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All content following this page was uploaded by Caroline Gaudeoso on 05 October 2018.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é desenvolver um tutorial para uso do software i-Simpa, que é gratuito e de
código aberto, utilizado para simulação de projeto aplicado a acústica de salas. Cada tipo de atividade de-
senvolvida num ambiente requer um certo conforto acústico. Ao projetista, é necessário o conhecimento
técnico das necessidades acústicas, para que os parâmetros acústicos ideais ao local sejam alcançados.
Tal conhecimento é aplicado no momento em que os profissionais trabalham manipulando as questões
geométricas e de tratamento acústico da sala. A tecnologia contribui de forma essencial no desenvolvi-
mento de projetos qualificados acusticamente desde a fase de estudos iniciais. Os softwares possibilitam
a manipulação dos elementos, formas e geometria com a finalidade de entregar um projeto final com a
performance acústica apropriada e alinhada aos parâmetros objetivos desejados. Este trabalho utilizou
como referência o estudo de uma sala de aula para ensino de música com volume de 69 [m3 ], apresentado
em [1]. Os resultados foram comparados entre os softwares i-Simpa (gratuito) e outro comercial.
ABSTRACT
The objective is to desenvolve a tutorial on the room acoustics software i-Simpa, which is free and open
source. Diferent activities in a room requires an specific acoustic project. The designer should have the
knowledge to create a project based on the acoustic needs in the case, so the acoustic parameters needed
can be reached. The tecnology contributes in a very crucial way on the development of acustically
qualified projects since the begining. The room acoustics software gives us the possibility to manipulate
the elements, forms and geometry with the aim to deliver a final project with the apropriate acoustic
parameters. The room simulated was a room for music studies with volume of 69 [m3 ], taken from [1].
The results were compared with a comercial software.
Bassuet, Rife, e Dellatorre [3] estudaram a relevância das ferramentas de modelagem e otimi-
zação, fornecendo suporte na busca de soluções em salas de arquitetura complexa. Os autores
concluíram que essas ferramentas entregam um resultado acústico mais intuitivo e interativo,
dando habilidade de moldar os espaços com um entendimento integral do comportamento sonoro
no ambiente.
De acordo com Bork [4], um bom software de acústica de salas deve ser capaz de calcular
diversos parâmetros, entregar confiabilidade e exatidão, apresentar flexibilidade de uso como
em casos especiais (salas com diferentes configurações de geometria e materialidade), ter a
capacidade de modelar a direcionalidade das fontes e receptores, a variação dos coeficientes de
absorção e espalhamento, além de precisão nos cálculos em todas as faixas de frequência.
Este artigo tem o objetivo de desenvolver um tutorial para uso do software i-Simpa, que é gratuito
e de código aberto destinado a simulação de acústica de salas.
Cada software de acústica de salas utiliza um método diferente para realizar cálculos e entregar
resultados. O método de traçado de raios pode ser classificado como estocástico, pois muitos
aspectos são modelados a partir de variáveis aleatórias. No instante t=0 [s], a fonte sonora emite
um número finito de raios Nr . Cada raio sonoro possui uma determinada quantidade de energia
inicial. Em um dos métodos para calcular a energia do raio, ele é refletido pelas superfícies
perdendo energia até atingir um receptor ou decrescer abaixo de um valor mínimo, segundo
Vorländer. [5]
Segundo [6], o método da radiosidade, ou método dos caminhos aleatórios, se baseia na troca de
energia sonora entre as superfícies em intervalos regulares de tempo (tempo de transição).
2. O programa i-Simpa
Durante a entrada dos dados, são solicitadas também as definições de condições climáticas
para o cálculo de coeficiente de absorção. É possível registrar a pressão atmosférica em [Pa],
temperatura em [°C], rugosidade da superfície (água, grama, etc.) em z0 [m], umidade relativa
do ar em [%] e opções meteorológicas avançadas para cálculos estatísticos.
Os cálculos no programa estão disponíveis em dois códigos numéricos, de modo que um utiliza
código de TCR, sigla francesa que significa "Théorie Classique de la Réverbération"tratando-se
de um cálculo da teoria clássica de reverberação proposta por Sabine [7] e Eyring [8], funcionando
apenas para espaços fechados.
