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APOSTILA DE ROTEIRO
PARA INICIANTES
Cinema
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Enedi Chagas
Março / 2008
Enedi Chagas 1
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Introdução
Alguns livros sobre roteiros são muito bons e instrutivos, mas a ansiedade natural e a
pressa de ao menos começarmos a escrever, nos faz pular algumas páginas ou até
mesmo, não darmos a devida importância à informação que elas contêm. Pois bem,
pensando nisso, resolvi resumir e reescrever bem objetivamente toda a informação
que recolhi até hoje e transformá-la nesta apostila com exercícios práticos e exemplos
de produções brasileiras e americanas já produzidas.
Syd Field, famoso roteirista americano, define o roteiro como uma história contada em
imagens diálogos e descrição, dentro do contexto de uma estrutura dramática. O
roteiro em si é semelhante à obra literária pelos códigos utilizados para manipular a
fantasia na narração, mas ao mesmo tempo, torna-se distinto a medida que se
desenvolve pois o roteirista está muito mais próximo da imagem sem si do que o
escritor. O roteiro é o princípio de um processo visual.
Um bom roteiro fica evidente desde a primeira página. O estilo, a forma com que as
palavras são escritas, o jeito que a história é estabelecida, o controle da situação.
Quando terminar seu roteiro e enviá-lo á uma produtora ou um diretor eles não vão ler
todas a páginas pra saber se é bom ou não. Se forem ler todos os projetos que
chegam as suas mãos todos os dias, não teriam tempo para produzir. A maioria dos
profissionais do ramo tiram suas conclusões nas primeiras 30 páginas do roteiro, assim
como você gosta ou não de um filme nos primeiro 30 minutos de exibição.
Você tem 30 páginas para apresentar sua história e as primeiras 10 são cruciais.
Nestas primeiras 10 páginas você tem de estabelecer 3 coisas para quem vai ler seu
roteiro.
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Story Line
Este é o termo usado para designar, com o mínimo de palavras, o conflito central da
história. É a história que pretende contar resumida em, no máximo, 6 linhas. Um breve
relato que define o ponto principal do desenvolvimento do roteiro. Veja abaixo, o
exemplo do filme "Esqueceram de Mim".
- Esqueceram de Mim é uma comédia para a família sobre um garoto de 8 anos
de idade que, acidentalmente, é deixado sozinho em casa por sua família
durante o feriado de Natal, e que precisa defender sua casa de dois
atrapalhados e persistentes bandidos.
Um relato simples que descreve todo o filme. Ele evidencia o protagonista, o local, a
época, o conflito central e os antagonistas. É a sua ferramenta para se, por acaso,
durante o desenvolvimento do roteiro, você se desviar da história que pretendia contar
que, apesar de ser um texto curto, ele deve possuir três pontos:
1 - Apresentação
2 - Desenvolvimento
3 - Solução
Escrever uma story line é uma tarefa muito simples e qualquer pessoa é capaz de
fazê-lo até mesmo sem perceber. Pense da seguinte maneira. Na saída de um cinema
alguém pára e lhe pergunta o que você viu no filme. Você vai descrever a história em
poucas palavras sem adjetivos. Lembre-se que a pergunta original foi “O que você VIU
no filme” e não se você gostou. Aí está a sua story line. Só que no caso da preparação
do roteiro, você vai contar em poucas linhas, uma história que ainda não existe. Você
ainda não a viu por inteiro.
O exemplo abaixo foi retirado do livro “Da Criação ao Roteiro” de Doc Comparato. É
um bom exemplo para termos uma visão de como a Idéia se torna uma Story Line.
1º. A Idéia – “Fui ao enterro de meu amigo. Três dias depois ele passeava pelas ruas
de Nova York”.
Story Line – “Jack vai ao enterro de seu amigo em Viena. Não se resigna, investiga e
acaba descobrindo que ele está vivo e encenou seu próprio enterro porque era
procurado pela policia. Descoberto por sua curiosidade, o amigo acaba morto”
Esta é a story line que deu origem ao roteiro e posteriormente ao filme “O Terceiro
Homem” baseado no livro do escritor britânico Graham Greene.
Exercício:
Pegue o artigo da idéia que escolheu e, com a ajuda do material que pesquisou, crie
uma story line contando em até 6 linhas, a base da história para um futuro roteiro.
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Sinopse
Não pretendo me aprofundar muito nas tele-novelas, mas através delas temos bons
exemplos de sinopses como o da novela Celebridade, exibida em 221 capítulos pela
Rede Globo no período de 13 de outubro de 2003 a 26 de junho de 2004. Uma novela
de Gilberto Braga escrita em conjunto com Eleonor Bassères, Sergio Marques, Márcia
Prates, Maria Helena Nascimento, Denise Bandeira, Ângela Chaves e Marília Garcia.
“Em 1988, a beleza da jovem Maria Clara Diniz inspirou seu namorado, o compositor
Wagner Lopes, a compor uma canção para ela, "Musa do Verão", que veio a ser um
grande sucesso, estourando no país e no mundo inteiro, com o título internacional de
"Summer Spell". Maria Clara, a musa inspiradora, tornou-se a modelo exlusiva da
marca "Summer Spell", negociada com o sucesso da música. Com sua imagem
espalhada em outdoors, comerciais de TV e anúncios de revista, de uma hora para
outra sua figura se tornou conhecidíssima. No dia do casamento de Wagner e Maria
Clara acontece uma tragédia. Ubaldo Quintela, um conhecido boêmio carioca, invade a
cerimônia disposto a exigir que Wagner Lopes confessasse publicamente que havia lhe
roubado a canção. Tresloucado, afirmava que a música que transformara Maria Clara
em celebridade era de sua autoria. Ubaldo ameaça Wagner com uma arma e, fora de
si, acaba atirando, matando o compositor. O desfecho trágico do noivado de Maria
Clara, ao invés de encerrar sua carreira, marcou o início de uma trajetória de sucesso,
meteórica, não como modelo, mas como empresária. Resolveu apostar na sua
sensibilidade em identificar talentos, especialmente os da área musical, e passou a
agenciar estrelas e a produzir shows. Em pouco tempo já era uma empresária
respeitada sem, entretanto, abandonar os dividendos que o licenciamento dos
produtos Summer Spell lhe trazia. O maior patrocinador dos shows que Maria Clara
produz é o empresário Lineu Vasconcelos, com quem ela mantem uma relação
fraternal, quase de filha para pai. Lineu é dono do Grupo Vasconcelos, um império de
comunicação com inúmeras empresas, jornais, revistas, emissoras de rádio e TV. Uma
das revistas de maior tiragem do grupo é a Fama, dirigida por um homem com
talentos de sobra e escrúpulos de menos, Renato Mendes, sobrinho de Lineu, que vive
batendo de frente com Maria Clara.
