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Literatura Colonial

Falar sobre a literatura dos Primeiros povos da América do norte; o movimento do Puritanismo
e seus sermões; outros tipos de gêneros literários desenvolvidos na época.

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Literatura indígena

É muito difícil precisar uma origem para a literatura norte-americana. A maioria dos materiais
vai indicar que a primeira literatura apareceu com a chegada dos europeus, que traziam da
Inglaterra a tradição literária, porém isso acaba sendo uma visão um pouco eurocêntrica
demais. A alternativa para tal posição é indicar que a literatura começa com os povos que já
existiam antes da colonização. Contudo, o grande problema com esse tipo de posição é que
nenhuma das tribos possuía uma tradição escrita. As mais de 500 tribos tinham apenas os
modos orais de transmissão das suas narrativas, valores e tradições.

mapa das línguas originais da América do Norte


Mapa das línguas indígenas norte-americanas

Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em:


https://en.wikipedia.org/wiki/Indigenous_peoples_of_the_Americas#/media/File:Langs_N.Am
er.png

Ainda que possuíssem culturas bastante variadas, já que algumas tribos eram mais caçadoras e
nômades (os Navajo, por exemplo), outras eram agrícolas e, portanto, não se deslocavam (os
Acoma), algumas moravam em regiões mais frias ao norte, como os Ojibwa, e outras em
regiões de deserto, tal qual os Hopi. Essa diferença geográfica era uma das causas das
diferenças culturais entre elas: suas formas de organização social, de governo, seus rituais
religiosos, suas vestimentas e o tipo de tecnologia rudimentar que possuíam para a construção
de moradias, barcos, armas.

Algumas características que são semelhantes nas grandes tradições e mitos dessas tribos. Uma
dessas semelhanças está na presença da natureza, tanto espiritual quanto física. As forças da
natureza nos seus aspectos mais insignificantes ou maiores vão se interligando com as
histórias dos homens, de forma a encontrar uma harmonia entre as duas, uma organicidade.

Tribo indígena

Tribo indígena norte-americana

A criação do mundo Segundo os Navajo

The First World

According to the Navajo creation story, the first world was small and pitch black. There were
four seas and in the middle an island with a single pine tree existed. Ants, dragonflies, locusts
and beetles lived there and made up the Air-Spirit People of the first world.

Each of the four seas was ruled by one supernatural being, the Big Water Creature, the Blue
Heron, the Frog and White Thunder. Above the sea there was a black cloud, a white cloud, a
blue cloud and a yellow cloud. The female spirit of life lived in the black cloud while the male
spirit of dawn lived in the white.

When the blue and yellow clouds came together, the First Woman, while the black and white
came together to form the First Man.

The First Woman saw the light of the First Man’s fire and tried to reach him three times before
she finally found his home. He asked her to live with him and the First Woman agreed.
The Great Coyote was formed in water and came to the First Man and First woman, telling
them he was hatched from an egg and knew all the secrets of the water and the skies. Shortly
after, second coyote appeared named First Angry, who brought witchcraft into the world.

The next part of the Navajo creation story involves the First Man, First Women, First Angry and
the coyote born in the water climbing into the second world, followed by all other creatures.

(http://www.navajolegends.org/navajo-creation-story/)

Garça azul

The blue Heron

Fonte: Gregory Johnston / Shutterstock.com

First Man between Black Cloud and White Cloud, and First Woman between Blue Cloud and
Yellow Cloud

https://en.wikipedia.org/wiki/Din%C3%A9_Bahane%CA%BC

Imagem da lenda sobre origem do mundo

First Man between Black Cloud and White Cloud, and First Woman between Blue Cloud and
Yellow Cloud

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frontispiece_Smithsonian_Bulletin163.jpg

Esse é um entre os diversos exemplos de narrativas de criação do mundo dessas tribos, as


quais vão colocar os elementos naturais a serviço da formação do seu mundo e dos seus
valores. Algumas das narrativas eram altamente complexas, longas, com uma infinidade de
personagens e eventos.

Segundo Bessa (2008), quase todos os gêneros das tradições orais podem ser encontrados na
literatura indígena: poemas, cantos, mitos, contos de fada, anedotas cômicas, encantamentos,
adivinhações, provérbios, poemas épicos e lendas.

