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Feno Resumo Final
Feno Resumo Final
*DASEiN* : é a existência humana que já está-aí. É o ser-ai na condição discutida por Heidegger
*Para compreenções segue texto:*
Heidegger define esta condição existencial do ente homem como o Dasein, a relação do ente humano com seu
ser, com sua essência, a própria existência de fato:
”(…) A pre-sença não é apenas um ente que ocorre entre outros entes. Ao contrário, do ponto de vista ôntico,
ela se destingue pelo privilégio de, em seu ser, isto é, sendo, estar em jogo seu próprio ser. Mas também
pertence a essa constituição de ser da pre-sença a característica de, em seu ser, isto é, sendo, estabelecer uma
relação de ser com seu próprio ser.” (Heidegger, [2006]1927.:38)
Isto é, Dasein existe; é na capacidade de ser e estar em relação com a existência, a partir e do modo em que é
homem; existindo. Logo, o ser- aí não é somente um ente como os outros, mas é aquele que existe imerso na
sua forma única de ser, transitando no sendo, jogando com a existência. *Logo, Dasein é existência* , ponto
essencial de sua própria qualidade de ente detentor da significação de seu ser enquanto subjetividade única,
particular e individual. Ainda se poderia dizer que, ao portar a significação de seu ser, Dasein carrega sua
existência de modo livre e com condição de se ver na necessidade de concretizar a sua existência em meio à
admissão de diversas possibilidades (Heidegger, [2006]1927). Com isso, se Dasein é existência, e *existência
pode ser compreendida como projetar-se para fora rumo a possibilidades indefinidas* (ek-sistência), por
derivação, um novo entendimento de homem ganha lugar.
O professor conta que ele era amigo pessoal de Jung e ambos viajaram juntos pelo Atlântico por quê Jung
desejava conhecer Freud que na época já era muito conhecido.
Jung se tornou amigo de Freud trocavam cartas porém num determinado momento Jung considerou a libido
sexuada e ao escrever esse artigo Freud não gostou e a amizade foi abalada porque Freud via nele um sucessor
seu.
Jung “bebeu das fontes” dos filósofos alemães e o professor Agnaldo relatou que percebeu que o método
Junguiano tinha muito a ver com os métodos fenomenológicos já que Jung pensa que:
Ele fala que o sonho está envolvido com a *atmosfera de tonalidade afetiva* (de afetos) que sempre tem a ver
com a minha relação com o mundo.
Boss ( médico psiquiatra) foi chamado para guerra e levou o livro Ser e Tempo de Heidigger para leitura.
(Ele já conhecia a obra de BinsWanger). Mesmo sem entender o que leu, ele ali percebeu que existia algo
diferente na obra. Ele escreve uma carta para Heidegger e para sua surpresa Heidegger responde e combinam
de fazer o encontro com os psiquiatras amigos dele, para que Heidegger explique a sua filosofia para todos.
Ao invés de um único encontro ocorreram vários e inclusive em um deles, Heidegger diz que BissWanger não
leu direito o livro dele.
RENOVAÇÃO DA DASEINSANALISE
*Daseinsanálise renovada* de Boss e, muitas dessas coisas partem desse livro onde
literalmente ocorre um encontro com a psicologia.
Binswanger não vê na sua ‘Daseinsanalyse’ um novo sistema terapêutico, mas uma abordagem científica para
estudar o ser humano enquanto existência. Ele *critica a psicanálise* como sendo uma doutrina homo-natura,
que simplifica a realidade humana, e modifica a ontologia existencial de Heidegger (a analise do sentido do Ser-
em-geral) numa análise antropológica e fenomenológica onde o ser humano é abordado na sua existência
concreta: (1) num mundo biológico (Umwelt); (2) num mundo social (Mitwelt) e num mundo existencial
(Eigenwelt).” (Gomes, 1986.:2)
Foi a partir da inversão desta primeira proposta de renovação, qual seja, antropologia fenomenológica de
orientação heideggeriana, mediante a intervenção de Medard Boss, que a Daseinsanalyse se instituiu enquanto
escola psicoterapêutica, alicerçada, então, na ontologia fundamental de Martin Heidegger e seus existenciais
(Heidegger,[2006]1927). Com isso, o olhar fenomenológico-existencial passa a ser fundamentado pelo método
de análise psicológica feita.
“A Daseinsanalyse foi proposta por Medard Boss (se ele morasse no brasil, de
certo ia sofrer bulling com esse nome) , prioritariamente, como um novo acesso apara o entendimento do homem,
como um modo particular de aproximar e compreender tanto os fenômenos sadios e patológicos do existir
humano quanto o contexto terapêutico. Boss afirma em seus trabalhos que a Daseinsanalyse não deveria ser
considerada apenas, como mais uma escola na Psicologia, pois trilha um caminho específico, que é o
fenomenológico” (Cardinalli, 2000.:11)
De acordo com o professor, Boss traz resíduos da psicanálise e ele não gosta.
*Angústia e culpa*
ANGUSTIA é o espaço da compreensão
Nesse jogo das angústias se dá a compreensão de Boss no ponto de vista de afeto, de sentimento. No trabalho
terapêutico se mantém a angústia ou seja se mantém o espaço aberto e não se corre atrás de respostas ou
explicações. Isso significa que não devemos nos precipitar com nada e se ocorrer de nos depararmos com um
“não sei”, devemos ficar nele.
CULPA é responsabilidade. Exemplo você é preso porque é culpado. Quando escolhemos alguma coisa, somos
responsáveis e o viés distorcido aparece como culpa. Esse é um espaço que Boss se interessava (através da
perspectiva de Heidegger).
Se não me aproprio da responsabilidade de ter escolhido, essa escolha não é autenticada. Na maioria das vezes
carregamos culpa e não responsabilidade.
Diagnósticos são aprisionamentos de identidades: exemplo: autista tem vários diagnósticos (existem vários
graus do autismo). Isso cria um espaço patologizante de relações. Quando olhamos com um olhar crítico
percebemos que a psicologia participa de um projeto patologizante e ela faz isso sem perceber ou seja, é algo
ingênuo da Psicologia para salvar o mundo e buscar melhorar as pessoas. (Exemplo: ao aplicar testes a
psicologia procura patologias).
O funcionário chega para ele e diz que descobriu um novo medicamento. O dono da indústria pede ao
funcionário que o produza rápido para que possa colocar logo a venda.
O funcionário responde que ainda não pode ser feito isso porque primeiro precisa se achar uma doença para o
medicamento.
*Críticas ao mundo técnico*
Boss vai criticar o mundo técnico.
Nietzsche e Heidegger já diziam que o mundo técnico iria transformar as pessoas em imbecis.
O espaço da Psicologia tradicional não sai do mundo impessoal porque tenta adaptar o indivíduo a fazer o que
se faz, a viver o que se vive e, se você não é como os outros, você precisa de um diagnóstico, que é feito pelo
mundo técnico.
A fenomenologia oferece algo diferente: a possibilidade de refletir sobre algo que está acontecendo.
*A fala reveladora*
Boss vai trazer a importância da fala do ser-no-mundo e vai dizer que ela é reveladora.
A fala do ser no mundo é a linguagem minha que tem a ver com o mundo.
Porém quando conversamos com os outros não fazemos isso. Cada um fala de si apenas.
Na fenomenologia o terapeuta habita a fala do outro e todas as perguntas são feitas a partir da fala do outro.
A pergunta sempre deve ser feita a partir do que o outro fala e isso é o habitar a fala do outro.
O cliente faz isso porque o terapeuta habita a sua fala e ao habitar a fala do paciente o terapeuta ouve. E esse
ouvir é tão atrelado ao terapeuta que o que ele fala, só fala porque ele próprio impõe sua fala.
( perguntar para o professor a respeito do silêncio) – como ele é descrito por Heidegger?
Em uma relação terapêutica se desoculta aquilo que está escondido na própria fala. Como terapeuta isso ganha
validação e aí o cliente se percebe.
Ex:
Cliente: cai em prantos (porque ela se sentia segura controlando) o terapeuta já sabia o que ela estava falando
mas ela ainda não sabe.
O cliente precisa desconstruir a ideia de controle e isso ocorre a partir do momento que ele desoculta o que
aprisiona = o temor daquilo que ele não controla que é: *Apropriar-se de novas
possibilidades de existir*
Heidegger, mais precisamente teve apoio nas articulações por ele feitas a propósito do discurso. Ou seja, pela
fala, o sentido do modo de ser mostra-se como ainda existente e pleno de significação, o que quer dizer que a
linguagem é a morada do ser e, portanto, é no discurso que se encontram os significados subvertidos em
palavras (Heidegger, [2006]1927).
“Nesta perspectiva, as palavras não são entendidas como dotadas de significado em si. Pois é da significação que
brotam as palavras e não é o ser humano isolado que atribui os significados a tudo que está á sua volta, nem o
mundo externo que determina a significação das coisas. É no entre-o-homem-e-o-mundo que se articula como
uma trama significativa, onde se situa o viver e o falar humano.” (Cardinalli, 200.:15)
Cabe notar que o discurso terapêutico compreende silêncio enquanto parte integrante do discurso, na medida
em que difere do ficar calado ou simplesmente pouco falar, conforme Heidegger ([2006]1927). O silêncio é
também expressão do ser; manifestação da linguagem na forma do não falado, isto é, daquilo que pode vir-a-
ser falado, como a negação da fala pelo falante, que ainda tem o que dizer.