Lineu está apreensivo, pois sua única filha, Beatriz, está de volta ao Brasil com o
marido, o premiado cineasta Fernando Amorim, seu desafeto. Esse retorno mexe em
feridas do passado e vai desestabilizar ainda mais esse casamento, calcado numa
relação estável demais para Fernando, e numa paixão doentia para Beatriz. E nada
mais poderá segurar essa relação quando Maria Clara e Fernando se conhecerem -
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para desespero da mulher dele, uma mulher mimada e insegura que vê em seu marido
sua única razão para viver.
Beatriz lutará com todas suas armas para impedir o amor que nasce entre Fernando e
Maria Clara. Mas ela não será o único obstáculo na vida de Maria Clara Diniz. Sua
imagem pública suscita os sentimentos mais variados. Alguns desenvolvem paixões
irrefreáveis com as celebridades, com seus ídolos; outros mantém uma relação
patológica com elas. Maria Clara é um paradigma, um mito para Laura Prudente da
Costa, que surge do nada disposta a se espelhar na empresária. Quer ser como ela,
mas não seguindo a risca seus passos. Para atingir seu objetivo, está disposta a trilhar
caminhos mais escusos e menos sacrificantes. Com a cumplicidade de seu comparsa,
Marcos, Laura traça um plano maquiavélico para se aproximar da empresária e obtém
sucesso na empreitada. Usando de falsidade e perfídia, passa a conviver na intimidade
de Maria Clara. Aos poucos Laura vai armando mil intrigas, se apoderando de segredos
importantes. Usando de frieza associada ao seu talento nato para o crime, Laura vai
traçando seu plano de derrubar Maria Clara e tomar seu lugar no show business.”
Quem assistiu à novela percebe que a sinopse acima resume a premissa dramática de
toda a história e o conteúdo dos primeiros acontecimentos da trama. Em uma tele
novela nem sempre as sinopses são acompanhadas a risca, pois, dependendo da
aceitação dos telespectadores, os capítulos previamente elaborados podem sofrer
alterações como a morte de um personagem, ou o reaparecimento de um
supostamente falecido, coisas desse tipo.
Uma boa maneira de saber se sua sinopse está bem escrita é se ela responde as
questões como estas:
Qualquer pergunta do tipo “estraga prazeres” será boa para se comprovar a solidez da
sinopse, descobrir seus pontos fracos ou situações que possam ser melhoradas. Este
não é exatamente o ponto ideal para ter estilo e embora deva ser atraente e sugestiva,
sua qualidade mais forte deverá ser a solidez, porque é sobre a sinopse que se apóia o
passo seguinte.
Exercício:
Utilizando como exemplo a sinopse da novela “Celebridade” acima, escreva a sinopse,
da sua story line com pelo menos 15 linhas.
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Personagem
O filme é um meio visual. Você deve encontrar palavras e situações adequadas para
revelar os conflitos do seu personagem visualmente. Você não poderá revelar o que
não conhece. Daí a distinção entre conhecer o seu personagem e revelá-lo o papel.
Para fazer de seu personagem pessoas reais na tela, classifique a vida o personagem
sob três aspectos báciso: Profissional, Pessoal e Privado.
Profissional Determine o que faz pra viver, onde trabalha, qual a função, com quem
trabalha, se gosta ou não gosta do que faz etc.
Pessoal Solteiro, casa, viúvo, separado, com quem vive ou se relaciona, como é
o relacionamento, social ou isolado etc.
Privado O que faz quando está sozinho, do que gosta, do que não gosta, tem
algum habito, animal de estimação etc.
Quando tiver dúvida sobre seu personagem, recorra a você mesmo e se pergunte o
que faria em determinada situação.
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Sua personagem está montada e, dependendo da história que pretenda contar, não
necessita de mais informações.
Sabemos que Ana Bergan é uma mulher de 20 e poucos anos, estudante de direito,
filha única do casal Joana e Antônio Bergan, um empresário bem sucedido de Minas
Gerais. Teve uma infância solitária e pela relação tensa, apesar da dependência
financeira que mantém com os seus pais, tornou-se rebelde à vista da família.
Partindo deste ponto, precisaríamos agora, determinar o que acontece com esta
personagem, seus conflitos e suas necessidades para podermos começar o roteiro.
Desenvolver qual será a história a ser contada e qual será a sua premissa dramática.
Quando começar a elaborar seus personagens, não dedique tempo demais com
informações desnecessárias. No caso da personagem acima, Ana Bergan por exemplo,
se formos escrever um roteiro sobre o porque da relação tensa com sua família não vai
ter importância se ela é branca ou negra, feia ou bonita, magra ou gorda, baixa ou
alta. Preserve apenas informações relevantes para a criação de seu personagem.
Exercícios:
Para a construção de personagens, um bom exercício e alugar alguns filmes, de
preferência com o mesmo ator, e tentar identificar quais são seus conflitos, valores,
sentimentos e como será mudado no final ou se será mudado.
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Estrutura
Neste ponto você já deve saber sobre o que vai ser seu roteiro, já tem sua sinopse, já
conhece seu personagem principal sua vida e seu conflito central e como você
pretende descrever estas situações. A partir de agora sua preocupação é como colocar
em palavras, e de forma ordenada, todo o redemoinho de eventos que estão em sua
cabeça. Lembre-se que o mais difícil é saber o que escrever.
O formato padrão cinematográfico utilizado é o mesmo, tanto no Brasil como qualquer
outro lugar do mundo. Por isso, se você pretende registrar seus roteiros fora do Brasil,
preocupe-se apenas em desenvolvê-lo o mais profissional possível e ter o cuidado de
enviá-lo a um profissional para traduzi-lo ou corrigir a sua tradução.
Formatação Papel Modelo Carta (27,94 x 21,59cm, branco e de boa qualidade)
Fonte Courier ou Courier News tamanho 12
Margens Superior 2,5cm
Inferior 3,0cm
Esquerda 3,5cm
Direita 3,5cm
Nomes Esquerda 9,0cm
Informação ao ator Esquerda 7,5cm
Diálogos Esquerda 6,5 e direita 7,5
Impressão Cor preta
Páginas Numeradas, cabeçalho a direita ex: 2. 3.
