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REVISTA QUERUBIM
Letras – Ciências Humanas – Ciências Sociais
Ano 11 Número 26 Volume 1
ISSN – 1809-3264
NITERÓI RJ
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 11 Nº26 vol. 01 – 2015 ISSN 1809-3264
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Conselho Científico
Alessio Surian (Universidade de Padova - Italia)
Carlos Walter Porto-Goncalves (UFF - Brasil)
Darcilia Simoes (UERJ – Brasil)
Evarina Deulofeu (Universidade de Havana – Cuba)
Madalena Mendes (Universidade de Lisboa - Portugal)
Vicente Manzano (Universidade de Sevilla – Espanha)
Virginia Fontes (UFF – Brasil)
Conselho Editorial
Presidente e Editor
Aroldo Magno de Oliveira
Consultores
Alice Akemi Yamasaki
Andre Silva Martins
Elanir França Carvalho
Enéas Farias Tavares
Guilherme Wyllie
Janete Silva dos Santos
João Carlos de Carvalho
José Carlos de Freitas
Jussara Bittencourt de Sá
Luiza Helena Oliveira da Silva
Marcos Pinheiro Barreto
Paolo Vittoria
Ruth Luz dos Santos Silva
Shirley Gomes de Souza Carreira
Vanderlei Mendes de Oliveira
Venício da Cunha Fernandes
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Sumário
01 "O gladiador tranquilo": análise da construção de sentido verbo-visual em uma capa da revista 04
Veja – Alana Destri, Andressa Trento, Ediane Fátima Mezomo, Isabella Todeschini,
Raquel Souza Tré e Anselmo Lima
02 Sobre a noção de político e as relações de sentidos entre língua e discurso – Alâna Capitanio 11
03 Do picadeiro à escola: as atividades circenses e as relações com a educação física - Aline de 17
Souza Caramês, Daiane Oliveira da Silva e Hugo Norberto Krug
04 Impactos causados pelo esgoto a céu aberto: estudo de caso da Avenida XXV de Julho de 24
Pelotas – RS – Ana Luiza Kroning Gonçalves
05 O tutor na educação a distância: um estudo sobre a mediação reflexiva e dialógica – Andréia 31
Santana de Carvalho
06 Dialética e fenomenologia: as andarilhagens de Paulo Freire – André Luis Castro de Freitas 39
e Luciane Albernaz de Araujo Freitas
07 Língua Portuguesa e ensino: gestos de inter-ação na e pela linguagem – Angélica Pereira 47
Martins, Hélder Sousa Santos e Paula Boaventura Veloso
08 A figura do nordestino na obra “a Hora da Estrela” – Arlete Ferreira dos Santos 52
Viviana de Souza e Simone da Silva Santos Moura
09 Hegemonia, cotidiano e consumo cultural em Antonio Gramsci – Jean Henrique 57
Costa
10 La transformación en los grupos interactivos – Estefanía Fernández Antón 63
11 Du_Bod e o raio-x do país: um olhar sobre a produção marginal brasileira contemporânea – 72
Fernando Reis de Sena
12 A importância da educação ambiental como atividade transdisciplinar no ensino fundamental 77
– Heloisa Carla Xavier Marthos dos Santos, Samanta Gallo Cabral e Talal Suleiman
Mahmoud
13 O canibalismo amoroso em Dentro da Noite, de João do Rio – Hilda Gomes Dutra 86
Magalhães
14 Conhecendo as unidades escolares que ofertam o ensino médio no município de Formosa – 93
Goiás – Hugo de Carvalho Sobrinho
15 As marcas docentes na formação inicial em Educação Física – Hugo Norberto Krug, 101
Cassiano Telles, Rodrigo de Rosso Krug e Victor Julierme Santos da Conceição
16 Ensino de gramática e análise linguística na escola: uma breve consideração teórica – Ionara 108
Miranda da Cunha e Bruno Gomes Pereira
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Alana Destri
Andressa Trento
Ediane Fátima Mezomo
Isabella Todeschini
Raquel Souza Tré1
Anselmo Lima2
Resumo
O foco deste trabalho é a construção de sentido verbo-visual na capa da revista Veja do dia 14 de
março de 2012, com a manchete “O GLADIADOR TRANQUILO”. O objetivo é analisar se a
palavra "gladiador" tem nos dias atuais alguma ligação com o sentido inicial com o qual era
conhecida na época dos combates realizados antigamente. Faz parte da metodologia do estudo a
consulta a dicionários latinos, etimológicos e contemporâneos. A fundamentação teórica diz
respeito aos conceitos de significação e tema (ou sentido) tais como apresentados por
Bakhtin/Volochinov e comentados por Cereja. Os resultados demonstram que é notável a
diferença de sentidos que a palavra teve ao longo da história e permite concluir que significação
corresponde a sentidos que historicamente se sedimentam.
Palavras-chave: significação; tema; verbal; visual.
Abstract
The focus of this article is the verbal-visual meaning-making process on the cover of Veja magazine
published on March 14th, 2012, with the headline "O GLADIADOR TRANQUILO". The
objective is to analyse whether the meaning of the word "gladiador" is at present somehow linked
to its original meaning with which it was known in the time of ancient combats. The methodology
of the study involves the use of latin, etymological and contemporary dictionaries. The theoretical
foundations consists in the concepts of meaning and theme such as they are presented by
Bakhtin/Volochinov and commented on by Cereja. The results demonstrate the remarkable
difference between the meanings that the word had throughout history and allows to conclude that
meaning corresponds to themes that are historically sedimented.
Keywords: meaning; theme; verbal; visual.
Introdução
O uso da língua e da linguagem é uma das características dos seres humanos que os
diferencia dos outros animais. Sejam elas escritas ou orais, são empregadas pelas pessoas com muita
frequência e de forma ora mais, ora menos espontânea. Entretanto, dificilmente paramos para
pensar, pesquisar e analisar, por exemplo, qual é a origem das palavras que utilizamos no nosso
cotidiano e como esse conhecimento nos ajudaria a melhor compreendê-las ou interpretá-las. Nesse
sentido, a pesquisa apresentada neste artigo trata, dentre outras coisas, da palavra “gladiador”,
encontrada em uma das capas da revista Veja, mais precisamente na manchete “O GLADIADOR
TRANQUILO”, que se refere ao lutador brasileiro de Mixed Martial Arts (MMA), Anderson Silva.
Metodologia
Para a realização do estudo, após analisar diversas capas de revista, a equipe de pesquisa
optou pela análise da capa de uma edição da revista Veja, que traz a manchete “O GLADIADOR
TRANQUILO”. Essa escolha se explica pelo intrigante contraste que a palavra "gladiador" produz
em relação com a foto do lutador de MMA Anderson Silva. Participa desse contraste -
determinante para nossa escolha da capa - a palavra “tranquilo”, que introduz uma antítese na
relação com a palavra "gladiador" (como poderia um "lutador" desse tipo ser "tranquilo"?!), a qual
se amplia quando se considera o visual da capa: a foto do lutador com mãos em posição de prece,
oração ou meditação: alguém que busca a paz?
Como ponto de partida para a análise, empregamos dicionários etimológicos, nos quais
foram consultadas as origens das palavras "gladiador" e "tranquilo". Em seguida, com base nas
palavras latinas indicadas pelos dicionários etimológicos como precursoras dessas duas palavras,
foram empregados dicionários de tradução do latim para o português, com o intuito de verificar as
correspondentes traduções em português e suas possíveis acepções. Finalmente, com base nessas
informações, buscamos o significado atual de cada uma dessas palavras em dicionários
contemporâneos. Assim, foi feita uma comparação da significação original de cada palavra com
seus respectivos significados contemporâneos.
Fundamentação Teórica
Contrariamente à significação, o sentido não pode ser separado da enunciação, pois os dois
são a expressão de uma situação histórica real. Em consequência disso, o sentido é único e não
pode ser repetido, especialmente pelo fato de que os elementos extraverbais também participam da
construção do sentido, integrando a situação de produção, recepção e circulação do enunciado.
Dessa forma, o instável e o inusitado de cada enunciação, aqui entendida como produção de
enunciados, se juntam à significação e com ela constroem o sentido, que vem a ser o resultado final
desse processo, incorporando-se à significação, mas nem por isso deixando de ser sempre flexível,
mutável e renovável.
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A significação da enunciação, por exemplo, “Que horas são?”, é relativamente estável: ela
se constrói das significações de todas as palavras que fazem parte dela. Já o sentido dessa
enunciação não pode ser separado da situação histórica e não pode ser segmentado. Quando um
professor pergunta à classe: “Que horas são?”, pode estar querendo saber quantos minutos faltam
para o fim da aula; uma criança que faz esta mesma pergunta à mãe, que está fazendo o almoço,
pode querer saber a que horas o almoço será servido.
Análise
A origem das disputas entre gladiadores vêm de rituais fúnebres promovidos pelo povo
etrusco. Dois homens eram condenados a lutar para que o vencido fosse usado como sacrifício a
fim de acalmar as almas dos ancestrais do falecido. Com o passar do tempo, essas lutas foram
gradualmente perdendo a sacralidade e passaram a ser organizadas por Roma para a diversão do
povo. Na Roma Antiga, os gladiadores eram criminosos condenados, escravos e prisioneiros de
guerra. Como os gladiadores vencedores ganhavam fama e abundantes prêmios, alguns homens
livres passaram a participar desses duelos fazendo dessa atividade uma carreira profissional
(VITORINO, 2001, p.145).
"Gladiador" refere-se literalmente “àquele que usa o gládio” e vem do Latim gladiātor,
palavra que, por sua vez, se deriva da palavra também latina gladĭum (BUENO, 1974 p. 1581).
Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa Lexikon (2010), gladĭum significa “espada
de dois gumes”. Reforçando a ideia de que "gladiador" se deriva de gladĭum, foram encontradas nas
paredes das cidades romanas de Pompeia, Herculano e Puteoli diversas representações gráficas de
gladiadores, com destaque para a grande variedade de tipos e formas de armas que empunhavam
(GARRAFFONI, 2005, p.15).
O vocábulo gladĭum também tem sua origem. É aceito que gladĭum remonta ao período
céltico, visto que as palavras que expressam “espada” nas línguas célticas britânicas possuem uma
relevante conexão. Além do campo semântico de armamento, há a combinação característica entre
suas consoantes iniciais como em cleddyf (língua gaulesa), kleze (língua bretã) e clethe (língua córnica)
(HARPER, 2014). Levando o estudo mais a fundo, podemos relacionar as variações da palavra
"gládio" com o Proto-Indo-Europeu, a língua mais antiga a ser reconstruída com estudos histórico-
comparativos (O’BRIEN, 2014, p. 2). O Proto-Indo-Europeu possui a palavra qelad, que exprime
“bater, golpear” (LIEF, 2014).
No auge de sua carreira, Anderson Silva foi estampado na capa da revista Veja publicada
no dia quatorze de março de dois mil e doze:
Anderson Silva é visto como gladiador porque o combate de gladiadores, seja pela tradição
de martírios cristãos ou pela produção cinematográfica, foi impresso no imaginário ocidental ao
longo dos séculos (GRAFFONNI, 2005, p. 15). Contudo, a imagem de comum uso do vocábulo
"gladiador" nos dias atuais “relaciona-se mais aos modelos de gosto codificados do presente do que
àqueles aos quais um atento exame do passado remeteria” (VITORINO, 2001 p. 148). Olhando por
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esse prisma, o uso da palavra foi recriado, transformado e alterado através das épocas históricas.
Como explica Cereja (2010), “o tema se incorpora à significação, de modo que o sistema é sempre
flexível, mutável e renovável”.
Considerações Finais
Outro fator importante neste estudo foi a análise etimológica, que possibilitou uma clareza
maior sobre como se deu a notável transformação de sentido da palavra estudada ao longo de sua
história, das origens aos dias atuais. Verificamos que a significação da palavra "gladiador" se alterou
ao longo do processo histórico de transformação da língua, com a agregação de novos sentidos à
significação. A palavra "gladiador" pode já não ter o sentido exato que possuía quando essa espécie
de lutador originou-se. No entanto, Anderson Silva não deixa de ser, a sua maneira, um verdadeiro
"gladiador" dos tempos atuais. Para nós, fica então claro que a significação de uma palavra corresponde na
realidade a sentidos que historicamente se sedimentam.
Referências
ARMY LOGISTICS UNIVERSITY. India Customs. Disponível em:
<http://www.alu.army.mil/ALU_INTERNAT/CountryNotes/PACOM/INDIA%20CUSTOMS.pdf>.
Acesso em: 24 nov 2014.
BAKHTIN, Mikhail. (VOLOCHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec,
2009.
BUENO, Francisco da Silveira. Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa. São
Paulo: Brasília, 1974. 4v.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.
CEREJA, William. Significação e tema. In: BRAIT, B. (org.). São Paulo: Contexto, 2010.
CORREIA, Davi; NASCIMENTO, Silvio. Por que tanta gente está de olho em Anderson Silva. Veja, São
Paulo, n.11, p.88-98, 14 de março de 2012.
CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4.ed. Rio de Janeiro:
Lexicon, 2010.
GARRAFFONI, Renata Senna. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas. São
Paulo: Editora Annablume/ FAPESP, 2005.
HARPER, Douglas. "Gladiator". Online Etymology Dictionary. Disponível em:
<http://dictionary.reference.com/browse/gladiator>. Acesso em: 23 nov 2014.
LIEF, Philip. "Swordsman." Roget's 21st Century Thesaurus. Disponível em:
<http://www.thesaurus.com/browse/swordsman>. Acesso em: 23 nov 2014.
O’BRIEN, Joaquina. De onde surgiram as línguas européias?. The Magazine of the Hispanic and
Lusophone Communities. Disponível em:
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Alâna Capitanio3
Resumo
Neste artigo, compreendemos como se constitui a noção de político, na perspectiva teórico-
metodológica da Análise de Discurso, desenvolvida nos trabalhos de Michel Pêcheux e Eni Orlandi,
principalmente. Para desenvolver nosso gesto de interpretação, perscrutamos o modo como se
constitui a noção de político como dissenso e como divisão do sentido. A partir disso,
compreendemos como esta noção de político implica no trabalho com a língua, com o discurso,
com os diferentes gestos de interpretação.
Palavras-chave: Político. Sentido. Língua
Abstract
In this article, we understand how it is constitute the notion of political, in the theoretical and
methodological perspective of Discourse Analysis, developed in the work of Michel Pêcheux and
Eni Orlandi, mostly. To develop our gesture of interpretation, we scrutinize how constitutes the
notion of political as dissent and as division of sense. From this, we understand how this notion of
political implies working with the language, with the discourse, with different gestures of
interpretation.
Keywords: Political. Sense. Language.
Introdução
Neste artigo, temos como objetivo compreender os sentidos que constituem as noções de
político, política na perspectiva discursiva da Análise de Discurso fundada, principalmente, nos
trabalhos de Michel Pêcheux e Eni Orlandi. Considerar essa reflexão sobre o político permite-nos
trabalhar a multiplicidade e divisão dos sentidos, da(s) língua(s), os lugares de resistência, os
diferentes gestos de interpretação.
Com Orlandi (2012a, p. 21), compreendemos que “não há sentido sem interpretação” e
que toda interpretação é um “gesto”, gesto este que acontece porque o espaço simbólico se marca
pela incompletude e pela relação com o silêncio. Assim, a interpretação constitui-se como “o lugar
próprio da ideologia, e é ‘materializada’ pela história” (ORLANDI, 2012a, p. 18).
Dito de outro modo, a autora afirma que a interpretação acontece de algum lugar da
história, da sociedade e tem uma direção a qual chamamos de política. Por isso, podemos sempre
compreender a textualização do político no gesto de interpretação, visto que o político é “o fato de
que o sentido é sempre dividido, tendo direção que se especifica na história, pelo mecanismo
ideológico de sua constituição” (ORLANDI, 2012a, p. 21-22).
Subsumindo esta reflexão, neste artigo, nosso aporte está no que Rancière (1995a, 1995b,
1996a, 1996b) desenvolve como política, enquanto dissenso, e Orlandi (2007, 2012b) sobre o político,
enquanto divisão do sentido. A partir do que os autores trabalham, pensamos o político em relação
ao discurso, à política(s) de línguas, à língua, ao(s) sentido(s).
3Mestre em Estudos Linguísticos, sob orientação do Prof. Dr. José Simão da Silva Sobrinho, pelo Programa
de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó –SC.
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Para iniciar nosso gesto de interpretação sobre o político, nos é importante considerar, com
Rancière (1995a), que a escrita é um ato político, um ato que não pode ser realizado sem significar.
Mais do que o exercício mecânico de uma competência, o ato de escrever é “uma maneira de
ocupar o sensível e de dar sentido a essa ocupação”, seu gesto pertence à constituição estética da
comunidade que objetiva alegorizar essa constituição (RANCIÈRE, 1995a, p. 7).
A constituição estética, continua o autor, deve ser entendida como “partilha do sensível” a
qual dá forma à comunidade e significa
Nesse viés, Rancière (1996a) pensa a política em relação ao que ele formula como
desentendimento, dissenso, que não tem relação com o conflito daquele que diz algo e do outro que
diz outra. O desentendimento incide sobre aqueles que falam, tem relação à apresentação sensível
do comum, própria qualidade dos interlocutores em apresentá-lo, em que um dos interlocutores, ao
mesmo tempo, entende e não entende o dizer do outro.
O dissenso seria para Rancière (1996b) a divisão no núcleo do mundo sensível que institui
a política e sua racionalidade, sendo a racionalidade do político um mundo comum, instituído pela
divisão. Assim, a política se constitui como um modo de ser da comunidade que se opõe ao outro,
dito de outro modo, é um “recorte do mundo sensível que se opõe a outro recorte do mundo
sensível” (RANCIÈRE, 1996b, p. 368). O dissenso constitui-se como o conflito sobre a
constituição mesma do mundo comum, sobre o que nele se vê e se ouve, não sendo uma guerra de
todos contra todos, “ele dá ensejo a situações de conflitos ordenadas, a situações de discussão e de
argumentação” (RANCIÈRE, 1996b, p. 374).
A política é o que rompe com o lugar do estatuto social de um indivíduo ou grupo, que cria
atores novos, objetos novos, em relação a esta lógica, e começa justamente onde se para de igualar
as parcelas do comum, de equilibrar lucros e perdas. Ela é “sempre uma ruptura com a auto-
regulação, com a dominação” (RANCIÈRE, 1995b, s∕p), uma interrupção a qual institui a política
“como o desdobramento de um dano ou de um litígio fundamental”, sendo o dano outro modo de
nomear a divisão do sensível (RANCIÈRE, 1996a, p. 28).
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O autor exemplifica que a guerra dos pobres e dos ricos é uma guerra sobre a própria
existência do político, em que o litígio sobre a contagem dos pobres como povo e do povo como
comunidade, consiste no litígio em torno da existência da política, no qual há política. A política,
assim, é a esfera de atividade de um comum que é litigioso, “a relação entre as partes que não
passam de partidos e títulos cuja soma é sempre diferente do todo” (RANCIÈRE, 1996a, p. 29). A
política reside naquilo que escapa à medida ordinária que é nada ou tudo.
Rancière (1996a) define que existe política quando há encontro de dois processos
heterogêneos: o primeiro é policial e o segundo é da igualdade. A lógica policial e a lógica igualitária
devem se encontrar, ter um ponto de encontro para que haja política.
O autor se refere à polícia como a lei, normalmente implícita, que define a parcela ou a
ausência das partes, uma ordem dos corpos que define os modos de ser, de dizer e que faz com que
esses corpos sejam designados pelos seus nomes a fazerem tal tarefa. A polícia é “uma ordem do
visível e do dizível que faz com que essa atividade seja visível e outra não o seja, que essa palavra
seja entendida como discurso e outra como ruído” (RANCIÈRE, 1996a, p. 42).
O segundo processo, chamado de igualdade pelo autor, diz respeito às práticas guiadas pela
suposição e igualdade de qualquer ser falante com outro ser falante no intuito de averiguar essa
igualdade. Ela não é algo que a política aplica e sim uma “pressuposição que deve ser discernida nas
práticas que a põem em uso” (RANCIÈRE, 1996a, p. 45). Esse princípio, afirma o autor (1996b),
só tem efeito quando se considera o dissenso, o qual irrompe uma lógica da dominação que se
considera natural.
Guimarães (2005), a partir da própria leitura que faz de Rancière, formula o político como
“um conflito entre uma divisão normativa e desigual do real e uma redivisão pela qual os desiguais
afirmam seu pertencimento” (GUIMARÃES, 2005, p. 16). O autor afirma que o político é, assim,
afirmação da igualdade, do pertencimento, num conflito com a divisão desigual do real, para
redividi-lo em nome do pertencimento de todos no todo. O político está sempre dividido pelas
desmontagens da contradição que o constitui, sendo essa desmontagem um esforço de silenciar a
contradição, em vista de um político como ação homogeneizadora que tanto se esgota no
administrativo como no que Rancière (1996a) denomina como polícia.
A partir do que Rancière (1996a) pontua sobre polícia e igualdade, entendemos que, nas
condições de produção da mundialização/globalização, “cada vez mais há uma saturação ‘policière’
da política, é o que se chama de consenso, nas nossas sociedades” (RANCIÈRE, 1995b, s/p). O
autor exemplifica que grupos entram na lógica de realizar pactos, acordos para fixar os limites do
possível, com parceiros sociais definidos, já identificados e integrados. A ausência de política, isto é,
a existência dessa regra consensual, é o que podemos ver acontecendo pelo retorno do poder
carismático, das guerras étnicas, racismo, xenofobia, ou seja, é a modernidade, que é também o
consenso, o mercado, etc.
Rancière (1996a) conceitua o consenso como uma relação de circularidade entre natureza e
lei. A lei tem como princípio “estabelecer a permanente conversibilidade do Um da lei com o Um
do sentimento que define o estar-junto” (RANCIÈRE, 1996a, p. 121, grifo do autor). O sistema
consensual, assim, repousa sobre os axiomas “o todo é tudo, o nada não é nada” (RANCIÈRE,
1996a, p. 123), repousa naquilo que chamamos de democracia. O consenso tem a pretensão de
fazer desaparecer a cena política do dissenso, não quer mais sujeitos divididos, mas partes reais do
corpo social, corpo e agrupamento enumeráveis, bem identificados a sua raça, etnia. Assim, por
exemplo, Rancière (1996b) afirma que em vez de ter a figura política do proletário, aparece o
imigrado, identificado pela raça, cor. A ação política que considera o dissenso é que rompe com os
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sentidos naturalizados, ditos como evidentes, com o consenso. Assim, a política rompe com a
ordem lógica da polícia.
Disso que tecemos a partir do autor, compreendemos que nos é importante considerar a
política enquanto dissenso, como divisão do sensível, que rompe com os sentidos considerados
evidentes, naturalizados. Bem como, nos interessa os sentidos que produzem o consenso, o
apagamento da política pela polícia, produzindo efeitos nas relações entre língua, Estado e nação.
É importante considerar, assim como Orlandi (2012a), que o político “é o fato de que o
sentido é sempre dividido, tendo uma direção que se especifica na história, pelo mecanismo
ideológico de sua constituição” (ORLANDI, 2012a, p. 21-22). Dessa forma, continua a autora, a
interpretação, lugar próprio da ideologia, acontece de algum lugar da história e da sociedade e tem
uma direção política, que faz com que o sentido seja dividido, movimente-se, não sendo qualquer
um, mas constituído pela língua na história.