Aula 2
Clínica fenomenológica
Professor inicia aula falando que Heidegger promove o sentido do ser e entendia que: não encontraremos o ser
ou o sentido do ser se formos procurá-lo entre a causa e o efeito.
A Fenomenologia é outro lugar da Psicologia que chamamos de terceira via da Psicologia ou psicologia
Humanista.
O pensamento metafísico mede o ser humano e, prescreve ao ser humano. A partir dessa medida (testes) que
faz também classifica o ser humano.
Na clínica fenomenológica
Heidegger questiona o mundo técnico que faz parte do novo ser no mundo. Ele critica o mundo técnico
colocando luz para que possamos nos perceber.
O mundo técnico nos aprisiona e não é um aprisionamento que precisamos nos livrar dele, é um mundo que
precisamos compreendê-lo.
Não é necessário dominar essas ideias na psicologia clínica. O psicólogo não deve se precipitar, deve começar a
olhar de um jeito diferente. Onde está o começo desse olhar? Deve começar olhando e não se precipitando com
as coisas que automaticamente fazemos. Dessa forma é possível se começar a ter um viés diferente.
Quando alguém nos conta algo no psicodiagnóstico, pensamos mil coisas sobre isso e = isso é um pensamento
natural.
Devemos então dar um passo de volta para trás e olhar melhor. Se você faz esse movimento de não se
precipitar, você já começou a olhar com a Fenomenologia.
Olhar de modo fenomenológico é voltar para trás onde o tempo nessa perspectiva, tem o tempo que tem e
precisará ser vivenciado para saber o que tem.
Sobre a prescrição e descrição
Pensar com antecipação é estar prescrevendo a descrição. Na fenomenologia abandonamos o lugar da
prescrição e vamos para o lugar da descrição. Aí é sessão por sessão onde se descreve o que acontece em cada
sessão.
Causa e efeito
Está ligado a perspectiva metodológica positivista
A nossa ingenuidade pode nos levar a uma armadilha de olhar o paciente e achar que ele veio até mim porque
está com depressão.
Mas, para validar a depressão, para ter uma identidade, (a pessoa não tem essa clareza).
Dessa forma o paciente tem uma identidade que não consegue sair dela =a depressão
Jung fala que aquele que pretendia acabar com a depressão da pessoa deve ter cuidado porque você pode
arrancar o coração dessa pessoa.
É necessário compreender:
O professor dá um exemplo da senhora que foi atendida com queixa de depressão levada pelos quatro filhos
para a terapia e estes falam sobre a depressão dela muito preocupados. Ao atendê-la percebe-se que ela não
poderia sair desse lugar da depressão onde era o único lugar que ela conseguia se encontrar com os quatro
filhos. Para ela a depressão era um lugar feliz.
O trabalho da fenomenologia era que a senhora se percebesse na história e que se percebesse nessa trama.
Quando ela se percebeu parou de tomar os medicamentos. Um dia ela conta para o terapeuta que há dois
meses parou de tomar os medicamentos e que percebeu que foi mudando a relação com os filhos porém, ela
não contou para os filhos sobre sua atitude e eles continuaram a levar o medicamento para ela. Os filhos
acreditavam que ela estava melhorando por causa da medicação. Essa paciente fez um movimento ao se
perceber segurando os filhos dela E aí entrou em uma nova fase do tratamento onde agora tem que lidar com as
perdas.
Somos frágeis,
O psicólogo da fenomenologia não busca a cura ou mudar comportamentos para que a pessoa se adapte na
sociedade.
A questão da cura
A fenomenologia é para a cura?
SIM E NÃO
Sim é porque a pessoa que vai nos procurar vem procurar algo e nós teremos o objetivo de proporcionar uma
vida saudável onde ela possa se perceber, se descobrir.
Não não porque não é uma cura de modo tradicional que aquela que patologiza categoriza e medica.
A dor da pessoa é uma dor dela porque ela é um ser humano e todo o ser humano tem dor.
Para termos esse olhar da fenomenologia é fundamental para o terapeuta reconhecer e compreender as
determinações do mundo.
A impropriedade é um lugar de predeterminações do mundo onde fazemos o que se faz, escolhemos os que o
que se escolhe e precisamos sair do lugar automático e olhar como uma grande interrogação, um lugar incerto.
Nós existimos nas perguntas, porque existir é procurar e perguntar: quem sou eu???
Esse espaço determinado subtrai as perguntas. Olhe para sua vida e veja se você faz perguntas. Você não faz,
você repete automaticamente, você faz o que se faz.
Entendimento do terapeuta
Um terapeuta nessa abordagem precisa suportar o estranhamento para estar
disponível aberto para essas coisas.
Esse lugar vai exigir de você resistências, inclusive de segurança.
impropriedade=GERAL
No geral ele está se sentindo prisioneiro e quando ele se descobre aqui neste lugar, ele pode se
compreender e saber como lidar com isso.
Quando a pessoa se encontra no lugar onde ela está fazendo o que queria fazer, ela
está no SINGULAR.
Fazer uma Prova é estar no GERAL onde se faz o que se faz. Geral é o mundo que eu existo.
No geral o paciente está preso e o objetivo terapêutico é que ele se descubra no seu singular.
Existem pessoas que estão tão identificadas com aquele lugar geral que não se dão conta que estão presos
naquilo.
Existe o ninho vazio: no exemplo dado acima a paciente mantinha-se na depressão porque não pode mais ser
mãe quando os filhos foram embora. Ela substituiu o ser mãe por ser depressiva.
É no GERAL que vamos estar e é neste espaço que se descobre a singularidade e se aprende a preservar a
singularidade.
Na fenomenologia não há esse espaço porque ele não é de liberdade é de aprisionamento e sendo de
aprisionamento é um lugar seguro.
Vamos referenciar o sofrimento da pessoa e a sua crise é um para nós um apelo para mudança.
A queixa de uma mãe é algo a ser ouvido mas, se formos além, vamos entender que aquela criança é uma
ruptura de uma estrutura.
A criança é a luz.
Não significa que a criança é o problema. Ela está dentro do problema.
O lugar da "negatividade"
Para fenomenologia negatividade é uma palavra boa porque ela contrapõe a ideia de positividade.
A psicologia tradicional é positivista porque eu não sei rentornar a vida feliz controlada e segura.
Na negatividade eu busco que o meu paciente se perceba nesse caráter de identificação de descontrole.
Se você não compreende os limites e quer abraçar o mundo correndo você fica ansiosa por algo que ainda não
é.
Quando você entende o limite você compreende e aprende a lidar com isso.
Existimos na De-cisão
Existimos na decisão das minhas escolhas e me responsabilizo por elas.
Aula 3
No mundo da psicoterapia
O professor fala que nada que ele fale dará a plenitude da prática clínica. (A perspectiva de
olhar e qual o lugar que ele está pensando).
A clínica fenomenológica fala de algo que se mostra, que é sempre presente (se
anteciparmos tentando demonstrar aquilo que se mostra e não devemos nos precipitar).
A primeira coisa que um psicólogo fenomenológico precisa é não se antecipar não se
precipitar.
Na nossa vida cartesiana, nosso olhar de antecipação já descreve essa pessoa (isso é
antecipar-se ter conceitos antecipados,prévios). Nossas ideias sempre partem de causa e
efeito. Pensamos assim: "a criança é assim porque é criada pela avó ". Isso é pre-conceito.
Não é a questão de poder ou não, porque vamos pensar.
Na fenomenologia esse é o primeiro lugar de antecipação de um terapeuta não se precipitar.
O preconceito faz parte de nosso modo de olhar as coisas. Nascendo suspendemos isso.
Quando vamos encontrar a criança a fala da mãe vem junto e se você não tomar cuidado vai
olhar a criança procurando as falas da mãe.
A criança tem que se mostrar naquilo que é próprio dela. Precisamos deixar vir o que se
mostra
Em termos práticos podemos nos apropriar dessa sabedoria Clínica com um olhar diferente.
Nessa aula vamos compreender o que acontece no ambiente clínico e o que está em jogo.
A hermenêutica de si mesmo
O que está em jogo é a hermenêutica de si mesmo, ou seja a compreensão daquele que te
procura.
Isso se transforma em mola propulsora para ela mudar. Aquilo que ela trouxe como
sofrimento é o que vai levar ela para outro lugar.
Tudo que foi falado tem a ver com a transformação na prática psicoterápica.
A psicologia tradicional propõe isso os medicamentos propõe isso (a tutela dos especialistas
tutelando sua vida).
O professor comenta que um paciente disse que a dor dele era desvalorizada pelos outros.
Ao ser acolhido pelo terapeuta da feno ele passa a se compreender. Ao caminhar junto vai
compreender a dor do paciente e com isso ela se sente viva.
Quando terapeuta trabalha com abordagem fenomenológica, ele está compreendendo essa
pessoa no mundo.
