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Ilda Lourina Cumbane

Intervenção do Serviço Nacional de Investigação Criminal no esclarecimento de


crimes de fraude de dados de cartões de crédito: Caso da Direcção Provincial do
Serviço Nacional de Investigação Criminal Maputo 2017 à 2019

ACADEMIA DE CIÊNCIAS POLICIAIS

(ACIPOL)

Michafutene, Dezembro de 2021


Intervenção do Serviço Nacional de Investigação Criminal no esclarecimento de crimes de fraude de
dados de cartões de crédito: Caso da Direcção Provincial do Serviço Nacional de Investigação Criminal
Maputo 2017 à 2019

Ilda Lourina Cumbane

Arguente Presidente Supervisora Data


͟ ̸ ͟ ̸ 2022

Monografia apresentada à ACIPOL como


parte dos requisitos para obtenção do
grau de académico de Licenciatura

____________________________________
Declaração de honra

Declaro por minha honra que esta pesquisa nunca foi apresentada para obtenção de
qualquer grau académico. Ela resulta da minha pesquisa individual, estando incluído no
texto a metodologia que usei para produção da mesma.

____________________________________

Ilda Lourina Cumbane


Dedicatória

Dedico este trabalho a toda minha família, em particular atenção aos meus pais
Fernando Zane e à minha mãe Rabeca Tualufo por tudo que fizeram e que fazem por
mim.
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus e a todos aqueles que me ajudaram e que estiveram


presentes durante a realização desta difícil jornada.

Agradeço especialmente ao meu pai Fernando Zane e à minha mãe Rabeca Tualufo
pelo incentivo, pelo esforço para proporcionar-me meios financeiros e material para os
meus estudos, por terem estado ao meu lado nos momentos mais difíceis e sei que
estarão sempre torcendo por mim!

A minha orientadora Profª Doutora Santa Mόnica Mugime pelo conhecimento


compartilhado, pela experiência dividida, pelos importantes momentos de aprendizagem
proporcionados, pela agradável companhia, pelas broncas, pelas insistências e
principalmente por ter me incentivado a chegar até aqui.

Aos professores do curso que através dos seus ensinamentos permitiram que eu pudesse
hoje estar concluindo este trabalho.

Aos que participaram das pesquisas, pela colaboração disposição no processo de


obtenção de dados.

Aos meus irmãos por tudo que fizeram e fazem por mim! Pelo apoio incondicional e
incentivo!

Agradeço à minha querida amiga e colega Beatriz Raimundo, por todas conquistas que
alcançamos juntas, por todas as dificuldades que conseguimos superar.

A elaboração deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração, estímulo e
empenho de diversas pessoas. Gostaria, por este facto, de expressar toda a minha
gratidão e apreço a todos aqueles que, directa ou indirectamente, contribuíram para que
esta tarefa se tornasse uma realidade.

A todos quero manifestar os meus sinceros agradecimentos.


Índice de tabelas

Tabela 1: Síntese das técnicas de recolha de dados………………………………21


Tabela 2: Registos de fraudes de dados na província de Maputo 2017 a 2019………...29
Índice de gráficos

Esquema 1: Estrutura funcional do SERNIC…………………………………………...26


Índice de Apêndices

APÊNDICE 1.Guião de entrevista dirigido a Direcção Provincial do SERNIC


Maputo…….....…………………………………………………………………………37

APÊNDICE 2. Questionário dirigido (BCI) balcão Matola……...………………….....39


LISTA DE ACRÓNIMOS E SIGLAS

ATM – Automed Teller Mchine (Terminal de Auto Atendimento)

BCI – Banco Comercial de Investimento

BIM- Banco Internacional de Moçambique

IC – Investigação Criminal

ONU – Organização das Nações Unidas

PGR – Procuradoria-geral da República

POS – Point Of Sale (Ponto de venda)

SERNIC – Serviço Nacional de Investigação Criminal

TIC/TCI – Tecnologias de Informação e Comunicação


Resumo

O presente trabalho intitulado “Intervenção do Serviço Nacional de Investigação


criminal (SERNIC) no esclarecimento de crimes de fraude de dados de cartões de
crédito na Cidade da Matola: Caso da Direcção Provincial do SERNIC de Maputo
2017 - 2019 ” buscou analisar a intervenção do SERNIC no esclarecimento do crime de
fraude de dados nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola, onde
dados tornados públicos pelos meios de comunicação indicam uma evolução dos casos
registados desses crimes. Deste modo, para a efectivação do trabalho utilizou-se a
abordagem qualitativa, e para a colecta de dados recorreu se a entrevista por meio de
guião de entrevista e questionário dirigido ao SERNIC e ao banco comercial BCI.
Assim, do estudo realizado, concluiu-se que o principal modu operandi dos criminosos
é clonagem de cartões de crédito que pode ocorrer por skinner, nos ATMs e POS, e para
o esclarecimentos desses casos o SERNIC adopta como diligências o uso das imagens
das câmeras e dados dos bancos e outras instituições envolvidas o que não se mostra
eficaz para o esclarecimento dos crimes registados, devido a falta de recursos materiais
e humanos capacitados.

Palavras-chave: Esclarecimento, crimes cibernéticos, SERNIC e fraude de dados.

ÍNDIC
E
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO..................................................................................................2
1.1. Problema de pesquisa...................................................................................................3
1.2. Justificativa...................................................................................................................4
1.3. Objectivos da pesquisa.....................................................................................................5
1.3.1. Objectivo Geral..........................................................................................................5
1.3.2. Específicos.................................................................................................................5
1.4. Questões de Pesquisa...................................................................................................6
1.5. Delimitação do Estudo.....................................................................................................6
1.5.1. Temática....................................................................................................................6
1.5.2. Espacial......................................................................................................................6
1.5.3. Temporal....................................................................................................................7
CAPÍTULO II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................8
2.1. Conceitos básicos.............................................................................................................8
2.1.1. Investigação...............................................................................................................8
2.1.2. Investigação criminal.................................................................................................9
2.1.3. Serviço Nacional de Investigação Criminal............................................................10
2.1.4. Esclarecimento de crime..........................................................................................10
2.1.5. Crimes informáticos................................................................................................11
2.1.5.2. Fraudes.................................................................................................................13
2.1.6. Tipos de fraudes.......................................................................................................14
2.2. Teorias sobre crimes cibernéticos..................................................................................17
2.2.1. Teoria da anomia e sua aplicação aos crimes cibernéticos......................................17
2.2.2. Teoria de Identificação Criminalística....................................................................18
CAPÍTULO III: METODOLOGIA..........................................................................................19
3.1. Descrição dos Procedimentos Metodológicos................................................................19
3.1.1. Abordagem Metodológica.......................................................................................19
3.2. População Alvo e Amostragem......................................................................................19
3.2.1. Definição da População Alvo da Pesquisa..............................................................19
3.2.2. Definição da Amostra..............................................................................................19
3.2.3. Descrição da Amostra..............................................................................................20
3.2.4. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados.......................................................20
3.3. Técnicas de Recolha de Dados...................................................................................20
3.4. Limitações do Estudo.....................................................................................................22
CAPITULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS DO ESTUDO DE CASO. .23
4.1. Modus operandis dos praticantes do crime de fraudes de dados nas transacções pelos
cartões de crédito na Cidade da Matola................................................................................23
4.2. Os procedimentos adoptados pelo SERNIC no esclarecimento do crime de fraudes de
dados nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola...................................24
4.3. A intervenção do SERNIC Versus nível de esclarecimento de crime de fraudes de
dados em cartões de crédito no período de 2017 a 2019.......................................................26
4.4. Desafios enfrentados pelo SERNIC no esclarecimento de crime de fraudes de dados em
cartões de crédito...................................................................................................................28
V: CONCLUSÃO E SUGESTÕES..........................................................................................29
5.1. Conclusões.....................................................................................................................29
5.2. Sugestões........................................................................................................................29
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................31
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

Em Moçambique o sector bancário, assim como todos os outros sectores da economia, vêm
sofrendo mudanças nas últimas décadas como consequência da globalização da economia, a
modernização tecnológica e a rápida proliferação e disseminação da internet.

As instituições financeiras modernizaram seus produtos e serviços oferecendo aos seus


clientes, muitas facilidades para a realização das transacções bancárias: internet, telefones,
cartões, terminais de auto atendimento entre outros. Os novos canais possibilitam, por
exemplo, o pagamento de contas e a realização de compras sem que o indivíduo precise sair
de sua casa, utilizando apenas seu computador pessoal conectado à internet. Os cartões
trouxeram maior segurança e comodidade para o indivíduo a partir do momento em que este
não precisa mais circular com grandes valores em espécie (Frigo, 2013).

Nesse panorama encontramos também a modernização das práticas ilícitas e golpes que se
servem dos meios electrónicos e acabam gerando perdas para as instituições bancárias e para
o público em geral. São as conhecidas fraudes bancárias ou fraudes tecnológicas, entendendo-
se no presente trabalho as fraudes aplicadas em clientes bancários e não na instituição
bancária directamente ou dela proveniente para com o sector financeiro.

