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T exto I
Descobrimento do Brasil
Ultimamente, diversos historiadores refutam a ideia de que o Brasil tenha sido descoberto em 1500 pela
esquadra liderada por Pedro Álvares Cabral. Essa revisão sobre o fato usualmente se sustenta no momento
em que se destaca o grau de desenvolvimento tecnológico, o controle de informações realizado pelo
governo português e a preocupação em se revisar os limites coloniais com a assinatura do Tratado de
Tordesilhas.
Para compreendermos melhor essa questão é necessário que observemos alguns episódios anteriores ao
anúncio das terras brasileiras. No início de 1500, a Coroa Portuguesa enviou uma expedição que deveria
buscar mais um precioso carregamento de especiarias vindo de Calicute, Índia. Essa nova empreitada
marítima seria liderada pelo experimente navegador Pedro Álvares Cabral e contaria com a presença do
cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira.
De acordo com alguns especialistas, Pacheco teria participado de uma expedição secreta que, em 1498,
teria constatado a existência das terras brasileiras. Antes da partida, o rei Dom Manuel II organizou uma
grande festividade para celebrar a ida dos bravos navegadores que se lançariam às águas do Oceano
Atlântico. Depois de celebrar a partida, os navegadores se afastaram da costa africana, contrariando a
tradicional rota de circum-navegação daquele continente.
A ação tomada nunca teve uma clara explicação, mas, em se tratando de uma esquadra composta por
experientes navegadores, seria no mínimo estranho se lançarem a um tipo de empreitada ausente de
qualquer outra segurança. Além disso, devemos salientar que as rotas utilizadas para a navegação eram de
extremo sigilo, pois garantiam a supremacia e os interesses comerciais de uma determinada nação. Dessa
forma, a ideia do encontro acidental perde ainda mais força.
Os relatos dessa viagem de Cabral pelo Oceano Atlântico não fazem menção a nenhum tipo de grande
di culdade ou imprevisto. No dia 22 de março os navegadores passaram pela Ilha de Cabo Verde e, logo
depois, rumaram para o oeste ao encontro do “mar longo”, nome costumeiramente dado ao Oceano
Atlântico. Após um mês de viagem e aproximadamente 3600 quilômetros percorridos, os tripulantes da
expedição cabralina encontraram os primeiros sinais de terra.
No dia 22 de abril de 1500, no oitavo dia da páscoa cristã, os tripulantes tiveram um primeiro contato
visual com um elevado que logo ganhou o nome de Monte Pascoal. Nos relatos de Pero Vaz de Caminha, um
dos integrantes da viagem, esse nome é refutado quando o “biógrafo da viagem” a rma que a região ganhou
o nome de Vera Cruz. Ao longo desse mesmo relato não existe nenhuma menção sobre um possível
encantamento com a “nova” descoberta.
Os navios decidiram primeiramente aportarem nas margens do Rio Frade, de onde enviaram um tradutor
judeu chamado Gaspar Gama para entrar em contato com os nativos. Depois de um primeiro contato com
os índios, a esquadra decidiu aportar em uma região mais segura, onde hoje se localiza o município baiano de
Santa Cruz Cabrália. Em terra rme, os colonizadores lusitanos organizaram uma missa pascoal dirigida pelo
Frei Henrique de Coimbra.
A celebração, que o cializou a descoberta e novas terras, cingiu a conquista material da Coroa Portuguesa
e abriu caminho para mais espaço de conversão religiosa para a Igreja. Em um primeiro momento a terra
ganhou o nome de Vera Cruz, mas logo foi substituído por Terra de Santa Cruz. Em uma última modi cação
do nome das novas terras, os colonizadores lusitanos decidiram nomeá-la como “Brasil” em face da grande
disponibilidade de pau-brasil na região.
No dia 2 de maio de 1500, Pedro Álvares Cabral desmembrou a sua esquadra e partiu para as Índias.
Gaspar de Lemos recebeu ordens para que retornasse para Portugal portando as notícias contidas no relato
de Pero Vaz de Caminha. Neste documento, havia informações gerais sobre a região explorada e algumas
prospecções sobre o potencial econômico local. No entanto, somente três décadas mais tarde, os
portugueses iniciaram as atividades regulares de colonização no Brasil.
“No início de 1500, a Coroa Portuguesa enviou uma expedição que deveria buscar mais um precioso
carregamento de especiarias vindo de Calicute, Índia.” (2º§)
assinale a opção em que o termo ou expressão destacada não apresenta a mesma função sintática da oração
grifada acima.
A “Ultimamente, diversos historiadores refutam a ideia de que o Brasil tenha sido descoberto em
1500 pela esquadra liderada por Pedro Álvares Cabral.” (1º§)
B "De acordo com alguns especialistas, Pacheco teria participado de uma expedição secreta que, em
1498, teria constatado a existência das terras brasileiras.” (3º§)
C “Antes da partida, o rei Dom Manuel II organizou uma grande festividade para celebrar a ida dos
bravos navegadores que se lançariam às águas do Oceano Atlântico.” (3º§)
E “Além disso, devemos salientar que as rotas utilizadas para a navegação eram de extremo sigilo,
pois garantiam a supremacia e os interesses comerciais de uma determinada nação.” (4º§)
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 00008 704 2
Questão 2 Substantivas
10 DE MAIO DE 2019
As duas principais direções da revolução moderna na física do século XX são a teoria quântica e a teoria da
relatividade, a primeira iniciada por Max Planck em 1900 e a segunda por Albert Einstein em 1905. À diferença
da teoria da relatividade, cujos fundamentos foram desenvolvidos no período relativamente curto de 1905 a
1915 e quase que exclusivamente por Einstein, a teoria quântica foi produto do trabalho coletivo de uma
multidão de físicos, incluindo o próprio Einstein, e só iniciou sua formulação moderna em 1925, com os
trabalhos de Werner Heisenberg, Max Born e Pascual Jordan, passando antes por estágios heurísticos
intermediários, como o modelo das órbitas de Bohr. Isso se deve ao fato da teoria quântica (que inclui a
mecânica quântica e sua versão mais avançada e relativística, a teoria quântica dos campos, iniciada na
década de 1930) apresentar discrepâncias muito maiores em relação à física clássica newtoniana do que a
teoria da relatividade, que ainda descreve a natureza em termos de partículas com trajetórias contínuas bem
de nidas e campos de força. Na teoria quântica, ao contrário, as partículas parecem se mover aos saltos
entre estados de energia discreta e seu estado é intrinsecamente incerto, podendo somente ser descrito
probabilisticamente.
É principalmente sobre essas duas teorias modernas que se dá o diálogo cientí co entre Max Born e Albert
Einstein nas 120 cartas coligidas por Born em The Born-Einstein letters (As cartas entre Born e Einstein), que
abrangem o período de 1916 a 1955, quando morre Einstein. Mas muitos outros temas estão também
presentes nessa correspondência, especialmente as duas guerras mundiais que ocorrem nesse intervalo,
observações sobre política, crítica social e a tragédia pessoal vivida por inúmeras personagens do meio
cientí co em meio à fome e à destruição. O livro tem um prefácio esclarecedor de Werner Heisenberg e,
em seguida, apresenta, sem maiores divisões, a correspondência. Após cada carta, em geral, há um parágrafo
com as explicações e interpretações de Born em perspectiva. Esses parágrafos são essenciais à
compreensão de muitas das cartas. A marca principal, tanto das cartas quanto desses textos explicativos, é
a difícil combinação de profunda amizade e incorruptível honestidade intelectual.
Quase da mesma idade, Born (1882-1970) e Einstein (1879-1955) foram grandes amigos ao longo de toda vida
e tinham personalidades profundamente diferentes. Ambos tinham origem judaica, mas a família de Born
havia se convertido ao luteranismo e procurava se integrar à sociedade alemã. Einstein era independente e
individualista, não teve alunos nem grupo de pesquisa. Born, ao contrário, criou uma escola de física e teve
mais de uma dezena de alunos de doutorado. Na carta 14 (1920), Einstein se descreve: “Eu vaguei para lá e
para cá continuamente, um estranho em qualquer lugar”. Enquanto Einstein havia se separado da primeira
mulher e mal conseguia sustentar os lhos desse casamento, Born tinha uma família estável e se preocupava
permanentemente com seu o futuro e bemestar.
Até 1924, o conteúdo cientí co das cartas trata principalmente da teoria da relatividade. É o período em que
Einstein se torna mundialmente famoso, especialmente após as con rmações experimentais da relatividade
geral. Nesse momento, começam a surgir ataques contra Einstein, que é acusado de buscar publicidade, e
contra a sua teoria. Em geral essas acusações têm teor antissemita (carta 21).
Após 1924, os assuntos cientí cos passam a ser quase exclusivamente sobre mecânica quântica e é aí que se
revelam as grandes divergências entre Born e Einstein. Born defende a interpretação que se torna padrão, de
que os resultados da teoria quântica são essencialmente probabilísticos. É curioso que tal pensamento seja
comumente chamado de Interpretação de Copenhagen, e atribuída ao grupo de Niels Bohr. No entanto, foi
criada por Born, individualmente, em Göttingen (comentário à carta 71), e lhe rendeu o prêmio Nobel em
1954. Einstein também recebeu o prêmio Nobel, muito antes, em 1922, mas curiosamente não pela
relatividade, mas pela explicação corpuscular do efeito fotoelétrico, assunto relacionado à teoria quântica
(carta 44).
Apesar do sucesso, dois nomes importantes não aceitam a interpretação probabilística de Born: Erwin
Schrödinger, criador da equação, que leva seu nome, para a evolução temporal na mecânica quântica, e
Einstein. A princípio, a posição de Einstein é radical: a interpretação probabilística está errada, “Deus não joga
dados” (carta 52). Aos poucos, ele evolui para aceitar a interpretação probabilística como correta, mas
incompleta (carta 97), até chegar a uma posição de maior aceitação, rejeitando os estados quânticos que
atualmente chamamos de gatos de Schrödinger, isto é, estados de corpos macroscópicos que têm
probabilidade de localização em dois ou mais pontos diferentes (cartas nais, com a participação de
Wolfgang Pauli, discípulo de ambos). Todas as objeções de Einstein à interpretação probabilística são
respondidas por Born, que, apesar de venerar Einstein e considerá-lo intelectualmente superior (carta 11), não
o poupa de críticas contundentes. É evidente que são essas críticas, pela força dos argumentos, que fazem
Einstein evoluir no seu ponto de vista.
As di culdades causadas pelas guerras mundiais ocupam boa parte das cartas. Born é obrigado a fugir da
Alemanha quando é demitido da universidade pela perseguição nazista em 1933 (cartas 67 e 68). Einstein,
realizando palestras pelo mundo, decide não retornar e se estabelece na Califórnia e depois em Princeton,
nos EUA, onde vive o resto de sua vida. A preocupação em receber cientistas refugiados é uma constante
para Born, o que se pode ver em todas as cartas de 1933 até 1945. Aos poucos, Einstein desenvolve uma
visão amarga e pessimista da política e especialmente da população, que tende à brutalidade e à covardia
(carta 97). Born observa que os americanos podem até mesmo superar os nazistas, evocando os
bombardeios de Dresden, Hiroshima e Nagazaki (carta 104).
Uma parte especial das cartas concerne à correspondência entre Einstein e Hedwig, a esposa de Born. Ela
era poetisa, bastante religiosa e frequentemente discutia temas relacionados. Na carta 82, discorre sobre a
posição de desapego e serenidade de Einstein frente à morte. Mesmo Born se envolve nessas discussões
transcendentais. Na carta 83, ele pergunta a Einstein: “como combinar um universo mecânico e
determinístico com a liberdade de um indivíduo ético?”. O lado mais humano de Einstein, que em geral não é
dado a demonstrações emocionais (ver carta 73, em que comunica friamente a morte da esposa e logo
muda de assunto), se revela nessas correspondências.
“É curioso que tal pensamento seja comumente chamado de Interpretação de Copenhagen, e atribuída
ao grupo de Niels Bohr” A oração em destaque no período acima tem valor sintático de:
A sujeito.
B predicativo de sujeito.
C adjunto adnominal.
D complemento nominal.
E adjunto adverbial
4 00009093 1
Questão 3 Adjetivas
Estimulação cerebral turbina memória por um mês, diz estudo
Cientistas descobriram que podem turbinar a memória das pessoas por pelo menos um mês, estimulando
partes do cérebro com eletricidade sem causar danos.
Ainda não está claro, no entanto, o que os resultados significam exatamente para a vida cotidiana.
Mas as ideias vão desde ajudar os idosos a lidar com o declínio da memória, até tratar doenças e auxiliar na
preparação para provas.
Robert Reinhart, da Universidade de Boston, nos EUA, descreveu a técnica de estimulação como "uma
abordagem totalmente diferente para isolar e turbinar partes do cérebro", que oferece "um campo
inteiramente novo de possíveis opções de tratamento".
As pessoas que participaram do estudo usaram uma touca repleta de eletrodos. Uma corrente elétrica
controlada, que se assemelha a um comichão ou formigamento, foi então utilizada para alterar com precisão
as ondas cerebrais em regiões específicas do cérebro.
Os voluntários foram submetidos a 20 minutos de estimulação diariamente durante quatro dias seguidos. Ao
longo do estudo, eles tiveram que memorizar listas de palavras — e foram solicitados a lembrar-se
novamente delas um mês depois.
Reinhart disse que o tratamento "pode causar melhora na memória seletiva que dura pelo menos um mês".
Os resultados, publicados na revista cientí ca Nature Neuroscience, mostram que os voluntários que tiveram
dificuldade com os jogos de memória no início do experimento foram aqueles cuja memória melhorou mais.
No trecho “Os resultados, publicados na revista cientí ca Nature Neuroscience, mostram que os
voluntários que tiveram di culdade com os jogos de memória no início do experimento foram aqueles
cuja memória melhorou mais”, as orações sublinhadas são classificadas, respectivamente, como
“Pressentindo que as suas intenções haviam sido adivinhadas, Macedo tentou minorar a situação.”
É formado por:
B Um período composto por três orações: uma principal, uma substantiva e uma adverbial.
C Um período composto por quatro orações: uma principal e três subordinadas substantivas.
O coronel e o lobisomem
“Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem – era sexta-feira. (...) Já um estirão era andado
quando, numa roça de mandioca, adveio aquele gurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pelo e
raiva. (...)
Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que
nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro:
Em presença de tal apelação, mais brabenta apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no
longe de dez braças ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de
Azeredo Furtado. Dos olhos do bicho pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente.
Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou
que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma gueira e lá de cima no
galho mais rme, aguardava a deliberação do lobisomem. Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado
desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de fazer macaquices que nunca cuidei
que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse
ser uma súcia deles e não pessoa sozinha. O que ele queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse
para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especialista em lobisomem como eu não ia cair
em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei.”
(CARVALHO, José Cândido de. O coronel e o lobisomem; Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976, p.178-9.
Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou
que o mato estivesse ardendo.”, qual a circunstância da oração em destaque?
A Causa.
B Tempo.
C Condição.
D Conformidade.
E Consequência.
4 0000904 52
O texto escrito
A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito especial. Em geral, eles
não apresentam di culdades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas começam a surgir
quando esse aluno tem necessidade de se expressar formalmente e se agravam no momento de produzir um
texto escrito. Nesta última situação, ele deve ter claro que há diferenças marcantes entre falar e escrever.
Na linguagem oral o falante tem claro com quem fala e em que contexto. O conhecimento da situação
facilita a produção oral. Nela o interlocutor, presente sicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de
pedir esclarecimentos, ou até de mudar o curso da conversação. O falante pode ainda recorrer a recursos
que não são propriamente linguísticos, como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita a falta
desses elementos extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se deve organizar de forma a garantir a
sua inteligibilidade.
Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais grá cos. O fato de um texto escrito não ser satisfatório não
signi ca que seu produtor tenha di culdades quanto ao manejo da linguagem cotidiana e sim que ele não
domina os recursos específicos da modalidade escrita.
A escrita tem normas próprias, tais como regras de ortogra a – que, evidentemente, não é marcada na fala
–, de pontuação, de concordância, de uso de tempos verbais. Entretanto, a simples utilização de tais regras e
de outros recursos da norma culta não garante o sucesso de um texto escrito. Não basta, também, saber
que escrever é diferente de falar. É necessário preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido
aqui como um ato de linguagem que representa uma interação entre o produtor do texto e o seu receptor;
além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para a qual o texto foi produzido.
Para que esse discurso seja bem-sucedido deve constituir um todo signi cativo e não fragmentos isolados
justapostos. No interior de um texto devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes,
isto é, elos signi cativos que con ram coesão ao discurso. Considera-se coeso o texto em que as partes
referem-se mutuamente, só fazendo sentido quando consideradas em relação umas com as outras.
DURIGAN, Regina H. de Almeida et alii. A dissertação no Vestibular. In: A magia da mudança – vestibular
Unicamp: Língua e literatura. Campinas, Unicamp, 1987. p. 13-4.
Em “Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garante o
sucesso de um texto escrito.”, qual a ideia expressa pela conjunção destacada acima?
A adição
B adversidade
C consequência
D explicação
E causa
4 0000903 3 9
A guarda do museu se aproxima rapidamente e ordena que eu me levante do chão. Na grande sala branca
que guarda o gigantesco painel não há cadeiras ou bancos – não é permitido sentar-se em frente à Guernica.
Exige-se do espectador que se poste de pé, em silêncio respeitoso ao quadro pintado para o pavilhão
espanhol da exposição internacional de Paris do ano 37 do século passado, quando Picasso estava sob o
impacto da notícia do massacre de civis na pequena cidade basca de Guernica pelos aviões da Legião
Condor, força aérea alemã na Espanha sob o comando direto do General Franco. Uma tonelada e trezentos
quilos de bombas incendiaram a cidade, deixando mais de mil e seiscentos mortos.
Tanto já se escreveu sobre o quadro que é difícil não deixar que suas inúmeras leituras eclipsem a obra em si.
Tenho uma ponta de inveja do grupo de crianças de seis anos de idade que escuta da professora a seguinte
apresentação: “Esse é o quadro mais importante do museu. O senhor que o pintou se chamava Picasso e o
quadro se chama Guernica. Vamos car aqui um pouquinho vendo o quadro e já vamos embora.” Depois do
introdutório, cam sentados, cochichando entre si, e eu pagaria tudo o que tenho no bolso para ter o olhar
deles sobre o que veem.
Os setenta e dois anos que nos separam da obra e da Guerra Civil Espanhola guardam uma guerra mundial e
dúzias de genocídios. No entanto, algo nesse quadro me faz pensar que a arte contemporânea possa ter
perdido a capacidade de traduzir a tragédia e o horror da guerra.
Guernica é um quadro que grita, monumento onde as lágrimas são echas que os arregalados olhos cospem
– e com essas setas Picasso traça a geometria irregular e monstruosa da tragédia humana em escala
industrial como nenhum outro fez, antes ou depois. Guernica é uma obra atemporal, vestígio de um mundo
onde a violência ainda não havia se convertido em banalidade ou simplesmente abstração.
Para ver Guernica é preciso passar bolsas e casacos por uma máquina de raio-x, sintoma da doença do nosso
século. O quadro está no museu Reina Sofía, em Madrid, a duas centenas de metros da estação de trem de
Atocha, onde em 2004 um atentado da Al Qaeda matou 191 pessoas. Guernica, o quadro que grita, fala
também dessa tragédia, e sobrevive porque fala melhor do que qualquer obra que veio depois dele.
E o faz também porque o Picasso que pinta Guernica é um homem chocado. Com cinismo costurado aos
olhos, os artistas que hoje vivem parecem incapazes de atingir a mesma contundência em traduzir a
desgraça do nosso tempo.
A oração em destaque em “Tanto já se escreveu sobre o quadro que é difícil não deixar que suas inúmeras
leituras eclipsem a obra em si.” possui classificação de:
A guarda do museu se aproxima rapidamente e ordena que eu me levante do chão. Na grande sala branca
que guarda o gigantesco painel não há cadeiras ou bancos – não é permitido sentar-se em frente à Guernica.
Exige-se do espectador que se poste de pé, em silêncio respeitoso ao quadro pintado para o pavilhão
espanhol da exposição internacional de Paris do ano 37 do século passado, quando Picasso estava sob o
impacto da notícia do massacre de civis na pequena cidade basca de Guernica pelos aviões da Legião
Condor, força aérea alemã na Espanha sob o comando direto do General Franco. Uma tonelada e trezentos
quilos de bombas incendiaram a cidade, deixando mais de mil e seiscentos mortos.
Tanto já se escreveu sobre o quadro que é difícil não deixar que suas inúmeras leituras eclipsem a obra em si.
Tenho uma ponta de inveja do grupo de crianças de seis anos de idade que escuta da professora a seguinte
apresentação: “Esse é o quadro mais importante do museu. O senhor que o pintou se chamava Picasso e o
quadro se chama Guernica. Vamos car aqui um pouquinho vendo o quadro e já vamos embora.” Depois do
introdutório, cam sentados, cochichando entre si, e eu pagaria tudo o que tenho no bolso para ter o olhar
deles sobre o que veem.
Os setenta e dois anos que nos separam da obra e da Guerra Civil Espanhola guardam uma guerra mundial e
dúzias de genocídios. No entanto, algo nesse quadro me faz pensar que a arte contemporânea possa ter
perdido a capacidade de traduzir a tragédia e o horror da guerra.
Guernica é um quadro que grita, monumento onde as lágrimas são echas que os arregalados olhos cospem
– e com essas setas Picasso traça a geometria irregular e monstruosa da tragédia humana em escala
industrial como nenhum outro fez, antes ou depois. Guernica é uma obra atemporal, vestígio de um mundo
onde a violência ainda não havia se convertido em banalidade ou simplesmente abstração.
Para ver Guernica é preciso passar bolsas e casacos por uma máquina de raio-x, sintoma da doença do nosso
século. O quadro está no museu Reina Sofía, em Madrid, a duas centenas de metros da estação de trem de
Atocha, onde em 2004 um atentado da Al Qaeda matou 191 pessoas. Guernica, o quadro que grita, fala
também dessa tragédia, e sobrevive porque fala melhor do que qualquer obra que veio depois dele.
E o faz também porque o Picasso que pinta Guernica é um homem chocado. Com cinismo costurado aos
olhos, os artistas que hoje vivem parecem incapazes de atingir a mesma contundência em traduzir a
desgraça do nosso tempo.
“Para ver Guernica é preciso passar bolsas e casacos por uma máquina de raio-x, sintoma da doença do
nosso século.” A oração em destaque estabelece com a posterior a seguinte relação lógica:
A explicação.
B consequência.
C condição.
D finalidade.
E causa.
