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(1752-63)*
LUIZ HENRIQUE TORRES**
RESUMO
Fundamentação básica da emigração açoriana para o Rio Grande do Sul,
destacando as motivações, a normatização para os emigrados, a viagem
marítima e o povoamento açoriano da Vila do Rio Grande de São Pedro
no período de 1752-63.
1 – INTRODUÇÃO
3 – ANTECEDENTES DA COLONIZAÇÃO
3
VIEIRA; RANGEL, 1988, p. 184.
transferir-se para o Brasil. Por esse documento, o Rei acenava com uma
série de privilégios e regalias aos que quisessem lançar-se na aventura
da imigração. Entre esses privilégios, incluía-se o transporte até o local
de origem por conta da Fazenda Real. O critério básico para inscrição
era uma idade limite de 40 anos para os homens, e de 30, para as
mulheres.
Quando desembarcassem no Brasil, as mulheres que tivessem
idade superior a 12 anos e inferior a 20, casadas ou solteiras,
receberiam uma ajuda de custo individual de 2$400 réis. Os casais
receberiam 1$000 por cada filho. Os artífices receberiam 7$200 de
ajuda. Ao chegarem ao local de povoamento, receberiam "uma
espingarda, duas enxadas, um machado, uma enxó, um martelo, um
facão, duas facas, duas tesouras, duas verrumas, uma serra com uma
lima e travadoura, dois alqueires de sementes, duas vacas e uma égua".
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Para José Feliciano Pinheiro "... anuindo o soberano às representações dos habitantes
das ilhas do Açores e Madeira para aliviá-las da sobeja população que ali gorgulhava,
decretou que se transportassem para este país, à custa da real fazenda, até quatro mil
casais, ainda que estrangeiros fossem, contanto que professassem a religião católica
romana, principiando a introdução pela ilha de Santa Catarina, e continente imediato;
arrematou o transporte Feliciano Velho de Oldemberg com vinte e quatro condições,
concernentes ao cômodo e agasalho deles até os lugares do seu destino; debaixo das
cláusulas, que os homens não seriam de mais de quarenta anos de idade, e as mulheres
de mais de trinta; que logo que desembarcassem no Brasil, a cada mulher que fosse de
mais de doze anos de idade e de menos de vinte e cinco, casada ou solteira, se dariam
dois mil e quatrocentos réis de ajuda de custo, e aos casais, que levassem filhos, mil réis
cada um para ajudar a vesti-los; que chegando aos sítios designados para sua habitação
se daria a cada casal uma espingarda, duas enxadas, um machado, uma enxó, um
martelo, um facão, duas facas, duas tesouras, duas verrumas, uma serra, lima e
travadeira, dois alqueires de sementes, duas vacas, uma égua, e no primeiro ano se lhes
daria a farinha, que se entendesse bastante para o sustento, que vinha a ser três quartas
do alqueire da terra por mês para cada pessoa, assim homens como mulheres, mas não
às crianças, que ainda não contassem sete anos e às que tivessem até quatorze anos, se
assistiria com quarta e meia por mês; que os homens, que passassem por conta de Sua
Majestade, ficariam isentos de servir na tropa paga, contanto que dentro em dois anos se
estabelecessem onde se lhes destinasse, e se concederia a cada casal um quarto de
légua em quadra para principiar sua cultura, sem que pelo título desta data se exijam
direitos ou emolumento algum, e quando pelo tempo adiante aumentem de família com
que possam cultivar mais terreno, o pediriam ao governador do distrito que lho concederá
na forma das ordens sobre esta matéria. As mesmas conveniências e vantagens se
estendiam aos casais, naturais das ilhas, que quisessem vir de Portugal, por ali já se
acharem, e aos casais estrangeiros, que não fossem vassalos de soberanos, que
tivessem domínios na América, aos quais pudessem passar-se, dando aos que fossem
artífices uma ajuda de custo, segundo o grau de perícia, não excedendo de 7.200 réis a
cada um; que, no primeiro ano da chegada, se assistiria com medicamentos aos casais
doentes; que pelos filhos dos assim transmigrados, que casassem dentro do ano, se
repartiria a mesma mencionada quantidade de ferramentas, armas, sementes e terra de
cultura; que aos novos povoadores destas paragens fazia Sua Majestade mercê pelos
primeiros cinco anos da sua chegada de isentá-los de todo tributo, à exceção dos dízimos;
que distribuídos em arranchamentos ou povoações de sessenta casais, pouco mais ou
menos, delineando a largura das ruas, praça e logradouro público, se prevenia para que
lhes faltasse o pasto espiritual e sacramentos, que se erigissem igrejas com suficiente
capacidade e se nomeassem para cada uma delas vigários com a côngrua de sessenta
mil réis, e um quarto de légua em quadro para passal da sua igreja, etc. Mandou El-Rei
escrever ao Provincial da Companhia de Jesus para que enviasse àquelas terras dois
missionários; e ao bispo de São Paulo, a quem então obedecia no espiritual todo aquele
território, avisou, pela Mesa de consciência e Ordens, que provesse cada igreja destas de
um vigário, ao qual no primeiro ano se assistiria com o sustento, e mais cômodos da vida,
como aos outros colonos, que findo o contrato atual da comarca de São Paulo, no qual se
incluem os dízimos daquele distrito do Sul, se faça ramo à parte, pertencendo a
arrecadação do rendimento à provedoria do Rio de Janeiro, para dele se pagarem as
côngruas dos vigários e missionários". PINHEIRO, 1982, p. 71-72.
5 – A VIAGEM
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Correspondência com o governador do Continente do Rio Grande. Arquivo Nacional do
Rio de Janeiro. Códice 104, v. 2. In: SANTOS, 1984, p. 25.
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ESPÍRITO SANTO, 1993, p. 21.
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"Os casais açorianos foram trazidos para povoarem a capitania, e fundaram uma
agricultura intensiva, sendo arranchados em regiões que determinaram quase sempre o
nascimento de cidades ou foram colocados ao derredor de incipientes centros urbanos,
como em Rio Pardo e Rio Grande. Vieram diretamente do arquipélago, da Colônia do
Sacramento e de Santa Catarina, o que precisa ser distinguido. Mas encontram logo na
pecuária uma atração lucrativa melhor do que na agricultura, pois as safras de trigo, que
eram as principais, nem sempre correspondiam ao sacrifício que faziam. Não se afirme
que todo o ilhéu se transformasse em fazendeiro, entretanto, lutou para o conseguir.
Jerônimo Machado da Silveira, da ilha do Fayal, era fazendeiro na margem do Jacuí,
como os açorianos João Pereira d’Águeda, Mateus Simões Pires e Manoel Gonçalves
Mancebo, todos com sesmarias no Rio Pardo. É certo que os açorianos, como casais de
número, quando chegaram não receberam as sesmarias, mas sim datas de terras que era,
apenas, de 272 hectares quando a sesmaria tinha 13.010 hectares. Visando-se a
agricultura, trataram as autoridades de organizar e dividir a propriedade, entretanto, a
gente açoriana foi, com o decorrer do tempo, também o estancieiro da campanha gaúcha".
LAYTANO, 1983, p. 21-22.
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