O discurso, como afirma Orlandi (2012c), é sempre incompleto, um processo contínuo que
não se esgota em uma situação particular, pois o que sempre temos são trajetos, pedaços, estados
do processo discursivo. Conceituado por Pêcheux ([1969]4 2010a, p. 81) como “efeito de sentidos”,
o discurso é produzido a partir de determinadas condições de produção, as quais compreendem os
sujeitos e a situação, bem como a memória, as filiações de sentidos.
Subsumindo esse modo de compreender o discurso, Pêcheux ([1977] 2012b, p. 24) afirma
que a prática política é a “transformação de relações sociais dadas em novas relações sociais
produzidas por meio de instrumentos políticos”, sendo este instrumento de transformação da
prática política o discurso. Não significa que a política se reduza ao discurso e sim que toda decisão
no sentido político “adquire seu lugar na prática política como uma frase em um discurso”
(PÊCHEUX, [1977] 2012b, p. 24, grifo do autor). Por prática, o autor entende ser todo o processo de
transformação de certa matéria-prima em um determinado produto. Essa transformação é efetuada
por um trabalho humano determinado, utilizando também determinado meio de produção.
Nesse sentido, a discussão que consideramos sobre político, política, polícia é essencial
porque é na língua que esses confrontos se explicitam, “lugar de relação à história e ao social e lugar
de singularidades” (ORLANDI, 2012a, p. 131). Por esta razão, concordamos com Orlandi (2012c,
p. 34), que o político se constitui como “relações de força que se simbolizam”, reside no fato de
que os sentidos são determinados pela forma da organização social que se impõe para um indivíduo
interpelado pela ideologia.
4A data entre colchetes refere-se à primeira edição da obra na língua original, a outra data é a da edição
consultada.
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A unidade e a diversidade são questões que devem ser tratadas de modo inseparável. A
unidade não é somente questão do Estado, ela é a condição necessária da constituição de qualquer
língua (ORLANDI, 2013). Podemos pensar a língua portuguesa no Brasil em sua unidade, como
língua nacional e oficial do Estado, sustentada pelos instrumentos linguísticos, e sua diversidade que
considera a coexistência de línguas indígenas, de imigrantes, etc.
Para cada uma dessas posições, Orlandi (2013) argumenta que os princípios éticos são
diferentes e estão quase sempre em relação de contradição. E é este ponto que acreditamos ser
essencial: considerar a contradição como princípio ético, visto que a produção de um conhecimento
sobre a língua e a(s) política(s) de línguas se constituem na relação com esse jogo contraditório, que
é político. A política de línguas é um trabalho que relaciona o político, o sujeito, a língua, as línguas
e o saber sobre as línguas.
Nesse viés, concordamos com Mariani (2004) que uma política linguística (entendida como
sinônima de política de línguas) é resultante das condições históricas de relações entre línguas em
um determinado momento, em um determinado espaço-tempo de prática discursiva que emerge
como resultado de uma tentativa de organização das práticas significativas e das forças sociais que
se encontram em jogo.
Por isso, Orlandi (2013, p. 140) afirma que “ao se definir que língua se fala, com que
estatuto, onde, quando, e os modos de acesso a ela”, como por exemplo, pela legitimação de
acordos, pela construção de instituições linguísticas, está se praticando as diferentes formas das
políticas de língua, ao passo que, para identificá-las, “está-se produzindo seu conhecimento, sua
análise, e dando a ela configuração singular” (ORLANDI, 2013, p. 140).
Isso se deve ao considerar discursivamente, afirma Orlandi (2007), a língua como um corpo
simbólico-político, afetada desde sempre pelo político que faz parte das relações entre sujeitos em
sua vida social e histórica. Por isso, pensar em política de línguas é compreender as formas sociais
sendo significadas por e para sujeitos históricos e simbólicos, conforme suas formas de existência,
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Considerações finais
Na escrita deste trabalho, que se constitui por si só como um ato político, nos desafiamos a
compreender o modo como consideramos a noção de político, política, na filiação teórica da
Análise de Discurso que considera a multiplicidade do sentido, o sentido em relação a outro, nunca
inacabado, mas sempre em movimento. E, assim, observamos o funcionamento do político,
estruturante da divisão do sentido, da língua, dos espaços simbólicos.
Nessa perspectiva, falar do político “é remeter para uma divisão no processo de produção
dos sentidos, uma divisão da qual não se tem como escapar” (MARIANI, 2004, p. 42). E é na língua
que observamos esse funcionamento, língua que é capaz de falha, de brechas, de aberturas, de
resistência, lugar de trabalho do político.
Assim, finalizamos este trabalho inserindo-o um ponto final necessário, uma pontuação na
qual, conforme Orlandi (2012c, p. 126) “o sujeito trapaceia com a incompletude e com a sua
dispersão, produzindo imaginariamente a imagem do Um, do Completo, do Acabado, do Finito”.
Referências
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Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
O estudo objetivou verificar a importância das atividades circenses como uma das práticas
corporais inseridas nos conteúdos da Educação Física Escolar de forma a propor a compreensão de
questões culturais do circo. A pesquisa caracterizou-se como descritiva exploratória pautada em
achados científicos. As discussões mostraram que as transformações no mundo do circo foram
mudanças significativas na cultura e que podem ser tratadas na Educação Física Escolar, para
favorecer ao aluno um conhecimento corporal amplo e da realidade, pois através da reflexão sobre
si mesmo e a cultura ocorrerá o desenvolvimento do pensamento crítico e da formação integral.
Palavras-chave: Atividades Circenses. Cultura. Escola. Educação Física.
Abstract
The study aimed to verify the importance of circus activities with a of the corporal practices
inserted in school physical education content so the to propose the understanding of cultural issues
of the circus. The methodology was characterized with descriptive exploratory research guided in
scientific findings. The discussions showed that the changes in the world of the circus were
significant changes in culture and that can be treated in school physical education, for favor the
student a knowledge body broad and also of reality, because through of the reflection about
yourself and the culture may occur the development of critical thinking and of the integral
formation.
Keywords: Circus Activities. Culture. School. Physical Education.
Considerações iniciais
É importante ressaltar que o circo faz parte do acervo cultural da humanidade, como
parcela integrante da difusão das artes e da cultura popular. Desse modo, sugere-se que as
atividades circenses possam ser incluídas nas escolas como conteúdo das aulas de Educação Física,
proposta como mais uma prática corporal que venha somar-se aos aspectos culturais no processo
pedagógico. Assim, a partir destas premissas, o estudo objetivou verificar a importância das atividades
circenses como uma das práticas corporais inseridas nos conteúdos da Educação Física Escolar de forma a propor a
compreensão de questões corporais do circo.
Decisões metodológicas
Desta forma, na realização do estudo utilizou-se achados científicos com temas sobre a
cultura e sua relação com a Educação Física, isto é, sobre o desenvolvimento de atividades circenses
na Educação Física Escolar e questões culturais do circo.
públicas e observáveis que buscam sentido ao modo de vida dos grupos. Por essa importância cria-
se a possibilidade de trazer o tema circo para dentro da escola.
De acordo com Barone (2006) a cultura circense baseou-se em dois pilares: a transmissão
oral do conhecimento e a estrutura familiar. Isso se dava em grupos relativamente fechados com
aprendizagem sigilosa, onde os incluídos tinham diferentes graus de parentesco e os saberes obtidos
eram passados de geração a geração, assim as técnicas e os valores desenvolvidos eram preservados.
É possível observar que havia um cunho pedagógico que envolvia o processo de ensino-
aprendizagem, pois desde cedo as crianças, cujo seus familiares pertenciam ao âmbito circense,
eram desenvolvidas em vários ofícios e logo que adquiriam experiência, estavam aptas a mostrarem
seu conhecimento no picadeiro. O conhecimento artístico e de habilidades era exclusivo da família
e se dava através do mestre (que era como a figura de um professor) assim como todos os afazeres
do circo eram de responsabilidade dos familiares.
Para Silva (2006) o modelo de circo ocidental se enraíza numa cultura conservadora. As
trupes circenses consolidam uma tradição caracterizada por um forte vínculo social, tendo a família
como base de sustentação. Era o ‘circo dos tradicionais’. A organização do trabalho forma um
conjunto entre a socialização, a formação e a aprendizagem que são articuladas e dependentes, onde
o objetivo não era apenas organizar o trabalho e produzir um espetáculo, mas manter o circo
família.
Na Europa no século XIX, o circo era uma atividade de grande fascínio pelas variações do
trabalho com o corpo, onde, conforme Soares (2001), nesse processo há o surgimento do ‘corpo
educado’ que é o resultado da lenta elaboração de formas distintas de intervenção dirigida ao
exterior com a intenção de atingir a alma humana. Contrapondo a burguesia da época, os artistas
realizavam práticas corporais descompromissadas, com simples espetáculos realizados em feiras e
circos, com palhaços, acrobatas, gigantes e anões despertando sentimentos variados no público
durante as apresentações. Entretanto, estes sentimentos eram desvalorizados pela burguesia,
considerados inúteis ao trabalho, pois o artista fazia uso excessivo da força e energia. Mas logo, a
ginástica passou a ser científica e despertou o interesse da burguesia, que a utilizou como um
instrumento disciplinador de posturas, ações e gestos contribuindo para que o indivíduo obtivesse
noções de economia de tempo, gasto de energia e para cultivar a saúde, com caráter ordenativo,
disciplinador e metódico.
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A ginástica é vista no circo das mais variadas formas que vão desde acrobacias de solo à
atividades aéreas. Assim, temos um quadro proposto por Xavier (2005).
Este quadro mostra uma relação das atividades do circo com a ginástica como se fossem as
transformações e adaptações ocorridas da ginástica para as atividades circenses envolvendo
domínios do corpo, objetos e diferentes espaços. Além dessas modalidades, há a modalidade de
equilíbrio onde envolvem pernas de pau, monociclo, rolo americano e até mesmo malabarismos de
equilíbrio que se torna mais difícil relacionar diretamente com a ginástica devido as suas
particularidades específicas.
Para o esclarecimento destas mudanças, Bortoleto (2008) destaca que o circo sempre
buscou nutrir-se da tecnologia de seu tempo, porém em alguns momentos e lugares, ainda hoje, é
possível observar certo descompasso com outros recursos, saberes e tecnologias existentes. Os
contrastes do circo ainda são visíveis embora a tecnologia seja um recurso que pode contribuir para
a evolução. Porém, os grandes custos desses recursos impedem e dificultam o desenvolvimento de
alguns circos.
A cultura do circo é uma cultura que, mesmo com toda adversidade e dificuldade
encontradas, é algo que permanece se disseminando e sendo cultuada por inúmeros artistas das
mais variadas etnias. Geertz (2008) trata a cultura como uma teia de significados que o próprio
homem teceu e a sua análise se dá por meio de uma ciência interpretativa que procura um
significado. E que para entendê-la é preciso analisar como as pessoas são, como se relacionam,
como interagem e assim, ver o significado das ações desenvolvidas pelos indivíduos na sociedade.
Partindo deste pressuposto, também tem importância no âmbito escolar e, nesse caso,
enfatizando as aulas de Educação Física, já que busca seus significados e objetivos próprios e
também sofre influências das culturas impostas pelo próprio homem. Fazem parte do componente
curricular da Educação Física, as mais variadas formas de manifestações. De acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) a Educação Física Escolar conta com diversos
componentes, destacando-se as formas expressivas corporais: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica,
as lutas, as atividades expressivas e rítmicas e outras manifestações com características lúdicas.
Neste sentido, a Educação Física teve contribuições das Ciências Sociais e Humanas para
elaborar explicações em relação ao movimento humano, tratando a Educação Física como
fenômeno cultural, o qual, de acordo com Daolio (2004), o termo “cultura” se tornou a principal
categoria de conceitos na área da Educação Física. Tem-se a cultura corporal como uma área de
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conhecimentos entendida pelo Coletivo de Autores (1992) como a maneira de tematizar formas de
atividades expressivas corporais no âmbito escolar, por meio da Educação Física, tratadas como
prática pedagógica que precisa ser transmitida e assimilada pelos alunos. Além disso, para estes
autores, por meio da cultura corporal busca-se desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo
de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história,
exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte,
malabarismo, contorcionismo, mímica e outros que podem ser identificados como formas de
representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas.
Para Bracht (1992) os conteúdos ensinados são selecionados de uma realidade fora da
escola, mesmo que esteja voltada a ela. O professor deve saber que o que é desenvolvido nas aulas
vem da cultura corporal, sendo uma produção humana.
Já o Coletivo de Autores (1992) concordam com o vínculo entre Educação Física e cultura.
Acreditam que todas as manifestações corporais do homem são geradas na dinâmica cultural
humana durante toda sua evolução tendo significados próprios e diversificados de acordo com o
contexto de determinados grupos culturais. Além disso, a análise de uma expressão na dinâmica
cultural específica do contexto onde é realizada determina se uma ação corporal é digna de trato
pedagógico na Educação Física.
Um dos pontos destacados por Bortoleto e Machado (2003) é o fato de que a atividade
circense é um conteúdo tão legítimo e importante quanto os conteúdos tradicionais da Educação
Física, e, por isso, também deve-se dar atenção à cultura corporal que essas atividades circenses
representam. O Coletivo de Autores (1992) diz que a Educação Física na escola deve propor uma
ação pedagógica com a cultura corporal e a linguagem deve auxiliar o aluno na compreensão de seu
sentir corporal.
O trabalho das atividades circenses no âmbito da Educação Física Escolar podem englobar
os fatores presentes na cultura corporal, fazendo uma aproximação que abrange desde os
conhecimentos motores, cognitivos até os conhecimentos culturais. Duprat e Bortoleto (2007)
mostram que a Educação Física Escolar é responsável pelo espaço de ‘vivência’, que tem como
objetivo inserir os alunos em contato com a cultura corporal. Para isso, o interesse pedagógico não
deve estar centralizado no domínio técnico dos conteúdos, mas sim no domínio conceitual deles,
dentro de um espaço humano de convivência, onde há possibilidade de serem vivenciados valores
humanos que aumentem os graus de confiança e de respeito entre os integrantes do grupo.
Bracht (1992) coloca que o movimento a ser tratado pela Educação Física, como disciplina
escolar, é aquele que carrega determinado sentido/significado conferido por um contexto histórico-
cultural. E assim, por ter um determinado sentido e significado, como manifestação artística e parte
da cultura corporal, a arte circense pode ter justificada sua presença na escola. Deve-se levar em
consideração que as atividades circenses devem ser tratadas pela Educação Física como um
conteúdo sendo estimulado por um processo pedagógico que insira esse tipo de atividade nas aulas.
Para Gáspari e Schwartz (2007) o universo circense possui elementos lúdicos, expressivos e
comunicativos dentro dos aspectos físico, psíquico e sócio cultural com contribuição riquíssima na
área de conhecimento da Educação Física. Em tempos de competitividade acirradas, inegáveis são
as contribuições das atividades físicas que proporcionam experiências sensíveis, capazes de
promover o encontro do ser humano consigo mesmo e com o outro de um modo que a atividade
circense consegue fazer.
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É possível constar que é necessária a quebra do distanciamento entre a escola com a arte
circense e assim, podemos pensar num processo de ensino/aprendizagem que se dê não
necessariamente sob uma lona, mas também no âmbito escolar. Considerando que os conteúdos
desenvolvidos nas aulas de Educação Física se dão por meio de conhecimentos culturais do meio
circense que podem ser desenvolvidos como novas experiências levando em consideração a
relevância do tema abordado.
Todos estes temas discutidos sobre o universo circense e as mudanças ocorridas nele,
podem ser desenvolvidas durante as atividades da aula com situações de resolução de problemas
que façam com que os alunos sejam instigados e reflitam para compreender o contexto de sua
realidade social.
Considerações finais
A inserção das atividades circenses não visa negar os conteúdos já existentes que são
desenvolvidos na Educação Física, mas sim, apontar uma perspectiva que vai além do que já é
proposto nas aulas. O estudo mostrou que a Educação Física Escolar também tem a função de
mostrar e ensinar ao aluno sobre os conhecimentos sociais decorrentes de uma sociedade que
sofreu e vem sofrendo constantes transformações culturais capazes de transformar a realidade e o
contexto que o aluno está inserido.
Em virtude da sua riqueza cultural, o circo pode ser abordado nas aulas de Educação Física
Escolar, desenvolvendo uma aproximação de modo a incluir suas práticas aos saberes culturais,
destacando e considerando que é possível essa relação, que vem a ser estimulada num processo
pedagógico envolvendo ensino/aprendizagem.
circenses, é possível que o aluno conheça a riqueza dos conhecimentos da cultura humana que foi
desenvolvida durante o processo histórico da sociedade.
Referências
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Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
O acesso à água potável e ao saneamento básico foi reconhecido como direito do ser humano pela
Organização das Nações Unidas. São vários os impactos causados pelo Esgoto à Céu aberto. Além
da poluição visual, mau-cheiro e o acumulo de insetos ao redor, um dos principais impactos é o
aparecimento de doenças na população situada ao redor do problema. Com base nas considerações
supracitadas e acreditando que o esgoto a céu aberto é um grande problema ambiental, este
trabalho tem por objetivo demonstrar a opinião de moradores que residem próximo a um típico
problema de Esgotamento não tratado, localizado na Avenida Vinte e Cinco de Julho, bairro Três
Vendas, Pelotas/RS.
Palavras-Chave: Água potável, esgoto, Impactos ambientais.
Abstract
Access to safe water and sanitation has been recognized as a human right by the United Nations.
Several impacts caused by open sewers. Besides visual pollution, bad smell and accumulation of
insects around, one of the main impacts is the appearance of disease in the population situated
around the problem. Based on the above considerations and believing that the open sewage is a
major environmental problem, this paper aims to demonstrate the opinion of residents living close
to a typical problem Depletion untreated, located on Avenida Twenty Five July Three Sales, Pelotas
/ RS. Neighborhood
Keywords: Drinking water, wastewater, environmental impacts
Introdução
O acesso à água potável e ao saneamento básico foi reconhecido como direito do ser
humano pela Organização das Nações Unidas. A resolução declara que “o direito a uma água
potável, limpa e de qualidade e a instalações sanitárias é um direito humano, indispensável para
gozar plenamente do direito à vida”. No entanto, 884 milhões de pessoas no mundo não têm
acesso à água potável e mais de 2,6 bilhões não dispõem de instalações sanitárias adequadas.
(WONG, Antony)
Serviço absolutamente essencial, a coleta e o tratamento de esgoto têm sido deixados de lado
por sucessivos governos. Hoje, apenas 50,6% da população urbana brasileira têm acesso à rede de
esgoto. Para um país que pretende ser uma potência econômica esse número é inaceitável,
principalmente porque quem tem mais sofrido com essa situação são as crianças.
Outros produtos podem ser indevidamente jogados descarga abaixo e lançados na rede de
águas residuais, como estopas, chupetas e outros materiais relacionados a crianças, objetos
de higiene feminina, tais como absorventes, ou ainda produtos tóxicos de origem
industrial, preservativos usados, etc.
A importância desse estudo é demonstrar que o Esgoto à Céu aberto é causador de diversas
doenças, além das diarréias e outras infecções causadas pela falta de coleta e de tratamento de
esgoto, outras doenças prejudicam o desenvolvimento e condenam essas crianças em longo prazo.
Se pegarmos crianças de 0 a 5 anos, os danos são ainda maiores: são permanentes. Trata-se
de doenças toxicológicas causadas pela contaminação por substâncias químicas vindas de causas e
produtos diversos, tais como a lata de refrigerante, a lata de tinta, garrafas PET, óleo de cozinha,
sacolas plásticas, entre outros objetos que são lançados diariamente nos rios e nos esgotos a céu
aberto das comunidades carentes em todo o País.
Com base nas considerações supracitadas e acreditando que o esgoto a céu aberto é um
grande problema ambiental, este trabalho tem por objetivo demonstrar a opinião de moradores que
residem próximo a um típico problema de Esgotamento não tratado, localizado na Avenida Vinte e
Cinco de Julho, bairro Três Vendas, Pelotas/RS.
Referencial teórico
Materiais e métodos
Segundo Yin (2005), o estudo de caso pode ser tratado como importante estratégia
metodológica para a pesquisa em ciências humanas, pois permite ao investigador um
aprofundamento em relação ao fenômeno estudado, revelando nuances difíceis de serem
enxergadas “a olho nu”.
Além disso, o estudo de caso favorece uma visão holística sobre os acontecimentos da vida
real, destacando-se seu caráter de investigação empírica de fenômenos contemporâneos.
Já para Vergara (2009), quanto aos meios à pesquisa é do tipo estudo de caso, pesquisa de
campo e bibliográfica. Estudo de caso porque o projeto busca profundidade e detalhamento do
problema da Avenida Vinte E Cinco de Julho, e pesquisa de campo considerando a investigação “in
loco”. Bibliográfica considerando que na fundamentação teórico metodológica foram utilizadas
literaturas dos principais autores das áreas corretas ao tema.
Para tanto foi realizado uma pesquisa com questionário do tipo objetivo com sete questões
objetivas. A entrevista realizada obedeceu a uma pauta de algumas questões relacionadas ao
problema de Esgoto a céu aberto da Avenida XXV de Julho.
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Apresentação e discussões
A Avenida
A Avenida XXV de Julho (Vinte cinco de Julho) é uma Avenida Movimentada que se
interliga a Avenida Fernando Osório através da Rótula entre Av. Fernando Osório – Avenida
salgado Filho e Avenida Vinte e Cinco de Julho – Conforme Figura 1.
Figura 1
São vários os impactos causados pelo Esgoto à Céu aberto. Além da poluição visual (Figuras
2 a 5), mau-cheiro e o acumulo de insetos ao redor, um dos principais impactos é o aparecimento
de doenças na população situada ao redor do problema.
São muitas as doenças vinculadas à falta de saneamento. Elas interferem na qualidade de vida
da população e até mesmo no desenvolvimento do país. A maioria dessas doenças é de fácil
prevenção, mas causam muitas mortes, como o caso da diarréia entre crianças menores de 5 anos
no Brasil. Os índices de mortalidade infantil também estão associados ao acesso a serviços de água,
esgoto e destino adequado do lixo.
As doenças são transmitidas pelo contato ou ingestão de água contaminada, contato da pele
com o solo e lixo contaminados. A presença de esgoto, água parada, resíduos sólidos, rios poluídos
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e outros problemas também contribuem para o aparecimento de insetos e parasitas que podem
transmitir doenças. (SANEPAR, 2010)
Febre Tifóide: Doença infecciosa que causa febre contínua, mal-estar, manchas rosadas no tronco,
tosse seca, prisão de ventre e comprometimento dos tecidos linfóides.
Febre Paratifóide: É semelhante à Febre Tifóide, mas menos letal. É causado por infecção bacteriana,
com apresentação de febre contínua, eventual aparecimento de manchas róseas no tronco e diarréia.
Shigeloses: Infecção bacteriana aguda no intestino grosso. Apresenta febre, náuseas e, às vezes,
vômitos, cólicas e tenesmo (sensação dolorosa na bexiga ou na região anal). Em casos graves, as
fezes apresentam sangue, muco e pus.
Cólera: Doença intestinal bacteriana aguda, com diarréia aquosa abundante, vômitos ocasionais,
rápida desidratação, acidose, câimbras musculares e colapso respiratório, podendo levar o paciente a
morte em um período de 4 a 48 horas, se não houver tratamento.
Hepatite A: Febre, mal-estar geral, falta de apetite, náuseas e dores abdominais seguidas de icterícia.
A convalescença é prolongada e a gravidade aumenta com a idade, porém há recuperação total sem
seqüelas.
