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A MATURIDADE DA IGREJA
Efésios 4.7-16

É notório que a sociedade se equipa e se prepara o início de um novo milênio. Um


milênio esperado como o alvorecer da raça humana, com sonhos, conquistas, a
reformulação de antigos e ultrapassados valores, e a incorporação de novas
perspectivas de vida.

É o futuro que chegou! E a Igreja, como tem se preparado para essa nova realidade
na História? Teria a Igreja Cristã, apesar de seus dois mil anos de existência, a
maturidade suficiente para se renovar, sem, contudo, perder sua identidade, e
responder aos desafios do novo milênio?

Teria a Igreja Cristã, a partir de uma geração de cristãos alienados em seus


louvorzões, encharcados do discurso da Confissão Positiva e da prosperidade vazia,
que menosprezam a História e repudiam seu passado, maturidade, vivência cristã e
enraizamento de valores para subsistir diante das mudanças projetadas pela
sociedade para o terceiro milênio?

A maturidade está ligada à realidade das experiências vividas e das lições aprendidas
no decorrer da existência de uma pessoa. O tema da maturidade, apesar de renegado
por alguns teólogos, tem sido explorado na Bíblia para o despertamento e
enriquecimento da Igreja de Deus. Paulo, ao escrever aos cristãos em Corinto,
repreende-os pela imaturidade espiritual.

Assim, como em Corinto, tem muita gente que está há muito tempo na Igreja, mas é
infantil, criança em Cristo Jesus. Crente imaturo que vive criando problemas e, por
isso, Paulo afirmava: "Não vos pude falar como a espirituais, e sim, como a carnais,
como a crianças em Cristo... leite vos dei a beber, não vos pude dar alimento sólido,
pois não podíeis suportar..." (I Co 3.1-4).

Uma Igreja imatura, é resultado de uma liderança que não amadureceu, não
desenvolveu e nem progrediu. A vida de seus membros, há de projetar um
comportamento infantil e problemático, pondo em risco, inclusive, sua trajetória como
comunidade. Por isso, vejamos algumas realidades concernentes à maturidade da
Igreja:

1. CARACTERÍSTICAS DE UMA IGREJA IMATURA


A primeira pergunta que podemos fazer é: Quais as características de uma Igreja
imatura? Podemos destacar alguns itens, por exemplo:

Insensibilidade espiritual - Em Mateus 11.16-19, Jesus conta uma parábola onde as


crianças estavam brincando. No verso 18, refere-se a João Batista - "Não comia e nem
bebia e diziam: tem demônio". No verso 19, afirmavam contra Jesus, que comia e
bebia: "eis aí um glutão e um bebedor de vinho".

Jesus compara essas pessoas a crianças que não se satisfazem com nada, que são
insensíveis a tudo ao seu redor. Gente que, na Igreja, nunca está contente com nada.
Gente que reclama de tudo.

Nada está bom. Nada satisfaz. 0 problema não é a Igreja, não é a liderança, não são
as atividades. O problema é ela mesma: é a imaturidade que impera em seu coração
endurecido e insensível. Será que aqui, em nossa Igreja, temos gente desse jeito?

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Ambiente de intrigas, divisões e partidarismos - A Igreja de Corinto gabava-se dos


dons espirituais e dos sinais que eram realizados em seu meio. Achavam-se os
maiorais da espiritualidade

Porém, a despeito de tudo isso, Paulo os chama de carnais, infantis, imaturos e


crianças que necessitam de leite. Por que motivo Paulo faz esta análise? Por causa
das divisões, dos partidarismos, das facções, das "panelinhas", das rixas infundadas,
das dissensões nunca tratadas (I Co 1.11,12 e 3.1-4).

Uma Igreja que agasalha em seu meio partidarismos, é imatura. E crente que apoia
divisão, contendas e "panelas", ainda não sabe o que é crescimento espiritual, nunca
progrediu, vive no leite da fé, e só dá trabalho aos outros. Será que em nossas igrejas
temos gente assim: fofoqueira, incentivadora de partidos, gente que se realiza com
intrigas entre irmãos?