Apresentação Encadernação de dois furos
Tente não ser muito longo ou repetitivo incluindo muitos flash backs. Uma boa base
para saber quanto tempo de filme seu roteiro vai produzir é o número de páginas.
Cada página representa aproximadamente 1 minuto de filme. Se você pretende
escrever um longa metragem, por exemplo, 120 páginas são aproximadamente 2
horas de filme.
Lembre-se de nunca utilizar palavras em itálico. Somente o título na capa do roteiro
poderá ser em negrito e centralizado, todo o restante do texto será escrito simples, em
caixa baixa e com margem a esquerda.
Capa - Dê 8 enters e na oitava linha escreva o titulo do seu roteiro entra aspas e em
maiúscula. Pule uma linha e escreva "de", pule outra linha e escreva seu nome. No fim
da pagina, a direita escreva seu endereço, telefone e e-mail. Pule uma linha e escreva
a sigla do órgão que registrou seu roteiro e o número do registro.
Última página - Após a última linha escrita, pule duas linha e escreva a direita FADE
OUT. Pule mais duas linha e escreva centralizado na tela FIM.
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( Modelo: Capa )
“BELTRANO É O TAL”
de
Fulano de Souza
R. Reta, 38
Lugar Nenhum – RJ
Brasil - cep 22000-000
Fone: (21) 2345-6789
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copyright©Fulano de Souza
Todos os direitos reservados fulanodesouza@bom.com
(Modelo: Primeira Página)
“BELTRANO É O TAL”
FADE IN:
BELTRANO
Alo.
HOMEM (V.O.)
(brincalhão)
Beltrano, meu camarada!
Xxx
Xxx
Xxx
Xxx
Xxx
Xxx
FADE OUT.
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FIM
Desenvolvimento
Não enumere suas cenas. Essa numeração será de acordo com a produção.
Em todo cabeçalho deve constar se a cena será interna (INT.) ou externa (EXT.), o
local onde ela se passa e se é dia ou noite. Todas as vezes que precisar mudar de
lugar ou de tempo, muda-se o cabeçalho. Após escrever o cabeçalho, pule uma linha e
descreva a cena. Existem também algumas variações como: Continua, Momentos
Depois e Mais Tarde.
Toda história seja ela qual for, tem princípio, meio e fim. Se você já conhece o
personagem e qual será o seu fim, você já tem boa parte do roteiro resolvido em sua
cabeça. O ponto que determina o acontecimento marcante para a mudança do
principio para o meio e do meio para o fim é chamado de ponto de virada. Confira o
gráfico abaixo.
O ponto de virada 1, não é uma regra, mas em um longa metragem de
aproximadamente 120 minutos, geralmente, ocorre em torno de 20 minutos de filme e
é o gancho quando algo acontece que muda a direção da situação. É a apresentação
do problema, a questão que será resolvida no fim. O ponto de virada 2, também não é
regra mas ocorre próximo aos 80 minutos de filme e, na maioria das vezes é o evento
que leva a solução da questão.
Algumas palavras no roteiro costumam serem escritas em maiúscula como o
personagem que vai falar, a primeira vez que o personagem aparece no roteiro ou a
primeira vez que aparece na cena, objetos importantes e também sons que vão
precisar ser criados artificialmente como o toque de um telefone, uma janela que se
quebra etc.
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- Para diálogos:
Exemplo:
MARIA (V.O.)
Será que ele ainda vai me procurar?
(O.S.) - Off Screen é quanto o personagem fala, mas não está visível na cena.
Exemplo:
JOÃO (O.S.)
Maria!
Exemplo:
MARIA
Pensei que não ia mais vir aqui.
MARIA (CONT.)
Estava preocupada.
O “CONTINUA” também pode ser usado quando uma cena se encaixa em outra, dando
seqüência ao acontecimento.
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Exemplo:
- Para cenas:
CORTA PARA: - É utilizada para cortar a cena para uma outra e escrita com margem
a direita.
Exemplo:
CORTA PARA:
MATCH CUT: - É utilizada para cortar lentamente de uma cena para outra. Como por
exemplo, se o personagem está no mesmo local da cena, mas com anos mais velho.
Exemplo:
MATCH CUT:
JOÃO
Eu te amo.
POV - Point of View é quando vemos o que o personagem está vendo pelo mesmo
ponto de vista. Use POV, descreva a cena que quer demonstrar e encerre a instrução
pulando uma linha e escrevendo VOLTA Á CENA.
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Exemplo:
POV MARIA
VOLTA A CENA
INSERT - É quando você quer enfatizar algum detalhe na cena. O segundo antes da
bomba explodir, a última gota d´águas etc.
Exemplo:
INSERT
VOLTA A CENA
Só dê instruções de posicionamento e tomadas de câmera quando estritamente
necessário. Lembre-se que quem vai dirigir o filme, já leu seu roteiro e já tem a idéia
montada em sua cabeça e nem sempre, o que você escreveu é a melhor forma de
mostrar a cena.
Segue abaixo, um exemplo excelente dado pelo professor e roteirista Hugo Moss onde
as instruções de câmera foram necessárias.
Um alpinista está escalando uma montanha com muita dificuldade. Ele olha
para baixo, limpa o suor da testa, poe um grampo na pedra. Toda a cena é
dada a instrução em CLOSE UP e CLOSE SHOTS até o final quando... o ANGULO
ABRE PARA REVELAR que a "montanha" é uma pequena rocha no meio do
Central Park em Nova York, com crianças brincando por perto, casais
passeando, num belo domingo de verão.
Neste caso, se não houvesse as instruções de câmera, o humor da cena seria perdido.
Exercícios:
Antes de começar a escrever seu roteiro, escolha dois filmes que goste, baixe os
roteiros e leia-os por completo. Após fazer isso, assista aos filmes e compare, cena por
cena, a construção do roteiro.
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FLASH BACK - Volta ao passado.
FUSÃO - Duas cenas que se fundem em uma só.
FREEZE - Congelar a cena.
SLOW MOTION - Imagem lenta.
QUICK MOTION - Imagem rápida.
KHROMA KEY - Fundo azul, muito utilizado em ficção.
ZOOM – Aproximação ou afastamento.
ZOOM IN - Entrando dentro de...
DOLLY BACK – Grua de afastamento. A Câmera se afasta de determinado objeto.
DOLLY IN – Grua de aproximação. A Câmera de aproxima do objeto.
DOLLY OUT – A Câmera retrocede e abandona o objeto.
DOLLY SHOT – Mais utilizado para movimentos verticais.