Amebíase: Infecção causada por um protozoário parasita que atinge os intestinos. As enfermidades
variam desde uma disenteria aguda e fulminante, com febre e calafrios e diarréia sanguinolenta ou
mucóide (disenteria amebiana), até um mal-estar abdominal leve e diarréia com sangue e muco
alternando com períodos de estremecimento ou remissão.
Giardíase: Diarréia crônica com cheiro forte, fraqueza e cólicas abdominais, graças às toxinas que
libera. Gera um quadro de deficiência vitamínica e mineral e, em crianças, pode causar a morte, se
não houver tratamento.
Leptospirose: Ocorre com mais freqüência em épocas de chuva ou alagamento, pode apresentar uma
simples gripe e até complicações hepáticas e renais graves.
Inúmeras outras doenças também são causadas pela falta de tratamento de esgoto, como:
poliomielite, diarréia por vírus, ancilostomíase (amarelão), ascaridíase (lombriga), teníase,
cisticercose, filariose (elefantíase), esquistossomose, etc.
É importante lembrar que os custos com prevenção dessas doenças são menores do que os
que se tem com a cura e a perda de vidas por causa delas. Também se poderiam aperfeiçoar os
gastos públicos com saúde se o dinheiro investido em tratamento de doenças vinculadas à falta de
saneamento pudesse ser direcionado para outras questões. (SANEPAR, 2010)
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Figura 2 Figura 3
Figura 4 Figura 5
PERGUNTAS RESPOSTAS
1. VOCÊ CONHECE ALGUM LOCAL COM PROBLEMAS
SANITÁRIO (ESGOTO A CÉU ABERTO) PRÓXIMO DA SUA ( ) SIM ( ) NÃO
CASA (AVENIDA XXV DE JULHO)?
2. VOCÊ SE INCOMODA COM A ATUAL SITUAÇÃO DA
AVENIDA XXV DE JULHO EM RELAÇÃO AO ESGOTO A ( ) SIM ( ) NÃO
CÉU ABETO?
3. VOCÊ JÁ OBSERVOU OU EVIDENCIO MAU CHEIRO,
( ) SIM ( ) NÃO
INSETOS, LIXO OU TRANSBORDAMENTO NO LOCAL?
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Em relação ao conhecimento dos moradores ao local com problemas sanitários (esgoto a céu
aberto) próximo de suas casas localizado na Avenida Vinte e Cinco de Julho, 78,58% responderam
ter conhecimento sobre o fato (Questão 1), Obtivemos 71,40% dos entrevistados afirmando
estarem em desacordo com à situação atual da Avenida (Questão 2), já em relação ao mau cheiro,
insetos, lixo e transbordamento(Questão 3), 78,58% responderam presenciar alguns desses itens no
local com freqüência. O total de 49,98% dos entrevistados tem o conhecimento dos riscos a sua
saúde em relação às doenças que podem ser ocasionadas a partir do impacto ambiental oferecido
pelo Esgoto aberto (Questão 4). Cerca de 21,42% das pessoas que participaram do questionário diz
ter contraído alguma doença que acredita ter relação ao problema estudado (Questão 5).
Somente 35,70% dizem já ter presenciado alguma limpeza e/ou manutenção na área.
(Questão 6). Por fim, 85,68% dos moradores acreditam que haveria melhoras de todos os aspectos
mencionados anteriormente se fosse realizado a canalização do Esgoto a céu aberto na Avenida
Vinte e Cinco de Julho. Resultados conforme tabela 2.
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0 Questã
Respostas Resposta Questã
positivas negativa Questã
Questão 1 78,5 21,5 Questã
Questão 2 71,4 28,6 Questã
No cenário atual está sendo cada vez mais cobrada à implementação de Gestão de Pessoas
relacionada à Gestão Ambiental. Desta forma, para que uma empresa atinja um patamar de
sustentabilidade, deve possuir uma gestão adequada.
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Ciências Sociais – Ano 11 Nº26 vol. 01 – 2015 ISSN 1809-3264
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saneamento (visualizado em 20 de maio de 2014).
KLUG, Waldemar – Entrevistado, morador próximo do local.
KUNZGEN, Elanir Klug - Entrevistado, morador próximo do local.
TUROW, Eliane Rutz - Entrevistado, morador próximo do local.
NILMANN, Patrícia - Entrevistado, morador próximo do local.
FALKE, Ereni Kunzgen - Entrevistado, morador próximo do local.
BARBOSA, Leandro Miranda - Entrevistado, morador próximo do local.
CELESTINO, Raquel - Entrevistado, morador próximo do local.
FERNANDES, Ana Maria Dias - Entrevistado, morador próximo do local.
SEDREZ, Givanildo - Entrevistado, morador próximo do local.
ALBORNOZ, Léo - Entrevistado, morador próximo do local.
BARRETO, Diana - Entrevistado, morador próximo do local.
REICHOW, Leonardo - Entrevistado, morador próximo do local.
WOZIAK, Carlos Augusto Huber - Entrevistado, morador próximo do local.
SILVEIRA, Lucinara - Entrevistado, morador próximo do local.
Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 1/806/2015
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Resumo
Este artigo é fruto do trabalho final de curso de pós-graduação em "Planejamento, Implementação
e Gestão da Educação a Distância". Para fazer a tessitura deste labor, priorizei investigar na
literatura o papel do tutor enquanto mediador reflexivo e dialógico na Educação a Distância. No
presente estudo, foi possível clarificar o cerne na tutoria a distância, ressaltando que a função do
tutor não é facilitar nem tampouco dificultar o processo de aprendizagem, mas sim, desencadear a
autoria de pensamento, a reflexividade, a criatividade, a dialogicidade como instrumentos de
interlocução e de tomada de consciência para tecer novas práticas educativas.
Palavras-chave: Educação a Distância; Tutor; Mediação reflexiva e dialógica.
Abstract
This article is the result of the final work of graduate course on "Planning, Implementation and
Management Education Distance". To make the fabric of this work, prioritized in the literature
investigate the role of the tutor as reflective and dialogic mediator in Distance Education. In this
study, it could be clarified in the core distance tutoring, noting that the role of the tutor is not easy
nor hinder the learning process, but trigger the authorship of thought, reflexivity, creativity,
dialogicity as instruments of dialogue and awareness to weave new educational practices.
Keywords: Distance Education; Tutor; Reflective and dialogic mediation.
Introdução e objetivos
A Educação a Distância (EaD) vem passando por uma rápida expansão desde o início do
século XXI, trazendo profundas reflexões sobre as mudanças organizacionais na educação devido
ao uso da tecnologia e suas possibilidades. O foco desse trabalho aponta, especificamente, para o
contexto dos Sistemas de Tutorias em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Esse discurso ressalta como é essencial considerar, valorizar e analisar as peculiaridades dos
sistemas de tutorias a distância que possibilitam novas formas de aprender e de ensinar.
De acordo com Brunetta et al. (2013, p. 83), enquanto mediador, o tutor a distância "(...)
ocupa uma posição na qual é necessário estar em constante diálogo com os alunos a fim de
estimulá-los durante todas as etapas do curso (...)".
Metodologia
Fontes primárias são constituídas por obras ou textos originais, material ainda não
trabalhado, sobre determinado assunto. As fontes primárias, pela sua relevância, dão
origem a outras obras, que vão formar uma literatura ampla sobre aquele determinado
assunto.
As fontes secundárias referem-se a determinadas fontes primárias, isto é são
constituídas pela literatura originada de determinadas fontes primárias e constituem-se e
em fontes das pesquisas bibliográficas (ANDRADE, 2001, p. 43).
Cabe lembrar que segundo Cervo e Bervian (apud UNIASSELVI, s.d., p. 23), a pesquisa
bibliográfica "(...) busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado
existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema (...)".
Gil (apud UNIASSELVI, s.d., p. 22) ressalta que a "(...) principal vantagem é possibilitar ao
investigador a cobertura de uma gama de acontecimentos muito mais ampla do que aquela que
poderia pesquisar diretamente".
Depreendo que a referida pesquisa bibliográfica pode ser uma possibilidade para
vislumbrar novas perspectivas para a tutoria nos cursos a distância.
Na EaD há vários tipos de cursos que visam atender as necessidades de cada instituição
bem como do público-alvo. Segundo Clementino (2014), os cursos autoinstrucionais podem ser
sem ou com tutoria.
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Sabemos que em pleno século XXI, um dos grandes desafios da EaD é superar os modelos
autoinstrucionais (sem ou com tutoria), pois eles não priorizam a interatividade, a cooperação, a
reflexividade, a tomada de consciência.
Tijiboy et al. (2009) fazem uma alerta: "(...) apesar da variedade de recursos de interação ou
ferramentas que um ambiente virtual de aprendizagem disponha, cabe à equipe docente avaliar
continuamente o processo de interação, devendo em diversos momentos promover a cooperação, a
reflexão (...)".
Litwin (2001) e Palloff e Pratt (2002) enfatizam que o tutor exerce o papel de facilitador na
construção do conhecimento, uma vez que a aprendizagem é centrada no aluno, tornando-o mais
responsável e consciente por suas produções e participações.
Sá (apud BEBER; MARTINS; DIAS, 2008) também considera que o tutor é um orientador
da aprendizagem do aluno, um facilitador na modalidade a distância.
Sabemos que os obstáculos são imensos até porque no processo sócio-histórico, "não
fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos. Nosso olhar cristalizado
nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira" (WEFFORT, 1996, p. 10).
Segundo Beber, Martins e Dias (2008), na modalidade a distância, "a figura do tutor deve
situar-se numa posição estratégica, já que seu desempenho central é atuar como mediador entre
currículo, interesses e capacidades do aluno".
Defendo que na EaD, a tutoria necessita conhecer os seus alunos, acolhendo cada cursista
e a equipe, interagindo nos fóruns de apresentação, de dúvidas, nos fóruns temáticos, nos chats,
enviando e respondendo os e-mails, entre outras atividades.
Na perspectiva reflexiva, as propostas pedagógicas dos cursos a distância têm como ideia
motriz a sustentação de práticas educativas que enfatizam a dialogicidade, a interatividade, a
criticidade.
Beber, Martins e Dias (2008) enfatizam que na EaD, "a figura de destaque, responsável
pelo bom andamento das atividades, é o tutor, profissional que assume a missão de articulação de
todo o sistema de ensino-aprendizagem (...)".
Beber, Martins e Dias (2008) ainda argumentam que "(...) o tutor tem como finalidade
resolver os ruídos de comunicação e os problemas que surgem ao longo do processo de ensino,
procurando resolvê-los e, ao mesmo tempo, realizar a articulação e desenvolver ações para
aperfeiçoar o sistema de EaD (...)".
Para Tijiboy et al. (2009), "as funções que o tutor a distância desempenham podem a
primeira vista parecer fácil. Estas seriam: fazer mediações e interlocuções através das ferramentas
do ambiente/plataforma de ensino utilizado no curso, manter ativa a participação dos alunos (...)".
Para explicar o processo de mediação da tutoria a distância, Tijiboy et al. (2009) ressaltam
que cabe ao tutor:
A mediação do tutor reside na ZDP, pois ele precisa trabalhar pedagogicamente a partir
dos conhecimentos prévios dos alunos, objetivando que o corpo discente construa conhecimentos
basilares para a sua formação.
Já, o fórum de discussão é uma ferramenta assíncrona na qual o tutor pode solicitar para o
corpo discente uma pesquisa mais aprofundada sobre a temática analisada. Na referida ferramenta,
o tutor tem mais tempo para analisar, fazer o feedback.
A tutoria também necessita atender os alunos em horários flexíveis e meios diversos, como
ressalta Sá (apud MACHADO; MACHADO, 2004). Em concomitância requer gerenciar bem o
tempo para fazer mediações éticas, construtivas, acolhedoras, reflexivas, cooperativas, criativas para
construir espaços de trabalho, de interação, de reflexão.
Tijiboy et al. (2009) são incisivos ao enfatizarem que o processo de reflexão na modalidade
a distância necessita de "(...) questionamentos e perguntas do tutor ao aluno, visando a solução de
um problema. Implica necessariamente uma ação consciente ou intencional do mediador em
provocar o raciocínio crítico do aluno (...)".
Os referidos autores também ressaltam que o tutor enquanto "(...) mediador não fornece
respostas, mas instiga a busca dessas pelo próprio aluno" (TIJIBOY et al., 2009).
Nobre e Melo (2011, p. 04) alertam que esse profissional necessita “(....) explorar as
interfaces, respeitando o desenho didático, com postura sempre proativa, aberta a coparticipação e
problematizadora”.
Nobre e Melo (2011, p. 04) também fazem uma analogia entre a tutoria a distância e a
"ponte rolante", quando ressaltam que o tutor necessita:
As referidas autoras ainda alertam que o tutor na EaD age como uma "ponte rolante",
realizando a mediação entre o professor-autor, o material didático e os alunos.
Cabe lembrar que no presente trabalho, não considero o tutor como um mero facilitador e
sim, um mediador que tem funções complexas, tais como:
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(...) saber lidar com os ritmos individuais diferentes dos alunos; Apropriar-se de técnicas
novas de elaboração do material didático impresso e do produzido por meios
eletrônicos; Dominar técnicas e instrumentos de avaliação, trabalhando em ambientes
diversos daqueles já existentes no sistema presencial de educação; Ter habilidades de
investigação; Utilizar técnicas variadas de investigação e propor esquemas mentais para
criar uma nova cultura, indagadora e plena em procedimentos de criatividade (SOUZA
et al., 2004, p. 82).
Silva (apud NOBRE; MELO, 2011, p. 11) também argumentam que cabe a tutoria "(...)
gerenciar possíveis conflitos explícitos e implícitos no calor das discussões e no desenrolar dos
trabalhos, estimular: a colaboração, a interatividade (...) o clima cordial e estimulante (...)”.
Ratificando essa postura pedagógica, Guarezi e Matos (2009) depreendem que cabe a
tutoria possibilitar o exercício da interatividade e da colaboração, incentivando o intercâmbio de
experiências entre os alunos, destacando a comunicação entre grupos, em respeito às diferenças
individuais.
Também para Costa, Paraguaçú e Pinto (2009), o papel da tutoria é apoiar e orientar os
alunos em seus estudos, mediar discussões, autonomia, destacando o processo de interação mútua
na construção do conhecimento.
Segundo Alarcão (2005, p. 45), para estimular a reflexão nos processos educativos são
necessários "(...) contextos que favoreçam o seu desenvolvimento, contextos de liberdade e
responsabilidade (...)".
Compreendo que o trabalho pedagógico na EaD não é um labor solitário, pois é tecido na
coletividade e na diversidade de ideias.
Para Neder (2000), o tutor deve participar dos momentos de preparação e desenvolvimento
de um curso, pois ele precisa colaborar na discussão do currículo do curso, dos materiais didáticos,
receber formação institucional para trabalhar no curso, participar da construção dos instrumentos
de avaliação dos alunos, avaliar os discentes e o curso, ou seja, é co-responsável pelo processo de
formação dos alunos.
Nessa perspectiva, Beber, Martins e Dias (2008) são incisivos quando mencionam que "(...)
é necessário investir e desenvolver sistemas tutoriais eficazes, apropriados a apoiar e promover o
crescimento do aluno em cada uma das etapas do processo de ensino".
Também defendo que a simples expansão da EaD não garante uma tomada de consciência
da equipe e dos alunos. Nem a mera utilização das ferramentas tecnológicas do AVA garante o
processo de reflexividade na modalidade a distância.
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DIALÉTICA E FENOMENOLOGIA:
AS ANDARILHAGENS DE PAULO FREIRE
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo problematizar o pensamento educacional de Paulo Freire, o
qual encharcado pelos métodos dialético e fenomenológico constituiu seu modo de fazer na
educação. A partir de um estudo descritivo crítico tem-se por intencionalidade elencar categorias
que venham a demonstrar o trânsito do autor por entre diferentes visões de mundo na busca de
uma educação mais humana e libertária. Argumenta-se no texto a necessidade de refletir sobre uma
perspectiva pedagógica contemporânea que aponte para uma marcha dialético/fenomenológica
enquanto movimento não apenas para acolher o sujeito diferente, mas com ele organizar encontros
de diferentes.
Palavras-chave: Educação. Dialética. Fenomenologia. Conscientização. Paulo Freire.
Abstract
This paper intends to discuss the educational thought of Paulo Freire, which constituted by
dialectical and phenomenological methods define their way of thinking and doing education. From
a critical descriptive study has aimed to list categories that may demonstrate the author for transit
between different worldviews in search of a more humane and libertarian education. In the text the
need to reflect on a pedagogical perspective that points to a dialectical / phenomenological way
while moving not only to accommodate the different subject is discussed, but he organize different
meetings.
Key-words: Education. Dialectic. Phenomenology. Critical consciousness. Paulo Freire.
Considerações iniciais
que a reflexão sobre a prática, com o intuito de melhorá-la, caracteriza o caminho prudente a ser
trilhado.
Ainda para o mesmo autor, embasado em Freire, a partir dos caminhos da história como
movimento, luta e possibilidade da transformação é latente vislumbrar as tentativas de reinventar as
práticas educacionais e, nelas, as identidades de educadores ou educadoras.
A pedagogia freiriana está apoiada nesse contexto, na ideia de que o conhecimento é uma
contingência particular da história e da política. Freire (2002), quando argumenta sobre a teoria do
conhecimento, sustenta que não é possível ao educador ou educadora apenas exercer uma oratória
sobre as razões ontológicas, epistemológicas e políticas da teoria, mas pelo contrário, o discurso
sobre a teoria deve ser o exemplo concreto e prático da teoria, enfim, a sua encarnação. “Ao falar
da construção do conhecimento, criticando a sua extensão, já devo estar envolvido nela, e nela, a
construção, estar envolvendo os alunos” (FREIRE, 2002, p. 21).
Com o intuito de abordar a referida discussão o trabalho está organizado nas seguintes
temáticas: as relações dialético-dialógicas e o método freiriano apresentam-se aproximações entre a dialética
de base marxiana e o método freiriano assumindo como elo as relações dialógicas; o contexto
fenomelógico freiriano compreende-se um alinhamento da proposta freiriana em consonância aos
autores de estudos fenomenológicos por meio de reflexões a respeito da discussão. Após, seguem
as considerações finais.
8A práxis estabelece uma ação transformadora consciente e crítica da realidade, superando a dicotomia teoria
e prática. Essa ação desencadeia a construção de um novo modelo conceitual onde o sujeito passa a atuar e
interferir sobre o contexto no qual está inserido. “É na práxis que o ser humano tem de provar a verdade, isto
é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensar” (MARX; ENGELS, 2010, p. 27). Para Sánchez
Vázquez (2007): “A relação entre teoria e práxis é para Marx teórica e prática; prática, na medida em que a
teoria, como guia da ação, molda a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionária; teórica,
na medida em que essa relação é consciente” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2007, p. 109).
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Essa necessidade de entendimento do outro é compreendida por Freire (2004) por meio do
exercício da humildade. Para o autor não existe diálogo se não há humildade. “A pronúncia do
mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante”
(FREIRE, 2004, p. 46). O diálogo rompe-se quando seus polos perdem a humildade
demonstrando que a autossuficiência não é compatível com o diálogo.
Enfatiza-se a importância do outro no contexto freiriano, pois “[...] já não se pode afirmar
que alguém liberta alguém, ou que alguém se liberta sozinho, mas que os homens se libertam em
comunhão” (FREIRE, 2004, p. 75).
As relações dialógicas, nesse contexto, promovem o encontro dos homens que pronunciam
o mundo, com o intuito de (re) criar a história, onde o foco permanente é a reflexão sobre a
realidade a qual não é entendida como abstrata e estática, mas sim como uma realidade concreta e
processual da qual o sujeito faz parte e intervém.
Uma vez garantidas às condições inicias para a relação dialógica o método dialético-
dialógico freiriano cria a problematização do tema gerador, como o universo mínimo temático. Esse
universo mínimo é composto por temas os quais, em geral, se contradizem, e por vezes mantém
estruturas já existentes. Há uma relação de correspondência entre os temas geradores e o contexto
histórico do qual os sujeitos fazem parte, possibilitando perceber a inserção dos envolvidos na
temática.
9 Para Brandão (2013), Paulo Freire pensou um método de educação construído a partir da ideia de um
diálogo entre educador ou educadora e educando onde há sempre partes de cada um no outro. Os métodos
de alfabetização possuem um material pronto como cartazes, cartilhas e cadernos de exercícios, mas para
Freire o “[...] método é instrumento de preparação de pessoas para uma tarefa coletiva de reconstrução
nacional” (BRANDÃO, 2013, p. 87), pois a educação é uma proposta “[...] de criar, com o poder do saber do
homem libertado, um homem novo, livre também de dentro para fora” (idem, ibidem, p. 87).
10 Na obra Pedagogia do oprimido, Freire (2004) compreende que o ser humano como sujeito histórico é aquele
que ao ter consciência de sua atividade e do mundo em que está inserido atua em função das finalidades que
propõe e que lhe são propostas, tendo como ponto de decisão de sua busca em si e em suas relações
constituir o mundo com sua presença criadora por meio das transformações realizadas nesse próprio mundo,
quando se separa desse para poder com ele ficar, (re) criando sua existência.
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A investigação do tema gerador aproxima o pensar dos sujeitos no que se refere à realidade
percebida, investigando de tal forma a atuação desses sobre essa. “Isto não significa a redução do
concreto ao abstrato, mas tê-los como opostos que se dialetizam no ato de pensar” (FREIRE, 2004,
p. 97), onde abstrato e concreto formam um único método de conhecimento.
O processo teórico freiriano desloca-se do real ao abstrato e retorna ao real concebido pelo
pensamento, caracterizando um movimento por entre abstrato e concreto onde se supera a
abstração pela percepção crítica do concreto. A superação estará para além da totalidade
investigada.
A codificação se constitui por uma representação da situação existencial dada pela interação
de seus elementos. Os sujeitos se reconhecem nessa interação ao mesmo tempo em que passam a
ser seu objeto de reflexão.
11 Ao longo do texto se manterá a fidelidade a obra freiriana em relação ao termo descodificação. Mesmo que
muitos autores utilizem decodificação de maneira semelhante optou-se por manter o termo conforme escritos
do autor encontrados em obras como: Educação como prática da liberdade, Pedagogia do oprimido, Extensão ou
comunicação? e Educação e mudança.
12 No contexto da obra Extensão ou Comunicação?, Freire (2013) utiliza o termo codificação pedagógica em
distinção ao termo codificação publicitária. “A pedagógica tem o núcleo do seu significado amplo, expresso
por um número plural de informações, enquanto a publicitária tem o núcleo de seu significado singular e
compacto, constituído de ´anunciadores´ que apontam para uma só direção: a que a propagandista impõe”
(FREIRE, 2013, p. 126, grifo do autor).
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Essa consciência faz-se engajada no mundo, uma consciência intencional que examina e
explora o mundo, onde a compreensão desse está ancorada no superar as contradições, pois “[...]
explicações unilateralmente subjetivas e objetivas que rompem essa dialetização, dicotomizando o
indicotomizável, não são capazes de compreendê-lo” (FREIRE, 1983, p. 51).
É um ser condicionado por acreditar-se como sujeito imerso em uma situação de opressão,
mas possuidor da capacidade de reflexão e tomada de consciência as quais lhe exigirão ação. A
proposta freiriana não está alinhada a um ser determinado, pois como tal esse não teria alternativas
de transformação.
A essência de seu ser é a sua intencionalidade sendo por isso que toda a consciência é
sempre consciência de, mesmo quando realiza o retorno a si mesma. Dessa forma, “[...] na ‘retro-
reflexão’, na qual a consciência se intenciona a si mesma, o eu ‘é um e é duplo’” (FREIRE, 1997, p.