Superficialidade doutrinária - Uma terceira característica da imaturidade na vida de


uma Igreja, é que ela vive como menino: agitada de um lado para o outro, correndo
para lá e para cá, atrás de todo vento de doutrina (Ef 4.11-14; Hb 5.12,13).

Ou seja, em ambos os textos, a Palavra destaca a superficialidade doutrinária. Gente


que tem coceira nos ouvidos quando se depara com doutrinas mais densas e sólidas;
não consegue suportar, adoece, enfraquece - pois ainda não conhece o progresso
espiritual.

Consciência equivocada a respeito de si mesma - Uma quarta característica de


uma Igreja enferma pelo infantilismo espiritual, é uma visão deformada de si mesma.
Veja a Igreja citada em Apocalipse 3.17.

Uma percepção triunfalizante, arrogante, pomposa e "em-si-mesmada". Uma Igreja


imatura é cheia de si, vaidosa, autossuficiente, autoglorificante e cega. Não enxerga
com clareza. Não atenta para o que, de fato, é e para onde está indo.

2 - A MATURIDADE DA IGREJA PARA O NOVO MILÊNIO


Mais do que em qualquer outro tempo, a Igreja precisa demonstrar maturidade no trato
das questões do novo milênio. E como se evidencia essa maturidade na vida da
Igreja? Entre outras coisas, através de:

Uma visão dilatada da história - Ninguém pode almejar a maturidade na vida,


jogando fora lições que a história nos forneceu. Experiências traumatizantes, outras
frustrantes, erros memoráveis, vitórias portentosas...

Todos esses momentos trazem em si, tesouros inestimáveis. São lições que não
aprendemos nos bancos escolares, nem nas disciplinas de uma faculdade. São lições
de vida, registradas a partir de sangue, suor e lágrimas. O Dr. Martim Loydd Jonnes,
em um sermão a respeito do avivamento, disse: "No avivamento a história se torna
viva e fonte de vida para os dias de escassez do presente".

E Isaque sabia muito bem disso. Em Gênesis 26.1-25, ele caminha com sua gente,
sedenta, cansada, em meio a um lugar seco, desértico e árido. Necessitavam de água.
Sem ela, eles iriam morrer.

Ele, então, relembra seus dias de menino. Aprendendo com a experiência de seu pai,
procura o poço que Abraão, no passado, cavara. Ele sabia que ali tinha água. Apesar
de estar entulhado pelos inimigos, o poço tinha água - com certeza. E aquele poço
antigo, seria bendito e traria a água que recobraria o ânimo para a caminhada.

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A Igreja, hoje, tem ela mesmo entulhado os poços históricos de onde emana refrigério
e estímulo para os nossos áridos dias. A geração de cristãos evangélicos brasileiros,
na atualidade, não tem lastro histórico.

Comunidades alternativas com um evangelho paralelo, surgem do nada e,


consequentemente, dirigem-se para lugar nenhum. Estimulam o repúdio à história, o
passado que nem conhecem - em nome de um equivocado tradicionalismo.

Quem não conhece a sua história, não tem memória, não tem identidade, não sabe de
suas fraquezas, ignora suas virtudes. O profeta Ageu, em sua mensagem inicial, não
cansava de reafirmar ao povo que voltava do cativeiro: "Considerai o vosso
passado"(Ag 1.5-7).

Assim como o ferro é forjado no fogo, e o diamante só tem brilho e valor após o
processo de lapidação, as experiências vívidas e vividas na história, promovem a
maturidade e o crescimento na caminhada de fé.

A promoção de relacionamentos saudáveis - Uma das características emocionais


de uma pessoa madura, é a habilidade para contornar situações difíceis, agressivas, e
torná-las consensuais e harmônicas.

Quando Roboão, filho de Salomão, passou a governar em lugar de seu pai, ouviu o
conselho dos homens maduros do reino: "Se te tornares servo deste povo, e o
servires, e atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre" (I
Rs 12.6-8).

Tais conselhos promoveriam a paz, fortaleceriam os laços de seu governo, a partir de


relacionamentos harmoniosos e saudáveis com o povo.

Mas Roboão não quis ouvir os anciãos. Preferiu os devaneios inconsequentes dos
seus amigos imaturos e chegou a afirmar: "Meu dedo mínimo é mais grosso que os
lombos de meu pai... meu pai vos castigou com açoites, porém eu muito mais, vos
castigarei com escorpiões" (I Rs 12.10,11).

