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Na manhã de ontem, o Rio de ruas do centro do Rio gritando Marieta Severo, Leonardo Vilar,
Janeiro parou. Uma multidão de frases como: “Abaixo a ditadura”, Oscar Niemeyer, Clarice
pessoas composta por mães, “O povo organizado derruba a Lispector, Milton Nascimento e
artistas, intelectuais, estudantes, ditadura”, “Só povo armado muitos outros.
professores, políticos, operários derruba a ditadura”, “Libertem
e religiosos chegou à Cinelândia, nossos presos” e “Abaixo o MEC- Os estudantes chegaram à
local marcado para a Usaid”. Candelária gritando “Abaixo a
concentração da intensa Ditadura”. Nesse momento, o
manifestação contra a violenta Muitas foram as declarações de líder Vladimir Palmeira ergueu-se
repressão da polícia às Vladimir durante a manifestação: em cima de um carro e pediu para
reivindicações estudantis, que que todos se sentassem. Assim,
resultou na morte do estudante "Nós queremos os cadáveres dos fez um novo discurso, pedindo
Edson Luís, de apenas 18 anos, estudantes que foram mortos cuidado, novamente, com os
numa invasão ao restaurante durante as últimas policiais do DOPS infiltrados,
manifestações. Todos viram seus afirmando o poder do movimento
Calabouço.
corpos, ao vivo e nos jornais, e de massas.
Por volta das 11h, a frente da não é possível que o governador
Assembleia Legislativa foi e as outras forças repressivas Um acontecimento
inteiramente tomada. Lideranças continuem a esconder os seus inesperado ocorreu durante a
estudantis, políticos e populares corpos para iludir a população." marcha: foi eleita uma comissão
proclamavam discursos. Dentre de representantes dos civis, que
esses sujeitos, participaram: Luis Também envolvidos na será recebida pelo General Costa
Travassos, da UNE, Elinor Brito, passeata, Padres e freiras se e Silva daqui a alguns dias.
da FUEC, Irene Papi juntaram numa grande ala,
representando as mães, além de trazendo faixas com as seguintes A manifestação durou seis
exclamações: “Fazer calar horas, encerrando-se quando os
sindicalistas.
nossos moços é violentar nossas estudantes e populares
Vladimir Palmeira, o consciências” e repetindo chegaram ao Palácio Tiradentes.
presidente da UME, marcou slogans como “A Igreja quer Não houve nenhum conflito com
presença no evento e foi justiça”, “Liberdade para os a polícia, terminando de forma
destaque. Fez vários discursos, presos”, “Os alunos têm razão”. pacífica e sem repressão.
repetindo sempre aos estudantes
que não aceitassem provocações Os artistas percorreram a Ass.: Wisa Lima Azevedo.
de policiais infiltrados na passeata de mãos dadas,
concentração. Às 14h, iniciou-se seguidos pelos intelectuais.
a passeata, que foi crescendo o Faziam parte do protesto Gilberto
número gigantesco de pessoas Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo,
ao longo das horas. Os Nana Caymmi, Torquato Neto,
manifestantes caminharam pelas Tônia Carrero, Paulo Autran,
Antônio Pedro, Nélson Mota,
GIRO DE NOTÍCIA
Rio de Janeiro, sexta-feira, 22 de agosto de 1968 WISA AZEVEDO