15, grifo do autor). O eu não deixa de ser um para ser uma coisa para a qual sua consciência se
intencionasse, continua sendo um eu que se volta intencionalmente sobre si.
Considerações finais
O diálogo torna-se categoria fundante do processo educativo e esse, por sua vez, está
associado a outras três categorias: a conscientização, a práxis e a unidade dialética. A concepção
13 Oliveira (1996), a partir da obra de Freire, caracteriza os estágios da consciência: consciência mágica – a
percepção da realidade social é limitada e distorcida, sendo a preocupação maior do homem a satisfação de
necessidades elementares básicas; consciência ingênua – “[...] nota-se uma certa capacidade de
questionamento do meio histórico cultural bem como a viabilidade de estabelecer relações dialógicas com o
mundo e com os outros.” (OLIVEIRA, 1996, p. 39); consciência fanatizada –as ações dialógicas ficam
prejudicadas e reduzidas, pois representa uma consciência sectária, impondo sempre a ideia do
convencimento e, por fim, a consciência crítica – se caracteriza pela profundidade de interpretação da
realidade onde tudo é visto como passível de transformações. “O homem se torna participante do processo
histórico e não mais apensas seu mero espectador” (OLIVEIRA, 1996, p. 44).
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problematizadora da educação eleva o ser humano - mundo como problema, exigindo uma posição,
permanentemente, reflexiva do sujeito. Esse é um corpo consciente desafiado e que responderá ao
desafio. A partir desses pressupostos é possível afirmar que o educando não é apenas aquele que
escuta, mas aquele que tem algo a dizer.
A partir de cada situação com que o sujeito se defronta sua consciência intencionada vai
captar as particularidades da problemática, as quais irão ser percebidas como unidades em interação
pelo ato reflexivo da consciência, a qual vai tomando criticidade.
Freire afirma que a educação sozinha nada pode, mas sem ela não é possível pensar
mudanças na e da sociedade. Nessa problematização existe um caminho, mais próximo à aposta ao
inédito viável14 freiriano onde o formato da sala de aula e sua ontológica opção dialógica devem dar
conta do acolhimento de todos e todas na condição de sujeitos do processo de aprendizagem e da
história, bem como, das experiências de vida.
Não se tem como intuito encerrar a discussão a partir desse trabalho, mas oportunizar que
se abram novas perspectivas na promoção da investigação de conceitos e pressupostos que se
compõem de forma imbricada no que concerne tanto à dialética quanto a fenomenologia no
contexto freiriano.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. 34. reimp. São Paulo: Brasiliense,
2013.
FREIRE, Ana Maria Araújo. Inédito Viável. In: STRECK, Danilo; REDIM, Euclides; ZITKOSKI,
Jaime Jose (orgs). Dicionário Paulo Freire. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 223-226.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento
de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.
14 A sensação de insegurança se faz presente em todos os momentos de reflexão e ação, talvez pela tentativa
de compreender o inédito viável, como em Ana Freire (2010): “[...] estão intrínseco o dever e gosto de
mudarmos a nós mesmos dialeticamente mudando o mundo e sendo por esse mudado” (FREIRE, A., 2010,
p. 224).
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Resumo
O presente artigo se propõe a tecer reflexões gerais sobre Língua Portuguesa e (seu) Ensino atual,
tomando como pressuposto teórico a propalada noção linguística de inter-ação na linguagem. Nosso
material de análise utilizado para tal serão recortes de atividades retiradas de um livro didático de
português. Esse percurso teórico-metodológico permitir-nos-á corroborar, em essência, fatos do
estatuto da noção de interação na linguagem, por exemplo, o fato interlocução, o diálogo constante
de interlocutores que tomam a língua para (se) significar.
Palavras-chave: Ensino. Interação. Língua Portuguesa.
Abstract
This article aims to show general reflections about Portuguese Language and (their) teaching
nowadays, taking as theoretical assumption the vaunted linguistic notion of inter-action in language.
Our material of analysis used for such it’s composed by activities will be taken out of a textbook of
portuguese. This theoretical-methodological approach allow us to corroborate, in essence, facts of
the notion of interaction in the language, for example, the fact interlocution, the intensive dialogue
of actors who take the language to mean.
Keywords: Teaching. Interaction. Portuguese Language.
Primeiras palavras
Bakhtin (1953, p.4), resumem bem a questão de existência de estados de inter-ação na e pela
linguagem. Diz, pois, o autor:
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre
relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos
dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que
não contradiz a unidade nacional de uma língua.
Ademais essas questões, focamos nossa análise no capítulo 3, intitulado “Mensagem para
você”, que tem como objetivo aprimorar a noção do aluno acerca do que é e do que não é texto (cf.
MANUAL DO PROFESSOR, 2008) a partir do trabalho com os gêneros textuais; sendo esse (o
aluno) capaz de perceber diferenças entre textos (amostras). O autor, nesse passo, propicia a
exposição dos alunos a situações de comunicação significativas e próximas das do cotidiano nosso,
explorando as dimensões de interpretação prováveis ao ensino de dado gênero. Fato que propicia,
também, o acesso desses alunos a textos de gêneros diferentes, podendo, pois, fazer uma leitura
crítica e cidadã de algo maior, tangível em partes: o discurso.
Enfim, os conceitos mais trabalhados nos capítulos 2 e 3 do referido material de análise são
leitura e produção de sentidos. O autor espera que o aluno perceba a leitura como processo de
interação e que ele utilize dos gêneros do discurso para construir/reconstruir sentidos de textos
lidos ou produzidos.
Dessa feita, consideramos ser preciso pensar a aula de Língua Portuguesa como a relação
entre leitura-e-produção de sentidos. No decorrer deste trabalho, será analisado se o objetivo do
autor é posto em prática na construção de atividades didáticas.
Sem delongas, o linguista Travaglia (1996, p. 21), em estudos sobre língua, diz-nos que “as
concepções de linguagem são tão importante quanto a postura que se tem relativamente à
educação”. Essas concepções podem ser compreendidas sob três vias, quais sejam: língua como
expressão de pensamento, língua como instrumento de comunicação e língua como elemento de interação.
18 Por se tratar de um material no formato apostilado, faremos, doravante, alusão genérica aos autores. Ou
seja, tomando-os pela designação autor.
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ou seja, para quem se fala, de que situação de fala, para que se fala. Mas, unicamente, do
pensamento individual de cada um de nós, sua organização, estrutura.
Mo(vi)mentos de análise
Grosso modo, o Capítulo 3, “Mensagem para você”, volta-se para possibilidade de chamar
a atenção do aluno quanto à questão nodal dos gêneros textuais. Existem fatos de linguagem ali a
partir dos quais, cremos, os alunos já estão expostos cotidianamente; fatos esses (de cultura) que
contribuem para o entendimento melhor do texto e, consequentemente, para o processo real de
ensino-aprendizagem. Espera-se, com efeito, que o aluno adquira competência para resolver
questões em todas as disciplinas. O capítulo em questão organiza-se em seções (quatro).
Analisando a atividade n.2 (p.42), percebemos ali certa exigência de compreensão do aluno
face a maneiras atuais para se entrar em contato com alguém, no caso, alguém que esteja distante
nós (via e-mail, telefone, fax). Nesse passo, o autor do livro em exame levanta uma pergunta, qual
seja: “Como estar em contato com alguém, um ente, distante de nós?”, abrindo-se ali à ideia de
interação, à concepção de linguagem aludida há pouco. Quanto a isso, vemos, de fato, um gesto
autoral ocupado da necessidade de tomar a realidade do aluno e produzir para daí uma resposta,
melhor, várias (uma polissemia de sentidos). A proposta em análise, na íntegra, constrói o cenário
seguinte: “Suponha que você queira ou precise entrar em contato com uma pessoa que esteja
distante. Em nossos dias, como você pode fazer isso?” (cf., p. 42). Uma proliferação de sentidos,
resumindo, poderá derivar desse fato de linguagem.
Trata-se de um exercício que não exige esforço esperado do aluno, abordando a linguagem
como instrumento de comunicação. Isto porque se fecham as possibilidades de resposta dele,
permitindo, na ocasião, apenas uma (resposta?) como sendo “a” correta. Já para a realização da
atividade n.2, é necessário que o aluno tenha conhecimento de significados para as palavras, dado
agora será preciso criar frases a partir dessas. Vejamos a injunção de tal atividade:
A terceira seção “Pensando bem”, mostra-nos estudos sobre gramática. Neste ponto,
expõe-se o uso de questões de pontuação para o gênero textual Carta. A atividade n.1 da seção em
análise (p. 51) é introduzida por um pequeno texto sobre pontuação. Nela pede-se que os alunos
escrevam o nome dos sinais de pontuação que foram re(a)presentados ali. Literalmente, algo na
forma:
Escrevam, depois do sinal de pontuação, o nome de cada um deles. a) (.)
b) (,) c) (?) d) (!) e) (:) f) (;) g) (...).
Este é um exercício que trata a linguagem como instrumento de comunicação, ou seja, uma
atividade-cópia, já que há apenas uma resposta pré-determinada para a pergunta apresentada. Não
se exige do aluno algum gesto de ir-além do conteúdo posto.
A atividade n.2 solicita que os alunos reescrevam dado bilhete, empregando, para tanto,
sinais de pontuação adequados. Esclarece-nos, nesse mo(vi)mento, a atividade:
Agora, sim, trata-se de um exercício que traz para o bojo de discussão a ideia de linguagem
como elemento de interação, pois exige que o aluno já tenha conhecimentos a respeito dos usos
desses sinais a fim de poder empregá-los de maneira correta.
linguísticos na produção de textos. A atividade n.1 (p. 57) pede que os alunos continuem a carta
formulada (apenas algumas partes) pela personagem Minduim (em uma tirinha). Vejamos:
Arremates finais
A partir dessas análises propostas até aqui, percebemos, com efeito, a utilização da
linguagem enquanto elemento de interação; isso se dá na maioria das atividades. Corrobora-se, com
isso, o objetivo nodal do autor ao construir seu livro didático (a apostila analisada).
Resumindo, as atividades reprisadas aqui e verificadas por nosso exame são, em geral, bem
elaboradas; exigem que o aluno coloque em prática seu conhecimento de mundo, enriquecendo-o e
colaborando com (suas) (re)formulações linguísticas futuras. Logo, em vez de restringir as respostas
permitidas, as atividades abriram-se a possibilidades outras, a possibilidades que, sem dúvida, o
aluno terá como expor argumentos seus, defender uma tese, a propósito.
Referências
APOSTILA PITÁGORAS. Disciplina: Língua Portuguesa. 2008.
CORACINI, M. J. R. F. Interação e sala de aula. In: Calidoscópio, Vol. 3, n. 3, p. 199-208, set/dez
2005.
FARACO, C. A. Interação e Linguagem: Balanço e Perspectivas. In: Calidoscópio. Vol. 3.
Unisinos, 2005.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º
graus. São Paulo: Cortez, 1996.
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Resumo
A obra “A hora da Estrela” de Clarice Lispector foi escrita um pouco antes de sua morte, em 1977.
Relata os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (espécie de alter ego de Clarice), narrando
a história da personagem Macabéa que é uma alagoana órfã, virgem e solitária, características que a
insere no âmbito daqueles que são vistos como inferiores, sobretudo, por se tratar de uma
nordestina. Em consequência dessa visão estereotipada, este trabalho tem como objetivo analisar a
figura do nordestino, discutindo os confrontos e as dificuldades que esse povo encontra ao se
deparar com a sociedade moderna.
Palavras-chave: Nordeste. Literatura. Estereótipo.
Abstract
The piece of work "A hora da Estrela" by Clarice Lispector was written just before her death in
1977. It reports the writer’s Rodrigo S. M. creation moments (sort of Clarice's alter ego), telling the
story of the character named Macabéa who is an orphan natural from Alagoas (Brazil), virgin and
lonely, characteristics that fall within the scope of those who are seen as inferior, mainly because
she is Northeastern. As a result of this stereotypical view, this paper aims at analyzing the
Northeastern figure, debating clashes and difficulties that Northeastern people find when facing
modern society.
Keywords: Northeast. Literature. Stereotype.
Introdução
19 Graduanda do VIII semestre do curso de Letras, Libras, Língua Estrangeira, pelo Centro de Formação de
Professores - CFP da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB.
20 Graduanda do VIII semestre do curso de Letras, Libras, Língua Estrangeira, pelo Centro de Formação de
O Nordeste é uma região que, para além das fronteiras geográficas, apresenta elementos
culturais capazes de singularizar o ser e o viver de sua gente. Dentre o conjunto de identidades
atribuídas ao nordestino, destacam-se as imagens associadas às irregularidades climáticas, isto é, a
falta de chuva, a seca e, além disso, sua representação social, tendo como principais aspectos
simbólicos a fome, a pobreza e a figura do retirante, que por sua vez, se destaca através de sua
desagradável presença ostensiva, tornando-se diferente dos habitantes de outras regiões.
Por causa dessas imagens que apelam para a pobreza extrema, para o êxodo rural e para a
miséria nos centros urbanos, a região nordeste sofre uma visão preconceituosa e estereotipada de
seus aspectos simbólicos. Corrobora com isso, a falta de recursos e de investimentos políticos,
econômicos, culturais e sociais na região, em que os grupos dominantes estabelecem um padrão de
sociedade e cultura, fazendo com que os nordestinos se tornem cada vez mais exclusos.
Os nordestinos nas primeiras décadas do século XX, já ouviam falar de uma das grandes
metrópoles situada na região Centro- Sul, o Estado de São Paulo, porém, não tinham conhecimento
sobre o espaço geográfico em que se encontrava o mesmo e, tampouco, o perfil dos seus
habitantes, considerando-o fora da fronteira brasileira. Esse pensamento se deu através de uma
precariedade nos meios de comunicações, o que vem salientar o quão isolada era a região nordeste.
Todos os dados que os nordestinos ouviam a respeito desse Estado, mesmo sendo misterioso,
afloravam o desejo e o fascínio de conhecê-lo.
Os principais incentivadores à migração dos nordestinos para essa região foram os grandes
fazendeiros, contando, inclusive, com o apoio das autoridades governamentais, em decorrência da
necessidade e carência da mão de obra farta, ociosa e barata, através da utilização de propagandas,
como: a divulgação das riquezas e a demonstração da potência do Estado e dos subsídios atrativos
que lhes ofereciam para esse deslocamento, como ressalta Gund:
Ao retornar à sua terra natal com pequenas quantias, os nordestinos tinham a sensação de
abundância e riqueza, pois, traziam consigo alguns bens materiais que diante das suas visões, jamais
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São Paulo foi durante algum tempo, a cidade que mais recepcionou nordestinos, pois
representava a modernização, sendo considerado o lugar das transformações; das mudanças
empreendidas pelo sistema capitalista, onde se tinha uma espécie de modelo a ser seguido pelos
demais Estados, visto que apontava (perspectiva de emprego, acesso à educação, enfim) melhores
condições de vida. No entanto, foi um dos espaços onde o nordestino passou por muitas situações
preconceituosas. A esse respeito, Estrela diz:
até fins dos anos 70, observava-se em algumas repartições públicas de São Paulo uma
clara manifestação de má vontade em relação à pessoa que portasse documentos
emitidos no Nordeste. A carteira de identidade emitida pela Secretária de Segurança
Pública da Bahia, por exemplo, apresentavafotografia em formato um pouco maior que
a de São Paulo, e isso bastava para que algumas “pequenas autoridades” se negassem a
recebê-la, aconselhando seu portador a tirar nova documentação, fazendo vistas grossas
à advertência impressa no documento: “válida em todo território nacional” (ESTRELA,
2003, p.213).
Isso demonstra que o nordestino “incomodava” a metrópole, de maneira que sua presença
só era aceita caso ele se adequasse de alguma forma naquele lugar. Pois, a cultura, a linguagem, o
“ser nordestino” eram motivos de repulsa para a sociedade moderna paulista. Daí, percebe-se a
literatura como antítese da sociedade que tenta denunciar a realidade de quem vive à sua margem,
nos levando a refletir, nesse caso, a realidade da região nordeste.
profundas rupturas psicológicas, as quais Volpe (2005apud Gund2006, p.26) denomina insílio, ou
seja, o exílio interno de um sujeito dentro de seu próprio país.
A personagem Macabéa é descrita como uma figura raquítica, magricela, amarela, tola e
idiota, reforçando o estereótipo do nordestino como um ser ignorante, preguiçoso, lento,
incompetente e desprovido de conhecimentos. Além de se levar em conta, que a fala do nordestino
é ridicularizada. É através da trajetória vivida por Macabéa em “A Hora da Estrela”, que fica
implícito a ideia de que o nordestino quando consegue conquistar algo para si, é através da mentira
ou de meios desonestos. Isso pode ser verificado quando Macabéa utiliza da mentira para ter um
dia de descanso, como descrito no trecho abaixo:
pois não é que quis descansar as costas por um dia? Sabia que se falasse isso ao chefe
ele não acreditaria que lhe doíam as costelas. Então valeu-se de uma mentira que
convence[...]Dançava e rodopiava porque ao estar sozinha se tornava l-i-v-r-e![...]
tomou tudo se lambendo e diante do espelho para nada perder de si mesma. Encontrar-
se consigo própria era um bem que ela até então não conhecia. Acho que nunca fui tão
contente na vida, pensou [...] Até deu-se ao luxo de ter tédio [...] (LISPECTOR, 1998,
p. 42).
Dessa forma, percebe-se que Macabéa não se sentia no direito de ser uma pessoa feliz e
nem de ter tédio, pois a mesma já havia internalizado a ideia de que o sujeito nordestino é um ser
inferior e desagradável. Além disso, esse trecho da obra revela que ao estar sozinha essa
personagem era ela mesma, livre de tentativas de ser outra ou de imitar um modo de vida que não
era o seu, vislumbrando a sua imagem no espelho para “nada perder de si mesma”.
Através de total ironia, a autora traz a tona os múltiplos preconceitos, os quais são
impostos aos indivíduos nordestinos. A definição humilhante da protagonista Macabéa é o reflexo
das imagens negativas construídas em torno do Nordeste e do nordestino. Dessa forma, o primeiro
é encarado apenas como um espaço de miséria e fome, já o segundo é visto como um povo de má
origem.
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Sendo assim, nota-se que nessa obra, não só há uma denúncia de como o nordestino é
visto negativamente no contexto moderno das cidades grandes, como também da forma
inferiorizada que o nordestino é visto pelo outro e, consequentemente, por si mesmo; uma visão
preconceituosa e excludente que é construída ao longo de sua trajetória nesses novos espaços. A
autora retrata a figura nordestina de modo desfigurado, empregando os estereótipos para apontar
com maior precisão os embates do nordestino ao inserir-se nas grandes metrópoles. Esse
deslocamento do indivíduo da sua terra natal provoca essa visão estereotipada, construída através
de um olhar dominante sobre o mesmo, que nem sempre se adéqua às mudanças proporcionadas
pela modernidade.
Conclusão
Dessa forma, Clarice Lispector, por meio da ficção, alcança através da personagem
Macabéa, representar o sujeito nordestino engajado na sociedade moderna, abrindo espaços para
discussões em relação aos fatores que levam os indivíduos a migrarem da sua terra natal para os
grandes centros urbanos, juntamente com a tentativa frustrada de adaptação dos mesmos e a
imagem negativa que foi construída sobre o povo nordestino. A autora utiliza-se da literatura para
dá voz à mulher nordestina, tirando-a do silêncio imposto por muitos anos à região Nordeste.
Portanto, não se pode negar a importância da Literatura, uma vez que é por meio da
linguagem literária, que a autora usa dos estereótipos para descrever a personagem partindo do
discurso dominante, com o intuito de desmitificá-lo e acender questionamentos que podem intervir
na realidade. Como ressalta Antunes (2002), é através da palavra que se pode colocar a “máscara”
que acaba impedindo a visão real do jogo que se é empregado socialmente, mas é também por meio
da palavra que se pode denunciar a mesma como uma “máscara”, o que se pode considerar um
passo muito importante para a superação do sistema que por essa “máscara” é encoberto.
Referências
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. De: Páginas de Nordeste. In. Id. Invenção do
nordeste e outras artes. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2009.p.126.
ANTUNES, Nara Maria de Maia. Caras no espelho: identidade nordestina através da literatura. In:
BURITY, Joanildo A. (org.). Cultura e identidade: perspectivas interdisciplinares. Rio de Janeiro:
DP & A, 2002, p. 125-141.
ESTRELA, Ely Souza. Os sampauleiros: cotidiano e representações. São Paulo: Humanitas,
2003.p.209-237.
GUND, Ivana Teixeira Figueiredo. POR ESSA TERRA... DESTINOS ITINERANTES: os
caminhos do sujeito migrante em Antônio Torres. 2006. 119f. Dissertação (Mestrado em Letras) –
Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Juiz de Fora, 2006.
LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Record, 1984.
Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
Este ensaio discute o conceito de hegemonia em Antonio Gramsci como recurso teórico para se
pensar o cotidiano e a cultura popular frente aos meios de comunicação de massa. Trata-se de uma
breve reflexão teórica, didática, que objetiva mais apresentar descritivamente um conceito do que
revisar ou avaliar uma teorização. Seu objetivo é, portanto, restrito a um exercício de resenha. Logo,
este ensaio visa apresentar, a partir de Gramsci e comentadores, a cultura popular não como mero
veículo ideológico do status quo, mas sim, como um local de resistência e conflito potencial,
desenvolvendo-se, nas palavras de Schulman, uma história da hegemonia.
Palavras-chave: Hegemonia; Antonio Gramsci; Cultura Popular.
Abstract
This paper discusses the concept of hegemony in Antonio Gramsci as a way of thinking about the
everyday (quotidian) and the popular culture front to the mass media. This is a theoretical
reflection, didactic, which aims to provide more descriptive than a concept review or evaluate a
theory. Your objective is therefore restricted to a review exercise. Therefore, this paper aims to
present, from Gramsci, popular culture not as a mere ideological vehicle of the status quo, but
rather as a place of strength and potential conflict, developing a history of hegemony.
Keywords: hegemony; Antonio Gramsci; Popular Culture.
Raymond Williams assinala que o conceito de hegemonia adquiriu uma significação muito
peculiar a partir da obra de Antonio Gramsci, indo para além dos horizontes do domínio político
entre Estados. Segundo afirma, Gramsci fez uma distinção conceitual entre “domínio” e
“hegemonia”, sendo o domínio uma forma de manifestação política expressa sob coerção direta e
efetiva, enquanto a hegemonia traduzida pela direção obtida por meio de uma complexa
combinação de forças políticas, sociais e culturais – fenômeno bem distinto da simples coerção
(WILLIAMS, 1979; 2003).
Uma categórica ilustração do conceito de hegemonia como coerção efetiva está presente
no clássico ensaio de Lênin “O Estado e a Revolução”, de 1917, no qual um “exército permanente e a
política são os principais instrumentos do poder governamental” (LÊNIN, 2006, p. 17). Para Lênin, grosso
modo, hegemonia é sinônimo de dominação.
Seguindo essa distinção, Bobbio et al (1998, p. 580) lembram que dentre o uso marxista
do conceito de hegemonia encontra-se uma oscilação entre dois significados predominantes a
propósito de sua acepção. O primeiro sentido do modo marxista de pensar tende a aproximar
hegemonia e domínio, acentuando mais o “aspecto coativo que o persuasivo, a força mais do que a
direção, a submissão de quem suporta a hegemonia mais do que a legitimação e o consenso, a
dimensão política mais que a cultural, intelectual e moral”. Para Bobbio et al (1998) esse uso é
predominante nos escritos de teóricos da Terceira Internacional, destacadamente, Lênin. No
segundo sentido, muito distintamente da elaboração conceitual de nomes como Lênin ou Bukharin,
a hegemonia é concebida como capacidade moral e intelectual de direção, onde,
Cientista Social, Especialista em Demografia, Mestre em Geografia e Doutor em Ciências Sociais. Professor
22
Storey (2001, p. 103) destaca essa ideia de capacidade moral e intelectual de direção.