Objetivo do terapeuta não é criar uma condição para que a pessoa viva feliz. É que ela se
compreenda no mundo.
O terapeuta se satisfaz quando esse paciente começa a compreender e a partir daí elas
mudam.
As escolhas da pessoas são responsabilidades dela e quanto mais ela as tem, mais se
conhece no mundo e faz melhores escolhas.
Nesse processo terapêutico o aprisionamento passa a ser percebido pelo paciente e esse é o
papel do terapeuta, fazer com que o paciente perceba e a partir daí a escolha é dele.
O professor conta a história da mulher que buscou terapia querendo manter o casamento e ao
longo do trabalho ela descobre coisas. Neste perceber-se ela começa a pensar em não estar
mais no casamento. Ela percebe que se sair do casamento estarei atraindo a mãe dela ponto
final agora ela percebe que o problema era ela perceber o que ela estava fazendo ali. Ela
casou porque se casa. No final da história ela descobre que o casamento havia sido uma
escolha dela e ela nunca tinha se apropriado disso. Isso se desdobrou em reflexões que
agora possibilitavam a ela ficar no casamento. Ela percebeu que escolheu estar ali e a partir
disso toma posse dessa escolha e diz que se não quiser mais era só escolher novamente. Ela
deixou de se sentir presa.
Ontológico ou ôntico.
Quando a pessoa se percebe responsável das suas escolhas ela está muito mais no
ontológico do que no ôntico .
No espaço ótico não nos movimentamos por escolha.
O JOGO
O que está em jogo sempre no trabalho?
A pessoa chega aprisionada no impessoal. O impessoal é o geral onde ela não é capaz de se
enxergar.
O terapeuta deve manter a interrogação.
A INTERROGAÇÃO
A interrogação tem a ver com o sentido da experiência cotidiana. Ao mantermos a
interrogação mantemos o paciente na procura. Se existir é procura eu não encerro à procura.
Continuamos levando o paciente na interrogação que está vivenciada naquilo que ele está
falando. Num determinado momento o próprio paciente compreende e fala para o
terapeuta:"que só de falar para você eu estou descobrindo coisas, eu me ouço, me percebo".
No mundo cotidiano ao conversar com o outro, ele tira o que é seu.
Na fenomenologia a cliente começa a ouvir ela mesma.
Tudo que o terapeuta fala tem a ver com a fala do outro. Quando você como terapeuta habita
a fala do outro, deve habitar com respeito. Esse é o exercício terapêutico mais exuberante na
fenomenologia.
O professor fala que só vamos saber quando estivermos lá e que cada um vai ser do seu
jeito, com o seu recurso portanto não usaremos técnicas formais, seremos diferentes.
A ANGÚSTIA
Um dos elementos é a angústia
A angústia ontológica é a angústia do nada (não tem objetivo). Ela é o chamado "não sei" e
é justamente nesse espaço vazio que as coisas podem acontecer. Existem momentos de
procura terapêutica em que você se depara com a angústia que tem a ver com a sua
apropriação da sua responsabilidade de buscar no mundo. Se sustenta no nada, no vazio. O
flertar com o vazio É muito de se buscar nesse vazio.
É esse vazio
Ao me mobilizar, me lanço para um lugar inseguro e o que me faz escapar são as minhas
ocupações (correr, pensar...).
Suportar a vertigem do abismo significa o encontro com a liberdade, flertar com ela. Liberdade
nada mais é do que a responsabilidade. Existir é medo do quê? Do vazio que é a nossa vida.
FUGA NO COTIDIANO
Fugimos da Liberdade no nosso cotidiano. Nossa vida segura nunca vai ser plena. Vamos
continuar sentindo medo e a partir daí vai ser diferente. Cada vez mais a pessoa vai poder
dialogar com a verdade.
ENCONTRO COM O EU
No trabalho terapêutico o encontro com o eu não se trata de buscar o eu verdadeiro dentro de
você (ISSO KAI NA PROVA). TEM A VER COM A SUA RELAÇÃO COM O MUNDO, TEM A
VER COM O EU-NO-MUNDO.
No trabalho terapêutico se trata a compreensão das nossas identidades. Nosso terapeutas
não importa a identidade e sim o movimento, a mobilidade. Exemplo: o paciente quando
chega nos mostra que está preso nesta identidade.
Quanto mais medo mais rigidez na personalidade, mais medo, ele não muda por segurança,
fica rígido, sem mobilidade.
Quando percebemos que um paciente está evoluindo?
R: Quando ele consegue se perceber.
A SERENIDADE
Heidegger fala compreendendo da seguinte forma: eu, vc no mundo que já estamos, quando
olhamos para esse mundo fazemos um movimento de compreensão e Heidegger diz:
Digo SIM E NÃO ou seja: aqui eu sou professor então digo sim.
Mas quando digo não?
Digo não quando percebo que este lugar estava me aprisionando.
É possível viver feliz assim? R: não mas vai viver como um ser humano digno.
Sobre Daseinsanályse
É a psicoterapia fenomenológica que surgiu através de BisWanger e foi revisada por Boss. É o primeiro
movimento a se pensar a partir do descontentamento de alguns psiquiatras descontentes com a forma
tradicional de tratar os pacientes e que foram buscar outras coisas.
A psicologia tradicional é limitada de acordo com a visão da fenomenologia. Nem todos que trabalham com a
Daseinsanályse seguem o mesmo método de Boss. O professor por exemplo gosta do olhar de Heidegger.
Precisamos entender de que lugar o psicoterapeuta olha (ao falar assim se refere ao método). O olhar do
psicólogo vai estar voltado para aquilo que o paciente conta. Não direcionamos a fala dele, nosso olhar deve
estar voltado para falar cotidiana que é o-que-se- mostra.
O paciente olha para essas histórias a partir da oportunidade que o psicoterapeuta dá a ele.
A compreensão acontece quando o paciente percebe na própria fala e o terapeuta não mostra isso ao paciente,
ele se percebe. O professor dá o exemplo do paciente que passou oito sessões repetindo a mesma coisa. O
professor fala que dizia para a terapeuta aluna ir junto com ele. A Luna dizia que o paciente não trouxe nada de
novo. O professor nos diz que não sabia o que ia acontecer mas, entendia que isso para o paciente devia ter um
sentido. Num determinado momento ele pergunta para o terapeuta aluno: você percebe que eu estou
repetindo sempre a mesma coisa? A terapeuta aluna responde:"-agora você também". A relação de ambos
mudou e ele começou a entender que ela aceitava ele daquele jeito e, que ninguém até então o tinha aceitado
assim.
O professor chamou a fala da terapeuta de exuberante porque com essa atitude ela mostrou ao paciente: ( para
onde você for eu vou). Essa é a diferença do terapeuta fenomenológico e esse é o lugar onde se olha.
O paciente trazia o cotidiano repetido por que no cotidiano a gente se repete.
A psicologia tradicional olha o espaço cotidiano a partir de soluções prévias, buscando adaptar você no
cotidiano.
Sobre sonho
Nessa perspectiva metodológica, quando se olha um sonho, assino não os interpreta. Ela vai compreender o
sonho justamente como um lugar particular do-ser-no mundo.
É um espaço particular importante para o terapeuta porque traz uma atmosfera ou carga afetiva.
Tudo que diz respeito ao olhar da psicoterapia fenomenológica está ligado ao ser-no- mundo.
Esse método sempre é visto na compreensão desse ser-no-mundo e isso é respeitar o processo.
Nessa relação terapêutica o terapeuta não prescreve, ou seja, o terapeuta vai para a sessão e lá ele vai saber o
que fazer.
Quando se trabalha com a Feno o silêncio é a preparação da fala e deve ser respeitado. Esse silêncio pode ter a
ver com a fala anterior, mas o terapeuta espera e crie uma condição para a pessoa lidar com aquilo. Cada um
(terapeuta/paciente) tem seu tempo.
Na Feno o terapeuta não pode pensar no silêncio como técnica. O silêncio é um momento de diálogo e se o
terapeuta for atravessá-lo deve ser dentro da narrativa já existente.
O psicoterapeuta na feno não é detentor da verdade. Nas outras psicoterapias o psicoterapeuta é detentor da
verdade.
O professor dá o exemplo do adolescente que tinha um pai violento e agressivo e um dia chegou e disse que não
sentia saudade do pai. O terapeuta responde:"- precisava?"
A paciente responde: "precisava porque minha irmã sente saudade ". O terapeuta pergunta: "-e você precisa
sentir o que sua irmã sente?".
Se o terapeuta busca justificar o porquê ela não sente saudade, está justificando. Nascendo não se faz isso não
se explica. Isso não cria espaço de reflexão para o paciente. O terapeuta não deve de ter a verdade, ele
acompanha o paciente.
Rádio alerta que vivemos no mundo da técnica e ele critica a técnica, mostrando como ela no mundo moderno
nos aprisiona na impessoalidade.
Nossas relações são automatizadas pelos meios técnicos. Ele vai nos dizer que está aprisionado na
impessoalidade é próprio do ser, mas a técnica é bônus, porque as técnicas trazem segurança (um exemplo
disso é sentir seguro quando está com celular).