4 000090259
O professor Pardal gostava muito do Huguinho, do Zezinho e do Luizinho e queria fazê-los felizes. Inventou,
então, brinquedos que os fariam felizes para sempre, brinquedos que davam certo sempre: uma pipa que
voava sempre, um peão que rodava sempre e um taco de beisebol que acertava sempre na bola. Os três
patinhos caram felicíssimos ao receber os presentes e se puseram logo a brincar com seus brinquedos que
funcionavam sempre.
Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado. Porque não existe nada mais sem graça que um brinquedo
que dá certo sempre. Brinquedo, para ser brinquedo, tem de ser um desa o. Um brinquedo é um objeto que,
olhando para mim, me diz: “Veja se você pode comigo!”. O brinquedo me põe à prova. Testa as minhas
habilidades. Qual é a graça de armar um quebra-cabeça de 24 peças? Pode ser desa o para uma criança de
3 anos, mas não para mim. Já um quebra-cabeça de 500 peças é um desa o. Eu quero juntar as suas peças!
Para isso, sou capaz de gastar meus olhos, meu tempo, minha inteligência, meu sono.
Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Não é preciso que seja comprado em lojas. Na verdade, muitos dos
brinquedos que se vendem em lojas não são brinquedos precisamente por não oferecerem desafio algum.
Que desa o existe numa boneca que fala quando se aperta a sua barriga? Que desa o existe num carrinho
que anda ao se apertar um botão? Como os brinquedos do professor Pardal, eles logo perdem a graça. Mas
um cabo de vassoura vira um brinquedo se ele faz um desa o: “Vamos, equilibre-me em sua testa!”. Quando
era menino, eu e meus amigos fazíamos competições para saber quem era capaz de equilibrar um cabo de
vassoura na testa por mais tempo. O mesmo acontece com uma corda no momento em que ela deixa de ser
coisa para se amarrar e passa a ser coisa de se pular.
Laranjas podem ser brinquedos? Meu pai era um mestre em descascar laranjas sem arrebentar a casca e
sem ferir a fruta. Para o meu pai, a laranja e o canivete eram brinquedos. Eu olhava para ele e tinha inveja.
Assim, tratei de aprender. E ainda hoje, quando vou descascar uma laranja, ela vira brinquedo nas minhas
mãos ao me desa ar: “Vamos ver se você é capaz de tirar a minha casca sem me ferir e sem deixar que ela
arrebente”.
Para um alpinista, o Aconcágua é um brinquedo: é um desa o a ser vencido. Mas um morrinho baixo não é
brinquedo porque é muito fácil – não é desa o. Ao escalar o Aconcágua, ele está medindo forças com a
montanha ameaçadora! Pelo desa o dos picos, os alpinistas arriscam as suas vidas, e muitos morrem.
Parodiando o Riobaldo: “Brincar é muito perigoso...”.
Há brinquedos que são desa os ao seu corpo, à sua força, à sua habilidade, à sua paciência. E há brinquedos
que são desa os à inteligência. A inteligência gosta de brincar. Brincando, ela salta e ca mais inteligente
ainda. Brinquedo é tônico para a inteligência. Mas se ela tem de fazer coisas que não são desa o, ela ca
preguiçosa e emburrecida.
Todo conhecimento cientí co começa com um desa o: um enigma a ser decifrado! A natureza desa a:
“Veja se você me decifra!”. E aí os olhos e a inteligência do cientista se põem a trabalhar para decifrar o
enigma. Assim aconteceu com Johannes Kepler (15711630), cuja inteligência brincava com o movimento dos
planetas. Assim aconteceu com Galileu Galilei (1564-1642), que, ao observar a natureza, tinha a suspeita de
que ela falava uma linguagem que ele não entendia. Pôs-se, então, a observar e a pensar (ciência se faz com
essas duas coisas, olho e cérebro!) até que decifrou o enigma: a natureza fala a linguagem da matemática! E
até hoje os cientistas continuam a brincar o mesmo brinquedo descoberto por Galileu.
Aconteceu assim também com um monge chamado Gregor Johann Mendel (1882-1962). No seu mosteiro
havia uma horta onde cresciam ervilhas. Os outros monges, vendo as ervilhas, pensavam em sopa. Mas
Mendel percebeu que elas escondiam um segredo. E ele tanto fez que acabou por descobrir o segredo que
nos revelou o incrível mundo da genética. E não é esse mesmo jogo que faz a criança que está começando a
aprender a ler? Ela olha para as letras-ervilhas e tenta decifrar a palavra que elas formam. Tudo é brinquedo!
O conector destacado em “Pôs-se, então, a observar e a pensar (ciência se faz com essas duas coisas, olho
e cérebro!) até que decifrou o enigma: a natureza fala a linguagem da matemática!” possui sentido para
dentro do contexto de:
A conformidade.
B adição.
C comparação.
D conclusão.
E causa.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 00008 9967
O professor Pardal gostava muito do Huguinho, do Zezinho e do Luizinho e queria fazê-los felizes. Inventou,
então, brinquedos que os fariam felizes para sempre, brinquedos que davam certo sempre: uma pipa que
voava sempre, um peão que rodava sempre e um taco de beisebol que acertava sempre na bola. Os três
patinhos caram felicíssimos ao receber os presentes e se puseram logo a brincar com seus brinquedos que
funcionavam sempre.
Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado. Porque não existe nada mais sem graça que um brinquedo
que dá certo sempre. Brinquedo, para ser brinquedo, tem de ser um desa o. Um brinquedo é um objeto que,
olhando para mim, me diz: “Veja se você pode comigo!”. O brinquedo me põe à prova. Testa as minhas
habilidades. Qual é a graça de armar um quebra-cabeça de 24 peças? Pode ser desa o para uma criança de
3 anos, mas não para mim. Já um quebra-cabeça de 500 peças é um desa o. Eu quero juntar as suas peças!
Para isso, sou capaz de gastar meus olhos, meu tempo, minha inteligência, meu sono.
Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Não é preciso que seja comprado em lojas. Na verdade, muitos dos
brinquedos que se vendem em lojas não são brinquedos precisamente por não oferecerem desafio algum.
Que desa o existe numa boneca que fala quando se aperta a sua barriga? Que desa o existe num carrinho
que anda ao se apertar um botão? Como os brinquedos do professor Pardal, eles logo perdem a graça. Mas
um cabo de vassoura vira um brinquedo se ele faz um desa o: “Vamos, equilibre-me em sua testa!”. Quando
era menino, eu e meus amigos fazíamos competições para saber quem era capaz de equilibrar um cabo de
vassoura na testa por mais tempo. O mesmo acontece com uma corda no momento em que ela deixa de ser
coisa para se amarrar e passa a ser coisa de se pular.
Laranjas podem ser brinquedos? Meu pai era um mestre em descascar laranjas sem arrebentar a casca e
sem ferir a fruta. Para o meu pai, a laranja e o canivete eram brinquedos. Eu olhava para ele e tinha inveja.
Assim, tratei de aprender. E ainda hoje, quando vou descascar uma laranja, ela vira brinquedo nas minhas
mãos ao me desa ar: “Vamos ver se você é capaz de tirar a minha casca sem me ferir e sem deixar que ela
arrebente”.
Para um alpinista, o Aconcágua é um brinquedo: é um desa o a ser vencido. Mas um morrinho baixo não é
brinquedo porque é muito fácil – não é desa o. Ao escalar o Aconcágua, ele está medindo forças com a
montanha ameaçadora! Pelo desa o dos picos, os alpinistas arriscam as suas vidas, e muitos morrem.
Parodiando o Riobaldo: “Brincar é muito perigoso...”.
Há brinquedos que são desa os ao seu corpo, à sua força, à sua habilidade, à sua paciência. E há brinquedos
que são desa os à inteligência. A inteligência gosta de brincar. Brincando, ela salta e ca mais inteligente
ainda. Brinquedo é tônico para a inteligência. Mas se ela tem de fazer coisas que não são desa o, ela ca
preguiçosa e emburrecida.
Todo conhecimento cientí co começa com um desa o: um enigma a ser decifrado! A natureza desa a:
“Veja se você me decifra!”. E aí os olhos e a inteligência do cientista se põem a trabalhar para decifrar o
enigma. Assim aconteceu com Johannes Kepler (15711630), cuja inteligência brincava com o movimento dos
planetas. Assim aconteceu com Galileu Galilei (1564-1642), que, ao observar a natureza, tinha a suspeita de
que ela falava uma linguagem que ele não entendia. Pôs-se, então, a observar e a pensar (ciência se faz com
essas duas coisas, olho e cérebro!) até que decifrou o enigma: a natureza fala a linguagem da matemática! E
até hoje os cientistas continuam a brincar o mesmo brinquedo descoberto por Galileu.
Aconteceu assim também com um monge chamado Gregor Johann Mendel (1882-1962). No seu mosteiro
havia uma horta onde cresciam ervilhas. Os outros monges, vendo as ervilhas, pensavam em sopa. Mas
Mendel percebeu que elas escondiam um segredo. E ele tanto fez que acabou por descobrir o segredo que
nos revelou o incrível mundo da genética. E não é esse mesmo jogo que faz a criança que está começando a
aprender a ler? Ela olha para as letras-ervilhas e tenta decifrar a palavra que elas formam. Tudo é brinquedo!
O professor Pardal gostava muito do Huguinho, do Zezinho e do Luizinho e queria fazê-los felizes. Inventou,
então, brinquedos que os fariam felizes para sempre, brinquedos que davam certo sempre: uma pipa que
voava sempre, um peão que rodava sempre e um taco de beisebol que acertava sempre na bola. Os três
patinhos caram felicíssimos ao receber os presentes e se puseram logo a brincar com seus brinquedos que
funcionavam sempre.
Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado. Porque não existe nada mais sem graça que um brinquedo
que dá certo sempre. Brinquedo, para ser brinquedo, tem de ser um desa o. Um brinquedo é um objeto que,
olhando para mim, me diz: “Veja se você pode comigo!”. O brinquedo me põe à prova. Testa as minhas
habilidades. Qual é a graça de armar um quebra-cabeça de 24 peças? Pode ser desa o para uma criança de
3 anos, mas não para mim. Já um quebra-cabeça de 500 peças é um desa o. Eu quero juntar as suas peças!
Para isso, sou capaz de gastar meus olhos, meu tempo, minha inteligência, meu sono.
Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Não é preciso que seja comprado em lojas. Na verdade, muitos dos
brinquedos que se vendem em lojas não são brinquedos precisamente por não oferecerem desafio algum.
Que desa o existe numa boneca que fala quando se aperta a sua barriga? Que desa o existe num carrinho
que anda ao se apertar um botão? Como os brinquedos do professor Pardal, eles logo perdem a graça. Mas
um cabo de vassoura vira um brinquedo se ele faz um desa o: “Vamos, equilibre-me em sua testa!”. Quando
era menino, eu e meus amigos fazíamos competições para saber quem era capaz de equilibrar um cabo de
vassoura na testa por mais tempo. O mesmo acontece com uma corda no momento em que ela deixa de ser
coisa para se amarrar e passa a ser coisa de se pular.
Laranjas podem ser brinquedos? Meu pai era um mestre em descascar laranjas sem arrebentar a casca e
sem ferir a fruta. Para o meu pai, a laranja e o canivete eram brinquedos. Eu olhava para ele e tinha inveja.
Assim, tratei de aprender. E ainda hoje, quando vou descascar uma laranja, ela vira brinquedo nas minhas
mãos ao me desa ar: “Vamos ver se você é capaz de tirar a minha casca sem me ferir e sem deixar que ela
arrebente”.
Para um alpinista, o Aconcágua é um brinquedo: é um desa o a ser vencido. Mas um morrinho baixo não é
brinquedo porque é muito fácil – não é desa o. Ao escalar o Aconcágua, ele está medindo forças com a
montanha ameaçadora! Pelo desa o dos picos, os alpinistas arriscam as suas vidas, e muitos morrem.
Parodiando o Riobaldo: “Brincar é muito perigoso...”.
Há brinquedos que são desa os ao seu corpo, à sua força, à sua habilidade, à sua paciência. E há brinquedos
que são desa os à inteligência. A inteligência gosta de brincar. Brincando, ela salta e ca mais inteligente
ainda. Brinquedo é tônico para a inteligência. Mas se ela tem de fazer coisas que não são desa o, ela ca
preguiçosa e emburrecida.
Todo conhecimento cientí co começa com um desa o: um enigma a ser decifrado! A natureza desa a:
“Veja se você me decifra!”. E aí os olhos e a inteligência do cientista se põem a trabalhar para decifrar o
enigma. Assim aconteceu com Johannes Kepler (15711630), cuja inteligência brincava com o movimento dos
planetas. Assim aconteceu com Galileu Galilei (1564-1642), que, ao observar a natureza, tinha a suspeita de
que ela falava uma linguagem que ele não entendia. Pôs-se, então, a observar e a pensar (ciência se faz com
essas duas coisas, olho e cérebro!) até que decifrou o enigma: a natureza fala a linguagem da matemática! E
até hoje os cientistas continuam a brincar o mesmo brinquedo descoberto por Galileu.
Aconteceu assim também com um monge chamado Gregor Johann Mendel (1882-1962). No seu mosteiro
havia uma horta onde cresciam ervilhas. Os outros monges, vendo as ervilhas, pensavam em sopa. Mas
Mendel percebeu que elas escondiam um segredo. E ele tanto fez que acabou por descobrir o segredo que
nos revelou o incrível mundo da genética. E não é esse mesmo jogo que faz a criança que está começando a
aprender a ler? Ela olha para as letras-ervilhas e tenta decifrar a palavra que elas formam. Tudo é brinquedo!
B Um brinquedo é um objeto que, olhando para mim, me diz: “Veja se você pode comigo!”.
D Que desafio existe numa boneca que fala quando se aperta a sua barriga?
E Há brinquedos que são desafios ao seu corpo, à sua força, à sua habilidade, à sua paciência.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 00008 9962
O medo de errar
Martha Medeiros
“A gente é a soma das nossas decisões.” É uma frase da qual sempre gostei, mas lembrei-me dela outro dia
num local inusitado: dentro do super. Comprar maionese, band-aid e iogurte, por exemplo, hoje requer
expertise. Tem maionese tradicional, light, premium, com leite, com ômega 3, com limão, com ovos “free
range”. Band-aid, há de todos os formatos e tamanhos, nas versões: transparente, extratransparente,
colorido, temático, flexível.
Assim como antes era mais fácil fazer compras, também era mais fácil viver. Para ser feliz, bastava estudar
(magistério para as moças), fazer uma faculdade (Medicina, Engenharia ou Direito para os rapazes), casar
(com o sexo oposto), ter lhos (no mínimo dois) e manter a família estruturada até o m dos dias. Era a
maionese tradicional.
Hoje, existem várias “marcas” de felicidade. (...) Fazer intercâmbio, abrir o próprio negócio, tentar um
concurso público, entrar para a faculdade. Mas estudar o quê? Só de cursos técnicos, pro ssionalizantes e
universitários, há centenas. Computação Grá ca ou Informática Biomédica? Editoração ou Ciências
Moleculares? Moda, Geofísica ou Engenharia de Petróleo?
A vida padronizada podia ser menos estimulante, mas oferecia mais segurança, era fácil “acertar” e se sentir
um adulto. Já a expansão de ofertas tornou tudo mais empolgante, só que incentivou a infantilização: sem
saber ao certo o que é melhor para si, surgiu o medo de crescer.
Todos parecem ter 10 anos menos. Quem tem 17, age como se tivesse 7. Quem tem 28, parece ter 18.
Quem tem 39, vive como se fosse 29. Quem tem 40, 50, 60, mesma coisa. Por um lado, é ótimo ter um
espírito jovial e a aparência idem, mas até quando se pode adiar a maturidade?
Só nos tornamos verdadeiramente adultos quando perdemos o medo de errar. Não somos apenas a soma das
nossas escolhas, mas também das nossas renúncias. Crescer é tomar decisões e, depois, conviver
paci camente com a dúvida. Como querem ter certeza absoluta, adolescentes prorrogam suas escolhas –
errar lhes parece a morte.
Adultos sabem que nunca terão certeza absoluta de nada, e sabem também que só a morte física é
de nitiva. Já “morreram” diante de fracassos e frustrações, e voltaram pra vida. Ao entender que é normal
morrer várias vezes numa única existência, perdemos o medo – e finalmente crescemos.
A oração em destaque no período “Não somos apenas a soma das nossas escolhas, mas também, das
nossas renúncias.” Possui classificação sintática de:
Questão 13 Adjetivas
Questão 15 Adjetivas
Questão 16 Substantivas
Assinale a alternativa em que a oração destacada não se classifica como subordinada apositiva.
Questão 17 Substantivas
Em: “O problema principal era que o prazo para submissão do trabalho tinha acabado.” A oração
substantiva destacada classifica-se em
A subjetiva
B objetiva direta
C objetiva indireta
D predicativa
E apositiva
4 000078 24 9
Em: “Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças”. (Carlos Drummond de Andrade) A oração em
destaque nos versos acima classifica-se como uma oração coordenada
A aditiva.
B adversativa.
C alternativa.
D explicativa.
4 000078 24 4
Questão 21 Adverbiais
Assinale a alternativa em que a classificação entre parênteses está adequada à oração destacada.
D Eu irei para a festa mesmo que ele não queira ir. (condicional)
Questão 22 Adjetivas
Assinale a alternativa em que a oração reduzida pode ser classificada como uma subordinada adjetiva
No período “Não tenho dúvidas de que a minha vida seria mais fácil se eu me interessasse apenas
trivialidades e futilidades”, as orações em destaque são classi cadas em relação à sua oração principal
respectivamente como
Questão 24 Substantivas
Assinale a alternativa em que a classi cação entre parênteses está adequada à oração subordinada
destacada.
A Admito que há uma pequena angústia dentro de mim. (substantiva objetiva direta)
B Foi esse fato que me fez pensar muito sobre a minha vida. (substantiva completiva nominal)
C Entendi que era dona de um forte apego ao passado. (substantiva objetiva indireta)
D Era preciso que as memórias antigas fossem totalmente apagadas. (substantiva predicativa)
4 000078 23 2
Questão 25 Substantivas
Assinale a alternativa em que a classificação entre parênteses está adequada à oração destacada.
B Ela tem certeza de que chás fazem bem à saúde. (completiva nominal)
Questão 26 Adjetivas
Em “Espere um pouco, que a preocupação logo passa”, a oração em destaque é classificada como
A causal
B conclusiva
C explicativa
D consecutiva
4 000078 228
Em “Fio remendado, geladeira encostada na parede, ar-condicionado com ltro sujo. O panorama traçado
pode ser encontrado com facilidade nos lares cariocas e, além de aumentar o risco de curto circuito e
incêndios, contribui para um imenso desperdício na conta de luz.”. Veri ca-se o uso da palavra em destaque
compondo expressão que tem semelhante função e significado em:
A Gosto de ouvir Villa-Lobos, mas, além dele, conheço pouco a música brasileira.
Em “Você pode chorar bem alto, que ninguém virá socorrê-lo.”, a palavra “QUE” encontra emprego
correspondente em
Qual das orações subordinadas adjetivas é explicativa e, portanto, deve ficar entre vírgulas?
“Cada pessoa que chegava se punha na ponta dos pés, conquanto não pudesse ver.”
A adjetiva explicativa / oração principal / adverbial condicional.
Em “Não sei por que você se foi”, a oração destacada não corresponde à mesma classi cação que a
destacada em:
As relações expressas pelos termos sublinhados nas frases acima são, respectivamente, de
Qual das alternativas abaixo apresenta oração com a mesma classificação da destacada acima?
Marque a alternativa em que o termo em destaque tem a mesma classi cação sintática do termo destacado
em “Minha dor é inútil como uma gaiola numa terra onde não há pássaros”.
C ”Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.”
D adjetivo e predicativo.
E substantivo e sujeito.
4 000073 912
Em relação ao trecho:
“Avisaram-no de que a reunião começaria mais cedo e ele teve medo de que não pudesse chegar a
tempo”, as orações sublinhadas são, respectivamente:
De acordo com a Gramática normativa, a oração coordenada que seja desprovida de conectivo é
denominada assindética. Observando os períodos seguintes:
II. Senti frio, senti fome, mas não senti sua falta.
B II apenas
C III apenas
D I, II e III
E I e III
4 000073 910
A 1, 2 e 3
B 1, 3 e 4
C 2e3
D 3e4
E 1e 2
4 000073 909
A e
B portanto
C logo
D pois
E mas
4 000073 908
A conjunção ‘e’ habitualmente é conhecida por seu valor aditivo, porém, na frase a seguir, tem valor
adversativo:
A O filho era tão determinado como seus pais o foram em toda vida.
Não participou da maratona tão esperada, visto que estava mal sicamente. A locução conjuntiva em
destaque
C expressa causa.
D denota finalidade.
E é indicadora de explicação.
4 000073 904
Em “Ela estudava muito; desejava, pois, a aprovação”, a conjunção ‘pois’ tem o sentido de
A explicação.
B adição.
C oposição.
D conclusão.
E causa.
4 000073 903
“A diferença não é onde você navega, porém com quem você navega ”.
A subordinada substantiva.
B coordenada assindética.
C subordinada adjetiva.
D coordenada sindética.
E subordinada adverbial.
4 000073 901
Em “De repente, paro pra re etir"(3º quadrinho), a preposição “pra”, utilizada informalmente, estabelece uma
relação de sentido de:
A causa
B explicação
C tempo
D consequência
E finalidade
4 00007223 1
Assinale a opção em que o conector destacado em “Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com
o momento.” poderia ter sido facilmente substituído, sem alteração de sentido, pelo que se encontra no
período reescrito em:
Um artigo recente no New York Times explora a onda explosiva de gravações de eventos feitas em
smartphones, dos mais significativos aos mais triviais.
Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento considerado
signi cativo. Microestrelas do YouTube têm vídeos de sel es que se tornam virais em questão de horas,
como o mais recente do jornalista Scott Welsh, gravado durante um voo da companhia aérea Jetblue
Airways, em que as máscaras de oxigênio baixaram devido a um defeito mecânico. Se você se depara com a
morte, por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou? Há um aspecto
disso tudo que faz sentido; todos somos importantes, nossas vidas são importantes, e queremos que elas
sejam vistas, compartilhadas, apreciadas. Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com o
momento.