As fraudes de cartões de crédito, por acontecerem no espaço digital denominado espaço


cibernético são de difícil esclarecimento exigindo dos investigadores adaptação quer em
métodos quer em recursos. É neste contexto que o presente trabalho propõe analisar a
intervenção do SERNIC no esclarecimento do crime de fraude de dados de cartões de crédito,
registados na Cidade da Matola no período de 2017 à 2019.

O presente estudo compreende a seguinte estrutura: o primeiro capítulo refere à introdução,


abarca o problema da pesquisa, a justificativa, os objectivos geral e específicos, e a
delimitação temática.

Segundo capítulo da revisão da literatura, nele apresenta-se a definição de conceitos de


investigação criminal, esclarecimento de crimes, crimes cibernéticos e fraudes de cartões de
crédito relacionando-os com o tema em estudo através das abordagens e contribuições de
diferentes autores assim como as teorias que sustentaram o estudo.

1
O terceiro capítulo é reservado à metodologia adoptada para a materialização do estudo em
causa, traz a descrição dos procedimentos metodológicos, a população alvo, a amostra, assim
como as técnicas e instrumentos de recolha de dados usados.

O quarto capítulo é referente a apresentação e análise de dados recolhidos junto do SERNIC e


dos bancos referente aos casos de fraudes nos cartões de crédito na cidade da Matola. Fazendo
um cruzamento com a literatura consultada.

O quinto e o último capítulo é das conclusões tiradas sobre a intervenção do SERNIC no


esclarecimento dos casos de crimes de fraudes de dados nos cartões de crédito e as sugestões.
Por fim secções apresentam-se as referências bibliográficas consultadas para consecução da
pesquisa e anexos e apêndices.

1.1. Problema de pesquisa


Moçambique, nos últimos tempos vem assistindo, uma evolução no que concerne a utilização
das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como consequência da globalização,
com destaque para o uso da internet. O crescente acesso a esses serviços trouxe consigo
importantes factores de desestabilização social e jurídica, acompanhado de crescente
vulnerabilidade a que o cidadão está sujeito (Chuquela, 2019).

O cometimento dos crimes cibernéticos pode ocorrer de várias formas, a nova lei de revisão
do Código Penal, Lei n.º 24/2019, promulgada em 10 de Dezembro de 2017 prevê os
seguintes tipos legais de crime cibernético: artigo 289º burla informática e nas comunicações,
artigo 294º fraudes relativas aos instrumentos e canais de pagamento electrónico, artigo 295º
abuso de meios de pagamento e electrónicos, artigo 336º falsidade informática, artigo 338º
interferência em sistema, artigo 339º uso abusivo de dispositivos.

A respeito dessa matéria, a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética de Moçambique


(2017 - 2021), sustenta que o governo de Moçambique está também plenamente consciente da
ameaça e dos efeitos negativos dos crimes cibernéticos sobre a sua nação e por isso tem sido
feito esforços para garantir que hajam instrumentos que possam proteger o cidadão e penalizar
os que cometem estes crimes com recurso as TICs. Para isso já existem vários instrumentos e
instituições que visam regular esse fenómeno.

A investigação de crime cibernético é da responsabilidade do SERNIC que tem suas


atribuições arroladas no Decreto nº 2 / 2017 de 9 de Janeiro. Todavia, na Cidade da Matola o

2
crime cibernético voltado a fraudes de cartões de crédito nas transacções comerciais apresenta
uma evolução e do lado oposto, o seu esclarecimento contínua deficiente.

Dados tornados públicos pelos meios de comunicação, apontam que o SERNIC anunciou em
2018 o desmantelamento de duas quadrilhas indiciadas no furto de um valor de 14 milhões de
meticais (204 mil euros) através de crimes cibernéticos. Os grupos clonavam cartões e
exigiam informações das contas bancárias das vítimas, fazendo-se passar por funcionários de
instituições bancárias. A operação policial resultou na recuperação de 33 mil meticais (470
euros) e na apreensão de vários cartões bancários clonados, além do material informático
usado pelos grupos para a prática dos crimes1.

Igualmente, foram tornados públicos dados estatísticos do Ministério público pela


Procuradoria-Geral em 2019, os quais indicam para uma evolução dos casos registados de
fraudes relativas aos instrumentos e canais de pagamento electrónico no total de 156 casos no
ano 2017, 238 casos em 2018 contra os 156 do ano anterior dos quais foram tramitados 71
processos em Maputo em 2018 e 29 em 2017 respectivamente.

Do disposto acima, urge a seguinte questão de pesquisa:


Como é que o Serviço Nacional de Investigação Criminal intervém no esclarecimento de
"fraudes de dados nos cartões de crédito" na Cidade da Matola?

1.2. Justificativa
A escolha do tema resulta da percepção do aumento de número de casos de crimes
cibernéticos, como consequência do uso abusivo das TICs, numa altura em que as empresas
estão a modernizar os seus serviços trocando os tradicionais serviços pelos serviços online ou
mesmo para reforçar a sua cobertura em produtos e serviços através da sua disponibilidade
pela internet para alcançar mais pessoas. Em contra partida estas facilidades que se oferecem
aos clientes propiciam a acção abusiva dos criminosos informáticos.

A pesquisa surge também do interesse pessoal em analisar a intervenção do SERNIC face aos
crimes cibernéticos em concreto fraudes relativas aos cartões de crédito que são comummente
perpetrados nas transacções comerciais, quer física, quer digitalmente e a custódia da prova é
difícil de ser garantida principalmente nos casos de fraudes de cartões por meio da internet.

1
https://www.dn.pt/lusa/governo-mocambicano-aprova-resolucao-sobre-ciberseguranca--9631947.html
acessado 29 de Março de 2021

3
A nível social, os resultados do presente estudo poderão proporcionar conhecimento a
sociedade e torná-la mais consciente sobre a existência do crime no espaço cibernético, no
sentido de redobrar a sua atenção e zelar pela segurança de seus pertences.

O estudo é uma contribuição teórica sobre os crimes informáticos, em particular, no sentido


de reflectir sobre uma melhor articulação entre a teoria e a prática. Para além de que abre
caminhos para novo pesquisa.

Ao nível institucional os resultados desta pesquisa, irão proporcionar dados que possam
avaliar as estratégias implementadas pelo SERNIC no esclarecimento de crimes cibernéticos.

1.3. Objectivos da pesquisa

1.3.1. Objectivo Geral

 Analisar a intervenção do SERNIC no esclarecimento do crime de fraude de dados


nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola.

1.3.2. Específicos

 Explicar os modus operandis dos agentes do crime de fraudes de dados nas transacções
pelos cartões de crédito na Cidade da Matola;
 Descrever os procedimentos adoptados pelo SERNIC no esclarecimento do crime de
fraudes de dados nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola;
 Relacionar a intervenção do SERNIC com o nível de esclarecimento de crime de fraudes
de dados em cartões de crédito;
 Identificar os desafios enfrentados pelo SERNIC no esclarecimento de crime de fraudes
de dados em cartões de crédito.

1.4. Questões de Pesquisa

 Quais são os modus operands dos agentes do crime de fraudes nas transacções pelos
cartões de crédito na Cidade da Matola?

 Que procedimentos são adoptados pelo SERNIC no esclarecimento do crime de


fraudes dados nos cartões de créditos na Cidade da Matola?

4
 Qual é a relação entre a intervenção do SERNIC e o nível de esclarecimento de crime
de fraudes de dados em cartões de crédito?

 Quais são os desafios enfrentados pelo SERNIC no esclarecimento de crime de


fraudes de dados em cartões de crédito e como é que se pode aumentar ou melhorar a
eficácia na sua intervenção?

1.5. Delimitação do Estudo

1.5.1. Temática
Ao nível temático, esta pesquisa é feita numa abordagem jurídica ligada a investigação
criminal, no contexto da intervenção do SERNIC no esclarecimento dos crimes referentes a
fraudes de dados cartões de crédito dos casos registados na Cidade da Matola, sobretudo, no
que se refere aos procedimentos levados a cabo pelo SERNIC na investigação criminal e
esclarecimento desses crimes.

1.5.2. Espacial
O estudo em alusão foi desenvolvido na Direcção Provincial do SERNIC da Cidade de
Matola, a escolha deve-se ao facto de dados estatísticos assim como dos canais de
comunicação apontarem para uma significativa evolução de casos de crimes de fraude
relativas aos instrumentos e canais de pagamento electrónico na Cidade da Matola.

Segundo a Lei nº 26/2013 Matola é uma cidade e município moçambicano, capital da


província de Maputo; e é também um distrito, uma unidade administrativa local do Estado
central moçambicano criada em 2013 e que coincide geograficamente com o município.

Tem limite a noroeste e a norte com o distrito de Moamba, a oeste e sudoeste com o distrito
de Boane, a sul e a leste com a cidade de Maputo e a nordeste com o distrito de Marracuene.
O município tem uma área de 373 km². A sua população é, de acordo com os resultados do
censo de 2017, de 1.032.197 tornando-se na segunda maior cidade moçambicana depois de
Maputo (INE, 2019)

Devido ao seu dinamismo económico e demográfico, a Matola foi elevada à categoria de


cidade B em 2 de Outubro de 2007.