Segundo escreve, o conceito em Gramsci é usado para se referir “to a condition in process in which a
dominant class (in alliance with other classes or class fractions) does not merely rule a society but leads in through the
exercise of ‘moral and intellectual leadership’”; isto é, o processo no qual uma classe exerce sua liderança
moral e intelectual por meio de alianças com outras classes ou frações de classes. Seguramente,
Gramsci não nos deixa esquecer que o pensamento dominante, para melhor exercer sua hegemonia
sobre as classes populares, “assimila uma parte da ideologia proletária” (GRAMSCI, 1978, p. 133).
Ainda discorrendo sobre o pensamento gramsciano, Bottomore (2001, p. 178) realça que,
longe de impor um conjunto de ideias de cima para baixo, uma “hegemonia completamente
desenvolvida deve repousar no consentimento ativo, numa vontade coletiva em torno da qual
vários grupos da sociedade se unem”. Através do puro domínio se obtém uma forma de
consentimento limitado que conduz a uma ordem política de base precária do ponto de vista
hegemônico, justamente em virtude da capacidade limitada de direção (moral e intelectual).
Prontamente, o conceito de Estado em Gramsci é ampliado para além da sociedade política. Em
Gramsci, o Estado é igual sociedade política mais sociedade civil. Tal ampliação do conceito traz em si a
necessidade de pensar a hegemonia também – e, principalmente – a partir da sociedade civil e de
seus aparelhos privados.
Bottomore lembra ainda que em Gramsci uma classe mantém seu domínio justamente
por ser capaz de ir além de seus interesses corporativos estritos, exercendo uma liderança moral e
intelectual, fazendo concessões, dentro de certos limites, a uma variedade de aliados unificados num
bloco social de forças (“bloco histórico”). Esse bloco representa uma “base de consentimento para
uma certa ordem social, na qual a hegemonia de uma classe dominante é criada e recriada numa teia
de instituições, relações sociais e ideias” (BOTTOMORE, 2001, p. 177). A hegemonia é, portanto,
tecida pelos “intelectuais orgânicos”, que têm um papel organizativo na sociedade.
Para Gramsci (1982, p. 07), todos os homens são intelectuais, “mas nem todos os
homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”. Todos, desde o operário imbuído do
trabalho mais rotineiro, ao engenheiro responsável pela coordenação do trabalho mental, pensam e
repensam o mundo.
Deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito
difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma categoria de cientistas
especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. Deve-se, portanto,
demonstrar, preliminarmente, que todos os homens são ‘filósofos’, definindo os limites
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É verdade assim que existe uma ‘moral do povo’, entendida como um determinado
conjunto (no tempo e no espaço) de máximas para a conduta prática e de costumes que
derivam delas ou que as produziram; moral esta que é estreitamente ligada, tal como a
superstição, às reais crenças religiosas: existem imperativos que são muito mais fortes,
tenazes e eficientes do que os da moral ‘oficial’ (GRAMSCI, 1978, p. 185).
Por exemplo, nos Estudos Culturais britânicos, fortemente influenciados por Gramsci, há
a concepção de que a própria ideologia é uma arena de luta, com base numa perspectiva também de
baixo para cima, que atribui poder aos sujeitos e aos grupos subculturais para intervir nos sistemas
políticos e nos sistemas de significação para produzir mudanças (SCHULMAN, 2000).
lutas pela hegemonia. Um caminho teórico que não leve em conta as distinções entre cultura de
massa (homogeneizante e rebaixada), cultura popular (autêntica, resistente) e cultura erudita (ligada
aos conceitos de beleza e verdade) deve se pautar no conceito de cultura como uma experiência
vivida no cotidiano. Certamente, na luta cotidiana por hegemonia existem determinados
empréstimos entre os grupos sociais distintos, o que invalida pensar em culturas autênticas.
Também não devemos nos basear em falsas oposições, tais como o alto e o popular, o urbano ou o
rural, o moderno ou o tradicional (CANCLINI, 2003). É preciso ver, portanto, a cultura como um
jogo de poder, no qual a negociação dos problemas da vida cotidiana se realiza dentro de uma
complexa estrutural social, que passa por alianças com grupos diferentes de acordo com o contexto
ou com o momento. Não basta, pois, ver as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de
massa, nem tampouco como são produzidas. Tem-se que pensá-las em suas significações concretas,
seus usos e desusos. Uma relevante recomendação presente em Michel de Certeau (1994, p. 39) é
que se observe, além das mensagens emitidas, também aquilo que “o consumidor cultural fabrica”
durante o seu uso, sua recepção, seu consumo, ou seja, entender as possibilidades de releituras.
Using a neo-Gramscian analysis, popular culture is what men and women make from
their active consumption of the texts and practices of the culture industries. Youth
subcultures are perhaps the most spectacular example of this process […] Products are
combined or transformed in ways not intended by their producers; commodities are
rearticulated to produce ‘oppositional’ meanings. In this way, and through patterns of
behavior, ways of speaking, taste in music, etc., youth subcultures engage in symbolic
forms of resistance to both dominant and parent cultures (STOREY, 2011, p. 105).
A leitura de Storey resume bem essa postura neogramsciana: a cultura popular é o que os
indivíduos fazem de seu cotidiano. Tomando como exemplo certas culturas juvenis, produtos são
consumidos de maneira não prevista pelos produtores; produzem-se significados de oposição; e,
fundamentalmente, essas culturas se envolvem em formas simbólicas de resistência às culturas
dominantes. Tal leitura demonstra que determinadas modalidades de consumo de produtos
massificados podem ser efetivadas devido a circunstâncias muito particulares da vida cotidiana, algo
bem além da simples cooptação, por exemplo, pela indústria cultural. Reforçando, o que é feito nas
camadas populares muitas vezes pode revelar traços de uma cultura entendida como forma de
encarar a realidade e se portar nela. São culturas que, mesmo na adversidade, revelam-se em
autoestima. Neste sentido, não se pode falar na corrupção de indivíduos fracos pela indústria
cultural, pois os produtos consumidos atendem a alguma lógica por parte de quem consome.
Na avaliação de Schulman (2000, p. 179), a releitura de Gramsci, no final dos anos 1970 foi
extremamente importante para colocar em movimento a reavaliação que os estudos culturais
britânicos fizeram da cultura popular. Segundo afirma, deixou-se de ver a cultura popular como
mero veículo ideológico do status quo e passou-se a vê-la como um local de resistência e conflito
potencial, desenvolvendo-se uma história da hegemonia. Nas palavras de Mattelart e Neveu (2004, p.
74), “longe de serem consumidoras passivas [...] as classes populares mobilizam um repertório de
obstáculos à dominação”. Aliás, muito distintamente do que se poderia supor, a “esmagadora
maioria das nossas experiências constitutivas permanece – e permanecerá sempre – fora do âmbito
do controle e da coerção institucionais formais [...] Nem mesmo os piores grilhões têm como
predominar uniformemente” (MÉSZÁROS, 2008, p. 54). Por conseguinte, não pode existir, nem
tampouco se pensar, numa coerção ideológica onipotente.
John Fiske (1989) reafirma essa capacidade popular de resistência e evasão. Para ele, a
cultura popular é um lugar de lutas que, embora aceitando o poder das insidiosas forças
dominantes, consegue resistir e evadir – com criatividade e vitalidade – das ideologias dominantes e
seus valores. Encontrando vigor e vitalidade nas pessoas, Fiske evita, portanto, ver a cultura
popular essencialmente fora ou essencialmente sufocada por modelos de poder.
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Recently, however, a third direction has begun to emerge, one to which I hope this
book will contribute. It, too, sees popular culture as a site of struggle, but, while
accepting the power of the forces of dominance, it focuses rather upon the popular
tactics by which these forces are coped with, are evaded or are resisted. Instead of
tracing exclusively the processes of incorporation, it investigates rather that popular
vitality and creativity that makes incorporation such a constant necessity. Instead of
concentrating on the omnipresent, insidious practices of the dominant ideology, it
attempts to understand the everyday resistances and evasions that make that ideology
work so hard and insistently to maintain itself and its values. This approach sees
popular culture as potentially, and often actually, progressive (though not radical), and it
is essentially optimistic, for it finds in the vigor and vitality of the people evidence both
of the possibility of social change and of the motivation to drive it (FISKE, 1989, p. 20-
21).
Nesse sentido, o consumo cultural não pode ser pensado de maneira inerte. É preciso
retomar a eficácia da indústria cultural e do poder dos meios de comunicação de massa, todavia,
sem anular – em substância – os sujeitos. Não é possível que os meios de comunicação de massa
consigam moldar a opinião e o sentimento de todas as classes populares. Gramsci sabiamente nos
mostra que as camadas populares da filosofia espontânea do senso comum (ou do bom senso,
aquele núcleo sadio do senso comum), embora saibam que sua argumentação reflexiva possa
parecer frágil, ainda assim possui certa sustentação. Certamente, não é possível se moldar o gosto
de todo mundo a partir do domínio direto da indústria cultural.
a ser vista como um local de resistência e conflito potencial, desenvolvendo-se, novamente segundo
Schulman (2000), uma história da hegemonia.
Referências
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Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumen
En el presente trabajo mostramos las transformaciones sociales, de eficacia academia y académicas
que solicitaron las personas voluntarias al alumnado de una Comunidad de Aprendizaje de la
comunidad autónoma de Castilla y León (España). Estas transformaciones se demandaron en la
intervención de éxito grupos interactivos. Para recoger esta información, empleamos la metodología
comunicativa crítica y la técnica de recogida de datos observación comunicativa. Entre los
resultados más significativos podemos destacar que las personas adultas de la comunidad (docentes
y voluntarios) no sólo se preocupaban por el avance académico del alumnado, sino que también
estaban preocupados por el avance social.
Palabras clave: Comunidades de Aprendizaje, grupos interactivos, metodología comunicativa
crítica.
Abstract
In the present communication we show the social, academic efficacy and academic transformations
that the volunteers requested to students in a Learning Community of the autonomous community
of Castile and León (Spain). These transformations were demanded in the intervention of
successful interactive groups. To collect this information, we use the critical communicative
methodology and data collection technique communicative observation. Among the most
significant results we emphasize that adults of the community (teachers and volunteers) not only
were worried about the academic progress of students, were also concerned about the social
advancement.
Keywords: Learning Communities, interactive groups, critical communicative methodology.
Marco teórico
Elboj, Puigdellívol, Soler y Valls (2006) son algunos de los autores que describen los grupos
interactivos; sus ideas aparecen reflejadas en la cita posterior:
Las actividades realizadas en cada grupo están tutorizadas por una persona adulta,
voluntarias y voluntarios de la comunidad que, en numerosas ocasiones, son
familiares… (p. 93).
Otra descripción de esta actuación socioeducativa de éxito la encontramos en Oliver y Gatt (2010):
En los grupos interactivos, como podemos ver en las citas anteriores, se tiene en cuenta al
alumnado y a las personas adultas. Las funciones del alumnado son aprender y enseñar a los
compañeros por medio del diálogo. En el caso de las personas adultas, encontramos dos agentes, el
voluntariado y el responsable de aula. Los primeros tienen la función de coordinar las agrupaciones
interactivas, promoviendo el diálogo y la reflexión de los estudiantes. El responsable de aula,
función desempeñada por los docentes de la escuela, dinamiza cada uno de los grupos coordinados
por los voluntarios o voluntarias (Aubert y García, 2001, p. 21).
El aprendizaje dialógico es el marco teórico de los grupos interactivos (Valls y Munté, 2010). La
enseñanza dialógica es aquella que surge cuando los estudiantes aprenden dialogando con las
personas de la comunidad (familiares, estudiantes de otros niveles educativos, voluntarios,
voluntarias, etc.). Este tipo de enseñanza está constituida por siete principios dialógicos: diálogo
igualitario, inteligencia cultural, transformación, creación de sentido, solidaridad, igualdad de
diferencias y dimensión instrumental (Aubert, Flecha, García, Flecha, y Racionero, 2010). En
cuanto a los principios indicados, sólo describiremos el principio en el que nos centramos en este
trabajo, que es el fundamento dialógico de transformación. Según Ferrada y Flecha (2008), la
transformación supone la modificación personal y social de todas las personas que componen el
contexto escolar. Para que se produzca tal transformación hay que analizar el progreso social y
académico de los estudiantes en primer lugar. En segundo lugar hay que promover el cambio,
partiendo de la información que se ha obtenido del análisis.
Este tipo de aprendizaje surge desde las aportaciones del Centro Especial de Investigación en
Teorías y Prácticas Superadoras de Desigualdades (CREA). Este centro creó esta teoría basándose
en las aportaciones de Habermas, Freire, Wells, entre otros (Aubert et al., 2010).
Metodología
Para explicar la metodología la vamos a dividir en dos apartados: la descripción del contexto y el
diseño metodológico del estudio realizado.
El contexto del estudio es una Comunidad de Aprendizaje situada en Castilla y León, comunidad
autónoma de España. Una Comunidad de Aprendizaje es un proyecto social y escolar en el que
participan todas las personas de la comunidad (profesorado, familiares, voluntariado, etc.). Estas
personas colaboran con el proyecto para formarse y para mejorar el proceso de aprendizaje de los
estudiantes (Elboj, et al., 2006).
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La Comunidad de Aprendizaje, en la que nos centramos, está ubicada en Castilla y León. Esta
escuela acoge alumnos y alumnas de las etapas de Educación Infantil y de Educación Primaria. En
nuestro caso, vamos hacer referencia a los alumnos y alumnas de tercero, cuarto, quinto y sexto de
Primaria. En estos cursos, hay once estudiantes.
Además de lo que ya hemos explicado sobre el contexto, nos parece importante indicar que una
gran parte de los voluntarios y voluntarias de esta comunidad fueron estudiantes universitarios,
madres y otros familiares del alumnado.
Para lograr el objetivo, dar a conocer los cambios sociales que el voluntariado pidió a los estudiantes en los grupos
interactivos, hemos empleado la metodología comunicativa crítica. Este tipo de procedimiento
metodológico rompe con la dualidad investigador e individuo investigado, dado que las personas
investigadas pueden participar en la interpretación de resultados y, por lo tanto, en la creación de
conocimiento (Flecha, Vargas, y Davila, 2004).
Como método de investigación, hemos elegido el estudio de caso simple con una unidad de análisis
(Yin, 2003) que coincide con el grupo de estudiantes de tercero, cuarto, quinto y sexto de Primaria.
Nuestro estudio está compuesto por diez observaciones comunicativas, pero, en este trabajo, vamos
a hacer referencia a siete (ver tabla 1).
Todas las observaciones señaladas tuvieron una duración de dos horas aproximadamente: una hora
dedicada a la dinámica interactiva y otra hora a la evaluación final.
Antes de pasar al apartado de resultados, mostramos los participantes del estudio en la tabla
posterior. Dentro de la tabla, podemos apreciar que participaron once personas, hemos protegido
su identidad empleado seudónimos.
Participantes
Ana. Directora del centro, profesora de la escuela,
responsable de aula y voluntaria.
Susana. Profesora del centro y voluntaria.
Marta. Familiar de un escolar de Primaria y voluntaria.
Alonso, Daniel y Lola. Alumnado de tercero de Primaria.
Ricardo y María. Alumnado de cuarto de Primaria.
Leonor, Lourdes y Marcos. Alumnado de quinto de Primaria.
Total: 15 participantes.
Hubo más participantes que formaron parte del estudio, sin embargo, en este trabajo, sólo hemos
presentado a los que están relacionados con la transformación.
Resultados
Antes de comenzar con los resultados obtenidos, tenemos que indicar que las sesiones de los
grupos interactivos se dividieron en dos partes: la primera parte fue la dinámica interactiva, y la
segunda parte fue la evaluación final. Durante la evaluación final, los escolares, las voluntarias y las
profesoras comentaron los posibles cambios que tenían que alcanzar algunos de los estudiantes. Los
acontecimientos que mostramos a continuación sucedieron en los dos momentos indicados.
La eficacia académica no significa explicación de contenidos educativos, sino más bien otorgar
herramientas al alumnado para la solución de los problemas eficientemente. Sobre este tema, Freire
(2002) demuestra que el educador no sólo tiene que transferir conocimientos, sino que también
tiene que enseñar a pensar correctamente a su alumnado.
En primer lugar, podemos ver como las personas voluntarias intentamos que los escolares
comprendieran que para hacer las actividades no hay que tener conductas competitivas y no hay
que perder la paciencia:
Cuando nos toca hablar a las voluntarias, yo digo—: Es un grupo que en general ha
mostrado interés, pero desconocen actitudes para incitar a la colaboración, ya que
perdían la paciencia y obligaban a María a participar.
Seguidamente Marta, Susana y Ana dicen que ellas han observado lo mismo.
(Observación comunicativa: 15.2.13).
Asimismo, las voluntarias del centro intentamos eliminar las conductas no dialógicas y la creación
de subgrupos:
El grupo dos está formado por Ernesto, Daniel y Marcos. Ernesto, sentado en el
medio de los dos niños, imita al coordinador de la mesa; sin embargo, es una
emulación alejada de las responsabilidades dialógicas. Primero les pone cuentas,
después les da órdenes para que las resuelvan individualmente. […] hay que
ayudarle a abandonar las intenciones de mando.
—Ernesto, puedes incitarles a participar sin exigirles —digo yo.
—Sólo estoy proponiendo —dice Ernesto.
—Intenta hacerlo sin decirles lo que tienen que hacer—añado... (Observación
comunicativa: 15.3.13).
Los niños ya se están levantando de su sitio, pero todavía quedan las últimas
palabras de Susana—: Es muy habitual que en los grupos aparezcan subgrupos. He
visto que siempre preguntáis al compañero que más os gusta. De esta manera, hay
compañeros que no tienen la oportunidad de ayudar. (Observación comunicativa:
8.3.13).
Durante las observaciones, nos dimos cuenta de que uno de los escolares se valoraba negativamente
en las sesiones interactivas. Dada esta circunstancia, tuvimos que recomendar al alumno que
mejorase su autopercepción.
Para finalizar con este apartado de resultados, indicamos que las voluntarias hicieron otras
peticiones: los escolares tienen que dar y recibir ayuda y escuchar activamente a todas las personas:
En lo que se refiere a la valoración del grupo tres, Jimena, bastante enojada, dice a
Susana—: Alonso se ha copiado de Ricardo en el ejercicio de las siglas.
—¿Os habéis preocupado en explicarle lo que son las siglas? —pregunta Susana.
—No, pero tampoco lo ha pedido —dice Jimena.
—Alonso, si no sabes hacerlo es mejor que lo digas para que te puedan ayudar, es
tan importante pedir ayuda como darla —dice Susana. Alonso escucha
atentamente, pero no dice nada. (Observación comunicativa: 22.3.13).
El murmullo de los chicos es cada vez más molesto. Susana no tiene otro remedio
que pedir al alumnado que mantengan el silencio para escuchar todas las opiniones.
El terrible alboroto termina tras el intento de poner orden de Susana.
(Observación comunicativa: 22.2.13).
Teniendo en cuenta estas recomendaciones sociales, nos damos cuenta de que los escolares
solucionan las tareas académicas de la siguiente manera: actúan de manera competitiva, pierden la
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paciencia con el escolar más lento, muestran conductas no dialógicas, tienden a preguntar las dudas
a los escolares con los que tienen más relación, les cuesta valorar su propio esfuerzo, les resulta
difícil dar y recibir ayuda y, por último, les resulta difícil escuchar a los demás en algunas ocasiones.
Las finalidades del lenguaje del adulto en el cambio de la efectividad académica del alumnado
fueron: suscitar la reflexión grupal e individual, la participación equitativa, el trabajo en grupo
cooperativo, el interés por la actividad, el orden, la compresión de los enunciados y la no
reproducción de resultados. También son transformaciones de efectividad académica suprimir la
tendencia de hacer subgrupos y promover el sistema de dar-recibir ayuda (peticiones de los adultos
del apartado anterior).
Al rato tengo la impresión de que Lola se está perdiendo un poco, además veo
como está haciendo un ejercicio mal, luego le doy un consejo—: ¿Por qué no lo
vuelves a revisar? Inmediatamente Lola se detiene a solventar el fallo.
(Observación comunicativa: 14.12.12).
Debido a que la implicación desigual fue incompatible con las agrupaciones interactivas, las
personas adultas tuvimos que rescatar la participación adecuada con la palabra:
Antes de termina la actividad, Marta manifiesta algunas normas que deben seguir
los escolares cuando participan en los Grupos Interactivos—: Resulta esencial que
seáis capaces de regular vuestra implicación, es decir, cuando participáis mucho y
cuando participáis poco… (Observación comunicativa: 15.2.13).
La rapidez del trabajo individual tentó a los estudiantes; por consiguiente, las participantes adultas
tuvimos que recomendar el trabajo en equipo:
… parece que todos tienen mucha prisa por acabar, incluso Ernesto dice—: Que
cada uno haga un ejercicio y terminamos antes.
Les miro un poco horrorizada y les digo—: ¿A qué tanta prisa?, ¿desde cuándo
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Recuperar el interés del estudiante por la actividad fue otra finalidad que intentamos alcanzar por la
vía comunicativa:
En este grupo, los escolares aparentan estar muy poco interesados por la actividad:
Marcos hace una flecha con uno de los brazos, Daniel tiene los mofletes pegados al
papel de los ejercicios, Jimena se queja de la dificultad de las tareas, y Leonor está
casi dormida. Dada esta situación, intento poner orden diciendo en varias
ocasiones—: Intentar calmaros chicos. […]. Después de pedir tranquilidad en
varias ocasiones, parece que los alumnos deciden terminar sus ejercicios en un
clima más sosegado. (Observación comunicativa: 22.2.13).
Las personas más mayores también queríamos que los estudiantes comprendieran los enunciados
de los ejercicios:
Cada niño lee el enunciado del ejercicio en silencio. Espero a que levanten la
cabeza de la hoja de tareas para preguntarles—: ¿Lo entendéis? Todos reconocen
que no comprenden el ejercicio. Entonces Adolfo se agita y lee el enunciado muy
deprisa. Como el ritmo de lectura es demasiado veloz para que comprendan la
actividad, comienzo a preguntar—: ¿Qué es lo primero que pide el enunciado?
—Que hagamos operaciones con cuatro cuatros —dice Lola.
—¿Y la segunda parte? —les pregunto.
—Que podemos hacer todas las operaciones que conozcamos para que dé de cero
a cien —dice Lola.
—¿Y qué más? —pregunto.
—Cero y cien inclusive —dice Daniel—. Pero, no sé lo que significa inclusive, ¿es
inglés?
—No, significa incluido —digo yo. (Observación comunicativa: 15.3.13).
El acto de copia entre alumnos fue una barrera para el diálogo entre compañeros, por tanto, el
colectivo adulto trató de cancelar la reproducción de resultados:
Una de las veces observo que Jimena dice a Petra—: Dime la respuesta de este
ejercicio (gesto señalando a la cuenta matemática).
Al ver esa conducta, decido intervenir para que intenten reflexionar
individualmente o con la ayuda de los compañeros. Además, es importante que
compartan conocimientos de manera dialógica—: ¿No crees que es mejor que le
digas a Jimena por qué has llegado a ese resultado? (Observación comunicativa:
14.12.12).