Estarão as pessoas esquecendo de estar presentes no momento, espalhando seu foco ao ver a vida através
de uma tela? Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam? Deve-se dizer,
entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. Algo ocorreu entre o diário privado que
mantínhamos chaveado em uma gaveta e a câmera de vídeo portátil. Por exemplo, em junho de 2001, levei
um grupo de alunos da universidade de Dartmouth em uma viagem para ver o eclipse total do Sol na África. A
bordo havia um grupo de “tietes de eclipse”, pessoas que viajam o mundo atrás de eclipses. Quando você vir
um, vai entender o porquê. Um eclipse solar total é uma experiência altamente emocionante que desperta
uma conexão primitiva com a natureza, nos unindo a algo maior e realmente incrível a respeito do mundo. É
algo que necessita um comprometimento total e foco de todos os sentidos. Ainda assim, ao se aproximar o
momento de totalidade, o convés do navio era um mar de câmeras e tripés, enquanto dezenas de pessoas se
preparavam para fotografar e filmar o evento de quatro minutos.
Em vez de se envolverem totalmente com esse espetacular fenômeno da natureza, as pessoas preferiram
olhar para isso através de suas câmeras. Eu quei chocado. Havia fotógrafos pro ssionais a bordo e eles iam
vender/dar as fotos que tirassem. Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo
se não fossem tão bons. Eu fui a outros dois eclipses, e é sempre a mesma coisa. Sem um envolvimento
pessoal total. O dispositivo é o olho através do qual eles escolheram ver a realidade. O que os celulares e as
redes sociais zeram foi tornar o arquivamento e o compartilhamento de imagens incrivelmente fáceis e
e cientes. O alcance é muito mais amplo, e a grati cação (quantos “curtir” a foto ou o vídeo recebe) é
quantitativa. As vidas se tornaram um evento social compartilhado.
Agora, há um aspecto que é bom, é claro. Celebramos momentos signi cativos e queremos compartilhar
com aqueles com quem nos importamos. O problema começa quando paramos de participar completamente
do momento porque temos essa necessidade de registrá-lo. O apresentador Conan O’Brien, por exemplo,
reclamou que ele não pode mais nem ver o rosto das pessoas quando se apresenta. “Tudo que vejo é um mar
de iPads”, ele disse. Algumas celebridades estão proibindo celulares pessoais durante os seus casamentos.
Nick Denton, diretor da Gawker, disse a seus convidados: “Vocês podem dar atenção à sua presença virtual
– e seus seguidores no Twitter e no Instagram – amanhã”.
Nisso podemos incluir palestrar usando o PowerPoint ou o Keynote, como posso a rmar por experiência
própria. Assim que uma tela iluminada aparece, os olhares se voltam a ela e o palestrante se torna uma voz
vazia. Nenhum envolvimento direto é então possível. É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias
minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou citações significativas.
Em “Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo se não fossem tão bons. “
(4º§), há na oração sublinhada qual relação de sentido?
A causa
B tempo
C oposição
D concessão
E explicação
4 000072219
Um artigo recente no New York Times explora a onda explosiva de gravações de eventos feitas em
smartphones, dos mais significativos aos mais triviais.
Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento considerado
signi cativo. Microestrelas do YouTube têm vídeos de sel es que se tornam virais em questão de horas,
como o mais recente do jornalista Scott Welsh, gravado durante um voo da companhia aérea Jetblue
Airways, em que as máscaras de oxigênio baixaram devido a um defeito mecânico. Se você se depara com a
morte, por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou? Há um aspecto
disso tudo que faz sentido; todos somos importantes, nossas vidas são importantes, e queremos que elas
sejam vistas, compartilhadas, apreciadas. Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com o
momento.
Estarão as pessoas esquecendo de estar presentes no momento, espalhando seu foco ao ver a vida através
de uma tela? Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam? Deve-se dizer,
entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. Algo ocorreu entre o diário privado que
mantínhamos chaveado em uma gaveta e a câmera de vídeo portátil. Por exemplo, em junho de 2001, levei
um grupo de alunos da universidade de Dartmouth em uma viagem para ver o eclipse total do Sol na África. A
bordo havia um grupo de “tietes de eclipse”, pessoas que viajam o mundo atrás de eclipses. Quando você vir
um, vai entender o porquê. Um eclipse solar total é uma experiência altamente emocionante que desperta
uma conexão primitiva com a natureza, nos unindo a algo maior e realmente incrível a respeito do mundo. É
algo que necessita um comprometimento total e foco de todos os sentidos. Ainda assim, ao se aproximar o
momento de totalidade, o convés do navio era um mar de câmeras e tripés, enquanto dezenas de pessoas se
preparavam para fotografar e filmar o evento de quatro minutos.
Em vez de se envolverem totalmente com esse espetacular fenômeno da natureza, as pessoas preferiram
olhar para isso através de suas câmeras. Eu quei chocado. Havia fotógrafos pro ssionais a bordo e eles iam
vender/dar as fotos que tirassem. Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo
se não fossem tão bons. Eu fui a outros dois eclipses, e é sempre a mesma coisa. Sem um envolvimento
pessoal total. O dispositivo é o olho através do qual eles escolheram ver a realidade. O que os celulares e as
redes sociais zeram foi tornar o arquivamento e o compartilhamento de imagens incrivelmente fáceis e
e cientes. O alcance é muito mais amplo, e a grati cação (quantos “curtir” a foto ou o vídeo recebe) é
quantitativa. As vidas se tornaram um evento social compartilhado.
Agora, há um aspecto que é bom, é claro. Celebramos momentos signi cativos e queremos compartilhar
com aqueles com quem nos importamos. O problema começa quando paramos de participar completamente
do momento porque temos essa necessidade de registrá-lo. O apresentador Conan O’Brien, por exemplo,
reclamou que ele não pode mais nem ver o rosto das pessoas quando se apresenta. “Tudo que vejo é um mar
de iPads”, ele disse. Algumas celebridades estão proibindo celulares pessoais durante os seus casamentos.
Nick Denton, diretor da Gawker, disse a seus convidados: “Vocês podem dar atenção à sua presença virtual
– e seus seguidores no Twitter e no Instagram – amanhã”.
Nisso podemos incluir palestrar usando o PowerPoint ou o Keynote, como posso a rmar por experiência
própria. Assim que uma tela iluminada aparece, os olhares se voltam a ela e o palestrante se torna uma voz
vazia. Nenhum envolvimento direto é então possível. É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias
minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou citações significativas.
No fragmento “Microestrelas do YouTube têm vídeos de sel es que se tornam virais em questão de horas”
(2º§), o vocábulo em destaque tem a mesma classificação morfológica que em:
A “...por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou?”(2º§)
C “Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam?” (3º§)
D “Deve-se dizer, entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares…” (3º§)
E “Assim que uma tela iluminada aparece, os olhares se voltam a ela e o palestrante se torna uma voz
vazia.” (6º§)
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 000072218
Um artigo recente no New York Times explora a onda explosiva de gravações de eventos feitas em
smartphones, dos mais significativos aos mais triviais.
Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento considerado
signi cativo. Microestrelas do YouTube têm vídeos de sel es que se tornam virais em questão de horas,
como o mais recente do jornalista Scott Welsh, gravado durante um voo da companhia aérea Jetblue
Airways, em que as máscaras de oxigênio baixaram devido a um defeito mecânico. Se você se depara com a
morte, por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou? Há um aspecto
disso tudo que faz sentido; todos somos importantes, nossas vidas são importantes, e queremos que elas
sejam vistas, compartilhadas, apreciadas. Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com o
momento.
Estarão as pessoas esquecendo de estar presentes no momento, espalhando seu foco ao ver a vida através
de uma tela? Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam? Deve-se dizer,
entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. Algo ocorreu entre o diário privado que
mantínhamos chaveado em uma gaveta e a câmera de vídeo portátil. Por exemplo, em junho de 2001, levei
um grupo de alunos da universidade de Dartmouth em uma viagem para ver o eclipse total do Sol na África. A
bordo havia um grupo de “tietes de eclipse”, pessoas que viajam o mundo atrás de eclipses. Quando você vir
um, vai entender o porquê. Um eclipse solar total é uma experiência altamente emocionante que desperta
uma conexão primitiva com a natureza, nos unindo a algo maior e realmente incrível a respeito do mundo. É
algo que necessita um comprometimento total e foco de todos os sentidos. Ainda assim, ao se aproximar o
momento de totalidade, o convés do navio era um mar de câmeras e tripés, enquanto dezenas de pessoas se
preparavam para fotografar e filmar o evento de quatro minutos.
Em vez de se envolverem totalmente com esse espetacular fenômeno da natureza, as pessoas preferiram
olhar para isso através de suas câmeras. Eu quei chocado. Havia fotógrafos pro ssionais a bordo e eles iam
vender/dar as fotos que tirassem. Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo
se não fossem tão bons. Eu fui a outros dois eclipses, e é sempre a mesma coisa. Sem um envolvimento
pessoal total. O dispositivo é o olho através do qual eles escolheram ver a realidade. O que os celulares e as
redes sociais zeram foi tornar o arquivamento e o compartilhamento de imagens incrivelmente fáceis e
e cientes. O alcance é muito mais amplo, e a grati cação (quantos “curtir” a foto ou o vídeo recebe) é
quantitativa. As vidas se tornaram um evento social compartilhado.
Agora, há um aspecto que é bom, é claro. Celebramos momentos signi cativos e queremos compartilhar
com aqueles com quem nos importamos. O problema começa quando paramos de participar completamente
do momento porque temos essa necessidade de registrá-lo. O apresentador Conan O’Brien, por exemplo,
reclamou que ele não pode mais nem ver o rosto das pessoas quando se apresenta. “Tudo que vejo é um mar
de iPads”, ele disse. Algumas celebridades estão proibindo celulares pessoais durante os seus casamentos.
Nick Denton, diretor da Gawker, disse a seus convidados: “Vocês podem dar atenção à sua presença virtual
– e seus seguidores no Twitter e no Instagram – amanhã”.
Nisso podemos incluir palestrar usando o PowerPoint ou o Keynote, como posso a rmar por experiência
própria. Assim que uma tela iluminada aparece, os olhares se voltam a ela e o palestrante se torna uma voz
vazia. Nenhum envolvimento direto é então possível. É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias
minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou citações significativas.
Que termo pode ser usado para substituir aquele destacado em “Deve-se dizer, entretanto, que isso tudo
começou antes da revolução dos celulares.[...].” (3°§), sem que haja alteração de sentido no período?
A não obstante.
B por conseguinte.
C consoante.
D porquanto.
E pois.
4 000072217
A vida moderna naturalizou a cobrança excessiva por produtividade e positividade; com tanta pressão por
perfeição, saúde física e mental pedem a conta
“Já amanheci cansada.” O meme, que circula pela internet e é ilustrado por um desenho infantil,
provavelmente, foi criado por uma criança, mas faz sucesso nas redes sociais ao resumir uma sensação que
domina boa parte da sociedade adulta: o de que nem boas noites de sono são su cientes para restaurar o
vigor e a disposição, por isso, não raramente amanhecemos cansados.
O que pouca gente sabe é que essa sensação permanente de exaustão tem explicação na loso a: de
acordo com o lósofo sul-coreano Byung-Chul Han, vivemos na sociedade do cansaço, que naturalizou a
cobrança excessiva por produtividade, pela alta performance e pelos resultados, tudo isso sob o pano da
positividade. Com tanta pressão, saúde física e mental pedem a conta.
Ter um olhar crítico sobre esforços e objetivos, reconhecer-se imperfeito e buscar por tempo de qualidade
longe de telas e de trabalho são algumas das alternativas para se blindar dessa patologia da sociedade
moderna.
Pare e re ita: quantas vezes você já se cobrou e se frustrou por não ter a produtividade que esperava em
um determinado dia ou período de tempo? E quantas vezes você já se deparou com o per l de um colega de
faculdade no LinkedIn, observou a empresa onde ele trabalha ou a atual situação pro ssional dele, comparou
com sua situação e se sentiu deprimido ou fracassado?
Questionamentos e sentimentos como estes, que têm como pano de fundo a busca excessiva por
produtividade, alta performance, desempenho e resultado são decorrentes da sociedade do cansaço, um
termo cunhado por ByungChul Han, que se dedicou a entender como o modelo de produção da última fase
do capitalismo tem interferido na vida das pessoas. Os resultados foram reunidos no livro Sociedade do
Cansaço.
“Esse lósofo defende que a sociedade atual valoriza o desempenho, a alta performance, o resultado, a
máxima produtividade. O problema é quando essas coisas não acontecem. As pessoas tendem a se sentir
frustradas, deprimidas e fracassadas”, explica a psicóloga e psicoterapeuta Ana Gabriela Andriani, doutora
em educação pela Universidade de Campinas (Unicamp).
O cansaço extremo, por sua vez, na visão do lósofo, favorece o surgimento de patologias que afetam a
saúde física e mental, como a hiperatividade, o dé cit de atenção, o transtorno de personalidade borderline,
a ansiedade, a melancolia, a depressão e a síndrome de burnout.
Para o psicanalista clínico Diego Felipe Silva Cavalcante, da clínica Kaizen, excesso de estímulos e de
informações, a globalização e o avanço tecnológico, a obsessão em querer atender às expectativas geradas
pela sociedade e o esforço do indivíduo em ser produtivo, autêntico e inovador são alguns dos fatores que
mais contribuem com a sociedade do cansaço.
A violência da positividade
“Não desista”, “Tudo dá certo no m. Se não deu certo é porque ainda não chegou o nal”, “Busque a
felicidade a todo momento. Sempre”. Frases como essas são facilmente encontradas em per s de redes
sociais e têm como intenção servir de motivação para que as pessoas persistam na busca por seus objetivos.
O problema é quando elas mascaram a realidade, fazendo parecer que não existem objetivos impossíveis de
serem alcançados, colaborando com as cobranças em excesso.
“O ritmo de vida cobrado por nossa sociedade faz com que tudo pareça ser possível de ser alcançado, o que
gera em nós uma autocobrança muito grande e a expectativa de ser sempre possível alcançar os melhores
resultados. Em outras palavras, é o excesso do trabalho munido do sentimento de liberdade, o que gera a
chamada ‘violência da positividade’”, explica Diego Felipe Silva Cavalcante.
Neste sentido, é justo atribuir às redes sociais uma parcela da responsabilidade pelas patologias decorrentes
da sociedade do cansaço. “A necessidade de se expor e se mostrar feliz o tempo todo, bem-sucedido e
realizado em troca da aprovação social – que vem por meio de curtida e likes – é outro fator que contribui
para nos levar à exaustão, ao esgotamento mental, uma vez que nunca camos plenamente satisfeitos com
nossos resultados”, avalia.
Ana Gabriela Andriani concorda com o pensamento do colega e reforça: “As redes sociais reúnem momentos
de felicidade, de conquista e de perfeição: são corpos esculturais, pro ssões de alto desempenho, relações
perfeitas… Tudo isso contribui para que as pessoas se sintam exigidas a serem assim também, a buscarem a
perfeição, a estarem em um alto nível de rendimento e produtividade e a serem sempre felizes, mobilizadas,
motivadas e superinformadas”, acrescenta a doutora.
Entender os motivos pelos quais você faz determinadas coisas ou toma algumas atitudes é o primeiro passo
para não cair nas armadilhas da sociedade do cansaço.
“É preciso questionar o sentido das coisas que fazemos, de nossa atividade pro ssional, das atividades com
as quais nos envolvemos, das nossas relações e do uso das redes sociais. Esse olhar crítico é fundamental
para que possamos identi car o quanto nossas atitudes são pautadas em coisas que são, de fato,
signi cativas pra gente ou o quanto estamos fazendo isso porque outras pessoas fazem ou porque estamos
em um piloto automático”, orienta Ana Gabriela Andriani.
“A ideia é parar para re etir sobre como está conduzindo sua vida, e, mais que isso, permitir-se sentir o
desconforto e o tédio. Aliás, não tente desesperadamente fugir do tédio”, orienta o psicanalista clínico Diego
Felipe Silva Cavalcante.
Reconhecer-se como um ser humano, com falhas, é o segundo passo para quem deseja se blindar dos efeitos
da sociedade do cansaço. “É preciso aprender a lidar com nossas faltas e imperfeições. É preciso entender
que a gente não dá conta de estar em um alto nível de performance, rendimento e entrega no trabalho o
tempo todo; que não existem relações perfeitas nem corpos perfeitos, e que não é possível estar sempre
estável emocionalmente”, explica a psicóloga.
Além disso, Ana Gabriela Andriani destaca a instabilidade com que se desenrolam as situações existenciais.
“A vida não acontece em uma curva de ascensão. Saber disso é importante para que a gente possa se
conhecer mais e se aproximar de nós mesmos”, pontua.
Por m, a terceira orientação dada pelos especialistas é buscar por momentos que proporcionem
relaxamento e qualidade de vida, além de usar as redes sociais com moderação.
“Aprenda a contemplar a vida, a viver o momento. Preste atenção em cada detalhe do seu dia, leia mais
livros, medite. Além disso, procure deixar o celular um pouco de lado e use as redes sociais e outras
interações digitais com moderação. Quando você tirar férias, tire férias de fato e desligue-se de seus
afazeres”, ensina o psicanalista da clínica Kaizen.
A mesma classificação sintática de “O problema é quando essas coisas não acontecem.” se encontra em:
A “...As pessoas tendem a se sentir frustradas, deprimidas e fracassadas”
A vida moderna naturalizou a cobrança excessiva por produtividade e positividade; com tanta pressão por
perfeição, saúde física e mental pedem a conta
“Já amanheci cansada.” O meme, que circula pela internet e é ilustrado por um desenho infantil,
provavelmente, foi criado por uma criança, mas faz sucesso nas redes sociais ao resumir uma sensação que
domina boa parte da sociedade adulta: o de que nem boas noites de sono são su cientes para restaurar o
vigor e a disposição, por isso, não raramente amanhecemos cansados.
O que pouca gente sabe é que essa sensação permanente de exaustão tem explicação na loso a: de
acordo com o lósofo sul-coreano Byung-Chul Han, vivemos na sociedade do cansaço, que naturalizou a
cobrança excessiva por produtividade, pela alta performance e pelos resultados, tudo isso sob o pano da
positividade. Com tanta pressão, saúde física e mental pedem a conta.
Ter um olhar crítico sobre esforços e objetivos, reconhecer-se imperfeito e buscar por tempo de qualidade
longe de telas e de trabalho são algumas das alternativas para se blindar dessa patologia da sociedade
moderna.
Pare e re ita: quantas vezes você já se cobrou e se frustrou por não ter a produtividade que esperava em
um determinado dia ou período de tempo? E quantas vezes você já se deparou com o per l de um colega de
faculdade no LinkedIn, observou a empresa onde ele trabalha ou a atual situação pro ssional dele, comparou
com sua situação e se sentiu deprimido ou fracassado?
Questionamentos e sentimentos como estes, que têm como pano de fundo a busca excessiva por
produtividade, alta performance, desempenho e resultado são decorrentes da sociedade do cansaço, um
termo cunhado por ByungChul Han, que se dedicou a entender como o modelo de produção da última fase
do capitalismo tem interferido na vida das pessoas. Os resultados foram reunidos no livro Sociedade do
Cansaço.
“Esse lósofo defende que a sociedade atual valoriza o desempenho, a alta performance, o resultado, a
máxima produtividade. O problema é quando essas coisas não acontecem. As pessoas tendem a se sentir
frustradas, deprimidas e fracassadas”, explica a psicóloga e psicoterapeuta Ana Gabriela Andriani, doutora
em educação pela Universidade de Campinas (Unicamp).
O cansaço extremo, por sua vez, na visão do lósofo, favorece o surgimento de patologias que afetam a
saúde física e mental, como a hiperatividade, o dé cit de atenção, o transtorno de personalidade borderline,
a ansiedade, a melancolia, a depressão e a síndrome de burnout.
Para o psicanalista clínico Diego Felipe Silva Cavalcante, da clínica Kaizen, excesso de estímulos e de
informações, a globalização e o avanço tecnológico, a obsessão em querer atender às expectativas geradas
pela sociedade e o esforço do indivíduo em ser produtivo, autêntico e inovador são alguns dos fatores que
mais contribuem com a sociedade do cansaço.
A violência da positividade
“Não desista”, “Tudo dá certo no m. Se não deu certo é porque ainda não chegou o nal”, “Busque a
felicidade a todo momento. Sempre”. Frases como essas são facilmente encontradas em per s de redes
sociais e têm como intenção servir de motivação para que as pessoas persistam na busca por seus objetivos.
O problema é quando elas mascaram a realidade, fazendo parecer que não existem objetivos impossíveis de
serem alcançados, colaborando com as cobranças em excesso.
“O ritmo de vida cobrado por nossa sociedade faz com que tudo pareça ser possível de ser alcançado, o que
gera em nós uma autocobrança muito grande e a expectativa de ser sempre possível alcançar os melhores
resultados. Em outras palavras, é o excesso do trabalho munido do sentimento de liberdade, o que gera a
chamada ‘violência da positividade’”, explica Diego Felipe Silva Cavalcante.
Neste sentido, é justo atribuir às redes sociais uma parcela da responsabilidade pelas patologias decorrentes
da sociedade do cansaço. “A necessidade de se expor e se mostrar feliz o tempo todo, bem-sucedido e
realizado em troca da aprovação social – que vem por meio de curtida e likes – é outro fator que contribui
para nos levar à exaustão, ao esgotamento mental, uma vez que nunca camos plenamente satisfeitos com
nossos resultados”, avalia.
Ana Gabriela Andriani concorda com o pensamento do colega e reforça: “As redes sociais reúnem momentos
de felicidade, de conquista e de perfeição: são corpos esculturais, pro ssões de alto desempenho, relações
perfeitas… Tudo isso contribui para que as pessoas se sintam exigidas a serem assim também, a buscarem a
perfeição, a estarem em um alto nível de rendimento e produtividade e a serem sempre felizes, mobilizadas,
motivadas e superinformadas”, acrescenta a doutora.
Entender os motivos pelos quais você faz determinadas coisas ou toma algumas atitudes é o primeiro passo
para não cair nas armadilhas da sociedade do cansaço.
“É preciso questionar o sentido das coisas que fazemos, de nossa atividade pro ssional, das atividades com
as quais nos envolvemos, das nossas relações e do uso das redes sociais. Esse olhar crítico é fundamental
para que possamos identi car o quanto nossas atitudes são pautadas em coisas que são, de fato,
signi cativas pra gente ou o quanto estamos fazendo isso porque outras pessoas fazem ou porque estamos
em um piloto automático”, orienta Ana Gabriela Andriani.
“A ideia é parar para re etir sobre como está conduzindo sua vida, e, mais que isso, permitir-se sentir o
desconforto e o tédio. Aliás, não tente desesperadamente fugir do tédio”, orienta o psicanalista clínico Diego
Felipe Silva Cavalcante.
