Você está na página 1de 13

14

Práticas experimentais no ensino das


Ciências: percepção dos professores e
estudantes na disciplina de Química numa
Escola de Magistério, Benguela, Angola

Paulino Ndulo Tchilata


Instituto Superior Politécnico Católico de Benguela,
Angola

Carlos Alberto Rodrigues Pinto


Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla,
Angola

Fernando Vianeque Agostinho


Instituto Superior de Ciências da Educação de Bengue-
la, Angola

Margareth Azenaid Ebó Pereira João


Justino
Magistério Primário do Nambambe, Lubango, Angola

'10.37885/221211589
RESUMO

O ensino das ciências experimentais, com enfoque para a Química, na formação de futuros
profissionais, requer do professor um conjunto de habilidades profissionais que lhe permitam
adoptar métodos e procedimentos que assegurem a efectiva aprendizagem significativa e
contextual dos conteúdos por parte dos alunos. O presente trabalho teve como objectivo
analisar a percepção dos professores e alunos sobre as práticas experimentais no processo
de ensino-aprendizagem da Química na Escola de Magistério Comandante Kwenha BG 1124,
Benguela, que forma professores desta disciplina para o 1.º ciclo do Ensino Secundário. Para
a realizou-se do estudo, utilizaram-se métodos de investigação de nível teórico, empírico
e matemático-estatístico. Trabalhou-se com uma amostra de 6 professores e 37 alunos,
durante o ano lectivo de 2019. Os resultados do estudo sugerem a existência de limitações
na utilização de práticas experimentais no processo de ensino-aprendizagem da Química,
não obstante os professores e alunos atribuírem singular importância à experimentação para
o desenvolvimento de aprendizagem significativa dos conteúdos. O estudo sugere, igual-
mente, a necessidade de acções de superação dos professores para a adopção de práticas
experimentais com recurso aos materiais de fácil acesso, potenciando maior interesse dos
alunos pela disciplina e pela futura profissão docente no ensino secundário.

Palavras-chave: Prática Experimental, Ensino da Química, Formação de Professores.


INTRODUÇÃO

O ensino das Ciências pressupõe o recurso às práticas experimentais como um im-


perativo para uma aprendizagem eficaz, duradoura e significativa, estando associadas às
próprias ciências, designadas de ciências de cariz experimental. O recorrido efectuado à
Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino de Angola, é possível constatar pautas de
orientação da política educativa voltada para a experimentação, ao referir, por exemplo,
como um dos objectivos do 2.º ciclo do ensino secundário geral, “fomentar a aquisição e
aplicação de um saber cada vez mais aprofundado, assente no estudo, na reflexão crítica,
na observação e na experimentação” (alínea d. art.33.º da Lei N.º 17/16, de 7 de Outubro),
ou ainda, quando orienta, “Desenvolver experiências práticas, fortalecendo os mecanismos
de aproximação entre a escola e a comunidade, dinamizando a função inovadora e inter-
ventora na vida social” (alínea f. art.33.º).
No contexto da formação inicial de professores de ciências, em particular de Química, a
experimentação adquire particular importância por se constituir um contexto de transferência
de competências profissionais para “assegurar o desenvolvimento do raciocínio, da reflexão
e da criatividade técnico-pedagógica e científica” (alínea c. art.48.º da Lei N.º 17/16, de 7
de Outubro), com incidência na formação de futuras gerações, como “[…] medidas sobre
políticas educativas que assumem […] compromissos de intervenção sobre os problemas
inerentes à qualidade do ensino […]” (Bendrau & Agostinho, 2022, p.76339), pela adopção
de práticas educativas inovadoras e consentâneas com a formação baseada em preceitos
que fomentam a aprendizagem significativa nos alunos.
As práticas experimentais no ensino das ciências exerce um papel fundamental na
“[...] promoção de uma prática educativa que conduza à formação dos estudantes sobre
a base de um enfoque investigativo permanente, [...] trazendo a problemática social para
que estes, os alunos, proponham formas de solucioná-los a partir das potencialidades dos
conteúdos” (Agostinho & Bendrau, 2022, p. 75331), o que incide na aprendizagem concep-
tual, procedimental e atitudinal dos estudantes. Esta dinâmica, coloca os estudantes como
sujeitos activos, passando de meros ouvintes e reprodutores das exposições docentes, à
reflexão, a indagação, ao questionamento, estimulando capacidades de argumentação, de
pensamento, participando de discussões propostas pelo professor, “[...] tendo como base
a realização de práticas experimentais dos conceitos que são abordados em sala de aula”
(Nunes, Lima, & Neto, 2022, p. 57776).
No contexto do processo de ensino-aprendizagem das ciências, “a utilização de ac-
tividades experimentais, [...] permite o envolvimento dos alunos em processos e métodos
científicos, [...] na realização de trabalhos científicos bem como na resolução de problemas
do quotidiano através da comunicação, interpretação, reflexão, discussão, entre outros”