PROCESS SHOT - Cena filmada em movimento atrás dos atores.
LONG SHOT - Plano aberto revelando todo o cenário.
PLANO MÉDIO - Linha da cintura pra cima.
CLOSE UP - Plano fechado em um ponto, geralmente no rosto.
CLOSE SHOTS - Plano fechado, geralmente na linha dos ombros pra cima.
DESFOCAR – A câmera altera o objeto focado.
ELIPSE – Passagem muito rápida de tempo.
ESFUMAR – Imagem dissolve-se na cor branca ou funde-se com outra.
FLASH FORWARD – Cena que revela parcialmente alguma coisa de vai acontecer.
HALO DESFOCADO – A câmera desfoca em volta de um objeto enquanto este se
mantém focado.
PROCESS SHOT – Maneira de simular movimento. Uma cena pré filmada projeta-se
por trás dos atores.
SLOWS SCREEN – Divisão da tela mostrando, ao mesmo tempo, imagens de
acontecimentos separados.
TRAVELLING – Câmera que acompanha o movimento dos atores em mesma velocidade
VARRIDO – A câmera corre, mudando a imagem de lugar.
INTERCUT – Duas cenas diferentes que se revezam.
Exemplo:
INTERCUT – DISCUSSÃO
JOÃO
Nos já discutimos sobre isso.
MARIA
Vá embora!
Roteiro Final
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Após ter terminado de escrever seu roteiro, releia-o quantas vezes forem necessárias.
Não importa o número de vezes que você fizer isso, sempre vai encontrar algo que
possa ser melhorado até chegar ao roteiro final.
Pontos de verificação:
1 – Formatação
Sempre que escrever um roteiro, seja ele qual for ou de que tamanho for, obedeça
sempre a formatação padrão. Este é um fator eliminatório para muitos produtores. Um
roteiro mal formatado nem sempre é lido.
2 – Cabeçalhos
Verifique se todos os seus cabeçalhos contêm os números das cenas e as informações
necessárias como, interna ou externa, o local onde se passa a cena e o período do dia.
3 – Descrições de cenas
Tome o cuidado de não escrever novamente o que já está informado no cabeçalho
como, por exemplo:
4 – Nomes
Preste atenção se todos os personagens têm o mesmo nome até o final da história.
Você não pode começar o roteiro com um personagem chamado Antônio e, de repente
chamá-lo de Toni.
7 – Corte de Páginas
Não separe o cabeçalho da descrição da cena. Caso seu cabeçalho seja no última linha
da página, passe-o para a página seguinte. No caso de diálogo, escreva “continua” na
linha abaixo ao corte do seu diálogo e na próxima página escreva “continuação”. Eu,
particularmente, não gosto de partir diálogos, mas, se isso ocorrer, veja no exemplo
Abaixo a forma que poderá ser escrito.
Exemplo:
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MARIA
Estamos todos muito cansados.
Precisamos estar preparados.
(mais)
CONTINUAÇÃO:
MARIA(CONT.)
Amanhã será um grande dia.
Exercício:
Reveja todos os exercícios, seu material pesquisado, sua story line, sua sinopse e, se
ainda não escreveu, escreva seu roteiro utilizando as informações da apostila. Quando
tiver certeza de que ele já está pronto, peça a seus amigos e sua família para lê-lo.
Eles serão os “críticos” que vão avaliar sua história.
Produções Brasileiras
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Os roteiros exemplificados abaixo são para serem estudados e analisados e não para
serem copiados e adaptados a uma outra idéia. Para o roteirista iniciante, é
interessante ter uma noção mais apurada e analisada de outras obras. Trabalhos de
escritores já consagrados e com maior experiência são sempre um ótimo aprendizado,
independente de quem tenha escrito ou quantos prêmios o roteiro recebeu.
Particularmente, acho sempre mais convincente começar a treinar com alguma coisa
simples e que você tenha facilidade de pesquisar sobre o assunto, como uma história
sobre um caso ocorrido em sua família, por exemplo.
Para escrever bem é necessário conhecimento. O mais difícil não são as idéias e sim
como elas vão se transformar em palavras que serão escritas no roteiro. O mais difícil
é saber o que escrever e qual a melhor forma.
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www.artv.art.br
www.roteirodecinema.com.br
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ANDRÉ
Quanto deu até agora?
MOÇA
Oito e vinte e cinco.
ANDRÉ
Tudo bem.
ANDRÉ
Quanto?
MOÇA
Onze e trinta.
ANDRÉ
(surpreso) Quanto é a carne?
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MOÇA
Três e cinco.
ANDRÉ
Não vai dar. Eu só tenho onze e cinqüenta.
MOÇA
Deu onze e trinta.
ANDRÉ
É que eu preciso levar o álcool. Quanto é o
álcool?
MOÇA
Um e vinte.
ANDRÉ
Pois é, não vai dar. Desculpe, mas é que eu
preciso levar o álcool.
MOÇA
Eu já registrei a carne.
ANDRÉ
Não dá para tirar o detergente? Quanto é o
detergente?
MOÇA
Eu já registrei o detergente.
ANDRÉ
Eu sei, desculpe. Mas é que eu preciso levar o
álcool.
MOÇA
O que eu faço?
ANDRÉ
É que... eu preciso levar o álcool mesmo,
Enedi Chagas 20
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desculpe.
MOÇA
Tenho que abrir.
SUB-GERENTE
O que foi?
ANDRÉ
Desculpe, mas eu preciso levar o álcool. Não
vi que a carne era tão cara.
SUB-GERENTE
Quanto é que você tem?
ANDRÉ
Tenho onze e cinqüenta.
SUB-GERENTE
A conta deu onze e trinta.
ANDRÉ
É que eu preciso levar o álcool, que ainda não
está na conta.
SUB-GERENTE
Quanto é o álcool?
MOÇA
Um e vinte.
MOÇA
Você vai tirar o quê?
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ANDRÉ
Quanto é o detergente?
MOÇA
Um e quinze. Se deixar a carne, dá.
ANDRÉ
E a esponja?
MOÇA
A esponja é quarenta.
MOÇA
E aí?
ANDRÉ
Tudo bem, deixa a carne.
MOÇA
Nove e quarenta e cinco.
Créditos Iniciais
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ANDRÉ (VS)
O meu nome é André. Era o nome do meu pai. Foi
ele quem escolheu o meu. Minha mãe me chamava
de Zinho. Ele não gostava, só me chamava de
André. Depois ele desistiu, começou a me
chamar de Zinho também.
