Você está na página 1de 17

SISTEMAS

ESTRUTURAIS I

Mario Guidoux Gonzaga


Forças aplicadas
em uma barra
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as operações para as forças aplicadas em corpos rígidos


e as cargas concentrada, distribuída uniforme e distribuída variável.
 Calcular as forças resultantes de uma carga distribuída linearmente.
 Calcular as forças resultantes de uma carga distribuída com variação
parabólica.

Introdução
No exercício profissional, arquitetos e engenheiros precisam tomar deci-
sões técnicas sobre sistemas estruturais, que incluem a seleção de formas
estruturais eficientes, a avaliação da segurança, da rigidez e da resistência
da estrutura e o planejamento das cargas incidentes. Uma edificação está
exposta a diferentes tipos de cargas, distribuídas de maneiras distintas
e com diferentes efeitos.
Neste capítulo, você aprenderá a reconhecer as operações para forças
aplicadas nos objetos, bem como as cargas aplicadas sobre eles. Serão
apresentadas formas de calcular as forças resultantes da aplicação de
cargas distribuídas linearmente e cargas com variação.

Forças aplicadas em corpos rígidos e natureza


das cargas
Capaz de causar movimento, uma força é uma influência sobre um objeto
(GARRISON, 2018). O peso que uma laje exerce sobre uma viga é uma força.
Os usuários dentro de uma sala exercem força sobre a laje, por exemplo. No
nosso cotidiano, a força, também chamada de carga, está presente em diversas
situações (Figuras 1 e 2).
2 Forças aplicadas em uma barra

Figura 1. Homem aplica força horizontal em uma parede.


Fonte: Mimagephotography/Shutterstock.com.

Figura 2. Ao ficar parado de pé sobre uma superfície rígida, o


peso do homem aplica força vertical (para baixo) sobre o solo.
Fonte: Roman Samborskyi/Shutterstock.com.
Forças aplicadas em uma barra 3

A força é medida em unidades de Newton (N) ou quilonewtons (kN). O


peso também é uma força, e é medido nas mesmas unidades que ela.

Não confunda peso com massa. Enquanto o segundo é a quantidade de matéria


em um corpo, medida em gramas (g) ou quilogramas (kg), o primeiro é o produto
da massa de um corpo pela aceleração da gravidade, medido em Newton (N) ou
quilonewtons (kN).

Uma carga é uma parte de uma estrutura. Nas disciplinas de engenharia


e arquitetura, lida-se com três tipos diferentes de carga:

1. cargas mortas (permanentes);


2. cargas vivas (impostas);
3. cargas de vento (laterais).

As cargas permanentes estão sempre presentes e podem ser representadas,


em uma edificação, pelas forças impostas pelos elementos construtivos,
como pilares, vigas e paredes. A ocupação das edificações, por exemplo,
representa cargas vivas, que nem sempre estão presentes. As pessoas e o
mobiliário se enquadram nessa categoria de carga. Por sua natureza, as
cargas vivas são variáveis (GARRISON, 2018). Devido à sua variabilidade,
esse tipo de carga é tratado de forma diferente da carga morta. Já as cargas
impostas são temporárias, mas não necessariamente estão em movimento.
Um carro em um estacionamento, por exemplo, é uma carga viva. Apesar de
estar parado, ele está ali apenas por certo período de tempo. Uma carga de
vento, por sua vez, é uma carga lateral. Em geral, atua na direção horizontal
ou em ângulos agudos em relação à horizontal. Cargas eólicas atuam em
qualquer direção planar, e sua intensidade pode variar continuadamente.
Cargas de muros de contenção e a pressão da água em tanques também são
exemplos de cargas laterais.
4 Forças aplicadas em uma barra

Uma sala de cinema com capacidade para 200 pessoas pode operar em sua capacidade
total nos fins de semana, mas ficar vazia às terças pela manhã. Assim, a carga viva na
sala de cinema é representada por algo entre 0 e 200 pessoas. Um cadáver em um
necrotério também pode ser considerado uma carga viva, visto que ele está no local
apenas temporariamente.