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
187
(Eurico, 2021, p. 25), estimulando ainda a habilidade de observação, já que, como refere
Pimentel, a “[...] experiência é uma sequência verificada de observações. Um bom experi-
mentador é um bom observador” (Pimentel, 1963, p. 23), o que implica o recurso da mani-
pulação de materiais.
No ensino da disciplina de Química é particularmente comum observarem-se, nas prá-
ticas educativas, aulas baseadas apenas na exposição do professor, com recurso à cálculos
químicos no quadro, as vezes de difícil compreensão e aplicação prática pelos estudantes,
limitando a sua capacidade de serem eles os protagonistas da sua aprendizagem.
A prática experimental na disciplina de Química, quando utilizada pelo professor, “[...]
atrai a atenção dos alunos para as aulas, [...] uma vez que os alunos são aproximados das
práticas científicas” (Santos & Menezes, 2020, p. 187), o que contrasta com um modelo de
ensino mais transmissivo, porquanto “atrelando o que é estudado teoricamente com a ma-
nipulação prática, os alunos podem alcançar uma aprendizagem que não será perdida em
sequência e que irão tornar significativa” (Santos & Menezes, 2020, p. 188), exercendo o que
requer a sua presença permanente pelas suas contribuições na aprendizagem da Química
(Biasoto & Carvalho 2007; Borges, 2002; Galiazzi & Gonçalves, 2004; Gonçalvez & Marques,
2006; ambos cit. em Oliveira, 2016, pp. 27-28), conforme se sistematizam na figura 1:

Figura 1. Contribuições das práticas experimentais no ensino da Química.

Fonte: Elaboração própria a partir dos autores consultados.

As práticas experimentais no ensino da Química apresentam-se sob diversas formas, de


acordo com os objetivos de aprendizagem a serem alcançados e a natureza do envolvimento
dos alunos frente às actividades manipulativas propostas. Segundo Araújo e Abib (2003),
as actividades experimentais classificam-se em três tipos de abordagem ou modalidades:
actividades de demonstração, de verificação e de investigação. Na tabela 1 se sintetizam as

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
188
características principais de cada tipo de actividade experimental em função do envolvimento
dos sujeitos no processo de ensino-aprendizagem da Química.

Tabela 1. Formas de experimentação aplicáveis ao ensino da Química.

Actividades experimentais Principais características


apresenta como propósito a comprovação de algo já estabelecido, impossibilitando assim a construção
do conhecimento científico. O professor executa o experimento enquanto os alunos apenas observam
demonstrativas
os fenómenos ocorridos, sendo realizadas no seu início, para despertar o interesse do aluno, ou término
da aula, para relembrar os conteúdos apresentados.
consiste na obtenção do conhecimento científico por meio de observações e do uso do método cien-
de verificação tífico. São destinadas a verificar ou confirmar alguma lei ou teoria. Os alunos são estimulados a in-
terpretar parâmetros que determinam o comportamento dos fenómenos observados, articulando-os
com conceitos científicos que conhecem.
nesta, são as hipóteses que direcionam as experimentações; uma valorização da construção do conhe-
cimento científico, sendo este mutável e, assim sendo, passível de reformulações. Os alunos participam
activamente de todas as etapas da investigação, desde a interpretação do problema até a apresentação
investigativas
de uma possível solução para ele; oferecem oportunidades para que os estudantes possam analisar
situações problemáticas, coletar dados, elaborar e testar hipóteses para a solução dos problemas e
discutir com os pares.
Fonte: Elaboração própria a partir de Araújo & Abib (2003, cit. em Oliveira, 2016, p. 29).