Reconhecer-se como um ser humano, com falhas, é o segundo passo para quem deseja se blindar dos efeitos
da sociedade do cansaço. “É preciso aprender a lidar com nossas faltas e imperfeições. É preciso entender
que a gente não dá conta de estar em um alto nível de performance, rendimento e entrega no trabalho o
tempo todo; que não existem relações perfeitas nem corpos perfeitos, e que não é possível estar sempre
estável emocionalmente”, explica a psicóloga.
Além disso, Ana Gabriela Andriani destaca a instabilidade com que se desenrolam as situações existenciais.
“A vida não acontece em uma curva de ascensão. Saber disso é importante para que a gente possa se
conhecer mais e se aproximar de nós mesmos”, pontua.
Por m, a terceira orientação dada pelos especialistas é buscar por momentos que proporcionem
relaxamento e qualidade de vida, além de usar as redes sociais com moderação.
“Aprenda a contemplar a vida, a viver o momento. Preste atenção em cada detalhe do seu dia, leia mais
livros, medite. Além disso, procure deixar o celular um pouco de lado e use as redes sociais e outras
interações digitais com moderação. Quando você tirar férias, tire férias de fato e desligue-se de seus
afazeres”, ensina o psicanalista da clínica Kaizen.
“O meme, que circula pela internet e é ilustrado por um desenho infantil, (...) foi criado por uma criança” A
vírgula colocada depois do sujeito está
A vida moderna naturalizou a cobrança excessiva por produtividade e positividade; com tanta pressão por
perfeição, saúde física e mental pedem a conta
“Já amanheci cansada.” O meme, que circula pela internet e é ilustrado por um desenho infantil,
provavelmente, foi criado por uma criança, mas faz sucesso nas redes sociais ao resumir uma sensação que
domina boa parte da sociedade adulta: o de que nem boas noites de sono são su cientes para restaurar o
vigor e a disposição, por isso, não raramente amanhecemos cansados.
O que pouca gente sabe é que essa sensação permanente de exaustão tem explicação na loso a: de
acordo com o lósofo sul-coreano Byung-Chul Han, vivemos na sociedade do cansaço, que naturalizou a
cobrança excessiva por produtividade, pela alta performance e pelos resultados, tudo isso sob o pano da
positividade. Com tanta pressão, saúde física e mental pedem a conta.
Ter um olhar crítico sobre esforços e objetivos, reconhecer-se imperfeito e buscar por tempo de qualidade
longe de telas e de trabalho são algumas das alternativas para se blindar dessa patologia da sociedade
moderna.
Pare e re ita: quantas vezes você já se cobrou e se frustrou por não ter a produtividade que esperava em
um determinado dia ou período de tempo? E quantas vezes você já se deparou com o per l de um colega de
faculdade no LinkedIn, observou a empresa onde ele trabalha ou a atual situação pro ssional dele, comparou
com sua situação e se sentiu deprimido ou fracassado?
Questionamentos e sentimentos como estes, que têm como pano de fundo a busca excessiva por
produtividade, alta performance, desempenho e resultado são decorrentes da sociedade do cansaço, um
termo cunhado por ByungChul Han, que se dedicou a entender como o modelo de produção da última fase
do capitalismo tem interferido na vida das pessoas. Os resultados foram reunidos no livro Sociedade do
Cansaço.
“Esse lósofo defende que a sociedade atual valoriza o desempenho, a alta performance, o resultado, a
máxima produtividade. O problema é quando essas coisas não acontecem. As pessoas tendem a se sentir
frustradas, deprimidas e fracassadas”, explica a psicóloga e psicoterapeuta Ana Gabriela Andriani, doutora
em educação pela Universidade de Campinas (Unicamp).
O cansaço extremo, por sua vez, na visão do lósofo, favorece o surgimento de patologias que afetam a
saúde física e mental, como a hiperatividade, o dé cit de atenção, o transtorno de personalidade borderline,
a ansiedade, a melancolia, a depressão e a síndrome de burnout.
Para o psicanalista clínico Diego Felipe Silva Cavalcante, da clínica Kaizen, excesso de estímulos e de
informações, a globalização e o avanço tecnológico, a obsessão em querer atender às expectativas geradas
pela sociedade e o esforço do indivíduo em ser produtivo, autêntico e inovador são alguns dos fatores que
mais contribuem com a sociedade do cansaço.
A violência da positividade
“Não desista”, “Tudo dá certo no m. Se não deu certo é porque ainda não chegou o nal”, “Busque a
felicidade a todo momento. Sempre”. Frases como essas são facilmente encontradas em per s de redes
sociais e têm como intenção servir de motivação para que as pessoas persistam na busca por seus objetivos.
O problema é quando elas mascaram a realidade, fazendo parecer que não existem objetivos impossíveis de
serem alcançados, colaborando com as cobranças em excesso.
“O ritmo de vida cobrado por nossa sociedade faz com que tudo pareça ser possível de ser alcançado, o que
gera em nós uma autocobrança muito grande e a expectativa de ser sempre possível alcançar os melhores
resultados. Em outras palavras, é o excesso do trabalho munido do sentimento de liberdade, o que gera a
chamada ‘violência da positividade’”, explica Diego Felipe Silva Cavalcante.
Neste sentido, é justo atribuir às redes sociais uma parcela da responsabilidade pelas patologias decorrentes
da sociedade do cansaço. “A necessidade de se expor e se mostrar feliz o tempo todo, bem-sucedido e
realizado em troca da aprovação social – que vem por meio de curtida e likes – é outro fator que contribui
para nos levar à exaustão, ao esgotamento mental, uma vez que nunca camos plenamente satisfeitos com
nossos resultados”, avalia.
Ana Gabriela Andriani concorda com o pensamento do colega e reforça: “As redes sociais reúnem momentos
de felicidade, de conquista e de perfeição: são corpos esculturais, pro ssões de alto desempenho, relações
perfeitas… Tudo isso contribui para que as pessoas se sintam exigidas a serem assim também, a buscarem a
perfeição, a estarem em um alto nível de rendimento e produtividade e a serem sempre felizes, mobilizadas,
motivadas e superinformadas”, acrescenta a doutora.
Entender os motivos pelos quais você faz determinadas coisas ou toma algumas atitudes é o primeiro passo
para não cair nas armadilhas da sociedade do cansaço.
“É preciso questionar o sentido das coisas que fazemos, de nossa atividade pro ssional, das atividades com
as quais nos envolvemos, das nossas relações e do uso das redes sociais. Esse olhar crítico é fundamental
para que possamos identi car o quanto nossas atitudes são pautadas em coisas que são, de fato,
signi cativas pra gente ou o quanto estamos fazendo isso porque outras pessoas fazem ou porque estamos
em um piloto automático”, orienta Ana Gabriela Andriani.
“A ideia é parar para re etir sobre como está conduzindo sua vida, e, mais que isso, permitir-se sentir o
desconforto e o tédio. Aliás, não tente desesperadamente fugir do tédio”, orienta o psicanalista clínico Diego
Felipe Silva Cavalcante.
Reconhecer-se como um ser humano, com falhas, é o segundo passo para quem deseja se blindar dos efeitos
da sociedade do cansaço. “É preciso aprender a lidar com nossas faltas e imperfeições. É preciso entender
que a gente não dá conta de estar em um alto nível de performance, rendimento e entrega no trabalho o
tempo todo; que não existem relações perfeitas nem corpos perfeitos, e que não é possível estar sempre
estável emocionalmente”, explica a psicóloga.
Além disso, Ana Gabriela Andriani destaca a instabilidade com que se desenrolam as situações existenciais.
“A vida não acontece em uma curva de ascensão. Saber disso é importante para que a gente possa se
conhecer mais e se aproximar de nós mesmos”, pontua.
Por m, a terceira orientação dada pelos especialistas é buscar por momentos que proporcionem
relaxamento e qualidade de vida, além de usar as redes sociais com moderação.
“Aprenda a contemplar a vida, a viver o momento. Preste atenção em cada detalhe do seu dia, leia mais
livros, medite. Além disso, procure deixar o celular um pouco de lado e use as redes sociais e outras
interações digitais com moderação. Quando você tirar férias, tire férias de fato e desligue-se de seus
afazeres”, ensina o psicanalista da clínica Kaizen.
“Para poder desempenhar bem seus papéis, as pessoas vêm se utilizando de artifícios químicos e
medicamentos…”
C Foi para o Brasil relaxar, pois tinha acabado de sair de um quadro de depressão.
Patíbulos virtuais
Ainda não tinha doze anos quando assisti a um linchamento. Vi um rapaz a fugir de bicicleta. Um homem
começou a persegui-lo, a pé, e de repente já eram cinco, dez, uma turba exaltada, correndo, gritando,
jogando pedras. Lembro-me de estar inteiro, de coração, numa angústia enorme, com o rapaz que fugia. Não
havia nada que pudesse fazer para o ajudar. Minutos antes eu lia, ao sol, numa varanda. Logo a seguir o rapaz
pedalava para salvar a vida, lá embaixo, entre uma estradinha de terra vermelha e um vasto descampado
coberto de capim.
Desde então estou sempre do lado de quem, sozinho, se vê perseguido por uma multidão. Pouco me importa
o que fez o rapaz que corre; o homem que ergue a mão para se proteger da pancada; a mulher que enfrenta,
chorando, os insultos de um bando de predadores cobardes.
O surgimento das redes sociais marcou a emergência de um novo patíbulo para os linchadores. Bem sei que a
comparação será sempre abusiva. Palavras, por muito aguçadas, por muito duras e pesadas, não racham
cabeças. Palavras, por muito venenosas, não são capazes de matar. Em contrapartida, este novo palco tem o
poder de juntar em poucos minutos largos milhares de pessoas, todas aos gritos. A estupidez das multidões
virtuais é tão concreta quanto a das multidões reais.
Praticamente todas as semanas há alguma figura pública a sofrer perseguição nas redes sociais.
[...]
Há alguns anos, em Luanda, a rmei, durante uma entrevista, não entender por que o governo insistia em
promover a poesia de Agostinho Neto, primeiro presidente angolano, que a mim sempre me pareceu
bastante medíocre. Um conhecido jurista e comentador político, João Pinto, deputado do partido no poder,
assinou um artigo defendendo a minha prisão. Foi além: defendeu o restabelecimento da pena de morte e o
meu fuzilamento. Segundo ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também
uma divindade, visto que Agostinho Neto seria um quilamba — ou seja, um intérprete de sereias. Nas
semanas seguintes foram publicados muitos outros textos de ódio. Recebi telefonemas com ameaças.
Contaram-me que havia pessoas queimando os meus livros. Na altura foi bastante assustador. Hoje olho para
trás e rio-me. Recordo o quanto era difícil explicar a jornalistas europeus a acusação de que teria ofendido
um intérprete de sereias. Naturalmente, acabei transformando o episódio em literatura. Os europeus e norte-
americanos leem aquilo e chamam-lhe realismo mágico.
Os queimadores de livros têm receio não das ideias que os mesmos defendem, mas da sua própria
incapacidade para lhes dar resposta. Aqueles que se juntam a multidões virtuais para ameaçar ou troçar de
alguém são quase tão perigosos quanto os que correm pelas ruas, jogando pedras — e ainda mais cobardes.
Fecho os olhos e volto a ver o rapaz na bicicleta. Uma pedra atingiu-o na cabeça e ele caiu. A multidão
mergulhou sobre ele. Naquele dia deixei de ser criança.
Assinale a opção que demonstra a reescrita do período “Segundo ele, eu ofendera não apenas um antigo
presidente e herói nacional mas também uma divindade…” (§5º), sem que haja qualquer alteração de valor
semântico.
A Tal como ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma
divindade.
B Consoante ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma
divindade.
C Não obstante ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma
divindade.
D Conquanto ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma
divindade.
E Assim como ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma
divindade.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 0000714 91
Patíbulos virtuais
Ainda não tinha doze anos quando assisti a um linchamento. Vi um rapaz a fugir de bicicleta. Um homem
começou a persegui-lo, a pé, e de repente já eram cinco, dez, uma turba exaltada, correndo, gritando,
jogando pedras. Lembro-me de estar inteiro, de coração, numa angústia enorme, com o rapaz que fugia. Não
havia nada que pudesse fazer para o ajudar. Minutos antes eu lia, ao sol, numa varanda. Logo a seguir o rapaz
pedalava para salvar a vida, lá embaixo, entre uma estradinha de terra vermelha e um vasto descampado
coberto de capim.
Desde então estou sempre do lado de quem, sozinho, se vê perseguido por uma multidão. Pouco me importa
o que fez o rapaz que corre; o homem que ergue a mão para se proteger da pancada; a mulher que enfrenta,
chorando, os insultos de um bando de predadores cobardes.
O surgimento das redes sociais marcou a emergência de um novo patíbulo para os linchadores. Bem sei que a
comparação será sempre abusiva. Palavras, por muito aguçadas, por muito duras e pesadas, não racham
cabeças. Palavras, por muito venenosas, não são capazes de matar. Em contrapartida, este novo palco tem o
poder de juntar em poucos minutos largos milhares de pessoas, todas aos gritos. A estupidez das multidões
virtuais é tão concreta quanto a das multidões reais.
Praticamente todas as semanas há alguma figura pública a sofrer perseguição nas redes sociais.
[...]
Há alguns anos, em Luanda, a rmei, durante uma entrevista, não entender por que o governo insistia em
promover a poesia de Agostinho Neto, primeiro presidente angolano, que a mim sempre me pareceu
bastante medíocre. Um conhecido jurista e comentador político, João Pinto, deputado do partido no poder,
assinou um artigo defendendo a minha prisão. Foi além: defendeu o restabelecimento da pena de morte e o
meu fuzilamento. Segundo ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também
uma divindade, visto que Agostinho Neto seria um quilamba — ou seja, um intérprete de sereias. Nas
semanas seguintes foram publicados muitos outros textos de ódio. Recebi telefonemas com ameaças.
Contaram-me que havia pessoas queimando os meus livros. Na altura foi bastante assustador. Hoje olho para
trás e rio-me. Recordo o quanto era difícil explicar a jornalistas europeus a acusação de que teria ofendido
um intérprete de sereias. Naturalmente, acabei transformando o episódio em literatura. Os europeus e norte-
americanos leem aquilo e chamam-lhe realismo mágico.
Os queimadores de livros têm receio não das ideias que os mesmos defendem, mas da sua própria
incapacidade para lhes dar resposta. Aqueles que se juntam a multidões virtuais para ameaçar ou troçar de
alguém são quase tão perigosos quanto os que correm pelas ruas, jogando pedras — e ainda mais cobardes.
Fecho os olhos e volto a ver o rapaz na bicicleta. Uma pedra atingiu-o na cabeça e ele caiu. A multidão
mergulhou sobre ele. Naquele dia deixei de ser criança.
Assinale a opção que demonstra a relação de sentido expressa no período “Palavras, por muito aguçadas, por
muito duras e pesadas, não racham cabeças.”(§3º).
A Causa
B Consequência
C Condição
D Comparação
E Concessão
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 0000714 8 5
Mais mulheres e crianças engrossam população de rua, diz padre Julio Lancelotti
Ipea estima, em estudo publicado em março de 2020, que o número de pessoas em situação de rua
havia chegado a 222 mil
Ao caminhar por grandes centros do país, a impressão é de que houve um aumento da população em
situação de rua desde a chegada da pandemia do novo coronavírus.
No entanto, isso é só o que se tem: uma impressão, já que não existem dados atualizados que a corroborem.
O último censo nacional da população em situação de rua aconteceu em 2008 e, apesar da tentativa de
grupos de direitos humanos de incluir essas pessoas no próximo censo demográ co do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), que acontecerá neste ano, ainda não será dessa vez.
"O censo é feito com domicílios e, como essas pessoas não têm domicílio, cam de fora. Para incluir,
precisaria alterar a metodologia para os demais dados", explicou Wagner Silveira, coordenador de divulgação
estadual em São Paulo do IBGE.
Ele conta que há uma iniciativa do instituto para fazer um levantamento especí co dessa população. "Há um
projeto, que tem que ser custeado pelo governo federal", disse. "Mas ele avançou muito pouco. Por causa da
restrição orçamentária e a crise, isso cou em segundo plano. Essa é uma preocupação da sociedade, com
todo esse problema da pandemia, deve ter aumentado [o número de pessoas em situação de rua]
absurdamente. Mas só poderíamos fazer isso efetivamente com uma pesquisa mais ampla."
Wagner relatou que, enquanto isso não acontece, há prefeituras que estão fazendo censos por conta própria
e algumas até entraram em contato com o IBGE para perguntar sobre metodologias e questionários. "Porém,
em âmbito nacional, por enquanto, não tem nada oficial", afirmou.
Os dados do Cadastro Único, disponíveis até setembro de 2020, mostram que havia 149.654 famílias que se
declararam em situação de rua no país, ante 140.199 de janeiro do mesmo ano. No entanto, esse número não
é exato, uma vez que só inclui as pessoas que preencheram os dados para tentar inclusão em programas
sociais do governo.
Essa lacuna é o que leva o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Marco Natalino a
aplicar um modelo que estima quantas pessoas estão em situação de rua em todo o país desde 2012.
A fórmula leva em conta dados do Cadastro Único, do Censo Suas (Sistema Único de Assistência Social) e
informações como tamanho da população, índice de vulnerabilidade social e o número de unidades públicas,
atendimentos e vagas para acolhimento.
O último estudo, publicado em março de 2020, mostrava que o número de pessoas nessa situação havia
chegado a 222 mil, e que tendia a aumentar com a crise econômica acentuada pela pandemia.
"Alguns municípios informam anualmente esse dado, fazem estimativas próprias. O que eu faço é tentar, com
base em outros indicadores, extrapolar esse número dos municípios que fornecem", explicou Natalino.
"Já faz 10 meses desde esse dado [o estudo mais recente] e não tenho informações nacionais sobre o que
aconteceu desde então. Mas sabemos que o número está mais alto e vinha crescendo."
Aumento aparente
"É surpreendente ver o quanto está crescendo a população em situação de rua desde 2015, que foi quando
eu z a primeira estimativa. Eu já tinha a hipótese que a crise econômica, o desemprego e a falta de
oportunidade no geral, principalmente nas grandes metrópoles, geraria essa situação de aumento, mas foi
além do que eu estava imaginando", disse ele.
A fala de Natalino re ete nesse ponto a experiência do padre Julio Lancelotti, que coordena a Pastoral do
Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo e está à frente de várias iniciativas de atendimento à população
em situação de rua.
O padre citou o último censo realizado pela cidade de São Paulo, divulgado em janeiro de 2020, que
apontava 25 mil pessoas vivendo nessa situação na cidade. "Já naquela época, colocamos que esse número
era abaixo do real. A gente percebe que isso é uma percepção que todos têm, que o número de pessoas que
estão pelas ruas é maior do que era perceptível antes", disse.
"Só no centro de convivência da entidade conveniada na Mooca, onde eu acompanho mais, antes da
pandemia, 4 mil pessoas passavam por lá pela primeira vez a cada mês. Durante a pandemia, esse número foi
para 8 mil." Além do aumento numérico, o padre contou que viu muito mais mulheres com crianças e grupos
familiares, além de uma mobilidade maior.
"Tem muita gente andando, passando pelas ruas, que passam por São Paulo, mas estão indo para outros
lugares em busca de alguma resposta, estão procurando sobreviver", disse.
Medidas de acolhimento
Marco Natalino, do Ipea, analisa que, em nível nacional, não houve coordenação para uma resposta única de
acolhimento para essas pessoas durante a pandemia.
"Não há conclusão ainda, mas o que aconteceu foi que não houve uma medida nacional grande o su ciente
para orientar os atores nos municípios, e cada município agiu de uma forma. Essas orientações não foram
su cientes ou ancoradas em ações de nanciamento que dessem substância a elas e permitissem que os
municípios pudessem as concretizar."
Ele explicou que, como os recursos para serviços de assistência social são principalmente municipais, cada
cidade montou a própria estratégia, com experiências e infraestruturas diversas.
"Uma coisa que parecia óbvia, que era o uso de espaços públicos que não seriam utilizados naquele
momento, como escolas, foi preterido. Quase nenhum município quis ir por esse caminho, preferiram
construir estruturas novas, sem saber quanto tempo duraria essa situação", disse.
Ele contou sobre uma experiência em Cuiabá, no Mato Grosso, em que algumas dessas pessoas foram
acolhidas em hotéis e cuidadas por pessoas da área de hospitalidade, que não tinham treinamento para lidar
com a situação.
"As pessoas eram praticamente proibidas de saírem dos quartos, não podiam sair nem para fumar um cigarro
na calçada. Então, elas fugiam. Você vê que, por vezes, a falta de conhecimento e a tentativa de
cerceamento são tão grandes que as pessoas preferem sair", disse.
Para o padre Júlio, as medidas do poder público durante o período de crise sanitária não foram muito
diferentes do que são em tempos normais.
"As respostas do poder público são todas institucionais, burocráticas e de tutela, e, por isso também, são
muito rejeitadas. Uma resposta de autonomia seria a renda mínima, locação social, e não colocar todos
dentro de espaços onde são tutelados", conta ele.
"É só ir até o Pátio do Colégio [marco no centro de São Paulo] no m do dia, ver a quantidade de gente que
está na rua. A Praça da Sé é quase um acampamento. E a Prefeitura diz que tem vagas, mas vagas são para
estacionamentos. Para pessoas, é preciso ter um lugar".
Invisibilidade
Natalino avalia que não são só os números ou as medidas adequadas que estão faltando. "Não há política de
contar, nem de fazer vigilância em saúde ou socioassistencial, para saber onde essas pessoas estão, quais
são suas características, suas necessidades, para de fato atendê-las."
"A invisibilidade social da população em situação de rua é reproduzida na incapacidade do Estado de contá-
los, de pensar em suas necessidades", disse. "O número é um elemento de avaliação da demanda de uma
política pública e tem que ser parte de processo dos serviços aos quais a população tem direito."
No período “No entanto, isso é só o que se tem: uma impressão, já que não existem dados atualizados que a
corroborem.”, ao substituirmos a locução conjuntiva por outro elemento conector, ferirá a relação semântica
estabelecida entre as orações se a trocarmos por:
B porquanto
C desde que
D se bem que
E visto que
4 000071091
Mais mulheres e crianças engrossam população de rua, diz padre Julio Lancelotti
Ipea estima, em estudo publicado em março de 2020, que o número de pessoas em situação de rua
havia chegado a 222 mil
Ao caminhar por grandes centros do país, a impressão é de que houve um aumento da população em
situação de rua desde a chegada da pandemia do novo coronavírus.
No entanto, isso é só o que se tem: uma impressão, já que não existem dados atualizados que a corroborem.
