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TEOLÓGICA
RESUMO
As questões referidas aos direitos humanos é sempre tema de debate, por isso, este
artigo se destina a estudar santo Tomás de Aquino, especificamente o tratado da
justiça de sua obra Suma Teológica, uma das obras clássicas mais abordadas em
questões filosóficas, jurídicas e teológicas. O intuito do trabalho é discutir a influência
do pensamento tomista, consequentemente cristão, como fundamento da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, além disso se abordam aspectos do pensamento do
escolástico que ferem o objetivo de dita declaração. Além do tratado da justiça, foi
necessária a leitura da questão das Pessoas Divinas, a questão sobre as leis e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Recorreu-se também a estudiosos do
filósofo medieval como Marcius Tadeus Maciel Nahur, Lino Rampazzo, Robert
Spaemann que ajudaram na discussão.
INTRODUÇÃO
1Aluno do primeiro ano do Bacharelado em Filosofia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo
(UNISAL). E-mail: franga955@gmail.com, Orientador: Prof. Me. Douglas Rodrigues.
Teológica. Passa-se logo a analisar o termo dignidade como decorrência do termo
pessoa, atributo do homem, que é defendido pelos Direitos Humanos.
Após as discussões destes dois termos, estabeleceu-se um encontro do
pensamento do Doutor da Igreja e alguns artigos da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, isso em perspectiva de encontrar possíveis contradições entre o filosofo
medieval e os objetivos da Declaração.
Para abordar esta problemática, foi necessária a leitura do Tratado da Justiça,
sobre o Homem e sobre as leis da Suma Teológica, além disso, recorreu-se a
estudiosos da área da filosofia e do direito que enriquecem a presente discussão.
O tema relacionado aos direitos de uma pessoa não é uma questão recente,
quiçá tenha ganhado relevância desde a elaboração da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, após as terríveis guerras nas quais se vivenciaram fatos
desumanos. Episódios de violência e degradação do ser humano são as razões que
motivaram as organizações a nível mundial trabalharem em prol da consciência e de
salvaguardar os Direitos Humanos.
Deve-se compreender que estes dois termos, direito e pessoa, embora
adquiriram relevância desde o ano 19482 já foram expostos no pensamento tomista
na Suma Teológica, referindo-se ao direito, o boi mudo da Sicília, advertiu o perigoso
risco de interpretação que o tempo gera na palavra, tendo em vista o seu sentido
polissêmico, e isto nota-se na resposta à primeira objeção da questão 57 da sua obra.
2 Ano da proclamação da declaração universal dos direitos humanos (DUDH) no dia 10 de dezembro.
No que concerne ao termo pessoa, esta é uma das primeiras questões tratadas
por Tomás de Aquino, porém o conceito desta palavra não é uma descoberta feita
pelo filósofo medieval. Com o significado que é conhecida na atualidade, pessoa
provém do tempo da patrística, as primeiras noções da palavra são decorrências dos
concílios de Nicéia (325) e Calcedônia (451) em que o termo foi utilizado para falar de
Deus e de Cristo. Deve-se ter em conta que nesta época em que a revelação judaico-
cristã espalhou-se com grande influência na cultura ocidental, as línguas
predominantes eram o latim e o grego, logo, pode-se entender melhor a palavra
fazendo um pequeno percorrer na história, com isto, evidencia-se como uma palavra
torna-se polissêmica com o transcorrer do tempo.
Na antiga Roma, utilizavam a palavra latina persona para indicar a máscara
utilizada habitualmente pelos atores. No século III a. C, o termo foi utilizado para
indicar as pessoas gramaticais, depois, entendeu-se no sentido de pessoa jurídica.
Assim também, na Grécia antiga, o termo prósopon, que significa rosto, também
representava a máscara utilizada pelos atores, este termo grego é o que mais se
aproxima ao termo persona em latim e com a formação das línguas neolatinas, em
português é traduzido o termo latino por pessoa. Enfim, as discussões sobre a
Trinidade são as que no final das contas levaram os padres da Igreja à utilização das
palavras prósopon e persona para tentar explicar as três pessoas divinas.