É comum confrontar-se com contextos educativos em que os professores confirmem a


realização de práticas experimentais, no entanto, muitas vezes essas práticas não saem dos
muros de práticas demonstrativas, no Ensino de Química ou Ciências, devido à insegurança
por parte dos professores para utilizar outras formas de experimentação, que se baseiam,
muitas vezes, às próprias limitações da formação inicial dos professores e que se repercute
no seu contexto laboral. É obvio que a adopção predominante de práticas demonstrativas,
limitam o desenvolvimento das capacidades científicas dos alunos e a não valorização das
suas ideias intuitivas, não permitindo que se envolvam em discussões para chegar às pró-
prias conclusões.
Neste sentido, Lewin e Lomáscolo (1998) referem que o envolvimento activo dos alunos
nas práticas experimentais favorece fortemente a motivação dos estudantes, fazendo-os
adquirir atitudes tais como a curiosidade, desejo de experimentar, acostumar-se a duvidar
de certas informações, a confrontar resultados, a obterem profundas mudanças conceituais,
metodológicas e atitudinais. Assim, é necessário que o professor tenha claros os objectivos
pelos quais deseja incluir as actividades experimentais, além de conhecer profundamente o
conteúdo a ser tratado a partir da experimentação e escolher conscientemente a abordagem
a ser utilizada no ensino da Química no contexto da formação inicial de professores desta
disciplina, como uma exigência educativa actual associada à permanente “[…] necessidade
de buscar novas metodologias alternativas para que práticas pedagógicas possam desper-
tar o interesse dos alunos pela Química e motivá-los ao estudo desta Ciência fascinante”
(Dantas, Oliveira, Orge, Silva & Luz, 2021, p.20046).
O presente trabalho teve como escopo analisar a percepção dos professores e alunos
sobre as práticas experimentais no processo de ensino-aprendizagem da Química na Escola

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
189
de Magistério Comandante Kwenha BG 1124, Benguela, a partir da identificação do estado
actual das práticas educativas nesta disciplina, conducente a formação inicial de professores
desta disciplina no 1.º ciclo do ensino secundário.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo surgiu no quadro do trabalho de fim do curso de licenciatura em ensino da


Química pelo Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla. O estudo foi realizado na
Escola de Magistério “Comandante Kwenha” BG-1124, Benguela. Para o efeito, optou-se por
uma investigação de tipo descritiva-explicativa na base do defendido por Lakatos e Marconi
(2017) e (Gil, 2019). Estes autores concordam que este tipo de investigação preconiza a
descrição das características do fenómeno estudado, permitindo que se identifique e se expli-
que os factores que determinam ou que contribuem para a ocorrência do referido fenómeno.
A abordagem de estudo foi maioritariamente quantitativa pelo tipo de dados recolhidos
e tratados. A modalidade do estudo foi fenomenológica e teve quatro incidências, designa-
damente, a revisão bibliográfica narrativa, a recolha empírica de dados, a análise descritiva
e inferencial dos dados, e a produção da resposta ao problema (Vosgerau & Romanowski,
2014; Lakatos & Marconi, 2017).
Os dados empíricos são quantitativos e foram recolhidos por via de um inquérito por
questionário, para a recolha de informação temática válida e fiável, em torno das quais se
produzem conclusões passíveis de serem generalizadas ao universo da população em es-
tudo (Lakatos & Marconi, 2017).
Os instrumentos (questionários) aplicados foram semi-estruturados envolvendo ques-
tões abertas e fechadas. Os dois questionários foram validados por opinião de especialistas.
Para a realização do estudo, foi considerada a população constituída por 74 alunos da 11.ª
Classe do ano lectivo 2019 e 6 professores de Química, num total 80 indivíduos. Desta,
extraiu-se uma amostra aleatória simples de 43 indivíduos. Os professores foram todos
incluídos e os alunos foram tomados pela metade por escolha aleatória de uma das duas
turmas. Os questionários foram respondidos num tempo aproximado de quinze minutos pelos
professores e alunos. A organização dos dados foi feita de forma quantitativa computando
por média percentual as respostas por semelhança.