O último censo nacional da população em situação de rua aconteceu em 2008 e, apesar da tentativa de
grupos de direitos humanos de incluir essas pessoas no próximo censo demográ co do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), que acontecerá neste ano, ainda não será dessa vez.
"O censo é feito com domicílios e, como essas pessoas não têm domicílio, cam de fora. Para incluir,
precisaria alterar a metodologia para os demais dados", explicou Wagner Silveira, coordenador de divulgação
estadual em São Paulo do IBGE.
Ele conta que há uma iniciativa do instituto para fazer um levantamento especí co dessa população. "Há um
projeto, que tem que ser custeado pelo governo federal", disse. "Mas ele avançou muito pouco. Por causa da
restrição orçamentária e a crise, isso cou em segundo plano. Essa é uma preocupação da sociedade, com
todo esse problema da pandemia, deve ter aumentado [o número de pessoas em situação de rua]
absurdamente. Mas só poderíamos fazer isso efetivamente com uma pesquisa mais ampla."
Wagner relatou que, enquanto isso não acontece, há prefeituras que estão fazendo censos por conta própria
e algumas até entraram em contato com o IBGE para perguntar sobre metodologias e questionários. "Porém,
em âmbito nacional, por enquanto, não tem nada oficial", afirmou.
Os dados do Cadastro Único, disponíveis até setembro de 2020, mostram que havia 149.654 famílias que se
declararam em situação de rua no país, ante 140.199 de janeiro do mesmo ano. No entanto, esse número não
é exato, uma vez que só inclui as pessoas que preencheram os dados para tentar inclusão em programas
sociais do governo.
Essa lacuna é o que leva o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Marco Natalino a
aplicar um modelo que estima quantas pessoas estão em situação de rua em todo o país desde 2012.
A fórmula leva em conta dados do Cadastro Único, do Censo Suas (Sistema Único de Assistência Social) e
informações como tamanho da população, índice de vulnerabilidade social e o número de unidades públicas,
atendimentos e vagas para acolhimento.
O último estudo, publicado em março de 2020, mostrava que o número de pessoas nessa situação havia
chegado a 222 mil, e que tendia a aumentar com a crise econômica acentuada pela pandemia.
"Alguns municípios informam anualmente esse dado, fazem estimativas próprias. O que eu faço é tentar, com
base em outros indicadores, extrapolar esse número dos municípios que fornecem", explicou Natalino.
"Já faz 10 meses desde esse dado [o estudo mais recente] e não tenho informações nacionais sobre o que
aconteceu desde então. Mas sabemos que o número está mais alto e vinha crescendo."
Aumento aparente
"É surpreendente ver o quanto está crescendo a população em situação de rua desde 2015, que foi quando
eu z a primeira estimativa. Eu já tinha a hipótese que a crise econômica, o desemprego e a falta de
oportunidade no geral, principalmente nas grandes metrópoles, geraria essa situação de aumento, mas foi
além do que eu estava imaginando", disse ele.
A fala de Natalino re ete nesse ponto a experiência do padre Julio Lancelotti, que coordena a Pastoral do
Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo e está à frente de várias iniciativas de atendimento à população
em situação de rua.
O padre citou o último censo realizado pela cidade de São Paulo, divulgado em janeiro de 2020, que
apontava 25 mil pessoas vivendo nessa situação na cidade. "Já naquela época, colocamos que esse número
era abaixo do real. A gente percebe que isso é uma percepção que todos têm, que o número de pessoas que
estão pelas ruas é maior do que era perceptível antes", disse.
"Só no centro de convivência da entidade conveniada na Mooca, onde eu acompanho mais, antes da
pandemia, 4 mil pessoas passavam por lá pela primeira vez a cada mês. Durante a pandemia, esse número foi
para 8 mil." Além do aumento numérico, o padre contou que viu muito mais mulheres com crianças e grupos
familiares, além de uma mobilidade maior.
"Tem muita gente andando, passando pelas ruas, que passam por São Paulo, mas estão indo para outros
lugares em busca de alguma resposta, estão procurando sobreviver", disse.
Medidas de acolhimento
Marco Natalino, do Ipea, analisa que, em nível nacional, não houve coordenação para uma resposta única de
acolhimento para essas pessoas durante a pandemia.
"Não há conclusão ainda, mas o que aconteceu foi que não houve uma medida nacional grande o su ciente
para orientar os atores nos municípios, e cada município agiu de uma forma. Essas orientações não foram
su cientes ou ancoradas em ações de nanciamento que dessem substância a elas e permitissem que os
municípios pudessem as concretizar."
Ele explicou que, como os recursos para serviços de assistência social são principalmente municipais, cada
cidade montou a própria estratégia, com experiências e infraestruturas diversas.
"Uma coisa que parecia óbvia, que era o uso de espaços públicos que não seriam utilizados naquele
momento, como escolas, foi preterido. Quase nenhum município quis ir por esse caminho, preferiram
construir estruturas novas, sem saber quanto tempo duraria essa situação", disse.
Ele contou sobre uma experiência em Cuiabá, no Mato Grosso, em que algumas dessas pessoas foram
acolhidas em hotéis e cuidadas por pessoas da área de hospitalidade, que não tinham treinamento para lidar
com a situação.
"As pessoas eram praticamente proibidas de saírem dos quartos, não podiam sair nem para fumar um cigarro
na calçada. Então, elas fugiam. Você vê que, por vezes, a falta de conhecimento e a tentativa de
cerceamento são tão grandes que as pessoas preferem sair", disse.
Para o padre Júlio, as medidas do poder público durante o período de crise sanitária não foram muito
diferentes do que são em tempos normais.
"As respostas do poder público são todas institucionais, burocráticas e de tutela, e, por isso também, são
muito rejeitadas. Uma resposta de autonomia seria a renda mínima, locação social, e não colocar todos
dentro de espaços onde são tutelados", conta ele.
"É só ir até o Pátio do Colégio [marco no centro de São Paulo] no m do dia, ver a quantidade de gente que
está na rua. A Praça da Sé é quase um acampamento. E a Prefeitura diz que tem vagas, mas vagas são para
estacionamentos. Para pessoas, é preciso ter um lugar".
Invisibilidade
Natalino avalia que não são só os números ou as medidas adequadas que estão faltando. "Não há política de
contar, nem de fazer vigilância em saúde ou socioassistencial, para saber onde essas pessoas estão, quais
são suas características, suas necessidades, para de fato atendê-las."
"A invisibilidade social da população em situação de rua é reproduzida na incapacidade do Estado de contá-
los, de pensar em suas necessidades", disse. "O número é um elemento de avaliação da demanda de uma
política pública e tem que ser parte de processo dos serviços aos quais a população tem direito."
B “Ele conta que há uma iniciativa do instituto para fazer um levantamento específico dessa
população. “
D “o padre contou que viu muito mais mulheres com crianças e grupos familiares…”
E “Natalino avalia que não são só os números ou as medidas adequadas que estão faltando…”
4 00007108 7
Gustavo Loschpe
1.§ É impressionante como sabemos pouco sobre os principais atores do nosso sistema educacional, os
professores. Claro, se você acredita na maioria das notícias e artigos veiculados sobre eles, já deve ter um
quadro perfeito formado na cabeça: os professores são desmotivados porque ganham pouco, precisam
trabalhar em muitas escolas para conseguir pagar as contas do m do mês. O sujeito se torna professor, no
Brasil, por falta de opção, já que não consegue entrar em outros cursos superiores. Portanto, já chega à
carreira desmotivado, e, ao deparar com o desprezo da sociedade e seus governantes, desiste da pro ssão
e só permanece nela por não ter alternativa. Essa é a versão propalada aos quatro ventos. Mas eu gostaria
que você, dileto leitor, considerasse uma hipótese distinta. E para isso não quero usar a minha opinião, mas
dar voz aos próprios professores. Os dados que vêm a seguir são extraídos de questionários respondidos por
professores da rede pública brasileira.
2.§ Comecemos pelo início. Não é verdade que os professores caiam de paraquedas na carreira. O acaso
motivou a entrada de só 8% dos mestres, e só 2% foi dar aula por não conseguir outro emprego.
3.§ As pessoas que optam pela carreira de professor não são derrotadas. Pelo contrário, são profundamente
idealistas. Querem mudar o mundo, mudando a vida de seus alunos. Esse jovem idealista então vai para a
universidade estudar pedagogia ou licenciatura na área que lhe interessa. Depois começa a trabalhar.
4.§ As condições objetivas de sua carreira são satisfatórias. A ideia de que o professor precisa correr de um
lado para o outro, acumulando escolas e horas insanas de trabalho, não resiste à apuração dos fatos. Quase
seis em cada dez professores (57%) trabalham em apenas uma escola. O grau de satisfação médio do
professor, de zero a 10, é de 7,9. Só 10% dizem querer abandonar a carreira. Essa satisfação é curiosa, porque
os professores estão falhando na sua tarefa mais simples, que é transmitir conhecimentos e desenvolver as
capacidades cognitivas de seus alunos. Não sou eu nem os testes nacionais e internacionais de educação
que atestamos isso: são os próprios professores. O que explica esse insucesso?
5.§ Um dos principais vilões é identi cado pelos próprios professores: seus cursos universitários. Só 34% dos
professores acreditam que sua formação está totalmente adequada à realidade do aluno. Nossas faculdades
de formação de professores estão mais preocupadas em agradar ao pendor idealista de seus alunos do que
em satisfazer suas necessidades técnicas. São cursos profundamente ideologizados e teóricos, descolados
da realidade de uma sala de aula média brasileira.
6.§ Então se dá o momento-chave para entendermos nosso sistema educacional: o professor sai da
universidade, passa em um concurso, chega à sala de aula e, na maioria dos casos, fracassa. Seus alunos não
aprendem. Esse professor poderia entrar em crise, poderia buscar ajuda, poderia voltar a estudar, poderia ter
planos de apoio de sua Secretaria de Educação. Mas nada disso costuma acontecer, porque não há sanção
ao professor ine caz, nem incentivo ao professor obstinado. O professor que fracassa continuará recebendo
seu salário, pois tem estabilidade. O professor deixa de se preocupar em investir em si mesmo: 74% veem
TV todos os dias, mas só 12% leem livros de cção e 17% participam habitualmente de seminários de
atualização.
7.§ Mesmo nesse sistema tão permissivo e ine ciente, persiste um problema: os professores sabem que
seus alunos não estão aprendendo. E é extraordinariamente difícil a qualquer pessoa continuar em uma
carreira, indo ao trabalho todos os dias, sabendo-se um fracasso. Muitos pro ssionais sucumbem à
depressão e ao esgotamento. Alguns abandonam a carreira. Mas a maioria resolve essa dissonância cognitiva
(eu sou um bom professor, meu aluno não aprende) de duas maneiras: culpando o aluno e rede nindo o
“sucesso”.
8.§ É por isso que me parecem disparatadas as iniciativas que querem usar de aumentos orçamentários para
“recuperar a dignidade do magistério” ou melhorar a educação dobrando os salários dos pro ssionais da área.
A maioria dos professores não está com a dignidade abalada. Está satisfeita, acomodada. O professor não se
tornará um pro ssional mais exitoso se não tiver uma profunda melhora de preparo, por mais que seu salário
seja aumentado.
No fragmento “os professores são desmotivados porque ganham pouco, precisam trabalhar em muitas
escolas para conseguir pagar as contas do m do mês.”, as orações sublinhadas são classi cadas,
respectivamente, como:
Chico Buarque, que um dia já foi chamado de maior unanimidade do Brasil, disse que sempre acreditou que
era amado, até descobrir, na internet, que era odiado. Qualquer assunto ou pessoa que vá ao ar tem logo dois
lados trocando insultos e acusações, dividindo o que poderia ser multiplicado. No pesadelo futurista, a
diversidade e a diferença são soterradas pela ignorância e o ódio irracional, que impedem qualquer debate
produtivo, assim como os “blackblocks” impedem qualquer manifestação pacífica.
Na última semana li vários editoriais de jornais e artigos de diversas tendências sobre o mesmo tema: a
internet como geradora e ampliadora de um virulento e empobrecedor Fla X Flu, ou pior, de um PT X PSDB
em que todos saem perdedores. E como disse o Pedro Dória: só vai piorar. Todas as paixões e excessos que
são permitidos, e até divertidos e catárticos, nas discussões de futebol só produzem discórdia, mentiras e
mais intolerância no debate político e cultural. Simpatizantes de qualquer causa ou ideologia só leem o que
dizem o que eles querem ouvir, nada aprendem de novo, chovem no molhado.
Mas até esse lado ruim também tem um lado bom, de revelar as verdades secretas, expondo os piores
sentimentos de homens e mulheres, suas invejas e ressentimentos, sua malignidade, que nenhum regime
político pode resolver. Sem o crescimento da consciência individual, como melhorar coletivamente?
Em §3º “Simpatizantes de qualquer causa ou ideologia só leem o que dizem o que eles querem ouvir, nada
aprendem de novo, chovem no molhado.”, a oração destacada se classifica como:
T exto I
Cultura
Além dos seres vivos e da matéria cósmica, existem também coisas culturais, muitíssimo mais complicadas.
Chama-se cultura tudo o que é feito pelos homens, ou resulta do trabalho deles e de seus pensamentos. Por
exemplo, uma cadeira está na cara que é cultural porque foi feita por alguém. Mesmo o banquinho mais
vagabundo, que mal se põe em pé, é uma coisa cultural. É cultura, também, porque feita pelos homens, uma
galinha. Sem a intervenção humana, que criou os bichos domésticos, as galinhas, as vacas, os porcos, os
cabritos, as cabras não existiriam. Só haveria animais selvagens.
A minhoca criada para produzir humo é cultural, eu compreendo. Mas a lombriga que você tem na barriga é
apenas um ser biológico. Ou será ela também um ser cultural? Cultural não é, porque ninguém cria lombrigas.
Elas é que se criam e se reproduzem nas suas tripas.
Uma casa qualquer, ainda que material, é claramente um produto cultural, porque é feita pelos homens. A
mesma coisa pode-se dizer de um prato de sopa, de um picolé ou de um diário. Mas estas são coisas de
cultura material, que se pode ver, medir, pesar.
Há, também, para complicar, as coisas da cultura imaterial, impropriamente chamadas de espiritual –
muitíssimo mais complicadas. A fala, por exemplo, que se revela quando a gente conversa, e que existe
independentemente de qualquer boca falante, é criação cultural. Aliás, a mais importante. Sem a fala, os
homens seriam uns macacos, porque não poderiam se entender uns com os outros, para acumular
conhecimentos e mudar o mundo como temos mudado.
A fala está aí, onde existe gente, para qualquer um aprender. Aprende-se, geralmente, a da mãe. Se ela é uma
índia, aprende-se a falar a fala dos índios, dos xavantes, por exemplo. Se ela é uma carioca, professora,
moradora da Tijuca, a gente aprende aquele português lá dos tijucanos. Mas se você trocar a lhinha da índia
pela lha da professora, e criar, bem ali na praça Saens Peña, ela vai crescer como uma menina qualquer,
tijucana, dali mesmo. E vice-versa, o mesmo ocorre se a lha da professora for levada para a tribo xavante:
ela vai crescer lá, como uma xavantinha perfeita – falando a língua dos xavantes e xavanteando muito bem,
sem nem saber que há tijucanos.
Além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais, porque inventadas pelos homens e
transmitidas uns aos outros através de gerações. Elas se tornam visíveis, se manifestam, através de criações
artísticas, ou de ritos e práticas – o batizado, o casamento, a missa –, em que a gente vê os conceitos e as
ideias religiosas ou artísticas se realizarem. Essa separação de coisas cósmicas, coisas vivas, coisas culturais,
ajuda a gente de alguma forma? Sei não. Se não ajuda, diverte. É melhor que decorar um dicionário, ou
aprender datas. Você não acha?
Em “É cultura, também, porque feita pelos homens, uma galinha”, a oração subordinada sublinhada é
A adverbial causal.
B adverbial consecutiva.
C coordenada explicativa.
D adjetiva explicativa.
E substantiva subjetiva.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 000069972
Mais que no âmago de uma crise de proporções planetárias, nos confrontamos hoje com um processo de
irreversibilidade. A Terra nunca mais será a mesma. Ela foi transformada em sua base físico-química-
ecológica de forma tão profunda que acabou perdendo seu equilíbrio interno. Entrou num processo de caos,
vale dizer, perdeu sua sustentabilidade e afetou a continuação do que, por milênios, vinha fazendo:
produzindo e reproduzindo vida.
Todo caos possui dois lados: um destrutivo e outro criativo. O destrutivo representa a desmontagem de um
tipo de equilíbrio que implica a erosão de parte da biodiversidade e, no limite, a redução da espécie humana.
Esta resulta da incapacidade ou de adaptar-se à nova situação ou de mitigar os efeitos letais. Concluído esse
processo de puri cação, o caos começa a mostrar sua face generativa. Cria novas ordens, equilibra os climas
e permite que os seres humanos sobreviventes construam outro tipo de civilização.
Da história da Terra aprendemos que ela passou por cerca de quinze grandes dizimações, como a do
cambriano há 480 milhões de anos, que dizimou de 80 a 90% das espécies. Mas, por ser mãe generosa,
lentamente, refez a diversidade da vida. Hoje, a comunidade cientí ca, em sua grande maioria, nos alerta
acerca de um eventual colapso do sistema-vida, ameaçando o próprio futuro da espécie humana. Todos
podem perceber as mudanças que estão ocorrendo diante de nossos olhos. Grandes efeitos extremos: por
um lado estiagens prolongadas associadas à grande escassez de água, afetando os ecossistemas e a
sociedade como um todo, como está ocorrendo no Sudeste de nosso país. Em outros lugares do planeta,
como nos USA, invernos rigorosos como não se viam há decênios ou até centenas de anos.
O fato é que tocamos nos limites físicos do planeta Terra. Ao forçá-los, como o faz a nossa voracidade
produtivista e consumista, a Terra responde com tufões, tsunamis, enchentes devastadoras, terremotos e
uma incontida subida do aquecimento global. [...]
E, apesar deste cenário dramático, olho em minha volta e vejo, extasiado, a oresta cheia de quaresmeiras
roxas, fedegosos amarelos e no canto de minha casa as belle donne oridas, tucanos que pousam em árvores
em frente de minha janela e as araras que fazem ninhos debaixo do telhado. Então me dou conta de que a
Terra é de fato mãe generosa: às nossas agressões ainda nos sorri com ora e fauna. E nos infunde a
esperança de que não o apocalipse, mas um novo gênesis* está a caminho. A Terra vai ainda sobreviver.
Deus não permitirá que a vida, que penosamente superou o caos, venha a desaparecer.
* Gênesis – termo grego que significa origem, nascimento, é o nome do primeiro livro da bíblia.
Em “Ela foi transformada em sua base físico- química-ecológica de forma tão profunda que acabou perdendo
seu equilíbrio interno.” (§1º). A relação lógica que existe entre as orações dessa frase é a de:
A tempo
B adição
C oposição
D consequência
E concessão
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 000069667
A grama do vizinho
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com pro ssão, marido, lhos, saúde, e ainda
assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo
bem.
De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero,
uma música que dizia:
Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum
lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e
impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar
de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes,
falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas
angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos
estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada
assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos
todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro,
alternadamente.
Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.
Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele
escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-
conta. Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – ca difícil mesmo achar que a vida da
gente tem graça. Mas, tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e
recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biogra a. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha
de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo
alface para ter o corpo que a pro ssão de modelo exige? Será tão grati cante ter um paparazzo na sua cola
cada vez que você sai de casa?
Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá
pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
No trecho “Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava
acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite”, as duas orações em destaque devem ser
classificadas, respectivamente, como
Ronaldo Lemos*
1. Quer ter uma experiência completamente diferente da internet? Basta instalar no seu navegador o plug-in
chamado Demetricator. Ele oculta totalmente os likes, coraçõezinhos, joinhas, retuítes, compartilhamentos
mas também outras métricas que são usadas para indicar quantas pessoas se “engajaram” com uma
publicação.
2. A experiência é atordoante. Vivenciei-a. Estamos tão acostumados a enxergar os números das reações
que vêm com cada publicação. Após enxergar um post sem esses números, somos obrigados a ver o
conteúdo por si só, nu e cru, sem adornos, e a pensar qual o valor que aquilo tem por si.
3. Esse experimento com o Demetricator pode ajudar a melhorar o sistema e o acesso à internet. O estado
geral da rede hoje é de in amação generalizada. Por causa desses números (likes, compartilhamentos,
retuítes), as redes sociais se tornaram um concurso de histeria. Ganha quem é mais histriônico, chocante ou
apelativo.
4. Um caminho é repensar a arquitetura das redes sociais. É preciso criar mecanismos mais so sticados de
indexar a importância do que é publicado por meio delas. Hoje, o mecanismo é simples: quanto mais radical
um post, mais engajamento ele gera, o que, por sua vez, leva a mais distribuição e ainda mais engajamento.
Essa dinâmica não precisa ser assim. Esse desenho premia o extremismo. É possível sim um desenho que
premie racionalidade e moderação.
5. Criar uma métrica assim permitiria que os usuários organizassem sua experiência na rede. Quem quisesse
ver histeria caria livre para isso. Mas quem estivesse cansado e quisesse moderação, em vez de
radicalização inflamatória, selecionaria essa outra opção, que hoje não existe.
6. Em outras palavras, criar outros critérios de organização da informação e deixar que os usuários decidam
como querem ver suas timelines é um caminho promissor: traz mais racionalidade à internet.
* Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
Sobre a coesão textual, é correto a rmar que o trecho “Hoje, o mecanismo é simples: quanto mais radical
um post, mais engajamento ele gera...” possui valor semântico de
A explicação.
B causa.
C proporção.
D consequência.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 000067605
As pessoas que estudam, se dedicam, se esforçam e se doam são sempre exaltadas com a aprovação.
O presidente dos Correios, que está sofrendo muita pressão, será trocado antes do final do ano
Acerca das orações adjetivas encontradas acima, é possível afirmar que:
Leia:
“Sua alegria povoava o mundo de sorrisos, e esse mundo festivo não só continuava mas também se alargava
em seus sonhos e meditações.”
A 2 sindéticas aditivas.
B 3 sindéticas aditivas.
C 2 sindéticas adversativas.
A pandemia está aí, mas não podemos esquecer da outra ameaça, de longo prazo, que paira sobre a Terra. E
o mundo precisa agir, antes que seja tarde.
Nesta quinta-feira (22), na sugestiva data em que se comemora o Dia da Terra, uma reunião de cúpula de
líderes mundiais convocada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, tenta alavancar ações concretas contra a
ameaça existencial representada pelas mudanças climáticas. É, de forma bem literal, uma espécie de hora da
verdade para a espécie humana. Os avisos estão lançados há décadas, e o tempo para ação se esvai. Ou
começamos a falar sério sobre o tema, ou seremos atropelados pela realidade.