1.5.3. Temporal
O estudo compreende o período de 2017 á 2019. A escolha deste período tem como principal
motivação a evolução do número de casos verificados nesse período como foi referenciado
anteriormente no problema desta pesquisa. Igualmente, neste período foram aprovados

5
instrumentos legais que regem e punem legalmente as acções de crimes cibernéticos em
Moçambique.

CAPÍTULO II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


Assim, neste capítulo apresentam-se os conceitos chave que sustentam o estudo, sua
operacionalização bem como as teorias que a fundamentam: investigação criminal,
intervenção, esclarecimento de crime, crime cibernético, classificação dos crimes

6
cibernéticos, fraude de dados e caracterização do crime de fraudes de dados dos cartões de
crédito.

2.1. Conceitos básicos


Uma vez que a pesquisa é voltada a área da investigação criminal, faz se importante
primeiro ter o entendimento do mesmo termo, o que seria a investigação criminal segundo
vários autores?

2.1.1. Investigação
Sobre a definição de investigação Valente (cit. in Froide 2014, p.22) trás, de forma sucinta, a
origem da palavra investigação, segundo o qual, esta vem do étimo latino investigatione, que
significa acção dirigida sobre o rasto, levando deste modo à tradução do acto de pesquisar,
indagar, pesquisar, definindo como sendo "um olhar inquiridor sobre os vestígios deixados e
os rastos não apagados de um facto ou acontecimento, de forma que se chegue a um
conhecimento, uma verdade.

Segundo Dewey (1938, p. 58) investigar consiste na “transformação dirigida ou controlada de


uma situação indeterminada em uma situação de tal modo determinada nas distinções e
relações que a constituem, que converta os elementos da situação original em um todo
unificado.”

Na Concepção do Pitombo (cit. in Gomes 2011, p.116), investigação é comparada a um


“pesquisa sistemática do objecto, utilizando os meios e apoios técnicos disponíveis”,
complementa ao defender que “quem investiga só rastreia, quem se instrui busca conhecer e
tornar conhecido o facto e suas circunstâncias; bem assim a autoria, co-autoria, ou a
participação.”

Apesar de os autores fazerem uma abordagem de forma diferente sobre o conceito de


investigação, percebe-se que a finalidade destes é mostrar que a investigação é o caminho
para se chegar a um conhecimento, a uma verdade, para que com base nela se possa
influenciar a quem de direito ou a sociedade em geral a pautar e a decidir por um determinado
comportamento ou a tomar determinadas medidas. Porém, o conceito de Pitombo citado por
Gomes 2011, p.7, é aquele que orienta esta pesquisa ao se referir à investigação como meio
para obter esclarecimento de algo.

7
Esta forma de conceituar investigação aproxima-se àquilo que são as intenções desta pesquisa
que é a de trazer a tona o processo de investigação, cuja, finalidade é o esclarecimento dos
crimes de fraudes de dados de cartões de credito.

2.1.2. Investigação criminal


Segundo Vasco (2018, p.7), a investigação criminal (IC) tem como objectivo principal a
procura incessante na descoberta da verdade material e efectiva, uma vez que muito mais do
que conhecer os factos ocorridos é necessário que estes sejam devidamente provados e
fundamentados.

A investigação criminal é uma actividade que compreende o processo de detecção, recolha de


indícios e provas que, nos termos da lei processual penal, procuram averiguar a existência de
um crime e determina os seus promotores (Lopes, 2017).

A IC é o “processo de procura de indícios e vestígios que indiquem e expliquem e que nos


façam compreender quem, como, quando, onde e porquê foi cometido um determinado delito”
(Antunes, 2000, p. 15).

No contexto Moçambicano, ao abrigo do artigo 2 da Lei nº2/2017 de 9 de Janeiro, a


investigação criminal, compreende: O conjunto de diligências que, nos termos da lei, se
destinam a averiguar a existência de um crime, determinar os seus agentes, sua
responsabilidade, descobrir e recolher provas, no âmbito do processo penal.

Portanto, pode se perceber que são várias opiniões concernentes ao conceito de IC, entretanto,
há unanimidade entre si, mas a pesquisa irá apoiar se da definição prevista no artigo 2 da Lei
nº2/2017 de 9 de Janeiro por se mostrar adequada ao estudo em causa. Segundo o mesmo, IC
é o conjunto de diligências que, nos termos da lei, se destinam a averiguar a existência de um
crime, determinar os seus agentes, sua responsabilização, descobrir e recolher provas, no
âmbito do processo penal.

2.1.3. Serviço Nacional de Investigação Criminal

Em Moçambique a IC compete ao Serviço Nacional de Investigação Criminal criado a luz da Lei


nº2/2017 de 9 de Janeiro de 2017. Segundo a mesma lei artigo 3, o SERNIC é um serviço
público de investigação criminal de natureza paramilitar, auxiliar da administração da justiça
dotado de autonomia administrativa técnica e táctica, sem prejuízo da tutela exercida pelo

8
Ministro que superintende a área da ordem, segurança e tranquilidade públicas, em matéria
que não afecta a sua autonomia.

Tem como competências especificas a investigação de (nº1 do artigo 7):


a) Crimes contra as pessoas;
b) Crimes contra o património;
c) Crimes informáticos;
d) Crimes de perigo comum;
e) Crimes contra o Estado;
f) Crimes contra a ordem e tranquilidade públicas;
g) Crimes cometidos no exercício de funções;
h) Falsidades;
i) Tráfico de pessoas, órgãos e partes do corpo humano;
j) Tráfico e consumo de estupefacientes, substâncias psicotrópicas, precursores, outras
substâncias e de efeitos similares e ilícitas, previstas na lei penal;
k) Branqueamento de capitais;
I) Financiamento ao terrorismo.

Importa referenciar nesse estudo, a intervenção do SERNIC no esclarecimento dos crimes


patente na alínea c, os crimes informáticos.

2.1.4. Esclarecimento de crime

O Decreto-lei 35007 de 31 de Outubro de 1945 conceitua esclarecimento no art. 12 como


“conjunto de provas que formam o corpo de delito com vista a reunir os elementos de
indiciação necessários para fundamentar a acusação.”

Para Souza at. al (s/d, p.3) esclarecimento é sinónimo de prova que é utilizada para a
“comprovação da autoria do crime ou da inocência do acusado.”

De acordo com Braz (2009) esclarecimento pode ser definido como a forma que permite
aclarar ou desempar dúvidas sobre um facto, através de uma entidade competente e com
recurso a meios admissíveis.

9
Tendo como base o entendimento apresentado pelos autores, conclui-se que esclarecimento é
uma forma usada pelos investigadores dentro da lei, atinente a comprovar e tirar dúvidas
sobre um facto criminal. Contudo, o Decreto-lei 35007 de 31 de Outubro de 1945 olha o
esclarecimento num contexto de formação de corpo de delito que espelha um manancial de
provas para a responsabilização do suspeito. Enquanto, Souza at. al (s/d) alia o
esclarecimento a produção de provas. Braz (2009) traz como inovação no seu conceito ao
invocar que o esclarecimento de crime é feito por uma entidade competente.

Decorrentes destes factos, para o trabalho todos os conceitos se enquadram para a


materialização dos objectivos do trabalho, porém, a definição que mais se adequa é do Braz
(2009) pelo facto de ser mais sintético e claro ao deixar ficar que quando se fala de
esclarecimento a pessoa deve ter em conta que se trata de um meio capaz de sanar dúvidas
com base nos preceitos legais.

2.1.5. Crimes informáticos


As actividades ilícitas praticadas com a utilização de computadores via internet ainda não
possuem uma denominação definitiva. Assim, são chamadas de cibercrimes, crimes
informáticos, crimes cibernéticos, entre outros (Nascimento, 2016 p. 23).

Todavia, todas essas denominações se referem ao mesmo tipo de crime, ou seja, crimes que se
utilizam de um computador ou de internet como instrumento para praticar actos ilícitos
(idem).
Na mesma linha, Chuquela (2019, p. 5) conceitua os crimes cibernéticos como:

Todo o conjunto de actividade criminosa que pode ser levada acabo por meios informáticos, ainda que
estes não sejam mais que um instrumento para a sua prática, pelo que o mesmo crime poderá ser
praticado por recurso a outros meios; deste modo, crimes informáticos são todas as condutas típicas,
antijurídicas e culpáveis praticadas por meio da Internet como instrumento de perpetração de seus
objectivos.

Para a Organização das Nações Unidas (cit in Lima, 2017 p. 32) os crimes informáticos “são
quaisquer condutas ilegais não éticas, ou não autorizadas, que envolvam processamento
automático de dados e/ou transmissão de dados”.

Por outro lado, Feliciano (cit in Lima 2017, p33),  define crimes informáticos como “recente

10
fenómeno histórico-sócio-cultural caracterizado pela elevada incidência de ilícitos penais
(delitos, crimes e contravenções) que têm por objecto material ou meio de execução o objecto
tecnológico informático (hardware, software, redes, etc.) ”.