Entre os temas preferidos estavam:

* relatos sobre migrações;


* relatos das vidas dos ancestrais;

* Visões místicas dos xamãs;

* canções de cura

* histórias sobre trapaceiros

* cantigas de ninar

* a guerra

* a infância e o amor

* cerimônias religiosas e mágicas

As relações entre as tradições orais e a literatura norte-americana como um todo têm sido
pouco exploradas. A presença e importância da cultura indígena é maior do que o reconhecido
e podemos ver várias influências linguísticas no idioma atual: canoa (canoe), batata (potato) e
moose (alce) são alguns exemplos. Há, desde os anos 1970, uma associação cuja sigla em
inglês é ASAIL (Association of Studies of American Indian Literatures), que tem como objetivo o
estudo e divulgação da literatura escrita por descendentes e membros das tribos. A associação
tem publicado nessas últimas décadas uma série de artigos sobre o assunto no journal Studies
in American Indian Literatures.

Literatura de Exploração

Havia várias potências europeias nos mares durante o século XVI. Diversos povos como os
vikings já haviam registrado a presença do continente americano, mas foi somente com as
explorações de Cristóvão Colombo que houve um desenvolvimento real e ostensivo da criação
de colônias e exploração dos recursos delas.
Em 1585 é fundada a primeira colônia americana em Roanoke, na Carolina do Norte. A partir
de 1607 (século XVII), com a fundação de Jamestown, começa o ciclo de povoamento e
desenvolvimento da América.

Ruínas da Igreja em Jamestown

Jamestown Church's Ruins

Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Jamestown,_Virginia#/media/File:Jamestown_Virginia_ruin.JPG

A literatura colonial se caracteriza por três momentos:

1º momento: Diários, cartas, crônicas, diários de viagem, registros de bordo e relatórios


dirigidos aos financiadores dos exploradores. Forte influência da literatura inglesa;

2º momento: a complexa poesia metafísica, os diários domésticos, história religiosa com


fortes toques de pedantismo;

3º momento (declínio): os sermões religiosos;

Os principais temas:

- A vida era vista como prova. O fracasso levava à condenação eterna e ao fogo do inferno e o
sucesso, era recompensado com o êxtase celestial;

- O mundo era a arena de combate constante entre as forças de Deus e as hostes de Satanás,
inimigo terrível com vários disfarces;

- Muitos Puritanos aguardavam ansiosamente a chegada do “milênio”, quando Jesus voltaria à


Terra.

O POVO PURITANO

Os colonizadores puritanos (ingleses) chegam aos Estados Unidos em 1620, a bordo do


Mayflower. Eles estavam fugindo da perseguição religiosa no Velho Continente: eram
intelectuais, trabalhadores, honestos e disciplinados.

O Puritanismo era uma doutrina praticada por um grupo radical religioso seguidores das ideias
de renovação cristã propostas por João Calvino e Lutero. O objetivo era purificar a igreja
Anglicana. A definição puritana de “boa leitura” era aquela que transmitia a plena consciência
da importância de se adorar a Deus e os perigos espirituais enfrentados pela alma na Terra.
- A experiência cotidiana, o pecado, a salvação, ambição, o trabalho árduo e a luta intensa pelo
sucesso;

- O grande modelo de literatura, crença e conduta era a Bíblia, em uma tradução inglesa
autorizada. A grande antiguidade da Bíblia assegurava autoridade aos olhos dos Puritanos;

- Buscavam riqueza e status não só para eles próprios, também saúde espiritual e promessas
de vida eterna.

- Em cerca de 50 anos, os Puritanos criaram uma série de universidades, incluindo Harvard.

Alguns nomes importantes da época vão impregnar as suas obras dessas características.
Vamos conhecer alguns deles.

William Bradford (c.1590-1657) foi várias vezes governador da província de Plymouth. Foi uma
das pessoas a bordo do famoso Mayflower, e escreveu sobre suas experiências no navio.

Navio de colonização americana

O Navio Mayflower, William Halsall, 1882

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:MayflowerHarbor.jpg

Seu diário, Of Plymouth Plantation foi escrito entre 1630 e 1651, mas só foi oficialmente
publicado em 1897. Isso aconteceu porque o manuscrito esteve por muitos anos em poder de
sua família, mas era conhecido em meios acadêmicos por sua citação. Depois, de uma maneira
que não se sabe explicar, ele acabou em posse da Igreja Anglicana e só foi devolvido ao
governo do Massachusetts no final do século XIX.