O outro tipo trata do código de cálculo de SPPS, também uma sigla proveniente do francês
"Simulation de la Propagation de Particules Sonores", sendo este baseado no método de traçado
de partícula, utilizando a hipótese energética a partir da geometria importada. Esse código
pode ser aplicado na maioria das situações em acústica de salas, incluindo campo livre. Neste
método, cada partícula gerada pela fonte carrega uma quantidade de energia até colidir com um
objeto. Em cada colisão, as partículas sonoras são absorvidas, refletidas, espalhadas, difundidas
e transmitidas dependendo das características acústicas do objeto em colidido.
3. METODOLOGIA
O trabalho consistiu em duas etapas: (1) modelagem tridimensional da sala e (2) simulação
acústica no programa i-Simpa e em um software comercial para a comparação.
A sala utilizada tem formato retangular com volume de 69,0 [m3 ], de modo que suas característi-
cas acústicas estão apresentadas em [1]. Nela há uma porta, duas janelas em paredes opostas,
mobiliário composto por quatro cadeiras e quatro tipos de materiais de revestimento. A simulação
seguiu a metodologia de ensaios indicada na norma [9] que também especifica os parâmetros
objetivos que devem ser estudados relacionados à qualidade e inteligibilidade das salas.
A Figura 1 mostra a interface do i-Simpa com a geometria importada, uma fonte (em vermelho)
e um dos receptores (em verde) posicionados. Uma das vantagens do programa é que qualquer
nova função pode ser adicionada utilizando programação em Python.
Figura 1: interface inicial do i-Simpa.
As fontes pontuais ou planas são definidas a partir de seu espectro, posição, direcionalidade,
atraso e ruído de fundo. É possível alterar propriedades da fonte como sua direção, atraso de fase
e diretividade como mostra na Figura 3.
Os materiais podem ser criados um a um, preenchendo suas respectivas características. Para esse
estudo, foi utilizado o formato de arquivo .txt como no software CATT. A Figura 5 é um exemplo
de como o arquivo deve ser organizado para o devido reconhecimento. Para escolher o material
de cada superfície, ele deve ser adicionado às propriedades de cada grupo na aba Surfaces.
Primeiramente, o mesh deve ser feito. É indicado que se tente criá-lo antes de configurar toda
a simulação para conferir se a geometria tem erros. Para o cálculo dos parâmetros acústicos
serem realizados, deve-se clicar com o botão direito no tipo de cálculo desejado e selecionar Run
calculation, conforme se observa em Figura 6.
Figura 6: Propriedades do projeto.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Cada gráfico representa um parâmetro em duas curvas: uma é resultado do software comercial
(SC) e a outra o resultado do i-Simpa (IS). Os parâmetros comparados são: Tempo de Reverbe-
ração (TR), Tempo de Decaimento Inicial (EDT), Clareza (C50 e C80) e Definição (D50). O
método de cálculo do i-Simpa é SPPS e do software comercial é híbrido.
De acordo com Sabine [7], o Tempo de Reverberação é o tempo que a densidade de energia leva
para decair a 1 milionésimo da densidade de energia em estado estacionário, sendo este o período
em que a quantidade da mesma, fornecida pela fonte, se torna igual à quantidade energética total
absorvida pelos aparatos da sala, finalizando com uma energia sonora constante. De acordo com
essa definição, o TR mede quanto tempo a densidade de energia (ou quadrado do valor eficaz da
pressão sonora) leva para decair 60 [dB]. É possível também fazer o ajuste de decaimento da
curva entre -5 [dB] A -35 [dB] e assim obter o T30 (com 30 [dB] de decaimento), da mesma
forma obtém-se o T20 e T15. Os gráficos das Figuras 9 e 10 mostram os resultados de T30 e
T15 respectivamente.
Os resultados mostram que IS apresenta resultado superior nas duas situações e em ambas há
uma queda acentuada em 125 Hz tanto para SC quanto para IS. As curvas apresentam perfis
semelhantes.
Um baixo valor de EDT é um bom indicador de claridade na fala, ja que as reflexões iniciais
atingem o ouvinte nos primeiros 50 [ms] se somando ao som direto. Os resultados mostram que
IS apresentou maior EDT. IS e SC apresentam menor valor em 125 [Hz]. O perfil das curvas
segue aparência similar.