Portanto, olhando as definições acima descritas, percebe-se que os crimes informáticos


equivalem a toda e qualquer actividade, na qual o computador ou uma rede de computadores é
usado como ferramenta com a finalidade de se praticar um crime que possa prejudicar outrem.
E normalmente, o criminoso informático é vulgarmente denominado “hacker” e aproveita as
falhas dos sistemas de segurança para obter programas e informações. Não são só falhas pelas

quais ele se aproveita, como também ele cria as falhas nos sistemas (Lima, 2017).

2.1.5.1. Classificação dos crimes cibernéticos


Como acima referenciado, os crimes cibernéticos são as acções ilícitas praticadas por meios
informáticos e podem ser classificados como crimes cibernéticos puros e impuros.

 Crimes cibernéticos puros


Os crimes cibernéticos puros ocorrem quando o agente quer atacar o sistema de informática
de um terceiro, seja este sistema um software, hardware, sistema e meios de armazenamento
de dados (Nascimento, 2016 p.23).

Segundo De Jesus (cit in Nascimento, 2016 p.23):

crimes electrónicos puros ou próprios são aqueles que sejam praticados por computador e se realizem
ou se consumem também em meio electrónico. Neles, a informática (segurança dos sistemas,
titularidade das informações e integridade dos dados, da máquina e periféricos) é o objecto jurídico
tutelado.

Nota-se, que esta categoria de crime se caracteriza quando um individuo, principalmente o


hacker e o cracker, utiliza-se de um computador e/ou internet para invadir a máquina de um
terceiro, sendo que o crime se consome no próprio meio virtual, não produzindo efeitos fora
deste ambiente (idem).

Por outro lado, sobre os crimes informáticos puros Chuquela (2019, p.6) define os como:

11
são aqueles em que a utilização do sistema informático é o meio necessariamente utilizado para a
prática delitiva. Ex: crimes de invasão de sistemas informáticos com objectivo de danificá-los ou alterá-
los bem como prática de inserir dados falsos em sistema informáticos;

 Crimes Cibernéticos Impuros


De Jesus (cit in Nascimento 2016, p.24), conceitua este tipo de crime da seguinte forma:

Os crimes electrónicos impuros ou impróprios são aqueles em que o agente se vale do computador
como meio para produzir resultado naturalístico, que ofenda o mundo físico ou o espaço “real”,
ameaçando ou lesando outros bens, não-computacionais ou diversos da informática.
Desta forma, os crimes impuros são aqueles em que o agente se utiliza do computador e da internet
como ferramenta meio para produzir um resultado que afecta outros bens tutelados pelo nosso
ordenamento jurídico que não sejam relacionados aos meios virtuais.

Por sua vez, Chuquela (2019, p.6), referencia que crimes Informáticos Impuros:
são aqueles em que a utilização do sistema informático trata apenas de um novo modus operandi ou
seja, um novo meio de execução com o qual o agente visa atingir um bem já tutelado penalmente,

diverso do sistema de dados ou informação. Ex: furto informático; burla informática .

Tendo em conta esta classificação dos crimes informáticos, os crimes cibernéticos impuros
encontram fundamento nesta pesquisa por tratar se de uso da internet ou meios digitais para o
cometimento de crimes, no caso concreto do problema da pesquisa fraudes de dados em
cartões de crédito tendo como meio a internet ou meios informáticos.

2.1.5.2. Fraudes
Conforme Albrecht et al., (2009, p. 7), fraude é um termo genérico, e abrange múltiplos meios
nos quais a genialidade humana pode agir, e que se tornam recorrentes, por intermédio de um
indivíduo, para conseguir uma vantagem sobre outro indivíduo por declarações falsas.
A fraude é um tipo de crime previsto pelos códigos penais das nações do mundo todo.
Significa dolo, burla, engano, logro ou contrabando (Priberam cit. in Bastos e Pereira, 2007,p.
2).
A fraude é um acto doloso, cometido de forma premeditada, planejada, com a finalidade de
obter proveito com o prejuízo de terceiros (Diniz cit. in, Machado 2018, p.14).

12
A fraude é o acto intencional de omissão ou manipulação de transacções, adulteração de
documentos, registos e demonstrações contábeis. (Bastos e Pereira, 2007, p. 2).

Diante destas acepções pode se perceber que o conceito de fraude refere-se essencialmente a
um acto intencional com a finalidade de obter proveito com o prejuízo de terceiros.

2.1.6. Tipos de fraudes

2.1.6.1. Fraude de cartão de crédito


Em um ambiente informatizado, fraude de cartão de crédito presume-se que tal acto é
resultado de procedimentos e informações de pessoa jurídica ou física, que tem como
finalidade alcançar benefício ou satisfação psicológica, financeira e material apropriada
indevidamente de outra pessoa física ou jurídica, através de software e bancos de dados (Gil,
1999, p. 15).

Fraude de cartão de crédito quando um indivíduo usa o cartão de crédito de outro indivíduo,
enquanto o proprietário e o emissor do cartão não estão cientes do facto do mesmo estar sendo
usado. Além disso, o indivíduo que utiliza o cartão não tem nenhuma conexão com seu titular
ou emitente e não tem intenção nem de entrar em contacto com o proprietário ou fazer
reembolsos das compras feitas (Bhatla et al. cit. in Junior Filipe 2012, p.9).

2.1.6.2. Modus operandis dos crimes de fraudes de dados em cartões de crédito

Para analisar a fraude de forma eficaz, é importante primeiro entender os mecanismos de sua
execução. Os fraudadores de cartão de crédito empregam um grande número de modus
operandis para cometer fraudes, que podem ser subdivididas em duas categorias: 1) fraudes
com a utilização física de cartões e 2) fraudes pela internet, dentro destas subdivisões existem
formas de cometimento. Porém, a seguir apresentam-se apenas os que são comummente
cometidos em Moçambique em particular na cidade da Matola.

2.1.6.3. As Fraudes Bancárias por meio de Cartões

 Clonagem de cartão
A clonagem de cartão ocorre por meio da utilização de equipamento espúrio, conhecido como
“chupa cabra”, no qual são clonados os dados dos cartões e copiadas as informações contidas

13
na tarja magnética. A clonagem é feita ao passar o cartão em uma máquina como se fosse uma
máquina electrónica de autenticação de pagamento (Frigo, 2013).

Os equipamentos espúrios são, segundo Parodi (cit. in Frigo, 2013, p.14) encontrados
frequentemente em postos de gasolina e outros estabelecimentos de grande rotação. Para o
mesmo autor a clonagem pode acontecer com o consentimento, participação ou auxílio de
algum funcionário do estabelecimento comercial que passa o cartão para a clonagem longe da
visão do dono do cartão. Em outras, pode acontecer quando os donos ou funcionários dos
estabelecimentos serem enganados por falsos técnicos de manutenção dos aparelhos utilizados
para compras com cartão. Em ambos os casos os aparelhos são adulterados para estocar os
dados das tarjas magnéticas dos cartões, além de executar o processo formal de autenticação
da compra.

Para Parodi (cit. in Frigo, 2013, p. 14), é consensual que as maiores falhas de segurança são
descuidos dos usuários ou dos humanos em geral, e não do sistema em si. Por essa razão, os
“carders (criminosos especializados em fraudes com cartões) ” estão se concentrando em
sistemas e técnicas que visam capturar as senhas no momento em que os usuários as digitam
ou em sistemas onde estas possam estar armazenadas. Depois disso, é só extraviar, roubar ou
trocar o cartão do cliente bancário para usá-lo.

 O golpe do Cartão Retido

O golpe do cartão retido tem como “modus operandis” a inserção de artefacto espúrio que
retém o cartão do usuário em algum ATM (Terminal de Auto atendimento). O cliente ao
inserir o cartão no equipamento percebe que seu cartão ficou preso/retido na máquina e então
procura no ambiente por telefone da central de atendimento do banco para reportar o ocorrido
e bloquear o cartão (Frigo, 2013, p.16).

Essas acções normalmente ocorrem fora dos dias e horários de atendimento bancário, quando
não há funcionários nas agências que podem atender e solucionar dúvidas dos clientes. Faz
parte do golpe a fixação de cartazes com falsos números de centrais de atendimento. O cliente
liga para o suposto número e é atendido por falsa funcionária/atendente que ouve o ocorrido e
informa que o cartão foi bloqueado por medida de segurança e que será enviado um novo
cartão para o usuário em alguns dias. Ide

14
 O Golpe da Troca de Cartão
Segundo Frigo, (2013, p. 16), as fraudes de troca de cartão ocorrem quando um falso
funcionário da instituição bancária, muitas vezes portando falso crachá de identificação, se
oferece para ajudar na realização das transacções feitas em terminais de auto atendimento.
Assim como o golpe anterior ocorre normalmente fora do horário de atendimento normal das
agências.