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
190
RESULTADOS E DISCUSSÕES

A opinião dos alunos

Os alunos foram questionados sobre o gosto pela disciplina de Química, pois se con-
sidera um indicador essencial para a aprendizagem da disciplina (Tabela 2):

Tabela 2. Opinião dos alunos sobre o gosto pela disciplina de Química.

Resposta Frequência %
Sim 33 89,19
Não 3 8,11
Não sei 1 2,70
Total 37 100
Fonte: Elaboração própria.

Como se infere, a maioria dos alunos, 89,19%, diz gostar da disciplina, o que permite
inferir uma óptima oportunidade para a introdução de metodologias inovadoras. Muitas vezes,
o que leva os alunos gostarem ou não da disciplina de Química é a maneira como os profes-
sores leccionam os conteúdos e motivam os alunos para a aprendizagem, o que gera uma
enorme empatia professor-aluno, permitindo, deste modo, trabalhar os conteúdos em função
dos resultados da aprendizagem, não se sabendo, no entanto, se esta percentagem alta
tenha que ver com as implicações de utilização ou não de práticas experimentais no ensino
da Química. Não obstante, é um indicador positivo no processo de ensino-aprendizagem,
pois, como refere Silva, Mendes, Carvalho e Malta (2018), a existência de desmotivação e,
consequentemente, da dificuldade do educando em aprender a Química está intimamente
ligado à rotina e a monotonia das aulas que eles são obrigados a “suportar” diariamente.
Quando questionados sobre qual é a sua opinião sobre o ensino de Química somente
em sala de aula, os resultados são os que se observam na tabela 3.

Tabela 3. Opinião dos sobre o estado actual das aulas de Química.

Resposta Frequência %
É bom, mas no laboratório é melhor ou mais interessante 13 35,14
Não gosto porque é mal 9 24,32
É difícil entender 15 40,54
Total 37 100
Fonte: Elaboração própria.

Como se pode apreciar nos dados anteriores, 35,14% afirmam que é bom, mas no
laboratório é melhor ou mais interessante. Estas respostas permitem inferir a necessidade
dos alunos com as práticas experimentais no ensino da Química, “[…] pois a prática permi-
te que o aluno possa visualizar os fenómenos […] presentes no quotidiano e desta forma

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
191
entender a causa dos mesmos” (Maia, Cipriano & Silva, 2021, p.34711), e como se infere,
metade dos alunos pensam que o estudo de Química é monótono e cansativo ou de difícil
entendimento. A outra parte dos alunos concorda que as aulas no laboratório são melhores
e mais interessantes, evidenciando uma possível solução para o problema.
Nesta perspectiva, Carvalho, Lima e Ribeiro (2007) atribuem o desinteresse dos alunos
a diversos factores como a ausência de laboratórios nas escolas, que dificultam a realização
de aulas práticas. Os professores não utilizam bibliotecas e recursos multimédia, ou não reali-
zam métodos interactivos de aprendizagem, o que repercute na aprendizagem dos conteúdos.
Os alunos foram questionados sobre quais as suas perspectivas sobre as aulas de
Química, onde 51,35% afirmam que seria melhor e mais interessado na aula se as aulas
fossem experimentais, o que contrasta com o gosto pela disciplina apresentando na primeira
questão. Sendo a Química ela própria uma ciência experimental (Pimentel, 1963), é neces-
sário estabelecer uma relação entre a teoria com a prática para facilitar a aprendizagem dos
conteúdos, de outro modo, quando são trabalhados de forma teórica e não se contextualiza,
dificulta a aprendizagem e tornando as aulas menos atraentes. Neste sentido, é importante
apresentar aos alunos situações motivadoras, a fim de despertar o seu interesse e a aplica-
bilidade dos conteúdos da Química, recorrendo à contextualização através da utilização de
aulas práticas para estimular o interesse do aluno (Almeida, Santos & Silva, 2010).
Nas observações feitas pelos questionários dos alunos, infere-se a importância das
práticas experimentais, principalmente quando se trata de dar significado ao conteúdo de
estudo, pois, para a maioria dos alunos, consideram a disciplina de Química interessante,
é necessário que o professor contextualize os conteúdos. Do mesmo modo, a maioria dos
alunos afirma que aprenderiam mais se houvesse aulas práticas, portanto, é importante que
o aluno consolide a teoria por via da prática. Para isso, é necessário que os alunos partici-
pem delas, dando o seu contributo, terem espírito crítico e saibam explicar e criticar a teoria
aprendida em sala com práticas experimentais.