Es importante indicar, ya para acabar con las peticiones orales de los adultos, como eran las
transformaciones académicas que tenían que lograr los estudiantes. Las responsables de aula y las
voluntarias solicitamos los siguientes cambios académicos al alumnado: repuestas orales detalladas,
respuestas orales correctas, respuestas escritas amplias, respuestas escritas bien redactadas y
expresión verbal adecuada.
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Los alumnos y alumnas tuvieron que explicar contenidos académicos a sus compañeros de mesa de
forma detallada y correcta. Ajustar las respuestas del alumnado fue una tarea verbal del adulto:
Las personas más mayores también pretendíamos que el alumnado escribiese respuestas amplias y
bien redactadas:
—Antes de terminar me gustaría señalar una cosa —dice Ana—; hay que escribir
respuestas detalladas.
—Eso es verdad. Si podéis escribís lo mismo que mi compañero —comenta
Susana.
—Tenéis que aprender a redactar. Para ello no hay que escribir palabras sueltas —
dice Ana. (Observación comunicativa: 22.3.13).
Como se puede ver en los ejemplos expuestos, las personas adultas (docentes y voluntarios) estaban
implicadas en la educación del alumnado.
Conclusiones
Para concluir podemos decir, que los grupos interactivos permiten a las personas voluntarias
transmitir consejos a los estudiantes para que mejoren sus conductas sociales. Nuestro estudio nos
ha permitido identificar las siguientes recomendaciones realizadas por el voluntariado: los escolares
tienen que realizar las actividades sin ser competitivos y teniendo paciencia con otros escolares; hay
que evitar conductas de carácter no dialógico y la creación de subgrupos en la solución de las tareas;
hay que valorarse adecuadamente a uno mismo, evitando tener una opinión equivocada de las
acciones propias y, finalmente, es necesario realizar las actividades académicas dando y recibiendo
ayuda y escuchando activamente a todas las personas.
Aparte de los cambios sociales, las personas adultas se preocuparon por el progreso académico del
alumnado. Desde esta preocupación se intentó que los alumnos fueran más eficaces en el
aprendizaje de contenidos académicos, promoviendo actitudes cooperativas y la ayuda entre iguales.
También se intentó mejorar la expresión escrita y la expresión verbal.
Partiendo de los anteriores consejos de las personas voluntarias, podemos señalar que los
estudiantes tienen dificultades para solucionar las tareas de forma democrática, pues muestran
competitividad, exasperación con el escolar más lento, conductas no dialógicas, favoritismos para
preguntas las dudas y dificultad para trabajar de manera cooperativa, pedir ayuda, dar ayuda y
escuchar las opiniones de los demás. Otra dificultad diferente es la capacidad de valorar el propio
esfuerzo de manera adecuada. A partir de esta información nos planteamos las siguiente preguntas:
¿Estas actitudes del alumnado han sido heredadas de las enseñanzas tradicionales?, ¿si los escolares
hubiesen aprendido durante años mediante el aprendizaje dialógico mostrarían tales actitudes?
Este trabajo tiene significación científica por diversos motivos: muestra los cambios que tienen que
realizar los escolares para aprender de manera dialógica, hace hincapié en las dificultades que tienen
los estudiantes cuando aprenden con sus compañeros de clase, demuestra que los grupos
interactivos son una intervención de éxito que apuesta por el cambio de los estudiantes y
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finalizamos el texto haciendo dos preguntas, que no están contestadas, pero son de interés
científico.
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FLECHA, R., VARGAS, J., y DAVILA, A. (2004). Metodología comunicativa crítica en la
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Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
Este estudo objetiva refletir sobre os sentidos da literária marginal brasileira, concentrando-se no
poema / rap “Raio-x do país”, do rapper Du_Bod, publicado na coletânea Pelas periferias do Brasil em
2008. A escrita de Du_Bod insere-se num projeto que desestabiliza, reconstrói e reafirma o ser-e-
estar no contexto periférico, analisando os contrastes sociais, apresentados a partir de um eu-lírico
que fala “por milhões / Mas, nem cem param pra ouvir”. Conclui-se que o poema / rap tem função
dessacralizante, cuja construção discursiva vai contra a tradição literária, criticando a segregação, as
mazelas sociais e o cotidiano de guerra das periferias urbanas brasileiras.
Palavras-chave: Du_Bod, Literatura Marginal, Periferia.
Abstract
This study aims to reflect on the meanings of literary brazilian marginal, focusing on the poem /
rap "Raio-x do país," the rapper Du_Bod, published in the collection Pelas Periferias do Brasil in 2008.
Writing Du_Bod is part of a project that destabilizes, reconstructs and reaffirms the being and
being in the peripheral context, analyzing the social contrasts, presented from a self-lyrical speech
"by millions / But not one hundred stop to listen." It concludes that the poem / rap has
dessacralizante function, whose discursive construction goes against the literary tradition, criticizing
segregation, social ills and the daily war of Brazil's urban peripheries.
Keywords: Du_Bod, Marginal Literature, Periphery.
Segundo Ferréz, a literatura marginal “é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais
ou socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos centrais do saber e da grande cultura
nacional, ou seja, os de grande poder aquisitivo” (FERRÉZ, 2006).
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua
arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que
23Graduado em Letras: Língua portuguesa e Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia. Contato:
fernando.reys@hotmail.com
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Hollanda defende que a partir da escrita marginal passamos a ter uma visão anatômica do
contexto periférico: “tudo indica que a literatura marginal e seus autores, além de procurarem uma
escrita de denúncia, de resistência, de compromisso com a transformação social, honrando suas
raízes hip hop, buscam também um lugar na série literária” (HOLLANDA, 2010). O verbete,
entretanto, expõe muitos problemas, principalmente, quando associado a literatura. O termo
marginal carrega a carga de banalidade, de algo que deve ser proibido ou condenado. Logo, a
literatura autodenominada marginal corre o risco de se limitar a olhares segregatórios, o que pode
resultar na inferiorização de textos produzidos sob esta égide. Sobre isso, Ferréz afirma que:
“Quem inventou o barato não separou entre literatura boa / feita com caneta de ouro e literatura
ruim / escrita com carvão, a regra é só uma, mostrar as caras” (FERRÉZ, 2006).
Desse modo, é preciso olhar atentamente para o movimento que se revigora nas periferias,
uma vez que a indústria editorial tem se dedicado em criar selos que contemplam os representantes
da escrita dissidente. Escrita que põe em cheque as representações mantidas pela tradição literária
que excluía os grupos minoritários de suas páginas, comprovando que literatura brasileira “foi
sempre um discurso sobre o periférico e não feito pelo periférico (SILVA, 2011, p. 18). E entre os
escritores que vêm mudando este cenário está o rapper Du_Bod, que terá o poema / rap “Raio-x
do país” analisado neste estudo, cujos objetivos serão: destacar as marcas de resistência, verificando
as estratégias de criação de textos dissidentes e contribuir na disseminação do projeto literário de
escritores oriundos das periferias urbanas brasileiras.
O cotidiano reflete na escrita e a cada verso nos deparamos com um eu-lírico consciente e
inconformado com a situação do país: “O povo vive se iludindo / E quanto mais eu ando / Mais
me sinto submisso / Oprimido e menosprezado / A realidade é que eu sou discriminado”
(DU_BOD, 2008, p. 39). Neste tom de melancolia vai se constituindo um poema-denúncia,
revelando anseios e angustias: “A nossa gente encanta / Nasce na corda bamba / Sonha pra
caramba / Quando acorda cai da cama / Se alimenta de esperanças / Quer sair da boca do inferno”
(2008, p. 39). A partir do poema / rap, o autor nos guia pelas aflições humanas, discute sonho e
realidade com destreza, alimentando-se do que vivencia. Sonha em se libertar do presente
desolador, quer fugir da condição de objeto e ocupar o lugar de sujeito na sociedade: “Espero que
por aqui / Um melhor dia venha [...]” (2008, p. 39).
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da
poltrona. Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e
espaços para o acesso à produção cultural. Contra reis e rainhas do castelo globalizado e
quadril avantajado. Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra
eles? “Me ame pra nós!”. Contra os carrascos e as vítimas do sistema. Contra os
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Du_Bod expressa essa arte estridente, marcada pela crítica ao sistema opressor do qual ele
se sente oprimido. Ele é um artista que exerce a revolução pela sua comunidade, ou país, como
sugere Vaz (2007). E nesse tecer e destecer a linha tênue que sustenta o cotidiano das periferias, o
escritor vai aprofundando suas análises, expondo: “Fome, miséria, pobreza e violência” e
denunciando as desigualdades sociais: “São fatos e não boatos / Apenas algumas das crises intensas
/ Pro lado mais fraco / Sempre a corda arrebenta / Assim, nascemos e crescemos / Colhemos as
migalhas plantadas pelo sistema” (DU_BOD, 2008, p. 39). Nota-se que o texto adentra nos
contrates sociais, a escrita se torna mais cítrica e dessacralizante.
Sem se preocupar com a agudeza poética, Du_Bod desenha um Brasil desigual, mascarado
e refém das classes favorecidas. O sujeito é sobreposto pelo caos da guerra em que vive. O eu-lírico
se dispõe a lutar contra as mazelas sociais e convida o leitor a refletir sobre a sua participação neste
processo de mudanças: “O jeito é se unir e ir pra rua”. E ao mesmo tempo vai tecendo seu
desabafo: “A vida continua / Sou mais um pobre brasileiro / Da Silva, sou da selva / Sou
guerreiro” (DU_BOD, 2008, p. 41).
Nas últimas estrofes, o sentido da escrita marginal é realçado e as críticas ficam mais
afiadas.
Denunciando a miséria
Que eu vejo por aqui
Se uma língua
Incendeia uma cidade
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Segundo Hollanda, “a força estética mas também política da palavra é descoberta pela
periferia. A palavra poética que encanta mas também o poder que quem detém e manipula com
destreza e segurança a prática da palavra cotidiana, da eficácia socio-econômica dos muitos usos da
palavra. Nitroglicerina pura” (HOLLANDA, 2010). Assim, pode-se definir o estilo do poema / rap:
nitroglicerina pura, no qual, une vozes pelo mesmo objetivo: “falo por milhões / Mas, nem cem
param pra ouvir” (DU_BOD, 2008, p. 42), principalmente, porque “o silêncio dos marginalizados é
coberto por vozes que se sobrepõem a eles, vozes que buscam falar em nome deles, mas também,
por vezes, é quebrado pela produção literária de seus próprios integrantes” (DALCASTAGNÈ,
2012, p. 17).
Como um estilo de escrita próprio, o autor classifica o seu texto como protesto e o
cotidiano como uma guerra: “Nessa guerra eu ando armado / com uma caneta / e um papel de
caderno” (DU_BOD, 2008, p. 42). E desse modo, os textos marginais vão se consolidando no
cenário literário brasileiro, novas vozes ecoam de todas as partes do país, pedindo passagem para
serem ouvidas, como sugere Ferréz: “Não somos o retrato, pelo contrário, mudamos o foco e
tiramos nós mesmos a nossa foto” (FERRÉZ, 2006).
Algumas considerações
A coletânea Pelas periferias do Brasil (2008), organizada por Alessandro Buzo se consolidou
pelo objetivo de dar voz a escritores de diferentes comunidades brasileiras que não tinham suas
obras publicadas e reconhecidas. A expressão literária dos guetos alcançou a imprensa, a
universidade e, principalmente, a crítica, que tem se debruçado nos últimos anos em compreender o
universo ficcional de seus representantes, revelando as especificidades do movimento denominado
marginal.
O poema / rap “Raio-x do país” faz parte desta produção artística contemporânea. Este
estudo contemplou as análises sociológicas do texto, apontando que as experiências do cotidiano do
autor Du_Bod contaminam, ou melhor, tornam matéria poética. Como o título propõe, viu-se um
diagnóstico preciso das condições calamitosas de quem vive entre os becos e vielas das periferias
brasileiras. O eu-poético mostra-se inconformado com sua situação, almeja melhorias para os seus;
a voz que ecoa desconstrói, recria e reafirma o discurso mantido pelas classes providas de bens de
consumo. Portanto, concluiu-se que o poema / rap de Du_Bod é a arte que vai “Contra o racismo,
a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala” (VAZ, 2007), destituindo o
olhar segregatório sobre os sujeitos oriundos das periferias, favelas e morros.
Referências
DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo:
Editora Horizonte/ Rio de Janeiro: Editora da Uerj, 2012.
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http://editoraliteraturamarginal.blogspot.com.br/2006/12/manifesto-de-abertura-do-livro.html>. Acesso
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HOLLANDA, Heloisa Buarque de. A questão agora é outra. Disponível em:
<http://www.heloisabuarquedehollanda.com.br/a-questao-agora-e-outra/>. Acesso em: 06 jun. 2014.
SILVA, Rogério de Souza. Cultura e violência: autores, polêmicas e contribuições da literatura marginal. São
Paulo: Annablume, 2011.
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Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
A educação ambiental vem se configurando, no cenário nacional e mundial, como princípio básico
para a conservação do meio ambiente e melhoria na qualidade de vida dos cidadãos. Esta prática
está sendo implementada nas escolas, desde a educação básica, visando consequentemente o reflexo
na formação do indivíduo. Nosso estudo buscou responder à seguinte questão: Qual a importância
da educação ambiental como atividade transdisciplinar no ensino fundamental? Procuramos
estabelecer, através de pesquisa bibliográfica, estabelecer uma concepção fundamentada em estudos
teóricos desenvolvidos por pesquisadores da área educacional. Utilizamos os Parâmetros
Curriculares Nacionais e a Constituição Federal de 1988, numa abordagem holística da educação
ambiental, enfocada como um processo de construção na formação do aluno, que permite a
interação e aproximação do ser humano com a natureza. Nossos resultados destacam a relevância
da inserção da educação ambiental na educação escolar.
Palavras-chave: Formação de alunos. Transdisciplinaridade. Ensino Fundamental.
Abstrat
Environmental Education (EE) is becoming a fundamental principle, here and all over the world,
to preserve the environment and improve the life quality of people. Schools have been
implementing EE since their early years in order to influence in the students’ formation. Our study
tried to answer the following question: How important is EE as a transdisciplinar activity in basic
education? Through a bibliographic review, we tried to establish a concept based on theoretical
studies carried out by researchers in the education area. We used the National Curricular
Parameters and the Federal Constitution of 1988, in a holistic approach of EE, seen as a building
process in the students’ formation, which allows the interaction of man and nature. Our results
show the relevance of introducing EE in schooling.
Key words: Students’ formation. Transdisciplinarity. Basic Education.
Introdução:
Sabe-se que a manutenção consciente do planeta pelos seres humanos envolve assuntos de
atitudes cotidianas, sendo de suma importância para o bem estar de todos os seres vivos, e por este
motivo a temática de educação ambiental torna-se um assunto de extrema urgência e relevância
para ser discutido nas escolas, no intuito de auxiliar na formação e sensibilização dos alunos para as
causas ambientais.
Consideradas essas determinações, este estudo buscou responder à seguinte questão: Qual
a importância da educação ambiental como atividade transdisciplinar no ensino fundamental? Nesta
direção, o objetivo geral para solucionar a questão foi a realização de uma leitura fundamentada do
currículo, enfatizando a importância da educação ambiental como atividade escolar.
O objetivo especifico centrou-se num estudo bibliográfico para analisar o valor da inserção
da educação ambiental como atividade escolar para a formação integral dos alunos e verificar o
favorecimento da educação ambiental aplicada de maneira transdisciplinar.
Para tanto foi adotada uma metodologia de caráter bibliográfico, através de uma
abordagem teórica a respeito da educação ambiental, por documentos tais como: a Constituição
Federal do Brasil de 1988, os Parâmetros Curriculares Nacionais, leis e decreto; além de
fundamentação em estudos desenvolvidos por pesquisadores da área educacional como Mauro
Guimarães, Alexandre de Gusmão Pedrini, Genebaldo Freire Dias dentre outros para elaboração de
um ponto de vista sistêmico e contemporâneo da relevância da educação ambiental no ensino
fundamental.
Conforme cita Guimarães (1995, p. 30), “o ser humano é natureza e não apenas parte
dela”. Uma vez que “ao assimilar uma visão holística, a noção de dominação do ser humano sobre
o meio ambiente perde o seu valor, já que estando integrado em uma unidade (ser
humano/natureza)”, formando assim uma rede unificada.
Nesta mesma perspectiva, Moreira (1994) retrata que os estudos das relações, ou interações
homem-ambiente, não podem jamais serem realizados em separados, pois a natureza está no
homem e o homem está na natureza, na qual a existencialidade humana é uma condição concreta da
natureza, sendo o homem produto da história natural.
Deste modo, Meizger (2001, p. 3) alerta à relevância para com a preocupação no estudo das
interações do homem e o ambiente no qual se encontra inserido como fruto da integração da
sociedade com a natureza, e as inter-relações do homem com o seu próprio espaço de vida, além
das aplicações práticas em solução de problemas ambientais.
Como é lembrado por Rizzo (1996, p. 24) “o homem não se desenvolve no vazio, nem
físico, nem social e, menos ainda, alheio a emoções”, pois adquire hábitos, atitudes, valores e
esquemas de raciocínio que traçam a própria personalidade, construindo e transformando o
comportamento característico de cada indivíduo no decorrer de sua evolução.
Assim, segundo Guimarães (1995, p. 30) a “integração entre ser humano e ambiente” deve
ser trabalhada intensamente pelo educador para que haja o desenvolvimento de todas as atividades
humanas que fomentam melhoria na qualidade de vida, desde a habitação, saneamento básico,
educação, emprego e crescimento econômico.
Dessa forma, entende-se que os alunos do ensino fundamental são apresentados para o
ambiente de forma integrante dele, como o indivíduo não é formado no meio vazio tem grandes
chances de passarem a respeitar e ter uma conscientização com os bens renováveis e não renováveis
de que fazem uso e minimizando com isso os impactos ao meio ambiente.
assim os propósitos da legislação. Ainda, estabelece a educação ambiental na educação escolar onde
deve ser desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições públicas e privada, na educação
básica, superior, especial, profissional, jovens e adultos de forma integrados, continuados e
permanentes, não pode ocorrer em disciplina específica (BRASIL, 1999, Art. 9° e 10°).
[...] deverão ser criados, mantidos e implementados, sem prejuízo de outras ações,
programas de educação ambiental integrados: I - a todos os níveis e modalidades de
ensino; II - às atividades de conservação da biodiversidade, de zoneamento ambiental,
de licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, de
gerenciamento de resíduos, de gerenciamento costeiro, de gestão de recursos hídricos,
de ordenamento de recursos pesqueiros, de manejo sustentável de recursos ambientais,
de ecoturismo e melhoria de qualidade ambiental; III - às políticas públicas,
econômicas, sociais e culturais, de ciência e tecnologia de comunicação, de transporte,
de saneamento e de saúde; IV - aos processos de capacitação de profissionais
promovidos por empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas; V - a
projetos financiados com recursos públicos; VI - ao cumprimento da Agenda 21
(BRASIL, 2002, Art. 6).
Seguindo nesta mesma perspectiva, de acordo com Brasil (1996, Art. 26) - Lei de Diretrizes
e Bases (LDB), que reporta a obrigatoriedade no estudo “o conhecimento do mundo físico e
natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil”. Compreendendo o artigo 27º,
inciso I, que diz respeito ao currículo na educação básica tendo “a difusão de valores fundamentais
ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem
democrática” (BRASIL, 1996, p. 13).
Por sua vez, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trazem a educação ambiental
como algo necessário e sua realização exige “mais do que informações e conceitos”, onde “a escola
se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de
habilidades e procedimentos”, para vencer o grande desafio da educação ambiental. Fazendo com
que o ensino significativo contribua “para a formação de cidadãos conscientes, aptos para atuarem
na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um
e da sociedade local e global” (BRASIL, 1997, p. 12).
Para Pedrini, (1997, p. 11 e 13) “a educação consiste em um dos melhores meios para a
difusão da informação”, com princípios e métodos próprios, no qual “o educador ambiental, tal
como outros especialistas pedagógicos” devem desempenhar um papel fundamental na formação e
capacitação dos alunos.
Neste sentido a aplicação da educação ambiental no ensino formal como uma extensão
dada ao conteúdo e à prática da educação direcionada para a resolução de problemas reais,
direcionados ao meio ambiente, que exigem uma maior sensibilidade para com o ambiente natural,
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além de proporcionar uma melhoria na estrutura social dos indivíduos. Pelos benefícios que este
tipo de educação pode auxiliar o estudante que lhe é esclarecido qual a verdadeira função de saber
fazer suas escolhas diante aos diversos agravantes cotidianos que enfrentam no ambiente em que
realiza suas atividades.
Da mesma forma, este tipo de ensino busca esclarecer o modo como o ser humano
compromete e promove a sua sustentabilidade, devendo fomentar processos de participação
comunitária que possam interferir no processo político, possibilitando todas as pessoas a adquirir
novos conhecimentos e induzir novas formas de conduta mais responsáveis, dos indivíduos na
sociedade favorecendo atitudes mais responsáveis para protegerem, conservarem e melhorarem o
ambiente de forma geral.
Segundo Brasil (1996, art. 32, § II), Lei de diretrizes de bases da educação nacional, “a
compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
em que se fundamenta a sociedade”; dando continuidade no artigo 32º, no que se referem ao item
IV sobre o “desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores”; sendo “o fortalecimento dos
vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social” (BRASIL, 1996, p. 12).
Segundo Tuan (1980) cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações
sobre o ambiente em que vive, após algum tipo de experiências pode alterar sua percepção. E este
ato de perceber o ambiente no qual o ser humano está inserido, aprendendo a proteger e a
conservar o mesmo, é caracterizado como percepção ambiental.
Para Guimarães (1995, p. 30) percepção ambiental e a interpretação dos níveis e dimensões
do comportamento humano fornecem, excepcionalmente, compreensão nas mudanças da
paisagem. Gerando assim, um horizonte de possibilidades individuais e conjuntas de conservação
deste patrimônio através de valores locais e regionais, percebido e interpretado como legado às
futuras gerações de várias instâncias e conjunturas.
Neste contexto, destaca-se a maneira como o ensino formal ocasiona de certa forma a
percepção ambiental influenciada pelas condições sociais que afetam o ambiente natural, agindo
sobre a vida sócio-ambiental do aluno.
Dias (2004, p. 109) salienta ainda, que não se pode entender “uma questão ambiental sem
as suas dimensões, políticas, econômicas e sociais”, bem como ecológicas, culturais, étnicas,
tecnológicas, pois todas as áreas do conhecimento mostram-se integradas pelas suas causas e efeitos
que refletem uma nas outras.
Por este motivo a educação ambiental deve relacionar os temas de maneira “transversal, ou
seja, reunindo ações de diferentes disciplinas, em torno de um tema”, formando uma teia de
interação transdisciplinar, vinculando a percepção ambiental para melhor compreensão das inter-
relações entre o homem e o ambiente em que se encontra inserido (DIAS, 2004, p. 113). O estudo
da percepção ambiental assume importância para a compreensão das inter-relações entre o homem
e o ambiente, bem como suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e
condutas (TRIGUEIRO, 2003).
Transdisciplinaridade
Sabendo que o meio ambiente consiste em bem de uso comum das pessoas, e garante a
qualidade de vida e a sustentabilidade humana, verifica-se, pois, a necessidade de uma educação
voltada para os cuidados desse patrimônio tão precioso.
E é pensando assim, que se encontra inserida a educação ambiental através de uma nova
dimensão a incorporada ao processo educacional, trazendo discussões sobre questões ambientais e
as conseqüentes transformações de conhecimento, diante de uma nova realidade a ser construída.
