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Texto complementar

Forças de Atrito Estático e Cinético


Quando as superfícies de dois objetos estão em contato – p.ex., um livro sobre uma mesa, a sola de sapato de
Fafá sobre o solo, Quim segurando um lápis – surge uma força de uma superfície sobre a outra. Essa força
sempre tem uma componente perpendicular às superfícies – a força normal – e pode ter outra componente
paralela – a força de atrito devido às rugosidades dessas superfícies.
Na figura ao lado está representado um experimento para se
estudar a força de atrito entre um bloco e uma superfície que
podem ser do mesmo material ou de materiais diferentes. Por
meio de um fio, um dinamômetro é conectado ao bloco e esse
conjunto é puxado sobre a superfície plana e horizontal, para a direita, em linha reta. A força medida por esse
dinamômetro e a velocidade do bloco, ambas em função do tempo, estão mostradas nestes gráficos:

Repare que do instante t = 2,0 s até o instante t = 4,0 s, a força aumenta de 2,5 N até 10 N – gráfico da esquerda
– mas o bloco não se move – gráfico da direita. A partir do instante t = 4,0 s, o bloco começa a se movimentar
e a força necessária para manter esse movimento diminui até se fixar no valor de 7,5 N quando o bloco passa
a se deslocar com velocidade constante de 0,10 m/s.
Isso ocorre porque essas duas superfícies não são perfeitamente
lisas, elas têm rugosidades, como ilustrado na figura. Isso faz com
que a área efetiva de contato seja muito menor do que a área da
superfície. Quando o bloco está parado, antes do instante t = 4,0 s,
nos poucos pontos de contato se formam ligações químicas o que
faz que seja necessária uma força grande para colocá-lo em
movimento. Após os 4,0 s, a maioria dessas ligações é quebrada e
o bloco começa a se mover. Para se deslocar com velocidade constante é necessária uma força menor do que
a anterior porque há menos ligações que se formam e quebram logo em seguida.
Enquanto o bloco está parado, atua uma força de atrito que chamamos de estático e tem um valor exatamente
igual à força que tenta colocá-lo em movimento. Essa força de atrito estático tem um valor máximo – no caso
apresentado tem o valor de 10 N – e se atuar uma força maior do que essa o bloco começa a se movimentar.
A partir daí atua a força de atrito cinético que, na maioria das situações, tem um valor aproximadamente
constante, independente da velocidade do bloco.
Essas duas forças de atrito, além de dependerem do material das
duas superfícies, também dependem da força normal entre elas. Na
figura estão representadas as mesmas superfícies da figura anterior
em uma situação em que há uma compressão maior – isso faz com
que haja uma deformação dos materiais e a área efetiva de contato
aumenta, o que aumenta essas forças de atrito.
No entanto, para a maioria dos materiais sólidos, a força de atrito independe da área da superfície – se o bloco
do experimento for um paralelepípedo, a força de atrito estático máxima e a força de atrito cinético tem os
mesmos valores, independente de que face do bloco esteja em contato com a superfície. Isso ocorre porque a
face com maior área tem uma compressão menor, o que diminui a área efetiva de contato. Por outro lado, a
face com menor área tem uma maior compressão, o que aumenta a área efetiva de contato. Um fator compensa
o outro e, para a maioria dos materiais sólidos, a força de atrito independe da área de contato. Esse fato não é
válido quando uma das superfícies não é sólida e se deforma muito quando comprimida, p.ex., a borracha
macia usada em pneus de carros de corrida.
Como essas duas forças de atrito – a de atrito estático máxima e a de atrito cinético – dependem da compressão
e independem da área de contato pode-se definir dois coeficientes que dependem unicamente dos dois
materiais em contato:
𝑓
• coeficiente de atrito estático: 𝜇𝑒 = 𝑒𝑚𝑎𝑥⁄𝑁, em que 𝑓𝑒𝑚𝑎𝑥 é a força de atrito estático máxima que
pode atuar sem que as duas superfícies entrem em movimento relativo e N é a força normal;
𝑓
• coeficiente de atrito cinético: 𝜇𝑐 = 𝑐⁄𝑁, em que 𝑓𝑐 é a força de atrito cinético que atua quando as duas
superfícies têm movimento relativo.
Para a situação mostrada na primeira figura, 𝑓𝑒𝑚𝑎𝑥 = 10 N e 𝑓𝑐 = 7,5 N; supondo que o bloco tenha uma
massa de 2,5 kg, a normal será de 25 N e os coeficientes de atrito entre o material do bloco e o material da
superfície serão 𝜇𝑒 = 0,4 e 𝜇𝑐 = 0,3 – esses dois números são adimensionais e característicos desses dois
materiais.
Reparem que essas expressões para as forças de atrito são empíricas – não há nenhuma teoria que estabeleça
o valor dos coeficientes de atrito estático e cinético. Um texto interessante sobre ‘Atrito’ está no livro “Lições
de Física”, do Feynman, seção 12-2 (Bookman, 2008). O livro “Teaching Introductory Physics – a
Sourcebook”, de Swartz e Miner (AIP Press, 1998), tem um capítulo inteiro sobre o tema “Friction”.

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