O que dizem os professores de Química

Os professores foram questionados sobre se a escola onde lecciona existe laboratório.


Todos os professores (100%) inquiridos, confirmaram que não existe laboratório na instituição;
e isto, segundo Benites (2009), pode estar associado a complexidade de implementação
e altos custos para manutenção de laboratórios, em particular em contextos escolares de
imensas dificuldades de aquisição dos referidos materiais.
Quando questionados se existem condições mínima para realizar experiências químicas,
100% dos professores respondeu afirmativamente. A ausência de capacidade criativa por
parte de certos professores, tem dificultado o desenvolvimento de ensino da Química, ou seja,

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
192
não é tão necessário que haja laboratório ou materiais convencionais para que se faça uma
experiência nas aulas. Pode-se fazer experiências com recurso a materiais de fácil acesso,
sendo, como afirma Gonçalves (2005), materiais de baixo custo e com fácil aquisição de
reagentes e equipamentos, motivando os professores a realizarem práticas experimentais.
Quando questionados se tem feito experiências ao leccionar os conteúdos de Química
na sua leccionação, apenas 16,7% dos inquiridos realiza experiência, outros 83,3% profes-
sores reconhecem que não realizam práticas experimentais. Esses resultados permitem
inferir que muitos professores primam simplesmente em teoria, o que leva muitos alunos
a não demostrar interesse nas aulas, o que, segundo Torres; Teixeira e França (2013), o
absentismo por desinteresse das aulas aparece com maior importância nos relatos asso-
ciados ao abandono.
No contexto dos tipos diferenciados de experiências, os professores foram questionados
sobre as que mais realizam (Tabela 4).

Tabela 4. Opinião dos professores sobre o tipo de experiências que predomina no ensino da Química.

Resposta Frequência %
Prática de Laboratório 0 0
Experiência manipulativas 1 16,7
Experiência demonstrativas 5 83,3
Experiência virtual 0 0
Experiência de aula 0 0
Experiência problematizadora 0 0
Total 6 100
Fonte: Elaboração própria.

Os resultados a maioria dos professores optam por experiências demonstrativas


(83,3%), isto não é muito bom para o processo de ensino-aprendizagem da Química, uma
vez que esta experiência se limita somente na demonstração dos experimentos, ou seja, o
professor elabora e mostra os experimentos, o aluno unicamente observa, sem criar ideias
e nem críticas.
No contexto educativo, muitas críticas ao ensino tradicional referem-se à acção pas-
siva do aprendiz, que frequentemente é tratado como mero ouvinte das informações que o
professor expõe. Tais informações, quase sempre, não se relacionam aos conhecimentos
prévios que os alunos construíram ao longo de sua vida, e quando não há relação entre o
que o aluno já sabe e aquilo que ele está aprendendo, a aprendizagem não é significativa
(Sebastião 2018). Muitas vezes é necessário usar o experimento problemático, em que se
coloca um problema e os alunos descobrem as respostas, em que o papel do professor
nesse experimento é de um mediador.
Quando questionados sobre a frequência da realização de actividades experimentais,
os resultados foram as seguintes (Tabela 5):

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
193
Tabela 5. Opinião dos professores sobre a frequência da realização de actividades experimentais.