A técnica está sustentando a ideia de superação entre sujeito-objeto, corpo e mente e, tudo isso faz parte desse
mundo de explicações.
A TCC está muito no mundo da técnica mas essa segurança te prende viu te aprisiona e isso um dia vem em
forma de adoecimento.
A fenomenologia vê o mundo da técnica e trabalha para romper esse aprisionamento e ao rompemos buscamos
a alteridade e a compreensão do outro.
A angústia
Temos várias em nossas relações com o mundo. A fenomenologia reconhece a angústia ótica que é aquela do
objeto, mas ela vai se ver com a angústia ontológica.
Um exemplo é quando rompe algo no cotidiano de uma pessoa e nesse momento ela vai experimentar esta
angústia ontológica. Torna-se necessário conhecermos o contexto.
Angústia ontológica é o lugar onde na terapia costumamos ficar. O silêncio é o lugar da angústia ontológica.
O adoecimento tem a ver com os nossos modos de ser no mundo e ele é pensado na subjetividade.
O remédio é para curar você porém ele te diz assim:-"você é o problema, você precisa se adaptar, mesmo que
vire um zumbi".
É a diferença de olhar em relação a positividade pois o pensamento positivista olha através da positividade-
serve para controlar você e pode ser através da técnica.
Rádio que vai nos dizer que existe é falta e se eu escolho algo, algo também vai faltar. Um exemplo é que se eu
estou aqui e não em outros lugares esses outros lugares podem me faltar.
a feno olha a negatividade como algo positivo que possibilita o paciente se compreender e se perceber
No positivismo o olhar desta falta é como algo que não deveria ser sentido.
Na fenomenologia quando você rompe com isso você ocupa o espaço da negatividade.
A ação é movimento.
Prescrever
Olhar a negatividade como algo negativo para o paciente e que não deveria ser sentido (a tradicional faz isso).
a feno olha a negatividade como algo positivo que possibilita o paciente se compreender e se perceber)
se precipitar;
dizer que vai arrancar sofrimento e dor;
tirá-la da interrogação;
tudo acima respeito a psicologia tradicional e, se cair na prova a questão está errada.
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Através dos pensamentos do Heidegger e Boss, os autores (de Sá, Mattar e Rodrigues) abordam o horizonte
histórico do homem moderno e qual o papel da psicoterapia.
A solidão é vista hoje como um mal que pode ser evitado, ao mesmo tempo que estar com o outro em moldes
românticos pode tanto gerar felicidade quanto sofrimento, insegurança e medo de envolver-se. A partir disso
procurtam não criar vínculos com ninguém e trocam de parceiro antes que isso ocorra. As vantagens de estar
com alguém pode ser pela aparências, pelos bens que possui, pela segurança onde a ausência desse par pode
trazer a sensação de vazio ( aperto no peito), angústia. Essa questão na clínica é um importante tema para
reflexão.
Yalom (1996) distingue o “isolamento interpessoal” do que costuma chamar vulgarmente de solidão e ele
entende que relacionamentos fracassam quando se usa o outro como escudo contra a solidão, ao invés de
importar-se com ele.
Para o pensamento de Martin Heidegger, essa concepção do homem como sujeito é apenas uma das
possibilidades históricas do homem realizar a experiência do sentido de si-mesmo, não traduzindo
apropriadamente sua estrutura ontológica, isto é, seu modo de ser mais próprio e ele denomina com o termo
Dasein (Ser-aí) este ente que nós mesmos somos e que apresenta uma diferença radical com relação aos entes
que não têm o modo de ser do homem. Seu ser, está sempre em jogo no seu existir. O Dasein é a própria
abertura de sentido na qual pode vir à luz o ser dos entes que se dão ao seu encontro. A expressão “ser-no-
mundo” traduz a unidade estrutural ontológica da existência. O Dasein é “mundano”, co-originário ao “mundo”,
diferenciando-se dos entes simplesmente dados, “intramundanos”, mas destituídos de mundo. Por exemplo,
pedras, árvores e animais estão no mundo, mas não têm mundo, isto é, não são aberturas de sentido, não se
podendo dizer deles que “existem”. Mundo é abertura de sentido, contexto de significação, linguagem.
O ente que é segundo o modo de “ser-no-mundo”, ainda que esteja no isolamento, é “ser-com”, co-presença.
Apenas o ente cujo modo de ser é originariamente “ser-no-mundo-com-o-outro”, possui a possibilidade de ser
solitário. É nesse “ser-no-mundo-com-os-outros” que aparece o sentido como desvelamento dos entes que lhe
vêm ao encontro. O termo “cuidado” (Sorge) é usado por Heidegger (1989) para designar a característica
ontológica do Dasein de ser sempre em relação com outros entes. O modo das relações com os “entes cujo
modo de ser é simplesmente dado” (Vorhandenheit) foram denominados por Heidegger de “ocupação”
(Besorgen) e o modo das relações com os entes dotados do seu modo de ser de “preocupação” (Fürsorge). O
modo mais imediato do Dasein se relacionar com os outros entes se dá sempre através da ocupação no
manuseio e uso, subordinados ao “ser-para” dos instrumentos, ou seja, está sempre referido a um contexto de
significância, mundo, em que predomina o uso ou utilidade.
É a partir dos imprevistos que o Dasein é lançado numa perspectiva em que aquilo cujo sentido era
simplesmente dado revela-se como “estando em jogo”, como dependente de um tecido mais amplo e
complexo de sentido, o mundo. Tal “estranhamento” é, de início e quase sempre, experienciado como um
angustiante vazio de sentido e não como liberdade de possibilidades. Daí o fato de que o Dasein tende, em seu
modo cotidiano e mediano, a desviar-se dele, aferrando-se, na medida em que lhe é possível, às interpretações
“já dadas” e impessoais sobre si mesmo e sobre outros entes. No caso da convivência cotidiana, este “desviar-
se” significa, antes de tudo e na maior parte das vezes, reduzir o “ser-com-o-outro” ao mundo das ocupações,
empenhando-se no controle, na certeza e na segurança. Nesse modo mediano de “cuidado”, imperam a
dependência e a dominação, ainda que não apropriadas tematicamente e encobertas por discursos impessoais
de valorização dos “afetos” e da “necessidade do amor”
A questão técnica
No ensaio intitulado A questão da técnica (Die frage nach der technik, 1949- 1953; HEIDEGGER, 2002) propõe o
questionamento da técnica, não para condenála, nem para oferecer uma alternativa que a substitua, mas sim
para estabelecer com ela um relacionamento mais livre, de abertura à sua essência, pois afirmando-a ou
negando-a apaixonadamente, a ela mais nos aprisionamos.
Na definição de Heidegger que é a de ser um meio para um fim e uma atividade do homem, determinação
instrumental e antropológica e chega-se à causalidade, à idéia de causa e efeito. Na modernidade a causa é
considerada o que se faz para provocar um efeito, para obter resultados, o que remete à causa eficiente, uma
das quatro causas enunciadas pelos gregos: causa material, causa formal, causa final e causa eficiente.
Heidegger dá como exemplo a confecção de uma taça de prata para o culto do sacrifício, onde as quatro causas
seriam respectivamente: a prata, a forma de taça, o culto e o ourives. No entanto, ressalta que, para Aristóteles,
a quem remonta a doutrina das quatro causas, a causa eficiente, como as demais, não remetia à eficiência e
eficácia de um fazer, mas todas eram formas de “responder por” e “dever”. Assim, o cálice pronto deve-se à
prata, à forma, ao culto, e ao ourives, que por ele respondem, este último, porém, não como causa eficente , ou
seja, não como o sujeito cuja atividade tenha como efeito o cálice. Estes quareo modos, segundo Heidegger, são
co- responsáveis pelo deixar vir á presença a taça, no sentido grego de poíesis, produção.
Produzir é conduzir o que está encoberto ao desencobrimento, o que os gregos chamavam de alétheia, e que
traduzimos por “verdade”, passando a entende-la como o correto de uma representação. No desencobrimento
se funda toda a produção, que recolhe e rege os quatro modos de deixar-viger a causalidade, a cuja esfera
pertence à instrumentalidade. Heidegger estabelece assim a ligação entre a essência da técnica moderna e o
desencobrimento. “A técnica não é, portanto, um simples meio. A técnica é uma forma de desencobrimento” (
(o Ele aponta a importância de usar o método fenomenológico para ajudar o ser a se descobrir). S essência da
técnica moderna não é neutra, ou seja, não constitui um simples meio para um fim, mas é um modo de
desvelamento de sentido, de produção de verdade, do deixar aparecer o que se oculta.
Para Heidegger a técnica moderna é uma provocação que explora e busca extrair o máximo de rendimento com
o mínimo de gasto e ele afirma que: O desencobrimento que domina a técnica moderna possui como
característica, o pôr, no sentido de explorar. Esta exploração se dá e acontece num múltiplo movimento: a
energia escondida na natureza é extraída, o extraído vê-se transformado, o transformado, estocado, o estocado,
distribuído, o distribuído, reprocessado. Extrair, transformar, estocar, distribuir, reprocessar são todos modos
de desencobrimento (HEIDEGGER, 2002, p. 20). No desencobrimento explorador o controle e a segurança são
as marcas fundamentais.