E sob, esta visão o papel fundamental da educação voltada ao meio ambiente é “fomentar
a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente”, através de uma relação
harmoniosa com a natureza, possibilitando, a formação de novos conhecimentos, pela “inserção do
educando e do educador como cidadãos no processo de transformação ambiental” que atualmente
abrange todo quadro ambiental do nosso planeta (GUIMARÃES, 1995, p. 15). Sendo de grande
importância desta compreensão pelos alunos no ensino fundamental verifica-se através de um
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Neste sentido, os conteúdos disciplinares devem ser trabalhados tomando como base um
desenvolvimento sistematizado, na qual “aproveitando oportunidades disponíveis para levantar
novas indagações a serem respondidas ao decorrer das disciplinas,” (BAZAN, 2000. p. 121),
levando aos alunos a reflexão dos conteúdos e assim, relacionando suas atitudes individuais e
coletivas dentro do contexto escolar, permitindo:
Outra atividade que não pode faltar na educação ambiental é a observação, tendo em vista
a investigação de maneira informal, na qual, “as características individuais e grupais dos alunos,
tende a identificar fatores que influenciam a aprendizagem e o estudo das matérias e, na medida do
possível, modificá-los”. Por meio deste tipo de metodologia verifica-se o desenvolvimento da
“capacidade de percepção comportamentos manifestos ou não dos alunos” (MENDES, 2005, p.
191).
Considerações finais
Destacou-se que o aluno durante a educação escolar pode assimilar a educação ambiental e
ter atitudes de preservação e conscientização com o meio ambiente, e especialmente ser racional no
uso dos bens não renováveis e renováveis possibilitando que as próximas gerações também façam
uso. E ainda, se tornar um adulto que consuma de forma coerente os bens materiais, agindo para o
bem-estar dele e da sociedade.
Com este objetivo, foi mostrado que ensinar a educação ambiental de forma
transdisciplinar é de grande importância compreensão pelos alunos no ensino fundamental
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Percebe-se então, que com todos estes pontos facilitadores da educação ambiental no
ensino fundamental escolar é necessário que os professores estejam habilitados em realizar de
forma transdisciplinar para obter os aspectos positivos. Com este artigo surgem novas indagações
acerca do assunto e propiciando novos temas a ser pesquisados.
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Resumo
Neste texto verificamos a presença do canibalismo amoroso no conto Dentro da noite, publicado
no livro homônimo, de João do Rio. Para atingir nosso objetivo, nos apoiamos na teoria de Robert
Gessain sobre o horror que a mulher desperta em alguns homens, procurando identificar como ele
se manifesta no texto analisado. No decorrer das análises foi possível constatar que no conto o
personagem masculino expressa seu horror à mulher criando um ritual canibalístico em que, com a
ajuda de um alfinete, retira e suga o sangue dos braços da noiva, experimentando horror e êxtase.
Palavras-chave: João do Rio; Canibalismo amoroso; Horror feminae.
Abstract
In this text we check presence of the loving cannibalism in the text Dentro da noite, of João do
Rio. To reach our objective, we use the theory of Robert Gessain about the horror that the woman
provoke in some men, trying to identify him in the analysed texts. In the course of the analyses it
was possible to note that in the story the masculine personage expresses his horror to the woman,
creating a ritual canibalístico in what, with the help of a pin, it withdraws and sucks the blood of the
arms of the fiancee, experimenting horror and ecstasy.
Keywords: João do Rio; Loving cannibalism; Horror feminae.
O Decadentismo, estilo literário surgido na segunda metade do Século XIX, volta-se contra
o pensamento lógico e redimensiona o eixo mimético da literatura do Ocidente, substituindo as
imagens dos escritores realistas e parnasianos pela metáfora do louco.
Temos o que se poderia chamar a estética do louco, caracterizada por uma latente
nevralgia, condicionando o surgimento de uma produção literária pautada na exploração do exótico,
do bizarro e, sobretudo, na super excitação dos sentidos. Reivindica-se a embriaguês dionisíaca,
numa linguagem submetida não mais à linearidade cartesiana, própria da lógica ocidental, mas ao
transtorno do paradoxo (PEREIRA, 1975, p. 17-52), da cisão, da fratura, da experiência dos limites.
LEMAIRE, 1978, p. 53 ss) e que assume contornos mais definidos justamente na literatura do fim
do século XIX.
É neste contexto que situamos o conto Dentro da noite28, publicado no livro homônimo,
de João do Rio e objeto de nossa análise. O nosso objetivo neste estudo consiste em analisar a
presença do canibalismo amoroso no conto acima referido, utilizando como suporte teórico a teoria
psicanalítica de Gessain (1990) sobre o horror que as mulheres causam em alguns homens, como
resultado de traumas oriundos do período de amamentação.
Para Gessain (1990, p. 1), o fantôme du vagin denté é "uma das expressões do horror feminae, da
angústia inspirada pelas mulheres a certos homens." Interpretando Marie Bonaparte, ele explica que
o fenômeno tem suas origens na fase oral do desenvolvimento da libido, mais especificamente
quando, na primeira dentição, o bebê começa a morder os seios maternos e, ao ser repelido pela
figura da mãe, recalca a pulsão agressiva contra ela. Forma-se então um misto de culpa, temor e
desejo de vingança que se atualizam, na idade adulta, em relações conflituosas com o sexo oposto.
Para o recém-nascido, a imagem da mãe é o seio que o nutre. A mãe é para a criança o
prolongamento do seu próprio corpo. Ao morder o seio da mãe e ser repelido por ela, a criança
experimenta um sentimento de castração, porque parte do que ele imagina ser ele próprio lhe é
negado ou retirado. É assim que essa relação complexa entre mãe, seio e filho, passa a ser fonte não
apenas de todo o desejo e prazer da criança, como também de todos os fantasmas ancestrais, que
acabam por acompanhar o indivíduo e se manifestar em outras formas de representação em sua
vida adulta, especialmente no seu comportamento sexual.
Como a relação entre os gêneros tem sido sempre concebida na sociedade machista como
uma relação de seres diferentes, à mulher tem sido imputada todo tipo de imagem negativa,
representando as forças indomadas, ferozes, vorazes, tomando como referencial não raras vezes,
fenômenos próprios da mulher, mas que são incompreensíveis para o homem. Criam-se, a partir
daí, certos tabus que perduram nas sociedades, como, por exemplo, o parto e a menstruação.
Em relação a esta última, como registra Affonso Romano de Sant’Anna (1985, p. 78),
crê-se que, se durante a menstruação uma mulher toca um espelho, ele escurece, ou se
ela vai preparar uma maionese, esta desanda. As diversas religiões têm ensinamentos de
como lidar com a mulher durante o mênstruo, recomendando distância e prometendo
desgraças para quem a tocar. Do mesmo modo, já em Heródoto, está a narração de que
entre os Nasamones, na África do Norte, era costume a noiva dormir com vários
convidados para que assim se diluísse o espírito perverso que nela habita e que poderia
castrar o marido. Há tribos em que os homens encarregados realizam uma tarefa em si
perigosa e mortal.
No plano mítico, uma das imagens mais representativas desse medo ancestral é a Esfinge,
que, como sabemos, é a representação de um ser essencialmente antropofágico. A sua fala
"Decifras-me ou te devoro" significa não apenas o mistério, mas a possibilidade da morte. É um ser
28 As citações dessa obra serão indicadas pela sigla DN, seguida da paginação.
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essencialmente devorador e, o que é mais significativo, é um ser feminino diante do qual o homem
não tem condições de qualquer reação.
Esse elemento feminino, essa grande mãe, fálica e castradora, cujo corpo híbrido traz os
mistérios dos pássaros, dos animais predadores e das mulheres, é um ente essencialmente
canibalesco e traz em si, conforme afirma Sant’Anna (1985, p. 84),
Essa mulher misteriosa, poderosa, castradora e fálica é representada também pela serpente,
símbolo que ganha vários significados diferentes na história da civilização, representando tanto
elementos positivos (como a vida, para os caldeus; a música e a poesia para os gregos) quanto
negativos, como o dragão, pela sereia, pela medusa, etc.
Na cultura ocidental, a imagem feminina sempre esteve ligada tanto à santidade quanto ao
mal e, na Idade Média, a binomia da mulher devoradora e santa é representada nas personagens da
fada e da bruxa, representação do maniqueísmo entre o Bem e o Mal. Diante dela, o personagem
masculino apresenta dois tipos de comportamentos diante dessa mulher misteriosa: ou se cala,
submisso, castrado, diante dessa mulher ao mesmo tempo sedutora e castradora, ou externa seu
ódio, na forma de violência, respondendo dessa forma à ameaça que representa a mulher ao seu
lado.
E uma noite estávamos no baile dos Praxedes, quando a Clotilde apareceu decotada,
com os braços nus. Que braços! Eram delicadíssimos, de uma beleza ingênua e
comovedora, meio infantil, meio mulher (…) Tive um estremecimento. Ciúmes? Não.
Era um estado que nunca se apossara de mim: a vontade de tê-los só para os meus
olhos, de beijá-los, de acariciá-los, mas principalmente de fazê-los sofrer. Fui ao
encontro da pobre rapariga fazendo um enorme esforço, porque o meu desejo era
agarrar-lhes os braços, sacudi-los, apertá-los com toda a força, fazer-lhe manchas
negras, bem negras, feri-los… (DN, 3-4)
Notemos que a ambigüidade de sensações (encanto e terror) provocadas pela visão dos
braços nus da personagem revela que o noivo vê em a imagem da mulher devoradora. Notemos
que a noiva é apresentada por ele como sendo ao mesmo tempo "meio infantil" e "meio mulher".
Ela é uma personagem ambígua e, como tal, não se pode discernir nela de modo claro nem o seu
lado criança e nem o seu lado mulher. Isso protege, de certo modo, o personagem dos seus medos
ancestrais por algum tempo, já que, embora sendo noivos havia já algum tempo, a moléstia só se
manifesta muito depois, mais exatamente diante da visão dos braços de Clotilde.
Ora, os braços, para o personagem, tanto podem abraçar quanto sufocar. E essa percepção
é de tal forma ameaçadora que o transtorna completamente. Os braços nus de Clotilde atualizam no
noivo o fantasma da mulher castradora, du vagin denté que aniquila, que mata. Todas essas
reminiscências, na verdade inconscientes, tornam-no um personagem ativo, que se revolta contra a
ditadura do seio mau e, por isso, será a partir de então, um ser clivado, vagando entre o monstro e o
cavalheiro. Respondendo à ameaça que lhe parece ser a noiva, seu beijo, metaforizado na imagem
do alfinete, afaga e acaricia, mas também faz destrói e faz sofrer, na medida em que provoca
"manchas negras" nos braços da noiva. É assim que o don juan dá passagem ao vampiro, ao
canibal, ao sádico:
Contive-me dias, meses, um longo tempo, com pavor do que poderia acontecer. O
desejo, porém, ficou, cresceu, brotou, enraigou-se na minha pobre alma. No primeiro
instante, a minha vontade era bater-lhe com pesos, brutalmente. Agora a grande
vontade era de espetá-los, de enterrar-lhe longos alfinetes, de cosê-los devagarinho, a
picadas. E, junto de Clotilde, por mais compridas que trouxesse as mangas, eu via esses
braços nus como na primeira noite, via a sua forma grácil e suave, sentia a finura da
pele e imaginava o súbito estremeção quando pudesse enterrar o primeiro alfinete,
escolhia a posição, compunha o prazer diante daquele susto de carne que havia de
sentir. (DN, 4)
A tortura é um requinte do ritual canibalesco. Notemos que o personagem passa por duas
reações diferentes ao ver os braços de Clotilde. São reações que modificam e refinam o desejo. O
anseio inicial, como o próprio personagem confessa, era destruir definitivamente o objeto
perturbador ("bater-lhe com pesos brutalmente"). Entretanto, durante a evolução da "moléstia",
este anseio inicial cede espaço ao desejo de espetar os braços de Clotilde, desejo acompanhado da
antecipação do prazer que tal ato poderia lhe proporcionar. O personagem, do qual não se sabe o
nome, deseja não mais destruir definitivamente a noiva, mas sim perder e resgatar aos poucos o
objeto desejado, o que se torna possível respectivamente pela picada do alfinete e pela sucção do
sangue derramado:
Temos, no quadro acima, o que Pereira (1975, p. 42) denomina "amor do impossível",
próprio do Decadentismo, e que se realiza "de forma agônica e insatisfeita, na atração obsessiva do
medonho e na realização do mal, no erotismo vampírico e na conseqüente necessidade de
aviltamento da beleza amada".
imaginário doentio, também enxerga em Clotilde duas facetas contraditórias: a fada e a bruxa. E é
essa mulher má, fruto de sua imaginação, que o sujeito quer dominar e fazer sofrer. Por isso, na
trilha de Sade, ele a submete ao ritual do alfinete.
É então que Clotilde reconhece no noivo não o príncipe, mas o assassino, apresentando o
amor, neste caso, uma dupla face: a da felicidade e a do horror. Um horror que é compartilhado
pelos dois, uma vez que o próprio personagem se horroriza com os seus desejos sádicos:
Oh! Justino, não dormi. Deitado, a delícia daquela carne que sofrera por meu desejo, a
sensação do aço afundando devagar no braço da minha noiva, dava-me espasmos de
horror! Que prazer tremendo! E apertando os varões da cama, mordendo a travesseria,
eu tinha a certeza de que dentro de mim rebentara a moléstia incurável. Ao mesmo
tempo que forçava o pensamento a dizer: nunca mais farei essa infâmia!, todos os meus
nervos latejavam: voltas amanhã; tens que gozar de novo o supremo prazer! Era o
delírio, era a moléstia, era o meu horror…" (DN, 6)
Estabelece-se entre o monstro e sua noiva (a bela e a fera), uma espécie de contrato em que
as cláusulas reeditam o ritual de Drácula:
Não lhe via a carne mas tinha-a mareada, ferida. Cosi-lhe os braços! Por último
perguntava: "Fez sangue, ontem?" E ela, pálida e triste, num suspiro de rola: Fez… Pobre
Clotilde! A que ponto eu chegara, na necessidade de saber se doera bem, se ferira bem, se
estragara bem! E no quarto, à noite, vinham-me grandes pavores súbitos ao pensar no
casamento, porque sabia que se a tivesse toda havia de picar-lhe a carne virginal nos
braços, no dorso, nos seios… (…) Em um mês ela emagreceu, perdeu as cores. Os seus
dois olhos negros ardiam aumentados pelas olheiras roxas. Já não tinha risos. (DN, 8)
Através das suas "mordidas" e das suas "sugadas", o noivo devora aos poucos a noiva:
acabam-lhe os risos, as cores e as carnes. Trata-se da concretização de um drama psicológico
vinculado à primeira infância, que é atualizado na mordida. Por medo da mulher devoradora, o
personagem assume o papel de canibal, sendo que, no conto, boca dentada é metaforizada no
alfinete, ocupando um espaço central no texto.
homem/mulher acha-se marcada pela alternância dos sentimentos de amor e ódio, de desejo de
destruição e de arrependimento, caracterizando-se assim a existência do fantôme du vagin denté como
fundamento estrutural do conto.
Referências
ABASTADO,Claude. Mythes et rituels d'écriture. Paris: Complexer, 1979.
ALBERONI, Francesco. O erotismo. Trad. Élia Bdel. 2a. ed.Rio de Janeiro:Rocco,1988.
BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. Trad. Suely Bastos. Porto Alegre: LPM, 1989.
GESSAIN, Robert. Vagina dentada na clínica e na mitologia. Trad. Affonso Romano de Sant'Anna.
Apostila xerocopiada. Pós-Graduação, UFRJ, 1990.
LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. 5a. ed. Trad. Pedro Tamen. Rio de
Janeiro, Martins Fontes, 1979.
LEMAIRE, Anika Rfflet. Lacan. Trad. Francisco J. Millet. Barcelona: Edhasa, 1971.
PEREIRA, José Carlos S. Decadentismo e simbolismo na poesia portuguesa. Coimbra: Centro de Estudos
Românicos, 1975.
RIO, João do. Dentro da noite. Rio de Janeiro: Inelivro, 1978.
SADE, Donatien Alphonse de. Les crimes de l'amour. Paris:Jean Jacques Pauvert, 1953.
SANT'ANNA, Affonso Romano de. O canibalismo amoroso na literatura brasileira. 2a. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1985.
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Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
O presente artigo foi produzido a partir de encaminhamentos e discussões realizadas durante a
implementação do estágio supervisionado em Geografia, componente curricular obrigatório nos
cursos de licenciatura. A proposta foi conduzida com o objetivo de conhecer as unidades escolares
que ofertam o ensino médio no município de Formosa-Goiás. A pesquisa se caracteriza como
exploratória e descritiva realizada pelos acadêmicos do 4º ano do curso de licenciatura em
Geografia da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Câmpus Formosa e organizada pelo
bolsista* em pró-licenciatura. Percebe-se que tais identificações e caracterizações contribuem de
forma significativa para os estagiários e futuros estagiários na escolha das instituições que irão
contribuir para a formação docente no município, além de destacar as discrepâncias em relação às
escolas caracterizadas.
Palavras-chave: Identificação. Caracterização. Ensino Médio.
Abstract
This article was produced from referrals and discussions held during the implementation of
supervised training in geography, compulsory curricular component of the degree course in
geography . The proposal was conducted in order to know the school units that offer high school
in the city of Formosa , Goiás . The research is characterized as exploratory performed by students
from the 4th year of the degree course in Geography from the State University of Goiás (UEG) -
Campus Formosa and organized by scholarship student* in pró-licenciatura. It is perceived that
such identifications and characterizations contribute significantly to the trainees and future trainees
in the choice of institutions that will contribute to teacher training in the city , besides highlighting
the discrepancies regarding the featured schools.
Keywords: Identification . Characterization. Secondary School.
Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar um levantamento de informações que visou
identificar e caracterizar as instituições públicas que ofertam o ensino médio no município de
Formosa – Goiás no ano de 2014. Nesse sentido foi possível levantar o histórico, a estrutura física e
organizacional das instituições. A caracterização está baseada em pesquisa exploratória realizada
pelos acadêmicos do 4º ano do curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade Estadual de
Goiás – Câmpus Formosa, além de dados dos indicadores educacionais de site oficiais. As fontes
utilizadas foram o banco de dados online do instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira, que é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e o
29A identificação e caracterização dos colégios que estão expostos neste artigo foi realizada no ano de 2014
pelos acadêmicos do 4º do curso de licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Goiás – Câmpus
Formosa por meio de visita in loco e organizada pelo mestrando* sob orientação da Professora Drª Francilane
Eulália de Souza.
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Nesse sentido, para um melhor entendimento acerca desse trabalho optamos em organizá-
lo em quatro momentos. Inicia com uma breve caracterização do município de Formosa – Goiás,
em seguida destacamos informações sobre a quantidade de alunos matriculados no ensino médio
no ano de 2014, passando para a caracterização das unidades escolares em três aspectos: histórico,
estrutura física e organizacional e, por fim, as considerações finais.
O município de Formosa/Goiás
Monti (2007) evidencia que a criação de Brasília foi um marco relevante para o crescimento
da cidade de Formosa - Goiás. Novas rodovias foram construídas no município, no qual teve seu
desenvolvimento impulsionado. Atualmente, segundo os dados do Plano Diretor do município de
Formosa (BRASIL, 2003), esta cidade está localizada na latitude 15°32'14"S e longitude
47°20'04"W, com uma altitude média de 918 m. O município de Formosa possui cerca de 108.503
habitantes, de acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de
2013.
Possuindo uma área territorial de 5.811,790 (km²), e uma densidade demográfica de 17,22
(hab/km²). Sua economia é predominantemente voltada ao setor de serviços. O Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) do ano 2010 é de 0,744, considerado de médio
desenvolvimento humano, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano do ano 2013 elaborado
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil (PNUD, 2013).
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Fonte:
Teixeira, 2005.
O colégio se localiza no Centro da cidade de Formosa – GO, na Rua Professora Alta Vidal,
320. Esse estabelecimento de ensino funciona nos três períodos: matutino (Ensino Médio),
vespertino (Ensino Fundamental II) e noturno (Ensino Médio). Conforme observado e exposto no
Projeto Político Pedagógico, o colégio possui 07 salas de aula, 01 biblioteca, 01 sala dos professores,
01 laboratório de informática, 01 cantina, 03 banheiros, 01 sala com data show, além de secretaria e
uma sala da direção, em uma área total de 4.230,56 m².
foi criado pelo Decreto-Lei nº 3.243, de 11 de Novembro de 1960 e inaugurado no dia 23 de março
de 1964. As suas atividades se iniciaram no prédio que passou a ser conhecido como Vietnã,
alcunha dada pelos próprios alunos, com 06 turmas, sendo 03 (três) de 1º série; 01(uma) de 2º; 01
(uma) de 3º e 01 (uma) de º série ginasial. Assim, em 1970, foi construído um anexo, que passou a
ser o prédio principal, composto de seis salas, secretaria, diretoria, sala dos professores e banheiros.
Neste mesmo ano, com a criação do curso técnico de contabilidade, passou o Ginásio Estadual a
denominar-se Colégio Estadual, o que pertence até hoje. Em 1992 foram construídas mais 06 (seis)
salas de aula; 01 (um) laboratório; 02 (dois) banheiros e 01 (uma) cantina. Em 1993 foi construída
uma biblioteca e a cantina foi ampliada. Em 1994 foi construída mais uma sala de aula. Em 2001 o
Colégio passou por uma reforma geral. Foram criados laboratórios de Ciências, de Línguas e de
Informática. Das salas duas foram transformadas em biblioteca, duas em laboratório de informática,
uma em arquivo morto e outra em laboratório de línguas. Em 2002 deixa de atuar com o ensino
fundamental, permanecendo o ensino médio nos três turnos (Projeto Político Pedagógico, 2014). O
colégio localiza-se na Avenida Valeriano de Castro nº 704, Centro da cidade.
No que se refere a sua estrutura física, o colégio possui: 06 salas de aula, 04 banheiros,
sendo 02 para alunos com necessidades especiais; 01 laboratório de informática, 01 sala para os
professores, 01 quadra esportiva descoberta, 01 pátio e 01 biblioteca que funciona nos períodos
matutino e vespertino.
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Possui vários recursos pedagógicos tais como: televisão, retroprojetores, copiadora, DVD,
um datashow, aparelho de som. O atual quadro de funcionários do colégio é composto por 19
professores e 15 funcionários administrativos, isto é, limpeza, secretaria, vigias e merendeiras.
De acordo com a direção a instituição atende aproximadamente 480 alunos. Possui 05 salas
de aula; 01 sala de professores; 01 cantina; 01 laboratório de informática; 02 banheiros; 02
banheiros para alunos especiais; 01 banheiro para professores; 01 quadra de esportes; pátio. No que
se refere aos recursos pedagógicos encontra-se: 01 televisão; 04 copiadoras; 04 datashow; 01
aparelhos de som; 01 retroprojetor; mapas; globos entre outros. Já no que tange ao quadro de
profissionais que atuam na escola são: 37 funcionários entre a gestão, coordenadores, auxiliares de
secretaria; serviços gerais; guardas e professores.
A escola se apresenta com uma boa estrutura física e organizacional. Possuindo 18 salas de
aula; 05 sanitários; 01 direção; 01 secretaria; 01 sala de professores; 01 cantina; 01 biblioteca; 01
laboratório de ciências; 01 sala de informática; 01 laboratório de Matemática; 01 secretaria; 01 sala
para a rádio escola; 01 quadra de esporte; 01 almoxarifado.
