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RESUMO
O ensino das ciências experimentais, com enfoque para a Química, na formação de futuros
profissionais, requer do professor um conjunto de habilidades profissionais que lhe permitam
adoptar métodos e procedimentos que assegurem a efectiva aprendizagem significativa e
contextual dos conteúdos por parte dos alunos. O presente trabalho teve como objectivo
analisar a percepção dos professores e alunos sobre as práticas experimentais no processo
de ensino-aprendizagem da Química na Escola de Magistério Comandante Kwenha BG 1124,
Benguela, que forma professores desta disciplina para o 1.º ciclo do Ensino Secundário. Para
a realizou-se do estudo, utilizaram-se métodos de investigação de nível teórico, empírico
e matemático-estatístico. Trabalhou-se com uma amostra de 6 professores e 37 alunos,
durante o ano lectivo de 2019. Os resultados do estudo sugerem a existência de limitações
na utilização de práticas experimentais no processo de ensino-aprendizagem da Química,
não obstante os professores e alunos atribuírem singular importância à experimentação para
o desenvolvimento de aprendizagem significativa dos conteúdos. O estudo sugere, igual-
mente, a necessidade de acções de superação dos professores para a adopção de práticas
experimentais com recurso aos materiais de fácil acesso, potenciando maior interesse dos
alunos pela disciplina e pela futura profissão docente no ensino secundário.
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(Eurico, 2021, p. 25), estimulando ainda a habilidade de observação, já que, como refere
Pimentel, a “[...] experiência é uma sequência verificada de observações. Um bom experi-
mentador é um bom observador” (Pimentel, 1963, p. 23), o que implica o recurso da mani-
pulação de materiais.
No ensino da disciplina de Química é particularmente comum observarem-se, nas prá-
ticas educativas, aulas baseadas apenas na exposição do professor, com recurso à cálculos
químicos no quadro, as vezes de difícil compreensão e aplicação prática pelos estudantes,
limitando a sua capacidade de serem eles os protagonistas da sua aprendizagem.
A prática experimental na disciplina de Química, quando utilizada pelo professor, “[...]
atrai a atenção dos alunos para as aulas, [...] uma vez que os alunos são aproximados das
práticas científicas” (Santos & Menezes, 2020, p. 187), o que contrasta com um modelo de
ensino mais transmissivo, porquanto “atrelando o que é estudado teoricamente com a ma-
nipulação prática, os alunos podem alcançar uma aprendizagem que não será perdida em
sequência e que irão tornar significativa” (Santos & Menezes, 2020, p. 188), exercendo o que
requer a sua presença permanente pelas suas contribuições na aprendizagem da Química
(Biasoto & Carvalho 2007; Borges, 2002; Galiazzi & Gonçalves, 2004; Gonçalvez & Marques,
2006; ambos cit. em Oliveira, 2016, pp. 27-28), conforme se sistematizam na figura 1:
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características principais de cada tipo de actividade experimental em função do envolvimento
dos sujeitos no processo de ensino-aprendizagem da Química.
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de Magistério Comandante Kwenha BG 1124, Benguela, a partir da identificação do estado
actual das práticas educativas nesta disciplina, conducente a formação inicial de professores
desta disciplina no 1.º ciclo do ensino secundário.
MATERIAIS E MÉTODOS
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os alunos foram questionados sobre o gosto pela disciplina de Química, pois se con-
sidera um indicador essencial para a aprendizagem da disciplina (Tabela 2):
Resposta Frequência %
Sim 33 89,19
Não 3 8,11
Não sei 1 2,70
Total 37 100
Fonte: Elaboração própria.
Como se infere, a maioria dos alunos, 89,19%, diz gostar da disciplina, o que permite
inferir uma óptima oportunidade para a introdução de metodologias inovadoras. Muitas vezes,
o que leva os alunos gostarem ou não da disciplina de Química é a maneira como os profes-
sores leccionam os conteúdos e motivam os alunos para a aprendizagem, o que gera uma
enorme empatia professor-aluno, permitindo, deste modo, trabalhar os conteúdos em função
dos resultados da aprendizagem, não se sabendo, no entanto, se esta percentagem alta
tenha que ver com as implicações de utilização ou não de práticas experimentais no ensino
da Química. Não obstante, é um indicador positivo no processo de ensino-aprendizagem,
pois, como refere Silva, Mendes, Carvalho e Malta (2018), a existência de desmotivação e,
consequentemente, da dificuldade do educando em aprender a Química está intimamente
ligado à rotina e a monotonia das aulas que eles são obrigados a “suportar” diariamente.
Quando questionados sobre qual é a sua opinião sobre o ensino de Química somente
em sala de aula, os resultados são os que se observam na tabela 3.
Resposta Frequência %
É bom, mas no laboratório é melhor ou mais interessante 13 35,14
Não gosto porque é mal 9 24,32
É difícil entender 15 40,54
Total 37 100
Fonte: Elaboração própria.
Como se pode apreciar nos dados anteriores, 35,14% afirmam que é bom, mas no
laboratório é melhor ou mais interessante. Estas respostas permitem inferir a necessidade
dos alunos com as práticas experimentais no ensino da Química, “[…] pois a prática permi-
te que o aluno possa visualizar os fenómenos […] presentes no quotidiano e desta forma
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entender a causa dos mesmos” (Maia, Cipriano & Silva, 2021, p.34711), e como se infere,
metade dos alunos pensam que o estudo de Química é monótono e cansativo ou de difícil
entendimento. A outra parte dos alunos concorda que as aulas no laboratório são melhores
e mais interessantes, evidenciando uma possível solução para o problema.