Geralmente, as pessoas que sofrem este golpe são pessoas com maior dificuldade na
utilização dos terminais de auto atendimento, tais como idosos e pessoas não acostumadas
com a utilização dos equipamentos. O falsário, de boa aparência, simpático e prestativo ajuda
o cliente a efectuar as operações com o cartão, fazendo-o ele mesmo. Ide

Quando a vítima vai digitar sua senha o meliante, muitas vezes com o auxílio de outro
comparsa, memoriza a senha digitada e ao final do “atendimento” efectua a troca do cartão da
vítima por outro semelhante sem que o cliente perceba. Ao final o golpista está de posse do
cartão e com as senhas memorizadas para efectuar as mais diversas operações bancárias. Ide

2.1.6.4. As Fraudes Bancárias pela Internet

 Falsos Sites de Bancos ou Phishing


Conforme destacado pelo autor Parodi (cit. in Frigo, 2013, p. 17) ocorre, normalmente através
de e-mails com componentes gráficos e logomarcas que identifiquem aparentemente como
sendo enviado por um banco no qual o cliente é convidado a acessar um falso site da
instituição com alguma desculpa (recadastramento de dados, participação em promoções,
sorteios, seguros gratuitos, autenticação ou cadastramento de e-mails, actualização de
configurações de segurança etc.).
O fraudador aguarda o retorno à aceitação do estímulo através do acesso ao link existente na
mensagem, acesso à página falsa da instituição e a inserção voluntária dos dados solicitados à
vítima. Dentre os dados estão o número da conta, da agência e/ou cartão com as respectivas
senhas, o suficiente para realizar transacções bancárias e gerar um fraude.

15
2.2. Teorias sobre crimes cibernéticos

Toda pesquisa sobre uma determinada problemática, carece de uma teoria que vai reflectir e
traçar as balizas na qual o estudo vai se cingir, tendo dessa forma o processo investigativo
orientado com vista a alcançar a realidade da incidência do fenómeno estudado. A pesquisa
assenta-se nas seguintes teorias: Teoria da anomia e de Identificação Criminalística.

2.2.1. Teoria da anomia e sua aplicação aos crimes cibernéticos

A teoria da anomia inicialmente foi teorizada pelo Émile Durkheim e aplicada no âmbito da
criminologia por Robert Merton aos crimes cibernéticos, especificamente em relação aos
fenómenos de anonimato e dissociação da identidade física com a identificação virtual
(Suxberger e Pacheco 2019, p. 104)

Segundo Suxberger e Pacheco (2019, p.108), o fenómeno do anonimato deve ser percebido
por um viés tanto sociológico como criminológico, posto que é uma das características que
mais incentivam a ocorrência dos crimes cibernéticos. Mais do que um atributo acessório no
cometimento de crimes cibernéticos, em algumas condutas criminais se torna parte essencial e
elemento sine qua non para o seu cometimento. No caso do cyber stalking, em que há uma
perseguição online dos perfis de determinada pessoa para fins escusos, o agente se ancora
justamente no anonimato promovido pela rede, o crime de falsidade ideológica só é cometido
pois possui plena consciência da dissociação entre a identidade pessoal e a identidade pessoal.
A dissociação entre personalidades é o ponto fulcral da análise desta teoria.

Como refere Durkhein (2000, p. 329), Robert K. Merton aplica do conceito de anomia
construído por Durkhein às ciências criminológicas. Em seu estudo social Sctruture and
Anomie, Merton refuta o argumento comum de se atribuir a disfunção social criminológica a
factores biológicos e orgânicos trazendo a tona o factor da estrutura social. A sociedade pode
agir não só como um ente promove a pacificação social e corrige disfunções institucionais,
mas sim catalisador desses distúrbios. Dessa forma, pode-se considerar que alguns crimes são
resultado natural de um arranjo social e não uma decorrência de aspectos biológicos, partindo
de uma percepção subjectiva de inconformismo. Os indivíduos, na visão de Merton, podem
estar susceptíveis a pressões sociais para delinquir. Os incentivos, em uma perspectiva
pavloviana, envolvem incentivos, sentimentos e prestígio. Nessa perspectiva, o acto de

16
delinquir em ambiente virtual passa por um incentivo financeiro, consistente em auferir
vantagem patrimonial do acto criminoso.

A teoria da anomia, portanto, é plenamente aplicável a presente pesquisa referente aos crimes
cibernéticos especificamente em relação aos de fraude de cartões de crédito pois nesses
crimes há anonimato e dissociação da identidade dos praticantes. Ademais, a teoria ajuda a
demonstrar que a anomia social dos crimes cibernéticos também pode ter como causas a
evolução tecnológica e que possuem como pressuposto essa perda da identidade física e
dissociação com o meio social, ou seja, se dá pela perda da identidade física e assunção de
outra identidade usurpada ou fictícia dos criminosos.

2.2.2. Teoria de Identificação Criminalística


Para Cossa (2014, p. 3), (…) a teoria de identificação criminalística que diz que “todos os
objectos e fenómenos do mundo material são individuais, ou seja, são iguais a si mesmos. A
essência da identificação criminalística é uma investigação comparativa das características
dos vestígios encontrados no local do facto com as amostras colhidas dos potenciais
suspeitos.”

Gomes (2018, p. 18), acrescenta que no contexto da identificação de ferramentas pretende


concluir-se sobre a ferramenta que produziu determinada marca, o seu tipo, e quantas
ferramentas estiveram envolvidas.

Portanto, a teoria de identificação criminal é útil para a análise da intervenção do SERNIC no


esclarecimento dos crimes de fraudes de dados nos cartões de crédito (pela internet) por
constituir base teórica de toda a actividade de Polícia Científica, referente a custódia da prova.

CAPÍTULO III: METODOLOGIA


Neste capítulo apresenta-se à metodologia adoptada para a materialização do estudo em causa,
trazendo a descrição dos procedimentos metodológicos, a população alvo e amostra, assim
como as técnicas e instrumentos de recolha de dados usados.

17
3.1. Descrição dos Procedimentos Metodológicos

3.1.1. Abordagem Metodológica

A pesquisa foi realizada com base na abordagem qualitativa. Segundo Prodanov e Freitas
(2013, p.70) a abordagem qualitativa defende a existência de uma “relação dinâmica entre o
mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a
subjectividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.”

A aplicação da abordagem qualitativa facilitou a caracterização, identificação, descrição


detalhada de todos aspectos ligados à investigação criminal do crime de fraudes de dados em
cartões de crédito. Ademais, com o uso desta abordagem foi possível recolher junto aos
entrevistados as suas ideias dando sustento com suas experiências sobre intervenção deste tipo
de crime.

3.2. População Alvo e Amostragem

3.2.1. Definição da População Alvo da Pesquisa

De acordo com estudo de Silva e Menezes (2001, p.32) população é “ a totalidade de


indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo.” A
população alvo da pesquisa foi os agentes do SERNIC afectos na Brigada de Maputo e
gestores de algumas instituições bancárias da Cidade da Matola.

3.2.2. Definição da Amostra

Segundo Silva e Menezes (2001, p.32), amostra é “parte da população ou do universo,


seleccionada de acordo com uma regra ou plano.”

Ainda sobre a amostra, Silva e Menezes (2001) defendem a existência de amostras


probabilísticas e não probabilísticas. Entretanto a pesquisa recorreu a uma amostra não
probabilística do tipo intencional por julgar se que a amostra escolhida podia contribuir para o
alcance do objectivo do estudo.

Segundo Silva & Menezes (2001, p.32) a amostra intencional é toda escolhida de acordo com
“bom julgamento da população/universo.”.

18
3.2.3. Descrição da Amostra
A amostra para a pesquisa foi constituída por três (3) agentes do SERNIC e 1 gerente do BCI,
chefe da brigada e um agente instrutor.

Ao chefe da brigada procurou-se aferir o funcionamento da Brigada relativamente aos casos


de fraudes de dados em cartões de crédito na Cidade da Matola, os procedimentos que o
SERNIC adopta para o seu esclarecimento dos casos de fraude de dados dos cartões.

Em relação ao agente instrutor e agente de informação operativa técnica, foi possível aferir
os modus operandi dos praticantes das fraudes e quais têm sido os procedimentos que
adoptam para o seu esclarecimento. A eleição destes agentes, deveu-se ao facto de tratar-se
de agentes que se fazem ao local do facto, e têm primeiro contacto com o local. Ademais,
são responsáveis pela recolha dos vestígios e pela procura de dados e informações sobre
possíveis suspeitos.

Quanto aos gerentes das instituições bancárias colheu-se junto deles, informações sobre a
frequência de casos de fraudes de dados de cartões de crédito dos seus clientes, as medidas
que são tomadas para apurar a autoria desses casos e como têm sido actuação do SERNIC no
esclarecimento dos casos participados as autoridades policiais.

3.2.4. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados

Neste tópico apresenta-se a descrição das técnicas assim como os instrumentos que foram
usados para a recolha de dados junto da população alvo da pesquisa supramencionados.