Assim, o reino entra em uma guerra civil que termina na ruptura, no cisma de 10 tribos
contra apenas 2 que ficaram com o imaturo Roboão.

Davi, quando foi ungido rei por Samuel, em lugar de Saul, passou a ser perseguido por
aquele enciumado monarca decadente. Por duas vezes teve a oportunidade de matar
a Saul, mas não o fez. A Bíblia recomenda: "Não torneis a ninguém mal por mal;
esforçai-vos em fazer o bem... abençoai aos que vos perseguem... se possível, quanto
depender de vós, tendes paz com todos os homens" (Rm 12.14,17,18).

O livro de Provérbios faz referências ao homem que, amadurecido pela vida, dá


ouvidos à maturidade, e ao louco e insensato que procede ignorantemente (Pv 10.23;
12.15; 20.3).

Paulo apelou aos cristãos de Corinto para que evitassem relacionamentos belicosos e
as rixas, as intrigas e os partidarismos. A presença de tais questões entre eles
atestava a imaturidade de sua fé (I Co 3.1-4). Aos crentes de Éfeso, Paulo destaca
que um dos sinais da maturidade, do crescimento na fé e na ação do Espírito é a
Unidade do Corpo (Et 4.4-6,12,13).

A maturidade na vida de uma pessoa e/ou Igreja, é dimensionada pela capacidade de


promover relacionamentos saudáveis, harmoniosos e verdadeiros.

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A Igreja cristã precisa tratar no seu meio, os relacionamentos infrutíferos e enfermos,


tais como: hipocrisia, imoralidade, opressão ao mais fraco, discriminação social,
preconceito racial etc. A Igreja, mais do que nunca, necessita de maturidade para
responder com dignidade aos desafios da pós-modernidade.

A firmeza de seus valores interiores - Uma terceira realidade que pode ser notada
em face à maturidade, é a firmeza dos valores interiores. É a sedimentação do
conhecimento associado ao dia a dia da vida. Quando Paulo escreve aos crentes em
Éfeso, ele recomenda esta firmeza (Ef 4.11-16).

A imaturidade cristã é vista, definidamente, pela inconstância doutrinária. Como tem


gente dentro das igrejas hoje, sendo levadas por todo vento de doutrina! E não precisa
ser vento forte. Na atual conjuntura do meio evangélico, qualquer brisa leva consigo
muita gente. Crentes e pastores, inclusive.

Enquanto a Igreja imatura preocupa-se com os gestos e jeitos de sua enferma teologia
vazia, assim como em Corinto, os verdadeiros valores interiores se deterioram:
imoralidades, processos judiciais entre irmãos, indisciplina dos líderes das igrejas,
bebedices e glutonarias, incontinência...

Os únicos valores que imperam em muitos púlpitos evangélicos, hoje, são os valores
econômicos. Enquanto o dinheiro dá o tom do sermão, a falência dos valores éticos,
espirituais, morais, sociais e políticos se degenera em uma nação com milhões de
evangélicos.

Projetos futuros de solidariedade - Afirmamos, no início, a importância da História.


Porém, não podemos pretender caminhar a largos passos para frente, olhando
somente para trás. Quem anda para frente, olhando para trás, vai cair, vai tropeçar, vai
se perder e não atingirá seu objetivo.

A maturidade da Igreja que adentra um novo milênio, aprende com a História e planeja
seu futuro a partir de projetos solidários, cobeligerantes. Isso, porque maturidade e
valores altruísticos são pares gêmeos.

A "Parábola do Bom Samaritano" revela, entre outras lições, que o amor verdadeiro e
maduro, cuida e se responsabiliza, enxerga e ajuda o próximo (Lc 10.25-33).

O primeiro milagre pós ascensão de Cristo, relatado em Atos 3, expressa essa


preocupação. Pedro e João externam sua fé, solidarizando-se com o coxo à porta do
templo. Estendem-lhe a mão e o colocam em pé.

A Igreja hoje, é desafiada a evidenciar todos esses sinais de maturidade.

AUTOR: REV. CARLOS DE OLIVEIRA ORLANDI JR.

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