De certa forma, lembra o que estamos vivendo atualmente com a pandemia. Quem levou a sério a ameaça e
agiu de forma apropriadamente cautelosa se deu melhor. Há casos espetaculares de sucesso, como Coreia
do Sul e Nova Zelândia. Mas também há demonstrações cabais do que o negacionismo e o “deixar rolar”
podem trazer. O Brasil, infelizmente, é um dos piores exemplos nessa lista.
As mudanças climáticas, contudo, trazem duas diferenças fundamentais: a primeira é que ocorrem em
“câmera lenta”, se comparadas à pandemia. Enquanto reaberturas desastradas para a circulação de pessoas
causam picos de novas mortes em coisa de três semanas, emissões irresponsáveis de gases-estufa
promovem o aquecimento da Terra dali a décadas.
Um vírus carregado por humanos pode ser barrado nas fronteiras. Basta impedir a entrada de humanos de
fora (como fazem basicamente todos os países hoje, em algum grau). Mas gases na atmosfera têm livre
trânsito. O preço é sempre pago por todo o planeta – não teremos “mais aquecimento global” na Suécia e
menos na Austrália, obviamente. A conta chega para todos.
São diferenças fundamentais, que tornam mais difícil a proteção ao clima do que o combate a pandemia.
Mas, com a cúpula apresentada por Biden, há uma sinalização importante que nos coloca ao menos na trilha
certa: as maiores economias do planeta estão remando juntas. Não era o caso até bem pouco tempo atrás.
Observe o período: “As mudanças climáticas, contudo, trazem duas diferenças fundamentais: a primeira é
que ocorrem em “câmera lenta”, se comparadas à pandemia.” Assinale a opção em que a oração destacada
estabelece o mesmo tipo de relação de sentido existente no trecho em destaque:
A “Um vírus carregado por humanos pode ser barrado nas fronteiras”
Em "Tudo nos é permitido, mas muita coisa não nos convém" e “Não tinha realizado as tarefas de casa nem
as de aula” , os vocábulos em destaque apresentam, respectivamente, os seguintes valores semânticos:
A adição / alternância.
B causa / concessão.
C adição / causa.
D oposição/adição.
E alternância / adição.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 0000608 10
A causa.
B adição.
C concessão.
D comparação.
E consequência.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 0000608 02
Qual melhor conjunção preenche a lacuna da frase a seguir estabelecendo a ideia proposta pelo contexto?
“A diferença não é onde você navega ______ com quem você navega.”
A no entanto
B portanto
C porque
D pois
E por isso
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 00006078 2
T exto I
Um artigo recente no New York Times explora a onda explosiva de gravações de eventos feitas em
smartphones, dos mais significativos aos mais triviais.
Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento considerado
signi cativo. Microestrelas do YouTube têm vídeos de sel es que se tornam virais em questão de horas,
como o mais recente do jornalista Scott Welsh, gravado durante um voo da companhia aérea Jetblue
Airways, em que as máscaras de oxigênio baixaram devido a um defeito mecânico. Se você se depara com a
morte, por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou? Há um aspecto
disso tudo que faz sentido; todos somos importantes, nossas vidas são importantes, e queremos que elas
sejam vistas, compartilhadas, apreciadas. Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com o
momento.
Estarão as pessoas esquecendo de estar presentes no momento, espalhando seu foco ao ver a vida através
de uma tela? Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam? Deve-se dizer,
entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. Algo ocorreu entre o diário privado que
mantínhamos chaveado em uma gaveta e a câmera de vídeo portátil. Por exemplo, em junho de 2001, levei
um grupo de alunos da universidade de Dartmouth em uma viagem para ver o eclipse total do Sol na África. A
bordo havia um grupo de “tietes de eclipse”, pessoas que viajam o mundo atrás de eclipses. Quando você vir
um, vai entender o porquê. Um eclipse solar total é uma experiência altamente emocionante que desperta
uma conexão primitiva com a natureza, nos unindo a algo maior e realmente incrível a respeito do mundo. É
algo que necessita um comprometimento total e foco de todos os sentidos. Ainda assim, ao se aproximar o
momento de totalidade, o convés do navio era um mar de câmeras e tripés, enquanto dezenas de pessoas se
preparavam para fotografar e filmar o evento de quatro minutos.
Em vez de se envolverem totalmente com esse espetacular fenômeno da natureza, as pessoas preferiram
olhar para isso através de suas câmeras. Eu quei chocado. Havia fotógrafos pro ssionais a bordo e eles iam
vender/dar as fotos que tirassem. Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo
se não fossem tão bons. Eu fui a outros dois eclipses, e é sempre a mesma coisa. Sem um envolvimento
pessoal total. O dispositivo é o olho através do qual eles escolheram ver a realidade. O que os celulares e as
redes sociais zeram foi tornar o arquivamento e o compartilhamento de imagens incrivelmente fáceis e
e cientes. O alcance é muito mais amplo, e a grati cação (quantos “curtir” a foto ou o vídeo recebe) é
quantitativa. As vidas se tornaram um evento social compartilhado.
Agora, há um aspecto que é bom, é claro. Celebramos momentos signi cativos e queremos compartilhar
com aqueles com quem nos importamos. O problema começa quando paramos de participar completamente
do momento porque temos essa necessidade de registrá-lo. O apresentador Conan O’Brien, por exemplo,
reclamou que ele não pode mais nem ver o rosto das pessoas quando se apresenta. “Tudo que vejo é um mar
de iPads”, ele disse. Algumas celebridades estão proibindo celulares pessoais durante os seus casamentos.
Nick Denton, diretor da Gawker, disse a seus convidados: “Vocês podem dar atenção à sua presença virtual
– e seus seguidores no Twitter e no Instagram – amanhã”.
Nisso podemos incluir palestrar usando o PowerPoint ou o Keynote, como posso a rmar por experiência
própria. Assim que uma tela iluminada aparece, os olhares se voltam a ela e o palestrante se torna uma voz
vazia. Nenhum envolvimento direto é então possível. É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias
minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou citações significativas.
Assinale a opção em que o operador argumentativo destacado poderia ter sido facilmente substituído, sem
alteração de sentido, pelo que se encontra entre parênteses
A O apresentador Conan O’Brien, por exemplo, reclamou que ele não pode mais nem ver o rosto das
pessoas quando se apresenta. (isto é)
C Deve-se dizer, entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. (portanto)
E É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou
citações significativas. (porque)
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 000060761
T exto I
Um artigo recente no New York Times explora a onda explosiva de gravações de eventos feitas em
smartphones, dos mais significativos aos mais triviais.
Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento considerado
signi cativo. Microestrelas do YouTube têm vídeos de sel es que se tornam virais em questão de horas,
como o mais recente do jornalista Scott Welsh, gravado durante um voo da companhia aérea Jetblue
Airways, em que as máscaras de oxigênio baixaram devido a um defeito mecânico. Se você se depara com a
morte, por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou? Há um aspecto
disso tudo que faz sentido; todos somos importantes, nossas vidas são importantes, e queremos que elas
sejam vistas, compartilhadas, apreciadas. Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com o
momento.
Estarão as pessoas esquecendo de estar presentes no momento, espalhando seu foco ao ver a vida através
de uma tela? Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam? Deve-se dizer,
entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. Algo ocorreu entre o diário privado que
mantínhamos chaveado em uma gaveta e a câmera de vídeo portátil. Por exemplo, em junho de 2001, levei
um grupo de alunos da universidade de Dartmouth em uma viagem para ver o eclipse total do Sol na África. A
bordo havia um grupo de “tietes de eclipse”, pessoas que viajam o mundo atrás de eclipses. Quando você vir
um, vai entender o porquê. Um eclipse solar total é uma experiência altamente emocionante que desperta
uma conexão primitiva com a natureza, nos unindo a algo maior e realmente incrível a respeito do mundo. É
algo que necessita um comprometimento total e foco de todos os sentidos. Ainda assim, ao se aproximar o
momento de totalidade, o convés do navio era um mar de câmeras e tripés, enquanto dezenas de pessoas se
preparavam para fotografar e filmar o evento de quatro minutos.
Em vez de se envolverem totalmente com esse espetacular fenômeno da natureza, as pessoas preferiram
olhar para isso através de suas câmeras. Eu quei chocado. Havia fotógrafos pro ssionais a bordo e eles iam
vender/dar as fotos que tirassem. Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo
se não fossem tão bons. Eu fui a outros dois eclipses, e é sempre a mesma coisa. Sem um envolvimento
pessoal total. O dispositivo é o olho através do qual eles escolheram ver a realidade. O que os celulares e as
redes sociais zeram foi tornar o arquivamento e o compartilhamento de imagens incrivelmente fáceis e
e cientes. O alcance é muito mais amplo, e a grati cação (quantos “curtir” a foto ou o vídeo recebe) é
quantitativa. As vidas se tornaram um evento social compartilhado.
Agora, há um aspecto que é bom, é claro. Celebramos momentos signi cativos e queremos compartilhar
com aqueles com quem nos importamos. O problema começa quando paramos de participar completamente
do momento porque temos essa necessidade de registrá-lo. O apresentador Conan O’Brien, por exemplo,
reclamou que ele não pode mais nem ver o rosto das pessoas quando se apresenta. “Tudo que vejo é um mar
de iPads”, ele disse. Algumas celebridades estão proibindo celulares pessoais durante os seus casamentos.
Nick Denton, diretor da Gawker, disse a seus convidados: “Vocês podem dar atenção à sua presença virtual
– e seus seguidores no Twitter e no Instagram – amanhã”.
Nisso podemos incluir palestrar usando o PowerPoint ou o Keynote, como posso a rmar por experiência
própria. Assim que uma tela iluminada aparece, os olhares se voltam a ela e o palestrante se torna uma voz
vazia. Nenhum envolvimento direto é então possível. É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias
minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou citações significativas.
A “Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento
considerado significativo.”
B “Microestrelas do YouTube têm vídeos de selfies que se tornam virais em questão de horas, como
o mais recente do jornalista Scott Welsh...”
C “Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam?”
D “Deve-se dizer, entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares.”
T exto I
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se
acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais
cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo
porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer
sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está
cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja
números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não
acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas
sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro
com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer la para pagar. E a pagar mais do que as coisas
valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com
que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e
assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado
na in ndável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz arti cial de
ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da
água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a
temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na
primeira la e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no
resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no m de semana. E se no m de
semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda ca satisfeito porque tem sempre sono
atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas,
sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a
vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Assinale a opção cujo conector expressa a mesma ideia do destacado em “Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.”
A No entanto
B Portanto
C Porquanto
D Por conseguinte
E Visto que
4 000059116
Assinale a opção que corresponde à correta classificação da oração destacada na frase a seguir.
A adjetiva explicativa.
B adverbial consecutiva.
D adverbial conformativa.
E substantiva subjetiva.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 000056664
T EXT O II
Na sala, com uma tampa de Bic levantava os tacos soltos para espiar o que se escondia embaixo: uma mosca
morta, uma unha cortada, um grampo — pequenos achados arqueológicos, estudados com perícia através da
lupa.
Deitado, a bochecha colada à madeira, sentindo no rosto a brisa fria que sopra ao rés do chão, espiava o vão
escuro sob a cristaleira: a poeira formava tufos, matéria-prima da qual, acreditava, era feito o cobertor
cinzento do mendigo da esquina. Tinha sua lógica: o homem miserável coberto pela manta de pó. Só não
compreendia como a sujeira se transformava em tufo, o tufo em cobertor, e o cobertor ia parar em volta do
mendigo. Mais um mistério, entre tantos deste mundo.
Sentado no meio- o, cavoucava com um graveto as fendas entre os paralelepípedos, esperando encontrar
petróleo, ossos de dinossauro, tesouros escondidos por piratas, ruínas de extintas civilizações. Enquanto a
sorte não vinha, contentava-me em desenterrar tampinhas enferrujadas, cascos de caramujo, chas
telefônicas; divertia-me desalojando minhocas, formigas e tatus-bola. Não respeitava as minhocas: mal saíam
da terra, começavam a se debater feito loucas. Bicho a ito, mau exemplo. Não respeitava as formigas:
indecisas, iam e vinham; burras, demoravam séculos para entender que bastava contornar a barreira surgida
no meio do caminho (meu cuspe) para chegar lá — aonde quer que estivessem indo. Toda reverência aos
tatus-bola.
Tocava-os de leve para vê-los se fechar em suas esféricas armaduras, depois os rolava para cá e para lá. Um
dia, talvez in uenciado pela semelhança visual e fonética entre bolas e balas, tentei comer um deles. Minha
mãe (n)o(s) salvou na última hora, tirando-o da minha boca e devolvendo-o à terra ainda intacto.
Não cou registrado na crônica familiar se alguma vez, longe da supervisão materna, eu e os tatus-b(a)ola
chegamos às vias de fato.
(Trecho da crônica “Gênesis”. PRATA, Antonio. Nu de Botas. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)
C demoravam séculos para entender que bastava contornar a barreira surgida no meio do
caminho (8º§) - subordinada adjetiva restritiva
D Tocava-os de leve para vê-los se fechar em suas esféricas armaduras (10º§) - subordinada
adverbial causal
E Minha mãe (n)o(s) salvou na última hora, tirando-o da minha boca e devolvendo-o à terra ainda
intacto. – adverbial consecutiva. (11º§)
4 000056653
Ferreira Gullar
Muito embora alguns de meus poemas falem do passado, viver no passado ou tê-lo presente no meu dia a
dia não me agrada. Na verdade, todos nós somos o que vivemos e, de certo modo, o passado constitui
também o nosso presente, quer o lembremos ou não. Mas, precisamente porque somos o que vivemos,
trazemos conosco lembranças muitas vezes dolorosas, que de repente emergem no presente. Disso, creio
que ninguém gosta, à exceção dos masoquistas.
Para falar com franqueza, confesso que sofrer não é a minha vocação, embora nem sempre consiga escapar
do sofrimento. Se puder, escapo. Creio mesmo que a vocação do ser humano (de todo ser vivo?) é a
felicidade.
Isso é o que todos buscamos, na comida que saboreamos, na bebida que sorvemos, nos momentos de amor,
no carinho, na amizade e na alegria de fazer o outro feliz. Sofrer, não. Só quando não tem jeito e a lembrança
do passado é quase sempre sofrimento: ou porque voltamos a sentir a dor de outrora, ou porque
relembramos a felicidade que houve e se foi para nunca mais.
Por isso foi que, certa manhã, ao entrar na sala vindo do quarto de dormir, deparei-me com o sol matinal que
a invadia e me senti feliz como nunca. Nenhum passado, nenhuma lembrança. Eu era ali, então, um bicho
transparente, mergulhado na luz matinal. E escrevi estes versos:
Essa é uma aspiração certamente impossível de realizar, mas a poesia é, entre outras coisas, viver, com a
ajuda da palavra, o impossível, já que aspirar apenas ao possível não tem graça. Pois bem, houve gente que leu
esses versos e não apenas gostou deles como concordou com aquela aspiração irrealizável. Essa de que o
passado já era.
Mas eis que estou caminhando pela avenida Atlântica quando vem a meu encontro um senhor de óculos,
barba e cabelos quase inteiramente brancos.
— Gullar, meu querido, quantos anos faz que a gente não se vê! Lembra daquele dia, na Redação da
“Manchete”, quando o Adolpho Bloch só faltou te agredir?
— Me agredir, é? — falei por falar, já que não sabia quem era aquele sujeito que me abordara assim de
repente. E ele continuou:
— Você tinha aparecido na televisão, de barba por fazer e sem gravata, falando em nome da revista, o que
deixou o Adolpho furioso.
E acrescentou:
— Mas acho que você não está me reconhecendo... Eu sou o Hélio, o fotógrafo.
Só então me lembrei dele. Tínhamos sido amigos e não fui capaz de reconhecê-lo.
— Você pegou um cinzeiro, ia bater com ele na cara do Adolpho e fui eu que te arrastei para fora da
Redação, lembra?
A verdade é que nunca fui muito bom de memória. Quando voltei do exílio, uma atriz famosa e linda, desceu
do carro no meio da rua, em Ipanema, para vir me abraçar. Dois meses depois, estou lançando um livro e ela
para em minha frente para que eu lhe autografe o livro, e o nome dela some de minha mente. Entro em
pânico. Não poderia perguntar-lhe o nome depois daquele abraço efusivo em plena rua.
A solução que encontrei foi me levantar, sair da livraria, atravessar correndo a rua, entrar no boteco em
frente, perguntar à Teresa o nome da atriz e voltar. Sentei-me de novo, ela me olhou sem entender nada.
Escrevo, então, no livro: “Para Norma Bengell...”.
Com o passar dos anos, a coisa foi cando pior. Outro dia, combinei com a Cláudia que iríamos ao cinema.
Escolhi o lme, marquei para nos encontrarmos lá mesmo, cheguei antes, comprei as entradas (uma inteira e
uma meia, que eu sou idoso) mas, quando o lme começou, ela falou revoltada: “Você cou maluco? Esse
lme nós já vimos!”. E eu: “Você está brincando!”. “Eu, brincando!? Você é que está maluco! Não faz nem um
mês que vimos este filme!”
Realmente, após minutos, constatei que já o havíamos visto. Assim está minha memória: tudo o que vejo, leio,
ouço ou faço logo esqueço. Não tenho mais passado. Aquilo que escrevi no poema virou verdade: tornei-me
apenas o presente, esta manhã, esta sala.
(São Paulo, domingo, 08 de abril de 2012. Jornal Folha de São Paulo. Ilustrada)
T exto 1
Em entrevista ao ‘Nexo’, escritora fala sobre memória, vivência, escrita e os avanços e lutas do movimento
negro
A escritora Conceição Evaristo é protagonista de uma trajetória ímpar no contexto da história da literatura
nacional. Nascida em 1946, em uma favela de Belo Horizonte, em Minas Gerais, cresceu cercada pela
oralidade das histórias narradas pelos familiares e, assim que teve acesso aos livros em uma biblioteca pública
da cidade, tornou-se leitora voraz.
Evaristo se mudou para o Rio de Janeiro ao concluir o curso normal, aos 25 anos. Lá, foi aprovada em um
concurso público e começou a dar aulas. Ao mesmo tempo, cursava letras na UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro).
É mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e doutora
em literatura comparada pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Começou a publicar em 1990, na série
“Cadernos Negros” e é autora de poesia, contos, romances e cção memorialista. Seu primeiro romance
publicado é “Ponciá Vicêncio”, lançado em 2003, que narra a história de uma mulher negra nascida na roça
que migra para a cidade buscando uma vida melhor, mas só encontra o vazio e a saudade dos seus.
O ano de 2017 marca o reconhecimento mais amplo da autora: ela é homenageada por uma exposição no
Itaú Cultural, em São Paulo, a “Ocupação Conceição Evaristo”, de 4 de maio a 18 de junho. Também
participará, em julho, da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty. Além disso, terá alguns de seus livros
reeditados: “Becos da Memória” e “Ponciá Vicêncio”, pela editora Pallas, e “Insubmissas Lágrimas de
Mulheres”, pela editora Malê.
“Estou muito contente com essa visibilidade que estou tendo, muito feliz com a exposição. Mas, de certa
forma, estou representando uma exceção como autora negra”, disse a escritora por telefone ao Nexo.
“Neste momento de celebração das exceções, a gente não pode esquecer a crueldade da regra. Que regra é
essa da sociedade brasileira em que contamos nos dedos as mulheres negras que saem da posição de
subalternidade em que somos colocadas?”.
Abaixo, Evaristo fala sobre sua obra, os avanços do movimento negro e o lugar da literatura e da autoria
negra na preservação da memória negra, da construção de um novo cânone literário e do expurgo de um
passado de escravidão.
CONCEIÇÃO EVARIST O Não houve um evento. Eu sempre gostei muito de ler e sempre tive esse desejo
de me aprofundar nos estudos literários. Quando vim para o Rio de Janeiro, em 1973, como professora de
primeira a quarta [séries, atualmente do segundo ao quinto ano do ensino fundamental] e decidi fazer uma
faculdade, o que estava mais próximo do meu gosto era a literatura.
CONCEIÇÃO EVARIST O Começou. É interessante porque ele começa numa ambiência familiar em que
mães, tias e todo o entorno eram pessoas não letradas. Pessoas de uma experiência e de uma cultura muito
grandes na área da oralidade, mas que ao mesmo tempo tinham uma sedução muito grande pela leitura. Meu
primeiro contato com a literatura se dá através da cultura oral. Toda minha sensibilidade, minha curiosidade
para tecer esse escrito, nasce fomentada na linguagem oral.
CONCEIÇÃO EVARIST O Traz uma marca bem peculiar. Quando estou escrevendo, tenho ampla
consciência de que estou trabalhando com a arte da palavra. Mas eu quero trabalhá-la de modo que ela me
aproxime e traduza essa primeira experiência minha, que foi justamente com a arte da palavra oral. Minha
mãe contava muitas histórias, minhas tias também. Eu gosto de introduzir nos meus textos, por exemplo,
expressões de origem bantu. Minas Gerais é muito marcada por essa cultura. Gosto de introduzir palavras do
português arcaico que as pessoas mais velhas ainda usavam. Eu gosto de ler o texto em voz alta para
perceber a musicalidade do meu texto, que é muito própria da linguagem oral.
É interessante notar que, mesmo entre os períodos independentes, há relações de signi cado que, muitas
vezes, são marcadas simplesmente pela interpretação. Dessa forma, qual a relação de significado se constrói,
respectivamente, entre os períodos no trecho a seguir?
Eu gosto de introduzir nos meus textos, por exemplo, expressões de origem bantu. Minas Gerais é muito
marcada por essa cultura.
A Afirmação e contradição
B Proposição e oposição
C Tese e argumento
D Causa e consequência
E Proposição e explicação
4 000054 53 6
Texto II
As regras do jogo
Ao m de tantos séculos de rejeição o cial, as ilhas britânicas acabaram aceitando que havia uma bola em
seu destino. Nos tempos da rainha Vitória, o futebol já era unânime não só como vício plebeu, mas também
como virtude aristocrática.
Os futuros chefes da sociedade aprendiam a vencer jogando o futebol nos pátios dos colégios e das
universidades. Ali, os rebentos da classe alta desafogavam seus ardores juvenis, aprimoravam sua disciplina,
temperavam sua coragem e a avam sua astúcia. No outro extremo da escala social, os proletários não
precisavam extenuar o corpo, porque para isso havia as fábricas e as o cinas, mas a pátria do capitalismo
industrial havia descoberto que o futebol, paixão de massas, dava diversão e consolo aos pobres e os distraía
de greves e outros maus pensamentos.
