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LEI DE CRIMES AMBIENTAIS NO BRASIL NO QUE TANGE O CRIME DE

MAUS-TRATOS AOS ANIMAIS.

Gabriela Peixoto Wanderley

Delimitação do Tema: Direito dos animais: normas jurídicas à vedação aos maus-
tratos.

Hipóteses: As questões para a pesquisa são que, devido o direito civil classificar o
animal como coisa passível de apropriação (art. 82 do CC), a tendência cultural faz
com que os proprietários de animais pensem poder utilizar-se dos mesmos da forma
como acharem adequada, desrespeitando, na maioria das vezes as previsões legais
de vedação a maus-tratos. Outra hipótese é como definir de fato, o que seriam os
maus-tratos ao qual a Lei nº 9.605/98, previu em seu art. 32, uma vez que, tal artigo
não é claro ao determinar quais práticas são entendidas como maus-tratos.

Justificativa: Esta pesquisa se justifica pelo grande número de casos veiculados


nas mídias sociais, inclusive denunciados pelas instituições de amparo aos animais,
expostos em suas redes sociais, envolvendo agressão, abandono e crueldade, que
resultam, muitas vezes, no óbito de animais.

Objetivo: Esta pesquisa cientifica tem por objetivo analisar as leis brasileiras de
proteção aos animais, em especial aos domésticos, uma vez que estes estão na
condição de “propriedade particular” e estão mais suscetíveis a abusos, contra os
maus-tratos ou atos de abusos, bem como analisar a aplicação da punição prevista
nestas leis para contribuir com a luta pelos direitos desses seres vivos indefesos e
frágeis, evidenciando que, em que pese existam leis que tratem da tutela dos
animais no Brasil, ainda há grande fragilidade na proteção destinada a esses seres.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os animais sempre conviveram nas sociedades, hora como alimento para os


homens, hora fazendo companhia, auxiliando nos trabalhos, na segurança, e que
hoje até são considerados parte da família. Ainda assim sempre foram vítimas dos
mais diversos tipos de crueldades, pois embora existam leis que tentem coibir os
maus tratos, e famílias que cuidem e consideram os animais como entes familiares,
ainda existem aqueles que assim como no código civil brasileiro, em seu Art. 82, os
consideram como meros bens, propriedades, concepção esta, fortalecida pela
vulnerabilidade dos animais e pela visão antropocêntrica de que o homem teria
domínio sobre as demais espécies viventes.

Segundo Soares:

Considerando que os crimes cometidos contra animais têm classificação


como de “menor potencial ofensivo”, sendo tratados no âmbito dos Juizados
Especiais Criminais, vem surgindo, para estudiosos do Direito e para
protetores da vida animal, a premente necessidade de maior rigor nas
penas aplicadas para os indivíduos que cometem crimes contra os animais,
em virtude de alguns fatores, dos quais se destacam: a) a impossibilidade
de defesa dos bichos; b) sua condição de vulnerabilidade; c) o caráter de
seres conscientes, passíveis de dor e sofrimento; d) a ligação entre
violência contra animais e outros crimes; e) aspectos morais e éticos que
uma sociedade desenvolvida deve observar.

São diversos os tipos de maus-tratos e é muito comum animais domésticos


sofrerem abandono quando seus donos não conseguem adestra-los, ou quando
ficam velhos e adoecem fazendo com os donos percam o interesse pelos mesmos,
largando-os nas ruas.

É muito comum também, animais domésticos ou domesticados serem


mantidos presos por muito tempo sem comida e contato com seus donos, sendo
deixados em lugares sem higienização, ou sofrerem agressão física, mutilação ou
serem deixados doentes sem tratamentos. São diversas as formas de maus-tratos,
porém e a lei 9.605/98, de Crimes Ambientais, não descreve o tipo, deixando a
critério de o intérprete entender determinada situação como sendo ou não motivo de
penalização.
A Lei de Crimes Ambientais foi criada para regulamentar o disposto no Art.
225, §3º da Constituição Federal, que prevê uma série de sanções penais e
administrativas para aqueles que praticarem atos lesivos ao meio ambiente.

Complementa também o previsto no Art. 225, §1º, inciso VII da CF, que trata
da proteção da fauna e proibição de submissão dos animais à crueldade, o qual
busca assegurar, nos diferentes tipos penais, a proteção de todos os animais, sejam
eles domésticos, domesticados, silvestres, exóticos ou nativos.

Dentre os tipos penais que tutelam a fauna, destaca-se o tipo penal do Art.
32 da Lei de Crimes Ambientais, o único passível de aplicação contra aqueles que
praticarem crimes contra animais domésticos e domesticados.

Referido artigo, traz a seguinte redação:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais


silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena – detenção, de 3 (três meses a 1 (um) ano, e multa.

§1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel
em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando
existirem recursos alternativos.

§2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do


animal.

Importante complementar que:

O art. 32 da lei 9.605/98, que criminalizou a crueldade contra os animais,


teve o mérito de uniformizar o tratamento aos animais silvestres e
domésticos, uma vez que, antes do advento da citada lei, apenas os maus-
tratos praticados contra a fauna silvestre eram considerados crime, ao
passo que os maus-tratos aos animais domésticos, que acabam ocorrendo
com muito mais frequência do que se imagina, consistiam em mera
contravenção penal. (BELIZARDO, p. 8).