Capa do Diário de Bradford

Capa do Diário de Bradford

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Of_Plimoth_Plantation_First_1900.jpg

A forma como ele participou dos primeiros anos da colonização fizeram do seu diário, seu
journal, um dos primeiros historiadores dos Estados Unidos. O livro cobre um período grande
da sua vida e conta os percalços da travessia do Atlântico, e os primeiros anos das novas
colônias. Suas meditações, além de dar detalhes sobre os acontecimentos cotidianos, também
apresentavam um pouco sobre a vida interior dessas pessoas que buscavam sucesso e
realização seguindo os preceitos bíblicos. Vejamos um exemplo da prosa de Bradford:

And I may not omit here a special work of God's providence. There was a proud and very
profane young man [aboard the Mayflower], one of the seamen, of a lusty, able body, which
made him the more haughty; he would always be contemning the poor people in their
[sea]sickness, and cursing them daily with grievous execrations, and did not let to tell them,
that he hoped to help cast half of them overboard before they came to their journey's end,
and to make merry with what they had; and if he were by any gently reproved, he would curse
and swear most bitterly. But it pleased God before they came half seas over, to smite this
young man with a grievous disease, of which he died in a desperate manner, and so was
himself the first that was thrown overboard. Thus his curses light on his own head; and it was
an astonishment to all his fellows, for they noted it to be the just hand of God upon him.

(Of Plymouth Plantation)

Com a ausência de imprensas na nova terra, o primeiro conjunto de poemas escritos nos
Estados Unidos foi publicado na Inglaterra. O fato interessante sobre eles é que foram escritos
pela primeira escritora norte-americana, chamada Anne Bradstreet (c. 1612-1672). Ela era
casada com um dos governadores e tendo sido criada na Inglaterra, emigrou com a família
quando tinha 18 anos. Seus poemas são muito inspirados pelos poetas metafísicos, muito
populares na época e seus poemas falam de temas como a religiosidade implícita nas coisas
comuns, como as estações do ano, e usando a sagacidade, ela falava do cotidiano e do amor
pelo marido. Um de seus poemas mais conhecidos é chamado “To my dear and loving
Husband”.

Além dela, ainda temos outros autores como Edward Taylor, Michael Wigglesworth, Samuel
Sewall, Mary Rowlandson, Roger Williams e Cotton Mather. Todos eles montam parte do
mosaico das experiências da formação dos Estados Unidos, nas formas que ele ia se
configurando enquanto uma nova colônia.

retratos de alguns escritores do tempo colonial

Escritores coloniais famosos

Fonte: Wikipedia

Os sermões

Conforme explicamos, este período literário-histórico teve três momentos. Cerca de um século
depois da chegada dos puritanos, houve uma certa onda de tolerância e enfraquecimento do
dogmatismo religioso. Porém, algumas autoridades religiosas buscavam atacar tal movimento,
e o gênero que se tornou popular então, como o método mais efetivo de lutar contra tal
degeneração dos princípios religiosos foram os sermões. Uma das vozes principais na criação e
expressão dos sermões era Jonathan Edwards (1703-1758). Suas características principais
eram:
Ter sido considerado o melhor dos teologistas puritanos em termos de discurso oral e legado
literário;

Estudou a fundo a doutrina puritana antes de aceitar o ofício de pastor;

Tentou resgatar a doutrina através do movimento chamado “The Great Awakening”;

Tentou combater o materialismo e o secularismo;

Seus sermões eram exaustivamente enfáticos, emocionais, com certos toques de fanatismo, o
objetivo era conduzir a conversão;

O argumento principal era a recompensa que isso traria e a estratégia era a repetição.

Retrato do autor

Retrato de Jonathan Edwards

Fonte: Veja mais aqui

Seu sermão mais famoso é “Sinner in the Hand of an Angry God” (1741). Nele, o objetivo era
alertar para a desgraça que é o caminho do inferno e da condenação, e que para escapar disso,
a única solução era retornar para a vida em Deus, tendo uma conduta ilibada. Ele busca alertar
sobre os perigos do pecado, o poder que existia na fé da salvação, o poder de Deus, e a
necessidade urgente da conversão para a salvação. Um trecho da tradução do sermão,
publicado pela Editora PES:

TRECHO TRADUZIDO DO SERMÃO ?PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS FURIOSO?