ANDRÉ (VS)
Eu moro em Porto Alegre, uma cidade no sul do
Brasil. Moro no Quarto Distrito, na Presidente
Roosevelt, que é essa rua.
ANDRÉ (VS)
Roosevelt foi presidente dos Estados Unidos,
era casado com uma gordinha que era prima
dele. Ele ficou conhecido por causa da
Doutrina Roosevelt, que não deu tempo de eu
ler o que era.
ANDRÉ (VS)
Nem sei direito o que é doutrina, acho que é
um monte de regras. Parece nome de uma velha.
Vó Doutrina.
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ANDRÉ (VS)
Da janela do meu quarto eu vejo um clube, o
Gondoleiros...
ANDRÉ (VS)
...onde tem umas festas. No teto do prédio tem
uma gôndola. Não sei se em Porto Alegre já
teve alguma gôndola.
ANDRÉ (VS)
Minha mãe tem uma caixinha de música com uma
gôndola que rodeia.
ANDRÉ (VS)
Eu trabalho nesta papelaria, sou operador de
fotocopiadora. Aqui você liga e desliga a
máquina. Está vendo? Liga. Desliga. Liga.
Desliga. Liga, desliga. Não é bom ficar
fazendo isto muitas vezes, pode queimar. Liga.
Desliga.
ANDRÉ (VS)
É melhor parar, o Bolha acaba me vendo pelo
espelho bolha dele. Ele diz que o espelho é
para a segurança da loja. O Bolha pensa que eu
sou otário. Considerando o que ele me paga,
ele não deixa de ter uma certa razão. O nome
do bolha é seu Gomide.
Enedi Chagas 24
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ANDRÉ (VS)
A dona bolha se chama Maria. Só aparece aqui
na loja para ver revista e pegar dinheiro. O
nome do bolhinha é Rodrigo. Ou Diogo. Eles
chamam o bolhinha de Guigo, acho que é
Rodrigo.
ANDRÉ (VS)
Ele fica abrindo o armário do papel, por causa
da luz. Isso é outra coisa que você tem saber.
O papel da máquina deve ser bem seco e por
isso fica guardado num armário com uma luz
dentro que o bolhinha adora ficar abrindo. Não
mexe aí, bolhinha.
ANDRÉ
Não pode...
MARIA
Deixa ele, André.
ANDRÉ
É que depois o papel gruda e o seu Gomide
Reclama de mim, Dona Maria.
SEU GOMIDE
Tira esse guri daí, Maria.
MARIA
Vem Guigo, vem, não mexe. Eu já vou.
ANDRÉ (VS)
Isso, dona Bolha, vá em frente. Adeus,
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bolhinha.
ANDRÉ (VS)
Quando o papel acaba, você abaixa este troço,
tira esta gaveta e põe o papel. Primeiro você
solta bem o papel, para não grudar. É só
segurar, dobrar, soltar. Segurar, dobrar,
soltar. Mais uma. Aí você arruma o papel e põe
na gaveta. Põe a gaveta na máquina e levanta o
troço. Aqui você controla a cópia, mais escura
ou mais clara.
SEU GOMIDE
É melhor deixar sempre no meio.
ANDRÉ (VS)
Certo bolha. Sempre no meio. Aqui você diz
para ela quantas cópias você quer. Aí você
levanta esta tampa e põe o papel que você quer
copiar, o original, aqui. Você tem que pôr no
limite desta marca no vidro. Aí você fecha a
tampa, cuidando para não tirar o papel do
lugar. Apertando este botão aqui você está
dizendo: vá em frente, minha filha, está tudo
certo. E ela vai.
ANDRÉ (VS)
Essa luz é a melhor parte.
A cópia sai na gaveta da máquina.
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ANDRÉ (VS)
Pronto. Você já sabe tudo que é preciso saber
para fazer o que eu faço. Operador de
fotocopiadora. Grande merda. É o que eu digo
para as gurias se elas me perguntam. Só se
elas me perguntam.
GURIA
O que é que você faz?
ANDRÉ
Eu? Eu sou operador de fotocopiadora.
GURIA
Que que é isso?
ANDRÉ
Eu opero uma máquina de fotocópias.
GURIA
Tipo assim, xerox?
ANDRÉ
É. Só que é de outra marca.
GURIA
Você trabalha no xerox de uma firma?
ANDRÉ
Não, não. Numa loja.
GURIA
Ah. Legal.
ANDRÉ (VS)
Muito legal. Liga, desliga, o papel com a luz,
a gaveta, o botão sempre no meio, quantas
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ANDRÉ
É uma merda.
GURIA
Bom...
ANDRÉ
É só pra ganhar uma grana. Eu trabalho com
ilustrações, mandei um material para uma
revista.
ANDRÉ (VS)
"Material". Acho que ela não caiu nessa.
Gurias são espertas.
ANDRÉ (VS)
Quando eu não estou trabalhando eu fico em
casa desenhando. É divertido porque não serve
para nada, só para dizer para as gurias. Não
tem dado muito certo. Gurias reconhecem um
operador de fotocopiadora em poucos segundos.
ANDRÉ (VS)
Gurias não sonham em passar a vida ao lado de
um operador de fotocopiadora, viajar pelo
mundo com um operador de fotocopiadora, ter
filhos de um operador de fotocopiadora. Pelo
menos eu, até agora, não encontrei nenhuma
guria que sonhasse isso.
CENA 12 - APARTAMENTO DE SÍLVIA - INTERIOR/NOITE
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ANDRÉ (VS)
Ela ainda não chegou. Ela mora com o pai. Acho
que é pai, só pode ser. Ela chega em casa onze
meia. Um dia ela atrasou, fiquei preocupado,
ela chegou quase meia noite. Deve ter ido
comer alguma coisa depois do cursinho.
ANDRÉ (VS)
Pelos móveis, eles não devem ter grana, são
tão duros quanto eu.
ANDRÉ (VS)
Só que o pai dela trabalha, tem um uniforme,
uma camisa que tem aquelas coisinhas no ombro,
presas por um botão, parece um policial civil,
ou agente sanitário, estes que matam mosquito.
Nunca vi ele trazendo para casa aquela máquina
de matar mosquito, mas acho que eles não levam
mesmo para casa, aquilo é veneno. Talvez ele
seja agente sanitário.
ANDRÉ (VS)
Ela chegou. Linda. Ela vai direto para o
quarto, acho que janta na rua. As vezes ela
pega alguma coisa na cozinha. Só as vezes,
quase nunca. Ela chega sempre depois das onze
e vai direto para o quarto.