Na sua forma moderna, o futebol provém de um acordo de cavalheiros que doze clubes ingleses selaram no
outono de 1863, numa taverna de Londres. Os clubes assumiram as regras estabelecidas em 1846 pela
Universidade de Cambridge. Em Cambridge, o futebol se havia divorciado do Rugby: era proibido conduzir a
bola com as mãos, embora fosse permitido tocá-la e era proibido chutar os adversários. “Os pontapés só
devem ser dirigidos para a bola”, advertia uma das regras: um
século e meio depois, ainda há jogadores que confundem a bola com o crânio do rival, por sua forma
parecida.
O acordo de Londres não limitava o número de jogadores, nem a extensão do campo, nem a altura do arco,
nem a duração das partidas. As partidas duravam duas ou três horas, e seus protagonistas conversavam e
fumavam quando a bola voava para longe. Já existia, isso sim, o impedimento. Era desleal fazer gols nas
costas do adversário.
Naqueles tempos, ninguém ocupava um lugar determinado no campo: todo mundo corria alegremente atrás
da bola, cada qual ia para onde bem entendesse, e mudava de posição à vontade. Foi na Escócia que as
equipes se organizaram com funções de defesa, meio de campo e ataque, lá pelo ano de 1870. Naquela
época, as equipes já tinham onze jogadores.
Ninguém podia tocar a bola com as mãos, desde 1869, nem mesmo para detê-la e colocá-la nos pés. Mas em
1871 nasceu o arqueiro, única exceção desse tabu, que podia defender a meta com o corpo inteiro.
O arqueiro protegia um reduto quadrado: a meta, mais estreita que a atual e muito mais alta, consistia de
dois paus unidos por uma ta a cinco metros e meio de altura. A faixa foi substituída por um travessão de
madeira em 1875. Nas traves se marcavam os gols, com pequenos entalhes. A expressão marcar um gol é
usada até hoje, embora agora os gols já não sejam mais talhados nas traves, e sim registrados nos placares
eletrônicos dos estádios. A meta, feita em ângulos
retos, não tem forma arqueada, mas ainda a chamamos de arco em alguns países, e chamamos de arqueiro
quem a defende, talvez porque os estudantes dos colégios ingleses tenham usado como metas as arcadas
dos pátios.
Em 1872, apareceu o árbitro. Até então, os jogadores eram seus próprios juízes, e eles mesmos sancionavam
as faltas que cometiam. Em 1880, cronômetro na mão, o árbitro decidia quando terminava a partida e tinha o
poder de expulsar quem se portasse mal, mas ainda dirigia de fora e aos gritos. Em 1891, o árbitro entrou em
campo pela primeira vez, usando um apito; marcou o primeiro pênalti da história e caminhando doze passos
assinalou o lugar da cobrança. Fazia muito tempo que a imprensa britânica vinha fazendo campanha a favor
do pênalti. Era preciso proteger os jogadores na boca do gol, que era cenário de chacinas. A Gazeta de
Westminster havia publicado uma impressionante lista de jogadores mortos e de ossos quebrados.
Em 1882, os dirigentes ingleses autorizaram a cobrança de lateral com as mãos. Em 1890, as áreas do campo
foram marcadas com cal, e traçou-se um círculo no centro. Naquele ano, o arco ganhou rede. Segurando a
bola, a rede evitava dúvidas nos gols.
Depois morreu o século, e com ele terminou o monopólio britânico. Em 1904 nasceu a FIFA, Federação
Internacional de Futebol Associado, que desde então governa as relações entre a bola e o pé no mundo
inteiro. Ao longo dos campeonatos mundiais, a FIFA introduziu poucas mudanças naquelas regras britânicas
que organizaram o jogo.
A reduzida de gerúndio encontrada em “Segurando a bola, a rede evitava dúvidas nos gols.” deve ser
classificada como
Texto II
As regras do jogo
Ao m de tantos séculos de rejeição o cial, as ilhas britânicas acabaram aceitando que havia uma bola em
seu destino. Nos tempos da rainha Vitória, o futebol já era unânime não só como vício plebeu, mas também
como virtude aristocrática.
Os futuros chefes da sociedade aprendiam a vencer jogando o futebol nos pátios dos colégios e das
universidades. Ali, os rebentos da classe alta desafogavam seus ardores juvenis, aprimoravam sua disciplina,
temperavam sua coragem e a avam sua astúcia. No outro extremo da escala social, os proletários não
precisavam extenuar o corpo, porque para isso havia as fábricas e as o cinas, mas a pátria do capitalismo
industrial havia descoberto que o futebol, paixão de massas, dava diversão e consolo aos pobres e os distraía
de greves e outros maus pensamentos.
Na sua forma moderna, o futebol provém de um acordo de cavalheiros que doze clubes ingleses selaram no
outono de 1863, numa taverna de Londres. Os clubes assumiram as regras estabelecidas em 1846 pela
Universidade de Cambridge. Em Cambridge, o futebol se havia divorciado do Rugby: era proibido conduzir a
bola com as mãos, embora fosse permitido tocá-la e era proibido chutar os adversários. “Os pontapés só
devem ser dirigidos para a bola”, advertia uma das regras: um
século e meio depois, ainda há jogadores que confundem a bola com o crânio do rival, por sua forma
parecida.
O acordo de Londres não limitava o número de jogadores, nem a extensão do campo, nem a altura do arco,
nem a duração das partidas. As partidas duravam duas ou três horas, e seus protagonistas conversavam e
fumavam quando a bola voava para longe. Já existia, isso sim, o impedimento. Era desleal fazer gols nas
costas do adversário.
Naqueles tempos, ninguém ocupava um lugar determinado no campo: todo mundo corria alegremente atrás
da bola, cada qual ia para onde bem entendesse, e mudava de posição à vontade. Foi na Escócia que as
equipes se organizaram com funções de defesa, meio de campo e ataque, lá pelo ano de 1870. Naquela
época, as equipes já tinham onze jogadores.
Ninguém podia tocar a bola com as mãos, desde 1869, nem mesmo para detê-la e colocá-la nos pés. Mas em
1871 nasceu o arqueiro, única exceção desse tabu, que podia defender a meta com o corpo inteiro.
O arqueiro protegia um reduto quadrado: a meta, mais estreita que a atual e muito mais alta, consistia de
dois paus unidos por uma ta a cinco metros e meio de altura. A faixa foi substituída por um travessão de
madeira em 1875. Nas traves se marcavam os gols, com pequenos entalhes. A expressão marcar um gol é
usada até hoje, embora agora os gols já não sejam mais talhados nas traves, e sim registrados nos placares
eletrônicos dos estádios. A meta, feita em ângulos
retos, não tem forma arqueada, mas ainda a chamamos de arco em alguns países, e chamamos de arqueiro
quem a defende, talvez porque os estudantes dos colégios ingleses tenham usado como metas as arcadas
dos pátios.
Em 1872, apareceu o árbitro. Até então, os jogadores eram seus próprios juízes, e eles mesmos sancionavam
as faltas que cometiam. Em 1880, cronômetro na mão, o árbitro decidia quando terminava a partida e tinha o
poder de expulsar quem se portasse mal, mas ainda dirigia de fora e aos gritos. Em 1891, o árbitro entrou em
campo pela primeira vez, usando um apito; marcou o primeiro pênalti da história e caminhando doze passos
assinalou o lugar da cobrança. Fazia muito tempo que a imprensa britânica vinha fazendo campanha a favor
do pênalti. Era preciso proteger os jogadores na boca do gol, que era cenário de chacinas. A Gazeta de
Westminster havia publicado uma impressionante lista de jogadores mortos e de ossos quebrados.
Em 1882, os dirigentes ingleses autorizaram a cobrança de lateral com as mãos. Em 1890, as áreas do campo
foram marcadas com cal, e traçou-se um círculo no centro. Naquele ano, o arco ganhou rede. Segurando a
bola, a rede evitava dúvidas nos gols.
Depois morreu o século, e com ele terminou o monopólio britânico. Em 1904 nasceu a FIFA, Federação
Internacional de Futebol Associado, que desde então governa as relações entre a bola e o pé no mundo
inteiro. Ao longo dos campeonatos mundiais, a FIFA introduziu poucas mudanças naquelas regras britânicas
que organizaram o jogo.
Em “Nos tempos da rainha Vitória, o futebol já era unânime não só como vício plebeu, mas também como
virtude aristocrática.”, a locução destacada apresenta valor de
A adversidade.
B conclusão.
C explicação.
D adição.
E concessão.
4 00004 6970
Texto I
Uma das fórmulas aconselhadas para abreviar as visitas intermináveis é colocar a vassoura atrás da porta.
Com a palha para cima e o cabo para baixo, ao inverso da posição em que é usada.
As informações vêm de todo o Brasil, porque ninguém ignora essa curiosa técnica com que os importunos
são despedidos, ou obrigados a sair por uma força de impulsão mágica e livrar as vítimas de uma presença
monótona e sonolenta.
Naturalmente os indígenas e os escravos africanos não conheceriam esse processo aliviador dos amigos
insensíveis ao valor do tempo e menos ainda atendendo ao trabalho dos pacientes visitados.
Tivemos a vassoura de Portugal e com ela o complexo supersticioso ainda mantido. Expedir as visitas de
permanência inde nida é uma dessas funções simbólicas. Não há quem desconheça essa aplicação da
vassoura em qualquer recanto do Brasil.
Negros e amerabas varriam suas moradas, mas não sabemos se possuíam crendices decorrentes. No Brasil
houve, ou ainda há no interior do Maranhão, uma Nossa Senhora da Vassoura.
Em Portugal veri ca-se o mesmo hábito e de lá recebemos a crença em que muita gente acredita, além e
aquém Atlântico. Quando alguém encontrar uma vassoura atrás da porta, convença -se de estar
presenciando um ato supersticioso com mais de vinte séculos de existência. J. A. Hild, estudando o deus
Silvanus, e M. L. Barré, analisando as lucernas de Pompeia, permitiram que tomasse faro e rumo para a
identificação do costume, através da quarta dimensão. Identificar a
origem.
Silvanus, divindade campestre na campanha de Roma, confundia -se com Faunus, para introduzir -se nas
moradas campesinas e praticar pequenos e grandes malefícios e diabruras desagradáveis, como o nosso Saci
-Pererê. Para afastar Silvanus, informa Santo Agostinho, três deuses rurais socorriam a família ameaçada.
Cada uma dessas entidades compareceria conduzindo um atributo de sua função pro ssional. Bastaria o
dono da casa dispor em lugar bem visível os
três objetos representativos dos três deuses, para Silvanus fugir e não voltar, tentando as proezas malandras.
Esses objetos eram um machado, uma mão de pilão e uma vassoura. Como Silvanus vivia a vida selvagem,
primitiva e rústica, déteste ces outils hostiles à son empire. Pilão, machado e vassoura são utensílios
denunciadores de uma organização social regular, normal e acima dos costumes errantes de Silvanus. Era
obrigado a deixar esse clima, bem acima e irrespirável para suas narinas de bosque umbroso e roçaria
deserta. Restava -lhe apenas a fuga, a rma Hild. M. L. Barré, citando esse Silvanus doméstico, autor de
visões noturnas, aterrador de crianças, “et l’on croyait paralyser l’in uence funeste de cette divinité en
mettant un balai en travers de la porte de la maison”. Paul Sébillot registra a vassoura atrás da porta,
atravessada e sempre invertida, espavorindo as bruxas na Baviera, Hesse, França etc. Essas bruxas tinham,
coitadas, recebido a herança romana de Silvanus.
Hild e Barré morreram, sem saber da existência dessa vassoura supersticiosa no Brasil contemporâneo. Mas
a origem, até prova expressa e convincente em contrário, é essa que tomei a liberdade de expor...
Luís da Câmara Cascudo. Coisas que o povo diz. Global Editora: São Paulo, 2012.
A conjunção “como”, encontrada em “Como Silvanus vivia a vida selvagem, primitiva e rústica, odeia essas
ferramentas hostis ao seu império (déteste ces outils hostiles à son empire).”, apresenta o mesmo valor da
encontrada em
A “embora”.
C “conforme”.
D “ainda que”.
E “à medida que”.
4 00004 693 3
Texto I
Uma das fórmulas aconselhadas para abreviar as visitas intermináveis é colocar a vassoura atrás da porta.
Com a palha para cima e o cabo para baixo, ao inverso da posição em que é usada.
As informações vêm de todo o Brasil, porque ninguém ignora essa curiosa técnica com que os importunos
são despedidos, ou obrigados a sair por uma força de impulsão mágica e livrar as vítimas de uma presença
monótona e sonolenta.
Naturalmente os indígenas e os escravos africanos não conheceriam esse processo aliviador dos amigos
insensíveis ao valor do tempo e menos ainda atendendo ao trabalho dos pacientes visitados.
Tivemos a vassoura de Portugal e com ela o complexo supersticioso ainda mantido. Expedir as visitas de
permanência inde nida é uma dessas funções simbólicas. Não há quem desconheça essa aplicação da
vassoura em qualquer recanto do Brasil.
Negros e amerabas varriam suas moradas, mas não sabemos se possuíam crendices decorrentes. No Brasil
houve, ou ainda há no interior do Maranhão, uma Nossa Senhora da Vassoura.
Em Portugal veri ca-se o mesmo hábito e de lá recebemos a crença em que muita gente acredita, além e
aquém Atlântico. Quando alguém encontrar uma vassoura atrás da porta, convença -se de estar
presenciando um ato supersticioso com mais de vinte séculos de existência. J. A. Hild, estudando o deus
Silvanus, e M. L. Barré, analisando as lucernas de Pompeia, permitiram que tomasse faro e rumo para a
identificação do costume, através da quarta dimensão. Identificar a
origem.
Silvanus, divindade campestre na campanha de Roma, confundia -se com Faunus, para introduzir -se nas
moradas campesinas e praticar pequenos e grandes malefícios e diabruras desagradáveis, como o nosso Saci
-Pererê. Para afastar Silvanus, informa Santo Agostinho, três deuses rurais socorriam a família ameaçada.
Cada uma dessas entidades compareceria conduzindo um atributo de sua função pro ssional. Bastaria o
dono da casa dispor em lugar bem visível os
três objetos representativos dos três deuses, para Silvanus fugir e não voltar, tentando as proezas malandras.
Esses objetos eram um machado, uma mão de pilão e uma vassoura. Como Silvanus vivia a vida selvagem,
primitiva e rústica, déteste ces outils hostiles à son empire. Pilão, machado e vassoura são utensílios
denunciadores de uma organização social regular, normal e acima dos costumes errantes de Silvanus. Era
obrigado a deixar esse clima, bem acima e irrespirável para suas narinas de bosque umbroso e roçaria
deserta. Restava -lhe apenas a fuga, a rma Hild. M. L. Barré, citando esse Silvanus doméstico, autor de
visões noturnas, aterrador de crianças, “et l’on croyait paralyser l’in uence funeste de cette divinité en
mettant un balai en travers de la porte de la maison”. Paul Sébillot registra a vassoura atrás da porta,
atravessada e sempre invertida, espavorindo as bruxas na Baviera, Hesse, França etc. Essas bruxas tinham,
coitadas, recebido a herança romana de Silvanus.
Hild e Barré morreram, sem saber da existência dessa vassoura supersticiosa no Brasil contemporâneo. Mas
a origem, até prova expressa e convincente em contrário, é essa que tomei a liberdade de expor...
Luís da Câmara Cascudo. Coisas que o povo diz. Global Editora: São Paulo, 2012.
No trecho “Mas a origem, até prova expressa e convincente em contrário, é essa que tomei a liberdade de
expor...”, a oração subordinada introduzida pelo “que” apresenta classificação de
Cheguei domingo às oito da manhã, pé ante pé para não acordar minha mulher. Apesar do voo, que saíra de
Manaus às três da madrugada, estava disposto: havia dormido algumas horas no barco-escola e durante toda
a viagem, até aterrissarmos em São Paulo.
Des z a mala, providência adotada desde que comecei a viajar feito cigano e sem a qual não sinto haver
chegado a lugar nenhum, e fui correr no Minhocão.
"Alegria de paulista", disse uma amiga carioca quando contei que aproveitava a interdição do tráfego aos
domingos para correr na pista elevada que faz parte da ligação leste — oeste da cidade, excrescência do
urbanismo paulistano acessível a quinhentos metros de casa, no centro.
Minha amiga tem razão, talvez seja programa de quem vive numa cidade cinzenta, congestionada,
gigantesca, na qual, para enxergar uma nesga de céu, é preciso correr risco de morte debruçado na janela.
Compreendo o encanto de morar em meio a paisagens paradisíacas ou em cidades bucólicas onde todos se
conhecem, mas para os neuróticos, fascinados pela velocidade do cotidiano, pelo convívio com a diversidade
étnica e com as manifestações de criatividade que emergem nos aglomerados humanos, correr domingo de
manhãzinha na altura do segundo andar dos prédios da avenida São João é um prazer.
No interior dos apartamentos o olhar bisbilhoteiro entrevê mobílias escuras, guarda-roupas pesados, estantes
improvisadas e, claro, o televisor.
Logo cedo, os craqueiros recolhem seus pertences nas rampas laterais para dar espaço aos primeiros
corredores, ciclistas e andarilhos, e caminham na direção da Estação da Luz com o cobertorzinho ordinário
nos ombros. Parecem morcegos afugentados pela claridade.
Duvido que exista paisagem dominical mais urbana. A mulher de camisola florida e cabelo desgrenhado abre a
cortina e boceja, despudorada; o senhor de pijama leva a gaiola do passarinho para o terraço espremido; o
homem de abdômen avantajado escova os dentes distraído na janela; o de barba branca com gorro de lã, a
cara do Bin Laden, empilha os móveis para a faxina da semana.
Havia planejado completar vinte e quatro quilômetros, mas, depois de percorrer seis vezes os três
quilômetros de extensão da referida excrescência, sucumbi ao peso da noite maldormida. Tomei água-de-
coco, comprei pão e subi pela escada até o décimo quarto andar do prédio onde moro, exercício aprendido
com um de meus pacientes, que aos setenta e seis anos subia dez vezes por dia doze andares. E, não
satisfeito com a intensidade do esforço, fazia-o vestido com um blusão repleto de bolsos, nos quais distribuía
vinte quilos de chumbo.
Meu domingo seguiu a rotina: fui ao hospital, telefonei para alguns doentes, tomei uma dose de cachaça
mineira, visitei minha netinha, escrevi durante a tarde e assisti ao terceiro episódio de uma série sobre
obesidade apresentada por mim, na televisão.
Drauzio Varella. O médico doente. Companhia das Letras: São Paulo, 2015.
No trecho “E, não satisfeito com a intensidade do esforço, fazia-o vestido com um blusão repleto de bolsos,
nos quais distribuía vinte quilos de chumbo”, a trecho entre vírgulas apresenta leitura de
A causa.
B consequência.
C concessão.
D tempo.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 00004 6723
Texto 3
Uma hora e trinta da madrugada. No bairro Kasumigaseki, em Tóquio, que reúne a maior parte das
instituições do país, las intermináveis de táxis rodeiam os prédios imponentes dos ministérios. Como
perderam o último metrô, os funcionários caminham apertando o passo e se precipitam em direção aos
carros, que desaparecem nas profundezas da noite.
Essa cena ilustra o cotidiano dos servidores públicos no Japão. Ainda que eles se bene ciem de um status
invejável, sem risco de desemprego, sua vida parece um calvário. Por trabalharem pelo interesse geral e
terem de se ocupar de imediato dos problemas mais urgentes, a legislação trabalhista, que limita o número
de horas extras a 45 por mês para os outros assalariados não se aplica a eles. Além disso, seus sindicatos não
têm direito de greve.
A comparação.
B conformidade.
C causa.
D proporção.
E concessão.
4 00004 6663
Sobre o trecho abaixo, assinale a alternativa em que a análise sintática está incorreta.
“Da visão apocalíptica da longevidade ao otimismo demográ co: viver mais e melhor é uma oportunidade,
pois exige a criação de novos negócios que atendam às necessidades dos idosos e suas famílias, bem como
a criação de produtos e serviços adaptados.”
A “É assim, diz, ‘que tiraremos proveito do maná da longevidade e não com subornos para que os
casais tenham mais filhos’.”
C “Graças aos avanços médicos e tecnológicos, surgiu uma nova fase da vida entre os 55 e os 70
anos batizada de geração silver.”
D “Essa revolução coloca o foco nas oportunidades do nosso momento histórico’, diz Iñaki Ortega,
diretor da Deusto Business School e autor, juntamente com Antonio Huertas, presidente da Mapfre,
do livro La Revolución de las Cañas (...)”
E “Nessa data representarão 32% do PIB da UE e 38% do emprego, com 88 milhões de novos postos
de trabalho.”
4 00004 64 56
Texto VI
Era uma vez uma linda menina chamada Chapeuzinho Vermelho. Certo dia sua mãe pediu que ela levasse uma
cesta de doces e quitutes para a sua avó que morava do outro lado do bosque. Chapeuzinho Vermelho
estava caminhando pelo bosque quando encontrou o lobo.
– Muito bem boa menina, por que não leva flores também?
Enquanto Chapeuzinho colhia as ores o lobo correu para a casa da vovó. Bateu a porta e imitando a voz de
chapeuzinho vermelho pediu para entrar. Assim que entrou deu um pulo e devorou a vovó inteirinha, depois
colocou a touca, os óculos e se cobriu, esperando chapeuzinho.
Quando chapeuzinho chegou o lobo pediu para ela chegar mais perto.
– É para te cheirar.
– É pra te devorar!
Então, o lobo pulou da cama e correu para pegar Chapeuzinho. Um caçador que passava perto da casa ouviu
o barulho e foi ver o que era. O lobo tentou fugir, mas o caçador atirou e matou o lobo. Chapeuzinho
apareceu e disse que o lobo havia engolido a vovó. O caçador então abriu a barriga do lobo e tirou a vovó sã
e salva, e elas foram felizes para sempre!
(Disponível em <https://www.espacoinfantil.com.br/historia-infantil-chapeuzinho-vermelho-original-para-
imprimir/> Acesso em 16 mar. 2020)
No trecho “O caçador então abriu (...)”, retirado do último parágrafo do texto VI, o elemento destacado tem
significado, no contexto, de
A finalidade.
B oposição.
C causa.
D tempo.
E explicação.
Essa questão po ssui co mentário do pro fesso r no site 4 00004 4 912
Em qual das alternativas a seguir há oração com o mesmo valor semântico de “pra não ler”, encontrada no
último quadrinho da tirinha.