De acordo com Heidegger (2002), ao ser desafiado e disposto, o homem pertence mais originariamente à
disponibilidade do que a natureza, ou seja, também é desvelado neste modo histórico em sua possibilidade de
ser fundo de reserva, energia disponível à exploração e uso, sem, todavia, reduzir-se jamais à mera
disponibilidade.
Afirma Heidegger (2002, p. 22) que: O desencobrimento já se deu, em sua propriedade, todas as vezes que o
homem se sente chamado a acontecer em modos próprios de desencobrimento. Por isso, des-vendando o real,
vigente com seu modo de estar no desencobrimento, o homem Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v.
18 - n. 2, p. 111-124, Jul./Dez. 2006 117 Solidão e relações afetivas na era da técnica não faz senão responder ao
apelo do desencobrimento, mesmo que seja para contradizê-lo.
Desencobrir o real e a si mesmo ao modo da disponibilidade constitui, para Heidegger, o destino histórico do
homem, destino no sentido de “pôr a caminho” coloca o homem no caminho do desencobrimento que conduz
o real porém homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino.” (HEIDEGGER,
2002 p. 27-28). A regência parte do destino e não do homem, que a ele corresponde, podendo sempre
apropriar-se tematicamente e corresponder então a outros modos históricos de desvelamento. Assim, a
possibilidade de refletir sobre a essência da técnica, fazendo a experiência do Gestell como destino de um
desencobrimento, permite mantermo-nos no espaço livre do destino, sem que permaneçamos na crença de que
uma fatalidade nos aprisiona inexoravelmente à técnica. Daí o abrir-se à essência da técnica, como propõe
Heidegger, permitir que se estabeleça com ela uma relação mais livre.
O sentido que se dá hoje à solidão e aos relacionamentos afetivos é desvelado, ao nosso ver, segundo este
modo histórico explicitado por Heidegger. Desta forma, na tentativa de aplacar a solidão e obter segurança, ora
no apego ao outro que se busca controlar, ora no repúdio a qualquer comprometimento, o homem desvela a si
próprio e ao outro como “fundo de reserva” disponível ao uso. O desencobrir-se como uma subjetividade
inacessível e fechada em si mesma, irremediavelmente apartada do mundo e do outro, são modos de resposta
do homem ao desencobrimento que o desafia na era da técnica. Ao mesmo tempo, reconhecer e refletir acerca
deste desencobrimento, possibilita conjurar seu maior perigo, o qual, segundo Heidegger (2002), se apresenta
não nas máquinas e equipamentos técnicos, mas sim no fato de estar encoberto.
Medard Boss, psiquiatra que estabeleceu ligações entre o pensamento de Heidegger e a clínica, recorre a este
texto no artigo intitulado “Solidão e comunidade”. Para Boss (1976) o afastamento do mundo e do outro não é
uma invenção do homem, mas sim seu destino histórico, o “espírito técnico”, pelo qual o homem só apreende o
mundo através de uma manipulação incessante com o objetivo de aumentar o poder do sujeito. Boss (1976)
contraria o senso comum ao afirmar que solidão e comunidade não se excluem. Define a solidão como uma
forma de comunidade, pois só se pode ser sozinho tendo como referência a comunidade. Desta forma, a
ausência de alguém não significa um vazio, mas um modo de sua presença, na qual pode estar bem mais
próximo do que se estivesse fisicamente presente. A idéia que fundamenta o pensamento do autor é a de que
somos essencialmente e originariamente com os outros, isto é, estamos destinados à comunidade no sentido de
co-pertencimento, diante de um mesmo mundo comum. Um dos modos de ser-com é a solidão, pois só pode
estar sozinho quem reconhece seus semelhantes, quem os sente próximos ou distantes, ou seja, o homem. A
pedra, como exemplifica Boss (1976), nunca estará só, jamais poderá experienciar a solidão.
A solidão é assim uma forma de comunidade, aqui entendida não como conjunto de indivíduos dotados de um
psiquismo privado e encapsulado, apartado do mundo, idéia presente em investigações sociológicas e
psicológicas que é questionada por Boss (1976). Para ele, basta olhar para o que somos e como somos,
enquanto homens, para nos descobrirmos desde o início em presença dos outros, que nos aparecem desde
sempre como nossos semelhantes. Esta comunidade originária se funda na relação com as mesmas coisas de um
mesmo mundo comum, por serem os homens essencialmente abertura na qual a presença se manifesta, ou
seja, na qual somos interpelados pela profusão de significados que se nos anunciam todo o tempo em todas as
coisas do mundo. Existimos somente nesta abertura para a presença e significabilidade de tudo que nos vem ao
encontro, podendo acolher e trazer à presença mesmo o que estiver mais afastado no tempo e no espaço.
Assim cada um de nós existe à sua maneira mas jamais a ponto de ser apenas para si mesmo, como se fosse
primordialmente separado de todos os outros. Ao contrário, enquanto poder ser interpelado pela
significabilidade do que encontra, cada um de nós participa à sua maneira da região aberta do mundo comum,
na qual aquilo que vem “a ser” chega à luz de sua presença. (BOSS, 1976, p. 28).
A proximidade geográfica pode aproximar, mas não é suficiente, e pode mesmo distanciar. Podemos estar
próximos fisicamente de alguém e experienciar ou não uma real aproximação, da mesma forma que, sozinhos,
podemos ou não ter a experiência do isolamento. Porém, por esta redução, acabamos por nos sentir
acompanhados apenas quando há a presença física de alguém e isolados quando ocorre o contrário. Isto explica,
para Boss, o fato de os homens estarem mais sós e distantes, voltados para si mesmos, quando a distância
mensurável é menor. Este distanciamento constitui, então, o modo como se dá hoje a comunidade. Entendê-lo
implica em compreender o profundo desenraizamento sofrido pelo homem na modernidade. Apartado da
experiência coletiva, afastado dos laços que o uniam às tradições religiosas e familiares, vivendo a constante
desregulamentação, o homem agora deve ocupar o espaço e o papel que anteriormente pertencia aos deuses.
“Deus está morto”, proclama Nietzsche; “Não precisamos mais de mitos ou de crenças, de superstições e
amuletos”, afirmamos todos nós. O homem coloca-se como centro, compreende-se como sujeito - um
amontoado de desejos, experiências, conteúdos internos. Os relacionamentos humanos, percebidos a partir da
experiência de um eu individual, auto-encapsulado, que encontra-se contingencialmente em um sistema social.
Esta visão acaba por entender as relações sociais como, inevitavelmente, conflituosas. Construímos relações
estratégicas convenientes para que possamos nos sentir bem.
Estas alianças são, por característica, temporárias, sendo mantidas enquanto me são convenientes, ou desde
que permitam que eu me “sinta bem”, ou mesmo enquanto possibilitam o meu “crescimento pessoal”. As
relações se constituem, então, em contratos entre dois indivíduos, sendo francamente desveladas ao modo da
utilidade, ou seja, o seu sentido é o de trazer algum ganho àqueles que nelas estão envolvidos. Este modo de
relacionamento marca o casamento, as amizades e as relações afetivas em geral no contemporâneo. Vivemos,
portanto, de um modo ambivalente, a busca de afastamento (ao menos daqueles que nos soam como
estranhos) e a necessidade de proximidade. Aspiramos estar entre iguais, nos sentir seguros e confortáveis,
amparados, e protegidos. Mas, para isso, o outro é desvelado como um “algo” colocado a nossa disposição,
devendo atender aos nossos desejos, saciar a nossa “sede”, dar conta do vazio que sentimos. Os nossos
esforços parecem improfícuos, já que o distanciamento existencial persiste, e, mais do que isso, continuamente
aprofunda-se. aquele que me cerca é desvelado como um algo a serviço de minha satisfação, é claramente
restritor. Nesse fechamento existencial, negamos a possibilidade de estarmos sozinhos, acreditamos precisar
“encontrar alguém”, aceitamos sem maiores questionamentos os conclames do contemporâneo que
marcadamente vão enxergar no amor romântico a concretização da satisfação pessoal. É nesse contexto que a
solidão é vivida enquanto sofrimento, pois mesmo estando próximos, não nos sentimos, de fato, junto ao outro.
Para Boss, entretanto, é possível nos abrirmos para outros modos de relação com o mundo e com o outro. Para
isso, será necessário sair da visão do sujeito que exerce sua vontade possessiva de forma absoluta, a fim de
possibilitar ser aquilo que se apresenta, ou seja, tornarmo-nos mais disponíveis ao compreendermos que “o
domínio técnico sobre o mundo realiza apenas uma única possibilidade entre muitas outras da presença do
mundo [...]”. (BOSS, 1976, p. 41).