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ANDRÉ (VS)
O vidro é quase todo coberto com um papel. No
vidro têm também três adesivos, antigos, por
trás do papel, e um papel colado, na fresta.
ANDRÉ (VS)
O papel colado tem três linhas de cola, pode
ser um cartão postal, pelo tamanho. As vezes
ela pára e fica olhando para o papel. Deve ser
uma foto. Ela tinha uma veneziana, mas
apodreceu e eles tiraram, nunca mais
colocaram. Deve ser caro, uma veneziana.
ANDRÉ (VS)
Pela fresta dá para ver só um pedaço do
armário, mas as vezes ela deixa a porta do
armário aberta e na porta tem um espelho.
Dependendo do jeito que a porta fica aberta dá
para ver um pedaço diferente do quarto, pelo
espelho.
ANDRÉ (VS)
A cama tem um edredon floreado. Tem um abajur
numa mesinha ao lado da cama. Uma televisão no
quarto, só dá para ver a luz, ela fica vendo
filme até tarde. Uma escova, cabo de madeira
redondo. Uma latinha que acho que era de
biscoitos, com umas flores.
A luz se apaga.
ANDRÉ (VS)
Pronto. Acabou.
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ANDRÉ (VS)
Eu ganho dois salários mínimos, são trezentos
e dois reais por mês, duzentos e noventa com
os descontos.
ANDRÉ (VS)
Não gasto em transporte, vou a pé para a loja
e não saio nunca.
ANDRÉ (VS)
Minha mãe paga o supermercado com a pensão
dela, eu pago metade do aluguel...
ANDRÉ (VS)
... dois quartos com dependência de empregada,
se a gente tivesse empregada e ela conseguisse
dormir de pé.
ANDRÉ (VS)
Sala, vista para o prédio em frente, tudo isso
por apenas...
ANDRÉ (VS)
... trezentos e trinta reais, trezentos e
oitenta com o condomínio.
Estas seriam as primeiras dez páginas apresentadas pelo roteirista ao produtor para a
venda do projeto. Apesar da versão disponível na Internet não estar formatada
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Na primeira parte do roteiro, é detalhada a vida de André. O que pensa, onde trabalha,
qual seu relacionamento com o mundo ao redor dele e toda a rotina pacata de seu
trabalho e sua vida simples ao lado do pai. O que nos chama a atenção e torna-se o
gancho para a história se tornar interessante é: O que uma pessoa como André está
fazendo com uma mochila de dinheiro, e porque o queimaria?
Para terem uma idéia da experiência do roteirista acima, Jorge Furtado, segue abaixo
uma pequena mostra de seus trabalhos cinematográficos como roteirista já
produzidos.
2000 - Tolerância
2001 – Caramuru – A Invasão do Brasil
2002 – Houve uma vez Dois Verões
2003 – O Homem que Copiava
2003 – Lisbela e o Prisioneiro
2003 – Os Normais
2004 – Meu Tio Matou um cara
2005 – O Coronel e o Lobisomem
- Cidade de Deus
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ALMEIDINHA
O galo fugiu!
(CONT.)
Page 2
VOZES DOS BANDIDOS
Pega o galo, pega o galo!
BARBANTINHO
Aí, Busca-Pé... Tu acha mesmo que
os cara vão te dar emprego no
jornal se tu conseguir tirar essa
foto?
BUSCA-PÉ
Eu tenho que arriscar.
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BARBANTINHO
Porra! Tu tá arriscando é a vida.
Por causa de uma foto, mermão! Dá
um tempo!
MONTAGEM PARALELA
VIELA - BANDIDOS
BARBANTINHO (CONT.)
Na boa, Busca-Pé. Eu acho que os
cara do jornal tão de sacanagem.
Eles nunca vão te dar emprego.
BUSCA-PÉ
Pô, Barbantinho. Se conseguir essa
foto, eu vou ficar na moral com os
caras, tá entendendo?
(CONT.)
Page 3
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BARBANTINHO
Tu tá falando dum jeito que parece
até que a gente tá num episódio da
Missão Impossível.
BUSCA-PÉ
Pior é que é.
VIELA - BANDIDOS
ZÉ PEQUENO
Senta o dedo no galo!
BARBANTINHO
Porra, Busca-Pé! Vamo sai saindo.
Se tu encontrar o cara? Ele deve tá
querendo te matar.
BUSCA-PÉ
Barbantinho, se liga: a última
coisa que eu queria na minha vida
era ter que ficar cara a cara com
aquele bandido de novo.
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ZÉ PEQUENO
Segura o galo.
(CONT.)
Page 4
Zé Pequeno avança em direção a Busca-Pé.
BUSCA-PÉ (V.O.)
Na Cidade de Deus, não dá pra saber
o que é pior: encarar os bandidos
ou a polícia. É um bangue-bangue
sem mocinho. E sempre foi assim...
Desde que eu...
FUSÃO PARA:
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BUSCA-PÉ (V.O.)
(...) me conheço por gente.
PERTO DALI
(CONT.)
Page 6
BARBANTINHO
Miou o jogo!
DADINHO
Aí, molecada! Deixa eu dar uns
toque nessa bola manera aí!
BUSCA-PÉ (V.O.)
Dadinho, por exemplo, parecia que
já tinha nascido bandido.
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BENÉ
Como é que tu chama?
BUSCA-PÉ
Busca-Pé.
BENÉ
Não deixa o Dadinho chuta tua bola,
não, que ele é perna-de-pau. No
primeiro chute ele fura a bola.
Dadinho aplaude.
DADINHO
Aí, Cabeleira! Mostra que tu sabe
da arte.
(CONT.)
Page 7
Cabeleira afasta os meninos com um gesto autoritário.
CABELEIRA
Vamo afastando, molecada!
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extrema habilidade...
BUSCA-PÉ (V.O.)
Pra contar a história da Cidade de
Deus, eu tenho começar pela
história desse cara aí: o
Cabeleira!
MARRECO
Qualé, cumpádi? O caminhão do gás
tá quase chegando! Tu vai ficá aí
de bobó?
ALICATE
Cumé que é, Cabeleira? Num vai dizê
que tu vai negá fogo?
ARTE - CARTELA
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(CONT.)
Page 8
DENTRO DO CAMINHÃO
NA RUA
BUSCA-PÉ (V.O.)
Cabeleira era o cara que mandava no
Trio Ternura. E o Trio Ternura era
ele mais o Alicate e o...
(pausa, tom triste)
Marreco...
CABELEIRA
Todo mundo parado aí! O primeiro
que se mexê leva bala!