O colégio atende segundo a direção 333 alunos, com uma média de 25 a 30 alunos por sala
com a faixa etária de 09 a 25 anos de idade. Funciona em uma casa adaptada temporariamente para
as necessidades dos alunos, pois não possui prédio próprio. Nesse sentido, possui: 05 salas de aula;
01 sala de secretaria/direção; 01 sala de professores/coordenação; 01 pequena cantina; 02
banheiros; 01 bebedouro elétrico. É importante destacar que, o colégio não possui pátio, quadra de
esportes, biblioteca e laboratório de informática.
desde a década de 1990, mas um futuro colégio já está sendo construído em um espaço próprio e
promete ser um colégio modelo no município de Formosa.
Vargas, situada na fazenda Pindaíbas. A mesma foi desativada devido à baixa quantidade de
alunos. Assim, a professora da unidade foi transferida para a fazenda Mandiocal, localizada
distante de sua residência. Passado alguns anos a escola foi transferida mais uma vez, dessa vez
para a fazenda Lagoa Dom Prudêncio, porém ainda continuava muito distante para a professora
e os alunos que moravam em fazendas da região, mas uma vez, a distância foi um fator
preponderante para a redução do número de alunos. Contudo, somente na década de 60 a escola
foi transferida para o Distrito do Bezerra. Em 1962 foi inaugurada a Escola Reunida Professor
Ribeiro, que posteriormente, passou a se chamar Escola Povoado do Bezerra. O prédio tinha
apenas duas salas de aulas e não possuía cantina e diretoria. Atualmente o colégio está localizado
na Rua principal S/N no Distrito do Bezerra no município de Formosa.
Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de
1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996.
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento. Plano
Diretor do Município de Formosa - GO. (2003). 188 p.
Disponívelem:<www.integracao.gov.br/.../download.asp?.../planos_diretores/Plano _Formosa>.
Acesso em: 10 dez. 2014.
GOIÁS. Secretaria de Educação – SEDUC. Sistema de Informações Gerenciais – IGE. Goiânia:
SEDUC – GO, 2014.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANISIO
TEIXEIRA. Indicadores educacionais. Disponível em:
<http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais>. Acesso em: 21 nov. 2014.
MONTI, Estevão Ribeiro. As veredas do grande sertão-Brasília. Ocupação, Urbanização e
Resistência Cultural. Tese de Doutorado Brasília – D.F., maio/2007. 308 p.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD (2013).
Ranking IDHM Municípios 2010. Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDHM-Municipios-2010.aspx>. Acesso em: 13
dez. 2014.
Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
Este estudo objetivou analisar as percepções de acadêmicos de um curso de Licenciatura em
Educação Física de uma universidade pública da região sul do Brasil sobre suas marcas docentes
positivas e negativas. Caracterizamos a pesquisa como qualitativa descritiva do tipo estudo de caso.
O instrumento de pesquisa foi um questionário. A interpretação das informações foi pela análise de
conteúdo. Participaram 20 acadêmicos do 8º semestre do referido curso. Constatamos cinco marcas
positivas e duas negativas. Concluímos que o curso estudado foi gerador de marcas positivas e
negativas, estando relacionadas direta ou indiretamente ao currículo do curso e aos professores
formadores.
Palavras-chave: Educação Física. Formação de Professores. Formação Inicial. Marcas Docentes.
Abstract
This study aimed to analyze the perceptions of academic of a course in Bachelor's Degree in
Physical Education from a public university in southern Brazil about their teaching marks positive
and negative. We characterized the research with qualitative descriptive of type case study. The
instrument of research was a questionnaire. The interpretation of information was by content
analysis. Participated 20 academic in 8th semester of that course. We found five marks positive and
two negative. We conclude that the course studied was generator of marks positive and negative,
being related directly or indirectly to the course curriculum and the teacher educators.
Keywords: Physical Education. Teacher Formation. Initial Formation. Marks Teaching.
Considerações iniciais
Para Sarmento e Fossati (2011), em dias recentes, discussões são pertinentes sobre o ser
professor, enfocando os processos formativos, fazendo-se um recorte no preparo do futuro
professor para a complexidade da docência. Nesse sentido, a escuta e a problematização das
percepções de futuros professores sobre a docência são fundamentais, pois podem apontar
questões importantes para a formação inicial.
Logo, torna-se importante efetuarmos estudos que tratem destas questões, pois, conforme
Krug et al. (2013) deve-se voltar olhares para a formação inicial em Educação Física como campo
de investigação tendo em vista que todos os cursos de Graduação em Educação Física do país
30 Doutor em Educação; Doutor em Ciência do Movimento Humano; Universidade Federal de Santa Maria;
hnkrug@bol.com.br.
2 Mestre em Educação Física; Universidade Federal de Santa Maria; telleshz@yahoo.com.br .
3 Doutorando em Ciências Médicas; Universidade Federal de Santa Catarina; rodkrug@bol.com.br.
4 Doutor em Ciências do Movimento Humano; Universidade do Extremo Sul Catarinense;
victorjulierme@yahoo.com.br.
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sofreram modificações curriculares a partir da criação das Diretrizes Curriculares Nacionais Para o
Curso de Graduação em Educação Física.
Ferri (2010) define como ‘marcas’ aqueles fatos que ficam na memória espontânea e que
trazem somente recordações positivas. Em contraposição, Cavalheiro (2014) afirma que as marcas
também são aquelas que provocam algum tipo de frustração ou desencanto com a formação
vivenciada que, de alguma forma, contribuem para o corte com a docência. Já Cunha (2010) diz que
ao longo do processo formativo entrelaçam-se pontos de encontros e desencontros, fatos que
marcam (positiva ou negativamente) e que se encontram na subjetividade das pessoas.
Procedimentos metodológicos
Esta investigação caracterizou-se por ser uma pesquisa qualitativa descritiva na forma de
estudo de caso. Para Triviños (1987) a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de informações
descritivas sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto dos pesquisadores com
a situação estudada procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos
participantes da situação de estudo. Conforme Gil (1999) o estudo de caso se fundamenta na ideia
de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da
generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma pesquisa posterior,
mais precisa.
Resultados e discussões
Nesta categoria de análise, achamos importante mencionar Luft (2000) que coloca que
positivo é algo que tende a auxiliar para a melhoria de alguma coisa. Assim, para este estudo,
consideramos positiva a marca docente apontada pelos acadêmicos estudados que tenderam para
auxiliar em uma melhoria do desempenho docente na Educação Física Escolar durante o curso de
Licenciatura em Educação Física. Nesse sentido, emergiram ‘cinco unidades de significados’ descritas na
seqüência a seguir.
A quarta unidade de significado manifestada foi ‘o convívio com bons professores formadores’ (cinco
citações). Relativamente a essa unidade nos reportamos a Souza; Tabanez e Silva (1998) que dizem
que durante sua formação os alunos se deparam com diversos modelos de ‘bons professores’. E,
nesse sentido, Pereira e Garcia (1996) afirmam que o conceito de ‘bom professor’, além de associar-
se à categoria de professor, deve estar ligado a uma situação histórica dada, com implicações
sociológicas, culturais e políticas, manifestadas na sua forma de ser, como pessoa e como
profissional. O conceito de ‘bom’, também como categoria filosófica, é motivo de estudo desde o
tempo dos sofistas gregos. O ‘bom’ está interrelacionado com o ‘bem’ e incorre em valor. O
conceito de ‘bom’ também possui diversos viézes, ligados da Psicologia à Sociologia, mas para o
senso comum, no qual se apóiam os valores dos alunos, o ‘bom’ corresponde ao correto, ao
eficiente, à satisfação, ao apropriado. Assim, a qualidade de ‘ser bom’, implica numa série de fatores
que estão ligados à competência, à proficiência, à habilidade, etc. Aquele que é considerado ‘bom’,
relaciona-se à sua capacidade docente, com natureza e função educativa. Ser bom relaciona-se à
questão de negar o mau, o deficiente, o incompetente, etc.
Ao fazermos uma análise geral sobre a percepção dos acadêmicos estudados constatamos
que a quase totalidade (quatro do total de cinco) das marcas docentes positivas estão diretamente
(uma) ou indiretamente (três) ‘ligadas ao currículo do curso’. ‘A participação nos Estágios Curriculares
Supervisionados’ (dezessete citações) foi a marca docente positiva diretamente ligada ao currículo do
curso, pois o estágio é uma das principais disciplinas obrigatórias do mesmo. As marcas
indiretamente ligadas ao currículo do curso, pois estas são atividades extracurriculares, não
obrigatórias, mas complementares, foram: ‘a participação em grupos de estudos e pesquisas’ (dez citações);
‘a participação em projetos de pesquisa, ensino e extensão’ (sete citações); e, ‘a participação em cursos de
atualização profissional’ (duas citações). Constatamos ainda que apenas uma (do total de cinco) marca
docente positiva foi ‘ligada aos professores formadores’, sendo ‘o convívio com bons professores formadores’ (cinco
citações). Vale ainda destacar que as cinco marcas docentes positivas tiveram no total quarenta e uma
citações, sendo trinta e seis ‘ligadas diretamente (dezessete) e/ou indiretamente (dezenove) ao currículo do curso’ e
somente cinco ‘ligadas aos professores formadores’. E, a partir destas constatações inferimos que o
currículo do curso e os seus professores formadores são um importante componente para uma
formação de qualidade, pois podem proporcionar marcas docentes positivas nos futuros
professores. Nesse sentido, citamos Krug et al. (2013) que apontam para uma compreensão mais
ampla de currículo, que ultrapasse a grade curricular, os seus conteúdos e as suas atividades de
ensino, sendo todo o complexo conjunto que envolve a dinâmica educativa, podendo ser
obrigatória ou não para a habilitação profissional.
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Nesta categoria de análise, achamos necessário citar Luft (2000) que diz que negativo é algo
que contém ou exprime recusa, é contraproducente. Assim, para este estudo, consideramos negativa
a marca docente apontada pelos acadêmicos estudados que tendeu para tornar contraproducente o
desempenho docente na Educação Física Escolar durante o curso de Licenciatura em Educação
Física. Nesse sentido, emergiram ‘duas unidades de significados’, as quais foram elencadas a seguir.
‘O convívio com maus professores formadores’ (dezesseis citações) foi a primeira unidade de
significado ressaltada. Sobre essa unidade mencionamos Odorcick et al. (2001), que dizem que é
difícil fracionar a imagem do ‘mau professor’, pois, na visão dos alunos, vários aspectos se
entrelaçam, mas em seu estudo os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (universidade
pública) apontaram como principais características o ‘desinteresse’, a ‘didática ruim’, a
‘irresponsabilidade’ e a ‘arrogância’. Já Krug et al. (2013) no estudo intitulado “Avaliando a
formação inicial: a percepção de acadêmicos de um curso de Licenciatura em Educação Física”
constataram que os maus professores formadores foi o principal aspecto negativo do mesmo.
A segunda e última unidade de significado ressaltada foi ‘a pouca relação entre teoria e prática nas
disciplinas do curso’ (seis citações). Em se tratando dessa unidade citamos Shigunov; Dornelles e
Nascimento (2002) que destacam que o relacionamento entre teoria e prática se constitui em um
problema básico na formação de professores. De acordo com Pimenta e Lima (2004), este
problema é um desafio que somente poderá se dissipar com o entendimento de que todas as
disciplinas são “teóricas” e também “práticas”, diferente do que geralmente é visto quando o
estágio é entendido como a parte prática e as demais disciplinas como a teórica, pois todas as
disciplinas devem contribuir para a finalidade de formar professores a partir da análise, da crítica e
da proposição de novas maneiras de fazer educação. A pouca relação entre teoria e prática também
foi um dos aspectos negativos na avaliação da formação inicial na percepção de acadêmicos de
Educação Física em estudo realizado por Krug et al. (2013).
Ao efetuarmos uma análise geral sobre a percepção dos acadêmicos estudados constatamos
que a metade (uma de duas) das marcas docentes negativas foi ‘ligada aos professores formadores’, sendo ‘o
convívio com maus professores formadores’ (dezesseis citações). A outra metade (uma de duas) das marcas
docentes negativas foi ‘ligada ao currículo do curso’, sendo ‘a falta de relação entre teoria e prática’ (seis
citações). Vale destacar que as duas marcas docentes negativas tiveram no total vinte e duas citações.
E, a partir destas constatações inferimos que o currículo do curso e os seus professores formadores
podem ser importante componente para uma deficiente formação profissional, pois podem
proporcionar marcas docentes negativas nos futuros profissionais. Nesse sentido, mencionamos
Leone e Leite (2011) os quais salientam que é preciso atender suficiente e explicitamente a
formação inicial para que esta possa preparar adequadamente o futuro professor para o seu ingresso
no trabalho docente.
Considerações transitórias
Pela análise das informações obtidas temos a destacar o seguinte: a) Quanto às marcas
docentes positivas constatamos que os acadêmicos estudados apontaram ‘cinco unidades de significados’:
1) ‘A participação nos Estágios Curriculares Supervisionados’; 2) ‘A participação em grupos de estudos e pesquisas’;
3) ‘A participação em projetos de pesquisa, ensino e extensão’; 4) ‘O convívio com bons professores formadores’; e, 5)
‘A participação em cursos de atualização profissional’. Esse rol de marcas docentes positivas aponta para:
1º) Quatro marcas (1; 2; 3 e 5) que possuíram ‘ligação direta e/ou indiretamente com o currículo do curso’; e,
2º) Uma marca (4) que teve ‘ligação com os professores formadores’; e, b) Quanto às marcas docentes
negativas constatamos que os acadêmicos estudados apontaram ‘duas unidades de significados’: 1) ‘O
convívio com maus professores formadores’; e, 2) ‘A pouca relação entre teoria e prática nas disciplinas do curso’.
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Esse rol de marcas docentes negativas aponta para: 1º) Uma marca (1) que teve possuíram ‘ligação
com os professores formadores’; e, 2º) Uma marca (2) que teve ‘ligação direta e/ou indiretamente com o currículo
do curso’.
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Enviado em 30/04/2015
Avaliado em 15/06/2015
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Resumo
Apresentamos algumas reflexões sobre as diferenças entre ensino de gramática e análise linguística.
Tomamos como ponto de partida as diferentes concepções de língua consideradas por ambas.
Fizemos uma pesquisa bibliográfica, mobilizando alguns teóricos da Linguística Textual que
entendem o texto como forte aliado para um ensino ressignificador das habilidades de leitura,
interpretação e produção de textos. Os autores que utilizamos reconhecem os avanços que a escola
básica tem apresentado no ensino de língua materna, mas acreditam que é preciso avançar mais.
Um ensino voltado à prática de análise linguística pode ser uma pertinente possibilidade para um
ensino mais reflexivo.
Palavras-Chaves: Gramática; Análise Linguística; Língua.
Resumen: Presentamos algunas reflexiones sobre las diferencias entre enseñanza de la gramática y
el análisis lingüística. Tomamos como punto de partida una de las diferentes concepciones de la
lengua considerada por ambos. Hicimos una búsqueda en la literatura, la movilización de algunos
teóricos del Lingüística Textual que entienden el texto como fuerte aliado para una enseñanza
ressignificadora de las habilidades de lectura , interpretación y producción de textos. Los autores
reconocen los avances que la escuela básica ha presentado la enseñanza en lengua materna, pero
creen que hay que ir más allá. Una educación orientada a la práctica de análisis lingüística puede ser
una posibilidad relevante para una enseñanza más reflexiva .
Palabras clave: Gramática ; Análisis Lingüística; Lengua.
Introdução
Não é de agora que as discussões sobre a língua se fazem mais vívidas não só no aspecto
escolar, mas também (e principalmente) quando se entende a linguagem como ferramenta de
interação social, ou seja, é na escola que os falantes teorizam e problematizam o uso da língua já
presente em outros contextos de uso.
Seguindo uma análise mais voltada para o campo linguístico, este trabalho embasa-se por
meio das leituras de autores que discutem a importância da análise linguística na rotina escolar ao
sugerir práticas de ensino com a mesma. Nessa linha de estudos, temos Antunes (2003; 2007) e
34 Graduanda em Licenciatura em Letras (Língua Portuguesa) pela Universidade Federal do Tocantins (UFT),
campus universitário de Araguaína.
35 Doutorando em Ensino de Língua e Literatura (Estudos Linguísticos) pela Universidade Federal do
Silva (2009; 2011; 2012). Assim, adentramos num espaço que passa por um período de
aprimoramento diante das complexidades vivenciadas ainda na escola.
Acreditamos que estes estudos promovam uma discussão mais ampla dentro do cenário
educacional e que possibilitem também uma compreensão crítica e reflexiva sobre o ensino de
língua. É a partir daqui que surgirão novos norteamentos para que essas práticas em sala de aula,
especialmente nas aulas de língua materna, possam promover ressignificações nas esferas de leitura,
interpretação e produção de textos.
Além dessa Introdução, das Considerações Finais e das Referências, esse artigo é constituído pelas
seguintes seções: O Ensino de Gramática na Escola; Língua e Ensino: Desdobramentos na Sala de Aula e O
ensino e a aprendizagem a partir da análise linguística.
Neste caso, é interessante observar que esta realidade, muito presente no contexto da
educação básica, corresponde a uma série de implicaturas na atual conjuntura do ensino escolar,
pautada no “domínio do normativo, no qual define o certo, o como deve ser da língua e, por
oposição, aponta o errado, o como não dever ser dito” (ANTUNES, 2007, p. 30).
Ensinar gramática, nessa concepção, é ensinar língua, que, por sinal, é ensinar norma
culta, o que significa ensinar a desprezar outras variedades – não só por ignorá-las, mas
por considerá-las inferiores. A gramática aí tem um caráter prescritivo e discriminatório:
para a gramática normativa, é errado todo uso da linguagem que esteja fora dos padrões
linguísticos estabelecidos como ideais. (MENDONÇA, 2009, p. 233).
Claro que há ressalvas que permitem uma discussão mais próxima do estudo da língua
com a complexidade do processo pedagógico, de maneira a oferecer resultados mais significativos,
exigidos pela realidade em que nos encontramos. Além disso, “parece, portanto, não faltar ao
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professor o respaldo das instâncias superiores, que assumiram o discurso de novas concepções
teóricas, de onde podem emergir novos programas e novas práticas” (ANTUNES, 2003, p. 23).
É neste tocante que Silva (2011) embasa seus estudos por meio da análise dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), questionando a perspectiva da gramática no processo de ensino e
aprendizagem de língua materna. Neste sentido, Silva diz que “atualmente no Brasil; ao abrirmos
qualquer livro ou diretriz curricular, com propostas ou sugestões sobre ensino de língua materna,
observamos um discurso de oposição a uma prática pedagógica tradicional” (SILVA, 2009, p. 143).
Em suma, concordamos com Mendonça (2009) no sentido de que não podemos ignorar o
esforço que a escola básica tem apresentado a respeito do ensino de gramática nas aulas de língua
materna. Mesmo prevalecendo ainda um ensino gramatical voltado às nomenclaturas sem muita
articulação com o sentido do texto, felizmente as aulas de Língua Portuguesa têm apresentado
indícios de que tais normatizações tendem a mudar, rompendo com os paradigmas que até então
estimulavam certos preconceitos dentro e fora da sala de aula.
a língua flui; e ninguém pode deter o seu curso. Isso significa, contudo, que esse curso
desça à deriva, sem que nada possa controlar seu fluxo. Já vimos que a própria condição
das línguas, de serem marca da identidade cultural de grupos, funciona como força
estabilizadora que regula e controla as variações (ANTUNES, 2007, p. 75).
Outro fator determinante nesse conceito é que as “línguas têm, em seu comando, pessoas,
seres atuantes, ativos, capazes de administrar entre possíveis opções, aquela que mais se ajusta à
situação” (ANTUNES, 2003, p. 77). Neste caso, a preocupação dos estudos linguísticos não se
centra apenas na criticidade relacionada à língua. Na verdade, foi através das instituições de nível
superior, que as teorias linguísticas formam submetidas a um processo de revisão e reformulação
dentro do ensino de língua nas escolas de nível fundamental e médio, descritos por Bagno (2002)
nas seguintes circunstâncias:
Neste quesito, os estudos linguísticos ainda não adentraram de fato no espaço escolar. Por
isso, a teoria não deve ser também entendida como um tipo de conhecimento que abrange um
todo, isto é, a teoria torna-se permissível a mudanças e a contextualizações específicas.
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Não é por acaso que as pesquisas no campo dos estudos linguísticos são cada vez mais
fomentadas nas esferas acadêmico-científicas e implementadas nas práticas pedagógicas das aulas de
ensino de língua, por exemplo. Nesse sentido, Silva e Fajardo (2012) argumentam que:
A grande questão, hoje em relação ao ensino da língua materna na escola, que a cada dia
vira tema de pesquisa de mais teóricos, concentra-se, acreditamos, em possibilitar ao
aluno o desenvolvimento de sua capacidade de análise e de reflexão crítica sobre os
fenômenos linguísticos, em formar cidadãos capazes de se exprimir oralmente e por
escrito. Entretanto, acreditamos que, para alcançar esses ideais no ensino básico,
precisa-se analisar também a formação inicial do professor (SILVA e FAJARDO, 2012,
p. 224).
De fato, muitos professores que estão em atividade tiveram uma formação anterior a tais
questionamentos das pesquisas linguísticas mais contemporâneas. Tais profissionais tendem a
adotar, principalmente, uma concepção de língua como fenômeno homogêneo, estruturada por
uma gramática já formalizada.
O professor precisa estar ciente de que mesmo sob as condições obsoletas do sistema
educacional, o profissional da educação ainda pode, e deve, contribuir de maneira significativa na
formação de um aluno letrado, cada vez mais consciente de seu papel social, agindo em
consonância com as singularidades de cada ambiente escolar. Para isso, é necessário que a escola
entenda a língua como instrumento de interação social, capaz de mediar relações humanas e, por
meio de sua gramática, estabelecer diversas relações de sentido. Nesse sentido, temos a postura
adotada pelas orientações nacionais diante da mudança no cenário educacional:
A questão não é de falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar,
considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o
registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o
que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa. É
saber, portanto, quais variedades e registros de língua oral são pertinentes em função da
intenção comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A
questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou
seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o
efeito pretendido (BRASIL, 1997, p.26).
Mesmo diante das adversidades cotidianas, o professor deve buscar mecanismo para tentar
desenvolver um ensino que procure valorizar questões ligadas às práticas de letramento dos alunos,
aprimorando suas habilidades cognitivas por meio do uso de diferentes textos em sala de aula.
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Estamos nos referindo a um ensino galgado na análise linguística. Temos consciência de que se trata
ainda de um grande desafio para o professor, mas como dissemos na seção anterior, a língua é uma
ferramenta de ineração, por isso está em constante transformação. A escola, por sua vez, deve se
mostrar aberta às mudanças e ao diálogo com novas possibilidades pedagógicas. Neste caso:
o desafio está em saber como realizar uma análise linguística pertinente para a formação
de um falante mais competente. Dizer que esta análise se destina à formação de um
falante competente já representa uma opção que norteará a proposta a ser feita, pois
estamos considerando pertinente a formação de um usuário competente da língua e não
a formação de um analista competente da língua (TRAVAGLIA, 2010, p. 01).
De fato, é uma preocupação que acoberta a teorização no campo prático, isto é, a tentativa
de absorver a teoria deve promover efeitos satisfatórios na prática pedagógica, ressignificando as
modalidades escrita e oral da língua. Entendemos que uma postura docente, galgada na análise
linguística, envolve também as particularidades pragmáticas e discursivas em que os alunos estão
inseridos, sendo, portanto, um incansável trabalho de readaptação metodológica e de análise textual.
Considerações finais
Referências
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