Os gráficos das Figuras 12 e 13 apresentam os resultados de C50 E C80, que é a razão da energia
da resposta impulsiva que chega ao ouvinte nos primeiros 50 [ms] e 80 [ms] respectivamente, e
a energia total que chega após esses limites. O C50 é um parâmetro destinado à fala e o C80 à
música.
Tanto os valores de C50 (Figura 12) e C80 (Figura 13) apresentaram resultados menores na simu-
lação com IS. Observa-se que C50 apresenta todos resultados negativos para ambos softwares,
indicando que há maior energia, para esse parâmetro, na cauda reverberante. No caso de Clareza,
quanto menor o resultado, menor é a sensação de clareza na sala. É possível verificar que o perfil
das duas curvas é semelhante. Ao se analisar C80, observa-se que o resultados de SC são todos
positivos, já IS negativos, com exceção da frequência de 125 [Hz], onde se observa um pico em
ambos os resultados.
Figura 12: C50. Figura 13: C80.
A compreensão da fala é analisada pelo índice Definição (D50) que consiste na razão entre a
energia do trecho inicial e a energia total do som contida no sinal nos primeiros 50 [ms]. Em se
tratando de porcentagem, valores mais próximos de 1 representam maior definição da fala. O
gráfico da Figura 14 apresenta os resultados de D50 para SC e IS.
Ambos resultados apresentaram D50 abaixo de 0,5 (50[%]). Novamente se observa um pico de
resultado em 125 [Hz], tanto com SC quanto com IS, bem como IS entregou resultados menores
que SC. Valores abaixo de 0,5 significam maior energia concentrada na cauda reverberante.
5. CONLUSÕES
Com o desenvolvimento deste trabalho, foi possível concluir que programas de simulação acústica
requerem processo de desenvolvimento do modelo tridimensional que se difere de modelagem
arquitetônica.
A ideia inicial do artigo era a realização da simulação de um ambiente que foi ensaiado in
loco, para então comparar os resultados com as medições. Obstáculos foram encontrados pois
o i-Simpa se demonstrou muito sensível à geometrias complexas, principalmente com grandes
paredes curvas. Mesmo assim, tentativas de simulação foram desenvolvidas, mas sem sucesso.
Portanto, conclui-se que o software i-Simpa apresenta limitações em modelos com paredes não
ortogonais. A mesma geometria complexa foi ensaiada no software comercial e os resultados
foram calculados sem problemas, indicando que melhorias podem ser feitas para que o i-Simpa
interprete com mais facilidade qualquer tipo de geometria.
Pode-se afirmar que o i-Simpa, é uma boa ferramenta de estudo e simulação de projetos, mas
outras análises devem ser feitas para compará-lo com resultados in loco, com o objetivo de
validar seus cálculos com o resultado real. O software comercial também pode haver resultados
diferentes de uma medição in loco, então o fato deles entregarem resultados diferentes, não
significa que algum está totalmente errado. É muito provável que ambos os softwares calculem
resultados diferentes de uma medição da sala real, já que a acústica é um estudo muito complexo
e estocástico para ser simulado com tanta certeza.
REFERÊNCIAS
[1] Brandão, E. Acústica de Salas: Projeto e Modelagem. 1a ed. São Paulo: Blucher, 2016.
[2] Christensen, C. L. Investigating room acoustics by simulations and measurements. Noise & Vibration Worldwide,
44(8):21–27, 2013.
[3] Bassuet, A.; Rife, D. e Dellatorre, L. Computational and optimization design in geometric acoustics. Building
Acoustics, 21(1):75–85, 2014.
[4] Bork, I. A comparison of room simulation software-the 2nd round robin on room acoustical computer simulation.
Acta Acustica united with Acustica, 86(6):943–956, 2000.
[5] Vorländer, M. Auralization: fundamentals of acoustics, modelling, simulation, algorithms and acoustic virtual
reality: Springer Science & Business Media, 2007.
[6] Camilo, T. e Tenenbaum, R. Método híbrido para simulação numérica de acústica de salas: Teoria, implantação
computacional e validação experimental. Acústica & Vibrações, 36:3–14, 2006.
[7] Sabine, W. C. Reverberation. the american architect and the engineering record, 1900. reprinted in: Collected
papers on acoustics, 1922.
[8] Eyring, C. F. Reverberation time in “dead” rooms. The Journal of the Acoustical Society of America, 1(2A):
217–241, 1930.