Além dos diferentes tipos de carga analisados acima, as cargas aplicadas


em um corpo podem ser de naturezas diferentes, destacando-se:

 concentradas ou pontuais;
 uniformemente distribuídas;
 uniformemente variáveis.

Cargas concentradas
A carga pontual é a carga que atua em um único ponto, podendo ser chamada de
carga concentrada (GARRISON, 2018). Um pilar sobre uma viga é um exemplo
de carga concentrada. A unidade de representação de cargas pontuais, kN, e seu
desenho correspondem à uma seta na direção de atuação da carga (Figura 3).

Figura 3. Força pontual aplicada sobre uma barra.


Forças aplicadas em uma barra 5

Cargas uniformemente distribuídas


Distribuída por igual ao longo de um comprimento ou de uma área, a carga
uniformemente distribuída pode ser abreviada como CUD (GARRISON,
2018). Uma aplicação típica desse tipo de carga são as cargas sustentadas
por uma viga (p. ex., seu peso próprio e o peso da laje acima dela). As cargas
uniformemente distribuídas são expressas em unidades de kN/m, no caso de
vigas, e de kN/m2, no caso de lajes (devido ao fato de a superfície da laje ser
contabilizada em área, e não em metros lineares). A representação gráfica
mais comum para esse tipo de carga são várias setas distribuídas ao longo do
objeto, conforme mostra a Figura 4.

Figura 4. Cargas uniformemente distribuídas.

Cargas uniformemente variáveis


Segundo define Garrison (2018), denomina-se uniformemente variável uma
carga que é distribuída ao longo do comprimento de um objeto linear, porém
variando de maneira linear. Uma parede de contenção representa bem esse
tipo de carga. O solo, neste caso, exerce uma força horizontal sobre o lado
interno da parede. Essa força aumenta com a proximidade da parede com o
solo e diminui, chegando a zero, conforme se aproxima do topo da parede.
Essa variação de força da parte de baixo da parede até o seu topo ocorre de
maneira linear, conforme mostra a Figura 5.
6 Forças aplicadas em uma barra

Figura 5. Cargas uniforme-


mente variáveis.

Equilíbrio
Se um objeto se encontra estacionário, como um edifício, qualquer força exercida
sobre ele deve ser oposta por outra força, igual em magnitude, mas oposta em
sentido. Assim, uma condição de equilíbrio será estabelecida (GARRISON, 2018).
Para que haja equilíbrio vertical, a força total para cima deve ser igual à
força total para baixo. Para que haja equilíbrio horizontal, a força total para
a esquerda deve ser igual à força total para a direita. Ao encostar-se a uma
parede, por exemplo, uma pessoa aplica uma força sobre ela. A força produzida
pela parede deve ser igual em magnitude à força aplicada pela pessoa, para
que haja equilíbrio. Se, por algum motivo, a parede não produzir uma força
horizontal igual e oposta, a parede acabará cedendo.

Calculando as forças resultantes de uma carga


distribuída linearmente

Carga linear
As cargas distribuídas linearmente são caracterizadas por se difundirem de
forma igualitária em todo o comprimento da barra. Por exemplo, uma viga:
diferentemente de um pilar, que possui uma carga pontual atuando sobre ele,
a viga possui uma carga distribuída de forma linear. A força equivalente dessa
carga – localizada no baricentro da peça – é calculada por meio da multiplicação
da carga aplicada pela distância de aplicação (Figura 6).
Forças aplicadas em uma barra 7

Figura 6. Carga linear.

A localização da força equivalente em cargas uniformes é localizada no


centro da barra (Figura 7).

Figura 7. Posicionamento da força resultante.