A A fim de encontrarmos água, deveremos perfurar muito.
Onze anos antes da eclosão dos protestos sociais que desembocaram na guerra da Síria em 2011, uma seca
devastadora destruiu 85% da agricultura local. O fenômeno climático extremo é ignorado na maior parte das
explicações sobre o con ito sírio, mas, para o canadense Robert Muggah, diretor do Instituto Igarapé, os dois
eventos são indissociáveis, e ilustram como as mudanças climáticas se relacionam com os conflitos.
Nesta entrevista, concedida ao Nexo por escrito, na quinta-feira (4), Muggah diz que “as mudanças
climáticas já estão criando as condições para o início de novos con itos, estão intensi cando os con itos
existentes e estão reacendendo antigos conflitos”.
De acordo com ele, os países que são especialmente vulneráveis estão em “zonas quentes” de mudanças
climáticas mais rápidas, incluindo o Sahel e o Chifre da África. O Sahel é formado por Mauritânia, Mali,
Burkina Faso, Níger e Chade. O Chifre da África, por Somália, Eritreia, Etiópia e Djibuti. Mas a América Latina
– e particularmente o Brasil – não estão alheios a essa dinâmica, como ele explica na entrevista.
ROBERT MUGGAH – As mudanças climáticas podem funcionar como um ‘multiplicador de ameaças’ para os
con itos armados. Eventos climáticos extremos, assim como mudanças graduais, podem exacerbar
condições sociais e econômicas subjacentes que, por sua vez, aumentam o risco de convulsões e de
violência.
Por exemplo, o aumento das temperaturas pode interromper a produção de alimentos, afetando a segurança
alimentar, levando as pessoas a aderir a grupos armados. A queda na disponibilidade de água pode afetar a
subsistência, forçando pessoas a migrar, o que pode derivar numa competição por recursos e em tensões. O
que já está claro é que esses riscos são maiores em algumas áreas que em outras.
As ligações entre mudanças climáticas e con itos têm sido objeto de uma intensa discussão acadêmica ao
longo dos últimos dez anos. Há uma ideia bem aceita entre os acadêmicos de que as mudanças climáticas
não causam con itos por si só. Um estudo recente liderado pela Universidade de Standford [Califórnia, EUA]
revisou 35 trabalhos acadêmicos e concluiu que as mudanças climáticas in uenciaram entre 3% e 20% dos
“riscos” de conflitos armados ao longo do último século.
Há pelo menos três razões para isso. Primeiro, a restrição do acesso à água, à terra e ao retorno à terra [de
origem] faz crescer a disputa e pode levar à violência. Em segundo lugar, essa privação também pode levar a
migrações massivas – dos assim chamados refugiados climáticos – com efeitos desestabilizadores. Em
terceiro lugar, a variação exacerbada do clima, com secas, inundações e ciclones, pode provocar choques
econômicos e aumentar o desemprego, fazendo crescer também o recrutamento pelos grupos armados.
É preciso cautela, no entanto, ao estabelecer uma conexão causal muito forte. Na verdade, também há
pesquisas que sugerem que as mudanças climáticas também podem fortalecer certas formas de colaboração
dentro de um país ou entre países. Veja o caso dos recursos hídricos. Embora a distribuição desigual de água
tenha gerado tensões entre os Estados [no sentido de países], também aumentou paulatinamente a
cooperação. O diálogo interestatal e a diplomacia desencadeadas pela diminuição do abastecimento de água
também podem levar à construção de con ança e de cooperação em diversas áreas. Não é inevitável que o
estresse ambiental leve o mundo necessariamente a “guerras por recursos” em todas as situações.
A relação estabelecida entre as orações no período “Embora a distribuição desigual de água tenha gerado
tensões entre os Estados [no sentido de países], também aumentou paulatinamente a cooperação” deve ser
classificada como:
A conformidade.
B consequência.
C finalidade.
D concessiva.
E adversativa.
4 00004 3 762
T exto I
Turbante, dreadlocks, cocar, desenhos tradicionais. Símbolos culturais e estéticos que, se por um lado ajudam
a compor o imaginário de nação miscigenada, também carregam seu valor simbólico de resistência dentro da
comunidade na qual estão inseridos. No palco dos sincretismos, diversos atores e culturas se misturam, não
sem provocar polêmica e discussões que muitas vezes não arranham mais que a superfície da questão.
Enquadra-se aí o debate sobre “apropriação cultural”, tema que vem dividindo opiniões desde que sites e
jornais repercutiram o caso de uma garota branca que teria sido repreendida por duas mulheres negras
porque usava um turbante.
A educadora e pesquisadora de dinâmicas raciais Suzane Jardim a rma que, toda vez que emerge, essa
discussão é erroneamente deslocada para o âmbito do “purismo cultural”, na qual apenas os responsáveis
pela criação de um determinado elemento teriam autorização de utilizá-lo.
Longe disso, o que está em jogo segunda ela é a forma como se dá a interação entre grupos historicamente
marginalizados e seus antagonistas –relação que seria marcada por “preconceito, exclusão, etnocentrismo,
poder e capitalismo”.
“Vemos a diferença sistêmica entre os que usam esses elementos como adorno e os que usam por princípio,
religião ou resgate de uma identidade”, diz Jardim. “Quando falam em cultura, os negros se referem muito
mais a resistência e racismo do que à origem dos elementos, propriamente”.
Pesquisadora e ex-Secretária Adjunta da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo,
Juliana Borges a rma que “dizer que apropriação cultural se resume a usar ou não turbante, comer ou não
sushi” é, na melhor das hipóteses, uma grande desonestidade intelectual, além de escancarar a face racista
“ainda tão presente na sociedade brasileira”.
A discussão, primordialmente, tem a ver com questões estruturais e estruturantes da sociedade brasileira,
segundo Borges, e passa pelo esvaziamento histórico e cultural de etnias sequestradas do continente
africano para serem escravizadas por aqui.
Nesse contexto, símbolos como o turbante podem ser encarados como elos entre um povo e sua
ancestralidade, suas origens perdidas. A crítica seria menos ao uso individual em si e mais a uma estrutura
social que escrutina tradições de um povo enquanto aplaude as mesmas quando praticadas por outros.
A questão da “proibição do uso”, segundo Suzane Jardim, não encontra vulto material algum fora da internet.
“O que existe são manifestações de incômodo que podem se manifestar contra um indivíduo –pois sabemos
que há uma diferença no tratamento –, e isso acaba por se voltar contra o próprio negro, fortalecendo a
imagem estereotipada de que são raivosos, vitimistas ou injustos com a população branca repleta de boas
intenções”, afirma.
No trecho “Mas é igualmente possível simplesmente construir novas barreiras, à medida que pessoas que
pensam parecido se reúnem em grupos homogêneos, compartilhando os mesmos pontos de vista e fontes
de informação”, os elementos em destaque apresentam a leitura, respectiva, de
A concessão, proporção e adversidade.
As vacinas agem estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos, que podem combater doenças
infecciosas, tornando o indivíduo imune às mesmas.
O objetivo das imunizações é estimular o organismo a produzir anticorpos contra determinados germes,
principalmente bactérias e vírus. O nosso sistema imunológico cria anticorpos especí cos sempre que entra
em contato com algum germe. Se entramos em contato com o vírus da rubéola, por exemplo, camos
doentes apenas uma vez, pois o corpo produz anticorpos que impedem que o vírus volte a nos infectar no
futuro.
A lógica da vacina é tentar estimular o organismo a produzir anticorpos sem que ele precise ter cado
doente antes. Tentamos apresentar ao sistema imune a bactéria ou vírus de forma que haja produção de
anticorpos, mas não haja desenvolvimento da doença.
Geralmente uma vacina age apenas contra um único germe. Por exemplo, a vacina contra o sarampo não
protege o paciente contra catapora e vice-versa. Já existem vacinas conjuntas, que são na verdade duas ou
mais vacinas dadas em uma única administração, como a vacina tríplice viral, que é composta por três
vacinas em uma única injeção: sarampo, rubéola e caxumba. O sistema imune é estimulado simultaneamente
contra esses três vírus. Nem toda vacina pode ser dada em conjunto.
A grande di culdade na hora de desenvolver uma vacina é criá-la de modo que a bactéria ou vírus consigam
estimular o sistema imunológico a criar anticorpos, mas não sejam capazes de provocar doença. Às vezes,
basta expor o organismo à bactéria ou ao vírus mortos para haver produção de anticorpos e tornar o
paciente imune a este germe. Porém, nem todos os vírus ou bactérias mortos são capazes de estimular o
sistema imune, fazendo com que tenhamos que buscar outras soluções para imunizar o paciente.
O grau de maturidade do sistema imunológico também é importante. O ideal seria podermos dar logo todas
as vacinas ao recém-nascido. Infelizmente isso não funciona. O nosso sistema imune precisa de tempo para
se desenvolver e ser capaz de gerar anticorpos quando estimulados pela vacinação.
Vacinas inativadas
As vacinas inativadas são aquelas feitas com germes mortos ou apenas partes do germe. As vacinas com
germes mortos são as mais seguras, porém costumam apresentar uma capacidade de imunização mais baixa,
sendo necessárias mais de uma dose para criar uma proteção prolongada. Em alguns casos a imunização
desaparece após alguns anos, sendo necessária a aplicação de doses de reforço.
Muitas vezes não é preciso expor o sistema imune a todo vírus ou bactéria. O germe pode ser cultivado em
laboratório e partes da sua estrutura que não são necessárias para criação de anticorpos podem ser
retiradas. Em alguns casos, uma única proteína do germe é tão diferente das nossas proteínas que é
su ciente para o sistema imunológico reconhecê-la como algo estranho, produzindo anticorpos e cientes
contra o invasor. As vacinas com subunidades dos germes costumam ter entre 1 a 20 partes do mesmo.
O ideal é sempre criarmos vacinas com germes mortos, incapazes de causar doenças. Todavia, nem sempre
isso é possível. Há casos em que não conseguimos induzir a produção de anticorpos pelo sistema imune a
não ser que o mesmo seja exposto ao germe vivo. Neste caso, a opção é manter o vírus ou bactérias vivas,
mas atenuados, ou seja, fracos o suficiente para não conseguirem causar sintomas relevantes.
As vacinas com germes vivos são seguras em pacientes sadios, mas não devem ser dadas a pessoas com
de ciência no sistema imune, como transplantados, pacientes com AIDS, pacientes em uso de drogas
imunossupressoras ou pacientes em quimioterapia. Este grupo apresenta elevado risco de desenvolver a
doença se tomarem a vacina.
As grávidas também não podem tomar vacinas com vírus vivos pois há riscos de infecção do feto e
complicações da gestação.
Como as vacinas com germes vivos são o que há de mais próximo com uma infecção real, elas costumam
ser os melhores estimulantes para a produção de anticorpos pelo sistema imune. Este tipo de vacina costuma
utilizar apenas uma ou duas doses e produz uma imunização por muitos anos, às vezes para o resto da vida.
Vacinas com vírus vivos atenuados são mais fáceis de serem produzidas do que com bactérias, que são
germes bem mais complexos e difíceis de serem manipulados.
Assinale, a seguir, a alternativa e m que temos elemento que desempenha a mesma f unção sintática da
desempenhada pela oração em destaque a seguir.
T exto I
Prestes a voar com humanos, a SpaceX enfrenta o maior desafio de sua história
Ninguém esperava que desse certo. Até mesmo seu fundador apontava para uma probabilidade na qual
poucos apostadores colocariam dinheiro: 1 para 10. Mas, mesmo assim, Elon Musk decidiu apostar suas chas
e investiu cerca de US$ 100 milhões de seu próprio patrimônio em sua ideia. Ele contrariou alertas de amigos
e familiares e a lógica básica que dizia que não era boa ideia um empreendedor sem experiência em voos
espaciais ter uma empresa de foguetes. Mas o resultado – a Space Exploration Technologies, ou ainda
SpaceX – virou um dos casos mais improváveis da história do empreendedorismo americano.
Foi uma combinação de disrupção, fracasso e triunfo, que transformou a ousada startup num gigante
industrial com cerca de 7 mil funcionários. Agora, a SpaceX, como é mais conhecida, enfrenta o teste mais
signi cativo desde que foi fundada, em 2002. Em 27 de maio, a empresa sediada na Califórnia deve lançar
dois astronautas veteranos da NASA, Bob Behnken e Doug Hurley, para a Estação Espacial Internacional. O
voo é simbólico: sairá da mesma plataforma de lançamento do Centro Espacial Kennedy que içou a tripulação
da Apollo 11 à Lua.
Se tudo correr conforme o planejado, a missão anunciará uma era monumental na exploração espacial: o
primeiro lançamento à órbita de uma empresa privada. Os dois astronautas serão levados para a estação
espacial por um propulsor e uma espaçonave que são de propriedade da SpaceX e serão operados pela
empresa, marcando o fim da era em que apenas as espaçonaves governamentais chegavam a tais alturas.
Será mais um passo rumo à privatização do espaço. A missão também pode signi car uma vitória da SpaceX
sobre a rival Boeing, a outra empresa que tenta levar astronautas da NASA para a estação espacial – e que
vem tropeçando bastante ao longo do caminho. Mas, se a missão da SpaceX falhar, será um revés trágico.
Uma falha pode inviabilizar o plano da NASA de retomar o voo espacial humano a partir do solo americano e
alimentar as críticas que diziam que a agência espacial jamais deveria ter terceirizado ao setor privado uma
missão tão sagrada.
O voo – o primeiro com astronautas da NASA nos Estados Unidos desde que o ônibus espacial foi
aposentado, há quase uma década – é o ápice de anos de trabalho da SpaceX e da Nasa para acabar com a
dependência americana em relação à Rússia. Sem uma maneira de colocar os astronautas em órbita, a Nasa
teve de depender dos russos para chegar ao espaço nos últimos anos. Essa dependência, que causou
constrangimento à agência, pode se encerrar em breve, caso a SpaceX tenha sucesso.
(Disponível em <https://www.casadasrosas.org.br/centro-de-apoio-ao-escritor/manual-a-literatura-como-
direito-do-ser-humano> Acesso em 14 jan. 2021)
A “(...) a Nasa teve de depender dos russos para chegar ao espaço nos últimos anos.” (Finalidade)
B “O voo – o primeiro com astronautas da NASA nos Estados Unidos desde que o ônibus espacial
foi aposentado (...)” (Tempo)
C “Até mesmo seu fundador apontava para uma probabilidade na qual poucos apostadores
colocariam dinheiro: 1 para 10.” (Restrição)
O NAVEGADOR
Era encarregado da navegação de bordo da aeronave estratosférica. Olhava as estrelas pelo mirante de vidro
no fundo da nave e mantinha o aparelho em sua rota estrita, que não podia se afastar nem um grau, na
verdade nem um 0,012, da rota que a técnica da navegação espacial determinara. Pois uma vez, vez
aparentemente como outra qualquer, estava o nosso navegador examinando as estrelas, numa noite
estrelada como todas, pois naquela altura não há noite não estrelada, quando estourou o tampão do mirante e
ele foi sugado pra fora da nave. No momento em que o resto da tripulação percebeu o acidente, houve
pânico (logo controlado, eram todos pro ssionais experimentados a evitar pânico) a bordo. Não
comunicaram nada aos passageiros-teste, trataram de descer no primeiro ponto possível. Mas nosso herói,
dos muitos mártires da técnica da aeronáutica de todos os tempos, o primeiro dos tempos da astronáutica,
jamais foi esquecido. Não digo que “não foi esquecido” no sentido habitual em que se fala isso, não. Não há
nada de “patriótico”, “grandioso”, “eterna gratidão dos homens”, no inolvidável em que se tornou nosso
homem.
Aconteceu apenas o seguinte: ao ser sugado do aparelho, nosso navegador não caiu. O avião estava fora da
órbita gravitacional de qualquer planeta. Ou melhor, subiu um pouco, algumas dezenas de quilômetros. Mas
parou aí. E veio-lhe uma calma inexplicável, enquanto espiava a nave que sumia. Devido a indeterminada lei de
atração-inerte ele ainda foi arrastado, em órbita, um certo tempo. Logo, porém, caiu num espaço vazio, sem
qualquer movimento. Tentou se mover, não teve como. O mundo, ao seu redor, imenso. A visão, em torno,
ampla como jamais supusera ser possível. Ficou olhando, agora aterrorizado. Veri cou o relógio, os ponteiros
tinham parado. Tentou mover o mecanismo: a força magnética o tinha detido. Estava perdido, eternamente
(?), no tempo e no espaço.
O desespero, estranhamente, não durou muito. Horas depois sentiu total tranquilidade. Parecia que não era
com ele. Ficou só constatando, veri cando, se assombrando. E, na impossibilidade de qualquer outra coisa,
esperando. Que podia fazer? Nem subir, nem descer. (...)
Não há técnica que possa salvá-lo. Já tentaram a sucção ao contrário, mas ele caiu numa área em que o
vácuo e o magnetismo se anulam. A primeira sucção tentada afastou-o mais dez quilômetros da rota normal
das naves. Escadas não são praticáveis naquela altura, porque lhes falta apoio. “Deem-me um ponto de apoio
e eu moverei o mundo” aqui não tem sentido. Não há onde apoiar e não há mundo, no sentido arquimédico.
(...) E nosso herói definha.
Mas não está morto. As naves, neste ano e meio que já transcorreu desde o fatídico acidente, trazem
relatos: nosso amigo seca, se mumi ca, mas muito lentamente. Não parece especialmente triste, nem
desesperado. De nha apenas, na proporção de um milésimo do que de nharia na Terra sem se alimentar. O
frio parece não afetá-lo. Uma vez foi surpreendido com um sorriso nos lábios. As cores das roupas que usava
caram mais brilhantes e mais belas com o passar do tempo. E durante o solstício de verão a posição do
herói foi mudando, até ficar na posição de um nascituro. Parecia que ele ia renascer do cosmo.
Enquanto isso, ele, nosso homem, é mais útil do que nunca. Os dados apurados pelo que acontece com ele
têm sido analisados pela ciência aeronáutica e, acredita-se, resultarão na impossibilidade de acidentes
semelhantes no futuro. Fazem-se cálculos, e naturalmente apostas, sobre a duração da vida do homem. A
indústria de tecidos lançou nova moda, baseada nas fabulosas cores da roupa do navegador. O tecido tem o
nome óbvio – Navegador. (...)
A família tem sobrevivido com donativos particulares, porque não conseguiu receber o seguro de vida que lhe
deve a companhia de aviação, pois, em verdade, o navegador não morreu, nem há mesmo certeza se está
mal de saúde. O advogado da família tentou dá-lo como desaparecido, pra que a esposa pudesse receber o
seguro dentro de cinco anos, mas nem isso a companhia de seguros aceitou – na verdade não há homem
menos desaparecido do que o navegador: o mundo inteiro sabe onde ele se encontra, com absoluta precisão,
até em números e graus, latitude e longitude. A nal os comandantes das aeronaves que deviam passar por
aquela rota estratosférica começaram, de vontade própria, e mesmo contra o regulamento, a se desviar
ligeiramente, para não se aproximarem do navegador perdido. É que este, agora já bem mais magro e mais
brilhante, deu para tar os aparelhos com olhar de amargurada censura. (...) Lenta, mas seguramente, o nosso
navegador gira, agora, no sentido contrário da rotação da Terra.
Em qual alternativa há oração adverbial que apresenta a mesma leitura da destacada em: “Aconteceu apenas
o seguinte: ao ser sugado do aparelho, nosso navegador não caiu.”?
A Enquanto corríamos, ouvíamos músicas aleatórias e animadas.
Herói na contemporaneidade
Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis. Recorro ao historiador de mitologia
Joseph Campbell, que diferenciava as duas guras públicas: o herói ( gura pública antiga) e a celebridade (a
gura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se
tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, líder
paci sta indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como
Batman. Toda história em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob
o mesmo aspecto. Os lmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada
indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas
mitologias reafirmando os mesmos ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno.
O cineasta italiano Fellini a rmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis
populares, era o Homero dos quadrinhos. Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social.
Homem-Aranha é um nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um de ciente, os X-Men são
indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena expatriado. São todos símbolos
da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana. Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua
dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles
crescem dentro do gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o
sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capitão América. Hulk e
Homem-Aranha são seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas
experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-Homem é aquele que mais
se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em
defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano
e super-herói, como Gandhi.
Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu
raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons lmes de super-heróis eu lembro que todos temos
um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio.
Em qual das alternativas a seguir, é possível encontrar oração que desempenha a mesma função sintática da
encontrada no termo destacado em “Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis populares,
era o Homero dos quadrinhos.”?
Herói na contemporaneidade
Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis. Recorro ao historiador de mitologia
Joseph Campbell, que diferenciava as duas guras públicas: o herói ( gura pública antiga) e a celebridade (a
gura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se
tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, líder
paci sta indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como
Batman. Toda história em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob
o mesmo aspecto. Os lmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada
indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas
mitologias reafirmando os mesmos ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno.
O cineasta italiano Fellini a rmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis
populares, era o Homero dos quadrinhos. Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social.
Homem-Aranha é um nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um de ciente, os X-Men são
indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena expatriado. São todos símbolos
da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana. Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua
dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles
crescem dentro do gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o
sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capitão América. Hulk e
Homem-Aranha são seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas
experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-Homem é aquele que mais
se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em
defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano
e super-herói, como Gandhi.
Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu
raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons lmes de super-heróis eu lembro que todos temos
um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio.
E m “Enquanto a celebridade se populariza po r viver para s i mesma, o herói assim se tornava po r viver
servindo sua comunidade.”, o conectivo “enquanto” apresenta leitura de
A proporção.
B causa.
C tempo.
D concessão.
4 00004 3 3 19
Respostas:
1 A 2 A 3 A 4 B 5 E 6 B 7 E 8 D 9 D 10 A 11 C
12 B 13 D 14 A 15 B 16 E 17 D 18 C 19 D 20 B 21 B 22 E
23 B 24 A 25 B 26 C 27 A 28 C 29 B 30 C 31 E 32 E 33 B
34 A 35 A 36 B 37 D 38 B 39 E 40 C 41 D 42 A 43 D 44 A
45 D 46 C 47 D 48 D 49 E 50 B 51 D 52 D 53 A 54 A 55 A
56 C 57 D 58 B 59 E 60 D 61 A 62 A 63 D 64 A 65 D 66 E
67 C 68 C 69 A 70 D 71 D 72 B 73 A 74 B 75 D 76 A 77 D
78 D 79 A 80 C 81 E 82 A 83 D 84 B 85 D 86 A 87 C 88 D
89 D 90 A 91 D 92 A 93 D 94 C 95 B 96 D 97 D 98 B 99 D
100 C