O modo histórico de desvelamento descrito acima cria um paradoxo: o homem desvelado enquanto sujeito,
interioridade, mônada, é convocado a estabelecer uma relação de dominação e controle sobre o mundo e sobre
os outros. mesmo estando próximo ele vive o apartamento, o distanciamento existencial. Precisa do outro mas
vai buscá-lo enquanto “algo” para minorar a sua solidão. O outro então torna-se “isso”, um objeto a serviço das
aspirações do sujeito. Nesse modo de ser-com o outro, entretanto, a solidão se agudiza e é neutralizada, apenas
momentaneamente, enquanto o outro encontra-se à disposição, durante o tempo em que ele “serve” para
aplacá-la. O desenraizamento produzido pela modernidade, portanto, fomenta a solidão. Levando os homens a
se buscarem uns aos outros, eles o fazem, no entanto, tomando a si mesmos e aos outros como individualidades
contingencialmente dispostas no mundo, como se fossem entes cujo modo de ser fosse simplesmente dado e
não como existentes.
Heidegger (1989), no entanto, nos fala da possibilidade de um outro modo de correspondência frente aos
sentidos que nos interpelam. Sendo assim, ao caracterizarmos o ente que nós mesmos somos, essencialmente,
enquanto cuidado (sorge), afirmamos uma dimensão de co-pertencimento originário com o outro. Isto porque
ser-com não significa somente que estamos em constante relação com os outros entes no mundo, mas muito
mais do que isto, o próprio acontecimento de sermos implica o acontecimento do outro, já que somos co-
originariamente com o mundo, e por conseqüência co-originariamente com os outros entes. . Mas não existe a
possibilidade de existirmos de um modo “solipse” e eventualmente nos colocarmos em relação; existir, já é,
essencialmente, ser-com. Dentro desse horizonte compreensivo, a solidão existencial, não implica,
necessariamente, em um vazio a ser preenchido, mas, pode sim, se constituir em um afastamento que
possibilita o encontro “consigo mesmo”, com os nossos projetos e aspirações singulares. Esse encontro, por
outro lado, faz-se possível e tolerável pois o “si-mesmo”, aí desvelado, não é uma cápsula irremissivelmente
afastada do mundo, mas o ser-com o outro, em constante co-pertencimento com os outros. É possível, desta
forma, ouvir o silêncio e o clamor da angústia, sem que isto implique em uma experiência de desenraizamento.
O que significa dizer que o próprio nada a que a angústia me conclama - a possibilidade de vir a ser - será
sempre um vir a ser-com-o-outro-no-mundo.
O filme Edifício Master – de Eduardo Coutinho (assisti e na verdade é um tipo documentário, que mostra a vida
cotidiana de um aglomerado de pessoas que apesar de morarem muito próximas, experimentam profunda
solidão e ausência de enraizamento com a comunidade em que vivem. É interessante que nas entrevistar ele é
bem fenomenológico e permite que os entrevistados falem passado, relembrem fatos e transformem essas em
vivências presentes que podem ou não modificar o futuro ).Tal fuga é compreensível e justa, afinal a solidão
abre o vazio no qual a angústia está sempre à espreita. Junto à solidão encontraríamos toda a nossa fragilidade,
indigência, finitude, nosso ser-para-a-morte. Mas muitas vezes, se não quase sempre, pagamos um preço
demasiadamente alto por esse desvio. Pior, parece que a dívida sempre aumenta e temos que continuar
pagando cada vez mais. Pagamos com algo que nos é essencial, nossa capacidade de ver, de corresponder à
realidade em suas múltiplas e misteriosas possibilidades de sentido. Pois, para eludir a solidão temos que nos
esquivar de tudo aquilo que somos num sentido mais próprio. A solidão existencial não é um estado mórbido ou
patológico, nem um problema circunstancial a ser resolvido pela conquista de relacionamentos seguros. Apenas
no silêncio da hora mais solitária, quando se cala o alarido impessoal dos desejos e representações correntes de
“todo mundo”, é que podemos nos pôr à escuta das demandas e dos questionamentos de sentido que nos são
mais próprios e singulares.
O encontro propiciado pela clínica poderá, de outro modo, colocar-se como um espaço de reflexão e
tematização deste modo histórico de desvelamento, ou seja, um espaço para “meditar”.
O pensamento meditante é apontado por Heidegger (2000), em um texto intitulado Gelassenheit, traduzido
para o francês como Sérénité, como aquele que se coloca como alternativa ao pensamento “calculante”. Este é
o pensamento dominante, representacional, que provoca a natureza a se desvelar enquanto “objeto” passível
de ser calculado. Esta forma de pensar, chamada por Heidegger de “indigência do pensamento”, tende ao
empobrecimento do pensamento, colocando em perigo a própria essência humana, à medida que põe em risco
a possibilidade de pensar.
O pensamento meditante exige de nós que não nos fixemos sobre um só aspecto das coisas, que não sejamos
prisioneiros de uma representação, que não nos lancemos dentro de uma única via, dentro de uma só direção.
O pensamento meditante exige de nós que aceitemos nos deter sobre as coisas que à primeira vista parecem
irreconciliáveis. (HEIDEGGER, 2000, p. 144). O espaço da clínica, dentro da perspectiva que trabalhamos, não
deixa de ser, portanto, um espaço de meditação, entendida aí como a abertura a outros modos de pensar, a
uma reflexão que se afaste de uma linguagem hegemônica, técnico-calculante, que se constitui no modo de
pensamento da medianidade.
O meditar, no entanto, nos permite um “nos darmos conta”: a possibilidade de percebermos o jogo histórico
que constitui aquilo que somos, que desvela os nossos desejos, sonhos e formas de nos relacionarmos, de um
modo instrumental, utilitarista e privatizante. Esse “se dar conta” é o campo de liberdade que nos é possível,
não uma liberdade absoluta de um sujeito que escolhe o seu destino, mas a do ouvinte que se abre a outras
possibilidades de interpelação frente ao que o confronta.
O papel do psicoterapeuta
não será o de um operador que, através dos seus recursos técnicos, produzirá a mudança necessária no
paciente, a fim de que ele tenha melhores relacionamentos afetivos, ou que possa superar a sua solidão. Ao
invés disso, como um facilitador , o clínico abrirá um canal compreensivo – hermenêutico, reflexivo,
de meditação – em que as experiências singulares daquele que se angustia possam vir à luz, articuladas com o
horizonte histórico que as constitui. Esse movimento não terá um objetivo único – a superação da solidão –,
embora ela possa efetivamente ocorrer. Outros caminhos também serão possíveis, como por exemplo, o
paciente se dar conta de que a necessidade de encontrar um parceiro amoroso, como se isso fosse um distintivo
de seu sucesso enquanto pessoa, não atende, de modo mais próprio, as suas necessidades de sentido. Outras
pessoas, por outro lado, poderão aprender a lidar com a sua solidão e mesmo valorizá-la, como um outro modo
de relacionar-se com aquilo que as cerca. O psicoterapeuta, enquanto aquele que vela por esse espaço de
meditação, deve suportar o paradoxo, a ambivalência, a sua própria impotência. Somente colocando-se
também como um ouvinte, atento aos apelos históricos que o convidam a ver o sofrimento como um defeito
e a si mesmo como um técnico capaz de corrigí-lo, ele pode abrir canais efetivos de comunicação com a
experiência existencial daquele que o procura, permitindo que ele e o paciente se vejam lançados, a partir da
relação terapêutica, para outras possibilidades de ser-no-mundo.
A seguir, outro texto: do Jardim
A contribuição da Feno deve ser entendida como uma postura terapêutica onde o existir do cliente pode
revelar-se como fenômeno.
Fenomenologia não como o simples aprendizado aplicação de técnicas, e sim como pano de fundo posto pelo
terapeuta para a existência do paciente possas surgir como fenômeno. Na terapia é aberto um lugar de
compreensão, onde o paciente e o terapeutas e comportam e podem ser tocados pelo o que vem no encontro
desse aí. – AÍ-COMPARTILHADO. Compreensão adequada na clínica depende muito de uma escuta aberta para o
que se mostra no dizer do outro. Escuta aberta e contemplativa. Que não impede o paciente de ser como
ele esta sendo – sem buscar por uma compreensão imediata. – deixar – vir – ao – encontro –
necessidade espontaneidade, mas que possua o caráter do acolher, do aceitar e do receber. Escuta terapêutica
não só atenta aos acontecimentos e a história trazida assim atenta aos sentidos que se apresentam e se ocultam
no relato. Terapeuta devolve ao paciente a responsabilidade perante a si mesmo. Terapeuta caminha ao lado
do paciente – CO-PILOTO – não cabe a ele decidir em nome do paciente (não assumir o fardo e a decisão
daquilo que é do outro),cuidar para na medida do possível o paciente possa ganhar mais liberdade e assumir a
sua própria existência.
Na Daseinsanalyse a pergunta que surge é quem é o paciente. – compreensão pelo como se mostra o existir do
paciente e as relações do mundo a qual está inserido.
Para o paciente, o exercício de compreender e pensar o próprio existir em uma sessão já é uma “primeira”
ação, que inaugura uma proximidade e uma permanecia com o próprio comportamento. Essa
primeira ação inicia a possiblidade de outras ações cotidianas, fora do contexto de terapia. No discurso e na
ação, não é possível ocultarmos quem somos. Por aquilo que falamos e modo como agimos, mostramos para o
outro quem somos.
A compreensão é fundamental do existir humano que nós mesmos somos na condição de ser mundo.( quando o
homem se abre para ele mesmo) .