3.3. Técnicas de Recolha de Dados


Para a recolha de dados foram usadas as seguintes técnicas: pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e entrevista.

a) Pesquisa Bibliográfica

Para Rodrigues (2007,p.15) o levantamento bibliográfico consiste na “ busca informações e


dados disponíveis em publicações – livros, teses e artigos de origem nacional ou
internacional, e na internet, realizados por outros pesquisadores.”

A presente técnica foi crucial para a pesquisa, na medida em que, colocou o pesquisador a par
de outros estudos (livros, manuais, artigos científicos, monografias, dissertações, teses, entre

19
outros) que abordam sobre os crimes cibernéticos o que contribuiu para a delimitação dos
contornos do problema em estudo bem como as teorias que o sustentaram.

b) Pesquisa Documental

Segundo Jung (2003, p.129) a pesquisa documental permite

Conhecer os diversos tipos de documentos e provas existentes sobre conhecimentos


científicos. Estes documentos normalmente não receberam tratamento prévio analítico,
encontram se muitas vezes nos seus locais de origem. É efectuada essencialmente em centros
de pesquisa, museus, acervos particulares e centros de documentação e registo.

A pesquisa documental foi útil no enquadramento jurídico-legal do fenómeno em estudo


através das leis e decretos mencionados ao longo do trabalho, bem como fornecer dados da
evolução de número de casos ao longo do período em estudo através dos conteúdos patentes
nos informes anuais da PGR referentes aos anos de 2017 / 2019, estatísticas de crime e
justiça em Moçambique neste caso dos registos dos casos de crimes cibernéticos na
província de Maputo.

c) Entrevista

Para Silva e Menezes (2001, p.33) entrevista é “a obtenção de informações de um


entrevistado, sobre determinado assunto ou problema.”

Para a pesquisa aplicou-se a entrevista semi-estruturada ao chefe da brigada do SERNIC, ao


agente instrutor e ao agente de informação operativa. A razão da escolha desta técnica é de
abrir espaço para ambas as partes acrescentarem quaisquer dados, informações, opiniões,
ilações ou sensibilidades. A entrevista foi composta na sua totalidade por questões abertas o
que permitiu obter informações bastante pertinentes para a materialização do objectivo geral
da pesquisa.

d) Questionário

Segundo Gressler (1979, p. 54), é constituído por uma série de perguntas organizadas com o
objectivo de levantar dados para uma pesquisa, cujas respostas são formuladas pelo
informante ou pesquisadas sem a assistência directa ou orientação do investigador, todas as
questões do questionário são pré-elaboradas, e as respostas são dadas por escrito.

20
Por ser uma técnica que garante a flexibilidade e clareza na obtenção de dados a sua aplicação
foi feita aos gerentes dos bancos comerciais de forma a obter respostas sobre casos que os
clientes das suas instituições participaram referente a fraudes de dados de seus cartões de
crédito, vide tabela 1.

Tabela 1: Síntese das técnicas de recolha de dados

Técnica de recolha Instrumentos de


Função ou cargo
de dados recolha de dados
Chefe da brigada do SERNIC Entrevista Guião de entrevista

Agente instrutor Entrevista Guião de entrevista


Agente de informação operativa Entrevista Guião de entrevista

Gerente do banco comercial BCI Questionário Questionário

Fonte: Elaborado pela autora com base na distribuição da amostra

3.4. Limitações do Estudo


A presente pesquisa teve como limitações:

 Dificuldades de encontrar material bibliográfico relacionado com o estudo, principalmente


de Moçambique, uma vez que se trata de um tipo de crime novo no país.
 A dificuldade de acesso aos relatórios anuais (2017 a 2019) referentes aos registos de
número de casos de fraude de dados nos cartões de crédito o que influenciou a tirar
conclusões na pesquisa apenas a partir dados dos informes anuais da PGR e relatos dos
entrevistados;
 Dificuldade em conciliar a investigação com o estágio curricular.

CAPITULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS DO ESTUDO DE CASO

O presente capítulo é referente a análise e interpretação de dados recolhidos no campo


fazendo um cruzamento com o problema, os objectivos e as teorias de base que sustentaram o
estudo. Assim, a apresentação dos dados foi feita em função dos objectivos específicos. No
primeiro ponto discutem-se modus operandis dos praticantes do crime de fraudes de dados

21
nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola; no segundo momento,
destacam-se os procedimentos adoptados pelo SERNIC no esclarecimento do crime de
fraudes de dados nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola enquanto no
terceiro momento faz-se análise da intervenção do SERNIC comparando com o nível de
esclarecimento de crime de fraudes de dados em cartões de crédito no período de 2017 a
2019.

4.1. Modus operandis dos praticantes do crime de fraudes de dados nas transacções pelos
cartões de crédito na Cidade da Matola

Nesta secção procurou-se percepções dos entrevistados sobre os modus operands dos agentes
do crime de fraudes de dados nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola.

Assim, sobre os modus operandis usados na prática deste crime, os entrevistados foram
unânimes em afirmar que o principal modu operand de fraude de dados na cidade da Matola é
a clonagem de cartões, e esta ocorre através do skinner, POS e infiltração no ATM, sendo,
este último o mais frequente. Como consta nos depoimentos abaixo:

Nos casos de crimes de fraude de dados a maior parte destes casos são feitos através da
clonagem de cartões que é muito usado nos cartões que não possuem chip, porque as
informações que contem no chip vem na banda magnética. (Entrevista ao Chefe da brigada de
crimes informáticos no dia 07.12.2021)

Os cartões clonados ocorrem de diversas formas podendo se infiltrar uma câmera no ATM,
uso de skinner que é uma máquina de clonagem de cartões que recolhe as informações dos
cartões e através do POS. De salientar que a maior parte dos casos são feitos nos ATM.
(Entrevista a um dos agentes instrutor da brigada de crimes informáticos no dia 07.12.2021)

Sobre a clonagem de cartões Frigo (2013) afirma que ela ocorre por meio da utilização de
equipamento espúrio, conhecido como “chupa cabra” ou ainda skinner, no qual são clonados
os dados dos cartões e copiadas as informações contidas na tarja magnética. A clonagem é
feita ao passar o cartão em uma máquina como se fosse uma máquina electrónica de
autenticação de pagamento.

Na concepção de Parodi (cit. in Frigo, 2013, p.14), os equipamentos espúrios são encontrados
frequentemente em postos de gasolina e outros estabelecimentos de grande rotação. Para o
mesmo autor a clonagem pode acontecer com o consentimento, participação ou auxílio de

22
algum funcionário do estabelecimento comercial que passa o cartão para a clonagem longe da
visão do dono do cartão. Em outras, pode acontecer quando os donos ou funcionários dos
estabelecimentos serem enganados por falsos técnicos de manutenção dos aparelhos utilizados
para compras com cartão. Em ambos os casos os aparelhos como POS, são adulterados para
estocar os dados das tarjas magnéticas dos cartões, além de executar o processo formal de
autenticação da compra.

Ainda na senda dos modus operands os entrevistados referiram que o uso dos ATM como
espaço para o cometimento de crimes de fraude de dados em cartões de crédito os autores do
crime introduzem uma câmera para capturar o PIN do cartão do utente o que culmina em
golpe do próprio cartão retido.

Sobre este último modu operandi, Frigo (2013), explica que o golpe do cartão retido é feito
com a inserção de artefacto espúrio que retém o cartão do usuário em algum ATM (Terminal
de Auto atendimento). O cliente ao inserir o cartão no equipamento percebe que seu cartão
ficou preso/retido na máquina e então procura no ambiente por telefone da central de
atendimento do banco para reportar o ocorrido e bloquear o cartão. Essas acções,
normalmente ocorrem fora do horário normal de atendimento bancário.

Do disposto, pode-se constatar que os modus operandis dos agentes fraudadores de cartões de
crédito na Matola são a clonagem de cartões por meio de skinner, adulteração de POS e
golpes no ATM como o do cartão retido.

4.2. Os procedimentos adoptados pelo SERNIC no esclarecimento do crime de fraudes


de dados nas transacções pelos cartões de crédito na Cidade da Matola

Neste subponto, apresentam-se as percepções dos entrevistados sobre os procedimentos


adoptados pelo SERNIC na investigação dos crimes de fraude de dados nos cartões de crédito

Ora, a investigação do crime de fraude de dados em cartões de crédito compete a repartição de


Investigação de Crimes Informáticos, de falsidade e de perigo comum, conforme salientou o
chefe da brigada, esta repartição comporta três (3) brigadas a saber: Brigada de crimes
informáticos e falsidades, brigada de crimes de perigo comum e brigada de crimes contra
arguidos desconhecidos.