Balizardo (p. 9) complementa que: “Estudos recentes demonstram que os


animais são seres sensíveis e, portanto, dotados de sentimento.” Com isto, a
concepção civilista de que os mesmos são meros objetos, torna-se ultrapassado,
uma vez que alguns entendimentos doutrinários são de que os animais merecem
todo respeito uma vez que para estes, os mesmos são sujeitos de direitos.

Verifica-se, no entanto, que não parecem efetivos os meios atualmente


utilizados. A principal lei penal ambiental brasileira prioriza a reparação do dano,
mas deixar de observar que não há forma justa de reparação para a crueldade
contra animais, e na maioria das vezes, os maus-tratos deixam sequelas ou ainda,
de maneira mais gravosa, levam o animal a óbito. Assim, se considerado que o
animal é um ser vivo que experimenta sensações comuns aos humanos (medo, dor,
frio, fome, raiva etc.), o que permite sofrimento, não existe reparação passível de ser
aplicada diante da crueldade ou maus-tratos.

Sobre o conceito de maus-tratos, merece destaque a posição de Custódio


(1997, p. 61):
A crueldade contra animais é toda ação ou omissão, dolosa ou culposa (ato
ilícito), em locais públicos ou privados, mediante matança cruel pela caça
abusiva, por desmatamentos ou incêndios criminosos, por poluição
ambiental, mediante dolorosas experiências diversas (didáticas, científicas,
laboratoriais, genéticas, mecânicas, tecnológicas, dentre outras),
amargurantes práticas diversas (econômicas, sociais, populares, esportivas
como tiro ao voo, tiro ao alvo, de trabalhos excessivos ou forçados além dos
limites normais, de prisões, cativeiros ou transportes em condições
desumanas, de abandono em condições enfermas, mutiladas, sedentas,
famintas, cegas ou extenuantes, de espetáculos violentos como lutas entre
animais até a exaustão ou morte, touradas, farra de boi, ou similares),
abates atrozes, castigos violentos e tiranos, adestramentos por meios e
instrumentos torturantes para fins domésticos, agrícolas ou para
exposições, ou quaisquer outras condutas impiedosas resultantes em maus
tratos contra animais vivos, submetidos a injustificáveis e inadmissíveis
angústias, dores, torturas, dentre outros atrozes sofrimentos causadores de
danosas lesões corporais, de invalidez, de excessiva fadiga ou de exaustão
até a morte desumana da indefesa vítima animal.

A partir das mudanças no pensamento e modo de agir da sociedade,


principalmente diante de todas as publicações em sites e redes sociais, torna-se
necessário que as legislações surjam e evoluam, se posicionando frente a certas
condutas humanas.

Segundo a publicação de Cristaldo (2019), foi aprovado, no dia 12 de


dezembro de 2019, no plenário da Câmara, o projeto de lei que aumenta a pena
para autores de maus-tratos a cães e gatos domésticos. A matéria segue para o
Senado. Uma grande conquista recente dos animais domésticos, em defesa dos
seus direitos.

Conforme Cristaldo:

O texto aprovado prevê reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição de


guarda de animal, mas apenas para maus-tratos a cães e gatos. A punição
pode chegar a seis anos em caso de morte do animal. Para os animais
silvestres, exóticos ou nativos, a pena continua a mesma. Hoje, a Lei de
Crimes Ambientais determina detenção de três meses a um ano e multa
para casos de violência contra animais.
Na maior parte das vezes os crimes contra animais nem se quer chegam ao
conhecimento das autoridades, seja devido ao medo de denunciar, pela população
considerar tal fato normal, e até mesmo porque desconhecem os procedimentos.
Esse endurecimento na lei será de grande importância para evitarmos que aquele
que pratica maus-tratos a animais possa sair na mesma hora ou no mesmo dia da
delegacia.

Todos têm o dever legal e moral de delatar qualquer caso de violência ou


agressão contra um animal, até mesmo ameaças podem ser comunicadas à polícia,
pois ficar em silêncio ao presenciar a ocorrência de tais fatos acarretará omissão.

Diante do exposto nota-se que os seres humanos, estão aos poucos


evoluindo no que tange aos direitos dos animais, porem a caminha ainda está muito
longe do que deveria. Alguns até mesmo os reconhecem como seres passíveis de
direitos, mas os homens insistem em não respeita-los, em continuar se utilizando
destes seres para o próprio bem estar, ignorando o fato de que os animais merecem
tratamento tão digno quanto cada um de nós.

   
BIBLIOGRAFIA:

BALIZARDO Eloisa (MP/SP). Cartilha de defesa animal. Disponível em


http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/defesa_animal_2015_06_11_dg.
pdf. Acesso em 11 de maio de 2020.

CRISTALDO Heloisa. Câmara endurece penas para quem comete maus-tratos a animal
doméstico. Disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-12/camara-
endurece-penas-para-quem-comete-maus-tratos-animal-domestico. Acesso em 12 de maio
de 2020.

CUSTÓDIO, Helita Barreira. Crueldade contra animais e proteção destes como


relevantes questões jurídico-ambiental e constitucional. Revista de Direito
Ambiental, São Paulo, v. 2, n. 7, p.61, jul./set. 1997.

GUIMARÃES Thais Precoma (2019). Animais de estimação: coisas ou integrantes da


família?. Disponível em https://www.migalhas.com.br/depeso/305759/animais-de-
estimacao-coisas-ou-integrantes-da-familia. Acesso em 11 de maio de 2020.

SOARES Petrusca Veiga. Uma análise sobre a tutela dos direitos dos animais
domésticos e domesticados conferida a partir da lei de crimes ambientais.
Disponível em http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/52913. Acesso
em 11 de maio de 2020.

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