

robôs autômatos da estrutura, pensam, refletem e experienciam suas

condições de trabalho e de vida. Em relação à experiência e articulação de

interesses busquei adotar o conceito de classe como um 'fazer-se" que não

está parado no tempo e não pode ser dissecado em sua estrutura. (cf.:

Thompson)

110
A partir das hipóteses levantadas obtivemos os seguintes resultados:

Os trabalhadores de empreiteiras da Rlam sofrem uma precarização

objetiva das condições de trabalho, isto é uma realidade, a maioria dos

trabalhadores não possuem plano de saúde, não portam Equipamentos de

Proteção Industrial (EPI's) em boas condições de uso, são as maiores vítimas

de acidentes inclusive fatais, não possuem nenhum tipo de estabilidade no

emprego.

Pudemos constatar um processo acirrado de segmentação no espaço

fabril, lugares onde há proibição de acesso, tais como: refeitórios, vestiários,

portão de acesso à entrada e saída diferenciados, proibição de utilizar agência

bancária no interior da Refinaria, em suma, proibição de freqüentar diversos

espaços da instituição.

Existe uma precarização do convívio entre trabalhadores da Petrobrás e

das Empreiteiras, evidenciados em situações tais como: não terem tido

interesse de realizar uma greve conjunta com os Petroleiros em 1995.

Sobre a questão de portarem um status social e profissional menos

valorizados esta situação é possível de ser identificada na condição da recusa

do status de trabalhador petroleiro.

Em relação a questão de não se incorporarem na cultura organizacional da

111
Petrobrás, pudemos observar como indício disto: falta de acesso às

instalações da empresa, falta de programas que estimulem a convivência entre

trabalhadores da empresa e trabalhadores de empreiteiras, a própria

desconfiança generalizada da empresa, no que se refere, a revista diária das

sacolas e pertences dos trabalhadores de empreiteiras, discriminação por parte

dos seguranças da Petrobrás etc..

Em síntese, os trabalhadores terceirizados da Refinaria Landulfo Alves da

Petrobrás se inserem num trabalho segmentado, com aguda diferenciação

social e precário. Foi com a intenção de reconstruir suas trajetórias e suas

significações frente ao processo de terceirização que fiz este trabalho, espero

que tenha conseguido tal intento.

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