Na possibilidade de um encontro com o outro ( seres-aí) que pode acontecer na prática clínica, na relação entre
terapeuta e paciente, criando um lugar aberto de manifestação e compreensão (ser aí com os outros nesse
compartilhado que se abre na relação).
Essa clareira que surge no estar-aberto possibilita compreender o modo de ser do outro, onde deve-se deixar-vir
-ao -encontro, aceitar, receber e não impedir que ele se mostre no seu modo de existir ( deixar-ser-tal-como -
ele-é). Essa abertura possibilita que o paciente revele suas próprias relações de mundo e como ele as
compreende e isso é libertador para apropriar-se do seu modo de existir.
A escuta atenta
O terapeuta deve caminhar lado a lado com seu paciente, cuidando para que ele ganhe liberdade e tenha
possibilidade de assumir sua própria existência, inaugurando novas possibilidades de ser.
Re-petir = pedir novamente, fazer repetição mostra que se quer algo que não foi escutado anteriormente –
repetir sempre o mesmo em uma sessão mostra que tem algo naquilo que ainda não foi sanado, elaborado na
minha existência.– necessidade de ouvir aquilo que está sendo dito para você – faça sentido para nós mesmos.
O repetir significa que aquele pedido ainda não foi escutado e necessita ser pedido novamente.
Habitar o mundo implica na condição de ser uns com os outros em meio as diferenças e pela ação do discurso é
possível mostrar quem se é.
Daseinsanályse oferece a possibilidade do paciente lidar com a dor, pensar na dor, oferece escuta à dor, ,
possibilitando que o PCT fale, pense, escute, se coloque diante da sua dor e decida sobre as possibilidades de
lidar com a questão, decisão única dele. A escuta do terapeuta é voltada para a compreensão do discurso. E o
agir do PCT pode inaugurar algo novo
O desconforto interrompe ou suspende a repetição No automatismo o homem existe e faz o que faz sem
pensar ou refletir sobre – ser-aí esquecido de si mesmo no relacionar-se com os outros.
O pensamento é a única atividade que tem força para modificar nossa compreensão.
Setting terapêutico é uma espécie de convite para que o PCT.possa compreender e pensar seu próprio existir
com o terapeuta e essa primeira ação inicia a possibilidade de outras ações fora do contexto de terapia. A fala
não apenas verbal é o discurso do PCT. Discurso e compreensão andam juntos e caminham juntos com a ação.
Através da palavra falada o autor anuncia o que fez, faz e pretende fazer.
A princípio a clínica psicológica tem um caráter prescritivo com o objetivo de cura ponto final uma questão que
se impõe é: como que passar da descrição para prescrição?
Essa questão diz respeito à ética entre ser em seu caráter descritivo e dever-ser em seu caráter prescritivo. O
texto vai buscar esclarecer o modo como a clínica psicológica pode acontecer sem assumir uma prescrição.
Com relação à cura, podemos afirmar que não é esse objetivo da Clínica psicológica?
A resposta é sim ou não.
Sobre o NÃO:
Isso quer dizer que não sabemos de antemão o que seria curar-se, dado a singularidade no que diz respeito a
decisão que cada um assume em sua existência.
Sobre o SIM:
Uma vez que queremos com relação que se estabelece na clínica, sustentar um espaço de pensamento que se
demora ao pensar sobre as orientações do mundo que nos aprisionam em um dever Ser, obscurecendo o
caráter de poder ser que todos nós somos. A situação clínica que traremos aqui mostra justamente o
aprisionamento por meio da cristalização da identidade feminina e a consequente queixa de solidão quando
essa identidade não se realiza.
Ao tomar a concepção de Daisen desenvolvida por Heidegger estabelece outro modo de aprender o tradicional
conceito filosófico de necessidade e a possibilidade onde o filósofo introduz A concepção de decisão e do deixar
as coisas aparecerem por elas mesmas. Substitui a expressão Liberdade pela ideia de decisão e esta mesma ideia
de decisão discutida ontologicamente por Heidegger discutiremos onticamente na clínica como não se tratando
de uma mera escolha.
A seguir o texto vai abordar o Universal e o Singular (na aula o professor se refere ao Universal
como sendo Global).
universal=geral e o singular.
O singular diz respeito a que o Dasein é sempre meu e que a compreensão é existencial que se expressa
sempre singularmente.
Mas a indeterminação originária do Dasein torna necessário que ele se constitua pelos sentidos que
se articulam no mundo que é seu. As orientações do mundo, ou seja, o acontecimento - apropriativo constitui-
se no caráter universal que sustenta as possibilidades singulares do ser.
O horizonte histórico em que nos encontramos é repleto de determinações. Um exemplo é a queixa de solidão
que diz respeito às expressões singulares que se sustentam no modo que a identidade feminina se cristalizou
em nosso horizonte histórico. Existe uma história consolidada de que: toda mulher necessita de um homem que
lhe dê e confirme a sua identidade feminina. Essas teses aparecem em mitos, histórias infantis, contos,
romances e em teorias acerca do psiquismo humano. A interpretação hermenêutica com a qual lidaremos na
clínica, diz respeito primeiramente a conhecer as determinações do horizonte histórico em que nos
encontramos. Sem deixar, no entanto, de atentarmos ao modo como cada um singularmente corresponde a
essa determinação do mundo. É nesse jogo do dever-ser e poder-ser que o singular pode emergir como ser das
possibilidades.
A respeito da solisão
A solidão é tomada como algo que deve ser evitado a qualquer preço. O preço é alto e exige que se preenche
esse silêncio com ocupação excessiva, por isso parece necessário a presença do outro com quem podemos
estabelecer uma relação de preenchimento, de modo que não se abra o espaço do silêncio e da solidão.
As pessoas recorrem ao atendimento clínico na maioria das vezes espontaneamente, por diferentes motivos
como por exemplo: a solidão, o luto e o abandono. Na psicologia tradicional essas situações são vistas como
traumáticas devendo ser evitadas e, quando não forem passíveis de serem evitadas, devem ser corrigidas. A
intervenção corretiva abre um espaço para atuação do psicólogo clínico. As pessoas que necessitam, saem em
busca de um psicólogo clínico e assim, efetua-se uma generalização na qual a singularidade é desconsiderada,
porém, também pode ocorrer o contrário e tudo pode ser tomado como da ordem de uma particularidade,
recaindo-se em um relativismo e subjetivismo sem lugar para aquilo que tem o caráter universal (geral).
Na Psicologia Fenomenológica Existencial consideramos que nem o biológico e nem o psíquico determinam os
modos de ser do homem – ambos se constituem pelas interpretações desses elementos em uma configuração
historicamente constituída.
Existência
Existência então diz respeito às possibilidades mais originais daquele que existe no seu encontro, mais
originário, com o mundo.
Na clínica existencial ao abandonar a ideia de castração, damos voz a experiência aos sentimentos de solidão
presente nas mulheres que buscam a clínica para que possam se libertar do aprisionamento, ou seja, desse
sentimento de solidão que as acompanha.
Heineken entende que o ser aí é marcado pela fragilidade ontológica e, busca estabilidade do mundo que
constitui um apoio, suporte e a tutela e nele assume uma identidade.
Essa busca e esse encontro o coloca na cadência do mundo e acaba obscurecendo o seu caráter de poder ser.
Abre espaços para a possibilidade de questionamentos da situação em que se encontra.
Positividade, ¨negatividade¨
A clínica fenomenológica hermenêutica se estabelece muito mais em uma negatividade do que propriamente a
partir de uma identidade positiva porque a negatividade vai permitir que o cliente transpareça sua nadidade,
indeterminação, e incompletude da sua existência.
Para mostrar a queixa das mulheres que procuram a clínica com medo da solidão buscou-se a gênese daquilo
que encontramos nas queixas de solidão. Ao analisar desde os gregos antigos o sentido feminino pode ser
compreendido nos dias de hoje. O sentido de libertar ficará totalmente obscurecido. Vários autores discorrem
sobre o sentido e o valor feminino e é a igualdade com o masculino alguns denunciam situações em que as
mulheres se encontram nos seus romances crônicas e poesias, falam do amor escondido e a culpa por ser infiel
ao marido, ao mesmo tempo que citam a plenitude pelo amor correspondido. Mas e hoje o que acontece com a
mulher?
Essa questão ainda é um temor. Daí a importância do profissional psicólogo como aquele que é capaz de facilitar
o caminho de desvelar de outras possibilidades conduzindo a clínica frente a queixa de solidão. A solidão diz
respeito ao ter que corresponder a um mundo em que em sua retórica ressalta que só é feliz aquele que
constitui uma família, pois se assim não for, ele fracassou. Na tentativa de evitar aquilo que tememos ou seja
aquilo que nos escravizamos para atender as tais demandas cabe uma pergunta como fazer isso?
A relação analista-analisando
Na relação do analista-analisando(= terapeuta-cliente), a relação tu-tu acontece na horizontalidade, o analista
não prescreve, não se posiciona como mantenedor da verdade, portanto consente que ele não sabe qual é o
melhor caminho a tomar. Nessa relação o analista acompanha a saga do outro, portanto diante daquilo que o
outro decide só lhe restadar um passo atrás deixando o outro entrega aquilo que ele diz respeito. A
esse modo de estabelecer a relação analista analisando denominaremos de relação tu-tu.