Nesta perspectiva, Carvalho, Lima e Ribeiro (2007) atribuem o desinteresse dos alunos
a diversos factores como a ausência de laboratórios nas escolas, que dificultam a realização
de aulas práticas. Os professores não utilizam bibliotecas e recursos multimédia, ou não reali-
zam métodos interactivos de aprendizagem, o que repercute na aprendizagem dos conteúdos.
Os alunos foram questionados sobre quais as suas perspectivas sobre as aulas de
Química, onde 51,35% afirmam que seria melhor e mais interessado na aula se as aulas
fossem experimentais, o que contrasta com o gosto pela disciplina apresentando na primeira
questão. Sendo a Química ela própria uma ciência experimental (Pimentel, 1963), é neces-
sário estabelecer uma relação entre a teoria com a prática para facilitar a aprendizagem dos
conteúdos, de outro modo, quando são trabalhados de forma teórica e não se contextualiza,
dificulta a aprendizagem e tornando as aulas menos atraentes. Neste sentido, é importante
apresentar aos alunos situações motivadoras, a fim de despertar o seu interesse e a aplica-
bilidade dos conteúdos da Química, recorrendo à contextualização através da utilização de
aulas práticas para estimular o interesse do aluno (Almeida, Santos & Silva, 2010).
Nas observações feitas pelos questionários dos alunos, infere-se a importância das
práticas experimentais, principalmente quando se trata de dar significado ao conteúdo de
estudo, pois, para a maioria dos alunos, consideram a disciplina de Química interessante,
é necessário que o professor contextualize os conteúdos. Do mesmo modo, a maioria dos
alunos afirma que aprenderiam mais se houvesse aulas práticas, portanto, é importante que
o aluno consolide a teoria por via da prática. Para isso, é necessário que os alunos partici-
pem delas, dando o seu contributo, terem espírito crítico e saibam explicar e criticar a teoria
aprendida em sala com práticas experimentais.
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não é tão necessário que haja laboratório ou materiais convencionais para que se faça uma
experiência nas aulas. Pode-se fazer experiências com recurso a materiais de fácil acesso,
sendo, como afirma Gonçalves (2005), materiais de baixo custo e com fácil aquisição de
reagentes e equipamentos, motivando os professores a realizarem práticas experimentais.
Quando questionados se tem feito experiências ao leccionar os conteúdos de Química
na sua leccionação, apenas 16,7% dos inquiridos realiza experiência, outros 83,3% profes-
sores reconhecem que não realizam práticas experimentais. Esses resultados permitem
inferir que muitos professores primam simplesmente em teoria, o que leva muitos alunos
a não demostrar interesse nas aulas, o que, segundo Torres; Teixeira e França (2013), o
absentismo por desinteresse das aulas aparece com maior importância nos relatos asso-
ciados ao abandono.
No contexto dos tipos diferenciados de experiências, os professores foram questionados
sobre as que mais realizam (Tabela 4).
Tabela 4. Opinião dos professores sobre o tipo de experiências que predomina no ensino da Química.
Resposta Frequência %
Prática de Laboratório 0 0
Experiência manipulativas 1 16,7
Experiência demonstrativas 5 83,3
Experiência virtual 0 0
Experiência de aula 0 0
Experiência problematizadora 0 0
Total 6 100
Fonte: Elaboração própria.
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Tabela 5. Opinião dos professores sobre a frequência da realização de actividades experimentais.
Resposta Frequência %
Já o leccionei sem experimentos 5 83,3
Já o leccionei com experimentos 1 16,7
Já o leccionei e os alunos mostraram algumas dificuldades de aprendizagem 0 0
Já o leccionei e os alunos aprenderam sem dificuldades alguma 0 0
Já o leccionei e os alunos apresentaram muitas dificuldades 0 0
Total 6 100
Fonte: Elaboração própria.
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[...]as escolas criem condições de forma a melhorar o processo de ensino-
-aprendizagem da Química (opinião de 16,7% dos professores).
Para que as aulas de Química não sejam simplesmente teóricas, é necessário que
as escolas criem condições para a implementação das práticas experimentais. “A maioria
dos docentes esbarra na falta de estrutura adequada em muitas unidades escolares, espe-
cialmente da escola pública, ainda deficiente no atendimento às demandas de actividades
práticas em laboratório ou até mesmo em campo” (Dantas, et al. 2021, p.20046), colocando
de parte todas as alternativas didáticas que potenciem a […] experimentação, […] a partir dos
materiais do dia-a-dia, por serem de fácil aquisição […], como alternativa aos laboratórios
convencionais” (Justino & Agostinho, 2022, p.62), o que reforça a necessidade de acções
de intervenção profissional para que os professores sejam capacitados em metodologias
práticas para a adapção das práticas experimentais no ensino da Química.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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As experiências com material de fácil acesso consideram-se exequíveis para o contexto
das escolas angolanas que, com limitações em termos de recursos, podem fazer com que
até alunos das sociedades mais carentes experimentem práticas inovadoras de ensino, e
apresentem a possibilidade de fazer a ligação entre a teoria e prática, optimizando o apren-
dizado e deixando-o mais interessado.
O estudo permitiu identificar a necessidade de acções de capacitação dos professo-
res em práticas experimentais com recurso aos materiais de fácil acesso, que promovam
mudanças no seu modo de actuação profissional na prática educativa nesta escola de for-
mação de professores.
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