Resposta Frequência %
Já o leccionei sem experimentos 5 83,3
Já o leccionei com experimentos 1 16,7
Já o leccionei e os alunos mostraram algumas dificuldades de aprendizagem 0 0
Já o leccionei e os alunos aprenderam sem dificuldades alguma 0 0
Já o leccionei e os alunos apresentaram muitas dificuldades 0 0
Total 6 100
Fonte: Elaboração própria.

Os resultados sobre a frequência da realização de actividades experimentais referem


que 83,3% dos professores já leccionou conteúdos de Química, mas sem experimentos.
Daí a necessidade de uma proposta de experimentos com materiais de fácil acesso para o
melhoramento do processo de ensino-aprendizagem da Química.
O uso da experimentação nas aulas de Química é um importante recurso didáctico
que pode auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. Afirma Francisco (2008, cit. em
Tchingui, 2017), a experimentação no ensino de Química, transformou-se numa ferramenta
essencial para o sucesso no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que promove o
interesse dos alunos, o que contribui para a estimulação do espírito crítico, a curiosidade,
a não aceitação de conhecimentos simplesmente transferidos, o que infere a necessidade
da capacitação docente para a incorporação das práticas experimentais com o recurso aos
materiais de fácil acesso.
Quando questionados acerca das razões que condicionam a realização de activida-
des experimentais nas aulas, 33,3% afirmam que é por falta de meios e orientação, ou por
não terem conhecimentos suficiente, enquanto outros 16,7% refere a falta de oportunidade
de aprender. Os resultados sugerem a existência de dificuldades dos professores em lec-
cionar conteúdos por via das práticas experimentais, o que, nalguns casos, está ligado às
próprias limitações da formação inicial dos professores, as aulas foram simplesmente teó-
ricas. Os principais elementos que utiliza para justificar o “fracasso experimental” vai além
dos argumentos de falta de reagentes, materiais ou laboratório, podendo estar relacionado à
falta de preparo ou mesmo falta de interesse na adopção das práticas experimentais (Laburu,
Barros & Kanbach, 2007).
Relativamente às sugestões que se lhes foi solicitado enumerar, para a efectivação do
ensino experimental na disciplina de Química, os professores afirmam que:

A experimentação é a chave do sucesso do ensino-aprendizagem da Química;


as aulas devem ser um acasalamento entre a teoria e a prática (opinião de
50% dos professores).

[...] é necessário que existam formação em técnicos de laboratórios prática


(opinião de 16,7% dos professores).

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
194
[...]as escolas criem condições de forma a melhorar o processo de ensino-
-aprendizagem da Química (opinião de 16,7% dos professores).

[...] para facilitar o processo é necessário que as experiências sejam incluídas


nas planificações (opinião de 16,7% dos professores).

Para que as aulas de Química não sejam simplesmente teóricas, é necessário que
as escolas criem condições para a implementação das práticas experimentais. “A maioria
dos docentes esbarra na falta de estrutura adequada em muitas unidades escolares, espe-
cialmente da escola pública, ainda deficiente no atendimento às demandas de actividades
práticas em laboratório ou até mesmo em campo” (Dantas, et al. 2021, p.20046), colocando
de parte todas as alternativas didáticas que potenciem a […] experimentação, […] a partir dos
materiais do dia-a-dia, por serem de fácil aquisição […], como alternativa aos laboratórios
convencionais” (Justino & Agostinho, 2022, p.62), o que reforça a necessidade de acções
de intervenção profissional para que os professores sejam capacitados em metodologias
práticas para a adapção das práticas experimentais no ensino da Química.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado coloca as práticas experimentais como um eixo essencial que