8 Forças aplicadas em uma barra

Carga triangular
No caso de cargas que variam ao longo de uma estrutura, a força resultante
é equivalente à área do diagrama de forma da carga distribuída. O ponto de
aplicação da carga será no centro de gravidade da figura. Um tipo de carga
triangular muito comum é a conformação das cargas de pressão de reserva-
tórios de água.
O cálculo da força equivalente em cargas distribuídas de forma triangular
se assemelha ao das cargas lineares, no entanto, é necessário calcular a equi-
valência do triângulo (Figura 8)

Figura 8. Carga triangular.

A localização da força equivalente em cargas triangulares é localizada a


⅓ da maior parcela de carga (Figura 9).
Forças aplicadas em uma barra 9

Figura 9. Posicionamento da força resultante.

Carga em formato complexo (trapezoidal)


Se o formato de uma carga distribuída for complexo, é possível simplificar
o cálculo da força equivalente subdividindo-se a área total em várias áreas
geométricas menores, como pode ser observado nas Figuras 10 e 11, em que
o trapézio foi divido em um triângulo e um retângulo.

Figura 10. Carga trapezoidal.


10 Forças aplicadas em uma barra

Figura 11. Divisão da carga trapezoidal em áreas geométricas


para cálculo.

Nesse caso, haverá duas cargas resultantes. Uma para a carga distribuída
no retângulo (localizada no meio da figura) e uma para a carga distribuída
triangular (a ⅓ da maior parcela de carga). O posicionamento das cargas
equivalentes é calculado de acordo com a Figura 12.

Figura 12. Cálculo das cargas equivalentes.


Forças aplicadas em uma barra 11

Dessa forma, a carga distribuída foi substituída por cargas estaticamente


equivalentes.

Calculando as forças resultantes de uma carga


distribuída com variação parabólica
Se o formato da carga distribuída é complexo, como uma área abaixo de uma
parábola, pode-se simplificar o cálculo da magnitude e da posição da resultante
subdividindo a área em figuras geométricas menores. Uma carga distribuída
que varia de forma complexa pode ser substituída por um conjunto de cargas
concentradas estaticamente equivalentes, de acordo com as equações da Figura
13. Para usar essas fórmulas, é necessário dividir as cargas distribuídas em
um número arbitrário de segmentos de comprimento L, cujas extremidades
são chamadas de nós.

Figura 13. Cálculo das cargas equivalentes.


12 Forças aplicadas em uma barra

A Figura 13 ilustra um exemplo de carga distribuída com variação parabó-


lica com cargas estaticamente equivalentes no início e no fim (nós) e no meio.
A Figura 14 apresenta um exemplo de exercício em que são fornecidas quatro
cargas, duas no meio e uma em cada extremidade. A resolução do problema
pode utilizar a mesma lógica o exemplo anterior. Observe que as fórmulas
para o cálculo das cargas intermediárias e das cargas das extremidades são
as mesmas, alterando-se apenas as cargas W utilizadas no cálculo.

Figura 14. Cálculo das cargas equivalentes distribuídas parabolicamente.

O que esse método faz, na realidade, é substituir a curva de carregamento


real por elementos em forma de trapézio. Nesse caso, não há necessidade de
calcular a posição da carga resultante, pois ela estará nos próprios pontos
informados no cálculo (Figura 15).
Forças aplicadas em uma barra 13

Figura 15. Localização das cargas P1, P2, P3 e P4.

Nos casos em que não há dados de carga estaticamente equivalentes, a área


sob a parábola pode ser calculada por meio da integral da função da curva,
conforme mostra a Figura 16.

Figura 16. Função de uma carga parabólica.

Resolvendo a área da Figura 16 por meio de uma integral, tem-se:

A posição do centroide pode ser encontrada por:

Substituindo e resolvendo a equação acima:


14 Forças aplicadas em uma barra

Referência

GARRISON, P. Fundamentos de estruturas. Porto Alegre: Bookman, 2018.

Leitura recomendada
LEET, K. M.; UANG, C. M; GILBERO, A. M. Fundamentos da análise estrutural. Porto Alegre:
AMGH, 2010.

Você também pode gostar