23
Para melhor entendimento da estrutura funcional que compete investigação dos crimes a
informáticos, abaixo é apresentado o seguinte esquema resumo:

Esquema 1: Estrutura funcional do SERNIC

SERNIC
Direcçãoa
nivel local
Provincial

DPT
Investigação
e instrução
Criminal

RPT de RPT de RPT de RPT de


Investigação Investigação Investigação Investigação
de Crimes de Crimes de Crimes Cartório
de Crimes
Contra o Informático, Contra o Contra as
Estado de Património Pessoas
Fasificação e em geral
de perigo

Brigada de
crimes Brigada de Brigada de
contra crimes de crimes
arguidos perigo informáticos
desconhecid comum e falsificação
os

Fonte: Elaborado pelo autor

Deste modo, mostra-se a existência de um padrão organizacional para a intervenção dos


agentes do SERNIC. De acordo com os entrevistados os procedimentos levados acabo pelo
SERNIC na investigação deste, triagem após a denúncia pelo cliente. Para além da triagem,
em caso de fraudes na ATM prossegue-se com o pedido ao banco para a recuperação e através
da linha operativa a fim de identificar o indiciado como se pode ler a seguir.

Pela natureza dos crimes de investigação criminal, os agentes autorizados na área de


instrução intervém depois de lavrar o expediente auto da notícia e denúncia pelo cliente ou

24
banco e se segue a triagem (Entrevista do agente instrutor da brigada de crimes informático
no dia 07.12.2021

Nestes casos a maior parte destes casos são feitos nos ATMs, pede-se as imagens aos bancos
e através da linha operativa consegue-se identificar os indiciados, pela experiencia de
trabalho já tivemos um caso desvendado através das diligencias feitas identificou-se o
criminoso e a sua residência através das imagens fornecidas pelos bancos. (Entrevista ao
Chefe da Brigada de crimes informático no dia 07.12.2021)

Os procedimentos usados na investigação de crime desta natureza, Arrone (2019) enfatiza que
a custódia da prova digital não é possível ser garantida sem a devida cooperação com as
várias instituições que incorporam o sistema bancário nacional e outros, pelo que, é pertinente
que seja criada uma linha ou sistema interligado que garanta a partilha de informações ou
acesso à meta dados que nos permitam de certa forma chegar às organizações criminosas
responsáveis e detê-las.

Como se pode constatar, os agentes do SERNIC, tem como forma de intervenção a


identificação dos indiciados através das câmeras dos bancos quando o local da ocorrência
disponha das mesmas e é considerado um procedimento eficaz. A outra forma de diligência é
a busca de informações junto das instituições vítimas ou onde ocorreu o caso a fim de
encontrar indícios que possam levar a identificação dos criminosos, nestes últimos casos o
processo tem sido moroso e o seu esclarecimento deficiente.

4.3. A intervenção do SERNIC Versus nível de esclarecimento de crime de fraudes de


dados em cartões de crédito no período de 2017 a 2019

No que concerne a intervenção do SERNIC e o nível de esclarecimento dos casos reportados


na Matola, segundo os dados fornecidos pelo chefe da brigada de crimes informáticos e
falsidades referentes ao período em análise 2017 e 2019 apontam para uma evolução dos
crimes de fraude de dados nos cartões de crédito tendo desta forma registado 104 casos no
ano de 2017, dos quais 10 pendentes do período anterior, 94 entrados no ano 2017, em 2018
registou um aumento para 234 processos contra os 104 do ano anterior havendo um aumento
de 55,6% e em 2019 foram instaurados 463 processos contra 234 do período anterior,
verificando-se um aumento de 49.7 %

25
A tabela 2 ilustra de forma resumida e clara o número de casos registados no período de 2017
à 2019 na província Maputo, assim como o número e o percentual de casos esclarecidos em
cada ano e os casos pendentes ou seja, não esclarecidos. Os entrevistados salientaram que este
número de casos é referente a província de Maputo na sua totalidade distribuídos pelos locais
com maior fluxo desse tipo de crime nomeadamente a Cidade da Matola, Machava e Matola
rio.

Tabela 2: Registos de fraudes de dados na província de Maputo 2017 a 2019

Ano Casos Casos % Casos %


entrados esclarecidos pendentes

2017 104 79 75 25 25

2018 234 83 35 151 65

2019 463 159 34 304 66

Total 801 321 40 480 60

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados das entrevistas

Do disposto acima, pode-se constatar que há uma tendência de aumento de número do registo
de casos, do lado contrário o deficiente esclarecimento, o que pode ser justificado pelos
modus operands dos criminosos que estão além das capacidades da investigação como
mencionados anteriormente, pois não há recursos suficientes para intervenção do SERNIC,
limitando-se as informações ou dados fornecidos por outras instituições envolvidas no sistema
bancário. Facto relatado no depoimento abaixo:

Os casos mais complexos de desvendar são os de clonagem de cartões por skinner e os POS
porque muitas vezes envolve um certo numero de indivíduos sendo em alguns casos
funcionários de alguns estabelecimentos comerciais e técnicos ou falso técnicos das
maquinas de pagamento electrónico que aproveitam-se da distracção dos seus clientes para
subtrair os valores monetários a quando das suas transacções através do cartão de credito
ou pela falta de devida instrução do uso dos meios de pagamento electrónicos. Este casos são
processos complexos e difíceis de determinar o tempo pois para o esclarecimento deste,
depende das informações de outras instituições, para tal precisa-se da autorização do juiz

26
para quebrar o sigilo destas instituições. (Entrevista ao chefe da brigada de crimes
informáticos aos 07.12.2012).

4.4. Desafios enfrentados pelo SERNIC no esclarecimento de crime de fraudes de dados


em cartões de crédito
Este ponto objectiva essencialmente apresentar os desafios enfrentados pelo SERNIC no
processo de esclarecimento de crime de fraude de dados nos cartões de crédito na Matola,
sobre esse ponto os entrevistados mostraram preocupação apontando várias lacunas
enfrentadas no decorrer de suas actividades tais como: meios profissionais, falta de viaturas, n
computadores, quadros formados dependem dos agentes no terreno, não tem formação de
evolução e informáticos.

Eis o depoimento:

O SERNIC não dispõe de meios profissionais, não tem viaturas, não tem computadores, não
tem quadros formados tudo depende dos agentes no terreno, não tem formação de evolução e
não tem informáticos (Entrevista ao chefe da brigada de crimes informáticos no dia
07.12.2021).

27
V: CONCLUSÃO E SUGESTÕES

5.1. Conclusões
A pesquisa subordinada ao tema: Intervenção do Serviço Nacional de Investigação Criminal
no esclarecimento de crimes de fraude de dados de cartões de crédito na Cidade da Matola: O
caso Direcção Provincial do SERNIC de Maputo (2017 - 2019), propôs-se a analisar a
intervenção do SERNIC no esclarecimento do crime de fraude de dados nas transacções pelos
cartões de crédito na Cidade da Matola com o objectivo de responder a pergunta de partida:
Como é que o Serviço Nacional de Investigação Criminal intervém no esclarecimento de
fraudes de dados nos cartões de crédito na Cidade da Matola?

Assim, do estudo feito conclui-se o seguinte:


 Que o principal o modu operand dos agentes do crime de fraudes nas transacções
pelos cartões de crédito na Cidade de Matola é a clonagem de cartões que pode ocorrer
através do uso do skinner, POS e infiltração no ATM sendo este último o mais
frequente;
 A investigação dos crimes de fraudes de dados que o delito acontece no ATM do
banco recorre a câmeras ou imagens para a identificação do indiciado; nos casos de
clonagem com recurso ao skinner e POS recorre se as instituições envolvidas no
serviço de pagamento electrónico para fornecer dados que possam levar a
identificação do indiciado;
 Constou-se o aumento significativo de casos de fraudes de dados no período em
análise não foi correspondido pelo nível de esclarecimento, ou seja enquanto os casos
de fraude de cartões aumenta, regista-se um défice no esclarecimento dos mesmos
apontando
 Os procedimentos usados mostram-se ineficazes para responder as exigências actuais
da dinâmica dos crimes informáticos havendo necessidade do SERNIC a aprimorar os
seus recursos humanos e materiais, de capacitações massivas e formações de evolução

28
5.2. Sugestões
As conclusões desta pesquisa mostram que os procedimentos usados pelo SERNIC mostram-
se incapazes para responder o crescente aumento índice de crimes informáticos, a fim de se
elevar o índice de esclarecimento dos casos há necessidade de:
 O Governo/Estado investir no melhoramento e apetrechamento dos recursos matérias
para fazer face ao novo panorama dos crimes informáticos, que vem contrapondo as
intervenções arcaicas adoptadas actualmente pelo SERNIC;

 Capacitação dos agentes em matérias de informática o que deve ser continuo.

29
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Albrecht, W. Steve et al. (2009). Fraud examination. 3. ed. Canada: South-Western.