permite que, ao nível do processo de ensino-aprendizagem da Química, se vincule a teoria
com a prática, estimulando a cultura científica dos estudantes, assumindo-se como entes
activos da sua aprendizagem e não como meros reprodutores do conhecimento químico,
sem indagação. O estudo permitiu inferir que as experiências contribuem na construção das
aprendizagens conceptuais, procedimentais e atitudinais que conformam os conteúdos, o
que ajuda a fomentar o espírito crítico, de forma a relacionar os conteúdos com a vida
O estudo destacou, por isso, a importância da experimentação na aprendizagem das
ciências naturais, com realce da Química, e que as metodologias activas como aprendizagem
problemática podem potenciar a aprendizagem por via de experimentos.
O discurso pedagógico dos professores e alunos, estes últimos futuros professores de
Química, permitiu inferir as limitações da formação inicial dos professores, a falta de labora-
tórios, a falta de exploração de materiais de baixo custo para a realização de práticas experi-
mentais, entre outros, como entraves para a sua realização no contexto da prática educativa.
O estudo permite inferir a necessidade de estudos mais aprofundados, em particular
a necessidade da implementação de acções de capacitação dos professores inerentes à
adopção de práticas experimentais com materiais de baixo custo, como alternativa para
compensar as limitações detectadas, o que pode contribuir no incremento dos níveis de sa-
tisfação dos alunos, com impacto na aprendizagem significativa dos conteúdos de Química.

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
195
As experiências com material de fácil acesso consideram-se exequíveis para o contexto
das escolas angolanas que, com limitações em termos de recursos, podem fazer com que
até alunos das sociedades mais carentes experimentem práticas inovadoras de ensino, e
apresentem a possibilidade de fazer a ligação entre a teoria e prática, optimizando o apren-
dizado e deixando-o mais interessado.
O estudo permitiu identificar a necessidade de acções de capacitação dos professo-
res em práticas experimentais com recurso aos materiais de fácil acesso, que promovam
mudanças no seu modo de actuação profissional na prática educativa nesta escola de for-
mação de professores.

REFERÊNCIAS
Agostinho, F. V., & Bendrau, C. M. (2022). Ensino por investigação: reflexões sobre as suas
possibilidades para o desenvolvimento da cultura científica nos estudantes universitários.
Brazilian Journal of Development, 8(11), pp. 75320-75333. doi:DOI:10.34117/bjdv8n11-307
Almeida, A. R. S., S. F. (2010). O ensino e aprendizagem de Química na percepção dos
estudantes do ensino médio. V CONNEPI.
Bendrau, C.M. & Agostinho, F. V. (2022). Políticas de integração curricular sobre a avaliação
da aprendizagem: um estudo relacional. Revista Brasileira de Desenvolvimento, Curitiba,
v.8, n.11, p.76339-76355, Novembro. https://doi.org/10.34117/bjdv8n11-375

Benites, T. (2009). A Escola na óptica dos Ava Kaiowá: Impactos e Interpretações indíge-
nas. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Carvalho, H.W.P., Batista, A.P.L. & Ribeiro, C.M. (2007). Ensino e aprendizado de química
na perspectiva dinâmico-interativa. Experiências em Ensino de Ciências – V2(3), pp. 34-47.
Obtido de: http://www.if.ufrgs.br/eenci/artigos/Artigo_ID45/v2_n3_a2007.pdf

Dantas, J.A.S., Oliveira, C.R.M., Orge, M.D.R., Silva, W.S. & Luz, L.S. (2021). Contribui-
ções de métodos práticos para a aprendizagem de química na escola. Brazilian Journal of
Development, 7(2), 20044–20059. https://doi.org/10.34117/bjdv7n2-579
Eurico, H. P. (2021). Actividades Experimentais: Análise Curricular no Ensino Primário em
Angola. Revista Angolana de Extensão Universitária, 3(1), pp. 24-38. Obtido de https://
www.portalpensador.com/index.php/RAEU-BENGO/article/view/329

Gil, A. C. (2019). Métodos e Técnicas de pesquisa social 7ª Edição. São Paulo: Atlas S.A.

Gonçalves, F. P. (2005). O Texto de Experimentação na Educação em Química: Discursos


Pedagógicos e Epistemológicos (Dissertação de Mestrado). Santa Catarina: UFSC.
Haroldo da Gama Torres, J. M. (2013). O que os jovens de baixa renda pensam sobre a
escola. Estudos e pesquisas educacionais. São Paulo.

