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Capítulo 1: INTRODUÇÃO.
RESUMO DO CAPÍTULO:
Abordando a controvérsia em torno do uso do termo "intertextualidade" como
sinônimo ou substituto do conceito de dialogismo bakhtinano, o autor inicia a
discussão revisitando a origem da noção de intertextualidade, na década de 1970
na França, e como essa ideia se disseminou. Em seguida, ele examina as diferentes
posições adotadas por estudiosos brasileiros influenciados por Bakhtin, que variam
desde a discordância veemente com o uso do termo intertextualidade até a tentativa
de compreendê-lo ou acomodá-lo em outras abordagens teóricas.
O autor sugere que a distinção entre relações dialógicas internas e relações
dialógicas externas pode ser um princípio para diferenciar o dialogismo de
intertextualidade. Ele argumenta que o termo intertextualidade não é adequado para
representar o dialogismo, e busca fundamentar essa afirmação em bases teóricas,
discutindo sua influência no contexto acadêmico e educacional brasileiro.
RESUMO DO CAPÍTULO:
No segundo capítulo, o autor discute o surgimento e difusão do termo
"intertextualidade", destacando a obra de Júlia Kristeva como responsável por
popularizar o termo no Ocidente. A palavra "intertextualidade" ganhou prestígio
tanto no meio acadêmico quanto no contexto educacional brasileiro. No entanto,
alguns críticos, como Paulo Bezerra, consideram que o uso do termo como
sinônimo de dialogismo empobrece as ideias de Bakhtin.
Paulo Bezerra critica o emprego do termo "intertextualidade", alegando que isso
distorce o pensamento de Bakhtin, argumentando que o termo está entre os
"deméritos" de Kristeva, responsável por uma "deturpação do pensamento e da
teoria de Bakhtin".
Já Kristeva considera que todo texto é construído a partir de citações e absorção de
outros textos, substituindo assim a noção de intersubjetividade pela noção de
intertextualidade. No entanto, Bezerra e Fiorin argumentam que o termo
"intertextualidade" não representa adequadamente o dialogismo bakhtiniano, uma
vez que o dialogismo implica a relação entre vozes e sujeitos, enquanto a
intertextualidade se concentra nas relações entre textos.
O capítulo também menciona a influência das estéticas futuristas e o movimento
literário francês da década de 1960, no qual as ideias do Círculo de Bakhtin foram
recebidas e assimiladas. Barthes, por exemplo, destaca o papel de Kristeva na
introdução do conceito de linguagem dialógica. Ele argumenta que o texto é
composto por intertextos de outros textos e que a pesquisa das "fontes" e
"influências" de uma obra é um mito da filiação. No entanto, Barthes reconhece a
existência de relações entre textos, mas enfatiza que o poder do autor está em
misturar e contradizer os escritos, sem se apoiar em nenhum deles.
RESUMO DO CAPÍTULO:
Neste trecho, são apresentadas algumas recepções atuais da noção de
intertextualidade no contexto brasileiro. O autor menciona a interpretação de
Kristeva do "dialogismo bakhtiniano como intertextualidade" e destaca a contradição
com o pensamento de Bakhtin, que enfatiza o papel do sujeito na escrita. Enquanto
Kristeva propõe um apagamento do sujeito e uma relação apenas entre textos
abstratamente relacionáveis, Bakhtin considera o sujeito como parte essencial do
enunciado ou da voz.
O autor também destaca que, no Brasil, há estudiosos que negam qualquer
reconhecimento à expressão "intertextualidade", como Bezerra, enquanto outros,
como Fiorin, se esforçam para compreender a noção de intertextualidade a partir
dos escritos do Círculo. Fiorin faz uma distinção entre relações dialógicas e
intertextualidade, afirmando que a intertextualidade pressupõe uma materialização
em textos, enquanto as relações dialógicas podem ser não mostradas ou não
explícitas.