 Cossa, A. (2014). Investigação de Homicídio. Michafutene: ACIPOL.
 Do Nascimento. N. (2016) Crimes cibernéticos. Fundação Educacional do Município
de Assis – FEMA – Assis
 Durhkeim, E. (2000). O suicídio. São Paulo: Erikson, Kai.
 Frigo. A. D. (2013). Instituições bancárias: As fraudes via internet banking, com
cartões e suas medidas preventivas. Monografia de licenciatura em Contabilidade
Universidade Federal do Paraná. Curitiba
 Genena, S. & Da Cruz, T.(2014) o papel da inteligência no enfrentamento ao crime
organizado: a experiência recente do estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de
Estudos de Segurança Pública, REBESP, Goiânia, v. 6, n. 1, p. 02-11, 2014 2
 GIL, A. L. (1999) Fraudes Informatizadas. 2ª edição. São Paulo: Atlas.
 Gomes, R. (2009). Prevenir o crime organizado: inteligência policial, democracia e
difusão do conhecimento. Revista do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, v. 21, n.
8.
 Jofrice. A.C. (2014). A investigação criminal em Moçambique: o recurso às escutas
telefónicas na investigação de crimes graves e complexos: (caso específico dos
sequestros na cidade de Maputo período 2011/2013). Dissertação de Mestrado em
Criminologia e Investigação Criminal. Lisboa
 Lopes, M. (2017). Manual de gestão para a investigação criminal. Trabalho
desenvolvido no âmbito da criminalidade organizada, corrupção, branqueamento de
capitais e tráfico de estupefacientes.
 Manuel. H (2015). A Investigação Criminal no Estado de Direito Democrático:
Autonomia e Dependência da Polícia de Investigação Criminal em Moçambique.
Dissertação Final de Mestrado Integrado em Ciências Policiais: edição Lisboa;
 Oliveira. P. H. (2016). Detecção de fraudes em cartões classificador baseado em
regras de associação e regressão logística. Dissertação em ciência de computação.
São Paulo.
 Pereira. E (2010) Investigação Criminal: uma abordagem jurídica científica.
Academia Nacional de Polícia – Brasil

30
 Prodanov, C & Freitas, E. (2013). Metodologia do trabalho científico: métodos e
técnicas da pesquisa e do trabalho académico. Brasil.
 Rodrigues, W. (2007). Metodologia Científica. Paracambi.
 Silva, E & Menezes, E. (2001). Metodologia de pesquisa Científica. Dissertação
apresentada na Universidade Federal de Santa Cantarina. 3ª edição. Brasil.
 Tribunal Regional Federal da 3ª Região.(2017) Escola de Magistrados Investigação e

prova nos crimes cibernéticos. São Paulo, Cadernos de estudos;

 Vasco, M. (2018). Investigação criminal - gestão do local do crime em Portugal e


Angola. Dissertação apresentada do Curso de Formação de Oficiais de Polícia.
Portugal.

Consultas na web:
 MateusLima@ maio28,2017.https://mateusjuliolima.blogspot.com/2017/05/
criminalidade-informatica-introducao-o.html acessado [19.03.2021]
 https://www.dn.pt/lusa/governo-mocambicano-aprova-resolucao-sobre-
ciberseguranca--9631947.html acessado [29.03.2021]
 Chuquela, A. (2019) crimes informáticos desafios enfrentados pelas autoridades
judiciárias. Procuradoria-geral da Republica https://mozcyber.inage.gov.mz/wp-
content/uploads/2019/05/Crimes-Informaticos-Amabelia-ChuquelaProcuradoria-
Geral-da-República.pdf acessado: [29.03.21]

Legislação e documentos oficiais:

 Decreto-lei 35007 de 31 de Outubro (1945).


 Estratégia Nacional de Segurança Cibernética de Moçambique (2017 - 2021)
 Lei n.º 2/2017 de 9 de Janeiro. Cria o Serviço Nacional de Investigação Criminal
(SERNIC);
 Código Penal, Lei n.º 24/2019, promulgada em 10 de Dezembro de 2017, nos artigos
289, 294, 295, 337, 338,339;
 Código Penal, Lei n.º 35/2014, promulgada em Dezembro de 2014, que cobre os
crimes informáticos nos seus artigos 317, 318, 323, 324 e 326;
 Procuradoria-geral da Republica. (2017). Informação anual de 2017 do procurador-geral à
Assembleia da Republica. Maputo

31
 Procuradoria-geral da Republica. (2018). Informação anual de 2018 do procurador-geral à
Assembleia da Republica. Maputo
 Procuradoria-geral da Republica. (2019). Informação anual de 2018 do procurador-geral à
Assembleia da Republica. Maputo

32
APÊNDICES

33
APÊNDICE 2.Guião de entrevista dirigido a Direcção Provincial do SERNIC Maputo

Á DIRECÇÃO PROVINCIAL DO SERNIC MAPUTO

A presente entrevista destina-se a recolher informações para a realização de licenciatura em


Ciências Policiais, na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), Ilda Lourina Cumbane, com
o tema” Intervenção do SERNIC no esclarecimento de crimes de fraudes de dados nos
cartões de crédito na Matola: Caso da Direcção Provincial do SERNIC - Maputo (2017 -
2019) ”. Para a sua efectivação pretende-se que o (a) Senhor (a) entrevistado (a) forneça e
transmita aquilo que na sua opinião poderá contribuir para compreender a actuação do
SERNIC relativamente ao esclarecimento dos crimes de fraudes de dados dos cartões de
crédito na Matola.

Os dados fornecidos serão usados exclusivamente para o presente trabalho científico, cuja
confidencialidade da identidade do (a) entrevistado (a) é garantida para os fins alheios a este
trabalho.

Agradecemos, desde já, a sua pronta colaboração.

Nome do (a) entrevistado (a): ___________________________________________ Local:


_________________________________________ Data: ____/ ____ /_____

1. Organização a que pertence: _________________________________________

2. Tempo de serviço na organização: ____________________________________

3. Departamento: ____________________________________________________

5. Função: __________________________________________________________

6. Tempo de Funçãoː____________________________________________________

QUESTÕES PRINCIPAIS

1. De que forma o Serviço Nacional de Investigação Criminal intervêm no


esclarecimento de "fraudes de dados nos cartões de crédito" na Matola?
2. Qual é o registo em termos numéricos deste tipo de Crime no período de 2017 a 2020?
a) Qual é o nível de esclarecimentos em termos numéricos e percentuais?
3. Quais tem sidos os modus operandis dos fraudadores?

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4. Que procedimentos (métodos e técnicas) são adoptados pelo SERNIC para o
esclarecimento do crime de fraudes de dados nos cartões?
5. Quanto tempo em média leva o processo investigativo desse tipo de crime?
6. Gostaria de saber se existe um gabinete ou secção que responde apenas à questão de
crimes cibernéticos?
a) Se sim, que avaliação faz em termos de resultados no que concerne ao nível de
esclarecimento dos casos reportados pelas instituições bancárias ou mesmo pelos
clientes vitimas destes crimes, desde a criação desse gabinete ou secção?
7. Acha que o SERNIC tem ao seu dispor meios materiais e sofisticados, capacitação
suficiente para buscar a autoria e proveniência dos agentes desta tipologia de crimes,
sendo que estes dispõem de meios de actuação por meios electrónicos e ou digitais,
sendo de certa forma de difícil prova material?
8. Quais são os desafios enfrentados pelo SERNIC no processo de esclarecimento dos
crimes de fraudes de dados em cartões de crédito e como acha que pode se aumentar
ou melhorar a eficácia na sua intervenção?

Entrevistador

Ilda Lourina Cumbane

APÊNDICE 2. Questionário dirigido ao banco comercial de investimento (BCI) balcão


na Matola

QUESTIONÁRIO DIRIGIDO AO BANCO COMERCIAL DE INVESTIMENTO (BCI)


BALCÃO NA MATOLA

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Chamo-me Ilda Lourino Cumbane estudante no Curso de Licenciatura em Ciências Policiais
na Academia de Ciências Policiais, estou neste momento a recolher dados no âmbito do
trabalho de fim de curso intitulado “Intervenção do SERNIC no esclarecimento de crimes
de fraudes de dados nos cartões de crédito na cidade de Maputo, cujo objectivo é
analisar a intervenção do Serviço Nacional de Investigação Criminal no esclarecimento
de fraudes de dados nos cartões de crédito na Cidade da Matola.

Por isso, pedimos que o Senhor/a aceite a nossa entrevista. Garantimos a confidencialidade e
o anonimato de todas as informações que irá nos fornecer. Desde já agradecemos a sua
colaboração.

As respostas são fundamentais para a realização bem-sucedida do trabalho de pesquisa.

1. A instituição tem recebido dos clientes reclamações referente a casos de fraudes de


dados em cartões de crédito dos seus clientes?

1.1. Quais são as fraudes mais frequentes por meio dos cartões de crédito?
1.2. Que procedimentos a instituição têm tomado para fazer face a esse tipo de
crimes?
1.3. Como é que o SERNIC tem interveio nesses casos?
1.4. Dos casos reportados ao SERNIC foi possível obter esclarecimento sobre a
proveniência ou autoria dos fraudadores?
1.5. Quanto tempo levou o processo investigativo?

2. Qual é a avaliação que a instituição faz em relação ao nível de esclarecimento dos


casos que a instituição reportou ao SERNIC no período de 2017 a 2020?

3. Na visão da instituição, até que ponto as fraudes nos cartões de créditos desafios
trazem desafios para as instituições bancárias, a sociedade e para investigação criminal
em Moçambique?

4. Que acções o SERNIC deve tomar para que haja eficácia no esclarecimento de crimes
desta natureza?

Obrigado, pela colaboração

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