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
196
Justino, M.A.E.P.J. & Agostinho, F.V. (2022). Actividades laboratoriais com materiais do
quotidiano no ensino das Ciências da Natureza: experiência no contexto do estágio pro-
fissional supervisionado com professores do ensino primário de Moçâmedes, Angola.
em: Rosa, A.H. & Silva, D.N. (Coords.) Debates sobre formação de professores: práticas
pedagógicas, saberes, experiências e tendências, vol. 2. São Paulo: Editora Científica
Digital, pp. 45-64.

Laburú, C. E., Barros, M. A. & Kanbach, B. G. (2007). A relação com o saber profissional do
professor de física e o fracasso da implementação de atividades experimentais no ensino
médio. Investigações em Ensino de Ciências – V12(3), pp.305-320. São Paulo. Obtido de:
https://ienci.if.ufrgs.br/index.php/ienci/article/view/462/266

Lakatos, E. M., & Marconi, M. d. (2017). Fundamentos de metodologia científica. São


Paulo: Atlas.

Lewin, A. M., & Lomáscolo, T. M. (1998). La metodologia cientifica em la construcción de


conocimientos. Revista Brasileira de Ensino de Física, 20(2), pp. 147-154.

Nunes, F. W., Lima, A. S., & Neto, F. d. (2022). Disciplinas experimentais: desafios enfren-
tados por professores e alunos do curso de licenciatura no Instituto Federal de educação,
ciência e tecnologia do Piauí. Brazilian Journal of Development, 8(8), pp. 57776–57791.
doi:https://doi.org/10.34117/bjdv8n8-191

Maia, L.S.P., Cipriano, J.F. & Silva, F.R.O. (2021). Estudo de caso sobre o uso do labora-
tório de física e sua importância no aprendizado significativo na escola de ensino médio
Adauto Bezerra. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.4, p.34709-34720. https://
doi.org/10.34117/bjdv7n4-094

Oliveira, J. R. (2016). A perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e suas relações com a


prática da experimentação no ensino de Química. ALEXANDRIA Revista de Educação
em Ciência e Tecnologia, 3(3), pp. 25-45. Obtido de: https://periodicos.ufsc.br/index.php/
alexandria/article/view/38134

Lei n.º 17/16, de 7 de Outubro. (2016). Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino.
Republicada pela Lei n.º 32/20, de 12 de Agosto. Diário da República I Série - N.º123.
Pimentel, G. C. (1963). Química uma ciência experimental (2.ª ed.). Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.

Silva, R.B., Mendes, J. F., Carvalho, T. M.S. & Malta, S. H. S. (2018). O gostar do aluno
e sua dificuldade em Química. V Congresso Nacional de Educação. Pernambuco-Brasil:
Instituto Federal de Pernambuco. Obtido de: https://www.editorarealize.com.br/editora/
anais/conedu/2018/TRABALHO_EV117_MD1_SA16_ID2791_14092018200822.pdf

Santos, L. R., & Menezes, J. A. (2020). A experimentação no ensino de Química: principais


abordagens, problemas e desafios. Revista Eletrônica Pesquiseduca, 12(26), pp. 180–207.
Obtido de: https://periodicos.unisantos.br/pesquiseduca/article/view/940

Sebastião, A. F. (2018). Protocolos contextualizados: uma ferramenta para a aprendizagem


crítica nas aulas práticas de Química na 10ª classe. Lubango: ISCED-Huíla

Tchingui, M. (2017). Proposta metodológica para a preparação de soluções comuns com o


recurso à materiais alternativos e o seu enquadramento na 10ª Classe do II Ciclo do Ensino
secundário. (Trabalho de Licenciatura). Lubango: ISCED-Huíla.
Vosgerau, D. S. R. & Romanowski, J. P. (2014). Estudos de revisão: implicações concei-
tuais e metodológicas. Diálogo Educacional volume 14. Curitiba. Obtido de: https://www.
redalyc.org/pdf/1891/189130424009.pdf

Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
197

Você também pode gostar