Por isso então o analista sempre se encontra em um mundo compartilhado que pode compreender o que o
outro diz e, sua tarefa é de acompanhar o conteúdo fenomenal que o analisando apresenta. Torna-se necessário
que o analista conheça algumas determinações do mundo em que eles (analista E analisando) se encontram,
para poder então, não fortalecer ainda mais a automatização de um determinado modo de ser que traz dor ao
Deixando aparecer que a vida não é lugar de total realização, que vida
comporta frustrações, ou seja, projetos não realizados
Ao tratarmos do descompasso entre o dever ser e o poder ser devemos a qualquer preço superar os obstáculos.
Essa ideia ainda contém a tese de que a vida é um obstáculo a vencer, daí a insistência, a luta, a esperança e a
ilusão.
A positividade na clínica diz respeito a uma orientação que indica caminhos que conduzem a conscientização e a
conquista da auto-realização.
Na clínica existencial acontece no sentido de colocar em questão as verdades estabelecidas e dentre elas a
família Doriana que é a família felizes para sempre. Fugel 1998 refere-se ao homem do silêncio e da solidão
como aquilo que se coloca frente a frente com esse caráter.
Para heider a crise existencial diz respeito ao momento em que algo acontece e imediatamente torna possível a
suspensão do Horizonte hermenêutico a que alguém se encontra submetido. Nessa suspensão de orientações e
determinações, torna-se possível a abertura a outras possibilidades encobertas pelas determinações
hegemônicas ou seja abre-se um espaço de possibilidades frente a transformações possíveis.
O DASEIN é um projeto existencial e como tal se abre em um espaço de significados constituídos em uma
facticidade ao mesmo tempo que constituem um sentido pelo qual ele opera esse significado assim o Dasein
herda para si as compreensões do que significa Liberdade, felicidade, realização e autoestima.
As queixas que nos chegam à Clínica encontram-se intimamente relacionadas às determinações da técnica,
características de nosso tempo. As pessoas em sofrimento vem a clínica buscando o método certo para
reconquistar a auto-estima perdida, a vontade de trabalhar para se tornarem produtivas e bem sucedidas, a
conquista da felicidade. Intimamente relacionadas ao nivelamento histórico de sentido da técnica.
Na clínica compartilhando desse espaço de possibilidades podemos nos abrir para que haja uma disposição para
transformação. Faço necessário uma dupla apropriação, ou analisando tem que se deixar apropriar pelo espaço
para que o próprio espaço lhe devolva o aí que é o seu.
O clínico que atua na perspectiva fenomenológica existencial distancia-se totalmente dessa forma de atuação
que busca uma revelação de verdade para libertar.
a clínica existencial caracteriza-se muito mais por uma negatividade, não há nada em que esse clínico possa
orientar, mesmo porque a verdade é algo que se conquista no momento mesmo da existência. Logo a verdade é
essencialmente a abertura e o aí existencial é o fenômeno mais originário da verdade. Ser verdadeiro é ser
desocultado na medida em que se é em um mundo. Isso torna o exercício clínico não um ato confessional que
na confissão conquista consciência e a liberdade. O que acontece é uma conquista e reconquista incessante de
si, que no final das contas é por indeterminação em seu caráter de poder ser. A clínica psicológica existencial se
direciona no sentido de que a relação aconteça de modo que o analisando possa encontrar a medida singular da
existência que é sua ponto final isso diz respeito ao espaço onde o querer e o poder se articule,
compassadamente.
Na sequência é descrita uma situação Clínica com a paciente Flávia de 15 anos que sofre pelo rompimento da
sua relação amorosa.
A respeito do nosso mundo próprio, interno correlativamente a nossa experiência do mundo circundante, com
relação aos problemas existenciais e responsabilidades concretas implicadas no fato de que a experiência que o
que faço é sempre e a cada vez minha: eu sou.
A fenomenologia de Husserl nos alerta para inseparabilidade das noções de ser e experiência. Ser e aparecer:
fenômeno.
Esta é a condição própria ao homem de abertura ao ser, o ser-aí (Dasein) que constitui a condição ontológica de
possibilidade da consciência e do si- mesmo.
Kant separou o eu do pensar e Heidegger argumenta que não basta evitar a separação entre o eu e o pensar,
como fez Kant.
Dizer eu significa dizer, eu-sou-no- mundo-com, e não um sujeito isolado que acompanha, como substrato
estável, a diversidade das vivências.
A apropriação cotidiana parte do mundo das ocupações e tende a interpretar-se do mesmo modo como toma
aquilo que lhe venha ao encontro no mundo, isto é como sendo simplesmente dado dentro do mundo.
Em uma fala natural sobre o eu este quando pronunciado de início e na maior parte das vezes, eu não sou.
É na experiência silenciosa de si como acontecimento entrelaçado com o tempo imundo onde justamente
quando não se diz eu que emerge o ser si- mesmo em um modo próprio.
É pura Liberdade poder perder-se naquilo em que se ocupa ou antecipar-se na lembrança de si como ser-no-
mundo.
A existência encontra-se de início a si mesma naquilo que lhe vem ao encontro no mundo: as coisas de que se
ocupa e os outros com quem convive. Tanto a eficiência das ocupações quanto a deficiência das convivências
cotidianas tendem a encobrir o mundo com uma abertura de sentido isto é lançar a existência em uma pré
compreensão de si e dos outros como simplesmente dados dentro de um mundo igualmente dado. Essa
convivência deficiente regida pela ocupação que dissolve o ser se mesmo no modo de ser dos outros é
denominada por Heidegger como impessoal. Falamos o que se fala vivemos o que se vive criticamos o que se
critica na vida cotidiana como todo mundo faz. Isso é natural da nossa estrutura ontológica da existência.
É necessário descartarmos de antemão as direções mais usuais em que perguntamos pelos porquês das coisas.
Toda vida cotidiana se estrutura como uma fuga, um desvio da existência em relação ao seu modo mais próprio
de ser.
A existência cotidiana é sempre temerosa porque teme por si mesma frente as ameaças do mundo.
O temor quântico é denominado como angústia mas a angústia nesse sentido próprio é um fenômeno raro na
existência cotidiana e predomina em geral sua experiência imprópria enquanto medo de algo com o qual
possamos nos ocupar, nos mantendo na habitação impessoal na qual nos protegemos da liberdade e da
responsabilidade constitutiva do nosso poder de si mesmo singular.
Em relação a circularidade hermenêutica, nenhuma desconstrução de caráter meramente intelectual ou moral é
capaz de deslocar o ser-aí humano em direção ao centro próprio e, somente a partir dessa con-centração é
possível ao homem uma autêntica experiência de des-centramento.
Não há nenhum verdadeiro selfie a ser alcançado, ser-si- mesmo em um sentido próprio ou impróprio diz
respeito apenas ao grau de aprisionamento ou de liberdade em relação às nossas identificações.
Heidegger pensa a essência do homem como abertura ao ser, onde trata mais diretamente do acontecimento
histórico do ser, da sua apropriação histórica de homem ao ser que também se trata e pensa um caminho para
uma técnica de resgate da experiência daquilo que é mais essencial ao homem, sua abertura ao ser.
Para Heidegger a serenidade é um modo de ser livre e aberto ao mistério, podendo também ser pensada como
uma disposição privilegiada para experiência do ser humano em todo seu modo mais próprio e singular.
[14:30, 29/04/2023] Luciane Algarve Vendramim: Usando a conceitualidade de ser e tempo, pensamos que a
partir da serenidade é possível dizer simultaneamente sim e não as identificações do impessoal. É possível dizer
sim porque o mundo das ocupações cotidianas é visto como um Horizonte de desvelamento de sentido não
sendo o caso de nega-lo reativamente em nome de alguma outra suposta verdade ao mesmo tempo é possível
dizer não porque fazemos a experiência de que o poder deste Horizonte não lhe é inerente mas, faz parte de
uma dinâmica de originação que o ultrapassa.
Na parte do meio ao final deste texto foi narrado um estudo de caso da paciente chamada Clara e diz respeito à
relação com que ela tem com seu pai onde se sente aprisionada em consentimentos ambivalentes que não
consegue explicitar para si mesma adequadamente.
Por se tratar de um estudo de caso interessante, entendo que todos deveriam ler Começa na página 54 do
texto hermenêutica fenomenológica da experiência de si mesmo e psicoterapia, que é esse texto que acabamos
de resumir.
Clara é uma psicóloga ( que nunca trabalhou na área), que procura o serviço de psicologia informando que tem
30 anos de idade, casada desde os 22 anos, tem um filho de 5 anos e está se sentindo sobrecarregada com os
afazeres domésticos e o cuidado com o filho. Diz que o seu marido age como uma criança e que não divide
nenhum problema com ela.
Ela fala sobre a relação com seu pai sentindo-se aprisionada em sentimentos ambivalentes onde se lembra de
frases que o seu pai dizia tais como: "vaso ruim não quebra". Ela se sente magoada diante da indiferença dele,
dizendo que é uma dor maior que um machucado.
FIM