(JONATHAN EDWARDS, 1741). EDITORA PES.

O Deus que vos mantém acima do abismo do inferno vos abomina; ele está terrivelmente
irritado e seu furor contra vocês queima como fogo. Ele vê vocês como apenas dignos de
serem lançados no fogo. E seus olhos são tão puros que não podem tolerar tal visão. Vocês são
dez mil vezes mais abomináveis a seus olhos do que é a mais odiosa das serpentes venenosas
para olhos humanos. Vocês o têm ofendido infinitamente mais do que qualquer rebelde
obstinado ofenderia a um governante. No entanto, nada, a não ser a sua mão, pode impedir-
vos de cair no fogo a qualquer momento. O fato de vocês não terem ido para o inferno a noite
passada e de terem tido permissão para acordar ainda aqui neste mundo, depois de terem
fechado os olhos ontem para dormir, atribui-se ao mesmo favor. Não existe outra razão
porque vocês não foram lançados no inferno ao se levantarem pela manhã, a não ser o fato da
mão de Deus ter-vos sustentado. E não existe outra razão porque vocês não caiam no inferno
neste exato momento.

Oh pecador, pense no perigo terrível que se encontra! É sobre uma grande fornalha de furor,
sobre um abismo imenso e sem fim, cheio do fogo da ira, que você está pendurado, seguro
pela mão de Deus, cujo furor acha-se tão inflamado contra você, como contra muitas pessoas
já condenadas no inferno. Você está suspenso por uma linha tênue, com as chamas da cólera
divina lampejando à tua volta, prontas para atearem fogo e queimar-te por inteiro. E você
continua sem interesse no Mediador, sem nada onde se agarrar para poder se salvar, nada que
possa afastar as chamas da cólera divina, nada de teu próprio, nada que tenha feito ou possa
vir a fazer, para persuadir o Senhor a poupar tua vida por um minuto sequer.

Podemos perceber as repetições, a ênfase nos perigos do pecado e a necessidade de despertar


para a salvação. O uso refinado da linguagem colocava o autor entre o mais eloquente de seus
contemporâneos.

O outro lado da moeda, na busca de liberdade religiosa e tolerância, a completa antítese de


Edwards, estava John Woolman (1720-1772). Este pastor quacre (Quaker, em inglês).era uma
figura altamente democrática e preocupada com os valores do amor universal e a consciência
individual. Eles eram uma seita que buscava respeitar os nativos e conviver em harmonia com
eles. Além disso, dois de seus textos mais famosos foram ensaios que defendiam um ideal
abolicionista: “Some Consideration on the Keeping of Negroes”. Foi um humanitarista e
defendia a obediência passiva. Seu livro mais famoso foi seu diário, The Journal of John
Woolman , publicado postumamente em 1774. Nele, o autor contava sobre suas viagens e
reunia seus ensaios sobre abolicionismo, contra a mercantilização de pessoas, sobre a
crueldade contra os animais, a opressão e injustiça sociais e a convocação obrigatória para o
exército.

Retrato de John Woolman

Retrato de John Woolman

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/38/J_G_Whittier_at_29.jpg

Muitas das obras do período colonial não possuem tradução para o português, talvez por seu
caráter mais histórico e menos literário. A maioria da obra, como a de Edwards, por exemplo,
foi traduzida por editoras evangélicas nacionais.

Quiz

Exercício

Literatura Colonial

INICIAR

Referências

BESSA, Maria Cristina. Panorama da Literatura Americana. São Paulo: Alexa Cultural, 2008.

BRADFORD, William. Of Plymouth Plantation. Disponível em:


http://mith.umd.edu/eada/html/display.php?docs=bradford_history.xml
EDWARDS, Jonathan. Pecadores na mão de um Deus irado. Editora PES, s/d. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/advertencias/pecadores_maos_deus_irado.htm

ROYOT, Daniel. A Literatura Americana. Série Essência. Tradução Maria Helena Vieira de
Araújo. Revisão técnica Marcos César de Paula Soares. São Paulo: Ática, 2009.

VANSPANCKEREN, Kathryn. Outline of American Literature. Washington, D.C.: U.S. Information


Agency, 1994.

http://www.navajolegends.org/navajo-creation-story/

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