Fiorin exemplifica sua perspectiva analisando o poema "Satélite", de Manuel
Bandeira, e ressalta a diferença entre a visão da Lua como algo poético e místico e
a visão que a considera apenas como um satélite. Nesse caso, Fiorin considera que
há uma interdiscursividade, mas não uma intertextualidade, pois a relação com a
palavra do outro não é explícita. No entanto, quando menciona o poema "Plenilúnio"
de Raimundo Correa, Fiorin identifica uma intertextualidade, já que há uma relação
explícita entre os versos de Bandeira e os versos de Correa.
No entanto, o autor questiona a distinção entre relações dialógicas explícitas e
implícitas, argumentando que a noção de "explicitude" baseada no reconhecimento
da voz alheia pode limitar a compreensão da intertextualidade. A dificuldade de
definir relações dialógicas explícitas e implícitas compromete a distinção entre
interdiscursividade e intertextualidade.
RESUMO DO CAPÍTULO:
O texto discute a distinção entre intertextualidade e dialogismo, destacando que
algumas relações dialógicas ocorrem internamente ao texto, enquanto outras
acontecem externamente, apresentando exemplos de diálogos entre personagens e
narrador em textos literários para ilustrar essas relações.
No primeiro exemplo, um trecho de "O idiota" de Dostoiévski, é mostrado um diálogo
entre as personagens Míchkin e Rogójin. Há uma interação dialógica entre as vozes
das personagens, com Míchkin perguntando a Rogójin se ele foi o responsável pelo
assassinato de Nastácia e Rogójin respondendo afirmativamente. Essa é uma
relação dialógica interna, pois ocorre dentro do romance.
O texto também destaca o diálogo entre narrador e personagem como uma forma
de relação dialógica interna. É citado o caso do “discurso provocante" em "O duplo"
de Dostoiévski, em que o narrador zomba da personagem Goliádkin, usando as
próprias palavras dele. Nesse caso, as relações dialógicas ocorrem dentro dos
limites da novela.
O autor menciona que as relações dialógicas podem ser internas mesmo que a
personagem ou o narrador citem um texto externo à obra. O importante é que eles
sejam figuras da narrativa e dialoguem dentro dela. O narrador pode se apropriar
das palavras da personagem para caracterizá-la e adaptar seu discurso.
Em relação ao dialogismo externo, são mencionadas as referências que as
personagens de Dostoiévski fazem a obras literárias, filosóficas e religiosas. O texto
argumenta que nem toda voz de uma personagem dialoga com vozes exteriores à
obra, podendo haver diálogo com vozes já presentes na narrativa. É ressaltado que
embora as relações dialógicas internas e externas possam se sobrepor, elas não
são a mesma coisa. O fato de existirem relações dialógicas internas desafia a noção
de intertextualidade, que não considera essas relações.
RESUMO DO CAPÍTULO:
O último capítulo discute a relação entre enunciados em diálogos cotidianos e em
representações literárias, como romances e novelas. Enquanto no diálogo cotidiano
os enunciados estão claramente relacionados aos enunciados exteriores dos outros,
nas obras literárias o diálogo com o outro pode se limitar ao enunciado. Existem
relações dialógicas internas entre personagens e narradores, que ocorrem dentro de
um único enunciado. O termo "intertextualidade" é frequentemente usado para
descrever as relações entre textos, mas não abrange adequadamente as relações
dialógicas internas presentes em um único texto.
O texto argumenta que é mais apropriado utilizar os termos "dialogismo" ou
"relações dialógicas" para enfatizar que não são os textos em si que se relacionam,
mas sim as vozes dos sujeitos históricos e discursivos inscritos neles. Cada texto
apresenta um arranjo dialógico interno singular, com uma ordenação específica das
relações dialógicas internas. Portanto, o termo "intertextualidade" não deve ser
usado como sinônimo de dialogismo, pois não engloba as relações dialógicas
internas.
REFERÊNCIAS:
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