MARRECO
E hoje tem gás de graça pra todo
mundo.
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CABELEIRA
Tu tá disposto a morrer pra salvar
o dinheiro do teu patrão, rapá?
(CONT.)
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BUSCA-PÉ (V.O.)
O Trio Ternura não tinha medo de
ninguém. Nem da polícia... Eles
achavam que a Cidade de Deus era
deles. Mas tinha um monte de
bandido que achava a mesma coisa.
Naquele tempo, a Cidade de Deus
ainda não tinha dono.
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BUSCA-PÉ (V.O.)
Com o know how que eu adquiri no
entendimento da bandidagem, eu
posso falar com toda a segurança: o
Trio Ternura, no fundo, era um
bando de pé-de-chinelo.
MARRECO
Aí, Busca-Pé! Leva esse dinheiro aí
pra mãe compra umas comida. Mas não
conta pro velho que fui eu que te
dei!
(CONT.)
Page 10
CABELEIRA
Aí molecada, pra vocês comprar uma
bola nova.
Os bandidos se afastam.
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BUSCA-PÉ (V.O.)
Quando eu cheguei na Cidade de
Deus, eu era ainda moleque. E a
minha família era como todas as
outras que tavam se mudando pra lá:
a gente tinha ficado sem casa por
causa das enchentes... E a
filosofia do governo naquela época
consistia no seguinte raciocínio:
não tem onde pôr? Manda pra Cidade
de Deus!
BUSCA-PÉ
Barbantinho, tu vai querer ser o
que quando crescer?
BARBANTINHO
Eu...
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Perceba que para cada mudança de ação, o roteirista pula uma linha, dando ênfase de
que a imagem deverá ser mudada rapidamente e não continuada .
A forma marcante com que Bráulio Mantovani escreve vem lhe rendendo muitos
elogios e, seu trabalho em Cidade de Deus, lhe rendou uma nomeação ao Oscar de
Melhor Roteiro Adaptado. Veja abaixo seus trabalhos.
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Produções Americanas
Para estudo das produções americanas, utilizo como exemplo, trechos traduzidos do
livro de Syd Field, famoso roteirista e professor americano, “4 Roteiros”, onde é
realizado um estudo detalhado trazendo dicas imprescindíveis.
O livro é composto por trechos comentados dos roteiros de: “Thelma e Louise”, de
Callie Khouri, “O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final” de James Cameron,
“O Silencio dos Inocentes” uma adaptação do romance de Tom Harris realizada por
Ted Tally e “Dança com Lobos” de Michael Blake.
“Escrever roteiros é uma técnica que ocasionalmente se eleva ao nível de arte. Como
os filmes, é uma atividade única, que muda e se move constantemente, espelhando as
necessidades e preocupações do nosso tempo. Como conseqüência disso, cada geração
traz um novo olhar e uma nova sensibilidade para o roteiro”
O que ele quer dizer como isso? O cinema, principalmente o americano, digo isso pelo
grau de importância e investimento que é tratada esta área, é um dos poucos lugares
onde tudo é possível. Se pegarmos roteiros mais antigos e compararmos com os atuai,
veremos que com o passar dos anos as histórias foram se adaptando as possibilidades
de criação, alem da forma escrita ter sido aperfeiçoada conforme sua época.
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Trecho de abertura
FUNDIR-SE COM
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SARA (V.O.)
O Skynet, o cumputador que
controlava as máuinas, enviou dois
exterminadores de volta no tempo.
Sua missão: destruir o lides da
Resistência humana... John connor.
Meu filho... O primeiro
exterminador foi programado para me
caçar, no ano de 1984... antes que
John nascesse. Ele fracassou. O
segundo foi mandado para caçar John
quando ele ainda era uma criança.
Como antes, a Resistência foi capaz
de mandar um guerreiro solitário.
Um protetor para John. A questão
era somente qual deles o alcançaria
primeiro...
CORREDOR
SILBERMAN
A próxima paciente é uma mulher de
vinte e nove anos com diagnostico
de desordem esquizofrênica aguda.
Os sintomas usuais... depressão,
ansiedade, manifestações violentas,
mania de perseguição.
SILBERMAN
Bom dia, Sarah.
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Mas ele ainda é todo de cromo. Com seu último passo, a cor
retorna a tudo. É o tira novamente... ela face jovem, cabelos
louros, olhos gelados. Ele pára e olha em torno.
As cenas têm informações demais? Sim. Mas funcionou. E isso é o que importa .
Esta é uma das seqüências mais famosas do filme. Quem assistiu, deve estar se
perguntando onde está a parte em que o teto do caminhão é arrancado. Pois bem,
este é um dos detalhes em que só um cineasta experiente pode aproveitar uma
dificuldade e transformá-la em solução. A cena não está no roteiro, mas está no filme.
O que aconteceu?
Pois bem, a cena do caminhão em que a capota é rasgada, foi filmada direto na
locação, ou seja, na hora da gravação da cena no canal, quando James Cameron
descobriu que o caminhão não caberia debaixo da passarela. A cena teve de ser
alterada e adaptada á situação atual. Isto é cinema!
JOHN
Você não está aqui pra me matar...
Isso eu percebi por mim mesmo.
Então, qual é o negócio?
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EXTERMINADOR
Minha missão é proteger você.
JOHN
É? Quem mandou você?
EXTERMINADOR
Você mesmo. Trinta e cinco anos à
frente você me programou para ser
seu protetor aqui, nesta época.
JOHN
Isso é profundo.
Mais tarde, quando John e o Exterminador tornam-se mais próximos, Sarah faz um
comentário sobre os acontecimentos e, de certa forma, antecipa a seqüência final do
filme.
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POV SARAH
SARAH (V.O.)
Ao olhar John com a máquina, tudo
subitamente se tornou claro. O
exterminador jamais pararia, jamais
o deixaria...estaria sempre ali. E
nunca o magoaria, nunca gritaria
com ele ou se embebedaria e o
machucaria, ou diria que não Poe
perder tempo com ele porque está
muito ocupado. E morreria para
protegê-lo. De todos os possíveis
pais que passaram ao longo dos
anos, essa coisa, essa máquina, foi
o único que esteve à altura. Num
mundo insano, esta foi a escolha
mais saudável.
DISSOLVE TO:
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VOICE
3 billion human lives ended on August 29th,
1997. The survivors of the nuclear fire called
the war Judgment Day. They lived only to face a
new nightmare, the war against the Machines...