(RAMPAZZO, 2010).
Sobre este panorama histórico acima mencionado, o filósofo Tomás de Aquino
estabeleceu também seu pensamento filosófico sobre a mesma problemática, quer
dizer, a Trinidade. Explicitando que o termo pessoa pode ser utilizado em Deus,
assumindo a herança do termo estabelecido pelos padres da Igreja. No seu Tratado
De Deo Trino, na questão 29, encontra-se esta explicitação que clarifica o raciocínio
sobre o termo.
Como bem o explicou o filósofo medieval, pode-se aplicar o termo pessoa para
definir Deus e para definir o ser humano, mas é importante entender que no
pensamento tomista, entre o homem e Deus existe uma diferença, segundo o
aquinatense, Deus é Ipsum esse subsistens3 , ao contrário dos homens que são seres
criados, de certo modo o indivíduo encontra-se no gênero da substância, aliás, o
homem segundo o autor da Suma Teológica é substância composta4 , no sentido de
possuir um gênero, uma espécie e uma diferença, assim também, a substância
composta apresenta acidentes, isto é, a cor branca, pequena, alta, entre outros.
A diferença a que se tem falado é a que esclarece a postura do santo angélico
abordando a definição de Boécio que trouxe o qualificativo racional como
característica do homem. Salienta-se a valorização do homem como criatura
privilegiada, única no gênero com possibilidade de utilizar o raciocínio lógico para
explicar as grandes questões do mundo, de Deus e do homem mesmo. A
racionalidade é o que faz com que o homem seja homem, logo, pode se chamar de
pessoa.
3 Refere-se à doutrina do ser de Tomás de Aquino, Deus é ato puro, tem seu ser em e por si mesmo.
4Chama-se substâncias compostas aos seres que possuem matéria e forma na doutrina do ser de
Tomás de Aquino.
são substâncias compostas pode possuir, por isso a pessoa é considerada sujeito de
direitos.
5A expressão Imago Dei na tradição judaico-cristã faz referência ao relato da criação, segundo o qual
Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança, especificamente no que se refere à sua alma
imortal. Na Vulgata a expressão encontra-se no plural, fazendo referência a “homem e mulher”, em
Gênesis 1.27: “et creavit Deus hominem ad imaginem suam ad imaginem Dei creavit illum masculum
et feminam creavit eos”. Cf.: BÍBLIA SAGRADA. Vulgata Latina. Disponível em:
<http://www.bibliacatolica.com.br/vulgata-latina/liber-genesis/1/>. Acesso em: out. 2018.
político. Nessa perspectiva, o tratado de Justiça na Suma Teológica, que é
amplamente desenvolvido pelo aquinatense, pode servir como esclarecedor do direito
à dignidade dentro de um contexto social, em que se demanda um elemento de
igualdade e um reconhecimento do outro como digno e possuidor de direitos.
Sendo a justiça uma virtude relacional, tal igualdade exige alteridade. Isto é,
o direito exige o reconhecimento da pessoa do outro e de sua condição de
sujeito de direitos, que constituem deveres para os demais. Há um vínculo de
reciprocidade na comunidade que faz com que cada um espere ser tratado
como pessoa humana, do mesmo modo como é capaz de tratar o outro
(RAMPAZZO; NAHUR, 2015, p. 133-134).
Em suma, tendo visto como a dignidade faz parte essencial do homem torna-
se impossível tratar as questões da pessoa humana sem deter-se naquele atributo
que os Direitos Humanos ao longo do tempo se propõe defender.
[...] Que um homem seja escravo e outro não, é coisa que, de um ponto de
vista absoluto, não tem razão natural, mas só razão de utilidade, porquanto é
útil ao escravo ser governado por um homem mais prudente, e é útil a este
último ser auxiliado pelo escravo [...] (AQUINO, 1980 p. 2484.).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, Trad. CORREA, Alexandre. Porto Alegre
Grafosul, 1980.