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DISSOLVE TO:
A forma com que James Cameron escreveu a cenas de lutas e explosões são chamadas
de tomadas seqüenciais ou montagem, com cortes rápidos de uma cena para outra.
Este recurso é muito utilizado nos filmes de ação onde várias coisas acontecem ao
mesmo tempo.
PLANO EM MOVIMENTO
FIGURA ESCURA
Sinto o cheiro da sua xota!
CELA DO R. LECTER
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CLARICE
CLARICE
Doutor Lecter... Meu nome é Clarice
Starling. Posso conversar com o
senhor?
DR. LECTER
Agente Starling.
Perceba o quanto é breve a descrição de Hannibal Lecter mas bastante precisa. Não
houve excesso de informação na cena, apenas o que precisava ser escrita para
caracterizar o ambiente, a situação de Clarisse e a descrição física e psicológica de Dr.
Lecter.
SEU CARRO
PLANO PRÓXIMO
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EM FLASHBACK
VOLTA A CENA
A JOVEM CLARICE
JOVEM CLARISSE
Pegou algum bandido hoje, papai?
HOMEM
Não, anjo. Fugiram todos.
CLARICE ADULTA
CORTA PARA:
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CLARICE
A CABEÇA
Esta é a cena do Ponto de Virada no final do Ato I. Até agora tudo foi conduzido até a
cabeça ser descoberta. A partir daí, começa o desenrolar da história até chegar
finalmente em quem matou o homem da cabeça no vidro de álcool e a barganha de
Lecter para sair daquela instituição.
DR. LECTER
Ceramente a estranha coincidência
de eventos não lhe escapou,
Clarice. Jack acena com você diante
de mim. Então eu lhe dou uma
coisinha para o seu currículo. Você
pensa que é porque gosto de olhar
para você, e imagino o quão
saborosa você seria...?
CLARICE
Não sei. É isso?
DR. LECTER
Há algo eu Jack pode me dar, e eu
quero uma troca. Mas ele me odeia,
então no vai negociar diretamente.
Eis porque você está aqui.
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Lembre que Miggs morreu no dia anterior por ter engolido sua própria língua, após
Lecter ter passado a tarde sussurrando coisas para ele. Tudo nos leva a crer que
Lecter o matou sem sequer tocá-lo.
CLARICE
O que o senhor quis dizer com
“transformação”, Dr. Lecter?
DR. LECTER
Estou nesta cela há oito anos,
Clarice. Sei que eles nunca vão me
deixar sair enquanto eu for vivo. O
que eu quero é uma vista. Quero uma
janela em que eu possa ver uma
árvore, ou mesmo água. Quero ir
para uma instituição federal, para
longe de Chilton E que ro uma
vista. Pago bem por ela.
CLARICE
O que quis dizer com assassino
“frangote”? Está dizendo eu ele
matou novamente?
DR. LECTER
Estou oferecendo o perfil
pscicológico de Buffalo Bill,
baseado nas evidências do caso. Eu
vou ajudar você a pegá-lo Clarice.
CLARICE
O senhor sabe, não sabe? Me diga
quem matou o seu paciente.
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DR. LECTER
As melhores coisas para aqueles que
sabem esperar. Eu tenho esperado,
Clarice. Mas quanto tempo você e
Jack podem esperar? Nosso Billy já
deve estar procurando por aquela
próxima dama especial.
ACOMPANHAMOS CLARISSE
CLARICE
Seus anagramas estão evidentes,
doutor. “Louis Friend?” “Sulfeto de
Ferro”, mais conhecido como ouro de
tolo.
DR. LECTER
Clarice... seu problema é que você
precisa se divertir mais na vida.
CLARICE
O senhor me falou a verdade lá em
Baltimore. Conte-me o resto agora.
DR. LECTER
Estudei o arquivo do caso. Você
estudou? Tudo o que você precisa
para encontrá-lo está bem nestas
páginas seja qual for o nome dele.
CLARICE
Então me diga como.
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DR. LECTER
Primeiros princípios, Clarice.
Simplicidade. Leia Marco Aurélio.
De cada coisa em particular,
pergunte: O que é a coisa em si
mesma, qual é a sua natureza? O que
ele faz, esse homem que você
procura?
CLARICE
Ele mata um...
DR. LECTER
(interrompe subitamente)
Não! Isso é circunstancial.
CLARICE
Ódio, ressentimento social,
frustração sex...
DR. LECTER
(interrompe)
Não, ele cobiça. Essa é a natureza.
E como começamos a cobiçar,
Clarice? Saímos e procuramos coisas
para cobiçar? Faça um esforço para
responder.
CLARICE
Não. Nós so...
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DR. LECTER
Não. Precisamente. Começamos a
cobiçar o que vemos todos os dias.
Você não sente olhos percorrerem o
seu corpo, Clarice? Não vejo como
você não sentiria. E seus olhos não
percorrem as coisas que você quer?
CLARICE
Então diga-me como.
DR. LECTER
Não. É sua vez de falar, Clarice.
Você não tem mais férias pra
vender.Porque fugiu daquele rancho?
A cena final do filme torna-se hilária e nos diz exatamente o que vai acontecer depois.
Ao telefone, depois de sua fuga, Dr. Lecter procura por Clarisse e por telefone, diz a
ela não poder falar onde está mas que terá de se apressar pois terá um jantar com um
amigo e desliga o telefone.
O DR. LECTER
EM MOVIMENTO
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FADE IN:
CLOSE ON
CUT TO:
CLARICE
Freeze! FBI!
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are taped to his gun, away from the trigger; he couldn't use
it even if he tried. Suddenly we hear a metallic CLICK, which
registers with unnatural amplification, as - Clarice reacts,
drops to the floor, rolling sideways, and -
THE "HOSTAGE"
THE "HOSTAGE"
BRIGHAM (O.S.)
Okay, people, good exercise...
PULLING BACK
Esta cena está escrita para ser a primeira no filme mas, quando foi produzido, foi
substituída pela corrida de Clarice no campo de obstáculos e aproveitada mais tarde,
para ser inserida no meio do filme.
Exercício:
Adquira do hábito de ler roteiros sempre que possível, pois, alem de ser um ótimo
exercício de enriquecimento criativo, lhe dará uma visão maior de como roteiristas
experientes escrevem, alem de diversificar as técnicas de linguagem.
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- MANUAL DO ROTEIRO
FIELD, Syd - Editora Obejtiva.
- 4 ROTEIROS
FIELD, Syd - Editora Objetiva
- DA CRIAÇÃO AO ROTEIRO
COMPARATO, Doc - Editora Rocco
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